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NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
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Universidade Federal Rural de Pernambuco
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS PESQUEIROS E AQUICULTURA
Ácido fumárico em dietas para juvenis de tilápia-do-nilo
Suzane Christina Varela das Neves
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Recursos Pesqueiros e
Aquicultura da Universidade Federal
Rural de Pernambuco como exigência
para obtenção do título de Mestre.
Co-orientadora
Recife,
Maio/2018
Prof. Dr. Álvaro José de Almeida Bicudo
Orientador
Prof. Dr. Eudes de Souza Correia
Co-orientador
Prof.(a) Dr.(a) Suzianny Maria Bezerra Cabral da Silva
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
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Universidade Federal Rural de Pernambuco
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS PESQUEIROS E AQÜICULTURA
Ácido fumárico em dietas para juvenis de tilápia-do-nilo
Suzane Christina Varela das Neves
Dissertação julgada _________ para
obtenção do título de mestre em
Recursos Pesqueiros e Aquicultura.
Defendida e ________ em 21/05/2018
pela seguinte Banca Examinadora.
Prof.(a) Dr.(a) Álvaro José de Almeida Bicudo
(Orientador)
[Departamento de Zootecnia]
[Universidade Federal do Paraná – Setor Palotina]
Profª. Drª. Maria do Carmo Mohaupt Marques Ludke
[Departamento de Zootecnia]
[Universidade Federal Rural de Pernambuco]
Profª Drª Roberta Borda Soares
[Departamento de Pesca e Aquicultura]
[Universidade Federal Rural de Pernambuco]
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE Biblioteca Central, Recife-PE, Brasil
N518a Neves, Suzane Christina Varela das Ácido fumárico em dietas para juvenis de tilápia-do-nilo / Suzane Christina Varela das Neves. – 2018. 40 f. : il. Orientadora: Álvaro José de Almeida Bicudo. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Recursos Pesqueiros e Aquicultura, BR-PE, 2018. Inclui referências. 1. Peixes - Alimentação e rações 2. Tilápia (Peixe) 3. Nutrição animal 4. Ácidos I. Bicudo, Álvaro José de Almeida, orient. II. Título CDD 664
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Dedicatória
A minha mãe Izabel Varela e meu pai João Roberto,
pelas orações, incentivo, força, conselhos e por serem
meu exemplo de vida, no qual me permitiram chegar
até aqui.
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Agradecimentos
Agradeço a Deus por mais um caminho trilhado e conquistado na minha vida acadêmica, aos
meus pais e familiares por todas as orações, força e todo amor.
Ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Pesqueiros e Aquicultura, pela honra em fazer
desse programa e aos Professores responsáveis pela Coordenação, pelas disciplinas ofertadas.
Ao Prof. Dr. Álvaro José de Almeida Bicudo pela oportunidade que me concedeu, pela
orientação, paciência, pelos puxões de orelha e por me ajudar no crescimento profissional.
Ao Prof. Dr. Eudes de Souza Correia e Profª Drª Suzianny Maria Bezerra Cabral da Silva,
meus coorientadores, não tenho palavras pra expressar o carinho e admiração que tenho por vocês,
obrigada por me acolher em vossos Laboratórios e me ajudar no que precisei ao longo dessa
caminhada.
Aos Professores do Departamento de Pesca e Aquicultura que, quando necessitei de uma
ajuda, não mediram esforços e prontamente me auxiliaram.
As secretárias do DEPAq, por estarem sempre nos ajudando com nossas documentações, nos
fazendo sorrir e dando uma palavra de apoio quando chegamos aperreados, muito obrigada.
Aos amigos do LAPAq, que carregaram o peso comigo de realizar um experimento, que
infelizmente não chegou ao fim, mas estavam ali me dando todo apoio naquele dia tão difícil.
Aos amigos do LASAq, em especial Gisely, Slaython, Álvaro e Yago. Não tem palavras e
dinheiro que pague o tanto que vocês me ajudaram (fisicamente e emocionalmente) e tem me
ajudado até hoje, meus mais sinceros, MUITO OBRIGADA!
Beth e Carol, vocês me socorreram tantas vezes e isso está marcado no meu coração. Muito
obrigada por cada ato, gesto, palavra, vocês são demais.
Aos Laboratórios tanto do Departamento de Pesca e Aquicultura quanto do Departamento de
Zootecnia que abriram as portas pra mim pra que análises pudessem ser realizadas.
Aos meus amigos – Cláudia Patrícia, Ingrid, Wilma, Beth Lima, Ana Luísa, Soninha,
Priscyla, Geni, Julia, João Alfredo, José Vitor, João Neto, Jade, Rebeca, Kamilla, aos Filhos do Rei,
ao Kades, ao Raio de luz – vocês foram de extrema importância nessa caminhada, ouvindo meus
choros, minhas vitórias diárias, orando por mim, dando força. Que Deus recompense a todos com
ricas bênçãos dos céus, eu amo vocês.
MUITO OBRIGADA!
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Resumo
O objetivo do presente estudo foi avaliar o uso de ácido fumárico como aditivo alimentar para
dietas de alevinos de tilápia-do-nilo. Seis dietas isocalóricas (3,4 kcal de energia bruta / g) e
isonitrogenadas (29% de proteína bruta) suplementadas com ácido fumárico (0,0, 0,5, 1,0, 1,5, 2,0 e
3,0% da dieta) foram formuladas com quatro repetições cada e os animais foram distribuídos em
delineamento inteiramente casualizado. Treze peixes (± 1,7 g) foram distribuídos em tanques e
alimentados às 8:00, 12:00 e 16:00 horas até a saciedade aparente durante 35 dias. Todos os dados
de desempenho zootécnico e contagem de bactérias viáveis totais (UFC-1) foram submetidos à
análise de variância e as diferenças entre as médias foram avaliadas pelo teste de Tukey (p <0,05).
Redução significativa de bactérias gram-negativas e comunidades de Enterobacteriaceae foi
observada em peixes alimentados com dieta suplementada com ácido fumárico a 1,5% (p <0,05).
