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Neide Heloisa Outeiro Pinto Direitos Reprodutivos e Planejamento Familiar na Atenção às pessoas vivendo com HIV/AIDS Monografia apresentada à banca examinadora como requisito para conclusão do Curso de Especialização em Prevenção ao HIV/Aids no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos, ofertado pela Faculdade de Medicina (Departamento de Medicina Preventiva) e pelo Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (NEPAIDS), Universidade de São Paulo. Orientadora: Prof.ª Me.ª Renata Bellezani. São Paulo 2011

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Neide Heloisa Outeiro Pinto

Direitos Reprodutivos e Planejamento Familiar na Atenção às pessoas vivendo com HIV/AIDS

Monografia apresentada à banca examinadora como requisito para conclusão do Curso de Especialização em Prevenção ao HIV/Aids no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos, ofertado pela Faculdade de Medicina (Departamento de Medicina Preventiva) e pelo Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (NEPAIDS), Universidade de São Paulo. Orientadora: Prof.ª Me.ª Renata Bellezani.

São Paulo

2011

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Neide Heloisa Outeiro Pinto

Direitos Reprodutivos e Planejamento Familiar na Atenção às pessoas vivendo com HIV/AIDS

Monografia apresentada à banca examinadora como requisito para conclusão do Curso de Especialização em Prevenção ao HIV/Aids no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos, ofertado pela Faculdade de Medicina (Departamento de Medicina Preventiva) e pelo Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (NEPAIDS), Universidade de São Paulo. Programa: Medicina Preventiva Orientadora: Prof.ª Me.ª Renata Bellezani.

São Paulo

2011

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DEDICATÓRIA

Aos meus filhos Cauê e Arthur que me apoiaram nesta jornada; mesmo estando

ausente nunca deixei de acompanhá-los em todos os sentidos. Saibam que eu os amo

muito e que vocês são as pessoas mais importantes da minha vida.

A todos meus familiares, pai, mãe, irmãs, irmão, sobrinhos, sobrinha e meu

marido, por todo apoio, paciência e confiança que sempre depositaram em mim,

constantemente estiveram do meu lado me encorajando nesta caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiro a todos os colegas que participaram do curso, com os quais

compartilhei momentos inesquecíveis de alegria, de ansiedade, juntos entendemos o

verdadeiro sentido do “sujeito no contexto” e o “contexto no sujeito”.

A equipe de monitoras que se dedicaram a nos orientar sempre com carinho e

paciência. A toda ilustre equipe de professores da academia, e convidados que

trouxeram até nós com excelência a gama de conhecimentos, norteando um novo

horizonte para seguirmos.

Aos meus colegas de trabalho que compartilharam comigo dos exercícios, das

discussões e das tarefas, e com carinho assumiram minhas responsabilidades com

eficiência durante minha ausência.

E em especial agradeço a Prof.ª Meª Renata Bellezani, minha orientadora, que

dedicou atenção especial, sempre presente, com muita paciência e carinho.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

AZT -Azidotimidina

bras. - brasileiro(a)

BVS – Biblioteca Virtual de Saúde

CIPD - Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento

colab. - colaborador(es)

Dr. - doutor

DST- Doenças Sexualmente Transmissíveis

DST/AIDS- Doenças Sexualmente Transmissíveis e Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida

ed. - edição

et al. - e outros

ex. - exemplo

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana

LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

OMS- Organização Mundial de Saúde

ONU- Organização das Nações Unidas

p. - página

PAISM- Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher

PPF-Programa de Planejamento Familiar

prof. - professor

PVHA- Pessoas vivendo com HIV/AIDS

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rev. - revista

SAE- Serviço de Assistência Especializada

SCIELO- Scientific Eletronic Library Online

SP – São Paulo

SPM – Superintendência das Políticas para Mulheres

SSSR- Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva

v. – volume

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RESUMO

Pinto NHO. Direitos Reprodutivos e Planejamento Familiar na Atenção às pessoas vivendo com HIV/AIDS [Monografia] São Paulo: Faculdade de Medicina – Departamento de Medicina Preventiva /Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (NEPAIDS), Universidade de São Paulo; 2011. Mobilizada pela minha experiência profissional de 15 anos na assistência e na gestão em um serviço especializado em DST/Aids, emergiu o tema de interesse do presente trabalho: as questões envolvendo a reprodução das pessoas que vivem com HIV/Aids (PVHA). O objeto do estudo foi realizar uma revisão na literatura nacional acadêmica e técnica (artigos sobre pesquisas científicas ou experiências práticas, assim como documentos técnicos desenvolvidos pelos governos) sobre o tema do planejamento familiar no Brasil, voltadas às PVHA (ou que as contemplem). Trata-se de um estudo qualitativo, bibliográfico. As publicações teriam que tratar de ações nos serviços, das concepções dos profissionais de saúde, assim como da perspectiva dos usuários dos serviços (critérios de inclusão). Não foi restrito período/ano de publicação. Com os descritores: direitos reprodutivos, gênero; saúde reprodutiva; direitos sexuais e direitos reprodutivos, reprodução assistida e planejamento familiar - associados a aids e HIV, foram encontrados um total 1.337 publicações na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), cuja restrição à língua portuguesa culminou com sua redução para 416. Todos os resumos dessas foram lidos e de acordo com os critérios de inclusão, o conjunto final de trabalhos analisados na íntegra foi composto de 29. A análise de conteúdo permitiu a categorização do material em subtemas: “As normativas sobre os direitos reprodutivos das PVHA e aquilo que se faz nos serviços”; “A saúde e o direito reprodutivo dos homens com HIV”; “O planejamento familiar junto às pessoas com HIV/AIDS”. Os resultados da revisão indicam que os serviços ainda não têm abordado o plano reprodutivo e a saúde sexual desta população com efetividade, considerando plenamente seus direitos sexuais e reprodutivos. Os profissionais de saúde se preocupam mais em mitigar a transmissão materno-infantil, reduzindo o foco da assistência. Há pouca liberdade às PVHA em conversar acerca de seu desejo e planos reprodutivos com os profissionais. São escassos trabalhos que se aprofundem acerca das relações afetivas e emocionais das PVHA, em parcerias discordantes, envolvendo as possibilidades reprodutivas seguras. Os homens ainda são pouco considerados como sujeitos nas questões reprodutivas. Quanto aos desafios a serem enfrentados: melhorar o acolhimento das demandas reprodutivas das PVHA com base no respeito aos seus direitos sexuais e reprodutivos; qualificar os profissionais; efetivar a articulação dos serviços de assistência às PVHA, com os serviços de saúde da mulher, e os especializados em reprodução assistida. É necessária a mudança de paradigma a fim de desconstruir a apartação entre as representações do viver com HIV/aids e a reprodução, para que se promova o planejamento familiar singular às necessidades das PVHA, iniciando-se pela escuta e diálogo sobre seus planos reprodutivos, desenrolando-se para as orientações, desenvolvimento das articulações em rede e dos procedimentos técnicos necessários. Descritores: direitos reprodutivos, aids, saúde reprodutiva, direitos sexuais, planejamento familiar, reprodução assistida.

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SUMÁRIO

Lista de Siglas e Abreviaturas Resumo 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1 1.1 A emergência do tema a partir da experiência profissional........................ 1 1.2 Alguns pontos da história do planejamento familiar no SUS..................... 5 1.3 Direitos reprodutivos e saúde reprodutiva.................................................. 9 2 OBJETIVOS................................................................................................ 14 3 MÉTODO.................................................................................................... 15 4 RESULTADOS .......................................................................................... 21 4.1 As normativas sobre os direitos reprodutivos das pessoas que vivem com HIV/AIDS e aquilo que se faz nos serviços.....................................................

21

4.2 A saúde e o direito reprodutivo dos homens com HIV.............................. 23 4.3 O planejamento familiar junto às pessoas com HIV/AIDS....................... 26 5 DISCUSSÃO............................................................................................... 29 6 CONCLUSÃO............................................................................................ 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS........................................................ 38

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1 INTRODUÇÃO

1.1 A emergência do tema a partir da experiência profissional

Em 1983 me graduei em Odontologia na Faculdade de Odontologia de

Presidente Prudente – SP. Por me interessar pela saúde pública, fiz o curso de

Especialização em Saúde Pública da Universidade de Londrina - PR no ano de 1984.

Ingressei na rede pública de saúde do município de Rio Claro em 1988, como

cirurgiã dentista. Somente em 1996 passei a desenvolver minhas atividades

profissionais, como dentista no Serviço de Assistência Especializada (SAE) em

DST/AIDS do município. Em 2009 fui nomeada pela administração pública local a

agregar a função de coordenadora do Programa Municipal de DST/AIDS de Rio

Claro – SP.

