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Ano 7 . nº 16 . Abril / Maio / Junho / 2012 René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter Gustavo Scandelari . Murilo Varasquim . Rafael de Melo Vanessa Cani . Cícero Luvizotto . Mariana Guimarães Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Alisson Nichel . Laís Bergstein . Gilliane Pombo André Meerholz . Renata Steiner . Diana Geara Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Direito de resposta: respeito à liberdade de expressão Rogéria Dotti p. 9 A violência nos estádios de futebol Cícero Luvizotto p. 12 Início do prazo prescricional em crimes tributários Gustavo Scandelari p. 5 A polêmica execução extrajudicial Fernando Welter p. 11 A notificação nos contratos de locação José Roberto Trautwein p. 10 O excesso de prazo em medidas de bloqueio de bens no Processo Penal Alexandre Knopfholz p. 5 Vedação ao enriquecimento ilícito na relação de ensino: uma via de duas mãos Julio Brotto p. 9 “Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão” René Ariel Dotti p. 3

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Ano 7 . nº 16 . Abril / Maio / Junho / 2012

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter

Gustavo Scandelari . Murilo Varasquim . Rafael de MeloVanessa Cani . Cícero Luvizotto . Mariana Guimarães

Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais GuimarãesAlisson Nichel . Laís Bergstein . Gilliane PomboAndré Meerholz . Renata Steiner . Diana Geara

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Direito de resposta: respeito à liberdade de expressão

Rogéria Dottip. 9

A violência nos estádios de futebol Cícero Luvizotto

p. 12

Início do prazo prescricional em crimes tributários

Gustavo Scandelari p. 5

A polêmica execução extrajudicial Fernando Welter

p. 11

A notificação nos contratos de locaçãoJosé Roberto Trautwein

p. 10

O excesso de prazo em medidas de bloqueio de bens no Processo Penal

Alexandre Knopfholzp. 5

Vedação ao enriquecimento ilícito na relação de ensino: uma via de duas mãos

Julio Brotto p. 9

“Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade,

deve deter o advogado no exercício da profissão”

René Ariel Dotti p. 3

Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à

educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e

profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve

visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância

e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da

paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte

livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à

protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a

que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente

Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2.

No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o

reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade

democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma

disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a

alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

3

O Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994) estabelece, no Capítulo VIII, intitulado “Da Ética do Advogado”, art. 31, que este profissional deve proceder “de forma que o torne merecedor de respeito e que contribua para o prestígio da classe e da advocacia”. E os parágrafos 1º e 2º proclamam: “O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em qualquer circunstância”/// “Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão”. São mandamentos fundamentais, entre outros, para justificar um dos mais rele-vantes dispositivos do Estatuto, que declara: “No seu ministério privado, o ad-vogado presta serviço público e exerce função social” (art. 2º, § 1º).

A lealdade absoluta ao cliente que lhe conferiu a responsabilidade para a defesa de seus interesses – maiores ou menores, não importa – é um de seus elementares deveres profissionais, como destaca o Código de Ética e Discipli-na de nossa instituição: “Art. 2º. O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do Estado Democrático de Direito, da cidadania, da moralida-de pública, da Justiça e da Paz Social, subordinando a atividade de seu ministério privado à elevada função pública que exerce: Parágrafo único. São deveres do advogado: I – preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão, zelando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade; II – atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealda-de, dignidade e boa-fé”.

Destemor e independência são virtudes absolutamente indispensáveis exigidas de quem recebe a incumbência de um mandato e que representa, para o cliente, a primeira e a última das esperanças em um acordo ou em um litígio. O bacharel que não obedece a esses comandos éticos não merece o honroso título de Advogado e muito menos a confiança do cidadão e o respeito das autoridades – porque atenta contra a razão da existência de um notável encargo e da dignidade da profissão cuja atividade “é indispensável à administração da Justiça”, como reconhece, expressamente, a nossa Cons-tituição (art. 133).

RENÉ ARIEL DOTTI

A INDEPENDÊNCIA DO ADVOGADOCOMO GARANTIA DO CIDADÃO

EDITORIAL

4

EDITORIAL

A independência do advogado como garantia do cidadão (René Ariel Dotti) .................................................................................................. 3

DIREITO CRIMINAL

O excesso de prazo em medidas de bloqueio de bens no Processo Penal (Alexandre Knopfholz) ............................................................. 5Início do prazo prescricional em crimes tributários (Gustavo Scandelari) ............................................................................................................. 5A embriaguez para o STJ (II) (Rafael de Melo) .................................................................................................................................................................... 6Suspensão condicional do processo: limites (Luis Otávio Sales) .............................................................................................................................. 6O reflexo do novo limite para execuções fiscais no crime de descaminho (Guilherme Alonso) .................................................................. 6

DIREITO ADMINISTRATIVO

A pessoa jurídica e seus administradores respondem solidariamente perante o Tribunal de Contas da União (Francisco Zardo) .......... 7Sistema de registro de preços: a vigência dos contratos administrativos não está adstrita à vigência da ata (Mariana Guimarães) ...... 7Propaganda eleitoral antecipada (Alisson Nichel) ......................................................................................................................................................... 8A primeira rodada de negociação de precatórios (André Meerholz) ...................................................................................................................... 8

DIREITO CIVIL

Direito de resposta: respeito à liberdade de expressão (Rogéria Dotti) ............................................................................................................... 9Vedação ao enriquecimento ilícito na relação de ensino: uma via de duas mãos (Julio Broto) ............................................................... 9Vagas de garagem em condomínio não poderão ser alugadas a pessoas estranhas (Patrícia Nymberg) ........................................... 10A notificação nos contratos de locação (José Roberto Trautwein) ............................................................................................................................ 10Ausência de proteção do direito de família à situação da concubina (Vanessa Scheremeta) ..................................................................... 11A polêmica execução extrajudicial (Fernando Welter) ................................................................................................................................................ 11Atos ultra vires (II) (Murilo Varasquim) ................................................................................................................................................................................. 11O contrato de seguro de vida (Vanessa Cani) ............................................................................................................................................................... 12A violência nos estádios de futebol (Cícero Luvizotto) ................................................................................................................................................ 12O direito da parte à produção de provas (Laís Bergstein) ......................................................................................................................................... 13A utilização da arbitragem e a proteção do consumidor (Renata Steiner) ....................................................................................................... 13

DIREITO DE FAMÍLIA

A definição da guarda de animais de estimação quando do fim da sociedade conjugal (Fernanda Pederneiras) ............................ 14Procedimento para reconhecer paternidade é regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça (Thais Guimarães) ...... 14O dever de prestação de contas do cônjuge que administra os bens comuns até a formalização da partilha (Gilliane Pombo) .. 15Testamento: uma forma de planejamento sucessório (Diana Geara) ................................................................................................................. 15

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

Brasil: falta de punição? (Barbara Taniguti) ................................................................................................................................................................... 16Preparo de recurso inominado (Victor Leal) ............................................................................................................................................................. 16Lei geral da copa: inconstitucionalidade aparente (Vinícius Presente) ........................................................................................................... 17Limitação da medida de segurança (Scarlett Ferreira) ........................................................................................................................................... 17A presunção relativa no crime de estupro de vulnerável (Thuan dos Santos) ............................................................................................ 18O princípio da legalidade e a confissão espontânea (Hermínia Carvalho) ................................................................................................... 18Prisão civil por dívida alimentar pendente é afastada em caso de pagamento regular de alimentos recentes (Luiz Fernando Higa) ... 19O parcelamento do tributo sonegado após o trânsito em julgado da sentença condenatória (Bruno Correia) ................... 19

ÍNDICE

5

É prática comum, sobretudo no âm-bito da Justiça Federal, que a ação penal venha acompanhada de medida caute-lar constritiva do patrimônio do acusa-do. São as chamadas medidas assecu-ratórias – arresto, sequestro e hipoteca legal – as quais visam, basicamente, ga-rantir ao Poder Judiciário o cumprimen-to das penas pecuniárias e de multa im-postas ao réu em caso de condenação. Assim é que, não raro, o demandado em procedimento criminal permanece com a quase totalidade de seus bens bloque-ados durante todo o processo.

