nas nuvens e outros textos essenciais - ricardo sílvio de andrade

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Em menos de um ano de blog, tive um retorno extraordinariamente positivo para com a nossa proposta. Nada melhor, pois, que brindar esse sucesso com uma coletânea de textos que são já a marca registrada do blog, como sempre, de forma livre e gratuita. Pode baixar à vontade!

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1 Nas nuvens

Ricardo Slvio de Andrade

2 Nas nuvens

Nas nuvens e outros textos essenciais

Ricardo Slvio de Andrade

3 Nas nuvens

Ricardo Slvio de Andrade

Nas nuvens e outros textos essenciais

2012

Ricardo Slvio de Andrade

4 Nas nuvens

Meu corao pulou voc chegou me deixou assim com os ps fora do cho! Pensei que bom, parece em fim que acordei. Pra renovar meu ser, faltava mesmo chegar voc, assim sem me avisar e acelerar um corao que j bate pouco de tanto procurar por outro, anda cansado, mas quando voc est do lado, fica louco de satisfao! Solido nunca mais! Elba Ramalho/Geraldo Azevedo

Ricardo Slvio de Andrade

5 Nas nuvens

So as pessoas para e por quem eu escrevo mais. Nada mais justo, pois que a elas, depois de Deus, Pai supremo e Fora Maior no universo, seja dedicada esta obra. A todos os mais de dois mil e quinhentos leitores, pela ateno dada a cada texto e pela gratido de cada novo acesso, um obrigado sincero. Ao meu nobre amigo Slvio Rogrio, que tem me dado um foro na divulgao do blog para os seus mais de mil seguidores do Twitter; minha sempre presente amiga Luciana Souza, dona de outro maravilhoso blog dedicado ao nobre ofcio da docncia e inigualvel companheira, sempre um ombro amigo a qualquer tempo; minha amiga Alessandra Pires, sempre uma ncora nos momentos de dificuldade. So amizades assim que nos mantm no rumo certo! Exemplos positivos so poucos, mas, graas a Deus, os tenho encontrado medida dos meus mritos. Dedico tambm essa obra ao meu amigo Fabiano Siqueira, pelo exemplo de hombridade e nobreza no desempenho da profisso, no zelo com a famlia, pelo respeito e, sobretudo, dignidade dedicada aos amigos. Valeu pela sua sempre constante presena! saudvel teimosia do meu nobre colega Erick Bittencourt, s broncas sinceras e construtivas e o acalanto da companhia da minha amiga Erika Lentz, meiguice sem igual da Gilciane Ferraz e tenacidade e nobreza de princpios do rcio Silva e tambm ao apoio do colega de sala e amigo Saulo Santos, l no comecinho do blog. Em cada um de vocs, um pedao deste livro... Por fim, aos meus pais e familiares, pilar de minha existncia e razo dos meus esforos, minha sobrinha Ana Ceclia, aos demais amigos aqui no citados e a todos os que conheci e conhecerei nessa minha incessante caminhada.

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6 Nas nuvens

Do autor Um livro no se constri de um momento pra o outro. Ainda mais quando se trata de textos cuja finalidade maior seja fazer a diferena na vida dos leitores. Um provrbio latino muito difundido d conta de que palavras faladas voam. Palavras escritas permanecem. Obviamente, destas ltimas palavras que tendemos a buscar mais auxlio quando a necessidade nos bate porta e todas as respostas parecem fugir. No obstante isso, nos livros aos que muitos, jocosamente, intitulam de autoajuda que muitas vezes est o mapa do tesouro que por vezes, esquecemos onde deixamos, perdendo assim o rumo na nossa busca pela vida afora. Por isso, com mais este livro, pretendo levar ao leitor um apanhado geral e em aleatrio dos textos que compem o blog. Agora, depois de quase um ano de publicao, os textos mais visitados so contemplados com um espao diferente. Com o livro digital, todos podem fazer o download e ler, quer seja em casa, no trabalho, quando no pc, quer nos tablets ou mesmo impresso, aos que assim desejarem, as principais postagens do blog, sem, contudo, haver a necessidade do constante carregar de pginas que s vezes desanima o momento da apreciao. O objetivo deste livro se tornar um manual de apoio e incentivo queles que precisam de um nimo a mais no seu dia-dia. queles cuja presena no blog serviu de incentivo a mais e mais momentos de reflexo e, como diria Ceclia Meireles, de mais lutas com palavras. Logicamente, o blog dinmico. Sempre haver mais postagens as quais faro parte do todo do espao na internet, de forma que, ainda que o leitor que adquiriu este livro diretamente das minhas mos, por meio de link para o Scribd no blog, ou atravs de blogs parceiros, tenha j com ele grande parte do contedo online, poder tambm conhecer muitos outros textos, tanto os que no apareceram neste material em funo da indisponibilidade de espao, quanto aqueles que aparecero aps a publicao desta compilao. Basta para tanto, atender ao meu convite e visitlo periodicamente. Pra ler todo de uma vez ou aos pouquinhos, pensando e refletindo sobre as palavras lidas. Este livro assim, despretensiosa e gostosa forma de encontrar o caminho rumo a ns mesmos por meio da autocrtica e da reflexo. Espero que o leitor se encontre nas minhas palavras e que possamos conversar mais no decorrer das novas postagens que iro ainda surgir no blog. At l! Boa leitura!Ricardo Slvio de Andrade

7 Nas nuvens

SUMRIO

Texto Para alm de um corao alado Quanto vale uma lgrima? A chave da alma Eu no gosto de voc Nasce-morre-nasce Por que voc? Ouro ouro Quando superar aceitar Tempo e distncia Dez coisas a no dizer aos verdadeiros amigos As pessoas e os valores que elas tm s vezes voc s no pode Carta de um homem aos seus amigos Manifesto pela franqueza 7 nos essenciais e porque voc deve diz-los Como as rvores nas cidades Eu, objeto Reputao Nas nuvens Um cavalo chamado Coragem Esprito bom, esprito mau Isso sobre auto estima Construindo o cio

Pgina 08 11 13 15 17 19 21 23 25 27 30 32 34 36 38 40 42 44 46 49 52 54 56

Ricardo Slvio de Andrade

8 Nas nuvens

PARA ALM DE UM CORAO ALADO. Quando paro para me debruar sobre as incoerncias de um corao humano, simplesmente involuntrio o desejo de desistir, de esquecer todo trao de humanidade que h em mim e, como muitos o fazem, simplesmente se jogar de corpo e alma num abismo de superficialidade, enganar, mentir, usurpar... tirar do meu irmo o mximo que me satisfaa em detrimento de sua integridade. Como amar a criaturas que, se hora te abraam, mais tarde te apunhalam? Como acreditar num amor que deveria ser nico e, ao mesmo tempo, distante, passvel de muitas variaes? Todas essas perguntas fazem tremer as bases de qualquer um. Penso em tomar atitudes que sejam dignas de um inescrupuloso criminoso mas detenho-me. Paro, respiro e procuro encontrar no fundo daquelas pessoas, ainda que distante e esquecida, a centelha de amor ao prximo que ainda arde, dentro de um corao inconstante, fugidio, alado. impossvel dizer ao certo o que nos atrai inicialmente em algum, seja para fins de amizade, amor, sossego ou por que no? desassossego. algo muito pessoal. como perfume. Voc sabia que o perfume varia de acordo com a pele de cada pessoa que o usa? Assim so tambm as pessoas, assim so os seus coraes. No se pode determinar o que algum possui que te prende, e te faz cativo de outrem. fascinante e ao mesmo tempo, desesperador. Todo corao alado, por isso que me detive nestas reflexes. Quem sabe mais algum no sofre por a com as mesmas dvidas? Dizamos que no se pode dizer o que te atrai em algum, mas certo, quase impossvel de se negar, que todos ns reconhecemos muito bem, frases, cheiros, toques, maneiras de olhar, de falar, que nos fazem prender a ateno, nos tornam expectadores fceis de suas aes. A isso, a essa estranha atrao, impossvel fugir, mas, mesmo que ela exista pra voc, se considere feliz se a outra pessoa tiver pelo menos conscincia de que assim o . Pois na maioria dos casos, amamos sem ser amados, nos importamos muito mais do que se importam conosco e, no fim, quase sempre samos feridos. Cada pessoa e isso s um bom psiclogo freudiano consegue encontrar em qualquer lugar ou pessoa, detalhes, nomes, correlaes com aquele ou aquela que o atrai. Comigo acontece com nomes, datas, referncias de profisso, jeitos e trejeitos de amigos e, o pior, pensamentos. Pensar em quem se gosta, quando se parte de um corao alado , muitas das vezes, um castigo, umaRicardo Slvio de Andrade

9 Nas nuvens

tortura maior do que a prpria solido. Tenho pra mim que os coraes que no amam so mais felizes do que os que amam, mesmo aqueles que so correspondidos. um tal de repensar de atitudes, uma constante lembrana, e todos os sentidos ficam acesos, cada respirao mais e mais dedicada ao ser amado pra, no fim, nem ser, em muitos casos correspondidos. As pedras no amam e sua existncia, at virar p, constante, segura, firme. Ptreos so os sentimentos que mais solidez denotam, tambm so ptreas as coisas a que no se mudam. Por que no se aplica isso aos seres humanos tambm? Entre ns, ao contrrio, um corao de pedra rgido, seco. Mas consegue, por um desses mistrios que a vida possui, ser felizes, do seu jeito, com as suas limitaes, com suas maneiras de pensar e de agir. Somos naturais e, ao mesmo tempo, antinaturais. Coraes alados encontram em sua marca os poderes mais fortes, os subterfgios mais espertos e tambm as mais poderosas armas para nos capturar, nos prender e depois simplesmente desaparecer de nossos olhos, deixando-nos apenas a lembrana e o medo de no mais voltarem. No amam, nem desamam. E na vida de pessoas tmidas acabam causando uma confuso emocional to grande quanto a bomba atmica. No amar s vezes at pode ser lucrativo, se houvesse, pelo menos, garantia de no sofrimento. Quando paro pra pensar nas pessoas e nos seus coraes, mesmo os que possuem coraes alados, fico imaginando como cada um, do seu jeito, no seu tempo, dedica a sua vida ao prximo. Me preocupo com a sade do mundo na medida em que a maioria das pessoas que amo nem so, por se dizer, iguais a mim. Lembrando delas, sinto tristeza ao pensar que daqui a dez anos, ou menos, nem sequer nos cumprimentaremos mais e imagino o que, ou quem, vai lhes ocupar o lugar no meu corao. Acredito sinceramente que os coraes alados so o mal do mundo. Mas sei que sem eles, nossas vidas seriam ainda mais estranhas do que j o so. Sinto pena, medo e alegria, esperana quando percebo-me apaixonado pelo gnero humano, pelas suas inconstncias e desafios e sei, ainda que a minha mente consiga me fazer duvidar e depois me dar certezas, que, ainda que no amado, consigo deixar minha marca naqueles com quem, realmente, me importo. E todos os medos e inseguranas, aos poucos, se dissipam.

