narrativa cunha e cardoso 2011

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141 Jorge Luiz da Cunha 1 Lisliane dos Santos Cardôzo 2 RESUMO Este artigo tem como objetivo investigar a profissão do educador de História, através de sua identidade narrativa. Nesta pesquisa , buscamos relacionar a formação inicial do educador com a percepção que tem da docência. Para isto, entrevistamos professores da disciplina de História das escolas públicas da cidade de Santa Maria, RS, tendo como metodologia a história oral de vida. A pesquisa mostrou que a formação inicial tem um papel central na constituição de posturas teóricas, práticas pedagógicas e na identidade profissional. A principal crítica apontada nas narrativas sobre a formação inicial relaciona-se à dicotomia entre teoria e prática. Entretanto, a percepção do educador acerca da sua profissão não fica restrita aos processos de formação formal, sendo influenciada pelas trajetórias pessoal e profissional, tendo sua gênese na história de vida dos entrevistados: na escolha da profissão e na imagem que se tem, a priori, da docência. A partir dessas reflexões, apontamos a necessidade de rever paradigmas que norteiam as práticas de formação de professores de história. Palavras-chave: Ensino de História; formação de professores; história oral; narrativas. ABSTRACT This article aims at investigating the History educator profession through their narrative. In this research we tried to relate the educator initial Ensino de História e formação de professores: narrativas de educadores History Teaching and teachers’ education: educators’ narratives 1 Doutor em História. Professor titular da Universidade Federal de Santa Maria. e-mail; [email protected]. 2 Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria. Bacharel e Licenciada em História pela mesma instituição. Pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Memória e Educação - CLIO/CNPQ. e-mail: [email protected]. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 42, p. 141-162, out./dez. 2011. Editora UFPR

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Narrativa e dialogismo

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141Jorge Luiz da Cunha1Lisliane dos Santos Cardzo2RESUMOEsteartigotemcomoobjetivoinvestigaraprofissodoeducadordeHistria,atravsdesuaidentidadenarrativa.Nestapesquisa,buscamosrelacionaraformaoinicialdoeducadorcomapercepoquetemdadocncia.Paraisto,entrevistamosprofessoresdadisciplinadeHistriadas escolas pblicas da cidade de Santa Maria, RS, tendo como metodologiaa histria oral de vida. A pesquisa mostrou que a formao inicial tem umpapel central na constituio de posturas tericas, prticas pedaggicas ena identidade profissional. A principal crtica apontada nas narrativas sobrea formao inicial relaciona-se dicotomia entre teoria e prtica. Entretanto,apercepodoeducadoracercadasuaprofissonoficarestritaaosprocessos de formao formal, sendo influenciada pelas trajetrias pessoale profissional, tendo sua gnese na histria de vida dos entrevistados: naescolhadaprofissoenaimagemquesetem,apriori,dadocncia. Apartir dessas reflexes, apontamos a necessidade de rever paradigmas quenorteiam as prticas de formao de professores de histria.Palavras-chave:EnsinodeHistria;formaodeprofessores;histriaoral;narrativas.ABSTRACTThis article aims at investigating the History educator profession throughtheirnarrative.InthisresearchwetriedtorelatetheeducatorinitialEnsino de Histria e formao deprofessores: narrativas de educadoresHistory Teaching and teacherseducation: educators narratives1DoutoremHistria.ProfessortitulardaUniversidadeFederaldeSantaMaria.e-mail;jlcunha@smail.ufsm.br.2MestrandaemEducaopeloProgramadePs-GraduaoemEducaodaUniversidadeFederaldeSantaMaria.BachareleLicenciadaemHistriapelamesmainstituio.PesquisadoradoNcleodeEstudossobreMemriaeEducao-CLIO/CNPQ.e-mail:[email protected],Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPR142Memria e narrativa historiogrficaO tempo no para, no podemos reviv-lo, nem congel-lo, nem det-lo.Podemos lembr-lo, apenas. O tempo s se converte em tempo humano quandoseorganiza,encontrasentido,ressignifica-seemumanarrao. Anarrativa,por sua vez, a forma da memria e a memria, a presena do passado.O tratamento que a memria recebeu de alguns autores foi de que oposta histria (HALBWACHS, 1990). Outros, afirmaram que a memria e a histriaso sinnimas, ou que so fundidas uma na outra, especialmente no desenvolvi-mento de uma memria nacional (NORRA, 1993). Rejeitamos a concepo deque histria e memria so a mesma coisa e tambm nos distanciamos daque-les que as percebem como opostas. Concebemos, com base em estudos de PaulRicoeur, a relao da histria e da memria numa perspectiva dialgica.Ricoeurocupou-secomamemriatardiamente:aquestoaparecenaobra A memria, a histria e o esquecimento, publicada em francs em 2000.Antes, contribuiu no campo historiogrfico com Tempo e narrativa, publica-da em francs, em trs volumes, em 1984, 1985 e 1988, trabalho no qual anali-sou a natureza do ato narrativo em relao percepo e representao da tem-poralidade.Segundo Ricoeur, na medida em que a referncia ltima da narrativa percebida como a prpria estrutura do tempo, a fico e a histria passam a seimplicar mutuamente, embora sem anular suas particularidades. A tessitura deuma intriga e a chamada referncia metafrica as aproximam; a ambio veri-tativa, no mbito da epistemologia, estabelece a diferenciao. A tese que:formation with his/her perception of teaching. In this way, we interviewedHistory teachers from public schools in the city of Santa Maria, RS, usingas methodology their oral life stories. The research showed that the initialformationplaysacentralroleinbuildingtheirtheoreticalpositions,teaching practices and professional identity. The main criticism revealedby the narratives about their initial education was related to the dichotomybetweentheoryandpractice.However,theeducatorsperceptionabouthis/herprofessionisnotrestrictedtoformaleducationprocesses,beinginfluenced by personal and professional experiences and, it is originatedat the life history of the respondents: in choosing the profession and in