nascimento, a (2012) múltiplas relações entre a morfologia urbana e os shopping centers

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NASCIMENTO, A (2012) Múltiplas Relações Entre a Morfologia Urbana e Os Shopping Centers

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  • CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/ ISSN 1678-6343

    Instituto de Geografia UFU Programa de Ps-graduao em Geografia

    Caminhos de Geografia Uberlndia v. 14, n. 48 Dez/2013 p. 91104 Pgina 91

    MLTIPLAS RELAES ENTRE A MORFOLOGIA URBANA E OS SHOPPING CENTERS1

    Agnaldo da Silva Nascimento Mestrando em Geografia UNESP/FCT Presidente Prudente

    [email protected]

    RESUMO

    Neste trabalho, dedicamo-nos a desenvolver uma discusso do conceito de morfologia urbana, buscando ressaltar sua relevncia no campo da Geografia Urbana e de outras reas afins. Para tal, optamos por uma reflexo terica de algumas concepes sobre o conceito e, por relacionar o papel de implantao e, permanncia dos shopping centers, na redefinio da morfologia urbana. Nesse nterim, procuramos entender as lgicas e o modo como os agentes planejam a instalao desse tipo de empreendimento, tomando como recorte espacial as cidades mdias de Londrina (PR) e Presidente Prudente (SP), com vistas a uma anlise comparativa.

    Palavras-chave: Morfologia Urbana. Espao Urbano. Shopping Centers

    MULTIPLE RELATIONSHIPS BETWEEN THE URBAN MORPHOLOGY AND SHOPPING CENTERS

    ABSTRACT

    In this work, we are dedicated to developing one discussion about urban morphology concept, trying to emphasize its relevance in urban geography and other related areas. For this one, we opted for a theoretical reflection about some interpretations upon the concept described before, and do a relation with the deployments role and retention of shopping centers, in the urban morphology redefinition. In the meantime, we try to understand the logic and how agents plan this enterprise type installation, taking two spatial areas both medium-sized cities, the first one is Londrina (PR) and the second one is Presidente Prudente (SP), with a view to a comparative analysis.

    Keywords: Urban Morphology. Urban Space. Shopping Centers.

    1. INTRODUO Ao considerar que a sociedade e o espao so entendidos, juntamente, para a compreenso da cidade e, os elementos que os compem a partir de processos (re)produzem transformaes de diversas intensidades, e ao mesmo tempo ocorrem em vrias escalas. Nesse contexto, vemos ampla gama de aspectos que quando escolhido para um estudo trata-se de um grande desafio. Essa complexidade exige que os estudos que visam sua anlise estejam baseados em critrios bem elaborados, alm de uma ateno redobrada, pois ela oferece, igualmente, uma imensido de possibilidades de trabalhos em diversas reas do conhecimento, inclusive a Cincia Geogrfica. A partir dessa diversidade decidimos nos ancorar na temtica da morfologia urbana, mais especificamente, na investigao das alteraes que ocorrem na morfologia das cidades, em consequncia da implantao de grandes empreendimentos imobilirios como os shopping centers. O desafio surge, entre outras questes, pelo fato de percebemos que, apesar de j existir no mbito do debate da Geografia, a temtica ainda pouco discutida, em relao a outras, presentes em nossa rea do conhecimento. Nesse contexto, partimos do pressuposto de que a implantao dos shopping centers, em paralelo expanso territorial urbana, promove alteraes nas caractersticas morfolgicas das

