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ÍNDICE

Introdução ............................................................................................................................................... 3

I. Liturgia – definições ....................................................................................................................... 4

a) Liturgia ................................................................................................................................................ 4

b) Culto ..................................................................................................................................................... 5

c) Adoração ............................................................................................................................................. 5

d) Rito ........................................................................................................................................................ 6

e) O sagrado ........................................................................................................................................... 6

f) O paganismo ...................................................................................................................................... 6

g) O ano cristão ou o ano litúrgico .............................................................................................. 7

II. A Liturgia no Antigo Testamento ............................................................................................ 7

1. A história da adoração no Antigo Testamento .................................................................. 8

2. As épocas da adoração no Antigo Testamento ................................................................. 9

3. Os lugares de adoração no Antigo Testamento ............................................................. 10

a) A religião de Israel ....................................................................................................................... 11

b) As festas cerimoniais .................................................................................................................. 13

c) Os levitas .......................................................................................................................................... 13

d) O templo .......................................................................................................................................... .16

e) A sinagoga ....................................................................................................................................... 18

f) Os salmos – hinologia de Israel............................................................................................. .18

III. A liturgia no Novo Testamento ............................................................................................. 20

1. A adoração na sinagoga ............................................................................................................ .21

2. A vida religiosa em Jerusalém ................................................................................................ 22

3. A celebração da ceia e do batismo cristão ........................................................................ 24

4. O louvor e a pregação bíblica na liturgia do Novo Testamento .............................. 25

5. O domingo como dia de adoração ......................................................................................... 27

IV. A adoração cristã do século II até a Reforma ............................................................... 29

1. Do século II ao IV ......................................................................................................................... 29

2. A adoração na Idade Média (séculos V ao XV) ............................................................... 32

3. A adoração cristã na Reforma ................................................................................................ 33

a) A Reforma Luterana (1517) .................................................................................................... 34

b) A Reforma Zwingliana (1525) ................................................................................................ 35

c) A Reforma Calvinista em Genebra (1538) ........................................................................ 35

d) A Reforma na Inglaterra (1534) ........................................................................................... 36

4. A adoração na tradição da igreja livre ................................................................................ 38

V. A adoração após a Reforma .................................................................................................... 39

VI A liturgia contemporânea ......................................................................................................... 40

1. Elementos da liturgia .................................................................................................................. 41

2. Referências sobre principais reuniões cristãs para análise e reflexão .............. ...42

a) O culto de comunhão ................................................................................................................... 43

b) Cultos de evangelização ............................................................................................................. 44

c) Cultos especiais de adoração ................................................................................................... 44

d) A adoração em cerimônias de casamento cristão......................................................... .45

e) A adoração em funerais cristãos ............................................................................................ 45

3. Uma sugestão de uma liturgia cristã................................................................................... 47

4. Uma reflexão sobre adoração .................................................................................................. 49

VII Referências bibliográficas ........................................................................................................ 51

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Introdução

Neste trabalho procuraremos abordar uma perspectiva histórica e panorâmica da Adoração desde

os tempos iniciais do Antigo Testamento, dando um destaque à Religião de Israel, falando um pouco dos

Salmos como sendo os cânticos de louvores israelitas, chegando à Adoração no Novo Testamento. Nossa

perspectiva também passa ainda pela História da Igreja desde o século II até a Reforma, onde poderemos

ter algumas noções da situação litúrgica na Idade Média, período em que a Igreja deixou de viver

segundo sua soberana vocação. Antes, porém, iniciaremos com definições dos principais termos

litúrgicos, como uma forma de nos introduzirmos ao assunto.

Para uma conclusão do trabalho, estaremos colocando pontos sobre a Liturgia Contemporânea,

dentro dos quais será possível analisar, refletir e discutir fatores pertinentes à nossa forma atual de culto

em adoração a Deus fazendo uma ponte com base na perspectiva histórica.

O presente ensaio não tem a pretensão de esgotar o assunto, pois, para tanto é necessário ainda,

aprofundamentos em pesquisas históricas como também pesquisas de campo. Mas esperarmos,

entretanto, que o presente conteúdo seja de certa forma, suficiente para despertar no estudante teológico,

interesses que o levem a tomar a iniciativa de explorar os conhecimentos tanto práticos quanto teóricos

existentes na área litúrgica, de modo que proporcione a aquisição de bases para facilitar o

desenvolvimento e aperfeiçoamento das liturgias em nossas igrejas hodiernas.

É claro que, de acordo com o apóstolo Paulo em sua 1ª carta aos Coríntios, capítulo 14, versículo

26, onde o dirigente supremo dos cultos é o Espírito Santo, a nossa participação é livre, não estando

sujeita a roteiros programados como se fosse um drama ou um espetáculo ou show. Porém, é de suma

importância entendermos que essa liberdade não deve transformar-se em desordem, mas deve conduzir

“para edificação”.

“... aplica-te à leitura, à exortação e ao ensino.” (I Tm 4.13)

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I – DEFINIÇÕES

Liturgia – o termo vem do grego Leitourgia e significa:

1. Serviço ritual ou de outra natureza.Veja por exemplo:

Lc 1.23 – onde aparece o termo leitourgias traduzido por ministério: “... terminados os dias de seu ministério, voltar para casa”.

Fp 2.17 – onde leitourgia está traduzido por sacrifício e serviço: “... mesmo que seja ou oferecido por libação1 sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo”.

Hb 8.6 – onde leitourgias traduzido por ministério: “...obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é Ele também Mediador de superior aliança...”.

Serviço prestado a alguém em necessidade.

II Co 9.12 – onde Paulo chama de liturgia, a coleta organizada para a igreja de Jerusalém. Traduz-se para nós como serviço: “Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus”.

Fp 2.30 – onde Paulo faz referência às ofertas dos filipenses chamando de leitourgias o que para nós é traduzido como socorro e serviço: “... para suprir a vossa carência de socorro para comigo” (ARA). “... para suprir para comigo a falta do vosso serviço”. (ARC).

Já o termo leitourgias refere-se a servo, ministro, com referência especial à responsabilidade perante Deus.

→ Rm 13.6 – as autoridade são ministros (leitourgós) de Deus. → Hb 1.7 – os anjossão ministros (leitourgous) de Deus.→ Fp 2.25–referência a Epafrodito como ajudante pessoal de Paulo (leitourgon).

O Dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa dá as seguintes definições. Liturgia (do grego leitourgia – função ou serviço público, pelo latim eclesiástico liturgia).

Conjunto de ritos, orações e cantos do culto público que a igreja presta a Deus, e que é determinado ou reconhecido pela autoridade competente. Parte desse culto, cerimonial particular.

Na antiguidade grega, serviço público, cujo financiamento e cuja organização eram confiados aos cidadãos mais ricos.

Ampliando a busca de definições temos:

Liturgia no uso clássico (na antiguidade greco-latina) – serviços específicos (voluntários ou compulsórios) que se prestavam à comunidade.

Liturgia no período imperial – já num aspecto mais amplo – todo o serviço oficial compulsório prestado ao Estado.

No período posterior seguinte – desaparece o elemento oficial e o termo recebe mais amplitude.

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1 Libação: oferenda ritual de um liquido a uma divindade (oferta liquida). Esse liquido poderia ser vinho ou azeite, e se

espalhava sobre o solo.

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→ Os escravos prestam serviço aos seus senhores.→ As mães prestam serviço aos seus bebês.→ Os amigos prestam serviço aos seus amigos.

Liturgia nas religiões de mistério2 – o que serve no templo presta liturgia aos

deuses.

Liturgia na LXX – desaparece o sentido clássico:

→ O objeto da liturgia passa a ser: Deus e o Tabernáculo.→ O termo “Liturgia” passa a ser empregado às funções sacerdotais.

* Liturgia, de forma totalmente simplificada enfim, é forma de adoração pública.

b) Culto – termo encontrado, por exemplo, em Mt 4.10; Jo 16.2 e Cl 2.18. Define-secomo:

1. Homenagem, honra prestada a Deus, a seres divinos, ou julgados como tais;2. Conjunto de cerimônias pelas quais se presta uma homenagem;3. Religião considerada em suas manifestações exteriores, em sua prática;4. Entre os protestantes, o ofício religioso;5. (figurado) veneração.

→ No latim o termo é “cultus” = reverência. No grego é latreia – que também se

traduz por “adoração”. No hebraico, o termo ‘abôdâ’ significa ‘serviço’ ou

‘culto’. O Antigo Testamento usa essa palavra para referir-se ao serviço ao rei

(I Cr 26.30), a Deus (Êx 3.12; 4.23; 12.25 (ARC); Dt 6.13; Js 22.27); ou do

templo (Ez 44.14). Nos salmos 2.11 e 100.2, encontramos a expressão

“servir a Javé”.3

c) Adoração – culto ou adoração que se presta a divindades. Etmologicamente,significa o reconhecimento do valor de Deus.

Segundo Smith (p. 300) “é homenagem – a atitude e a atividade que objetiva reconhecer e descrever o valor da pessoa ou coisa à qual a homenagem ou adoração é prestada. Por isso, adoração é sinônima de toda uma vida reverente, englobando devoção e liturgia”.

→ No latim o termo é adoratio, é o ato de adorar – render culto; adorare, significa

“falar com” – manter comunhão com Deus. No grego é latreia. Veja Jo 16.2 4;

Rm 12.1; Hb 9.1,6. – é possível reparar através das diferentes traduções, que

a Bíblia não faz uma “distinção semântica entre ‘adoração’ e ‘culto’ que na

verdade são sinônimos. Adoração é culto e culto é adoração”5.

→ A palavra hebraica mais vezes traduzida por “adoração” é sãhah que significa“Inclinar-se” ou “Prostar-se”. (Veja Êxodo 24.1; 34.8). Com este sentido há também a palavra grega proskyneõ (enfatizando o ato de prostração e reverência).

→ Segundo Smith (p. 303) os termos “servir” e “adorar” aparecemfreqüentemente juntos, mas não são idênticos. “Servir” refere-se a fazer a vontade de Deus nas questões humanas. “Adorar” tem relação mais próxima com o ritual de culto. Veja por exemplo Êx 20.5.

2 Mistério: na Grécia Antiga, cada um dos ritos religiosos secretos.

3 SMITH, Ralph. Teologia do Antigo Testamento p. 302

4 Contrastando João 16.2 com Atos 22.3,4, conclui-se que Paulo era “zeloso em nome de Deus”

(Shedd) 5 Donald P. Hustad. Jubilate! A Música na Igreja, p. 74

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Grudem define adoração como “atividade de glorificar a Deus em sua presença com nossa voz e com nosso coração” (p. 847).

De acordo com essa definição, “adoração” é algo que fazemos especialmente quando entramos na presença de Deus (Cl 3.16).

Hustad diz que a adoração “é a nossa resposta afirmativa a auto revelação do Deus Trino” (p.73). “Adorar é pensar em Deus e conversar com Ele. Adorar é pregar as boas novas de Deus, e ministrar a um mundo faminto e ferido em nome de Cristo” (p.74). A adoração também está relacionada ao nosso serviço prestado a Deus.

d) Rito – do latim ritus – (Êx 12.26; Nm 9.3). É também uma variação do termo grego latreía, que se traduz por “culto” e “adoração”.

→ Está também relacionado ao conjunto de regras e de cerimônias que se

praticam em determinada religião; → A cada uma das cerimônias; ritual.

e) O Sagrado – o termo refere-se aquilo que foi “consagrado” ao culto, “dedicado” a Deus – é santificado, é santo (1 Co 3.17; 9.13; Hb 9.1).

f) O Paganismo – termo referente às religiões dos que adoram vários deuses, os politeístas – é designação genérica das religiões não-cristãs.

Nos tempos do Antigo Testamento, os cananeus, egípcios e babilônios, até os gregos e os romanos, eram povos pagãos, pois adoravam deuses falsos. Eles achavam necessário ter algum tipo de religião. Esta era o âmago da sociedade antiga, ele estava em todo lugar. O individuo adorava as divindades de seu vilarejo, cidade ou civilização.

Se ele mudava de localidade, era dever mostrar respeito às divindades do local.6 Os

israelitas entraram em contato com eles desobedecendo a Deus, desviando-se dEle por varias vezes (Nm 25.1,2; Js 24.14; Os 4.19).

Aspectos comuns das religiões pagãs:

1. Muitos deuses (religiões politeístas) Reconheciam muitos deuses e demônios. Uma vez admitido ao panteão (coleção

de divindades de uma cultura), o deus não poderia ser dele eliminado. Cada cultura herdava idéias religiosas de seus predecessores ou as adquiria na

guerra. Por exemplo: o que Nanna (deus da Lua) era para os sumérios, Sin era para os babilônios: o que Inanna (deusa da fertilidade e rainha do céu) era para os sumérios, Ishtar era para os babilônios. Os romanos simplesmente assumiram os deuses gregos e lhes deram nomes romanos. Assim: para os romanos, Júpiter = Zeus dos gregos (deus do firmamento); Minerva = Atena (deusa da sabedoria); Netuno = Posêidon (deus do mar), etc.

A idéia que se tinha do deus era a mesma, apenas o invólucro cultural era diferente.

Os principais deuses muitas vezes estavam associados a algum fenômeno natural.

Os seres humanos e deuses participavam do mesmo tipo de vida; tinham a

mesma sorte de problemas e frustrações – a isso dá-se o nome de monismo7.

6 J. I. PACKER, O Mundo do Antigo Testamento, p. 98

7

Monismo: doutrina que diz ser o mundo constituído de uma única substância: os materialistas dizem que é matéria; os espiritualistas dizem que é espírito. Mas o Salmo 19 zomba desse conceito.

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2. Adoração de imagens – a iconografia religiosa (fabricação de imagens ou totens para adoração).

Retratavam seus deuses como seres humanos (antropomorfismo). Os artistas egípcios comumente representavam seus deuses como homens ou mulheres com cabeças de animais.

3. Auto Salvação – contrariando o que diz a Bíblia em Genesis 1.27, os pagãos tentaram fazer deuses a sua própria imagem. Isto é, os deuses pagãos eram meramente seres humanos ampliados.

4. Sacrifício – geralmente sacrificavam animais para acalmar seus deuses, alguns

até sacrificavam seres humanos. Visto que acreditavam ter os deuses desejos humanos, ofereciam também, bebida e alimento (cf Is 57.5,6; Jr 7.18).

g) O Ano Cristão ou Ano Litúrgico - também chamado de Ano Eclesiástico, são os vários períodos do ano designado pela igreja para homenagear santos, além de lembrar os vários aspectos da vida de Jesus, servindo para ajudar a levar os seres humanos para o céu. A festa central do ano é a Páscoa; a segunda mais importante é o Natal. Surgiu no período entre 100 e 313 da historia da igreja cristã.

− Toda a adoração litúrgica é concebida como representação do drama da auto-revelação de Deus ao homem.

− O macrocosmo da revelação de Deus no decorrer da história é mostrado pela forma do ano litúrgico (ou calendário litúrgico).

− Este conceito foi emprestado diretamente da tradição hebraica, e as festas cristãs são frequentemente paralelas aos seus antecedentes judaicos.

− Em cada dia do ano eclesiástico, as leituras da Escritura, as orações e os sermões são diferentes, para combinar com a ênfase teológica daquela época ou dia.

− A Páscoa, nascida da aplicação da Páscoa judaica a ressurreição de Cristo, indica ter sido a primeira das festas do ano eclesiástico.

− O Natal foi aceito como uma festa cristã só após 350 d.C. – então purificado dos elementos pagãos que o compunham.

− A Quaresma foi aceita como parte do ciclo litúrgico depois da adoção do Natal. − As festas que compõem o ano litúrgico alem da Páscoa e Natal, podem ser

relacionadas nessa ordem: O Advento, a Festa da Epifania, a Quaresma, a Semana Santa, o Domingo de Ramos, o Sábado de Aleluia, o Dia da Ascensão

e Pentecoste.8

II – A Liturgia no Antigo Testamento

A liturgia no Antigo Testamento deve ser analisada a partir da adoração. Ao observarmos os primeiros capítulos de Gênesis onde encontramos as narrativas dos sacrifícios de Caim, Abel e Noé, podemos concluir que a adoração e tão antiga quanto a raça humana.

Não existe no texto bíblico uma explicação para os sacrifícios de Caim e Abel – provavelmente foram respostas de gratidão a Deus pela bênção da fertilidade dos animais e da terra acompanhada da petição implícita por mais bênçãos (Gn 4. 3,4). O sacrifício de Noé (Gn 8. 20-22) foi agradecimento a Deus por salvá-lo da morte.

8 Para mais detalhes sobre o Ano Litúrgico e as festas que o compõem, veja Enciclopédia Histórico-teológico da Igreja

Cristã, editado por Walter A. Elwell Edições Vida Nova.

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⇒ “Salvação e bênção continuaram determinando a adoração até o presente” (Westermann).

Segundo alguns estudiosos, nunca houve uma comunidade humana sem nenhum tipo de adoração.

“Há uma necessidade humana de celebrar. Em virtude da humanidade do ser humano, é convidado a louvar pelo próprio processo de viver” (Harrelson).