theimageonehas,apriori,ofteaching.Basedontheseconsiderationswepoint out the need to revise paradigms which guide the practices of Historyteachers education.Keywords: History teaching; teachers education; oral stories; narratives.EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...143[...]elvnculodelahistoriaconelrelatonopuederompersesinquelahistoria pierda su especificidad entre las ciencias humanas. Dir, em primerlugar, que el error fundamental de aquellos que oponen historia y relato sedebe al desconocimiento del carcter inteligible que la trama confiere alrelato, algo que Aristteles haba sido el primero en subrayar. Una nociningenuadelrelato,comosucesindeshilvanadadeacontecimientos,seencuentra siempre en el trasfondo de la crtica al carcter narrativo de lahistoria. Dicha crtica slo aprecia el carcter episdico y olvida el carcterconfigurado, que constituye la base de su inteligibilidad. Al mismo tiempo,se ignora la distancia que establece el relato entre l y la experiencia viva.Entre vivir y narrar existe siempre una separacin, por pequea que sea.La vida se vive, la historia se cuenta (RICOEUR, 2000, p. 192).Existe uma clivagem entre viver e narrar, entre o passado e a histria. atravsdanarrativaqueotempoeosacontecimentossoordenados,queaescrita da histria se torna inteligvel. A narrativa permite que acontecimentosreais,interdependentesdosqueosantecedemedosqueossucedem,sejamrepresentados com sentido e esttica prprios. J a fico lida com aconteci-mentos irreais, como se fossem reais por meio da voz narrativa. Isso as une, asintriga, ou seja, a representao faz parte da tessitura tanto do texto histricocomo do literrio. No entanto, a epistemologia as separa. Conclumos que todaaproduodahistoriografiaestmarcadapelosignodanarratividade,bemcomo a literatura ou mesmo um relato oral. Ou seja, busca-se a constituio deumsentidoquetranscendeoeventoemsi,recorrendo-seinevitavelmenteimaginao e interpretao do mundo.Estapesquisafruto,assimcomotantasoutras,dodeslocamentoquehouvenahistoriografia,quepassouaconsideraroutrasestruturasnarrativaspara escrever histria, antes ignoradas, como o caso da narrativa oral, oriundada memria. Retornamos aqui ao argumento inicial, da memria e da histria,lacuna deixada por Ricoeur em Tempo e narrativa, mas estudada em A memria,a histria e o esquecimento. O autor percebeu justamente que essa brecha, onvelintermediriodaexperinciatemporalhumanaeaoperaonarrativa,era a memria. A memria que pode ser vista como fonte histrica ou comofenmeno histrico (BURKE, 2000).Para o estudo da memria precisamos considerar tambm o esquecimento,pois, para Ricouer, ver uma coisa no ver outra. Narrar um drama esqueceroutro(2007,p.459).Quandonarramos,atravsdamemria,fazemosumaconstruo psquica que seletiva, ou seja, representamos o passado tambmatravs de esquecimentos. Alm disso, preciso considerar o indivduo dentrode contextos que so tambm responsveis pela constituio de uma identidadenarrativa. Le Goff acrescenta que A memria, como propriedade de conservarEducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...144certas informaes, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funespsquicas, graas s quais o homem pode atualizar impresses ou informaespassadas, ou que ele representa como passadas (1994, p. 419).Tomar a narrativa oral como fonte da histria possvel graas s mudan-as na relao entre a histria e a memria, articuladas a uma srie de modi-ficaes nas concepes epistemolgicas, constituindo, de tal modo, um novocenrio de possibilidades no mbito historiogrfico, onde a mais expressiva al-terao talvez seja relativa pretenso de objetivismos e generalismos na pro-duo do conhecimento histrico. A historiografia passa a evidenciar o carterhermenutico da histria, a valorizar questes de mbito subjetivo e reflexivorelativasaosujeitohistrico,queforaesquecido,muitasvezes,damemriapblica. Portanto, a memria no s um objeto da histria, deve ser analisadacomo um fenmeno social.Feitas estas primeiras consideraes, nossa proposta de pensar a profis-so do educador de histria atravs da sua identidade narrativa, tendo a memriacomo fonte de pesquisa. Procurando, atravs de narrativas orais e da bibliografia,relacionar a formao do educador, no contexto em que ela ocorre, com a per-cepo que este tem da docncia. Buscamos, portanto, pensar mltiplos trajetos,escolhas, prticas pedaggicas, em contextos histricos diversos, porm, numespao comum, as escolas pblicas da cidade de Santa Maria, RS. Analisamosas narrativas estabelecendo dilogo entre o Ensino de Histria, que remete construodadisciplina,aspolticaspblicasaeleaplicadasesuafunopoltico-social, e a Histria Ensinada, dimenso micro que valoriza o educador,visto que nos remete prtica do ato de ensinar histria. Observamos que essadistino indicada por Fonseca (1993).Filiamo-nos aos movimentos que procuram colocar os professores comosujeitos da pesquisa e nos vinculamos rea de pesquisa do ensino de histriaque definida como:[...] um campo de pesquisa em processo de constituio, que se legitima ese afirma tanto nos espaos institucionais de produo do conhecimentona rea de Educao quanto na rea de Histria. No Brasil, tal campo si-tua-se,fundamentalmente,nareadeEducao,comoumespaointer-disciplinar construdo na inter-relao da Histria e dos saberes pedag-gicos para a busca da compreenso dos processos de ensino-aprendizagemda disciplina. Alm disso, existe a preocupao de se compreenderem asimplicaes sociais, polticas e culturais presentes no Ensino de Histria(MONTEIRO; GASPARELLO; MAGALHES, 2007, p. 7).Na educao, na dcada de 1980 que comeam a aparecer estudos quetmcomofocooprofessorenquantosujeitodeanlise.Posteriormente,osEducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...145trabalhoscomessefocoinvestigativocresceramsignificativamente,masdemoraramachegaraoBrasil.Atualmente,estudosdedicadosvidadoeducador,aostrajetosdocentes,biografiaseousodahistriaoraldevidaganham destaque na rea da educao, especialmente, no mbito da histria daeducao que[...] passou por um verdadeiro processo de renovao. No Brasil, especifi-camente nos ltimos vinte anos, esse campo de estudos aproximou-se deuma nova forma de escrever a histria [...] os estudos passaram a ser maislocalizados