    1 Recebido em 02/07/2012

    Aprovado para publicao em 10/11/2013

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    cidades, com o objetivo de responder as questes: como se do essas alteraes nas cidades estudadas? Como ocorreu esse processo? Em que sentido (direo) podemos observar as lgicas que (re)produzem esses empreendimentos? O caminho de anlise se d pela abordagem comparativa de duas cidades mdias, respectivamente Londrina (PR) e Presidente Prudente (SP). A primeira, com trs shopping centers de grande porte - Catua Shopping Center, Shopping Royal Plaza e Londrina Norte Shopping e a segunda, o Prudenshopping e Prudente Parque Shopping. O texto, alm desta introduo e das consideraes finais, apresenta trs etapas de discusso: a primeira, como se d leitura morfolgica que adotamos, e partir dela como entendemos os elementos e processos que a compe; a segunda, focados nos shopping centers, buscamos mostrar quais as consequncias que a presena desse elemento, enquanto forma urbana, traz implicaes na morfologia urbana; e terceiro, colocamos duas cidades (Londrina e Presidente Prudente), como exemplos de categoria de anlise da proposta. 2. A IMPORTNCIA DA LEITURA MORFOLGICA NA COMPREENSO DA PRODUO DO ESPAO URBANO Quando falamos da relao estabelecida entre a sociedade e o espao urbano que seu produto e reflexo, ao mesmo tempo em que seu condicionante (CORRA, 1989), recamos no aspecto da produo, da ser importante, neste ponto, esclarecer por qual vis a entendemos. De acordo com Lefebvre (1972, p. 45 e 46), o termo produo vem carregado de significados, sendo compreendido no somente por uma atividade que d forma s coisas para troc-las. H obras e h produtos. Nesse sentido, a produo humana por si mesma abrange a produo das ideias, das representaes e, da linguagem. Tudo isso cria implicaes com actividade material e o comrcio material dos homens, ela a linguagem da vida real, visto que so os prprios homens, sobretudo os atuantes, que produzem as representaes e as ideias. Assim sendo, a sociedade responsvel pela produo, no somente no sentido concreto e palpvel, de estrutura fsica, mas tambm, de modo mais abrangente, incluindo a produo mental, intelectual etc. Na cidade, esses vrios tipos de produo esto engendrados no seu processo histrico de existncia, de modo que considerando que na produo tudo abarca e nada exclui do que humano (LEFEBVRE, 1972, p. 46). Este fato permite estabelecer outras consideraes sobre o espao e a sociedade e, consequentemente, da cidade e seus processos, das quais focaremos, neste momento, em como ocorre o processo de (re)definio das formas espaciais da cidade. Esse dilogo estabelecido entre ambos no to simples de compreender, porque ao recorremos literatura pertinente produo do espao urbano, deparamo-nos com uma gama grande de concepes a respeito. Desse modo, foi necessrio adotar alguns conceitos mais amplos do entendimento do espao urbano para, em seguida, selecionar outros, mais prximos do objeto escolhido, para desenvolver o texto. Primeiramente, partimos do pressuposto colocado por Lefebvre (1972), que entende o espao como produto social, ou seja, afirma que o espao social produto das relaes sociais de produo e reproduo, as quais no se limitam apenas aos aspectos fsicos inerentes. Na sequncia, voltamo-nos ento para as prticas sociais, especificamente aquelas que tem poder de produzir rebatimentos no processo de conformao da morfologia urbana. No que concerne definio, ou conceituao, de morfologia urbana, vrias perspectivas embasaram nosso percurso terico. Inicialmente, citamos Sposito (2004, p.66) onde diz que

    [...] o conceito de morfologia urbana no se referiria a uma dada forma urbana (extenso e volume), tal como ela se apresenta configurada espacialmente, mas ao processo de sua gnese e desenvolvimento, segundo os quais podemos explicar essa morfologia e no apenas descrev-la ou represent-la grfica ou cartograficamente.

    Nesse sentido, Capel (2002, p. 20) complementa e afirma que, la morfologia urbana, el espacio construdo, refleja la organizacin econmica, la organizacin social, las estruturas polticas, los objetos de los grupos sociales dominantes. Embora o autor apresente uma abrangncia significativa no que diz respeito morfologia urbana, possvel visualizar trs

