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Nas trilhas da aprendizagem: diálogos com quem estuda a distância Maria de Fatima Guerra de Sousa

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Nas trilhas da aprendizagem: diálogos com quem estuda a distância

Maria de Fatima Guerra de Sousa

Reitor Timothy Martin Mulholland

Vice-ReitorEdgar Nobuo Mamiya

Centro de Educação a Distância – CEAD

DiretorBernardo Kipnis, Ph.D

Coordenadora executivaJandira Wagner Costa, M.S

Coordenadora pedagógicaMaria de Fatima Guerra de Sousa, Ph.D

Gestão pedagógicaMaria Célia Cardoso Lima, M.S

Coordenador de produçãoBruno Silveira Duarte

Design educacionalFlavia Carrijo

Design gráficoJoão Baptista de Miranda

RevisãoLeonardo Menezes

IlustraçãoTati Rivoire

Notas sobre a autora

Maria de Fatima Guerra de Sousa

Natural de Natal, Rio Grande do Norte. Ph.D em Educação Infantil pela Ohio State University. Mestre em Psicologia Educacional pela Universidade de São Paulo (USP). Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília-UnB, Coordenadora Pedagógica do CEAD-UnB.

Ex-Secretária de Educação do Distrito Federal. Ex-Membro do Conselho Nacional de Secretários de

Educação - CONSED e Ex-Conselheira do Conselho de Educação do Distrito Federal. Conselheira do Conselho Cultural da Casa Thomas Jefferson – Brasília. Membro do Conselho Editorial da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional.

Iniciou sua vida profissional em Natal, como professora do ensino primário na rede pública de en-sino. Depois, foi professora do ensino médio no Curso Normal do Colégio Imaculada Conceição e na então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (hoje o Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte - CEFET-RN). Trabalhou no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC-RN e no Serviço de Psicologia Aplicada – SEPA, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Trabalhou, também, no Ministério da Educação, no Departamento de Ensino Supletivo - DSU/MEC, e, posteriormente, na Coordenação de Educação Pré-Escolar – COEPRE/MEC.

Na UnB, já exerceu os seguintes cargos: Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas da Faculdade de Educação e Diretora dessa Faculdade (por eleições). Foi Diretora do CEAD-UnB. Foi

também membro dos Colegiados Superiores da UnB — Conselho Universitário, Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão-CEPE e Conselho de Administração-CAD e das Câmaras de Ensino de Graduação, de Extensão e de Assuntos Comunitários.

Integrou o quadro docente das seguintes instituições paulistas: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista-UNESP, em Rio Claro, Faculdade de Serviço Social de Piracicaba e Instituto Educacional Piracicabano (atual Universidade Metodista).

Integrou a equipe da UnB que avaliou o Programa Nacional de Informática na Educação-Proinfo/MEC.

É autora de vários trabalhos relativos à educação a distância e à educação infantil.

Notas sobre o Módulo

Conforme sugerido no título, o objetivo principal desse módulo é dialogar, com quem estuda a distância, sobre as “trilhas” da aprendizagem. Pretende-se que ele seja lido e sentido como um ins-trumento motivador para a busca do conhecimento e da aprendizagem, ajudando todos e cada um dos alunos a mapear e a seguir, de modo prazeroso, caminhos e estratégias que os torne, progressi-vamente, aprendizes autônomos. Isto é, que sejam cada vez mais capazes de aprender a aprender.

O conteúdo está organizado em quatro partes. Na primeira, intitulada de “O início da jornada”, a autora faz considerações gerais sobre o significado do módulo, no seu todo. Na segunda, “Diálogos sobre a aprendizagem”, a aprendizagem é discutida em cinco lições. Nelas, a autora mostra as rela-ções entre vida, ensino, cultura e aprendizagem e busca ajudar o aluno a situar-se nesse contexto, to-mando consciência de seu espaço e tempo pessoal e social de modo a inserir o seu curso a distância entre os projetos prioritários da sua vida.

A seguir, em “Diálogos sobre a Educação a Distância”, a autora apresenta aspectos teórico-práticos da educação a distância, mantendo o foco na aprendizagem. O módulo é concluído com considera-ções sobre estratégias relevantes para quem estuda e precisa aprender a distância. O espírito do seu conteúdo está expresso em seu título: “A Educação a Distância e você: nas trilhas, sem armadilhas”. Por meio dos seus diálogos a professora Fatima Guerra busca, do início ao fim do módulo, seduzir, motivar, envolver e comprometer o aluno para a sua aprendizagem, concebendo-o como um co-construtor de conhecimentos e “piloto” da sua aprendizagem. Em síntese, seu interesse maior é de-safiar o aluno a distância para a proatividade, estimulando-o a desenvolver estratégias capazes de ajudá-lo a estudar e aprender melhor, sem angústia ou estresse.

Sumário

1 - O início da jornada

2 - Diálogos sobre a Aprendizagem

Lição 1: A aprendizagem é essencial à vida

Lição 2: A aprendizagem é essencial ao desenvolvimento

Lição 3: Todos somos aprendizes

Lição 4: A Aprendizagem é uma forma de apropriação

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Lição 5: A aprendizagem é um aspecto específico da

nossa experiência pessoal e social

3 - Diálogos sobre a Educação a Distância

4 - A Educação a Distância e você: nas trilhas, sem armadilhas

5 - Referências

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O início da jornada 1

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Caro cursista,

Bem-vindo ao nosso curso e parabéns por estar nele!

Você já percebeu que aos poucos a educação a distância vem se incorporando à nossa cul-tura? Contudo, a novidade não está na sua história – que já existe há muito tempo, mas no seu reconhecimento como uma proposta eficiente de se ensinar e de se aprender.

O rápido e contínuo desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação (Tics) tem contribuído para que essa modalidade de educação seja um marco decisivo na ampliação das possibilidades de acesso ao conhecimento. Do ponto de vista metodológico e tecnológico, temos avanços no campo educacional. Contudo, há muito para ser feito até que possamos falar numa efetiva democratização do acesso ao conhecimento.

Como país, precisamos concentrar nossos melhores esforços para que um número cada vez maior de pessoas consiga pelo menos ter acesso ao computador e à internet, num primeiro momento. Não chegaremos a isso sem uma junção do empenho das políticas públicas, das instituições em geral, e em especial, dos gestores e professores das instituições educativas, de todos os níveis de ensino, para que se tenha acesso às Tics desde a fase infantil.

No mundo de hoje, falar e defender o direito à educação é, também, incluir, o direito e o efetivo acesso às Tics. Sem isso é impossível se falar numa educação democrática, em todos os níveis. Num país continental e com tantas diversidades como o nosso, as demandas de edu-cação e formação são múltiplas. Sem o uso cada vez mais ampliado das Tics, não poderemos atender a todas elas.

Não havendo na nossa cultura a incorporação da prática da educação a distância, nos di-ferentes níveis de ensino, como ocorre em outros países tais como a Inglaterra, a França, a Espanha, a Índia, a Austrália, a China e muito outros, tem-se, ainda, no Brasil, muitos preconcei-tos em relação ao estudo a distância. Duvida-se da sua qualidade. Além disso, no caso daque-les que buscam cursos a distância, percebe-se, no geral, pouca ou nenhuma informação de como se planejar e se organizar para estudar e aprender a distância.

Começa então um descompasso entre as exigências do curso e a capacidade efetiva de respondê-las, justamente por não ter se preparado para ele. Como o estudo a distância é uma experiência totalmente nova e diferente para muitos alunos, ela precisa ser devidamente orientada e acompanhada pela instituição promotora do curso. Nesse sentido, uma das orien-tações mais relevantes diz respeito à formação da autonomia do aluno, como um aprendiz a distância. Se isto não for levado a sério e o aluno não assumir, cada vez mais, a sua aprendiza-gem, pode-se ter um elevado número de desistências.

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De fato, não raro encontramos novatos em cursos a distância que bem lá no “fundo do coração”, sequer acreditam na qualidade desses cursos. No geral, estão neles não por uma opção conscien-te, uma determinação pessoal, mas por ausência de opção, seja pela falta de tempo, seja pela não oportunidade de estar em cursos presenciais, como desejariam. A maioria trabalha e não há como conciliar as duas coisas, a não ser pela educação a distância. No geral, eles não percebem que essa descrença traz implícita uma crença: a de que a qualidade está nos cursos presenciais. Contudo, isso não passa de meia-verdade.

A presencialidade de um curso em nada garante sua qualidade, não é mesmo? Se assim fosse, todos os cursos presenciais no Brasil e no mundo, seriam de qualidade. Mas não é bem isso o que vemos nas avaliações realizadas sobre os resultados do ensino nos diferentes níveis e nos diversos países.

Veja o seu caso: somando tudo o que você já estudou “presencialmente”, você diria que todos os cursos feitos podem mesmo ser considerados de qualidade? Até já sei a sua reposta: “Não”! Então, nesse momento inicial do módulo, deixo uma pergunta para você pensar sobre o assunto: o que contribui para a qualidade de um curso e, em especial, para um curso a distância?

Fique atento no estudo desse módulo sobre a educação a distância. Logo você descobrirá que à medida que você for caminhando, refletindo e progressivamente for se envolvendo, se comprome-tendo e assumindo a sua aprendizagem agora e no curso como um todo, você estará aprendendo sobre a qualidade da educação a distância de uma forma muito peculiar. Vivendo a relação teoria-prática. Ou, em outras palavras: participando da sua construção.

Como os demais, cursos a distância são planejados para que as pessoas aprendam. Para que se sintam cada vez mais motivadas e descubram que eles são coisas que resultam num crescimento pessoal e, também, profissional. Se isso não ocorre, não podemos dizer que sejam de qualidade, po-demos? Aqui você já tem alguns critérios de avaliação da qualidade de cursos a distância. Veja, no seu processo de estudos, que outros acrescentaria a esta lista, está certo?

Antes de continuar, vamos sintetizar o que já dialogamos até aqui?

Veja: falamos da importância da democratização do acesso ao conhecimento, da relativa pouca inserção da educação a distancia na nossa cultura e na possibilidade da existência, por parte de algumas pessoas, de uma atitude um pouco “desconfiada” em relação à educação a distância, no sentido da seriedade ou qualidade dos cursos que usam essa metodologia de ensino. Falamos, ainda, sobre alguns dos critérios da qualidade de cursos a distância e fizemos menção à importância da autonomia do aprendiz. Isto é, dele – no caso você – ir assumindo cada vez mais o controle da sua aprendizagem.

Claro que num curso como esse tem coisas referentes à qualidade que não dependem de você.

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Mas tem muita coisa que depende. Isto será o foco do nosso diálogo. O que mais depen-derá de você, desde o início, é buscar aprender. Assumir a responsabilidade pelas trilhas ou pelas estratégias de sua aprendizagem. Saber que esse curso precisa fazer parte do projeto geral da sua vida com a valorização que ele, você e nós, que estamos juntos nessa, merecemos.

Vamos então falar agora mais diretamente sobre você e sobre os objetivos desse mó-dulo? Antes, devo lhe informar que dei uma parada na minha escrita, só para pensar sobre você. Sabe por quê? Por que não dá para continuar sem que saibamos agora, como você está se sentindo no começo dessa jornada.

Assim, comecei a imaginar como estão os seus sentimentos e expectativas como aluno de um curso a distância. Veio-me uma série de perguntas: o que será que ele está sentindo agora em relação ao curso? Quais as suas expectativas? Que emoções povoam a sua men-te e o seu coração? Será que ele sabe o quanto esse curso exigirá do seu tempo e atenção e se organizou para isso? Será que ele está se preparando para transformar as “pedras no caminho” em estratégias de aprendizagem que irão lhe mostrar o “caminho das pedras”?

Mas essas foram as perguntas iniciais. Depois ainda pensei outras tantas como: será que ele tem um mapa das trilhas da aprendizagem a distância? Será que ele tem as ferramen-tas necessárias para seguir essas trilhas? O que ele já tem de experiência em relação à educação a distância? Que ferramenta dispõe para seguir o percurso? O que lhe falta? E mais: Como nós, a equipe de professores e demais profissionais envolvidos nesse curso, podemos ajudá-lo nesse momento inicial e ao longo de todo o processo?

Sei bem sobre a complexidade do processo ensino-aprendizagem. Muito do que vivo

e trabalho gira em torno desse tema. Sei que quem estuda a distancia tem um enorme e contínuo desafio: conciliar o estudo e o trabalho, se sair bem em ambos e, também, dar conta das demais coisas da sua vida. Como mulher, sei que isso é particularmente mais difícil quando nos desdobramos nos nossos diversos papéis de esposa, mãe, dona de casa e profissional. Cada um com as suas exigências. No conjunto, não é fácil nos mantermos ativas por cerca de 12 horas ou mais a cada dia.

Claro que não só as mulheres são ocupadas. Na fase adulta, as demandas da vida são muitas e diversas. Mas isso ainda não diz tudo. Adultos são, em geral, pessoas que estão no mercado de trabalho. Isso significa que eles têm que se “virar nos trinta”. Aliás, talvez eu devesse dizer: se virar nuns trinta.

Sei bem, por experiência, o que é dar conta de casa, família, estudo e trabalho. Sei, tam-bém, que quanto mais planejo e organizo o tempo, reduzo o nível de ansiedade e, em alguns casos, até de angústia – quando tenho muita coisa com igualdade de prioridades e prazos – e dessa forma consigo dar conta de tudo. Assim, meu trabalho rende bem mais e

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melhor. Não menor é o prazer pelos sucessivos sentimentos de “missão cumprida”. Se isto não acon-tece com você, se você tem dificuldades para fazer isso, convido-o a “entrar no clube”. Esta é também uma aprendizagem necessária. Ainda mais agora que você começa um novo desafio.

Se, agora, você estiver preocupado porque também tem muitas demandas do trabalho, da família e outras e não consegue se organizar como deseja e precisa, estando sempre preocupado ou an-sioso por causa disso, continue lendo atentamente esse módulo porque ele poderá lhe ajudar a ser mais produtivo e feliz. Podemos “trocar figurinhas” sobre esse assunto.

É claro que tudo depende muito de você. Mas se você precisa aprender, nada melhor do que a apresentação de algumas trilhas ou caminhos que estudos, pesquisas e a experiência já mostraram sobre o que pode facilitar a aprendizagem na educação a distância. A partir delas você cria as suas próprias estratégias e faz o que for melhor para você. Não há “receitas”. Mas há caminhos possíveis. Muitos deles vamos descobrindo, na própria caminhada. Uma dada aprendizagem acaba por abrir caminhos para outras e tornar os caminhos mais suaves e prazerosos. Aprender e crescer são neces-sidades da vida e ações que também podem nos dar muito prazer.

Bom, voltando ao que falávamos. Sugiro que você comece por uma auto-análise e veja como es-tão, de fato, os seus sentimentos e as suas emoções em relação a esse curso que você começa agora. Afinal, ele irá ocupar parte significativa do seu tempo, e vai exigir uma dedicação bem especial sua, não é mesmo? Sei que você, como eu, pouco dá atenção ou emprega a sua energia de vida para o que não valoriza.

Então pergunto: que valor você está dando a esse seu curso agora? Valores e empenho são coisas que caminham juntas. Se houver pouco valor, as chances são de seu empenho ser também pouco. Em conseqüência, a tendência é termos resultados insatisfatórios. Isso precisa e deve ser evitado desde agora. Quanto mais cedo, melhor. Aqui, nem de perto se aplica aquela idéia de “antes tarde do que nunca”. Estamos falando em aprendizagem e não em o que muitas pessoas fazem em cur-sos diversos, que é ir atrás do prejuízo! Se fosse para isso não estaríamos falando sobre as trilhas da aprendizagem, não é mesmo?

Passada aquela grande alegria inicial por ter conseguido ser selecionado para o curso, o que pre-cisa e merece mesmo ser celebrado - daí os meus parabéns logo no começo, fiquei imaginando se o seu sentimento de agora, se aproxima do descrito num dos belos e instigantes poemas de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), intitulado “José”, que já começa com uma pergunta desafiadora:

“E agora, José?”

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Quer saber mais?

Carlos Drummond de Andrade, um dos principais nomes da literatura brasileira do Século XX, identificado como um poeta social, produziu durante mais de 60 anos. Escreveu até bem perto de morrer. Tem 25 livros de poesia, publicados em diversas edições.

Vale a pena conhecer a sua obra. Entre no espírito. Leia o poema “José”. Você pode encontrá-lo em:

http://www.tanto.com.br/drummond-jose.htm

http://www.eeagorajose.kit.net/estilos/eagorajose.htm

Conheça também a sua biografia. Acesse:

http://www.eeagorajose.kit.net/autores/drumond.htm

http://www.culturabrasil.pro.br/cda.htm

Num dos intervalos de estudos e trabalho, sinta a beleza do lirismo drummondiano. Para isso, você pode ler, por exemplo, a sua “Antologia poética”. Ela foi organizada pelo próprio autor. O poema “José” está aí publicado junto com outros como: “Canção amiga”, “Quadrilha” e “A máquina do mundo”.

O livro Antologia Poética é da editora Record. A 48ª. Edição foi publicada em 2001.

Se quiser ir além, e entender a dimensão histórica da poesia drummondiana, leia: “Drummond cordial”, do jornalista e crítico literário Jerônimo Teixeira, publicado em 2005, pela Nankin Editorial. Trata-se de um trabalho no qual a historicidade poética de Drummond é analisada a partir da noção de “homem cordial”, proposta por Sergio Buarque de Holanda em seu livro “Raízes do Brasil”.

Não sei bem se este é o seu caso. Será que essa é também a sua pergunta: e agora?

É provável que isso esteja lhe inquietando. Mais ainda se nunca estudou a distância. Por outro lado, também desconheço o tipo de sua avaliação sobre a educação a distância, em si. Por exemplo, nada sei se a enxerga de um modo mais positivo ou está, ainda, como eu já estive num momento anterior da minha vida, com preconceitos em relação à educação a distância.

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O fato é que o desafio está posto: você está matriculado num curso a distância e tem toda uma caminhada a fazer por meio dessa metodologia. Ela não pode ser feita de qualquer jeito. Finalmente, estamos falando de uma oportunidade ímpar no seu processo de formação pessoal e profissional, não é mesmo? E claro, você é o principal interessado nele.

Antes de continuar essa sua leitura, quero que você se lembre de algo muito importante agora e ao longo de toda a sua caminhada: você não está só. Há toda uma equipe multidisciplinar na base de sustentação desse curso, desde o seu planejamento inicial. E isso existirá ao longo de todo o período do curso.

Sabe por quê? Porque nossa equipe está interessada em você e em seus colegas. Queremos ser mediadores da aprendizagem de todos. Nosso principal objetivo é que esta seja uma experiência de aprendizagem muito positiva e prazerosa para todos vocês, alunos, e para nós todos, que estamos envolvidos nesse curso, desde o início. Vai ser muito gratificante para todos nós a criação de uma teia de saberes, de trocas de experiências, uma bela rede de aprendizagem colaborativa. Nesse sen-tido, o uso cada vez mais intenso da internet, a participação nos fóruns e chats será de grande valia. Experimente por você e veja se não tenho razão. Seja criativo e interativo.

Agora você está em contato com o seu primeiro material didático desse curso. Essa forma de sis-tematizar conteúdos já lhe mostra que um curso a distancia de qualidade se inicia muito antes de o aluno ter em mãos – ou disponível on line, o seu material didático. Ele resulta de uma complexa integração de fatores e atores. No entanto, como aluno, você terá contato mais direto apenas com um desses atores: o seu tutor.