e contextualizados, lidando com perodos de tempo mais cur-tos. [...] passou a se preocupar com a organizao e o funcionamento inter-no das escolas, com a expresso e/ou construo cultural no cotidiano es-colar, como estabelecimento do conhecimento, do currculo, das disciplinasescolares. Alm das fontes oficiais, que tm recebido um novo olhar e umnovo tratamento, outras fontes passaram a ser utilizadas, tais como a foto-grafia, a literatura, os manuais escolares, os jornais e revistas, a histriaoral etc. (GALVO; SOUZA JNIOR; 2005, p. 397) [grifo nosso]A histria oral foi introduzida no Brasil nos anos 1970, mas foi apenas nadcada de 1990 que se expandiu, quer como metodologia, quer como tcnicaoufonte.Naeducao,amodalidadedehistriaoraldevida,buscandoasexperinciasetrajetriasdeprofessores,temsidobastanteempregada.Estamodalidade[...] dirige seu foco especialmente para a experincia pessoal do entrevis-tado, enfatizando sobremaneira seus processos subjetivos e sua(s) identi-dade(s).[...]Estedepoimentooral,aomesmotempoemquereconstriuma histria pessoal, promove, tambm, um profundo processo de reviso,reconstruo e ressignificao do passado e do presente, resultando numanarrativa estruturada da prpria histria do entrevistado, agora apresentadacom objetivos pblicos. A Histria Oral de Vida, como narrativa, represen-taumadasformascomoosujeitosecompreende,comointerpretasuaautoimagem e como deseja ser conhecido pelos outros. Nessas entrevistas,onarradorestlivreparaconstruirasuaprpriaverso,naqualpoderocultar, revelar e recriar sua experincia pessoal (ATAIDE, 2006, p. 318).Nesta pesquisa, o uso da histria oral uma possibilidade de vislumbrarumaaparenteobviedade:queoprofessordehistriafazhistria,queumapessoaquefazescolhasetemumatrajetriapessoalquesearticulasuatrajetria docente. Abraho e Souza trabalham com o ato narrar e nos dizemque:[...] o ato narrativo se estriba na memria do narrador e que a significaoque o narrador deu ao fato no momento de seu acontecimento ressigni-EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...146ficada no momento de enunciao desse fato, em virtude de que a memria reconstrutiva, alm de ser seletiva, merc no s do tempo transcorridoedasdiferentesressignificaesqueosujeitodanarraoimprimeaosfatos ao longo do tempo, mas tambm pelas ressignificaes que ocorremna relao que se estabelece entre narrador e pesquisador no momento danarrao (ABRAHO; SOUZA, 2006, p. 151).Na narrativa, o passado estabelece uma relao com o presente e com ofuturo. Deste modo, o estudo da memria deve admitir que o sujeito busquesentido em experincias passadas, mas com a viso acerca do que ocorreu nomomentoemqueelaboradaanarrao,isto,atreladaaideias,opeseimagens do presente. De forma que identificar a percepo do depoente sobreasuaprofissoentraremcontatocomasdimensespassadas,presentesefuturas para constituir a imagem que este inventa de si. Entendemos que, noque se reporta identidade profissional dos educadores de histria, a histriaoral pode abrir caminhos ainda pouco explorados.Trajetrias do ensino de histria e da formao de professoresOs paradigmas que permeiam as discusses atuais em torno da formaodeprofessoresnosopreocupaesnovas.Estoanunciadosemdiversaspolticas pblicas ao longo da histria da formao de professores no Brasil.Isso um indicativo da pertinncia de pensarmos a formao de professores e,no caso, a formao especfica para o ensino de histria; e, ao mesmo tempo,buscar a gnese de problemticas persistentes, historicamente identificadas eproclamadas no cenrio educacional brasileiro.Pararefletirmosacercadaformaodeprofessores,entendemossernecessrio voltar para a histria dessa formao e ouvir os professores. Pesquisastm demonstrado que os estudos de histrias de vida de educadores so muitoimportantesparapensaraformaodeprofessores.Remond(1987,p.312)afirmaqueascircunstnciasdaexistnciatmumpapeldeterminantenaformao de um historiador, assim como de todos os homens. As circunstnciasso,emprimeirolugar,aprofisso,eaprofissoparaoshistoriadores,geralmente o ensino: na nossa sociedade, raros so os verdadeiros historiadoresque no sejam professores.No Brasil, a realidade que a rea de atuao profissional para os histo-riadores a educao. Assim, cabe-nos perguntar: como os professores narrame produzem sentido acerca da formao para docncia que tm recebido?Tornou-selugar-comumanoodequeaformaopermanentedoeducador de histria se faz ao longo de toda sua vida. O processo de formaoEducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...147permanente do professor, sempre inacabado, construdo ao longo da trajetriapessoal e profissional, multifacetado, dialgico e complexo. Nele se pretendeencontrarrespostasparaosdesafiosdotrabalhodocente.Aindaassim,aformao inicial tem um papel mobilizador e problematizador, onde aconteceatransmissodesabereseaconstituiodeposturastericas.espaodeconstruo de identidade docente. Portanto, compreender como cada pessoase formou encontrar as relaes entre as pluralidades que atravessam a vida.Ningumseformanovazio.[...]Teracessoaomodocomocadapessoaseforma ter em conta a singularidade da sua histria (MOITA, 1995, p. 114-115).A trajetria profissional resulta de experincias vividas na formao inicial,relativassteorias,prticaspedaggicas,saberesdocentes,influnciadeprofessores, lembranas de escolas, compondo, de tal maneira, o modo nicode cada educador ser e estar na profisso. Em A aventura de formar professores,Veiga fomenta um debate crtico frente formao de professores, para ela:[...]aformaodeprofessoresumaaocontnuaeprogressivaqueenvolvevriasinstncias,eatribuiumavalorizaosignificativaparaaprtica pedaggica, para a experincia, como componente constitutivo daformao. Ao valorizar a prtica como componente formador, em nenhummomento assume-se a viso dicotmica da relao teoria-prtica. A prticaprofissionaldadocnciaexigeumafundamentaotericaexplcita.Ateoria tambm ao e a prtica no receptculo da teoria. Esta no umconjunto de regras. formulada e trabalhada com base no conhecimentodarealidadeconcreta.Aprticaopontodepartidaedechegadadoprocesso de formao (2009, p. 27).A autora destaca a articulao que deve existir entre a teoria e a prtica,vendo-as no como coisas estanques e separadas, mas