1 – A história da adoração no Antigo Testamento

Não e fácil descrever uma historia da adoração no Antigo Testamento, pois no início, não era importante o local, nem o espaço para a adoração, tampouco o tempo. Bastava a Israel reconhecer Javé como Senhor do tempo, da natureza e da história. A partir do êxodo começam a ocorrer mudanças marcantes em tempos, lugares e procedimentos de adoração.

a) No período dos patriarcas

− Adoração simples, individual e periódica. − Feita ao pé de montanhas, riachos, rochas (Betel) ou árvores (o carvalho de

Moré) – onde quer que Deus aparecesse ao adorador. − A adoração não tinha mediador, nem ídolos, nem tempos determinados. − Em relação a José, não há referências sobre sua adoração ou de sua família,

mas ele diz que Deus (Elohim) o enviou para preservar a vida ou um

remanescente (Gn 45. 5,7,8; 50. 20), e seus irmãos se referem ao “Deus de

teu pai” (Gn 50. 17)9.

b) No período mosaico − Inicia-se com a teofania no arbusto em fogo e o chamado de Moisés (Êx 3. 12,

18; 4. 23; 5. 1,3). − A adoração a Javé é parte do objetivo do êxodo: “... servireis a Deus neste

monte” (Êx 3. 12); “... deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao Senhor nosso Deus” (Êx 3. 18).

− No Sinai a adoração tornou-se coletiva (Êx 19. 24). Houve uma representação de tempo determinado (Êx 19. 10,11), lugar fixo representado pela montanha (Êx 19. 11,18), mediador representado por Moisés (Êx 19. 3, 7,17) e um quarto elemento na adoração do Sinai que é a resposta do povo (Êx 19. 8).

− Os Dez Mandamentos não fazem referência alguma sobre tempos, lugares e formas definidas de adoração, porém nos códigos de leis da aliança Deus estabelece que: → o altar deveria ser feito somente de terra ou de pedras não trabalhadas, sem

degraus, erguido em todo lugar onde Deus fizer seu nome ser lembrado (Êx 20. 24-26);

→ As primícias da terra e os primogênitos dos animais e das pessoas deviam ser consagrados a Deus (Êx 22. 29,30; 23. 19);

→ O sétimo dia devia ser de descanso (Êx 23. 12); → Deviam ser guardadas as três festas principais: A Festa dos Pães (pães sem

fermento ou pães asmos), A Festa da Sega (a Festa das Semanas ou das Primícias – colheita de grãos) e a Festa dos Tabernáculos (Êx 23. 14-16).

− Êxodo 25 a Números 10 é um relato completo da edificação do tabernáculo com sua mobília sofisticada, tipos de sacrifícios, consagração de sacerdotes e início do culto congregacional.

c) No período da monarquia – uma nova fase congregacional. − Construiu-se um templo;

9 Ralph SMITH. Teologia do Antigo Testamento, p. 305.

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− Toda a adoração comunitária que envolvia oferta de sacrifícios foi centralizada no templo;

− Este era uma capela real, e o rei, provavelmente desempenhava um papel significativo no seu funcionamento.

d) Durante e após o exílio − Enfatizou-se a oração, a leitura das Escrituras e o cântico dos salmos; − Funda-se a sinagoga;

− Renova-se a adoração em família.

2 – As épocas da Adoração no Antigo Testamento

A história da adoração no Antigo Testamento revela as mudanças que ocorreram, onde um padrão de um conjunto de épocas, lugares e pessoas ligadas a adoração começou a surgir. Nota-se isto nos textos que descrevem os calendários de cultos: Êx 23.10-19; Lv 23.4-44; Nm 28.29 e Dt 16.1-17. Smith, em seu livro “Teologia do Antigo Testamento” faz um apontamento sobre os quatro calendários de culto nessa ordem:

1º O calendário de culto em Êxodo 23. 10-19, é provavelmente, o mais antigo e breve. Aponta a semeadura no outono; o descanso da terra a cada sete anos; o sétimo dia como dia de descanso; o comparecimento dos homens diante de Deus, três vezes por ano, para a celebração de uma festa – as três festas religiosas em que o povo todo se reunia para o culto solene.

2º O calendário que está em Deuteronômio 16.1-17, é o segundo indicado. Fala do

inicio do ano na primavera, no mês de abib; liga a Páscoa a festa dos Pães sem

Fermento, e que é um evento comunitário que deve ser realizado no lugar central

de culto, e não em casa pela família como em Êxodo 12. Há a alteração do nome

da festa do outono de “Colheita” para “Tabernáculos” (Dt 16.13).

3º O Código de Santidade em Levítico 23.1-44 mostra o terceiro calendário de culto o Antigo Testamento. É o primeiro calendário que menciona o “Sábado” pelo nome e a denominá-lo “santo” – é chamado “santa convocação”. As três Festas mencionadas também são chamadas “santas convocações”. O dia catorze do primeiro mês , é dado como dia certo para a Páscoa, que é seguida pela festa de sete dias dos Pães sem Fermento. Há instruções de providência de auxílio aos pobres (Lv 23.22).

4º O quarto calendário cultural encontra-se em Números 28-29. Inicia-se com a oferta queimada diária (cf Êx 29.38 e Ez 46.13). Descreve as ofertas e sacrifícios para o Sábado (28.9,10); ofertas para o primeiro dia de cada mês – a lua nova (28.11-15); os rituais da Páscoa e dos Pães sem Fermento (28.16-25); os detalhes para a Festa das Semanas (28.26-31). O capitulo 29 descreve a observância do primeiro dia do sétimo mês (Ano Novo), do Dia da Expiação, e apresenta uma descrição detalhada dos sacrifícios exigidos para os vários dias da festa do sétimo mês.

Fica claro que a Páscoa não foi observada regularmente durante boa parte da história de Israel. Lemos sobre a Páscoa nos dias de Josué (Js 5.10), de Ezequias (2 Cr 30.1-3) e de Josias (2 Rs 23.21-23).

3 – Os lugares de adoração no Antigo Testamento

No Antigo Testamento era assim: quando Deus aparecia em um lugar, este tornava-se santo. Veja:

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− Deus apareceu a Abraão no carvalho de Moré em Siquém e este edificou ali um altar (Gn 12.6,7) e outro em Betel (Gn 12.8);

− Deus apareceu a Isaque em Berseba e este levantou um altar ali (Gn 26.23-25);

− Deus apareceu a Jacó em Betel e este erigiu uma pedra para marcar o lugar da sua visão. Chamou a pedra mãzzebâ, “coluna” e disse que ela seria a casa de Deus (Gn 28.18-22);

− Deus apareceu a Moisés no Sinai (Horebe, Êx 3) e posteriormente Moisés estaria com o povo no mesmo lugar para adorar a Deus (Êx 19-20);

− Deus apareceu a Josué em Gilgal, perto de Jericó e este lugar tornou-se “santo” (Js 5.13-15).

Além desses altares construídos pelos patriarcas e por outros líderes de Israel, a Palestina estava cheia de altares, pedras sagradas, colunas e árvores que os cananeus tinham erigido e/ou plantado. A maioria desses altares, pedras e colunas como também árvores, ficavam no alto de montes chamados “lugares altos” que, inclusive, Israel recebera ordem de Deus para destruir (Nm 33.52; Dt 12.2,3) mas não o fizeram (Jz 3.7; 6.25,26,30; 8.33; 10.6 cf Js 4.9).

Samuel ofereceu sacrifícios no lugar alto em Ramá (1 Sm 9.12-14); Salomão teve sua visão inicial no lugar alto de Gibeão (1 Rs 3.2-14); os templos de Jeroboão são chamados “lugares altos” (Os 10.8 e Am 7.9); os reis de Israel construíram lugares altos e o povo adorava ali (2 Rs 17.9,11). Apenas Ezequias e Josias derrubaram os lugares altos (2 Rs 18.44; 23.5).

Mas nem todos os lugares sagrados em Israel eram altares cananeus, e nem todo culto israelita era sincretista. Havia determinados altares voltados para celebrar e comemorar o que Javé fizera por eles ali. Por exemplo, em Gilgal, Josué tomou doze pedras do leito do rio Jordão e ergueu um altar (Js 4.1-7). Quando mais tarde, em visitas dos israelitas às pedras, as crianças perguntassem: “O que significam essas pedras?”, teriam como resposta: “As águas do Jordão foram cortadas diante de arca da Aliança” (Js 4.6,7).

Alguns lugares sagrados em Israel

Havia muitos “lugares sagrados” em Israel, tais como Betel, Berseba, o monte Tabor, Hebrom e Mispa, no entanto, nenhum deles se comparou com Gilgal, Siquém, Siló ou Jerusalém como lugares de culto. Daremos aqui, um breve destaque a Siquém, Siló e Jerusalém como lugares de culto.

Siquém – o centro histórico e religioso mais expressivo no antigo Israel. Situava-se a 55 quilômetros ao norte de Jerusalém, em um vale tendo ao norte o monte Ebal e ao Sul, o monte Gerizim. Não há nenhuma referência bíblica a uma “conquista” de Siquém pelos israelitas, mas sim que Josué levantou um altar em Siquém e leu ali as bênçãos e maldições segundo a lei de Moisés (Js 8.30-35; cf Dt 11.29,30; 27.4-13), e que ali, em Siquém, convocou todas as tribos de Israel para renovar a aliança do Sinai (Js 24.1-28). Depois, somente após o exílio, Siquém voltou a ser importante como lugar de culto. Ali, no monte Gerizim, foi construído o templo samaritano por volta de 300 a.C. (veja a preocupação da mulher samaritana com o local de adoração – João 4.20). Segundo H.J. Kraus (in Smith p.314), um pequeno grupo de samaritanos realiza seus cultos até hoje no monte Gerizim.

Siló – o lugar onde parece ter sido o centro religioso das tribos de Israel, e sede do

tabernáculo após a conquista inicial (Js 18.1). Localizada mais ou menos no meio entre

Betel e Siquém, foi onde se lançaram sortes para a divisão de Canaã entre as tribos (Js

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18.8-10; 19.51). Nesse lugar a tribo se reunia em tempo de crise (Js 22.12). No tempo de Samuel era o lugar da peregrinação anual (1 Sm 1.3). Foi de Siló que os filisteus capturaram a arca da aliança do Senhor (1 Sm 4.3,4,11,19).

Jerusalém – a cidade que se tornou o símbolo teológico do reino universal de Deus. O. Boyer coloca que “enquanto Roma era o centro político, e Atenas o centro intelectual, Jerusalém era o centro espiritual do mundo, a cidade da maior influência sobre a esperança e o destino de gênero humano. Era a cidade escolhida do único e verdadeiro Deus, o centro dos seus cultos, leis e revelação, com a missão de proclamá-lo a todo mundo”. A história de Jerusalém bem como sua importância na adoração em Israel, é longa e muito conhecida, de maneira que não se faz necessário relatar tudo aqui. Sob um ou outro nome, Jerusalém aparece em cerca de dois terços dos livros do

Antigo Testamento.10

− Abraão pagou o dízimo a Melquisedeque em “Salém” (Gn 14. 18-20);

− Davi conquistou Jerusalém e fez dela sua capital (2 Sm 5.6-9), fato que, inclusive, passou a dar um significado incomum à referida cidade;

− Salomão construiu o templo em Jerusalém (1 Rs 6); − Os babilônios destruíram a cidade e o templo em 587 a.C. e os romanos a

destruíram novamente em 70 d.C.; − Os profetas identificaram Jerusalém como futura cidade de paz e seu

governante vindouro, como príncipe da paz e retidão (Is 9.7; 16.4-9;

54.10,14; Jr 29.10,11; Ez 37.24-26; Mq 5.5).11

− No Antigo Testamento, Jerusalém é chamada como centro do mundo (Ez 5.5,6;

38.12), cidade edificada sobre um monte (Is 2.1-5; Ez 40.1,2; Mq 4.1-4) e luz do mundo (Is 60.1-7);

− Os mesmos salmos que se referem a Jerusalém com a cidade de Deus, tem uma teologia de Sião marcante (Sl 46; 48; 76).

Com relação à liturgia no Antigo Testamento, vimos até aqui, apontamentos da história, das épocas e dos lugares da adoração. Vimos que as épocas e lugares da adoração no Antigo Testamento, não eram fixa, mas esporádica. Perto do fim do Antigo Testamento, a adoração já estava muito bem estruturada em termos de épocas e lugares.

a) A Religião de Israel

A partir de agora falaremos mais especificamente da religião de Israel, que era uma religião revelada. Essa experiência esta registrada em Êxodo 19 até Levítico 27. A experiência da revelação de Deus a Israel que ocorreu no Monte Sinai, onde o povo, propositadamente se acampara. Um povo que apesar de conhecer o fato de que Deus estabelecera aliança com Abraão, Isaque e Jacó, não tinham consciência experimental de Seu poder e de Suas manifestações em favor dele. E Deus, contudo, nunca se esquecera desse pacto com os patriarcas (cf Êx. 6.2-9). Assim, um povo sai subtamente do estado de servidão para o estado de uma nação independente, fato que levou Deus a expandir a aliança estabelecida com os patriarcas, na forma dos Dez Mandamentos (Decálogo) e de preceitos que visavam uma vida santa, a construção do tabernáculo, a organização do sacerdócio, a instituição das oferendas e a observância de festividades e épocas.

10

Chamava-se também Jebus (Jz 19.10); Sião (Sl 87.2; 2 Sm 5.6,7); Ariel ou Lareira de Deus (do hebraico ‘ar’el – Is 29.1a); Cidade de Justiça (Is 1.26); Santa Cidade (Is 48.2); Cidade de Davi (2 Sm 5.7).

11 Parece que a Bíblia cria um jogo de palavras com a ideia de paz (shalom) e o nome Jerusalém. Algumas referências no

Antigo Testamento, também vinculam as duas idéias de retidão (tsedeq) e paz (shalom) com Jerusalém (Cf Sl 72. 1,3,7;

122. 6-8; Is 1.21,26) – Smith. Teologia do A T, p. 315.

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O Pacto – com base no livramento que Deus concedeu a Israel, estabeleceu com eles um pacto, pois agora Israel teria de ser um povo totalmente consagrado, teria de ser nação santa, a condição do pacto era a obediência.

O Decálogo – os Dez Mandamentos constituem a introdução ao pacto. Sua

característica distintiva vê-se logo nos primeiros dois mandamentos que apontam

terminantemente contra a idolatria, uma das piores ofensas na religião de Israel. Tendo

habitado entre politeístas como os egípcios, Israel deveria ser distinto e singular, na

qualidade de povo peculiar de Deus, caracterizado por uma devoção singular a Deus, e a

Deus exclusivamente.12

Também estabeleceu-se leis morais e regulamentos adicionais para uma vida santa como guia a Israel em sua conduta como povo santo de Deus (Êx 20-24 e Lv 11-26). As leis morais eram permanentes, mas muitas outras dos âmbitos civis e cerimoniais tinham natureza temporária.

O Tabernáculo – (Santuário) – logo após a confirmação do pacto (Êx 24.4 ss) Israel recebeu ordem para a construção do tabernáculo (do santuário), para que Deus pudesse “habitar no meio deles” – porque o propósito real de um santuário é a comunhão com Deus – (Êx 25.8). O tabernáculo lembrava também aos israelitas que Deus os acompanhava em sua peregrinação. Os capítulos 25 a 40 de Êxodo dão as instruções detalhadas sobre a construção de tabernáculo. Quando estavam acampados em algum local, o Tabernáculo, também chamado de Tenda da Congregação, era montado no centro, cercado pelas tendas dos levitas e estas cercadas pelas tendas das tribos de Israel. Dessa forma era entendido que a adoração a Deus era central na vida de Sua nação.

O Sacerdócio – ofício que se tornou significativamente importante após a remissão de Israel do Egito. A prioritária responsabilidade dos sacerdotes era a de serem mediadores entre Deus e o homem. Para uma ministração ordeira e santa adoração, o designado para servir como sumo sacerdote durante as peregrinações de

Israel foi Arão, assessorado por quatro filhos seus: Nadabe, Abiu, Eleazar e Itamar.13

12

Samuel J. Schultz. A história de Israel, p.58

13 Para mais detalhes sobre O Tabernáculo e sobre Os Sacerdotes, veja S. J. Schultz – A História de Israel – PP 59 a 63.

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Os levitas foram os escolhidos para ajudar na ministração (Nm 3.5-13; 8.17), e, como substitutos para cada filho primogênito de cada família israelita, representavam a nação inteira diante de Deus.

− Os sacerdotes deviam ter uma vida santa (Lv 21.1 a 22.10);

− Não poderiam ter defeitos físicos (Lv 21.16-23);14

− Suas vestes também indicavam sua santidade (Êx 28.l40-43; 39.27-30).

As Oferendas – apesar de já ser prática conhecida por causa dos sacrifícios de Abel, Caim, Noé e os patriarcas, elas tiveram papel importante na comunhão dos israelitas com Deus. Através das oferendas conforme prescritas, os israelitas tinham a oportunidade de servir a Deus de maneira aceitável (Lv 1-7).

Havia quatro tipos de oferendas que envolviam derramamento de sangue:

→ Os holocaustos, → As ofertas pacíficas, → As ofertas pelo pecado, → As ofertas pela culpa (pela transgressão).

- Os Holocaustos – do hebraico olah – Significa “o que sobe”. Fazer subir em fumaça, uma oferta total da qual os demais sacrifícios são apenas modificações. A característica distintiva dos holocaustos era o fato de que o animal sacrificado era totalmente consumido pelo fogo sobre o altar (Lv 1.5-17; 6.8-13).

- As Ofertas Pacíficas – do hebraico shelem, da raiz traduzida “paz”, “saúde” e “inteiro” – Apontavam para uma inteira dedicação da parte do ofertante, e da paz com Deus a quem as oferecem. A característica principal dessa oferenda era a oferta de uma refeição (Lv 3.1-17; 19.5-8; 22.21-25). Isso era símbolo de uma viva comunhão e companheirismo entre o homem e Deus. Familiares e amigos e também o servo, poderiam participar dessa refeição sacrificial (Dt 12.6, 18). Havia três modalidades de ofertas pacificas (Lv 7.11-21):

1º Ofertas de Ações de Graças – para relembrar com gratidão as misericórdias alcançadas, quando então, o sacrifício era feito como reconhecimento de bênçãos imerecidas ou inesperadas (v.12);

2º Ofertas Votivas – voto – promessa no sentido de trazer uma oferta se certa aspiração fosse atendida (v.16);

14

Os sacerdotes deviam projetar para o povo a imagem de um Deus perfeito e santo. Deviam estar isentos de qualquer mancha ou defeito, para satisfazerem as exigências de Deus, exigências que só Cristo cumpriu plenamente (I Pe 1.19; Hb 7.26-28).