Talvez por ter finalizado minha graduação, nos anos 80, justamente no período

crítico da AIDS, quando se falava em epidemia, envolvendo inúmeros desafios

técnicos e sociais, sempre me interessei pela temática. Minha atividade profissional

como dentista exigia um “olhar” para a cadeia de transmissão, assim como os bancos

de sangue, pela quantidade de procedimentos invasivos com exposição a materiais

biológicos, em especial o sangue; os consultórios odontológicos, pelos

procedimentos de rotina realizados, tornaram-se “alvos” para o controle da

disseminação da infecção.

Além das discussões técnicas, os fatores sociais associados à epidemia

mobilizaram meu interesse pela temática, entre esses a segregação populacional, que

estigmatizava os primeiros grupos sociais afetados. “A AIDS era uma doença de

grupos de riscos, divididos em vítimas (hemofílicos) e promíscuos (homossexuais,

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prostitutas e viciados em drogas” (PAIVA e org., 1992, p.7).

Na década de 90 surgem novos desafios a serem enfrentados. A evolução da

epidemia da AIDS no Brasil passou a atingir as mulheres e homens heterossexuais

em idade reprodutiva. De acordo com o pensamento de Santos, et al (2002),

como lidar com este grupo de pessoas que chegava aos serviços expressando a necessidade e o desejo de continuar vivendo e de constituir família? Uma vez que a transmissão do vírus do HIV se dá pela relação sexual sem preservativo com pessoas com o vírus, sendo que muitas vezes as próprias não sabem de sua condição.

Nesta época, quando passei então a desenvolver minhas atividades profissionais

no SAE – Rio Claro - SP, enfrentávamos esse tipo de dilema: sobre como lidar com

as questões da saúde reprodutiva das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA), bem

como, seu exercício da sexualidade, respeitando seus desejos e escolhas, mas ao

mesmo tempo, nós profissionais estávamos preocupados em interromper a cadeia de

transmissão.

O fato de serem acometidos por uma patologia crônica, na maioria das vezes por

transmissão sexual do HIV, vendava os olhos dos profissionais de saúde, que

negligenciavam sua saúde sexual, desejo reprodutivo e prazer. Melhor dizendo, os

profissionais tinham como foco principal o tratamento pela ótica técnica, com o uso

de medicamentos para controle da patologia, a oferta de orientações sobre sexo

seguro mediante adoção do preservativo como barreira para a transmissão. Ignorando

a premissa de que a condição de PVHA não os extraí da vida cotidiana, das relações

interpessoais e das interações afetivo-sexuais (PAIVA, et al., 2002 b).

A título de ilustração relato, a seguir, alguns comentários que me recordo,

expressos por alguns profissionais de saúde durante reuniões em equipe, pois dessas

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experiências nasceram minhas inquietações, curiosidades e interesse pelo tema de

pesquisa dessa Monografia do curso de Especialização em Prevenção ao HIV/AIDS

no Quadro da Vulnerabilidade e Direitos Humanos, ou seja, a saúde e os direitos

reprodutivos das PVHA.

As frases que se seguem eram costumeiramente ditas por profissionais de saúde,

meus colegas de equipe, ao se depararem com usuários do serviço, em maior

percentual as mulheres, vivendo com HIV/AIDS, que mencionavam sua vontade ou

planos de terem filhos biológicos, ou seja, seu desejo pela reprodução. O desejo de

ter filhos parecia associado à idéia de “dar continuidade à vida”, haja vista que

muitas das PVHA não haviam constituído uma família ou queriam iniciar uma nova

família, a partir de um novo parceiro ou parceira. Os profissionais diziam “_ São

loucos, portadores de doença sem cura e ainda querem colocar no mundo

crianças…”. Costumavam também indagar: “_ Com quem vão deixar as crianças

quando morrerem?” Chegavam a propor: “_ Acredito que o melhor seria que todos

fossem operados”, referindo-se à vasectomia, ou a laqueadura.

Em contrapartida, as falas a seguir, - das PVHA que me recordo e que ainda

escuto no cotidiano do serviço em que trabalho - exteriorizam seus desejos

reprodutivos e sua vontade de constituir uma família com descendentes,

confrontando-se com as expectativas gerais dos profissionais que não discordam de

tais intenções. As mulheres diziam: “_ Arrumei um novo parceiro, adoraria ter

filhos, mas não tenho este direito”; “_ Tenho medo de falar com meu médico, pois

sei que será contra, mas gostaria de ter filhos”. Ou a fala de um homem: “_ Quero

ter filhos, ter uma vida normal, mas para mim tudo terminou, não terei este direito,

errei e terei que pagar o preço disto.”

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É factível dizer que o diagnóstico da infecção pelo HIV promove mudanças no

cotidiano de vida das pessoas acometidas, a rejeição social pelo estado sorológico, o

estigma da AIDS, a preocupação em infectar os/as parceiros/as e a prole, a

dificuldade de negociar o uso de preservativo. Esses fatores podem influenciar de

forma negativa na vivência da sexualidade e da reprodução das PVHA. Os temas:

planejamento familiar, saúde reprodutiva e direitos reprodutivos das PVHA ainda são

insuficientemente abordados no cotidiano assistencial.

A insuficiência na abordagem dos temas: planejamento familiar, saúde

reprodutiva e direitos reprodutivos das PVHA no cotidiano assistencial,

possivelmente tem relação com o fato desses temas serem, ainda, sujeitos à

formulação de concepções e de juízos de valores pessoais dos profissionais, ao seu

desconhecimento técnico ou à falta de informação adequada sobre os procedimentos

que possibilitam a reprodução entre as pessoas com HIV, assim como associados à

falta de acesso no SUS a tais procedimentos.

Mobilizada pela minha experiência profissional de 15 anos, que me possibilitou

o contato com a realidade das PVHA, assim como com sua assistência e com os

dilemas acima colocados, ressalto, por outro lado, alguns aprendizados da prática

cotidiana, hoje, formalizados em recomendações técnicas no Brasil a orientar o

trabalho assistencial em HIV/AIDS, de acordo com o Manual de Saúde Sexual e

reprodutiva das mulheres adultas, adolescentes e Jovens vivendo com HIV e Aids

(org. EngenderHealth e Unfpa, 2008):

1) Garantir a adoção de uma abordagem transdisciplinar e equitativa na atenção à

saúde sexual e à saúde reprodutiva (SSSR) de mulheres adultas, adolescentes e

jovens vivendo com HIV e Aids, que inclua acesso a informações corretas e

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expressas em linguagem adequada; “a ações de promoção e atenção integral e

humanizada em SSSR que envolvem prevenção, tratamento do câncer de mama

e colo de útero, hepatites virais e DST; planejamento familiar e reprodutivo

(concepção e anticoncepção); interrupção da gravidez em casos previstos em

Lei1, atenção diferenciada para aquelas que estiverem em situação de

abortamento inseguro ou violência (pg27).

2) Garantir o desenvolvimento de estratégias para ampliar a participação e

engajamento dos homens, parceiros afetivo-sexuais das mulheres adultas,

adolescentes e jovens vivendo com HIV e aids, sobretudo em ações de

aconselhamento em sexualidade, prevenção positiva, planejamento familiar e

reprodutivo, prevenção da transmissão vertical do HIV e da sífilis e

enfrentamento da violência de gênero contra a mulher (p.30);

1.2 Alguns pontos da história do planejamento familiar no SUS

No Brasil, de acordo com Coelho, et al. (2000), “a expansão da economia

cafeeira no início do século (década de 20) adota uma postura pró natalista, o

aumento populacional vinculado ao mercado de trabalho (sociedade capitalista)”.

No Estado brasileiro, despreparado por inexistência de “políticas sanitárias” que

atendessem este crescimento populacional, desencadeia-se uma série de problemas

sociais, pobreza, doenças, marginalização, etc. Com a necessidade de enfrentar este

“problema político” gerado pela adoção do “sistema capitalista”,

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"!O Código Penal (Decreto-Lei n.2.848, de 7 de setembro de 1940), em seu artigo 128, expressa não ser punível o aborto praticado por medico: “II - se gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”, além, é claro, daquele autorizado para salvar a vida da gestante. Disponível em: www.codigopenal.adv.br. Acessado em: setembro de 2008.!

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o Brasil, a partir dos anos 60, por pressões americanas, permite a entrada de entidades internacionais que preconizavam o controle populacional. Entram em cena os anticoncepcionais, permitindo que a população feminina dissociasse sexualidade de procriação (Coelho, et al. 2000, p.37-38).

Dentre essas entidades internacionais, criada em 1965, a BEMFAM2 - Fundação

da Sociedade Civil Bem Estar Familiar no Brasil - é uma instituição de origem

européia (Londres, Inglaterra) e subsidiada por organismos e empresas

internacionais, como o Banco Mundial, a Fundação Ford e a Fundação Rockfeller.

