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PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON 2013/1 - NÚMERO 7 - ISSN 2176 7785 l 67
NEGOCIAÇÃO TRANSCULTURAL: conduzindo negociações em mercados globais
Leandro Cheloni de Oliveira1
Marcos Eugênio Vale Leão2
RESUMO: Esse artigo vai examinar vários aspectos de um campo crescente da negociação, que explora as complexidades de se negociar entre diversas
fronteiras. As diferenças culturais, o jeito de o brasileiro negociar, uma discussão sobre o estilo norte-americano de negociação e os diferentes tipos de
negociação existentes no mundo. As barreiras e as dificuldades encontradas por um profissional que negocia com diferentes culturas. Neste artigo há vários
exemplos para ajudar na assimilação do texto e facilitar o entendimento do que foi mostrado. Contextualiza a globalização nesse novo cenário mundial, expõe
os conceitos gerais e as diferentes visões de negociação, norte-americana, chinesa, alemã e espanhola. Explora as normas de negociação e como tornar as
negociações bem-sucedidas, partindo-se do conflito até a cooperação; aborda a influência das questões culturais nas negociações de caráter global; estuda as
classificações de estilos de negociação; apresenta as principais características e diferenças entre os negociadores espalhados por todo o mundo; discute as
questões culturais de maneira mais aprofundada e sua influência nas negociações. Finalmente analisa os desafios fundamentais da negociação intercultural.
PAlAVRAS ChAVE: Negociação transcultural, globalização, intercultural.
1. INTRODUÇÃO
Para ser bem-sucedido em cenários competitivos, é neces-
sário saber negociar e fechar bons acordos. Atendendo a essas
necessidades, o artigo vai mostrar como um negociador preci-
sa se envolver em uma negociação. Este profissional equilibra
com objetividade teoria, apoiada por pesquisa científica recen-
te, e prática, fundamentada em casos reais de negociação, à
luz de análises econômicas e observações sobre o comporta-
mento humano.
Com um foco prático e realista nas habilidades e nos estilos
do bom negociador em mercados globais, o artigo apresenta
os fundamentos da área, abordando os conceitos e o trabalho
necessários para se obter uma negociação eficaz. Amplia o
foco para as habilidades mais especializadas e aponta os ca-
minhos para lidar com situações especiais, como negociações
que envolvem várias partes, negociações transculturais e os di-
versos dilemas que um negociador pode enfrentar.
Valores, normas, conseqüências e desafios de uma nego-
ciação são temas abordados no artigo. Aprender a negociar
com culturas ocidentais e orientais.
Adaptado à realidade brasileira, o artigo traz ainda como o
negociador brasileiro negocia com culturas diferentes, mostran-
do exemplos e qual o seu impacto.
ApReNDeNDO sObRe cUlTURAs
Primeiramente é importante definir cultura. De acordo com
Lytle, Brett e Shappiro(1999) muitas pessoas concebem a cultura
estritamente em termos geograficos; ela, no entanto, não perten-
ce somente a nações e países. Pelo contrario, a cultura represen-
ta a característica singular de um grupo social especifico: os valo-
res e normas compartilhados por seus membros os diferenciam
de outros grupos sociais. . Ela envolve instituições econômicas,
sociais, políticas e religiosas. Ela influencia nos comportamen-
tos e na relação de causa e efeito. Para ampliar nossa reflexão
sobre cultura, podemos considerar possíveis diferenças culturais
contidas nos grupos: hemisférios, continentes, países, estados,
regiões, setores da economia, organizações, famílias. Mesmo
em nossas próprias famílias, podemos analisar diferentes hábitos
culturais; formas de se adaptar, vestir, alimentar, interagir, relacio-
nar e agir. Sendo assim quando se fala de uma cultura de outro
país a situação fica muito mais complexa.
Ao refletir sobre cultura e diversidade, temos que evitar a
tentação de pensar nisso como uma única dimensão (como
país de origem). A cultura é um todo altamente complexo e é
sempre melhor usar muitos critérios para se distinguir uma cul-
tura de outra.
A maioria das pessoas prefere ser considerada como um
indivíduo singular, ainda que muitas vezes possam agrupar ra-
pidamente pessoas de diferentes países, como se elas fossem
todas iguais.
A maioria das culturas é diferente hoje daquilo que era dez
anos atrás. Estereótipos que existem hoje estarão desatualiza-
dos amanha. Precisamos de uma estrutura dinâmica que nos
permita aprender como as culturas mudam e se desenvolvem.