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10 Nas nuvens

No vale a pena pensar que um amor ou um amigo sero para sempre eles no so. Erga a sua cabea e aceite esse fato. E esteja l quando todos precisarem. Ningum pode se considerar um bom amigo se no souber estender a mo, mesmo que sangrando, quele que o feriu anteriormente. Segue uma dica: quando pensar que no mais vai conseguir, imagine a situao oposta. Muitas vezes no temos a coragem de impor ao outro o flagelo que nos impem. A estes, tenha certeza, voc j est acorrentado. E se a insegurana bater sua porta pois ela sempre bate no se amedronte. Deixe-a entrar, converse com ela e entenda que sem ela, no haveria o que nos tornasse mais proativos. Efetivamente, s sentimos insegurana para com aquilo ou aqueles com quem nos importamos e o medo que vem com esse sentimento, no fim, substitudo por grande alegria quando confirmamos nosso erro, quando percebemo-nos amados e, dessa forma, vai-se a insegurana at a prxima visita. Coraes alados so ddivas e castigos. Todos os temos e os teremos para nos lembrar de que nem sempre o amor que desejamos est nossa disposio, para nos fazer acreditar que somos limitados, mas que toda limitao passageira e que o amor que voa longe hoje, seja fraterno, carnal ou platnico, pode nos surpreender amanh, ferido e sangrando graas a outro que o atingiu em cheio e o jogou na estrada. Funciona assim com os coraes alados. Funciona assim com tudo o que gnero humano.

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11 Nas nuvens

QUANTO VALE UMA LGRIMA? As pessoas no so como a matemtica. No se pode decifrar algum, colocar numa frmula, tampouco quantificar cada um. Ningum pode dizer quanto valho eu, quanto vale voc. Sua vida, assim como a minha uma pgina em branco e cada histria escrita com um estilo especial. No h histrias boas nem ruins, apenas histrias. Acontece que costumamos nos desviar desse pensamento. Isso acontece com todo mundo, cedo ou tarde, passamos a confiar de menos no nosso potencial, perdemos a viso de mundo e acabamos delegando a outros uma felicidade que deveria depender de ns mesmos. Muitas pessoas simplesmente se desacostumaram a viver s. Ningum se ouve mais, quer porque passa os dias atrs de uma imerecida ateno, ou porque quando encontra tempo para si, resolve entorpecer-se com muita coisa que no leva a nenhuma forma de crescimento. Pe-se um fone no ouvido, uma msica alta e simplesmente se desliga do mundo. Pensamos menos em ns mesmos, mais no mundo e mais ainda do que esperamos dele. Somos espelho daquilo de que nos compe por dentro. Conheci pessoas cujas profisses tendem a enrudesc-las, causam-lhes tanto mal em virtude das atitudes que tomam nelas que, aos olhos do mundo so sempre grotescos, mal encarados ou muito limitados no plano da sensibilidade. Procurando bem, encontrei neles muita sensibilidade, respeito, veracidade. Em muitos, verdade, no encontrei quase virtudes, mas em todos encontrei algum trao de humanidade. Cada pessoa tem um valor escondido. Para encontrar o seu, basta parar e ouvir a si mesmo. Diz o brocado bblico que a boca s fala do que est cheio o corao. O que voc tem falado ultimamente? Que testemunho a sua boca tem dado de voc? Para muitas pessoas so respostas difceis de responder, pesadas demais para o orgulho de cada um. Mas acontece que quando delegamos a nossa felicidade a algum, paramos voluntariamente de nos ouvir e, pior, de gerenciar a nossa prpria vida, acabamos inferiorizados pelos prprios entes a quem amamos. um processo natural de incapacidade auto imposta. Acostumamo-nos ao delegar de sentimentos, porque em princpio mais cmodo, mas, com o tempo, isso passa a ser um determinante, um limitador. Quem voc tem de ser definido por voc mesmo, do contrrio, quase certo cair num hiato de vida que s levar a uma angstia constante e real. Cada lgrima que cai do seu rosto o resultado de um crescimento ou de uma constatao. Ambas as formas no tem preo, a primeira porque sempre lhe mostra um novo caminho, umaRicardo Slvio de Andrade

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nova resposta s perguntas que voc sempre fez, mas nunca conseguiu lograr xito em alcanar; o segundo porque sempre uma oportunidade ao questionamento, ao crescimento por meio de autoanlise, autocrtica. Vale tudo para evit-las, mas, cedo ou tarde elas vm. Melhor que venham o quanto antes, pois seu aprendizado sempre valorosa experincia de vida. Cada pessoa escolhe o caminho que mais lhe apraz, pois, se o prprio Deus nos deu o livre arbtrio e Ele mesmo se escusa de interferir nele de nossa responsabilidade cuidar da nossa vida como melhor nos agrada. Entretanto, no se pode culpar a Deus pela nossa omisso, nosso sofrimento decorrente desse abandono, desse esquecimento de ns mesmos. Amar, estar perto de quem se ama, quase sempre sinnimo de felicidade. Mas no pode ser, em si mesmo, o desencadeante de toda forma de felicidade que vivenciamos. Nossos amigos so as pessoas que escolhemos para conviver. No h obrigao da parte deles para conosco nem de ns para com elas de estar junto, de congregar, mas, mesmo assim, pelo simples amor fraternal, acabamos por nos ajuntar. Entretanto, cada vida uma vida, cada histria segue em rumo prprio, cada cabea um mundo. Amores no so eternos. Amigos se afastam de ns e no final, ficamos apenas ns mesmos e a nossa conscincia. Como prestar contas a ns mesmos no final? O que dizer prpria conscincia quando formos estranhos a quem, de fato, somos? So questes que a maioria das pessoas simplesmente no levantam, passam pela juventude e pela vida adulta inconsequentes, passam por paixes, amigos, trabalho e todo o fardo que a vida lhes obriga a carregar e no percebem o quo valiosas so a si mesmos. No final, a conta alta e o saldo pouco. Somos estrelas de nossas vidas. Protagonistas, jamais coadjuvantes. Saiba tomar justas decises e no tenha medo de errar, desde que em nome de princpios, de valores seus. Ame, mas ame a si mesmo, pois o primeiro amor sempre o amor prprio. Chore, ria, brinque, e no se esquea de fazer isso sempre em companhia de pessoas que estejam no apenas na sua vida, mas no seu corao tambm. Fazendo isso, pouco ou nada dever, na sua velhice, a si mesmo quando se perguntar: qual o valor das minhas lgrimas?

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A CHAVE DA ALMA. Olhos turvos, mos nervosas e a gente entra na casa de um homem. E l dentro esto seus tesouros, seus valores. Todo homem em sua ilha familiar transborda em si mesmo e se abre em orgulho quando da construo bem feita, ou sofre calado as mculas dos seus erros. Delineiam-se traos marcantes, e logo aflora confiana e respeito. Entra-se na casa, deflora-se um mundo. Ouvir e saber ouvir nesse momento a chave de uma completa experincia com aquele a quem se escolhe gostar. Sim, pois, mesmo que no queiramos reconhecer, gostar um ato de escolha. Abrindo-se os ouvidos e depois o corao, a gente escolhe as pessoas que gostamos. Quando fazemos o processo de forma errada, normalmente, acabamos gostando das pessoas erradas. Mas toda mgoa e todo o medo sucumbe diante da possibilidade da nova experincia, e cada momento se faz nico, se faz eterno no descortinar de uma nova vida que se abre diante dos nossos olhos. Mentes abertas, adentramos na casa do homem, em seu castelo, em tudo o que ele acredita, mesmo que as crendices que ele construiu estejam alm do que se observa ao nosso redor, ainda que esta ilha seja demasiado distante da realidade que abraamos cotidianamente. As portas do mundo do homem esto abertas ao sossego que encontra naquelas pessoas que escolheu pra seguir adiante na vida. Entramos, todos, em casas distintas. Uns por necessidade, outros por convenincia, poucos por valores espirituais. Escolhas abrem portas, mas como entramos, muitas vezes, pode ser uma imposio, algo que chamamos de sina, mas que no seno a manifestao incontrolvel do valor de uma escolha. H muitos homens e h muitas casas. Desespero, alegrias, tudo que a casa do homem mostra, como num santurio, permanece l. Medos, anseios, infelicidades e opostos a estes sentimentos. Tudo, tudo mesmo, est dentro, guardado, velado pelos olhos do homem que passeiam sobre cada parede, a fim de certificar-se da solidez dos seus domnios. Ao fim, dorme embalado pela segurana que criou, ainda que cercado por um mundo diante do qual ser mera partcula. Entramos nas casas dos homens, procuramos identidade l dentro. Esperamos aceitao at que possamos, em fim, retornar nossa casa. No h casa que no seja lar provisrio dos nossos bemquereres e nada como a aceitao, o apadrinhato dos cuidados que se obtm ao ser aceito numRicardo Slvio de Andrade

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ninho que no o seu, mas que lhe remete a ele constantemente. A casa do homem, por ser sua morada, traz consigo muito da personalidade do homem, escondidas em cada canto, uma memria, um olhar, e todos os seus valores so despertos. Mudamos o cenrio, mudamos a conversa, mas o lan que se estende sobre nossas cabeas nos faz sentir abertos tambm. Por fim, o homem adentra na nossa casa. Somos fisgados: amizade.

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EU NO GOSTO DE VOC. H trs tipos de pessoas no mundo: aquelas que amam voc, as que gostam de voc e as que no gostam de voc. Do ponto de vista prtico, aprendemos pouco com as primeiras, mais com as segundas e temos verdadeiras lies de mundo com as terceiras. Nada contra quem me ama, mas, com o tempo o amor traz o medo de machucar e, por isso, as pessoas passam a no falar certas verdades, a suportar alm da conta e, por fim, vo para o time das que apenas gostam, quando, no extremo do incmodo, passam a, de fato, falar mais, entender mais aspectos que sua personalidade possui e que, de alguma forma, no so como elas esperavam e, consequentemente, acabam verbalizando tudo isso e a sim machucando pra valer. Eu sempre fui partidrio da ideia de que ningum obrigado a gostar de ningum. Mas as pessoas teriam que, por decncia ou respeito, que deixar isso claro. Quando se investe mal o seu dinheiro, o prejuzo certo, mas recupervel, desde que se tenha o cuidado de zelar mais pela sade financeira. Quando se investe em sentimentos, o bem que se perde raramente equiparado a outro. Como se compensa o choro? Quantos dias felizes pagam uma traio? Quantos elogios suprimem a dor de uma maledicncia traioeira? preciso atentar para nossas aes. Errar humano, mas o erro assim como as condutas no vem sozinho. Ele traz consequncias. Muitas vezes, ns nem sequer estamos prontos para abarcar o nmero de responsabilidades advindas de um erro momentneo, de uma brincadeira de mau gosto. Baixar a cabea e aceitar, nem sempre tambm uma atitude que as pessoas esto dispostas a tomar. Assim, estas acabam cada vez mais distantes e inconcludentes em sua prpria misria moral. Um pensador chegou concluso geogrfica, mas etereamente falando, muito verdadeira de que a terra esquenta e os homens esfriam. Quanto mais quente a terra, mais frios os homens. Essa frase me marcou porque realmente, transcende o observvel e nos faz atentar no apenas para o fato, aquilo que se percebe e que se constata, estampado nas capas de inmeras revistas cientficas: o aquecimento global, mas revela tambm que ns, seres humanos, homens e mulheres, estamos nos afastando de ns mesmos. A vida em sociedade depende dessa unio que, no entanto, est cada vez mais fadada ao esquecimento.

