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NC? 3 1978 Maio O Espírito falará em vós Teríamos nps medo do Esp írito? Eva e Maria Nós vos aclamamos .. Viver no Espírito 4 6 9 10 O nosso "Paraíso Perd ido " 12 A "Segunda Carla ao Povo de Deus " . . . . 15 Mãe de misericórdia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 O milagre de Lanciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Você, mãe dos meus filhos .. . .. .. .. .. . .. .. .. 24 Reflexão para a Festa do Trabalho . . . . . . . . . . 25 Uma oração conjugal .. . . . . .. . .. . . .. .. .. . . .. . 27 Nossos filhos e a violência na TV . . . . . . . . . . . 28 E assim começou a história do divórcio no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Notícias dos Setores .. . ........ .... .... ..... 32

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NC? 3 1978

Maio

O Espírito falará em vós

Teríamos nps medo do Espírito?

Eva e Maria

Nós vos aclamamos ..

Viver no Espírito

4

6

9

10

O nosso "Paraíso Perdido" 12

A "Segunda Carla ao Povo de Deus" . . . . 15

Mãe de misericórdia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

O milagre de Lanciano . . . . . . . . . . • . . . . . • . . . . . . 21

Você, mãe dos meus filhos .. . .. .. .. .. . .. .. .. 24

Reflexão para a Festa do Trabalho . . . . . . . . . . 25

Uma oração conjugal .. . . . . .. . .. . . .. .. .. . . .. . 27

Nossos filhos e a violência na TV . . . . . . . . . . . 28

E assim começou a história do divórcio no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

Notícias dos Setores .. . ........ . . .. ....•..... 32

EM TEMPO . ..

O encerramento do "ano equipista" no final do pre·· sente semestre comporta duas atividades de destaque nn vida de cada equipe. Pedimos, assim, levarem em conta os pontos seguintes:

a) A eleição do Casal Responsável para 1978/79 de­verá ser feita na reunião de maio.

b) A reunião de balanço deverá ter lugar em junho.

Esta sucessão de atividades permitirá ao novo Res­ponsável olhar com olhos de ver quais os pontos em que deverá particularmente incidir a sua atuação, em comu­nicação estreita com o Responsável atual e o Conselheiro Espiritual.

c) O nome do novo Casal Responsável deverá ser comunicado sem delongas ao Setor e ao Secretariado, para atualização do fichário e permitir assim o envio certo de correspondência.

d) O Encontro Anual dos Casais Responsáveis de Equipe (EACRE), ao qual todos os novos responsáveis devem comparecer, terá lugar no começo de julho, em datas e locais que serão comunicados na Carta Mensal de junho. Em caso de impedimento de força maior por parte do Casal Responsável, deverá ele designar outro casal para representar a equipe.

EDITORIAL

O ESPíRITO FALARÁ EM VóS

"Não sois vós que haveis de falar, é o Espírito de vosso Pai que falará em vós" (Mt 10, 20). Aos Apóstolos que po­deriam assustar-se com a missão que haviam de desempenhar, Cristo quer comunicar uma certeza: sejam quais forem os ódios e as perseguições, nada devem recear. Também nós, a quem talvez assuste a tarefa de proclamar a Boa Nova, a mesma garantia nos é oferecida: podemos, confiados na ação do Espírito, defrontar-nos com esta tarefa que, humanamente, 1 os ultrapassa.

Não sois vós que haveis de falar. . . Pensamos infalivelmen­te nesse outro aparente paradoxo, na boca de São Paulo: "Vivo, mas já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gal. 2, 20). Da mesma Iorma, ao darmos testemunho, não somos nós, é o Espírito que testemunha em nós. É claro que quem profere o testemunho somos nós, mas esse testemunho, de certa forma, é-nos fornecido de dentro. Evidentemente, nenhuma violência, rr.esmo interior, nos virá ditar a sua formulação, e no entanto é o próprio Espírito que quer exprimir-se, na nossa pessoa.

A nossa primeira preocupação deve ser, portanto, deixar o Espírito exprimir-se autenticamente através de nós. Isso exige um sério desprendimento em relação a nós mesmos: não é pelo fato de nos aferrarmos com todas as nossas forças a esta ou àquela idéia que ela provém necessariamente do Espírito divino. Exige ainda um sério discernimento: "Não deis crédito a todo espírito, mas ponde os espíritos à prova, para ver se são de Deus" (1 Jo 4, 1). Estar atento, ver as coisas com objetividade, des­cobrir o que pode ser um acréscimo intempestivo da minha parte, tal é a primeira exigência de uma disponibilidade ao Es-

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pírito. É preciso estar pronto a ceder-lhe todo o lugar e a re­nunciar, se for o caso, a pontos-de-vista demasiado individuais, a posições demasiado subjetivas. Em suma, "é preciso que Ele cresça e que eu diminua" (Jo. 3, 30).

É o Espírito de vosso Pai que falará em vós. Esta promessa, destinada a tranquilizar os tímidos Apóstolos, é uma promessa de assistência divina e não de inspiração no sentido próprio: se é verdade que nunca o Espírito nos abandonará, nem por isso devemos ter por inspirada qualquer palavra que saia de nossa boca! Não estamos dispensados de nos esforçarmos para corres­ponder ao Espírito. Todas as vezes que o apóstolo tiver de dar testemunho, é-lhe prometida a assistência do Espírito, mas isto não torna supérfluo o exercício normal da coragem e da perspi­cácia. Toda vez que a Igreja tiver que propor ao mundo a Pa­lavra de Deus, é-lhe prometida a assistência do Espírito, mas isso não significa, nota L. Bouyer, que o Espírito divino se subs­titua ao funcionamento normal do trabalho da inteligência.

Destas reflexões podemos deduzir rapidamente duas conse­qüências. Em primeiro lugar, se esta assistência nos é prometida, se, na verdade, - como incessantemente São Paulo repete - o Espírito nos é dado, se efetivamente o recebemos, não é, de modo algum, para que nos comportemos a seu respeito como "proprie­tários". Nenhum de nós pode reivindicar a posse exclusiva do Espírito: é, antes, o Espírito que nos deve possuir e dominar. Nenhum de nós pode dispor do Espírito segundo o seu capricho: antes, devemos pôr-nos ao serviço do seu desígnio. Quanto mais pobres formos de nós mesmos, mais ricos seremos dele.

Ademais, se convém empregar todas as nossas faculdades hu­manas para melhor corresponder aos desígnios do Espírito, adivi­nha-se o papel que pode e deve desempenhar a ajuda que nos vem dos outros. "Não te fies na tua própria prudência" (Prov. 3, 5). Para melhor nos apercebermos do Espírito que quer ex­primir-se em nós, é por certo necessário muita oração e recolhi­mento pessoal. E é preciso também o apoio, os encorajamentos, os conselhos do cônjuge ou da equipe.

* * *

Afinal de contas, através de nós, a quem se dirige o Espírito? Quando se fala em testemunhar perante os homens, não se pode · excluir a possibilidade de termos de nos defrontar com alguns deles diferentes e talvez hostis. Seria vão pensar que o cristão poderá um dia deixar de ter adversários. Mas estes adversáriosi

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são menos para vencer do que para convencer. O "mundo" foi vencido por Cristo: os homens só serão convencidos pelo Espírito de Cristo.

Ao nosso tempo, tão preocupado em inventar uma linguagem e tão ansioso por descobrir uma sabedoria, é preciso incansavel­mente lembrar a fonte indefectível que saciará esta sede. É o próprio Jesus. "Eu vos darei linguagem e sabedoria a que não poderá resistir ou contestar nenhum dos vossos adversários" (Lc. 21, 15).

Ao nosso tempo, tão ávido de reformas, é necessário propor e fazer perceber "a renovação que produz o Espírito Santo. Este Espírito foi derramado por Deus copiosamente sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador" (Tit 3, 5-6).

Roger Tandonnet, s.j.

O dom de manifestar o Espírito é dado a cada um para a utilidade de todos.

Ninguém pode dizer "Jesus é Senhor" senão sob a ação do Espírito Santo.

(I Cor. 12, 7 e 3)

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TERIAMOS NóS MEDO DO ESPIRITO?

No mais íntimo de nós mesmos, temos realmente o desejo de receber o Espírito Santo? Nossas dúvidas, nossas incertezas, até mesmo a nossa incredulidade em face de tal trecho ou tal promessa do Novo-Testamento não seriam suficientes para com­provar, ante nosso próprio coração, o nosso medo do Espírito Santo? Reconheçamo-lo simplesmente, francamente: a idéia de que o Espírito Santo poderia vir em nós e penetrar nossa vida, até nos seus mais secretos recônditos, desperta em grande nú­mero de nós não a alegria, mas um receio que nem sempre ousamos formular.

