negócio da china

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32 www.mercadoeconsumo.com.br 33 www.mercadoeconsumo.com.br MARKETPLACE POR CRISTINE BARTCHEWSKY | FOTOS DIVULGAÇÃO Grupo Alibaba mostra seu potencial, programa expansão no Brasil e abre caminhos para a entrada de produtos tupiniquins na terra do dragão Negócio da CHINA A relação comercial entre Ocidente e Oriente é explo- rada há muitos anos e ganhou fama a partir da nar- rativa do explorador veneziano Marco Polo sobre sua viagem ao Oriente e as especiarias lá encontradas por ele, em meados do século 13. Ervas, temperos, sedas, óleos e perfumes eram cobiçados por mercadores que viam a China como uma terra exótica e repleta de oportunidades. É desse fato na história que se origina a expressão “Negócio da China”, país que até hoje seduz por seu potencial lucrativo. Atualmente, um gigante chi- nês vem chamando atenção por sua destreza nos negócios e rápi- do crescimento no varejo on-line. O Grupo Alibaba, criado em 1999 por 18 pessoas lideradas por Ja- ck Ma, um ex-professor de inglês. Considerado atualmente o maior grupo de e-commerce no mun- do, tem consumidores espalha- dos por vários países e mais de 800 milhões de produtos à venda em seus sites, como Alibaba.com, Taobao, Tmall.com e AliExpress, além de líder na China, dominan- do 80% desse mercado. O ecossistema em torno do Alibaba O Alibaba.com é o maior marketplace B2B do planeta e conecta compradores e fornecedores globalmente; o TaoBao, site de compra e venda en- tre consumidores vem competindo com o Ebay; o Tmall.com é um site de compra e venda entre pe- quenas empresas; e o AliExpress, plataforma de va- rejistas chineses para consumidores do mundo to- do. No entanto, esses são apenas alguns dos negó- cios do grupo, que possui ainda outros investimen- tos, como o Alimama, serviço de marketing on-line para empresários que vendem nos sites do grupo; Alipay, sistema de meios de pagamento on-line; Aliyun, serviços de armazenamento de dados na nuvem, entre outras aplicações. Jack Ma, fundador do Alibaba: de ex- professor de inglês de uma província chinesa a CEO de um dos maiores grupos de varejo on-line no mundo Por dentro dos escritórios do Alibaba Group Depositphotos Fotos: Alibaba.com

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Matéria sobre marketplace - comércio eletrônico entre fronteiras - produzida para a revista Mercado & Consumo, edição de maio/junho de 2015.

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32 www.mercadoeconsumo.com.br 33www.mercadoeconsumo.com.br

MARKETPLACE

POR CRISTINE BARTCHEWSKY | FOTOS DIVULGAÇÃO

Grupo Alibaba mostra seu potencial, programa expansão no Brasil e abre caminhos para a entrada de produtos tupiniquins na terra do dragão

Negócio daCHINAA relação comercial entre Ocidente e Oriente é explo-

rada há muitos anos e ganhou fama a partir da nar-rativa do explorador veneziano Marco Polo sobre sua viagem ao Oriente e as especiarias lá encontradas por

ele, em meados do século 13. Ervas, temperos, sedas, óleos e perfumes eram cobiçados por mercadores que viam a China como uma terra exótica e repleta de oportunidades. É desse fato na história que se origina a expressão “Negócio da China”, país que até hoje seduz por seu potencial lucrativo.

Atualmente, um gigante chi-nês vem chamando atenção por sua destreza nos negócios e rápi-do crescimento no varejo on-line. O Grupo Alibaba, criado em 1999 por 18 pessoas lideradas por Ja-ck Ma, um ex-professor de inglês. Considerado atualmente o maior grupo de e-commerce no mun-do, tem consumidores espalha-dos por vários países e mais de 800 milhões de produtos à venda em seus sites, como Alibaba.com, Taobao, Tmall.com e AliExpress, além de líder na China, dominan-do 80% desse mercado.

O ecossistema em torno do AlibabaO Alibaba.com é o maior marketplace B2B do

planeta e conecta compradores e fornecedores globalmente; o TaoBao, site de compra e venda en-tre consumidores vem competindo com o Ebay; o Tmall.com é um site de compra e venda entre pe-quenas empresas; e o AliExpress, plataforma de va-rejistas chineses para consumidores do mundo to-do. No entanto, esses são apenas alguns dos negó-cios do grupo, que possui ainda outros investimen-tos, como o Alimama, serviço de marketing on-line para empresários que vendem nos sites do grupo; Alipay, sistema de meios de pagamento on-line; Aliyun, serviços de armazenamento de dados na nuvem, entre outras aplicações.