Para cada módulo, você terá um tutor específico, que estará atuando sob a supervisão de um pro-fessor que pode ou não ser o autor do módulo em estudo. Os tutores são pessoas devidamente selecionadas e treinadas para acompanhar o seu processo de aprendizagem e tirar dúvidas, quando necessário. Fique atento! O tutor será uma pessoa-chave na sua caminhada ao longo do curso.

Como você já sabe que não estará só em sua jornada, me deixe voltar um pouco naquele poema “José”. Se já o leu, sabe que aquele José do Drummond certamente não estava nos seus melhores dias. Isto, felizmente, não é o seu caso agora. A sua situação é bem outra, não é mesmo? Claro! Além de você não estar em fim de festa, nem sem luz, o seu povo não sumiu. Veja: nós estamos aqui na tor-cida pelo seu curso e nos organizando para apoiar a sua caminhada nele. Somos parte do seu povo. Sabemos que as pessoas que você gosta também integram a torcida.

Ainda que geograficamente dispersos, os seus colegas de curso também se incluem nesse povo do momento, ou seja: integram o que passo a chamar de povo desse curso. Esperamos que isto se prolongue e não fique apenas no momento de vigência do curso. A vida continua. E se ela puder ser vivida junto com os colegas e amigos conquistados nos caminhos da aprendizagem e da vida, tanto melhor!

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Como você, acredito que a maioria do povo desse curso se organiza para fazê-lo bem. Finalmente, nenhum de vocês está mais na fase da adolescência, na qual provocamos várias situações só para “testar os outros”, para “aborrecer” ou para “ver no que dá”. Esse tempo passou! O momento agora é outro.

Como eu, você sabe que não dá mais para passar por um dado curso, sem que este “passe por você”, em cada um dos seus tempos curriculares. Ninguém merece isto! Distinto daquele “José” do Drummond, você tem nome próprio, não está perdido nem “marchando” ou no “galope”, sem saber para onde. Há um projeto pedagógico do curso. Há toda uma organização curricular nele. De sua parte, há conteúdos programáticos a serem aprendidos. E, sobretudo, há um processo de formação em andamento que merece toda a sua atenção: o seu processo e o de seus colegas. Haverá sempre espaços, nesse curso, para todos se ajudarem e crescerem. Faça questão de não ficar de fora disso. Nosso lema aqui é: “Nenhum a menos”.

Bom, agora que falamos um pouco sobre você, vamos para o módulo. Releia o seu título, reflita e responda: em sua opinião, qual mesmo o objetivo maior desse módulo? Responda ainda ao seguin-te: por que você acha que está começando esse seu curso com ele? Por que não ir direto aos “conteú- dos específicos” do curso? Mais uma pergunta: no processo ensino-aprendizagem, dá para separar conteúdo da metodologia? Por quê?

Como viu, o módulo se intitula: “Nas trilhas da aprendizagem: diálogos com quem estuda a distân-cia”. O seu objetivo principal é o que o seu título sugere. Ele pretende ser justamente isso: a constru-ção de diálogos que ajudem você e seus colegas a manterem-se nas trilhas da aprendizagem. Assim, a partir dos conhecimentos e experiência que tenho da educação a distância, espero poder ajudá-lo a definir e a mapear a sua rota de aprendizagem. Considere-o, portanto, como uma ferramenta útil que você terá sempre próxima a você, ao longo do curso.

Vamos conversar um pouco sobre a educação a distancia e, principalmente, explicitar o que a teo-ria, a pesquisa e a experiência têm mostrado em termos de desafios e estratégias para quem estuda a distância, de modo que possa aprender melhor, sem angústia ou stress. Não sem propósito escolhi a palavra “trilhas”, e não “trilhos”.

Não se trata de uma simples troca de letras. Igualmente, não diz respeito a um não reconhecimento do papel das ferrovias no desenvolvimento do país, que começou na primeira metade do século XIX. É, isto sim, um tratamento diferenciado, a busca de uma imagem de algo mais flexível. Para mim, seguir pelos trilhos é estar num mesmo caminho já predeterminado - de saída e de chegada. De ida e de volta.

Já as trilhas sugerem maior flexibilidade e possibilidade de abertura de novos caminhos e até de atalhos. Da mesma forma, sugerem a possibilidade de se escolher direções, cenários ou paisagens. Então, a partir das trilhas da aprendizagem aqui sugeridas, você poderá ir criando as suas próprias e determinando por onde ir e onde quer chegar.

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A flexibilidade do termo trilhas também se evidencia ao pensarmos em representações outras como “trilhas sonoras”. O que seriam das novelas, dos seriados e dos filmes, princi-palmente os clássicos como “E o vento levou” (Gone With the Wind, 1939), sem a sua trilha sonora?

Se você assistiu a esse filme, pergunto: já pensou o que seria de todo o desenrolar da trama da complicada vida de Scarlet O’Hara (Vivien Leigh), das suas paixões, amores e

desilusões com Rett Butler (Clark Gable) e, ainda, todas aquelas cenas marcantes de amor, sem um fundo musical?

O mesmo se aplica aos outros gêneros de filmes como: 2001 - Uma Odisséia no Espaço (2001 - A Space Odyssey, 1968), King Kong (relançado em 2005), A Fuga das Galinhas (Chicken Run, 2000), A Marcha dos Pingüins (Marche de l’empereur, La, 2005), A Era do Gelo (Ice Age, 2002), e tantos outros.

Então, concluindo a apresentação do objetivo deste módulo, fica aqui um desafio: siga as trilhas da aprendizagem que propomos e também crie as suas próprias. Isto é: crie as suas estratégias de apren-dizagem. Veja como você aprende e, também, o que pode dificultar a sua aprendizagem. Elimine isso. Seja inovador.

Aproveite cada minuto de sua jornada, pois na vida cada jornada é única. Não há uma se-gunda chance para ninguém. Ademais, é preciso desenvolver a sabedoria de se usar bem o tem-

po. Ele não costuma perdoar os que com ele não sabem trabalhar. Ele não sabe esperar. Passa a cada segundo. E tem o poder de transformar, rapidamente, o segundo do presente, num fato do passado. Para cada um deles fica sempre a pergunta: o que ficou? Isso nos remete para outras mais, mas destaco uma apenas: o que temos feito dos segundos, dos minutos, das horas, das semanas, dos meses e dos anos das nossas vidas?

Crie, ainda que simbolicamente, as suas “trilhas sonoras” desse curso. Inspire-se nos filmes e as-suma tudo: a direção, o roteiro e a produção da sua aprendizagem. Seja, também, o seu diretor

de arte. Falo na arte de aprender. Crie, também, o que você achar mais adequado como “figurino” – aquele que melhor representar um autor, alguém que é sujeito da sua apren-dizagem. Escreva, leia, releia e edite os trabalhos avaliativos solicitados em cada módulo.

São partes importantes do seu “roteiro” do curso. Se a eles for dada a devida atenção, tere-mos uma boa medida do que o curso possa estar significando para a sua aprendizagem.

E, claro, se quiser dar mais vida, cor e movimento à sua criação, veja que “efeitos especiais” serão necessários em cada momento do curso. Ajude os seus colegas a assumirem também, a autoria de suas aprendizagens neste curso. Comunique-se com eles. Falem entre si. Mantenha o diálogo com o seu tutor. Ele precisa disso para cumprir bem a sua função. E você nada tem a perder se comu-nicando com ele. Pelo contrário!

Que nós, o povo desse curso, estejamos sempre juntos nessa jornada de aprendizagem, cres-

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cimento e desenvolvimento pessoal e profissional, e que esta seja uma caminhada de sucessos e realizações.

Se sentir necessidade, pare um pouco antes de continuar. Mas senão, vamos em frente!

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Diálogos sobre a Aprendizagem 2

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Uma das coisas mais complexas e mais bonitas da vida é a nossa capacidade de aprender. Já pensou se ela não existisse? Já pensou se, também, não tivéssemos a capacidade de memori-zar o que aprendemos a cada dia?

Você já notou que entre as espécies animais, a nossa é a que tem um maior período de infância e, portanto, um tempo maior para as aprendizagens mais básicas necessárias à vida, como se alimentar, pensar, ouvir, falar e movimentar-se?

Já percebeu que, apesar de a aprendizagem fazer parte da nossa vida e integrar o nosso cotidiano, nem sempre paramos para refletir sobre a sua importância, a não ser quando algo nos força a isso como uma dificuldade ou uma necessidade de ensinar ou aprender algo? Ou ainda, quando temos diante de nós outras coisas que demandam conhecimen-tos, como ajudar os nossos filhos com as lições de casa?

Nesse início de diálogo sobre a aprendizagem, vamos nos concentrar na exploração do significado do termo “aprendizagem”? Não poderia ser diferente já que um dos seus maiores desafios nesse curso é aprender. Muitas e diferentes aprendizagens ocorrerão. Nada como se preparar para compreender melhor esse processo.

Começo então com uma série de perguntas para você refletir e tentar responder. Não precisa pesquisar nada para isso. Desse modo, a sua tentativa de resposta vai lhe dar uma medida, ainda que indireta e superficial, do que você já sabe sobre esse assunto. Vamos lá?

As perguntas são as seguintes:

• Como conhecemos o que conhecemos?• O que é a aprendizagem? • Por que precisamos aprender? • Como a aprendizagem tem sido definida nas diferentes teorias? • Como se aprende?• O que faz com que uma pessoa aprenda algo ou deixe de aprender? • Por que algumas coisas parecem mais fáceis de serem aprendidas do que as outras? • Como o ensino e aprendizagem podem estar associados? • Pode-se falar em ensino, quando este não resulta na aprendizagem esperada? • Há aprendizagens sem ensino?• É possível “desaprender” algo?• Como se aprende a distância?• O que é preciso fazer para facilitar a aprendizagem de quem estuda a distância? Que tal?

Valeu a pena o seu esforço de tentar entender a aprendizagem por meio dessas perguntas?

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Aprendeu coisas novas? Vamos dialogar um pouco sobre o conteúdo daquelas perguntas?

Antes, porém, precisamos fazer uma negociação: o espaço e os objetivos desse módulo não per-mitem que entremos em detalhes sobre cada uma delas. Então, a abordagem aqui será bem geral. Mas com certeza estaremos nos aproximando de um melhor entendimento do conceito de apren-dizagem. Nesse momento, então, escolhi como estratégia passar para você algumas “lições aprendi-das” sobre a aprendizagem, no contexto da vida. Claro que elas refletem experiências anteriores de leituras e cursos feitos e ministrados sobre teorias da aprendizagem. Mas elas não serão tomadas explicitamente como referência aqui.

Leia e reflita sobre cada uma delas. Tente associar o que está lendo com os conhecimentos que você já tem. Isso lhe ajudará a identificar o que vai ser “novo” para você. Ao final dessa parte com certeza você será capaz de criar um conceito de aprendizagem de sua autoria.

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Lição 1: A aprendizagem é essencial à vida

Como a aprendizagem é essencial à vida, ninguém vivve sem aprender. Em síntese, isso significa que sem a aprendizagem não seríamos capazes de existir, pois o nosso substrato biológico (nosso organismo de ser humano) não dá conta, no nosso ciclo de vida, de tudo que precisamos para so-breviver e nos adaptar ao meio. Isso só ocorre com organismos unicelulares, como a ameba, que não precisa aprender nada ao longo da sua existência.

Cada um de nós, ao nascer, tem um projeto individual a ser desenvolvido ao longo da existência. Igualmente, temos um projeto social, pois somos todos “biologicamente sociais”. Ou seja, pessoas precisam de pessoas para tornarem-se pessoas. Precisamos nos comunicar. Precisamos do outro. Precisamos do contato com os elementos da cultura onde nos inserimos.

Não sem propósito se diz que o bebê é um comunicador inato. Digo que logo se transforma em um bom negociador para conseguir dos pais ou de quem o cuida, o que precisa ou deseja. E fazem isso antes mesmo de conseguir falar ou andar. Primeiro pelo choro, depois pelo olhar. Qual a mãe que já não aprendeu sobre os choros de seu bebê, logo na sua primeira semana de vida, e não sabe distingui-los direitinho? Dois deles são logo aprendidos: o da “manha” e o da fome. Esse último tem sido popularmente consagrado: “quem não chora não mama”, não é verdade?

Para não ser injusta devo reconhecer que pais também aprendem a categorizar esses choros. O que fazer com eles e como educar o bebê a partir deles é, também, um assunto que diz respeito à aprendizagem. Mas não a que aqui está sendo tratada, não é mesmo? Por isso precisamos prosseguir. Numa outra oportunidade poderemos aprofundar esse tema. Finalmente, entendo que muitos de vocês são pais e mães e que até poderiam se interessar por isso. Mas isso nos faria sair da nossa rota. Não são trilhas para a nossa aprendizagem de agora.

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Quanto mais crescemos e nos desenvolvemos, mais complexas ficam as nossas necessidades de aprender e, portanto, também as nossas aprendizagens. Isso diz respeito aos indivíduos e, também, à história dos grupos humanos ou da sociedade. Nesse sentido, a aprendizagem e educação são faces de uma mesma moeda. Ou melhor, partes de um mesmo todo, já que o processo educativo é, tam-bém, um processo de aprendizagens continuadas.

Educar é estar em sintonia com as coisas do mundo e, ao mesmo tempo, questioná-las a partir de princípios éticos e morais. Isso implica orientar a ação educativa tanto no educar nos valores, como no educar para os valores, vivendo-os no cotidiano da vida. Nós, educadores, somos desafiados a lidar eticamente com questões essenciais em todas as sociedades ao longo dos tempos, tais como:

• educar quem?• educar para quê?• para que tipo de sociedade? • para que tipo de mundo?

E ainda: Em que mundo vivemos? Que mundo queremos ter? Como a educação pode influir na definição do tipo de sociedade do presente e do futuro?

Se pensarmos na educação hoje, um dos principais questionamentos a ser feito é: como preparar o educando para viver no mundo de hoje, em rápidas e contínuas transformações?

Em síntese, a educação lida com valores, com a transmissão e a produção de conhecimentos, com a formação de habilidades e competências. Com as relações teoria e prática. Com as interações entre o ensinar e aprender. Com a realidade. Com o ontem, o hoje e, também, o amanhã. Isto é, precisamos entender que a educação se dá no conjunto das relações sociais e produtivas de cada tempo e lugar, e que deve se pautar em princípios éticos e morais. Os homens e as mulheres precisam aprender a in-ternalizarem os valores e a ética como uma bússola que orienta a direção de suas decisões e ações.

O entendimento de que a educação precisa preparar o educando para o seu presente e, também, para o seu futuro, seria incompleto sem a compreensão de que esse futuro tem um significado am-plo. Diz respeito ao plano individual e a outros mais abrangentes, como o futuro das gerações que virão, o futuro do país e, ainda, o futuro do planeta - quando se trata das relações internacionais e da preservação do meio ambiente.

Percebeu que tudo isso envolve aprendizagens de diferentes naturezas?

Nós, educadores, precisamos ter uma compreensão histórica dos processos pedagógicos. Se não nos situarmos e não nos posicionarmos, criticamente, no contexto em que atuamos, orientados pelos valores, pela moral e pela ética, o processo educativo e a nossa ação mais específica de transformar o conhecimento social e historicamente produzido, em saber escolar, ficam bastante comprometi-

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dos. Em nenhum momento somos ou devemos permitir que nos vejam como meros “transmissores” ou “repassadores” de conhecimentos.

Na verdade, situar-se critica e eticamente no desempenho profissional não é um desafio posto apenas para os educadores. Isso diz respeito aos profissionais em geral: biólogos, administradores, artistas, médicos, advogados, psicólogos, fisioterapeutas e terapeutas educacionais, dentistas e outros. Finalmente, todas as profissões têm seu código de ética que estabelecem normas de condutas a serem respeitadas quando no exercício da profissão.

A propósito, queria incluir agora mais um ponto que considero relevante para o nos-

so diálogo. Novamente, lanço uma pergunta para você refletir: Já parou para pensar que no mundo e no Brasil, o progresso ou o avanço científico e tecnológico nem sempre vem acompanhado do respeito aos valores humanos e à ética?

Ao refletir, você certamente chegou à mesma conclusão que eu. Isto é, a de que ser instruído, ter conhecimento, não é o mesmo que ter se desenvolvido em termos de sa-bedoria humana. Foi isso mesmo? Pensamos juntos? Ainda que com pensamentos dife-renciados, acredito que podemos aproximar mais o nosso diálogo com um exemplo que trago, dentre muitos que já vimos, vivemos e, infelizmente, poderemos ainda viver coisas bem semelhantes. Falo da chamada “Guerra do Golfo”, de 1991.

A tecnologia permitiu que a víssemos “ao vivo e a cores”, já que alguns dos ataques pude-ram ser vistos nas nossas casas, pela televisão. O que vimos? No geral, um enorme poderio tecnológico: mísseis teleguiados, bombas guiadas a laser e muito mais. Tecnologias de últi-ma geração. Muitas delas até já ultrapassadas quando comparadas ao que se tem hoje na indústria bélica. Um fogo cruzado de interesses políticos e econômicos. Alta tecnologia, sem dúvida e, ao mesmo tempo, uma pobreza de sabedoria humana. Nenhum esforço direciona-do para a construção, a manutenção e a valorização da paz. Concorda?

Vivemos mesmo num mundo de contradições. Essa é uma delas: colocar o conhecimento advindo do desenvolvimento científico e tecnológico a serviço da destruição.

Igualmente, muitos desastres ecológicos não-naturais se dão em nome do “desenvolvi-mento” e do “progresso”, que nada mais são do que formas de se priorizar interesses eco-nômicos. Veja aí os que você se lembra. Para facilitar, sugiro uma das categorias deles: o desmatamento. Essas coisas também dizem respeito à educação e à aprendizagem, não dizem? E claro, não são assuntos apenas para os professores ou para serem discutidos só no âmbito das salas de aula. Elas dizem respeito a todos nós, que vivemos nesse planeta e “o emprestamos das gerações que estão por vir”. Se não aprendermos as nossas lições, principalmente as relativas à prevenção e preservação, o que teremos para oferecer a elas? Em que mundo as gerações futuras viverão?

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A educação tem um papel relevante na consolidação das relações sociais e, portanto, na concre-tização da vivência e do desenvolvimento da democracia. Este é, pois, um tema que diz respeito à aprendizagem. Não apenas das pessoas, mas da sociedade como um todo. Democracia não é algo que nos é dado, mas fruto de um trabalho de conquista cotidiana, em todos os momentos, recantos e instâncias da vida. Não se nasce com o espírito democrático. As sociedades não são democráticas apenas por sua existência. A melhor trilha para a aprendizagem da democracia é vivê-la. É conquistá-la passo a passo. Disso sabemos todos – basta refletirmos sobre o que temos vivenciado no país, de 1964 para cá.

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Conectando Saberes

A partir de “recortes” de dois momentos bem distintos da história brasileira, que apresentamos aqui, procure identificar como a educação se situa no conjunto das relações sociais e produtivas. Procure identificar, também, qual o sentido da relação entre educação e democracia.

Para ajudá-lo nisso, proponho que, em cada época, busque respostas para as perguntas:

1. Qual a educação necessária?2. Por que isso?

Época �:O Brasil – Primeiros 250 anos Características Gerais (síntese):

Mundo • Grandes Navegações Marítimas

País:• Forte presença da população indígena estimada em 2 a 4 milhões de indivíduos (cerca de 1 mil diferentes tribos - tupinambás, tupiniquins, tamoios, carajás e outros);• Panorama Político: Brasil – colônia de Portugal, explorado em função dos seus interesses econômicos;• Engenhos, terra, renda e escravidão;• Capitanias Hereditárias;• Jesuítas (1549 a 1759).