E se, no entanto, ele viesse? Se, em resposta à nossa ora­ção, o Espírito Santo se apoderasse de um ou outro dentre nós, não seria certamente para nos deixar tranquilos! O Espírito Santo nunca deixou tranquilo nenhum daqueles que tocou . . . Não seríamos nós obrigados a repartir com ele o segredo de nossas ambições, de nossas invejas, de certas impurezas escon­didas no recôndito de nós mesmos, se viesse penetrar nossa vida com sua claridade reveladora? Não nos levaria ele a re­nunciar a tantos laços que, neste momento ainda, julgamos que podem conciliar-se com a nossa fé? . . . Não nos levaria ele a nos distinguirmos dos outros - aqueles que nos são próximos, nossos colegas, nossos amigos? Não nos colocaria ele em opo­sição com o nosso meio, profissional, social, até mesmo reli­gioso?

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~ certo que queremos dar testemunho de cristãos nos lu­gares em que atuamos, principalmente quando ali impera o conformismo. Mas, nada de coisas estranhas que levariam a que reparassem em nós e nos tornariam ridículos!

Festa de Pentecostes! Houve outrora línguas de fogo, vidas abaladas, aventuras da fé, riscos a enfrentar, cruzes a carregar, uma morte a ser vivida, para em seguida viver uma vida nova: a vida de Cristo. . . Mas tudo isto não é para o século XX, não é para nós!

Ao que leva esta convicção de que o Espírito Santo não é para nós?

A extrema mediocridade de tantas vidas chamadas cristãs, à sua esterilidade. Cristãos medíocres, cristãos tristes, cristãos pessimistas, cristãos derrotistas: na verdade, abarrotais com fre"' qüência os nossos santuários e as nossas paróquias; e sois estes cristãos porque, bem no fundo de vós mesmos, recusais o Es­pírito Santo!

Pastor Marc Boegner

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EVA E 1'\'IARIA

Jean Guitton

A Bíblia (este livro onde cada ser é descrito segundo seu tipo eterno), deixou-nos dois perfis de mulher: Eva e Maria. Eva, na origem das coisas, no princípio da primeira aliança, Maria, na fronteira da história, quando se constitui a segunda, a eterna aliança de Deus e dos homens. E estes dois tipos de mulher projetam um raio de luz que nos desvenda um pouco do mistério feminino.

Eva é vulnerável. Ela é graciosa, mas frágil. Ela é sedu­zida e ela seduz. Ela é provocadora e conversa até com o diabo. Ela acaba por parecer-se com o diabo, acaba por tornar-se, para Adão, o próprio rosto da tentação. Ela não vai direto ao cbje­tivo; dir-se-ia que ela serpenteia. Ela obtém o sim de Adão, po!s o charme dá ao mal a aparência requintada do bem. Ela está defasada de um tempo: somente após a falta, percebe que es­tava nua.

Mas Eva possui também suas grandezas, que Milton e Péguy cantaram. Ela é uma fonte. Depois de haver perdido a ino­cência, ela guarda o frescor dos seres originais. Ela simboliza a incerteza e a promessa dos seres em começo. Depois da queda, ela tem coragem diante da dor. Ela enfrenta a massa indefinida do sofrimento feminino. Podemos adivinhá-la, altiva, rude, des­preocupada, muito generosa.

E não a imaginamos sem Adão, do qual não se separa nem no bem, nem na queda, nem na expiação. Nunca estão um sem o outro. Ela foi tirada do flanco do homem durante seu sono estático; ela é seu sonho feito carne. Se ele pecou é, como dizia Duns Scott, porque a amava demais. A Bíblia não carrega sobre eles, antes desculpa este jovem casal sem experiência. Neste relato tão relido, encontrei sempre um toque de piedade, a pie­dade criadora, para esta primeira mulher, feita de carne e fragi­lidade, que não pode resistir à insinuação.

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Maria é a outra face da mulher, aquela que está voltada, ao mesmo tempo, para a altura e para a profundidade. A pu-· reza, nela, não significa somente a ausência de mácula, mas sim.: plicidade; a simplicidade da luz branca que reúne em si todas as cores do espectro. Pureza é a condensação levada ao extremo. Não se ousa dizer que Maria era bela, se se entende por beleza o esplendor da forma; e, nas aparições, para aquele que a vê, ela parece possuir esta beleza irradiante. Mas existe algo além da beleza, que é a presença de uma alma nos traços de um rosto, em seu olhar, sua maneira de sorrir; uma espécie de abandono, como se houvesse bondade no fundo da beleza. É a graça. Ma­ria é a graça. Além do prazer, existe a felicidade, além da felicidade, existe a alegria. Maria é causa de alegria.

A mulher é bi-dimensional; ela tem o poder de fazer o homem cair ao nível da tolice, do embrutecimento, até torná-lo seme­lhante a um louco. Ela tem o poder de elevá-lo, por amor a ela, até a excelência. A mulher poderia mesmo ensinar ao ho­mem a dispensar os prazeres que ela lhe dá. A presença da mulher torna doce o sacrifício; pode tornar a morte suportável, desde que seja em seus braços. Maria, para a humanidade que crê, é aquela que dá encanto à dor. Pensem nas catedrais, obra de um esforço sobre-humano, massa perfurada de luz, que o culto a Maria tornou possíveis.

Em Maria existe também o princípio da coragem, que é a vontade tomada na fonte, no momento em que se diz "sim". A tal ponto que a primeira palavra que o Evangelho relata de Maria é a palavra sim: "Faça-se em mim segundo a tua pala­vra". Este consentimento prévio a tudo que pode acontecer em termos de miséria ou de grandeza (pois sabemos que tudo acon­tecerá, e, após o excesso de mal, talvez também um excesso de bem e de felicidade?) este sim dito pela mulher a seu filho, ainda S{·m sexo, sem rosto, que ela espera em seu corpo, e que será para ela fardo, preocupação, mistério e glória: tal é a palavra que cada mulher pronuncia a cada minuto.

Enfim, em Maria, existe ainda a imobilidade da aceitação, o estar erecta diante da dor. Eis porque ela é tão freqüente­mente representada diante da segunda árvore, a Arvore da Cruz, que responde à Arvore do fruto maldito; Maria sustenta o com­bate onde Eva cedeu. Mas, no Natal, os pintores preferem mos­trá-la ajoelhada, inclinada sobre o Menino. Este gesto, não há pintor que tenha ousado imaginá-lo para a primeira mulher, que o Genesis chama, no entanto, a Mãe dos viventes: Eva, tantas vezes mãe, e mãe de homens fortes, nunca foi representada como mãe. E Maria, mãe-virgem de um só ser, tornou-se, para o Oci­dente, o tipo e a imagem constante da mãe.

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É que faltava a Eva esta maternidade de espírito que envolve a maternidade carnal. É difícil imaginar Eva com esta plenitude de coragem que é a paciência, com esta plenitude da palavra que é o silêncio. Ela ficou na metade do caminho em tudo, e esta foi, sem dúvida, a fonte do seu erro; em suma, não tanto haver pecado e mentido, mas não haver ido até o fim da verdade c da fidelidade.

No Natal, Maria está de joelhos em adoração diante da Origem: este Menino que é seu criador e que ela vê num co­meço tão pequeno. Ela vê o futuro neste recém-nascido, sob a forma de um ser tão frágil, tão vulnerável, que provavelmente sofrerá muito, e será ocasião de muito sofrimento, mas que cer­tamente triunfará no fim, apesar de tudo, e justificará aqueles que o desejarem. Maria adivinha a Cruz e a Glória, estes dois sinais intimamente ligados. ·

Maria está, muito mais do que Eva, no começo de tudo: pois o verdadeiro começo é o recomeçar, depois de um primeiro fra­casso, a segunda inocência, o momento onde se vê que a "culpa é feliz" e que tudo vai se refazer sobre um plano melhor.

Eva, direi ainda, é este enigma do erro de um instante, que dura por suas conseqüências. Mas é o mistério do perdão que dura eternamente.

EVA, AVE, basta inverter o nome de Eva para obter a pala­vra de Maria, aquela com que o Anjo a saúda. Uma pequena mudança! Uma pequena diferença! Um sorriso, um ligeiro es­t icar dos lábios, tudo está mudado. Tudo muda de sentido com o sorriso. "A presença da Mulher eterna nos atrai para o alto", dizia Goethe no fim do segundo Fausto.

E talvez então eu possa compreender o duplo sentido da palavra graça e porque os homens chamaram deste mesmo nome, "graça", por uma confusão sublime, aquilo que é mais visível na beleza humana e aquilo que é mais oculto no divino.

(Transcrito da revista "Liturgia e Vida", n1> 134)

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Nós vos saudamos, Maria, Mãe de Deus, tesouro venerado nistes a todos nesta igreja da Santa Mãe de Deus.

Nós vos aclamamos, Trindade santa e mística, que nos reu­pelo mundo inteiro, luz que não se apaga, coroa das virgens, cetro da fé, templo indestrutível, morada dAquele que não tem morada, Mãe e Virgem.

Graças a vós, Aquele que vem em nome do Senhor é abençoado nos Evangelhos; nós vos saudamos: abrigastes em vosso seio virginal o Infinito!

Graças a vós, a Trindade é adorada e glorificada, a Cruz preciosa é celebrada e adorada em todo o universo!

Graças a vós, em toda a extensão da terra, as igrejas se erguem e as nações pagãs se encaminham para a conversão! Assim o universo todo vibra de alegria!