Por outro lado, as demandas crimi-

O EXCESSO DE PRAZO EM MEDIDAS DE BLOQUEIO DE BENS NO PROCESSO PENAL

INÍCIO DO PRAZO PRESCRICIONAL EM CRIMES TRIBUTÁRIOS

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

GUSTAVO SCANDELARI

nais nem sempre evoluem de forma rá-pida. Ao revés. Muitos casos, sobretudo os mais complexos, demoram alguns anos para o seu desfecho. E, neste perío-do, não podem os acusados dispor livre-mente de seus bens.

Tais considerações vêm a lume por conta de recente decisão, exarada pelo TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª RE-GIÃO, na qual se decidiu que o princípio constitucional da razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII) deve incidir igualmente sobre as medidas cautelares impostas em feitos criminais que já se prolongam por algum tempo, em lenta

marcha processual. De fato, “O transcurso do tempo causado pela exagerada dura-ção do processo contribui para disseminar um sentimento de injustiça e de incerteza na sociedade e gera para o acusado gran-de transtorno, constituindo-se, por si só, punição.” (Habeas Corpus nº 0069549-49.2011.4.01.0000, j. 13.12.2011).

Trata-se de notável decisão, que po-derá servir de paradigma para todos os casos de constrição patrimonial com prazo indeterminado pela lentidão do trâmite das ações penais.

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA pa-cificaram o entendimento de que, em crimes tributários, o prazo prescricional somente se inicia com o lançamento do crédito fiscal, isto é, com o término do processo administrativo que visa apurar o montante devido. Desde então, várias denúncias criminais relativas a condutas que ocorreram na década de 1980 e no início dos anos 90 têm sido aforadas. Mas essa orientação, respeitosamente, está equivocada.

Salvo previsão legal em contrário

(CP, art. 111, I), começa-se a contar a prescrição a partir da data do fato. Re-cente decisão do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO bem concluiu que, em se tratando “de lançamentos fiscais inidône-os feitos pelos réus é certo que a prescrição começa a correr a partir desse fato e o lan-çamento definitivo do crédito tributário é matéria meramente declaratória” (TJSP – Recurso em Sentido Estrito nº 0013121-32.2007.8.26.0073, Rel. Des.  JOSÉ DA-MIÃO PINHEIRO MACHADO COGAN, DJe de 21.6.11. Sublinhamos).

O raciocínio é simples: o lançamento

do crédito tributário nada tem a ver com o momento consuntivo do crime. Um é mero ato declaratório da administração pública; o outro tem estreita relação com o tipo objetivo descrito na lei penal. Por isso, sonegado o tributo, a prescri-ção tem início no dia em que a ação ou a omissão típica foi praticada pelo acu-sado – e em nenhum outro momento. Considerando os dispositivos aplicáveis da Constituição e da lei federal vigentes, essa é única orientação sustentável para a contagem do prazo prescricional em crimes tributários.

DIREITO CRIMINAL

6

O art. 20 da Lei nº 10.522/2002 prevê que serão arquivados quaisquer autos de execuções fiscais de débitos inscri-tos como Dívida Ativa da União pela PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL que tenham valor igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Considerando-se que, desde a refe-rida lei, o Fisco manifestou seu desinte-resse na execução fiscal nesse patamar, a jurisprudência consolidou o enten-dimento de que, nos crimes tributários decorrentes de débitos inferiores a R$ 10.000,00, a conduta praticada pelo so-

negador será considerada atípica em vir-tude do princípio da insignificância.

O crime de descaminho, embora não inserido na Lei dos Crimes contra a Or-dem Tributária (Lei nº 8.137/90), foi con-templado pelo mesmo critério a partir do julgamento dos Habeas Corpus nº 96309 e 96976 por ambas as Turmas do SUPRE-MO TRIBUNAL FEDERAL e, posteriormen-te, do Recurso Especial nº 1.112.748/TO, pela 3ª Seção do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

Em 22 de março de 2012, o MINIS-TÉRIO DA FAZENDA apresentou a Por-

taria MF nº 75 (publicada no DOU em 29.3.2012), determinando a dilatação do limite de execução fiscal para R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

A partir da iniciativa das partes e Advogados, a jurisprudência deverá es-tabelecer que o novo valor estabelecido pelo Fisco também deve ser considera-do para a incidência do princípio da in-significância, com o reconhecimento da atipicidade de crimes tributários e, em especial, de descaminho que envolvam valores dentro do novo limite normativo.

O REFLEXO DO NOVO LIMITE PARA EXECUÇÕES FISCAIS NO CRIME DE DESCAMINHO

GUILHERME ALONSO

A EMBRIAGUEZ PARA O STJ (II)RAFAEL DE MELO

Após três pedidos de vista, no último dia 28 de março a Terceira Seção do SU-PERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA concluiu o julgamento do Recurso Especial n° 1111566 iniciado no dia 08 de fevereiro do corrente ano. A decisão será condu-tora para o judiciário brasileiro.

Entendeu a maioria dos ministros que, diante da expressa previsão legal do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, que estabelece a necessidade de “concen-tração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas” para carac-terização do crime, não há outra forma de se aferir tal proporção se não pelo teste

de bafômetro ou pelo exame de sangue, sendo estes portanto indispensáveis.

Já o entendimento vencido preten-dia ampliar os tipos de prova para iden-tificação da embriaguez, habilitando-se, por exemplo, a prova testemunhal como suficiente para sua comprovação. Ine-quivocamente, se admitida fosse essa ampliação, estaria o cidadão exposto à insegurança jurídica e sujeito a eventu-ais arbitrariedades.

Com essa decisão, definitivamente, somente mediante a realização das pro-vas técnicas poderá ser atribuída ao con-dutor de veículo automotor a prática de

direção em estado de embriaguez, pois tal tipo penal somente estará preenchi-do se verificada a quantidade de álcool referida no tipo penal. Nesse sentido, o Ministro OG FERNANDES destacou com precisão na exposição de seu voto o sen-tido do julgamento, “Matéria penal se rege pela tipicidade, e o juiz deve se sujei-tar à lei”.

Por se tratar de recurso julgado pela Terceira Seção do STJ, órgão responsá-vel por uniformizar a interpretação de matéria penal, a decisão, apesar de não ser vinculativa, norteará os processos em trâmite no judiciário nacional.

LUIS OTÁVIO SALES

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO: LIMITES

Em recente julgado (Habeas Corpus nº 222026/BA, Min. Rel. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, 20.03.12), a 6ª Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA en-tendeu que a pena de prestação pecuni-ária não pode ser estabelecida pelo ma-gistrado como uma das condições para a aplicação da suspensão condicional do processo, sob pena de violação ao princí-pio da legalidade.