como partes de um todo.Paradoxalmente,entreasprincipaisdificuldadesenfrentadasaolongodaformao inicial, encontradas nas narrativas, podemos mencionar a dicotomiapercebida pelos professores entre teoria e prtica um dos maiores desafiosdos cursos de licenciatura.Nvoaexpequeaoseducadoresfoi,porlongotempo,impostaumaseparao entre o eu pessoal e o eu profissional, que negligenciava o papel doprofessor. Ele investiga qual foi o tratamento dispensado categoria profissionaldoseducadores,mencionandoestudosdeBalleGoodson(1989)eWoods(1991), quando estes se referem[...] aos anos 60 como um perodo onde os professores foram ignorados,parecendo no terem existncia prpria enquanto factor determinante dadinmicaeducativa;aosanos70comoumafaseemqueosprofessoresEducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...148foramesmagados,sobopesodaacusaodecontriburemparaareproduo das desigualdades sociais; aos anos 80 como uma dcada naqual se multiplicaram as instncias de controlo dos professores, em paralelocom o desenvolvimento de prticas institucionais de avaliao (NVOA,1994, p. 15).Entre serem ignorados e esmagados, as atribuies sociais dos profes-sores foram crescendo significativamente, em resposta s demandas da socieda-de e s imposies polticas. Isso acarretou uma progressiva perda de autonomia,desvalorizao da sua imagem e desqualificao social de seu trabalho.No Brasil, esse processo de proletarizao (ENGUITA, 1991) foi agravadopor polticas pblicas, muitas vezes, alheias s necessidades da educao, porexemplo,omodelodeformao3+1.Fortementecriticado,omodeloprevaleceuoficialmenteatadcadade1960.Haviaumaseparaoentreconhecimentosespecficos,paraosquaisficavamdestinadostrsanos,eospedaggicos, mais um ano. Ainda que a Lei de Diretrizes e Bases da EducaoNacional LDBEN, de 1961 tenha extinguido esse modelo, a formao deprofessoresprosseguiufragmentada.Issoacarretou,naprticaprofissional,profunda separao entre a universidade e as problemticas da escola.A reforma universitria props, em 1968, um novo modelo para o ensinosuperior. Aindaassim,noatendeuexpectativadoscursosdelicenciatura.Segundo Fonseca,De um lado, a reforma universitria aparece como instrumento de desen-volvimento e progresso social, supostamente atendendo s demandas so-ciaisporcursossuperioresemnveldegraduaoeps-graduao.Poroutrolado,tinhaumobjetivodesmobilizador,poisatacavaduramenteaorganizao do movimento estudantil, a autonomia universitria e a pos-sibilidadedecontestaoecrticanointeriordasInstituiesdeEnsinoSuperior. Medidas como a departamentalizao, matrcula por disciplina,unificao dos vestibulares, que passam a ser classificatrios, fragmentaodos cursos, o controle ideolgico e administrativo dos professores e o mo-delo administrativo empresarial implantado nas faculdades representam oajustamentodaUniversidadebrasileiraordempolticaeeconmicaque se impunha, aprofundando linhas j existentes (1993, p. 21).Esses, em grande medida, persistem at hoje na universidade. Essa lgica,quepermeouaformaodeprofessoresduranteasltimastrsdcadasdosculo XX, teve como base o modelo de licenciaturas curtas e plenas. A formaopautada pela separao entre teoria e prtica, pesquisa e ensino, conhecimentopedaggico e conhecimento disciplinar, aumentou a distncia entre a formaoacadmica e a escola.EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...149NoquetangespolticaspblicasdoensinodeHistria,precisamosconsiderar que este foi alvo de uma srie de mudanas, a partir especialmentede1968,emumprocessocontnuodedesqualificaodosprofessoresdehistria. Como o professor tem um papel central na constituio de qualquerprojeto educacional, este foi diretamente atacado pelas diretrizes polticas doEstado. Fonseca afirma que:[...] o Ensino de Histria constitui-se alvo de especial ateno dos refor-madores. Constatamos, neste perodo estudado, sobretudo aps 1968, umasrie de mudanas no Ensino de Histria. Num primeiro momento, elas seprocessaram em estreita consonncia com as diretrizes polticas do poderdo Estado. No segundo momento, constatamos o poder das foras sociaisemergentesnoprocessodedemocratizao,intervindodiretamentenasmudanas afetas ao ensino e produo da Histria (1993, p. 25).A LDBEN de 1971, em um dos momentos mais crticos da histria doBrasil, prope uma formao para o trabalho e para o exerccio consciente dacidadania. Alterou-se a nomenclatura dos graus de ensino: o primeiro grau,equivalente ao ensino primrio e ao ginasial, e o segundo grau, equivalente aocolegial. Quanto ao currculo, previu-se Estudos Sociais no lugar de Histria eGeografia, no sentido de controlar e reprimir as opinies e os pensamentosdos cidados, de forma a eliminar toda e qualquer possibilidade de resistnciaao regime autoritrio (FONSECA, 1993, p. 25).Para que esse projeto fosse implementado, foram assegurados cursos paraa formao de professores:Nestescursos,comeaaserformadaanovageraodeprofessorespolivalentes, e neles o principal objetivo a descaracterizao das CinciasHumanascomocampodesaberesautnomos,poissotransfiguradasetransmitidas como um mosaico de conhecimentos gerais e superficiais darealidade social. Esta concepo de curso de formao de professores segueomodelonorte-americano,quedprioridadeaumaformaoamplaetambm voltada para mtodos e tcnicas de ensino com pouca nfase nocontedo especfico no qual o aluno pretende se formar. A especializaoem Histria ou Geografia d-se nos cursos de ps-graduao em nvel deMestrado e Doutorado (FONSECA, 1993, p. 27).Veiga nos diz que o processo de formao contextualizado histrica esocialmente e, sem dvida, constitui um ato poltico. O processo de formaodevesercompatvelcomocontextosocial,polticoeeconmico(2009,p.27). De nossos sete entrevistados3, trs so formados em Estudos Sociais e em3 Os nomes de nossos entrevistados so fictcios.EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...150suas narrativas destacaram as atividades cvicas nas escolas e a existncia deum ensino de histria que denominaram positivista. Esses entrevistados contamque tiveram uma formao cerceada, que objetivava formar rapidamente mode obra para a disciplina de Estudos Sociais. este o quadro em que se insere a professora Mrcia, que se formou emEstudos Sociais, em 1988, numa instituio