Ricardo Slvio de Andrade

16 Nas nuvens

Temo ver chegar o dia em que mesmo olhar nos olhos seja considerado invaso do espao do outro. Abraar j o . A gente s abraa a quem somos muito prximos, ningum sorri mais ao estranho que passa na rua e mesmo passar em determinadas ruas j algo de se pensar em fazer ou no. Valoramos nossas qualidades e nos lanamos no mercado social como se fossemos pedaos de carne num aougue. Buscamos pessoas iguais a ns e pr-julgamos a todos que no compactuam das nossas ideias. Somos cada vez mais e cada vez mais intensamente, inimigos de tudo o que nos lembra fraternidade. Quando Cristo dizia para amarmos ao prximo, no me passa pela cabea que estes prximos que devem ser amados sejam apenas aqueles com quem temos afinidades, mas a todos que esto, de verdade, dentro do gnero humano, amando e sentindo a necessidade de compartilhar esse amor que s constri. Quantas vezes no olhamos feio o mendigo que passa na rua? E as maledicncias com relao aos homossexuais? E aqueles momentos em que falamos mal de pessoas que nem sequer conhecemos ainda? Todos esses comportamentos acabam ferindo mortalmente este que um dos valores no da nossa sociedade, mas do cristianismo e de Deus em essncia. Nunca acordamos para o erro at que j tenhamos perdido um bem espiritual maior, coisas que no se compensam, no tm outro correspondente seno elas mesmas, algo que depende apenas do simples existir em si mesmo para que se possa constituir, verdadeiramente, em uma virtude. Amigos existem aos montes. Inimigos tambm. Podemos aprender com todos eles, desde que estejamos cientes de que nosso papel como seres humanos compreender uma dinmica da qual a justia, por mais utpica que possa parecer, possa ser feita. A nossa conscincia o nosso maior benchmark e ela que precisa ser acionada cada vez que temos que escolher entre amigos e parceiros, entre aniquilar o inimigo ou mudar a sua opinio, dar a outra face. No gostar fcil, difcil mesmo explicar porque no se gosta. Mais difcil ainda ter a nobreza de corao para reconhecer que pouco se esforou para gostar. Finalizando o post, gostaria de dizer que, a exemplo de algumas pessoas que conheo, triste perceber que pouca coisa, um cargo, uma certa posio social, um pouco mais de popularidade, faz com que as pessoas julguem-se para alm dos demais. Vale para eles o conselho de outro ditado popular: no use seus amigos como degraus da sua subida, pois poders encontr-los durante a sua queda.

Ricardo Slvio de Andrade

17 Nas nuvens

NASCE-MORRE-NASCE. Algumas pessoas so afortunadas porque elas no sentem nada no nosso mundo, por que sentir algo cada vez mais criminoso atualmente. Pessoas como estas levam suas vidas sem pensar, sem sofrer, sem nada acrescentar sua experincia emocional. Infelizmente, caro leitor, eu no sou uma dessas pessoas. Eu queria muito, de verdade s-lo. Isto um fato triste, mas, conforme me compete neste novo abrir de portas da minha vida, um sentimento verdadeiro, no apenas verdadeiro, um sentimento de fuga. A gente nasce. E quando a gente nasce, nascem conosco todas as nossas expectativas. Quando somos crianas, nossos pensamentos, por mais instintivos que sejam, sempre esto orientadas ao magnetismo mgico, etreo do nosso primeiro contato com o mundo, quando no somos quase nada seno alguma esperana e muita fragilidade. Nesse perodo, dependemos exclusivamente dos outros para sobreviver. Como triste, leitor, quando rompemos essa barreira, e passamos a ver a necessidade de seguir sob a gide da nossa prpria experincia. Quem nunca se pegou chorando saudades ainda que de forma simblica dos dias da sua infncia? Quando a gente cresce, junto com o avermelhar profundo do mundo, crescem tambm os sentimentos de rejeio, o medo. O mundo nos ensina no jogo social e cada vez mais a competitividade nos arrasta para um rumo em que, invariavelmente, s nos resta apenas lamentar no estar naquele tempo em que, nos braos dos nossos pais, amigos, irmos, ramos seguros e salvos. Mas as coisas no acabam na nossa fase adulta. Crescemos, mas a nossa essncia no muda jamais. Estamos sempre buscando o que fomos, para que haja argumentos suficientes para delimitar o que seremos sem nunca nos desligar do nosso DNA emocional. Morremos para a infncia, mas ela no desaparece em ns. Tudo o que assimilamos na infncia reaparece em forma de desejos, medos e alegrias na fase adulta. Crescer ignorando o que a criana em voc lhe diz, prezado amigo, , positivamente, sofrer em dobro. Crescer um horror quando sentimos que no estamos preparados para o mundo ainda. Mas necessrio. A nossa criana precisa ser o nosso guia, o nosso corao precisa ser sincero aos seus pedidos e nunca imperativamente temer suas escolhas.

Ricardo Slvio de Andrade

18 Nas nuvens

Por isso, mesmo sentindo como difcil, minha criana ainda quer apostar em mim. Sinto que no a ouvi por muito tempo e quando no se faz isso, certo que a caminhada torna-se em vo e temos que retornar ao ponto em que comeamos para seguir adiante. Achei legal escrever sobre isso, porque, hoje, percebo que em muitos aspectos, eu continuo sempre retornando ao ponto de onde parti, insistindo nos mesmos valores, sofrendo os mesmos perigos, chorando as mesmas dores que antes. Tudo porque ignorei quando meu corao minha criana interior me pediu temperana, pacincia, criticidade. Sabem, ser algum que sente, num mundo de sentimentos proibidos, acaba custando caro. Primeiro, porque se voc consegue matar um sentimento, ele renascer mais forte: a sua criana interior no morre; segundo, porque destes mesmos sentimentos podem advir consequncias maravilhosas ou terrveis, de acordo com a forma que escolhemos para lidar com eles. O conflito at demora, mas no deixa de vir. Hoje eu sigo meu rumo. Confesso que entrei em situaes as quais eu tinha certeza que jamais iria entrar. Sabem o que eu descobri? Que maltratei demais o meu prprio esprito, neguei-lhe necessidades viscerais e hoje busco encontrar em outras pessoas, objetos morais que eu deveria ter mantido intactos no meu prprio eu. A gente morre dessa forma tambm. Mas essa morte s perdura enquanto no vivenciamos conflitos, ou enquanto no reservamos um tempo para compreender que, sem quaisquer presses, nosso espirito enfraquece. Nasce, morre, nasce. Somente assim a nossa caminhada pela vida se torna essencialmente rica. Somente quando delegamos ao nosso esprito a possibilidade da vivncia, em circunstancias idnticas, porm em momentos distintos, de situaes as quais no conseguimos lidar a priori. Nosso corpo regido pela nossa mente. Cuidemos, pois, dela de maneira verdadeiramente honesta. Revire o ba de suas emoes e prepare seu corao para aquelas cujo momento de encontro h muito foi adiado. Eu fiz isso e no me arrependi. Pior seria ser pego de surpresa pela vida sem que dela eu tivesse colhido todos os subsdios que eu precisava para torna-la significativa.

Ricardo Slvio de Andrade

19 Nas nuvens

POR QUE VOC? s vezes tendemos a no conhecer a ns mesmos. Somos incoerentes e por vezes intransigentes com amigos, colegas, irmos. No conhecemos os limites aos nossos sentimentos egosticos e, cedo ou tarde, pagamos pelos nossos erros. A vida cclica e o mundo at pode ignorar os seus erros para com voc, mas, para que haja a harmonia necessria aos demais mecanismos de que dependemos para viver, certo que no vai ignorar o que se faz aos outros. A vida geralmente no pune. No pense por tal via de raciocnio. Ela apenas retribui em paga aquilo que desejamos aos demais. D-lhes coisas boas e receba ddivas. Nada mais certo do que o dito popular: quem semeia ventos, colhe tempestade. E estas, meus leitores, tendem a deixar estragos anlogos aos que deixam tambm os reais estragos de uma tempestade natural. Felizmente a nossa colheita nunca acaba. E se no foram bons os resultados desta estao, provvel que a prxima poder ser melhor. Resumindo, nosso crescimento no para nunca. Pensamos de um jeito hoje, mas esse pensamento resultado de um momento apenas. Amanha pode nos trazer nos novos ventos, novos pensamentos, novas atitudes. Precisamos apenas abrir as janelas a estes novos ventos para que entrem e nos faam sentir novamente em nossas mentes, a fora para o novo momento. As coisas que nos acontecem, quando da fatalidade ou da causalidade, nos servem de incentivo para pensarmos o caminho que seguimos. Muitas vezes, na nsia de chegar a um determinado lugar que, no raro, nos imposto, no exultamos em, feito cavalos de batalha, sair derrubando a tudo e a todos, para que se faa a nossa vontade, satisfaam os nossos desejos e, em fim, consigamos o que almejamos. Mas nem tudo desejo, h coisas que so doao, h aquelas que so reflexo, coisas boas e coisas ruins, em fim, h coisas que por mais profundas, mais medonhas, mais degradantes que sejam tambm so parte de uma biografia vencedora. Somos tendenciosos a achar que o fundo do poo sempre o fim da linha. E que esta o trmino de uma vida, quando, na verdade, pode ser apenas o recomeo. Na nossa trajetria de vida, quantas vezes iremos at l? No se sabe, mas certo que pode acontecer. Se levarmos o nosso pensamento ao conjunto dos que pensam que somente vitoriosos conseguem ter uma vida de vitrias, pensaremos tambm que toda derrota um ponto final. E o que restaria dos demais humanos se, na primeira queda, esquecssemos todo o que j foi construdo? s vezes a prpriaRicardo Slvio de Andrade

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pedra teve seus momentos de fora para estar ali e a nossa desventura, quase sempre, o resultado de uma aventura anterior. Podemos resgatar o nosso pensamento e ver que, na vida, quanto mais nos martirizamos pelo que no conseguimos, menos conseguimos. E as coisas seguem assim desde que o mundo mundo. Desistir s vezes a maior prova de coragem. E chorar no vergonha se de vergonha no for o choro. Esquecer as coisas ruins no fcil. Alis, certo dito da internet afirma que perdoar no esquecer, lembrar sem doer. Perdo s vezes a parte mais complicada das nossas vidas. Errar fcil, restituir o prejuzo do erro muitas vezes nos consome muito tempo e s o preparo dirio nos permite ver, prevenir e resolver problemas relacionados ao nosso egosmo natural. Somos seres humanos imperfeitos, com tendncias ainda mais imperfeitas. o nosso fardo, mas no precisa ser a nossa sentena. Um momento por vez, um defeito por vez e chegamos ao fim sempre mais fortalecidos. A incoerncia do pensamento, somente nos leva ao desespero. Quando tiver uma dvida, espere o momento passar. Preveja a importncia daquilo na sua vida e se no for em nada acrescentar, amigo, amiga, apague da memria. Quando pensamos demais em algo tendemos a ignorar os detalhes que s vezes revelam o que se esconde sob o vu da ansiedade. Por fim, no esquea que quando as coisas parecerem ruins, porque muito provavelmente elas esto. Mas se voc est passando por isso, porque capaz de superar qualquer coisa. Sozinho ou com amigos, a vida aquilo que fazemos dela. Ao invs de se preocupar com a culpa, com o medo, melhor seguir adiante e se no conseguir agora, pare um pouco e pense numa outra estratgia. Quando as respostas desaparecem da sua mente, seu melhor conselheiro o travesseiro.

