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REPORTAGEM Sicasal, a empresa do “pelotão da frente” da indústria de carnes em Portugal A OPINIÃO DE JOÃO SALGUEIRO, ANTÓNIO ANDRADE TAVARES E NELSON DE SOUZA PROGRAMA “Portugal Sou Eu” promove a valorização de produtos produzidos em Portugal NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013 - N.º1 - ISSN: 2182-925X LUÍS CABRAL NEW YORK UNIVERSITY RICARDO REIS COLUMBIA UNIVERSITY SÉRGIO REBELO KELLOGG SCHOOL OF MANAGEMENT DOSSIER. Economistas de universidades dos EUA: um olhar desapaixonado sobre os desafios da economia portuguesa ENTREVISTA Ricardo Reis reflecte sobre a qualidade de gestão e a forma de encorajar o investimento

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Terá uma opinião independente sobre políticas públicas e em cada número apresentará um tema central da política económica que afeta e influencia a atividade empresarial. Temas: Economia; Empresas; Competitividade Empresarial; Investimento.Independente.

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REPORTAGEM Sicasal, a empresa do “pelotão da frente” da indústria de carnes em Portugal

A OPINIÃO DE JOÃO SALGUEIRO, ANTÓNIO ANDRADE TAVARESE NELSON DE SOUZA

PROGRAMA “Portugal Sou Eu” promove a valorização de produtos produzidos em Portugal

negócios&empresas MAIO

2013

- N.º1

- ISS

N: 21

82-9

25X

LUÍS CABRALNEW YORK UNIVERSITY

RICARDO REISCOLUMBIA UNIVERSITY

SÉRGIO REBELOKELLOGG SCHOOL OF MANAGEMENT

DOSSIER. Economistas de universidades dos EUA: um olhar desapaixonado

sobre os desafios da economia portuguesa

ENTREVISTA Ricardo Reis reflecte sobre a qualidade de gestão e a forma de encorajar o investimento

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EDITORIAL

Com a publicação do primeiro nú-mero da revista NEnegócios&em- presas, concluiu-se a mudança nos conteúdos e na política comunica-

cional externa da AIP que se tinha inicia-do com o portal, newsletter e resumo diá-rio de imprensa.

A revista NEnegócios&empresas não será um instrumento e um meio de divul-gação de actividades e acções da AIP, não dará ênfase à sua liderança institucional e tentará afastar-se do estereótipo comuni-cacional característico do associativismo.

O seu conteúdo editorial: l Privilegiará reflexões sobre as áreas

económicas e sociais que enquadram a actividade empresarial e as politi-cas públicas que as condicionam;

l Estará parametrizado pelo incremen-to da competitividade da economia, liberalização dos mercados, fluidez da concorrência, funcionamento do Estado e redução da despesa pública;

l Procurará elevar o prestígio, o status e o reconhecimento social da função empresarial e empreendedora;

l Centrar-se-á nas preocupações e ne-cessidades das empresas;

l Dará destaque às boas práticas de di-nâmicas empresariais (exemplos de inovação, redimensionamento em-presarial, internacionalização, etc).

Neste número, dá-se destaque no dos-sier à divulgação de um conjunto de ideias, reflexões e análises que Luís Cabral, Ricar-do Reis e Sérgio Rebelo fizeram sobre Por-tugal. Estes proeminentes economistas e professores de universidades americanas, por estarem mais descomprometidos com

a realidade portuguesa, tanto em termos económicos como políticos, dão-nos uma visão mais racional e desapaixonada sobre o que se passa no país.

A ideia de que Portugal precisa mais de um choque de selecção do que um choque tecnológico; que o problema de gestão em Portugal está na gestão de recursos hu-manos; que se deveria ter limpo o sistema bancário em Portugal e Espanha, deixando que alguns bancos tivessem ido à falência e partilhar as perdas com credores e não só com contribuintes; que a correlação entre o risco da dívida soberana e o risco dos ban-cos só pode ser resolvida com a criação da união bancária; que o tamanho das empre-sas em Portugal condiciona o aumento da produtividade; que se deveria privilegiar o crescimento das empresas em detrimento do modelo de protecção do emprego; que a margem macro-económica não é grande e por isso deveríamos concentrar os nos-sos esforços nas acções micro: ênfase nos extremos da nova cadeia de valor, reverse innovation, produção e venda local, adap-tação de venda às necessidades dos merca-dos globalizados; que o mercado laboral já está flexibilizado; que a obsessão pelo défi-ce deve ser substituída pela obsessão pela despesa… são só algumas das reflexões efectuadas por estes economistas.

Tal como disse Sérgio Rebelo, temos a consciência que Portugal, neste momento, tem o azar de só ter cartas más para jogar, e o que nos resta é a esperança de conse-guir fazer o impossível.

Este é o hercúleo desafio que os empre-sários estão a enfrentar. Oxalá a revista NEnegócios&empresas lhes possa ser útil.

Esperança de conseguir fazer o impossível

JOSÉ EDUARDO CARVALHOPRESIDENTE DA AIP

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS 03

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SUMÁRIO MAIO 2013

Notícias curtas com a atualidade da atividade empresarial / P.06

/P.32

A evolução da competitividade da economia portuguesa /P.16

“Portugal Sou Eu” promove a valorização de produtos produzidos em Portugal /P.34

João Salgueiro, António de Andrade Tavares e Nelson de Souza /P.42

Com o “ADN” da Sicasal. Entrevista com Álvaro Santos Silva, presidente da empresa: “Atingir o dobro da produção não é nenhuma utopia” /P.38

AIP e CPCI assinam acordo para projetos conjuntos na Regeneração Urbana /P.36LUIS CABRAL,

RICARDO REIS E SÉRGIO REBELO EXPLICAM OS DESAFIOS DA ECONOMIA PORTUGUESA /P.22

BREVES ACTUALIDADE EMPRESAS

INFORMAÇÃO ECONÓMICA

PROGRAMAS DE APOIO

OPINIÃO

O QUE ELES DISSERAM... /P.48

EMPRESA EM DESTAQUE

DOSSIER

Propriedade e edição: Associação Industrial Portuguesa/Câmara de Comércio e Indústria, Praça das Indústrias, 1300-307 Lisboa, Tel: 21 360 10 00, Email: [email protected], www.aip.pt - Director: João Pedroso; Coordenadora: Manuela Freitas; Redacção: Isabel Pinto e Vitor Cunha; Colaboraram nesta edição: Rui Madaleno e Maria João Quiaios Publicidade: Lourenço Ovídio, Email: [email protected], 21 360 10 39; Depósito Legal: 358905/13; ISSN: 2182-925X; Periodicidade: Quadrimestral; Tiragem: 5500 exemplares - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Ricardo Reis reflecte sobre a qualidade de gestão e a forma de encorajar o investimento /P.10

ENTREVISTA

Convento da Sertã Hotel. Um refúgio com requinte no meio da natureza /P.50

A nossa escolha para a sua leitura /P.52

Museu de São Roque: um tesouro de Arte Sacra /P.54

Taberna do Alfaiate. Sabores portugueses bem alinhavados /P.56

Vinhos. Olha que dois Pinga Amores! /P.58

MAIS CULTURA E LAZER

negócios&empresas NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 201304

“Chegar ao final de 2008 com um défice abaixo dos 3% do PIB, equivale a preparar o sector público para viver com menos quatro mil milhões de euros.”Campos e Cunha, Diário Económico,

12/05/2005

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NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 201306

BREVES ACTIVIDADE EMPRESARIAL

limiar. A informação enviada ao BdP é utilizada na compilação das estatísticas da balança de pagamentos e da posição de investimento internacional.

AIP dinamiza 20 candidaturas de empresas ao 7º Programa Quadrolll Cerca de 16 milhões de euros em 20 projetos de Investigação & Desenvolvimento (I&D) de PME portuguesas foram submetidos ao maior instrumento europeu de apoio à Investigação e

Governo anuncia 50 medidas para dinamizar construção e imobiliáriolll O Governo assinou com a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário o Com-promisso para a Competitividade Sustentável, que visa a aplicação de 50 medidas. O programa prevê di-namizar o acesso das empresas de construção às linhas de financia-mento PME Crescimento. Entre os apoios europeus a Portugal, até ao final da execução do QREN, cerca de 3,7 mil milhões de euros vão ser direcionados para investimentos em infraestruturas e equipamentos de proximidade. O compromisso assenta nos pilares Reconverter, Reorientar e Internacionalizar, e no pagamento de dívidas às cons-trutoras por parte do Estado e das autarquias, das quais 750 milhões de euros já estão contratualizados. Fazem ainda parte do programa projetos destinados à reabilitação urbana, internacionalização e formação profissional.

Atrasos nos pagamentos pagam juros mínimos de 8%lll O Governo aprovou a transposição de uma diretiva comunitária que obriga o Estado a pagar aos fornecedores em 30 dias e o pagamento de juros de mora nunca inferiores a 8% nos atrasos

Desenvolvimento - 7º Programa Quadro (7PQ), com o apoio da Associação Industrial Portuguesa (AIP). Os projetos de I&D representam importantes avanços de conhecimento nos domínios das tecnologias, segurança e energia, e vão ser desenvolvidos em parceria com outras entidades de vários estados membros da UE, nomeadamente com PME, Universidades, Entidades Públicas, Laboratórios e Grandes Empresas de referência internacional, sendo que 17 dos 20 projetos de consórcio apoiados pela AIP serão liderados pelas empresas portuguesas. Saiba mais em www.aip.pt.

33,2% Portugal com maior aumento da carga fiscal na UE entre 2010 e 2011. Portugal registou, entre 2010 e 2011, o maior aumento da carga fiscal, medida pelo peso das receitas fiscais no Produto Interno Bruto (PIB), na União Europeia (UE), segundo dados divulgados pelo Eurostat. De acordo com o gabinete de estatística da UE, a carga fiscal em Portugal aumentou de 31,5% em 2010 para 33,2% em 2011, a maior subida entre os Estados-membros. Na UE, a carga fiscal subiu de 38,3% em 2010 para 38,8% em 2011, enquanto na Zona Euro o aumento foi de 39% para 39,5%. A carga fiscal variou consideravelmente entre os 27 Estados- -membros em 2011, oscilando entre 26% na Lituânia e 47,7% na Dinamarca. Segundo o Eurostat, os impostos sobre os rendimentos de trabalho são a principal fonte de receitas fiscais na UE, seguidos pelos impostos sobre o consumo, que representam cerca de um terço do volume

verificados, a que acresce a taxa de juro das principais operações de refinanciamento do Banco Central Europeu, atualmente num mínimo histórico de 0,75%. A diretiva estabelece ainda que as empresas não podem demorar mais de 60 dias a realizar o pagamento. Quando os contratos são entre empresas e entidades públicas, os prazos não devem exceder em regra os 30 dias, podendo no máximo atingir os 60 dias, “desde que tal seja objetivamente justificado pela natureza particular ou pelas características do contrato”.

Ministério da Economia licencia Valleyparklll O Ministério da Economia emitiu a licença de instalação da Área de Localização Empresarial (ALE) do Cartaxo no dia 26 de dezembro de 2012. O Parque de Negócios do Cartaxo torna-se, assim, na terceira ALE, a par dos Parques de Negócios de Rio Maior e de Torres Novas, a ser licenciado ao abrigo do Decreto Lei n.º 72/2009 de 31 de março. O projeto é gerido pela gestora Valleypark. Todas as operações de compra de lotes beneficiarão de isenção de IMT (Imposto Municipal sobre Transmissões) e isenção de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) durante um periodo de dez anos.

BdP revê limiar de isenção de 10 mil para 100 mil euros lll O Banco de Portugal (BdP) aumentou de 10 mil euros para 100 mil euros o limiar de isenção no reporte de operações e posições com o exterior. A isenção deixa de ter efeito para as entidades que, num determinado mês, registem operações acima daquele

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JANEIRO/MARÇO 2013 NOME DA REVISTA 02

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BREVES ACTIVIDADE EMPRESARIAL

China cria fundo de apoio às empresas portuguesaslll A China criou um fundo de um bilião de dólares para desenvolver a cooperação com os países de língua portuguesa, comparticipado pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização de Macau. O fundo destina-se exclusivamente a empresas dos países de língua portuguesa e da China (incluindo as da Região Administrativa Especial de Macau), que pretendam desenvolver investimentos em sectores de interesse comum, designadamente construção de infraestruturas, transportes, telecomunicações, energia, agricultura e recursos naturais, entre outros.

Clima económico e confiança mantêm recuperação em abril lll O indicador de clima económico e o indicador de confiança dos consumidores mantiveram a tendência de recuperação em abril, pelo quarto mês consecutivo, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). O indicador de confiança dos consumidores, que atingiu um mínimo em dezembro, avançou dos 55,3 pontos negativos registados em março para 54,2 pontos negativos em abril, evidenciando um contributo positivo das perspetivas sobre a evolução da situação financeira das famílias e da situação económica do país e do desemprego. O indicador de clima económico, que se fixou nos -3,9 pontos em março, melhorou para os -3,6 pontos em abril. Nos últimos cinco meses, observou-se um aumento dos indicadores de confiança em todos os setores, indústria transformadora, construção e obras públicas, comércio e serviços.

Custos do trabalho sobem mais que produtividade. lll Os custos do trabalho em Portugal aumentaram, no último trimestre de 2012, mas a produtividade cresceu abaixo daquele indicador, o que corresponde a uma redução da competitividade do país, segundo os dados divulgados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) no dia 21 de março. Os números mostram que os custos unitários do trabalho em Portugal aumentaram 0,6% entre outubro e dezembro do ano passado, sendo que nos três trimestres anteriores verificaram-se oscilações no indicador. Entre janeiro e março de 2012, os custos unitários do trabalho registaram uma queda de 4,5% à qual se seguiu uma subida de 1,5% no segundo trimestre e um recuo de 0,2% entre agosto e setembro. A OCDE aponta que apesar da recuperação verificada no último trimestre de 2012, Portugal tornou-se menos competitivo porque a produtividade aumentou ligeiros 0,2%, face à subida de 0,7% dos custos de trabalho.

Empresas vão comunicar transporte de mercadorias a partir de 1 de julho lll O Governo adiou para 1 de julho a obrigatoriedade de as empresas e agentes económicos terem de comunicar previamente ao Fisco o transporte de mercadorias e cumprirem a nova legislação “De forma a permitir uma melhor adaptação dos agentes económicos às novas regras aplicáveis aos bens em circulação e por razões operacionais relacionadas com o novo sistema de comunicação por transmissão eletrónica de dados, estabelece-se que o novo regime apenas entrará em vigor no dia 1

de julho de 2013”, lê-se na portaria publicada em Diário da República.A nova lei exclui da obrigação de comunicação à Autoridade Tributá-ria os documentos de transporte em que o destinatário ou adqui-rente seja consumidor final.

Estratégia de crescimento soma mais de 10 mil milhões de euroslll O documento “Estratégia para o Crescimento, Emprego e Fomento Industrial 2013-2020”, aprovado em abril pelo Governo, visa oito eixos de atuação: qualificação, educação e formação; financiamento; consolidação e revitalização do tecido empresarial; promoção do investimento; competitividade fiscal; internacionalização; inovação e empreendedorismo; e infraestruturas logísticas. Este ano e em 2014, a Caixa Geral de Depósitos vai ter 3,5 mil milhões de euros para financiar empresas. Será criada uma instituição financeira de desenvolvimento, no financiamento das PME, que agregue fundos entre 4 e 6 mil milhões. O memorando de crescimento e emprego contempla ainda o lançamento da linha PME Exportações ainda este semestre, que terá até mil milhões de euros, sendo que 500 milhões são disponibilizados desde já. O executivo quer aumentar as exportações para que passem a representar 50% do PIB em 2020. O documento visa uma “reforma profunda e abrangente do IRC, com redução progressiva das taxas aplicáveis”. O Governo apontou a necessidade de consolidar o tecido empresarial agilizando as fusões e aquisições, e reduzindo a burocracia, com o “simplificar” dos licenciamentos e sistemas de incentivos. A afetação dos fundos estruturais no quadro 2014-2020 será privilegiada para apoiar a competitividade das empresas portuguesas.

Produção industrial entra em terreno positivo em março. A produção industrial em Portugal subiu 0,8% em março, na-quela que foi a primei-ra variação homóloga desde o mesmo mês de 2012, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). A subida homó-loga de março repre-senta uma inversão da tendência verificada há meses, marcados por quedas homólogas acentuadas. Em feve-reiro último, o índice que mede a produção industrial tinha recu-ado 1,1%, sendo que nos meses anteriores as quedas eram ainda mais intensas, tendo superado os 5% em abril e maio do ano passado. Em termos mensais, a produção industrial subiu 5,2% em março face ao mês anterior, sendo o maior aumento desde outu-bro de 2012. Segundo o INE, para a subida homóloga de março contribuiu o agrupa-mento de energia, que aumentou 4,5%. Sem o contributo deste agru-pamento, a variação homóloga do índice de produção industrial foi negativa em 4,3%.

NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 201308

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JANEIRO/MARÇO 2013 NOME DA REVISTA 02

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“SE AUMENTARMOS OS IMPOSTOS EM CONSEQUÊNCIA DAS DECISÕES DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL, CAMINHAREMOS PARA A ESPIRAL RECESSIVA E NÃO PARA A RECUPERAÇÃO.”

“Como é que numa economia com uma taxa de câmbio real sobreavaliada, com câmbios fixos e inserida num programa de assistência financeira, se consegue provocar choques de competitividade?” Esta é a pergunta que está subjacente nos Encontros da Junqueira e à qual o professor Ricardo Reis tentou responder enquanto convidado da segunda edição deste espaço de reflexão. Estas declarações foram recolhidas durante a conferência de imprensa no dia 6 de Fevereiro

ENTREVISTA RICARDO REIS

NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 201310

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licardo Reis abor-dou, nesta entre-vista, as causas da crise que o país atravessa, a quali-dade de gestão das

nossas empresas, a deficiente apli-cação do enorme fluxo de capital que ocorreu em Portugal e os efei-tos nefastos da existência exage-rada de microempresas. Defende que o Governo assuma um com-promisso através de um anúncio de que haverá baixa de impostos logo que seja possível, como for-ma de encorajar o investimento. Admite que o mercado laboral já está flexível, reconhece que a estra-tégia do Governo foi a melhor para o regresso aos mercados e mostra--se apreensivo quanto às decisões do tribunal constitucional.

Qual o diagnóstico que vai apresentar aos membros do painel dos “Encon-tros da Junqueira”?

A minha intervenção que designei como uma “visão pouco ortodoxa” foi um diagnóstico daquilo que aconteceu nos úl-timos dez anos.:, Nos primeiros anos do euro no período entre 2000 e 2003, Por-tugal beneficiou de um enorme influxo de capital estrangeiro que está relaciona-do com a entrada na moeda única, tendo a fixação de taxas de câmbio eliminado o risco cambial para quem investiu em Portugal. Este aumento encontra-se tam-bém relacionado com o envelhecimento populacional na Alemanha e com factores externos ligados ao desejo da diversifica-ção de poupanças no exterior do Norte da Europa.

Esse fluxo de capital quando entra em Portugal acabou por ser mal aplicado. Direcionou-se para sectores não transa-cionáveis - serviços (alguns protegidos) e para a construção e obras públicas. Esse capital foi absorvido quase todo por esses sectores com baixa produtividade, o que teve como consequência baixar a produ-tividade média na economia portuguesa.

Para além de ter provocado uma dimi-nuição da produtividade, a afetação a es-tes setores fez aumentar os salários já que os mesmos não estão sujeitos à concor-

rência internacional. Verificou-se assim um aumento da taxa de câmbio real que retirou competividade à nossa economia.

Em consequência desta situação de au-mento de poder de compra das famílias o consumo privado cresceu e o Estado aca-bou por reforçar esta tendência aumen-tando de forma significativa o consumo público. Mas para financiar este aumen-to da despesa pública o Estado subiu de forma continuada os impostos o que pro-vocou uma descida (surpreendente para alguns) do investimento sobretudo em setores transacionáveis.

Esta entrada de capital em massa que se registou um pouco por toda a Europa nos primeiros anos do euro acabou por ser mal gerido ou mal alocado na econo-mia portuguesa. Podemos discutir até que ponto a responsabilidade é nossa ou não, mas o certo é que Portugal usou mal a oportunidade criada.

A questão é perceber porque é que os recursos foram mal alocados e como po-demos realocar melhor os recursos em Portugal. Quando falamos de recursos es-tamos a falar, de uma forma simplista, de trabalho e de capital e da alocação de tra-balho e capitais entre setores e empresas.

Como caracteriza o mercado laboral português?

Habitualmente realça-se a sua rigidez. Mas começa a haver razões para se ter uma visão mais optimista sobre esta ma-téria. As alterações introduzidas nos últi-mos anos à legislação foram importantes para a sua flexibilização. E nos últimos dez anos, noventa por cento da criação dos empregos criados em Portugal foram objeto de contratos a termo, pelo que atu-almente mais de um quarto da população empregada está contratado a prazo.

O trabalhador mais comum em Portugal continua a estar bastante protegido. Mas o trabalhador “marginal”, o que se ajusta a choques, tem um contrato a termo, vive numa economia competitiva e já mudou de emprego várias vezes. A ideia de que para uma empresa se torna muito difícil despedir um trabalhador, ou que é com-plicado ajustá-lo a um choque, está em parte desactualizada por esta razão e pe-las reformas realizadas no mercado labo-ral, nos últimos dois anos.

Os últimos dados da OCDE mostram que Portugal deu um salto enorme em termos de flexibilização do mercado la-boral. A imagem do mercado de trabalho

ENTREVISTA RICARDO REIS

em Portugal já não é a de um mercado ex-tremamente rígido mas, de um mercado bastante flexível.

O outro factor importante, que o Luís Cabral já abordou na primeira edição dos Encontros da Junqueira, é a capacidade de as empresas gerirem os recursos humanos. Os estudos internacionais mostram que há reduzidas capacidades de gestão em Por-tugal. Mas não é na qualidade de gestão da produção nem dos recursos financeiros. O que está mais em causa é a qualidade de gestão de recursos humanos.

Quando observamos como se promove o talento, como se despedem funcioná-rios, como se recompensa, ou como se penaliza funcionários menos produtivos, é que identificamos as diferenças entre as práticas de gestão em Portugal e as de ou-tros países mais competitivos.