Educação: • Importância secundária – conversão ao cristianismo e aos valores europeus;• Valores, costumes, moral, crenças religiosas e métodos pedagógicos europeus;• Foco - pregação da fé católica.

Época 2:O Brasil de HojeCaracterísticas gerais (síntese):

MundoEconomia globalizada.

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País:• População Indígena – 734.127 (IBGE, Censo demográfico, 2000);• Panorama político: fase de consolidação da abertura política;• Constituição de 1988;• Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990);• Código de Defesa do Consumidor (CDC) – (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990);• Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993) ;• Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996);• Estatuto do Idoso (Lei no. 10.741, de 1º de Outubro de 2003);

Alguns indicadores Sociais:• Taxas de Analfabetismo – pessoas de 15 anos ou mais – 11,6 % (FONTE: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1998/2003)• Defasagem escolar atinge 84,1% das crianças de 14 anos no Nordeste – A defasagem entre idade e série escolar cresce com a idade: vai dos 14,4% para as crianças de sete anos , até os 65,7% para as de 14 anos. No Nordeste, 84,1% das crianças de 14 anos estão defasadas, contra 51,8% do Sudeste.;• Cerca de 20% das crianças nascidas em 2002 eram de mães de 15 a 19 anos de idade (IBGE – Síntese de indicadores sociaiseducacionais- http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/13042004sintese2003html.shtm);• Quando as mães têm menos de 3 anos de estudo, a taxa de mortalidade entre menores de 5 anos é de quase 50 por mil; entre as mães com mais de 8 anos de estudo, a mesma taxa cai para 20 por mil (IBGE – Síntese de indicadores educacionais);• Entre a população ocupada com até quatro anos de estudo, as mulheres recebiam, em média, R$ 0,40 a menos que os homens por uma hora de trabalho. Entre os ocupados com mais de 12 anos de estudo, elas recebiam, em média, R$ 5,40 a menos que eles;• Pobreza e desigualdades extremadas.

Dados sobre a Síntese dos Indicadores Sociais forma captados do IBGE, no endereço:

•http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/13042004sintese2003html.shtm) (02.06.2006).

Lembrando:• Qual a educação necessária para tamanha diversidade e contrastes?• Qual o sentido da democracia nesses contextos?• O que precisamos aprender e precisamos fazer?

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A educação que existia no Brasil colônia e a educação necessária hoje são realidades muito distan-tes e distintas. Daí essas épocas terem sido escolhidas no recorte feito. O Brasil e o mundo hoje são muito diferentes do que ontem. Em tudo. O cenário atual é bem mais complexo.

O avanço da ciência e da tecnologia encurtou distâncias. Aumentou a expectativa de vida das pes-soas. Criou novas possibilidades de acesso ao conhecimento, principalmente depois da invenção do computador e mais ainda com o surgimento da rede mundial dos computadores – a internet.

Curiosidades

Você sabia que em 1982, a revista «Time» elegeu o PC (computador pessoal) como o «Homem do Ano» ?

E no Brasil, o que acontecia nesse ano em relação à informática na educação?

Se quiser saber, consulte:

1) MORAES, Maria Cândida. Informática Educativa no Brasil: Uma História Vivida, Algumas Lições Aprendidas. Trabalho datado de Abril de 1997.

Nota: A professora Maria Cândida foi uma das pioneiras na área. Esteve na liderança do Programa Nacional de Informática - PROINFO/MEC, por vários anos. Fonte: http://www.edutec.net/Textos/Alia/MISC/edmcand1.htm

2) MORAES, Raquel de Almeida. Estado, Educação e Informática no Brasil: das Origens a 1989. O Processo Decisório da Política no Setor.

Fonte: http://www.edutec.net/Textos/Alia/MISC/edraquel1.htm

Se antes podíamos, com mais segurança, prever os acontecimentos do mundo, hoje vivemos entre surpresas e incertezas como o que ocorreu no 11 de Setembro de 2001, no World Trade Center, com o ataque às Torres Gêmeas, ícones da economia norte-americana. No Brasil, fomos surpreendidos, recentemente, com o poderio do PCC, o chamado Primeiro Comando da Capital, cujo líder, ainda que preso, conseguiu parar uma cidade como São Paulo, com cerca de 10 milhões de habitantes, por meio de rebeliões e outras violências.

A propósito, quem conhece a polêmica em torno da construção daquelas torres sabe que elas foram alvos de disputas políticas e, sobretudo, a vitória do interesse de grupos econômicos, que ao

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invés da segurança e outros critérios, priorizaram o barateamento da obra e a ampliação dos espaços alugáveis. À época, chegou-se até a se fazer mudanças no sistema de edificações vigente em Nova York. Esses e outros fatores contribuíram para que um número maior de pessoas morresse nesse ataque.

Contudo, isso não vem ao caso agora.

Nessas poucas linhas, já deu para você sentir o quanto os valores e a ética precisam ser continu-amente trabalhados em todas as sociedades? Eles precisam estar sempre na pauta dos currículos escolares e no trabalho pedagógico que se desenvolve em todas as instituições educativas do mun-do. Ética e valores são coisas que precisam ser ensinadas e aprendidas. Isso também não diz respeito apenas aos professores ou pais. Refere-se à sociedade como um todo. Às instituições e às pessoas como eu, você, seus colegas, seus amigos, sua família, seus vizinhos e seus filhos.

Pergunto: como se aprende melhor sobre a moral e sobre a ética?

Quando elas integram o ambiente onde se vive. Quando as pessoas pautam o seu comportamen-to por elas. Quando os direitos são respeitados. Quando se sabe com o que se pode contar e o que se deve respeitar, numa sociedade democrática. Quando as regras e os limites são claros e transpa-rentes.

Isso tudo me faz lembrar (e sonhar) com o único Ato Institucional que não me indignei na vida. O “Ato Institucional Permanente”, denominado de “Estatuto do Homem”. Você o conhece? Trata-se de um belo poema de Tiago de Melo, escrito em Santiago do Chile, em abril de 1964. Lembra-se dele? Começa assim: “Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcha-remos todos pela vida verdadeira”.

Não restam dúvidas de que conhecimento, poder, ética e educação precisam estar alinhados. Essas

coisas são partes do aprendizado ao longo da vida. De certa forma, nessa sua experiência de apren-diz você está lidando com o entrelaçamento dessas coisas.

Antes de ir para a leitura da próxima lição sobre a aprendizagem, sugiro que busque conhecer mais sobre as relações entre ciência, conhecimento, poder, ética e educação. Ou, se quiser ampliar a problemática sobre essas relações anote aí o nome de alguns dos autores que podem lhe ajudar: BRONOWSKI, J.A (1992); KUHN,T. (1978); GALVÃO (2005); MORIN (1991) e SANCHEZ VASQUEZ (1970).

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Você sabia?

• Que Thiago de Mello (foto) é um nome de uso literário, e que o nome completo do poeta é Amadeu Thiago de Mello?• Que ele nasceu no dia 30 de março de 1926, no estado do Amazonas?

Se quiser conhecer mais sobre a vida e obra do autor consulte:http://www.revista.agulha.nom.br/tmello.html#biohttp://www.revista.agulha.nom.br/castel14.htmlh t t p : / / w w w. p o r t ra s d a s l e t ra s. co m . b r / p d t l 2 / s u b. p h p ? o p = e n t re v i s t a s / d o c s /entrevistaThiago

Leia o Estatuto do Homem, em:http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p01/p011101.htmhttp://www.revista.agulha.nom.br/tmello.html#estat

Para visualizar a foto acesse: http://www.revista.agulha.nom.br/tmello.html

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Lição 2: A aprendizagem é essencial ao desenvolvimento

Há, no campo da Psicologia, toda uma discussão teórica sobre as relações entre desenvolvimento e aprendizagem. Segundo Piaget, por exemplo, a aprendizagem é uma função do desenvolvimento psicológico. Nesse sentido, quando uma pessoa está aprendendo (ou construindo conhecimentos), ela está em processo de equilibração. Isto é, está “assimilando” os “novos” elementos aos seus esque-mas mentais, ou “acomodando” as suas estruturas mentais. Transformando-as por causa dos elemen-tos que precisam ser assimilados (Piaget, 1964).

Vygotsky explica o processo de desenvolvimento em dois níveis básicos: o que considera o “real” (aquilo que a pessoa já conquistou ou desenvolveu) e aquele que é o “potencial” (aquilo que a pes-soa pode chegar, com a ajuda do outro). Então têm-se o desenvolvimento real, o desenvolvimento potencial e a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que é a distância entre ambos. Exemplo disso é o que ocorre com uma criança que não dá conta de fazer determinada atividade sozinha, mas que pode fazê-la se recebe a ajuda de uma outra criança ou de um adulto. Há, pois, em Vygotsky, uma im-portância fundamental do “outro”, além dos elementos culturais, no processo de desenvolvimento. Para ele, a aprendizagem possibilita o desenvolvimento (VYGOTSKY, 1991).

Não cabe agora um aprofundamento sobre os teóricos ou sobre as suas teorias do desenvolvi-mento ou da aprendizagem. No momento, o mais importante é você entender que a idéia de apren-dizagem envolve, de certa forma, a de desenvolvimento e vice-versa. Cada vez que conseguimos fazer algo que antes não conseguíamos, sabemos que aprendemos isso. Do mesmo modo, isso pode revelar o alcance de um nível maior de desenvolvimento.

Por exemplo, nesse curso que se inicia, você certamente terá uma série de experiências de apren-dizagem que poderão vir a ser muito úteis, principalmente pelo fato de você não estar nele por obrigação. O que lhe trouxe aqui foi algo que o motivou e fez todo o sentido para você. Ao aumentar

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o seu empenho nos estudos, as chances são de que perceba que uma das conseqüências da sua aprendizagem é o seu efetivo desenvolvimento pessoal e profissional. Esse desenvolvimento pode ajudá-lo em novas aprendizagens no âmbito do curso e fora dele.

Não dá para separar essas coisas, não é mesmo? Falar em aprendizagem e desenvolvimento é, também, falar sobre percepções, sentimentos e experiências, que são coisas muito subjetivas. Cada pessoa percebe e sente as coisas e o mundo do seu jeito. Do mesmo modo, desenvolve (aprende) determinados sentimentos em relações a elas. Cada pessoa tem estilos e ritmos diferenciados de aprender e de valorizar o que vê, faz e sente. Ou, em outras palavras, o que vivencia.

Pense no seu caso agora: do que leu até aqui, o que teve mais sentido para você? O que lhe pôs para pensar mais? O que lhe emocionou? O que lhe fez voltar a momentos ou experiências – po-sitivas ou negativas – anteriores da sua vida? Não sendo, necessariamente, uma pessoa da área da educação ou da psicologia, você já tinha pensado na aprendizagem assim de forma tão “íntima”?

Quer dizer, tão presente na sua vida, nas das pessoas ao seu redor e no contexto onde vivem e, ain-da, de um modo tão intenso? Já tinha pensado sobre quantas aprendizagens novas ainda precisam ser feitas em relação, não a conteúdos de uma ou outra disciplina, mas em relação à vida?

Veja só, se de algum modo o que leu até aqui lhe surpreendeu, lhe fez parar para pensar e, quem sabe, eliminar preconceitos, redefinir conceitos, reordenar valores, então você está aprendendo e participando da construção da sua autonomia. E melhor: perceba que para pensar ou refletir sobre coisas da sua vida você não precisa mais ficar “preso” ao meu texto. Ele passou a ser o que precisa ser mesmo: cada vez mais um “pretexto”, ou melhor, uma referência apenas, uma orientação para você criar as trilhas da sua caminhada, como um aprendiz autônomo. Um aprendiz no curso e um apren-diz da vida. Alguém em processo de aprendizagem e de desenvolvimento. E veja que tudo isso está ocorrendo numa situação de ensino a distância!

Bom, penso que agora vai ser preciso parar, para juntos pensarmos sobre uma coisa bem especí-fica: o significado do conceito de “ensino a distancia” para você. O que é “distante” e o que é “perto”? Você já sentiu alguém que estava geograficamente muito longe, até em outro país e continente, estar muito perto de você e vice-versa? Eu já senti e já vi muitas pessoas assim – perto-longe e longe-perto.

Qual a distância do perto? Qual o perto do distante? Percebeu como o significado das coisas e das situações são atribuições ou criações nossas? Depois desse filosofar sobre a relatividade do perto-longe, pergunto: por algum acaso o seu conceito de ensino a distância já se modificou do começo do módulo até aqui? O que você acha?

Sabe o que penso disso? Que a sua resposta foi sim. E sabe por quê? Por que a sua aprendizagem agora não se funda no que você ouviu falar, mas no que está vivendo na prática. Uma aprendizagem construída a partir dos nossos diálogos. Das reflexões e questionamentos que vem fazendo na me-

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dida que lê, certo?

Penso que nada nos é tão íntimo e próximo quanto o diálogo que fazemos com nós mesmos. É nesse espaço onde nos encontramos. Nele habita a nossa identidade. Lá temos a liberdade de atar-mos e desatarmos os vários nós que a vida vai produzindo. Não são poucos. Falo do conjunto das percepções e dos sentimentos relativos ao ser com o outro, a nós mesmos, e aos outros. Falo do que pensamos e sentimos sobre nós. Falo do que gostaríamos de ser. Falo do que achamos que os outros pensam e sentem sobre nós. Falo do que gostaríamos que os outros sentissem e pensassem sobre nós.

Saber ouvir e saber dialogar conosco é, também, uma aprendizagem necessária na vida. É um modo de nos encontrarmos como nós mesmos. Conheço muita gente que adia o quanto pode esse encontro. E se complica cada vez mais como pessoa. Conheço outras que precisam de ajuda para fazê-lo e, para tanto, buscam pessoas amigas ou profissionais especializados. Sei de outras que nunca tentaram se encontrar, conhecer-se mais de perto. E você?

Há ainda aquelas pessoas que se encaram com tranqüilidade pois sabem que embora nesse en-contro pessoal possa haver sofrimentos, não saem dele do mesmo tamanho. Ao se analisarem aca-bam por se tornarem melhores pessoas. Nesse caso, já aprenderam a lidar com estratégias úteis como a de não olhar para o passado com a cabeça e os valores do presente e não dar a ninguém o direito de magoá-las. Aprenderam, também, sobre o limite do humano e, assim, são mais capazes de se perdoarem e de perdoar.

E você, que encontros tem tido ou precisa ter com você? Mas veja: estou só levantando o assunto, pensando alto. Sei que esta é uma questão da sua vida privada. Não espero que me dê resposta.

Vamos voltar ao fio da meada. Tudo isso começou quando falávamos da relatividade do perto-longe. Então refaço a pergunta de antes, de uma maneira diferente: a educação a distância não lhe parece algo mais perto, mais palpável, algo que pode lhe ajudar mesmo a aprender? Quantas coisas aprendemos, desde o começo, sobre a aprendizagem e sobre a aprendizagem a distância? Tudo não ficou mais perto ou mais próximo, com mais sentido para você agora?

Devo dizer que, pessoalmente, gosto dessa direção de aproximação que estamos tendo por meio desse diálogo do ensinar e do aprender. Ambos fazemos as duas coisas: ensinamos e aprendemos. Há muito que vivenciamos os caminhos do ensinar e as trilhas do aprender.

Sinto brotar e florescer uma das mais belas aprendizagens: o aprender a ser. A aprendizagem do humano. Aquela que reordena valores. Seleciona prioridades. Emprega adequadamente as energias da vida. Experimenta a ternura e a “leveza do ser”, sem, contudo, deixar de situar-se, critica, reflexiva e ativamente no seu espaço e tempo social, histórico, pessoal e profissional.

Deixe-me agora retomar uma outra idéia. A de que as percepções, os sentimentos e as experiên-

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cias são coisas muito subjetivas e, como disse, cada pessoa percebe e sente as coisas e o mundo ao seu modo, lembra-se?

No momento, reafirmo que não dá mesmo para fazer generalizações entre as pessoas e nem mes-mo em relação a uma mesma pessoa. As pessoas criam as suas subjetividades, constroem-se e mu-dam, conforme as suas circunstâncias. Mas claro, ninguém muda seu jeito de ser, o tempo todo. Se fosse assim, seria até difícil sabermos quem realmente somos e quem é o outro, com quem convive-mos. É difícil aprender a nos conhecer e, muitas vezes, até a nos aceitarmos como somos ou achamos que somos.

O mesmo digo em relação ao conhecimento e à aceitação do outro em nossas vidas. Não é à toa que muita gente tem problemas ao relacionar-se com as demais pessoas. Bom, já começa que não é fácil nos relacionarmos com nós mesmos. Esta é também uma aprendizagem. Sua base precisa ser muito bem trabalhada na infância. É lá que tudo começa.

Até aqui, falamos da aprendizagem e do desenvolvimento tendo como referência as pessoas. Ocorre que esses não se referem apenas aos indivíduos, mais dizem respeito, também, aos grupos, às comunidades, às organizações e à sociedade, numa perspectiva mais ampla.

A idéia de que os grupos e as organizações aprendem não é nova. Um dos seus pioneiros foi Kurt Lewin (1890-1947), psicólogo alemão que trabalhou em universidades americanas e principalmente no Massachusetts Institute of Technology (MIT) - Instituto Tecnológico de Massachuset - MIT, onde criou o Centro de Pesquisas em Dinâmica de Grupo. Pelas suas contribuições teóricas e metodológi-cas (pesquisa-ação) Lewin é hoje reconhecido como o pai da psicologia social.

Conhecer a biografia de autores é entender um pouco do seu tempo. Há sempre coisas novas para aprender e para admirar.

Se quiser conhecer mais sobre a vida de Kurt Lewin, leia a sua biografia (em inglês) em: http://www.nvc.vt.edu/alhrd/Theorists/Lewin.htm ou (em português, traduzido do espanhol)http://www.infoamerica.org/teoria/lewin1.htmLivros em Português:

LEWIN, Kurt. Teoria de Campo em ciência social. Trad. de Carolina Martuscelli Bori. São Paulo: Pioneira Ed. (1963, 1965)

___________ (1973): Princípios de psicologia topológica. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix.

___________ (1975): Teoria Dinâmica da Personalidade. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix.

___________ (1970, 1973, 1983, 1989): Problemas de dinâmica de grupo. Trad. de Miriam M. Leite. São Paulo: Cultrix.

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Hoje, um dos autores mais reconhecidos nos estudos e pesquisas sobre as organizações de apren-dizagem é Peter Senge, que cunhou o termo “organização que aprende”. Como Kurt Lewin, seus es-tudos e pesquisas estão associados ao Instituto Tecnológico de Massachuset - MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos.

Segundo esse autor, os indivíduos e as equipes, bem como as comunidades maiores, têm capaci-dade para aprender. Isto é, todos podem de modo consistente, intensificar suas capacidades para o aprender, ou o que chama de suas capacidades de “produzir resultados que lhe sejam verdadeira-mente importantes” (SENGE, P. M. (org.), 1999:62).

Segundo Senge, trabalhar na perspectiva de uma organização de aprendizagem é tomar as pessoas como o mais importante no processo de mudança. Assim, se uma organização precisa mu-dar, ela precisa engajar as pessoas que a compõem nesse processo.

Nos processos das organizações, Senge dá atenção especial ao que considera “as cinco discipli-nas de aprendizagem”. São elas: 1) domínio pessoal; 2) modelos mentais; 3) visão compartilhada; 4) aprendizado em equipe; 5) pensamento sistêmico.