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3º Ofertas Voluntárias – diferente das ofertas votivas por não haver promessa anterior; diferente das ofertas de ações de graças por não se referirem a alguma bênção específica. Era apenas motivada pela expressão de amor a Deus (v. 16).

- As Ofertas Pelo Pecado – para expiar pecados específicos. Eram pecados de ignorância, cometidos inadvertidamente (Lv 4.1-35), ou pecados de transgressões especificas (Lv 5.1-13), ou pecados voluntários (Lv 6.24-30). Embora Deus tenha um único padrão de moralidade, a oferenda variava de acordo com a responsabilidade do individuo.

- As Ofertas Pela Culpa (ou pela transgressão) – do hebraico ãshãm, “culpa” no sentido de danos e estragos – Eram infrações contra os direitos legais de uma pessoa e suas propriedades que também representava uma ofensa contra Deus (Lv 5.14, 6.7 e 7.1-7). Também no caso de não reconhecer a Deus, não entregando as primícias, os dízimos ou outras ofertas, tornava necessário um sacrifício. E esses sacrifícios eram dispendiosos, por causa também da restituição de tudo, tornando o culpado cônscio do preço de seu pecado.

Ofertas de Manjares (ou oblação) – essa oferta não envolvia a vida de animal, mas produtos do solo que representava o fruto do labor humano (Lv 2.1-16 e 6.14-23). O termo hebraico minhah da o significado de “aproximação” – aponta para uma oferta de homenagem, que significava uma promessa de leal obediência a Deus. Não era uma oferta trazida sozinha. Era, primeiramente, um acompanhamento dos holocaustos e ofertas pacíficas como um suplemento (Nm 15.1-13).

b) As Festas Cerimoniais e Estações Determinadas

Os israelitas celebravam varias festas sagradas no decorrer do ano as quais eram denominadas “santas convocações” (literalmente significa “os tempos fixados de reunir-se”.). A palavra hebraica traduzida por “festa” tem dois significados: o primeiro, “uma ocasião assinalada”; o segundo, “festa”. De forma geral, eram ocasiões de um dia ou mais de duração em que o povo suspendia suas atividades e reuniam-se jubilosamente

com o Senhor.15

Através das festas os israelitas: − Eram lembrados de que eram povo santo de Deus; − Podiam refletir sobre a bondade e caráter de Deus.

O Sábado – era a primeira, principal e mais freqüente observância. O sábado é referido pela primeira vez em Êxodo 16.23-30 indicando que o termo já estava associado ao sétimo dia antes mesmo d legislação do Sinai. Assim, no Decálogo (Êx 20.8-11) os israelitas são advertidos a “lembrar do dia de sábado” (isso indica que não foi aí o início de sua observância, mas ainda muito antes).

− O termo “sábado” vem do hebraico shãbhat, que significa cessar, desistir; → Deus descansou ao sétimo dia (Êx 20.11);

− A observância do Sábado era memorial de que Deus redimira Israel da servidão egípcia (Dt 5.12-15);

− O Sábado comemorava a obra da criação divina;

− Era símbolo visível da santificação na antiga aliança (Êx 31.13); − O Sábado proporcionava a Israel condições de consagrar um dia da semana ao

serviço de Deus, visto que no Egito isso não era possível.

15 Paul HOFF. O Pentateuco. p. 183.

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Lua Nova e Festa das Trombetas – o tocar das trombetas proclamava o começo de cada mês, o qual se chamava lua nova (Nm 10.10).

O primeiro dia do sétimo mês do ano religioso, estava destinado como festa das trombetas. O motivo da festa era:

− Anunciar o começo do ano (o ano novo); − Preparar o povo para o auge das festas religiosas: o dia da Expiação e a festa

dos Tabernáculos.

O Ano Sabático – ano de descanso para o solo a cada sete anos (Êx 23.10,11 e Lv

25.1-7). Não semeavam nem podavam suas videiras. Toda a colheita daquele ano deveria

ser compartilhada por todos (proprietários, escravos, estrangeiros e até animais)

O significado do ano sabático era visto:

− Como reconhecimento do direito de Deus sobre a terra;

− Ano da remissão – alforria de escravos (Êx 21.2-6; Dt 15.12-18), que ajudava os israelitas lembrarem que foram livres da servidão egípcia;

− A leitura da lei – que tornava o ano sabático mais significativo (Dt 31.10-30).

O Ano de Jubileu – após sete observâncias do ano sabático. Era o ano da

liberdade.16

− A cada cinqüenta anos, a terra era devolvida ao seu dono original – os israelitas

deveriam reconhecer na posse da terra, que Deus era o doador, não a vendiam. Apenas o direito de produção da terra podia ser vendido. No ano de jubileu era devolvida ao dono original;

− Os campos ficavam sem cultivo; − As dívidas eram canceladas; − Os escravos eram libertos – através disso os israelitas eram lembrados de que

antigamente eram escravos no Egito.

As Festas Anuais – eram três:

1. A Páscoa e a Festa Dos Paes Asmos (Lv 23.5-8), na qual celebrava a saída do Egito e a redenção efetuada com o cordeiro pascal (Êx 12.1-13.10), portanto era considerada uma das festas mais importantes do calendário hebraico.

2. A Festa Das Semanas, Das Primícias Ou Da Sega (Lv 23.15-21). Nos tempos de Jesus denominava-se “pentecoste”, pois caía cinqüenta dias depois da Páscoa. Marcava o fim da colheita do trigo (Êx 23.16) e oferecia-se a Deus as primícias do sustento básico dos israelitas.

3. A Festa Dos Tabernáculos (Lv 23.33-46). Comemorava-se o fim da época da

colheita e também a peregrinação no deserto.

O Dia da Expiação17

- do hebraico kipper, “encobrir” – era o mais importante dia do calendário judeu. Chamava-se yoma, “o dia”. Era o ponto culminante de todo o sistema de sacrifícios (veja Lv 16.1-34; 23.26-32 e Nm 29.7-11).

Nenhum trabalho era permitido nesse dia, havendo santa convocação e jejum, o único exigido na lei mosaica (Lv 16.29).

16

Um dos propósitos do jubileu era resolver o problema da pobreza herdada – cada família pobre recebia um novo começo após 50 anos, com restauração da liberdade e da herança. O termo “jubileu” é do hebraico “yoval” que significa “carneiro”, depois passou a ser “chifre de carneiro”, que se usava para formar uma buzina especialmente empregada para proclamar o ano do jubileu. A raiz da palavra pode ser yãbhal – idéia de reconduzir e restaurar coisas empenhadas e pessoas escravizadas (Lv 25.11-13) – Nota Shedd.

17 O Dia da Expiação – hoje Yom Kippur – foi celebrado no dia 10 de Tishri (setembro/outubro).

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No dia da expiação, o sumo sacerdote “reunia todos os pecados de Israel acumulados durante o ano e os confessava a Deus pedindo perdão” (Holf p. 186). Ele entrava no lugar santíssimo, uma vez por ano (no dia da expiação), e fazia a expiação sobre o propiciatório.

O sacrifício do dia da Expiação era diferente dos demais sacrifícios já citados porque purificava a nação como um todo, enquanto os demais eram de purificação individual.

c) Os Levitas

Foram os descendentes de Levi.18

Os levitas eram os ajudantes dos sacerdotes. Eles representavam a nação inteira diante de Deus, como substitutos dos primogênitos de cada família que, em razão de terem escapado da morte no Egito, pertenciam a Deus. (Êx 32.25-29; Nm 3.5-13; 8.17-19).

− Receberam privilégio e responsabilidade entre o povo de Deus na supervisão do culto e nos cuidados e no transporte do tabernáculo (Êx 38.21; Nm 1.50-53).

− Moises e Arão eram da casa de Levi (Êx 2.1,2). − Somente os levitas poderiam ser sacerdotes (Nm 1.51) – mas nem todo levita

foi sacerdote. − Eram representados por três grupos dos filhos de Levi:

1. Os gersonitas (os filhos de Gérson) – incumbidos de cuidar do exterior do tabernáculo – vigias (Nm 3.25,26);

2. Os coatitas (os filhos de Coate) – incumbidos de cuidar dos vasos sagrados (Nm 3.27-32);

3. Os meraritas (os filhos de Merari) – incumbidos da conservação do tabernáculo (Nm 3.36,37).

Antes da construção do templo, os levitas precisavam estar sempre transportando a arca (1 Cr 15.2). Quando o novo templo ficou pronto, então toda a adoração outrora feita no tabernáculo, passou a centralizar-se no templo e os levitas não tiveram mais tal trabalho (1 Cr 23.25,26) – porém receberam novos deveres com a introdução da adoração no templo.

− No tempo de Davi, continuaram as mesmas responsabilidades (1 Cr 23.28-32). − Davi os dividiu em classes e serviços (1 Cr 23.4,5);

1. Superintendentes da obra da casa do senhor, 2. Oficiais e juízes (1 Cr 26.29; 2 Cr 19.8), 3. Porteiros (1 Cr 9.26; 26.1,12,13),

4. Músicos (exemplo: os filhos de Corá – Sl 84; 1 Cr 6.31,32; 15.16-24).

− No tempo de Joás tinham o dever de reparar o templo (2 Cr 24.5, ver também no tempo de Ezequias – 2 Cr 29.3-5).

− No retorno do exílio (Ed 2.40) – restabelecido nos seus turnos “segundo o que

está escrito na lei de Moisés” (Ed 6.18).

⇒ O trabalho dos levitas nos mostra:19

18

Os levitas eram em número de 22.000 indivíduos da idade de um mês para cima (Nm 3.39) e em numero de 8.580 indivíduos da idade dos trinta aos cinqüenta anos, os que entraram para cumprir tarefas no tabernáculo (Nm 4.47,48). 19 Nota sobre Números 4.2 – Bíblia Shedd.

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→ A variedade de dons e deveres na igreja (Ef 4.7-12; 1 Co 12); → Há trabalho para todos e um serviço especial para cada um – e devemos ser

humildes.

d) O Templo

Após a conquista de Canaã pelos israelitas, deixaram de carregar o Tabernáculo por onde quer que fossem. O rei Davi, finalmente levou a Arca da Aliança para Jerusalém, onde planejou construir o templo. Mas foi seu filho Salomão que desenvolveu a construção do primeiro templo.

O vocábulo “templo” significa um edifício publico consagrado à divindade e ao culto religioso. No hebraico e termo é hekãl, “palácio” e no grego é hieron. O uso de

templos é antigo e generalizado na cultura humana.20

A palavra templo nas escrituras, quase sempre se refere ao templo em Jerusalém – não há edifício do mundo antigo que seja mais interessante para o povo de Deus. Mas o tabernáculo também é chamado templo em 1 Sm 1.9; 3.3; 2 Sm 22.7.

Os elementos bíblicos essenciais da adoração no templo derivam da aliança no Sinai. O templo e seu sacerdócio faziam o povo lembrar de que eram chamados para a santidade, isto é, nação santa de um Deus santo. O templo era também sinal da soberania de Deus.

Nas narrativas encontramos o termo “casa do Senhor”, que pode ser relacionado como “casa de oração” (Is 56.7); “casa de adoração”, (Sl 5.7; 138.2), e “casa de edificação” (Ef 4.12; 1 Co 14.4).

Conforme a descrição em Êxodo 25-31, o tabernáculo no deserto foi o protótipo do templo posterior em Jerusalém com certos aspectos singulares, isto é, a planta geral do templo, era a do tabernáculo, mas as medidas eram em dobro e as ornamentações mais ricas (1 Cr 28.11-21).

A descrição da edificação do templo por Salomão encontra-se em 1 Reis 6 e 2 Cr 3, onde nos diz inclusive, o local: Monte Moriá. Este lugar é de um significado relevante, pois foi onde Davi ofereceu um sacrifício que interrompeu o castigo divino à cidade de Jerusalém (1 Cr 21.18-30) e, talvez, o mesmo local em que esteve Abraão sob a ordem de Deus para oferecer Isaque (Gn 22.2)

A Dedicação do Templo por Salomão

− De acordo com 1 Reis 6.37,38 a conclusão da construção do templo se deu no 8º mês do 11º ano.

− Isso aponta para o fato de que as cerimônias consagratórias tenham sido efetuadas no 7º mês do 12º ano (de acordo com a Festa das Trombetas no 7º mês).

− A Festa dos Tabernáculos começava no 15º dia do 7º mês. Conclui-se que a dedicação do templo ocorreu na semana anterior à Festa dos Tabernáculos – seguiu-se por duas semanas (2 Cr 7.4-10) entre a consagração do Templo e a Festa dos Tabernáculos – terminou no 23º dia.

20 Para maiores detalhes sobre o templo e tabernáculo veja Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, editado por Walter A. Elwell. Edições Vida Nova.

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− Salomão foi a figura chave das cerimônias de consagração: tomou a posição de servo de Deus e representou a nação.

− A consagração do templo foi o mais significativo evento na história religiosa de Israel desde o Sinai.

− O tabernáculo havia sido erigido para ajudar a Israel e reconhecer e servir a Deus (Êx 40.34-38).

− O templo, que foi erigido por Salomão, confirmou o estabelecimento do trono davídico de Israel predito por Moisés (Dt 17-14-20).

A Importância do Templo Para os Israelitas

− Representava o centro da adoração de Israel (Sl 84);

− Centralizava o culto da nação21

, pois com o tabernáculo era diferente servira desde o Êxodo como um templo portátil (1 Cr 23.26) – às vezes ficava num lugar e a arca em outro – além disso, alguns israelitas adoravam em altar pagão;

− Único meio de o povo relacionar-se com Deus (era símbolo da presença de Deus entre o povo);

− Lugar para o povo meditar sobre a grandeza da bondade de Deus (Sl 48.9).

Conceitos neo-testamentários correspondentes ao templo:

→ Apesar de tradições diferentes, nossa adoração deve estar centrada em Jesus; → Não devemos reter nada em nosso compromisso com Deus, assim como

Salomão não poupou gastos para a construção do templo (1 Cr 29.1); → Hoje, Deus se encontra conosco por meio da morte e ressurreição de Jesus,

assim como por meio do templo no Antigo Testamento; → No Novo Testamento, o templo é o próprio Jesus (Jo 2.19; 14.6-10); também se

refere à igreja – povo de Deus (1 Co 3.17; 6.19,20).

e) A Sinagoga

A casa de reunião, estudo e oração dos judeus. O termo “sinagoga” vem do grego synagô, que quer dizer “juntar”. O grego

synagogê significa “lugar de assembléia”.

→ Na versão LXX (tradução do AT para o grego), ocorre o termo ekklesia por 100

vezes, desta, 22 nos apócrifos; representa o equivalente hebraico qahal, cujo

termo é traduzido em Gênesis, Levítico, e Números por sinagogê.22

→ A Sinagoga do Antigo Testamento, além de uma comunidade histórica, é uma

instituição espiritual. Servia como um centro social, como o lar espiritual do judeu, e o lugar de educar os seus filhos.

→ Nasceu no exílio babilônico (entre os séculos VI e V a. C.) e serviu de santuário para os judeus cativos, que por estarem longe do templo, numa terra estranha, sentiam a necessidade de se edificarem em comum.

→ A tradição judaica tem sustentado que a referência ao “santuário pequeno” em Ez 11.16 é uma referência direta a sinagoga dos exilados; também que as referências de Ezequiel e as reuniões com anciãos (8.1; 14.1; 20.1), indicam os cultos na sinagoga.

→ A ordem do culto nas sinagogas assemelhava-se a que se acha descrita em Ne 8.1-8; Lc 4.16-22; At 13.15; 15.21.

→ O Talmude23

atribui a Esdras a aos seus sucessores, os homens da Grande Sinagoga

a formulação das primeiras orações litúrgicas, tais como a Amidah24

.

21 Veja o que aconteceu quando Jeroboão assumiu o trono no Israel dividido (1 Rs 12.26-33).

22

Enéas TOGNINI. Eclesiologia, p. 29.

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f) Os Salmos – Hinologia de Israel

O livro dos Salmos era o hinário nacional de Israel. Os Salmos eram usados nos cultos

de adoração israelita desde os tempos davídicos. A Igreja Cristã, através dos séculos, tem

incorporado os Salmos nas liturgias e rituais. O livro de Salmos é o que tem recebido maior

uso na adoração pública que qualquer outro livro do Antigo Testamento.

O titulo hebraico de Salmos, tehillîm, significa “Louvores” ou “cânticos de louvor”; em grego, psalmos, significa “Poemas adaptados a Música”. O titulo “Salmos” reflete o nome do livro na LXX (Psalmoi). O título grego alternativo, Psalterion, é empregado – na forma aportuguesada, Saltério.

O fato de refletirem a experiência comum da raça humana, explica a grande identificação do público religioso com os Salmos em todos os tempos.

Levando-se em conta que Davi foi quem primeiro mostrou-se interessado em estabelecer a adoração e iniciar o uso litúrgico de alguns dos salmos, é razoavelmente válido associar a coletânea inicial dos mesmos a Davi (1 Cr 15-16). É totalmente provável que os reis Salomão, Josafá, Ezequias, Josias e outros contribuíram para o arranjo e uso amplo dos Salmos na adoração, em tempos subseqüentes. Esdras, na era pós-exílica, pode ter sido o editor final do livro de Salmos.