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Agora um exemplo de negociação. “Após ter adquirido a em-
presa que fabricava a Koosh Ball, era meu trabalho garantir que
a lucratividade e as vendas aumentassem. Voamos para Hong
Kong para nos reunirmos com fornecedores importantes e verificar
se havia uma oportunidade de melhorar a precificação. Testamos
a integridade do preço do fornecedor atual com um segundo fa-
bricante e descobrimos que poderíamos conseguir as bolas com
redução de três centavos de dólar por unidade. Depois fomos a
um jantar suntuoso com o fabricante atual e toda a sua família para
descobrir se era possível baixar o seu preço. Estávamos sentados
numa sala, 16 pessoas à mesa, tentando conquistar três coisas.
Primeiro, queríamos ter um bom relacionamento. Principalmen-
te na China, a palavra de alguém realmente tem valor e a honra
destinada ao parceiro é tudo. Se tivéssemos chegado La e dito:
‘Consultamos um segundo fornecedor de seu produto e descobri-
mos que podemos obtê-lo por três centavos a menos´, ele teria se
levantado e ido embora, pois se sentiria envergonhado. Segundo,
queríamos deixá-lo saber que aumentaríamos os negócios e que
haveria uma oportunidade para ele fabricar mais produtos para
nós. Terceiro, tínhamos que solicitar a sua ajuda. Nunca dissemos
que ele precisava baixar seus preços, mas lhe perguntamos se
havia alguma coisa que ele poderia fazer para nos ajudar. Ele en-
tendeu o que queríamos dizer e voltou com um preço um centavo
abaixo do oferecido pela segunda fonte” (Inc, 1° ago. 2003ª, p.77).
Neste exemplo o negociador ocidental resistiu ao instinto
de discutir o preço do produto diretamente; em vez disso, ao
sinalizar sutilmente a questão, permitiu que a outra parte manti-
vesse a dignidade. Ele conseguiu fechar o negocio sem atacar
e exigir preço mais baixo ao seu fornecedor. Tudo isso através
de mudança de postura e entendimento de outra cultura. Em
uma negociação é necessário ter um amplo conhecimento do
seu negociador, sua cultura e forma de agir. E principalmente
ter paciência, saber lidar com os conflitos que são existentes
em todo tipo de negociação.
Outro tipo de negociação no qual o negociador não es-
teja preparado. O brasileiro, por exemplo, geralmente, não se
preocupa com culturas diferentes, pensa que esta negociando
com a mesma cultura, que as pessoas são as mesmas e que
a negociação é uma só. Você não precisa mudar, o tipo de se
negociar é o mesmo. Isso é um erro grave que pode levar a uma
perda considerável e sem negociação futura. O caso abaixo ex-
plica muito bem este fato.
Jayant J., que representava uma empresa de software da
Índia, esperava impacientemente por uma fabricante local em
São Paulo, Brasil, para fechar um acordo de negócio. Após es-
perar por quase uma hora e meia, ele se esforçou para receber
bem o relaxado brasileiro, que adentrou o lobby sem se des-
culpar e começou a conversa contando uma piada. O hábito
do brasileiro de se comunicar numa posição muito próxima do
interlocutor e o tocar freqüentemente fizeram que Jayant, um
defensor veemente da etiqueta, se sentisse muito desconfortá-
vel e irritado. No fechamento do acordo, a resposta do brasileiro
ao pedido de comprometimento, “se Deus quiser”, foi o golpe
de misericórdia para Jayant, que achou que o brasileiro estava
sendo vago. A reunião foi um fracasso retumbante e eles nunca
mais se encontraram (Economic Times, 8 nov. 1999).
2. VAlORes cUlTURAIs e NORmAs De NegOcIAÇÃO
Quando se trata de negociação, fala-se de vários indivídu-
os sentados numa mesa e conseqüentemente uma pluralidade
de representações e significações. Isso já denota por si só a
complexidade de um processo de negociação e a necessidade
de compreensão da importância do conhecimento da cultura
neste processo.
O domínio de técnicas avançadas de negociação interna-
cional apresenta o duplo benefício de maximizar o resultado no
presente e preservar expectativas de lucros crescentes no futu-
ro, através da criação de uma imagem organizacional positiva
junto ao exigente cenário global.
Segundo Brett (2001) as culturas podem diferir bastante de
diversas formas. Seguindo a classificação de Brett, existem três
dimensões: individualismo versus coletivismo, igualitarismo ver-
sus hierarquia e comunicação direta versus indireta.