Se quiser se aprofundar no pensamento do autor, leia o seu livro – “A quinta Disciplina”. Ele foi pu-blicado aqui no Brasil em 2004, pela editora Best Seller.

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Lição 3: Todos somos aprendizes

Isso significa que mesmo antes de nascer temos a capacidade de aprender, aprendemos de fato e, nesse processo, estamos sempre sendo influenciados pelo meio.

Apesar de alguns pais e, também alguns professores dos diferentes níveis de ensino, acharem que algumas crianças não conseguem mesmo aprender ou, como ouvi recentemente de uma professora, em Santa Catarina, que há alunos que “se recusam” a aprender, este é um pensamento falacioso.

Ora, quando uma criança pequena chega ao ensino fundamental, por exemplo, ela já tem uma série de aprendizagens e, inclusive, já “opera” bem os mecanismos necessários para o funcionamento mental próprios da nossa espécie.

Essa criança já tem uma das marcas próprias do humano: o pensamento simbólico. Crianças pe-quenas logo aprendem a usar a sua capacidade de criar símbolos. Isto é, de criar representações sobre as coisas, a partir dos elementos da cultura em que vivem.

Aliás, a capacidade de aprender começa ainda no útero, e se prolonga ao longo da vida. O feto reage ao ambiente, seja na forma de estímulos térmicos, seja nas reações que apresenta frente a estímulos outros, como os tácteis ou sinestésicos.

Por acaso você já teve a oportunidade de observar ou de conviver de perto com uma criança de dois anos?

Se a sua resposta foi positiva, pergunto: ‘Quem manda no pedaço?” Não tenho dúvidas de que você sabe que essas crianças, ainda que bem pequenas, são capazes de coisas que nem esperamos, não

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é mesmo? Nessa idade, em geral, uma criança já aprendeu bem a relacionar os objetos concretos, os símbolos e os conceitos comuns à sua cultura. Aprendeu a articular e integrar o que for necessário para conseguir que atendam às necessidades do seu cotidiano. Do choro, ao olhar. Do olhar à palavra. Não é sem propósito que as pessoas dizem que: “criança diz cada uma!”.

Dizer que somos todos aprendizes não quer dizer que tenhamos as mesmas capacidades de apren-der. Nesse sentido temos um desafio diante de nós: o que fazer para ampliar e valorizar as formas e a diversidade do aprendizado, entre as diferentes pessoas, com estilos e ritmos de aprendizagem variados e vivendo em contextos histórico-culturais diversos?

É hora de perguntar: que tipo de aprendiz você é nesse curso? Já pensou sobre isso?

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Lição 4: A Aprendizagem é uma forma de apropriação

Nessa lição, o aprender passa a ser sinônimo de “apropriar-se”. E o que é isto? Bom, se consultar o dicionário (no caso, o Michaelis, 2000) verá que o verbo apropriar é assim definido: 1. “tornar pró-prio ou conveniente. 2. Adaptar, adequar, aplicar, atribuir. 3. Apoderar-se, apossar-se de alguma coisa como própria (...)”. Já o vocábulo “apropriação” (apropriar + ação) é definido como: “Ato ou efeito de apropriar. 2. Acomodação, adaptação”.

Nesse mesmo dicionário se você buscar o verbo aprender vai verificar que lá está escrito o seguin-te: “Ficar sabendo, reter na memória, tomar conhecimento de (...)”. Já na palavra “aprendizagem” você vai achar o seguinte: “Ação de aprender qualquer ofício, arte ou ciência. 2. O tempo gasto para apren-der uma arte ou ofício. 3. Denominação geral dada a mudanças permanentes do comportamento como resultado de treino ou experiência anterior; processo pelo qual se adquirem essas mudanças”.

O que você pode concluir disso? Que ao aprender as pessoas adquirem ou se apropriam de algo – conceitos, atitudes ou comportamentos, conhecimentos, competências, habilidades, valores e ou-tros. Contudo, isso não se dá de forma mecânica, automática ou impessoal. Essa “apropriação” envol-ve sentimentos, emoções e esses compõem algo maior: o significado.

Agora mesmo, nesse curso, quanto mais conseguirmos que os conteúdos curriculares entrem em sintonia com as coisas que você já sabe e valoriza, ou ainda, com as coisas que lhe tocam e emocio-nam, maiores serão as chances de você aprender. Mas isto depende muito de você. E não poderia ser diferente. Você se conhece bem mais do que nós o conhecemos.

Antes de passar para a próxima lição, gostaria de chamar atenção para algo. Para o cuidado que devemos ter quando usamos um dicionário. É certo que o uso do dicionário ajuda-nos a compreen-der as coisas. Mas um conceito precisa mesmo ser considerado no contexto de seu campo de co-

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nhecimento teórico mais específico. No caso, na psicologia não acharíamos a aprendizagem definida como “mudanças permanentes” (do comportamento). O mais adequado seria se falar em tendência, em mudanças relativamente permanentes no comportamento. Percebeu a diferença? Há sempre a possibilidade de novas mudanças. A única coisa que não muda é a nossa capacidade de mudar. Sem ela não poderíamos aprender. A memória também é importante na aprendizagem, mas apenas estou lembrando isso. Não é o caso de explorar esse tema agora.

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Lição 5: A aprendizagem é um aspecto específico da nossa experiência pessoal e social

Muito do que já foi falado nas “lições” anteriores de uma ou outra forma inclui o que o título des-sa quinta lição sugere. Contudo, o destaque que quero dar agora tem a ver com a idéia da apren-dizagem em termos de experiência pessoal. Aprendemos por experiência e da experiência. Cada aprendizagem é única e intransferível. Não há como transferir as experiências de uma pessoa para outra. O máximo que podemos fazer é relatá-las. Tentar que o outro apreenda o significado dela para nós, imite-nos e até, se preciso, tentar que não enveredem pelos mesmos caminhos, caso tenhamos tido uma experiência negativa. Podemos até tentar dar conselhos aos outros baseados nas nossas experiências. Contudo, apesar da advertência do ditado popular: “Ainda que sejas prudente e velho, não desprezes o conselho”, isso em nada garante que este será levado em consideração, e, portanto, ensine.

Essa quinta lição refere-se, ainda, ao fato do antes falado: ninguém aprende no lugar de ninguém. O que você não fizer pela sua aprendizagem, ninguém fará no seu lugar. Essa quinta lição sobre a aprendizagem inclui outros “conteúdos programáticos”. Ou seja: a idéia de que a educação, a apren-dizagem, o desenvolvimento e o ensino se relacionam com o contexto e a cultura. Como já deu para perceber, a aprendizagem integra o nosso cotidiano.

Quanto mais prestarmos atenção ao processo ensino-aprendizagem, mais vamos perceber que singularidades e diversidades estão envolvidas no ato de aprender e do ensinar. Aprendemos tam-bém que, em geral, a aprendizagem envolve mudanças. Assim como o processo do desenvolvi-mento, a aprendizagem não é um processo linear. Falar em aprendizagem é falar num fenômeno complexo que ocorre sob múltiplas determinações, ao longo da vida.

Em toda aprendizagem, como a sua agora, há graus variados de complexidade ou de dificuldade, dependendo de vários fatores, sendo que um dos mais decisivos é a experiência e o conjunto de

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conhecimentos anteriores de quem aprende, em relação ao que está sendo aprendido. Para dife-rentes pessoas e para uma mesma pessoa, a aprendizagem pode ser vivida como uma experiên-cia desafiadora e prazerosa, mas pode também ser algo sofrido, humilhante, que leva ao estresse e à sensação de fracasso. Quando isso ocorre, cria em nós, o desejo de nos afastarmos de tudo que possa lembrá-la. Isso explica os verdadeiros “êxodos” provocados pela incapacidade da escola de ensinar e de seduzir para a aprendizagem.

Sabe o que quis dizer quando me referi ao fato de que a aprendizagem integra o nosso coti-diano? Que como o desenvolvimento, a aprendizagem é algo que se constrói no espaço da vida. Isto é, nesse espaço onde nascemos e vivemos. Nesse mesmo espaço onde formamos as nossas subjetividades, onde vivemos o individual e o coletivo, onde sentimos na pele os seus conflitos e contradições, onde construímos as nossas representações sociais do que percebemos, buscando compreender ou explicar o mundo para nós e para os outros, onde tentamos transmitir e cons-

truir conhecimentos, onde trabalhamos com ações mais repetitivas ou somos mais criativos e partimos para inovações. Esse espaço, como nos lembra Lima (1989), não é vazio de matéria ou de significado e tampouco imutável, pois a dinâmica nele existente permite que seja, con-

tinuamente, construído e destruído pelos homens ou pela natureza.

Quando penso num ensino focado na aprendizagem, como o que quero fazer valer agora, preciso pensar que como autora e professora desse curso, tenho que ajudar você a aprender algo

já complexo, como a aprendizagem – no caso, como aprender a aprender na educação a distância, no meio de toda essa complexidade de elementos e de múltiplas determinações que influenciam a sua aprendizagem e configuram o seu espaço de vida. Daí o meu esforço de estar sempre querendo “ficar perto”, dialogando, fazendo perguntas. Dando o tempo que você precisa para parar e pensar. Faz parte do processo.

Penso que essa complexidade não é só sua. Mas é uma realidade de seus colegas. É, também, a minha realidade e de toda a nossa equipe. Enfim, faz parte da teia da vida de todos. E o modo mais prático de se lidar com a complexidade é torná-la simples. Ao menos na sua compreensão. Para isso, precisamos entendê-la. Estudar, buscar explicações, criar modelos explicativos da realidade e ensinar pelo diálogo, como agora tento, são boas trilhas. Isso pode nos ajudar a simplificar (entender, domi-nar) a realidade, que é complexa. Nesse ponto estamos muito próximos de uma expressão atribuída a Kurt Lewin: “nada mais prático do que uma boa teoria”.

Considerar a complexidade da vida em suas relações com o aprender e o ensinar é entender o mundo como um todo indissociável. Como o desenrolar de um processo em movimento e trans-formações: o processo da vida. A aprendizagem e o ensino nele se inserem. Portanto, não há como se falar na construção de conhecimento sem que se tenha uma abordagem multidisciplinar. Não há fronteiras mesmo no conhecimento. Atribuímos a ele “áreas” e falamos em “áreas do conheci-mento”, em objeto de estudo dessa ou daquela disciplina científica, para facilitar a nossa ação e relação com ele, concorda?

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Depois de tudo que falamos sobre o aprender e o ensinar, tenho duas outras pergunta para você. Pare, pense e me responda:

• Há aprendizagens sem ensino?• E o que você me diz sobre o seu contrário: podemos falar de ensino sem aprendizagem?

É certo que há aprendizagens sem ensino. Às vezes elas são tão corriqueiras que nem nos damos conta que o que fazemos foi fruto de uma aprendizagem sem ensino. Um exemplo? Ficar repetindo (cantando) uma música que você ouviu no rádio antes, fazer um determinado prato no almoço, que observou alguém preparar e assim por diante.

Bom, agora falar em ensino sem aprendizagem é totalmente sem sentido. De fato, no âmbito da educação, não há como falar em ensino, sem a ocorrência da aprendizagem. Ora, o objetivo do ensi-no é justamente esse: que o ensinado seja aprendido. Se não foi, não houve ensino. Ou, pelo menos, não o intencional. Pode ocorrer, por exemplo, de se tentar ensinar matemática e apenas se conseguir ensinar a se ter medo de matemática. É preciso sempre, aprender a ensinar e aprender a aprender. O ensino é uma realidade relacional. Quem ensina e quem aprende precisa saber:

• Quem são as pessoas dessa relação;• Que experiência e conhecimentos prévios existem;• Que “ferramentas” já se dispõe para a caminhada do aprender e quais ainda precisam ser

obtidas;• Em que ponto cada pessoa está;• Que direção tomar;• Como encontrar e encontrar-se.

O ensino e a aprendizagem podem e devem estar associados nos diferentes níveis e modalidades da educação. Daí a relevância de buscarmos desenvolver uma aprendizagem significativa. Não só do ponto de vista de quem ensina, mas significativa, também, para a pessoa que aprende.

O que quero dizer com isso?

Que o aluno precisa ver sentido no que está aprendendo. Que o seu curso seja capaz de seduzir, motivar, envolver e comprometer. Que o que se pede aos alunos, em termos avaliativos, seja algo criativo e desafiador. Que se saiba como aproximar os alunos, transformando os espaços educativos em locais que favoreçam a emergência do conhecimento.

Para isso, há que se ter um ambiente flexível e confiável, onde o aluno saiba que há uma abertura para a escuta, para o diálogo e para a troca de idéias. É igualmente importante atentar para o fato de que aquilo que se aprende deve ser útil para a vida do aluno. Que ele possa aplicar os seus conhe-cimentos no seu cotidiano e tenha uma vida melhor, a partir deles. Finalmente, é preciso que essa aprendizagem ajude o aluno a ser mais atuante, como cidadão. É preciso, pois, pensar para além do

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semestre ou do ano escolar. Na vida, o calendário que conta é um outro.

Nesse sentido da aprendizagem colaborativa no ensino presencial e, principalmente, no ensino a distância, é de todo possível e desejável se pensar na construção de uma rede colaborativa de ensi-no-aprendizagem. O uso da plataforma do curso ajudará muito nisso. Use-a e ajude e incentive seus colegas a usá-la.

Agora que você já ampliou sua compreensão sobre a aprendizagem, vamos passar a dialogar so-bre a educação a distância. A abordagem a seguir será sintética e buscará trazer para você o signifi-cado do termo e ainda um pouco da sua história. Veja que você já começa a fazer parte da história brasileira da educação a distância. Nesse caso, seus melhores resultados nesse curso serão bons para você e para nós, também, porque com isso você nos dará força para continuarmos nossa luta pela democratização do acesso ao conhecimento, pela educação a distância.

E aí? Como foi a experiência dessas cinco lições de aprendizagem? Pelo que leu, deu para ver que quase podemos dizer que “tem muito chão” ou “muito pano para manga” quando começamos a falar sobre a aprendizagem?

Você não acha que diálogos assim precisavam ser mais freqüentes em cursos de formação de professores, de todos os níveis? Não é que eles não existam, mas é que quando chega na hora do “vamos ver”, na hora da “prática mesmo”, o professor muitas vezes não sabe aplicar os conhecimen-tos aprendidos e fica se perguntando, aquilo que uma aluna de Pedagogia e professora no ensino fundamental me contou: “Onde está Piaget?” E o Vygotsky? Onde andam? Será que só na prática se descobre sobre a prática? Não tem outro jeito de “trocar em miúdos” a relação teoria-prática? Penso que não.

Antes de passarmos para a próxima parte, você já sabe: se sentir necessidade, pare um pouco. Vou estar aqui lhe esperando. Uma coisa já deu para notar – adoro conversar! Vá lá. Pare, descanse e de-pois volte aqui. Tem muita coisa boa para falarmos ainda. Me recuso a ficar aqui falando sozinha. Sem você, esse texto não existe. Você, suas experiências e reflexões é que o tornam vivo. Nenhum texto existe sem o seu leitor. E, se na sua parada você for tomar um cafezinho, não esqueça de trazer um pouco para mim. Sem açúcar, por favor.

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Diálogos sobre a Educação a Distância 3

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Como sabemos, a história da educação a distância não é nova nem no mundo nem em nosso país. Hoje ela está disseminada em todos os continentes, da educação infantil aos cursos de pós-graduação, incluindo mestrado e doutorado, e tem tido avanços enormes e se expandido com o uso das Tics. No Brasil, muito do que se faz hoje é por meio de material impresso. Boa parte disso deve-se ao fato de que este é, ainda, o que facilita o acesso ao conhecimento já que o computador não está tão disseminado como se gostaria e, mesmo que estivesse, nem sempre isso significa acesso à internet.

É certo que há uma experiência acumulada na área. Contudo, têm-se ainda o que vem marca-do parte da história da educação a distância: o não-reconhecimento do seu valor, sendo vista como um ensino de “segunda categoria” , além do relativo pouco caso que se dá à necessidade de sua expansão para todos os níveis de ensino. No ensino superior se admite a possibilidade de cursos de graduação com partes presenciais e partes a distância e seu uso em mestrados profissionalizantes, mas não nos chamados mestrados acadêmicos. Menos ainda em cur-sos de doutorado como é o caso, por exemplo, de alguns países europeus, do Canadá e dos Estados Unidos.

Contudo, essa realidade está mudando. Os fatos são os argumentos. Um dos mais significativos deles é a evidência de que não há como desenvolver programas de edu-cação continuada de impacto, junto aos adultos, sem a educação a distância. Adultos não têm tempo ou têm pouca disposição para voltarem aos bancos escolares ou às salas de aula das universidades, diariamente. Contudo, têm necessidades e interesses no prosseguimento da sua formação. Frente a isso, faz todo o sentido se pensar, no âmbi-to das políticas públicas, em programas de educação continuada e em cursos a distância.

No Brasil, a educação a distância existe desde a década de 1920. Contudo, sua valorização formal só veio a ocorrer com a Lei nº 9394/96 – a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que a legitimou como parte do sistema de ensino. Os eventos principais das iniciativas pioneiras na área, entre os anos de 1920 e 1950, foram:

• 1919 - Rádio Clube de Pernambuco;• 1923 - Fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (Roquete Pinto e Henrique Moritz);• 1934 - Doação, por parte de Roquete Pinto, dessa rádio para o Ministério da Educação e

Saúde, que passa a chamar-se de Rádio-Escola Municipal do Rio de Janeiro;• 1937 - Criação do Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da

Educação;• 1939 - Criação, em São Paulo, do Instituto Rádio-Técnico Monitor (cursos

por correspondência);• 1941 – Fundação do Instituto Universal Brasileiro;• 1943- Lançamento de cursos bíblicos por correspondência, pela Igreja Adventista

Brasileira;• 1957 - Criação do Sistema Radioeducativo Nacional (programas educativos a serem

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transmitidos por um conjunto de emissoras, em todo o Brasil);• 1958 - Serviço de Assistência Rural-SAR (Diocese de Natal, com foco na educação popular.)

Depois dessas décadas iniciais e, principalmente, depois da LDB e com o aumento do uso das Tics, a educação a distância tem se expandido no Brasil.

Se você olhar a história, verá que começamos bem. Pelo rádio. Não sei se você sabe, mas naquela época havia um sonhador que queria disseminar a educação, a arte e a cultura pelo rádio. Você sabe que figura foi essa? Foi Roquette Pinto (1884-1954). São deles as palavras:

“O rádio é a escola dos que não têm escola. É o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças, o conso-

lador dos enfermos e o guia dos sãos – desde que o realizem com espírito altruísta e elevado”.

Conheça Roquette Pinto

Considerado o pai da radiodifusão no Brasil, Roquette Pinto é um nome importante na historia da educação e da cultura brasileira. Sua biografia inclui os traços da pessoa multidisciplinar que era: médico legista, professor, antropólogo, etnólogo e ensaísta,

Descubra porque seu nome está ligado à história do cinema brasileiro. Sem dúvidas Roquette Pinto merece toda a nossa admiração. Vale a pena conhecê-lo. Veja se não tenho razão. Consulte, por

exemplo, os seguintes sites:http://www.biblio.com.br/conteudo/biografias/roquettepinto.htmhttp://www.radiomec.com.br/roquettepinto/ohomemmultidao.asp

http://www.radiomec.com.br/roquettepinto/http://pt.wikipedia.org/wiki/Roquette-Pintohttp://secis.mct.gov.br/index.php?action=/content/view&cod_objeto=16549 http://www.microfone.jor.br/roquette.htm

Para visualizar a foto acesse http://www.radiomec.com.br/roquettepinto/

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Depois das duas emissoras iniciais, o rádio teve um grande crescimento no Brasil. Em 1930, Carmen Miranda fez um enorme sucesso com a música “Taí”. A expansão das rádios significava ter condi-ções de se manter, o que requeria patrocinadores. Desse modo, introduziu-se os primeiros “reclames”, como se chamavam as propagandas veiculadas no rádio. Com eles, os patrocinadores passaram a influir de modo direto ou indireto,nas programações.