Embora o §2º, do art. 89, da Lei nº 9.099/95 faculte a aplicação de outras condições para a concessão do benefício além do rol taxativo previsto no §1º (que prevê a reparação do dano, por exem-plo), não é lícita – segundo o precedente – a imposição de uma pena autônoma, como a restrição de direitos pela obriga-ção de pagar (CP, art. 43) – que somente admite fixação na sentença e depende

de expressa previsão legal.A discussão tem relevância na hipó-

tese de concessão da suspensão do pro-cesso contra pessoas jurídicas. Como as restrições de natureza patrimonial são mais comuns nessa hipótese, não é rara a estipulação, aparentemente ilícita, da pena de prestação pecuniária como con-dição para o sursis processual.

7

SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS: A VIGÊNCIA DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS NÃO ESTÁ ADSTRITA À VIGÊNCIA DA ATA

MARIANA GUIMARÃES

O Sistema de Registro de Preços é uti-lizado pela Administração para contratar objetos quando a quantidade de bens ou serviços é imprevisível. Exemplos típi-cos são as aquisições de passagens aére-as, pois não se pode precisar de antemão o número de viagens que se farão neces-sárias ao longo de determinado período.

Ao adotar o SRP, instaura-se a licita-ção prevendo uma quantidade (ainda que estimada) de bens ou serviços e os preços vencedores são registrados em

uma Ata, cujo prazo de vigência é de um ano (Lei 8.666/93, art. 15, § 3º, III). Esta Ata de Registro de preços não é um contrato, mas sim um vínculo obriga-cional por meio do qual o particular se compromete a, quando e se convocado, fornecer o item pelo valor registrado.

À medida do surgimento da necessi-dade, então, o Poder Público o chamará para fornecer o bem/serviço e, neste mo-mento, celebrará o correspondente con-trato administrativo. Como o contrato é

instrumento jurídico de natureza diversa da respectiva Ata, sua vigência não se li-mita ao prazo de validade desta.

Portanto, os contratos firmados a partir de Registros de Preços possuem vi-gência autônoma à respectiva Ata, sub-metendo-se às disposições gerais acerca do assunto trazidas no art. 57 da Lei nº 8.666/93, o que autorizará, por exemplo, a prorrogação de um ajuste de serviços continuados originário de SRP além dos 12 (doze) meses.

A PESSOA JURÍDICA E SEUS ADMINISTRADORES RESPONDEM SOLIDARIAMENTE PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

FRANCISCO ZARDO

No julgamento de Incidente de Uni-formização de Jurisprudência, o Plenário do TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO sedimentou o entendimento de que “na hipótese em que a pessoa jurídica de direito privado e seus administradores de-rem causa a dano ao erário na execução de avença celebrada com o poder público federal com vistas à realização de uma finalidade pública, incide sobre ambos

a responsabilidade solidária pelo dano” (Acórdão nº 2763/2011).

O Incidente foi provocado pelo Minis-tério Público junto TCU, após identificar a prolação de decisões naquele Tribunal em três sentidos divergentes: a) imputa-ção do débito somente aos gestores; b) imputação do débito somente à entida-de privada; c) imputação do débito aos gestores e à entidade.

Com essa Uniformização da Jurispru-dência, e diante da orientação já vigente de que é do beneficiário o ônus da pro-va, caberá tanto à pessoa jurídica quanto ao seu gestor comprovarem a regular aplicação dos recursos públicos que lhes foram repassados, sob pena de, em não o fazendo, responderem solidariamente pelo dano ao erário, que, segundo o TCU, é presumido nessa hipótese.

DIREITO ADMINISTRATIVO

8

Com a Lei Estadual nº 17.082/12 fica regulamentado o acordo direto para conciliação de créditos de precatórios com débitos tributários junto ao Estado do Paraná, consoante previsão do art. 97, §8º, III, ADCT.

A primeira rodada de negociação observará medidas peculiares. Cumpri-rá aos interessados se adequarem aos requisitos e prazos estabelecidos em lei para que possam regularmente partici-par do procedimento inicial. A primeira etapa é a celebração de parcelamento

dos débitos tributários, conforme art. 19 da lei estadual. As dívidas com fatos geradores ocorridos até 30 de novembro de 2009 serão consolidadas, com 75% do valor alocado em última parcela e o sal-do remanescente podendo ser dividido em até 59 parcelas.

Uma vez realizado o parcelamen-to, os interessados deverão formalizar requerimento de ingresso na primeira rodada de precatórios com proposta de deságio de 20% do crédito oferecido, instruído ainda com a documentação

prevista em lei. Verificada a regularida-de do requerimento, o interessado será convocado para assinatura de termo de acordo de pagamento com o Procura-dor-Geral do Estado.

Embora preveja regras de compensa-ção desfavoráveis aos credores de preca-tórios, a regulamentação do acordo direto trará segurança aos particulares para regu-larização de seus débitos tributários com o Estado do Paraná. A questão, que se arrasta por anos, enfim parece seguir para um des-fecho satisfatório a todos os interessados.

A PRIMEIRA RODADA DE NEGOCIAÇÃO DE PRECATÓRIOS

ANDRÉ MEERHOLZ

ALISSON NICHEL

PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA

Dentre as infrações eleitorais mais comuns, destaca-se no período pré--eleitoral a propaganda antecipada. Se-gundo o art. 36 da Lei nº 9504/1997, “a propaganda eleitoral somente é permitida após o dia 5 de julho do ano da eleição”. Portanto, toda propaganda realizada an-tes deste período que antecipe a disputa eleitoral, quer com a apresentação de candidatos ou pedido de votos de for-ma direta ou indireta (“disfarçada”), será passível de punição pela Justiça Eleitoral, que poderá aplicar multa “no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), ou ao equivalente ao custo da propaganda, se este for maior”

(art. 36, §3º, da Lei nº 9504/1997).Porém, o candidato citado na pro-

paganda antecipada não será automati-camente condenado ao pagamento de multa pelo simples fato de ter sido be-neficiado pela irregularidade. Para que seja legítima a condenação do candida-

to, deve estar devidamente provado que ele é o responsável direto pela divulga-ção da propaganda ou que tinha prévio conhecimento do ilícito e não tomou nenhuma providência para evitá-lo (arts. 36, §3º, e 40-B, da Lei nº 9504/1997). Esse é o entendimento do TRIBUNAL SUPE-RIOR ELEITORAL: “A penalidade de mul-ta de que trata o § 3º do art. 36 da Lei n° 9.504, de 1997 é aplicável apenas ao res-ponsável e ao beneficiário da propaganda antecipada, desde que seja comprovado o prévio conhecimento deste último” (TSE, RRp. nº 1768-06.2010.600.0000, Relatora Ministra FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, DJ. 12/08/2010).

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DIREITO DE RESPOSTA:RESPEITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO

ROGÉRIA DOTTI

Tramita no Congresso Nacional o Pro-jeto de Lei do Senado (PLS nº 141/2011), de autoria do Senador ROBERTO RE-QUIÃO, que dispõe sobre o direito de resposta ou retificação por matéria pu-blicada ou transmitida por veículo de comunicação. A proposta obteve a apro-vação da Comissão de Constituição e Justiça no último dia 14 de março.

O direito de resposta nada mais é que a possibilidade do ofendido exigir, diretamente dos jornais ou meios de comunicação, a correção ou o esclare-cimento a respeito de notícia inverídica ou ofensiva. Tal garantia está prevista no art. 5º, inciso V da Constituição Fe-deral, o qual assegura “o direito de res-posta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.