São Cirilo de Alexandria

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VIVER NO ESPÍRITO

Ser santo é testemunhar Cristo por toda a nossa vida. Só assim, através de nós, ele santificará o mundo. O Senhor Jesus o fará em nós.

Ora, só podemos testemunhar Cristo no seu Espírito .

. . . Descerá sobre vocês o Espírito Santo e lhes dará força, e serão minhas testemunhas até os confins da terra (At. 1, 8).

Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é de Cristo (Rm 8, 9).

Portanto devemos viver no Espírito, adquirir Espírito-ali­dade, o que 'significa ter vida de oração, ser oração.

Tantas vezes pensamos tomar um novo rumo na vida ... Achamo-nos convertidos. Não sabemos ainda que a conversão tem que ser de cada dia, de cada hora e que ela só se realiza na força e na luz do Divino Espírito. E deixamos de a desejar e pedir. Desconhecemos a importância "sine qua non" da ora­ção, para perseverarmos e progredirmos na graça. Sem ela, as melhores resoluções fracassam.

Deus cria o seu mundo e vela por ele. Mas quer associar o homem à sua obra e em tudo pede a sua colaboração para conservar, desenvolver e valorizar a criação.

Pede a colaboração do homem ainda mais para o seu próprio aperfeiçoamento. Assim, ele deve orar, pôr-se em contato com Deus, para haurir dEle energia espiritual e moral, e não se ilu­dir e desviar da sua rota.

Se eu não der palha ou capim ao meu burrinho, acabará como o cavalo do inglês, que se findou justamente quando apren­dera a passar sem comida . . .

Se eu não regar o meu feijãozinho, que plantei com tanta solicitude e que vejo desabrochar tão alegre e pujante, logo per­derá o viço e verei secar o broto, pendente e triste.

Se eu não puser óleo na minha lamparina, quando vou acam­par, ou nas noites nostálgicas do sertão, ela se apagará e farei o papel das virgens loucas, na parábola de Jesus.

E se eu não encher o tanque do meu fusquinha ou da minha Ferrari ...

É conhecida a estória do vigário que andava pela roça, mon­tado na sua mula, quando deu com um caboclo amanhando a terra. "Eh! meu filho", disse ele, "Deus e você fizeram aqui um belo trabalho!". E o caipira: "É, Siô Vigário! Precisava de vê

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isto quando eu não ponhava a mão aqui e Deus trabaiava sozi­nho ... "

Deus não quer trabalhar só, ele nos honra pedindo a nossa cooperação em toda a sua obra salvífica e santificadora. E a maior cooperação que lhe podemos dar é a de unir-nos a ele em vida de oração, para que o Espírito possa realizar o seu traba­lho em nós.

Entende-se, então, que a oração não é necessariamente a nos­sa palavra. É a nossa resposta, muda talvez, mas sonora, para Deus, à Palavra única que ele profere na sua eternidade, e que no tempo se chamou Jesus Cristo.

É no Espírito que ouvimos essa Palavra, tudo o que nos ensina e espera de nós, e é nele ainda e só nele, que podemos responder e corresponder a ela.

Mais que palavra, a oração é pensamento. Alguém disse que nossos pensamentos falam mais alto no céu que nossas palavras sobre a terra. Em outros termos, Shakespeare nos diz:

"Minhas palavras voam alto, mas meus pensamentos ficam na terra. Palavras sem pensamentos não chegam ao céu." (Hamlet, III, 3).

A nossa meta é ser oração constante vivendo no Espírito de Jesus, a ponto de fazer dessa vida o ambiente familiar em que a gente se sente bem.

Cláudio de la Colombiere afirma que "reza pouco quem só reza de joelhos". É a nossa vida toda que deve tornar-se oração.

A gente se expande exteriormente em oração vocal, na ora­ção da comunidade, no louvor da Igreja, que embalsama a nossa atmosfera interior e nos eleva pela sua formosura. É a flor que se abre à luz do sol e incrementa a graça da terra.

E a gente se recolhe em silenciosa meditação, no âmago de si mesmo, para melhor ver a beleza de Deus e sentir o aroma da sua infinita pureza. É ainda a flor que fecha a sua corola no encantamento da noite, ou se esconde nas trevas para exalar o seu perfume.

Viver no Espírito é aderir à sua vida em nós, essa vida di­vina recebida no nosso batismo; é tornar-se oração constante, entregar-se ao amor transformante, para com el ! "renovar a face da terra".

Pe. Haroldo J. Rahm, s.j. Maria J. R. Lamego

("Vida no Espírito, vida de oração", Edições Paullnas, 1975)

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O NOSSO "PARAISO PERDIDO"

(Da Carta Mensal portuguesa )

Vivemos numa casa bonita. Essa casa, os nossos quatro fi­lhos, os amigos, a nossa rotina profissional constituem uma es­pécie de círculo agradável, onde nos sentimos felizes, onde aca­lentamos esperanças e ideais, onde rimos e rezamos, resguardados da violência, da inquietação e do desespero que reina por esse mundo afora.

Atrevo-me mesmo a pensar que esse círculo constitui uma espécie de "Paraíso Perdido", onde vale a pena viver.

Ora, foi em nossa casa, há dias, enquanto ia pintando alguns ferros da escada de caracol que leva ao sótão, que a Zélia se sentou ao meu lado, num pequeno banco, para me ler, em voz alta e vagarosa, a Cana de Taizé.

O texto começou por me parecer duro e inquietante. De onde em onde, vagamente, julgava mesmo reconhecer o eco da demagogia pseudo-revolucionária que, nos últimos anos, foi aba­lando tão profundamente a minha fé nos homens e na sociedade.

Mas as palavras, na voz pausada da Zélia, iam tendo indu­bitavelmente um tom de verdade perturbadora, que por vezes magoava pela sua clareza. No final, depois de um silêncio in­terrogador da minha mulher, sentia-me ainda indeciso e, pru­dentemente, rotulei o texto de muito polêmico.

A sua resposta foi pronta e merecida:

- Se os casais das Equipes não entenderem esta Carta, então nada estão a fazer no Movimento.

Levantei a cabeça, meditando na secura do seu comentário. A boca da escada de caracol, lá em cima, pareceu-me mais es­cura e impenetrável. Tentei imaginar o longínquo Oriente, o Bangladesh, onde os jovens autores da "Segunda Carta ao Povo de Deus" haviam encontrado inspiração para escrever a sua Pa-

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rábola. Quem tiver lido Josué de Castro pode dar-se ao luxo, àe tentar imaginar, ajudado pela frieza inatacável dos número~, o clima intolerável da miséria, fome e doença em que rastejam: lentamente milhões de seres humanos, como répteis confo·rmados' e inconscientes do seu destino injusto.

Assim, sentei-me e voltei a ler as três páginas datilografadas.

Compreenderiam os casais das Equipes de Nossa Senhora aquela mensagem? Acreditei que sim. Apesar do conforto das nossas casas, apesar das já suficientes preocupações familiares que mais ou menos tocam a cada um de nós, apesar das incer­tezas vividas na nossa profissão e no nosso meio social, apesar de tudo, tive a certeza de que os casais, sem sairem do seu "Paraíso Perdido", consciente e incondicionalmente, com um amor, nascido na fé em Deus que cultivam, estariam solidários com tantos irmãos votados ao abandono, escarnecidos pela violência, pela injustiça e pela desigualdade.

Devo no entanto confessar que esta minha certeza dizia sq respeito à compreensão e à solidariedade. O "Paraíso Perdido') de cada um pouco mais permitiria. Olhei para o buraco negrÓ do sótão e perguntei a mim mesmo quantos se atreveriam, dei~ xando para trás os filhos, os amigos, o trabalho, os pequenos hábitos, a subir vertiginosamente aquela escada de caracol para se precipitarem lá de cima, às cegas, no mundo negro dos homens do silêncio, da solidão, da dor, na terra da gente degradada pela desigualdade, pela ignorância e pelo vício? Quantos ousariam procurar, entre os queixumes de dor, a tal melodia, surda e es­condida, verdadeiro cântico de esperança e comunhão?

É certo que para isso nem sequer seria necessarw ir a Cal­cutá. As ásias fantásticas onde o próprio espírito consegue florir do subdesenvolvimento e da desesperança, essas terras lo·ngín­quas onde se escrevem Cartas ao Povo de Deus, existem por aí, pertinho, nos bairros de pau e de lata, nas barracas escondidas envergonhadamente no meio do matagal que circunda cada uma das nossas vilas e cidades, nos serviços de urgência de cada hospital, nos consultórios luxuosos dos psiquiatras.

Chittagong, onde Jesus tem morada obrigatória por força da dolorosa demissão dos homens, é bem pertinho, na casa que acolhe os nossos deficientes mentais, os velhinhos abandonados, os jovens arruinados pelo veneno da droga.

Aí mesmo seria fácil encontrar o Senhor, vivo, sorridente, pronto a afagar-nos com um gesto de ternura, garantindo-nos outro tipo de felicidade, mais luminosa, que em vão perseguimos.