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    pontos elementares para compreend-la. Em primeiro lugar, a morfologia urbana o espao (re)construdo pela sociedade e pelo modo de produo em que est inserida; segundo, h um processo de duas vias, em que a morfologia urbana reflete a organizao econmica, a social e as estruturas polticas, ao mesmo tempo em que, no sentido inverso, h reflexos da morfologia urbana sobre essas dimenses da sociedade; em terceiro lugar, os grupos sociais dominantes vo ter um papel relevante nas caractersticas morfolgicas das cidades. Para alm dessa compreenso, entendemos, a partir de Capel (2002), que existe a necessidade frequente de ateno ao estudo da morfologia urbana, em relao aos elementos bsicos que configuram o tecido urbano (o plano, os edifcios, os usos de solo etc.), e os mecanismos que transformam suas estruturas. Desse modo, preciso compreend-la do ponto de vista estrutural, dados os diversos componentes engendrados e suas inter-relaes, incluindo tambm as caractersticas histricas. Dentro do campo terico da morfologia urbana, assim como em muitos outros relacionados Geografia Urbana, no se prescinde de uma cuidadosa escolha metodolgica que d sustentao a um estudo, de modo que no se perca devido diversidade de elementos que compe a temtica, haja vista que a morfologia urbana abarca uma ampla gama de aspectos presentes na cidade. De forma que, caso no se d ateno redobrada ao conceito de morfologia urbana adotado, na delimitao do percurso metodolgico a ser traado corremos o risco de tomar a concepo equivocada como, por exemplo, considerar sinnimos os termos forma urbana e morfologia urbana, que embora complementares, diferem entre si. Desta maneira consideramos a afirmao de que o termo morfologia designativo daquilo que se refere forma, mas o conceito de morfologia urbana vai muito alm da anlise das formas urbanas em si, embora as contenha (SPOSITO, 2004, p.65). Portanto, preciso para realizar uma anlise da morfologia urbana, avanar para alm da forma fsica dos elementos urbanos. Vilagrasa (1991, p.12) contribui para a discusso sobre morfologia urbana, apresentando entendimento que define como el estudio de la forma urbana y de los procesos y personas que la construyen [...], acrescentando ser necessrio Comprender las causas sociales que fomentan los cambios - o las permanencias - del plano, de la edificacin y de la propia imagen urbana entendida como paisaje global. O conceito de morfologia urbana, assim como tantos outros, vem sendo construdo ao longo do tempo. Porm, como j mencionado anteriormente, no fcil analisar uma definio que abarca tantos elementos concomitantes, inerentes s formas urbanas, aos processos e s causas sociais responsveis por essa relao de trocas. Outro aspecto a ser retratado que, apesar de apresentar algumas divergncias terico- metodolgicas associadas construo do conceito de morfologia urbana nas discusses acerca do tema, as leituras mostram-nos alguns pontos comuns. Exemplo disso est na nfase em considerar como se materializam no espao as formas que provm de transformaes ocorridas no tempo histrico. Na busca de compreender o espao geogrfico e seu processo de produo social a partir da dialtica espao-sociedade, Carlos (2007, p.49) afirma que h uma distino entre a morfologia social (promovida pela diferenciao das classes na sociedade) e a morfologia espacial (produzida pelas diferenas nas formas e modos de acesso aos espaos da vida, atravs do uso), ainda que essas duas perspectivas se justaponham. Sob esse prisma espacial, chamado pela autora de prtica socioespacial, fundado na desigualdade concreta e real, ocorrem desdobramentos em mbitos que ultrapassam aspectos da forma fsica da cidade, porque essa prtica faz com que haja uma valorizao da mercadoria, em detrimento da importncia do humano, ou seja, a sociedade embasada na desigualdade concreta produz a cidade como negcio (CARLOS, 2007). Sposito (2001, p.85) coloca em discusso o que chama de nova morfologia urbana, compreendida pela autora pela expanso do tecido urbano, num processo intenso e ao mesmo tempo descontnuo, de maneira que h uma redefinio dos espaos, que no ocorre por conta de aglomeraes urbanas estabelecidas numa contiguidade, e sim, pela produo de largas tramas urbanas, articuladas interna e externamente por sistemas de transportes e comunicao.

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    Ao considerar a urbanizao como processo e a cidade como forma espacial, a autora faz uma ressalva ao afirmar que esta concepo no deve ser esttica na realidade urbana, na medida em que a leitura da cidade deve ser feita atravs da sua morfologia e da urbanizao por intermdio de seu processo, pois apenas na relao entre processo e a forma engendrada que podemos compreender como um dado arranjo scio-espacial , ao mesmo tempo, produto e produtor da realidade (SPOSITO, 2001, p. 86). Amparados pelos estudiosos (as) acima citados, vimos a necessidade de, em nosso estudo, compreender a morfologia urbana e suas alteraes, tendo em vista que a morfologia, como expresso e receptculo desses usos [forma de usos do espao urbano], deve ser compreendida metodologicamente, ao mesmo tempo, como ponto de partida e ponto de chegada para anlise do espao urbano. (SPOSITO, 2001, p.87). 3. OS PAPIS DOS SHOPPING CENTERS NA TRANSFORMAO DA MORFOLOGIA URBANA Ao considerar que h uma rpida e constante transformao no espao urbano, em funo do processo intrnseco espao e sociedade, e que do mesmo modo, em todas as transformaes h uma intencionalidade por parte dos agentes sociais atuantes, conclui-se que as prticas espaciais se caracterizam por serem transformadoras da cidade e de seu processo de urbanizao. Segundo Corra (2007, p. 68), as prticas espaciais constituem aes espacialmente localizadas, engendradas por agentes sociais concretos, visando a objetivar seus projetos especficos. Confirma-se, assim, uma ligao entre as transformaes das formas urbanas e as prticas espaciais. Para Anjos (2009), a partir das novas formas de relao de produo na cidade contempornea tem-se surgido novos tipos de morfologias nas cidades mdias, entre elas: as agregaes, as mutaes, os novos assentamentos e as urbanizaes. Esses novos tipos de morfologias urbana auxiliam no melhor entendimento das estruturas espaciais contidas no espao urbano, tais como: tamanho, infraestrutura etc. As novas formas espaciais so materializadas no espao urbano pela ao dos agentes envolvidos, mais especificamente, os agentes econmicos que consomem o espao urbano e, o produzem como forma de reproduo do seu capital, a presena dos shopping centers, neste caso, mostra-se como confirmao de sua atuao. Isso implica dizer que o espao em conjunto com a sociedade h relaes de interesses e, por meio do vis de interesses econmicos insere, nas cidades, maneiras de transform-las. Desse modo,

    [...] novas formas espaciais, podem aparecer em determinados locais e no em outros que, a despeito de condies econmicas e sociais favorveis, apresentam stios, morfologias urbanas e estruturas fundirias que inviabilizam novas formas espaciais, especialmente aquelas que demandam amplas superfcies, como hipermercados e shoppings centers (CORRA, 2010, p.152, grifo nosso).