Desde de abril de 2009, entretanto, quando o SUPREMO TRIBUNAL FEDE-RAL, em polêmico julgamento (ADPF nº 130) concluiu que a Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67) não seria compatível com a Carta de 1988, o país está sem uma lei específica para regulamentar o direito de resposta. Tal lacuna gera in-segurança jurídica por possibilitar, em tese, o arbítrio judicial. Daí a necessi-dade de uma nova lei para a proteção tanto do ofendido quanto dos próprios veículos de comunicação.

O projeto prevê: prazos exíguos visando maior celeridade; a concessão de liminar com imposição de multa di-ária e a garantia do ressarcimento dos custos com a divulgação da resposta caso, ao final, se conclua que esta não era cabível. Trata-se de proposta volta-

VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO NA RELAÇÃO DE ENSINO: UMA VIA DE DUAS MÃOS

JULIO BROTTO

No final de 2011 o SUPERIOR TRIBU-NAL DE JUSTIÇA julgou o Recurso Especial nº 927.457, de São Paulo, sendo Relator o Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO. A Quarta Turma, por unanimidade, entendeu que um estabelecimento de ensino não po-deria cobrar a mensalidade integral de um aluno que não cursava todas as dis-ciplinas previstas para determinado ano letivo. O raciocínio por trás do julgado pode ser simplificado da seguinte forma: cobrar por uma matéria não ministrada ao aluno implicaria enriquecimento sem

DIREITO CIVIL

causa da instituição de ensino.A recíproca também deve ser ver-

dadeira, porém, os Tribunais cada vez mais enfrentam ações de indenização por danos materiais de alunos que se dizem prejudicados pela não obtenção de diploma ou pela impossibilidade de conclusão do curso por atos alheios às suas vontades, ainda que também não atribuíveis ao estabelecimento de ensi-no. Invariavelmente se sustenta que os pagamentos das mensalidades devem ser restituídos nesses casos.

Não se pode perder de vista, porém, que o conhecimento foi transmitido, incorporando-se indelevelmente ao pa-trimônio intangível do aluno. Para tanto, a instituição necessariamente disponibi-lizou recursos humanos e materiais. E aí surge a pergunta: não haveria também nesse caso o enriquecimento ilícito do aluno? A resposta é afirmativa, sendo que eventual frustração pela não conclu-são do curso deve ser resolvida por outro instituto jurídico, que não a indenização por danos materiais.

da para uma rápida solução da contro-vérsia sem, contudo, abrir mão da segu-rança jurídica.

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A NOTIFICAÇÃO NOS CONTRATOS DE LOCAÇÃO

A Lei nº 8.245/1991 estabelece em seu art. 56 que o contrato de locação comercial, firmado por prazo determi-nado, cessa, de pleno direito, findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso. Caso o locatário permaneça no imóvel e o locador queira reavê-lo, deverá ingressar com Ação de Despejo em até 30 dias contados do fim do contrato.

Se o inquilino não desocupar o imó-vel e o locador mantiver o interesse de continuar a locação, a vigência do con-trato fica prorrogada por prazo indeter-minado, seguindo as condições ajusta-das originalmente.

Na hipótese de o vínculo passar a vi-gorar sem prazo determinado, a retoma-da do bem estará condicionada ao envio de notificação, concedido o prazo de 30

dias para o locatário desocupá-lo.Quanto ao prazo para o ajuizamento

do Despejo e quanto à consequência da demora no ajuizamento da Ação, a orien-tação predominante é no sentido de que “A notificação denunciando a locação au-toriza, decorridos seus trinta dias, o ajuiza-mento da ação de despejo. Perde a eficácia, porém, se a propositura do despejo não for contemporânea. A jurisprudência tem en-tendido como razoável a propositura nos trinta dias seguintes ao esgotamento de prazo da notificação. Não guardando o ajuizamento da ação essa contempora-neidade, entende-se como persistente a locação por prazo indeterminado e outra notificação se faz necessária”. [SILVIO DE SALVO VENOSA, Lei do Inquilinato, 2008, p. 259 (Destaques nossos)].

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

PATRÍCIA NYMBERG

VAGAS DE GARAGEM EM CONDOMÍNIO NÃO PODERÃO SER ALUGADAS A PESSOAS ESTRANHAS

As vagas de garagem não poderão mais ser alienadas ou alugadas a pessoas estranhas ao condomínio, a não ser que haja autorização expressa na convenção do edifício, conforme determina a Lei nº 12.607, publicada em 05 de abril de 2012.

A lei altera o parágrafo 1º do art. 1.331 do Código Civil, que antes esta-belecia que os abrigos para veículos sujeitavam-se à propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas li-vremente por seus proprietários. Com esta alteração, poderão os condôminos locar ou vender suas propriedades a ter-ceiros, não-proprietários de unidades no prédio, mas os abrigos para veículos dependerão de autorização contida na convenção de condomínio.

A lei não se aplica àquelas garagens que são objeto de registro autônomo no Registro Imobiliário, evidentemente,

porque nesse caso estar-se-ia violando o direito de propriedade, mas somente aqueles casos em que os condôminos adquirem a unidade, e o direito ao uso de vaga de garagem.

É possível prever os problemas prá-ticos que advirão, por exemplo, com os contratos de locação em vigência que têm por objeto a locação da unidade (apartamento, sala, loja), e do respectivo uso da vaga de garagem.

A nova regra entrará em vigor no pra-zo de 45 dias da publicação, e se aplica a prédios residenciais e comerciais, sem qualquer distinção.

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A POLÊMICA EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL

FERNANDO WELTER

Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Com essa previsão (art. 5º, LIV), a Constituição Federal de 1988 estabele-ceu a reserva do Judiciário para os atos que determinam a perda e expropria-ção de bens. O exercício dessa ativida-de drástica para o indivíduo, portanto, deve ocorrer sob o controle do Estado--Juiz em processo judicial com todas as garantias que lhe são inerentes.

Em conflito com esse princípio, o Decreto-Lei nº 70/66, editado no auge do período antidemocrático, permite às instituições financeiras executar dívidas de financiamento imobiliário e condu-zir o processo de expropriação dos imó-veis por conta própria, sem a participa-ção do Judiciário, através da chamada execução extrajudicial.

Embora o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL tenha se posicionado pela constitucionalidade do Decreto-Lei, a

questão é polêmica e ainda suscita in-tenso debate naquele tribunal. Milhares de mutuários recorreram à Justiça de-nunciando procedimentos irregulares dos Bancos, existindo até mesmo relatos de gerentes envolvidos na cobrança das dívidas com o objetivo de recuperar e re-passar determinados imóveis a parentes.

O Judiciário, sensível a tais fatos, passou a condicionar a realização da execução extrajudicial a numerosas exi-gências, dentre elas, a mais recente, que prevê a necessidade de intimação pes-soal do devedor, sendo a intimação por edital – muito frequente nesse procedi-mento – absolutamente inválida. O rigor na análise da execução extrajudicial é tamanho que poderá representar deses-tímulo à sua adoção face ao grande risco de anulação judicial, situação de todo in-desejável no dinamismo econômico da atividade bancária.

No último artigo publicado nesse mesmo espaço foi detalhada a teoria dos atos ultra vires no direito inglês. A referida tese limitou a responsabilida-de da sociedade as ações praticadas dentro do seu objeto social. Os atos estranhos ao contrato social não obri-gavam a empresa. Segundo essa teoria, portanto, qualquer pessoa que tivesse destinado recursos à companhia para a realização de negócios fora do seu ob-jeto social, não poderia cobrar a devo-lução do dinheiro.