O livro dos Salmos tem uma quíntupla divisão, isto é, dividido em cinco livros. É provável que a divisão siga o padrão do Pentateuco. Cada uma dessas unidades

termina com uma doxologia25

. O propósito das doxologias é dar louvor pelo que foi revelado acerca de Deus em cada livro. Essa ênfase no louvor concorda com o título hebraico para o livro todo: “Louvores”.

Esta “coleção de cânticos” (Gr. Psalterion) contém uma variedade de estilos literários que indica funções no culto e público particular de Israel.

Encontramos as seguintes categorias de Salmos:

− Salmos de Louvor- os mais numerosos. São expressões de exultação e gratidão

que com freqüência, surgiram como seqüência natural de algum grande

livramento (exemplo: Sl 68); louvor pela Criação de Deus (Sl 8; 19; etc.); ações

de graça pela colheita (Sl 65); cânticos de Sião (46; 48; 76); cânticos de

entronização (47; 93); alegria na adoração (Sl 95-100); celebrações festivas (Sl

111-118) e os grandes “Hallel” - Aleluia26

(Sl 146-150).

− Salmos de Peregrinação – os intitulados “Cântico dos Degraus” (ARC) ou “Cântico de Romagem” (ARA). De maneira geral estes salmos estavam associados às peregrinações anuais dos israelitas a Sião, descrevem os anseios e as expectativas de peregrinos e adoradores à medida que se aproximam do templo (por exemplo: salmos 120-134).

23

O Talmude era uma tradição oral memorizada sobre interpretações da lei. No decorrer dos séculos essa tradição foi crescendo até que foi preservada em forma escrita no Talmude judaico. 24

A Amidah era uma oração central em silêncio, que contemplava a Deus e lhe dava graça pelo sábado e pelas bênçãos humanas (tais como a oportunidade de adorar) – Enciclop. Hist. Teol. da Igreja Cristã, p. 396

25 Doxologia: hino de louvor a Deus – grego - δοξολογια (doxologia): vocábulo usado para designar as ultimas palavras da

oração dominical de Mateus 6.13.

26 Aleluia: hb alleluiah – louvor a Jeová/ louvado seja Deus; júbilo, alegria – exclamação de vitoria (salmos 113-118; 146-

150). Aleluia é a mais sublime aclamação de culto e adoração. No grego é allelouia. Aparece 24 vezes nos Salmos e 4 vezes no Apocalipse.

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− Salmos Históricos – meditações sobre o modo como Deus tratou com Israel nos tempos passados (78; 81; 105; 106).

− Salmos Messiânicos – aqueles que indicam profeticamente certos aspectos do Messias, conforme ele foi revelado no Novo Testamento (Sl 2; 8; 16; 22; 40; 41; 45; 110; etc.).

− Salmos Acrósticos – em que sua composição segue as letras do alfabeto hebraico. O mais conhecido destes é o Salmo 119, onde em cada serie de oito versículos é empregada uma letra sucessiva do alfabeto (mas esse artifício não dá para ser notado em nossas versões portuguesas).

Se fizermos uma classificação mais detalhada dos salmos, teremos então a

duplicação das categorias apontadas27

.

Com base nos textos hebraicos e gregos, e noutras fontes, o uso litúrgico dos seguintes Salmos tem sido sugeridos:

30 – festa da dedicação; 7 – Purim; 29 – Pentecoste; 83 ou 135 – Páscoa; 137 – lembrança da destruição do templo; 29 – últimos dias da festa dos tabernáculo;

Os seguintes eram entoados durante a oferta queimada diária:

24 – Domingo 38 – Segunda-Feira

82 – Terça-Feira

94 – Quarta-Feira

81 – Quinta-Feira

93 – Sexta-Feira

38 e 92 – Sábado

Eles eram cantados em sequências regulares, seguindo os sacrifícios matutinos e vespertinos, em dias da semana para tais especificados, e eram acompanhados por instrumentos que ocasionalmente tocavam um interlúdio indicado pela palavra “Selá”.

Os Salmos eram a expressão de ação de graças pelo passado, rededicação para o presente e expectativas para o futuro, nas festas e nos jejuns, nos cultos diários e nas comemorações. O povo de Israel lembrava e revivia as vitórias passadas, consagrava-se a obediência presente e antevia os triunfos futuros, principalmente a derrota final dos inimigos de Deus.

Segundo Lasor (p. 481), parece que por muito tempo se teve por certo que o Saltério foi o hinário somente do Segundo Templo (templo de Zorobabel, reconstruído em 516 a. C.). Mas nos últimos anos tem-se chegado a um consenso de que já fazia parte do templo de Salomão, inclusive em razão de que se reconhece o fato de que muitos salmos foram escritos antes do exílio.

27

Para maiores informações sobre os Salmos, veja Willian S. LASOR et al. Introdução ao Antigo Testamento, p. 465

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III – A Liturgia no Novo Testamento

A liturgia da adoração no Novo Testamento deve ser analisada a partir de um novo ângulo, pois se trata da nova aliança. Para tanto, podemos citar aqui as palavras registradas em 1 Pedro 2.5: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus cristo”.

Esta é uma definição dada à Igreja de Jesus Cristo – uma comunidade de adoração que Deus chamou à existência para ser “casa espiritual...”. Desde então, a adoração cristã deve ser realizada, dentro da nova aliança, numa perspectiva esboçada por Jesus em suas palavras à mulher samaritana (Jo 4.24): “Deus é espírito, e importa que os que o adoram, o adorem em espírito e em verdade”.

E. F. Harrison28

coloca: “Adorar a Deus em espírito envolve um contraste com a adoração segunda a letra, própria dos deveres legalistas tão característicos dos judeus; adorar a Deus em verdade, é contrastado com a adoração samaritana e com todas as outras formas de adoração que são falsas em maior ou menor degrau”. Parece então que, nesta nova dispensação, a adoração não depende de leis e regras e/ou rituais determinados, mas sim, de um coração contrito, na direção do Espírito Santo (veja 1 Co 14.26).

Jesus Cristo, ao revelar ao Pai em sua própria pessoa, tornou possível uma adoração mais inteligente, sendo Ele próprio o Filho encarnado, também digno de adoração (Jo 9.38; 20.28; Hb 1.6; Ap 5.6-14).

Desta forma parece mais fácil entender por que há tanta diferença entre a adoração dos dias do tabernáculo e do templo, ate a sinagoga e a igreja primitiva.

A igreja cristã, desde os seus primórdios, tem se reunido regularmente para a

adoração coletiva. Reuniam-se no templo, nos lares (At 2.46), nas sinagogas (At 13.14), ou

cenáculos (At 20.7,8). Então, a adoração na comunidade cristã nascente passa a ser:

Não mais o ministério de sacerdotes ordenados ou cantores profissionais; Não mais uma congregação, em grande parte, apenas fazendo o papel de espectadores extasiados diante do Deus transcendental;

Agora, uma adoração social e congregacional; Adoradores conscientes, tanto de seus vizinhos quanto de Deus;

Cada pessoa tomando parte e até assumindo certa liderança.

Os atos de adoração mais básicos vêm do exemplo e do mandamento do próprio Jesus

que, aliás, só deu origem mesmo à celebração da Ceia do Senhor, as demais práticas foram

oriundas do culto nas sinagogas dos judeus. Esses atos de adoração são:

A leitura e a exposição das Escrituras; As orações; O entoar dos salmos, hinos e cânticos espirituais (veja Hb 13.15); A observância das ordenanças (batismo e ceia).

A Adoração na Sinagoga do Novo Testamento

Já sabemos que a sinagoga teve sua origem ainda nos tempos do Antigo Testamento, contudo, a adoração na sinagoga estava florescendo no seu auge, nos dias

28

E. F. HARRISON. Adoração. In: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, p. 20.

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de Jesus e nos primeiros dias da igreja cristã primitiva. Isso pode explicar por que a adoração dos cristãos judeus tinha seu modelo, pelo menos em parte, do que haviam experimentado na sinagoga.

Veja um interessante relato feito por R. H. Gundry29

sobre a sinagoga:

“A sinagoga típica era um auditório retangular com uma plataforma elevada para o

orador, por detrás da qual havia uma arca portátil ou um nicho, contendo rolos do Antigo

Testamento. A congregação se assentava em bancos de pedra (...). Defronte, de rostos

voltados para a congregação, assentavam-se os dirigentes ou anciãos da sinagoga. Os

cânticos não eram acompanhados por instrumentos musicais. A fim de ler algum rolo do

Antigo Testamento, o orador se punha de pé (...). O chefe da sinagoga selecionava

diferentes membros da congregação para conduzir as recitações, ler as Escrituras e orar.

Visitantes competentes por semelhante modo eram convidados a falar, uma prática que

abriu muitas oportunidades para Paulo pregar o evangelho nas sinagogas”.

A adoração na sinagoga era essencialmente um Culto da Palavra; centralizava-se na leitura cerimonial das Escrituras, especialmente a Torá e os profetas, seguida de discussão (confira Atos 13.14-16). Abaixo, os componentes da adoração na sinagoga:

→ Leituras das Escrituras (Tora; os profetas); → Homilia, seguida de discussão;

→ Cântico de Salmos; → A kedusha, “santo, santo, santo” (Is 6.3); → Orações (A Yotzer e a Ahabah, enfatizando os atos criadores de Deus e seu

amor pelo seu povo, terminando com a Shema – “Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” etc., uma declaração de fé e uma bênção alegre, de Dt 6.4-9; 11.13-21; Nm 15.37-41);

→ As dezoito bênçãos (Expressão de louvor, petições de bênçãos materiais e espirituais e intercessões por muitas pessoas, encerrada com um “Amém” em conjunto).

Atualmente, no que se refere à adoração judaica de Jeová, continua na sinagoga, sem grandes modificações quanto aos seus elementos básicos.

A Vida Religiosa da Igreja de Jerusalém

No início, era uma vida religiosa essencialmente judaica, isto é, os primeiros cristãos não acreditavam que pertencessem a uma nova religião; haviam sido judeus por toda a vida, e continuavam sendo. A distinção que havia entre esses primitivos cristãos e os judeus, era a convicção de que o tempo messiânico havia chegado. Então:

− Continuaram suas adorações de forma judaica, guardando o sábado e assistindo o culto no templo, mas acrescentaram a isso, a Ceia do Senhor (At 2,42,46) e as orações em nome de Jesus (At 4.24-30).

− Uma vez que o primeiro dia da semana era o dia da Ressurreição do Senhor, passaram a reunir-se nesse dia para “partir o pão” em comemoração a Ressurreição. E esse dia passou a ser, o “Dia do Senhor”.

Ao analisarmos as palavras de Paulo em 1 Coríntios 14.26, Efésios 5.19 e Colossenses

3.16, chegamos a uma conclusão de que fala de um padrão de adoração, contudo, é uma

adoração sem estrutura, sem regras, o contrário do que se vira no Antigo Testamento, e até

na sinagoga judaica. Essa adoração sem estrutura, guiada pelo

29 R. H. Gundry. Panorama do novo testamento, pp. 44-46.

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Espírito Santo, que Paulo menciona na carta aos Coríntios, havia conservado três elementos da sinagoga:

1. Salmos (hinos), 2. Leitura das Escrituras, 3. Discussão (uma lição).

Portanto, não fica claro para nós, qual era a ordem do culto na igreja primitiva (até 150 d. C. quando Justino Mártir descreve os cultos típicos de adoração), mas sabe-se que era basicamente simples. Tanto as evidências do Novo Testamento como as dos escritos não-canônicos, indicam que, apesar de os elementos do culto não terem sequência fixa, o evento supremo do culto semanal no Dia do Senhor era a Ceia do Senhor.

J. I. Packerl30

, afirma que, de acordo com alguns eruditos, os primeiros cristãos reuniam para adoração nas noites de domingo, e o culto girava em torno da Ceia do Senhor. Mas em certo ponto, começaram a manter dois cultos de adoração no domingo, conforme escreve Justino Mártir – um de manhã e outro ao entardecer.

A ordem do Culto:

− Geralmente o culto matutino era uma ocasião de louvor, oração e pregação. − No dia de Pentecoste, seguiu-se um padrão que poderia ter sido adotado:

→ Pedro leu as Escrituras; → Pregou um sermão aplicando a situação presente dos adoradores (At 2.14-

36); → Os que aceitaram a Cristo foram batizados, seguindo o exemplo de Jesus; → Os adoradores participavam dos cânticos, dos testemunhos ou de

palavras de exortação (1 Co 14.26).

Como já vimos, o Novo Testamento apresenta-nos apenas um esboço litúrgico e ainda bem informal, isto é, sem regras definidas (1 Co 14.26); mas encontramos também, através das demais epístolas, dos evangelhos e de Atos, alguns “fragmentos” dessa adoração. Destarte, é possível perceber que o culto cristão do século I, já costumava usar grande parte do que consideramos importante hoje, de acordo com o testemunho do próprio Novo Testamento e também com o esclarecimento posterior da

história. Veja esse esboço apresentado por Hustad31

:

A Nova Sinagoga Cristã (Culto da Palavra)

→ Leitura da Escritura (especialmente dos profetas, inclusive cartas de Paulo). “Até a minha chegada, aplica-te a leitura, a exortação, ao ensino” (1 Tm 4.13). “E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses...” (Cl 4.16).

→ Homilia (exposição). “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo... exortava-os e prolongou o discurso até a meia-noite” (At 20.7).

→ Uma Confissão de Fé. “Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, e de que fizeste a boa confissão, perante muitas testemunhas” (1 Tm 6.12). A forma mais antiga de um credo propriamente dito pode ter sido

30

J. I. Packer, O Mundo do Novo Testamento, p. 146.

31 Donald P. HUSTAD. Jubilate. A Música na Igreja, p. 97.

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tão simples como “Jesus Cristo é o Senhor”, semelhante a confissão do eunuco etíope: “Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus” (At 8.37).

→ Cântico (de vários tipos). “... salmos, hinos e cânticos espirituais...” (Cl 3.16), provavelmente sem acompanhamento instrumental.

→ Orações. “E perseveravam... nas orações” (At 2.42).

→ Amém Congregacional. “E se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes” (1 Co 14.16).

→ Coleta (oferta para ajudar os necessitados). “Quanto à coleta para os santos...

No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for” (1 Co 16.1,2).

→ Ação Física. “Quero, portanto, que os varões orem, em todo lugar, levantando mãos santas...” (1 Tm 2.8).

O Cenáculo Contínuo (Culto da Mesa)

→ Ação de Graças (eucaristia). “E tomando um pão, tendo dado graças...” (Lc 22.19).

→ Memória (Gr. Anamnesis). “Fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim” (1 Co 11.25).

→ Previsão da Volta de Cristo. “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Co 11.26)

→ Intercessão (seguindo o exemplo de Cristo no Cenáculo). “Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse:... Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste...” (Jo 17.1a,9b).

→ Ósculo de Paz (evidentemente um costume judeu, continuado pelos cristãos primitivos). A frase “ósculo de amor” ou “ósculo santo” é encontrada em Rm 16.16, 1 Co 16.20, 1 Ts 5.26 e 1 Pe 5.14.

A Celebração da Ceia e do Batismo Cristão

A Ceia do Senhor:

Primeiramente queremos colocar em pauta um dado histórico de como foi instituída a

primeira Ceia. O evangelho de Marcos (14.22-26) dá-nos um relato da instituição da Ceia do

Senhor; cujo contexto foi a refeição da Páscoa que Jesus celebrou com seus discípulos para

comemorar a libertação de Israel do Egito (Mt 26.17; cf Ex 13.1-10).

Hustad32

, faz o seguinte relato:

“Segundo o costume de um lar judaico típico, Jesus pronunciou uma bênção sobre um pão, quebrou-o e deu pedaços para todos os que estavam ao redor da mesa. Semelhantemente, no fim da refeição, o hospedeiro judeu tomava um copo de vinho misturado com água, dava graças e depois passava para que todos o tomassem. Assim

32

Donald P. HUSTAD. Jubilate! A Música na Igreja, p. 92.

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foi que na ceia do “cenáculo”, Jesus deu novo significado a um ato tradicional de agradecimento (eucaristia), e instituiu a “Ceia do Senhor”, que muitos cristãos crêem ser o ato de adoração mais significativo da fé cristã” (Mt 26.26; Mc 14.22; Lc 22.14).

Marcos 14.26 diz que cantaram um hino e saíram para o Monte das Oliveiras. Provavelmente foi um dos salmos do “Hallel” (113-118), que tradicionalmente eram usados na comemoração pascal.

Nos tempos da igreja primitiva, a Ceia do Senhor tinha essa ordem: − A princípio, era uma refeição completa (ágape – festa de amor), compartilhada por

todos em suas casas – cada convidado trazia um prato para a mesa comum. − Iniciava-se com oração e com o comer de pedacinhos de um único pão que

representava o corpo de Cristo. − Encerrava-se a refeição com outra oração e a seguir participavam de uma taça de

vinho, que representava o sangue vertido de Cristo.

Já em princípios do segundo século, entretanto e possivelmente devido em parte, às perseguições e às calúnias que circulavam acerca das “festas de amor” dos cristãos, começou-se a celebrar a comunhão sem a refeição em comum. Mas sempre se manteve o espírito de celebração dos primeiros anos – com tons característicos de gozo e gratidão, e não a dor ou a compunção.

O Batismo:

Em geral, era realizado uma vez por ano no Domingo da Ressurreição, mas logo começou a ser ministrado em outras ocasiões. Tão logo alguém se convertia, já era batizado, o que era possível, já que a maioria dos conversos provinha do judaísmo e, possuía certo preparo para compreender o alcance do evangelho. Com a inclusão cada vez maior de gentios a igreja, tornou-se necessário um período de preparo e de prova antes do batismo.