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OURO OURO. No importa seus mritos, nem suas qualidades. As pessoas sempre tentaro te colocar num patamar abaixo delas mesmas. um fato. Uma constatao. A gente precisa estar sempre consciente, entretanto, de que as pessoas que fazem isso nem sempre dispem dos mesmos recursos emocionais que ns, ou os dispem, mas preferem matar essas ideias em prol do egosmo que lhes consome o esprito. Todos somos egostas e em algum momento da nossa vida acabamos por ferir as pessoas que gostamos em nome do nosso prprio bem, ainda que esse bem no se reflita em algo duradouro. Dinheiro, posses, sentimentos de inferioridade em relao ao outro, inveja... tudo isso est l, bem escondido dentro de ns, e primeira oportunidade aflora para, de uma vez por todas, causar um mal que leva muito tempo para ser revertido. Na maioria das vezes, somos definidos pela capacidade de ceder ou resistir a estes sentimentos. Neste caso, a valorao imediata. Quando parei pra pensar sobre isso, observei que a maioria das pessoas no sabe o mal que causa a si prprio ao adotar uma postura fraca diante do mundo que a cerca. Quer dizer, nem todos esto, em rigor de necessidade, atrelados aos sentimentos negativos como tbua de salvao, mas algumas pessoas se escondem por trs deles e as consequncias disso so tremendamente negativas. Quando me encontro num dilema entre eu e o meu prximo, penso no ouro. Mesmo o metal mais nobre, quando est na terra, negro, opaco, sem nenhuma referencia, ainda que mais remota que seja, ao metal que mexe com a cabea dos homens h milnios. Nessa fase, o ouro pode ser facilmente confundido com um minrio qualquer de parvo valor. A pirita, falso ouro, ao contraio, brilha em esplendor, mostrando uma coisa que no , mesmo quando nem foi tocada pelas mos do homem. Ouso sempre ouro. Voc sempre um ser humano. quando passa pela prova do fogo e do mercrio que o ouro brilha, que se mostra altivo e se destaca em meio aos demais minerais. o trabalho, no a natureza que faz com que o ouro adquira as melhores qualidades aos nossos olhos. Voc ouro. Suas impurezas lhe tornam opaco um brilho que, se for de sua natureza revelar, surgir, ainda que no ltimo instante da sua vida.

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Ns estamos diludos entre diversos gneros de pessoas, no para que nos voltemos em embates, em esprito blico, sobre elas, causando-lhes um mal que as corrompe ao invs de sublimar. Quando trabalhamos dessa forma, enegrecemos nossos coraes, e aqueles sentimentos que nos tornam mais e mais ouro, so abafados, escondidos. Eu no sou ingnuo e sei que para a maioria das pessoas, esquecer, perdoar complicado. Para mim tambm o . Certas mgoas a gente leva durante muito tempo conosco, como pesos. Entretanto, precisamos desses pesos, dessas marcas para viver no mundo. Se tivssemos o esprito to leve, ao ponto de dispensar tais agruras da vida, h tempo seriamos anjo, no seres humanos. Nossos erros esto a pra nos ensinar, nos mostrar o caminho que causa mais dor. Nossas experincias, e no as dos outros, so os nossos melhores mestres. Se voc caiu numa situao em que no v mais o caminho de volta, feche os olhos e pense: voc ouro. No importa onde voc est agora, se estiver vivo, ao certo algum o resgatar e o levar de volta ao local que voc merece no mundo. Lembre-se: ningum joga fora o anel de ouro que se rompeu, nem descarta-se o engaste sem o diamante. Ao contrrio, procura-se reatar o prejuzo o quanto antes, restituindo ao metal as propriedades que possua antes do famigerado evento. O ouro, no importa como esteja, sempre recupera o brilho e as propriedades que lhes foram pelo ourives despertadas. Assim tambm devemos ser. Ainda que o mundo no nos deixe ver, nossas qualidades, assim como os nossos defeitos, esto em algum lugar do nosso intimo, esperando nosso sopro de vida para mostrar ao ele quem realmente somos!

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QUANDO SUPERAR ACEITAR OU TRATADO SOBRE A TOLERNCIA NA NOSSA VIDA COTIDIANA. Nossas incertezas so traioeiras. Elas nos levam forar um entendimento das coisas dentro de rumos que nem sempre elas tomam, com base em suposies, juzos de valor, que conseguimos emitir ao nosso respeito e aos demais, sem nem mesmo estarmos sintonizados com aquilo que realmente acreditamos ser merecedores. Em geral, quando se trata de incertezas, somos maus jogadores, pois s marcamos pontos contra. Mas, se as nossas incertezas fazem parte daquilo que somos, como lidar com este ente malfadado? Bem, as solues aos nossos problemas de personalidade, assim como a prpria personalidade em si, tendem a ser individuais. disso que se trata este blog. No existe o remdio de caixinha que vai te trazer segurana, fazer acreditar naquilo que voc e te dar a medida exata dos seus limites. Pra conseguir isso, somente trabalhando seu carter, acreditando nas pessoas mesmo em situaes que parecem impossveis e tolerando. Nossa! De todos os remdios, talvez a tolerncia seja o mais amargo pois depende da nossa capacidade de ceder o espao prprio, aquele necessrio s nossas necessidades, para o outro, para suas excentricidades, defeitos e manias. As dores da tolerncia nos atingem no ego, mas transformam nossa capacidade de ver o mundo. Numa viso mais positiva da situao, tolerar se compara a uma cirurgia: uma medida radical de resultados arriscados, mas de enormes benefcios quando bem sucedida. s vezes a nossa sanidade mental, nosso emprego, as aulas da faculdade e o relacionamento familiar (sobretudo este) dependem, em muito, da capacidade que se tem de tolerar. Nota: quanto mais cedo se aprende o valor dessa caracterstica, mais rpido se percebe que o seu lugar no mudo no enfraquecido, mas consolidado. Seus limites so impostos para que voc descubra o que h alm daquilo que se conquistou. Se perder espao ruim, ganhar um novo ponto de vista pode ser positivo. Cultivar uma cultura diferente, sentir algum de maneira distinta do que naturalmente a gente sente pode ser um caminho certo para uma conquista valorosa e muito gratificante. Confiar em si prprio no ter motivos para temer aquilo que nos torna humanos: a capacidade de manter viva a chama da sociabilidade. Por isso, caro leitor, quando chegar a estas palavras,Ricardo Slvio de Andrade

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pense bem naqueles que voc, literalmente, no suporta. Quem sabe no justamente eles que iro te ensinar uma nova maneira, ainda que no seja a mais adequada, de compreender-se, compreender o prximo e crescer como pessoa? Ningum obrigado a nutrir empatia por ningum. Ningum precisa dessa simpatia, mas todos tm, por obrigao, seno crist, moral e humana de conviver com o outro. Nem os ermites consideram positivo o isolamento por si, s. Relembrando a fbula dos porcos-espinhos da era glacial, nossos espinhos acabam por marcar a nossa personalidade, tornando-nos pessoas mais ou menos suportveis, a depender da capacidade dos outros de suportar a dor que lhes infringimos. Confiar, ter tolerncia nem sempre certeza de se conseguir ser feliz, realizar aquela meta pessoal, nem de alcanar uma auto descoberta reveladora, verdade. Mas, quando crescemos, tendemos a tomar o mundo pela nossa medida, o que nos leva a um fosso enorme de ns mesmos. Ser para si o mximo, convm lembrar, no exclui o fato de sermos considerados o fardo de algum. Tolerar implica em ver questes como estas com mais abertura e jogo de cintura para contorn-las.

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TEMPO E DISTNCIA. O meu corao alado. O seu tambm. Engraado, porque quando falamos de fenmenos da cabea, das emoes, geralmente nos referimos ao corao. Essa tradio vem da Grcia antiga, quando as pessoas no tinham o cinzento conhecimento do corpo e a dor que sentiam era, em geral, apontada ao corao quando esta dor era causada por uma ansiedade do amor, do medo, da ansiedade, etc. Nosso corao alado e engana o nosso pensamento, neste caso, eu at aceito que os gregos estavam certos. Nossas emoes sempre superam a nossa medicina. Quando decidi escrever este post, decidi faz-lo para lembrar que os dois maiores remdios s nossas dores emocionais so sempre tempo e distancia. O tempo, por mais que algumas pessoas queiram afirmar o contrrio, justo para todos. Passa igual, mas os efeitos em cada um que variam, de acordo com a fora e a vontade dos indivduos. O tempo cura feridas, agrava loucuras, afasta, aproxima, , por fim, uma faca de dois gumes. Sofremos e o tempo vem, se encarrega de ignorar as foras desse sofrimento, com o seu passar, essas dores que nos preocupavam passam a ficar no trreo de nossa subconscincia. L elas no aparecem com tanta frequncia, entretanto, no desaparecem de tudo. Tempo a coisa mais preciosa que temos, entretanto, a que mais desperdiamos. Pense bem: podemos comprar praticamente qualquer coisa. Inclusive dinheiro. Entretanto, no h dinheiro neste mundo que nos restitua um minuto que perdemos em qualquer coisa que no seja uma das duas principais funes do tempo: o conhecimento e a cura. Pensando por este vis, o tempo nosso amigo, nosso inimigo, mas algum que, invariavelmente, vai bater nossa porta. No esqueamos que a memria no resiste ao tempo, nesse caso, nossas dores de agora, em poucos anos estaro esquecidas, mas o tempo que gastamos em esquec-la, este sim, no retorna mais. Associado ao tempo, mas no melhor que este, a distncia a segunda maior ambiguidade com que vivemos, por isso mesmo precisamos estabelecer que relaes teremos com ela. Distancia nem sempre sinnimo de afastamento. Este o primeiro ponto. O mundo redondo, e, em qualquer hiptese, logo a distncia regride, no h o mximo em termos de distncia no planeta terra e quando nos afastamos demais, acabamos encarando o mesmo problema de novo. O bom que tempo e distncia juntos, nos propiciam conhecimento, proteo, apoio. Mesmo quando estamos a ss, a distncia possibilita uma anlise da situao pelo lado de fora, ao passoRicardo Slvio de Andrade

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em que o tempo nos ajuda a colocar uma nova perspectiva sobre o problema. Muitas vezes, uma situao independe de nossa distncia fsica para se afastar da gente. Voc no precisa sair da cidade para esquecer daquilo que te faz mal, que te prejudicial. Voc pode escolher entre os desafios que ter de enfrentar durante o seu dia. No significa que voc est fugindo dos problemas, mas que voc admite que h problemas cuja sua capacidade e lucidez ainda no alcanaram a proporo ideal de temperana para enxergar a sada. Tempo e distncia podem lhe proporcionar esta temperana. Nosso sofrimento s agravado quando nos encontramos face a face com um problema para o qual no estamos ainda preparados para enfrentar. No tenho medo de desligar o celular quando necessrio pensar. No acesso emails, muito menos as redes sociais que participo cujas pessoas que so o alvo das minhas emoes fazem parte, se eu no estiver emocionalmente equilibrado e preparado para sua tristeza, indiferena, escolhas, excluses... qualquer coisa que elas fazem que vo de encontro com os meus valores, porque as pessoas erram, e nossa culpa ressaltar os seus erros mais do que suas qualidades. Esqueo do mundo e cuido s do essencial. Se voc no cuida de si mesmo, certamente no cuidar de mais ningum. J diz o dito popular que o primeiro amor o amor prprio. Seja responsvel sempre que quiser, mas irresponsvel quando for necessrio. No adianta entrar em conflito com algum cuja cabea no est preparada para entender o seu momento. Tempo e distancia precisam se alinhar com o que h de realmente importante para ns. E s descobrimos isso quando paramos para pensar no que est se passando ao nosso redor. Sinta sua pele, sua respirao, seu calor... tudo d indcios de suas necessidades e quando identificar alguma, no se assuste, apenas pare e cuide de si mesmo. Escolha sempre para voc em primeiro lugar. As pessoas te valorizaro medida em que voc se valorizar. Em cada um de ns h este potencial e basta que abramos espao nos mesmos, fujamos da baguna do nosso cotidiano e, olhando tudo de fora, percebamos que a felicidade um caminho, no um lugar, mas uma escolha, tambm.