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, . . Mas como poderemos deixar assim; subitamente, o nosso :'Paraíso Perdido"? Como partilhar, sem uma hesitação, um pouco do conforto conseguido com o trabalho de uma vida inteira? Como participar na deliciosa mas quixotesca aventura de mudar &. miséria e a desigualdade? Como optar por ser herói e santo se não existem heróis e santos?

É bem triste termos de nos contentar em ler as palavras desse extraordinário Jesus na Bíblia bonita que temos no quarto, t.1uando ali, do outro lado, talvez no meio de crianças famintas, Ele espera encontrar-se um dia conosco.

Que pena termo·s um "Paraíso Perd~do"!

Olhei para o lado e dei conta que a Zélia tinha ido rezar o terço com os filhos. Permaneci sentado, cá em baixo, no pri­meiro degrau da escada de caracol. O Daniel, o menor dos nossos filhos, veio sentar-se meigamente no meu joelho. Pensei uma última vez na fantástica Parábola da Partilha. Lá falava-se de transformação a médio prazo ... em luz ... em vitória final. Tal­vez o Daniel possa um dia viver sem o seu "Paraíso Perdido", viver num mundo de homens iguais, partilhando entre si um incomparável amor vindo de Deus.

F itei com menos rancor o cimo escuro da escada de caracol. E enquanto passava os lábios pelos cabelos finos e sedosos do meu filho, meditei no amor de Jesus, envergonhado pelo meu subito desânimo. É que, pensando melhor, creio que amanhã mesmo terei de fazer alguma coisa de diferente.

Miguel Teixeira

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A "SEGUNDA CARTA AO POVO DE DEUS"

A 5 de dezembro último, na Catedral de Notre-Dame de Paris, o Concilio de Jovens, iniciado em Taizé, em agosto de 1974, conheceu uma nova etapa: foi lida a "Segunda Carta ao Povo de Deus", escrita pelo irmão Roger Schutz e um grupo de jovens, em Calcuttá e no Bangladesh. '

Em Paris, quando a "Carta" foi tomada pública, além do irmão Reger, da comunidade de Taizé, estavam presentes os cardeais Marty <Paris) e Koenig (Viena); também D. Man­ziana, bispo italiano; o metropolita Meletios, da Igreja orto­doxa grega; um representante do arcebispo de Canterbury ~ o presidente do Sínodo da Igreja evangélica alemã, M. von Heyl.

Publicamos na integra o texto desse notável documento; que bem pode servir para reflexão de todos nós.

Calcuttá-Chittagong, 1 de dezembro de 1977.

Na Ásia, confirmou-se a nossa certeza de que as feridas que dilaceram a humanidade podem ser curadas. Queríamos, para já, transmitir esta convicção àqueles que crêem ter esgotado, ern vão, todos os meios, no seu compromisso de tornar o mundo mais humano.

Viemos aqui trazendo em nós a presença de tantos homens e mulheres que sofrem de esfalfamento e de incapacidade: uns deixam-se afundar no desânimo e na resignação, outros, na vio­lência dos desesperados.

Regressamos depois de termos descoberto, no meio de enor..: mes misérias, a surpreendente vitalidade de um povo e de termos encontrado testemunhos de um futuro diferente para todos.

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Construir uma parábola de partilha . . .

Para contribuir para esse futuro, o povo de Deus tem uma possibilidade que lhe é específica: espalhado por toda a terra, pode construir, no seio da família humana, uma parábola de }Jartilha com os outros. Esta parábola de partilha conterá força suficiente para se propagar até abalar as estruturas mais segu­ras e criar uma comunhão na família humana.

Para levar o povo de Deus a este radicalismo do Evangelho, tu, que lês esta carta, jovem ou de mais idade, não tardes a fazer da tua própria vida uma parábola de partilha, traduzida em atos concretos, por muito que isto te possa custar.

· Por estes caminhos, muitos, em especial os pobres, já te precedem na Asia.

Nos bens materiais . . .

Realizar com os outros a parábola de partilha diz respeito, antes de tudo, aos bens materiais. Ela começa por uma trans­formação da tua maneira de viver.

Já no século quarto, um bispo de Milão, Ambrósio, se preo­cupava extremamente por ver certos cristãos que acumulavam bens. Escrevia-lhes: "A terra foi criada para o bem comum e para todos. A natureza não conhece ricos, ela não concebe senão pobres. Não é dos teus bens que tu dás ao pobre, é uma pe­quen:na parcela do que lhe pertence que tu lhe restituis, porque são bens comuns dados para o uso de todos que tu usurpas so­zinho".

Para transformares a tua vida, ninguém te pede que caias na austeridade puritana, sem beleza e sem alegria.

Reparte tudo o que tens, nisso encontrarás a liberdade.

Resiste ao consumo: multiplicar o que se adquire transfor­ma-se numa engrenagem. A acumulação de reservas, para ti mesmo ou para os teus filhos, é o começo da injustiça.

A partilha supõe uma relação de ~gual para igual que nunca cria dependência. Isto é verdadeiro tanto entre os indivíduos como entre os Estados.

Não é possível mudar de nível de vida num dia. É por este motivo que pedimos insistentemente às famílias, às comunidades cristãs, aos responsáveis das Igrejas, para estabelecerem um pla­no de sete anos que lhes permita abandonar, por etapas suces­sivas, tudo o que não é absolutamente indispensável, começando

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pelas despesas de prestígio. E, a este respeito, como ficarmos calados ante o escândalo das despesas de prestígio que fazem os Estados!

Um dos objetivos do Concílio dos Jovens será, daqui em dian­te, contribuir para a preparação destes planos septenais, diver­sificados conforme as circunstâncias e os países. Para os ela­borarem a partir de um diálogo com muita gente, os jovens irão, em pequenos grupos de dois, começar desde já uma série de vi­sitas a famílias e a comunidades. Quanto aos jovens que serão encarregados das visitas aos responsáveis das Igrejas, terão pri­meiramente um tempo de preparação, depois do qual receberão uma missão precisa, quer a partir de Taizé, quer de Calcuttá.

Na tua casa ...

A partilha vai levar-te também a modificar a tua própria residência. Faz da tua morada um lugar de acolhimento per­manente, uma casa de paz e de perdão. Simplifica a tua habi­tação mas não exijas outro tanto da parte dos mais idosos, cujas casas se encontram repletas de recordações ... Nos mais velhos surgem, por vezes, intuições de Deus que levam os mais jovens a seguir para a frente.

Tens vizinhos de porta, vizinhos de bairro. Procura criar laços com eles. Encontrarás vidas de profunda solidão e veri­ficarás também que a injustiça não existe somente entre conti­nentes mas também a alguns metros da tua casa.

Convida as pessoas para comerem contigo à tua mesa. O es­pírito de festa manifestar-se-á aí mais na simplicidade do que na abundância de alimentos.

Como que num gesto concreto de solidariedade, alguns não hesitarão em mudar de alojamento e de bairro para irem habitar no meio dos marginalizados da sociedade, velhos, estrangeiros, imigrados ... Lembra-te de que em cada grande cidade do mun­do, em maior ou menor quantidade, há bairros pobres coex!stindo com bairros que regorgitam de riqueza.

No trabalho ...

A parábola de partilha aplica-se ainda ao trabalho.

Empenha todas as tuas forças a fim de obter para todos uma igualdade de salários e também condições de trabalho dig­nas da pessoa humana.

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Quando a carreira, a competição, a procura de um salário elevado, as exigências do consumo são a tua razão de ser no trabalho, estás muito próximo de explorar os outros ou de seres, tu próprio, explorado.

Trabalha para ganhar o necessário, para sobreviver, nunca para acumular.

Em toda a família humana ...

A partilha estende-se a toda a família humana. Uma luta comum por uma repartição dos bens da terra é indispensável. Para uma redistribuição de riquezas não é só necessário que os países industrializados dêem do seu supérfluo. As estruturas que sustentam a injustiça internacional devem ser mudadas a todo o custo. É a necessidade real de todos os homens, até ao último dos últimos, que deve ser a referência, e não a satisfação das necessidades do homem ocidentalizado.

Não há senão uma família humana. Nenhum povo, pessoa alguma está excluída. Como tolerar então que haja membros da família humana vítimas do racismo, encerrados em prisões políticas, submetidos a todas as violências? A ignóbil tortura hoje ainda é usada em mais de 90 países. A liberdade humana está cada vez mais limitada atualmente e mesmo quase desa­parecendo totalmente.

Para curar tantas feridas da família humana, somos cha­mados a trabalhar em vários níveis ao mesmo tempo. Aceita que, para conseguirem a mesma finalidade, outros escolham um caminho diferente do teu. Uns, com uma ardente tenacidade, dedicam-se a uma mudança das estruturas da sociedade, num combate político a longo prazo. Outros empenham-se numa ação imediata e direta a favor das vítimas da sociedade.

Nas Igrejas . ..

Onde poderás ir buscar as energias de amor para ousares enfrentar tantos r iscos até o teu último alento?

Aquele que não conhece o amor humano ou o não suscita poderá compreender a luta pelo homem e uma vida de comu­nhão em Deus?