2.1 O INDIVIDUAlIsmO VeRsUs cOleTIVIsmO
Refere-se à motivação humana básica ligada à preserva-
ção da própria pessoa versus a preservação do coletivo.
No individualismo a busca pela felicidade e a preocupa-
ção pessoal estão acima de tudo. Ela visa prioridade as metas
pessoais, mesmo quando elas conflitam com as de sua família,
grupo de trabalho ou país. A felicidade e a expressão individuais
são mais valorizadas do que as necessidades coletivas e de
grupos. Um exemplo dessa cultura é a cultura norte-americana.
Os alunos norte americanos, especificamente, aceitam melhor
as táticas de barganha competitiva e o blefe, o que levanta a
possibilidade de negociadores dos Estados Unidos serem con-
siderados menos éticos por seus pares internacionais.
Já no coletivismo a motivação dominante é a preocupação
para com o grupo. As pessoas de culturas coletivistas vêem
seus grupos de trabalho e organizações como partes funda-
mentais de suas vidas. Eles compartilham recursos com seus
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colegas de grupo. Diferente dos individualistas que se concen-
tram na influência e no controle, os coletivistas enfatizam a im-
portância do controle, preocupa-se mais em manter a harmonia
nos relacionamentos interpessoais com os membros internos
do grupo. Individualistas querem manter a imagem e se preo-
cupam com os resultados pessoais, os coletivistas preocupam
com os resultados dos outros. A cultura chinesa é um exemplo
de cultura coletivista. Uma análise de negociações nos Esta-
dos Unidos e em Hong Kong revela que os negociadores norte-
-americanos têm maior tendência a apoiar o interesse pessoal
e normas conjuntas para resolução de problemas, enquanto os
negociadores chineses de Hong Kong têm mais chances de
seguir a norma da igualdade (Tinsley e Pillutla, 1998).
O individualismo-coletivismo envolve uma gama de impli-
cações para conduzir uma negociação que são: redes sociais,
cooperação, favoritismo interno do grupo, preguiça social versus
empenho social, legado e predisposição versus situacionismo.
Abaixo podemos ver a tabela em relação a uma compara-
ção transnacional controlada de relacionamentos em redes no
Citibank.
Os relacionamentos de negócios dos norte-americanos são
caracterizados por uma orientação de mercado, ou seja, eles se
relacionam só se for lucrativo para eles. Eles formam laços sem
uma base prévia de amizade, prestando atenção somente à ins-
trumentalidade da ação. Os relacionamentos de negócios dos
chineses são marcados por uma orientação familiar, na qual os
empregados se sacrificam pelo bem estar da organização. Os
relacionamentos de negócios dos alemães se distinguem por
uma orientação legal e burocrática, categorias formais e regras.
As relações de negócios dos espanhóis são orientados por afi-
liação, como a sociabilidade e postura amistosa.
Na cooperação, segundo Mcleod(1991) as pessoas de tra-
dições culturais coletivistas apresentam comportamentos mais
cooperativos em interações com motivações mistas do que os
indivíduos oriundos de culturas individualistas. Por exemplo, os
negociadores japoneses são mais cooperativos do que os norte
americanos. Os norte americanos lembram mais facilmente de
situações em que eles influenciaram outras, por outro lado os
japoneses tem mais chance de lembrar de situações em que se
adaptaram aos outros(uma forma de cooperação). Uma analise
das matérias publicadas em jornais dos Estados Unidos e do
Japão envolvendo conflitos, revelarão que os americanos que
foram bem sucedidos relataram se sentir muito eficazes (uma
emoção tipicamente individualista) enquanto os japoneses que
se ajustaram relataram se sentir relacionados (uma emoção co-
letivista).
No favoritismo interno a caracterização é pela forte tendên-
cia de favorecer os membros do próprio grupo mais que quem
faz parte de outros grupos. Quando você realça as fronteiras do
grupo, você fica mais competitivo do que a cultura individualista.
Preguiça social versus empenho social – A preguiça social
é a tendência de trabalhar menos arduamente e contribuir com
menos esforço e recursos no contexto de grupo do que quando
se trabalha individualmente. Por exemplo, quando você traba-
lha em grupo. Algumas pessoas tendem a trabalhar menos, nos
casos dos alunos norte-americanos. Já os japoneses, através
de pesquisas perceberam que eles se empenham mais quan-
do trabalham em grupo, pela preocupação que eles têm com
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o bem-estar do grupo. A motivação e o desempenho dessas
pessoas aumentam.