Da mesma forma, ganho de peso, eficiência alimentar, taxa de crescimento específico e eficiência
protéica foram numericamente maiores no tratamento de 1,5% comparado ao grupo controle e
outros tratamentos (p <0,05). Por outro lado, não houve diferença significativa no consumo diário
de ração (p> 0,05). A suplementação de 1,5% de ácido fumárico melhora o desempenho zootécnico
e resulta em efeito antibacteriano em tilápias do Nilo.
Palavras-chave: tilápia do Nilo, ácido orgânico, nutrição, desempenho zootécnico, microflora
intestinal
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Abstract
The objective of the present study was to evaluate the use of fumaric acid as a feed additive for Nile
tilapia fry diets. Six iso-caloric (3.4 kcal gross energy/ g) and iso-nitrogenous (29% crude protein)
diets supplemented with fumaric acid (0.0, 0.5, 1.0, 1.5, 2.0 and 3.0% of diet) were formulated with
four replicate each and the animals were distributed in a completely randomized design. Thirteen
fish (± 1.7g) were distributed in tanks and fed at 8:00 a.m., 12:00 a.m. and 4:00 p.m. up to apparent
satiety during 35 days. All zootechnical performance and total viable bacterial count (CFUg-1
) data
were subjected to analysis of variance and differences between means were assessed by Tukey's test
(p<0.05). Significant reduction of gram-negative bacteria and Enterobacteriaceae communities were
observed in fish fed diet supplemented with fumaric acid at 1.5% (p<0.05). Similarly, weight gain,
feed efficiency, specific growth rate and protein efficiency was numerically higher in 1.5%
treatment compared with control group and other treatments (p<0.05). On the other hand, there was
no significant difference in daily feed intake (p>0.05). The supplementation of 1.5% fumaric acid
improves zootechnical performance and results an antibacterial effect in Nile tilapia fry.
Key words: Nile tilapia, organic acid, nutrition, zootechnical performance, gut microflora
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Lista de figuras
Páginas
Figura 1 - Contagens totais das bactérias gram-negativas presentes no intestino
proximal de juvenis de tilápia-do-nilo alimentados com dietas suplementadas
com ácido fumárico por 35 dias.
31
Figura 2. Contagens totais das enterobactérias presentes no intestino proximal de
juvenis de tilápia-do-nilo alimentados com dietas suplementadas com ácido
fumárico por 35 dias.
32
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Lista de tabelas
Páginas
Tabela 1 - Diferentes mecanismos de ações apresentadas pelos ácidos orgânicos e
seus sais na nutrição animal.
11
Tabela 2 - Pesquisas realizadas com ácidos orgânicos e seus sais em animais
aquáticos.
12
Tabela 1 - Formulação e composição química da dieta experimental. 24
Tabela 2 - Concentração de ácido fumárico nas dietas experimentais. 25
Tabela 3 - Desempenho zootécnico (média ± desvio padrão) de juvenis de tilápia-do-
nilo alimentados com dietas suplementadas com ácido fumárico por 35 dias.
28
Tabela 4 - Contagem total de enterobactérias (média ± desvio padrão) de juvenis de
tilápia-do-nilo alimentados com dietas suplementadas com ácido fumárico por 35
dias.
30
Tabela 5 - Contagem total de Gram-negativas (média ± desvio padrão) de juvenis de
tilápia-do-nilo alimentados com dietas suplementadas com ácido fumárico por 35
dias.
31
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Sumário
Páginas
Dedicatória 3
Agradecimento 4
Resumo 5
Abstract 6
Lista de figuras 7
Lista de tabelas 8
1- Introdução 10
2- Artigo - Suplementação de ácido fumárico em dietas para juvenis de
tilápia-do-nilo
21
3- Considerações finais 34
4- Referências 35
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1- Introdução
A tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é uma espécie pertencente à família
Cichlidae que se destaca na piscicultura mundial pela rusticidade, facilidade na
reprodução, adaptação a diversos sistemas de cultivo, bom desempenho produtivo,
baixa taxa de conversão alimentar, hábito alimentar onívoro (COWARD e BROMAGE,
2000; MCINTOSCH e LITTLE, 1995), aceitação de dietas industrializadas desde o
estágio larval (ZIMMERMANN e FITZSIMMONS, 2004), carne com coloração branca
e também resistência a altas salinidades e temperaturas (VICENTE e FONSECA-
ALVES, 2013). Em termos numéricos, O. niloticus é a principal espécie cultivada no
Brasil, correspondendo a aproximadamente 45% da produção aquícola nacional. Sua
produção está concentrada principalmente nos estados do Ceará, Paraná, São Paulo e
Santa Catarina (IBGE, 2015), caracterizada principalmente pelo uso de sistemas semi
intensivos e intensivos, tendo como meios produtivos mais comuns o cultivo em
viveiros escavados e tanques-rede (SEBRAE, 2014).
Em geral, o aumento da produtividade exige quase que exclusivamente o uso de
rações comerciais nutricionalmente completas (URBINATI e CARNEIRO, 2004)
tornando este item o de maior custo operacional (FURLANETO et al., 2006). Neste
sentido, pesquisas visando à redução dos custos com alimentação sem prejudicar o
desempenho dos animais tornam-se necessárias. Por se tratar de uma espécie onívora,
muitas pesquisas com a tilápia-do-nilo foram desenvolvidas na redução do uso da
farinha de peixe por ingredientes de origem vegetal nas dietas (BOSCOLO et al., 2001).
Entretanto, ingredientes de origem vegetal apresentam deficiências em um ou mais
aminoácidos essenciais e baixa concentração e disponibilidade do fósforo (FURUYA et
al., 2010). O uso de dietas com elevadas concentrações de alimentos vegetais demanda
o uso de estratégias para mitigar os efeitos negativos destas deficiências (BUTOLO,
2002). Isto pode ser feito pela suplementação ou o uso de aditivos dietéticos que
aumentem a disponibilidade dos nutrientes presentes (ANDERSON et al., 1995;
AKSNES et al., 1997).
De acordo com a Instrução Normativa MAPA nº 44, de 15 de dezembro de 2015,
aditivos são classificados como:
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A utilização dos ácidos orgânicos e seus sais têm aumentado bastante seus estudos
nos últimos anos, e os mais utilizados comercialmente com a finalidade de preservação
dos alimentos são os ácidos: fórmico, propiônico, láctico, butírico e cítrico. Eles
apresentam efeitos diferentes na dieta, no trato intestinal e metabolismo do animal
cultivado, conforme sumarizado na Tabela 1.