Jack Ma, fundador do Alibaba: de ex-professor de inglês de uma província chinesa a CEO de um dos maiores grupos de varejo on-line no mundo

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O Alibaba.com e o AliExpress são as bandeiras atuantes no Brasil, sen-do a última mais conhecida pelos con-sumidores brasileiros por seus preços baixos e enorme variedade de produ-tos, vendendo de cortinas a aparelhos eletrônicos. No mundo, o mercado bra-sileiro é o terceiro maior para o AliEx-press, com 18 mil acessos diários à pla-taforma, atrás apenas dos Estados Uni-dos e da Rússia. Entre julho e setembro de 2014, o AliExpress acumulou 11 mi-lhões de pedidos e � cou à frente de em-presas como Americanas.com e Sub-marino, do grupo B2W, que fecharam o trimestre com 7,2 milhões de unidades, segundo o Ibope E-Commerce.

Segundo Lucas Peng, gerente de Ma-rketing da empresa, um dos desa� os do AliExpress para atuar no Brasil tem sido a logística. “Exploramos continuamen-te formas de aliviar qualquer gargalo que ocorra durante o processo de envio dos produtos, na esperança de disponi-bilizar uma experiência de compra me-lhor para nossos milhões de usuários no Brasil, por meio de parcerias com pres-tadores de serviço aprovados que po-derão valorizar os vendedores do AliEx-press”, diz. Peng ainda conta que recen-temente começaram testes de um novo serviço de entrega que poderá auxiliar nos prazos, mas não revelou mais deta-lhes a respeito.

A dinâmica e complexa evolu-ção do varejo digital no Brasil Era do Brasil o sétimo lugar no

ranking do Índice de E-Commerce de Varejo Global 2015, feito pela consul-toria A.T. Kearney, que classi� ca anu-almente os 30 países mais atrativos no comércio on-line. Porém, entre 2014 e 2015, o País passou para a 21ª posição e, de acordo com a consultoria, o recuo se deve ao mau desempenho da eco-nomia em 2014 e a obstáculos na logís-tica no Brasil. Apesar de tudo, continu-amos sendo um mercado interessan-te para o comércio eletrônico e, pro-va disso, são o crescimento de 18%, a movimentação de US$ 13 bilhões em 2014 e a estimativa da Câmara Brasi-leira de Comércio Eletrônico, que pre-vê crescimento de 20% em 2015 para o e-commerce brasileiro.

Com seus 60 milhões de consumi-dores on-line, ainda existe o potencial de venda para mais de 106 milhões de brasileiros que possuem acesso à In-ternet. O CEO da GS&Ecomm, Ricar-do Michelazzo, explica que a con� an-ça do consumidor na compra on-line, principalmente com relação aos meios de pagamento, é um fator determinan-te para movimentar o comércio eletrô-nico, além da entrada de grandes mar-cas conhecidas da classe C – público que cresce a cada dia – no meio, como C&A e Riachuelo (que prometeu lançar seu e-commerce em 2016). Segundo pesquisa encomendada pelo Google ao instituto Data Popular, atualmente, os internautas brasileiros correspondem a 60% da população, sendo que apenas 36% deles são das classes A e B, enquan-to que 54% pertecem à classe C. Alguns fatores que têm contribuído para esse panorama são a ascensão da classe C e o acesso facilitado à Internet.

Contudo, é preciso basear as estra-tégias de vendas em diversos pontos, levando em consideração que esse é um cenário em constantes mudan-ças. Apesar de inovar com a isenção do Imposto sobre Operações de Crédi-to, Câmbio e Seguros (IOF) na compra de livros importados, o que é vantajo-so para o consumidor brasileiro, prin-cipalmente com a instabilidade do dó-lar, a Amazon Brasil garante que suas estratégias são, na verdade, focadas no consumidor e não meramente em pre-ços. Comunicação assertiva e disposi-ção para auxiliar o cliente são pontos fortes já conhecidos da empresa, que faz questão de destacar o ‘Fale Conos-co’ nas páginas do site. Segundo a as-sessoria de imprensa da Amazon no Brasil, qualidade, comodidade e exce-lência no atendimento são importan-tes para conquistar e manter a con-� ança do consumidor.