Há uns anos atrás podíamos afirmar que grande parte destas deficiências de gestão eram devidas à rigidez do do mercado de trabalho. Nesse contexto, uma empresa não podia despedir um trabalhador inefi-ciente ou não ajustado ao cargo. A solução encontrada passava por “metê-lo na pra-teleira”, fazendo baixar a produtividade da organização.

Agora tivemos uma evolução muito positiva do mercado das leis laborais. Ve-jamos se as empresas sabem correspon-der, gerindo melhor os trabalhadores, dado que não têm tantos impedimentos legais em fazê-lo. É esse o desafio que lan-ço à AIP.

E do lado das empresas, quais os cons-trangimentos que considera devam ser ultrapassados?

Portugal tem um número muito elevado de empresas de pequena dimensão, com menos de dez trabalhadores e até com um peso maior do que tinha nos anos oiten-ta. A fracção do emprego que está em em-presas com menos de dez trabalhadores é exagerada. Muito do capital que entrou, foi para o sector não transacionável, e foi para estas microempresas.

A sucessão de políticas com enfoque no emprego e na manutenção de postos de trabalho, levaram a que tenha havido um conjunto de decisões de política pública que privilegiaram em excesso as empresas pequenas e desfavoreceram as médias e as grandes.

Na tentativa de proteger o emprego, de tentar evitar que uma empresa vá à falên-cia, de tentar evitar que haja um despe-

R

NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 201312

Page 13: NE negócios&empresas

dimento, foi criado um sistema em que há um desencorajamento activo ao cres-cimento das empresas, do aumento da sua produtividade e da orientação para os mercados externos.

Tanto do lado do Governo como do lado das empresas, tem de se perceber que sendo importante que surjam microem-presas, é mais relevante que elas possam crescer. O enfoque tem sido tão grande na criação de pequenas empresas que tem sido muito desvalorizado o crescimento e os incentivos para que elas possam evoluir de pequenas para médias ou grandes.

Tem havido uma falha em Portugal, quer em termos de estímulos fiscais e das políticas de emprego neste domínio. Os próprios empresários também têm tido também dificuldades em crescer. Foi ou-

tro desafio que deixei à AIP. Se venho falar com empresários não vou culpar o Estado, mas desafiar os empresários.

O que é realmente necessário para a economia crescer?

Quando falamos de crescimento, temos de distinguir entre o crescimento susten-tado, que se aguenta durante os próximos dez, vinte anos, e um crescimento de estí-mulo mais no curto prazo.

Em termos do crescimento sustentado, era muito importante que se cumprissem muitas das reformas que estão no plano da troika e que estão a ser executadas.

Contudo, penso que poderemos ser mais arrojados em termos de política fis-cal, como por exemplo a baixa do IRC. Não havendo hoje margem para baixar os impostos, podíamos, no entanto, planear e estabelecer um compromisso, compro-metendo-nos perante os portugueses, no sentido de diminuir a carga fiscal logo que seja possível tanto no IRC, como no IRS.

Adiantando que nos próximos anos haveria um quadro fiscal mais recompen-sador do investimento, do trabalho e do crescimento, dar-se-ia um incentivo ao crescimento sustentado. Ao mesmo tem-po, criaria também estímulo no presen-te com efeitos no curto prazo. Este seria também um compromisso de que todo o esforço que tem sido feito até agora não iria ser revertido daqui a um ano ou dois quando sairmos da crise, com um retorno ao engordar do Estado, mas assegurando uma baixa efectiva da carga fiscal.

É inegável que hoje, a contração orça-mental é necessária e infelizmente inevi-tável. Não há espaço para sairmos deste quadro. Por muito que gostássemos de não estar a reduzir o défice de forma tão rápida, essa posição é-nos imposta pe-los nossos credores. Olhando para os re-sultados e menos para a retórica, tem-se de dizer que o Governo tem conseguido cumprir.

Os prazos da divída e as metas do défi-ce têm sido flexibilizados sucessivamente, de três em três meses, mostrando que tem havido um sucesso da parte do nosso Go-verno, e do nosso país, em conseguir que a austeridade seja menos intensa do que estava originalmente programado. Isso é um sucesso da nossa diplomacia externa, da nossa imagem, e do nosso país.

É inevitável que a consolidação orçamen-tal provoque uma contracção da procura. Se conseguirmos convencer os agentes econó-

“NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS, NOVENTA POR CENTO DOS EMPREGOS CRIADOS EM PORTUGAL FORAM OBJETO DE CONTRATOS A TERMO.”

“OS ÚLTIMOS DADOS DA OCDE MOSTRAM QUE PORTUGAL DEU UM SALTO ENORME EM TERMOS DE FLEXIBILIZAÇÃO DO MERCADO LABORAL.”

“FOI CRIADO UM SISTEMA EM QUE HÁ UM DESENCORAJAMENTO ACTIVO AO CRESCIMENTO DAS EMPRESAS, DO AUMENTO DA SUA PRODUTIVIDADE E DA ORIENTAÇÃO PARA OS MERCADOS EXTERNOS.”

“OS ESTUDOS INTERNACIONAIS MOSTRAM QUE HÁ REDUZIDAS CAPACIDADES DE GESTÃO EM PORTUGAL. NÃO SE NOTA NA GESTÃO DA PRODUÇÃO NEM DOS RECURSOS FINANCEIROS. O QUE ESTÁ MAIS EM CAUSA É A QUALIDADE DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.”

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS 13

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micos que – amanhã, daqui a um, dois anos, assim que sairmos deste aperto, assim que tenhamos as contas regularizadas –, iremos ter um programa agressivo de redução de impostos, poderemos encorajar o investi-mento. É possível estimular o investimento que agora se inicia, e que ficará concluído daqui a um ou dois anos. Não vou dizer que isto possa provocar crescimento do inves-timento, mas pelo menos pode atenuar a contracção do investimento.

Do lado da procura não temos mais alternativa que não seja o que estamos a fazer, que é tentar renegociar prazos mais ligeiros, menos agressivos da redução do défice. Não nos resta outra alternativa do que encorajar hoje as pessoas a investirem e a perceberem que vai haver um futuro depois desta crise. Ao fazerem-no, vão também contribuir para que a crise não seja tão profunda.

Qual a leitura que faz do processo em curso na concertação social sobre a redução das indemnizações por des-pedimento?

O mercado laboral tem vindo a tornar-se mais flexível desde a reforma de 2003. Este trabalho não começou há um ano. Já estava a tornar-se mais flexível através dos contratos a termo. As reformas suge-ridas pelo programa da Troika já estavam diagnosticadas, nos últimos 15 anos, pra-ticamente em todos os relatórios inter-nacionais, e por qualquer observador do mercado de trabalho português.

No último ano muitas dessas reformas já foram concretizadas. Falta ainda fazer algumas, mas as mais importantes foram aprovadas, ou pelo menos adoptadas, pelo Governo. No entanto, mais impor-tante que produzir leis é aplicá-las. Mais importante que adoptar planos é vê-los implementados.

Estamos exactamente a passar pela fase de implementação destas políticas. Há um vício, que não é só português, de se resolverem as questões nos gabinetes sem ir ao terreno ver a sua aplicação. Mas elas estão a ser implementadas e a ter o seu efeito. Estamos na coração dessa fase. É preciso um esforço muito grande para aplicar essas medidas, de passá-las na concertação social, de ajustar as próprias leis às circunstâncias do país, de haver um ajustamento na actuação dos tribunais de trabalho e nos seus procedimentos – que tem sido um dos grandes factores de blo-queio nos últimos anos.

Em suma, já fizemos o grosso das me-didas. Falta a fase mais importante que é a sua aplicação. Para isso, é preciso trazer todos os agentes, incluindo os que se re-únem na concertação social, mas não só.

Não está a ser optimista, uma vez que o trabalhador, desempregado, não con-segue facilmente arranjar emprego… Como é que o desemprego desce?

Eu não disse que era positivo a exis-tência dos contratos a termo. O que quis combater foi a ideia de termos um mer-cado laboral muito rígido. É algo que digo com frequência quando vou a conferên-cias e reuniões sobre o Estado português: o que é importante realçar é que o mer-cado laboral português não é assim tão rígido, e até é relativamente flexível. Ao colocarmos a revisão do mercado laboral como sendo a fonte de todos os proble-mas, assumimos uma visão algo desac-tualizada.

O desemprego vai diminuir quando a economia começar a crescer. Houve um pecado grande na Europa nos últimos trinta anos que foi olhar para o emprego como sendo algo independente do cresci-mento económico. Tentou-se evitar que o desemprego aumentasse quando as eco-nomias não cresciam. E foi isso que levou a mercados de trabalho complicados, rí-gidos, que depois tornaram difícil que o próprio crescimento aparecesse.

Ao tentar evitar-se que o desemprego aumentasse quando o crescimento eco-nómico não ocorria, acabamos por criar condições que levaram a que ele nunca surgisse. Foi essa mudança que já ocor-reu em praticamente todos os países euro-peus nos últimos dez, quinze anos. Quase todos os países europeus se aperceberam disso e também Portugal. Se queremos criar emprego, se queremos reduzir a taxa de desemprego, temos que nos concentrar no crescimento. Crescimento económico é sinónimo de baixa de desemprego e vice-versa.

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, disse, no 176.º aniversário da AIP, que vislumbrava o final da crise, falando na confiança dos mercados. Acredita que estamos próximos do ponto de viragem?

Vou antes apontar para riscos ou opor-tunidades nos próximos meses. Quando olhamos, quer para o conjunto de refor-mas que foram feitas ou que estamos a

ENTREVISTA RICARDO REIS

fazer, quer para o próprio comportamen-to das soluções nos últimos anos, assim como para alguma contracção que era preciso ocorrer no consumo, estávamos a produzir menos do que aquilo que con-sumíamos –, vemos que muito do ajusta-mento já foi feito.

Tendo em conta essa premissa, isso levar-nos-ia a pensar que já estaríamos perto do ponto de viragem algures este ano ou no próximo. E que Portugal já teria condições para começar de novo a crescer. É um optimismo que é sempre muito frá-gil. Há vários riscos: o risco externo, que tem estado sempre presente desde o iní-cio desta crise. Prende-se, em parte, com a evolução do resto das economias euro-peias. Temos um factor de preocupação muito grande se a Alemanha abrandar a velocidade como aconteceu nos últimos seis meses. Em segundo lugar, a incerteza do Tribunal Constitucional em relação ao Orçamento deste ano.

Quais as consequências de um even-tual chumbo por parte do Tribunal Constitucional?

Em Setembro passado, a mudança na política fiscal passava por alguns cortes na despesa e pelas mudanças na TSU e ou-tros. Não se conseguiu. O aumento de im-postos verificado, bastante elevado para todos, levou a que se revissem para baixo as previsões do crescimento económico em Portugal. Taxando toda a economia, acabamos por operar em sentido inverso. Na altura, penso que o Governo teve mui-to pouca margem de manobra, mas não vou especular se poderia ter feito melhor ou não.

A verdade é que se houver um chumbo do Tribunal Constitucional e o Governo ti-ver de, num curto prazo, adoptar medidas adicionais que levem a um maior estran-gulamento fiscal da economia portugue-sa, aí voltamos a perder mais seis meses.

Se houver necessidade de aumentar no-vamente os impostos em consequência de eventuais decisões do Tribunal Constitu-cional, perderemos mais uma vez mais seis meses. Espero que o Tribunal Consti-tucional se revele sensível a esta questão.

Portugal está ou não numa espiral re-cessiva? Será que vai conseguir crescer ao longo de 2013 ou mesmo a terminar o ano com crescimento?

O que causará a espiral recessiva é um novo aumento de impostos. Este novo au-

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mento de impostos não é necessário ac-tualmente, se o Orçamento de 2013 tiver condições para ser aplicado, mas poderá ser necessário e inevitável caso haja um chumbo do Tribunal Constitucional.Se o Tribunal Constitucional declarar incons-titucional o Orçamento e se o Governo ti-ver de no espaço de duas semanas arranjar receitas e tiver de aumentar as taxas de imposto, aí sim, caminhamos para a es-piral recessiva e não para a recuperação.

Como analisa a estratégia do Governo no regresso aos mercados?

Num espaço de 48 horas tivemos dois eventos: o regresso aos mercados e a re-estruturação e reescalonamento do paga-mento à Troika.

O regresso aos mercados depende pouco de nós e mais de factores externos. Já o rees-calonamento da dívida é um grande sucesso do Governo português. Não faltavam pes-soas nos últimos dois anos a dizerem que a dívida portuguesa dificilmente poderia ser paga e como tal, tinha de haver uma reestru-turação da mesma. Penso que era um diag-nóstico que em parte todos partilhávamos.

O Governo português tinha três opções: uma, era ter avançado para a reestrutura-ção há dois anos, assumindo, de uma certa forma, um passo arriscadíssimo. Isto teria consequências possivelmente muito ne-gativas. Sucedeu na Argentina, que não é propriamente um caso de sucesso nos últimos dez anos, ao contrário do que por vezes se tem ouvido em Portugal.

A segunda opção era fazer como a Gré-cia, ou seja, não aplicar as medidas e ten-tar forçar uma renegociação. Quem olha para o que aconteceu na Grécia nos últi-mos dois anos vê que esse não foi um ca-minho que tenha resultado.

A terceira opção era aplicar as medidas e esperar por uma oportunidade para, não com alarido, mas nos bastidores, negociar uma reestruturação da nossa dívida. O Governo seguiu a terceira opção e clara-mente funcionou. Não foi uma renegocia-ção altamente substancial, mas foi signifi-cativa e é muito importante para o retorno da estabilidade das contas em Portugal.

O trabalho não está todo feito, pode haver mais sucessos em novas reestru-turações de dívida ou de prazos. Admito que no passado hesitei quanto ao facto de o Governo estar a agir bem quando quis seguir esta terceira opção. Será que ao es-colhermos o caminho do bom aluno seria-mos compensados? Os factos estão aí. A verdade é que fomos.

Relativamente à situação em Espanha, em que medida nos pode afectar?

Vou dizer apenas o óbvio: o mercado es-panhol representa 25 por cento das nossas exportações. Qualquer situação em Espa-nha põe em causa as empresas portugue-sas e como tal o nosso interesse econó-mico. Temos sempre que olhar com uma certa preocupação, pois tem a ver com a tal recessão europeia de que falava.

“NÃO HAVENDO HOJE MARGEM PARA BAIXAR OS IMPOSTOS, PODÍAMOS, NO ENTANTO, PLANEAR E ESTABELECER UM COMPROMISSO, COMPROMETENDO--NOS PERANTE OS PORTUGUESES, NO SENTIDO DE DIMINUIR A CARGA FISCAL LOGO QUE SEJA POSSÍVEL TANTO NO IRC, COMO NO IRS.”

“MAIS IMPORTANTE QUE PRODUZIR LEIS É APLICÁ-LAS. MAIS IMPORTANTE QUE ADOPTAR PLANOS É VÊ-LOS IMPLEMENTADOS.”

“TEM DE HAVER UM AJUSTAMENTO NA ACTUAÇÃO DOS TRIBUNAIS DE TRABALHO E NOS SEUS PROCEDIMENTOS.”

“O REGRESSO AOS MERCADOS DEPENDE POUCO DE NÓS E MAIS DE FACTORES EXTERNOS. JÁ O REESCALONAMENTO DA DÍVIDA É UM GRANDE SUCESSO DO GOVERNO PORTUGUÊS.”

“TENTOU-SE EVITAR QUE O DESEMPREGO AUMENTASSE QUANDO AS ECONOMIAS NÃO CRESCIAM. E FOI ISSO QUE LEVOU A MERCADOS DE TRABALHO COMPLICADOS, RÍGIDOS, QUE DEPOIS TORNARAM DIFÍCIL QUE O PRÓPRIO CRESCIMENTO APARECESSE.”

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INFORMAÇÃO ECONÓMICA

Elaborado pela AIP-CCI, o Relatório da Competitividade monitoriza, anualmente, a evolução em Portugal de um conjunto de indicadores e a sua comparação com os relativos a 15 economias europeias. Esta análise abrange no actual relatório 51 indicadores. Destes, 39 são indicadores de “input” que respeitam a factores de competitividade, que de uma forma mais ou menos directa, num dado horizonte temporal, podem gerar contributos significativos para a melhoria da competitividade e são relativos às seguintes áreas: fiscalidade, custos laborais, preços, educação e formação, sociedade de informação, ambiente e energia, investimento e I&D e Inovação. Os indicadores de “output” (8) referem-se a “resultados”, essencialmente, em termos de criação de riqueza e emprego. Os restantes 4 são indicadores de enquadramento macroeconómico. As economias que servem de comparação e que se mantêm desde 2003 são a Alemanha, Dinamarca, Espanha, Grécia, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Países Baixos, Portugal e Reino Unido, a Eslováquia, Eslovénia, Hungria, Polónia e República Checa.

A evolução da competitividade da economia portuguesaSíntese do relatório da competitividade

Nesta síntese do Relatório da Competitividade de 2012, real-çam-se alguns aspectos relativos a indicadores de “inputs” – fiscalidade, preços, investimento, educação, inovação e de “ou-tput” – PIB e Emprego.

FISCALIDADEEm 2012, a taxa máxima de IRC em Portugal pode atingir 31.5%. Esta taxa é a segunda mais alta no conjunto dos 16 países do “benchmarking”, em que as taxas variam, entre um máximo de 36.1% em França e no mínimo de 12.5% na Irlanda. Na União Europeia a taxa máxima mais alta é a de França (36.1%) e a mais baixa verifica-se no Chipre (10%). A média destas taxas na UE em 2012 é de 23.5% e na Área Euro de 26.1%, valores pratica-mente iguais aos de 2011.

Em Portugal, as receitas dos impostos sobre o rendimento das empresas, em 2010, situaram-se em 2.8% em relação ao PIB (2.9% em 2009), valor próximo dos da média da Área Euro (3.0%) e da UE (2.7%). No conjunto dos 16 países do “benchma-rking”, Portugal é o 4º valor mais elevado a seguir à República Checa (3.4%), Reino Unido (3.1%) e Itália (3.0%). Os impostos so-bre o rendimento das empresas representaram em 2010, cerca de 9.0% do total das receitas fiscais (-0.2 p.p. que em 2009). Este valor é o quarto mais alto no conjunto dos 16 países, a seguir à República Checa (10.0%), Eslováquia (9.6%) e Irlanda (9.1%).

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INFORMAÇÃO ECONÓMICA

INVESTIMENTO Todas as economias do “benchmarking” registaram uma redu-ção dos montantes da formação bruta do capital fixo do sector privado. Na UE, o investimento privado diminuiu cerca de 17%. Em 2010, registou-se alguma recuperação com um aumento de 2% na UE, mas um número significativo de países continuou a registar queda do investimento privado. Em 2011, o investi-mento privado a preços correntes aumentou cerca de 5% no conjunto da UE. Entre os países considerados na análise, a Ale-manha (8.6%), a França (7.4%) e a Polónia (6.9%) registaram os crescimentos do investimento privado mais elevados. As varia-ções mais negativas registaram-se na Grécia (-17.0%), a Irlanda (-7.7%) e Portugal (-4.8%).

Em Portugal, a formação bruta de capital fixo (FBCF) total registou variações negativas em 2009 (-10.4%), 2010 (-2.3%) e 2011 (-9.7%).

O rácio FBCF do sector privado e o PIB que entre 2004 e 2008 se manteve na casa dos 19.5%, reduziu-se para 16.9% em 2009, 15.3% em 2010 e 14.8% em 2011. Neste último ano, a FBCF do sector privado representava cerca de 83% do total da FBCF em Portugal.

PREÇOS Em Portugal, o preço do gás sem impostos para os consumido-res industriais, no 1º semestre de 2012, foi de 11.1€/GJ, superior ao preço médio da União Europeia, e superior aos de Itália, França, Espanha e Reino Unido e apenas inferior ao registado na Alemanha.

O preço médio da electricidade, sem impostos, para os “pe-quenos” consumidores industriais em Portugal foi de 102.1 €/MWh no 1º semestre de 2012, inferior ao valor médio na União Europeia. O preço em Portugal foi inferior aos registados em Es-panha, Itália, Reino Unido e Alemanha e superior ao de França.

Para os “grandes” consumidores industriais, o preço médio de electricidade, sem impostos, foi de 99.1€/MWh em Portugal no 1º semestre de 2012. O preço praticado foi superior ao preço médio na União Europeia e entre os principais parceiros co-merciais, inferior aos de Itália e superior aos de Espanha, Ale-manha e França.

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃOPortugal tem estruturalmente uma situação muito vulnerável em matéria de qualificações dos seus recursos humanos. Em 2010, apenas 32% da população com idades compreendidas en-tre os 25 e os 64 anos tinham pelo menos o ensino secundário. A Espanha (53%), Itália (55%) e a Grécia (65%) são os países com valores mais próximos e, juntamente com Portugal, os que no conjunto dos 16 países em análise registam neste indicador va-lores inferiores a 70%. Nos grupos etários mais jovens, a situa-ção é menos negativa. Cerca de 52% da população do grupo etá-rio 25-34 anos completou pelo menos o ensino secundário (65% em Espanha; 71% em Itália). Entre 2004 e 2010 o peso relativo da população com idades entre os 25 e os 64 anos com pelo me-nos o ensino secundário aumentou 7 p.p., sendo o crescimento no grupo etário 25-34, no mesmo período, de +12 p.p..

O ensino secundário tem vindo a tornar-se a regra como grau de escolaridade mínima, sobretudo entre as faixas etárias mais jovens, sendo um elemento crítico na avaliação das “skills” da população. Em Portugal, apenas 64.4% dos jovens com idades entre os 20 e 24 anos, em 2011, tinham completado pelo me-nos o ensino secundário. Este valor representa uma evolução positiva nos últimos anos (39.3% em 1998; 49.0% em 2005). No entanto, é o segundo mais baixo entre o conjunto dos países em análise. De salientar que 10 destes países registaram valores su-periores a 80%.

Em Portugal, a situação no ensino superior em termos rela-tivos é melhor do que ao nível do ensino secundário. Em 2011, cerca de 31% da população do escalão etário 20-29 anos fre-quentava o ensino superior. Este valor é igual ao valor da média e da mediana da UE. Cerca de 26% da população portuguesa com idades entre os 30 e 34 anos tinha em 2011 o ensino su-perior. A Irlanda (49%), Finlândia (46%) e Reino Unido (46%) registavam os valores mais elevados.