Tabela 1. Diferentes mecanismos de ações apresentadas pelos ácidos orgânicos e seus
sais na nutrição animal.
Local de ação Forma efetiva Ações
Dieta H+
Redução do pH;
Desnaturação de proteínas;
Redução no crescimento
microbiano.
Trato Intestinal H+
e íons Efeito antimicrobinao
H+ Redução no pH do
estômago e duodeno;
Aumento da atividade de
pepsina.
Disponibilidade de cátions
(Ca2-
, Mg2-
, Fe2-
, Cu2-
, Zn2-
)
Metabolismo H+
e Ânion Fonte de energia
Fonte: adaptado de Lückstädts (2008). H+: Forma não ionizada. Ânion: Forma ionizada
Além disso, há um elevado interesse pelo desenvolvimento de substâncias
alternativas com potencial para substituir ou minimizar o uso dos antibióticos (LIM;
LÜCKSTADTS; KLESIUS, 2010; PARTANEN et al., 2002). O uso dos antibióticos
“Substância, micro-organismo ou produto formulado, adicionado
intencionalmente aos produtos, que não é utilizado normalmente
como ingrediente, tenha ou não valor nutritivo e que melhore as
características dos produtos destinados à alimentação animal dos
produtos animais, melhore o desempenho dos animais sadios ou
atenda às necessidades nutricionais.”
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nos sistemas de cultivo, servindo como agentes terapêuticos e promotores do
crescimento aumentou o risco de desenvolverem bactérias resistentes e com efeitos
nocivos para a saúde humana e animal, bem como para o ambiente aquático
(CABELLO, 2006). Com isso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) proibiu o uso dos antibióticos cloranfenicol e nitrofuranos (Instrução
Normativa nº 09/2003), quilononas e sufonamidas (Instrução Normativa nº 26/2009),
espiramicina e eritromicina (Instrução Normativa nº 14/2012) como aditivos
alimentares na produção animal.
Os estudos sobre a suplementação dietética com ácidos orgânicos iniciaram-se
com aves e suínos. Por exemplo, Lu et al. (2012) registraram que a suplementação de
0,3% de butirato de sódio na dieta de porcas gestantes aumentou em 13% o ganho de
peso diário. Já Gheler et al. (2009), adicionando ácido benzoico na dieta de leitões de
28 a 70 dias de idade, observaram melhora na conversão alimentar e ganho de peso
com, respectivamente, 0,62% e 0,79% de inclusão dietética de ácido benzoíco. A adição
de 2 a 3% dos ácidos butírico, fumárico ou lático em dietas para frangos de corte
aumentou o ganho de peso e a altura das vilosidades intestinais após 42 dias de oferta
(ADIL et al., 2010, 2011)
Em relação aos estudos com a suplementação de sais orgânicos na dieta de
animais aquáticos, os primeiros foram publicados nos anos de 1990 por Ringo (1991) e
Ringo; Olsen e Castell (1994). Estes estudos mostraram que a adição de 1% de lactato
de sódio durante 70 dias nas dietas de “Charr do Ártico” (Salvelinus alpinus), aumentou
o crescimento e reduziu a conversão alimentar. Além do desempenho zootécnico, estas
substâncias também são utilizadas na nutrição de animais aquáticos por participarem de
várias vias metabólicas, gerando energia e melhorando a digestibilidade dos principais
nutrientes, bem como induzindo a inibição de bactérias devido a sua capacidade de
redução do pH intestinal (GOOSEN et al, 2011). Na Tabela 2 são sintetizados os
resultados de estudos prévios sobre a suplementação de ácidos orgânicos em dietas para
organismos aquáticos.
Tabela 2. Pesquisas realizadas com ácidos orgânicos e seus sais em animais aquáticos.
Ácido orgânico % com melhor
resposta
Espécie Resultados Referência
bibliográfica
Formiato + 1% Oncorhynchus Não houve efeitos Gao et al.
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butirato (2:1) mykiss benéficos. (2011)
Mix (ácido
fórmico,
benzoico e
HMTBa)
0,12% Litopenaeus
vannamei
Aumento da
sobrevivência do
cultivo e após
desafio
com V. harveyi.
Jueliang et
al.
(2013)
Acetato,
butirato,
citrato,
formiato,
propionato,
lactato
2% Litopenaeus
vannamei
Mudanças na
atratividade,
consumo e
digestibilidade
Silva et al.
(2013)
Proionato de
sódio ou
butirato de
sódio
0,5 a 2%
Litopenaeus
vannamei
Melhorou o peso
final e taxa de
crescimento
específico
Silva et al.
(2014)
Ácido
Fumárico
0,1% e 0,5% Clarias
gariepinus
Melhorou o
crescimento, os
parâmetros
hematológicos e a
sobrevivência
Omosowone
et al. (2015)
O ácido fumárico é um ácido dicarboxílico (C4H4O4) que vem se destacando
dentre os ácidos orgânicos por ser caracterizado como um ácido fraco, não tóxico e ter
alta capacidade de dissociação (pka), características estas que o fizeram ser usado como
aditivo alimentar desde 1946 (MALONE, 2000; XIE et al., 2003). Com a capacidade de
dissociação, torna-se apto a agir como antimicrobiano no trato gastrointestinal afetando
principalmente as bactérias gram-negativas, por atravessar a membrana celular
bacteriana quando dissociado, liberando prótons no citoplasma neutro e reduzindo o pH
intracelular (KNARREBORG et al., 2002; DIBNER e BUTTON, 2002). Além disso,
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devido à ação antimicrobiana, também atua como conservante de alimentos (MROZ et
al., 2000) por resistir a alcalinização do meio, possibilitando a redução do pH das dietas
(PARTANEN e MROZ, 1999).
Estudos com suplementação de ácidos orgânicos para não ruminantes, como
relatado anteriormente, encontram-se bastante consolidados, porém, as pesquisas com
ácido fumárico, especificamente, ainda apresentam resultados controversos. Gomes et
al. (2011) estudando leitões recém-desmamados suplementados com ácido fumárico
(0,5%) e sua combinação com o ácido lático e o propionato de cálcio, não determinaram
melhora nos parâmetros analisados quanto ao desempenho e as características
intestinais. Similarmente, Silveira (2004) ao avaliar diferentes níveis de ácido fumárico
(0,5%; 1,0%; 1,5% e 2,0%) não observou quaisquer efeitos sobre o desempenho dos
leitões desmamados aos 28 dias de idade, com resultados similares ao grupo controle.