− O batismo era por imersão, desnudados, separados os homens das mulheres. − Nos lugares em que faltava água, era permitido praticá-lo vertendo água sobre

a cabeça três vezes: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. − Ao sair da água, o neófito (novo convertido) recebia uma veste branca, como

sinal da nova vida em Cristo (compara-se Cl 3.9-12 e Ap 3.4). − Alem disso, recebia água para beber, como sinal de ter sido limpo também

interiormente. − Recebia ainda, a unção, porque agora era um participante do sacerdócio real. − Ainda, dava-se ao neófito, leite e mel, porque havia penetrado na terra

prometida.

Note-se que o batismo era um acontecimento comum da adoração cristã no tempo de Paulo (cf Ef 4.5). Mas os cristãos não foram os primeiros a celebrar o batismo. Os judeus batizavam seus convertidos gentios; algumas seitas judaicas praticavam o batismo como símbolo da purificação e João Batista o tinha como uma importante parte de seu ministério (At 19.3)

Com relação ao fato do batismo infantil, não há uma posição definida dos eruditos.

Os cristãos primitivos davam diferentes interpretações ao significado do batismo.

Por exemplo: 33

33 J. I. PACKER et al. O Mundo do Novo Testamento, p. 147.

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⇒ Símbolo da morte de uma pessoa para o pecado (Rm 6.4; Gl. 2.12); ⇒ Símbolo da purificação de pecados (At 22.16; Ef 5.26);

⇒ Símbolo da nova vida em Cristo (At 2.41; Rm 6.3).

O Louvor e a Pregação Bíblica Na Liturgia do Novo Testamento

O Louvor

Nos tempos do templo, a música era quase completamente profissional e sacerdotal

(executada por sacerdotes). Os leigos eram somente espectadores. Talvez participassem

cantando as respostas tradicionais de “Amem” e “Aleluia”, e possivelmente um refrão

antifônico como “porque a Sua misericórdia dura par sempre” (Sl 136).

No que tange aos tempos da sinagoga, não se tem conhecimento de quando, exatamente, a música entrou na adoração, mas subentende-se que alguns levitas cantores, continuaram suas funções nas reuniões orientadas pelos leigos.

Havia aquela questão de que os sacrifícios tradicionais só pudessem ser feitos no templo, como não era possível, as ofertas de animais e cereais foram substituídas por “sacrifícios de louvor e adoração”. Foi a partir desse tempo, que a adoração na sinagoga começou a florescer indo para seu auge no tempo da vida de Jesus e dos primeiros dias da igreja cristã.

O que se sabe é que nesse tempo, apenas um ou dois cantores solistas cantavam em

uma reunião. Eles cantavam às leituras das Escrituras, os salmos, as orações pós-bíblicas

(bênçãos) e, segundo alguns, determinados cânticos que podem ter sido como os “cânticos

espirituais” mencionados em Colossenses 3.16 e Efésios 5.19. Esses cânticos não tinham

acompanhamento instrumental porque isso estava associado apenas com os sacrifícios de

animais. Parece claro que os cristãos do primeiro século deixaram de todo o

profissionalismo do templo e da sinagoga. Note que quando Paulo escreveu aquelas

palavras a respeito da adoração cantada foi a congregação e não a determinados grupos.

O que seriam esses “salmos, hinos e cânticos espirituais”? Hustad coloca que:

− “Salmos” – sem duvida eram todos os salmos e cânticos que eram comum na adoração judaica, no tabernáculo, no templo e na sinagoga;

− “Hinos” – eram provavelmente expressões novas em cântico, apresentando a nova cristologia em que a igreja estava baseada (por exemplo: 1 Tm 3.16; 2 Tm 2.11-13; Tt 3.4-7; Fp 2.6-11; Ap 22.17);

− “Cânticos espirituais” – termo traduzido do grego koinê “odaes pneumaticaes”

que quer dizer “odes pelo fôlego”. Isso leva alguns a presumirem que eram

cânticos “sem palavras”, ou que usavam uma única “super-palavra” como

“aleluia”, portanto sugere-se que sejam solos, e que, possivelmente

improvisados em uma experiência de adoração em êxtase.34

Encontramos muitas referências de cânticos de louvor no Novo Testamento. Por exemplo:

− Em Lucas 1.46-55, (O “Magnificat”) Maria louvou a Deus ao ficar sabendo que daria a luz o Salvador;

34

Donald. P. HUSTAD. Jubilate! A Musica na igreja, p. 95.

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− Nos versículos 68 a 79, (O “Benedictus”) Zacarias jubila em alegria pela chegada do Messias;

− Em Marcos 14.26, Jesus cantou um hino com seus discípulos após a Última Ceia (provavelmente um dos salmos 113-118 que eram cantados na celebração da Páscoa, como já vimos);

− Em Atos 16.25, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos na prisão. Eram hinos que, além de servir como louvor, muitas vezes ensinavam aos convertidos as verdades fundamentais da fé cristã.

No Novo Testamento, o louvor deve, primordialmente, ser considerado como uma oferta a Deus por meio da adoração. Isso é entendido nas palavras expressas em Hebreus 13.15: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome”.

Lembremo-nos que na adoração do Antigo Testamento, Deus pedia a melhor ovelha como oferta; na adoração do Novo Testamento, Deus pede nós mesmos, o melhor que há em nós, todo o nosso ser. Veja que Paulo enfatiza isso nos dois versículos em que fala da adoração musical:

“Falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração...” (Ef 5.19)

“... louvando a Deus... com gratidão em vosso coração.” (Cl 3.16b)

Portanto, a verdadeira medida de nosso sacrifício de louvor, está implícita na sinceridade com que oferecemos o nosso louvor e a nossa adoração a Deus (veja Rm 12.1,2).

A Pregação Bíblica

Os primórdios da pregação encontram-se ainda no Antigo Testamento. No Novo Testamento há alusões sobre momentos de pregação no AT:

− “Também profetizou Enoque...” (Jd 14); e

− Noé é chamado de “pregador da justiça” (2 Pe 2.5).

Todos os profetas do Antigo Testamento são tidos como pregadores, pois foram

pessoas que receberam de Deus para transmitir ao povo. Iniciando suas mensagens com

um vigoroso “Assim diz o Senhor”, exortavam, repreendiam, imploravam, encorajavam,

falavam de julgamentos, inspiravam com mensagens de promessas fulgorosas da glória por

vir. Contudo, a pregação não era essencial na liturgia do tabernáculo e do templo.

Durante o período intertestamentário, a pregação passou por um grande progresso,

relacionada com os cultos na sinagoga. Ali, uma parte do culto era a explanação das

Escrituras, que eram lidas e depois interpretadas como o ocorrido registrado em Ne 8.8.

Encontramos no Novo Testamento que, tanto Jesus como seus discípulos e apóstolo Paulo fizeram uso da sinagoga para a pregação do evangelho. Foi o próprio Jesus que estabeleceu e exerceu o ministério da pregação, cujo exercício confiou aos seus discípulos (Mt 28.19,20). João Batista, como o último profeta da antiga aliança e primeiro da nova aliança, não fazia uso das sinagogas, mas falava ao ar livre, perto dos rios onde realizava os batismos, conclamando as pessoas ao arrependimento. Jesus, falava de si mesmo como cumprimento das profecias, conclamando as pessoas a terem fé no Senhor que agora havia chegado.

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O livro de Atos, como também as epístolas, mostram-nos exemplos de pregação apostólica após Pentecoste. A igreja primitiva deu muita importância a pregação, conforme se vê nos textos de Atos 2.40,41; 4.2,4; 6.7; 8.5,12; 17.18; Romanos 10.14 e 1 Coríntios 1.17. Essa pregação primitiva tinha um conteúdo cristocêntrico – sua vida, morte, ressurreição e sua segunda vinda. Na pregação dos apóstolos, encontramos os dois elementos permanentes da pregação cristã: evangelização e instrução.

A pregação muito embora tenha sido olvidada em determinados momentos na historia da adoração, sempre foi e deve continuar sendo parte importante na liturgia do culto em qualquer data e hora, pois na adoração, o homem fala a Deus enquanto que, através da pregação, Deus fala ao homem, exortando, ensinando ou oferecendo uma ajuda divina para a vida diária, enfim, transmitindo a sua vontade.

O Domingo Como Dia de Adoração

Nos tempos neo-testamentários, o domingo era geralmente designado como “o primeiro dia da semana”. Essa frase no grego é mia sabbaton, termo que é traduzido por “primeiro dia da semana” em Mt 28.1; Mc 16.2; Lc 24.1; Jo 20.1. É interessante notar que o termo “sábado” (gr sabbaton), referia-se tanto ao sétimo dia da semana, o sábado como também a semana em sua totalidade e/ou referia-se a certas festividades que deveriam ser celebradas da forma exata como o sábado. Somente o sábado tinha um nome especifico; os demais dias eram designados por números ordinais, e o

domingo era “o primeiro”. 35

O termo “Dia do Senhor” ocorre somente uma vez no Novo Testamento, em Apocalipse 1.10, e seu significado tem sido debatido. A maioria das interpretações aponta para uma referência ao primeiro dia da semana, o domingo. Uma literatura cristã posterior apóia essa interpretação: “Inácio, bispo de Antioquia, escreveu aos magnésios por volta de 115 d.C. conclamando-os a ‘já não viverem pelo sábado mas

pelo dia do Senhor, sendo que nesse dia ressuscitou a nossa vida’”. 36

Por que no Domingo?

Desde o princípio, a igreja cristã costumava reunir-se no primeiro dia da semana para “partir o pão”. A razão disso está no fato de que esse era o dia em que se comemorava a ressurreição do Senhor (como já visto acima).

Parece então que, nesse caso, o propósito principal do culto no domingo, não era chamar os fiéis a penitência, nem fazê-los sentir o peso de seus pecados, mas sim, celebrar a ressurreição do Senhor e suas promessas garantidas pela ressurreição.

Duas referências no Novo Testamento sugerem que a igreja primitiva se reunia habitualmente aos domingos:

⇒ Atos 20.7 – Paulo reuniu-se com a igreja em Trôade, no primeiro dia da semana, numa reunião que parecia regular, embora prolongada;

⇒ 1 Corintios 16.2 – Paulo ordenou que a igreja fizesse sua coleta para os necessitados num domingo, isto é, no primeiro dia da semana. Prática que provavelmente, mas não necessariamente, coincidida com a reunião da igreja.

35 Na literatura cristã do século II (obra de Justino Mártir) encontra-se o termo “dia do sol”, que vem do grego heliou hemera, corresponde ao termo “domingo” em muitos idiomas. Esse termo (dia do sol) nunca foi usado pelos escritores do NT. Apareceu pela primeira vez na literatura de Justino que seguiu o calendário romano. O nome “dia do sol” veio através dos egípcios, que adotavam uma semana de dias que tinham os nomes do sol, da lua e de cinco planetas. Com o passar do tempo “Dia do Senhor” veio substituir o termo “dia do sol” em todo o império romano.

36 D. K. LOWERY. Dia do Senhor. In: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, p. 460.

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Não se sabe exatamente, quando foi que a igreja cristã primitiva começou os cultos aos domingos. Os escritores neo-testamentários não dão nenhuma base teológica para a mudança das reuniões da sábado para o domingo, mas vários fatores podem ser sugeridos:

− O sábado (o sétimo dia) já não era considerado um dia a ser especialmente observado pela adoração e pelo descanso do serviço (Rm 14.5,6; Gl 4.8-11; Cl 2.16,17; cf At 15.28,29).

− O evento central do evangelho cristão, a Ressurreição, ocorreu num domingo (At 2.31; 4.2,10,33; 10.40; 13.33-37; 17.18; Rm 10.9; 1 Co 15.4,12-19; 1 Ts 1.10).

− Os escritores do Novo Testamento referiam-se uniformemente ao domingo quando falaram dos aparecimentos do Cristo ressurreto (Mt 28.9; Mc 16.1,9; Lc 24.1,13-34; Jo 20.1,19,26).

− A vinda do Espírito Santo ocorreu num domingo de Pentecoste (Atos 2).

Entretanto, por trás dessas razões apontadas, pode ter havido um desejo por

parte da igreja primitiva de se distinguir do judaísmo e de suas práticas sabáticas. 37

IV – A Adoração Cristã do Século II até a Reforma

Nesta etapa vamos abordar resumidamente, a evolução histórica da adoração na igreja, iniciando pelo período pós-bíblico, chegando até ao período da Reforma e o

surgimento das “igrejas livres” nos séculos XVI e XVII. 38

Os evangélicos da atualidade identificam-se em maior escala, com o início e o fim desse período. No que se refere aos fatos históricos, podemos dizer que somos herdeiros de toda a história cristã, mesmo falando do período em que a igreja deixou de viver conforme a “sua soberana vocação”.

A igreja da Idade Media (séculos V a XV) conservou os elementos neo-testamentá-rios quanto ao conteúdo, mas perdeu o seu espírito evangélico devido a distorção na teologia da eucaristia (a Ceia do Senhor) – tinha-se a ideia de que o sacerdote agia no lugar de Cristo na Ceia e oferecia “um sacrifício verdadeiro e pleno de Deus, o Pai”. Desenvolveu-se uma liturgia fixa, complexa, executada por sacerdotes, com um mínimo de envolvimento congregacional. Fato que foi agravado com o uso universal do latim na adoração, porque diziam que as línguas vernáculas eram “subdesenvolvidas” e “vulgares” para transmitir as mensagens litúrgicas.

A Reforma foi um esforço para voltar a autoridade e prática primitiva do Novo Testamento.

Século II

Tem-se a primeira ordem definida de adoração – A Apologia de Justino Mártir. Com base nisso, fica claro que as igrejas já tinham uma ordem no culto, mas que ainda era simples. Ali descreve:

− A Ceia do Senhor como a Eucaristia (que significa “ações de graça”);

− As memórias dos apóstolos (os Evangelhos) e os escritos dos Profetas39

eram lidos em voz alta, tanto quanto o tempo permitisse.

37 Para maiores informações sobre o domingo como dia de adoração no NT, veja Gleason ARCHER. Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, p. 125-130 da Editora Vida.

38 Donald P. HUSTAD. Jubilate! A Musica na Igreja, p 101-121.

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Outras apologias que existiram, nos dão conta de que na igreja primitiva os crentes batizados celebravam a Ceia do Senhor, juntamente com uma refeição completa, a chamada ágape, festa do amor.

As festas observadas pelos judeus no decorrer do ano foram a origem do “ano eclesiástico” (ou ano litúrgico) entre os cristãos, fato que se desenvolveu lentamente sendo completado somente em finais do século VI.

O exercício dos dons espirituais, citados por Paulo aos Coríntios, rigorosamente regulamentados para a boa ordem e edificação dos crentes (1 Co 14.40), desenvolvia-se nos cultos com a livre expressão do Espírito, porém, acompanhado de restrições litúrgicas no mesmo culto. Esta livre expressão do Espírito parece ter desaparecido em data bem remota. Já nos tempos de Justino, o que restou foi um culto com duas divisões: a primeira parte, uma adaptação e expansão do culto da sinagoga – louvor, oração e instrução; a segunda parte, a observância da Ceia do Senhor.

Um esboço mostrado por Hustad40

indica:

Culto da Palavra (Sinagoga Cristã): Leituras dos Profetas, e “memórias dos Apóstolos” (Evangelhos e Epístolas); Um Sermão (instrução e admoestação);

Orações comuns (a congregação de pé, todos participando).

Culto da Ceia do Senhor (Cenáculo contínuo):

Ósculo da paz;

Ofertório (esmolas, pão e vinho);

Oração de Ação de Graças (“bastante extensa” e improvisada “de

acordo com a capacidade da pessoa” e seguida por um “Amém”

comum;

Comunhão.

Século III

Começa-se com maiores informações a respeito dos atos de adoração. Um dos registros mais importantes é o de Hipólito de Roma (morte ci. 236) em um documento grego conhecido como Tradição Apostólica. Descreve uma Oração Eucarística completa

sugerida como modelo para adoração cristã. Abaixo esboço: 41

Culto da Palavra

Lições

Sermão

Salmos (?)

Orações intercessórias

Ósculo de Paz

Culto da Mesa

Ofertório – os elementos são levados a mesa

Oração Eucarística

Saudação (responsório entre líder e povo)

O Senhor seja convosco; e com vosso espírito.

39

Os escritos dos Profetas, sem dúvida eram os livros do AT. Nesse tempo o Cânon ainda não havia sido formado.

40 Donald P. HUSTAD. Jubilate! A Música na Igreja, p. 102.

41 ibid. p. 103.

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Sursum corda

Levantai os vossos corações; Nós os levantamos para o Senhor.

Demos graças ao Senhor; É bom e reto fazê-lo. Agradecimento;

História da salvação (A encarnação; vida; morte e ressurreição de Jesus);

Palavras de instituição (“Ele tomou o pão, e tendo dado graças, etc.”);

Memória (Gr. anammesis) “Lembrando, portanto, a Sua morte e ressurreição, etc”;

Oblação (“Oferecemos a Ti o pão e o cálice, etc.”);

Invocação do Espírito Santo (Gr. epiclesis) “Te rogamos que envies o Teu Espírito Santo, etc”; Doxologia a Trindade, com Amém congregacional; A Comunhão; Oração pós-comunhão pelo presbítero; Amem do povo; Benção do bispo e despedida.

Século IV

Verifica-se uma forma mais primitiva de adoração, a chamada “Liturgia

Clementina” registrada nas constituições apostólicas (c.380 A. D.). Esboço: 42

Culto da Palavra

Leituras bíblicas (várias, do Antigo e Novo Testamentos, especialmente as Epístolas e Evangelhos);

Salmos, entremeando-se com as leituras acima (alguns, cantados por cantores, alguns com responsos pela congregação);

Sermões (por vários “presbíteros”); Dispensa dos não-comungantes (os que ainda não eram batizados) com uma litania responso do povo (“Senhor, tem misericórdia”).