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AS DEZ COISAS A NO DIZER AOS VERDADEIROS AMIGOS. 1 Cara, na verdade , eu acho que... Se voc amigo de verdade, no precisa dizer ao seu amigo algo que ele no . Se o seu amigo nunca subestimou voc, porque voc deveria faz-lo com ele? O principal papel do amigo educar. No -toa que as nossas companhias tm o poder de determinar, em muitos aspectos, o nosso comportamento. o que se aprende com os amigos que faz com que uma amizade seja ou no valiosa. 2 Sim. Quando o desejo dizer no. natural quando conquistamos novos amigos, desejar sempre satisfazer desejos. uma coisa que toca mais a nossa vaidade do que o sentimento reciproco entre duas pessoas. Geralmente, parecer descolado associado a no impor limites. Mas tudo o que no tem limites, acaba freado por algo maior. Para que a amizade no acabe em dissidncias e constantes expectativas elevadas alm da realidade, convm ter sempre um no nos lbios para quando for necessrio. 3 Oi, como voc est? Esta vai pros meninos, j que, ao que parece, as mulheres so mais amadurecidas do que os homens nesse sentido. Sabe, ns, homens, no reconhecemos o valor sentimental que os nossos amigos tm na nossa vida. Isso normal, e, de certa forma, se no tratadas com cautela, demonstraes pblicas de afeto entre homens podem trazer srias consequncias. No nosso mundo hipcrita, convm que no seja to explicita esse tipo demonstrao de sentimento. T bom que no seja explicita, mas acho que ela deve existir. Diga que se importa com seu amigo do seu jeito. Seja dizendo o quanto ele importante pra voc, seja comentando sobre o jogo do fim de semana, convidando prum churrasco ou zoando a roupa dele. Se ele for um amigo de verdade, no fundo vai compreender sua inteno. Claro, se explcito tambm no faz mal a ningum. 4 Cara, sua famlia estranha.... O porqu obvio: ningum gosta que falem mal da famlia. Apesar de a televiso, internet e os filmes nos mostrarem famlias perfeitas, em que todo mundo conversa e se entende, na vida real, as pessoas que escolhemos para amigos nem sempre vm do seio dessas relaes familiares. Se voc no se sentir vontade na casa de um amigo, comente isso com ele noutra ocasio, pode at perguntar detalhes que lhe causarem curiosidade, mas deixe sempre claro que seu amigo no precisa responder se no quiser. Em todo caso, evite ser rude ou

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deselegante nas suas colocaes. Se for o caso, explique ao seu amigo que no se sente vontade na casa dele e pea pra no o convidar a voltar l. Vai ser duro, mas ele vai compreender. 5 Cara, no vai dar pra eu ir quando o assunto aquele programa chato, tipo o teatro ou o jogo do time adversrio que voc odeia. Na verdade, esta questo logica. Seu amigo com certeza no compartilha em cem por cento as coisas que voc prope que sejam feitas,. Se, mesmo assim ele topa. Nada mais justo do que ser reciproco, no mesmo? 6 Parabns, voc merece. Se estiverem disputando aquela vaga de emprego, ou ainda, se ele est saindo de uma situao que voc gostaria de sair. Em geral isso parece hipcrita, mas, pior: pode soar como despeita. Felicite-o de outra maneira, como um convite pra um caf, ou ainda tomar alguma coisa um programa mais de parceiros do que de adversrios. No toque no assunto em questo se no for do desejo dele e lembre-se: se ele o vencedor, voc no pode se irritar se ele falar trinta vezes no quanto aquele cargo importante pra ele... 7 Cara, quebra esse galho a pra mim. Essa frase depende muito do grau de proximidade do amigo, alm do tipo da coisa a ser pedida. J pensou ter de se meter em uma enrascada por causa do seu amigo? Em geral , alm disso, quando pedimos pra o amigo fazer uma coisa, precisamos levar em conta se no podemos ou no queremos fazer a tal coisa. Se a nossa obrigao, por que colocar outra pessoa a faz-la? Bem melhor dosar o que se pede aos amigos, para que no se passe por interesseiro, nem tampouco sofra com maus entendidos na amizade. 8 Hum-hum... Hum-hum... Hum-hum... Porque quando as pessoas falam, elas esperam uma resposta. Isso parte do princpio de ser sincero. Se o assunto no lhe apraz, conduza a conversa para outro ponto mais agradvel a ambos, ou ainda, faa perguntas sobre o que esto discutindo, podem surgir muitos pontos interessantes numa conversa aparentemente desinteressante. 9 Eu sinto muito... Quando da perda de um parente. Na verdade essa a mais intil das expresses. Surgiu nos filmes americanos e se disseminou como uma praga pelo universo social do mundo inteiro. Na verdade ningum sente a morte de algum querido mais do que aquele que o perdeu. Limite-se a um abrao honesto. Gestos falam mais do que palavras... 10 Eu prometo que vou consertar Quando se faz aquela burrice. Na verdade, algumas coisas simplesmente no tem conserto. Se voc errou, pea desculpas e se esforce ao mximo para serRicardo Slvio de Andrade

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sincero no pedido e demonstrar no ter a inteno de reincidir no erro. Os amigos de verdade perdoam, ainda que precisem de um tempo mais ou menos demorado para isso.

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AS PESSOAS E OS VALORES QUE ELAS TM. Quando conhecemos as pessoas, tendemos a ver nelas caractersticas que agradam a ns mesmos. uma forma de encontrar um elo sinrgico entre os indivduos e a gente. Este elo s vezes se confirma, outras vezes no. um fato. Assim como levamos as coisas para este rumo, tendemos a pensar tambm as pessoas em nveis qualitativos. Pessoas boas tm muito a ver com a gente, pessoas ms, no. to simples! Mas , ao mesmo tempo, uma prova da nossa pouca iniciativa em apurarmos a nossa sensibilidade em relao s pessoas. Sabem, ultimamente vivo uma fase que tem me permitido viajar bastante. Como em toda viagem, tenho conhecido pessoas, muitas pessoas. E, mesmo com a minha cabea bitolada nessa de seguir selecionando as pessoas segundo os meus valores refletindo nelas, decidi conhece-las pelo que elas gostam, pelos valores que tm, pelo que realmente importante para elas. Se voc, leitor, pensar em fazer o mesmo, advirto que este um processo gradativo, cansativo e que exige muito mais da capacidade de acreditar, de observar, do que do nosso suposto senso de justia, pois as pessoas no revelam seus reais valores a menos que sejam impelidos por um elo de confiana a isto. Esta confiana somente pode ser explicada por meio do esforo individual de ambos os lados, um em se fazer prximo, outro sem e aproximar. Quando e s isto acontece, se pode enxergar o que as pessoas escondem sob a sua crosta de bom senso. E sabem o que descobri? Descobri que as pessoas as quais eu mais tinha afinidade, nem sempre encontravam nas suas vidas os ideais com os quais eu compactuava. Ao mesmo tempo em que percebi naqueles que se mostravam alm da minha capacidade de tolerncia, valores como famlia, amigos, respeito, espao prprio, entre outros, os quais em todas as circunstancias eu prego. Mesmo entre aqueles amigos que eu acreditava no haver divergncias de pensamento se mostraram evidentes aspectos estranhos minha tica, pelo menos do ponto de vista dos valores que propagvamos no nosso crculo. No conjunto, descobri que as pessoas no so puramente boas ou ms. Elas tm personalidades diferentes, desejam coisas que so prximas das que ns desejamos, mas trabalham, na maioria das vezes, em prol de coisas que o mundo impe a elas no deixando que valores realmente importantes aflorem, o que no impede que no seio de sua intimidade estes valores sejam cultivados. Em geral, as pessoas so uma questo de investimento. Investimos emoes demaisRicardo Slvio de Andrade

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naqueles que so parecidos conosco que, no fim, nos vemos em meio a uma selva de estranhos. E o pior: atraindo mais e mais estranhos a este mundo. Investir sentimentos, assim como identificar valores, deveria ser uma coisa amplamente aberta, sem preconceitos nem medos. Devamos tocar nesses assuntos com nossos amigos, mes, pais, com nossos filhos, em fim, com qualquer pessoa com quem mantemos contato mais intimamente. A nossa mente e a nossa viso turva com frequncia, graas aqueles valores que a nossa sociedade nos exige. Recentemente apenas descobrimos os males relacionados s emoes e a depresso, o maior deles, tem se manifestado de maneiras das mais diversas, no mais sob a clssica imagem do triste depressivo. Acho que as pessoas tendem a adoecer mais das emoes porque em geral, esquecem que elas so mistura, heterogeneidade. O mundo no tem apenas uma cara, mas muitas, tantas quantas deem conta da felicidade de todos. No existe a pessoa certa, antes, existem as pessoas e s. Acho que constatar esse tipo de coisa no serve pra eu, muito menos ao leitor, eliminar de vez os sentimentos de antipatia por algumas pessoas. Mas serve para impedirmos de passar com o nosso trator emocional sobre os sentimentos delas. Magoar ainda o maior mal que uma pessoa pode oferecer a outra, e h formas de magoar que no agridem apenas o ego, mas tambm o esprito e essas formas so imensamente danosas, pois na maioria das vezes so irreversveis. Descobrir as pessoas pelo que elas so no um favor a elas, tampouco uma obrigao, mas antes, um remdio aos males que impomos a ns mesmos e ao nosso prximo, afinal, melhor ser solitrio a ser perseguido por muitos inimigos.