privada:[...] os cursos de licenciatura curta em Estudos Sociais tambm continuamexistindo, sobretudo nas instituies de ensino superior privadas. Como conhecido, estas instituies so responsveis por uma mdia de 60% dasmatrculas[dadosde1988]noensinosuperior.Logo,grandepartedosprofessores habilitados para o Ensino de Histria e Geografia so oriun-dos dos cursos de Estudos Sociais destas instituies (FONSECA, 1993,p. 48).As disciplinas de Educao Moral e Cvica e Organizao Social e Polticado Brasil (OSPB) e a substituio de Histria e Geografia por Estudos Sociaisintencionavam dissolver este campo de formao. O projeto de desqualificaodo professor de Histria colocou os educadores na condio de trabalhadores.Acarretou sua proletarizao e, como reao, uma consequente sindicalizaoe organizao, greves, reivindicao de melhores condies de trabalho, nos contra o descaso com as licenciaturas, mas contra toda a poltica educacional.As lutas pela excluso dos Cursos de Licenciatura Curta em Estudos Sociais, aredemocratizao no Brasil, o movimento internacional de reviso historiogr-fica e as greves impulsionaram novos paradigmas sobre a formao e o trabalhodo educador.Durante os anos 80, convivem no plano educacional, de um lado, um mo-vimento de renovao, de repensar o ensino de histria e de luta classista, e, deoutro, a conservao de uma legislao feita no perodo ditatorial. Assim, nosanos de 1980, as lutas pelo retorno do ensino de Histria ao currculo do ento1. Grau exigiram estudos e reflexes sobre o que e como ensinar no lugar dosEstudos Sociais e da antiga histria tradicional (MONTEIRO; GASPARELLO;MAGALHES, 2007, p. 8).O final da dcada de 1970 e a dcada de 1980 representam mudanas noensinodehistria,nomeadamente,nomovimentohistoriogrficobrasileiro.Essas mudanas refletiram no ensino de histria, podemos chamar tal perodode a Era do Repensando (CAIMI, 2001).Ahistriatradicionaleassuasabordagenshistoriogrficaspositi-vismo, estruturalismo, marxismo e historicismo precisaram abrir espaos nosmeiosacadmicosparaumnovomarxismo,crticodavisoeconomicistaortodoxa,eahistriaproblema. Ahistoriografiabrasileira,nestemomento,EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...151comeouainspirar-senaNovaHistriaFrancesa,os Annales,enaHistriaSocial Inglesa.Noplanodahistriaensinada,esseprocessocorrespondeu,aindaquepaulatinamente,amodificaesqueforamseincorporandoformaodeprofessores nas universidades. Um processo lento e desigual, segundo Martins(2007, p. 13): Nas trs ltimas dcadas do sculo XX, ocorreram a implantao,consolidaoeexpansodosprogramasdeps-graduaoemHistria,particularmentenasuniversidadespblicas.Apesquisahistricaganhousignificativo impulso.A dcada de 1980 palco de um intenso debate sobre o ensino de Histria.Caimi argumenta:Desde ao final da dcada de 1970, com o clima de abertura poltica do re-gime militar, ocorrera uma rearticulao dos movimentos sociais e profis-sionais. Essa reorganizao das associaes profissionais e entidades re-presentativas dos professores estimulou o repensar das prticas educativasesociais.Assim,todaadcadade1980seriamarcadaporumintensodebate em torno do Ensino de Histria, o qual se expressou na realizaode congressos, seminrios, reformas curriculares, publicao de coletneasetc. Tais atividades revelam uma forte disposio para o redimensionamen-todasteorias,mtodos,contedoselinguagensdeensinodadisciplina(2001, p. 43).Desdeento,oensinodeHistriaseconsolidoucomoumcampodeestudos, estabelecendo a necessidade de mudanas terico-metodolgicas quedevem estreitar a dimenso da formao acadmica com a educao bsica. neste sentido que Schmidt e Cainelli argumentam:As reflexes apresentadas nesse perodo apontam a existncia de diversasabordagens e temticas para o Ensino de Histria, alm de questionamentoacercadoscontedoscurriculares,dasmetodologiasdeensino,dolivrodidticoedasfinalidadesdoensino.Asquestesepistemolgicasdoconhecimento histrico e a problemtica da reproduo do conhecimentono ensino da Histria para a escola fundamental e mdia tambm tornaram-se objeto de discusso (2004, p. 11)As novas perspectivas para o ensino de Histria foram sendo introduzidasem um longo processo de aceitao de novas ideias, que, aos poucos, por meiode renovaes na formao de professores, foram sendo incorporadas na histriaensinada e nos livros didticos.Nos anos 1990, a historiografia e o ensino de Histria no Brasil passam aadmitir novos enfoques e novos temas, com a contribuio da subjetividade,EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...152do cotidiano e da memria. A disciplina de Histria abriu espao para aprendersobrememriasplurais,mentalidadeseculturas.NocampodoensinodeHistria, as inovaes acadmicas foram muitas.ALDBENde1996incorporaaelaboraodoprojetopedaggiconasescolas em uma lgica do incentivo competio. O professor passa a ter suaatuao avaliada meritocraticamente. Aumentam as exigncias acerca do papeldo professor atravs de ndices numricos de qualidade.Esses processos aparecem constantemente na fala de nossos entrevistados.Formadosemdiversosmomentos,vivenciaramcontextosdeexclusodadisciplina de Histria e, posteriormente, de renovao na forma de ensin-la.As mudanas na historiografia possibilitaram modificaes na histria ensinadaao influenciar teoricamente os professores da disciplina.Podemos evidenciar, neste breve retrospecto, que os problemas apontadosna formao de professores no so atuais e que tm sua gnese na criao daslicenciaturas, nas quais se separa o conhecimento especfico dos conhecimentospedaggicos.OprojetodedesvalorizaodadisciplinadeHistriaumprocesso histrico recente e deixou marcas profundas na estrutura do ensinode Histria no Brasil. A dicotomia entre teoria e prtica histrica na formaode professores, territrio onde, notadamente, formam-se identidades.Percursos formativos: o eu pessoal no eu profissionalAformaopermanentedoeducadorumprocessoinacabadoeconflituoso, que se d em muitas dimenses, na vida privada, nas instituiesformativas e de trabalho. A construo da identidade profissional est intima-mente ligada com o ambiente, temporal e espacial, da formao: O processode formao pode assim considerar-se a dinmica em que se vai construindo aidentidadedeumapessoa.Processoemquecadapessoa,permanecendoelaprpria