Outro indicador que merece reflexão diz respeito ao elevado abandono escolar precoce, elemento que continua a condi-cionar significativamente a necessária melhoria dos níveis de qualificação da população portuguesa. Em 2011, cerca de 23.2% dos jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos abandonaram o sistema de ensino ou de formação sem comple-tarem a escolaridade mínima obrigatória. De referir, que neste

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INFORMAÇÃO ECONÓMICA

domínio tem-se verificado uma evolução positiva nos últimos anos (a taxa de abandono escolar era de 45% em 2002, 39% em 2006 e 29% em 2010), mas o valor actual é ainda muito eleva-do. No conjunto dos 16 países considerados, só a Espanha tem um valor superior (26.5%) e no conjunto da UE apenas Malta (33.5%) regista valores superiores a Portugal.

INOVAÇÃO E I&D Entre os diversos indicadores analisados neste domínio, de re-levar o indicador sintético do “Innovation Union Scoreboard 2011”, que mede a capacidade de um país para inovar. O desem-penho registado no período 2008-2010 colocou Portugal na 16ª posição entre os países da UE com um “score” idêntico ao da Espanha, Itália e República Checa. Portugal integra o grupo dos países considerados “moderadamente inovadores”. A Suécia, Dinamarca, Alemanha e Finlândia são considerados os “lea-ders da inovação”.

Ao nível das despesas em investigação e desenvolvimento a evolução tem sido favorável nos últimos anos, registando-se em 2010 um valor equivalente a 1.6% do PIB, igual ao registado em 2009. Portugal ficou próximo da meta fixada para 2010 (1.8% do PIB). As empresas executam cerca de 45% destas despesas e as entidades do ensino superior cerca de 37%. As instituições pri-vadas sem fins lucrativos executam 10% das despesas, cabendo os restantes 7% ao Estado.

A média da UE foi em 2010 de 2.0%, valor igual ao de 2009. Ao nível da UE não foi atingida a meta de 3.0% em 2010, dado que a maioria dos países também não atingiu as suas metas. No conjunto dos países em análise, são de salientar os valores da Finlândia (3.9%) e da Dinamarca (3.1%), países que juntamente com a Suécia (3.4%) são os que já ultrapassaram os 3%.

PRODUTO INTERNO BRUTO Em Portugal, no período 2008-2011, o PIB em Portugal registou uma variação média anual negativa, de -0.7%. Na UE, neste pe-ríodo, a variação média anual do PIB foi marginalmente nega-tiva. No conjunto das economias “benchmarking”, registam-se

variações médias anuais negativas em 10 países e praticamente nulas em 2 outros. Só na Alemanha, Eslováquia, Polónia, Re-pública Checa e Países Baixos se verificaram, no período 2008-2011, crescimentos do PIB, ainda que inferiores aos registados entre 2002 e 2011.

EMPREGO Em Portugal, o volume de emprego diminuiu -1.5%, em 2011, variação igual à registada em 2010. No decénio 2002-2011, a taxa média anual de variação do emprego foi de -0.5%. No conjunto da UE e na Área Euro, a variação do emprego, em média anual, no período 2002-2011 foi de 0.5%, tendo os crescimentos mais significativos se registado em Espanha (1.0%), Finlândia (0.8%) e Eslováquia (0.8%). No período mais recente (2008-2011), a variação média anual do emprego foi negativa na maioria dos países com excepção da Polónia (1.5%), Alemanha (0.8%), Es-lováquia (0.4%), Países Baixos e Finlândia (0.3%). Na UE e na Área Euro, a variação média anual foi de -0.3%. Em Portugal, a variação do emprego neste período foi de -1.3%, em média anu-al. A Irlanda (-3.9%), Espanha (-2.7%) e Grécia (-2.0%) regista-ram os valores mais elevados em termos da variação negativa do emprego no período de 2008-2011.

A taxa de emprego (rácio entre população empregada com idades entre os 15 e os 64 anos e a população total deste grupo etário) situou-se em 2011 em 64.2%. Este valor é idêntico à mé-dia da UE e em termos comparativos situa-se na mediana das taxas de emprego. Na UE existem diferenças significativas nas taxas de emprego, tendo, de um lado, países com taxas de em-prego superiores a 70%, como é o caso entre os países considera-dos dos Países Baixos (75%), Dinamarca (73%) e Alemanha (73%) e, por outro, países com taxas inferiores a 60%, como a Irlanda (59%), Espanha (58%), Itália (57%), Hungria e Grécia (56%).RUI MADALENO

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JOVENS QUE CONCLUÍRAM PELO MENOS O ENSINO SECUNDÁRIO2011

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FONTE: EUROSTAT (DEZ. 2012)

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DESPESAS EM INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO2010

VARIAÇÃO MÉDIA ANUAL DO PIB2002-2011 E 2008-2011

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FONTE: EUROSTAT (DEZ. 2012); OCDE (MAR.2012) *2009 **VALOR ESTIMADO ***QUEBRA SÉRIE

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LUIS CABRAL, RICARDO REIS

E SÉRGIO REBELO EXPLICAM OS DESAFIOS

DA ECONOMIA PORTUGUESA

DOSSIER

NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS 22

Page 23: NE negócios&empresas

UM OLHAR DISTANCIADO, QUALIFICADO E CRIATIVO DE ACADÉMICOS PORTUGUESES COM

NOTORIEDADE NO ESTRANGEIRO

Luis Cabral (New York University), Ricardo Reis (Columbia University) e Sérgio Rebelo (Kellogg School) são distintos

académicos portugueses que ganharam notoriedade e prestígio nos EUA, país onde desenvolvem a maior parte da sua atividade

profissional. Foram esses os atributos que, assegurando uma visão distanciada e autónoma sobre os problemas da economia portuguesa, justificaram o convite dirigido pela AIP para a sua

apresentação ao painel fixo de personalidades que integram a iniciativa dos designados Encontros da Junqueira e que prontamente foram aceites pelos académicos em causa.

Os três académicos trouxeram-nos reflexões sobre as causas da difícil situação económica que o país atravessa, não deixando

de apontar pistas concretas de abordagem das soluções e das estratégias necessárias. São posições independentes e

sustentadas numa sólida formação teórica que, embora não refletindo necessariamente as posições desta associação

empresarial, suscitaram uma adesão generalizada e um debate vivo nos Encontros da Junqueira.

Atendendo à grande relevância do conteúdo das intervenções, entendeu-se que não poderíamos deixar de divulgar

publicamente os principais “statements” produzidos nas sessões efetuadas por estes três brilhantes académicos que prestigiam

no estrangeiro o nome de Portugal.

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS 23

Page 24: NE negócios&empresas

CRISE DO EURO? Não existe uma crise do Euro, em sentido restrito. Existem várias crises em simultâneo – uma crise de governação das organizações europeias, uma crise de crescimento, uma crise de dívida pública, uma crise de desemprego ou até uma crise moral de valores. O Euro não será o maior responsável por todas estas crises e abandoná-lo não será a solução para a crise que atravessamos.

TENDÊNCIAS DE LONGO PRAZO OU FLUTUAÇÕES Quando olhámos para a evolução dos Estados Unidos nos últimos duzentos anos, observa-se uma tendência conti-nuada de crescimento de longo prazo, independentemente das flutuações registadas em determinados períodos. Em Portugal, tivemos nos últimos trinta anos, duas décadas de crescimento e uma de estagnação. A questão está em saber

se a evolução recente é uma mera flutuação ou se indicia uma queda mais estrutural.

JUROS E DÍVIDA É claro que os juros pagos pelos países com piores rácios Dívi-da/PIB são mais altos, embora haja exceções como ao Japão, a Bélgica e até a própria Alemanha. A explicação não está só no numerador (Dívida), mas tem a ver também com o deno-minador (PIB).

EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO A capacidade de crescimento de longo prazo é determinada pelo nível de e educação e da escolaridade. Constata-se que os países do Sul da Europa com maiores problemas de gestão da Dívida são os que piores resultados obtêm nos conhecidos testes de PISA.

FATORES DE CRESCIMENTO São três os fatores determinantes para o crescimento da eco-nomia portuguesa – “Educação”, Inovação e Qualidade de Gestão” e o “Estado( o seu papel)”.

TESTE DE PISA E PIB É conhecida a elevada correlação entre o PIB per capita e os re-sultados do teste de PISA. Nem sempre correlação quer dizer causalidade, mas temos hoje em dia informação suficiente que nos permitem confirmar a causalidade entre desenvolvimento e educação. A qualidade dos fatores produtivos e do capital huma-no explica uma fração muito importante da taxa de crescimento.

EDUCAÇÃO DESCENTRALIZADA A maior questão da Educação é a necessidade de descentrali-zar. Muito mais importante do que a questão público-privado, a questão é da descentralização. Por exemplo nos Estados Unidos as chamadas “charter-school” (escolas públicas mas que partem da iniciativa de grupos de cidadãos) têm dado um resultado bastante razoável.

QUALIDADE DO ENSINO O ensino superior em Portugal é razoavelmente bom ainda que esteja vivendo um período de ajustamento após um ciclo de crescimento muito grande. Mais problemático é o ensino básico e secundário.

PRODUTIVIDADE, INOVAÇÃO E EXPORTAÇÃO A inovação aumenta a produtividade, não será novidade para ninguém; mas as empresas com maior produtividade apre-sentam maior propensão para exportar, registando-se uma interação positiva entre as capacidades de inovação, de pro-dutividade e de exportação.

COMPOSIÇÃO SETORIAL As diferenças de produtividade entre países só numa peque-na fração podem ser explicadas pela composição setorial, já que existem empresas muito produtivas em todos os setores e empresas muito pouco produtivas em todas as atividades; se descermos a análise para um nível mais desagregado, po-demos constatar diferenças de produtividade em segmentos ou tipologias de produtos.

DOSSIER

Depois de terminar o seu doutoramento na Universidade de Stanford, em 1989, Luís Cabral foi professor nas universidades Nova de Lisboa, London Business School, London School of Economics, Berkeley, Yale e IESE. Actualmente, ocupa a cátedra W. R. Berkley de Economia, na New York University.O trabalho de investigação de Luís Cabral, centrado em aspectos dinâmicos da concorrência entre empresas, foi publicado em várias revistas especializadas, apresentado em dezenas de conferências e publicado por vários media, tanto na Europa como nos Estados Unidos. Luís Cabral é autor do livro “Introduction to Industrial Organization”, publicado pela MIT Press, traduzido em sete línguas e adoptado por universidades em dezenas de países.O professor é Research Fellow do Centre for Economic Policy Research, foi presidente da European Association for Research in Industrial Economics, membro do Grupo de Conselheiros Económicos do Presidente da Comissão Europeia e consultor de múltiplas organizações públicas e privadas.Luís Cabral nasceu em Lisboa, em 1961. Para além da actividade académica, dedica-se a pintar, tocar saxofone e recordar êxitos passados do Belenenses.

LUÍS CABRAL

NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 201324

Page 25: NE negócios&empresas

SOLUÇÕES PARA INCREMENTO DA PRODUTIVIDADE A produtividade de um setor ou país é determinado por três fatores: (i) entrada e saída de empresas- entram empresas mais produtivas dos que as que saem; (ii) reafectação de re-cursos a favor das empresas mais produtivas que aumentam a quota de mercado (iii) o esforço de aumento da produtividade de cada empresa. Em matéria de aumento de produtividade, será mais eficaz em Portugal o estímulo à uma maior rotação na entrada e saída de empresas e de reafectação de recursos entre empresas, do que política de apelo generalizado ao au-mento da produtividade.

QUALIDADE DE GESTÃO De acordo com um estudo sobre práticas de gestão num con-junto vasto de países de dois economistas (Nicholas Bloom e John Van Reenen), é possível observar-se o seguinte- há 25% de empresas portuguesas que têm uma qualidade de gestão superior à média das empresas americanas! Em contraponto, 14% das empresas em Portugal apresentam uma pontuação inferior a 2 (entre 5 máximo) o que indicam que têm gestão muito pobre; se fosse possível “eliminar” as empresas deste segmento, aumentar-se-ia em 7% a média da performance das empresas portuguesas; é por essa razão, que acho impor-tante fazer realocar os recursos das empresas menos eficien-tes para as mais produtivas; Portugal precisa de um choque de seleção, mais do que um choque tecnológico.

DINÂMICA DA DESPESA PÚBLICA Quando abordamos a função do Estado na economia a questão é como fazemos balancear entre o impulso do estímulo keyne-siano com a sua consequência de provocar um processo de “cro-wding out” em que a despesa do Estado retira recursos ao resto da economia. É difícil identificar um balanço ideal. Há fatores que favorecem o crescimento da despesa pública em regimes demo-cráticos; por um lado, os benefícios da despesa pública são bem mais visíveis do que o seu custo, e por outro, o desequilíbrio entre o presente e o futuro, visível na gestão de ciclos políticos.

POLÍTICA INDUSTRIAL Outra questão tem a ver com a política industrial que pode ser justificada por externalidades e falhas de coordenação. Mas continuo a pensar que a melhor política industrial é uma boa política de concorrência.

A “DOENÇA HOLANDESA” Portugal sofre uma espécie de “doença holandesa” que é um fenó-meno identificado em países com um surgimento de um recurso natural que acaba por absorver pela sua elevada rentabilidade a totalidade dos recursos dessa economia, anulando qualquer pos-sibilidade de crescimento de outras atividades. Em Portugal não existiu nenhum recurso natural, mas foram criadas pelo Estado rendas elevadas em muitos setores protegidos da concorrência que absorveram grande parte dos recursos da economia do país.

PUB

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS 25

Page 26: NE negócios&empresas

AS 7 RAZÕES DO NOSSO EMPOBRECIMENTO E DA DEPRESSÃO A entrada da China na OMC e a atracção de investimento di-recto estrangeiro para países de leste europeu. Valorização do capital humano. Rigidez do mercado de trabalho. Custos de contexto que limitam a actividade empresarial. Saída de capitais nos anos 70 nunca mais recuperados pela taxa de poupança. Aumento do peso do estado. Fraco crescimento de produtividade.

COMPETITIVIDADE / TAXA DE CÂMBIO REAL Portugal era tão competitivo em 2009 como era em 1999. O sector exportador não perdeu quota de mercado de forma significativa. A evolução foi semelhante à média dos países da OCDE, condicionada pela emergência da China. O que subiu foi a apreciação da taxa de câmbio real. E a diferença entre os termos de troca e a taxa de cambio real é aritmetica-mente igual ao preço do sector não transaccionável. Diz-se em Portugal, que esta taxa de câmbio real reflecte uma perda de competitividade. Não há uma clara perda de competitivi-dade. O que há é um aumento enorme do preço dos serviços, sobretudo de construção, enquanto que na indústria e agri-cultura continuam estagnados. Portanto, a taxa de câmbio real é um indicador enganador para medir a competitivida-de das empresas portuguesas

ESTAGNAÇÃO: 2000-2007 O choque em 2000 em Portugal foi provocado por um grande fluxo de capitais vindo do centro da Europa. Derivou da aber-tura do mercado de capitais, entrada do euro, situação cam-bial e estagnação da economia alemã. A Alemanha, como tinha uma poupança elevada queria diversificar a sua apli-cação no exterior e em mercados alternativos. Estes capitais, por exemplo, na Grécia, dirigiram-se para a divida pública. Em Portugal, metade foi para o financiamento do estado e a outra metade foi para a economia através da intermediação dos bancos. Por outro lado, este fluxo de capitais é alocado ao sector não transaccionável (serviços e construção) e em pro-jectos de baixa produtividade. Estes fluxos são intermedia-dos pelos bancos, nomeadamente nacionais. Uma empresa do sector não transaccionável não é facilmente “capturada” pela banca em caso de incumprimento. Daí o papel crucial assumido pela banca. Os preços dos não transaccionáveis sobem e a sua competitividade desce, provocando o decrés-cimo da competitividade da economia. O investimento cai devido ao contínuo aumento das taxas marginais dos im-postos. Cai a produtividade mas o consumo mantém-se alto.

TAXA DE CÂMBIO SOBREAVALIADA A argumentação do Prof. Ferreira do Amaral não se ajusta aos dados. Se entrássemos no euro com uma taxa de câmbio so-breavaliada, por definição ele deveria ter caído durante este período e convergido. Não foi o que sucedeu. Portanto, não estava sobrevalorizada quando entrámos no euro.

PARAGEM SÚBITA NO FLUXO DE CAPITAIS – SEM TROIKA, O PIB TERIA UMA QUEBRA DE 20%. Quando ocorreu o crash em 2009, aumentou a aversão ao ris-co. Este facto levou ao aumento de spreads. Nalguns países subiu pouco, noutros muito, acentuando-se com a crise da divida europeia. Ocorreu uma paragem súbita de fluxo de ca-

DOSSIER

Professor do Departamento de Economia da Columbia University, em Nova Iorque, nos EUA. Ricardo Reis foi promovido a “full professor” com 29 anos, um dos mais novos na história daquela universidade.A principal área de investigação é a macroeconomia. A sua pesquisa tem incidido em modelos de economia comportamental (atenção limitada e desatenção racional), no estudo de medidas e comportamento da inflação.Ricardo Reis tem um interesse especial na conduta da política monetária, quer através da sua investigação, quer na prestação de consultadoria em bancos centrais e organizações internacionais. Recentemente, tem-se debruçado sobre o estudo da política fiscal.Ricardo Reis é investigador associado do National Bureau of Economic Research e do Centre for Economic Policy Research. O professor é também coeditor do Journal of Monetary Economics, membro do conselho de editores da American Economic Review e do Journal of Economic Literature, e é editor associado no Journal of Money Credit and Banking e no Economic Journal. Ricardo Reis escreve ainda artigos de opinião para a imprensa portuguesa desde 2005.Nasceu em 1978, é de Leça da Palmeira, e estudou na London School of Economics, em Inglaterra, e em Harvard University, nos EUA. Entre 2004 e 2008 foi professor auxiliar na Princeton University. Ricardo Reis vive em Manhattan, nos EUA, com a mulher e os seus dois filhos.

RICARDO REIS

NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 201326

Page 27: NE negócios&empresas

pitais, que se reflectiu na balança de transacções correntes e nas dificuldades de financiamento às empresas. Sem a troika, sem o sistema monetário europeu e sem o euro, tínhamos tido uma quebra do PIB na ordem dos 20%.A diminuição drástica do fluxo de capitais privados e a enorme fuga de capitais ocor-rida só foi compensada, em parte, com as ajudas europeias.

BANCOS MUITO GRANDES PARA A DIMENSÃO DA NOSSA ECONOMIA A Europa e Portugal têm bancos enormes. Em 2007 os activos do BCP e do BES, em relação ao PIB, eram de 67% e 52%.

CICLO DIABÓLICO – BANCOS / ESTADO Há uma grande correlação entre o risco de divida soberana e o risco dos bancos. Os bancos, por questões de deficiente regulação, por desenho dos acordos de Basileia, foram enco-rajados a ter obrigações do Estado. Usaram essas obrigações como garantias do financiamento externo. Quando sobe o risco de dívida soberana, sobe o dos bancos. Sempre que há um receio que Portugal vá à falência, desce o preço das obri-gações e o activo dos bancos deteriora-se. Ocorre a esperada contracção do crédito à economia, dado que os bancos têm de recuperar os seus rácios de capital. Baixando o crédito desce a colecta fiscal, aumenta o défice, e aumenta a pro-babilidade do estado ter de resgatar os bancos para salvar o sistema financeiro. Tudo isto porque os bancos estão car-regados de obrigações do estado. E quando o Banco Central Europeu quis intervir nos mercados de divida, em vez de comprar obrigações europeias, fê-lo usando os bancos como intermediários. Isto levou os bancos portugueses, islande-ses, espanhóis a aumentarem a sua exposição à divida, pio-rando o problema.

CRIAÇÃO DA UNIÃO BANCÁRIA PODERÁ ROMPER O CICLO DIABÓLICO A criação da união bancária não tem a ver com a concentração da regulação. A razão principal centra-se na necessidade dos bancos serem seguros pela Europa como um todo. Se houver um “baillout” de um dos bancos, tenta-se evitar que o fardo não caia todo nas finanças públicas portuguesas. A segunda razão é a garantia dos depósitos ser feito a nível europeu. Nes-te caso há fracos progressos. A terceira razão prende-se com as obrigações europeias, que também não têm evoluído. A im-portância das eurobounds não é a partilha fiscal, mas sim per-mitir, por exemplo, que os bancos portugueses possam ter nos seus activos obrigações europeias e não portuguesas. Se o BES tiver no seu balanço obrigações europeias não será contagiado por um receio sobre a solvabilidade do estado português.

CRISE – RESPONSABILIDADES Desde 2008, a crise é tão portuguesa como é do sul da Europa e está relacionada com as falhas e insuficiências do desenho da União Monetária. De 2000 a 2007 o problema é nosso e deriva de uma má afectação de recursos. Tivemos capital que entrou e não o alocamos bem.

REFORMA NO MERCADO DE TRABALHO Há uma enorme evolução nos indicadores da OCDE na área do mercado laboral. Portugal já não tem um mercado de tra-balho muito rígido. Hoje mais de 25% da força laboral está com contratos a prazo. Existe uma franja importante do

mercado laboral muito flexível que se ajusta com facilidade aos choques. O problema não é de flexibilidade mas sim de produtividade. O problema de rigidez do mercado reflecte-se na média de produtividade diária, não na flexibilidade de ajustamento. Continuamos a manter trabalhadores não produtivos. É este lastro e esta geração que puxa a produti-vidade para baixo.

QUALIDADE DE GESTÃO Em média, as empresas portuguesas são mal geridas, embora com enorme dispersão. Mas os estudos demonstram que são bem geridas na área da produção e finanças, e todo o gap se concentra na gestão dos recursos humanos.

GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS A deficiente gestão de recursos humanos existente em Por-tugal repercute-se na capacidade de recompensar quem se deve, capacidade de despedir quem se deve despedir, capaci-dade de realocar recursos humanos, e na capacidade de criar incentivos no local de trabalho. Pensava-se que isto depen-desse da rigidez do mercado de trabalho. Com as alterações que houve na legislação laboral não há razões para persisiti-rem estes problemas.