Por outro lado, Scapinello et al. (1999) e Omosowone et al. (2015) observaram relação
positiva entre a adição de ácido fumárico e desempenho zootécnico dos animais
avaliados. No primeiro estudo, após a submissão a dietas suplementadas aos níveis de
0,5%; 1,0%; 1,5% e 2,0% por 70 dias de idade ficou determinada que a suplementação
de 2% de ácido fumárico melhorou a conversão alimentar de coelhos da raça Nova
Zelândia. Da mesma forma, Omosowone et al. (2015), ofertaram 0,5%; 1,0%; 1,5% e
2,0% de suplementação de ácido fumárico para o bagre africano (C. gariepinus,
68.14±1.5 g), por 56 dias, e observaram que os níveis de 0,5 e 2%, mostraram melhores
resultados quanto ao desempenho, parâmetros hematológicos e sobrevivência.
Apesar destes estudos, informações sobre os benefícios da inclusão de ácidos
orgânicos e/ou seus sais em dietas aquícolas ainda são escassos, podendo-se apresentar
variadas respostas de acordo com as espécies, tamanhos, idades dos animais, tipos e
níveis dos ácidos orgânicos e suas combinações. Portanto, é necessário o
desenvolvimento de pesquisas que supram estas lacunas, sendo O. niloticus um bom
modelo biológico para isso pela sua importância produtiva na aquicultura mundial.
1.2 Objetivos
1.2.1 - Objetivo geral
Avaliar o ácido fumárico como aditivo alimentar em dietas para juvenis de tilápia do
Nilo.
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1.2.2- Objetivos específicos
Avaliar o efeito da suplementação dietética do ácido fumárico sobre o desempenho
zootécnico e microbiota intestinal de juvenis de tilápia do Nilo.
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NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
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2- Artigo Científico
Suplementação de ácido fumárico em dietas para juvenis de tilápia-do-nilo
Resumo
O objetivo do presente estudo foi avaliar o uso de ácido fumárico como aditivo
alimentar para dietas de alevinos de tilápia-do-nilo. Seis dietas isocalóricas (3,4 kcal de
energia bruta / g) e isonitrogenadas (29% de proteína bruta) suplementadas com ácido
fumárico (0,0, 0,5, 1,0, 1,5, 2,0 e 3,0% da dieta) foram formuladas com quatro
repetições cada e os animais foram distribuídos em delineamento inteiramente
casualizado. Treze peixes (± 1,7 g) foram distribuídos em tanques e alimentados às
8:00, 12:00 e 16:00 horas até a saciedade aparente durante 35 dias. Todos os dados de
desempenho zootécnico e contagem de bactérias viáveis totais (UFC-1) foram
submetidos à análise de variância e as diferenças entre as médias foram avaliadas pelo
teste de Tukey (p <0,05). Redução significativa de bactérias gram-negativas e
comunidades de Enterobacteriaceae foi observada em peixes alimentados com dieta
suplementada com ácido fumárico a 1,5% (p <0,05). Da mesma forma, ganho de peso,
eficiência alimentar, taxa de crescimento específico e eficiência protéica foram
numericamente maiores no tratamento de 1,5% comparado ao grupo controle e outros
tratamentos (p <0,05). Por outro lado, não houve diferença significativa no consumo
diário de ração (p> 0,05). A suplementação de 1,5% de ácido fumárico melhora o
desempenho zootécnico e resulta em efeito antibacteriano em tilápias do Nilo.
Palavras-chave: tilápia do Nilo, ácido orgânico, nutrição, desempenho zootécnico,
microflora intestinal
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
23
Abstract
The objective of the present study was to evaluate the use of fumaric acid as a feed
additive for Nile tilapia fry diets. Six iso-caloric (3.4 kcal gross energy/ g) and iso-
nitrogenous (29% crude protein) diets supplemented with fumaric acid (0.0, 0.5, 1.0,
1.5, 2.0 and 3.0% of diet) were formulated with four replicate each and the animals
were distributed in a completely randomized design. Thirteen fish (± 1.7g) were
distributed in tanks and fed at 8:00 a.m., 12:00 a.m. and 4:00 p.m. up to apparent satiety
during 35 days. All zootechnical performance and total viable bacterial count (CFUg-1
)
data were subjected to analysis of variance and differences between means were
assessed by Tukey's test (p<0.05). Significant reduction of gram-negative bacteria and
Enterobacteriaceae communities were observed in fish fed diet supplemented with
fumaric acid at 1.5% (p<0.05). Similarly, weight gain, feed efficiency, specific growth
rate and protein efficiency was numerically higher in 1.5% treatment compared with
control group and other treatments (p<0.05). On the other hand, there was no significant
difference in daily feed intake (p>0.05). The supplementation of 1.5% fumaric acid
improves zootechnical performance and results an antibacterial effect in Nile tilapia fry.
Keywords: Nile tilapia, organic acid, nutrition, zootechnical performance, gut
microflora
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
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Introdução
Os ácidos orgânicos e/ou seus sais são constituintes naturais de alguns
subprodutos do metabolismo bacteriano e do trato gastrointestinal de animais e,
caracterizam-se pela presença de uma ou mais carboxilas (LIM et al., 2015). Efeitos
ligados a adição dos ácidos orgânicos incluem melhora da palatabilidade, maior
eficiência alimentar em consequência da redução do pH gástrico, diminuição do
crescimento bacteriano, aumento da atividade da pepsina e efeitos metabólicos, motivos
pelos quais, quando inseridos nas rações, podem auxiliar na melhoria da utilização de
nutrientes em animais aquáticos (ROMANO et al., 2015; SUKOR et al., 2016).