e reconhecendo-se a mesma ao longo da sua histria, se forma, se trans-forma, em interaco (MOITA, 1995, p. 114-115).Nossos sete entrevistados, todos professores, tm formao inicial diversa.Doisemuniversidadespblicas,quatroemuniversidadesparticulareseumtemformaoemEstudosSociais,eminstituioprivada,eHistria,eminstituio pblica. Apenas um no tem ps-graduao.Asnarrativasindicampercepesmuitodiferentesquantoformaoinicial. Mrcia afirma: Eu sou muito grata a minha formao, no acho quetenha faltado nada, porque dentro do contexto histrico e social da poca eraaquilo que podia ser oferecido [...] para a poca a metodologia era diferente,era um ensino bem mais tradicional, conteudista.EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...153Mariza4, em relao a sua formao inicial em Histria, relata-nos: Eufui pra Federal e, na poca, eu no tenho queixa nenhuma da formao, eu achoque era bem amplo o curso, os professores [...] Nessa poca eu percebo que ocurso era bem voltado para a licenciatura.Amanda5 diz que [...] foi um curso bem pobre, porque eu tive azar depegar uma faculdade que estava iniciando, era um curso novo, teve matriasquetivedois,trsprofessoresemumsemestre,aquelacoisaquevaiseajeitando.Pedro6 fala sobre a formao inicial em relao insero na escola e dadistncia da formao com a realidade da docncia e da idealizao de um tipoperfeito de professor: [...] no foi dado suporte. Assim porque o choque coma realidade da sala de aula muito grande, quando tu vai trabalhar em sala deaula meio que se desmorona aquele mundo cor-de-rosa.A crtica do descompasso entre a teoria estudada na academia e a prticaem sala de aula algo recorrente nos relatos e aparece na maioria das narrativas. o caso de Joana7, que narra em relao a sua formao inicial:Eu achei muito ruim, muito fora da realidade [...] teve escolas queeu entrei e dei trs aulas e a minha formao foi trs aulas de es-tgio[...]osprofessoresldedentro[graduao]noestavamatualizados,omaterialeraamarelado,ultrapassado[...]oco-nhecimentodelesestavamuitodesatualizadooueramuitodi-recionado a certas tendncias que no era bem por ali.Joana continua, afirmando como se sentia: [...] nenhum pouquinho pre-parada, pra ser bem sincera, aquilo que eu aprendi dentro da universidade nome serviu pra nada, eu consegui melhorar minhas aulas, me aperfeioar maiscom a prtica de ensino mesmo, com a prtica.Ao pensarmos o trabalho docente, precisamos considerar o lugar socialda formao. Contudo, a identidade profissional se desenrola no s no mbitoformalacadmico.ParaVeiga,aidentidadedocenteumaconstruoquepermeiaavidaprofissionaldesdeomomentodaescolhadoofcio,passan-do pela formao inicial e pelos diferentes espaos institucionais onde se de-senvolve a profisso, o que lhe confere uma dimenso no tempo e no espao(2009, p. 29).4FormadanocursodeEstudosSociais,em1986,naFaculdadeImaculadaConceio,e,posteriormente,em1987,naUniversidadeFederaldeSantaMaria,emHistria.5Formada em 1988 no curso de Histria pela Faculdade de Filosofia de Palmas, no Paran.6FormadoemHistriaem1992naFaculdadeImaculadaConceio.7Formada em 1986 no curso de Histria da Universidade Federal de Santa Maria.EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...154Aidentidadedocenteconstrudamesmoantesdaformaoinicial,quando se escolhe a profisso de educador, j que uma escolha relacionadacom muitos fatores e prpria de cada um. Assim, aspectos da histria de vidados professores so de importncia quando pensamos na sua trajetria docente,na maneira como ensinam. Acerca disso, Goodson (1994, p. 70), a partir de suaexperincia, diz que quando fala com professores sobre questes formais rela-cionadas escola, como currculo, por exemplo, eles se remetem, invariavel-mente, a suas prprias vidas. O autor conclui que isto um indcio de que osprofessores consideram problemticas relacionadas sua vida mais relevantes.A formao formal apenas uma face da moeda. Outros fatores precisamser considerados quando falamos em profisso docente. Segundo Nvoa:Amaneiracomocadaumdensensinaestdirectamentedependentedaquilo que somos como pessoa quando exercemos o ensino. [...] Eis-nosde novo face pessoa e ao profissional, ao ser e ao ensinar. Aqui estamos.Nseaprofisso.Easopesquecadaumdenstemdefazercomoprofessor, as quais cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira deensinar e desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser. impossvel separar o eu profissional do eu pessoal (1994, p. 17). [grifosdoautor]As histrias de vida dos narradores mostram que os processos de formaode professores no se constituem somente em funo dos cursos frequentadosnas universidades ou na escola. Segundo Catani et al. (1997, p. 34), a formaode concepes sobre a prtica dos professores no se d quando conhecem asteorias pedaggicas, pois esto enraizadas em histrias individuais, podendoanteceder at mesmo a sua insero na escola. Essas se prolongam por todo odecurso da vida profissional.A escolha da profisso e a noo que se atribui docncia mesmo antesda formao tm um papel importante na trajetria profissional do educador.Em princpio, tal ato pode parecer irrelevante. Todavia, o momento da escolhada profisso, a imagem que se tem do que ser professor e os motivos que im-pulsionaram a escolha incidem na maneira de ser e estar na docncia.Escolha da profissoAescolhadaprofissoestligadaaumadiversidadederelaesesta-belecidas ao longo da histria de vida e vai marcar percursos docentes de formamuito particular. As narrativas analisadas apresentam algumas confluncias edivergncias nas motivaes para a escolha da profisso. Os entrevistados atri-buem a escolha ao gosto pessoal pela disciplina de Histria, lembrana deEducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...155um professor marcante, vontade de ser professor. H os que atribuem a esco-lha ao fato de terem um dom ou vocao para ensinar ou ainda h os que noqueriam a licenciatura, mas acabaram, mesmo assim, por faz-la.Mrcia, quando perguntada sobre a escolha da profisso, relata: Eu meapaixonei pela minha primeira professora, me marcou muito [...] ela j trabalhavadiferente, porque no fazia daquelas aulas somente o repassar do contedo, elafazia experincias, e essas experincias