A oração é para ti uma fonte para amar. A imagem de Deus no homem é o ardor de um amor. Numa infinita gratui­dnde, abandona-te de corpo e de espírito. Cada dia, sonda al­gumas palavras das Escrituras, para dares lugar a uma outra

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pessoa em ti, o Ressuscitado. Deixa que, no silêncio, nasça em ti uma palavra viva de Cristo, para em seguida a pores em prática.

Para rezar com o povo de Deus, dispõe a igreja do teu bairro de modo acolhedor, tão familiar como as igrejas ortodo­xas, que nunca estão encerradas na rigidez dos bancos e das cadeiras. Aliás, desde o século XVI, a palavra pouco a pouco invadiu as igrejas, a tal ponto que a oração do povo de Deus corre o perigo de se converter mais em exercício cerebral do que em radiosa comunhão.

Na Igreja

No momento de deixarmos Calcuttá e Chittagong, gostaría­mos de escrever em letras de fogo o que temos descoberto nestes últimos anos através do mundo: ao lamento de dores de tantos seres humanos mistura-se também uma outra melodia, um canto de esperança. Este canto, ouvimo-lo claramente na Asia. Esta melodia, ainda surda e escondida, é o canto de uma comunhão prometida a toda a família humana: e é lá que o povo de Deus vai ter um lugar insubstituível.

Quando o povo de Deus procura estar presente nas situações do mundo contemporâneo, não é de espantar que também ele seja sacudido, abalado por crises sucessivas. No entanto, o re­começar e o despertar são por todo o lado perceptíveis no Corpo de Cristo, a sua Igreja. E tu também fazes parte integrante da sua transformação.

Se a Igreja abandonar tudo o que não lhe é absolutamente essencial, se ela se dedicar a ser serva de comunhão e de partilha na humanidade, então ela participará na cura das feridas da fa­mília humana. Fará vacilar as estruturas da injustiça, poderá inverter as ondas de pessimismo e arrancar-nos da atual crise de confiança no homem.

Por meio da parábola da partilha, a Igreja será, na família humana desunida, uma semente que produzirá uma transforma­ção coletiva bem diferente. Será portadora de uma esperança que não tem fim.

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MÃE DE MISERICóRDIA

Roga por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo!

Roga por todas as famílias, Santa Mãe de Jesus Cristo, para que comecem em sua casa a verdadeira fraternidade cristã!

Roga pelos filhos e pelos pais, Santa Mãe da Igreja, para que imitem os teus exemplos em Nazaré!

Roga pelas mães abandonadas, pelas mães sofridas, roga pelos filhos sem família, pelos órfãos sem amor!

Roga pelos pais meeiros, explorados, doentes, desempregados, roga pelos sem teto, sem pão, sem instrução, sem defesa!

Roga pelas crianças que não podem nascer, roga pelos pais que não podem criar seus filhos com decência!

São tantas as ameaças contra a família ... Mostra que és nossa Mãe: pede a Jesus por todos nós!

6 clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria!

(Da Revista "Nova Aurora")

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O MILAGRE DE LANCIANO

Eu ouvira falar do milagre de Lanciano, mas o fato me havia parecido "tão forte" que desejei tomar conhecimento dele e jul­gá-lo por mim mesmo, no "Próprio local.

A pequena cidade italiana de Lanciano, nos Abruzes, encon­tra-se a 4 km da estrada de rodagem Pescara-Bari, que contorna o Adriático, um pouco ao sul de Pescara e de Chiesi.

Em uma igrejinha dessa cidade, igreja dedicada a S. Legon­ziano (que se identifica com S. Longino, o soldado que transpas­sou o Coração de Cristo com a lança, na cruz), no VIII século, um monge Basiliano, durante a celebração da Missa, depois de ter realizado a dupla consagração do pão e do vinho, começou a duvidar da presença, na hóstia e no cálice, do Corpo e do Sangue do Salvador. Foi então que se realizou o milagre: diante dos olhos do padre, a hóstia se tornou um pedaço de carne viva; e, no cálice, o vinho consagrado tornou-se verdade:ro sangue, coagulando-se em cinco pedrinhas irregulares de formas e tama­nhos diferentes.

Conservaram-se esta Carne e este Sangue milagrosos e, no correr dos séculos, várias pesquisas eclesiásticas foram reali­zadas.

Quiseram, em nossos dias, verificar a autenticidade do mila­gre, e a 18 de novembro de 1970, os Frades Menores Conventuais, que têm a seu cuidado a igreja do milagre, decidiram, com au­torização de Roma, confiar a um grupo de peritos a análise cien­tífica daquelas relíquias, datadas de doze séculos. As pesquisas foram feitas em laboratórios, com estrito rigor, pelos professores Linoli e Bertelli, este último da Universidade de Siena.

A 4 de março de 1971, estes cientistas davam suas conclusões, que inúmeras revistas de ciências, do mundo inteiro, divulgaram em seguida. Ei-las:

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"A Carne é verdadeiramente carne. O Sangue é verdadeiro sangue. Um e outro, são carne e sangue humanos. A Carne e o Sangue são do mesmo grupo sanguíneo (AB). A Carne e o Sangue são de uma pessoa Viva. O diagrama desse Sangue cor­responde ao de um sangue humano que tenha sido retirado de um corpo humano, Naquele Dia Mesmo. A Carne é constituída de tecidos musculares do Coração (miocárdio). A conservação dessas relíquias, deixadas em estado natural durante séculos e expostas à ação de agentes físicos, atmosféricos e biológ' c os, per­manece um fenômeno extraordinário".

Fica-se estupefato diante de tais conclusões, que manifestam de maneira evidente e precisa a autenticidade deste milagre euca­nstico. Antes mesmo de as darem a conhecer de modo oficial, os peritos, no fim de suas análises, enviaram aos padres francis­canos de Lanciano, o seguinte telegrama: "Et Verbum caro factum est" ("E o Verbo se fez carne"). Telegrama este que é um ato de fé.

Outro detalhe inexplicável: pesando-se as pedrinhas de san­gue coagulado (e todas são de tamanho diferentes) cada uma delas tem exatamente o mesmo peso das cinco pedrinhas juntas. Deus parece brincar com o peso normal dos objetos.

Inútil dizer-lhes que, nessa igreja, celebrei a Missa votiva do Santíssimo Sacramento com uma fé renovada: o Senhor, por meio de um tal milagre, vem, verdadeiramente, em socorro de nossa incredulidade.

Depois que foram conhecidas as conclusões dessa pesouisa científica, os peregrinos vêm de toda a parte venerar a Hósfa que se tornou Carne e o Vinho consagrado, que se tornou Sangue.

Quanto a mim, dois fatos me espantam. O primeiro é que se trata de carne e sangue de uma Pessoa Viva, vivendo atual­mente, pois que esse sangue é o mesmo que tivesse sido retirado, naquele mesmo dia, de um ser vivo.

É bem uma prova direta de que Jesus Cristo ressuscitou verdadeiramente, de que a Eucaristia é o Corpo e o Sangue de Cristo glorioso, assentado à direita do Pai e que, tendo saído do túmulo na manhã da Páscoa, não pode mais morrer.

Tantas tolices têm sido ditas, nestes últimos anos, contra a ressurreição do Cristo. Alguns desejariam, com empenho, que esta ressurreicão não fosse senão um símbolo, elaborado como rito pela piedade muito ardente dos primeiros cristãos . ..

Ora, eis que a ciência vem, de certo modo, em nosso so­corro. Foi verdadeiramente na carne que o Cristo morreu e foi verdadeiramente também na carne que Jesus ressuscitou no ter"'

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ceiro dia. E a mesma Carne - verdadeira carne - nos é dada viva na eucaristia, para que possamos viver a vida de Cristo. Portanto, vendo a Hóstia Consagrada, posso dizer, como o após­tolo Tomé, oito dias depois da Páscoa, quando colocou os dedos nas chagas de Cristo: "Meu Senhor e meu Deus". É bem a carne v1va do Deus vivo.

Um segundo fato impressiona-me ainda mais: a Carne que lá está é a carne do Coração. Não a carne de qualquer parte elo Corpo adorável de Jesus, mas a do músculo que propulsiona o Sangue - e, portanto, a vida - ao corpo inteiro, do músculo que é também o símbolo o mais manifesto e o mais eloqüente do amor do Salvador por nós. Quando Jesus se entrega a nós na Eucaristia, é verdadeiramente seu próprio Coração que Ele nos dá a comer, é ao seu amor que nós comungamos, um amor manso e humilde como este Coração mesmo, um amor poderoso ~ forte mais que a morte, um amor que é o antídoto dos fer­mentos de morte física e espiritual que carregamos em nossa "carne de pecado".

Pe. Jean Ladame (Traduzido de "La revue du Rosaire", de junho de 1976, em "Lar Católico", de Juiz de Fora)

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VOC~, MAE DOS MEUS FILHOS . ..

Você me deu a sua paciência e eu lhe dei as minhas certe­zas. Quando eu procurava ser eficiente, arriscava ser duro e intransigente. Porém você, nas horas intermediárias, deitava ternura nas feridas abertas.