Dentre os ácidos orgânicos avaliados na suplementação de animais aquáticos, os
ácidos cítricos, fórmico, propiônico, láctico e butírico e o fumárico têm mostrado efeito
positivo no desempenho zootécnico das espécies avaliadas. Estudos conduzidos por
Sarker et al (2005); Hossain et al (2007) mostraram que o uso de ácido cítrico, nas
concentrações de 1% a 3% para pargo vermelho (Pagrus major), resultaram na melhoria
do crescimento, taxa de conversão alimentar e absorção e retenção de N e P. No caso de
tilápias híbridas (Oreochromis sp.), após a oferta de dietas suplementadas com
diformato de potássio, houve maior ganho de peso e alteração da microbiota intestinal
nos espécimes submetidos a adição deste composto a 0,6% (ZHOU et al,. 2009).
Além destes ácidos, o ácido fumárico também tem sido avaliado por sua ação
antimicrobiana relacionada à sua alta capacidade de dissociação que ao atravessar a
membrana celular bacteriana, libera prótons e reduz o pH intracelular, culminando com
a morte da célula (LEHNEN, 2009). Este ácido é um dicarboxílico com quatro carbonos
(C4H4O4), bastante estável à temperatura ambiente, pouco solúveis em água (LUDKE,
1993), não volátil, inodoro, não tóxico e pode ser encontrado naturalmente em plantas e
fungos (PARTANEN e MROZ, 1999; BUHLER, 2009).
Gomes et al. (2007) estudaram a inclusão de ácido fumárico e suas combinações
com ácido butírico ou fórmico na dieta de leitões recém-desmamados, e concluíram que
dietas suplementadas com 0,5% melhoraram o desempenho dos animais nas duas
primeiras semanas pós-desmame. A suplementação de 2 a 3% de ácido butírico,
fumárico ou lático na engorda de frangos aumentou o ganho de peso e a altura das
vilosidades intestinais (ADIL et al., 2010, 2011). Omosowone et al. (2015) ofertaram
0,5%; 1,0%; 1,5% e 2,0% de suplementação de ácido fumárico para o bagre africano (C.
gariepinus, 68,14±1,5 g) por 56 dias, e observaram que os níveis de 0,5 e 2%,
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
25
mostraram melhores resultados quanto ao desempenho, parâmetros hematológicos e
sobrevivência.
Entretanto, ainda há escassez de resultados consistências sobre os efeitos da
inclusão de ácidos orgânicos e seus sais em dietas na aquicultura, uma vez que, sua ação
no organismo é dependente do tipo e níveis de suplementação dos ácidos orgânicos
usados e da espécie e tamanho que estão sendo avaliados. Neste sentido, o presente
estudo teve por objetivo avaliar o ácido fumárico como aditivo alimentar em dietas para
alevinos de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus).
Material e métodos
Todos os procedimentos descritos neste experimento foram previamente aprovados pela
Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE) através da licença nº 08/2017.
Dietas experimentais
Uma dieta basal sem suplementação de ácido fumárico foi formulada para
conter 35% de proteína bruta de modo a atender as exigências nutricionais da espécie
(NRC, 2011). Outras cinco dietas similares à dieta basal foram suplementadas com
ácido fumárico (0,5; 1,0; 1,5; 2,0 e 3,0% da dieta) (Tabela 1). O ácido fumárico foi
adicionado às dietas substituindo o inerte em uma relação 1:1. Para a preparação das
dietas, os ingredientes foram moídos (≤ 0,8 mm), pesados, misturados, umedecidos
(25% de água), peletizados (3 mm de diâmetro), secos em estufa de ventilação forçada
(55ºC por 24 horas) e resfriados em temperatura ambiente, com posterior
armazenamento das rações em recipientes plásticos a 10°C até o fornecimento aos
peixes.
Tabela 1 – Formulação e composição química da dieta experimental
Ingredientes % Dieta
Base
Farelo de soja 34,44
Farinha de peixe 20,00
Milho 29,44
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
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Amido de milho 10,00
Óleo de soja 2,00
Ácido fumárico1
0,00
Inerte2
3,1
Sup. Vitamínico/Mineral3
1,00
BHT 0,02
Composição Química Analisada
Umidade (%) 7,66
Extrato etéreo (%) 11,54
Proteína bruta (%) 35,3
Matéria mineral (%) 8,19
Cálcio (%) 1,55
Fósforo (%) 1,12
1Ácido Fumárico – Merck KGaA, 64271 Darmstadt, Germany.
2Celulose MC 101 – Rhoster®. Araçoiaba da Serra – SP.
3Níveis de garantia (kg-1 produto): vit. A, 1.000.000 UI; vit. D3, 312.500 UI; vit. E, 18.750 UI; vit. K3, 1.250 mg; vit. B,2.500 mg;
vit. B2, 2.500 mg; vit. B6, 1.875 mg; vit. B12, 4 mg; Vitamina C, 31.250 mg; Ác. Nicotínico, 12.500 mg; Pantotenato de cálcio,
6.250 mg; Biotina, 125 mg; Ác. Fólico, 750 mg; Colina, 50.000 mg; Inositol, 12.500 mg; Sulfato deferro, 6.250 mg; Sulfato de
cobre, 625 mg; Sulfato de zinco, 6.250 mg; Sulfato de manganês, 1875 mg; Selenito de sódio, 13 mg; Iodato de cálcio, 63 mg;
Sulfato de cobalto, 13 mg.
As concentrações de ácido fumárico nas dietas experimentais foram analisadas segundo
a metodologia da AOAC (2005) (Tabela 2).
Tabela 2 – Concentração de ácido fumárico nas dietas experimentais.
0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 3,0%
Ác.
Fumárico
(mg/kg) 426,23 5.636,53 9.064,21 15.713,98 21.171,69 30.481,13
Peixes e condições experimentais
Alevinos de tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) provenientes da Estação de
Piscicultura de Itiúba da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e
Parnaíba - CODEVASF (Porto Real do Colégio, AL) foram doados e aclimatados às
condições laboratoriais sete dias antes do início do experimento, sendo alimentados
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
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diariamente até a aparente saciedade com dieta comercial (35% de PB), três vezes ao
dia (8, 12 e 16 horas).
Ao início do experimento, os peixes foram pesados (1,7±0,1g), distribuídos em
24 caixas (40L) retangulares de polietileno (13 peixes/caixa) dotadas de aeração
constante e filtros biológicos, constituindo um delineamento experimental inteiramente
casualizado (n=4). Diariamente, todas as caixas eram sifonadas para retirada de fezes e
outros resíduos, com reposição do volume perdido (15%) com água filtrada a 200 μm.