Para Roquete Pinto, esse novo direcionamento imposto às rádios, não combinava com a proposta de uma rádio-educativa. Tal postura o fez perder para a concorrência. Sem condições de manter sua rádio no ar, acabou por doá-la ao Ministério da Educação, sob a condição de que fosse usada apenas para programas educativos. Nada de se veicular propaganda comercial, política ou religiosa. Conseguiu. É a atual rádio MEC.

Isso se deu na época de Getúlio Vargas. Vendo o potencial de uma rádio, o Presidente propôs que essa doação não se desse pelo então Ministério da Educação (Capanema era o Ministro), mas por meio do Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (que mais tarde se transformaria no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do Estado Novo. Contudo, isso não foi aceito por Roquette Pinto, que mandou dizer ao presidente que a sua doação era para o “Ministério de Educação do povo, não ao governo”. A rádio foi mesmo para o Ministério da Educação, como se sabe. Na época, o chefe de gabinete do ministro era Carlos Drummond de Andrade que, 25 anos depois, escreveu uma bela crônica sobre o que testemunhou. Ao descrever a cerimônia da doação, ocorrida em 7 de setembro de1936, disse o poeta que ela,

“tinha qualquer coisa de casamento no seio de uma família muito unida, que via a filha sair nos

braços do rapaz escolhido livremente; sim, um excelente rapaz, tudo estava ótimo, os dois seriam muito felizes – mas... quem sabe?”

Certamente as suas palavras se inspiraram naquilo que ouviu de Roquette Pinto naquele momen-to: “Entrego esta rádio com a mesma emoção com que se casa uma filha”.

Continuando a sua descrição desse fato, ele diz:

“Roquette saiu dali com Beatriz (sua filha) para um pequeno corredor nos fundos do andar e cho-rou de antecipada saudade. (...)”

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Quer saber mais?

Essa história sobre a origem da Rádio MEC mostra como por trás dos fatos históricos, principalmente os relacionados à educação, há muitos sonhos, emoções, a consciência dos limites, a busca de caminhos.

O aqui relatado você pode ler, com mais detalhes, no site da Rádio MEC. Leia todo o artigo: “Roquette Pinto: O Homem Multidão”, de Ruy Castro. O endereço é: http://www.radiomec.com.br/roquete_radio/texto.htm#rj-pr1a

Voltando para a história da educação a distância, penso que, de certa forma, muito dos precon-ceitos que levam ao seu não-reconhecimento, quer como um campo de conhecimento específico, quer como uma metodologia específica e diferenciada de se ensinar e de se aprender, deve-se à sua origem. Isso porque muito dos esforços iniciais, como os dos cursos por correspondência e mesmo a experiência pioneira da Igreja Católica do Rio Grande do Norte, com o SAR, eram destinados à edu-cação da classe trabalhadora ou das classes populares e, por isso, foram associados à idéia de uma educação de segunda categoria.

Isso era, e continua a ser, um equívoco. Ainda hoje se pensa em propostas educacionais pobres para a classe pobre. Basta pensar sobre a situação de muitas creches “assistenciais” ou “comunitárias” que existem nas periferias das grandes cidades. Verdadeiros “depósitos” de crianças. E ainda se ar-gumenta que é melhor ter “qualquer tipo de atendimento” do que não ter nenhum. Que equívoco! Tanto mais que estamos falando sobre bebês e crianças pequenas numa fase muito crítica de suas vidas. Mas as creches não são os únicos exemplos. Há, por nesse Brasil afora, muitos cursos e faculda-des que não poderiam existir, pela baixa qualidade em geral. Novamente, essa é uma outra história a ser debatida. Mas não no âmbito dos objetivos desse módulo.

Como estava falando, o reconhecimento formal da educação a distância veio com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, de 1996, que lhe dedicou todo o seu Artigo 80. Conheça-o a seguir:

Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. § 1º. A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União. § 2º. A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a distância. § 3º. As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação a distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas. § 4º. A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá:

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I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens; II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas; III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais.

Veja que é preciso credenciamento junto ao MEC, para poder ministrar cursos a distância. Se a UnB não tivesse sido registrada no MEC para isso, não poderíamos estar dando esse curso em que você está agora.

Há referência à educação a distância também nas disposições transitórias, quando há referência a programas de capacitação de professor. Essas disposições transitórias compõem o Artigo 87, que institui a “Década da Educação”, a ser iniciada “um ano a partir da publicação desta Lei”. Veja, a seguir, os termos da lei:

§ 3º. Cada Município e, supletivamente, o Estado e a União, deverá: I - matricular todos os educandos a partir dos sete anos de idade e, facultativamente, a partir dos seis anos, no ensino fundamental;II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e adultos insuficientemente escolarizados;III - realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a distância.

Você Sabia?

O Decreto que regulamenta o Artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) só surgiu dois anos depois. Trata-se do Decreto nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, assinado pelo então presidente do país, Fernando Henrique Cardoso.

Houve já alterações em seus artigos 11 e 12, pelo Decreto nº 2.561, de 27 de abril de 1998. Para conhecer esses Decretos, consulte: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/d2494_98.htm (acesso em 5.6.2006).

Para saber mais sobre a Regulamentação da EAD no Brasil, consulte a SEED/MEC – Secretaria de Educação a Distância/Ministério da Educação: http://www.mec.gov.br/seed/regulamenta.shtm

Depois da LDB, outros fatos mostram o crescente reconhecimento formal da educação a distância pelo Governo. São eles:

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• 1996 – Criação, no MEC, da Secretaria de Educação a Distância-Seed (Decreto nº 1.917) Nesse ano surgiu um importante programa dessa secretaria: a TV Escola• 1997 – Criado o Programa Nacional de Informática na Educação-ProInfo (Portaria MEC nº 522).

Ainda em 1997 tivemos:

1. MEC/CAPES/SEED - Programa de Apoio à Pesquisa em Educação a Distância - Paped (apoio fi-nanceiro para dissertações ou teses relativas à educação a distância ou a tecnologias da informação e da comunicação (TICs) aplicadas à educação.

2. Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação - Resolução que fixa condi-ções para validade de diplomas de cursos de graduação e de pós-graduação em níveis de mestrado e doutorado, oferecidos por instituições estrangeiras no Brasil, nas modalidades semipresenciais ou a distância.

• 1998 – Decreto nº 2.494 regulamenta a educação a distância no país.

Ainda em 1998, tivemos:

1. MEC – Portaria nº 301 (normatiza as formas de credenciamento de instituições de ensino, para a oferta de cursos a distância – em nível de graduação e educação profissional tecnológica.

• 1999 – MEC - Programa de Formação de Professores em Exercício-Proformação, iniciado em cará-ter experimental nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

• 2000 – MEC - Portaria nº 495 - comissão de técnicos desse ministério e de outros órgãos federais e estaduais para o desenvolvimento, na UniRede de projetos, critérios, padrões e procedimentos para a organização de cursos superiores de graduação a distância.

Ainda em 2000:

1. Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT - Portaria nº 129, que constitui grupo de trabalho para elaborar projeto de infra-estrutura tecnológica com o objetivo de implantar a Universidade Virtual Pública do Brasil.

2. Consórcio Universidade Virtual Pública do Brasil- UniRede ( Termo de Adesão assinado por reito-res e diretores de 62 instituições federais, estaduais e Centros de Educação Tecnológica). No mesmo dia, o MEC e a UniRede assinavam convênio para a realização do curso de extensão a distância A TV na Escola e os Desafios de Hoje, iniciado em outubro do mesmo ano. A UniRede é um desdobramen-to do Consórcio Interuniversitário de Educação Continuada e a Distância-Brasilead.

Uma iniciativa mais recente do Governo Federal é a Universidade Aberta do Brasil - UAB.

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Conforme pode se conferir no Portal do MEC (http://www.uab.mec.gov.br/), esse projeto foi cria-do em 2005, no âmbito do Fórum das Estatais pela Educação. Entre os seus objetivos destaca-se “a articulação e integração de um sistema nacional de educação superior a distância, em caráter experimental, visando sistematizar as ações, programas, projetos, atividades pertencentes às polí-ticas públicas voltadas para a ampliação e interiorização da oferta do ensino superior gratuito e de qualidade no Brasil”.

Veja que a concepção do MEC diz respeito a um modelo de “sistema”. É um projeto a ser desenvol-vido, necessariamente, em parcerias: “consórcios públicos nos três níveis governamentais (federal, estadual e municipal), com a participação das universidades públicas e demais organizações inte-ressadas.”

Em termos operacionais, a UAB se iniciou quando o MEC, por meio da sua Secretaria de Educação a Distancia – SEED – lançou o Edital nº 1, de 20/12/2005, que se constituiu numa “Chamada Pública para a seleção de pólos municipais de apoio presencial e de cursos superiores de Instituições Federais de Ensino Superior na Modalidade de Educação a Distância para a UAB.”

O curso-piloto da UAB é o curso de Administração a distância. Trata-se de uma parceria entre o MEC-SEED, o Banco do Brasil (integrante do Fórum das Estatais pela Educação) e algumas Instituições Federais e Estaduais de Ensino Superior. A UnB integra essa experiência piloto por meio da sua Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação – FACE, em parceria com o Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília (CEAD–UnB). O CEAD tem já um conhecimento acumulado em EAD. Sua experiência na área data de 1979 - (Conheça o CEAD no endereço: http://www.cead.unb.br/).

O curso piloto de graduação em Administração será de quatro anos. Seu modelo prevê que os três primeiros sejam estruturados em base comum. O último ano fica a critério de cada universidade ofertante. Cada universidade tem o seu Projeto Pedagógico do curso, que inclui a definição de pólos regionais que serão referências para os estudantes, principalmente quando dos momentos presen-ciais do curso.

Um outro curso de graduação, a distância, que a UnB estará desenvolvendo em breve, em parcerias, é o Curso de Licenciatura em Biologia, desenvolvido pelo Consórcio Setentrional para Licenciatura em Biologia, constituído por Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES) vinculadas à Unirede.

Conforme dito no Portal da Unirede, este Consórcio Setentrional objetiva conjugar “esforços entre as instituições envolvidas, mediante a utilização de tecnologias, recursos humanos e materiais, para tornar disponíveis por meio da internet e unidades operacionais de EAD, programas e projetos na área de educação, ciência, tecnologia, arte e cultura, e, destacadamente, para a produção e oferta de curso de licenciatura em Biologia na modalidade a distância”. (http://www.unirede.br/conset/)

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Os Estados participantes desse consórcio são os seguintes:

Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocantins.

As Universidades consorciadas são:

• Universidade de Brasília – UnB (http://www.unb.br/portal/)• Universidade Federal de Goiás – UFG (http://www.ufg.br/)• Universidade Estadual de Goiás – UEG (http://www.ueg.br/index.php)• Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS (http://www.ufms.br/)• Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – UEMS (http://www.uems.br/portal/)• Universidade Federal do Pará – UFPA (http://www.ufpa.br/)• Universidade Federal do Amazonas – UFAM (http://www.ufam.edu.br/)• Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia) – UESC (http://www.uesc.br/)• Universidade Federal do Tocantins – UFT (http://www.site.uft.edu.br/)

Para Saber Mais

• Você sabia que a Universidade Virtual Pública do Brasil, UniRede, é um consórcio de 80 instituições públicas de ensino superior que tem por objetivo democratizar o acesso à educação de qualidade por meio da oferta de cursos a distância?

Conheça mais sobre a UniRede no Portal: http://www.unirede.br/

Veja. Aqui só detalho algumas ações em parceria do Governo. Muita coisa estava e está ocorrendo na educação a distância por iniciativa das demais universidades públicas e universidades privadas, pelas corporações como a Petrobrás, os Correios, órgãos do chamado “Sistema S” – o SESI , que tem cursos em parceria com o CEAD/UnB (http://www.unisesi.org.br/portal/index.htm) , o SENAI, o SESC, o SENAC e outros.

Em outros trabalhos (SOUSA, 2004, 2005), (SOUSA E NUNES 2003), apresento a linha do tempo da educação a distância e trabalho as raízes da educação a distância no mundo e no Brasil. Não é difícil você achar na internet dados sobre a cronologia da educação a distância. Veja, por exemplo:

http://www.virtuallcursos.com.br/historiaead.php

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http://cev.ucb.br/qq/ruy_ferreira/capitulo_II.htm

Bem, ainda não dialogamos sobre o significado mais formal da educação a distância. Vamos fazer isso agora?

De tudo que você leu, já deu para concluir que a educação a distância pode ser considerada tanto da perspectiva do ensino, quanto da aprendizagem e, ainda, nas duas, de modo integrado? Mas a educação a distância é também uma área de conhecimento ou uma área onde se desenvolve muitos estudos e pesquisas – no mundo e no Brasil. Como as demais práticas educativas, ela é também uma prática social. Sua especificidade requer, necessariamente, uma equipe multidisciplinar.

Embora não faça muito sentido ficar comparando “cursos a distância” e “cursos presenciais”, há aspectos em que essas comparações se adequam. Este é o caso quando se fala na equipe necessária para planejar, organizar, oferecer e acompanhar um curso a distância. Em cursos presenciais, cada conteúdo específico a ser ensinado pode ficar sob a responsabilidade de um só professor. Já na edu-cação a distância isso não é possível pois, dependendo do perfil de cada curso, vai precisar da ação integrada de vários profissionais, tais como: o conteudista, o revisor de texto, o ilustrador, o operador de câmera, o designer educacional, o editor, entre outros. Quando da oferta daquele conteúdo, apa-rece mais um ator com papel relevante: o tutor.

Na teoria e na prática da educação a distância há conceitos diversos, mas próximos. Na literatura especializada é possívei achar trabalhos que se referem à educação a distância, outros ao ensino a distância e outros, ainda, que preferem falar na aprendizagem a distância.

Ao se deter na análise de diferentes conceitos utilizados, Keegan (1991) buscou identificar carac-terísticas comuns entre eles, no sentido do conjunto de características identificadoras de educação a distância. Suas conclusões foram:

• separação física entre professor e aluno, que a distingue do ensino presencial;• influência da organização educacional (planejamento, sistematização, plano, projeto, organiza-

ção dirigida, etc.), que a diferencia da educação individual;• utilização de meios técnicos de comunicação, usualmente impressos, para unir o professor ao

aluno e transmitir os conteúdos educativos;• previsão de uma comunicação de mão dupla, em que o aluno é beneficiado com um diálogo, e

da possibilidade de iniciativas bilaterais;• possibilidade de encontros ocasionais com propósitos didáticos e de socialização; • participação de uma forma industrializada de educação, a qual, se aceita, contém o germe de

uma radical distinção dos outros modos de desenvolvimento da função educacional.

Em artigo intitulado: “O que é a educação a distância” o professor Manuel Moran, da USP, assim se expressa: “Educação a distância é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente”.

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(ftp://www.centrorefeducacional.com.br/educdist.htm.)

O texto está publicado em: www.tvebrasil.com.br/salto/distancia/default.htm#a)

Mas ao falar nessa separação entre professores e alunos, o professor Moran esclarece, no mesmo artigo, que embora eles não estejam juntos, eles podem estar conectados na internet ou podem se aproximar pelo uso de tecnologias outras como o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone e o fax.

Ainda nesse trabalho, o professor argumenta que, mesmo que não veja muita adequação no uso das palavras educação ou ensino a distância, prefere o uso do termo “educação a distância”, por con-siderar que o outro dá ênfase ao professor, entendendo-o como alguém que “ensina” a distância.

Não vamos muito adiante nessas conceituações. Pela prática e pelo que leu, já deu para ver que a educação a distância é um processo de ensino-aprendizagem necessariamente mediado por tecno-logias, das mais simples às mais complexas. Elas não são o foco. Elas são meios. Nem sempre o uso de uma tecnologia mais sofisticada significa ensino e aprendizagem mais eficazes. Não são coisas de relações diretas. Além disso, muitos outros fatores interferem ou contribuem para o sucesso de

quem estuda a distância.

Já que falamos nisso, na sua opinião, o que pode ajudar um aluno que estuda a distância a aprender e se “sair bem” num curso a distância? Pense aí no seu caso, o que pode lhe ajudar ago-ra?

Pensou?

Veja agora o pensamento de outros autores. Moore e Kearsley (1996), por exemplo, teóricos e pesquisadores da área, argumentam que os principais fatores de sucesso de alunos que estudam a distância dizem respeito ao seguinte:

1. o grau de educação formal e a experiência prévia com a educação a distância;2. estilos de aprendizagem e personalidade;

3. grau de suporte recebido na família e no trabalho;4. relevância do conteúdo do curso para interesses pessoais e profissionais;

5. quantidade/natureza das interações com instrutores/outros estudantes;6. quantidade/natureza do feedback recebido ao longo do curso.

Releia cada um desses fatores mas de um outro jeito. Tente ver de que maneira como cada um deles corresponde à sua realidade. Veja que tem mesmo sentido o que eles dizem. Quem

tem mais experiência com a educação formal e experiência prévia com a educação a distância tem mais chance. Claro!

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No entanto, veja o seguinte: o tempo todo estamos falando sobre a aprendizagem e sobre como aprendemos por meio das experiências. Ou, simplificando, do “vivendo e aprendendo”.

Então, se você não tem “experiência anterior com a educação a distância”, agora está tendo. Portanto, isso não vai impedir o seu sucesso. Até porque, se estivesse no seu lugar, faria o que você já pensou e decidiu: tomaria isso como um desafio mesmo. E agora, daqui para frente, a trilha é uma só: é estudo e dedicação para valer. Do começo ao fim.

Quanto aos estilos de aprendizagem e personalidade cada um tem o seu. Nem melhor nem pior no sentido da capacidade de aprender a distância. O segredo da trilha agora é colocar as duas coisas para trabalhar a seu favor. Ademais, procure se manter em dia com o calendário de envio de ativida-des avaliativas que lhe será apresentado em cada módulo. Outra coisa muito útil é manter contatos com os seus tutores para tirar dúvidas. Isso vai facilitar o ritmo da sua aprendizagem.

Quanto ao “grau de suporte recebido na família e no trabalho”, você vai precisar tomar uma atitude sábia: deixe claro para a sua família o apoio que você necessita para estudar e, ao mesmo tempo, organize o seu tempo de modo a não sacrificá-la. Esposa e filhos precisam de atenção. Marido pre-cisa de atenção. Pai e mãe precisam de atenção. Você precisa de atenção. Todos nós precisamos de atenção e mais: de afeto e de carinho. E isso jamais pode ser uma coisa que deixemos algo ou alguém atrapalhar.

Se isso começar a ocorrer com você, por acúmulo de coisas do curso e de demandas outras da vida, reaja! Reexamine o seu quadro de valores e reorganize o seu tempo antes que seja tarde de-mais. Dê e conquiste a atenção e o carinho que você merece. A propósito, passo para você mais uma aprendizagem: cuidado com as suas escolhas pessoais e profissionais porque fazemos as nossas es-colhas na vida e elas nos fazem. Seja para o lado das coisas boas da vida, seja para o outro que não nos merece. Não sei de quem foi, mas guardei a frase vencedora de um concurso de frases, numa campanha contra as drogas, aqui no DF: “a melhor saída é nunca entrar! “. Isso também é uma forma de liberdade de escolha e de se fazer melhor pessoa por ela.