No legado caracteriza a tendência de as pessoas dar mais
valor a coisas que possuem atualmente do que a outras que
elas não possuem, independente do valor do bem em si. As
culturas individualistas demonstram um forte efeito de legado,
enquanto as culturas coletivistas demonstram menos. Os cole-
tivistas valorizam mais um bem ou recurso que acreditam que
podem compartilhá-lo.
Predisposição versus situacionismo – A predisposição é
a tendência de se atribuir a causa do comportamento de uma
pessoa a seu caráter ou personalidade subjacente. Já o situa-
cionismo é a tendência de se atribuir a causa desse comporta-
mento a fatores e forças fora do controle de alguém.
Suponhamos que você esteja no meio de uma negociação
de alto risco e deixe uma mensagem urgente na caixa postal de
seu sócio. Ele não retorna sua ligação, mas você sabe que ele
esta na cidade, pois contatou sua secretária no escritório. O que
está causando esse comportamento no seu sócio? É possível
que ele seja irresponsável (predisposição), ou é possível que
ele não tenha recebido sua mensagem (situacionismo).
2.2 IgUAlITARIsmO VeRsUs hIeRARqUIA
São o meio pelo qual as pessoas influenciam outras e a
base de poder nos relacionamentos.
Nos relacionamentos igualitários de poder, todos são tra-
tados de forma igual. As culturas igualitárias delegam poder a
seus membros para que eles resolvam os conflitos por conta
própria. A MASA e as informações são fontes fundamentais de
poder. Ou seja, quem tem a melhor MASA que vai para as ne-
gociações.
Já nos relacionamentos hierárquicos de poder, a importân-
cia é dada ao status. As pessoas socialmente inferiores devem
ter deferência para com seus superiores que, em troca desse
privilegio, são obrigadas a cuidar das necessidades de seus
subordinados sociais. O conflito ameaça a estabilidade de uma
cultura hierárquica. A norma em uma cultura hierárquica é de
não desafiar membros de status alto, assim o conflito é me-
nos freqüente. Neste caso quem vai para as negociações é a
pessoa com o maior status na empresa. A MASA não é fator
predominante neste comportamento cultural.
2.3 cOmUNIcAÇões DIReTAs VeRsUs INDIReTAs
De acordo com Hall (1976) “A comunicação têm formas
distintas de comunicar a mesma mensagem. O compartilha-
mento direto versus indireto de informações representa uma
dimensão cultural relacionada à quantidade de informações
contidas numa mensagem explicita, em comparação com si-
nais contextuais explícitos”
Na comunicação direta as pessoas ficam à sua frente e
dizem na sua cara o que você fez de errado, favorecendo a
confrontação direta e discutindo problemas livremente. É muito
explicito, a informação é dada sem nuanças. É uma forma de
comunicação dos Estado Unidos.
Na comunicação indireta o normativo é fazer propostas.
Eles não fazem perguntas diretas. Por exemplo, os negociado-
res japoneses são menos inclinados a dizer não e se mantém
mais em silêncio do que os norte-americanos, quando confron-
tados com uma opinião desfavorável. Nesta comunicação os
negociadores mais talentosos.
Os negociadores de culturas diretas preferem comparti-
lhar diretamente as informações, fazendo perguntas e obten-
do retornos. Enquanto os negociadores das culturas indiretas
preferem compartilhar indiretamente as informações, contanto
historias na tentativa de influenciar seus oponentes e colhendo
informações de propostas.
3. cONseqüêNcIAs exIsTeNTes em
UmA NegOcIAÇÃO TRANscUlTURAl
O negociador “sabe”, por exemplo, que na medida em que
prosseguem as negociações, todos, independentemente das
origens culturais, querem ser respeitados e levados a sério. To-
dos têm seus objetivos e querem vencer. Quase todos estão
dispostos a fazer algumas concessões para alcançar acordos.
As realidades transcendem às culturas. Mas o negociador inte-
ligente também aceita as diferenças como parte do processo.
Entender o processo de negociação. Estar alerta para as
sutis diferenças. Ele “sabe” que um “alemão típico” tenderá a
considerar a oferta de muitas opções como um sinal de fraque-
za da outra parte. Ele “sabe” que um japonês “típico” coloca
muita ênfase no status da pessoa com quem está negociando.