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S VEZES VOC S NO PODE. No seria perfeito se a gente e os nossos vissemos com manual de instrues? A complexidade das relaes tamanha que s vezes nem a gente mesmo, que somos os agentes dessas relaes consegue dar conta da quantidade de variantes que envolve ser e ter amigos. Nem sempre os amigos ideais gostam da gente, nem sempre aqueles que nos escolhem para amigos so do tipo de pessoa com quem nos imaginamos nos relacionando... resumindo: nada cem por cento do jeito que a gente espera que as pessoas sejam. Por sorte, tenho amigos nos mais diversos graus. Desde amigos de verdade at aqueles que sempre saem pela tangente. Sabem, justamente este o tipo de amigos que a gente mais tende a encontrar, porque eles so do tipo mais fcil. s vezes a gente pensa que popular quando tem mil amigos deste tipo, quando na verdade, alm de atrapalharem os relacionamentos, eles no acrescentam nada de verdadeiramente profundo nossa vida. Os amigos de verdade, estes existem em menor nmero, so valiosos, mas muito difcil de identificar. por a que a gente comea a confundir as coisas, se confundir e, em alguns momentos, se magoar seriamente com o rumo que a nossa vida acaba tomando. Sabe, por mais que a gente se superestime, o que algo completamente normal em se tratando de gente comum, algumas pessoas simplesmente no se importam com isso. A gente procura status por meio de outras pessoas e s vezes ficamos cegos ao fato de que igual atrai igual. No o status de outrem que levanta o seu. Tem gente que a gente at gostaria de ser amigo de verdade. Mesmo que sem intenes outras que no o desfrutar do prazer da companhia. Mas, em despeito disso, o sentimento no , em todas as vezes, recproco. Cada cabea um mundo, cada mundo gira em uma orbita prpria e nem sempre elas se cruzam. Pior, podem nunca de verdade se cruzar. H amigos reais e amigos em potencial. Estes ltimos, no podem ser a prioridade, porque, quando nos fiamos nessa loteria de relacionamentos, as chances de ganhar so mnimas. No estou dizendo que experimentar novos crculos sociais seja pernicioso, ao contrrio, defendo que as pessoa s at por questo de identidade devem permanecer em constante contato com o diferente, com o que no do seu dia-dia. Apenas admoesto para o fato de que nem todos os espaos sociais esto prontos para ns. Mesmo as pessoas no nos recebem por noRicardo Slvio de Andrade

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compreenderem em primeiro a nossa proposta. A gente quebra demais a cara ao imaginar que seremos participantes de uma vida na qual muitas vezes no cabemos. As vezes voc s no pode. E pronto. Outras voc pode. Algumas vezes voc encontrar amigos, mas nas demais melhor que encontre apenas estranhos, pois, mesmo quando no h uma afinidade verdadeira, indiferena ainda melhor do que dio declarado.

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CARTA DE UM HOMEM AOS SEUS AMIGOS Prezados amigos. Vocs so irmos que escolhi em minha caminhada. Deram muito mais a mim do que eu a vocs, mas, ainda assim, me consideraram digno de estar em suas presenas. Agora que eu no encontro barreiras nossa sincera expresso, dado meu corao envelhecido pelo tempo e pelo aprender das experincias que vivenciei muitas delas com vocs peo-lhes nestas palavras que no esqueam o valor que tem um amigo diante de outro. Sabem, ns somos diferentes. Mas as nossas diferenas no serviram de obstculos nossa caminhada juntos. Serviram como trampolim para nos lanarmos mais e mais longe nos objetivos que traamos em nossas vidas. Irmos, nossos prprios modos de ser, ainda que s vezes incompreendidos, so o que, em essncia, nos definem. Por isso, s posso me dizer grato por ter tido da parte de vocs a aceitao, o carinho e o respeito , mas, mais grato ainda pela oportunidade de aprender com suas experincias, de poder observar em cada um uma personalidade nica, a qual s me coube entender sem julgamentos. Amigos, o aperto de mo sincero que muitas vezes trocamos, os abraos que compartilhamos nos momentos de dor ou de alegria, enriqueceram muito mais os nossos coraes. Queria que, quando da minha morte, existisse j um meio de preservar para os meus filhos, netos e mais geraes tantas quanto possvel aquilo que tais manifestaes representam em mim. Sentir ainda o maior tesouro que uma gerao pode deixar a outra e , sem dvidas, a herana da qual nenhum ser humano prescindiria. Nossos sorrisos, nossas lgrimas compartilhadas, medos e anseios. Tudo o que passamos juntos, nos fez crescer na comunho dos nossos sentidos e esto em ns, como tudo o que forma o mundo unvoco, ainda que de origem diversa da que se percebe como produto final. A luz que nos ilumina, j iluminou outros amigos, mas a emoo que construmos, esta pertence exclusivamente a ns mesmos, sendo o nosso sagrado, aquilo que no podemos abrir mo, a parte mais intima da nossa personalidade. Por fim, amigos, nossa mente precisa estar voltada aos nossos sentimentos mais que s nossas necessidades, pois prestamos contas nossa conscincia de tudo o que fazemos. Sejamos, pois, daqui em diante, mais sinceros e verdadeiros pelo amor que nos une fraternalmente. Sejamos compreensivos em expor nossas desavenas, sempre levando em conta a dignidade que cada umRicardo Slvio de Andrade

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possui e, por fim, que saibamos guardar nos detalhes da nossa amizade, aquilo que nos transforma num s ente diante da sociedade, no para afront-la, mas para servir de exemplo em cada abrao de vida que nos faz seguros, amigos.

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MANIFESTO PELA FRANQUEZA. Porque todos os homens tm o direito de serem respeitados em seus sentimentos, pela tentativa de recuperar a espcie da degradao moral que vem sofrendo ao longo dos ltimos tempos, pela renascena da esperana no gnero, institumos I. Por todo o respeito que as pessoas merecem, a verdade, ainda que no a mais confortvel, ou a que desejamos ouvir, dever prevalecer em todas as relaes, pelo bem destas relaes e pelo bem comum dos envolvidos individualmente no processo. II .Ficam repudiadas as manifestaes de amizade impulsionadas apenas pelo entusiasmo, se este no se manifestar em apreo em segundo plano pela pessoa alvo desta manifestao. III. Todos tem o direito de saber quem so e quem no so seus amigos. Ficam repudiadas as tentativas de mostrar-se um valor que no se tem. institudo o tempo da Real Valorao e que sejam suprimidas todas as tentativas artificiais de manifestar apoio individual. IV. Eu te amo passa a ser palavra proibida antes do primeiro ano de relacionamento, seja entre amigos, parceiros, casais, etc., pelo resgate da expresso, e pela necessidade de reflexo do seu significado e a real extenso dessas palavras que no so declarativas, mas imperativas. V. Ficam postas em quarentena todas as amizades que comeam pela internet. Ficam suspensos em tais conversas assuntos tais como famlia, dinheiro, objetos multimdia tais como fotos pessoais e vdeos em tempo real. Fica institudo a era do Calor Humano livre, sem as barreiras eletrnicas auto impostas pelos prprios homens. VI. Fica institudo o toque como a maior expresso de confiana. As mos passam a ser o principal condutor ao corao, que no contar mais com a exclusividade do olho, que perder o poder de veto na constituio de uma relao durvel. A voz passa a ser considerada o segundo maior indicie de afinidade e exclui-se de uma vez por todas a lgica na manifestao da relao amorosa, que dever ficar completamente entregue a encargo do corao. VII. As manifestaes de repdio individual, se pautadas dentro do mnimo de civilidade devido, podero ser manifestadas pblicas, desde que sejam, em primeiro, postas s claras com o alvo da enoja; que todas as manifestaes de repdio sejam pautadas em verdades individuais, mas queRicardo Slvio de Andrade

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seja amplamente institudo o direito de resposta quando tais verdades implicarem em ofensa moral ou em agresso a terceiros. VIII Ficam autorizados todos os amigos trados, todos os amantes trados, a se reportarem com o rigor do sentimento aos que se deixaram perder a confiana. Se em situao ntima ou em locais apropriados, palavres, injrias e, se em condies de igualdade e em real valor de motivos, agresses fsicas com vistas a externar a raiva sero permitidas, salvo se a dimenso destas transgredirem os limites da humanidade, implicando em morte ou invalidez para qualquer uma das partes. VIII. Fica vetado aos traidores o direito de rplica, uma vez entendido que o sentimento, no a ao, ou o momento, devero prevalecer em qualquer espcie de relao. Fica vetado tambm o direito de apelar para terceiros, haja vista que a traio algo individual, sem o consentimento ou participao de outrem, que no o desejo e o objeto da traio. IX. Todo homem tem o direito de expressar o que sente, da forma que sente, desde que respeitosa com o segundo elemento a que se reporta. Nenhuma ao pode ser tomada, em termos de convivncia, sem o amplo conhecimento de ambos os envolvidos. Via expressamente proibido mentir, ainda que as consequncias da verdade sejam duras para quem as ouve, ainda que a relao possa, mediante tal verdade fracassar. institudo o valor da verdade suprema sobre a mentira ocasional. X. A liberdade e a individualidade so os maiores bens que o ser humano possui, fica, pois, acertado a no ignorncia em face dos modos de vida, mas fica liberado tambm crticas, desde sejam fundamentadas em padres reais, aos estilos de vida e suas manifestaes na sociedade. Todos nascem iguais perante a Lei. Todos nascem em igualdade de condies perante a natureza. Dissipar do homem a sua verdadeira dimenso espiritual apagar a chance deste de se impor como parte no mundo, e no to somente como mundo. Por isso, a verdade como arma ou como escudo dever sempre ser aliada das palavras, dos gestos e das manifestaes sociais para o prprio bem dos que convivem em comunidade.

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7 NOS ESSENCIAIS E PORQUE VOC SEMPRE DEVE DIZ-LOS. 1 No ao sentimento de culpa. Quando algo no d certo, mesmo voc tendo tentado fazer tudo pra que acontecesse, porque no culpa sua. No se justifica a sua negligncia, mas a capacidade de se culpar sempre vem seguida de instintos negativos sobre voc mesmo. Superar a palavra e se naquele momento a sua capacidade de superao tambm est comprometida, hora de ir pra debaixo das cobertas e esperar o tempo passar. S o tempo conserta certos erros. 2 No aos espelhos. Porque muitas vezes no estamos preparados para as verdades que eles nos dizem. Nossa auto estima uma montanha russa. Pela manh basta uma olhada num momento ruim e aquele dia inteiro estar perdido. Pense bem: quantas vezes voc se lembra de ter olhado o espelho e ter gostado do que viu? Nossa imagem no o que somos, mas quilo que parecemos ser naquele determinado momento. Compre mais lbuns e menos espelhos. 3 No aos que te ignoram. Sua opinio importante, pois reflete o seu ponto de vista sobre o mundo. Quem no est disposto a te ouvir, porque no est disposto a te ter como companhia. Diga no sempre que a omisso supere os bons momentos. Sempre que algum te ignora, algo dentro de voc morre, e esse algo o que h de mais precioso: sua personalidade prpria. 4 No vergonha. Voc pode e deve fazer aquilo que tem vontade, desde que isso no incomode nem atinja a outras pessoas de maneira grave. Use do bom senso, mas no abuse dele Tudo o que fazemos traz em si a marca da nossa capacidade de criar, de conhecer a matria e transform-la. Somos pequenos deuses. Parar de fazer algo s porque as pessoas ao seu redor podem achar pouco convencional, nojento ou engraado uma tima maneira de anular a si prprio. 5 No aos seus pais quando eles confundem proteo com possesso. Voc deve aventurar-se, viver sua vida como se ela realmente estivesse acabando mais rpido do que requer o ciclo natural. Nossos pais se vo um dia, ento, suas lies preciosas precisam ser postas prova em tempo hbil ainda de serem reformuladas. Nossos pais so de uma poca diferente das nossas, suas contribuies podem ter perdido a atualidade e cado do crivo do tempo, podemos aprender e ensinar a eles, desde que os limites entre o que ns somos e o que seremos para eles estejam bem claros.

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6 No ao medo de no agradar as pessoas. Primeiro porque voc no tem esse dom nem essa obrigao. Segundo porque no importa o quanto voc tente. As pessoas nunca se satisfazem. Tente antes agradar a si prprio, tornar-se mais prximo de sua personalidade principal e essncia, que alguns chamam Alma. Somente com o desejo livre que a nossa alma pode manifestar-se plenamente. 7 No aos que ficam para trs. Se voc mudou de casa, bairro, cidade, pas ou amizade recentemente sabe que valorizar o passado, ou desenterr-lo todo dia s apressa o ritmo com que as novas coisas deixam de chegar para ns. Esquea os velhos inimigos, os problemas primeiros e tente escrever a sua histria de uma vez por todas sem interferncias de entes que j no so mais aquilo que voc planejou para sua vida. As pessoas mudam e voc tambm. Anormal no aceitar esse fato.