Como a dinâmica dos negócios quase sempre inviabilizava a prévia ve-rificação do contrato social para iden-tificar a área de atuação da empresa, muitos abusos foram cometidos para prejudicar terceiros de boa-fé que se re-

lacionavam com as companhias. O admi-nistrador sagaz constatou que essa tese poderia chancelar o calote.

Em virtude desses problemas os efeitos da teoria foram atenuados. Ini-cialmente o resultado da sua aplicação migrou da ausência de responsabilidade da empresa para a inclusão pessoal dos administradores que contraíram a obri-gação em nome da companhia. Isso re-duziu mas não fulminou o problema. As-sim, posteriormente, a tese foi eliminada na Europa e EUA. No Brasil, todavia, após a doutrina e jurisprudência praticamen-te a extinguirem, o legislador a resuscitou ao incluí-la expressamente no Código Civil de 2002, conforme será exposto no próximo artigo.

ATOS ULTRA VIRES (II)MURILO VARASQUIM

VANESSA SCHEREMETA

AUSÊNCIA DE PROTEÇÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA À SITUAÇÃO DA CONCUBINA

Recentemente, a Quarta Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTI-ÇA negou o direito à pensão previ-denciária à concubina por entender que, não obstante a possibilidade de coexistência de vínculos afetivos e duradouros no mundo dos fatos, o direito ainda não confere às relações concubinárias a proteção do direito de família.

No caso analisado, após a morte de seu concubino a concubina plei-teou juridicamente o reconhecimen-to da união estável para garantir o recebimento de pensão, pedido que foi julgado improcedente em primei-ro grau porque o falecido permane-cera casado, sem separação de fato. Em sede de apelação, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL reformou a sentença, reconhecen-do a existência de entidade familiar, mesmo sendo um dos conviventes casado. Seguiu-se, então, Recurso Es-pecial da esposa, o qual foi provido pelo STJ pela manifesta impossibili-dade de reconhecimento da união estável concomitante ao casamento, pouco importando os motivos pesso-ais pelos quais o vínculo matrimonial foi mantido, desde que não houvesse separação de fato.

Como bem ressaltado pelo Rela-tor, Ministro LUÍS FELIPE SALOMÃO, “Mesmo que determinada relação não eventual reúna as características fáti-cas de uma união estável, em havendo o óbice, para os casados, da ausência de separação de fato, não há de ser reconhecida a união estável”. (Fonte: Notícias do STJ de 29/03/2012).

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O Brasil é considerado o “país do futebol” desde que a primeira bola foi trazida da Inglaterra pelo Sr. CHARLES MILLER, pois sempre foi considerado um esporte do povo e para o povo.

Ocorre que, para alguns, assistir a uma partida de futebol deixou o status de entretenimento, tornando-se, infeliz-mente, pretexto para a justificação da violência e da intolerância.

Ultimamente a imprensa noticia con-flitos envolvendo torcedores das mais diversas agremiações, invariavelmente com a morte de jovens que – cientes do risco – partem para o enfrentamento físi-co contra torcedores de clubes adversá-rios com o lema “matar ou morrer”.

Esses episódios, nos quais dificilmen-te se punem os culpados, despertam o sentimento de impunidade, levando a população a crer que não existe lei ou

A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOLCÍCERO LUVIZOTTO

que ela é muito branda.Com efeito, tal asserti-

va é falsa. Existe a previsão de que aqueles que come-terem atos de vandalismo ou violência, dentro do es-tádio, no entorno ou nos trajetos de ida e volta da praça desportiva, estão su-jeitos a pena de reclusão de 1 a 2 anos e multa (art. 41-B do Estatuto do Torce-dor). Tal sanção deverá ser convertida em pena impe-ditiva de comparecimento nos estádios e suas cercanias pelo prazo de 3 meses a 3 anos, obrigando o infrator a se apre-sentar em local previamente destinado 2 horas antes do evento, com liberação apenas 2 horas após seu término.

Assim, não é a Lei que deve ser mu-

dada e sim a sua aplicação que deve ser estimulada e cobrada pelos cidadãos. Apenas a punição e o afastamento des-ses marginais travestidos de torcedores fará com que o “país do futebol” volte a ter famílias buscando entretenimento nos domingos de futebol.

O CONTRATO DE SEGURO DE VIDA

O seguro de vida visa garantir ao beneficiário ou ao próprio segurado um capital ou renda na hipótese de morte ou invalidez. É um contrato de relação duradoura, que gera ao segurado a ex-pectativa de manutenção de seu equilí-brio financeiro e a de proporcionar um futuro tranquilo aos seus beneficiários, mediante o recebimento de indeniza-ção. Assim, pressupõe o segurado que o cumprimento de sua obrigação lhe ga-rantirá os benefícios almejados.

Ocorre que, algumas vezes, este vín-culo é rompido unilateralmente pela seguradora, ao não renovar o contrato

VANESSA CANI

ou impor condições onerosas para novo ajuste, impossíveis de cumprimento.

Com efeito, embora haja entendi-mento de que a renovação automática do contrato, durante longos anos, não obsta o seu cancelamento, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, já reconheceu ser abusiva cláusula que preveja a pos-sibilidade de resilição unilateral (Recurso Especial nº 107.359-5/MG).

Afora isso, segundo expresso no acórdão citado, se “constatado prejuízos pela seguradora e identificada a necessi-dade de modificação da carteira de segu-ros em decorrência de novo cálculo atua-

rial, compete a ela ver o consumidor como um colaborador, um parceiro que a tem acompanhado ao longo dos anos. Assim, os aumentos necessários para o reequilí-brio da carteira têm de ser estabelecidos de maneira suave e gradual, mediante um cronograma extenso, do qual o segurado tem de ser cientificado previamente”.

Ou seja, se não for possível manter o contrato inicial, deve-se conceder ao se-gurado oportunidade de renovação ade-quada às suas condições, para que a rela-ção subsista e surta seus efeitos de forma equilibrada para ambos os contratantes.

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A Constituição da República assegu-ra aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral os direitos fundamentais do contraditó-rio e da ampla defesa.

É imprescindível, para assegurar a efetividade da garantia de acesso à Jus-tiça, que seja oportunizada à parte a pro-dução das provas que entender neces-sárias para a resolução da lide, sempre que pertinentes. Somente a partir disso o Magistrado terá liberdade para livre-mente formar o seu convencimento.

É direito do litigante, por exemplo, a

realização de uma segunda perícia caso o primeiro laudo produzido seja irreme-diavelmente incompleto ou falho, ainda que o Juiz já esteja convencido sobre alegações das partes: “O destinatário da prova é o processo”, nas palavras de NEL-SON NERY JUNIOR (Princípios do Processo na Constituição Federal. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 244).

No âmbito das relações de consumo, do mesmo modo, ainda que o consumi-dor tenha sido beneficiado com a inver-são do ônus probatório, a produção das provas de suas alegações não poderá ser

LAÍS BERGSTEIN

O DIREITO DA PARTE À PRODUÇÃO DE PROVAS

A UTILIZAÇÃO DA ARBITRAGEM E A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR

de advocacia, inter-relacionada a outras áreas do conhecimento.

Nota-se que, recentemente, muitos contratos regidos pelo Código de Defesa do Consumidor têm previsto a utilização compulsória da arbitragem, com inclu-são da chamada cláusula compromissó-ria. A tendência é seguida em contratos imobiliários, como aqueles que envol-vem a locação de imóveis.