TAMANHO MÉDIO DAS EMPRESAS Em 2009, o tamanho médio de uma empresa em Portugal é de 10 trabalhadores. Nos últimos 20 anos tivemos um crescimen-to enorme das pequenas empresas e foram sempre protegidas. O lado positivo é que manteve emprego, o lado negativo é que não conseguimos aumentar a produtividade. Empresas pe-quenas criam emprego mas são pouco produtivas. O fluxo de capital que veio da Alemanha acabou a financiar as empresas de zero a dez trabalhadores e não a ajudar as que podem lan-çar-se no mercado exportador. Há actualmente uma grande oportunidade para, através de processos de fusão aumentar a produtividade ganhando escala.

GLOBAL SOURCING A Bélgica e a Holanda têm exportações superiores a 100% do PIB. Portugal tem um pouco mais de 30. A diferença está no global sourcing. A produção está localizada nos mercados de leste, é importada para a Holanda, que lhe acrescente valor e é depois exportada. Este é o desafio do sector transaccionável em Portugal, e a razão da falta de expansão desse sector.

ESTADO – OBSESSÃO PELA REDUÇÃO DA DESPESA EM VEZ DO DÉFICE O principal factor da crise não foi o Estado. Este tem evoluí-do bem. Começamos a ter uma obsessão com a despesa em vez do défice. A opção do défice nos últimos 7 anos levou ao aumento dos impostos e ao estrangulamento da actividade económica. E as respostas para ultrapassar estes problemas virão da economia e das empresas. Temos de parar de falar das dificuldades que o Estado está a criar. Está a evoluir no bom sentido. Temos é de reflectir sobre outras coisas: alocação do capital; qualidade de gestão; regulação bancária europeia para proteger melhor os bancos e quebrar o ciclo diabólico; proliferação de pequenas empresas; inexistência de um sector de global sourcing; internacionalizar e ganhar quotas no mer-cado global. Fazer tudo isto e com menos referências ao estado

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS 27

Page 28: NE negócios&empresas

DOSSIER

porque não é o Estado que vai resolver a crise. O que falhou em Portugal em 2000 não foi o capital nem o Estado. Foi o facto deste capital ter sido mal realocado.

ESTÍMULO PARA SAIR DA CRISE É muito importante reflectirmos sobre a gestão macro econó-mica de curto prazo. Portugal precisa de um estímulo. O estí-mulo clássico de expansão monetária e dos défices públicos não está disponível. Resta-nos duas hipóteses: a primeira, um estímulo mais keynesiano através de um aumento da despesa pública financiada por imposto público de forma a manter o défice inalterado. Por exemplo, um programa de requalifica-ção das cidades financiado com o aumento das taxas de con-tribuição municipal. Segundo, um estímulo mais neo-clássi-co: incentivos fiscais. A forma de combater o enorme efeito recessivo de contracção de procura é tentarmos estimular o investimento através de estímulos de fiscalidade futura. Isto é, um compromisso de que o sacrifício actual não vai ser com-pensado no futuro com uma recuperação da despesa pública, mas com uma baixa de fiscalidade. Esta será uma das poucas políticas de estímulo que está à nossa disposição e termos macro-económicos.

APROVÁVEL NOVA CRISE FINANCEIRA MOTIVADA PELA PROCURA DE ACTIVOS FINANCEIROS. Todos os anos surge na economia mundial algumas fontes de risco. Para os países do sul da Europa, mais importante do que o eventual colapso das commodities, é o desenvol-vimento diferenciado dos sistemas financeiros em todo o mundo. Mais do que o abrandamento do crescimento da China e de um crash nas commodities, o que preocupa é uma eventual crise financeira provocada pela enorme pro-cura de activos financeiros. Há imensos investidores no mundo inteiro que querem colocar o seu dinheiro em al-guma coisa que seja relativamente segura. E há uma enor-me escassez destes activos ou obrigações seguras. É quase inevitável que activos financeiros arriscados sejam tomados como sendo seguros levando a uma nova crise que não será no sub-prime, mas que nasce da mesma fonte: activos in-seguros e arriscados.

BANCO CENTRAL EUROPEU E REGULAÇÃO FINANCEIRA A União Monetária só é sustentável se tiver uma união fi-nanceira e uma união fiscal mínima. Nesta união financeira e fiscal há um mínimo e um máximo. O patamar máximo é defender os Estados Unidos da Europa, mas não há desejo político para o fazer. Assim, o que permitirá que o euro sobre-viva é o que está a ser seguido pela União Bancária: sistema mínimo de garantia de depósito, de supervisão mínima e de um sistema mínimo de resgate dos bancos. Decorrente desta proposta surge a criação de duas categorias de bancos. Se é suficientemente grande deve ser supervisionado a nível euro-peu, e deve ter a garantia dos depósitos e o sistema de resgate limitadas a nível europeu. Se o banco é mais pequeno, talvez seja melhor regular a nível nacional. Em termos fiscais, o mí-nimo é a criação de uma obrigação segura, sem uma respon-sabilização colectiva e solidária dos diferentes países a relação a essa obrigação. Poderemos criar uma união fiscal mínima sem que a Alemanha tenha de pagar pelos nossos excessos e apenas possa corrigir o problema do sistema financeiro.

BANCOS DEVERIAM TER FALIDO Há um legado de enormes perdas que está sobretudo nas ba-lanças dos bancos espanhóis mas também nos portugueses, irlandeses e gregos. A política europeia definiu que os contri-buintes devem assumir onde as perdas se verificaram. Quem emprestou o fluxo de capitais, os bancos alemães e outros, têm estado isentos de absorver qualquer perda. O governo alemão decidiu assumir uma parte dessa perda, preferindo financiar directamente os nossos bancos em vez de deixar fa-lir os seus. Tal como na Islândia, devíamos ter limpo o sistema bancário, deixar que em Portugal e Espanha alguns bancos tivessem ido à falência. Teria sido melhor que as perdas que hoje temos e as dificuldades que temos em pagá-las, tivessem sido partilhadas com os credores.

CHOQUES NECESSÁRIOS PARA O PAÍS SAIR DA CRISE l Choque de gestão - gestão dos recursos humanos; qualifica-

ção de empresários; redimensionamento de empresas; substituir o modelo de protecção do emprego por uma pro- tecção ao crescimento das empresas l Choque financiamento – pouco há a fazer. Portugal depende

de reorganização da zona euro, de criação de obrigações, de união bancária.

l Choque política macro-económica – compromisso em reduzir a taxação assim que sairmos da crise. A opção não é o défice mas antes a competitividade da economia. l Modelo – ênfase na produtividade, no crescimento econó- -mico, comércio externo, nos transaccionáveis, na redução da despesa, da taxação e do défice.A aplicação de todos estes choques em conjunto vai ajudar a Por-tugal a ultrapassar esta crise.

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AS 7 RAZÕES DO NOSSO EMPOBRECIMENTO E DA DEPRESSÃO Em 2004, a Grécia e a Alemanha tinham taxas de juro a dez anos, praticamente idênticas. Houve uma convergência im-pressionante. O fluxo de capital do norte para o sul da Eu-ropa foi abundante. As taxas de juro eram baixas devido ao desaparecimento do risco de inflação e de desvalorização. Este crédito na Irlanda e Espanha foi para o imobiliário. Houve uma duplicação do preço das casas. Na Alemanha diminuiu. Em Portugal, foi para a divida pública, mas tam-bém para a família e para as empresas. Muito crédito dirigi-do ao consumo, aos não transacionáveis, à despesa pública. Pouco aos transacionáveis. Depois, ocorreu em Portugal o que os economistas chamam o “silence stop” que já sucedeu muitas vezes na América Latina. O mercado de capitais dei-xou de acreditar em determinados países e de lhes conceder financiamentos.

DÍVIDA PÚBLICA ELEVADA E O EQUILÍBRIO MÚTUO Quando a dívida pública é baixa, só há um equilíbrio. Quan-do é elevada há dois. Num mercado de capitais acredita que o país pode pagar. As taxas de juro continuam baixas. Faz-se o roll over da dívida. Depois ocorre o outro. O mercado deixa de acreditar que o país pode pagar e as taxas de juro sobem, o que acaba por levar o país para a bancarrota. A Bélgica, por exemplo, é um país que está no equilíbrio virtuoso. Tem uma dívida elevada e juros baixos. O mercado de capitais acredita que a Bélgica pagará a dívida. Portugal expôs-se a esta possibilidade do equilíbrio múltiplo porque adquiriu muita divida.

ULTRAPASSAR O PATAMAR 17/20 MIL U$D PER CAPITA É relativamente fácil a um país com muita gente na agricultu-ra e com uma população nova ter um período de crescimento. Basta deixar a indústria funcionar, adoptar algumas tecnolo-gias, dinamizar o investimento, criar mercado bancário, etc. É fácil fazer isto. Mas depois, quando se chega a rendimentos idênticos aos de Portugal, 17/20 mil U$D per capita, parece que há uma desaceleração, e tudo estagna. Portugal estava na 3ª divisão e passou para a 2ª. Para passar para a 1ª divi-são é bem mais difícil e é preciso fazer outras coisa. É preciso inovação, criar marcas, criar grandes empresas, outro tipo de capital humano, etc. Talvez isto explique uma parte da me-díocre taxa de crescimento que tivemos na última década.

EFEITO CHINA: PREÇOS E SECTORES PRODUTIVOS Ocorreu uma redução significativa dos preços reais dos bens de sectores onde a China entrou. Por exemplo, os têxteis cus-tam hoje menos 60% em termos reais do que custavam em 1979. Quando a China entra numa indústria é um problema. Nos EUA, as empresas que eram intensivas em trabalho fecha-ram as portas. As poucas que sobreviveram foram as que usa-vam pouco trabalho, mas muito capital e automatização. As outras saíram para outros sectores. Isso foi possível nos EUA devido à grande flexibilidade do mercado de trabalho. Tem um preço: a insegurança. Mas uma vantagem: a economia ajusta-se de forma relativamente fácil quando há um grande choque. Os países que têm uma estrutura industrial parecida com a China apresentam dificuldades de crescimento. Calcu-lou-se os sectores que exportam mais que a média dos países,

Professor de Finanças Internacionais, distinguido pelo Tokai Bank, na Kellogg School of Management, onde foi também dirigente do Departamento de Finanças.Investigador na área da macroeconomia e das finanças internacionais, Sérgio Rebelo estudou temas tais como as causas dos ciclos económicos, o impacto de políticas económicas no crescimento económico e o comportamento das taxas de câmbio. A sua investigação foi financiada pela Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos, pelo Banco Mundial e pelas fundações Sloan e Olin.É membro honorário da Sociedade de Econometria, do Departamento Nacional de Investigação Económica dos Estados Unidos e do Centro para Investigação de Políticas Económicas. Tem feito parte do conselho editorial de várias publicações académicas, nomeadamente a American Economic Review, a European Economic Review, o Journal of Monetary Economics e o Journal of Economic Growth.Já ganhou inúmeros prémios relacionados com o ensino na Kellogg School of Management, incluindo o Prémio de Professor Extraordinário do Programa de Mestrado Executivo e o Prémio de Professor do Ano.Sérgio Rebelo já foi consultor, entre outras organizações, do Banco Mundial, FMI, Conselho de Governadores do Sistema de Reserva Federal, Banco Central Europeu, Instituto Global da McKinsey e Instituto de Mercados Globais na Goldman Sachs. Recebeu o seu doutoramento em Economia pela Universidade de Rochester.

SÉRGIO REBELO

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identificando assim aqueles em que se tem uma vantagem comparativa. Depois analisou-se quais desses sectores coin-cidem com a estrutura dos sectores transacionáveis da China. Concluiu-se que na Itália, 59% da indústria sofre este “China effect” e Portugal 49%. As exportações portuguesas têm uma coincidência muito grande com os sectores em que a China e outros países emergentes se tornaram bastante fortes. Isso pode explicar as dificuldades.

EDUCAÇÃO/SALÁRIOS/GLOBALIZAÇÃO Estudos nos EUA demonstram que pessoas que acabaram a universidade têm tido, desde 1996, um crescimento real 3% ao ano, no seu rendimento. As que não acabaram o secundário, não tiveram aumento de salários reais nos últimos 25 anos. Os empregos potencialmente ocupados por estes estratos da população sofreram os efeitos e as consequências do outsour-cing internacional e dos mercados emergentes. As pessoas que trabalham nestas fábricas ficaram em competição com os em-pregos de países em vias de desenvolvimento. Outros foram substituídos por computadores. Essa é uma das principais ra-zões porque não tem havido aumentos salariais nestes estratos sociais. Segundo dados da OCDE, Portugal está no fundo da tabela, na percentagem da população entre 25/64 anos que acabou o ensino secundário (28%). Isto é preocupante.

QUALIDADE DA EDUCAÇÃO A qualidade da educação em Portugal não é muito má. Temos melhor qualidade que a Itália, Espanha e Grécia. Mas a renta-bilidade da educação está condicionada pelo que se passa na educação pré-primária e na primária.

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO/SISTEMA DE PENSÕES O envelhecimento da população é comum a muitos países europeus. Em 2050 a idade média da população portuguesa será de 52 anos. Metade das pessoas que estarão inseridas na economia terá mais de 50 anos. Se não houver reformas no sistema de pensões, a evolução da divida pública vai ser insustentável na maioria dos países europeus (França, Rei-no Unido, Áustria, Alemanha, etc.) e no Japão, que neste em particular, é um dos piores. Não vai ser possível manter as actuais reformas. O mercado obrigacionista não vai empres-tar esse dinheiro. O primeiro sistema de segurança social foi instaurado por Bismark, em 1889, na Alemanha, onde as pessoas podiam reformar-se quando chegassem aos 70 anos. Mas a esperança média de vida era de 45 anos. Hoje, na Alemanha é possível reformar-se aos 55 anos, e a esperan-ça de vida de uma mulher alemã é de 86 anos. O sistema de pensões está a prometer pagar mais de 30 anos. É evidente que estes sistemas precisam de reformas. Na Europa, não é possível aumentar mais os impostos. Nos EUA e no Japão são relativamente baixos. Ainda há margem. Na Europa não. A Noruega tem uma receita fiscal que representa 60% do PIB. É incomportável no futuro.

VALUE CHAIN A “value chain” é a decomposição de um preço de um bem por todas as funções que têm de ser efectuadas para o pro-duzir: concepção do produto, design, branding, produção, transporte, venda. Nos anos 60/70, o preço de um produto

de consumo era dividido de forma igual entre estas várias funções. Agora transformou-se: a produção está no meio da curva e tem um valor reduzido. Isto deriva da congrega-ção de dois factores: da abertura da China e da existência de tecnologias da informação que permite controlar à dis-tância uma fábrica na India ou no Vietname. Isto tornou a produção extremamente barata. As funções que têm agora um valor elevado são o design, o branding, a concepção, as vendas, o marketing, a distribuição. Portugal precisava de pôr muito mais enfase do que antes nos extremos da cadeia de valor.

CONSUMMER FOCUS Trata-se de vender ao cliente o que o cliente quer. É difícil de aplicar porque a maioria das empresas quer vender ao cliente aquilo que pensa que ele quer comprar. Isto decorre de um divórcio tradicional que antes ocorria das duas funções que estavam nos extremos da cadeia de valor. A penetração co-mercial da marca Moet & Chandon na China é o exemplo des-ta estratégia. Deixou de ser produzido em França e exportado para a China. Passou a ser produzido na China mas adaptan-do-o ao mercado, criando um espumante doce. A percepção que se tem do marketing do vinho português é um pouco ao contrário. Querem vender aquilo que funciona no mercado interno e de que gostam muito. Usam o mercado interno que é pequeno e idiossincrático como trampolim para o mercado externo. Em geral, isso não funciona. É preciso saber o que é que o consumidor quer mesmo comprar. Têm de escolher sempre o mesmo rótulo, visível, com vogais abertas, nomes simples de pronunciar. Há muito a fazer em Portugal neste domínio.

PRODUÇÃO E VENDA LOCAL – ATENUA RISCOS CAMBIAIS As exportações de todos os países são 9 triliões de dólares. A produção e venda fora do país de origem são 18 triliões de dólares. A tendência vai-se acentuar. Se as empresas estão a vender na Europa, produzem na Europa. Se estão a vender na Ásia, produzem na Ásia. Se vendem na América Latina, produzem na América Latina. Há a ideia que as empresas deslocalizam-se por causa de trabalho e custos mais baratos. Em parte. Mas a grande motivação para produzir localmen-te é gerir o risco cambial. Só negócios com margens brutais podem suportar diferenciais de taxas de câmbio elevadas. A única solução é produzir localmente para ter vendas e custos na mesma moeda. Será que Portugal pode criar condições para ser o local onde as multinacionais vêm produzir para a Europa, porque querem ter produção em euros?

REVERSE INNOVATION A reverse innovation é a simplificação de produtos tecno-logicamente avançados para corresponderem às necessi-dades e aspirações de estratos de populações crescentes. O mind set de maior parte do mundo é ainda tentar criar produtos complexos, cheios de possibilidades que ninguém usa ou utiliza. O reverse innovation é subtrair em vez de somar, tornando o produto mais simples e barato. É o que vai permitir vender no mercado global. Se Portugal andou há 500 anos por esses mercados, deve perceber como fun-cionam. Porque não fazer reverse innovation. Analisar um

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produto, ver o que é essencial, subtrair e vendê-lo em países em vias de desenvolvimento. A enfase vai ser dada ao preço e não ao superluxo ou ao aumento do nível de serviços. A “onda” está neste tipo de inovação, na tentativa de criar produtos baratos. Portugal, dado que não tem o número de cientistas e engenheiros de outros países, pode claramente participar nesta tendência. A General Electrics está a fazê--lo na India.

MUDANÇA DE CULTURA - PROTAGONISTAS Quando as pessoas circulam muito por outros países, quan-do regressam após anos a trabalharem noutros mercados, conseguem mudar a cultura de um país. Há estudos que o comprovam. Há tanta gente a sair do país. Mas talvez, a prazo, sejam estas pessoas a trazer uma nova força e novas ideias. Precisamos de empreendedores, pessoas que sejam capazes de gerar processos de inovação, de criar novos pro-dutos, de assumir risco.

SALTO TECNOLÓGICO EM PORTUGAL Portugal deu um salto tecnológico enorme. As universida-des mudaram incrivelmente. Há universidades com uma qualidade de ensino fantástica. Quem está fora apercebe--se. Quem está cá, não dá conta. Uma das diferenças entre Portugal e Grécia é a qualidade de aplicação de tecnologias. Portugal não tem os custos mais baixos da Europa mas é uma questão de produtividade e de standartização. Nos próximos 25 anos, o crescimento da procura virá dos países em vias de desenvolvimento. Não virá do Japão, da Europa ou dos EUA. E aqueles países não têm rendimentos mui-to elevados. Por isso temos de nos adaptar a esses países, perceber o que é que esses mercados querem comprar para podermos produzir.

REGULAÇÃO – FAZER UM CLEAN UP Na regulação, em geral, só se adiciona. Nunca se subtrai. É preciso fazer um clean up. A Europa tem muitos sistemas e regras que vêm dos anos 60 e 70. Devia-se olhar para essas regras, ver o que faz sentido e o que está apenas a aumentar o custo de produção. Temos de ter um sistema de regulação mais ágil e mais amigo de criação de emprego.

REFORMAS ESTRUTURAIS OU ACÇÕES MACRO-ECONÓMICAS? O ideal é mudar a estrutura económica. Torná-la mais pro-dutiva. Mas isso demora tempo. Há acções micro-econó-micas que as empresas podem fazer, como apostar mais no branding, por exemplo. Talvez seja possível fazê-las sem as reformas estruturais. Não podemos esperar por tudo, senão vamos estar aqui muitos anos parados. Vamos fazer primei-ro aquilo que podemos fazer e não esperar pelas reformas estruturais.

INVESTIMENTO O grande inimigo do investimento é a incerteza. Não há nada pior para matar o investimento do que a incerteza. E ainda não reduzimos a incerteza em Portugal. É importante cum-prir o programa de ajustamento para manter a credibilidade. Se um investidor não tiver a certeza que Portugal daqui a dez anos não está na zona euro, rapidamente vai investir noutro

país. Os rankings dos relatórios do Banco Mundial, podem até não medir o que verdadeiramente é importante. Mas é crucial para a percepção do investidor. Se estivermos mal colocados vamos ser preteridos. Reduzir incerteza, baixar impostos, des-burocratizar e um desenlace bem sucedido neste processo de ajustamento. É o caminho.

MODELO IRLANDÊS O modelo irlandês teve duas fases. A primeira fase de crescimento veio do outsourcing de serviços. Depois teve a “bolha” económica no mercado imobiliário. Não vamos imitar a segunda. Vamos reflectir sobre a primeira. Desre-gulamentaram, baixaram o imposto sobre o rendimento das empresas, atraíram empresas americanas. Estas exi-giam no recrutamento níveis elevados de capital humano. As pessoas investiram na educação. O governo aumentou também a qualidade das instituições. Em Portugal procu-rou-se usar a despesa pública como um motor de cresci-mento da economia. É evidente que não deu resultados. Os governos procuraram fazer “golos”. Só que o fizeram na baliza errada.

FINANCIAMENTO É extremamente difícil iniciar agora um negócio em Portugal. É muito difícil obter crédito e é um assunto que tem de ser resolvido. Mas não podemos esquecer que vivemos num perí-odo de crédito extremamente fácil. E não tivemos assim tantos casos de sucesso empresarial como poderíamos ter tido. Isto prova que o financiamento não é a solução para o problema.

CONJUNTURA ECONÓMICA – CONTRIBUTO DOS MACRO-ECONOMISTAS Portugal tem o azar de neste momento só ter cartas más para jogar. A única razoável é a carta da credibilidade. E a única que nos resta. Colocamo-nos numa situação em que precisa-mos de pedir ajuda e temos que nos sujeitar às regras. Tenta-mos cumprir o que prometemos, esperando que o exame seja um pouco mais fácil e que nos sejam dadas condições, me-lhorando as condições do programa. Os macro-economistas não nos dão grandes ideias sobre como Portugal vai sair da actual situação, excepto exprimir uma certa esperança que Portugal possa fazer o impossível. Do ponto de vista micro--económico parece que há muito para se fazer. Os homens do marketing dizem que Portugal tem bons produtos mas não tem um marketing tão bom como os produtos. Há necessida-de de vender melhor o que já fazemos. Talvez se possa fazer melhor na concepção, design, branding e na distribuição. Talvez possa haver uma melhoria do foco no consumidor, percebendo melhor o que os outros mercados querem. Tal-vez possamos atrair mais multinacionais. Talvez possamos iniciar o processo de inovação ao contrário.