eu tenho guardadas na minha memria.Podemos observar na narrativa que um dos referenciais para a escolha profis-sional a lembrana dos(das) antigos(as) professores(as). Considerar algumum bom professor algo subjetivo e marcado pelo que est institudo social-mente. Amanda, igualmente, atribui a sua escolha profissional influncia posi-tiva de um professor. Ela diz: Eu escolhi Histria porque eu tive um professorque eu mais gostava. Paula8, quando perguntada sobre as razes da escolhaporserprofessora,menciona:EusempregosteideHistria,desdecriana,desde o antigo primrio. Sua av e sua me eram educadoras, assim, a heranafamiliar na carreira docente tambm a influenciou na opo por esta profisso,[...] porque a minha me foi uma excelente alfabetizadora. [...] a minha avtambm foi professora. Para Morgana9, a escolha da profisso foi pelo fato degostardeHistrianaescola.Diz-nos:EusempregosteideHistria,desdeestudante, desde a quinta srie sempre gostei do contedo que era trabalhadoem Histria. Quando chegou assim no segundo grau foi uma deciso bem fcil.JJoanaafirmaquesuaopoinicialnoerapelalicenciatura:Euqueriaarqueologia; naquele tempo no tinha arqueologia em Santa Maria. Para mimera difcil, pela condio financeira tambm. Acabei entrando na Histria.Como se v, claro nas narrativas o quanto as escolhas pessoais continuamdeterminando as trajetrias profissionais, mesmo depois de muito tempo. Ato primeiro contato com a escola, ainda como aluno do ensino bsico, repercutena ao e identidade docente. A prtica desenvolvida em sala de aula resultantenosdosconhecimentos,dasteoriasadquiridasatravsdoingressonalicenciatura, mas tambm da trajetria de vida.Aquestodomal-estardocenteeadicotomiaentredidticaeteorianaformao de professores de HistriaEsteve, em sua obra O mal-estar docente (1999), afirma que houve umaumento das exigncias da docncia e que a formao do professor no tem8Formada em Estudos Sociais, e, posteriormente, fez o curso de Histria na Pontifcia Univer-sidade do Rio Grande do Sul (PUCRS), formando-se em 1984.9FormadaemHistriapelaUniversidadeFederaldeSantaMariaem1998.EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...156acompanhado as demandas sociais. Ocorre um descompasso entre a formaouniversitria e a prtica da docncia, o que contribui para uma crise de identidadee, consequentemente, baixa estima. A formao inicial do educador contribuina(in)satisfaoprofissional,especialmentepelodistanciamentodaesferaformativa da prtica escolar e pela dicotomia entre teoria e didtica.Nahistriahouveumdeslocamentodadimensocognitivadaculturahistrica,deixandoparaapedagogiaosprocedimentos,asmetodologiasdoensino e a didtica da Histria. Para Rsen (2007):[...] a difundida noo atual (e no de hoje), aparentemente indestronvel,de que a didtica alguma coisa completamente externa histria comocincia. Ela se ocuparia da aplicao e da intermediao do saber histrico,produzido pela histria como cincia, em setores do aprendizado histricoforadacincia.Osdidticosseriamtransportadores,tradutores,encarregados de fornecer ao cliente ou cliente comumente chamado dealuno ou aluna os produtos cientficos (2007, p. 89).Ele continua:Aexternalizaoeafuncionalizaodadidticasooreflexodeumaconcepoestreitadacincia,porpartedoshistoriadoresprofissionais.Namedidaemqueacientificidadeforidentificadaexclusivamentecomos procedimentos adotados pela pesquisa e com os tipos de saber por elaproduzidos,so,decertaforma,banidosdacinciaosdemaisfatoresdeterminantes do processo cognitivo da histria: a gerao de problemashistricos a partir das carncia de orientao da vida prtica, a relao daformatao historiogrfica ao pblico e, sobretudo, a funo de orientaoprtica do saber histrico (2007, p. 89-90).A problemtica comea na formao, onde didtica coisa da pedagogiaeodidticoaquelequefazapenasatransposiodidtica.Adidtica,consequentemente, encarada como completamente externa histria comocincia, fora da teoria e, ento, ocorre um desinteresse com a dimenso cognitivada cultura histrica. Este fenmeno tambm responsvel pelo ensino de histriaseraindaumcampoobtuso,poucoaparelhadoeteoricamenteestigmatizadonos espaos da produo cientfica do saber historiogrfico.Entendemos que a formao universitria do professor precisa rever osparadigmas que norteiam suas prticas, permitindo uma valorizao da esferaprofissionaldoeducador,estreitandoarelaoentreombitoformativoeoprofissional.Adicotomiaentreteoriaedidticatemsidoresponsvelpelochoque de alunos recm-formados com uma realidade escolar muito diferenteda dos livros e das disciplinas curriculares, justamente porque teoria e didticaEducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...157so encaradas como elementos estanques e desarticulados. Essa fragmentao,presente na formao inicial, que pode ser evidenciada, por exemplo, em comose organiza o currculo, est distante da realidade do trabalho nas escolas.Nota-se que a questo de como o professor se sente em relao ao seutrabalho complexa, entretanto, sabe-se que a preveno passa pela formaode professores. Esteve explica:Esboam-se trs grandes linhas de atuao no processo de formao anteriorao trabalho profissional na docncia: em primeiro lugar, o estabelecimentode mecanismos seletivos adequados ao acesso profisso docente, baseadosem critrios de personalidade e no simplesmente, como at o momento,em critrios de qualificao intelectual. Em segundo lugar, a substituiodosenfoquesnormativo-idlicos,geradoresdeansiedade,porenfoquesdaformaoinicialclaramentedescritivos.Porltimo,abuscadeumamaior adequao dos contedos dessa formao inicial realidade prticadomagistrio,permitindoaofuturoprofessortantoacompreensododomniotcnicodosprincipaiselementosquemodificamadinmicadeseus grupos de alunos quanto a dos elementos sociais cuja ao contextualacaba influenciando a relao educativa (1999, p. 118).A abordagem da profisso na formao inicial, associada ao motivo daescolha da profisso, a memria de estudante, faz com que o graduando construaumaimagemdeumbomprofessor.Cria,portanto,umesteretipo,umaconcepo idlica da relao educativa, que acaba por causar efeitos negativosaoprofissionalporconsiderar-seonicoresponsvelpelaeficciadocente.Esta viso da educao, que pretende mudar o mundo sem considerar o