    Entre as estratgias utilizadas pelos agentes econmicos, definir a localizao estratgica na cidade uma etapa importante do projeto de implantao dos shopping centers, incluindo a o custo dos terrenos. Como a instalao de empreendimentos dessa natureza exigem espaos amplos, as reas perifricas so a localizao mais visada para as novas formas espaciais, pelo fato de situarem-se entre o limite da malha urbana e o traado do permetro urbano, com facilidade de acesso, por uma avenida, ou por rodovias que contornam o permetro urbano. Entretanto, h excees, como os casos do Royal Plaza Shopping de Londrina e o Prudente Parque Shopping de Presidente Prudente, ambos implantados em localidades centrais e/ou em reas densamente urbanizadas. A escala de ao dos shopping centers destas cidades analisadas tende a extrapolar a da cidade e alcanar a escala de interurbano regional. Isso pode ser explicado por Sposito (2004, p. 201 e 202, grifo nosso), quando argumenta que

    A abertura de shopping centers e sua transformao em centros de consumo de bens e servios, [incorpora] o lazer e o consumo das imagens, bem como a emergncia de centros empresariais distantes dos centros urbanos

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    tradicionais levam a cidade para fora dela e redefinem suas estruturas internas, promovendo ampliao das relaes entre as cidades de uma regio, j que esses centros de produo e/ou consumo tendem a atrair moradores de cidades menores e prximas daquelas onde se localizam esses grandes equipamentos. Reforam esse movimento a instalao de empresas de prestao de servios, sedes de empresas ou grupos econmicos, equipamentos de hospedagem a alimentao, reas destinadas ao lazer, instalaes de megaespaos para eventos e feiras. Essas iniciativas criam novos centros e centralidades, repercutindo nos usos, contedos e valores do centro tradicional.

    As transformaes por que passa a morfologia urbana, decorrentes da presena dos shoppings centers, podem ento acontecer em diversas escalas. Alm disso, a apario deles em determinado local da cidade comumente vista como a chegada do novo, o que talvez possa ser explicado pela viso de desenvolvimento que detm grande parte da sociedade contempornea, ligada somente ao que se refere dimenso econmica, quando sabemos que o desenvolvimento mais que isso e engloba outras esferas, sobretudo a de cunho social. Retomando Corra (2010, p. 155), o novo no aparece, assim, necessariamente, como algo positivo em termos econmicos e sociais. Quando discute a existncia de inovaes, e isso inclui tambm inovaes espaciais, o autor estabelece uma relao entre a produo do espao urbano e a reproduo do capitalismo, afirmando que as inovaes constituem um dos meios pelos quais a capitalismo garante condies de sua prpria existncia e reproduo (CORRA, 2010, p. 150). Tendo em vista a relao entre o que seja novo, no sentido exato da palavra, e o que pode de fato significar na realidade urbana, fica bem claro que devemos levar em conta diversos aspectos, visto que h uma diferena relevante em relao a processos inerentes cidade. Os agentes econmicos responsveis pela instalao dos shopping centers so, como j citamos anteriormente, respaldados por lgicas estratgicas de localizao que vo determinar em que ponto da cidade o empreendimento ser implantado. Desse modo, sua ao em determinada rea urbana ir, consequentemente, criar e/ou recriar transformaes em diversos aspectos. Isso nos leva a constatar que quando inseridos em uma determinada rea urbana, os shopping centers tm incorporado os atributos necessrios para criar ou recriar localizaes estratgicas do ponto de vista comercial e da atrao dos consumidores. (VARGAS, 1995, p. 742). Este processo implica pontuar, por conseguinte, que aps a instalao do shopping center, h uma alterao nas caractersticas morfolgicas do local e de seu entorno, que no se resume, todavia, as mudanas de aspectos fsicos, pois, desenvolvendo

    novos hbitos e novas necessidades e, [...] os Shopping Centers podem ser considerados produtos de localizaes para o uso comercial. Isto , ao juntar num ponto de espao uma srie de atividades e facilidade de estacionamento, contribui para manter a distncia econmica mais baixa, ao permitir uma racionalizao dos deslocamentos, cada vez mais difceis nas grandes aglomeraes. Alm disso, a valorizao do solo no seu entorno imediato, estimula o adensamento atraindo as classes de maiores rendas, e outros estabelecimentos comerciais. (VARGAS, 1995, p. 742).