Há aplausos na busca de soluções mais céleres e eficazes, porém isso não pode vir contra os interesses dos pró-

prios consumidores. Assim, o CDC impõe condições de validade da inclusão da cláusula, como a sua redação destacada no contrato e a necessidade de assina-tura específica. Considerando o dever de informação ínsito às relações de con-sumo, o consumidor deve ser alertado acerca das peculiaridades da solução pelo juízo arbitral. Não sendo observa-das estas prescrições, a cláusula há de ser tida como inválida, sem prejuízo que, de comum acordo, as partes resolvam submeter o litígio à arbitragem.

O Brasil, seguindo tendência inter-nacional, admite a solução de conflitos por meio da arbitragem. Trata-se de pro-cedimento realizado fora das esferas do Poder Judiciário, mas com atenção às garantias do processo civil, especialmen-te quanto à imparcialidade do julgador e a possibilidade de defesa e produção de provas. Grandes empresas e até mes-mo o Poder Público têm utilizado a arbi-tragem como alternativa à morosidade judicial. A solução é tentadora, porém envolve altos custos e uma nova forma

RENATA STEINER

obstada, se assim o desejar.A garantia da ampla defesa também

constitui fundamento para o reconheci-mento da incompetência absoluta dos Juizados Especiais nas ações que de-mandarem provas complexas, as quais não se coadunam com a peculiar siste-mática de celeridade e simplicidade dos atos processuais.

Ora, a liberdade do julgador na apre-ciação do conjunto probatório não pode se sobrepor aos direitos dos jurisdicionados.

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A DEFINIÇÃO DA GUARDA DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO QUANDO DO FIM DA SOCIEDADE CONJUGAL

FERNANDA PEDERNEIRAS

A Comissão de Meio Ambiente e De-senvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou, no último dia 28 de março, proposta para a regula-mentação da guarda de animais de esti-mação nos casos de dissolução litigiosa do vínculo conjugal. O Projeto de Lei nº 1058/2011 é originariamente de autoria do Deputado UBIALI (PSB/SP), todavia, o texto aprovado teve alterações propos-tas pelo relator da comissão, Deputado RICARDO TRIPOLI (PSDB/SP).

No projeto original, propunha-se que a guarda fosse deferida primeira-mente ao legítimo dono do animal e, na impossibilidade de comprovação da propriedade, àquele que demonstras-se melhor condição para o exercício da posse. O texto aprovado, no entanto, estabelece somente que o animal deve permanecer com aquele com quem pos-sua vínculo afetivo mais estreito, levan-

do-se em consideração também a efe-tiva capacidade do pretenso guardião exercer a posse responsável do bichinho de estimação. Busca-se com isso garantir o efetivo bem estar animal.

O substitutivo apresentado pelo re-lator excluiu, ainda, a classificação de animal de estimação prevista no texto original, por entender que a propositura não pode se prestar a alterar a definição prevista em legislação própria, sob pena de interpretação lesiva aos animais.

Garantindo a melhor interpretação das ralações afetivas, o projeto prevê que as regras são aplicáveis não só aos casos de divórcio e separação judicial, mas também de dissolução de união es-tável, tanto hetero como homoafetiva.

O projeto encontra-se aguardando a designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

DIREITO DE FAMÍLIA

PROCEDIMENTO PARA RECONHECER PATERNIDADE É REGULAMENTADO PELO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

THAIS GUIMARÃES

O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA publicou o Provimento nº 16, que permi-te que as mães, mesmo sem a presença do suposto pai, possam registrar seus filhos, buscando aprimorar o “Programa Pai Presente”, implantado em 2010, o qual já possibilitou o reconhecimento de pelo menos 9.851 pessoas.

Com o novo provimento, as mães dos menores que já foram registrados apenas com a maternidade estabeleci-da, ou os filhos maiores, poderão com-parecer ao Registro de Pessoas Naturais e apontar o suposto pai.

Os interessados devem preencher um termo com os dados da mãe e do filho e as informações conhecidas do suposto genitor. O Oficial do Registro re-meterá a solicitação ao Magistrado com-petente, o qual, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a alegação e notifi-cará o suposto pai. Caso este reconheça a paternidade, o Juízo remeterá certidão para o Registro Civil a fim de que seja averbado o nome do pai.

Se o suposto pai não reconhecer a paternidade, o processo será encami-nhado ao Ministério Público ou à Defen-

soria Pública para ajuizamento de ação de investigação de paternidade. Além desse procedimento, o suposto pai po-derá a qualquer tempo reconhecer es-pontaneamente seu filho perante qual-quer Registro de Pessoas Naturais.

Desta forma, o CONSELHO NACIO-NAL DE JUSTIÇA possibilita que os 7.324 cartórios de registro civil do país auxi-liem no reconhecimento tardio de pater-nidades, eis que em muitos municípios não existem unidades do Poder Judiciá-rio, nem do Ministério Público.

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Em recente julgado, a Terceira Tur-ma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decidiu que o cônjuge separado de fato que administra os bens comuns do casal deve prestar contas ao outro até que a partilha seja formalizada.

No caso em comento, as partes eram casadas pelo regime de comunhão uni-versal de bens. Até a efetivação da parti-lha, que ocorreu somente 15 anos depois da separação de fato do casal, todo o pa-trimônio ficou sob a posse e administra-ção do varão. Diante do risco de violação de seus interesses, a ex-esposa intentou

ação de prestação de contas para que o ex-marido fosse compelido a detalhar e esclarecer os rendimentos e despesas advindas do patrimônio comum, pres-tando as informações pertinentes.

Na constância do casamento cele-brado sob o regime da comunhão uni-versal de bens, tendo em vista a indivi-sibilidade patrimonial, não se vislumbra a possibilidade de prestação de contas entre os cônjuges. No entanto, na hipó-tese de separação de fato, até a formali-zação da partilha a prestação de contas pelo gestor dos bens comuns é medida

O DEVER DE PRESTAÇÃO DE CONTAS DO CÔNJUGE QUE ADMINISTRA OS BENS COMUNS ATÉ A FORMALIZAÇÃO DA PARTILHA

GILLIANE POMBO

que se impõe. A conclusão, segundo o Relator, Mi-

nistro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, é que “aquele que detiver a posse e a admi-nistração dos bens comuns antes da efe-tivação do divórcio, com a consequente partilha, deve geri-los no interesse de am-bos os cônjuges, sujeitando-se ao dever de prestar contas ao outro consorte, a fim de evitar eventuais prejuízos relacionados ao desconhecimento quanto ao estado dos bens comuns” (Fonte: Notícias do STJ de 03/04/2012).

TESTAMENTO: UMA FORMA DE PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

DIANA GEARA

O Código Civil prevê duas formas de sucessão causa mortis: a Legítima e a Tes-tamentária. A legítima decorre de Lei, é a modalidade de transmissão da heran-ça para os herdeiros necessários – des-cendentes, ascendentes e cônjuge. Já a sucessão testamentária é derivada da última manifestação formal de vontade.

Havendo herdeiros necessários, estes têm direito à metade dos bens da heran-ça – a legítima. Assim, para a validade do testamento, o testador deverá sempre respeitá-la, além das formalidades legais

previstas para constituição do ato.O instrumento necessário para a dis-

posição da parte disponível da herança é o testamento. E, dentre as formas legais, a mais aconselhada é o testamento pú-blico, lavrado por tabelião.

Quando da disposição de sua von-tade, pode o autor da herança instituir herdeiros ou legatários. O herdeiro é quem recebe genericamente a parte disponível da herança e o legatário é quem recebe um determinado bem, certo e individualizado.