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ACTUALIDADE EMPRESAS

l Quidgest, empresa tecnológi-ca 100% portuguesa, criada em 1988, é o maior produtor de sof-tware empresarial de origem na-

cional. Entre outros prémios e distinções é Microsoft Gold Certified Partner e integra a rede de PME inovadoras da COTEC.

Com mais de 200 sistemas de informa-ção em produção, a Quidgest foi pioneira em Portugal na informatização da Admi-nistração Pública e na racionalização da prestação de cuidados de saúde, com a prescrição electrónica de medicamentos da Portugal Telecom. Complementando o desenvolvimento de software, os serviços da Quidgest vão desde a consultoria de ne-gócios e definição de procedimentos até à formação, certificada pela DGERT, e à ma-nutenção técnica evolutiva dos sistemas instalados, continuamente actualizados.

No panorama internacional, destaca-se o fornecimento ao Governo de Timor-Leste do sistema de gestão de todos os recursos humanos da Administração Pública através do Programa das Nações Unidas para o De-senvolvimento, ou ao município de Maputo do sistema de gestão municipal SIGEM.

É uma empresa ética e socialmente res-ponsável. Tem protocolos com instituições de ensino superior para divulgação de co-nhecimentos junto dos estudantes e utili-zação livre do seu software em ambiente académico.

A tecnológica portuguesa, com sede em Lisboa, está presente na Alemanha, No-ruega, Timor-Leste, Moçambique, Angola, Macau e El Salvador e em 2013 pretende re-forçar a sua presença nos EUA e no Brasil.

A empresa actualmente com 80 funcio-nários vai reforçar os seus quadros, com um concurso a decorrer até ao final do ano, para o preenchimento de 40 vagas. O concurso corresponde à estratégia de crescimento da Quidgest para 2013, a nível nacional e inter-nacional - particularmente em países como os EUA, Macau, Alemanha e Brasil.

A Quidgest prevê entrar este ano na bolsa alemã, para aumentar a sua visibilidade no mercado internacional.

Quidgest reforça presença nos Estados Unidos e no BrasilTecnológica abre concurso para preenchimento de 40 vagas, a fim de responder a estratégia de crescimento para este ano

CLIPPINGTetraedro avança para Moçambique e Angola com parcerias locaisTECNOLOGIA. Serviços prestados no estrangeiro em, 2013 podem valer cerca de 30% do volume de negócios. A internacionalização é algo natural para uma empresa como a Tetraedro, já que os serviços de ‘hosting’ não conhecem frontei-ras, descreve o presidente executivo da empresa, António Belém, ao Diário Económico. Nesse sentido, a tecnológica já está a preparar a sua presença em “Angola e Mo-çambique através de parcerias com empresas locais”, acrescenta este responsável. O volume de negócios da Tetraedro duplicou em 2011 face a 2010, tendo-se aproximado dos 200 mil euros. Para 2012, António Belém espera um crescimento acima de 25% face ao ano anterior. (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Somague ganha obra em Moçambique CONSTRUÇÃO. A Somague conti-nua a reforçar a sua presença em território moçambicano. Obteve agora um contrato para a conces-são e a construção de um a nova unidade hoteleira, na cidade de Maputo. (IN VIDA ECONÓMICA)

Piso da Siemens consolida aproximação da Amorim aos transportesCORTIÇA. Depois dos autocarros de turismo e dos comboios de muito alta velocidade, o metropolitano é o terceiro meio de transporte utilizado pela Corticeira Amorim para capitalizar as potencialidades da cortiça neste sector. Através da subsidiária Amorim Cork Composi-tes, a empresa liderada por António Amorim desenvolveu um piso de cortiça 30% mais leve para o metro de última geração da Siemens, que começará a circular este ano na Polónia. (IN JORNAL NEGÓCIOS)

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A equipa da Quidgest no Q-Day 2012, o congresso anual da empresa (FOTO: D.R.)

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Portucel exporta 95% da pasta e papelPAPEL. O Grupo Portucel atingiu máximos históricos no volume de produção e vendas durante o ano passado. A empresa que exporta 95% da produção de pasta e papel, fechou o exercício de 2012 com um resultado líquido a subir 7,6% em termos homólogos, para os 211,2 milhões de euros, tendo reforçado a presença no mercado europeu. As vendas da empresa ultrapassaram os 1500 milhões de euros, enquan-to o EBITDA se manteve estável nos 385,4 milhões de euros.(IN OJE)

Jerónimo Martins cria nova marca Ara para abrir lojas na Colômbia RETALHO. O grupo pretende investir 400 milhões de euros nos próximos três anos no país. O objectivo é chegar a 2015 com 150 lojas da nova marca colombiana. (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Jerónimo Martins entre os 100 maiores grupos de retalho do mundoRETALHO. Dona do Pingo Doce subiu cinco posições no ‘ranking’ global da Deloitte. (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Vista Alegre cria parceria com marca de luxo Christian LacroixLOIÇAS. A Vista Alegre Atlantis (VAA) e a marca de luxo francesa Christian Lacroix anunciaram on-tem uma parceria que vai permitir ao grupo português de porcelanas reforçar o processo de internaciona-lização iniciado há dois anos. (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Douro Azul contrata 222 trabalhadores

TURISMO. A Douro Azul, liderada por Mário Ferreira, anunciou a

constituição de 222 vagas de trabalho para diversas áreas, como a hotelaria, náutica, manutenção entre outras. A empresa conta com cinco navios-hotel e vai inaugurar, em Março, duas novas embarcações, além de ter auto-carros de luxo. (DIÁRIO ECONÓMICO)

Compta distinguida pelo Eco-Innovation Observatory PRÉMIO. A Compta acaba de ser distinguida pelo Eco-Innovation Observatory com o título “Good Pratice Portugal”. O reconhecimento deste observatório especializado da Comissão Europeia deve-se à inovadora solução de gestão de resíduos Compta, com a qual a empresa portuguesa fora já distinguida, em 2012, no âmbito do Green Project Awards Portugal. (IN VIDA ECONÓMICA)

Grupo Lena inaugura segunda fábrica de pré-fabricados na Venezuela CONSTRUÇÃO. A unidade localiza--se em Ocumare del Tuy e tem uma capacidade instalada para a construção de 14 edifícios por mês (280 apartamentos). (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Vila Galé investe 1,5 milhões para remodelar unidades em PortugalTURISMO. O grupo português Vila Galé aposta na modernização de alguns dos seus hotéis em território doméstico, num investimento que ascende aos 1,5 milhões de euros. (IN OJE)

Secil exportou mais de metade da produção de cimento em 2012CIMENTO. “A Secil tem-se dire-cionado nos últimos anos para a

actividade exportadora, com um recorde de 1,47 milhões de tone-ladas em 2012, o que representa mais de metade da sua produção em Portugal”. (IN ECONÓMICO)

CH Business Consulting é a melhor empresa para trabalhar em PortugalTECNOLOGIA. Depois do ano passa-do ter ocupado o segundo lugar do “ranking” das melhores empresas pra trabalhar em Portugal, elabora-do pela revista “Exame”, este ano conseguiu a liderança. (IN VIDA ECONÓMICA)

Manuel Santos Vitor é o novo Managing Partner PLMJDIREITO. A PLMJ, Sociedade de Advogados aprovou um novo modelo de governance para o tri-énio 2013/2015, elegendo como Managing Partner Manuel Santos Vítor, função na qual é apoiado por um Conselho de Adminis-tração alargado sem funções executivas. Esse Conselho integra como Chairman Luís Sáragga Leal e ainda José Miguel Júdice, Nuno Líbano Monteiro, Jorge Brito Pereira e Tomás Pessanha.

Unicer investe na modernização da operação industrial das cervejasBEBIDAS. Investimento de 80 M€ na consolidação em Leça do Balio das operações de produção e enchimento. A Unicer vai iniciar um processo de consolidação da sua operação industrial no negócio das cervejas no Centro de Produção de Leça do Balio. Este projecto integra um programa global de expansão e modernização daquela unidade que envolve um investimento de, aproximadamente, 80 milhões de euros. (COMUNICADO DE IMPRENSA)

European Business Awards PRÉMIO. A excelência empresarial da Delta Cafés é reconhecida mais uma vez desta feita no European Business Awards (EBA) como finalista na categoria importação/exportação. Os EBA foram criados em 2007 e destinam-se a premiar as empresas e negócios que, em toda a Europa, se destacam pelo seu carácter inovador. (IN SITE DELTA, NOTÍCIAS)

DAI aposta no gás para cortar custosAMBIENTE. Investimento de 1,3 milhões de euros permitirá à fábrica da DAI – Sociedade de Desenvolvimento Agro-Industrial usar gás natural em vez de fuel e poupar mais de um milhão por ano em energia. As 100 mil toneladas de açúcar que anualmente saem da fábrica da DAI, em Coruche, poderão não ficar mais doces, mas irão a partir deste ano tornar-se ambientalmente mais limpas. (…) A reconversão do sistema de coge-ração da DAI é um projecto da EDP, que o entregará à refinadora de açúcar em meados deste ano. (…) Na planície ribatejana a conjuntura amarga é agora combatida com açúcar amarelo.

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PROGRAMAS DE APOIO A EMPRESAS

Numa fase em que todos enfatizamos a importância do crescimento das nos-sas exportações é fundamental que os sectores transacionáveis contem com empresas de bens e serviços de suporte, normalmente direccionados para o mer-cado interno, mais fortes. A economia é um sistema de vasos comunicantes e rea-lidades empresariais internas mais com-petitivas são um factor de alavancagem do país como um todo.

Na implementação do Portugal Sou Eu, a AIP conta, neste momento, com a cola-boração das associações empresariais na qualidade de parceiros dinamizadores regionais – Aerlis, Aida, Airv, Nerba, Ner-vir, Nerga, Nercab, Nerlei, Nersant, Ner-por, Nerbe, Nere, Nera, e também secto-riais como a Fata e a Adereminho – para o apoio à realização de diversas atividades:

Mobilização das empresas para ade-

são ao selo Portugal Sou Eu; Participação na acção de coopera-

ção empresarial “ Grandes Empresas com...” onde se pretende gerar a apro-ximação destas a grupos de PME for-necedoras nacionais;

Promoção da adesão da rede de reta-lhistas à compra de sortidos de produ-tos com selo Portugal Sou Eu;

Promoção do programa junto de es-colas profissionais das regiões com o objectivo de gerar junto dos jovens uma cultura a favor do que é produzi-do em Portugal;

Promoção da participação conjunta das empresas da região em eventos colectivos nacionais ou regionais de promoção da marca Portugal Sou Eu;

Participação em acções indirectas de comunicação do programa.

A actividade de mobilização de aderen-tes ao selo durante o mês de Fevereiro e Março contou com um roadshow em 14 regiões sob o lema “Criar Valor Consumir Português”.

Estiveram presentes nos painéis re-presentantes de entidades regionais, sectoriais, clusters e personalidades do mundo académico e empresarial de for-ma a gerar uma mais ampla divulgação do programa em rede. Nestes workshops participaram mais de 600 empresas, sen-do 40% a taxa de inscrição para adesão ao selo. Foram relevados vários aspectos (ver em https://www.aip.pt):

“Chegou a hora de conceber um projeto e ações que dinamizem a produção nacional para substituir importações e aumentar o valor acrescentado interno nas exportações. A AIP vai focalizar o seu trabalho junto das empresas e ajudar a criar as condições de competitividade das PME. É uma das mais importantes iniciativas que vamos prosseguir e que passa por promover a relação entre as grandes empresas e PME fornecedoras, apoiando-as na pré-qualificação e nos encontros de promoção de negócios.”José Eduardo Carvalho,na apresentação do programa “Portugal Sou Eu”

O programa “Portugal Sou Eu”, lançado pelo Ministério da Economia no dia 13 de Dezembro de 2012, promove a valorização de produtos produzidos em Portugal, intermédios e finais, com elevada incorpo-ração nacional (igual ou superior a 50%).As dificuldades decorrentes da quebra drás-tica do consumo interno levaram à criação de um programa que contribuísse para minorar os efeitos dessa situação, apelando ao lado mais emotivo e solidário do consu-midor na preferência por bens produzidos em Portugal, mas também ao lado mais racional, já que comprar produtos portu-gueses contribui, no futuro, para reduzir o défice estrutural da nossa economia. Pretende-se que uma fatia maior do consumo nacional contemple produtos nacionais que são tão bons em qualidade, preço e inovação como os outros. A marca umbrela “Portugal Sou Eu “ será um sinali-zador e um estímulo ao orgulho nacional e à promoção de um coletivo mais forte que ajude a vencer os desafios que a sociedade atualmente enfrenta e tornar as nossas empresas e o nosso país mais competitivo.

Portugal Sou Eu

ESTIMA-SE QUE O SELO PORTUGAL

SOU EU CONTRIBUA EM PELO MENOS € 700 M

ANO PARA A BALANÇA COMERCIAL

ESTIMA-SE QUE CADA 1% DE AUMENTO

DE VENDAS COM INCORPORAÇÃO NACIONAL CONTRIBUA PARA 0,2% -

0,7% DE AUMENTO DE EMPREGO

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JANEIRO/MARÇO 2013 NOME DA REVISTA 02

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PROGRAMAS DE APOIO A EMPRESAS

l Associação Industrial Portu-guesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI) e a Con-federação Portuguesa da Cons-

trução e do Imobiliário (CPCI) assinaram um acordo para o desenvolvimento de ações conjuntas para os próximos anos, com foco na regeneração urbana e na in-ternacionalização no setor da construção.

O protocolo foi assinado no decorrer da conferência “As Empresas a Rege-neração Urbana”, no Porto, no dia 21 de março, perante 482 empresas do setor da construção.

A parceria tem como objetivo criar va-lor para as empresas nas oportunidades existentes no mercado da regeneração urbana e o desenvolvimento de ações de internacionalização na abordagem a novos mercados, ou que potenciem o crescimento nos países já consolidados.

Um dos primeiros projetos a desenvol-

ver no âmbito desta parceria é o ReUr-be, que aguarda a decisão do QREN e que procurará superar as falhas de mer-cado que inviabilizam a concretização sustentada de investimentos na reabi-litação urbana, promover a inovação e desenvolver parcerias com os municí-pios e contribuir para a dinamização do mercado da reabilitação urbana e, assim, para o crescimento económico e o emprego nas empresas.

Na área da internacionalização, o tra-balho a desenvolver vai partir da pre-missa de que é necessária uma conju-gação associativa para concertar ações colaborativas na abordagem a proces-sos de internacionalização, e que as as-sociações empresariais deverão liderar e implementar a criação de Acordos Complementares de Empresas (ACE), fusões e aquisições, bem como outras formas de cooperação, contribuindo para o redimensionamento empresarial e a criação de escala para o crescimento.

A AIP e a CPCI comprometem-se ainda a ajustar ações e propostas para otimizar e facilitar o acesso das empresas no setor da construção ao futuro QREN (2014-2020), nas áreas consideradas prioritárias, a re-generação urbana e a internacionalização.

A elevada qualidade dos produtos por-tugueses, particularmente na agroindús-tria, e a necessidade de um marketing mais agressivo e maior capacidade nego-cial dos produtores para a afirmação no mercado nacional e internacional;

A necessidade das empresas terem estratégias e modelos de negócio que permitam o acesso a recursos produ-tivos no território, que lhes garanta a sua sustentabilidade;

A excessiva regulamentação que asfi-xia muitos sectores de actividade difi-cultando a concorrência com produtos estrangeiros e a grande dificuldade em conseguirem fazer agrupamentos para exportação e assim reduzirem os custos;

A dificuldade de acesso a matérias-pri-mas obrigando ao recurso à importação pelo que os objetivos de maior incorpo-ração nacional passam por estímulos ao empreendedorismo, a novos processos de reindustrialização e a uma relação virtuosa entre os sectores e fileiras.

A boa operacionalização do Programa e das Iniciativas do Portugal Sou Eu é asse-gurada por um Órgão Operacional com-posto pela AEP, AIP, CAP e liderado pelo IAPMEI.

AIP e CPCI assinam acordo para projetos conjuntos na Regeneração UrbanaAs duas entidades irão conceber e executar ações que dinamizem a procura no setor da construção

O SELO

A

Manuel Reis Campos e José Eduardo Carvalho rubricam o protocolo na presença de Sérgio Monteiro, secretário de Estado de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (FOTO: D.R.)

O selo Portugal Sou Eu é atribuído a produ-tos agrícolas e industriais de empresas que estejam a cumprir a legislação necessária ao exercício da actividade e com situação regularizada face a administração fiscal e à segurança social. Prevê-se a extensão do selo ao artesanato e aos serviços

TOTAL DE INCORPORAÇÃO NACIONAL (TIN)

30%

50%

CRITÉRIOS ADICIONAISEMPREGOPROPRIEDADE INDUSTRIALVAB | V. NEGÓCIOS (MÁX. 20%)

- DOP. DENOMINAÇÃO DE ORIGEM PROTEGIDA

- IGP – INDICAÇÃO GEOGRÁFICA PROTEGIDA- PRODUTOS COM ROTULAGEM DE ORIGEM

OBRIGATÓRIA(PRODUTOS DE ACESSO DIRECTO)

O CÁLCULO DA TIN DECORRE DOS DADOS CONTABILÍSTICOS DAS EMPRESAS

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JANEIRO/MARÇO 2013 NOME DA REVISTA 02

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EMPRESA EM DESTAQUE SICASAL

l postar na inovação tecnológi-ca e nos métodos de trabalho para produzir de acordo com as necessidades dos mercados, e

seguir uma política de recursos humanos “amigável”, baseada na gestão da carreira dos colaboradores. Ingredientes que colo-caram a Sicasal no “pelotão da frente” da indústria de carnes em Portugal. Será “ma-gia”? Álvaro Santos Silva, 73 anos, é quem lidera a empresa há 44 e quer partilhar a sua “receita”: “Como português tenho a obrigação de lembrar ao país a minha ir-reverência”.

Esta é a história de uma empresa familiar de Vila Franca do Rosário, em Mafra, “cem

por cento” portuguesa, protagonizada por um homem com espírito empreendedor que marcou uma nova era da indústria em Portugal.

Em 44 anos, Álvaro Santos Silva, filho de agricultores, transformou os dez contos – em moeda antiga –, que investiu inicial-mente no negócio, num volume de factu-ração anual que oscila entre os 90 e os 100 milhões de euros, e aumentou o número de trabalhadores de 12 para os actuais 650.

A Sicasal abate dois mil porcos por dia e lança para o mercado semanalmente 500 toneladas de carne processada (como sal-sichas, fiambre e enchidos) e 500 toneladas de carne fresca. Canaliza 40 por cento do que produz para a exportação e para um vasto conjunto de países dos diferentes continentes, desde Angola à China.

Sociedade Mota & Silva foi o nome inicial da fábrica, que surgiu ainda na década de sessenta. Os apelidos dos dois sócios no negócio deram origem à Sicasal-Socieda-de Industrial e Comercial de Avicultura e Salsicharia, Lda., que, mais tarde, se trans-

formou em sociedade anónima (Sicasal-Indústria e Comércio de Carnes, SA).

Álvaro Santos Silva recorda outros mar-cos assinaláveis na vida da empresa. O “Ve-rão quente” de 1975, quando uma comissão de cinco operários tentou afastá-lo da ge-rência: “Disse que saía, mas com a condição de os empregados continuarem a receber o ordenado, caso contrário, abato-vos! Passa-do pouco tempo, um plenário de trabalha-dores acabou por saneá-los, mas a eles…”.

O abastecimento às Forças Armadas de Angola, durante a guerra civil, teve os seus momentos áureos: “Nunca deixei de for-necer aquele mercado, mesmo correndo alguns riscos naquele tempo. As tropas precisavam de comer. Mas todos acaba-vam por usufruir.”

O incêndio que, em 15 de Novembro de 2011, devastou parcialmente as instalações – cerca de nove mil metros quadrados – é outra etapa incontornável da vida de uma empresa e do seu presidente que nunca voltou as costas aos “acidentes de percur-so”. “Criar oportunidades nas dificuldades”

Com o “ADN” da Sicasal“Criar oportunidades nas dificuldades” é o lema de Álvaro Santos Silva, líder da empresa portuguesa há já 44 anos

A

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BI DA EMPRESASEDE: Fábrica em Vila Franca do Rosário, MafraACTIVIDADE PRINCIPAL: indústria alimentar; abate e transformação de carnede suíno; comercialização sob a forma de carne fresca e produtos transformados (salsichas e enchidos)N.º DE TRABALHADORES: 650ÁREA OCUPADA: 50 mil m2PRODUÇÃO SEMANAL: 500 toneladas de carne fresca; 500 de carne processadaExportação: 40% da produção MERCADOS: cerca de 12, com Angola à cabeça; PALOP, China, Rússia, Canadá, Japão, UE, Suíça e outrosVOLUME DE FACTURAÇÃO: 96,3 milhões de euros, em 2011, ano do incêndio; menos 7%, em 2012; 20% mais, já no 1.º trimestre de 2013

é o lema do líder, partilhado por cada um dos membros desta “família”, como Álvaro lhe prefere chamar, muito numerosa.

A resposta ao fogo foi prontamente dada com o projecto “Renascer”, um plano de recuperação e reorganização, cujo investi-mento total atingirá os 20 milhões de eu-ros, num período de dois anos, aumentará as instalações e “duplicará, no mínimo, a capacidade de produção”.

A fábrica não parou, “patrão” e emprega-dos permanecem unidos. Quatro décadas depois, o voto de confiança a Álvaro Santos Silva ficaria assinalado por uma mega-fes-ta-surpresa preparada pelos funcionários para homenagear o empresário que lhes salvou os postos de trabalho.

ARRANQUE NA AVICULTURA INDUSTRIALA Sicasal “nasceu de alguém que vem do Ultramar”, onde serviu na guerra de Ango-la, nos anos sessenta (integrou a 174.ª de Caçadores Especiais, nos Dembos), recor-da Álvaro Santos Silva, “chega a Portugal e diz: agora, tens de fazer alguma coisa…”.