Ele “sabe” que a amistosidade, a hospitalidade e a informali-
dade de um americano “típico” não têm nada a ver com sua
maneira de conduzir uma negociação.
Para uma boa negociação a organização tem que saber:
Escolher seu representante – por exemplo, no igualitarismo
é escolhido através da MASA da pessoa e no hierárquico atra-
vés do status.
Compreender a rede de relacionamentos – as negociações
freqüentemente requerem vários níveis de aprovação para che-
gar ao topo.
Preocupações com a imagem – este comportamento au-
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menta a auto-estima do negociador aos olhos de seus supe-
riores. A bajulação é uma forma bastante usada pelos chineses
para preservar a imagem.
A conduta de negociação – a visão ocidental é totalmente
diferente da oriental. A visão ocidental estipula que cada parte
manifeste seus próprios interesses e que haverá uma troca de
mão dupla. A oriental é como uma relação de pai para filho. O fi-
lho (vendedor) pede o máximo possível, pois sabe que não terá
uma segunda chance. O pai (comprador) toma sua decisão,
o filho aceita, pois sabe que uma discussão pode afetar o seu
relacionamento com o seu pai e também sabe que seu pai esta
fazendo o melhor para ele.
4. DesAfIOs fUNDAmeNTAIs DA NegOcIAÇÃO INTeRcUlTURAl
Os principais desafios que os negociadores encontram em
uma mesa de negociação quando a negociação é realizada em
culturas diferentes são:
Aumentar o tamanho do montante – entender as priorida-
des de seus oponentes e a oportunidade para explorar ques-
tões compatíveis. Isto gera valor.
Valores sagrados e tradeoffs envolvendo tabus – valores
sagrados são valores e crenças tão fundamentais que não es-
tão sujeitos ao debate nem a discussão. Tradeoffs envolvendo
tabus ocorrem quando se propõe que valores sagrados sejam
negociados ou trocados. Um exemplo é quando numa disputa
referente a uma construção de uma barragem que removeria
nações indígenas da terra de seus ancestrais, um adolescente
Yavapia disse: “A terra é nossa mãe. Não se vende a própria
mãe” (Espeland, 1994). Agora se os índios Yavapia trocassem
um acre de suas terras por um hospital ou uma nova escola, a
terra não seria verdadeiramente sagrada.
Marcação viesada do conflito – relacionamento de causa
e efeito, em que as ações de cada pessoa influencia nas das
outras. As pessoas são focadas em auto-satisfaçao e menos-
prezo de outrem.
Etnocentrismo – crenças positivas não confirmadas sobre
o grupo de uma pessoa em relação a outros grupos. Você sem-
pre vai enxergar o seu grupo melhor que o outro. Mesmo tendo
eles comportamentos semelhantes. Exemplo: “Nos somos le-
ais, eles agem como um clã, nos somos honrados e prontos a
defender nossos direitos, eles são hostis e arrogantes”.
Viés de afiliação – ocorre quando as pessoas avaliam as
ações de um individuo com base em suas afiliações e não com
base nos méritos de seu próprio comportamento. Por exemplo,
quando fãs de futebol assistem a uma partida, eles acreditam
que a equipe adversária comete mais infrações do que a equipe
pela qual torcem.
Percepções falhas de conciliação e coerção – um exemplo
é a segunda guerra mundial. Ao contrario do que queriam os
nazistas, o bombardeio não levou a rendição dos ingleses. Ele
teve o efeito oposto, fortalecendo, ao invés de enfraquecer, a
determinação inglesa de resistir a dominação germânica. Pou-
co depois de os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra
Mundial, os americanos se juntaram aos ingleses para lançar
custosos bombardeios sobre a Alemanha. Esta situação aponta
para importantes diferenças nas percepções dos países sobre
o que será eficaz para motivar um inimigo e o que poderá con-
tribuir efetivamente para motivar a si mesmo e a seus aliados.
5. DIsTINÇões eNTRe O peRfIl DO NegOcIADOR
bRAsIleIRO e Os NegOcIADORes INTeRNAcIONAIs
O negociador brasileiro vê a si mesmo com características
positivas marcantes, como o interesse, a ousadia, a capaci-
dade de dialogar, de buscar alternativas. Entretanto, caracte-
rísticas que têm a ver com a improvisação, a informalidade, o
empirismo e a falta de planejamento, que culminam com o não
cumprimento dos acordos, são vistos como pontos negativos
dos negociadores brasileiros. Outro ponto negativo dos nego-
ciadores brasileiros é a falta de conhecimento dos costumes do
outro país com que está negociando.