    Mesmo havendo esse universo de transformaes no espao urbano, decorrente da instalao de shopping centers, sabido que elas ocorrem de diferentes maneiras com intensidades diversas. As mudanas referentes s caractersticas morfolgicas so perceptveis em vrios aspectos, expressos claramente quando as analisamos na perspectiva do plano urbano, ou seja, quando olhamos a cidade a partir de uma viso no sentido horizontal, com foco na expanso do tecido urbano. Outra questo a ser destacada e, intimamente ligada as transformaes na morfologia urbana decorrentes da implantao de shopping centers, a econmica. Camagni (2005) apresenta duas concepes, a de economias internas e a de economias externas, na produo do espao urbano, que auxiliam no entendimento de dois processos espaciais, o de aglomerao e o de externalidade. De acordo com o autor, as economias internas de escala, por meio de uma empresa, geram a concentrao em um determinado local, onde h um volume crescente

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    de produo. Por outro lado, as economias externas alm de produzirem a concentrao de empresas, do espao tambm a atividades diversas, numa movimentao da economia que se caracteriza por:

    - explorao de um capital fixo social localizado (infraestrutura de comunicao, de transporte, de fornecimento de energia, etc.) ou de recursos naturais especficos; - presena de indivisibilidade (economias de escala) no fornecimento de bens ou servios concretos, superveis somente em presena de um certo limiar mnimo de demanda: com a concentrao de vrias empresas nascem, por exemplo, as condies para a produo local de certos inputs usados nos processos produtivos; - criao de efeitos de sinergia que se manifestam numa melhora da eficincia conjunta da produo: efeitos de criao de uma cultura profissional ou de gesto, efeitos de imagens de mercado dos produtos de uma rea, possibilidades de colaborao entre empresas para a criao de servios colaterais, etc. (CAMAGNI, 2005, p. 31-32).

    Os conceitos de economias internas e economias externas, mostrados pelo autor, refletem significativamente na realidade, quando analisamos processos que envolvem a presena de shopping centers, contudo, cada realidade produz e reproduz aspectos singulares, conforme a relao dialtica entre espao e sociedade. E sob essa perspectiva que os casos de Londrina (PR) e Presidente Prudente (PR) sero analisados. Como j citado, trata-se de uma anlise comparativa entre as duas cidades. Sobre esse vis metodolgico, Brando (2012, p. 170) prope algumas reflexes, afirmando que o ato de comparar uma etapa concreta da investigao, um dos caminhos possveis para se chegar inteligibilidade daquilo que se quer elucidar, sendo um apoio metodolgico circunscrito a uma dada fundamentao filosfica. Ao considerar que a comparao um estgio de verificao de fatores empricos, percebemos uma significativa contribuio ao estudo, ela possibilita entender as formas de articulao de espaos diferentes atingidos pelo capital, por interveno dos agentes hegemnicos da economia, assim como, mostram-nos as respostas apresentadas pelas populaes que convivem nos locais onde as corporaes possuem interesses de atuarem. (BRANDO, 2012). Procuramos, portanto, atravs da anlise comparativa, ressaltar as diferenas que cada cidade apresenta, no que diz respeito s alteraes nas caractersticas morfolgicas produzidas e reproduzidas pela existncia dos shopping centers em diferentes reas do espao urbano.

    4. MORFOLOGIA URBANA COMO CATEGORIA DE ANLISE: LONDRINA (PR) E PRESIDENTE PRUDENTE (SP) O municpio de Londrina, que foi criado institucionalmente no ano de 1934, est localizado no norte do Estado do Paran e possui uma populao de 506.701 mil habitantes, numa rea territorial de 1.653,075 km (IBGE, 2010). uma cidade de destaque por diversos fatores inerentes ao e/ou relao com as demais regies do prprio estado, bem como tambm de outros estados do Brasil.

    A cidade passa pelas ltimas dcadas pelo chamado de boom no que diz respeito implantao de shopping centers, tendo j em funcionamento trs empreendimentos de grande porte: o Catua Shopping Londrina, e o Londrina Norte Shopping (Mapa 1), administrados pela BRMALLS relaes com investidores, a responsvel tambm pela implantao de ambos; e o Shopping Royal Plaza (Mapa 1), que se difere em alguns aspectos dos dois anteriores, no que concerne administrao e realizao da obra, de responsabilidade da Granacon Construes Civis - Maring (PR). O Catua Shopping Center foi o primeiro (entre os trs discutidos) a ser implantado na cidade, inaugurado em 1990. Est localizado na Rodovia Celso Garcia Cid, na zona sul, e com uma rea construda de 134.697,71 m, abriga mais de 300 lojas de diversos setores e um estacionamento com espao disposio para 3.250 vagas.