Durante 35 dias os peixes foram alimentados com as dietas experimentais em
três refeições diárias (8, 12 e 16 horas) até a aparente saciedade. O oxigênio dissolvido
(6,71 ± 0,23 mg/L), a temperatura (27,5 ± 0,3ºC) e o pH (7,5 ± 0,2) da água foram
monitorados diariamente com ajuda de uma sonda YSI (modelo F-55, EUA) e
condutivímetro portátil (AK90 – AKSO, Brasil). O nitrogênio amoniacal total
(0,33±0,123 mg/L) e o nitrito (0,25±0 mg/L) foram monitorados semanalmente com
auxílio de kits colorimétricos comerciais (Labcon®, Brasil).
Coleta e processamento das amostras
Semanalmente, após jejum prévio de 24 horas, quatro peixes de cada tratamento
foram coletados, anestesiados (benzocaína 100 mg/L) e eutanasiados por secção da
medula espinhal. Após a eutanásia, a superfície corporal foi esterilizada por aspersão de
solução etanólica a 70%, de modo a garantir um ambiente asséptico para a necropsia.
Foram amostrados 3 cm do intestino proximal para análise microbiológica, o conteúdo
alimentar foi cuidadosamente removido com solução salina estéril a 0,85%.
Posteriormente, a amostra foi macerada em 1 ml de solução salina estéril (NaCl a
0,85%), diluída sucessivamente (10-1
a 10-5
) e 100 μL foram semeados em duplicata
pela técnica Pour plate em Ágar MacConkey (Merck, Alemanha) - meio seletivo para
gram-negativas - e em Ágar Eosina Azul de Metileno (EMB) (Merck, Alemanha) - meio
seletivo para enterobactérias. As placas foram incubadas a 30ºC por 24 horas para
posterior contagem do número de unidades formadoras de colônia (UFC/g) utilizando o
contador de colônias.
Análises químicas
As dietas experimentais foram analisadas quanto a sua composição química de
acordo com as normas preconizadas pela Association of Official Analytical Chemists
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
28
(2005). A umidade foi determinada pelo método gravimétrico, em estufa a 105 °C, até
peso constante. O conteúdo de cinzas foi determinado também pelo método
gravimétrico após 5 h em mufla a 550°C. A proteína bruta (N×6,25) foi determinada
pelo método de Kjedhal. O extrato etéreo pelo método de Soxhlet. As análises para
determinação de cálcio (espectroscopia de absorção atômica), fósforo (técnica analítica
de colorimetria) de acordo com metodologia descrita no Compêndio Brasileiro de
Alimentação Animal (2013), e ácido fumárico (Cromatografia líquida de alta eficiência
- HPLC) adicionados à dieta, foram realizadas pela empresa
CBO Análises Laboratoriais (Vale Verde, Valinhos – SP).
Variáveis de desempenho zootécnico
Ao final do período experimental, todos os peixes foram anestesiados (100 mg
benzocaina/L), pesados e calcularam-se as seguintes variáveis, com suas respectivas
fórmulas:
Ganho de peso – GP (%): GP = Pf – Pi x 100;
Taxa de eficiência alimentar – EA (%): EA = GP/I;
Taxa de crescimento específico (%/dia-1
): TCE = (ln (Pf) – ln (Pi))/t x 100;
Taxa de eficiência proteica – TEP (%): TEP = GP/IP x 100.
Onde: GP – ganho de peso; Pf – peso final; Pi – peso inicial; I – ingestão total de
alimento; IP - Ingestão total de proteína; ln – logaritmo natural e t – tempo.
Análise estatística
Os dados foram previamente analisados quanto à normalidade e homogeneidade
das variâncias. Atendidos estes preceitos, foi realizada a análise de variância de uma via
e, quando significativa (P<0,05) as médias foram comparadas pelo teste de Tukey.
Todas as análises foram realizadas utilizando o software SAS versão 9.1.
Resultados e Discussão
Desempenho zootécnico
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
29
Os resultados das variáveis de desempenho analisadas revelam que existiu
diferença estatística entre os tratamentos (p<0,05) (Tabela 3).
Tabela 3. Desempenho zootécnico (média ± desvio padrão) de juvenis de tilápia-do-nilo
alimentados com dietas suplementadas com ácido fumárico por 35 dias.
Ácido
Fumárico
Consumo
diário de
ração
(g/peixe/dia)
Ganho de
Peso (%)1
Taxa de
Eficiência
alimentar (%)2
Taxa de
crescimento
específico
(%/dia-1
)3
Taxa de
eficiência
proteica (%)4
0% 0,84±0,00a
857,10±8,79c
0,41±0,01d
6,45±0,03c
1,17±0,02c
0,5% 0,80±0,06a
939,71±6,39b
0,45±0,04cb
6,69±0,02cb
1,31±0,11b
1,0% 0,78±0,06a
928,80±20,02b
0,46±0,03b
6,66±0,06b
1,35±0,09b
1,5% 0,84±0,00a
1163,64±7,58a
0,52±0,00a
7,25±0,02a
1,50±0,01a
2,0% 0,84±0,01a
946,49±21,2b
0,43±0,01cbd
6,71±0,06cbd
1,26±0,02cb
3.0% 0,83±0,01a
831.47±16.49c 0.39±0.01
d 6.38±0.05
c 1.14±0.03
c
Médias sobrescritas com letras minúsculas na mesma coluna são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey.
1 Regressão polinomial quadrática: Y = 16,13440+4,40277x-1,48601x2; R2=0,54; P<0,01.
2 Regressão polinomial quadrática: Y = 0,41504 + 0,10014x – 0,03650x²; R2=0,57; P<0,01.
3 Regressão polinomial quadrática: Y = 6,41590 + 0,69073x – 0,23558x²; R2=0,58; P<0,01.
4 Regressão polinomial quadrática: Y = 1,18120 + 0,30574x – 0,10851x²; R2=0,59; P<0,01.
Para os resultados de consumo diário de ração podemos observar que não
apresentou diferença significativa (p>0,05) entre os tratamentos. Este fator pode estar
associado a boa qualidade dos ingredientes, principalmente a farinha de peixe que ainda
é considerado um dos principais ingredientes atrativos na dieta, e o cuidado na hora de
realizar o preparo. Assim o efeito palatabilizante característico do ácido pode ter sido
suprimido pelo bom resultado final, com relação a sabor, apresentado na dieta. Este
resultado difere dos obtidos por Roth e Kirchgessner (1998), Partanen e Mroz (1999),
Boling et al. (2000) e Kluge et al. (2006) que verificaram melhor consumo de ração,
ganho de peso e conversão alimentar em leitões quando utilizaram bland de ácidos
orgânicos, ácido cítrico e ácido benzoico respectivamente.