Culto da Mesa

Oração dos Fiéis

Saudações e Responso (uma bênção trinitária, ou “O Senhor seja convosco”, etc.)

Ósculo da Paz

Ofertório Lavagem das mãos do bispo e dos presbíteros;

Oferta dos elementos e de esmolas;

A mesa é “cercada” (para impedir a participação de pessoas indignas); O bispo é vestido com “uma vestimenta esplêndida”, depois ele faz o “sinal da cruz” na testa.

Oração Eucarística

Sursum corda (“Levantai os vossos corações”, etc.) Prefácio: Agradecimento por toda a providência de Deus, começando com a criação. Sanctus (“Santo, santo, santo, Senhor Deus dos exércitos”, etc.)

Ação de graças pela encarnação e redenção. Palavras da Instituição (Anamnesis e Oblação) “Que o Senhor Jesus, na noite que

foi traído, tomou o pão”, etc. Inclui uma referência a volta de Jesus. Epiclesis (“...

envia sobre este sacrifício o Teu Espírito Santo... para que ele possa revelar que

este pão como o corpo de Cristo e este cálice como o sangue

42 ibid. p. 104.

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de Cristo e que todos os que dele participamos possamos ser fortalecidos em piedade”.)

Oração de Intercessão (dez seções). Oração Dominical (?) (Ela era comumente usada, tanto antes como depois dessa época.)

Doxologia e “Amém” do povo. “Pedidos de oração” dirigidos pelo diácono, e Oração do Bispo. Conclamação a Comunhão (“coisa santa para um povo santo”, com um responso). Gloria in excelsis (Lucas 2.14, e não a forma posterior, aumentada). Hosana e Benedictus (Qui venit. Mat. 21.9).

Comunhão, com o cântico do Salmo 34. (“Oh, provai e vede que o Senhor é bom.”) Ação de graças e intercessão do Bispo “depois da comunhão, seguida de oração e benção”. Despedida.

Vê-se que nesse período, a adoração estava se tornando altamente desenvolvida. O cristianismo já não era proibido pelo imperador. Também é claro que o “Culto da Mesa” era uma parte muito significativa da liturgia pública.

No final do século IV, a adoração não era mais espontânea, mas era ainda fortemente

congregacional. Mas é aí que começa a aparecer a hierarquia profissional, com atividades

específicas dos bispos, os presbíteros, etc. Isso se deve ao fato de que a parti da liberação

total do cristianismo por parte de Constantino (313 A.D.), começou a despontar um

crescimento vertiginoso da religião cristã, a inclusão de muitos pagãos através dos

movimentos de conversão em massa, cuja influência, aliada ao crescimento do poder

episcopal, favoreceu uma distorção do conceito neo-testamentário de adoração.

Conseqüências:

− Os pais da igreja basearam sua teologia cada vez mais no AT; − A Ceia do Senhor passou a ser feita à base de um culto de sacrifício perdendo

aquela característica de culto alegre de ações de graças; − O dirigente da adoração passou a ser o sacerdote que oferecia o sacrifício do

corpo e do sangue de Cristo; − Começa-se a desenvolver a idéia da “transubstanciação” (que se tornou dogma

em 1215); além da penitência e das obras meritórias; − Há um desencorajamento por parte dos adoradores de receberem a comunhão

devido a veneração e temor ligados a essa adoração, de maneira que muitos passaram a participar apenas uma vez por ano porque eram obrigados a faze-lo; haviam se tornando meros espectadores, observando a atividade do sacerdote ao altar.

Ainda no século IV, o latim começou a ser usado na adoração onde, ate então, todas as igrejas primitivas usavam a língua grega, até mesmo a igreja de Roma. Mais tarde, no decorrer da Idade Media, todas as igrejas ocidentais, já realizavam suas missas em latim, dificultando mais ainda a participação dos “fiéis” comuns.

Outras consequências vistas a partir desse período referem-se ao fato de que alguns líderes eclesiásticos da época, entenderam que, para que os bárbaros (os pagãos) fossem realmente assistidos pela igreja, sendo estes acostumados a cultuarem imagens, dever-se-ia materializar o culto a fim de tornar Deus mais acessível a estes fiéis. Surge então, a veneração de anjos, santos, relíquias, imagens e estátuas.

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A Adoração na Idade Media (séculos V ao XV)

Nesse período, a missa43

romana passou a ser universal. Historicamente, havia três formas de celebração da missa:

1. A Missa Baixa (Missa Lecta) – apenas falada, tornou-se mais popular durante a Idade Media. Todos os sacerdotes a celebravam ao menos uma vez por dia;

2. A Missa Cantada (Missa Cantada) – principal celebração no domingo ou dia santo;

3. A Missa Alta (Missa Solemnis) – às vezes chamada de Missa Festival, incluía celebrantes assistentes e frequentemente um coro.

As missas musicais eram cantadas em Canto Romano, ou o chamado Cantochão

Gregoriano44

que incluía melodias de salmos. Tendo a adoração se tornando sacerdotal (executado por sacerdotes), o cântico foi confiado a um coro de sacerdotes, silenciando assim, a voz da congregação por mil anos da história cristã.

Durante esses mil anos da história da igreja cristã (500 – 1500), a liturgia eucarística foi considerada como a forma mais elevada de adoração, contudo, não foi a única forma, pois havia também os Ofícios.

Os Ofícios eram os chamados “Cultos das Horas”, os quais provavelmente, originaram-se de costumes judaicos de oração regular em determinadas horas do dia (vide Atos 3.1) tornando-se mais tarde, de forma pública.

O ciclo completo de oito “Ofícios” consistia de:45

− Matinas – entre meia-noite e o amanhecer; − Laudas – “cantos do galo”; − Prime – 6 horas da manhã; − Terce – 6 horas da manhã; − Sext – meio-dia; − None – 3 horas da tarde; − Vésperas – 6 horas da tarde; − Compline – antes de dormir.

Essa adoração tinha como componente principal, leitura e cântico das Escrituras, dessa forma, no total das “Horas”, ocorria o seguinte:

→ Salmos completados (cantados responsivamente) uma vez por semana; → Novo Testamento integralmente lido duas vezes por ano;

→ Antigo Testamento todo lido uma vez por ano;

Em relação ao culto de pregação na igreja da Idade Media, embora fosse permitido,

era raramente incluído. Ocasionalmente pregava-se um sermão no Oficio das Laudas.

A Adoração Cristã na Reforma

43 A palavra “missa” vem da frase em latim “Ite, missa est” que significa “estão despedidos”. Essa frase era, portanto,

pronunciada no final do culto. 44

O termo “Cantochão Gregorino” é devido ao papa Gregório, o Grande (ci. 540-604) que foi responsável pela Schola Cantorum, para padronizar o cantochão oficial na igreja. (cantochão é um tipo de canto tradicional rigorosamente homofônico). 45 Segue-se aqui, a divisão romana do dia em “horas” (prima, tertia, sexts e nona) e a noite em quatro “vigílias”.

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Ao analisar-se do ponto de vista evangélico, o culto da Idade Media como já vimos, tornara-se bastante anti-bíblico, necessitando então, de uma urgente reforma. Vale lembrar que, ainda antes de Martinho Lutero deflagrar a Reforma protestante, outros grupos cristãos já haviam protestado reivindicando uma reforma no sistema tradicional de adoração apresentado pela Igreja Romana (veja-se a historia de John Huss que foi queimado vivo em 1415).

As transformações sofridas pela liturgia cristã demonstravam sérias distorções dos padrões neo-testamentários, tanto em termos teológicos quanto práticos. Veja:

− A Liturgia da Palavra tinha pouco significado – omitia-se a leitura da Palavra, o sermão era raramente pregado.

− Os adoradores típicos entendiam pouquíssimo do que era dito ou cantado em razão do uso do latim no “culto”, e sua participação vocal era quase nula.

− A Ceia do Senhor não era mais um ato jubiloso, pois tornara-se função sacerdotal apenas do celebrante. A devoção da congregação focalizava-se na “hóstia”...

− Cada celebração da missa era considerada como oferta separada do corpo e do sangue de Cristo – tornou-se comum as “missas votivas” (oferecer missas por pessoas individualmente e por objetivos definidos).

− O Cânon Romano, não era uma “Oração de Ação de Graças”, mas sim, uma longa petição que expressava rogos repetitivos para que Deus recebesse a oferta (o sacrifício) da missa. Isso gerava um espírito de medo que não fosse aceita, levando grande parte de a congregação tomar a comunhão apenas uma vez por ano.

Vê-se aqui, a inserção de erros doutrinários como a transubstanciação, a penitência e as obras meritórias, provocando o forte declínio da adoração medieval e a insatisfação cada vez maior dos adoradores, fatos esses que se tornaram fatores importantes na Reforma.

Há que se observar que, os reformadores estavam mais preocupados com a doutrina do que com as matérias da adoração, portanto verifica-se relativamente pouca atenção ao desenvolvimento litúrgico. Isso pode explicar a existência de uma ampla variedade de cultos de adoração a partir do período de Reforma.

A Reforma Luterana (1517)

De início, Lutero (1483-1546) empregava apenas uma versão abreviada da missa romana, só mais tarde, fez algumas alterações relevantes para recuperar a idéia neo-testamentária da fraternidade cristã na observância da Comunhão.

O repúdio de Lutero em Roma referia-se muito mais a interpretação sacerdotal da missa e os abusos resultantes disso, do que propriamente a liturgia. Isso se verifica quando se observa sua primeira liturgia reformada – Formula missae et communionis (1523) - onde se manteve grande parte do esboço da missa histórica. Como Lutero deu a Bíblia e o hinário ao povo alemão, na sua própria língua, para implementar a recuperação da doutrina da sacerdócio dos crentes, nesta sua própria liturgia reformada, os hinos, a leitura da Escritura e o sermão estão no vernáculo (no caso, em alemão), mas todas as demais partes da missa continuou em latim.

Lutero escreveu a Missa Alemã (Deutscher messe) e a ordem do culto em 1526,

sendo já mais drástico em seu iconoclasmo46

. Provavelmente, aqueles associados mais

46 Iconoclasmo: espírito que encoraja ataque contra crenças e costumes tradicionais estabelecidos, alegando serem baseados em erros.

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radicais de Lutero podem ter encorajado tais variações litúrgicas. Abaixo, o esboço

dessa forma de adoração47

:

Hino ou Salmo Alemão (intróito); Kyrie (Em grego, cantado com a melodia de um salmo); Coleta (Curta oração introdutória); Epístola (cantada); Hino Alemão (substituindo a Gradual/Aleluia); O Evangelho (cantado); O Credo (No hino alemão “Todos nós cremos em um único Deus verdadeiro”); Sermão;

Oração Dominical (parafraseada); Admoestação aos Comungantes a mesa do Senhor; Palavras de Instituição;

Comunhão, durante a qual podiam ser cantadas as formas alemãs do Sanctus

(Isaias, Poderoso Vidente dos Dias Passados) e o Agnus Dei (Ó Cristo, Cordeiro

de Deus) ou outros hinos alemães;

Coleta;

Bênção Araônica (Nm 6.23-27);

No decorrer do século XVI, esse tipo de adoração “luterana” que acabamos de ver, tornou-se comum em igrejas das pequenas cidades e áreas rurais da Alemanha.

A reforma luterana também interveio na questão dos “Cultos das Horas”, aqueles múltiplos cultos dos ofícios medievais, os quais, segundo Lutero, haviam se tornado um “fardo intolerável”. Como os mosteiros haviam sido abolidos, ele entendeu que apenas as “horas” mais significativas deviam ser observadas. Prescreve, então que os ofícios fossem realizados de manhã e a tarde – Matinas e Vésperas.

A Reforma Zwingliana (1525)

Zwinglio (1484-1531), contemporâneo de Lutero, foi aquele que procedeu a Reforma na cidade de Zurich, norte da Suíça. Foi mais radical em seus princípios reformadores. Por ser mais racionalista-humanista do que Lutero, a adoração liderada por ele tinha uma tendência de ser mais didática do que devocional. Sua reforma concretizou em 1525 com a supressão da missa, erradicando tudo o que sugerisse a prática romana. Eliminou até o cântico pela congregação, os salmos e cânticos eram recitados responsivamente, e eliminou o uso do órgão porque não encontrou nada na Bíblia que autorizasse o uso do órgão ou de qualquer outro instrumento musical.

Em 1529, desentendeu-se com Lutero devido a questão da Ceia do Senhor. Para Lutero, havia uma presença física de Cristo na comunhão, embora a substância do pão e do vinho não se alterasse (isso ficou conhecido como consubstanciação). Para Zwinglio, a Ceia era um memorial da morte de Cristo, isto é, a Ceia do Senhor era uma “comemoração” e não uma “repetição” da expiação, pelo que o crente pela reflexão

sobre a morte de Cristo recebe bênção espiritual.48

Em 1535, um seguidor de Zwinglio chamado Martin Bucer (1491-1551) defensor das idéias luteranas, desenvolveu uma tradição litúrgica bem diferente, quando foi colocado como encarregado da adoração Reformada em Estrasburgo. Uma liturgia que parecia combinar elementos luteranos e zwinglianos, conservou os Kyries opcionais e a Gloria in excelsis, incluindo no culto de comunhão intercessões bem como uma Oração de Consagração.

47

Donald P. HUSTAD. Jubilate! A Musica na Igreja, p. 112.

48 Earle E. cairns. O Cristianismo Através dos Séculos, p. 246.

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A Reforma Calvinista em Genebra (1538)

Calvino (1509-1564), líder da reforma em Genebra, sul da Suíça, também tinha como seu principal alvo, voltar às práticas de adoração da igreja primitiva.

A exemplo de Zwinglio, eliminou tudo quanto indicasse que a missa era sacrifício, bem como todas as orações aos santos ou a virgem Maria. Restringiu o uso da música na adoração, livrou-se do coro e de sua literatura completa, de modo que a adoração em Genebra não tinha nenhum cântico.

Quando Calvino foi banido de Genebra em 1538, foi pastorear exilados franceses em Estrasburgo e deparou-se com o rito alemão de Bucer. Admitiu então que tomaria “emprestada a maior parte dele” para formar sua liturgia francesa (1540). Depois, voltando para Genebra, simplificou um pouco essa liturgia que veio a ser a norma de adoração nas igrejas calvinistas da Europa – Suíça, Franca, Alemanha e Escócia.

Passou a dar apoio ao cântico pela congregação, com principal apoio ao uso de versões metrificadas dos salmos que eram cantados pela congregação em uníssono e sem acompanhamento. Também deu ao sermão um lugar de importância no culto.

Sob sua liderança, Genebra (em 1542) tornou-se uma inspiração e um modelo para os de fé reformada, os quais tiveram parte importante nos grandes reavivamentos do passado e nos movimentos missionários modernos.

Abaixo, um esboço da Liturgia de Calvino em Genebra (1542, etc):49

Liturgia da Palavra

Sentença da Escritura: Salmo 124.8;

Confissão de Pecados: Oração pedindo perdão;

Salmo Metrificado;

Oração pedindo iluminação;

Sermão;

Liturgia no Cenáculo

Coleta;

Intercessões;

Oração Dominical, em longa paráfrase;

Credo Apostólico (os elementos são preparados);

Palavras de Instituição;

Exortação;

Oração de consagração;

Comunhão (canta-se um salmo ou lêem-se passagens bíblicas);

Oração pós-comunhão;

Bênção (Bênção Araônica);

A tradição calvinista de cantar salmos foi também herdada pela igreja anglicana, e por igrejas “livres” da época, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, e persistiu em alguns lugares ate os dias atuais.

A Reforma na Inglaterra (1534)

49 Donald P. HUSTAD. Jubilate! A Musica na Igreja, p. 118.

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A reforma na Inglaterra, a princípio teve um caráter muito mais político do que religioso. Henrique VIII não aderiu às doutrinas dos reformadores, simplesmente queria estar livre da autoridade do papa. Tendo assumido pessoalmente a liderança da igreja inglesa (Anglicana), após alguns anos, a missa latino-romana ainda continuou a ser usada sem modificações.

A Reforma continental teve efeito somente depois da morte de Henrique VIII em 1547, quando Thomas Cranmer (1489-1556), Arcebispo de Cantuária, determinou-se a elaborar uma liturgia realmente reformada.

Em 1549 foi publicado o primeiro Livro de Oração Comum, indicando o seu título que a adoração passava então a ser “congregacional” e não mais sacerdotal. No Livro de Oração publicado em 1552, excluiu-se a palavra “missa”, as vestimentas especiais foram proibidas e os altares foram substituídos por mesas de comunhão.

No período posterior a Maria Tudor (1553-1558), que havia procurado estabelecer o catolicismo romano, matando e exilando muitos protestantes, o movimento

puritano50

adquiriu grande ímpeto.

Sua ênfase em termos de adoração era na “simplicidade bíblica”:

− Nenhuma música coral ou instrumental;

− Nenhuma liturgia escrita e nenhum simbolismo (vestimentas, movimentos litúrgicos, etc.).

Este grupo adquiriu poder para destronar o rei e estabelecer uma república. Em 1660, Charles II foi restaurado ao trono e re-implantou o uso do Livro de Orações, que havia sido substituído por um livro dos puritanos.

Em 1662 foi publicada uma nova revisão do Livro de Orações que não trouxe modificações substanciais em relação à versão antiga, contudo observa-se que foi suficientemente expurgada de elementos da Igreja Romana. John Knox aprovou essa edição do Livro de Orações para ser usado na Escócia e essa mesma edição se tornou a norma de oração para a Igreja da Inglaterra durante os trezentos anos seguintes.