Derrubando fronteirasNo ano passado, o e-commerce no

Brasil faturou R$ 32 bilhões e, desses, estima-se que R$ 1 bilhão tenham si-do gastos somente em sites chineses. A categoria mais vendida no País em 2014 foi moda, conforme a pesqui-sa E-commerce entre fronteiras e pa-gamentos móveis 2014, divulgada em novembro do mesmo ano, encomen-dada à Ipsos Mori pelo PayPal. Parte desse sucesso de vendas em moda se deve ao Alibaba, um player que está cada vez mais entendendo o compor-tamento de compra do brasileiro e que supera a concorrência do varejista bra-sileiro com preços baixos.

O Alibaba aprendeu a trabalhar com um tíquete médio baixo e, para o con-sumidor, isso é vantajoso, pois compras até US$ 50 não são taxadas. Isso se de-ve à alta concentração de indústrias na

China (muitas delas que fornecem até mesmo para empresas brasileiras), que permite ao grupo operar com margem realmente muito baixa de vendas”, es-clarece Michelazzo. Além disso, o Aliba-ba trabalha com o conceito de “estoque zero", não tendo qualquer custo com armazenamento ou operação. “A inteli-gência do Alibaba é o completo domí-nio da interface de venda, que permite que se conheça cada vez mais merca-dos como o brasileiro”, completa.

Logo atrás de moda, nas categorias mais vendidas, � caram eletrônicos e produtos de beleza. Michelazzo adian-ta ainda que após moda, veremos no e--commerce o destaque para a venda de

comida. “Já temos alguns players, co-mo o Mambo e o Pão de Açúcar. De-pois que as pessoas perceberem a co-modidade de comprar comida pela In-ternet, essa será a próxima grande on-da”, diz. Para 2015, a previsão é de que as principais categorias de crescimen-to sejam produtos para bebês/crianças (18%), alimentação (17%) e lazer (16%), segundo a pesquisa.

Ainda do estudo citado, dados apontam para uma tendência promis-sora de consumo entre fronteiras, visto que, no ano passado, 46% das compras consumadas foram realizadas em sites do País e do exterior e 4% apenas em sites estrangeiros. O consumidor on-li-

O Alibaba no BrasilO País é o terceiro maior mercado para o AliExpress (atrás de EUA e Rússia)

18 mil acessos diários

11 milhões de pedidos em apenas três meses (julho a setembro de 2014), superando os 7,2 milhões de pedidos de empresas consolidadas do e-commerce brasileiro como Americanas.com e Submarino.com (do Grupo B2W) no mesmo período.

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ne brasileiro tem se aventurado além das fronteiras, principalmente em bus-ca de preços baixos, e é aí onde o Ali-baba se fortalece, uma vez que a Chi-na é líder no ranking de compras en-tre fronteiras e seus preços são imba-tíveis. “O consumidor é motivado pelo preço e, se é informado das condições (como um prazo maior de entrega, por

exemplo), mas continua achando o preço vantajoso, aceita e fecha o negó-cio. Um exemplo brasileiro é o Privalia. As ofertas são realmente de oportuni-dade e os consumidores aceitam espe-rar pelo prazo de entrega que pode le-var até 40 dias”, a� rma Michelazzo.

Segundo o diretor de Marketplace do MercadoLivre, Leandro Soares, mesmo diante de uma crise econômica no Pa-ís, o comércio eletrônico vive uma rea-lidade de contínuo crescimento. Em fe-vereiro deste ano, o MercadoLivre apli-cou pesquisa com seus vendedores, em parceria com o Ibope Conecta. O estu-do apontou que 85% dos empreende-dores apostam no crescimento do co-mércio eletrônico no Brasil em 2015 e 87% deles acreditam que vão aumen-tar suas próprias vendas na Internet. Desses 85%, a maioria espera crescer acima de 20% este ano. “Nesses mo-mentos de crise econômica, o comér-cio eletrônico se sobressai, pois as pes-soas passam a comparar mais preços, fazer mais buscas e esse processo é

muito mais simples quando feito on--line, isso converte em compras, pois comprar on-line é fácil, seguro e cômo-do”, explica Soares.