Os resultados de taxa de crescimento específico e ganho de peso apresentaram
diferenças significativas (p<0,05) e o ganho de peso apresentou uma maior variação,
com taxa de 30% (848,31 a 1171,22), com valores diretamente proporcionais a
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
30
suplementação de até 1,5% de ácido fumárico nas dietas ocorrendo uma diminuição a
partir deste ponto. A ação antimicrobiana dos ácidos orgânicos favorece o
desenvolvimento de microrganismos não patogênicos, formando uma espécie de
barreira protetora contra patógenos, assim influenciando na morfologia intestinal dos
animais (SILVA, 2011) auxiliando no desenvolvimento das vilosidades proporcionando
dessa forma maior capacidade de absorção e aproveitamento dos nutrientes (MROZ,
2005) acarretando num melhor desempenho, principalmente o ganho de peso, como
observado neste presente estudo. Assim como Panda et al (2009), concluindo que a
inclusão de 0,4% de ácido butírico na dieta melhorou o desempenho de frangos de corte
e aumento das vilosidades intestinais aos 35 dias de idade em relação ao controle e Zhu
et al. (2015) adicionando 2% do ácido cítrico na dieta de juvenis de yellow catfish
(Pelteobagrus fulvidraco), resultou em um aumento significativo do ganho de peso.
Um dos mecanismos de ação dos ácidos orgânicos é a melhoria da
digestibilidade proteica, através da redução do pH no estômago e no início do intestino,
favorecendo a atividade da pepsina. A ação sobre as enzimas digestivas faz com que os
produtos finais da digestão pela pepsina e a digesta com pH baixo entram no duodeno e
estimulem a secreção das enzimas pancreáticas (BURNELL et al. 1988). Este aumento
na secreção pancreática em resposta ao efeito acidificante dos ácidos orgânicos no trato
gastrointestinal resulta no aumento da digestibilidade das dietas ofertadas
(PARTANEN, 2001). Como pôde ser evidenciado por Castillo et al. (2014) onde
observaram que suplementação de 1,5% de ácido cítrico melhorou o desempenho em
crescimento de juvenis de red drum Sciaenops ocellatus, devido ao aumento da
atividade das enzimas digestivas pepsina, tripsina, lipase e amilase. Isto pode ser um
dos fatores que auxiliou numa melhor eficiência proteica e eficiência alimentar (p<0,o5)
nos peixes que foram suplementados com 1,5% do ácido fumárico.
Ramli et al. (2005) determinou que 0,2% diformiato de potássio (KDF) para
tilápia na Indonésia melhoraram significativamente que a eficiência proteica, o consumo
de ração e ganho de peso. E nos estudos de Partanen e Mroz (1999), verificou-se o
efeito positivo do ácido fumárico na digestibilidade total aparente da matéria seca,
energia bruta, proteína bruta, e na retenção de N.
Resultados positivos foram observados nos peixes que foram suplementados
com 1,5% do ácido fumárico, mas a partir desse nível de suplementação podemos notar
que houve uma diminuição nos índices zootécnicos analisados. Omosowone et al.,
(2015) suplementando diferentes níveis de ácido fumárico em dietas para catfish
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
31
africano, observou melhoras no crescimento dos animais resultado de uma melhora na
utilização dos nutrientes. Porém ao submeter tecidos do fígado, rim e intestino a análise
histológica, observaram que as células apresentavam algum tipo de alteração
independente do nível de suplementação. Este fator pode explicar a diminuição
apresentada neste estudo com níveis mais altos de suplementação do ácido fumárico.
Apesar de muitos resultados positivos serem apresentados na literatura, as
respostas a utilização dos ácidos orgânicos irá depender de fatores como as espécies a
serem utilizadas, tamanhos, idade dos animais, tipos e níveis dos ácidos orgânicos e
suas combinações. Isto pode ser visto no estudo de Vielma et al. (1997), que não
observaram melhorias significativas no desempenho trutas arco-íris (Oncorchynchus
mykiss) com peso médio de 520 g, quando suplementadas com 0,48% e 1,6% de ácido
cítrico por 4 semanas. E por Gomes et al. (2011), em pesquisa com leitões recém-
desmamados suplementados com ácido fumárico (0,5%) e sua combinação com o ácido
lático e o propionato de cálcio (0,5% e 0,5%, respectivamente), não determinaram
melhora com relação ao ganho de peso diário, consumo de dieta diário, conversão
alimentar e as características intestinais.
Análise da microbiota intestinal
No presente estudo, as análises microbiológicas do intestino proximal de
tilápias submetidas a dietas com ácido fumárico revelaram que houve uma redução na
contagem total das bactérias gram-negativas a partir do 14º dia nos tratamentos com
0,5%; 1,5% e 2,0% com menor concentração na suplementação de 1,5% (p<0,05).
Porém, para os tratamentos controle e 2% de ácido fumárico houve um pico nas
contagens de UFC/g no 21º dia com posterior declínio (Figura 1), devido provavelmente
a uma colonização bacteriana tardia no intestino (Tabela 4).
Tabela 4. Contagem total de bactérias Gram-negativas (média ± desvio padrão)
presentes no intestino proximal de juvenis de tilápia-do-nilo alimentados com dietas
suplementadas com ácido fumárico por 35 dias.