Sem prática no sector, valeu-se, como lembra, da sua “intuição” e de “algum tra-quejo de andar pelo mundo”: “Tinha, na al-tura, 24 anos e acabado de regressar de Áfri-ca com dez contos. Pedi a um amigo mais dez. Nessa altura, tinha arrancado em Por-tugal a avicultura industrial. Foi por aí que comecei, pela produção de frangos na zona da Ericeira, Torres Vedras e Mafra, onde sempre desenvolvi a actividade. Passava por criar algumas instalações minhas, mas de-pois transferia o conhecimento a terceiros”.

Álvaro Santos Silva acaba por juntar o seu negócio de aves ao do sogro, que se dedicava ao abate de porcos e ao fabrico de salsichas.

Incansável na procura de novos desa-fios, descobre, nas viagens que faz a paí-ses mais avançados no sector como Ale-manha, França, Dinamarca e Espanha, que “podia entrar na área da suinicultura, com o abate e a transformação de car-nes”: “Nessa altura, e de alguma forma, fui pioneiro. Por vezes, é uma vantagem não conhecer o negócio… Em Portugal, re-pugnava-me ver os porcos a serem mortos com uma faca, a sangue frio. Na indústria alemã e francesa, por exemplo, não eram abatidos de forma tradicional, mas antes pelo sistema de atordoamento. As carca-ças dos porcos já não eram transportadas às costas, sujando a roupa, mas sim atra-vés de um sistema elevatório. As salsichas e os chouriços também já não eram feitos à mão, mas sim enchidos por máquinas automáticas a vácuo. Comecei a comprar os equipamentos que alteravam as regras que existiam no país e adquiri o terreno onde estamos, 40 hectares. Chamaram-me utópico e perguntaram-me onde é que ia vender o que produzia”.

A visão estratégica de Álvaro Santos Silva conduziu a um aumento considerável na produção, no início da década de oitenta. Rapidamente atingiria os mil porcos por dia abatidos e transformados. A concor-rência “não conseguia aproximar-se deste número”. “Era uma loucura!...”, recorda com entusiasmo.

Nos anos noventa, a Sicasal foi pioneira também no lançamento da chamada “em-balagem em atmosfera protectora”, fruto das necessidades e exigências dos consu-midores, que se mostravam menos inte-ressados pelos enchidos, preferindo antes as mortadelas e os fiambres, entre outros.

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EMPRESA EM DESTAQUE SICASAL

O projecto “Renascer” trará novas van-tagens competitivas à Sicasal? Preten-de revolucionar o sector?

Pensávamos que num ano teríamos o projecto concluído, mas tal não é possível. As infra-estruturas de base estão conclu-ídas, mas tive de optar por fazê-lo por fa-ses, de modo a não prejudicar a produção. A fábrica está a trabalhar como antes, mas estamos ainda a estabilizar toda a reorga-nização da empresa. Agora precisamos de afinar todo o modelo de gestão. Em simul-tâneo, vamos cumprindo as formalidades necessárias, desde o ambiente aos vários licenciamentos. Espero que não demore muito tempo, pois trata-se de decisões multidisciplinares.

Penso que sim, que será outra fase. Tra-ta-se de apostar na tecnologia e nos méto-dos de trabalho para produzir os produtos de acordo com o mercado que está à nossa frente e perspectivar um pouco o que vai acontecer daqui a dez anos. Equipamen-

to e instalações. Na exportação, temos de olhar para os sistemas de conservação.A produção aumentará consideravel-mente?

A Sicasal poderá atingir o dobro, quer no abate quer na produção. No mínimo. Não é nenhuma utopia. Com outro tipo de qua-lidade e uma estrutura abrangente a no-vos mercados. Instalar equipamentos de maneira a diversificar e ter a possibilidade de tanto vender para o Japão como para a China, por exemplo, que têm gostos e con-sumos diferentes. Mas qualquer linha de produção que se faça exige massa crítica, pessoas com formação específica, a traba-lhar com dignidade para poderem produzir bem. Pela força das circunstâncias temos que nos “englobar”. O primeiro povo a fazer a globalização foi o português, na época dos Descobrimentos. Na altura, não seriamos tão obrigados mas agora somos!...E em termos de exportação?Sim, temos boas perspectivas de cresci-

mento. Podemos considerar que o mercado nacional está estabilizado. Felizmente que vivemos num mundo globalizado, o merca-do é o mundo e Portugal tem possibilidades de crescer nas vendas, se quiser trabalhar. Talvez mais nuns sectores do que outros. Como português, tenho a obrigação de lem-brar ao país a minha irreverência.Tem propostas concretas?

O futuro passa por andarmos lá fora. Índia, países asiáticos, Brasil, estão a cres-cer, a própria Rússia não está a sofrer com a crise, a China é aquilo que se vê e Angola cresce bastante. Não nos vamos prender com esta parte do mundo [Europa] onde tem de haver um realinhamento da forma de pensar, raciocinar e de encarar o mun-do para que se passe a fazer uma gestão de acordo com a realidade de hoje.

Antes, aqueles países vinham a Portugal comprar os produtos, agora vêm comprar as máquinas e, depois, mandam-nos o pro-duto feito, desde as camisas até ao mármo-re!... Alguma coisa tem de acontecer. Onde estão os empregos? Uma fábrica de têxtil ou uma de mármore fecha e ficam as em-presas comerciais. Isso vem dar suporte ao raciocínio de que não temos de estar pre-ocupados em sermos um país pequeno. Porque temos é que ser bons vendedores e vender o que temos. Desenvolve investigação, nomeada-mente, com universidades ou outros parceiros do sector?

Para além de termos ligações com uni-versidades temos também seguido outras práticas, como auscultar as pessoas do “métier”, três ou quatro fabricantes de determinado equipamento, produto ou matérias-primas. Temos a possibilidade de ganhar muito tempo para desenvolver ou ampliar, por exemplo, uma fábrica. Por-que, a investigação pura e simples é muito custosa e tarda muito a chegar. Se temos de avançar em pouco tempo – e três anos é pouco tempo – teremos de ter uma situa-ção mista para fazer o contraponto. Mista, porque tem a vantagem de, pelo menos, poder fazer o contraditório. Enquanto a universidade ainda está a investigar, o fabricante de equipamento, de acondicio-namento ou de matérias-primas já pode es-tar um pouco mais avançado. Porque são pessoas que conhecem o produto. Têm que estar um pouco mais à frente. Qualquer português, em qualquer parte do mundo,

ÁLVARO SANTOS SILVA “ATINGIR O DOBRO DA PRODUÇÃO NÃO É NENHUMA UTOPIA”

O presidente do conselho de administração da Sicasal acredita que a empresa poderá ultrapassar as expectativas com o projecto “Renascer”, concebido após o incêndio que, em 2011, devastou parte das instalações da fábrica.

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se quiser ter dinamismo e “apanhar o com-boio” no tempo certo, tem de ter esta visão e este relacionamento.A produção de suínos entra nesse con-ceito, não é verdade?

Sim. Temos duas fases distintas. Antes, havia mais produção. Em Leiria, Montijo, Alentejo… Comprávamos, transformáva-mos, vendíamos. Não tínhamos outras pre-ocupações. Depois, o negócio foi evoluin-do. O conceito de engordar porcos também mudou completamente. Começou por ha-ver interesse em desenvolver uma genética diferente, o conceito do porco magro em vez de gordo, os porcos estandardizados. O espírito é o mesmo, mas sentimos a neces-sidade de arranjar granjas de multiplicação para ter a genética garantida por nós. Fize-mos uma empresa de reprodutores com ho-landeses e com espanhóis. Entregamos aos reprodutores a nossa genética, para termos os porcos que precisamos, com a qualida-de que queremos. Criamos condições para

outros também ganharem dinheiro. Se eles ganham, temos, à partida, o nosso negócio assegurado. Temos a matéria-prima e todas as condições. Só precisamos de levar a ali-mentação ao consumidor. Todo o negócio da Sicasal assenta nestes princípios.A gestão de recursos humanos da Sica-sal é um dos factores de diferenciação? Em que medida?

Sim, a par do planeamento. Estar à frente é saber o que amanhã vai acontecer e ter tudo preparado para o sucesso dos recur-sos humanos e do equipamento. Caso con-trário, será um fracasso. Todo o modelo de gestão da Sicasal assenta nas simulações. Depois, confirmar se está certo e corrigir o que estava errado. A seguir, o afinar, tra-balhando também os imprevistos. Não é em cima do acontecimento, não funciona assim na Sicasal. Isso põe-me nervoso e eu sou normalmente tranquilo. Voltemos aos recursos humanos. Uma empresa tem que ter equipas com vontade de lutar e ter

gosto pelo que estão a fazer. Por exemplo, faço a gestão da carreira dos colaboradores, independentemente da sua categoria pro-fissional. Todos são importantes. Quando temos uma vaga, primeiro, vamos “apa-nhar” na empresa a pessoa que já cá está e conhecemos. Damos-lhe uma oportunida-de. O novo colaborador, que não está ainda testado, entra primeiro no sistema. Há-de revelar-se.Esta é uma gestão à luz dos princípios da “família Sicasal”? O que é que isso significa?

A alegria de ter, pelo menos, mais uma pessoa. Bem-vinda à “família Sicasal”! Manifestar-lhe amizade sincera. Desde o primeiro momento em que pisa o chão da fábrica, já estou a torcer pelo sucesso dela. É verdade! A “família” fica maior, há a con-vicção de que a pessoa vai estar feliz por-que vai realizar-se. Poderíamos dizer que é quase uma “magia”, mas tem de haver uma amizade. Temos de gostar das pessoas.

“APOSTAR NA TECNOLOGIA E NOS MÉTODOS DE TRABALHO PARA PRODUZIR OS PRODUTOS DE ACORDO COM O MERCADO QUE ESTÁ À NOSSA FRENTE E PERSPECTIVAR UM POUCO O QUE VAI ACONTECER DAQUI A DEZ ANOS.”

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OPINIÃO JOÃO SALGUEIRO

As estratégias empresariais configurando novas res-postas, têm particular re-levo nos sectores de bens e serviços transaccionáveis. Praticamente esgotadas as capacidades pré-existentes,

a exportação estará agora mais dependen-te de avanços estruturais. Estará, assim, condicionada pelo enquadramento que o País seja capaz de oferecer para estímulo da iniciativa empresarial.

Em Maio de 2011, o País reconheceu, com o pedido de ajuda internacional, o fracasso do modelo anterior que, apesar de sucessivos avisos e alertas, continuava a agravar o nosso endividamento exter-no. Por tempo demasiado, quis-se acre-ditar que a criação de novos empregos, a sobrevivência das empresas e o próprio alargamento da base tributária poderia ser conseguido com o aumento da des-pesa pública e deficits orçamentais sis-temáticos. Com a falência desse modelo, tornou-se clara a necessidade de novas orientações.

No quadro actual das relações políticas e económicas internacionais, um novo modelo económico só pode assentar na valorização dos mercados externos e da capacidade nacional de afirmação no espaço global. Depende, pois, do encora-

Urgência de enquadramento motivador do investimento produtivo

jamento do investimento produtivo e só pode encontrar resposta na maior capa-cidade de concorrer em mercados abertos e conquistar avanços competitivos. Assim tem acontecido nos Países que registam melhores progressos económicos, em si-tuações muito diversas e em diferentes continentes – como a Alemanha ou o Lu-xemburgo, a República Popular da China ou Singapura. Em comum apresentam práticas consistentes, que permitem o es-tímulo e o sucesso na captação de novos empreendimentos. Boas práticas, aliás reconhecidas como necessárias entre nós desde o IV Governo Constitucional, em 1978, sempre urgentes mas sempre adia-das: justiça em tempo útil, fiscalidade amigável, desburocratização, formação profissional exigente, mobilidade dos factores.

É agora indispensável analisar, com rigor e realismo, as alternativas ao nosso alcance, de modo a configurar uma estra-tégia mobilizadora e também as medidas necessárias à sua construção, ajustando o nosso desempenho às lições que a expe-riência pode fundamentar e à evolução do quadro internacional.

O ajustamento é, hoje, certamente mais difícil do que anos atrás: quando vigorava melhor conjuntura europeia; quando ain-da não tínhamos de suportar o incompor-tável agravamento dos juros da dívida; e quando os nossos activos registavam bem maior valorização. Mas não é descartável a urgência das respostas. Ajustamentos adiados conduzem a continuada acumu-lação de mais dívida, a menor credibilida-de e ao protelamento dos novos investi-mentos. Condicionam a criação de novos empregos, a sustentabilidade da política social e a captação de investimentos pro-dutivos.

Face à UE, Portugal é inevitavelmente “price-taker” perante o enquadramento externo e não podemos adiar as nossas respostas aos desafios existentes, aguar-dando um quadro comunitário mais fa-vorável. Devemos certamente defender a reconfiguração das estratégias europeias para substituir a culpabilização das di-ferenças nas estruturas produtivas dos Países Membros pelo reconhecimento da prioridade central do desenvolvimento e

Assistimos actualmente em Portugal a uma profunda reconversão empresarial com reforço das prioridades exportadoras, avanços nas cadeias de valor, inovação de produtos e de mercados. Tem lugar em circunstâncias difíceis, face às limitações financeiras decorrentes da imposição de desalavancagem bancária e face, também, ao arrefecimento da conjuntura europeia, que afecta alguns dos nossos mercados mais relevantes.

BRUNO SIMÃO/JORNAL DE NEGÓCIOS

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das suas exigências face à concorrência global não equitativa. Mas, na ausência de novos apoios externos que possibilitem o relançamento da despesa nacional, o ajustamento estrutural depende da nossa capacidade de expandir as exportações e de conter a propensão marginal das im-portações. Reconhecer e valorizar o papel das actividades exportadoras é a condição de sucesso da nossa política económica - e também da política social e da criação emprego.

O estímulo à exportação e a rápida ex-pansão da capacidade produtiva podem assentar em maior escala nas empresas que têm revelado melhores sucessos nos mercados externos, generalizando e po-tenciando as suas realizações. Por um lado, fomentando subcontratação - a PME’s e a empresas ainda centradas no mercado interno - com maiores volumes de produção a colocar nos mercados exte-riores. Por outro lado, encorajando traders capazes de valorizar o potencial produti-vo nacional, com progressos na escala de valor, novas marcas, novos designs ou melhor relação internacional. Com as ne-cessárias reconfigurações, é ainda signifi-cativo o potencial exportador de diversos sectores industriais - e também de activi-dades no sector primário, como as frutas e os legumes, que sendo de ciclo anual apre-sentam rápida capacidade de resposta.

A situação concreta da grande maioria dos nossos sectores carece, sem dúvida, de respostas efectivas quanto aos equi-líbrios financeiros e ao enquadramento fiscal. Além dos problemas de crédito, assume prioridade a recapitalização das nossas empresas que são, no espaço da UE, as que evidenciam, nos seus balanços, maior recurso ao crédito bancário. Mas para além de financiamento de médio pra-zo, defrontam também graves problemas de liquidez. Parte deste problema poderia encontrar resposta nas novas regras de re-embolso do IVA e, igualmente, na efectiva redução dos prazos de pagamento, a co-meçar na eliminação dos atrasados, pelo Estado, Autarquias e Empresas Públicas. Para correcção destes graves estrangula-mentos, carecemos de uma resposta co-erente e quantificada, incluindo estraté-gias credíveis para encorajar a poupança

e a captação de fundos do exterior como, por exemplo, aconteceu em 1976, com o objectivo de corrigir a escassa confiança nas instituições nacionais.

O nosso quadro fiscal, tanto no que res-peita às condições oferecidas aos investi-

mentos como às poupanças de residentes e não residentes, apresenta-se como dos menos competitivos face ao conjunto dos nossos concorrentes directos. É indispen-sável maior coerência entre os objectivos e as decisões políticas. É difícil compre-ender a vantagem de se ter deslocado a poupança dos não residentes do Centro Internacional de Negócios da Madeira para outras localizações na Europa, Ásia e Américas - eliminando, até, a possibili-dade da sua fiscalização pelas autoridades de supervisão portuguesas. É também di-fícil explicar a eliminação da taxa reduzi-da de IRC para as PME’s.

Ao nível das empresas, tudo parece in-dicar que a recente orientação, face ao IRC para novos projectos, deveria conduzir à sua aplicação generalizada. Para além das isenções assentes em novos contratos de investimento, seria vantajosa a adopção geral de um primeiro escalão de IRC com taxas muito reduzidas. Permitiria, sem discriminação, oferecer às PME’s fiscali-dade competitiva - como em tempo acon-teceu no Reino Unido - com escassa perda da receita a partir de empresas de maior dimensão.

Uma ponderada análise da verdadeira incidência dos custos fiscais justificaria igualmente sensível redução da TSU - para combater difíceis situações de desempre-go e estimular actividades de interesse local - compensada pela consequente re-dução dos custos com subsídios sociais e de desemprego.

Tendo em conta a importância do tu-rismo residencial e do investimento es-trangeiro para a nossa competitividade, torna-se igualmente necessário um regi-me de IRS encorajador, capaz de estimular a atracção de quadros técnicos e, assim, captar novos projectos de IDE, que requei-ram mão de obra intensiva e qualificada. É, pois, difícil de explicar a coerência de querer estimular as localizações em Por-tugal com o agravamento da tributação de imobiliário - face, até, às condições de que podem dispor em outros Países.

Uma resposta efectiva aos desafios ac-tuais exige que intenções e objectivos se traduzam, sem contradições, num enqua-dramento realista, estável e motivador. Economista

Um novo modelo económico só pode assentar na valorização dos mercados externos e da capacidade nacional de afirmação no espaço global. Depende, pois, do encorajamento do investimento produtivo e só pode encontrar resposta na maior capacidade de concorrer em mercados abertos e conquistar avanços competitivos.

Na ausência de novos apoios externos que possibilitem o relançamento da despesa nacional, o ajustamento estrutural depende da nossa capacidade de expandir as exportações e de conter a propensão marginal das importações. Reconhecer e valorizar o papel das actividades exportadoras é a condição de sucesso da nossa política económica - e também da política social e da criação emprego.

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Apersistente dificuldade de re-duzir o défice público com a rapidez que se previa no Me-morando de Entendimento está a acentuar o pessimismo entre sociedade portuguesa. Por outro lado, as delibera-

ções do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento de Estado para 2012 e as limi-tações inscritas na Constituição quanto à rígida manutenção do modelo de estado social não deixam muito espaço de mano-bra para a inadiável correção orçamental.

A subida de impostos, apesar de ser tam-bém uma inegável frustração de legítimas expectativas dos cidadãos, não tem gran-des limitações constitucionais mas só pode agravar a depressão económica. Para a reso-lução deste impasse é pois forçoso encon-trar outros caminhos que só podem vir da retoma da economia e das medidas que a podem proporcionar.

De acordo com o normal desenvolvimen-to dos ciclos económicos, as retomas só surgem quando os negócios começam a ter expetativas de poder ser lucrativos valendo a pena investir, ou porque a parte baixa do ciclo obrigou à compressão dos preços dos fatores de custo ou porque, por razões autó-nomas, a procura se expandiu, permitindo o crescimento dos preços de venda e o seu volume expectável.

Para quando e com que medidas teremos a retoma da economia?

Nas últimas décadas, através do aumento da despesa pública, as políticas keynesianas têm sido largamente usadas para provocar a referida expansão através do crescimen-to da procura interna. Mas acontece que a prescrição já não é mais aplicável. Efetiva-mente, a dívida pública herdada pela Re-volução era inferior a 15% do PIB nacional, agora, apesar das vultuosas receitas das pri-vatizações, já atinge os 120%, e os credores manifestamente não aceitam que continue a crescer indefinidamente.

Assim, a retoma só poderá ter lugar atra-vés do aumento da procura externa e da substituição das importações, processo onde já foram obtidos assinaláveis resulta-dos com a política que vem sendo seguida pelo Governo, traduzidos no recente equi-líbrio da Balança Corrente. Embora este as-peto seja muito importante e nos dê ânimo para continuar a tomar as medidas neces-sárias, para além de um tímido crescimen-to previsível da economia depois de uma significativa recessão, muito mais tem que acontecer antes de podermos regozijar-nos pelo fim do pesadelo.

Há pois que ampliar os referidos resul-tados, o que só será viável pela descida dos custos de produção, dando à atividade eco-nómica perspetivas crescentemente positi-vas. Será que já chegamos a esse momento de viragem?

Atualmente já se observa a queda de mui-tos preços, desde o imobiliário ao valor das empresas, o nível de poupança subiu, e após tantos meses recessivos seria normal que os agentes económicos tivessem já readquirido alguma solvabilidade: em condições normais já deveria manifestar-se um começo de cres-cimento. Contudo, o endividamento man-tem-se muito elevado, os juros que as em-presas pagam não desceram, a energia ainda vai ser mais cara nos próximos meses, os serviços e bens que empresas adquirem não estão mais baratos e os custos do trabalho não diminuíram, excetuando algumas remunera-ções variáveis e o trabalho extraordinário que representam uma parcela diminuta do total. Até os impostos estão cada vez mais pesados. Assim sendo, por que razão poderia ter come-çado uma retoma com algum significado?

Dos custos anteriormente referidos a maioria é incompressível. É o caso dos juros que estão dependentes do financiamento

O endividamento mantem--se muito elevado, os juros que as empresas pagam não desceram, a energia ainda vai ser mais cara nos próximos meses, os serviços e bens que empresas adquirem não estão mais baratos e os custos do trabalho não diminuíram, excetuando algumas remunerações variáveis e o trabalho extraordinário que representam uma parcela diminuta do total. Até os impostos estão cada vez mais pesados. Assim sendo, por que razão poderia ter começado uma retoma com algum significado?

OPINIÃO ANTÓNIO DE ANDRADE TAVARES

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externo, ou os impostos que são indispen-sáveis á redução do défice se não existir uma redução acentuada da despesa pública. E mesmo que alguns custos se possam redu-zir não têm expressão relevante no PIB, por exemplo a energia elétrica, frequentemente citada, representa menos de 2% do PIB.