Ao manifestar a sua vontade, pode ainda o testador, objetivando assegu-rar a continuidade patrimonial, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, prever legado de usu-fruto, legado de alimentos, bem como conferir cláusula de inalienabilidade, in-comunicabilidade e impenhorabilidade a determinados bens.

Portanto, o testamento, quando de-vidamente delineado, pode ser uma for-ma eficaz de o autor da herança planejar a sua continuidade patrimonial.

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ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

PREPARO DE RECURSO INOMINADO

VICTOR SANGIULIANO SANTOS LEAL

Acadêmico do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

Os Juizados Especiais têm como prin-cipais princípios norteadores a oralidade, simplicidade e informalidade (art. 2º da Lei nº 9.099/95). Não obstante essas dis-posições, o preparo necessário para inter-posição de Recurso Inominado compre-ende o recolhimento de seis espécies de custas em dois tipos diferentes de guias.

Conforme orientação da Resolução nº 01/2005 do CSJE, parte do valor deve ser depositado em conta poupança vin-culada ao Juízo de origem e o restante recolhido em guia FUNREJUS. Isso por-que a destinação da parte dos valores

depende do resultado do Recurso: se provido o depósito será restituído ao Re-corrente, em caso contrário será destina-do ao FUNREJUS.

Assim, a diferença entre guias de re-colhimento visa apenas facilitar o levan-tamento dos valores em caso de provi-mento do Recurso Inominado.

Ocorre que essa diversidade de guias e valores pode levar à confusão da parte no momento do recolhimento das custas.

Foi o que sucedeu em caso recen-temente julgamento pela E. 1ª TURMA RECURSAL DO PARANÁ (Agravo Interno

nº 2232-03.2011.8.16.0026. Julgado em 01/03/2012. Rel. designada ANA PAULA KALED ACCIOLY). No mencionado pro-cesso, a parte recolheu o valor correto das custas processuais, todavia o fez por meio de guia FUNREJUS ao invés de realizar de-pósito em conta vinculada ao Juízo.

Diante disso, por entender que não haveria prejuízo ao erário e privilegiando o direito subjetivo ao duplo grau de juris-dição e a instrumentalidade do processo, os magistrados decidiram, por maioria, reconhecer a regularidade do preparo e conhecer do Recurso Inominado.

BRASIL: FALTA DE PUNIÇÃO?

BARBARA SAYURI POFFO TANIGUTI

Acadêmica do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

Observamos que a população, em sua maioria sem conhecimentos pro-fundos das leis penais e da Constituição, vem incorporando discursos de pânico divulgando a ideia de que o país vive uma intensa crise de impunidade. Os discursos pregados, principalmente pela mídia, não expõem a realidade jurídica do país, que contempla direitos e ga-rantias constitucionais indispensáveis à condição de acusado.

Em resposta, a cada dia vemos nascer novos projetos de leis visando criminali-zar novas condutas ou deixar mais rígida

a punição para delitos já tipificados no ordenamento jurídico pátrio, como, por exemplo, a embriaguez ao volante, obje-to constante de discussões atualmente.

A superprodução de leis e o au-mento do grau das punições não são o caminho certo para resolver o proble-ma da criminalidade. Uma prova disso é o assustador aumento do índice de encarceramento nacional (em 10 anos, um aumento de quase 150% na popu-lação carcerária; enquanto a popula-ção geral do país cresceu apenas 21% – de acordo com o DEPARTAMENTO

PENITENCIÁRIO – Depen).O principal objetivo do Estado De-

mocrático de Direito é, como bem colo-cadas as palavras da Desembargadora Federal LÚCIA VALLE FIGUEIREDO: “sem dúvida, a defesa da Constituição e das ga-rantias individuais nela consagradas”.

Tentativas exacerbadas de dar uma resposta à sociedade não têm cumprido tal objetivo. Apenas aumentam a inob-servância às garantias constitucionais, e até mesmo processuais, a que todos os cidadãos têm direito.

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LIMITAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

SCARLETT GARUTTI FERREIRA

Acadêmica do 2º ano da Universidade Positivo

A medida de segurança, inserida na legislação brasileira pelo Código Penal de 1940, é o tratamento aplicado ao in-divíduo inimputável ou semi-imputável que comete conduta ilícita, ou seja, àquele que no momento da ação ou omissão for doente mental, possuir de-senvolvimento mental incompleto ou for inteiramente incapaz de compreen-der o caráter ilícito do fato.

Sendo de natureza preventiva e so-cioeducativa, seu principal fundamento está na periculosidade do indivíduo e os

principais objetivos são a manutenção da segurança da sociedade, do próprio indi-víduo, assim como sua ressocialização.

Segundo o art. 97, §1º, do Código Penal, uma vez sujeito à medida de se-gurança, o desinternamento só ocorrerá quando cessada a periculosidade. Como essa condição é de caráter subjetivo, depende do entendimento de profis-sionais de saúde, através de reiteradas avaliações, de modo que é possível sua permanência por prazo indeterminado.

Porém, a Constituição Federal veda

LEI GERAL DA COPA: INCONSTITUCIONALIDADE APARENTE

VINÍCIUS PRESENTE

Acadêmico do 5º ano da Universidade Positivo

hipótese de responsabilidade civil a Admi-nistração Pública Federal (União) que não condiz com a Constituição.

A Constituição da República prevê, no parágrafo 6º de seu art. 37, que “As pesso-as jurídicas de direito público”, classificação em que se encontra a União, “e as de di-reito privado prestadoras de serviço público responderão pelos danos que seus agentes, nesta qualidade, causarem a terceiros [...]”.

Ou seja, o Projeto pretende criar um ônus à União, que será responsabilizada a reparar qualquer dano causado a FIFA, ainda que a conduta danosa não seja pra-ticada por agente estatal, que seja pratica-da por terceiro, ou fruto de caso fortuito, desejando atribuir à União o papel de se-guradora.

Cumpre ressaltar que, como expressa

Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 2330/2011, popularmen-te denominado de Lei Geral da Copa. A discussão do referido Projeto tem gerado inúmeras discussões, e polêmicas, no Con-gresso Nacional e na população.

Um dos aspectos polêmicos do PL diz respeito à responsabilidade civil da União perante a FIFA. O art. 30 do Projeto consigna: “A União assumirá os efeitos da responsabilidade civil perante a FIFA, seus representantes legais, empregados ou consultores por todo e qualquer dano re-sultante ou que tenha surgido em função de qualquer incidente ou acidente de se-gurança relacionado aos Eventos, exceto se e na medida em que a FIFA ou a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano”. Logo, pretende-se criar uma nova

o título, trata-se de inconstitucionalidade aparente, tendo em vista que o texto da Lei Geral da Copa ainda está em discussão e pode ser alterado.

sanções de caráter perpétuo, razão pela qual o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL vem reconhecendo a inconstitucio-nalidade da medida de segurança por prazo maior de 30 anos (Habeas Corpus nºs 84.219 e 97.621), o que faz por uma leitura sistemática da Constituição e dos arts. 75 e 97 do Código Penal e 183 da Lei de Execuções Penais. Esse entendi-mento consolida a abolição no ordena-mento do resquício da “prisão perpétua”, tornando-se inadmissível a existência de sanções com prazos indeterminados.