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COMO AS RVORES NAS CIDADES. Percebemos quando as pessoas se importam com a gente pela forma de olhar. Dificilmente um olhar engana. Os olhos no sabem, dissimular. Quanto mais somos vistos, mais julgamentos sofremos e esperamos sofrer das pessoas que passam seus olhos sobre ns. Sempre nos incomoda o jeito com que o outro nos percebe e talvez por isso, a nossa percepo dos outros acaba determinada por isso. Vemos nossos pais de um jeito, amigos de outro, inimigos... todos segundo seus olhares, como a cada caso uma justia distinta. No seguro nem moral pensar a nossa maneira de agir sem antes educarmos nossos olhos. A mesma dor que sentimos queimar no peito quando sofremos excluso aquela que podemos aliviar no peito do prximo quando to somente o tratamos como reais, com a honestidade que essas pessoas precisam. Por mais que se goste de algum, certas mentiras, certos falsos olhares acabam denunciando a natureza de verdade desse gostar. As consequncias so complicadas de se administrar e, por vezes, nos deparamos com o pesado fardo de recomear tudo sozinho. Outra vez.... outra vez... outra vez.... Os dias se sucedem e, quando estamos com os nossos amigos, mal conseguimos perceber essa passagem, to rpida que ela se processa. Quando acreditamos estar felizes, quase sempre tendemos a enaltecer nosso ego no palco das palmas dos nossos companheiros d jornada. Muitos tm muitos. Entretanto, quando chega a hora de pensar no nosso papel pro mundo, na nossa forma de contribuir, na nossa dvida, o resultado quase sempre o ataque daquele vazio que sentimos, que queremos preencher com qualquer coisa, ainda que tal coisa no nos seja benfica e segue-se assim como num crculo sem controle. Quando nos rodeamos pelas pessoas que gostamos, somos bem tratados e recebemos muitas energias positivas, oriunda dos bons agouros que nos chegam por intermdio dos nossos camaradas. Mas, como eu mesmo j pude sentir na pele, quando os nossos companheiros nos deixam, a gente se sente como rvores de uma cidade. Isolados num contexto sem que haja, no entanto, um proveito disso. Digo, sair da zona de conforto, por mais dificultoso e complicado que seja, constitui ainda uma boa sada, um caminho a ser seguido rumo ao crescimento pessoal. Temos dificuldades naturais relacionadas s nossas carncias e deficincias. Quando superamos, em parte, o medo de noRicardo Slvio de Andrade

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receber o apoio necessrio quando precisamos, nos fortalecemos. Esperar o pior s vezes preparar-se para ele. Como rvores de cidade so pessoas que tm conflitos e problemas os quais, por medo, preguia ou ainda insegurana, no so superados. Os nossos amigos servem para nos prestar auxlio quando nos encontramos em dificuldades, mas no so, em todos os casos exclusivamente, uma panaceia, ou ainda, no podemos esperar dos nossos amigos, um cuidado que no lhes compete ter. Nossas inseguranas e medos so nossa responsabilidade, tambm. No h que se anular, esquecer-se dentro de um suposto invlucro de segurana para no crescer. Neste sentido, com rvores de cidade, que possuem os cuidados e as delicias de uma vida segura, esquecemos das surpresas e intempries que o tempo nos delega to logo ele nos cobra esse aprendizado, nos vemos tolhidos pela sua fora.

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EU, OBJETO. Antes eu pensava muito sobre a vida. A novidade que s recentemente passei a enxerg-la de maneira diferente. Eu tinha o hbito de pensar na vida como se ela fosse um caminho, um processo dentro do qual, um determinado rito iria, me levar a um ponto confortvel. Engraado porque eu percebi nesse mesmo tempo, que eu estive em muitas situaes confortveis. Na verdade, poucas vezes eu me afastei da minha zona de conforto, me dispus a um combate com o inesperado. Certamente o meu pensamento, a minha atitude diante da vida me fez agir daquela maneira, hoje to reprovvel. Ao pensar a vida como um objeto, uma coisa fracionvel cabendo perfeito dentro das doze horas do relgio eu achava que mantinha o controle, que obtinha o conhecimento que me levaria adiante na minha trajetria. Pena que me enganei horrores. As pessoas vivem dizendo que a gente no tem atitude, que somos fracos, que no temos coragem de seguir adiante. Acho legal pensar o oposto. s vezes se reconhecer, encontrar a si mesmo pode ser um caminho rduo e gratificante, que pouco ou nada tem a ver com o sucesso que se fez na vida, mas em muito contribui para o alcance das nossas ambies. Sei que corro o risco de parecer um extremo otimista, com pensamentos fora do contexto da realidade. Mas a minha experincia com o mundo tem me mostrado pessoas bem sucedidas em extremo desequilbrio, fazendo com que o esforo de se manter no auge seja a porta por onde se atira a qualidade de vida, a felicidade. Tambm no estimulo ningum a viver uma vida de misria e de tristeza, acomodao, esperando em vo por algo que ela julga conseguir pelo merecimento, pela bondade em si. Na verdade, acredito que a bondade em si j um importante passo para o crescimento pessoal. Mas ela tambm tem de refletir em algo, do contrrio, oca, sem nenhum proveito pro mundo. Assim como precisamos andar na retido, temos por obrigao dispersar essa retido, esse pensamento otimista, realizador. A bondade, quando isolada em que a sente, acaba se convertendo em mal. Vencer a vida compreender, se conhecer e, sobretudo, usar esse conhecimento para encontrar o seu ponto de equilbrio, que mais tarde o levar rumo a novos desafios. Nem todos podero vencer, mas mesmo os que no vencem assinalam importantes caractersticas pessoais trabalhveis.Ricardo Slvio de Andrade

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A vida no um objeto, quando comeamos a dispersar tal pensamento, sem perceber, a gente acaba se tornando pessoas artificiais, frvolas ou gananciosas, verdadeiros pesos, que s alimentam a injustia e o sofrimento mutuo, seja em matria ou em esprito.

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REPUTAO. As pessoas se preocupam demais com a prpria reputao. Sou suspeito pra falar porque s vezes eu reconheo que o pensamento dos outros a meu respeito importa. Outro dia li no meu email uma frase que dizia mais ou menos assim: preocupe-se com a sua conscincia, porque a reputao aquilo que os outros pensam de ns, a conscincia aquilo que ns pensamos a nosso respeito parfrases no so mesmo o meu forte. No sei se a pessoa que escreveu a frase tinha conscincia da dimenso que ela alcanaria, mas acredito que, depois dela, pensar reputao cada vez mais mediado pela autoimagem, pelo individualismo em detrimento da coletividade. Em nossos tempos ps-modernos (eu defendo a ps-modernidade), quase tudo j foi relativizado: a f, a moral, as relaes familiares, as relaes amorosas... por que ser que a reputao ainda no? Quando as pessoas passam a pensar a sua imagem, difcil negar que invariavelmente, elas o fazem pensando no que os outros vo ver ali. E no digo que isso seja errado, afinal, Baudelaire j dizia que o homem que vive entre feras, fera tambm ser. Mas acho que, quando no uma atitude poser, certo que a originalidade ainda vence o lugar-comum. Quando pensamos na nossa reputao, o olho do outro sobre a nossa prpria vida assusta, causa receio, medo. Em certo grau, isso pode at ser considerado patognico. Reputao um bem. Mas, assim como determinados bens, pode ser customizado, trocado, desde que esse processo no seja reflexo de uma imposio. Freud, no sculo XIX, j nos advertia sobre esse mal. Reputao importante, mas no fim, processo. Quando algum leva uma vida baseada somente na reputao, assim como num preconceito, as demais qualidades deste acabam sendo anuladas e a reputao frgil, basta o primeiro erro pra ela nunca mais voltar a ser a mesma. Quando algum paga pela sua reputao, sobra pouco o que reabilitar. Reputao no se conserta, mas pode ser substituda. Cristo, em diversos momentos da Bblia nos instrua a amar o prximo como a ns mesmos. E no mencionou nada sobre reputao ser o principal critrio nesse processo. Diz-me com que andas que te direi quem tu s um provrbio bblico muito forte, porm, ambguo...

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Nos nossos dias, a nossa conscincia anda sendo cada vez menos acessada. Ns, seres humanos, estamos em uma constante evoluo natural, como tudo, alis, na terra. Na nossa busca pelo ideal como indivduos, evitamos a dor, prolongamos o prazer. Quando a conscincia for considerado algo contra-evolutivo, nossa sociedade estar, positivamente, a um passo da extino. Mas a mudana que prejudica, ajuda tambm, e quem sabe os nossos valores com o tempo no mudam? Ficam as preces em prol disso.

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NAS NUVENS. Nuvens negras ao horizonte sempre so prenncio de algo ruim. Quando estas nuvens esto dentro da gente, ento, as coisas tendem a realmente se tornarem piores ainda. A nossa cabea at pode estar preparada para as situaes ruins, mas raramente esto preparadas para a notcia delas. Nuvens negras ao horizonte sempre abalam as estruturas, ainda que toda a construo j esteja preparada para a intemprie. Se voc j foi trado, certamente saber do que eu estou falando. algo to torpe, to sem sentido que custa muito somar os indcios, calcular as hipteses e por mais claras que sejam as evidencias, nossa relutncia em enxergar os sinais s servem mesmo para aumentar ainda mais o impacto das noticias ruins. No o ato em si que causa sofrimento, pois, se fossemos mos honestos com nossos sentimentos, jamais sofreramos por causa de decepes que nos so impostas. Gostar e ser honesto para admitir, no ser gostado e ter a resilincia para aceitar so coisas que nem o mais longevo dos seres humanos conseguiu somar sua vida no decorrer dos seus anos. No so os atos que ns sofremos e infligimos queles que dizemos amar, que nos faz perder o prestigio como pessoas. As tentativas de ocultar e os medos das consequncias, estas sim, que causam maiores estragos do que quaisquer tormenta inesperada. H pessoas que so como cus de outono, ora nubladas, ora lmpidas. Outras como se vivessem num vero intenso, trazem sempre consigo promessas, desejos, propostas, sobretudo nos lbios onde deslizam suas lnguas e nos atraem. O problema que, como todo cu, as pessoas mudam, as prioridades mudam. O no pensar o que causa com mais fora, decepes, sofrimento, choro e mais canes de amor. No amor no h lgica, assim como tambm no h segurana. Diz a frase no Twitter que o amor nasce por acaso e dura por um motivo. Sou partidrio da ideia de que os motivos nem sempre so relativos a cada sujeito, individualmente, mas da parceria. Grandes amores podem surgir entre pessoas que nem sequer se tocam. O amor a verdade um sentimento muito amplo. No d pra ficar rotulando, fracionando ou definindo. Cuide, pois, do seu amor se j o tiver. No me refiro apenas ao amor carnal, quele que, invariavelmente a gente procura, quer por necessidades pessoais, quer por imposies sociais. Na verdade, o amor existe nossa volta. E ele est l pra ser pego, degustado, pra lambuzar a vida daRicardo Slvio de Andrade