Hustad mostra o esboço da Eucaristia, como se encontra no Livro de Orações

Comuns51

:

Liturgia da Palavra

Oração Dominical (ministro sozinho);

Oração (coleta) pedindo pureza;

Dez Mandamentos, e Kyries (em inglês);

Coletas (orações);

Epístola;

Evangelho;

Credo (Nicéia);

Sermão;

Liturgia do Cenáculo

50 Movimento puritano: presbiterianos rígidos – muitos apagados as Escrituras de modo a interpretá-las no sentido literal. Seu objetivo era purificar a igreja de todos os resquícios católicos.

51 Donald P. HUSTAD. Jubilate! A Musica na Igreja. p. 115.

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Ofertório (Sentenças da Escritura; coletas; elementos preparados); Intercessões;

Exortação e Convite; Confissão e Absolvição Geral: “Palavras Consoladoras”; Sursum corda (“Levantai os vossos corações”, etc.); Oração de Consagração;

Prefácio e Pontos; Sanctus; “Oração de Humilde Acesso”; Comemoração; Palavras de Instituição;

Comunhão;

Oração Dominical;

Oração de agradecimento pós-comunhão;

Gloria in excelsis Deo;

Paz e Bênção;

A Adoração Na Tradição da Igreja Livre

Os Separatistas52

, aqueles que pretendiam separa-se da Igreja Anglicana estabelecida, eram os mais radicais entre os puritanos. Em sua adoração foram mais iconoclastas do que o próprio Calvino, pois reduziram a adoração a algo menos do que os elementos essenciais! Seus cultos incluíam apenas: oração e exposição das Escrituras. A oração era sempre espontânea: não usavam nem a Oração Dominical, já que ela era tida apenas como “modelo”.

Na celebração da comunhão, “o pastor nomeado quebrava o pão e entregava o cálice que era então passado a todos os membros do grupo, enquanto o líder repetia as palavras de 1 Coríntios 11.23-26. Há registros de que nessas ocasiões também se recebia uma oferta no fim do culto, por homens que ficavam com seus ‘chapéus na mão’” (Hustad, p. 120).

Os anabatistas (re-batizadores), apareceram tanto no continente como na Grã-Bretanha no fim do século XVI.

Abaixo, um esboço mostrando o culto típico encontrado nos registros de um de seus grupos na Holanda em 1608:

Oração; Leitura da Escritura (um ou dois capítulos, com comentário consecutivo a respeito do seu significado);

Oração;

Sermão (uma hora, baseado em um texto);

Contribuições orais de outras pessoas presentes (tantas quantas desejassem);

Oração (feita pelo líder principal);

Oferta;

Os batistas ingleses, teologicamente dividiram-se em Batista Gerais (doutrina arminiana ou calvinistas moderados), Batistas Calvinistas, Batistas do Sétimo Dia e Batistas Particulares (radicalmente calvinistas).

Todos concordavam num ponto: “o ministério típico consistia de Ministério da Palavra (leitura e exposição), oração extemporânea (longa – sem coletas) com um “Amem” congregacional e possivelmente salmos metrificados cantados para iniciar e encerrar o culto”. (Ibid)

52 Separatistas: os que mais tarde formaram as igrejas conhecidas como Presbiterianas, Independentes (Congregacionais) e Batistas.

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Os evangélicos atuais, são em grande parte, sucessores do movimento Separatista.

Em 1643, a Assembléia de Teólogos de Westminster, que produziu, alem de uma Confissão de Fé e dois Catecismos, o Diretório para o Culto Público a Deus. Essas orientações litúrgicas do diretório nunca foram totalmente aceitas na Inglaterra, mas foram seguidas como um padrão na Escócia até os fins do século XIX.

V – A Adoração Após A Reforma

No que se referem ao período pós-reforma, a adoração seguiu basicamente, ainda o mesmo padrão determinado na reforma da Inglaterra em 1643, reafirmado pelo Livro de Oração publicado em 1662. Isto é, um padrão de adoração suficientemente livre de elementos da liturgia romana.

O período pós-reforma é aquele conhecido como o período dos grandes reavivamentos na Inglaterra por volta do século XVIII.

Os nomes que marcaram essa época além de outros, são os de:

− Jonatham Edwards (1703-1758) com seu sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado” – Nova Inglaterra;

− George Whitefield (1714-1770) – Boston;

− Os irmãos John Wesley (1703-1791) e Charles Wesley (1707-1788) – responsáveis pelo surgimento da Igreja Metodista;

− Charles G. Finney (1792-1875) nos Estados Unidos;

− Dwight L. Moody (1837-1899) – o grande evangelista do século XIX em Chicago.

A história da igreja tem sido marcada até aos dias atuais, por diversos reavivamentos espirituais. Geralmente, esses reavivamentos têm sido caracterizados pela evangelização e ministração. Algumas vezes se enfatizando a purificação dos dogmas romanos, e com maior freqüência, a preocupação tem sido com a piedade pessoal, o amor sincero a Deus.

A novidade existente na adoração deste período é o florescimento de novos hinos, que muito rapidamente tornaram-se populares nos cultos de então.

Por que é novidade? – perguntará alguém. Lembremo-nos que a Reforma calvinista, aquela que se tornou o padrão dos evangélicos até o século XIX, aboliu na adoração, tudo o que pudesse assemelhar aos elementos da liturgia romana. Com isso, proibiu-se todos os cânticos na adoração e somente os salmos eram usados para louvor a Deus. Segundo seu ditado “só a Palavra de Deus é digna de ser usada para o louvor de Deus”, as “palavras humanas” que formavam os hinos, não tinham essa dignidade.

Só depois de 1540, Calvino aceitou o cântico na adoração através de salmos metrificados.

No século XVII, Benjamim Keach, um batista, foi o primeiro a introduzir cânticos de “composição humana” na cultura que só cantava salmos. Depois, Isaac Watts (1674-1748), um ministro congregacional, foi quem abriu o caminho para a execução de hinos nos cultos nos séculos XVIII, de maneira que ficou conhecido como o “pai da hinologia inglesa”.

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Esse caminho foi fielmente seguido por Charles Wesley (1707-1788), que compôs milhares (seis mil) de belos hinos que prestaram uma grande ajuda nos cultos, sobre tudo, nos temas evangelísticos.

As campanhas evangelísticas de então, como se verifica com Charles Finney e com D. L. Moody (1837-1899), por exemplo, foram totalmente apoiadas por cânticos que serviram para motivar homens e mulheres a levarem a efeito atos espirituais.

No caso de Moody, vendo a importância do cântico em seus cultos evangelísticos, convidou um músico amador chamado Ira D. Sankey (1840-1908) para auxiliá-lo, que se tornou o dirigente dos hinos congregacionais além de um ótimo solista, contribuindo em muito com os resultados dos cultos numa evangelização musical. Moody pregava e Sankey cantava (Hustad, p. 131-133).

Desde a época de Sankey, essa categoria de cantor de solos tem se tornado parte característica da evangelização musical em massa nos Estados Unidos.

Um cantor evangelístico traz significativa contribuição numa cruzada, pois promove

um testemunho de Cristo e da experiência cristã “de pessoa a pessoa”. Neste ministério, a

mensagem do evangelho adquire uma intensidade de comunicação emocional que acaba

sendo reconhecida tanto pelos proponentes quanto pelos depreciadores, isto é, aqueles que

não pretendem prestar atenção numa pregação evangelística num culto ao ar livre, por

exemplo, acaba sendo atraído por um louvor bem apresentado.

VI – A Liturgia Contemporânea

Mostramos até agora, uma perspectiva histórica da liturgia, para termos uma visão panorâmica das raízes que dão base a adoração dos evangélicos atuais. É possível perceber que os evangélicos hodiernos podem encontrar suas raízes na igreja primitiva, sentir afinidade com os reformadores e se identificarem mais com os separatistas, reavivamentistas e movimentos de igrejas livres.

Não podemos negar que toda adoração cristã tem suas bases nos registros bíblicos, mesmo que haja estado um tanto distorcida durante a Idade Media – tanto no que se refere a interpretação teológica vétero-testamentária quanto na adição de tradições e simbolismos extra-bíblicos.

Deve-se ter em mente que, a situação particular de cada adorador, reflete-se no culto

público (congregacional). Portanto, o culto rendido a Deus deve partir de um espírito de

amor e comunhão entre o povo de Deus (Mt 5.23,24; 1 Co 11.17-22; 1 Jo 4.20; Sl 122.1-

8). Note-se que, no culto o povo se reúne com Deus, mas esta reunião tem também outra

base que é a manifestação de amor entre os irmãos (os adoradores).

O culto reúne então, dois elementos básicos (Barrientos, p. 194):

− O relacionamento entre Deus e seu povo e;

− O relacionamento entre os membros do povo de Deus.

Isto demonstra que, numa reunião de Adoração, há sempre um diálogo entre Deus que é adorado e o cristão que é o adorador, além de intercâmbio entre os adoradores. Uma reunião de Adoração ao Deus Trino Todo-Poderoso, nunca é algo estático ou um mero encontro social. Isto é, uma reunião de adoração tem como ações básicas a revelação e a reação (Hustad p. 167).

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⇒ Na revelação:

Quem é Deus;

O que Deus fez por nós; O que Ele está fazendo e fará; O que Deus nos diz.

⇒ Na reação:

O que nos tornamos pela graça de Deus;

O que fazemos para expressar nosso discipulado; O que dizemos a Deus – em louvor, confissão, dedicação, petição...

A revelação pode ser realizada através de todos os veículos de comunicação da adoração (através de palavras, músicas, arte, outras ações). A reação pode ser expressa em palavras (algumas vezes cantadas), e através de atos (como oferta de dinheiro, ajoelhar-se, participar da comunhão).

É preciso lembrar, entretanto, que a revelação e a reação, que é a comunicação pessoal entre Deus e seus servos, somente é possível através do ministério do Espírito Santo. Os elementos do culto é que tornarão possível a ocorrência desta revelação reação, seja esse culto litúrgico ou sem planejamento. E mais: pode acontecer completa-mente a parte da ordem do culto.

a) Elementos da Liturgia

A herança dos evangélicos de hoje é, de maneira geral, uma adoração não-litúrgica; isto é, rejeitam todas as formas de liturgias estabelecidas. Esperam que sua adoração deva ser improvisada e sob a direção livre do Espírito Santo. Não se sugere aqui, ordens rígidas de culto, contudo, é preciso lembrar que há ações importantes num culto de adoração e deve existir uma ordem lógica. Parte da eficiência de um culto é resultante de se saber que certas ações terão lugar num culto e, portanto, preparar-se para elas.

Finalmente, o Espírito Santo pode estar mais presente em um planejamento cuidadoso do que em uma improvisação descuidada.

De acordo com Hustad 53

, procurando mostrar a progressão das ações, um culto de adoração dos dias atuais pode ter os seguintes elementos:

− Hino de Abertura – é uma manifestação musical de louvor como uma das maneiras mais simples de expressar a excelência de Deus. Essa expressão musical pode ser encontrada em vários estilos: um antema (texto musicado) ou motete (prosa) curto, um número coral, um salmo, um hino tradicional ou evangelístico, etc.

− Oração de Abertura – é o momento de se lembrar do caráter a da providência

de Deus e de “invocar” Sua bênção sobre o culto. Nesta oração, o ministro

pode usar o tema do louvor, incluindo confissões e certezas evangélicas,

usando, por exemplo, as palavras de 1 João 1.7: “... se andarmos na luz...”

53 Donald P. HUSTAD. Jubilate! A Música na Igreja, p. 168-172.

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− Saudações e Boas-vindas – pode-se dizer que este ato relaciona-se com a saudação histórica usado pelos cristãos primitivos (embora a versão atual improvisada não tenha a mesma qualidade espiritual). É um costume melhor, permitir que este ato das boas-vindas seja extensiva a toda congregação, onde os irmãos expressem seu amor uns aos outros, não restringindo apenas aos visitantes – assim, pode-se dizer que há uma perpetuação do histórico “osculo da paz”.

− Leitura Bíblica – o padrão sugerido pela igreja primitiva é a leitura de varias passagens do Antigo Testamento, cântico de salmos e leitura das cartas de Paulo, que circulavam entre as igrejas. Deve-se dar honra especial a Palavra de Deus (isso exige muito mais do que apenas segurar a Bíblia enquanto prega!). Veja alguns exemplos de reverência:

⇒ Na adoração judaica – a remoção da Torah e um monumento muito solene; ⇒ Na liturgia ortodoxa – na leitura da Escritura, uma ação durante a qual se

levanta a Bíblia bem alta; ⇒ Em algumas igrejas atuais – o costume de ficar de pé para a leitura da

Escritura, demonstrando sua autoridade divina.

− Sermão – parece lógico fazer a passagem da Escritura seguir-se imediatamente da sua explicação. Isso favorece que os adoradores não percam a conexão entre leitura e a pregação. Um bom exemplo a seguir ainda, seria o ato de Calvino, prefaciando sua homilia com uma “oração pedindo iluminação”. Entretanto, isso não significa que não possa ser feito de outra maneira, porém é importante observar num culto de evangelização, por exemplo, qual a melhor ordem a proceder liturgicamente, visando melhores resultados.

− Hino de Resposta – é o momento do culto, onde deve proporcionar a resposta

dos ouvintes ao sermão pregado, sem se esquecer, porém, que o sermão

deve continuar sendo central na adoração evangélica. Em muitas igrejas, esta

parte do culto inclui um apelo para se responder ao chamado de Cristo para

salvação (ou até mesmo para unir-se a comunidade local de crentes).

− Oferta – é o momento em que o adorador dá seu dinheiro a Deus como sinal de que se dá a Ele em completa dedicação. É também o momento oportuno para um louvor vocal, um “sacrifício de louvor”, envolvendo a mente e as emoções, enquanto se oferece o sacrifício do próprio “eu” simbolizado pelo dinheiro. Para os tradicionalistas, é surpreendente colocar a oferta depois do sermão, mas isso pode ser explicado no sentido de que a oferta é também uma “reação” a Palavra de Deus.

− Orações – são as orações intercessórias, que devem estar presente em todas as formas de adoração. Temos base sobre isso no Novo Testamento (veja 1 Tm 2.1,2; Tg 5.14-16).

− Encerramento da Adoração – o culto pode ser encerrado com um hino ou com uma curta expressão de louvor e uma bênção (como que expressando a esperança de que a bênção de Deus acompanhe cada pessoa ao sair do culto e em seu serviço diário). É comum o uso das bênçãos: de Arão (Nm 6.24-26) ou, do NT (2 Co 13.13; ou Hb 13.20,21) ou ainda, uma expressão contemporânea.

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b) Referências sobre principais reuniões cristãs para análise e reflexão

- O Culto de Comunhão

É preciso que todos os evangélicos reconheçam que a Ceia do Senhor é um ato simbólico que pode ser um “meio de graça”, que vai além da interpretação geral de que uma ordenança, no sentido de fazer algo que Cristo mandou que fizéssemos. Cristo não pediria que mostrássemos nossa obediência em algo que não tivesse implicações espirituais.

Hustad (p. 172) dá um esboço do que deve expressar o Culto de Comunhão:

A instituição histórica da Ceia (as palavras de instituição). A oferta de ação de graças, como Cristo deu o exemplo pessoalmente no

Cenáculo, ao orar, e porque “ação de graças” é a base da resposta cristã ao Seu amor por nós.

A ideia de lembrar “até que ele venha”, segundo o Seu mandamento. Isto inclui mais do que “recordar a Sua morte e ressurreição”, como será

explicado abaixo. O conceito de comunhão com Deus e com cada cristão. Uma ceia é uma ocasião

social, e demonstramos o nosso amor cristão mútuo com gestos como o “ósculo santo”, ou ao passar o pão e o cálice uns para os outros.

O ato de “quebrar” (partir o pão) como Cristo fez mostra visivelmente que o Seu corpo foi quebrado por nós, e o derramamento do vinho, que o Seu sangue foi derramado em nosso favor.

A auto dedicação renovada a Deus, porque nos lembramos do Seu amor por nós e o preço da nossa salvação.

Hustad cita Ralph F. Martin dizendo que ele “nos leva a lembrar que a Ceia do

Senhor é a ‘Páscoa Cristã’. Quando os judeus repetem a história da libertação do Egito, ‘não é suficiente que a família... recorde a redenção passada; ela precisa revivê-la no sentido mais realista possível’”. (para explicar a frase “isto inclui mais do que recordar a Sua morte e ressurreição” no esboço acima).

Isto quer dizer, que ao tomarmos a Ceia do Senhor, devemos reconhecer o quanto

Cristo padeceu em nosso lugar e prestar-lhe ação de graças por isto.54

- Cultos de Evangelização

De acordo com Hustad (p.187), evangelização em sentido mais amplo, é, “levar

todo o evangelho a pessoa toda”, e como tal, pode dizer-se que a evangelização inclui todo o ministério da igreja.

Os cultos de evangelização devem ser organizados com o objetivo característico de levar um individuo a confrontação inicial de sua necessidade de Deus e com a salvação providenciada através de Cristo.

Como as “boas novas” são compartilhadas por aqueles que já ouviram e já experimentaram o poder do evangelho, um dos métodos principais de comunicação deste evangelho é, o testemunho pessoal de cada crente diante daqueles com quem estabelece contato na vida diária.

Fica evidente que a igreja primitiva espalhou o evangelho desta forma, e nós temos o desafio de Jesus no Novo Testamento já iniciado pelos discípulos. (veja Mt 28.19,20; Mc 16.15,16; Lc 24.45-48).