Em 1966, a Bemfam já participava do controle da natalidade no Brasil. Ela ainda

atua em todo o território nacional e mantém convênio com centenas de órgãos

particulares e oficiais. Seu trabalho consiste fundamentalmente na prestação de

serviços de planejamento familiar, compreendendo a esterilização feminina em larga

escala (ligadura de trompas) e a distribuição maciça de pílulas anticoncepcionais e

DIUs (dispositivos intra - uterinos). Em 1983 a Bemfam mantinha cerca de 990

postos espalhados pelo país, dos quais 789 no Nordeste.

Bellezani (2008), em seu estudo qualitativo etnográfico, através de entrevistas

com jovens e profissionais de saúde afirma (baseada em outros trabalhos) que:

no decorrer da década de 80, quando a AIDS emergia no mundo, período este reconhecido como de intensos processos sociais e políticos no País, no qual confluíram lutas e reivindicações de segmentos distintos, os grupos feministas ampliaram seu escopo de debate na área da saúde da mulher. Somadas às ações relacionadas à reprodução, ao corpo feminino e ao controle da natalidade, a emergência da AIDS implicou o reconhecimento da condição de opressão da mulher no campo da sexualidade e das relações sociais de gênero. Ou seja, a violação do direito à igualdade, à dignidade e à autonomia passa a ser vista como fator que aumentava a vulnerabilidade das mulheres ao HIV. O Brasil se redemocratizava, o movimento feminista ganhava destaque, a Constituição de 1988 era promulgada e as bases para o SUS eram delineadas, segundo os princípios da Reforma Sanitária (BELLEZANI, 2008, p.28).

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Em 1983 implanta-se oficialmente o Programa de Assistência Integral da Saúde

da Mulher (PAISM) que, ampliando o enfoque de gênero, objetivava atender a

mulher em sua integralidade, em todas as fases da vida, respeitando as necessidades e

características de cada uma delas. Têm como pressuposto básico que todas as pessoas

têm o direito à escolha dos padrões de reprodução que lhes convenham como

indivíduos ou casais, sinalizando o planejamento familiar como seu subprograma

(BRASIL, 1984).

O Planejamento Familiar é a estratégia que garante aos indivíduos o ato

consciente de planejar a vida reprodutiva, oferecendo segurança e minimizando os

riscos à saúde, de acordo com os conceitos éticos, morais e religiosos do casal. O

Ministério da Saúde apresenta o Planejamento Familiar como sendo:

Um conjunto de ações em que são oferecidos todos os recursos, tanto para auxiliar a ter filhos, ou seja, recursos para a concepção, quanto para prevenir uma gravidez indesejada, ou seja, recursos para a anticoncepção. Esses recursos devem ser cientificamente aceitos e não colocar em risco a vida e a saúde das pessoas, com garantia da liberdade de escolha. O planejamento familiar é um direito sexual e reprodutivo e assegura a livre decisão da pessoa sobre ter ou não ter filhos. Não pode haver imposição sobre o uso de métodos anticoncepcionais ou sobre o número de filhos. O planejamento familiar é um direito das pessoas assegurado na Constituição Federal e na Lei n° 9.263, de 12 de janeiro de 1996, que regulamenta o planejamento familiar, e deve ser garantido pelo governo (BRASIL, 2006, p.6).

Durante as últimas décadas, evidencia-se grande progresso para a construção de

políticas assumindo compromisso e responsabilidade com atenção especial aos

direitos reprodutivos dos indivíduos, através do planejamento familiar.

Segundo Alves (2004), nas décadas de 1980 e 1990 o Brasil regulamenta a

prática do planejamento familiar, neste momento as discussões sobre controle da

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fecundidade já se avançavam, desde a década de 60 os movimentos feministas

interpelavam pela autodeterminação reprodutiva, as Conferências Sociais da ONU, já

promulgavam ações para o controle de natalidade. A legislação brasileira contou com

o aporte do conceito de Direitos Reprodutivos aprovado na Conferência

Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD) do Cairo, de 1994. Em 2007

o governo Federal lança a “Política Nacional de Planejamento Familiar”, que tem

como meta a oferta de métodos contraceptivos de forma gratuita para homens e

mulheres em idade reprodutiva.

Com a necessidade de atenção especial e de compromisso com uma política de

responsabilidade que acompanhe esta linha de atuação, o Ministério da Saúde em

2005, através da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), lança a

“Política Nacional de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos” (Brasil, 2005), cujos

objetivos são:

• Ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS, o

Ministério da Saúde como responsável pela compra de 100% dos métodos

anticoncepcionais para os usuários do SUS;

• Ampliação do acesso à esterilização cirúrgica voluntária no SUS, aumentando

o número de serviços de saúde credenciados para a realização de laqueadura

tubária e vasectomia, em todos os estados brasileiros;

• Introdução de reprodução humana assistida no SUS.

Durante as ultimas décadas foi identificado grande progresso no que diz respeito

a preocupação com relação a construção de políticas que atendam a necessidade do

planejamento familiar, porém, tal tarefa ainda tem um longo processo a percorrer;

sabe-se que mais de 120 milhões de mulheres no mundo têm intenção de evitar a

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gravidez, nem elas nem os parceiros estão fazendo uso dos métodos contraceptivos.

(Organização Mundial da Saúde e Escola Bloomberg, 2007, p. iv).

1.3 Direitos reprodutivos e saúde reprodutiva

Na década de 80, conforme mencionam Corrêa, et al. (2006), as Conferências

Internacionais de População e Desenvolvimento3 (CIPD), organizadas pela

Organização das Nações Unidas (ONU), pautavam implementar a dimensão das

estratégias de planejamento familiar, ampliando a compreensão das dimensões

sociais da reprodução, e desenhar políticas que não estivessem restritas ao

planejamento familiar, mas que pudessem responder a outras necessidades como pré-

natal, parto, puerpério, aborto, doenças ginecológicas, câncer cervical (Corrêa et al.,

2006, p.43), bem como, “a incorporação dos homens na dimensão reprodutiva”.

Na Conferência do Cairo, em 1988, apud Correa, et al. (2006), emerge o

conceito de saúde reprodutiva, da seguinte forma:

A saúde reprodutiva é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não de mera ausência de doença ou enfermidade, em todos os aspectos relacionados ao sistema reprodutivo, suas funções e processos. A saúde reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfatória, tendo Ca capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes devem fazê-lo. Está implícito nesta última condição o direito de homens e mulheres de serem informados e de terem acesso aos métodos eficientes, seguros, aceitáveis e financeiramente compatíveis de planejamento familiar, assim como a outros métodos de regulação da fecundidade a sua escolha e que não contrariem a lei, bem como o direito de acesso a serviços

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!>! CIPD Resumo do Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento/“Summary of the Programme of Action of the Internacional Conference on Population an Development”. Conferencia Internacional sobre População e Desenvolvimento Fundo de Populações das Nações Unidas (FNUAP) Tradução não oficial do documento Nações Unidas, Nova Iorque, 1995. Citado por Correa, et al (2006).!

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apropriados de saúde que propiciem às mulheres as condições de passar com segurança pela gestação e parto, proporcionando aos casais uma chance melhor de ter um filho sadio. Em conformidade com a definição acima de saúde reprodutiva, a assistência à saúde reprodutiva é definida como a constelação de método, técnicas e serviços que contribuem para a saúde e o bem-estar reprodutivo, prevenindo e resolvendo os problemas de saúde reprodutiva. Isto inclui igualmente a saúde sexual, cuja finalidade é a melhoria da qualidade de vida e das relações pessoais e não o mero aconselhamento e assistência relativos à reprodução e às doenças sexualmente transmissíveis (CORREA, et al., 2006, p.43).

Segundo os autores Corrêa, et al. (2006), a questão dos direitos sexuais e

reprodutivos segue de perto a da saúde sexual e reprodutiva, mas tem suas

especificidades e sua própria história. As discussões sobre saúde sexual e reprodutiva

no decorrer da história foram embasadas às questões de controle à “explosão

demográfica”, focando ações que garantissem relações de “bem estar e atenção a

saúde (física e mental)” (CIPD, 1994, par. 7.3).

Já no que diz respeito aos direitos sexuais e reprodutivos, a abordagem

aconteceu de forma mais complexa, uma vez que estes “fazem parte do conjunto

mais amplo dos direitos humanos, vinculados tanto aos direitos civis e políticos

(liberdade individual, liberdade de expressão, direito de ir e vir), como aos direitos

econômicos, sociais e culturais (ambiente favorável ao exercício da autonomia sexual

e reprodutiva” (CORREA, et al., 2006, p.46).

Segundo Ávila (2003),

Para que se alcancem os desafios de uma política pública de saúde concernente ao campo dos direitos reprodutivos e direitos sexuais, faz-se necessário apresentar algumas considerações sobre esses conceitos. Isso porque como em qualquer outro caso, os direitos podem ter várias abordagens dependendo da visão teórico-política com base na qual são colocados em perspectiva (p.S466).