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    O segundo, Shopping Royal Plaza foi implantado na cidade de Londrina no ano de 1999, e localiza-se na esquina das ruas Maranho e Mato Grosso, na rea centro principal da cidade. Sua dimenso territorial de 6 mil m, com 130 lojas de diversos ramos, um complexo de cinema de cinco salas, mais o estacionamento. Mapa 1 Localizao do Catua Shopping Londrina, do Londrina Norte Shopping e do Shopping Royal Plaza

    O terceiro, e mais recente, o Londrina Norte Shopping, foi inaugurado na zona norte, em 1 de novembro de 2012, com uma rea construda de 53.645 m, onde se encontram 163 lojas e um

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    estacionamento com 1500 vagas. A caracterstica o torna diferente dos demais que, alm dessa estrutura fsica, h uma rea em seu entorno, destinada implantao de um complexo residencial. Na cidade de Londrina (PR), novas morfologias esto presentes, e foi possvel observar uma correlao entre o histrico de expanso urbana territorial dos loteamentos (apresentada por dcadas no Mapa 2) e a instalao dos shopping centers.

    Mapa 2 Expanso territorial urbana por loteamentos

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    Contudo, necessrio cautela para elaborar a anlise, pois alguns aspectos precisam ser considerados, uma vez que esse processo se diferencia, dependendo da rea da cidade cujas transformaes iremos avaliar. Ao investigar os elementos apresentados no Mapa 2, interpretamos que a implantao dos shopping centers nas reas perifricas ter, necessariamente, um papel diferenciado daqueles implantados nas proximidades do centro principal da cidade. Podemos visualizar essa diferena quando analisamos separadamente cada um deles. Comeamos a anlise pela ordem cronolgica de implantao dos shopping centers. O primeiro, Catua Shopping Center, inaugurado na dcada de 1990, localiza-se na rea sudoeste e coincide com a faixa de expanso territorial urbana ocorrida nas dcadas de 1970 e 1980 (cores verde e verde claro no mapa). Sua dimenso est intimamente ligada preferncia dos agentes econmicos pelas reas perifricas da cidade, assim como localizao estratgica do empreendimento, no encontro de duas vias importantes, a rodovia Celso Garcia Cid e a PR-445. Em decorrncia de suas propores e dos reflexos de sua instalao sobre os processos de urbanizao e produo, enquanto forma espacial de novas morfologias, o Catua Shopping Center constituiu uma nova rea central, com a ressalva, entretanto, de ter uma intensa seletividade de carter socioeconmico, (RIBEIRO, 2002 apud RIBEIRO, 2009). Tendo em vista as alteraes no espao urbano, observamos que a construo do shopping acarretou tambm numa intensa atrao imobiliria. Para Grassiotto (2003, p. 115), a implantao do Shopping Catua funcionou como um importante instrumento de descentralizao urbana. Novas reas foram incorporadas no processo de desenvolvimento da cidade. Contribuindo tambm para a discusso, Fresca (2002, p.259) acrescenta que

    a implantao deste shopping acabou por se tornar um fator atrativo expanso da rea urbana na poro sudoeste da cidade, implicando em forte valorizao das terras no seu entorno que foram em grande parte adquiridas por construtoras, loteadoras etc. em momento anterior ou ao longo da construo do mesmo retratando mais uma vez a especulao imobiliria.