Nossos filhos nos teriam desprezado se nós tivéssemos divi­dido o amor: para um a força, para o outro, a doçura. Eles teriam escapado da força e explorado a fraqueza.

Eu dei a você a liberdade de ser valente, segura, equilibra­da. Não fui o justiceiro esperado à noite com pavor, porque você já havia exercido a justiça.

Você não foi a mulher-criança ansiosa de ser mimada. A imagem que seus filhos formaram de você é a da mulher-forte. E eu me recusei a ser símbolo do homem que é preciso temer e servir.

Você foi indulgente, compreendendo, depressa e melhor. En­sinava o amor gratuito e a resistência silenciosa. Eu temperei as minhas cóleras ao contemplar sua humilde tranquilidade. Aprendi a deixar os pequeninos edificarem o seu mundo no seio do meu. Não perdi o prestígio. E ganhei a inteligência do co­ração que sabe distinguir o estável no instável, a verdade nas afirmações da fantasia.

Foi em você que amei os meus filhos. Foi você que me deu esses companheiros encantadores, essa razão de viver. Amo a você neles, como também os amo em você. Este amor partilha­do, perfumou o ar da nossa casa, deu consistência às nossas ta­refas.

Nossos filhos devolverão esse amor. Não a nós - a água não remonta o curso dos rios. O nosso amor reflorescerá no seu jovem amor. E seguirá os seus caminhos.

Maria Junqueira Schmidt

(Do livro "Também os pais vão à escola")

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REFLEXÃO PARA A FESTA DO TRABALHO

O trabalho

Embora o trabalho não seja c fim ou o valor supremo da vida humana, tem, no entanto, valor em si mesmo e é querido e abençoado por Deus. É vocação do homem "construir o mun­do", "dominar a terra" com o suor de seu rosto, segundo o man­dato de Deus. Pelo trabalho, o homem coopera com o Criador, imprime na matéria sua marca espiritual e se realiza como pessoa, "enquanto para si adquire tenacidade, engenho e espírito de in­venção".

O trabalho é culto a Deus, porque, transformando a nature­za, o homem dá continuidade à obra da criação e a devolve mo­dificada a Deus, no louvor e na prece, e é uma forma de comu­nhão com o Criador.

O trabalho é serviço fraterno, porque todo e qualquer tipo de trabalho é uma forma básica de ser útil aos demais. "Mais ainda, vivido em comum, na esperança, no sofrimento, na aspi­ração e na alegria partilhada, o trabalho une as vontades, apro­xima os espíritos e solda os corações: realizando-o, os homens descobrem que são irmãos".

O trabalho é obra de salvação, porque o homem, por seu intermédio, não só aperfeiçoa solidariamente o mundo, como co­labora na realização do plano salvífico de Deus em seu Filho, Jesus Cristo. Por sua encarnação, Cristo assume todo o trabalho humano.

Trabalho e Justiça

Em todos os campos, a justiça é virtude básica e ind;spen­sável. No campo do trabalho, onde se trata de estabelecer com eqüidade as relações entre o trabalho e o capital, o postulado da justiça se torna mais insistente e urgente.

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Se o trabalho é vocação de grandeza para todo homem e se o homem precisa trabalhar para manter e desenvolver a si e à sua família, será necessário criar condições de trabalho para todos. É dever não só dos Poderes Públicos como também das empresas privadas, criar e multiplicar empregos em número su­ficiente, zelar para que haja condições humanas no trabalho (ho­rários, descanso, ambiente físico e moral, lazer, segurança) e, principalmente, salários adequados, justos e suficientes.

Se o trabalho, após o pecado original, é associado à fadiga, ele é também um caminho pascal de libertação.

Quem trabalha em cond 'ções justas e com alegre consciência da sua dignidade, vai consolidando sua grandeza humana. Cha­mado a participar na obra criadora de Deus, irmão de Cristo trabalhando na oficina de N azar é, o trabalhador sentirá seu do­mínio sobre a natureza e viverá a certeza de sua autonomia e capacidade de progresso.

Justiça e Fraternidade

A Justiça é indispensável no campo do trabalho, porque ela assegura o direito de cada um. Mas ela deverá ser superada pela verdadeira fraternidade, ensinada por Cristo nas surpreen­dentes mensagens do· Evangelho.

A busca de caminhos concretos de fraternidade no trabalho é um dever de todos.

Muitas coisas precisam mudar para que reine uma vida de irmãos entre os trabalhadores, e entre trabalhadores e patrões. As próprias empresas devem converter-se em autênticas comu­nidades, onde haja respeito, participação, cordialidade.

Se levado a sério, a partir da Campanha da Fraternidade deste ano, o cultivo da consciência dos problemas do mundo do trabalho em todos os ambientes poderá levar a estruturas justas e fraternas: quem entendeu a força da Ressurreição de Cristo, que é dest:nada a trazer nova vida e vida integral a todos os seres humanos, não resistirá aos apelos desse Mistério central da História.

(Adaptado do documento da C.N.B .B. sobre o tema da Campanha da Fraternidade)

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UMA ORAÇÃO CONJUGAL

Senhor, somos dois. Somos homem e mulher.

Somos um casal que Te busca pelo caminho do amor humano.

Nossas vidas corriam distantes por caminhos distintos.

Não sabemos como nos encontramos.

Só sabemos que tudo sucedeu assim, porque Tu o quiseste, para Tua glória e nossa felicidade.

Obrigado, Senhor, pela sublime vocação matrimonial, pela qual nos associas Contigo para fazer do mundo Comunidade de homens, Família de irmãos, Lar de Filhos de Deus.

Nós queremos ser-Te fiéis, mas desconfiamos das nossas forças.

Ajuda-nos, Senhor, na difícil tarefa do amor, que é tarefa de sacrifício e de entrega generosa.

Livra-nos do egoísmo, que esteriliza a vida; da impureza que profana o Teu templo; do orgulho, que nos desliga de Ti e dos outros.

Sê, Tu, companheiro de viagem da nossa caminhada e con­fidente e hóspede constante de nossa casa e de nossa vida matrimonial.

Assim seja!

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NOSSOS FILHOS E A VIOL~NCIA NA TV

Dizem as estatísticas que 70% da influência na formação da criança e do adolescente vêm da TV, 15% da escola, 10% dos outros meios de comunicação - e da familia, quase nada: I>'Obram 5%... Vamos tentar inverter o processo?

O problema da influência da TV sobre o comportamento dos indivíduos tem merecido ultimamente a atenção de muitos es­tudiosos e, felizmente, também de leigos, preocupados com sua repercussão sobre a formação dos seus filhos. Algumas entida­des têm promovido cursos e pessoas têm se reunido em grupos para debater o assunto.

Você sabia que crianças até 10 anos de idade passam cerca de 30 horas semanais diante da TV? Que, até os 15 anos, um adolescente já se expôs a 14.000 horas de recepção de TV? Que o mesmo adolescente, quando chegar aos 18 anos, terá presen­ciado 18 mil assassinatos, assistido à apresentação de 350 mil co­merciais diferentes e ficado mais tempo em frente ao vídeo do que nos bancos da escola?

Durante aquelas horas todas, o que de bom terá ele apren­dido? Muito pouco. Hoje em dia, os veículos de informação, e principalmente a televisão, estão repletos de crimes, psicopato­logias, acidentes e desgraças de todos os tipos - enquanto que "o normal, o bom, o feliz, são omitidos, parecendo inexistentes". Há, decididamente, "algo de podre no reino" dos meios de comu­nicação - que praticamente só comunicam violência. Nosso sé­culo, decerto, está marcado pela violência, mas ainda há, graças a Deus, muita coisa bonita no mundo, muitos gestos belos, muita dedicação, muita solidariedade, muito amor. Só que isto não é notícia ...

Em Los Angeles, um canal de TV foi observado durante 7 dias: a cada 6 minutos, alguém foi agredido fisicamente. Nos

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programas infantis, o quadro é mais drástico ainda: em 1 hora de programação, foram apresentados 38 atos agressivos ou amea­ças; houve 114 assassinatos e 128 assaltos a bancos, com 49 mortes ...

Quando se sabe da dependência psíquica criada pelas crian­ças- e por muitos adultos também! - em relação à TV, fica-se forçado a deduzir que, se a propaganda convence pela insistên­cia, a repetição sistemática de atos de violência diante de nossos filhos só pode acabar por incutir neles a idéia de que a violência é algo natural, que faz mais parte da vida do que qualquer outro tipo de comportamento.

O fato é que a violência na TV anda destruindo a juven­tude, no mundo inteiro. Aqui mesmo, em nosso país, assistimos, estarrecidos, nos últimos meses, a atos de violência praticados por uma adolescente (arrombou um cofre) e um rapaz (extorquiu dinheiro), aparentemente normais, que declararam ter agido imi­tando o que tinham visto na TV. Realmente, a TV é um bom professor ...

Nós, que nos preocupamos com o que se ensina aos nossos filhos na escola, deixamos que, dentro de nosso próprio lar, um professor, com muito mais poder de comunicação, venha lhes transmitindo continuamente conceitos errados e perigosos. Será que vamos continuar assistindo, assim, de braços cruzados, à des­truição do caráter dos nossos filhos? Se vocês acham que estamos exagerando, vejam as conclusões dos estudiosos do assunto.