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Assim sendo, Corrêa et al. (2006) destacam que muito embora gênero,

sexualidade e reprodução relacionem-se no contexto de vida dos indivíduos, e que

muitas vezes podem estar associados, “correspondem a terrenos distintos em termos

de representação, significado e prática sexual. O claro discernimento entre direitos

reprodutivos e direitos sexuais é parte deste mesmo esforço de esclarecimento”

(p.48).

O Ministério da Saúde apresenta o conceito de direitos reprodutivos descrito no

capítulo VII, da Plataforma de Ação do Cairo (§ 7.3):

Os direitos reprodutivos abrangem certos direitos humanos já reconhecidos em leis nacionais, em documentos internacionais sobre direitos humanos, em outros documentos consensuais. Esses direitos se ancoram no reconhecimento do direito básico de todo casal e de todo indivíduo de decidir livre e responsavelmente sobre o número, o espaçamento e a oportunidade de ter filhos e de ter a informação e os meios de assim o fazer, e o direito de gozar do mais elevado padrão de saúde sexual e reprodutiva. Inclui também seu direito de tomar decisões sobre a reprodução, livre de discriminação, coerção ou violência (BRASIL, 2005, p.7).

Corrêa et al. (2006) afirma que

o conceito de direitos sexuais foi desenvolvido muito mais recentemente do que aquele de direitos reprodutivos. Na verdade, seus conteúdos continuam a ser elaborados e refinados, na medida em que a utilização do termo amplia-se na esfera política e na sociedade. Melhor elaboração e maior precisão dos direitos sexuais implicam grande complexidade, na medida em que definem prerrogativas e limites em relação às práticas sexuais, pois levantam questões no campo das identidades, assim como no que diz respeito à definição de parâmetros para a ingerência do Estado numa esfera tão íntima da vida humana. Vários autores têm sugerido, por exemplo, que a proposta dos direitos sexuais é muito relevante e significativa na medida em que permite superar a lógica das identidades que tende a prevalecer neste campo de debate e ação política. Assim como os direitos reprodutivos, os direitos sexuais devem comportar uma face pública e outra privada. Na esfera pública, implicam um arcabouço legal e uma atmosfera moral que, gradativamente, permitam superar uma longa tradição

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de tratar as práticas sexuais que não se conformam às normas dominantes como patologia, desvio ou crime (CORREA, et al., 2006, p.50).

Neste contexto Ávila (2003), acrescenta que para advogar o Estado como

promotor do bem-estar sob a ótica de direitos reprodutivos e sexuais na área da saúde

(politica social) faz-se necessário transformação social, um processo de

democratização da vida social. Onde a garantia dos direitos contrapõe o saber no

campo da saúde, saberes estes que durante longo período eram embasados no

controle das vivências sexuais e reprodutivas, no foco das teorias biomédicas

inseridas nos serviços, bem como, em seus profissionais. A adoção deste novo

modelo de política faz com que

a cidadania passe a ser trabalhada como instrumento de combate à desigualdade social, à conquista de direitos, instituindo processo democrático assentado sobre o compromisso com a justiça social, com a ética e com uma moral que seja instauradora da dignidade humana, como valor coletivo que promova a superação dos preconceitos e discriminações (ÁVILA, 2003, p.S466).

Em resposta a este modelo de política de saúde empenhada em abordar as

questões de direitos reprodutivos e direitos sexuais como questões de direitos

humanos, o Ministério da Saúde no intuito de garantir assessoria técnica aos

profissionais da rede pactuou (BRASIL, 2006):

Direitos reprodutivos: • Direito das pessoas de decidirem, de forma livre e responsável, se

querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas.

• Direito a informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos. Direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e violência. Direitos sexuais:

• A igualdade racial e entre homens e mulheres são fundamentais para o desenvolvimento da humanidade e para tornar real os Direitos Humanos.

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• Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do(a) parceiro(a).

• Direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual. • Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha,

culpa e falsas crenças. • Direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil,

idade ou condição física. • Direito de escolher se quer ou não quer ter relação sexual. • Direito de expressar livremente sua orientação sexual:

heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outras.

• Direito de ter relação sexual independente da reprodução. Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de DST/HIV/AIDS.

• Direito a serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação.

• Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva (BRASIL, 2006, p.4).

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2 OBJETIVOS

2.1 Geral

O objeto deste estudo foi realizar uma revisão na literatura nacional acadêmica

e técnica (artigos que discorressem sobre pesquisas científicas ou experiências

práticas, assim como documentos técnicos desenvolvidos pelos governos)

relacionados às políticas de planejamento familiar no Brasil, voltada para as pessoas

que vivem com HIV/AIDS (ou que as contemplem), à sua saúde reprodutiva e à

promoção de seus direitos reprodutivos.

2.2 Específicos

• Explorar as concepções e as práticas dos profissionais inseridos nos serviços de

assistência para as pessoas com HIV/AIDS na abordagem das estratégias de

Planejamento Familiar;

• Caracterizar a vulnerabilidade das pessoas vivendo com HIV/AIDS com respeito

à violação ou negligência de seus direitos sexuais e reprodutivos.

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3 MÉTODO

Trata-se de um estudo de abordagem técnica qualitativa e de cunho

bibliográfico, cuja trajetória metodológica fundamenta-se em leituras integrativas,

exploratórias e seletivas do conteúdo pesquisado. As contribuições desse tipo de

investigação focam sua capacidade de compreensão dos fenômenos relacionados ao

cotidiano a partir das Ciências humanas e sociais. Sua utilidade esta em reavaliar

conceitos, formular objetivos e propor sugestões a serem estudadas (MINAYO et al.,

1993, p.24).

A revisão bibliográfica restringiu-se à Biblioteca Virtual de Saúde-BVS, nas

bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da

Saúde), IBECS (Índice Bibliográfico Español en Ciências de la Salud), MEDLINE

(MEDlars onLINE. Literatura internacional), Biblioteca Cochrane, SciELO

(Scientific Eletronic Library Online), bem como, nos bancos de publicação oficial de

dissertações de mestrados e teses de doutorado.

Os descritores utilizados em associações foram: direitos reprodutivos e gênero;

saúde reprodutiva e gênero; direitos sexuais e direitos reprodutivos; direitos

reprodutivos e aids; planejamento familiar e aids; saúde reprodutiva e aids;

reprodução assistida e aids.

Foram encontradas, no total 1.337 publicações, cuja restrição aos trabalhos na

língua portuguesa, culminou com sua redução para 416 publicações. Todos os

resumos dessas obras foram lidos e de acordo com o tema pesquisado, foram obtidas

29 publicações que atendiam ao critério de inclusão no conjunto de trabalhos que

seriam abordados na íntegra, a fim de que seus conteúdos fossem categorizados nos

principais subtemas tratados acerca da temática mais abrangente: saúde reprodutiva e

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direitos reprodutivos das pessoas que vivem com HIV/AIDS. Como critério de

inclusão, as publicações teriam que tratar de ações nos serviços, das concepções dos

profissionais de saúde que atuassem no contexto do planejamento familiar e da

assistência à saúde, assim como estudos sobre a perspectiva dos usuários dos

serviços. Não foi feita nenhuma seleção de período/ano de publicação.

Em seguida as publicações foram categorizadas, conforme prevê a abordagem

qualitativa de interpretação de conteúdo. Esse tipo de análise de textos e

comunicações, visa obter, “a verificação de hipóteses e/ou questões, ou seja, através

da analise de conteúdo, podemos encontrar respostas para as questões formuladas e

também podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de

investigação (hipóteses)” (MINAYO et al., 1993, p.74).

A análise de conteúdo permitiu a categorização, ou seja, o agrupamento de

elementos com características comuns, relacionados entre si, ou o agrupamento de

idéias ou expressões em torno de um conceito comum, capaz de abranger todo

conjunto de dados. A partir das leituras foram compostas as seguintes categorias de

análise (que, por sua vez, originaram os subtópicos dos “Resultados”): “As

normativas sobre os direitos reprodutivos das pessoas que vivem com HIV/AIDS e

aquilo que se faz nos serviços; “A saúde e o direito reprodutivo dos homens com

HIV”; “O planejamento familiar junto às pessoas com HIV/AIDS”. Algumas das 29

publicações em português, que constituíram o conjunto de trabalhos analisados na

presente revisão, foram citadas no item da Introdução do presente trabalho, pois se

entendeu que seus vieses: histórico, conceitual e normativo eram relevantes para tal.

Dos 29 trabalhos analisados: 12 foram citados e compuseram a Introdução da

monografia, que buscou contemplar:

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! A emergência do tema a partir da experiência profissional;

! Alguns pontos da história do planejamento familiar no SUS;

! Conceituação e contextualização histórica dos Direitos sexuais e

reprodutivos, e da saúde reprodutiva;

Na Análise dos trabalhos, as categorias que se destacaram são:

! As normativas sobre os direitos reprodutivos das pessoas que vivem com

HIV/AIDS e aquilo que se faz nos serviços;

! A Saúde e o direito reprodutivo dos homens com HIV;

! O Planejamento familiar junto às pessoas com HIV/AIDS.