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O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E A CONFISSÃO ESPONTÂNEA

HERMÍNIA GERALDINA FERREIRA DE CARVALHO

Acadêmica do 4º ano da Universidade Federal do Paraná

Na aplicação da pena, após a fixação da pena-base, são as circunstâncias le-gais apreciadas. Dentre elas, impõe-se a confissão espontânea, benefício de ate-nuação da pena que o réu pode gozar por contribuir com a formação da cogni-ção do juiz. Apesar de ser uma garantia do réu, constitui matéria controversa na jurisprudência. Isso porque os doutrina-dores clássicos costumam diferenciar a confissão qualificada, hipótese em que o autor narra os fatos mas nega as suas consequências jurídicas, considerando--a uma esquiva face à imputação penal,

algo imprestável para prova, já que o réu não se mostra arrependido.

Esse posicionamento, hoje felizmen-te minoritário, põe-se frente a frente ao princípio da legalidade, garantia consti-tucional que exige que a lei seja prévia, escrita, estrita e certa. Pois eis que cons-titui uma analogia, ou seja, a aplicação da lei a fatos semelhantes aos previstos, prejudicial ao réu, já que a lei somente exige que a confissão seja espontânea. Demandar mais do que isso é, inevitavel-mente, incorrer em analogia prejudicial ao autor do fato punível, por dificultar a

aplicação da atenuante. Assim, inúme-ros julgados têm feito jus ao princípio da legalidade, considerando a confissão espontânea mesmo em sua versão qua-lificada. Posicionamento mais adequa-do é o do Habeas Corpus nº 222503 do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, de re-latoria do Min. JORGE MUSSI, publicado em 29/03/2012, que chega a afirmar que a atenuante deverá ser aplicada “quan-do expressamente utilizada para a formação do convencimento do jul-gador”, independentemente de espon-taneidade ou arrependimento do autor.

A PRESUNÇÃO RELATIVA NO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL

THUAN FELIPE GRITZ DOS SANTOS

Acadêmico do 4° ano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Em apertada síntese, o crime de es-tupro de vulnerável (CP, art. 217-A) di-ferencia-se do estupro (CP, art. 213), em essência, pela vulnerabilidade da vítima, seja porque esta é menor de 14 anos, seja por oferecer pouca ou nenhuma resistência. Em suma, entendia-se que a violência nestes casos seria presumida, independentemente da real violação à liberdade sexual da vítima.

Por outro lado, em recente entendi-mento, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUS-TIÇA decidiu pela necessidade de ave-riguação da efetiva violência praticada

contra a vítima. Isto porque, segundo aquela corte, não há que se falar em estupro, muito menos de vulnerável, quando a própria vítima promove a prática sexual, p. ex., prostituindo-se. Depreende-se da decisão: “a própria mãe de uma das supostas vítimas afirma-ra em juízo que a filha enforcava aulas e ficava na praça com as demais para fazer programas com homens em troca de di-nheiro” (Decisão do TJSP, mencionada em notícia publicada no site oficial do STJ, em 27.03.2012).

Deste modo, a decisão consignou

o erro na manutenção do entendi-mento quanto à presunção absoluta de violência no estupro de vulnerável. Tal fato se deu pois, em alguns casos, a vítima não é vulnerável, tampouco desconhece acerca do sexo propria-mente dito. Neste sentido, acertada-mente, o STJ tem analisado juridica-mente a questão (Recurso Especial nº 121.440-7), deixando de lado a análise da ineficiência das políticas públicas, responsáveis pelas mazelas sociais que obrigam crianças a ganhar a vida vendendo seus sexos.

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PRISÃO CIVIL POR DÍVIDA ALIMENTAR PENDENTE É AFASTADA EM CASO DE PAGAMENTO REGULAR DE ALIMENTOS RECENTES

LUIZ FERNANDO DE SOUZA HIGA

Acadêmico do 5° ano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Em recente julgado, a Terceira Tur-ma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUS-TIÇA (Habeas Corpus n° 219.109 - RJ – 2011/0223939-7), em voto do Minis-tro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, acompanhado de forma unânime, re-vogou decreto de prisão de um deve-dor de alimentos.

Sustentou o impetrante ter quitado 85% do crédito executado pelo rito do art. 733 do CPC, cerca de R$ 169.775,00 de um total de R$ 197.958,20. Com os documentos que acompanharam o Ha-

beas Corpus foi comprovado que o pa-ciente vinha quitando há mais de um ano, regularmente, via descontos em folha de pagamento, os alimentos aos quais está obrigado, no valor equivalen-te a 5 salários mínimos mensais – o que retira, de certa forma, a urgência da coa-ção prisional, segundo o Relator.

Ainda, no processo executivo, houve a realização de duas audiências em que ocorreu a adjudicação de um veículo de propriedade do paciente, bem como a avaliação de um imóvel e de bens mó-

veis penhorados.Portanto, observou o ministro Re-

lator que, neste caso, atentando-se ao princípio da razoabilidade, o uso da me-dida coercitiva distancia-se do funda-mento jurídico e teleológico da prisão civil, qual seja, coação e não punição, uma vez que o impetrante vem pagan-do mediante desconto em folha os ali-mentos regularmente há mais de um ano. Ademais, demonstrou claramente a possibilidade de quitação do débito via expropriação patrimonial.

O PARCELAMENTO DO TRIBUTO SONEGADO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA

BRUNO MALINOWSKI CORREIA

Acadêmico do 5º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

O advento da Lei nº 12.382/11 alte-rou o procedimento relativo à suspensão da pretensão punitiva estatal nos casos de parcelamento dos tributos sonega-dos: a suspensão, hoje, é permitida se o parcelamento for realizado até o recebi-mento da denúncia criminal; antes, era possível a qualquer tempo.

Em recente decisão, o SUPREMO TRI-BUNAL FEDERAL concedeu liminar em Habeas Corpus (HC nº 112710 – DJe de 30.03.2012) para o fim de suspender a execução da pena imposta a empresário

que aderiu ao parcelamento do débito após o trânsito em julgado da senten-ça que o condenou pela sonegação do imposto de renda. Embora o pagamen-to tenha se iniciado no final do proces-so, deve-se ressaltar que a legislação, à época do parcelamento, previa a possi-bilidade de suspensão a qualquer tem-po (Lei nº 11.941/09). Isso significa que, para as dívidas fiscais constituídas até 1º de março de 2011, a suspensão pelo parcelamento pode ser reconhecida em qualquer fase do processo. Já os débitos

posteriores somente produzirão tal efei-to se a intenção for manifestada antes do recebimento da denúncia, através de proposta formal aceita pelo Fisco (inter-pretação literal da Lei nº 12.382/11).

O pagamento integral do tributo so-negado, por sua vez, não foi objeto de alteração pela Lei nº 12.382/11, sendo que o seu implemento, ainda que a con-denação penal tenha transitado em jul-gado, extingue a punibilidade do agente e impede que o Estado execute qualquer tipo de pena.

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à

educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e

profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve

visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância

e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da

paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte

livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à

protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a

que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente

Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2.

No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o

reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade

democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma

disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a

alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

Rua Marechal Deodoro, 497 | 13º andar CEP 80020 320 | Curitiba - PR

Tel. 41 3306 8000 | Fax 41 3306 8008 www.dotti.adv.br | [email protected]

Abril / Maio / Junho / 2012Ano 7 | Número 16

Tiragem: 2.000 exemplares Fotos da capa: Henrique Borges

Impressão e acabamento: Maxi Gráfica

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Projeto gráfico e diagramação:IEME Comunicação | www.iemecomunicacao.com.br

Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

2012. Direitos autorais reservados para Dotti & Advogados Associados.

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