No que diz respeito à “relevância do conteúdo do curso para interesses pessoais e profissionais”, e à idéia da “quantidade/natureza das interações com instrutores/outros estudantes” ambos podem ser trabalhados por você, a seu favor e dos outros. Veja: se escolheu estar nesse curso, certamente tem interesse pela área. Mas veja: não espere tudo do curso. Como nos demais, haverá coisas mais importantes do que outras. Já um colega seu pode priorizar isso de forma diferente. O importante é você selecionar e ir atrás do que é o mais útil e motivador. Procure fazer leituras adicionais e trocar idéias com os seus colegas de curso e com seu tutor. Essas, com certeza, são trilhas boas para mantê-lo motivado e em desenvolvimento como pessoa e como profissional.

Finalmente, embora o item que fala na “quantidade/natureza do feedback recebido ao longo do curso”, seja uma coisa que depende mais diretamente de nós, professores e tutores do curso, você

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pode nos ajudar pelo menos de duas formas. A primeira é se antecipando ou, no máximo, mandando as suas atividades avaliativas no prazo, para que o tutor tenha um tempo hábil para ler e lhe respon-der com as devidas orientações. Se você não se mantiver no calendário, vai ser cobrado por isso.

E aí, você e nós vamos ter que gastar energias com coisas bem desinteressantes e nada relevantes do ponto de vista da aprendizagem: cobranças. Mas isso também pode ser feito em relação a nós, caso você não receba feedback de seu tutor. Bom mesmo é concentrar a sua e a nossa energia no mais prazeroso: no processo ensino-aprendizagem.

Não posso passar para o próximo tópico sem antes deixar claro para você que existe na área de educação a distância toda uma discussão teórica e, inclusive, delineamentos de teorias da educação a distância. Essa discussão nos desviará das trilhas que precisamos seguir aqui: as trilhas que facili-tam a sua aprendizagem. As teorias seriam importantes, se estivéssemos atrás da explicação dessa aprendizagem, já que o papel central das teorias é esse mesmo: explicar. A seguir, há sugestões de autores e trabalhos que você pode consultar para se aprofundar nesse tema, caso se sinta motivado para isso.

1. KEEGAN, D. (1993) Theoretical Principles of Distance Education. London: Routledge, p. 22-38. (Há uma tradução desse trabalho em: http://www.abed.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=23&sid=69&UserActiveTemplate=1por

2. MOORE, M. G. Learner Autonomy: the second dimension of independent learning, Convergence V(2), 76-88. 1972

________ Toward a theory of independent learning and teaching, Journal of Higher Education XLIV(12), 661-79. 1973

________ On a theory of independent study, in D. Sewart, D. Keegan and B. Holmberg (eds), Distance Education: International Perspectives, London: Croom Helm. 1983

________ Theory of Transational distance. In: Keegan, Desmoond, (ed). Theoretical principles of Distance Education. Londo, Routledge. Independent learning and teaching, Journal of Higher Education XLIV(12), 661-79. 1993

Michael Moore é autor proponente da teoria da Distancia Transacional em Educação a Distância – (Elementos: Distancia transacional, diálogo e autonomia do aprendiz).

3. PETERS, O. “Distance education in a posindustrial society”. In Distance education: Industrialization of teaching and learning, edited by Desmond Keegan, Routledge Studies in Distance education, London, New York. pp.220-224. 1994

___________. Didática do Ensino a Distância: experiências e estágio da discussão numa visão internacional. Porto Alegre: Editora Unisinos. 2001

Otto Peters é autor da visão integrada entre educação a distância e produção industrial.

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4. HOLMBERG, B. Theory and practice of distance education. London. Routledge. 1989

Holmberg é autor da Teoria da Conversação Didática Orientada

Para ter uma visão geral da educação a distância e da evolução da sua teoria sugiro a leitura de:

• GARRISON, D.R., & Shale, D. Mapping the boundaries of distance education: Problems in defining the field. The American Journal of Distance Education, 1(1), 7-13. 1987

• SHERRY, L. Issues in Distance Learning. International Journal of Educational Telecommunications, 1 (4), 337-365. 1996. Disponível também em: http://carbon.cudenver.edu/~lsherry/pubs/issues.html

• “Definitions, perspectives and theories on the evolution of Distance Learning”, uma síntese que se encontra no site da Open Univesity, uma importante universidade toda a distância, da Inglaterra, que está presente em vários países do mundo. Disponível em: http://systems.open.ac.uk/page.cfm?pageid=perspectives

Finalmente, caso queira entender sobre a teoria e prática da educação a distância a ser desenvolvi-da toda on line, faça o download, na íntegra, do livro: “Theory and Practice of Online Learning”, editado por Terry Anderson and Fathi Elloumi. Ele trata de questões gerais relativas ao ensino e à aprendiza-gem on line, com o foco nos seguintes pontos: teoria, administração, ferramentas, métodos, desenho e oferta de aprendizagem online. Além da contribuição do seu conteúdo em si, ao disponibilizar o livro para qualquer pessoa que se interesse por ele, os autores queriam ajudar a popularizar os uso de tecnologias de aprendizagem. Como está escrito em sua apresentação, “A educação, mais do que qualquer outro esforço humano, deve ser um beneficiário real e durável da revolução das Tics”.

Endereço: http://cde.athabascau.ca/online_book/ Com a parte que se segue vamos concluir o módulo. Se precisar parar um pouco a sua leitura, apro-

veite o momento. Vai ser até bom para você fazer a “conexão” com o que você já leu e aprendeu até aqui com o que vai vir a seguir. Junte tudo o que puder e traga para essa próxima leitura.

Ela pretende ajudá-lo a não cair em armadilhas deixando-o longe de sua aprendizagem. Veja que não são armadilhas montadas por outros, você mesmo pode armá-las. Um exemplo? Não seguir o cronograma e começar a se atrasar na elaboração e envio das atividades avaliativas. O sentimento de solidão, por estudar a distância, esquecendo-se de que não está só e de que nós, o “povo” desse curso, estamos com você.

Tinha dito para você parar a sua leitura, se precisasse e fiquei aqui antecipando o que vem. Bom, vá lá. Eu espero, prometo!

Podemos continuar? Então veja o que escrevi no próximo capítulo.

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A Educação a Distância e você: nas trilhas, sem armadilhas 4

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Começo com uma nova pergunta: você já pensou que ao longo da escolarização, independente-mente do seu nível, a maioria dos caminhos que gestam a aprendizagem ainda tendem a ser vistos, como algo da responsabilidade do professor, considerado o detentor do conhecimento e da sabe-doria?

E por quê isso?

Diria que ao longo dos tempos, acabamos por nos acostumar com esse pensamento culturalmen-te enraizado que nos faz, sempre que no papel de aluno, tender à dependência, à acomodação, à subserviência e, muitas vezes, nos sentir rendidos ou paralisados pelo medo ou insegurança.

Observe a sí mesmo. No seu trabalho, você consegue ter bom desempenho, sabe o que esperam de você, procura corresponder às expectativas. Se chefe de setor ou um professor, consegue liderar a sua equipe, consegue ter domínio da sua turma e outras coisas mais.

No entanto, basta estar na condição de aluno que começa o risco de cair naquelas armadilhas que acabam por criar obstáculos para a aprendizagem, tais como esperar que a iniciativa de tudo venha do professor, ficar refém de medos de críticas, sentir-se tímido para falar e outras tantas coisas mais.

Ora, aceitar ou reproduzir coisas como essa é, de modo consciente ou inconsciente, optar por estar anos-luz distante do prazer de descobrir e criar um caminho e um jeito próprio de andar nas trilhas da aprendizagem, usando no trajeto o melhor das suas energias e das suas emoções. E tudo o mais que vem junto com isso:

• o não conformismo;• o pensamento inquieto e criador; • o uso salutar da dúvida e da crítica;• a ousadia.

É, pois, negar-se a conquistar algo tão precioso e insubstituível na constituição do sujeito e na construção da cidadania: a autonomia.

Nessa parte do nosso diálogo estaremos explorando algumas trilhas que nos mostrem as rela-ções entre a autonomia e o que chamo de sujeito-aprendiz, no contexto da educação a distância. Desenvolvo as idéias partindo de um pressuposto básico: o de que o ofício primeiro de quem estuda a distância, como você, é criar aprendizagens.

Para isso, há que se ter uma postura bem diferente daquela da educação tradicional, onde o ensino é centrado no professor. A visão aqui é que cabe ao aluno, em primeiro lugar, responsabilizar-se pela sua aprendizagem, descobrindo e criando seus caminhos e suas estratégias e dar preferência àque-las trilhas que o ajudem a aprender de forma mais prazerosa.

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É claro que isso não é uma coisa fácil. É uma aprendizagem e até uma sabedoria ser capaz disso. Ademais, esperar tudo do professor (do curso, do tutor) acaba sendo uma opção mais fácil e atraente para muitas pessoas, já que essa passividade já é, de certa forma, um traço cultural. Mudar isso é aceitar a provocação de mudar o próprio jeito de perceber o mundo e a forma de ser e comportar-se nele.

Penso que esse desafio de mudar e mudar-se, vale a pena! Há sim, muita coisa a ser superada e vencida. Contudo, em troca, a pessoa passa a ser mais dona de si mesma. Você lembra que antes falamos na aprendizagem como uma “apropriação” e na importância das pessoas se conhecerem e se encontrarem?

Então, isso retorna agora ao nosso diálogo, abrindo para você uma nova perspectiva. Quanto mais autônomo (ao contrário de heterônomo) você for se tornando, mais você vive e sente o significado de estar legitimamente se apropriando de si e senhor da sua autonomia. Portanto, você passa a ser uma pessoa mais independente e mais livre para aprender e “desaprender”, se necessário, para criar e recriar e, também, para ensinar e liderar.

Explicitado o pressuposto básico, vamos explorar mais alguns dos desafios que você tem agora diante de si, como alguém que estuda a distância na perspectiva da construção da sua autonomia do aprendiz.

Procurarei ajudá-lo a enfrentar positivamente esses desafios, sem cair em armadilhas, muitas das quais podem ser criadas por você mesmo. Se vou conseguir, não sei. Isso só você pode saber. Mas pelo menos vou tentar, tendo em conta meus anos de estrada na educação em geral e na educação a distância.

Espero ajudá-lo a se tornar uma pessoa mais segura e autônoma, que aprendeu a valorizar ainda mais o aprender em geral, principalmente o aprender na educação a distância, como um caminho prazeroso de crescimento pessoal e profissional.

Vamos então aos desafios?

Desafio �: Estudar o “mapa da mina” e criar uma “carta náutica”

Ao iniciar qualquer viagem, faz toda a diferença se você estudou (conhece) ou não o mapa do caminho. Imagine se você tivesse que navegar pilotando um barco, um navio ou um avião. Suponha que você vai viajar “por mares nunca dantes navegados”. O que você precisa desde já? De entender o caminho – de onde sair, por onde ir e aonde chegar, não é mesmo? Ora, se no caso o seu mar de na-vegação é desconhecido, você vai precisar planejar caminhos e rotas, ver se estão livres, ver se têm ou não obstáculos, saber se precisa ou não de atalhos, se eles estarão disponíveis, com que instrumental você conta, quanto tempo dura a viagem e outras informações indispensáveis como essas.

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Estamos falando de algo objetivo e necessário: você precisa de uma carta náutica e, tam-bém, de instrumentos de navegação, do artefato que estiver dirigindo e de uma bússola, para lhe orientar. Sem isso, você pode se perder e nunca “chegar lá”.

Imaginando que seu mar é verdadeiro, e não mais simbólico, e a sua responsabilidade é pilotar um navio, independentemente de tudo que tiver de “instrumentos inteligentes” nele, você vai precisar, em cada porto, do profissionalismo de um “prático”. Ele poderá lhe livrar dos possíveis obstáculos e lhe fazer chegar e sair, de um porto para outro, de forma mais segura.

É claro que a definição do destino da viagem é sua. No entanto, tanto a carta náutica, como os instrumentos de navegação e a experiência do “prático” ou guia são indispen-sáveis para que possa navegar com maior segurança, não é mesmo? Agora chegou a vez de perguntar:

• O que seria a sua carta náutica nessa experiência de pilotar a sua aprendizagem? • Quais os seus instrumentos de navegação? • O que pode ser o seu “guia” e por que tê-lo consigo?

Entendo que há vários elementos nessa sua carta náutica. Dois deles compõem a parte inicial dessa carta: objetivos e rumos. O seu mar é a educação a distância - seu grande referencial de navegação, os conteúdos programáticos a serem aprendidos e as atividades avaliativas a serem enviadas. Os seus instrumentos de navegação são os seus conhecimentos e experiências anteriores e as suas táticas ou estratégias de apren-dizagem são as “trilhas” que você vai seguir ou criar no caminho.

Ou seja, estamos falando antes de tudo, de uma atitude. Quem aprende precisa ser uma pessoa de atitude. Alguém disposto a ser proativo. Alguém que sabe o que quer e também o que não quer na vida. Então, desde esse início, assuma a sua aprendizagem. Defina a forma que você vai lidar com o seu processo de aprendizagem nesse curso – da aquisição à aplicação.

O seu guia é você mesmo. Como um aluno que estuda a distância, quanto maior for a clareza que você tiver sobre: a educação a distância, as suas características básicas, e ainda a expectativa que se tem sobre o comportamento de um aluno a distância, maiores serão as suas condições para ter mais prazer e sucesso nessa sua jornada de aprendiza-gem, nesse curso a distancia.

Ao longo do percurso é preciso ter sempre em mente que o farol que vai lhe orientar é um só: o da aprendizagem e do seu crescimento Assim, desde já, assuma que cabe a você “pilotar” essa viagem de estudos e de leituras, feitos a distância. Então, se você vai ser o seu

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próprio guia na construção da sua autonomia de aprendiz, confie em você e procure se aperfeiçoar cada vez mais. Lembre-se de que, em primeiro, segundo e terceiro lugar você conta consigo mesmo, com o seu esforço, a sua criatividade, a sua capacidade de organizar-se e ir em frente, então você está “em boas mãos”. Não abra mão disso.

Se nós contamos com você, imagine o quanto você não conta e não acredita em você mesmo. É por isso que digo: não abra a mão! Ou, de um modo mais popular digo: Não dê bandeira! Procure manter-se alerta e desvie-se de rotas que lhe tirem do objetivo maior que é aprender.

Não poderia recomendar outra coisa, não é mesmo? Pois, como sabe, das nossas conversas ante-riores nesse módulo, o que você não fizer por você mesmo e pela a sua aprendizagem, ninguém fará por você. Lembra-se de como já falamos sobre isso? Lembra-se daquele momento em que dizia que ninguém aprende no lugar do outro?

Não dá mesmo para desperdiçar oportunidades, não é mesmo? Cada tempo e oportunidade são únicos. Eles são caminhos de aprendizagem e crescimento. Adquirir conhecimentos, atitudes e habi-lidades é desenvolver competências. Se diante disso você for sempre refletindo, analisando-se, mu-dando crenças e atitudes que estavam impedindo o seu crescimento e desenvolvimento, você vai se tornando mestre na arte de viver com sabedoria.

Agarre-se à oportunidade desse curso e dê tudo de si para aprender e crescer com ele. Não só por causa de nós todos que estamos na sua torcida, mas principalmente por você. Oportunidades

passam. Outras surgem. Mas não nos pegam naquele mesmo momento da vida. Além disso, a vida, como vimos, é mesmo cheia de incertezas. Então aproveite essa que já está em suas mãos.

O Rei e o Sábio

Quando criança, adoramos ouvir histórias. Quanto mais bem contadas, mais a nossa imaginação e encantamentos se soltam. Ouvi muitas histórias na infância. Meu pai sabia contá-las muito bem. Para nos reunir em torno dele para o momento mágico das histórias, bastava só usar aquela entonação que todos nós, irmãos temos na memória como uma lembrança feliz:

“Era uma Vez”!... Rapidinho estávamos todos lá. Olhe que somos 13 filhos!Então vou contar uma história que não sei quando aprendi. Não faz parte das memórias da infância, mas de algum momento da minha formação. Desconheço o autor. Criei o título o “Rei e o Sábio”. Nem sei se ela tem título. Para nós tem. Esse que você leu, concorda?Havia um rei que queria conhecer os sábios que residiam em seu reino. Para isso diariamente ele chamava os “inscritos” , reunia-os e começava a testá-los com um rosário de perguntas. Ao longo de um bom tempo, nenhum deles lhe pareceu sábio.

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Um dia ele encontrou alguém que finalmente mostrava sabedoria frente ao que lhe era perguntado. Contudo, ele ainda não estava muito satisfeito e resolveu fazer o “teste final” com uma única pergunta. E tentou achar uma situação em que não houvesse nenhuma possibilidade de acerto.Você já imaginou qual a situação pensada?Vou contar o resto da história.Então o rei parou e pensou no seguinte: na hora, vou pegar um pássaro pequeno em minhas mãos, coloco-as para trás, e pergunto: esse pássaro que tenho aqui em minhas mãos está vivo ou está morto? Se a resposta for vivo, eu aperto as mãos, mato o pássaro e mostro que a resposta está errada. Se a resposta for “morto”, abro as mãos e o deixo voar.O que você acha que aconteceu, depois da pergunta feita?O sábio respondeu: “O pássaro está em suas mãos”!O fim da história?Houve o reconhecimento do rei. Havia uma sabedoria ali.

Ter as coisas em nossas mãos é algo muito precioso! Traz compromissos e responsabilidades. Entre elas a responsabilidade pela educação dos nossos filhos, as nossas opções na vida, a nossa formação, o cuidado que devemos ter conosco, com os outros, com o meio ambiente. Há responsabilidades e compromissos que só as nossas mãos não dão conta, como a de ter você conosco e nos preocu-parmos com a sua aprendizagem. O mesmo digo em relação aos seus colegas. Todas as mãos são necessárias para o aprendizado individual e coletivo.

O importante, então, é saber o que podemos fazer e o que podemos contribuir com aquilo que não está nas nossas mãos diretamente, mas que pode ajudar aos demais. Por exemplo, se você entrar num fórum de discussão e colocar as suas dúvidas e idéias sobre um da dado tema, isso poderá ser útil para você e para outras pessoas.

Concluindo esse nosso diálogo sobre a sua carta náutica e o seu instrumental de navegação, queria dizer umas poucas coisas mais. Por exemplo, que nessa bela navegação, o seu norte passa a ser, tam-bém, o seu maior desafio: criar aprendizagens ou aprender a aprender, no contexto da metodologia da educação a distância. É um desafio que vale a pena. Prepare-se! Queira enfrentá-lo e vencê-lo!

Estamos juntos nessa! Haverá outras pessoas também junto a nós. Lembra-se do que chamei de “povo desse curso”?

Pois é, está todo ele com você. Somos parte de um mesmo “clube”. Ou melhor, estamos todos no mesmo “barco”, Quer dizer, navio. Podemos juntos definir uma bela “carta de navegação”, partindo para uma boa viagem. Dessas que a gente, vai, tira muitas fotos e, na volta, contamos a viagem para todo mundo, mostrando as fotografias que já vimos e revimos, comentando inúmeras vezes cada uma delas. Viagem assim a gente nunca esquece.