A seguir consta uma tabela com as publicações prospectadas nessa revisão

bibliográfica na coluna “Literatura”, à direita. Na coluna da esquerda, constam as

idéias veiculadas nos trabalhos. A tabela foi organizada, separando-se os

trabalhos citados na Introdução e nos Resultados, em cada uma das três

categorias acima.

!

A Emergência do tema através da experiência profissional

Literatura Considerações relevantes

! Mulheres HIV positivas, reprodução e sexualidade;

! Em Tempos de Aids; ! Sem Direito de amar? A vontade de

ter filhos entre homens e mulheres vivendo com HIV;

! Desejo de maternidade entre mulheres vivendo com HIV/AIDS;

! Demandas reprodutivas e a assistência às pessoas vivendo com HIV/AIDS: limites e possibilidades no contexto dos serviços de saúde

" Homens e mulheres em idade reprodutiva são acometidos pela epidemia, chegam aos serviços manifestando o desejo de continuar vivendo e constituir família;

" Serviços e profissionais de saúde com foco no controle da cadeia de transmissão do vírus do HIV;

" A oferta de orientações sobre sexo seguro mediante adoção do preservativo como barreira para a transmissão;

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especializados; ! Mulheres, soropositividade e

escolhas reprodutivas; ! Políticas públicas para pessoas com

HIV: discutindo direitos sexuais e reprodutivos.

" Ignorando a premissa de que a condição de PVHA não os extraí da vida cotidiana, das relações interpessoais e das interações afetivo-sexuais

Alguns pontos da história do planejamento familiar no sus

! Sexualidade entre jovens das comunidades anfitriãs de turismo: desafios para a prevenção das DST/AIDS e o Programa Saúde da Família;

! Planejamento familiar no Brasil contexto das políticas de saúde: determinantes históricos;

! Programa de Assistência Integral da Saúde da Mulher(PAISM);

! Política Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos-2005;

! Manual global para profissionais e serviços de saúde.

" No decorrer da década de 80, quando a AIDS emergia no mundo, ocorre intensos processos sociais e políticos no país, no qual confluíram lutas e reinvindicações de segmentos distintos, por exemplo o dos grupos feministas que ampliam seu escopo de debates na área da saúde da mulher;

" Planejamento familiar como direito de todos assegurado pela Lei nº9.263/96.

"

Direitos reprodutivos e saúde reprodutiva

! Direitos e saúde sexual e reprodutiva: marco teórico-conceitual e sistema de indicadores;

! Direitos sexuais e reprodutivos: desafios para as políticas de saúde e sexual;

! Direitos sexuais e Direitos reprodutivos: uma prioridade do governo-2005;

! Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos: uma prioridade do governo-2006;

" As Conferências Internacionais de População e Desenvolvimento, pautam a implementação das estratégias de planejamento familiar, ampliando a compreensão das dimensões sociais;

" Emergem os conceitos de Direito Sexual e Reprodutivo;

Resultados da revisão CATEGORIA 1) AS normativas sobre os direitos reprodutivos das pessoas que vivem com HIV/Aids e aquilo que se faz nos serviços

! Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva das Mulheres Adultas, Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/AIDS

! Desejo de Maternidade entre mulheres com HIV/AIDS;

! Mulheres HIV positivas, reprodução e sexualidade;

" Todos os cidadãos e cidadãs, independente do estado sorológico para o HIV, tem o direito de planejar com autonomia sua saúde sexual e reprodutiva, com garantia do acesso a serviços integrais de saúde, bem como, ações de promoção e atenção sexual e reprodutiva;

" Os serviços ainda não têm abordado o plano reprodutivo e a saúde

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sexual das PVHA com efetividade, considerando plenamente seus direitos sexuais e reprodutivos;

CATEGORIA 2) A Saúde REPRODUTIVA e os direitos reprodutivos dos homens QUE VIVEM com HIV

! Sem direito de amar? A vontade de ter filhos entre homens e mulheres vivendo com HIV/AIDS;

! Homens, feminismo e direitos reprodutivos no Brasil: uma análise de gênero no campo das políticas públicas;

! A participação paterna no processo de humanização do nascimento: Uma questão a ser repensada; A participação do homem na saúde reprodutiva;

" Os homens ainda são pouco considerados como sujeitos nas questões reprodutivas, mais ainda no caso do homem que vive com HIV.

Categoria 3)O Planejamento familiar junto às pessoas com HIV/Aids

! Mulheres soropositivas e escolhas reprodutivas;

! Sem direito de Amar? A vontade de ter filhos entre homens e mulheres vivendo com HIV/AIDS;

! Demandas reprodutivas e a assistência às pessoas vivendo com HIV/AIDS;

! Desejo de maternidade entre mulheres com HIV/AIDS;

! Sexualidade de mulheres vivendo com HIV/AIDS em São Paulo;

! Homens, feminismo e direitos reprodutivos no Brasil: uma análise de gênero no campo das políticas públicas;

! A participação paterna no processo de humanização do nascimento: Uma questão a ser repensada;

! A participação do homem na saúde reprodutiva;

! Vulnerabilidade ao HIV/AIDS e a prevenção da transmissão sexual entre casais sorodiscordantes.

" Os profissionais reproduzem a “comunicação unidirecional, dogmática e autoritária” (AYRES, 2002);

" Esta visão dominante faz com que as ações transcorram em caráter informativo interferindo no exercício de cidadania;

" As PVHA necessitam de intervenções que ultrapassem as estratégias de informação, garantindo acolhimento das suas demandas reprodutivas;

" Os homens ainda são pouco considerados como sujeitos nas questões reprodutivas, mais ainda no caso do homem que vive com HIV;

" Os serviços de assistência especializada para PVHA neglicenciam o olhar para os casais sorodiscodantes, focando apenas os indivíduos portadores do HIV;

" Os profissionais de saúde se preocupam em mitigar a transmissão materno-infantil, reduzindo o foco da assistência. Há pouca liberdade às PVHA em conversar acerca de seu desejo e planos reprodutivos com os profissionais;

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Discussão: desafios

! Vulnerabilidade ao HIV/AIDS e a prevenção da transmissão sexual entre casais sorodiscordantes;

! Sem mágicas soluções: a prevenção e o cuidado em HIV/AIDS e o processo de emancipação psicossocial;

! Mulheres HIV positivas, reprodução e sexualidade;

! Cultura médica e decisões reprodutivas entre mulheres infectadas pelo vírus da AIDS;

! Cuidado e reconstrução das práticas de Saúde;

! Práticas educativas e prevenção de HIV/AIDS: lições aprendidas e desafios atuais;

! Organização das Ações de Atenção à Saúde: modelos e práticas;

! Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva das mulheres adultas, adolescentes e jovens vivendo com HIV e AIDS;

! Sem direito de Amar? A vontade de ter filhos entre homens e mulheres vivendo com HIV;

! Mulheres HIV positivas, reprodução e sexualidade;

! Desejo de maternidade entre mulheres com HIV/AIDS.

" São escassos trabalhos que se aprofundem acerca das relações afetivas e emocionais das PVHA, em parcerias discordantes, envolvendo as possibilidades reprodutivas seguras;

" Melhorar o acolhimento das demandas reprodutivas das PVHA com base no respeito aos seus direitos sexuais e reprodutivos;

" Os homens ainda são pouco considerados como sujeitos nas questões reprodutivas, mais ainda no caso do homem que vive com HIV;

" Qualificar os profissionais, expandindo suas ações além dos horizontes técnicos, entendendo os cidadãos como possuidores de autonomia decisória sobre suas expectativas protegidos pelos seus direitos;

" Efetivar a articulação dos serviços de assistência às PVHA, com os serviços de saúde da mulher, e os especializados em reprodução assistida;

" Mudança de paradigma a fim de desconstruir a apartação entre as representações do viver com HIV/AIDS e a reprodução, para que se promova o planejamento familiar singular às necessidades das PVHA.

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4.1 As normativas sobre os direitos reprodutivos das pessoas que vivem com

HIV/AIDS e aquilo que se faz nos serviços

De acordo com o Manual de Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (org.

EngenderHealth e UNFPA, 2008), afirma-se que

As pessoas vivendo com HIV e Aids (PVHA) têm o direito de planejar livremente se querem ou não ter filhos/as, quantos e quando tê-los. Também têm o direito de ter acesso a serviços integrais de saúde e ações de promoção e atenção à saúde sexual e reprodutiva, incluindo planejamento familiar e prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, do HIV e Aids, para si e parceiros. O direito à saúde sexual e reprodutiva aplica-se a todos os cidadãos e cidadãs independente do estado sorológico para o HIV (p. 10).