    A descentralizao e a intensa atrao imobiliria, entre outros fatores, se refletem facilmente na paisagem do local e de sua redondeza, de modo que neste exemplo, tambm podemos visualizar as alteraes nas caractersticas morfolgicas decorrentes da presena do empreendimento. O segundo a ser analisado, o Royal Plaza Shopping, localizado no centro principal, o ncleo urbano inicial da cidade (centro tradicional), representado no Mapa 1 pela cor vermelha, datado na dcada de trinta do sculo passado. Verificamos que mesmo j existindo uma malha urbana consolidada em seu entorno, antes de sua implantao, ainda assim, trouxe uma srie de modificaes, tanto na forma urbana, quanto na morfologia do local. Ao afirmar que a instalao desse shopping enquanto forma urbana alterou a morfologia urbana da cidade, Grassiotto (2003) chama a ateno, principalmente, para a revitalizao do centro tradicional urbano, num processo chamado pelo autor de instrumento upgrade, quando consideradas as alteraes na estrutura fsica dos comrcios j existentes no local, bem como a atrao de novos empreendimentos. Por outro lado, a intensificao da movimentao de veculos tem gerado problemas de circulao nessa rea, j que as vias e a quantidade de garagens no suportam esse aumento de fluxo, dado que um empreendimento de construo vertical, mesmo em uma pequena rea, concentra um nmero maior de pessoas e de veculos. (GRASSIOTTO, 2003). E por ltimo, mas no menos importante, vem o Londrina Norte Shopping, localizado na zona norte da cidade. Sua anlise, porm, exige cautela, pois como se trata de empreendimento com apenas alguns meses de existncia (inaugurado 1 de novembro de 2012), ele nos permite apenas presumir as transformaes na morfologia urbana no contexto mais geral, com base nos casos anteriormente discutidos. A questo relevante a ser considerada, e que torna este shopping diferente dos discutidos anteriormente, que a populao da rea da cidade em que ele foi construdo caracterizada como de baixo poder aquisitivo, o que est ligado ao tipo de habitao nela que predominante.

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    De acordo com Amorin (2011, p. 102), durante a dcada de 1970, houve ali a implantao de 32 conjuntos habitacionais, representando 34,7% do total de conjuntos habitacionais implantados nas trs ltimas dcadas do sculo XX sob a responsabilidade da COHAB-LD, em parceria com Prefeitura Municipal de Londrina. Essa informao demonstra haver uma expanso territorial urbana significativa que antecede a implantao do Londrina Norte Shopping.

    Sua instalao, do mesmo modo que a do Catua Shopping Center, possivelmente ir contribuir para o processo de descentralizao urbana ou, na verdade, acentu-lo, na medida em que j visvel por conta da funo da Avenida Saul Elkind.

    Assim sendo, apoiados na teoria e nos dados apresentados, pudemos averiguar as transformaes ocorridas na morfologia urbana da cidade de Londrina em virtude da instalao dos shopping centers, cada uma delas na sua proporo de intensidade e abrangncia, de modo, que cada caso apresentou processos urbanos que configuraram a morfologia urbana do seu entorno.

    O municpio de Presidente Prudente, criado institucionalmente no ano de 1921, est localizado no oeste do Estado de So Paulo e possui uma populao de 207.610 mil habitantes, em uma rea territorial de 562, 794 km (IBGE, 2010). Conta com dois shopping centers de grande porte, o Prudente Parque Shopping, administrado pelo grupo General Shopping Brasil, e o Prudenshopping S/A, sob administrao do grupo Encalso-Damha.

    O Prudente Parque Shopping foi o primeiro a ser inaugurado na cidade, no ano de 1986, com o nome de Shopping Center Americanas, que foi posteriormente alterado, em 2007, quando o grupo general Shopping Brasil assumiu sua administrao recebendo ento o nome atual. Est localizado na Rua Siqueira Campos, prximo ao Terminal Rodovirio Comendador Jos Lemes Soares (Mapa 3), e sua rea total de 15.148 m, com estacionamento para 520 vagas.

    Mapa 3 Localizao do Prudente Parque Shopping e do Prudenshopping S/A

    Aps quatro anos da data de instalao do Prudente Parque Shopping, foi inaugurado, em 1990, o segundo shopping center na cidade, o Prudenshopping S/A, com o ttulo de maior polo comercial da regio. Est situado num importante entroncamento virio da cidade, na confluncia das avenidas Manoel Goulart, Washington Luis e 14 de Setembro (Mapa 3), e possui rea construda de 45.538 m, com aproximadamente 140 lojas e 1500 vagas para estacionamento.

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    Dentro dos mesmos princpios terico metodolgicos considerados na anlise da cidade de Londrina (PR), atentamos para a anlise das alteraes produzidas na morfologia urbana de Presidente Prudente, em funo da existncia dos shopping centers, avaliando tambm suas principais contribuies para a ocorrncia dessas mudanas. Quanto localizao, o Prudente Parque Shopping encontra-se no Sudoeste da cidade, enquanto o Prudenshopping S/A est no centro da cidade, neste caso, no se referindo ao centro histrico tradicional urbano, mas ao centro do Mapa 3. Quando falamos das vias de transporte na escala do Estado de So Paulo, sabemos que tanto as ferrovias como, depois, as rodovias esto intimamente ligadas histria poltica do estado. Ao contrrio do que muitos defendem, as estradas no foram necessariamente instaladas para o transporte do caf, porque a construo das vais antecede o ciclo de cultivo desse produto (FILHO, 1997) e teve o apoio poltico do Estado e do setor privado (empresrio). Segundo Filho (1997, p. 146), a implantao da infraestrutura de transporte antecedeu cultura. O sistema de transportes foi implantado antes de se ter o que transportar. J pelo ngulo da escala da cidade de Presidente Prudente, sabemos inicialmente, em sua origem, ela nasceu em funo da expanso cafeeira, em conjunto com a especulao de terras, favorecida por suas condies agrrias. Essa situao, porm, se inverte, ao longo de sua histria, quando passa assumir seu papel de enquanto funo comercial de servios (SPOSITO, 1983). Nesse contexto, em face de no ter acesso aos dados da expanso territorial urbana, como no caso de Londrina, verificamos a probabilidade de utilizar como base a expanso histrica dos eixos de ruas, cujos dados disponibilizam uma srie de oportunidades para discusso. Dessa maneira, seguimos para a anlise interpretativa dos mapas, o j apresentado de localizao dos shopping centers, e o prximo com os eixos de ruas.