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Quando não se esquece de uma bela viagem, já se começa logo a querer se pensar em outra. Para a viagem nesse curso ficar inesquecível, vamos nos empenhar individual e coletivamente. Então, nós, o “povo desse curso” podemos mesmo começar a criar agora, uma bela rede colaborativa de apren-dizagem, na qual todos possam, a um só tempo, ensinar, aprender e se desenvolver como pessoas e como profissionais (presentes ou futuros).

Desafio 2 – Procure conhecer mais sobre a educação a distância

Já falamos sobre a educação a distância e até já dei sugestões de leituras. Agora vou retomar um pouco a idéia apenas para ajudar a você se auto-avaliar em termos de suas crenças e conhecimentos sobre a educação a distância. Digo isso porque preconceitos são formados principalmente quando não nos interessamos em aprofundar num tema ou a formar nossos próprios conceitos e idéias so-bre aquilo que temos preconceitos. Onde não há conceito clarificado, o preconceito ocupa o espaço todo.

Se, lá no “fundo do seu coração”, você tem desconfiança da qualidade da educação a distância, da possibilidade de você aprender por meio dela, você ainda precisa trabalhar isso, antes de prosseguir. Sabe porquê? Por que ninguém se empenha ou se motiva por algo em que não acredita.

Então, vão aqui algumas idéias bem resumidas sobre a educação a distância.

Se você foi para a literatura sugerida ou outra relativa à educação a distância viu que há, entre os autores, visões diferenciadas e algumas tendências comuns. Para facilitar a sua revisão da compreen-são do que seja a educação a distância, selecionei duas conceituações para analisar com você. Antes, porém, solicito que faça o seguinte:

a) Leia cada uma das conceituações de educação a distância transcritas abaixo;b) analise uma a uma;c) faça uma análise comparativa entre elas, buscando identificar as características básicas da edu-

cação a distância.

Terminando, volte aqui para continuarmos. Estarei esperando por você, certo?

“O ensino à distância é um sistema tecnológicode comunicação bidirecional, quepode ser de massa e que substitui a interaçãopessoal entre professor e aluno na salade aula, como meio preferencial do ensino,pela ação sistemática e conjunta de diversosrecursos didáticos e pelo apoio de umaorganização e tutoria que propiciam a aprendizagem

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autônoma dos estudantes”. (ARETIO, 2001).

“Educação a Distância é uma forma de ensinoque possibilita a auto-aprendizagem, coma mediação de recursos didáticos sistematicamenteorganizados, apresentados emdiferentes suportes de informação, utilizadosisoladamente ou combinados, e veiculadospelos diversos meios de comunicação”. (Decreto nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998).

Vamos trabalhar juntos nisso? Vou então direto para a análise comparativa entre essas duas definições.

Na primeira delas (ARETIO, 2001), logo no início há uma menção a um sistema tecnológico de co-municação bidirecional. Quer um exemplo? Pense no que ocorre agora. Nos comunicamos de forma bi-direcional, mediados por tecnologias – a da escrita, a do computador, a da rede mundial de com-putadores – a internet, e, também, a da nossa rede de ensino e aprendizagem, na qual esse curso se insere.

Na segunda conceituação, apesar de não começar destacando as relações entre comunicação e tecnologias, no âmbito da educação a distância, essa idéia não está ausente. Concorda? Veja que nela se fala em “mediação de recursos didáticos”, em “diferentes suportes de informação” e na “veiculação“(do ensino a distância) pelos diversos meios de comunicação.

Nessa análise comparativa, precisamos considerar um outro aspecto. Refiro-me aos termos “ensi-no a distância” (presente na primeira conceituação) e “educação a distância” (presente na segunda). Como disse antes, se você for para a literatura na área vai perceber que isso ocorre com freqüência e, além disso, que se usa também outros conceitos bem relacionados entre si, tais como: aprendizagem colaborativa (BARROS,1994); aprendizagem mediada por computador (SALES, 2002); educação con-tinuada e a distância (NAVES, 1998); Campus eletrônicos e redes de aprendizagem (SALINAS, 1996), e outros.

Pelo conteúdo das duas definições apresentadas, nas referências acima se percebe que não há diferenças significativas entre os termos educação a distância e ensino a distância. As duas falam da mesma coisa, sendo que a primeira expressão é mais ampla do que a segunda. Isto é, o ensino a distância é algo que se busca fazer no contexto da educação a distância.

Sabe de uma? Penso que você vai topar mais um desafio. Acho até que está bem na hora disso. Sabe qual? Parar a sua leitura agora, pesquisar e criar um conceito próprio de educação a distância. Se tiver acesso a internet, você pode:

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• entrar na biblioteca virtual de educação a distancia, organizada pelo CNPq. O endereço é: http://www.prossiga.br/edistancia/;

• Explorar a Home Page da ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância, em: http://www2.abed.org.br/;

• Explorar tudo o que tem disponível no portal do MEC/SEED - Secretaria de Educação a Distância, em: http://portal.mec.gov.br/seed/;

• Ler o trabalho: Questões sobre a educação a distância”, baseado no texto “Issues in Distance Learning”, escrito por Lorraine Sherry, em: http://penta.ufrgs.br/edu/edu1.html;

• Ler o texto: “O que é educação a distância” do professor Moran, (do qual já falamos), diretamente de sua Página na internet: http://www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm;

• Visitar o excelente Sistema de Arquivamento e Indexação de Documentos, na UNICAMP, parte de Educação a Distância, que tem muitos artigos que você pode transferir de imediato para o seu com-putador. O endereço é: http://www.rau-tu.unicamp.br/nou-rau/ead/document/list.php?tid=11.

Bom, vou parar por aqui. Você já tem boas trilhas para seguir. O campo da educação a distância é muito fértil em estudos e pesquisas. Se não tiver acesso à internet, procure em bibliotecas e livrarias livros sobre o assunto.

Agora que você já entendeu melhor e elaborou um conceito próprio de educação a distância, nesse nosso momento de “rever” alguns temas sobre os quais dialogamos, para você poder caminhar com mais segurança daqui para frente, vamos retomar o assunto “aprendizagem”, tá?

Desafio � – Procure entender melhor sobre o conceito de aprendizagem

A exemplo da educação a distância, há também diferentes pontos de vistas em relação à apren-dizagem. Depende do referencial teórico-metodológico que se adote. Vou enfatizar aqui a idéia de aprendizagem significativa (FINK, 2003).

Essa opção resulta do fato de que esse é um conceito relevante nas situações de ensino. Quando a aprendizagem é significativa, o aluno se envolve com o que está aprendendo. Torna-se cada vez mais “seduzido” por aquele tema ou área de conhecimento, se compromete com a própria aprendizagem e, assim, se mantém motivado ao longo do percurso.

Se considero isso na perspectiva do ensino, quem ensina precisa ser capaz de transformar a sua ação mediadora em algo que, de modo criativo e diversificado, seja, para o aluno, experiências de aprendizagens significativas. Com isso quero dizer que é preciso pensar em desenvolver uma atitu-de positiva no aluno, em relação à aprendizagem. É preciso ajudá-lo a ter uma mente investigativa, aguçar a sua curiosidade e o desejo de aprender. E isso não deve ser restrito a um ou outro curso que ele faça, mas uma atitude frente à vida. Você encontra a seguir um resumo das idéias de Fink (2003) em relação a esse assunto.

Há um trabalho de apenas

oito páginas que sintetiza bem

uma taxionomia da aprendiza-

gem significativa. Intitula-se:

“What is ‘significant learning’?”.

O autor é Dr. L. Dee Fink, Dire-

tor do Programa de desen-

volvimento instrumental da

Universidade de Oklahoma. Ele

é também autor do livro “Cre-

ating Significant Learning Ex-

periences” (Jossey-Bass, 2003).

Você pode fazer o download

do artigo no endereço (http://

www.ou.edu/idp/significant/

WHAT%20IS.pdf)

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Aprendizagem Significativa

Resumo das idéias de Fink (2003:9)

Quando a aprendizagem é significativa para o aluno, espera-se que ele continue, até bem depois do curso, sendo capaz de:

1) Aplicar e usar o que aprendeu em situações reais da vida; 2) Descobrir formas de tornar o mundo melhor e nele fazer a diferença; 3) Desenvolver um senso profundo de curiosidade; 4) Se envolver com a aprendizagem continuada; 5) Vivenciar o “Prazer de Aprender”; 6) Se orgulhar do que tem feito e ter sucesso em qualquer disciplina ou linha de trabalho que escolher; 7) Sentir a importância da participação (construção) comunitária, no trabalho e na vida pessoal; 8) Ver as conexões entre ele, suas crenças, valores e ações e aqueles dos outros; 9) Pensar sobre os problemas de uma forma integrada (não separada ou compartimentalizada);10) Perceber a necessidade de mudança no mundo e ser um agente dela; 11) Ser um solucionador criativo de problemas; 12) Desenvolver habilidades básicas à vida, como as comunicativas; 13) Entender e ser capaz de usar princípios do curso que fez; 14) Permanecer uma pessoa positiva, a despeito dos obstáculos e desafios da vida e trabalho;15) Ser “Mentor” de outros; 16) Continuar a crescer como um pensador crítico;17) Valorizar o aperfeiçoamento contínuo.

Veja que nada disso é impossível!

São apostas que você deveria fazer com você mesmo. De nossa parte, cabe ajudar você e aos cole-gas, a vivenciarem esse tipo de aprendizagem, agora e na vida em geral. Vamos agora pensar numas “trilhas” mais específicas para você que estuda a distância?

Para vencer esse primeiro desafio, sugiro que comece por internalizar a idéia de que estudar a distância requer uma postura diferenciada daquela da educação tradicional. É preciso muita auto-nomia e disciplina. Assim, se auto-avalie no sentido de identificar as suas condições reais para ter autonomia e autodisciplina. Veja, no geral, o que precisa ser feito e assumido por você, tendo como guia aprender de forma melhor, e mais prazerosa. Com certeza essa ação lhe deixará frente a frente com um novo desafio que apresento a seguir, que são ações que irão compondo e detalhando mais

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a sua carta náutica.

Desafio � – Planeje rotas e metas e estabeleça prioridades

Esta pode até ser a sua primeira experiência em um curso a distância, mas não é a primeira vez que você se questiona sobre o valor de estar num determinado curso, não é verdade? É uma reação na-tural, comum. É legítimo, pois no início de qualquer curso as pessoas têm uma série de expectativas positivas ou negativas sobre ele, não é? Essas tendem ou não a serem confirmadas ao longo ou ao final do curso. Você já parou para pensar sobre as suas expectativas nesse curso? Quais são elas? Por que essas e não outras? O que lhe fez decidir por este curso?

Falando em expectativas, convido-o a pensá-las numa perspectiva de mão dupla. Veja: é de todo válido pensar no que o curso em geral trará para você em termos de conhecimentos e aprendiza-gens e outros questionamentos que sinta necessidade de fazer. Contudo, na perspectiva da educa-ção a distância e da aprendizagem significativa, torna-se essencial que você pense, também, em algo que lhe diz respeito de perto, ou algo que está em suas mãos, que apresento sob forma de pergunta: O que você fará pelo curso? A pergunta é para você pensar o seguinte: no que depender de você, como o curso pode ser uma experiência significativa para você e os seus colegas, que estão no mes-mo “navio”?

Uma das possibilidades seria, por exemplo, pensar situar-se nele como uma pessoa aberta, comu-nicativa e interativa. Fazer questão de ser construtivamente atuante nessa comunidade de apren-dizagem colaborativa, que começa a ser construída a cada dia. Por meio de coisas como troca de idéias, dúvidas, sugestões de leituras adicionais e tudo o mais que se faz quando queremos aprender e quando queremos que ocorra o mesmo com as demais pessoas que estão junto conosco.

Finalmente, como vimos antes, somos seres “socialmente biológicos” e precisamos do outro. Se todos aprendem e crescem juntos, todos crescem mais e podem se tornar melhores pessoas. Todos teriam, assim, melhores condições para assumirem e vivenciarem o que Fink (2003) falou: desen-volver as habilidades comunicativas, entender e ser capaz de usar princípios aprendidos no curso, para além do seu tempo cronológico, permanecer uma pessoa positiva, a despeito dos obstáculos e desafios da vida e trabalho, ser “mentor” de outros, continuar a crescer como um pensador crítico e valorizar o aperfeiçoamento contínuo. Isso é coerente com o que havíamos falado antes: a educação não é algo separado da vida. É um projeto de vida de todos e de cada um de nós.

O que então, na educação a distância, poderia ser o seu planejamento de rotas e o estabelecimen-to de prioridade? Pare e pense. O que você precisa fazer agora para conseguir isso?

Na minha opinião, o passo inicial você já deu – ter, em suas mãos, a sua carta náutica. O segundo é assumir a função de piloto e guia da sua aprendizagem. Agora é ver como se organizar para apren-der, sabendo criar seus espaços regulares de estudo e trabalho. Se você não criar um espaço e um tempo regular para ler, refletir estudar, você pode perder não só o “fio da meada” como também a

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trilha da sua aprendizagem. Não caia nessa armadilha!

Não deixe que isso ocorra. Traz ansiedade e dispêndio da energia vital que precisa ser empregada na sua aprendizagem. É por isso que falo da necessidade de ter uma clareza sobre as suas rotas e prioridades. Já vimos que a vida é complexa. E é no meio dessa complexidade que você precisa se firmar, saber se organizar para estudar e aprender e, sempre que possível, ajudar os seus colegas a fazer o mesmo.

Veja: ao aprender você precisa estabelecer a sintonia entre o que aprende e a sua vida. Como disse antes, se escolheu esse curso, é porque já há um significado para você. É preciso descobrir outros pontos, e alargar a fronteira desse significado. Quem sabe a opinião de Philip Candy (1991) sobre a aprendizagem significativa, apresentada naquele trabalho de Fink (2003:27) lhe ajude nisso. Vou traduzi-la agora para você. Diz ele:

“Se a aprendizagem é vista não como aaquisição de informação, mas como umabusca de significado e coerência na vidade uma pessoa e, se enfatiza aquilo que éaprendido e seu significado pessoal parao aprendiz, mais do que no quanto foiaprendido, os pesquisadores ganhariamnovos e valorosos insights tanto para o quediz respeito aos mecanismos da aprendizagem,quanto para as vantagens relativasdos modos de aprendizagem, o controladopelo professor e o controlado pelo aluno.”

Ajudou? Deixe então eu colocar o que penso agora. Veja, entendo que se a aprendizagem, nesse módulo e no curso em geral, precisa ser significativa, para isso requer de você duas coisas: clareza e atitude. Aliás, essas coisas precisamos ter na vida, em geral, não é mesmo? Pois, se antes falamos da importância de se saber o que se quer na vida e, também, o que não se quer, essas duas coisas nos ajudam muito no viver e aprender.

No que diz respeito à clareza, nesse caso, refiro-me à necessidade de você mesmo descobrir como o curso no geral, e o módulo, em particular, podem contribuir para que você cuide do seu ofício: o de criar aprendizagens. Já no que se refere à atitude, refiro-me, na verdade, a um conjunto de ações. Assim, deve importar a você, principalmente, descobrir como pode se estruturar e se organizar me-lhor, para aprender. Portanto, por agora, nesse momento mais inicial, importa que você queira e saiba como planejar as suas rotas de aprendizagem e definir as suas prioridades.

Como? Refletindo e buscando integrar os vários elementos que compõem esse complexo pro-cesso que é a aprendizagem a distância, organizando-se para vivenciá-lo, conforme já sugerido: de

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forma participativa e interativa. É preciso, pois, que você, desde o início, tome consciência de uma série de coisas e providencie outras tantas. Para ajudá-lo a situar-se nessa observação e planejamen-to, inspirada nas observações e registros que fiz sobre empenhos para a aprendizagem de alunos a distância, criei uma lista para você se auto-avaliar em relação a isso.

Ao ler essa lista, lembre-se de que ela é mais um elemento a compor a sua carta náutica. Ela obje-tiva ajudá-lo a ter uma consciência maior das suas condições gerais para navegar no mar da apren-dizagem a distância. Portanto, situe-se no papel de um aluno a distância que busca usar todos os re-cursos – “internos” e “externos”, para aprender. Veja-se como alguém que está planejando e traçando rotas e metas e, ainda, estabelecendo prioridades.

Resumindo: é importante ser alguém que busca criar as melhores condições de aprendizagem e que se motiva pela possibilidade de integrar o aprendido ao seu cotidiano e de ter pessoas juntas, “no mesmo barco” ou melhor, no mesmo navio.

Se você é uma pessoa que gosta de “testes” para se auto-avaliar e se conhecer melhor, vai gostar de atribuir a cada um dos 20 itens dessa lista uma pontuação que varia de 0 a 3 pontos. A maior correspondendo ao que mais se aproxima da sua realidade atual, em relação ao curso, e a menor, o seu contrário. Aquilo que estiver posicionado em 1,5 ou menos, na sua avaliação, indica o que precisa de uma atenção maior sua, para aumentar as suas chances de aprender e ter sucesso no curso. É, na verdade, um jogo, mas pode ser útil para as suas decisões e ações. Quem disse que brincadeira não ensina? Nesse ponto as crianças nos dão lições todos os dias não é verdade?

Vamos lá, então?

1. Tenho a clareza da importância desse curso na minha vida pessoal e profissional;2. Se esse curso não fosse a distância, não teria condições de fazê-lo;3. Não tenho dúvidas de que preciso fazer agora esse curso a distância e não deixar para depois;4. Este curso é, com certeza, uma das minhas prioridades nesse momento da minha vida;5. A minha motivação para esse curso é muito alta;6. Sei sobre tudo o que é preciso fazer para se estudar e se aprender a distância com sucesso;7. As minhas possibilidades reais de tempo para me dedicar a este curso são ótimas;8. Já montei meu cronograma de leitura e de estudos para o curso e tenho uma visão clara de todas

as demandas dele, inclusive aquelas relativas às atividades avaliativas que terei que elaborar e enviar;

9. O cronograma que construí para esse curso está sintonizado com as outras demandas da minha vida pessoal e profissional;

10. Há, nesse cronograma planejado, uma margem para imprevistos;11. No que depender de mim, nada está pondo em risco o meu desempenho de qualidade no curso,

nem mesmo o atendimento ao cronograma estipulado pelo curso e, menos ainda, saber que ele será desenvolvido on-line;

12. Além da reserva de um tempo sistemático para os meus estudos nesse curso, já reservei, também,

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um local adequado para isso;13. Estarei lendo e estudando diariamente para esse curso;14. Considero que tenho um perfil adequado para o estudo a distância, principalmente porque sei

que sou muito autônomo e sei “ir atrás” do que preciso para aprender, sem precisar depender de ninguém;

15. Quando estudo, não tenho problema em me manter motivado, ainda que num curso a distân-cia;

16. Sinto-me à vontade quando preciso passar um bom tempo mais isolado, lendo e estudando;17. Confio nas minhas habilidades de leitura e escrita;18. Confio nas minhas habilidades para usar o computador e acessar a internet;19. No que depender de mim, este curso será uma experiência de aprendizagem significativa;20. Sinto-me, em todos os aspectos, preparado para esse curso.

Como foi a sua auto-avaliação? Está satisfeito com o seu resultado? Que recursos próprios você já dispõe para aprender e o que requer sua atenção maior agora?

Por que falar nisso?

Porque não é todo mundo que tem perfil para estudar a distância. É preciso se preparar, critica-mente, para conseguir estudar e aprender a distância. Não é fácil! Haverá sempre demandas diversas a exigir a sua atenção. Equilibrar esse conjunto de demandas não é algo simples de se fazer. É preciso pensar e criar estratégias adequadas para isso. Pode ser uma tarefa difícil, principalmente no começo, mas não é algo impossível de ser feito.