Além de todos os esforços que anda-mos permanentemente a fazer, e bem, há muito tempo, para termos melhor quali-ficação profissional, mais racionalização, melhor gestão, mais marcas e marketing, mais empreendedorismo, etc., há ainda, indiscutivelmente, que reduzir custos para melhorar a competitividade, para exportar mais e substituir exportações. Quais são as variáveis disponíveis, relevantes em termos de PIB, em que é possível intervir para atin-girmos esse objetivo determinante?

Embora não possamos esquecer algumas com menor relevância no PIB, parece avi-sado dar especial atenção àquelas que, de acordo com o referido critério, maiores efei-tos podem ter na competitividade do País; e essas são, sem sombra de dúvida, a despesa pública e a massa salarial agregada. Qual-quer delas, e apenas por coincidência, re-presentam cerca de 50% do Produto Interno Bruto, percentagens enormes que se forem manipuladas no sentido da baixa, sobretudo a primeira, podem produzir resultados im-portantes na competitividade do País.

Se reduzirmos a despesa pública pode-mos reduzir os impostos e portanto, direta-mente, a sobrecarga fiscal sobre as empre-sas e, indiretamente, aliviar os impostos sobre o trabalho.

A redução da fiscalidade sobre os rendi-mentos do trabalho permitiria minorar as consequências no poder de compra dos tra-balhadores, decorrente de uma baixa de sa-lários que é decisiva para conseguir um au-mento das vendas dos bens transacionáveis produzidos internamente, em substituição dos importados, e ganhar novas quotas de mercado no exterior.

Efetivamente só uma redução da massa salarial suportada pelas empresas poderia de forma imediata permitir-lhe um salto brusco de competitividade indispensável à inversão da situação atual. Através dum au-mento claro dessa competitividade face aos concorrentes externos poderíamos rapida-mente começar a crescer. Os salários já es-

tão a baixar, um desempregado que consiga um novo emprego normalmente acaba por aceitar um salário menor do que aquele que antes auferia, mas trata-se de um processo lento e doloroso. Diria que faz terrivelmen-te lembrar alguém que se esvai em sangue quando uma cirurgia poderia estancar a he-morragia, decisiva e rapidamente.

É certo que uma redução salarial irá pro-vocar uma redução geral da procura inter-na, mas esse facto não tem apenas um lado perverso porque irá afetar negativamente também os sectores não transacionáveis que têm, simetricamente e ao longo de mui-tos anos, sido beneficiados por uma procura interna excessiva, levando agora à desejável baixa dos seus preços. Uma vez que não é, em geral, possível conter os preços num mercado com a procura retraída, e sobre-tudo com custos em baixa (nomeadamente os salários), uma redução dos salários iria provocar uma deflação geral de preços do conjunto da economia.

Assim, uma baixa generalizada de salá-rios estaria longe de ser, como simplistica-mente se afirma, uma transferência de ri-queza dos trabalhadores a favor dos donos das empresas. Estas apenas aumentariam os seus lucros se não fossem compelidas pelo mercado a baixar preços, o que seria nessas circunstâncias incontornável.

E os setores que é premente desenvolver, o dos bens transacionáveis (os produtos substitutos dos importados e os exportá-veis), iriam ser beneficiados porque fica-riam mais competitivos, não só pela baixa dos custos diretos das empresas, mas tam-bém pela redução de preços dos bens e ser-viços que as empresas desses setores adqui-rem no mercado interno, em resultado da referida deflação geral de preços.

Portugal só poderá sair da situação aflitiva em que se encontra se desenvolver mais ati-vidade económica. Mais atividade só pode vir de mais procura. Como não pode haver mais procura interna (seria necessário mais financiamento hoje limitado pelo nível da dívida pública e privada), mais atividade só pode vir de mais procura externa. A econo-mia portuguesa terá mais procura externa e substituirá importações, se for mais com-petitiva, também com a ajuda da baixa de salários. Baixa que pode vir da redução da TSU ou assumida com frontalidade.

Se pudéssemos desvalorizar a moeda, haveria unanimidade de opiniões que esse seria o caminho a seguir. Contudo, desvalo-rizar a moeda é, de facto e em termos reais, baixar salários, os outros preços ajustar-se--iam quase instantaneamente. Mesmo a poupança, que seria aparentemente afeta-da, seria recompensada com a alta da taxa de juro. Os salários só reagiriam com atraso, quando muito depois de a inflação ter su-bido. Em 1983/84, a baixa real de salários de que as empresas beneficiaram parece ter sido da ordem dos 12% e, sobretudo por causa da desvalorização, a economia passou rapidamente a crescer.

Se sairmos do Euro, parece não ser difícil prever uma baixa real de salários da ordem de 40%. Então porque não nos mantemos no Euro com uma baixa de salários de me-nos de metade desse valor, e muito menor perturbação?

Baixos salários não são um objetivo em si mesmo, mas deitaremos tudo a perder se não ajustarmos os salários durante o tempo ne-cessário para sermos suficientemente com-petitivos, fazer crescer a economia, criar em-prego e sair do colete-de-forças em que nos encontramos. E não será necessário descer ao nível de salários chinês, a nossa referência não poderá deixar de ser o nível que se pratica nos países do leste da Europa, que connosco concorrem por investimento estrangeiro. De-pois, com a queda do desemprego, os salários voltarão normalmente a subir, mas agora a um ritmo sustentável e saudável.

A única condição para nos mantermos numa moeda forte é não subirmos os salá-rios mais do que a produtividade e a despe-sa mais do que o produto nominal. Parece simples, não será? E é melhor do que arcar com os enormes custos dos incómodos as-sociados à inflação e a incerteza cambial dum eventual desligamento do Euro.

Dito isto, penso que a conclusão é sim-ples, uma retoma rápida e vigorosa está inteiramente dependente de uma redução da despesa pública e do nível salarial que as empresas suportam, única forma de não nos arrastarmos durante longo tempo numa situação de estagnação e desempre-go inaceitáveis e extremamente penosas, precisamente para os mais desfavorecidos, sobretudo os desempregados.Engenheiro eletrotécnico

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OPINIÃO NELSON DE SOUZA

J á poucos terão hoje dúvidas que a consolidação orçamental e a redu-ção da dívida pública tem de assen-tar numa estratégia mais balancea-da entre austeridade e crescimento e que o fator crítico para este último é o financiamento da economia por-

tuguesa, muito em particular, das empre-sas e do seu investimento.

Já pelo menos desde há um ano, que a AIP vem alertando para esta situação pro-pondo um conjunto de soluções concretas para mitigar a atual situação de “credit crunch” que então já se começava a dese-nhar com nitidez. Lamenta-se que, só tanto tempo depois, a Troika venha finalmente reconhecer este problema na sua 7ª avalia-ção ao programa de ajustamento

Os números ilustram com evidência ine-gável que o processo de desalavancagem da economia portuguesa implementada no âmbito do programa de ajustamento se fez sobretudo à custa de uma retração muito acentuada do crédito concedido às PME portuguesas. Desde o início da apli-cação do programa da Troika e de acordo com o Banco de Portugal, o stock de crédi-to concedido à este segmento empresarial diminuiu 14,4 %, ou seja, 13,3 mil milhões de euros. Às dificuldades de acesso junta--se o elevado custo do financiamento para as PME portuguesas que suportam atual-mente níveis de juro com um diferencial de 3-6 pontos percentuais relativamente

Financiamento de PME e insuficiência na sua capitalização

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aos concorrentes do norte da Europa, ori-ginados por spreads essencialmente deter-minados pelo risco soberano.

Mesmo num contexto de evolução po-sitiva de condições para o funcionamento dos mercados financeiros em Portugal, o problema do financiamento das PME não tem vindo a dar a sinais de solução a curto prazo. O facto dos rácios (crédito/depósi-tos) exigidos pela troika já se encontrarem atingidos pela generalidade dos bancos em Portugal, a melhoria de acesso aos mercados financeiros com a intervenção mais recente do BCE, as experiências com sucesso de recurso pontual aos mercados pela República e por alguns bancos portu-gueses e, finalmente, o contributo do Es-tado para a capitalização de bancos, já de-veriam ter tido como consequência sinais mais evidentes de melhoria da situação do crédito para as PME. Alguns indícios mais positivos, como por exemplo o aumento de novo crédito concedido nos últimos meses de 2012, não assumem ainda a intensida-de suficiente para inveter a tendência de diminuição constante do stock de crédito concedido às PME portuguesas. Neste pro-cesso de deterioração, têm valido às empre-sas, as Linhas de Crédito que vem sendo aplicadas desde 2008 com a intervenção do Sistema de Garantia Mútua, sem as quais a evolução teria sido bem mais gravosa.

Na perspetiva mais difundida por meios relacionados com as instituições financei-ras, a descida muito acentuada do crédito PME não seria tanto devida à falha do lado da oferta e à falta de liquidez do sistema, sendo, de acordo com o mesmo ponto de vista, sobretudo originada pela quebra da procura de financiamentos por parte das PME: (i) em quantidade, fruto da estagna-ção do produto, do investimento e das ex-petativas económicas; e (ii) em qualidade, pois as empresas apresentam estruturas fi-nanceiras degradadas ao nível de capitais próprios diminuídos pela quebra de renta-bilidade em resultado do ciclo económico recessivo. Daí a afirmação que ouvimos com frequência de que “não falta financia-mento a bons projetos e a boas empresas”, lugar comum que está, infelizmente, muito longe de corresponder à realidade do finan-ciamento de empresas em Portugal.

Não podemos, no entanto, atribuir a res-

O ponto médio das “piores empresas” portuguesas – 1º quartil – é de apenas 5% de autonomia financeira, o que denuncia níveis de capitalização muito baixos, quando comparados com os valores das “piores empresas” europeias que apresentam níveis de autonomia financeira de 15 a 23% de autonomia financeira).

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ponsabilidade inteira às políticas de ajusta-mento da economia portuguesa e às estra-tégias de resposta por parte das instituições financeiras, devendo-se reconhecer que à situação de escassez da oferta, juntam-se debilidades na procura por parte das em-presas. Sobretudo, não se pode deixar de constatar que a capacidade de obtenção de crédito é dificultada pela insuficiência em capitais próprios registada numa parte importante das PME portuguesas que lhes limita a sua capacidade de endividamento. Como seria de se prever a situação recessiva da economia portuguesa tem levado a uma quebra da rentabilidade, em particular nos setores orientados para a procura interna, afetando por esta via o crescimento interno dos meios próprios. Mas importa reconhe-cer que o problema já era anterior ao atual ciclo económico, constituindo uma das de-bilidades estruturais das PME em Portugal. Aliás, e tal como sucedeu com o Estado e as famílias, também o excessivo nível de en-dividamento das empresas tornou-as mais vulneráveis aos efeitos do processo de desa-lavancagem da economia portuguesa.

Observemos a situação real das empre-sas portuguesas em matéria de níveis de capitalização, comparando-as com as suas congéneres da Alemanha, França e Itália, recorrendo aos indicadores da Base BA-CH-ESD produzida pelo Banco de França

em colaboração com bancos centrais de alguns outros países europeus.

A “autonomia financeira” (relação entre os Capitais Próprios e o Ativo) das em-presas industriais portuguesas apresenta uma média ponderada de 35%, valor que se situa ao nível do observado nos outros países mais avançados como a Alemanha ou a França. No entanto, uma observação mais detalhada sobre o grau de dispersão1 do indicador, permite-nos constatar que: (i) as empresas portuguesas com melhor desempenho (3º quartil) comparam bem com as melhores empresas alemãs ou francesas e influenciam positivamente a média ponderada indicada; (ii) ao contrá-rio, o ponto médio das “piores empresas” portuguesas – 1º quartil – é de apenas 5% de autonomia financeira, o que denun-cia níveis de capitalização muito baixos, quando comparados com os valores das “piores empresas” europeias que apresen-tam níveis de autonomia financeira de 15 a 23% de autonomia financeira).

O rácio EBIDTA/Dívida que mede a capa-cidade de liquidação da dívida da empresa com base no cash-flow atual (indicador uti-lizado com frequência nos scorings atuais para a concessão de crédito) mostra tam-bém uma situação preocupante no nível de capitalização de empresas portuguesas. O valor médio para Portugal mostra que o indicador é de 15% na indústria e a mediana é de apenas 8%, o que significa que com o cash flow gerado em 2010, as empresas de-morariam 13 anos para liquidar a sua dívi-da total; o valor negativo deste indicador no 1º quartil, mostra a incapacidade de gerar cash flow positivo no ano em análise.

Tentemos agora observar se a insuficiên-cia de capitalização do “stock” de empre-sas existentes em Portugal, está a melhorar com as empresas criadas em Portugal nos últimos anos. Os dados apresentados fo-ram apurados pela AIP com base na Infor-mação Empresarial Simplificada de 2011 de cerca de 7.200 empresas constituídas a partir de 2009 e que apresentam atual-mente pelo menos 3 trabalhadores.

A observação dos valores apurados reve-lam que as novas empresas recentemente criadas em Portugal continuaram a nascer “sub-financiadas” em capitais próprios. O valor médio da autonomia financeira das empresas nascentes é de apenas 2% e para as “piores empresas” - 1º quartil- o ponto médio já é negativo, o que significa que o capital inicial foi integralmente absorvido pelos prejuízos registados nos primeiros três anos de atividade. Os valores para o indicador EBIDTA/Dívida confirmam a mesma conclusão.

O problema da insuficiência de capita-lização é estrutural e reside numa atitude empresarial que faz com que de as em-presas sejam criadas com baixos níveis de capitalização, situação posteriormente agravada por políticas desadequadas de retenção dos lucros nas empresas nos anos subsequentes. Para além da necessidade de alteração deste padrão de comporta-mento, não será difícil concluir que a fis-calidade também não incentiva suficien-temente o reinvestimento e/ou a retenção nas empresas dos lucros gerados.

Em coerência com este diagnóstico, a AIP tem vindo a propor dois tipos de atu-ação das políticas públicas: (i) a criação de um enquadramento fiscal mais favorável à capitalização nas empresas através de incentivos aos lucros reinvestidos e de um tratamento fiscal que assegure uma remuneração mais atrativa dos capitais próprios; e (ii) a criação de novos instru-mentos de capitalização de empresas com mecanismos inovadores: empréstimos com reembolso de capital e juros no final do prazo (“bullet”) e com remunerações que incluam componentes ligadas aos re-sultados da empresa, como o recente pro-grama de capitalização lançado pela Caixa Geral de Depósitos ou outro tipo de solu-ções híbridas entre capital e dívida como as obrigações subordinadas, as obrigações participantes ou as ações preferenciais.Diretor Geral da AIP

1 Medidas estatísticas utilizadas: Média (ponderada pela dimensão das empresas), Mediana (valor do pon-to médio da série), 1º Quartil (valor do ponto médio da metade das empresas com valores mais baixos) e 3º Quartil (valor do ponto médio da metade das empresas com valores mais altos).

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FONTE: BASE BACH-ESD

FONTE: BOLETIM ESTATÍSTICO, BANCO DE PORTUGAL

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NOME DA REVISTA JANEIRO/MARÇO 20130202 Investe&Mais JANEIRO/MARÇO 2011

02 / Investe&Mais JANEIRO/MARÇO 2011

O QUE ELES DISSERAM

NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS 48

ESPANTA-ME QUE A SEGURANÇA SEJA UMA AMBIÇÃO PARA OS JOVENS. NÃO PENSO QUE SEJA UM SONHO DE UM RAPAZ OU DE UMA RAPARIGA DE 20 ANOS, LUTAR PARA TER SEGURANÇA NO TRABALHO. EM MAIO DE 68 ÉRAMOS LOUCOS (…), MAS NÃO O FAZÍAMOS PELA SEGURANÇA OU PARA TERMOS UMA VIDA MAIS TRANQUILA. CORRÍAMOS RISCOS.”Olivier Rolin, Público, 29/04/2006 (COMO SE ESPANTARIA ESTE REVOLUCIONÁRIO DE MAIO/68 COM AS REIVINDICAÇÕES DOS NOSSOS JOVENS INDIGNADOS?...)

“Quando fui falar com o presidente da câmara de Xangai, pensei que estava a falar com o presidente da câmara de Chicago. A linguagem era a mesma: economia de mercado, direitos humanos, boa governação.”António Monteiro, ex--Ministro dos Negócios Estrangeiros, Público,

20/10/2004(PARA MAL DA ECONOMIA DA EUROPA DA SUL)

“A recessão em Portugal está instalada, o desemprego estrutural é muito elevado, os rácios da dívida pública são elevados. Por isso, não estou seguro que o acesso aos mercados vá acontecer nos tempos mais próximos.”Nouriel Roubini, Diário Económico, 23/01/2013(O ECONOMISTA QUE PREVIU A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL NÃO ACERTOU NO ACESSO DE PORTUGAL AOS MERCADOS, QUE OCORREU NO MESMO DIA EM QUE FOI PUBLICADA A ENTREVISTA.)

“Chegar ao final de 2008 com um défice abaixo dos 3% do PIB, equivale a preparar o sector público para viver com menos quatro mil milhões de euros.”Campos e Cunha, Diário Económico, 12/05/2005(JÁ EM 2005 CAMPOS E CUNHA FALAVA NO CORTE DOS 4 MIL MILHÕES. O FMI NÃO VEIO DIZER NADA DE NOVO.)

“65 horas por semana, é o tempo de trabalho médio de um engenheiro em Silicon Valley.”Manuel Castells, in “Conversas com Manuel Castells”, 2004(E NA TAGUSGPARK?)

“O nível de produtividade em Portugal andará nos 55% da média comunitária, enquanto o consumo chega aos 75%. A vivermos assim, estaremos falidos dentro de dez anos.”Pedro Ferraz da Costa, Público, 22/04/2005(FERRAZ DA COSTA FOI DOS POUCOS QUE ACERTARAM NO NOSSO DESTINO.)

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JANEIRO/MARÇO 2013 NOME DA REVISTA 0202 Investe&Mais JANEIRO/MARÇO 2011

O QUE ELES DISSERAM

NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS 49

“Planeio estar até ao final da legislatura. Depois veremos. Temos dois anos pela frente e isso é uma eternidade em política.”José Socrates, Expresso,

08/12/2007(DOIS ANOS É O PERÍODO QUE OS “MEDIA” E OS COMENTADORES DE TV ACHAM QUE DEVE DURAR UM GOVERNO EM PORTUGAL.)

“Se Picasso tivesse feito estudos de mercado com visitantes de museus, não tinha inventado o cubismo (…). Não esperava que o produto (papel higiênico preto) tivesse o impacto nos media do modo como teve. Nem sequer estava preparado para vender tanto.”Paulo Pereira da Silva, Revista Autêntica, Março 2007 (A INOVAÇÃO DÁ-SE MAL COM OS CONTABILISTAS.)

“Se fecharmos a porta à flexibilidade laboral, ela entrará pela janela.”Vieira da Silva, Ministro do Trabalho, 16/02/2007(PROTEGEM-SE OS DESPEDIMENTOS; NÃO SE EVITAM AS FALÊNCIAS.)

OS PIORES GANHAM O QUE NUNCA GANHARIAM NO PRIVADO; E OS MELHORES GANHAM MUITÍSSIMO MENOS DO QUE DEVERIAM.”Paulo Macedo, Expresso,

04/08/2007 (ESTE É O MAL DA FUNÇÃO PÚBLICA.)

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Mais Turismo

CONVENTO DA SERTÃ HOTEL DE 4 ESTRELAS

encantos da floresta e o tilintar da água que circunda a zona, o Con-vento da Sertã Hotel mostra-se ao mundo em junho de 2013.

A nova unidade hoteleira de qua-tro estrelas promovida pela Turi-sertã, empresa detida pela Santos & Marçal, corresponde à criação de um novo produto, de perfil diferen-ciador para o mercado, região e país. O Hotel, situado na Sertã, em Caste-lo Branco, aproveita o edifício de um antigo convento e oferece 25 quar-tos, todos diferentes, e com preços que variam consoante as tipologias e o tempo de permanência.

O projeto “alia o requinte de um antigo edifício histórico com a qua-lidade que só um empreendimen-to desta natureza poderá oferecer,

l uando em 1635 se lançou a primeira pedra para a construção do Conven-to de Santo António, na

Vila da Sertã, estava-se longe de imaginar que, quase 380 anos de-pois, o mesmo se transformaria numa unidade hoteleira de quatro estrelas. A paredes meias com os

Um refúgio com requinte no meio da natureza

para o qual foi aproveitado a estru-tura do antigo convento de francis-canos existente na Vila de Sertã”, sublinha Carlos Marçal, presidente da Santos & Marçal.

Situado numa zona montanhosa, onde se afiguram diversas ribei-ras (o Convento fica menos de 100 metros de duas ribeiras), recantos de floresta autóctone e um clima mediterrânico, o Hotel constitui uma potencial fonte atrativa do segmento de mercado que procura os produtos Touring Cultural e Pai-sagístico e o Turismo de Natureza.

De acordo com Carlos Marçal, “todo o hotel foi pensado na ótica do utilizador. Mais do que comer e dormir, o que aqui pretendemos oferecer é uma experiência úni-ca de alojamento numa das zonas mais belas do nosso país”.

A envolvente ao Convento da Sertã Hotel é “absolutamente des-lumbrante”, confidencia aquele empresário, sugerindo “que todos os nossos clientes, ao conhecerem a excelência do nosso serviço aliada às fantásticas paisagens naturais que o concelho da Sertã oferece, terão com certeza vontade de regressar”.

Enquadrado pelo encanto da floresta, o Convento da Sertã Hotel mostra-se ao mundo em junho de 2013

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PACK DE EXPERIÊNCIASPasseios/percursos pedestres, BTT, Kartcross, passeios TT, cicloturismo, canoagem, canyo-ning, montanhismo, alpinismo, escalada, slide e visitas guiadas para conhecer o património histórico, arquitetónico e natural da região.