    Mapa 4 Expanso dos eixos de ruas de Presidente Prudente (SP)

    Os mapas 3 e 4 permitem verificar que as localidades dos dois empreendimentos coincidem com o eixo de rua da dcada de 1970, mesmo em suas limitaes. Isso permite firmar que houve ainda dois saltos na expanso dos eixos da cidade, depois da implantao dos

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    shopping centers, os de 2002 (representados pela cor azul) e os de 2010 (representados pela cor vermelha). Segundo Montessoro (2001) com a presena do antigo Shopping Center Americanas, chamado hoje por Prudente Parque Shopping fez com que houvesse um reestruturao dos espaos anteriormente ocupados, tambm houve uma (re)organizao das atividades comerciais e de servios, esse fato ocorreu por conta de ocupao de antigas construes que eram de usos residenciais e mudaram abrigando novas atividades.

    A instalao do Prudenshopping trouxe consigo mudanas no que concerne ao uso do solo, principalmente nas avenidas que so os seus eixos principais - avenidas Manoel Goulart, Washington Luis, e 14 de Setembro - alm disso, possvel visualizar ndices de verticalizao e ocupao de reas que antes no eram atrativas por estar distante do centro principal da cidade (MONTESSORO, 2001). Outro fato importante a ressaltar, mesmo no sendo o foco de anlise, que a existncia dos dois shopping centers, neste caso, trouxe consigo a implantao das grandes redes de hipermercados. Enquanto o Prudente Parque Shopping tem como ncora o Super Muffato, o Prudenshopping tem, fixada sua rea construda, uma grande loja do grupo Carrefour e, em suas imediaes, o Walmart e uma unidade de atacado, o Muffato Max. Esta realidade permite entender que as transformaes ocorridas neste espao urbano foram possivelmente potencializadas em algum momento. Segundo Whitacker (2010, p. 16), os shoppings centers e os hipermercados so responsveis por grandes impactos na estruturao urbana, por criarem, rapidamente, grande atrao por determinados pontos com problemas virios e trfego.

    Constatamos que houve mudanas de uso do solo no entorno dos shopping centers e que o papel desempenhado pelo Prudenshopping nesse sentido tem uma intensidade maior. No caso de Presidente Prudente, enfim, o surgimento dos shopping centers acelerado com clientelas diferenciadas trouxe como reflexo o declnio do centro tradicional da cidade e uma rpida deteriorao do comrcio do centro tradicional (MONTESSORO, 1999 apud WHITACKER, 2010). CONSIDERAES FINAIS De modo geral, o estudo abordou uma discusso sobre as transformaes na morfologia urbana resultantes do aparecimento dos shopping centers. Observamos nesse processo que cada uma das cidades apresentou aspectos gerais semelhantes, como a descentralizao e multiplicao da centralidade, a presena de intensa valorizao imobiliria, a aglomerao urbana etc.

    No entanto, no que diz respeito aos aspectos mais especficos, pudemos verificar que somente no caso do Prudenshopping de Presidente Prudente houve a instalao de outros hipermercados (Walmart e Muffato Max) em suas proximidades. Com exceo do Royal Plaza Shopping de Londrina, todos os outros casos apresentaram somente um hipermercado nas suas imediaes.

    visvel, por sua vez, o papel do Catua Shopping Center na expanso urbana territorial, assim como o Royal Plaza Shopping e o do Londrina Norte Shopping, nas alteraes morfolgicas dessa cidade paranaense.

    Entendemos, tambm, que a lgica de localizao est presente em todos os exemplos analisados, embora cada um deles dentro de um contexto de urbanizao e de produo e reproduo econmica.

    A premissa citada no incio do texto foi por fim confirmada, com a constatao da existncia de redefinies na morfologia urbana decorrentes da implantao dos shopping centers, ainda que elas se expressem de acordo com as singularidades de cada local.

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