No último Congresso Nacional de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental, o Prof. Haim Grunspun, ao falar sobre os efeitos c.o que chamou de "poluição na comunicação" sobre a saúde men­tal da criança, mostrou que a TV, além de reduzir atividades mo­toras, lúdicas e sociais, anula o senso crítico, por falta de opção, e vem causando uma desensibilização emocional que está contri­buindo para criar uma apatia frente à violência.

Já ficou c'entificamente comprovado que a TV provoca dis­túrbios de comportamento, medo, instabilidade emocional, desin­teresse pelo estudo, redução na capacidade de aprendizagem. Além da perda do senso crítico, acrescente-se a aquisição de falsos va­lores (consumo, amor=sexo, etc.).

Se forem precisos mais exemplos para convencer da influência não só deseducadora como verdadeiramente nociva da TV, vejam o resultado da pesquisa realizada pela Escola de Jornalismo da Universidade Nacional Autônoma do México. Estudou os conteú­dos simbólicos dos desenhos animados e procurou verificar a rea­ção das crianças diante desses símbolos (lei do revólver, vingança, violência, grupos de pessoas delegando obrigações a um só, que

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é o super, eterna perseguição do rato pelo gato, armas fabricadas · pelo sábio louco, automóveis provocando colisões intencionais, etc.).

Das crianças pesquisadas, 46% se identificaram com os "heróis", 25% exaltaram a violência, deixando entender que tudo pode ser resolvido e todos podem ser dominados pela força física; apenas 25% exaltaram qualidades como a solidariedade humana e o al­truísmo.

Resta esperar que nossas crianças se enquadrem nos últimos 25% ... Não lhes demos sempre bons exemplos?

Quem está mais com eles? Nós, ou a TV? Se você, amigo, puder responder, em sã consciência: nós, então, está tudo bem no seu lar. Senão, está na hora de vocês dois sentarem e pensarem. É, isso mesmo, um dever de sentar-se sobre este pon­to: quem, daqui para frente, vai educar os nossos filhos - nós, cu a TV? E, conforme a resposta, tomarem providências.

Como? Primeiro, selecionando os programas. Depois, assis­tindo a eles junto com seus filhos e debatendo com eles o que acabaram de ver, procurando questionar os valores apresentados pelos programas, numa tentativa de fazer emergir, através do ra­ciocínio das crianças e dos adolescentes, os verdadeiros valores. Assim fazendo, estarão educando seu senso crítico; em outras pa­lavras, estarão retomando, da TV, o papel de educadores que lhes pertence e que ela vinha usurpando sem que vocês percebessem.

Isso é o trabalho em casa. Também podemos algo mais. Es­crever aos produtores e diretores de TV, protestando contra a apresentação de determinado programa, angariando ass'naturas de outras famílias para um protesto a ser endereçado à Censura Fe­deral. Afinal, não é só um direito que nos assiste, é até um dever, reclamar, protestar, exigir, pois, ao fazê-lo, estaremos agin­do em benefício da própria nação, que amanhã será formada pela geração que está hoje d iante do vídeo, engolindo avidamente todas essas demonstrações de violência.

Uma ação a ser empreendida por nós, casais com formação, seria fazer palestras, escrever artigos em jornais, atuar em asso­ciações de pais e mestres, reunir famílias na paróquia, vizinhos no prédio, etc., para estudar e criticar em grupo os programas, repudiá-los e pedir, todos juntos, às autoridades competentes, o seu cancelamento. Apresentando, inclusive novas opções, porque os programadores precisam preencher o tempo!

Isto é um trabalho ao qual não nos podemos furtar, em re­lação à nossa família, se quisermos que nossos filhos cresçam sadios, estudiosos e generosos, bons pais e bons cidadãos. E é um apostolado em relação às outras famílias, abrindo-lhes os olhos e ajudando-os a combater o mal - enquanto é tempo.

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E ASSIM COMEÇOU A HISTóRIA DO DIVORCIO NO BRASIL

O marido recebeu o convite no escritório, de uma das secre­tárias, e trouxe para casa para a esposa ver. A esposa ficou estarrecida ... E disse ao marido: Você não vai quer'er ir a este casamento, vai? Ele: Claro que não! para fazer gozação de um sacramento? Ela: É o que eu pensava. Mas você vai dizer isto a ela? - Vou. Pelo menos, vou tentar. - É bom, porque, se você ficar quieto, estará se omitindo.

Nesta altura, vocês estão curiosos. Pois garantimos que aqui­lo que vão ler ultrapassa, e muito, a sua imaginação. Sem mais mistério, lá vai:

Ufa! Finalmente, depois de muita confusão, con­cordamos em juntar os cacarecos. Portanto, gostaría­mos que você e sua família viessem até a Igreja São Francisco de Assis, à rua Borges Lagoa, 1.209, no d :a de maio de 1976, às dezenove horas e trinta minutos, onde os noivos Fulana e Sicrano receberão as gozações dos convidados.

Incrível, não é? Não acreditam? Pois estava assim mesmo. Só tiramos os nomes dos noivos e a data. O resto está igualzi­nho. Veio impresso, como qualquer convite clássico, preto no branco.

Para que não haja noivos que encarem o casamento como um "juntar de cacarecos" a que são obrigados ("depois de muita confusão", "concordaram") ...

e a cerimônia religiosa como mera formalidade que parentes e amigos estarão presenciando meio a contra-gosto ("gostaríamos que viessem até a Igreja"), meramente para caçoar de noivos que estão recebendo um sacramento no qual não acreditam,

para que não haja mais noivos assim, tão descr'entes ou de­siludidos, noivos a quem provavelmente ninguém chegou a ex­plicar o que é o casamento,

o que é que você faz?

E.T. - Se você é dos que dão cursos de noivos, leia a última frase assim:

o seu trabalho é muito importante. Continue!

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NOTíCIAS DOS SETORES

BLUMENAU - Carta de Guajará-Mirim, RO

Marina e Tontini, há coisa de dois anos, foram de Blumenau para Guajará-Mirim. Uma mudança e tanto... Além dos pro­blemas de adaptação, o colégio onde pensavam colocar seu filho mais velho acabara de fechar e foram obrigados a separar-se do rapaz (15 anos) e mandá-lo para Manaus. Felizmente, encon­traram um casal das Equipes de lá para ser a família amazonense do menino e escreveram, contando a provação e agradecendo a Deus que, na sua bondade, dera-lhes esse consolo da grande família das Equipes. No fim do ano, mandaram notícias de novo, e o que contam - transcrevemos do Boletim - mostra que, apesar do isolamento, o seu entusiasmo pelo Movimento em nada arrefeceu.

Continuamos a ser equipistas!

Graças aos ensinamentos e ao entusiasmo pela causa de Cristo colhidos nas ENS, estamos aos poucos nos entrosando na vida religiosa de Guajará-Mirim. Já tivemos oportunidade de parti­cipar de diversas cerimônias em datas mais marcantes na cidade.

Durante a Semana Santa, fomos esco.lhidos para comentaris­ta e leitor nas diversas cerimônias.

Na celebração da Páscoa, no colégio em que nossos filhos es­tão estudando, fomos colhidos de surpresa na hora do sermão com um convite do Senhor Bispo para dirigir a palavra aos alunos, mestres e pais presentes. Já devem imaginar o susto que levamos, mas, graças à ação do Divino Espírito Santo, consegui­mos transmitir algo que parece ter agradado e sacudido os pre­sentes.

No ((Dia das Mães", também fomos convidados para orientar a celebração Eucarística na Catedral, durante a qual prestou-se uma homenagem às Mães. Como sempre, nesse momento, a emo-

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ção foi grande, o que nos requereu um esforço bastante grande para levarmos a cabo com êxito a missão de que fomos incumbidos.

Existe na cidade o Frei Luiz, que, em anos passados, em Mogi-Mirim, SP, foi Conselheiro Espiritual de equipe. Lançamos a ele a idéia de formarmos algumas equipes aqui em Guajará­-Mirim. Mostrou-se interessado e, daqui a três meses, com sua volta depois de uma viagem que fará pelo Sul, ta.lvez possamos da?' início a alguma coisa nesse sentido. Para nós será uma gran­de graça do Senhor se conseguirmos fazer brotar essa semente, pois aqui há grande necessidade de um Movimento que congre­gue os casais em torno de algo espiritual para a solidificação da família.

SAO PAULO - Equipe de Pastoral Familiar

Reuniu-se pela primeira vez em abril a Equipe de Pastoral Familiar constituída em fins de 1977, a nível Regional, com um casal representante de cada um dos Setores da Capital. Tem a Equipe os seguintes objetivos:

- transmitir aos equipistas de base os apelos da Comissão de Pastoral Familiar da Arquidiocese, recebidos através dos casais representantes do Movimento na Comissão;

- coordenar as iniciativas dos equipistas em matéria de apos­tolado conjugal e familiar, visando, através da troca de experiên­cias, ao aprimoramento e à melhor distribuição dos trabalhos;

- zelar por maior engajamento dos equipistas nas referidas iniciativas;

- incentivar formas de apostolado familiar adequadas às ne­cessidades da Arquidiocese, para que haja sempre um contingen­te de casais preparados para assumir os trabalhos requisitados pela hierarquia.