Sendo assim, muitos desafios hão de ser considerados na prática da assistência

às pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA). Os serviços ainda não têm abordado o

plano reprodutivo e a saúde sexual desta população com efetividade, principalmente,

considerando-os na perspectiva dos direitos sexuais e reprodutivos como direitos

humanos. Isso pode ser afirmado a partir da presente revisão de literatura, cujas

considerações são, a seguir, apresentadas.

Santos e Bispo (2010), em estudo qualitativo onde foram entrevistadas mulheres

vivendo com HIV/Aids atendidas por um Centro de Referência DST/Aids, Jequiá-

Ba, mencionam que independentemente de ser direito dessas mulheres a decisão

reprodutiva, a prática do serviço ainda esta relegada à concepções particulares dos

profissionais, onde a abordagem se faz nos moldes ideológicos da contenção da

epidemia da infecção pelo HIV, onde são consideradas a inibição da reprodução,

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sendo assim, descartando-se inclusive as publicações em documentos oficiais.

Ainda nesta perspectiva, Santos et al. (2002), em um estudo exploratório

realizado em ambulatório de um Centro de Referência DST/AIDS em São Paulo-SP,

com amostra consecutiva, não-probabilística, constituída de 148 mulheres HIV-

positivas, afirmam que por meio dos resultados ficou claro que os profissionais de

saúde buscam uma “postura hermética e autoritária”, no intuito de fazer prevalecer

suas orientações com relação às práticas preventivas, bem como, decisões

anticonceptivas.

A adoção de tal postura talvez esteja embasada no fato que a abertura para

discussão de prevenção e anticoncepção, forneça autonomia decisória ao

planejamento familiar às usuárias do serviço, o que de certa forma não condiz com o

desejo destes profissionais que “geralmente discordam, calcados em suas concepções

técnicas, e em seus próprios princípios morais e éticos. A grande preocupação se

resume em instruir e orientar sobre o uso apropriado de AZT na gestação com o

propósito de mitigar a transmissão materno-infantil para 2% a 8%” (SANTOS, et al.

2002, p. 20).

De acordo com Paiva et al. (2002b) muitos foram os avanços técnico-científicos

no campo aids, porém, a abordagem dos direitos sexuais e reprodutivos pelos

profissionais de saúde às PVHA ainda é escassa, além do fato de que muitas vezes os

profissionais reproduzem a “comunicação unidirecional, dogmática e autoritária”

(AYRES, 2002).

O Manual de Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR), elaborado e

publicado pela EngenderHealth e UNFPA (2008), destaca que

Para reduzir as chances de gravidez indesejada e de re-infecção, a dupla proteção, ou seja, o uso consistente de preservativo

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associado a outro método contraceptivo seguro, deve ser proposta e estimulada como parte integrante de um processo de aconselhamento em sexualidade e reprodução, conduzido por profissionais qualificados/as para o atendimento de mulheres e/ou casais adultos, adolescentes e jovens vivendo com HIV e aids, sejam eles soroconcordantes ou não (EngenderHealth e UNFPA, 2008, p.17).

O mesmo documento afirma que em serviços de pré-natal e nas maternidades,

com relação ao grupo de mulheres portadoras do HIV,

as dificuldades experimentadas pelos/as profissionais e refletidas em sua prestação de serviços impedem o acolhimento das necessidades específicas deste grupo de mulheres e, por consequência, a garantia de efetivação do direito à saúde integral. No contexto dos serviços de pré natal e das maternidades essas ações focalizadas nesse grupo devem ser estruturadas como um conjunto de intervenções da equipe, adequadas às possibilidades reais de cada serviço e às necessidades específicas dos diferentes grupos de mulheres. Os/as profissionais devem estar capacitados/as para assegurar a adoção das condutas corretas durante todo o pré-natal, no momento do parto e no pós-parto. (EngenderHealth e UNFPA, 2008, p.16).

4.2 A saúde e o direito reprodutivo dos homens com HIV

O presente estudo tem como foco as publicações sobre os serviços que prestam

assistência às PVHA, e não diferente do que acontecem com as demais instituições

de saúde, estes também negligenciam olhar diferenciado para a inclusão dos homens

nas estratégias de planejamento familiar. Muito embora a participação masculina no

contexto do planejamento familiar seja de suma importância para melhoria na

qualidade desta estratégia junto à população vivendo com HIV/AIDS, poucos foram

os trabalhos encontrados que focassem a temática, para este estudo.

Paiva et al. (2002 b), em estudo de pesquisa com 250 homens portadores de

HIV, que fazem sexo com mulheres, atendidos em um Centro de Referência para

PVHA-São Paulo-SP, destacam que os serviços de assistência às PVHA, ainda não

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incorporaram a figura masculina nas estratégias de abordagem para as questões

reprodutivas. Durante a pesquisa muitos foram os relatos direcionados para o anseio

à paternidade, porém, o pouco conhecimento, por parte destes homens, sobre as

práticas seguras para tal evento como, por exemplo, protocolos de transmissão

vertical do HIV (via materno-infantil), deixam claro o quanto os serviços

negligenciam estes homens no processo reprodutivo.

Outro ponto importante foi o relato da pouca liberdade que geravam até certo

desconforto aos entrevistados em discutir sobre sexualidade e vida reprodutiva com

os profissionais inseridos nos serviços onde estavam sendo assistidos; muitos

preferiam discutir tais assuntos apenas com os médicos que os atendiam e alguns

nem mesmo com os médicos sentiam-se à vontade para tal diálogo, o que demonstra

o quanto isto pode acarretar aumento nas situações de vulnerabilidade para

comportamentos de risco com relação a gestação de suas parceiras por caminhos

mais arriscados com relação à infecção, reinfecção, transmissão materno-infantil.

Lyra da Fonseca (2008), em sua tese, cujo estudo é na abordagem qualitativa,

destaca que muito embora várias tenham sido as discussões para inserção dos

homens nas políticas de saúde no campo dos direitos reprodutivos no Brasil,

permanece ainda (por questões culturais históricas e ideológicas) a idéia geral de que

os homens, via de regra, não se interessam por questões relativas à sexualidade e à

reprodução e de que o planejamento familiar e o cuidado dos filhos são atribuições e

responsabilidades das mulheres. Longo caminho há de se percorrer para desmistificar

esta “visão machista e sexista” que impede às mulheres e aos homens o pleno

exercício de seus direitos sexuais e direitos reprodutivos, em face das limitações

impostas por padrões culturais inscritos em práticas preconceituosas (p.207).

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Tarnowski et al. (2005), em artigo de reflexão teórica, aborda:

a inclusão dos homens no processo reprodutivo, como a construção da equidade de gênero. Abre-se a oportunidade para discutir, com essa população (homens), questões como as relações de gênero no cotidiano do casal e da família, a distribuição mais equitativa de responsabilidades, a negociação da contracepção, os direitos reprodutivos, entre tantas outras, o que pode significar uma contribuição para a constituição de sujeitos mais autônomos, mais solidários e, ao mesmo tempo, mais críticos (TARNOWSKI et al., 2005, p.107).

Galastro e Serpa da Fonseca (2007), em estudo de pesquisa através de oficina de

trabalho, com a participação de sete profissionais com vivências na área da

assistência à saúde reprodutiva, em um hospital de Belo Horizonte - MG, aborda que

a inclusão do homem durante o “processo reprodutivo”, além de promover a

cidadania, garantindo o “direito reprodutivo ao homem”, promove o

compartilhamento da responsabilidade reprodutiva ao casal. Tal proximidade pode

propiciar melhoria na relação afetiva do pai com o filho, transpondo ao homem o

papel do “pai cuidador”, bem como, defende-se a idéia que tal estratégia pode figurar

“forma preventiva de violência doméstica à criança, ao abandono da família e à

delinqüência juvenil” (p.457).

O Ministério da Saúde focando mitigar a desigualdade do plano dos direitos

sexuais e reprodutivos, entre mulheres e homens, pontua

que para o pleno desenvolvimento de homens e mulheres, é importante a construção de parcerias igualitárias, baseadas no respeito entre os parceiros e em responsabilidades compartilhadas. Portanto, é fundamental o envolvimento dos homens com relação à paternidade responsável, à prevenção de gestações não desejadas ou de alto risco, à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis/HIV/AIDS, dividindo também com as mulheres as responsabilidades com relação à criação dos filhos e à vida doméstica (BRASIL, 2006, p.6).

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4.3 O planejamento familiar junto às pessoas com HIV/AIDS

Por ser interesse do presente estudo as PVHA, seus direitos reprodutivos,

incluindo seu acesso ao planejamento familiar, este item, faz análise da temática no

contexto dessa população.

Em estudo reflexivo Vidal et al. (2009) através de levantamento literário em 2

bases de dados on-line: Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em

Ciências da Saúde (Sistema Bireme) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciências da Saúde), mencionam que a abordagem do planejamento

familiar esta embasada no respeito aos direitos sexuais e reprodutivos sob a ótica

construtiva social da sexualidade dos indivíduos, perpassando seus componentes

biológicos.