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gente. Todos os dias, todas as horas, gostamos e somos gostados. verdade que nem sempre com a mesma intensidade que desejamos, mas, ainda assim, o amor. Passamos pela vida em meio a perspectivas muito amplas sobre coisas as quais nem sequer tocamos a superfcie. Acabamos nos frustrando apenas por no conseguir enxergar que a vida no feita de metas a curto prazo. Ao contrrio, uma sinfonia que precisa ser composta aos poucos. Um pouquinho a cada dia, de forma a no nos forar a nada, sempre fluindo, devagar mas insistente, como a chuva que, embora composta de pequenas gotas, ganha pela persistncia com que estas costumam cair no solo. Estar nas nuvens nem sempre sinnimo de felicidade. s vezes exercitamos a auto

condescendncia para esconder os defeitos da nossa vida, para adiar aquele conserto essencial aos nossos dias. Esquecemos de que a vida uma responsabilidade pessoalssima. No d pra contratar uma diarista pra por tudo em ordem. Somente se vai conseguir isso a custa de muito esforo, muito suor e, principalmente, muita tolerncia. Estar nas nuvens, nesse sentido, nada mais do que ocultar defeitos, problemas, vcios e pequenas fraquezas, jogando pra debaixo do tapete a sujeira que atravancar o caminho futuro. Acorde e olhe ao seu redor. At onde voc, caro leitor, acredita que ir se continuar no rumo que vem seguindo at agora? E a vida, senhoras e senhores, no para pra consultar informaes. Ela simplesmente acontece. Caia das nuvens e d conta de que no possvel ter sempre a vida que se pediu a Deus. Essa vida nem sempre possvel, nem sempre a melhor e nem sequer a mais adequada. Nem sempre essa queda nos faz o bem que desejaramos instantaneamente. Mas ela essencial, crucial para que se possa perceber que todos os nossos rumos sempre levam ao encontro das consequncias de todos os atos, desde os que so feitos em benefcio de algum ou aqueles que contribuem para o prejuzo do irmo. Estar nas nuvens no crime. Mais: numa poca da vida essencial. Como escolher a profisso, pensar na famlia e no casamento, se no se parar um pouco para pensar sobre isso? Complicado. Entretanto, normal tambm que estes sonhos sejam, quando necessrios, limitados e colocados em outro plano: o plano da ao. Nessa fase que as coisas tendem a ser mais complexas, os riscos mais iminentes e os resultados nem sempre podem estar altura daquilo que merecemos.

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preciso definir metas claras, mostrar-se mais suscetvel e, acima de tudo, estar abeto ao dilogo. Conversar no implcita apenas a fala, mas todo o conjunto assim como o silncio tambm. Cada fala associada a uma pausa. Assim a nossa vida: cada sonho preciso do espao de uma desiluso, cada vitria expresso do aprendizado de que foi derrotado. Nuvens negras podem ser prenncio de vitrias ou de derrotas, a depender apenas do que voc aprendeu nas tempestades anteriores.

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UM CAVALO CHAMADO CORAGEM. s vezes procuramos nosso lugar no mundo em muitos lugares. Procuramos por ele nas ruas, nas pessoas, na faculdade, nos diversos lugares, mas no conseguimos encontr-lo. Nosso lugar no mundo parece sempre estar muito distante de nossas mos, ao mesmo tempo em que vivemos , pelo menos em momentos esparsos do dia, a sensao de que estamos perto, cada vez mais perto. Nosso lugar no mundo , entretanto, to misterioso quanto nossos desejos. Queremos tanto encontrar quem somos, onde estamos que, sem perceber, deixamos pelo caminho muitas pessoas e coisas importantes. Assim, ao falar sobre coragem, decidi analisar que a coragem comparando-a com um cavalo. Voc sabia que na antiguidade os cavalos foram uma arma de revoluo? Sim. Os cavalos, sobretudo nas amricas foram to impactantes que h relatos de culturas que se distinguiam entre a domesticao do animal ou no. Por isso, ningum pode nos dizer exatamente o que a coragem do que o cavalo. Quando nascemos somos livres como esses animais. Em algum momento nos devamos de nosso caminho, procuramos respostas s perguntas erradas e terminamos por temer a vida, nos seguramos em coisas ou pessoas. Esquecemos que temos tudo o que precisamos para ser feliz, esperamos que a felicidade que uma responsabilidade nossa, seja delegada a terceiros, o que inadmissvel, haja vista que no vivemos em vidas alheias. Crescemos pensando em competir e perdemos, a qualquer tempo a nossa liberdade. Nossos cavalos so, aos poucos domados, ensinamos-lhes truques baratos para viver em sociedade e, no fim, esquecemos o que fomos um dia. Todo mundo nasce livre. Permanecer livre o desafio. No adianta promover o discurso de uma vida feliz se esta felicidade for apenas uma mscara, no ser realmente o que aparenta. As coisas no so medidas de acordo com a forma com que parecem, elas so tomadas segundo o que realmente so. Criar expectativas apenas acaba por agravar um problema que, mesmo sendo enorme, muitas pessoas insistem em jogar debaixo do tapete, como a poeira indesejvel, sem pensar nas consequncias que, sem sombra de dvidas, viro. Quando nos adestramos passamos a ver o mundo segundo os olhos dos outros. No -toa que as pessoas que no vivem de acordo com a maioria das regras sociais impostas j que no Ricardo Slvio de Andrade

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possvel de fato se alienar por completo mas essas regras no so da nossa prpria natureza, o que significa que, mesmo sendo necessrias, elas no so perfeitas, podem ser s vezes, quebradas., sobretudo se houver uma felicidade subjetiva no ato de burlar preceitos sociais (no confundir-se com preceitos morais e legais). Nossos papeis sociais, por motivos diversos no do conta da nossa real natureza. Por vezes caminhamos para uma realidade de frustrao s porque desejamos se encaixar num padro que, muitas vezes, nem sequer nascemos para cumprir. Regras de etiqueta, padres estticos absurdos, padres comportamentais e inmeras outras formas de represso acabam por nos tornar cavalos cada vez mais domados, atrelados a arreios que s nos conduzem a caminhos conhecidos. Ser aceito numa sociedade para algumas pessoas, mais importante do que estar em paz consigo mesmo, no se contentam tais pessoas com aquilo que nasceram, acreditam que as coisas que a sociedade mostra so uma necessidade vital, quando so apenas acessrios. Penso que a felicidade no depende de imposies. Ela espontnea. Nascemos cavalos, mas nossos destinos tambm nos mostram domadores. So as nossas paixes que acabam por ceifar do nosso esprito a liberdade com que nascera. Esquecemos do valor que temos em prol do valor de outrem. A realidade, entretanto, que nem sempre amores so recprocos nem amizades s vezes so. A baixa auto estima, resultado de um pr trabalho de alienao social, acaba dando a impresso de uma falsa superioridade do ser amado em relao ao que ama. Quem no lembra das poesias parnasianas? E os poetas rcades? Todos tinham em comum o romancismo envolvido em jazer sob a figura de outro ser humano. Supe-se que viver sem amar complicado, infeliz, traumatizante. Entretanto, como diz o ditado popular, o primeiro amor o amor prprio. No h como verdadeiramente amar ao seu prximo, se o seu amor por si mesmo no falar mais alto. No confundir, entretanto, amor prprio com egosmo. O primeiro conduz a um nvel de igualdade dentre os envolvidos nas relaes, a segunda apenas aliena um ao outro e geralmente o sentimento mais trabalhado pela mdia de maneira perversa e irresponsvel. Amar compartilhar. Talvez por isso no seja fcil. difcil dividir com outras pessoas aquilo que nos pertence, nosso espao, nossa vida. Por isso que, em se tratando de amor, as escolhas certas, muitas vezes, so sinnimo de renncia.Ricardo Slvio de Andrade

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Nascer e ser livre no necessariamente etapas normais no desenvolvimento de todas as pessoas. Seus cavalos so, desde cedo adestrados ao circo social, determinados a cumprir meros papis. Mas a contestao necessria pode ser estimulada, haja vista que dela que surgem as inovaes. Contra o adestramento, s o melhor trabalho de conscientizao. Pisar no cho, compreender o que verdade do que mentira na nossa sociedade e, principalmente, enxergar a tnue diferena entre o real e o acessrio na nossa vida. S assim, com o passar dos anos, adquire-se a maturidade necessria aos futuros cavalinhos que, de certo, nos faro companhia na velhice, dependendo da nossa experincia e do s nossos sbios conselhos.

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ESPRITO BOM, ESPRITO MAU. Tenho um conhecido que esprita. Acho que no segredo aos meus leitores que sou muito favorvel doutrina esprita, pois, pelo menos pra mim, por meio dela, se consegue atingir verdades que , em muitos casos, so libertadoras. Entretanto, o espiritismo, como qualquer verdade, diga-se de paisagem, tem l o condo de acordar umas pessoas e dormir outras para o que o ser humano e quais as consequncias dos nossos atos, bem como a nossa responsabilidade para com as demais pessoas no mundo. Eu acredito que no estou no mundo s. Voc tambm no est. Todos vivemos em uma comunidade, uma comunho de ideias, pensamentos, aes e reaes por que no? que nos entrelaa e nos torna, por assim dizer, um organismo social. Eu vejo que h mais a. Existem tambm responsabilidades para com o nosso crescimento que s se aprende, e em consequncia, s se aplica, quando passamos a exercer conscincia sobre a nossa condio de individuo social. Quando vemos na TV imagens de atrocidades cometidas pelo homem para com o prprio homem, dentre elas basta destacar o poderio blico das armas nucleares capazes de, com pouqussimos investimentos relativos ao seu desenvolvimento frente a outras armas, so capazes de destruir, de uma nica investida, praticamente todo e qualquer rastro de via humana da face da terra. Sim. So coisas que se precisa pensar. Que se tem que ver que, na verdade, no estamos apenas nos destruindo, mas destruindo tambm parte do mundo que s a humanidade pode ocupar. Todavia, mrito do pequeno, do subjetivo, nos tocar mais profundamente que as coisas que no mantm relao direta conosco. Assim, quando, dentro de uma tica mais, digamos, esprita ,no contexto do avaliar constantemente aes e atribuir-lhes cargas de responsabilidades, somos tambm propagadores de verdadeiros genocdios emocionais. Destilamos veneno em ironias que corrompem, pouco a pouco, a nossa comunho e dos nossos coparticipes de mundo. No o mau em si a raiz de suas consequncias, posto que o caos sua mxima expresso e anttese (conceitos filosficos perfeitamente conciliveis dentro desse prisma existe espontaneamente em todos os rinces do universo. a sua prtica, a disseminao dele que nos faz, de verdade, sermos vtimas de ns mesmos.

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Crer no espiritismo ou em qualquer religio no isenta nenhum ser humano da sua condio. No cabe religio redimir o homem se deste no partir o ensejo, a fora de vontade de ter-se transformado em coisa melhor do que o que at ento se manifesta. Dessa forma, trazendo a lio pra dentro do contexto social especfico, temos que pessoas que deveriam se formadoras de opinio, propagadoras de boas ideias corrompem-se ante o teatro barato das falcias humanas cheias de proselitismo que, no fim, no dignifica o homem em enfoque nenhum de sua condio. Conceber o mundo como o espao de todos, ainda que denote, no implica necessariamente num apartheid, e que vivamos obrigatoriamente dentro da ditadura do arbtrio em comum. Somos tambm conscientes de que a manifestao plena do que nos caracteriza por humanos somente pode ser