54 Alguns teólogos referem-se a Ceia do Senhor como “Eucaristia”. Essa palavra é o grego ευχαριστια que significa

“gratidão”, “ação de graças”. Em 1 Co 11.24, “dado graças”, é o grego ευχαριστεσασ (eucharistesas).

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A ênfase comunicativa dos cultos evangelísticos centraliza-se na pregação (kerygma) simples e o cântico congregacional que propicia a oportunidade de adoração, ao mesmo tempo em que servem para pregar o evangelho para o não-crente além de testificar da experiência que se encontra disponível em Cristo.

Um culto de evangelização pode ter esta ordem (Hustad p.190):

Cântico Congregacional; Orações; Música Vocal Especial – coro, solo ou grupo; Testemunho Leigo (expressão falada e pessoal de experiências de fé); Oferta; Música Instrumental – usualmente prelúdio e ofertório; Leitura Bíblica; Sermão; Apelo;

Obs.: o sermão é central neste tipo de culto. Todos os demais elementos devem receber uma avaliação na medida em que cooperam para a eficácia do sermão no sentido de preparar, sustentar e dar seqüência a pregação da Palavra de Deus.

- Cultos Especiais de Adoração

Alguns desses cultos focalizam-se em eventos significativos da vida de famílias da congregação em particular – referimo-nos a casamentos, funerais e batismos. Em geral, nota-se que os evangélicos mostram o mínimo de interesse por uma adoração significativa nas reuniões que marcam ocasiões importantes na vida de pessoas da igreja e suas famílias.55

É muito comum a negação da natureza coletiva da igreja em casamentos e funerais, pois se enfatiza muito os aspectos pessoais da ocasião, deixando de propiciar uma boa oportunidade para que todo o “corpo de Cristo” se expresse em adoração.

De acordo com Hustad (p.198), os problemas a serem enfrentados numa discussão a este respeito são:

A natureza de adoração dessa ocasião; As necessidades pessoais das pessoas envolvidas, em relação com as da

comunidade de crentes; A responsabilidade do ministro de exercer liderança e autoridade nessas

ocasiões, para cumprir os seus papeis profético, didático e pastoral.

1) A Adoração Em Cultos de Casamentos Cristãos 56

De acordo com as Escrituras, o lar é uma instituição fundada por Deus, e há certos princípios espirituais incluídos em um casamento cristão. De fato, encontramos em Efésios 5.22,23 palavras sobre o relacionamento entre marido e esposa sendo comparado com o de Cristo e a Igreja. Então, é natural que os evangélicos em geral, não fiquem satisfeitos com o casamento realizado apenas diante do juiz de paz. Mesmo sendo “negócio particular” dos noivos e de suas famílias, ao planejar-se a cerimônia de casamento, é fundamental esclarecer que:

55 Para maiores informações sobre a forma de realização das cerimônias, consulte “Manual do Ministro” editado pela Editora Vida.

56 Donad P. HUSTAD. Jubilate! A Música na Igreja, p. 199.

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Deus é a figura central em um casamento cristão; Os vários componentes do culto de casamento devem expressar a teologia da

igreja a respeito do casamento e da adoração pública; Casamento é um culto de adoração coletiva, em que um homem e uma mulher

se unem pelos laços matrimoniais e dedicam a Deus o seu lar recém estabelecido.

Obs.: Qualquer bom texto de adoração ou ação de graças pode expressar que a adoração cristã é o ponto central da cerimônia.

2) A Adoração em Funerais Cristãos

Embora alguns não queiram aceitar, o culto funeral não deixa de ser um culto de adoração coletiva em que os participantes louvam a um Deus providente que da toda vida, tanto temporal quanto eterna. Este culto também tem o objetivo de levar os cristãos a dar graças pela vida que acabou de findar, com sua contribuição a sua família, aos amigos, a igreja e a comunidade em geral.

Um fator importante:

→ É um culto realizado para os vivos, dando consolo no meio da tristeza, com certeza de que Deus é verdadeiramente amoroso (veja Jó 1.2b).

→ É um momento ideal para se levar a mensagem de esperança e salvação no Senhor Jesus Cristo, a um público heterogêneo onde muitos não conhecem o dom da vida eterna.

Com relação à liturgia:

O louvor não deve ser ignorado. Deve-se proporcionar o cântico congregacional com hinos que nos levam a

lembrar que o “amor firme de Deus dura para sempre”. Os hinos que falam a respeito do céu são apropriados, mas não necessariamente

o único tema. A pregação deve ser mensagem breve, consoladoras e ao mesmo tempo de

incentivo aos crentes para rededicarem o restante suas vidas a adoração e serviço do Pai.

Aos não-crentes, falar da salvação e vida eterna em Cristo, mas com a sensibilidade que a ocasião requer e não como uma campanha evangelística.

C) Uma Sugestão de Uma Liturgia Cristã

Barrientos57

da uma sugestão a respeito dos elementos básicos que devem estar presentes num culto cristão a ser organizado pelo pastor:

57

Alberto BARRIENTOS. Trabalho Pastoral Princípios e Alternativas, p. 194.

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2

ADORAÇÃO

8

INFORMAÇÃO DE ATIVIDADES

7

MINISTRAÇÃO DO AMOR E DO PODER

DE DEUS

PRESENÇA E

AÇÃO DE

DEUS

3 COMUNHÃO PLENA

4

TESTEMUNHOS

6 5

REFLEXÃO DA DESENVOLVIMENTOS PALAVRA DE

RELACIONAMENTOS

1º O culto deve ter como centro a Presença e a Ação de Deus – Deus deve ser exaltado na reunião de seu povo, pois é a Ele que se vai buscar sobre todas as coisas.

2º A Adoração – tem que ver com o reconhecimento de que Deus é em Si mesmo – um Ser maravilhoso cheio de amor, sabedoria e poder (Is 6.1-3; Sl 103; 104; 108.1-5); também o reconhecimento dos seus poderosos feitos (Sl 150.2).

Uns adotam uma adoração “planejada” (litúrgica), outros mais “livre”, de joelhos

ou em pé com as mãos levantadas, que ocorre às vezes individual, outras vezes congregacional, contudo, Deus deve sempre ser adorado e louvado, pois é digno disso.

3º A Comunhão Plena – no momento a Mesa (ou Ceia do Senhor) deve ocorrer a reunião de amor entre os membros do Corpo de Cristo, ao mesmo tempo em que ocorre a reunião entre Deus e seu povo.

Nesta reunião recorda-se a morte de Jesus e anuncia a sua volta – o que representa os dois sustentáculos da fé (1 Co 11.23-26)

4º Os Testemunhos – por exaltar a Deus e levar os adoradores a reflexão da fé, os testemunhos (contar o que Deus tem feito na nossa vida) devem fazer parte da adoração pois é edificação e mensagem.

5º Desenvolvimento de Relacionamento – é importante a introdução de culto com variadas atividades que proporcionem ou estimulem o relacionamento afetivo entre os congregados. A igreja não pode ser vista apenas como um aglomerado de pessoas que se reúnem, louvam a Deus e ponto final. Mas é também um grupo humano especial que

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tem objetivos comuns dados por Deus (adoração, evangelismo, ajuda mútua, etc.) e, portanto, tem certos tipos de relacionamentos.

6º Reflexão na Palavra – ouvir a palavra de Deus deve ser um dos vários

aspectos igualmente importantes no culto. Alguns têm o hábito de dizer ao chegar o

momento da pregação: “Chegou a hora mais importante no culto”. Na verdade, é

preciso dar mais importância a própria presença de Deus no culto que, aliás já deve

estar sendo reverenciada desde o início do culto. Outros aspectos são todos igualmente

importantes. Do contrário corre-se o risco de se dar mais importância ao pregador do

que a Deus...

7º A Ministração do Amor e do Poder de Deus – a exemplo de Jesus que não

só pregou, mas libertou e curou muitas pessoas, o culto deve realmente integrar esses

alimentos. Isso e também uma aplicação da mensagem pregada em cada culto ao

fazer-se um apelo, convidando pessoas a receberem a Jesus como Salvador;

convidando outras que estejam cativas por espíritos imundos; outras que estejam

enfermas e outras necessidades especiais onde talvez necessite de um conselho a

parte, além da adoração.

8º Informação de Atividades – já de o culto permite a reunião de maior número dos membros e congregados é viável passar certas informações, que devem ser de forma breve, ou no caso de informações especiais, enfatizar com cuidado, lembrando sempre que Deus continua presente agindo no culto, e continua sendo digno de reverência e adoração.

d) A Ordem do Culto

Já analisamos que, a organização da celebração do culto na igreja hodierna, traz em si a herança de alguns aspectos históricos, sobretudo, do período da Reforma e pós-reforma, mas, as bases do culto, contudo devem ser centradas no fato de que Deus, desejando o louvor e a adoração de seu povo, busca adoradores que O adorem em espírito e em verdade (Jo 4.24).

Podemos dizer que há duas categorias de culto as quais se relacionam entre si, pois aparecem juntas na adoração:

− O culto realizado de forma pessoal – cada um em particular louva a Deus; − O culto congregacional – quando se exalta a Deus em conjunto.

Hás igrejas que tem uma liturgia traçada, com certa rigidez, outras são muito abertas, sem nenhum tipo de programa; em alguns casos até dão certa impressão de desordem. Talvez uma boa fórmula seja “um meio termo de liberdade com ordem ou de direção com liberdade”.

O importante não é cada minuto ou cada hino seja regidamente planejado, mas

que cada aspecto do culto, igualmente importantes, sejam de certa forma incluídos no decorrer da adoração, proporcionando um verdadeiro encontro múltiplo.

e) A Simplicidade do Culto

A organização de uma reunião de adoração deve ter como principal conceito a

simplicidade. Quando se organiza um culto dentro deste conceito, descobre-se o quanto se pode realizar dentro da simplicidade da adoração.

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Os adoradores sabem que antes de receber e ouvir no culto, vão dar adoração e graças a Deus, demonstrar amor aos irmãos e edificarem-se mutuamente. Portanto, é ilegítima a preocupação de alguns dirigentes de igrejas, em querer que todos os seus

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cultos tenham um pregador diferente e/ou especial, conjuntos e/ou cantores famosos, etc., como se a igreja fosse local de espetáculos.

Isso traz mau costume aos congregados em relação ao culto cristão, que passam a ir para a igreja somente movidos pela curiosidade de saber “quem vai pregar hoje?”, “quem vai cantar hoje?”. O cristão deve ser ensinado a participar dos cultos movidos no sentido supremo da presença de Deus, como seguidores do Cristo divinal, morto na cruz pelos nossos pecados, tendo o Espírito Santo na direção.

f) Observações Gerais para os Dirigentes de Culto

Jamais se deve esquecer do importante fato de que sempre o centro do culto é o próprio Senhor e que o Espírito Santo é quem deve dirigi-lo. Isso requer dos dirigentes:

− Vida limpa, integridade;

− Contato com Deus e com o povo de Deus; − Atitude de amplo discernimento da vontade do Espírito Santo na reunião.

Tais observações são importantes para a realização de uma adoração genuína ao Deus Criador dos céus e da terra que se revela na história, na Bíblia e sumamente em Cristo. Abaixo, seguir-se-á uma lista de sugestões pertinentes a métodos de “dirigir” o culto durante seu desenvolvimento:

1. Planejar bem a reunião em seus aspectos essenciais, porém, estar aberto a direção do Espírito Santo.

A ordem do culto não deve ser obstáculo a ação do Senhor, também; Não se deve confundir a improvisação irresponsável e charlatã com a liberdade do Espírito Santo.

2. Indicar o significado de cada parte do culto a ser desenvolvida. Por exemplo: Indicando o assunto de um hino: “o nosso hino de adoração é...”; ou “para nos prepararmos para ouvir a Palavra de Deus, cantaremos...”;

Encorajando o Amém58

congregacional após as orações, ou para indicar a aprovação de um número musical: “e todo o povo de Deus disse... Amém.

3. As formas como os dirigentes de cultos se apresentam é muito importante. Devem se mostrar alegres e dispostos; Sorriso nos lábios e movimentos com liberdade;

Aparecer como adoradores, cantando os hinos, batendo palmas, se for o caso;

Postura firme, voz clara, autoridade e palavras positivas, evitando por exemplo,

dizer: “Vocês estão muito frios!” ou, “vocês não sabem cantar!”. Diga antes: “Estamos cantando bem, mas vamos fazê-lo melhor agora!”.

4. Evitar a introdução de observações que pareçam agradáveis, mas que na verdade são irrelevantes durante a realização do culto. Por exemplo: Evitar a exaltação de pessoas, pregadores ou outros que por acaso venham tentar ou usar o culto para atrair a atenção sobre si mesmo; Não “agradecer” o coro, ou o cantor, ou a orquestra, depois que cantam. Eles

cantam como uma oferta a Deus e não para o louvor da congregação. Enquanto cantam, representam a cada membro da congregação que não esta

58

Amém: é uma palavra hebraica que originalmente era um adjetivo significando “confiável, seguro e verdadeiro”. No final de uma doxologia, o Amém significa: “Sim, realmente!” ou: “Assim seja na verdade!” (cf Sl 41.13; 72.19; 89.52; 106.48; 1 Cr

16. 36 e Ne 8.6). Aquele que ora, declara ou se une a oração pelo Amém. Coloca-se a si mesmo dentro a afirmação com toda a

sinceridade da fé. No NT, em grego é mesmo e tem a mesma função. Is 65.16 diz que o Senhor é o “Deus do Amém”; em Ap 3.14 Jesus Cristo é chamado “O Amém”, significando nos dois casos que Deus fala a verdade e Cumpre a Sua palavra.

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fazendo parte do coro. Agradecer-lhes seria como bater palmas após uma apresentação teatral; Lembremos que há ocasiões apropriadas para se expressar o apoio e gratidão tanto a ministro/pregador quanto ao coro ou cantor, mas não no meio da experiência de adoração.

5. Valorizar a participação das crianças na adoração. Devem ser incentivadas a participarem dos louvores a dar testemunhos do que Deus tem feito em sua vida; Não se deve esperar que a criança contribua com a adoração coletiva, mas pode-se permitir que ela demonstre seu crescimento espiritual no ambiente informal da Escola Dominical, do culto de domingo a noite ou do culto do meio da semana. A criança deve sentir que a igreja é um bom lugar para se estar;

A igreja do futuro tem suas bases na criança de hoje – pense nisto.

Uma Reflexão Sobre Adoração

“Deus é espírito; e importa que os adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24).

Adorar a Deus é reconhecer o valor de Deus. Portanto, adorar a Deus em espírito é reconhecer em espírito (isto é, em contraste com meio materiais) e em verdade (em contraste com o erro e a falsidade) o supremo valor do Deus soberano.

Segundo dados da antropologia, todas as pessoas adoram. O que se observa então, que, conforme já disse o evangelista Billy Graham, “há um vazio com a forma de Deus em nossos corações, porém muitas pessoas tentam enchê-lo com outras coisas”. Isso ajuda a explicar a infinidade de religiões existente no mundo desde tempos remotos e, aqueles que dizem não serem religiosos, são fascinados pelo deus da possessão, do prazer, do poder, da fama, ou curvam diante de si mesmo e de seus próprios deleites.

Os cristãos adoram a Deus revelado na Bíblia a na pessoa de Jesus Cristo respondendo afirmativamente a antiga ordem de Cristo: “Amarás, pois o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.30).

Na adoração cristã temos duas vertentes:

Expressar adoração a Deus – aponta para a expressão coletiva da nossa dedicação interior a Deus.

Testificar e evangelizar – aponta para a manifestação exterior do nosso amor em obediência ao segundo grande mandamento apontado por Cristo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12.31).

Adorar é pensar em Deus e conversar com Ele. Adorar é pregar as boas novas de Deus em nome de Jesus Cristo, a um mundo faminto pela justiça. Adorar é glorificar a Deus. Cada ato, cada aspecto da vida do cristão deve glorificar a Deus.

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Adorar a Deus implica alguns resultados edificantes. Vejamos:

1. Alegramo-nos em Deus. Além de Deus haver nos criado para glorificá-lo, também permite-nos alegrarmo-

nos nEle. O desejo de Davi expresso no Salmo 27.4, foi um dos fatores que desenvolveram nele total confiança em Deus. Nós experimentamos maior alegria quando estamos em adoração a Deus (Sl 16.11; 73.25; 84.1,2,4,10 cf At 2.46,47).

2. Deus alegra-se em nós. Deus tem alegria especial naqueles os quais criou e remiu (Is 62.3-5; Sl 3.17; cf Gn 1.31).

3. Aproximamo-nos de Deus. Esse é um resultado da nova aliança. Na antiga aliança a aproximação era de

maneira limitada (Hb 9.1-7). Na nova aliança o cristão pode entrar direto no “Santo dos Santos” (Hb 10.19,22).

4. Deus aproxima-se de nós. Tiago 4.8 diz: “Chegai-vos a Deus e Ele se chegará a vós”. Assim Deus tratou o

povo em toda a Bíblia. 2 Crônicas 5.13,14 nos relata que quando o povo começou a louvar a Deus na ocasião da dedicação do templo Ele desceu e manifestou-se no meio deles. Confira também Salmo 22.3.

5. Deus ministra a nós. O propósito principal da adoração é glorificar a Deus, porém somos edificados

quando adoramos (1 Co 14.26 – “seja tudo feito para edificação”). Veja também Ef 5.19 e confira Hb 10.24,25.

6. Os inimigos do Senhor fogem. Quando o povo de Israel começava a adorar, Deus, em certas ocasiões, lutava

por eles e os livrava dos inimigos (2 Cr 20.21,22).

7. Os descrentes sabem que estão na presença de Deus. Um culto conduzido em ordem promove sensação de bem-estar aos que entram

na igreja pela primeira vez. (Confira 1 Co 14.23-25).

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