Sendo assim, cabe aos serviços que prestam assistência às PVHA, garantirem

aos usuários atenção integral com relação às suas questões reprodutivas, assegurando

que seus direitos não serão violados, bem como, sua não exposição a atos de

discriminação e violência. Para que a efetivação deste processo aconteça faz-se

necessário que os profissionais de saúde desnudem suas ações “com base em valores

morais de cunho pessoal, que não oportunizam o diálogo nessa esfera de cuidado”

(VIDAL et al., 2009, p.171).

De acordo com Sant’anna et al. (2008), em estudo descritivo, de delineamento

qualitativo, com a participação de 6 mulheres soropositivas para o HIV em idade

reprodutiva, residentes no Distrito Federal, descreve que durante a pesquisa pôde ser

identificado que os serviços de assistência para PVHA tinham empenho voltado para

esclarecimento das questões relacionadas a transmissão vertical do HIV (transmissão

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materno-infantil), o uso de medicação antirretroviral durante a gestação, no momento

do parto, para a criança após nascimento, e aleitamento materno.

Porém outras questões singulares no contexto do planejamento familiar destas

mulheres vivendo com HIV ainda são abordadas de maneira insipiente, colocando

em situações de injustiça social suas particularidades, como o desejo de ter ou não

filhos, a abordagem com relação à prática de dupla proteção (uso de preservativo

associado a outro método contraceptivo) (SANT’ANNA et al., 2008).

Segundo Paiva et al. (2002b) o acolhimento das demandas sexuais e

reprodutivas das PVHA com práticas seguras e protegidas, ultrapassa os níveis de

informação, as ações devem afastar a estigmatização anti-família associada ao HIV,

descaracterizar o modelo médico-cêntrico dos serviços de assistência para PVHA,

assegurar a inserção nos serviços especializados (por exemplo, reprodução assistida),

garantir apoio às PVHA para suas decisões reprodutivas juntos.

Devemos considerar que o desejo reprodutivo legítimo de homens e mulheres

pertinentes ao contexto de socialização que estão inseridos (razões religiosas, dar

sentido à vida, construção de identidade feminina ou viril), muitas vezes é violado

pelos profissionais que atendem PVHA. Tal comportamento pode ser associado a um

movimento desses profissionais que traduz em suas práticas angustias associadas ao

estigma da doença, sua gravidade, restrito conhecimento dos direitos sexuais e

reprodutivos e ainda, apesar de remota: a possibilidade de que uma criança adquira a

infecção através da transmissão vertical. A adoção deste comportamento implica na

implantação adequada de estratégias de planejamento familiar nos serviços que

atendem PVHA, que acolheriam o desejo reprodutivo, garantiriam práticas sexuais

seguras e estimulariam a decisão dos usuários dos serviços de forma efetiva.

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Nos relatos de Oliveira e França Junior (2003), destaca-se o estudo de

observação em duas unidades de saúde de assistência à PVHA em São Paulo-SP,

onde foram ouvidos profissionais de saúde e usuários dos serviços. Os autores

chamam a atenção para a relevância de outra modalidade assistencial por parte dos

profissionais, reconfigurando o modelo de assistência focada no controle da doença.

Eles propõem o avanço do modelo baseado estritamente ou excessivamente em

questões biomédicas, “para outro plano que inclui a escuta e acolhimento de acordo

com a demanda e suas especificidades” (p. S321).

O momento do aconselhamento pode contribuir para a construção deste novo

“modelo assistencial”, na medida em que permite facilitar a comunicação entre os

profissionais e os usuários dos serviços, no caso em questão as PVHA. Ocupar este

espaço para reflexão sobre o planejamento familiar poderia impulsionar o respeito

aos direitos sexuais e reprodutivos e a melhoria na qualidade da atenção junto a essa

população, pois esse momento do aconselhamento permite avaliação singular dos

riscos e condições de vulnerabilidade. (PAIVA et al., 2002 a).

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5 DISCUSSÃO

De acordo com a análise empreendida na literatura nacional, considerando

pesquisas científicas, documentos oficiais que abordassem os temas: Planejamento

Familiar, direitos reprodutivos e sexuais das PVHA, identificou-se qual seu curso na

trajetória de evolução da epidemia da AIDS. Muito embora grandes esforços tenham

sido copilados através de documentos e estudos com o intuito da garantia da inclusão

desta temática nos serviços que atendem as PVHA, é perceptível que grandes

desafios devam ser enfrentados para garantir a efetivação de uma política

concernente neste campo.

Conforme o estudo de Paiva et al. (2002a) evidenciou, foi considerável o

número de mulheres, dentre as 1.068 mulheres vivendo com HIV/AIDS pesquisadas,

que referiram desconhecer as práticas contraceptivas que melhor se adequassem para

mulheres vivendo com HIV/AIDS, bem como, sobre o fato de que a transmissão do

HIV poderia acontecer através da gestação, do momento do parto e amamentação, e

ainda que ausência do uso de métodos preventivos poderia desenvolver a re-infecção

pelo HIV entre os parceiros.

Tais fatos podem estar relacionados a pouca liberdade que estas mulheres

tinham para discutir as questões reprodutivas com os profissionais dos serviços onde

eram atendidas. Os constrangimentos das mulheres com HIV/AIDS, segundo relatos,

eram fruto do “medo” de algum tipo de repreenda ou desaprovação que temiam

sofrer por parte dos profissionais. Este panorama demonstra o quanto a aplicação de

recursos voltados para ações de aconselhamento com enfoque nos direitos

reprodutivos nos serviços que prestam assistência as PVHA ainda é insatisfatório.

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Tampouco, a compreensão de que os homens são sujeitos de direitos

reprodutivos ainda é escassa; mais ainda no caso do homem que vive com HIV.

O gênero continua sendo abordado no singular, no feminino, como sinônimo de opressão feminina; não se aprofunda, nas ações de prevenção, o lidar com o impacto das relações de gênero no aumento da vulnerabilidade dos homens (PAIVA, 2002, p.30).

Para mitigar este processo de exclusão do gênero masculino nas intervenções

junto a estas populações de acordo com Paiva (2002):

Teremos que, criativamente, continuar buscando a “desnaturalização” das “bíblicas” definições sobre os gêneros, que mantém os programas de infecções sexualmente transmissíveis desarticulados dos programas de saúde da mulher, os homens desassistidos para lidar com seus dilemas reprodutivos (quase invisíveis nos programas de saúde da mulher), e programas de saúde que raramente permitem às “esposas e mães” serem incentivadas a fazer o teste anti-HIV nos serviços de ginecologia e pré-natal (um espaço de “todos”, onde não se pode pensar em HIV), e os portadores sem espaço para pensar suas intenções reprodutivas (um espaço que não é de “todos”, do “todo” das pessoas vivendo com AIDS, mas tem focalizado a sua “parte portadora”).

Vale destacar que segundo Santos et al. (2002), a rotina dos serviços que

atendem as PVHA não viabiliza o diálogo sobre os direitos reprodutivos dos seus

usuários, possivelmente pelo fato dos profissionais de saúde de modo geral não

estarem, ainda, tecnicamente preparados para atender esta demanda. Possivelmente

os profissionais enfrentem dificuldade de ordem pessoal, provenientes de questões

culturais vinculadas ao estigma, que reforçam a idéia de que “HIV” e “constituição

familiar” não são unificáveis. Ainda hoje identificamos a associação da

contaminação do HIV à noção de promiscuidade.

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Importante ainda destacar que mesmo os serviços de assistência especializada

para PVHA, negligenciam o olhar para os casais sorodiscordantes, os serviços focam

o indivíduo portador de HIV/AIDS, desconsiderando sua vida afetivo-sexual,

conforme evidenciou o estudo de Reis e Gir (2009), em Brasília, com 11 portadores

de HIV/AIDS que convivem com parceria sorodiscordantes.

É importante destacar que a não inserção dos parceiros sorodiscordantes nos

serviços, bem como, a pouca abertura para discussão das relações afetivas e

emocionais das pessoas com HIV/AIDS com parceria discordante; a cronicidade da

patologia, associada ao controle da doença com uso de medicação antirretroviral,

onde a terapia leva a indetecção viral, pelo baixo número de cópias do vírus no

organismo do individuo portador, são fatores que implicam no aumento da

vulnerabilidade das relações sorodiscordantes.