Plataforma B2COs chineses estão consumindo mui-

tos produtos ocidentais por conta da ascensão econômica. Marcas como Havaianas e Melissa são vendidas na China pelas plataformas do Alibaba, que deseja internacionalizá-las ainda mais para atender a todas as necessi-dades do comércio sem fronteiras. É o que diz Sherri Wu, gerente geral de Ne-gócios Internacionais da empresa. O fo-co dela é o Tmall/Tmall Global e a de-manda de consumo de compradores on-line da China em suas diversas pla-taformas. “Enxergamos muitas oportu-nidades para os produtos brasileiros na plataforma, como os de origem agríco-la, carne, mel e cachaça. Meu objetivo é recrutar mais varejistas para atender a crescente demanda dos consumidores chineses”, conta Wu.

MARKETPLACE

Leandro Soares, do MercadoLivre: em

momentos de crise, o comércio eletrônico leva vantagem pela

conveniência e preço

Lançado em 2014, o Tmall Global (www.tmall.hk) é uma plataforma B2C que permite que os comerciantes estrangei-ros entrem no mercado chinês de varejo on-line usando as li-cenças comerciais de seu pa-ís de origem, sem necessidade de registro de espólio na China ou mesmo autorização para co-mercializar por lá. Uma oportu-nidade auspiciosa para marcas e fornecedores brasileiros ex-portarem para o mercado chi-nês. “A plataforma B2B Alibaba.com já tem ajudado há alguns anos as pequenas empresas a

ingressarem no varejo on-li-ne sem fronteiras. O AliExpress também se mostrou forte player no Brasil, ajudando consumido-res a encontrar com facilida-de diversos produtos da China a preços baixos e contribuindo para o crescimento da indús-tria de e-commerce no Brasil. À medida que os varejistas bra-sileiros entenderem a necessi-dade de produtos estrangeiros na China, nossa esperança é de que eles se voltem para nós pa-ra oferecer seus produtos dire-tamente aos consumidores chi-neses”, explica a executiva.

O MercadoPME é um marketplace B2B, que já inicia as operações com investi mentos projetados para o primeiro ano em torno de R$ 15 milhões e fama de ser o “Alibaba brasileiro”. Essa é a primeira plataforma para pequenas e médias empresas brasileiras comprarem direto de fabricantes e distribuidores de diversos segmentos do varejo com facilidades como frete gráti s, dispensa de volume mínimo de pedidos e possibilidade de fi nanciamento viabilizado por parceiros. Regiões que eram de difí cil acesso aos vendedores poderão ser alcançadas a parti r desse novo modelo de negócio, que oferecerá canal de relacionamento direto entre vendedores e compradores e já conta com empresas parti cipantes, como Disney, Santander, Avon e Kopenhagem, entre outras.É uma enorme oportunidade de negócios B2B para o Brasil, devido ao volume de potenciais empresas compradoras no País – mais de 800 mil, segundo avaliação da GS&Ecomm. O marketplace também deve esti mular esse ti po de experiência no mercado local, a parti r de vantagens, como por exemplo, confi ança durante o processo de compra, garanti a de qualidade de produtos e melhores prazos para recebimento das mercadorias.

MercadoPMEo Alibaba brasileiro

Paula Paschoal, da PayPal: a barreira menor na

internet atrai pequenas empresas de nicho

“NESSES MOMENTOS DE

CRISE ECONÔMICA, O COMÉRCIO

ELETRÔNICO SE SOBRESSAI, POIS AS PESSOAS PASSAM

A COMPARAR MAIS PREÇOS, FAZER MAIS BUSCAS E ESSE PROCESSO É MUITO MAIS

SIMPLES QUANDO FEITO ON-LINE,

ISSO CONVERTE EM COMPRAS, POIS

COMPRAR ON-LINE É FÁCIL, SEGURO E

CÔMODO"

LEANDRO SOARES, do MercadoLivre

Pequenos notáveisO e-commerce permite às pe-

quenas e médias empresas ex-pandir sua área de atuação, uma vez que é possível abrir um negó-cio on-line sem a necessidade de manter um estabelecimento fí-sico. “Para PMEs, as burocracias enfrentadas ao abrir um negócio pela Internet são bem menores do que as encontradas na aber-

tura de uma loja física. O vare-jo eletrônico atrai muitas PMEs por suas facilidades e baixo cus-to para as operações”, explica Paula Paschoal, diretora de Ven-das do PayPal do Brasil. Esses fa-tores são propiciados ainda pe-las soluções criadas por desen-volvedores independentes utili-zadas por 41% dos e-commerces brasileiros, atualmente.