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SERVIÇOS DO CONVENTO DA SERTÃ HOTEL

1. Tarifa de alojamento inclui pequeno-almoço e depende da tipologia de cada quarto e do número de noites;

2. Piscina exterior de água salgada para adultos e crianças;

3. Café bar;4. Quartos com Free

Wireless, HDMI, USB e áudio;

5. Room-service; 6. Ar condicionado; 7. Saúde e bem-estar;8. Eventos (Reuniões,

conferências, entre outros);

9. Estacionamento privado;

10. Cofre;11. Secadores de

cabelo;12. LCD;13. Serviço de baby

sitting;14. Serviço de

lavandaria e limpeza a seco;

15. Reserva de atividades Outdoor;

16. Telefones com linha direta;

17. Health club com massagens, tratamentos e terapias (outsorcing).

E há muito para visitar no conce-lho. Desde Cernache do Bonjardim (terra natal de Nuno Álvares Pe-reira) até Pedrógão Pequeno (por muitos considerada a Sintra da Beira Baixa), “o cliente é desafiado a mergulhar no verde das nossas pai-sagens e no azul das nossas águas”, nota Carlos Marçal, que lembra a aposta recente da Câmara Munici-pal da Sertã na disponibilização de packs turísticos para todos os inte-ressados. E muitas experiências.

DE CONVENTO A HOTEL 380 ANOS DEPOISQuando em 1635 se lançou a pri-meira pedra para a construção do Convento de Santo António, Frei Hierónimo de Jesus e Frei Chris-tovão de S. Joseph (os fundadores espirituais deste cenóbio) estavam longe de imaginar que, quase 380 anos depois, o mesmo se transfor-maria numa unidade hoteleira de quatro estrelas.

A nova unidade hoteleira assumi-rá o forte legado do convento, que marcou uma época no concelho da Sertã. Habitado desde 1639, o Convento de Santo António resul-tou da junção de vontades entre vários cidadãos influentes da vila sertaginense e os frades já referi-dos, que obtiveram as autorizações necessárias do Priorado do Crato. A ação dos frades do convento junto da população foi, por várias vezes, realçada. Foi aqui que muitos ser-taginenses aprenderam a ler e a escrever e foi também neste local

que alguns habitantes encontraram refúgio das perseguições movidas pelos miguelistas aos liberais, em pleno século XIX.

Carlos Marçal diz que a memó-ria do convento será preservada: “Desde a primeira hora, a nossa aposta passou pelo estudo da his-tória do local para que todos sentis-sem a aura mística que aqui existe. Além dos técnicos do IGESPAR, que acompanharam toda a obra de recuperação do edifício e monito-

rizaram as operações, tivemos al-guns historiadores a trabalhar, no sentido de se fazer o levantamento da história deste local”.

Carlos Marçal dá-nos um exem-plo do resultado desse trabalho de pesquisa historiográfica: “Ficámos, por exemplo, a saber que durante as invasões napoleónicas, os fra-des deste convento pediram armas ao rei para defenderem uma ponte que se situava nas imediações do edifício. A ponte ainda hoje existe e o documento com o pedido de ar-mas também”.

O GRUPO SANTOS & MARÇALA Turisertã, empresa criada para assegurar a promoção e gestão do Convento da Sertã Hotel, está liga-da ao grupo Santos & Marçal. Com 37 anos de existência, este grupo dedica-se a atividades ligadas ao turismo, designadamente a restau-ração, eventos, catering, entreteni-mento e alojamento.

O desenvolvimento ao longo dos anos permitiu a aposta em novas áreas de negócio, como o turismo de habitação em espaço rural. A Quinta de Santa Teresinha, situada na

Carlos Marçal e Elsa Marçal (diretora do Convento da Sertã Hotel)

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lll Um livro incómodo. Marc Roche é correspondente financeiro do jornal Le Monde na City em Londres. Faz uma incursão sobre o papel da Goldman Sachs na crise financeira que abalou os EUA e a UE, e na teia que estabelece para controlar os governos e insti-tuições mundiais. Descreve também aspectos importantes do seu funcionamento interno.

A descrição da intervenção da Goldman Sachs como consultor do governo grego e na forma como especulou sobre a dívida grega é um dos aspectos mais curiosos do livro.

Analisa também de forma minuciosa como se trabalha no banco: indumen-tária; forma física exigida; alimentação recomendada; censura do egocentrismo; tipo de desporto a praticar; proibição do bronzeado e do exagero das férias; culto do secretismo nas relações entre profis-sionais; moralidade na vida privada; etc.

Interessante é também a análise que se faz da evolução da relação entre Obama e o banco. Desde o apoio político e finan-

ceiro de que foi beneficiado na sua eleição até ao conflito no qual a Goldman Sachs foi pronunciada por fraude.

O levantamento que foi efectuado sobre as remunerações au-feridas pelos sócios-gerentes, traders, diretores, deixará o leitor apreensivo. O presidente, Loyd Blankplein, recebeu 60 milhões de dólares em 2008, 68 milhões em 2007 e 53,4 milhões em 2006.

A análise histórica da fundação de JP Morgan e da Goldman Sachs dá-nos também uma visão interessante do papel que estas duas instituições tiveram e têm nos EUA.

Um livro de leitura imprescindível no qual não fica uma boa ima-gem nos banqueiros na génese desta crise que afecta milhões de pessoas.

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LIVROS

O BANCO – COMO A GOLDMAN SACHS DIRIGE O MUNDOROCHE, MARCEsfera dos Livros; 2012; 4.ª edição; 238 págs.

freguesia do Cabeçudo (concelho da Ser-tã) e inaugurada em Dezembro de 2000, permitiu a entrada nesta nova área de ne-gócio, além de ter possibilitado a criação de um espaço com capacidade para acolher grandes eventos.

A Quinta de Santa Teresinha, datada do início do século XX, encontra-se vocacio-nada para o turismo de habitação e dispõe de seis quartos. Este empreendimento compreende piscina de água salgada, campo de ténis, minigolfe e jardins.

Em 2007, a Santos & Marçal expandiu a atividade para a cidade de Abrantes com a aquisição da Quinta d’Oliveiras, na zona de Alferrarede. Esta quinta tem uma área de três hectares, “com um vasto e agradá-vel jardim, um lago e parque de estacio-namento privativo”, e está vocacionada para todo o tipo de eventos, nomeada-mente empresariais, casamentos e outras celebrações. Além dos espaços próprios, o grupo presta também serviços de catering noutros espaços.

A gastronomia é uma das principais forças motrizes deste grupo, considerado um dos principais embaixadores do concelho da Sertã. Além dos muito apreciados Maranho e Bucho Recheado, a estrela da companhia é a «Sopa de Peixe da Dona Helena», assim batizada em memória da sua criadora e fundadora da Santos & Marçal juntamente com o seu marido Carlos Marçal: “Temos pessoas que fazem muitos quilómetros até aos nossos restaurantes só para comer esta sopa”, revela o empresário.

Sobre o sucesso do grupo Santos & Mar-çal, o presidente considera que o mesmo é fruto da “forte capacidade técnica e de liderança, dos recursos materiais e hu-manos existentes e da orientação para o mercado fora da sede empresarial”.

Elsa Marçal, filha de Carlos Marçal, é a diretora do Convento da Sertã Hotel. A responsável considera que uma gestão compartilhada e participativa é a chave do sucesso: “Nos tempos que correm temos a plena noção que é a equipa de trabalho que integra este projeto a força motor para o sucesso. Olhamos, desta forma, para os nossos colaboradores como fonte de com-petências que cada um consegue levar para o seu posto de trabalho”. Elsa Marçal salienta ainda a importância de parcerias com outros hotéis da região como sendo fundamentais para atrair um maior públi-co à região, “que poucas pessoas conhe-cem e que tem tanto para oferecer”.

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lll José António Barreiros, conhecido advogado, tem dedicado uma parte da sua vida a estudar a guerra secreta em Portu-gal nos anos de 1939-1945.

Este livro retrata a montagem de uma operação de sabotagem de infra-estrutu-ras, decidida pelos ingleses, para impedir a hipotética invasão alemã na Península Ibérica e em Portugal.

Este episódio, que pôs em causa a secular aliança diplomática de Portugal/Inglater-ra, foi caracterizado por uma gritante ine-ficiência e ingenuidade, acabando por ser desmantelada por Salazar.

Um livro de leitura recomendável.

A TRAIÇÃO A SALAZARBARREIROS, JOSÉ ANTÓNIOOficina do Livro; 2012; 202 págs.

A TRAIÇÃO A SALAZARBARREIROS, JOSÉ ANTÓNIOOficina do Livro; 2012; 202 págs.

HERÓIS DO ULTRAMARCASTRO, NUNOOficina do Livro; 2012; 188 págs.

lll Este livro retrata um conjunto de actos de grande bravura e coragem assumidos por militares portugueses na guerra colonial.

É comum aceitar-se que a guerra colonial redimiu a instituição militar da má pres-tação e da imagem muito abalada da sua intervenção na 1ª grande guerra mundial. Contrariamente a esta, Portugal conseguiu no conflito colonial suportar durante 13 anos uma guerra em três frentes, com êxito e re-sultados militares positivos.

Este livro conta-nos alguns actos de Marceli-no da Mata (o maior herói da guerra colonial), Armando Maçanita (herói de Nambuangon-go, cuja acção valeu-lhe um exilio nos Acores), Daniel Roxo, António Júlio Rosa, Francisco Van Uden, Tomé Pinto, Carlos Duarte, Secun-dino Mendes, Jorge Martins, entre outros.

Há alguns relatos curiosos nestas façanhas heroicas. É o caso da participação do Eng. Jar-dim Gonçalves, o ex-banqueiro do BCP que foi condecorado com a cruz de guerra pela sua participação na tomada de Nambuangongo.

Um livro interessante num país a necessitar de exaltação dos nossos feitos.

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realidade artística e cultural, mas também religiosa, social e política. Uma extraordinária viagem que vale a pena fazer.

Com a Igreja de São Roque por vi-zinha, formando com ela um todo indissociável, o Museu de São Ro-que foi inaugurado a 11 de Janeiro de 1905, tornando permanente uma exposição que se pensou temporária: o “Tesouro da Capela de São João Baptista”, conjunto de ourivesaria e paramentaria único no mundo e internacionalmente reconhecido como tal.

Mais tarde, o discurso expositivo foi alargado, abrangendo cronolo-gicamente toda a história do local, ficando assim a exposição organi-zada em cinco momentos distintos: Ermida de São Roque, Companhia de Jesus, Arte Oriental, Capela de São João Baptista e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

l Museu de São Roque da Santa Casa da Misericór-dia de Lisboa guarda um dos mais importantes

acervos da arte nacional: ourivesaria, escultura e pintura, mas também um singular conjunto de paramentos ou uma colecção de relíquias de santos, rara em todo mundo. Em resultado de uma profunda remodelação ar-quitectónica, realizada entre 2006 e 2008, é um espaço marcado pela modernidade onde é possível per-correr os séculos ao longo dos quais Portugal se foi construindo como

Museu de São Roque: um tesouro de Arte Sacra

DO INÍCIO DA HISTÓRIA ATÉ AO PRESENTEInstalado na antiga Casa Professa da Companhia de Jesus, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, fundada em 14 98, herdou o espaço físico dos Jesuítas, na sequência do grande ter-ramoto de 1755 e da sua expulsão por Pombal.

Mas a história deste local começava antes, quando a peste grassava por toda a Europa e não poupava Lisboa. Segundo nos conta um cronista jesu-íta no século XVII, D. Manuel I pede a Veneza para proteger a cidade uma relíquia de um santo com fama na pro-tecção contra a peste. A fim de guardar esta milagrosa relíquia foi construída uma ermida dedicada ao santo tauma-turgo: a Ermida de São Roque.

O primeiro núcleo do Museu rela-ta este início e expõe um conjunto

Fachada do Museu e da Igreja de São Roque (nesta página, canto superior esquerdo)Interior da Igreja de São Roque (em cima)Detalhes do interior do Museu de São Roque(página seguinte, em cima)Capela de São João Baptista(página seguinte, em baixo)

Verdadeira “joia da coroa”, oferece visitas em diferentes idiomas, ateliês de arte e visitas- - jogo interactivas.

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Baptista, obra ímpar do reinado de D. João V, internacionalmente reconhe-cida pelo seu valor arquitectónico e artístico. Encomenda do monarca que, no xadrez internacional, quis marcar uma posição de força e rique-za através da exposição em Roma do seu tesouro. Concretizado este ob-jectivo, veio a Capela para Portugal e foi depois assente na Igreja de São Roque.

O último núcleo expositivo é internamente dedicado à Miseri-córdia de Lisboa e ao conjunto das peças adquiridas ou entregues em doações e legados que sempre re-sultaram da confiança depositada numa instituição cuja missão passa pelo auxílio aos mais fragilizados, promovendo o seu bem-estar e a qualidade de vida.

de quatro tábuas quinhentistas que contam a vida e lenda do Santo, se-guindo o mais antigo relato escrito.

Já o segundo núcleo expositivo é inteiramente dedicado à Companhia de Jesus, instalada em São Roque por ordem de D. João III, destacando-se a colecção de relicários oferecida por D. João de Borja.

Ainda pela mão dos Jesuítas, o Núcleo de Arte Oriental, terceiro do percurso, está intimamente ligado a toda a expansão missionária da Com-panhia de Jesus, em particular pelo Oriente. É dos contactos estabelecidos com as populações locais, por via das missões, que se registam significativas aquisições ao nível da arte sacra.

Verdadeira “jóia da coroa” de São Roque, o quarto núcleo é inteira-mente dedicado à Capela de São João

NA VANGUARDA DA COMUNICAÇÃOAs actividades educativas e cultu-rais do museu dirigem-se a públicos diversificados, internos e externos, e norteiam-se pela vontade de ofe-recer uma participação activa e en-volvente dos visitantes do museu na experiência da contemplação da arte, através da partilha de ideias e conhecimentos. As parcerias com o sector educativo, do Turismo e a área da Cultura que têm vindo a revelar--se determinantes na melhoria con-tínua dos serviços prestados e na di-versificação e aumento de públicos.

Além das tradicionais visitas guia-das de carácter genérico, o Museu oferece visitas em diferentes idio-mas, ateliês de arte, visitas-jogo inte-ractivas dirigidas a crianças, jovens e seniores. Já para um público com in-teresses específicos nas áreas da Arte e do Património, disponibilizam-se ciclos de visitas guiadas temáticas e conferências.

Fruto do projecto de requalifica-ção, o Museu de São Roque oferece hoje as mais modernas condições de acesso às obras, dispondo das indis-pensáveis estruturas de apoio, tais como loja e restaurante/cafetaria, esta última também instalada no antigo claustro da Casa Professa.

Existe ainda uma identidade grá-fica de comunicação que se encon-tra presente em todos os materiais de divulgação: pontos multimédia presentes ao longo do circuito ex-positivo com informação adicional, linhas de merchandising inspiradas no acervo e um site próprio.

A requalificação veio ainda pro-piciar uma melhoria das condições de conservação e apresentação da exposição permanente. Assim, uma significativa parte das obras expostas foi submetida a trabalhos de conser-vação e restauro que vieram clarifi-car a leitura do acervo museológico, destacando-se o recente restauro da Capela de S. João Baptista, que servirá de base à exposição “A En-comenda Prodigiosa – Da Patriarcal à Capela Real de São João Baptista” a apresentar no início do Verão no Museu Nacional de Arte Antiga e no Museu de São Roque, no âmbito de parceria entre os dois museus.

MUSEU DE SÃO ROQUELargo Trindade Coelho1200-470 Lisboa - PortugalTel. 213 235 44 (Recepção)Fax. 21 323 54 01E-mail: [email protected]://www.museu--saoroque.com/

SEGUESTÃO DE EXPOSIÇÃO:“A Encomenda Prodigiosa, da Patriarcal à Capela de São João Baptista”Museu de Arte Antiga: 18 Maio até 29 de Setembro Museu de São Roque: 27 de Junho até 29 de Setembro

FOTOS DE SCML/CINTRA & CASTRO CALDAS

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depois da saída Aveiras de Cima, na A1 – Autoestrada do Norte.

A esposa, Maria da Conceição, é quem dá o cunho e sabor aos pratos tradicionais que caracterizam o negó-cio do restaurante. E o menu foi tão apreciado que, mesmo ao lado, uma antiga adega foi restaurada para sen-tar mais degustadores, num ambien-te em que as paredes de pedra antiga estão à vista assim como os barrotes de madeira que sustentam o telhado.

O ambiente de requinte e tradicio-nal ao mesmo tempo conjugado com a cozinha regional fazem as hostes da casa. João Espírito Santo, que agora conta com o apoio do filho mais ve-lho no negócio, recomenda das 14 en-tradas quentes e frias, as Favinhas e a Morcela Assada. Do menu, o Porco Preto na Telha e as Migas de Baca-

l outros tempos, e estamos a falar de há 120 anos, o espaço em si foi mesmo uma taberna, daquelas

que davam lugar também a mer-cearia. Fruto das várias gerações, por lá passou um alfaiate que con-tinuou o negócio do vinho servido a copo e dos petiscos característicos da região ribatejana. Mais tarde, o único neto herdeiro, João Espírito Santo, recuperou o que restava da antiga taberna e, em 1991, abriu o restaurante Taberna do Alfaiate, na Lapa, que fica quatro quilómetros

Sabores portugueses bem alinhavados

lhau são os pratos obrigatórios para quem visita esta casa pela primeira vez. E para terminar, da carta das so-bremesas, também 14, o destaque vai para a Mousse de Noz e a Tarte de Ar-repiado em Xarope de Vinho Tinto.

E para quem gosta de petiscar, e por vezes fora de horas (das 16 às 02 horas), a Taberna do Alfaiate, que reabriu o espaço antigo da taberna e mercearia, serve aqui petiscos regionais como a Bucha, Morcela e Chouriço Assado, Choquinhos com azeite e alho, entre outros. Para acompanhar, basta escolher uma das 60 referências de vinhos do Tejo. Bom apetite!

TABERNA DO ALFAIATERua Caetano Valério, n.º 35, Lapa, Cartaxo, 2070-352T. 243 790005F. 243 799929Email: [email protected] ao domingo ao jantar e segunda-feira Horário: das 12h30 às 15h30/das 19h30 às 22h30

O ambiente de requinte e a cozinha regional conjugam na perfeição

Mais Comer&Beber

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Mais Comer&Beber

castas Alicante Bouchet, Trincadeira, Aragonês, Syrah e Touriga Nacional.

O encepamento escolhido combi-na o melhor das castas tintas tradi-cionais nacionais e alentejanas com as castas internacionais mais nobres e adaptadas às condições locais. A conjugação da elevada altitude com a exposição ideal para sudoeste con-tribui para a qualidade e carácter único dos vinhos deste terroir. As temperaturas relativamente frescas e a excelente exposição solar são de-terminantes para o equilíbrio e mine-ralidade da fruta.

Iain Richardson, viticultor, que entretanto se afastou, Rui Filinto Stoffel, proprietário da Quinta da Penha, e Celso Pereira, enólogo, não resistiram à qualidade das uvas e montaram este projeto enológico em 2009 de onde nasceu o Pinga Amo-res. O vinho que surpreende pela elegância, intensidade e frescura, destina-se a consumidores que pro-curam novas experiências, e tem, em particular, como público-alvo as mu-lheres, já que hoje em dia começam a ser elas as decisoras na hora da esco-lha. Os atributos da marca apelam à paixão, emoção e ao gosto pela vida.

Nas notas de prova dos dois tintos do Alentejo, o Pinga Amores Colheita 2009 e o Pinga Amores Reserva 2009,

destacam-se a “cor densa, muito bo-nita”, a “frescura”, os “frutos pretos”, a “boa acidez”, a “delicadeza dos tani-nos” e as “belas notas tostadas”.

Razões suficientes que já levaram o Pinga Amores Reserva e o Pinga Amores Colheita a vencerem, res-petivamente, a medalha de ouro e bronze, no China Wine Awards 2012. Por cá, foram classificados com 17 valores e 16 valores, respeti-vamente no guia de vinhos “Vinhos de Portugal”, de João Paulo Martins. O reserva foi ainda selecionado para o prestigiado Club 1500 da Sogrape.

Para além do circuito comercial em Portugal, os Pinga Amores es-tão a ser exportados para a China e Angola, estando a Quinta da Penha em negociações para entrar também nos mercados holandês e alemão.

Perante tudo isto, assistimos sem dúvida a uma certa mudança. Os tintos do Alentejo estão a ganhar elegância e primam pela frescura, sendo já para muitos os represen-tantes do Novo Mundo português. Que pinguem então os amores.

lll É na Quinta da Penha, a nor-te de Portalegre, que tem origem o vinho Pinga Amores. Alentejano de qualidade elevada, o vinho, tinto, é proveniente de um terroir com ca-racterísticas de excelência.

A Quinta da Penha, herdade com cerca de 40 hectares, beneficia de uma localização privilegiada que goza do clima especialmente mo-derado, mais fresco e húmido que o habitual calor das planícies alen-tejanas, o que proporciona vinhos frescos e elegantes, mas igualmente poderosos e encorpados. A exposição solar com quadrante predominante a sudoeste faz reunir as condições per-feitas para a produção de uva da mais alta qualidade.Com cerca de sete hec-tares, as vinhas foram plantadas em dois níveis, sendo que no primeiro, a uma altitude entre os 585 e os 615 metros, com 1,26 hectares, estão as castas Cabernet Sauvignon, Syrah e Touriga Nacional. No segundo, a uma altitude entre os 450 e os 500 metros, com 5,63 hectares, estão as

O vinho que surpreende pela elegância, inten-sidade e frescura, destina-se a consumidores que procuram novas experiências, e tem como público -alvo as mulheres, já que hoje em dia começam a ser elas as decisoras na hora da escolha

Olha que dois Pinga Amores!

PINGA AMORES RESERVA 2009Tinto, Vinho Regional AlentejanoEnólogo: Celso Pereira e Iain RichardsonCastas: Syrah (60%), Touriga Nacional (40%)Álcool: 14%; Acidez: 5,2 g/l; PH: 3,75; Açúcar: 2,9 g/lAcompanha: pratos tradicionais portugueses, incluindo o bacalhauPrémios e distinções:China Wine Awards 2012: medalha de ouro

PINGA AMORES COLHEITA 2009Tinto, Vinho Regional AlentejanoEnólogo: Celso Pereira e Iain RichardsonCastas: Syrah (30%), Alicante Bous-chet (30%), Aragonêz (25%), Touriga Nacional (7,5%) e Trincadeira (7,5%)Álcool: 14%; Acidez: 5,6 g/l; PH: 3,76; Açúcar: 3,1 g/lAcompanha: pratos tradicionais portugueses, incluindo o bacalhau, mas também as massasPrémios e distinções:China Wine Awards 2012: medalha de bronze

VINHOS

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FICHA TÉCNICA

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