Veja que o instrumento que propus, embora simples, permite que você se auto-avalie em relação ao preparo ou às suas condições iniciais para ter sucesso nesse curso, a partir de cada item, e no con-junto deles. Por exemplo, se ao longo daqueles 20 itens, a soma de seus pontos girar em torno de 30, ou menos, já vai saber, de imediato, que é preciso refletir sobre o porquê disso e resolver. Nesse caso, é só identificar os itens menos pontuados: o que eles significam para você? Mas veja bem: não estou me referindo a uma simples pontuação, o que não teria sequer sentido aqui.

Falo de aspectos que podem envolver mudanças de hábitos e de atitudes e isto sabemos todos, não se consegue de uma hora para outra. Se uma pessoa precisa sempre de alguém que lhe “em-purre” para ler ou estudar, ou se precisa que lhe cobrem compromissos assumidos, ou ainda, não se sente bem ao isolar-se, por um certo período de tempo, para se concentrar e estudar de forma siste-mática, será bem difícil para ela estudar a distância. Isto pode lhe parece um “trabalho de Hércules”, ou um obstáculo quase intransponível.

Ao se auto-avaliar a partir daquela lista, deu para perceber quantas coisas estão em jogo quando nos desafiamos a criar aprendizagens em educação a distância? Ou seja, quando estamos na situação de “aprender a aprender”, na metodologia da educação a distância? Já havia pensado nisso antes?

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Veja só, se fôssemos tentar identificar ou “isolar” cada um daqueles elementos relativos à apren-dizagem a distância, teríamos que considerar algumas especificidades da educação a distância que requerem comportamentos bem próprios na hora do planejar e do estabelecer metas prioritárias. Ajuda muito, também, ter a clareza sobre as vantagens (e os limites) de se estudar a distância e vi-sualizar como sintonizar o curso com os objetivos pessoais e profissionais – de curto, médio e longo prazos.

É importante ainda, estar sempre atento à motivação e avaliar, continuamente, se o tempo de dedi-cação para os estudos está adequado. Se não estiver, é preciso parar e reorganizar o cronograma de trabalho. É preciso não esquecer do necessário equilíbrio quando do atendimento às demandas das várias áreas da vida. O curso precisa ser visto como uma delas. E todas merecem a devida atenção. Não dá para se trabalhar e estudar, sem que se estabeleçam prioridades.

Outras coisas mais merecem a sua atenção: a flexibilidade; as ações necessárias para que haja uma crescente adequabilidade do seu perfil, para o estudo a distância; as habilidades de leitura e escrita, bem como aquelas necessárias para o uso do computador e da internet.

Mas veja - nenhuma dessas coisas sobre as quais falamos devem ser vistas de modo isolado. Se o que importa é o aprender de forma significativa, há que se ter uma perspectiva integradora. Elas precisam refletir seu desejo e sua necessidade de aprender, mais e melhor. Sem estresse ou ansieda-de. E, claro, isso é também importante para que você possa aplicar e integrar, no seu cotidiano, o que aprende de forma colaborativa. Se não fosse por isso, por que fazer o curso?

Para concluir esse assunto , lembro que planejar rotas e metas e estabelecer prioridades não se circunscreve ao que foi dialogado. Há que se considerar também a dimensão humana e a subjetivi-dade. Isto é, a idéia de que o estabelecimento de metas, frente a um dado desafio, reflete a visão de mundo, os valores e os horizontes de quem as define. Metas refletem sonhos e visões. Se esses são pequenos e limitados, as metas também assim o serão.

Não podemos aceitar aquela idéia de que a maior visão do mundo que temos é a permitida pelo alcance da nossa estatura física. Somos, podemos e devemos ser muito mais do que isso, pois não há fronteiras para a aprendizagem, para o crescimento, para a realização e para a felicidade. Essas coisas podem estar sempre muito juntas. Depende muito de cada um.

Como não poderia deixar de ser, metas também refletem o grau de confiança que se tem em si mesmo, para “se chegar lá”. Pessoas que sonham grande, que têm visões amplas e são auto-confian-tes, tendem a ter maiores oportunidades e mais sucessos na vida pessoal e profissional. São, também, aquelas que não economizam energia para conquistar o que acreditam e defendem.

Saiba que esse curso pode significar tudo isso para você a partir, principalmente, de você mesmo. Da sua vontade e determinação. Do seu empenho. Do planejamento e da organização do seu tempo. Da energia a ele dedicada. Portanto, seja a primeira e a mais exigente pessoa, dentre todas as que

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estão comprometidas com esse curso. Exija de si. Exija de nós, professores. Exija dos seus tutores. Seja um co-autor de seus processos e sucessos. E ajude os seus colegas no mesmo. Não os deixe sozinhos. Espero, então que você assuma isso tudo com força e entusiasmo. Você não se arrependerá.

Ninguém pode assumir por você, uma escolha que lhe pertence, isto é, definir como prefere ser e estar nesse curso e, também, depois dele. No sentido dos possíveis impactos do curso, na sua vida. Lembrando o que já se disse: “Fazemos as nossas escolhas e elas nos fazem”.

Concluindo esse momento do nosso diálogo, convido-o, então, a percorrer outras trilhas da apren-dizagem relevantes. Refiro-me, mais especificamente, às que dizem respeito ao seu jeito de ser. Isto é, como alguém que estuda a distância, busque ser:

• crítico e exigente, e um gigante, ao estabelecer as suas metas e os seus objetivos nesse curso;• alguém que optou por crescer – pessoal e profissionalmente, com a experiência desse curso, e

que se importa com o crescimento dos colegas;• uma pessoa comunicativa, participativa e interativa;• alguém que sabe como manter-se motivado e feliz.

Sei que nem precisava falar, mas vou dar aqui um lembrete: não deixe de fazer leituras e pesquisas adicionais para aprofundar o seu conhecimento. Ficar só naquilo que um módulo traz é muito pou-co para quem não quer ter limites para o aprender, como você. Qualquer módulo precisa ser visto como um referencial orientador de um dado conhecimento. Cabe a você buscar e complementar as informações relevantes para a sua formação.

Ademais, espero que crie e ajude a criar aprendizagens. Seja uma pessoa flexível, aberta e aco-lhedora. Esteja sempre aberto a partilhar o que sabe. Use a sua imaginação e criatividade. Procure desenvolver e usar o seu bom humor. Já se disse, muitas vezes, que “rir faz bem à saúde”. Desenvolva a sua sensibilidade e a sua empatia. Nada disso diminui o nível acadêmico de um curso. Pelo con-trário! Essas coisas são sempre bem-vindas. Quebram barreiras. Derretem “gelo”. São insubstituíveis na comunicação humana. E portanto, também agora, nesse nosso esforço de construção coletiva de conhecimentos.

Não é demais lembrá-lo que busque, sim, aplicar o que aprende às situações reais da sua vida. Valorize o aperfeiçoamento contínuo e viva o prazer de aprender. E, sobretudo, descubra formas de liderar e influir no seu ambiente, com espírito solidário, discernimento, maturidade e responsabilida-de. Ou seja: busque “fazer diferença no mundo”.

Desafio � – Desafios no uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação – Tics.

Você sabia que Fernão de Magalhães, explorador do século XVI, conseguiu frustrar um motim a bordo escondendo as suas cartas de navegação? Dessa forma, tornou-se indispensável e respeitado na viagem: afinal, era o único a ter acesso à informação do caminho certo a ser seguido. (SENGE e

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colegas, 1999).

No momento, você se encontra numa situação próxima, por precisar construir sua carta de nave-gação. Fora isso, nada se parece. Não me parece que você tenha diante de si um motim armado. Não há, de sua parte, nenhuma necessidade de esconder, mas de detalhar e deixar cada vez mais explici-ta, a sua carta de navegação, pois quanto maior a socialização da sua carta, maior a sintonia com as trilhas da aprendizagem e, portanto, mais você saberá que está na rota certa desse curso.

Sentiu que esses desafios todos que temos trabalhado são, na verdade, partes importantes desse detalhamento e explicitação da sua já famosa “carta de navegação”? Acredito que hoje, mais do que ontem, você está em melhores condições para criar e vivenciar, nesse curso, uma aprendizagem sig-nificativa. E você, o que pensa?

Nesse último desafio do nosso diálogo, vamos nos deter um pouco na utilização das tecnologias na educação a distância. Não falo do ponto de vista de uma discussão teórica. Quero explorar um pouco a idéia do quanto essas inovações tecnológicas podem nos ajudar, expandido a nossa capa-cidade de comunicação e as nossas possibilidades de aprendizagem. Por trás disso, tem algo menos visível e revolucionário que é a influência das tecnologias da informação e de comunicação, na nossa forma de pensar, de ser e de estar no mundo.

Quem, como eu, trabalha em papéis diversificados na educação a distância tais como com a co-ordenação pedagógica de cursos de formação de professores, com a supervisão de módulos, orien-tação do trabalho de tutores e com a orientação de monografias de alunos que residem em vários lugares do Brasil, estaria impedida de fazer tantas coisas assim, ao mesmo tempo, se não fosse o acesso diário à internet, desde 1995.

A forma de eu ser e estar no mundo, como pessoa e profissional da educação que busca “fazer a diferença”, com certeza inclui a internet. Isso para não falar no valor da internet para a comunicação com familiares e amigos, residentes no Brasil e em outros países.

Acredito que a sua realidade não é diferente da minha. Cada vez mais precisamos desse mundo eletrônico e virtual para resolver as coisas do dia-a-dia. Contudo, se por alguma razão as TiCs ainda não integrem o seu cotidiano, não se desespere. Isso não é coisa do outro mundo. Há como mudar, sem complicação. Depende de determinação e de tempo, já que não dá para aprender tudo de uma vez. Se ajudar, leia o relato das minhas tentativas de aprendizagens nesse campo. Estão relatadas a

seguir.

Tropeços e evolução de uma noviça não rebelde no computador

Noviça no computador, a primeira coisa que tive que aprender foi deixar de ter medo de me aproximar dele. Mas isso só passou mesmo quando escrevi uma “cartilha” particular

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detalhando os passos necessários para chegar à internet. Ela ficava ao lado do computador, de fácil acesso. Além da minha, fiz muitas outras cartilhas dessas para amigas minhas. Caminho certo da nossa segurança, e de quem tinha medo que estragássemos os seus computadores...

Não ria, mas o primeiro passo da cartilha era mesmo como ligar o computador, sem risco de queimá-lo, por causa da necessidade do transformador. Naquele tempo, o acesso era com linha discada, não tinha navegador como Alta Vista ou o tão conhecido Google. Lembro até hoje o barulho do modem quando tentava a conexão e quando conseguia, finalmente! Aquilo chegava até a me emocionar. Dependendo da hora do dia a tela só continha “lixo”. Se quisesse pesquisar melhor, tinha que levantar às 5 da manhã. Depois das 8 horas, piorava tudo. Mais lentidão no sistema e mais lixo na tela.

Como não tinha os navegadores de hoje, usava para a pesquisa de documentos o protocolo “Gopher”, (especificado em 1991) usando o sistema “Verônica”. Acompanhei encantada o “Alta Vista”. Conheci-o na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, antes da sua popularização no Brasil. Num dia, entrei madrugada adentro vendo ele funcionar. Parecia até mágica. Entrava com as palavras-chave e lá vinham as opções. Era só sair clicando. Um encantamento que logo aprendi, precisava de filtro seletivo de pesquisa. Hoje uso com muita freqüência o Google e estou satisfeita com ele. Mas já testei outros e, mais recentemente usei o Snap (http://www.snap.com/), que tem o seu lado prático e, dependendo, pode economizar tempo. No momento ele é bem limitado se a palavra-chave estiver em português. É melhor usar o inglês. Não sei o que ocorre com outros idiomas.

O Gopher rapidamente perdeu a sua popularidade. Mas nunca vou esquecer a primeira vez que o usei, lá na UnB, quando numa salinha do CPD, fiz um curso de introdução à internet, por volta de 1994. O que se eternizou em mim foi aquela sensação de que estava diante do infinito. Ele me pareceu grandioso! Era mesmo um mundo infinito de informações disponíveis ali bem perto, ao alcance das minhas mãos. A um toque do teclado e a um clicar do mouse. (Esse mesmo mouse que antes era para mim um “periférico de entrada” e que agora já sei que posso tê-lo sem fio (wireless) ou, ainda como um USB (Universal Serial Bus), e até incorporado ao notebook, como um “tochpad”). Usei muito o internet Explorer. Hoje uso o Mozila Firefox. É bom ter à disposição um navegador livre (não comercial), construído por muitos colaboradores.

Não posso encerrar esse relato sem falar de duas outras coisas que fazem parte dessa história. A primeira é que lá naquele curso de introdução à internet – a internet daquela época, o professor vez por outra dizia: “cuidado para não se confundirem com os comandos do DOS. Aqui é tudo diferente!”. Um dia respondi: “Nem se preocupe, professor. Não corro esse risco. Esta é mesmo a minha primeira grande experiência mais direta de contato com um computador. Não entendo nada de computador”. Ao que ele respondeu: “Então você não poderia estar nesse curso, entender de computador, era um “pré-requisito”. Sugeri que ele revisse os pré-requisitos

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de seus cursos!

A segunda e ultima é, na verdade, um agradecimento a todas as pessoas que foram me passando as trilhas da aprendizagem do uso do computador e da internet, ao longo desses anos. Em especial, agradeço todo o apoio recebido de meu marido e meus três filhos. Por isso e por tudo o mais que são na minha vida pessoal e profissional.

Sabe de uma coisa? Quando usei o “Naquele tempo” me senti lá na pré-história da computação. Como usuária, bem entendido. Pois continuo não entendendo de computador. Voltando ao que fa-lávamos, pensei que isso que chamei de pré-história – o uso do Gopher, principalmente, foi uma coisa de pouco mais de 10 anos atrás. Um tempo relativamente curto, mas com muitas mudanças tecnológicas.

Daí fiquei pensando: e se fosse uma história de 10 anos no ciclo de vida da minha mãe ou das minhas tias, da minha avó e bisavó, será que teria a influência das tecnologias tão intensa, na forma delas de ser e estar no mundo? Influência, acho que sim. Mas não acredito que tenha sido assim de forma tão densa, E você? A velocidade da evolução tecnológica é bem maior agora. No tempo delas veio o telefone. Na cozinha, o gás substituiu a lenha. Mais recentemente a televisão entrou na sala de visitas. Claro, não da minha avó ou bisavó, mas a da minha mãe. Como lembro da minha avó “Doca”, mãe da mamãe, reclamar que as pessoas não mais se visitavam. Agora me responda: Na sua família, como essas coisas se deram? Como as tecnologias foram influindo no cotidiano das pessoas? E como isso vem ocorrendo com você?

Não estar atualizado com a tecnologias, é optar por “ficar para trás”. Sobretudo, é perder possibili-dades de uma comunicação mais imediata com as pessoas. Lembra-se do tempo que passava para as cartas chegarem de um local para o outro? No meu tempo, se postadas para o país demoraria cerca de uma semana. Já para o exterior, podia se esperar uns 15 dias.

Entre tantas coisas incertas e difíceis desse mundo, penso que há coisas muito boas. Penso que estamos num momento privilegiado da história da vida dos homens: a presença das tecnologias da informação e da comunicação no mundo. Mas isso só não basta. É preciso trabalharmos, cada vez mais, para a democratização do acesso a elas e, portanto, expandir as possibilidades de acesso ao conhecimento. Não podemos desperdiçar as múltiplas possibilidades de se aprender e de se so-cializar o conhecimento. Há muito que explorar nesse mundo infinito de formas de se buscar, criar, usar e difundir a informação. Não podemos deixar de usar o que estiver ao nosso alcance nesse curso – fóruns, chats, lista de discussão, e-mails.

Pensando nesse universo de mudanças na perspectiva da educação a distância, penso que muito das mudanças estruturais ocorridas estão bem explicadas no texto referente à Aula Magistral, mi-nistrada na Unisinos, em 11 de setembro de 2001, pelo Profº Dr. Otto Peters, da FernUniversität, em Hagen, na Alemanha. Ele já foi referido antes, lembra-se? Leia todo o texto que vai trazer muitas in-

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formações relevantes para você. Está no seguinte endereço: http://gemini.ricesu.com.br/colabora/n2/des-taque/ (acesso em 06.06.2006). Apenas para motivá-lo para essa leitura, passo a dar algumas informações sobre a palestra.

O título foi: “ Duas Mudanças Estruturais na Educação a Distância: Industrialização e Digitalização”. Nela o Doutor Peters foi explicando o que considera duas mudanças estruturais significativas da educação: da aprendizagem tradicional para a aprendizagem a distância e da aprendizagem a distância para a aprendi-zagem online. Na consideração da primeira, o autor discute a “industrialização” da educação, que para ele ainda tem influência, principalmente nas chamadas universidades abertas. Depois ele se refere a aspectos relativos ao que chamou de “neo e pós-industrialização”.

Já a segunda mudança estrutural - da aprendizagem a distância para a aprendizagem online, ele exami-nou o assunto fazendo uma interpretação comparativa de “espaços de aprendizagem reais” e “espaços de aprendizagem virtuais”. Para ele, “as situações de ensino e aprendizagem nesses espaços virtuais são estru-turalmente diferentes das situações correspondentes em espaços reais. Portanto, preenchê-los com ativida-des baseadas em modelos tradicionais de educação é inadequado e, em algumas áreas, causaria confusão”.

Ao ler esse trabalho, busque entender as implicações desses espaços para o processo ensino-aprendiza-gem. Preste especial atenção ao que ele fala sobre o princípio da autonomia da aprendizagem, em referên-cia aos autores Gottwald e Srinkart. Veja também como ele mostra o quanto a educação a distância depen-de da tecnologia e como isso tem implicações pedagógicas importantes que não podem ser ignoradas, seja no âmbito da prática, seja no da teoria e pesquisa da educação a distância.

Na medida em que exploramos mais e mais o nosso espaço virtual da aprendizagem – pela plataforma do curso, estaremos numa experiência de construção coletiva do conhecimento. Isto me parece coerente com o conceito de “inteligência coletiva” que, segundo Lévy (1995), encontra-se em toda parte, pois que ela resulta da mobilização efetiva das competências, do reconhecimento e do enriquecimento mútuo dessas pessoas.

Finalizo nosso diálogo trazendo um “aviso aos navegantes” que dei num módulo que fiz para o curso Arteduca - arte-educação a distância, organizado e desenvolvido pelo Instituto de Artes da UnB, em parce-ria com o CEAD, intitulado: “Criar aprendizagem: ofício e desafio do aluno a distância”. Trago por considerar que ele sintetiza coisas importantes do nosso diálogo aqui. O aviso diz o seguinte:

(...) Apenas lembro do óbvio: andamos com os próprios pés, não os tomamos emprestados de ninguém. Assim, o que você não se comprometer e não fizer por você mesmo nesse curso, a favor do seu crescimen-to pessoal e profissional, ninguém poderá fazê-lo no seu lugar. É você quem vive a sua vida. Valorize essa oportunidade de poder estar nesse curso agora. Mantenha as suas atividades em dia. Entre em contato com o seu tutor, sempre que precisar.

Enfim, dê o melhor de si e dedique-se ao curso.

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Faça dele um investimento pessoal – cognitiva e afetivamente. Você merece isto!

Continuo por perto. Será um prazer encontrá-lo num outro momento desse curso.

Bom trabalho! Sucesso!

Professora Maria de Fatima Guerra de Sousa

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