Contagem total de bactérias Gram-negativas em UFC/g
Ácido Fumárico (%)
Tempo 0 0,5 1,0 1,5 2,0 3,0
7 2,72±1,6x 2,55±0,1x 2,44±0,0x 2,51±0,1x 2,59±0,0x 2,61±0,1x
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
32
106a
106ab
106b
106b
106ab
106ab
14 1,31±1,2x
106ab
6,43±8,2x
105ab
1,87±0,1x
106a
4,86±7,6x
105b
9,87±9,8x
105ab
1,61±0,9x
106ab
21 2,72±0,2x
106a
8,70x±8,x
105bc
4,86±7,2x
105bc
3,21±4,8x
105c
1,13±0,5x
106bc
1,30±0,8x
106a
28 2,62±0,2x
105ab
6,67±5,5x
105ab
2,41±2,4x
105ab
3,63±4,0x
104b
6,34±6,6x
105a
2,25±3,5x
105ab
35 2,67±0,2x
105a
7,07±6,3x
105a
2,27±2,3x
105a
1,92±3,2x
105a
5,71±5,9x
105a
1,66±2,6x
105a
Médias sobrescritas com letras minúsculas na mesma linha são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey.
Figura 1. Contagens totais das bactérias gram-negativas presentes no intestino proximal de juvenis de
tilápia-do-nilo alimentados com dietas suplementadas com ácido fumárico por 35 dias.
Na contagem das enterobactérias, pode-se observar que entre os tratamentos, a
suplementação de 1,5% do ácido fumárico ocasionou uma redução da contagem total já
a partir do 21º dia (p<0,05). Analisando ao longo do tempo, determinou-se que houve
uma redução absoluta na contagem total de enterobactérias a partir do 28º dia em todas
as dietas que continham o aditivo (Figura 2), indicando o efeito benéfico do ácido
fumárico no impedimento da colonização intestinal por bactérias potencialmente
patogênicas (Tabela 5).
Tabela 5. Contagem total de enterobactérias presentes no intestino proximal de juvenis
de tilápia-do-nilo alimentados com dietas suplementadas com ácido fumárico por 35
dias.
Contagem total de enterobactérias (média ± desvio padrão) em UFC/g
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
33
Ácido Fumárico (%)
Tempo 0 0,5 1,0 1,5 2,0 3,0
7 2,78±0,01x
106a
2,56±0,x
105a
2,33±0,0x
105cd
2,44±0,0x
105bc
2,47±0,x
105b
2,29±0,0x
105d
14 4,96±8,77x
105a
1,64±0,x
105a
4,18±6,0x
105a
3,89±6,4x
105a
5,96±6,x
105a
5,27±3,0x
105a
21 2,53±0,22x
105a
2,99±2,x
104b
6,76±5,3x
104ab
4,21±4,1x
104ab
1,07±1,x
105ab
2,01±3,2x
105ab
28 2,52±0,11x
105a
0.00±0.0b 0.00±0.00
b 0.00±0.00
b 0.00±0.0
b 0.00±0.00
b
35 8,68±0,11x
105a
0.00±0.0b 0.00±0.00
b 0.00±0.00
b 0.00±0.0
b 0.00±0.00
b
Médias sobrescritas com letras minúsculas na mesma linha são estatisticamente diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey.
Figura 2. Contagens totais das enterobacterias presentes no intestino proximal de juvenis de tilápia-do-
nilo alimentados com dietas suplementadas com ácido fumárico por 35 dias.
A eficiência antimicrobiana dos ácidos orgânicos depende da sua constante de
dissociação (pKa) e quanto maior o pKa, mais eficiente ele será. O ácido fumárico,
aditivo testado no presente estudo, tem um alto potencial de dissociação apresentando
valores entre 3,02 e 4,38 (GAUTHIER, 2002), sendo capaz de atravessar a membrana
celular bacteriana. No caso específico das bactérias gram-negativas, este efeito é
potencializado devido a sua parede celular fina, formada por uma ou poucas camadas de
peptideoglicano e por uma membrana externa, separadas pelo espaço periplasmático
(PRESCOTT et al., 2002).
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
34
A colonização e o estabelecimento é um processo complexo e depende de fatores
como: composição microbiana da água, da dieta fornecida, do estágio de desenvolvimento,
do estresse sofrido e do ambiente. Isto se da pelo intestino ser um local com uma grande
variedade de microrganismos aeróbios e anaeróbios (KORSNES et al., 2006; RING et al.,
2006b; FJELLHEIM et al., 2007; NAYAK, 2010) e isto justifica a possível colonização
tardia observada neste estudo.
Estudos utilizando dietas suplementadas com ácido orgânicos, em particular, o
ácido fumárico, são escassas em termos de avaliação da comunidade bacteriana no trato
gastrointestinal de tilápias. Em ensaios in vitro, o uso de alguns ácidos orgânicos, como
ácido fórmico, acético, propiônico e butírico, inibiu o crescimento do víbrio patogênico
(V. harveyi), tendo sido o ácido fórmico que apresentou efeito inibitório mais forte
(MINE e BOOPATHY, 2011).
Dos agentes bacterianos presentes no ecossistema aquático, as
Enterobacteriaceae que são bactérias gram-negativas tem destaque podendo ser
encontrada na pele, brânquias e intestinos dos peixes (HUBER et al., 2004). Algumas
espécies, como Enterobacter spp., Klebsiella spp., Escherichia coli, Proteus spp.,
Serratia marcescens, Salmonella spp. Citrobacter spp., (LYNCH et al., 2013) são
patógenos oportunistas importantes que podem causar doença intestinal (FRENEY et al.
1988; SABAT et al. 2000; STONE et al. 2007).
Para a tilápia híbrida (Oreochromis sp.), além de alterar a comunidade bacteriana
intestinal, os animais alimentados com um suplemento de 0,6% de diformiato de
potássio incorporado a dieta também apresentaram aumento do ganho de peso (ZHOU
et al,. 2009). Kluge et al. (2006) também investigaram a microflora gatrointestinal de
leitões por um período de 35 dias e constataram uma diminuição de bactérias aeróbias,
anaeróbias totais, formadoras de ácido lático e gram-negativas.
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
35
3 – Considerações finais
A adição do ácido fumárico nas dietas de juvenis de tilápia do nilo apresentou efeitos
positivos nos parâmetros zootécnicos de desempenho e se mostrou eficaz na redução
das bactérias gram-negativas do intestino, quando suplementadas com o nível de 1,5%
no período de 34 dias.
NEVES, S.C.V. Ácido fumárico em dietas para juvenis...
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