Está entre os planos:

- fomentar a atualização e dinamização dos Cursos de Pre­paração para o Casamento, não só através da troca de experiên­cias dos que neles trabalham, como também à luz do Diretório de Pastoral Familiar aprovado em abril pela CNBB;

- promover cursos de aconselhamento conjugal, visando a formar conselheiros conjugais que se possam colocar à disposi­ção dos seus vigários, das associações de pais e mestres dos colé­gios, etc.;

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- incentivar a pilotagem de equipes . em áreas da cidade vnde não se encontrem ainda implantadas, respondendo assim ao apelo do seu Arcebispo;

- assegurar a sintonia dos equipistas com a Pastoral de con­junto . da Igreja, levando todos a se inteirarem dos planos de Pastoral da Arquidiocese e a colaborarem ·mais intensamente nas iniciativas a nível paroquial e setorial.

· É um programa e tanto, mas a Equipe está animadíssima e conta com todo o apoio, na retaguarda, do Regional e dos Res­ponsáveis dos Setores.

LINS - Primeira "inter-equipes"

Pela primeira vez, a Coordenação de Lins reuniu as equipes de Lins e Cafelândia para uma reunião de _equipes mistas.

A reunião foi muito bem planejada e distr.bui-se o roteiro com grande antecedência, para que todos pudessem estar dispo­níveis. Do programa mimeografado distribuído a todos os equi­pistas, constava, além do roteiro da reunião propriamente dita, a escalação das sete "equipes", com hospedeiro, animador, Con­selheiro Espiritual e participantes.

A Coo·rdenação fez amplo uso da Carta Mensal. Utilizou-a na co-participação (Junho de 1976, pág. 22), com a pergunta: "A co-participação é isso, na sua equipe?"; na oração, usando os tex­tos de meditação e oração litúrgica publicados naquele mês; na partilha (Ago.sto de 1977), com três perguntas, uma delas bas­tante original: "O que acham daqueles meios, que, embora não

• constando da partilha, nos chamam à responsabilidade a nível da equipe e a nível do Movimento?"; e na troca de idéias (Agosto e Setembro de 1977), com várias perguntas versando so·bre o do­cumento "O que é uma Equipe de Nossa Senhora" e a sua apli­cação em nossa v~da pessoal e de equipe - por exemplo: "Como orientar nossos filhos ao amor familiar, e ao próximo, a partir da equipe e do estudo do tema acima? um testemunho de nossa vi­vência familiar sobre o assunto".

O resultado, segundo a avaliação, foi totalmente pc·sitivo. Não admira, com uma preparação tão "caprichada"! Parabéns à Co­ordenação!

BAURU - Novena em louvor a Na. Sra.

Dentro do esforço realizado em Bauru para incentivar o culto mariano, a Comissão das Obras do Santuário de Na. Sra.

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de Fátima, presidida por uma equipista, encarregou, em maio do ano passado, as ENS da programação da novena realizada no Santuário. Repartiram-se as nove noites entre as equipes do Setor, cabendo a cada uma (ou duas!) delas fornecer, além de um casal para falar sobre Nossa Senhora, o Ministro da Euca­ristia para distribuir a Comunhão no final da noite de oração e meditação. Encerramento solene da novena, com missa, no dia 13 de maio, é claro.

CASA BRANCA - Mês de maio

Eis como os equipistas de Casa Branca comemoraram o mês de maio passado. Esta experiência, como a de Bauru, talvez possa servir de sugestão para outros Setores e Coordenações.

"As terças-feiras, rezávamos o terço meditado na Matriz, como parte dos ritos iniciais da Santa Missa, e, aos sábados e domingos, na missa da noite, os participantes ofertavam qualquer coisa que viesse minorar as necessidades de alguém (roupas, gê­neros alimentícios). As ofertas foram, depois, repartidas entre as obras sociais da cidade, incluindo o Lar Esperança, de orien­tação espírita. Maria, nossa Mãe Santíssima, deve ter ficado feliz!"

Retiros em LONDRINA, BLUMENAU e MOGI DAS CRUZES

Procurando o silêncio para melhor refletir e escutar o Senhor, os equipistas de Londrina reuniram-se sob a orientação do Pe. Vitor Gropelli, num retiro que teve como participantes uma viúva e 19 casais, um dos quais convidado- e hoje integrante das ENS.

Os equipistas receberam, no segundo dia, a visita do Arce­bispo, D. Geraldo Fernandes, que salientou a urgência da santi­ficação da família. Lembrando quanto custa o querer bem, D. , Geraldo chamou os equipistas a procurarem o modelo da família nas páginas do Evangelho.

Tendo como tema "A experiência de Deus em nossa vida de ' hoje", os círculos do retiro perguntavam: "em que sua esposa se parece com a Igreja? - em que seu marido se parece com r Cristo?". ·

Foi salientada a franqueza como alicerce da vida de família e também a serenidade, a paz e a segurança que, à imitação de Cristo, deve ter o chefe da família. Lembrados também, o de-

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~pego, a fraternidade e o repartir o pão como metas de uma família cristã.

O tom predominante do retiro das Equipes de Blumenau foi 11

0 encontro a dois com Deus", o que permitiu a cada casal um mergulho em sinceridade no âmago da vivência sacramental do matrimônio. A vida do casal, como graça criadora de Deus, como expressão fidedigna do amor original do Pai, exige de cada um dos dois uma doação completa, a abnegação de todo egoísmo.

Nesta perspectiv? exigente, a graça de Deus se fez sentir forte no dever de sentar-se, e a força do Espírito Santo atuou nas mentes e nos corações dos equipistas que, ao voltarem para casa, puderam dizer com convicção e amor: "Vimos o Senhor", "Ouvimos sua ordem de amar, amar com todas as forças da von­tade e da inteligência. Ordem de segui-lo, de imitá-lo".

Escrevem ainda os equipistas: "Foi um encontro profundo com a Virgem Maria, mulher de força e coragem divina, Mãe até o âmago do seu ser.

Encontro também com a equipe, em seu significado de en­tre-ajuda, de troca de riquezas no Espírito Santo.

·Encontro ainda com nossos filhos, com os que já temos e com os que haveremos de ter. Nós somos para eles o encontro com Deus.

O pregador, Pe. Evaristo, chegou a nós como um homem de Deus, um homem que transpira Deus, que irradia a vida de Cristo. Ele foi escolhido por Deus para melhor entendermos nossa pró­pria vida de casados. Foi um retiro aberto, frente a frente, sem covardia, perante Deus mesmo".

Do retiro pregado em Mogi das Cruzes pelo Frei Crisóstomo Ubbink, que "preparou uma seqüência de palestras, expostas com profundidade e rara inteligência, propiciando rica meditação e proveitosa troca de idéias", diz um dos participantes:

"É impressionante, amigos, a ação do Espírito Santo em en­contros desta natureza! Como é gostoso sentir o coração aque­cido pelo amor e o espírito inundado de paz, naquelas horas de amizade, recolhimento e oração! Que meio extraordinário para o crescimento espiritual que buscamos nos proporcionam as Equipes de Nossa Senhora, fixando o dever do retiro anual! É um autêntico meio de aperfeiçoamento do casal, de valor altís­simo, e uma "obrigação" que haveremos de cumprir, sempre, com o máximo prazer".

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ORAR E CONFIAR

Deus é Pai e nos deu Seu Filho. Dá-nos também o Seu Espfrito. Dar­-nos-á tudo que necessitarmos . Não precisamos preocupar-rios. Basta pedir com confiança .

TEXTO DE MEDITAÇAO - Lc. 11, 5-13

Em seguida ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo, e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: "Amigo, empresta­-me três pães, pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, duma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer" e se ele respon­der lá de dentro: "Não me incomodes; a porta já está fechada, e meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar os pães ... " ; digo-vos, no caso de não se levantar para lhe áar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua im­portunação se levantará e lhe dará quantos pães ele necessitar.

E eu vos digo : Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá. Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos , quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem."

ORAÇAO - Salmo 130

Meu coração não é amb!.cioso, Senhor, meus olhos não enxergam mais do que pc<iem, não ando à procura de grandezas nem de coisas demais para mim.

Dentro de mim, tudo se aquietou. Paz e serenidade vieram para ficar . Minh'alma em mim está tranquila qual uma criança no regaço da mãe.

Israel, põe a tua esperança no Senhor, hoje e sempre!

Oremos -

No teu amor inesgotável, ó Pai, cumulas de bens os que te imploram. Dá-nos sempre teu Espírito, para que, perseverando na oração, como a Virgem Maria e teus discípulos no Cenáculo, possamos pedir-te aquilo que Tu mesmo desejas conceder-nos.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo .. . -Amém.

EQUIPES DE NOSSA SE HORA

Movimento de casais por uma espiritualidade

conjugal e familiar

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