Esta realidade aponta para a questão de quanto os serviços estão despreparados

para atender estes indivíduos e suas demandas, o que

pressupõe a necessidade urgente de capacitação dos profissionais de saúde com o objetivo de oferecer atendimento integral aos portadores do HIV/AIDS e seus parceiros (as), contemplando a sexualidade, conjugalidade, o uso do preservativo, a prevenção da transmissão sexual do HIV e planejamento familiar (REIS e GIR, 2009, p.668)

Apesar de todos os caminhos percorridos no que diz respeito à epidemia da aids,

ainda hoje, os temas acima citados, caracterizam aspectos socioculturais e

psicossociais que têm sido bem pouco abordados, tanto nas estratégias de prevenção

como na assistência às PVHA. O modelo adotado pelos serviços permanece com o

foco das práticas voltadas para questões biomédicas (PAIVA, 2002).

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Knauth et al.(2002) considera que a qualidade das práticas de saúde, bem como,

a eficácia destas, está diretamente relacionada ao conhecimento das pessoas

envolvidas e a inserção deste conhecimento no seu contexto de vida, ou seja, a

eficácia não é dependente somente de aspectos biomédicos e da execução de

procedimentos. Os autores destacam:

As práticas de saúde principalmente as de caráter preventivo, são consideradas eficazes quando fazem sentido para as pessoas implicadas. E para tanto se faz necessário considerar suas esferas da vida social (...) (p.51).

A reconstrução das práticas de saúde deve valorizar a “interação entre dois ou

mais sujeitos visando o alívio de um sofrimento ou o alcance de um bem-estar,

sempre mediada por saberes especificamente voltados para essa finalidade”

(AYRES, 2004, p.74). Ayres (2004) afirma ainda que “a tecnologia não é apenas

aplicação de ciência, não é simplesmente um modo de fazer, mas é também,

enquanto tal uma decisão sobre quais coisas podem e devem ser feitas”.

O autor destaca que

na qualidade de portador de uma demanda de saúde, qualquer indivíduo é, de fato, potencial objeto de conhecimento e intervenção. É isso que se espera das ciências e dos serviços de saúde. Contudo, nada, nem ninguém podem subtrair a esse mesmo indivíduo, como aspirante ao bem-estar, a palavra última sobre suas necessidades (AYRES, 2004, p.84).

O autor acima citado destaca que os profissionais de saúde devem expandir suas

ações além dos horizontes técnicos entendendo os cidadãos como possuidores de

autonomia decisória sobre suas expectativas protegidos pelos seus direitos. Sob esta

ótica deve-se compreender e respeitar qual o “projeto de felicidade” que os usuários

dos serviços incorporam no contexto de suas demandas.

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Considerando tais fatos enfatizamos a necessidade de mudanças nas práticas, a

partir da constituição de um olhar diferenciado que amplie a visibilidade dos direitos

sexuais e reprodutivos das pessoas com HIV/AIDS, nos serviços e por parte de seus

profissionais. Tais mudanças não implicam em inutilizar os conhecimentos técnicos,

porém readequar o potencial técnico para um novo modelo de atenção, como bem

define Ayres, (2004):

Revalorizar a dignidade dessa sabedoria prática é, portanto, uma tarefa e um compromisso fundamental quando se quer Cuidar. Mas isso nem sempre é fácil, porque é freqüente tomarmos o reconhecimento e a valorização desses saberes não-técnicos como obscurantismo, atraso. Isso nos parece um lamentável equívoco. Nós podemos não concordar com uma dada crença de um paciente, por exemplo, e, conversando com ele, seguirmos convictos de que essa crença não lhe beneficia, e até vir a convencê-lo disso. Mas, independente de o convencermos ou sermos convencidos por ele, se simplesmente desconsiderarmos um saber não-técnico implicado na questão de saúde com que estamos lidando, então não estaremos deixando a pessoa assistida participar de fato da ação em curso. (AYRES, 2004 p.86).

Ayres (2009) menciona que os profissionais de saúde são possuidores de

“saberes” técnicos e científicos, os quais definem seu papel na promoção da saúde

dentro de regras e protocolos, almejando uma finalidade. Porém, os usuários chegam

aos serviços de saúde com expectativas e demandas, que na maioria das vezes estão

associadas a sofrimento, preocupações, que os tornam fragilizados. Mas, vale

ressaltar que esses usuários trazem saberes não especializados, oriundos de sua

vivência e experiência, envolvendo o motivo pelo qual buscam o serviço. Sendo

assim, o Cuidado deve estar embasado em encontros que proporcionem diálogos

entre os sujeitos; e seu exercício de papéis paritários de poder e a comunicação,

inserindo na escuta a história e conhecimento do paciente no que diz respeito à

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patologia, seus direitos, modo de vida, integrando estas informações no manejo e na

devolutiva do atendimento.

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6 CONCLUSÃO

Com a realização da pesquisa bibliográfica proposta foi possível concluir que o

tema do planejamento familiar e dos direitos reprodutivos das PVHA, ainda não está

suficientemente incorporado aos serviços que atendem esta população.

Muitos dos trabalhos analisados eram de pesquisa qualitativa com PVHA de

ambos os sexos, e poucas pesquisas com pessoas sorodiscordantes para o HIV.

Observou-se que um aspecto predominante nos trabalhos relaciona-se a pouca

familiaridade e acesso à informação, assim como a presença de sofrimentos e

contrariedades vividos pelos portadores no que diz respeito a seus cuidados em saúde

reprodutiva e à garantia de seus direitos.

Os serviços abordam esta temática com base nos protocolos referentes à

prevenção da transmissão vertical (materno-infantil), negligenciando o diálogo

aberto, as orientações, o apoio e a participação dos usuários no planejamento e nas

decisões reprodutivas.

A análise literária também buscou verificar os protocolos oficiais, e o quanto

estes garantem os direitos sexuais e reprodutivos e métodos contraceptivos com

excelência na qualidade de vida e respeito aos direitos das PVHA. Como consulta

transversal para este estudo, foram analisados trabalhos que tinham como abordagem

a reconstrução dos modelos assistenciais na área da saúde, analisando as possíveis

reorganizações com base na garantia dos direitos humanos.

Poucos trabalhos abordavam pesquisa com os profissionais de saúde, e a

intersetoridade dos serviços que desenvolvem estratégias de planejamento familiar

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para PVHA, com os serviços de reprodução assistida, sendo este tema relevante

como proposta para novas pesquisas.

De acordo com os resultados dos trabalhos obtidos por meio dessa revisão de

literatura, avalia-se que algumas mudanças são necessárias para melhoria no

acolhimento das PVHA dentro dos serviços que prestam assistência a essa população

como: qualificação dos profissionais de saúde no sentido de melhor abordar as

questões de direitos sexuais e reprodutivos dos usuários de ambos os sexos;

promoção de espaços para discussão sobre planejamento familiar com o casal;

abordagem dialógica entre profissionais e usuários em um mesmo patamar de poder

(promovendo a troca de saberes, onde um traz o conhecimento técnico e o outro, sua

experiência e vivências); consideração das especificidades; melhoria no

desenvolvimento da atenção às PVHA com efetiva articulação entre serviços de

assistência especializada para PVHA, serviços de atenção a mulher, serviços de

Reprodução Assistida, entre outros.

Argumenta-se como urgente a mudança dos paradigmas hoje existentes, a

qualidade de vida desejada pelos pacientes que vivem com HIV/AIDS e pelos

profissionais de saúde não implica estar apenas com a carga viral indetectável, o

CD4 bom, sem infecções oportunistas e tomando a medicação necessária. Cada

pessoa tem o seu projeto de felicidade ao longo da vida e é preciso atentar para isso;

realizar um tratamento não é só fornecer medicamento, e sim ampliar o

conhecimento geral e o consenso acerca dos direitos sexuais e, especialmente, dos

direitos reprodutivos das PVHA, mais ameaçados pelo estigma da aids e pela

restrição de horizontes e de espaços sociais.

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A abordagem das demandas reprodutivas, bem como a implementação das

estratégias de Planejamento Familiar no contexto da assistência às PVHA, requerem

ser ampliadas e intensificadas em escopo nacional, com as devidas mudanças em seu

horizonte ético-político, de modo a não negligenciar e não violar seus direitos

reprodutivos, mas sim promovê-los.

As singularidades desse grupo social devem ser consideradas e atendidas, não

somente no que se refere às ações de caráter biomédico; atrelado às estratégias

técnica-teóricas, faz-se necessário um novo olhar no/do “Cuidado” (Ayres, 2004). A

participação das pessoas nas decisões e nos procedimentos deve ser intensificada,

respeitando suas vontades, seus desejos. As PVHA necessitam ser escutadas pelos

profissionais em suas questões reprodutivas, orientadas e assistidas na realização de

seus planos.

Em outras palavras, deve-se ocorrer o acolhimento das demandas reprodutivas

das PVHA, por meio de “substantivos diálogos” (Ayres, 2004), integrando os

aspectos de suas vidas que ultrapassem os protocolos. Elas devem ser compreendidas

e auxiliadas a viabilizar seus “projetos de felicidade” (Ayres, 2004), tendo como

horizonte o respeito incondicional aos direitos humanos, em especial, seus direitos

sexuais e reprodutivos.

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