Smolinsky (2004) aplicou cerca de trezentos questioná-
rios a executivos argentinos (ARG), brasileiros (BRA), chineses
(CHI), franceses (FRA), alemães (ALE), indianos (IND), japone-
ses (JAP), mexicanos (MEX), nigerianos (NIG), espanhóis (ESP),
ingleses (ING) e norte-americanos (EUA), solicitando que pon-
tuassem diversos fatores, baseados em suas próprias atitudes
durante uma negociação.
O resultado da pesquisa é mostrado na tabela abaixo. Os
números representam o percentual de entrevistados de cada
país, que responderam aquele tópico como sendo o primeiro
ou o segundo tópico mais importante.
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Uma rápida análise da tabela mostra que, mesmo sendo
ambos orientais, japoneses e chineses apresentam diferenças
quanto ao comportamento como, por exemplo, no fator “assu-
mir riscos”. O risco alto é importante para 18% dos executivos
japoneses, enquanto que para 82% dos executivos chineses é
um ponto bastante relevante.
Um aspecto que distingue o comportamento do brasileiro
em relação à maioria dos demais é o fator “atitudes”, o qual 22%
dos executivos brasileiros entendem ser muito importante, ao
passo que a média para os outros países é bem maior, quase o
dobro em países como China, Japão, Índia, Argentina e França.
Entretanto, a importância da meta culminar em um instrumento
formal, como o contrato, é bastante grande aos brasileiros, em
comparação com muitos outros.
cONsIDeRAÇões fINAIs
Nestas diferentes maneiras de negociação, os homens de
negócios devem estar sintonizados para onde se manifestam
as diferenças culturais e quais os seus efeitos no processo de
negociação. Quando a negociação funciona, os dois lados ga-
nham. Esta é a meta. Para que isso funcione no comércio inter-
nacional de hoje, o negociador bem sucedido é aquele que leva
em conta os fatores culturais.
Fundamentalmente, somos todos seres humanos, seja qual
for nosso contexto cultural e como seres humanos, temos certos
padrões em comum, aplicáveis independentemente do tom que
possam assumir as negociações. Por outro lado, naturalmente, há
diferenças culturais significativas que trazemos conosco à mesa de
negociação, e que afetam nossas atitudes e nossos procedimen-
tos. Em uma negociação ambos os lados devem ser considerados.
Contudo, para se obter sucesso em uma negociação trans-
cultural é necessário ter: empatia, sociabilidade, aceitação critica
de estereótipos, abertura a diferentes pontos de vista, interesse
na cultura anfitriã, orientação para tarefas e cultural, desejo de se
comunicar (usar a língua do país anfitrião sem medo de cometer
erros), tolerância com as diferenças existentes entre as pessoas,
senso de humor e habilidades na resolução de conflitos.
É notória a diferença cultural entre nações como, por exem-
plo, de países ocidentais para países orientais. A grande dife-
rença do estilo brasileiro frente a diversos estilos de negociação,
em países que têm relações comerciais com o Brasil. De manei-
ra geral, formou-se o entendimento que o sucesso da atuação
dos negociadores passa pelo conhecimento dos traços culturais
do outro país com o qual se está negociando.
Pelas pesquisas demonstradas, esse conhecimento é algo
que o negociador brasileiro deve buscar aprimorar cada vez
mais para se inserir com sucesso no quadro da competição in-
ternacional, procurando conhecer mais outras culturas e cum-
prindo seus prazos nos acordos.
REFERÊNCIASLEWICKI, Roy L., SAUNDERS, David M., JOHN, W. Minton. Fundamen-tos da negociação. São Paulo: Bookman, 2002.
THOMPSON, Leigh L. O negociador. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
Disponível em: <http://www2.ucg.br/flash/artigos/0403global.html>. Acesso em 09/09/2012, 21:00h.
Disponível em:<http://www.faers.com.br/Administracao/cms/?cat=18>. Acesso em 10/09/2012, 20:00h.
Disponível em: <http://www.institutomvc.com.br/costacurta/artla56_neg_difcult.ht/0403global.htm>. Acesso em 10/10/2012, 21:30h.
NOTAs1 Aluno do MBA de Marketing e Vendas do Centro Universitário Newton Paiva
2 Professor da disciplina de Negociação e Tomada de Decisão e coordenador do MBA em Marketing e Vendas do Centro Universitário Newton Paiva.