planoprtico,ocomofazer,criatabusacercadesituaesreaisemsaladeaula,comoadadisciplina,adaavaliao.Empoucotempo,percebequetemlimitaes que o impedem de se enquadrar no modelo de professor ideal noqual se apoiou e criou expectativas durante o tempo da formao:Quandoseutilizammodelosdescritivos,seoprofessorconstataumfracasso,achaquedevecorrigirsuaatuao,estudandoarealidadeemqueensina,comofimderesponderadequadamenteaoselementosdasituao,quenodomina.Seforemutilizadosmodelosnormativos,oprofessor fica bloqueado no reconhecimento de suas limitaes, culpando-se por no corresponder ao esteretipo de professor ideal que assumiu einteriorizou como prprio durante o perodo da formao inicial e que ,por definio, inatingvel (ESTEVE, 1999, p. 127).Nas narrativas foram apontadas como dificuldades, entre outras coisas, afalta de recursos materiais e de condies de trabalho; violncia; acumulaode papis do professor; desvalorizao da disciplina de histria. interessanteEducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...158notar que as narrativas esto permeadas por crticas, especialmente relativas tutela do Estado em relao educao e proposies acerca da atual condioda educao pblica. Joana, quando perguntada sobre as dificuldades, fala dacarncia formativa relativa :[...]integraoentreuniversidadeeescola,achoqueissodatmuitofora da realidade. Tem professores na Federal, qualquer outra, particulartambm,quenuncaentraramnumasaladeaulapradaraulaparaoensino fundamental, nem para o ensino mdio, eles vo transmitir o qu?Qual a realidade que eles vo mostrar? Uma que eles viveram na vidauniversitria que bem diferente, ou de uma experincia que h muitosanoselesjpassaramcomoalunosnoensinofundamental,noensinomdio? Que no mais o aluno aquele.A professora faz uma crtica pertinente ao mencionar que sua deficinciaformativa relaciona-se falta de integrao entre universidade e escola.Pudemosperceber,notranscorrerdapesquisa,queasentrevistasquefizemos estimularam os professores a pensar sua formao, sua prtica e suastrajetriasdocentes.Sobreesseaspecto,concordamoscomaafirmaodeKarnal:[...]semumareflexosobreamudanacontnuaeaspermannciasnecessrias,aatividadedoprofessortorna-seinsuportvelcomopassardos anos. Todas as profisses tm sua perda de aura no enfrentamentoentre a pluma do ideal e o ao do real, mas aquelas que trabalham com aformaodepessoasparecemtornaressedesgasteaindamaisgritante(2008,p.10-11).Entre o real e o ideal existe um choque quando o profissional da educaose insere na escola. Muitas so as causas do mal-estar docente apontadas porEsteve (1999), entretanto, a preveno comea por uma postura reflexiva quebusque a percepo do educador em relao profisso e avaliao constantedesta. Segundo Mrcia:Aspessoasgeneralizamanossaclasse,entomuitodoquenostemoshojeenquantoumaclassedesvalorizadaedesmotivadaporqueaspessoas generalizam quando falam: O professor isso, o professor aquilo, desmotivado, com falta de interesse. Eu [...] isso me fere quando falamessas coisas [...] eu sou uma pessoa realizada profissionalmente e cadavez mais realizada ainda, porque o meu sonho era trabalhar com a EJA eeu realizei este sonho, uma coisa fantstica, um desafio incomparvel,no tem palavras.EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...159O processo de formao inicial tem uma grande importncia para buscarmaior integrao dos professores em relao s exigncias educacionais. Assim,Esteve (1999) entende a importncia de se considerar critrios de personalidadeque se relacionam escolha da profisso, substituio de enfoques normativospor enfoques descritivos, adequao dos contedos de formao inicial e realidade da prtica do ensino. Para o autor, a formao continuada tem menosimportncia que a preveno durante o processo de formao inicial, pois elaque pode evitar o choque com a realidade, possibilitando uma percepo realistada profisso e a realizao profissional.Consideraes finaisPudemos constatar que a formao inicial, no contexto histrico-socialem que se insere, tem um papel central na constituio de posturas tericas,prticas pedaggicas, enfim, incide diretamente no processo de construo daidentidade profissional. Os entrevistados destacaram, como principais proble-mas na formao, a dicotomia existente entre teoria e prtica e o distanciamen-to da realidade da escola com a universidade. Entretanto, podemos evidenciarqueasproblemticasapontadasnoscursosdeformaodeprofessoressohistoricamente construdas, tendo suas razes na criao dos cursos de licen-ciatura curta, nos quais se separava totalmente o conhecimento conceitual doconhecimentopedaggico,enoprojetodedesvalorizaodadisciplinadeHistria, que ainda muito recente e deixou marcas profundas na estrutura doEnsino de Histria do Brasil.Relativo ao mbito profissional, observamos que a maneira como o edu-cador percebe a sua profisso no fica restrita somente aos processos de for-mao, mas influenciada pelas trajetrias pessoais e profissionais. As con-cepes acerca da docncia no se constituem apenas na dimenso formativa,mas sim tm sua gnese na histria de vida dos entrevistados, na escolha daprofisso e na imagem que se tem, a priori, da docncia, que muitas vezes vista de maneira idlica, tal qual um dom. Assim, outros fatores precisam serconsiderados quando falamos em sucesso profissional e (auto)imagem docente.A histria de vida de cada professor no pode ser ignorada na produo dossignificados que atribuem ao fazer docente, mostrando que o processo de for-maodeprofessoresnoseconstituisomenteemfunodoscursosfre-quentados nas universidades ou na escola, mas que ela permanente, tal qual aconstituio da identidade profissional.EducaremRevista,Curitiba,Brasil,n.42,p.141-162,out./dez.2011.EditoraUFPRCUNHA, J. L.; CARDZO, L. S. Ensino de Histria...160REFERNCIASABRAHO, M. H. M. B; SOUZA, E. C. (Org.). Tempos, narrativas e fices:a inveno de si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.ATAIDE, YaraDulceBandeirade.Histriaoraleconstruodahistriadevida. In: ABRAHO, M. H. M. B.; SOUZA, E. C. (Org.). Tempos, narrativase fices: a inveno de si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.BURKE,Peter.Histriacomomemriasocial.In:______.Variedadesdehistria cultural. 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