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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA NARLA CAROLINE DE ARAÚJO CONCEIÇÃO DIREITO AO ESPORTE E LAZER E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS JOVENS DE ALAGOINHAS Alagoinhas 2009

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

NARLA CAROLINE DE ARAÚJO CONCEIÇÃO

DIREITO AO ESPORTE E LAZER E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS JOVENS DE ALAGOINHAS

Alagoinhas

2009

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NARLA CAROLINE DE ARAÚJO CONCEIÇÃO

DIREITO AO ESPORTE E LAZER E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS JOVENS DE ALAGOINHAS

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade de Estado da Bahia - Campus II como requisito para obtenção do grau de Licenciada em Educação Física. Orientador: Augusto Cesar Rios Leiro.

Alagoinhas/ BA

2009

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NARLA CAROLINE DE ARAÚJO CONCEIÇÃO

DIREITO AO ESPORTE E LAZER E REPRESENTAÇÃO SOCIAL DOS JOVENS DE

ALAGOINHAS

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do curso de

Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia, Campus II.

Aprovada em 31 de Agosto 2009.

BANCA DE AVALIADORES

_______________________________________________

Prof. Dr. Cesar Leiro

Doutor pela UFBA

Docente da UNEB

________________________________________

Prof. Esp. Angelo Amorim

Especialista pela FVC

Docente da UNEB

________________________________________

Prof. Cândida Andrade de Moraes

Especialista pela UNEB

Docente da UNEB

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Dedico aos meus pais Nelson, Neuza e as minhas irmãs Naiara e Naiane e àqueles que com carinho me incentivaram ao longo do meu percurso formativo.

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AGRADECIMENTOS

A monografia se constitui como um Trabalho de Conclusão de Curso, no entanto o percurso adotado para chegar aqui foi tomado por acontecimentos que enriqueceram na minha formação tanto profissional quanto pessoal. E aqui venho manifestar meus agradecimentos às pessoas e instituições por essa conquista.

Inicialmente agradeço a Deus por me dar o fôlego de vida, por me conceder a Tua graça e bênçãos, pela Tua infinita fidelidade e incomparável amor, por se revelar presente nos mínimos detalhes e pelo afago que encontrei em todos os momentos em que precisei. Obrigada Senhor!

Aos meus pais Nelson e Neuza que me apoiaram, orientaram, proferiram palavras de incentivo, encorajamento, amor. Às minhas irmãs Naiara e Naiane que me abençoaram durante boa parte do percurso de formação, pelos pequenos gestos e palavras de carinho e que com todo amor se preocuparam comigo colocando sempre meu nome em suas orações.

Aos meus avós Dionísio e Valdelina, pelo carinho, paciência e cuidado que tiveram comigo, os quais me receberam de braços abertos em sua casa. Essa pequena distância Salvador – Alagoinhas fez aumentar e fortalecer esse laço familiar e de amizade, contribuindo de forma significativa também na minha formação de caráter.

À minha “nada pequena” família pelos votos de sucesso e por compartilhar comigo momentos inesquecíveis. Aos mais que amigos, irmãos, que ficaram em Salvador, mas que nos possíveis encontros manifestaram a felicidade ao me reencontrar e a curiosidade de conhecer um pouco da minha vida acadêmica.

Aos colegas de curso que amei conhecer, cada um com sua personalidade e particularidade, diferenças que não interferiram no meu relacionamento de amizade e respeito com eles. Foram tantos os momentos com essa turma que ficarão para sempre gravados, nossos encontros, viagens - e que viagens - amigos secretos, “junta panela”, eventos e seminários.

Gravados também estão aqueles que começaram conosco, mas que por outros motivos tomaram novos rumos. Que Deus os abençoe.

Durante todo o curso estabeleci relações de amizade, respeito, companheirismo. Cabe citar aqui nomes das pessoas que com certeza fizeram dessa relação um fator para crescimento e aperfeiçoamento pessoal, pois aprendemos muito nessas interações .

Agradeço a amiga Aurelice por tudo o que fez por mim, a qual se colocou mais do que uma simples amiga. De igual modo Nívea, que ainda não conheci pessoa como ela, com jeitinho muito especial de ser, mãe de três lindos filhos, batalhadora e que persistiu com muita fé em Deus para superar as dificuldades que lhe foram aparecendo no caminho. A Jeane e a Guilherme pelos raros e sempre alegres momentos. Anne Sulivan, garota que luta com todas as garras para conquistar seus sonhos e planos. Amiga Paulinha e Marquinhos, “o filho de mainha”, pelos momentos divertidos e de muita alegria. Reconheço que Deus me colocou na turma certa, a primeira.

Cabe aqui agradecer a instituição de ensino que me possibilitou um rico aprendizado neste percurso formativo, a Universidade do Estado da Bahia, em especial ao Campus II situada na cidade de Alagoinhas, na qual encontrei professores e professoras onde as relações de amizade e cooperação estabelecidas

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foram para além das salas de aula. Aqui também conheci pessoas que direta e indiretamente facilitaram esse processo formativo, aos funcionários e funcionárias dos setores de infra-estrutura, de coordenação e administrativo. Ressalto o nome do diretor Gregório Benfica, pela inteira disposição em atender as necessidades do departamento, e em especial ao curso de Educação Física, o qual tem estabeleceu uma relação significativa com os discentes e docentes.

Ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer, pelos debates e discussões de âmbito político social que facilitaram e contribuíram na minha condição de pesquisadora. Paralelamente a PICIN, programa de iniciação cientifica da UNEB, a qual me concebeu uma bolsa financiando minha pesquisa.

Ao diretório acadêmico pelos intensos momentos em que nos articulamos para defender os interesses do curso junto ao colegiado de Educação Física, na busca de melhoras, no ensino, pesquisa e extensão.

Agradeço a todos pelos singelos e sinceros votos de sucesso. E mais uma vez a Deus, pois a Ele pertence a toda Honra e a Glória, para sempre, Amém!

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... A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e

arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer

parte...

Por: Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e

Sérgio Brito

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso resulta de uma pesquisa intitulada de Ordenamento Legal em Lazer e Esporte - OLLE, desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer - GEPEFEL do Departamento de Educação de Alagoinhas da Universidade do Estado da Bahia. Trata-se de produção monográfica interessada em captar as representações sociais de jovens a cerca do seu direito ao esporte e lazer na cidade de Alagoinhas/BA e compreender como se comportam diante desse direito. Caracteriza-se como pesquisa qualitativa e se apresenta em cinco capítulos. Inicialmente apresenta as principais categorias do referencial teórico, posteriormente discute e analisa as representações levantadas e por fim, sintetiza a temática afirmando a necessidade de ações de esporte e lazer para/com as juventudes alagoinhenses.

Palavras chaves: Esporte e Lazer, Representação Social e Juventude.

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ABSTRACT

The present work of completion of the university degree result from a survey entitled to Legal Planning for Recreation and Sport - OLLE, developed by the Group for Study and Research in Physical Education, Sport and Leisure – GEPEFEL, Department of Education Alagoinhas the University State of Bahia. It is producing monographic interested in capturing the social representations of young people about their right to sport and leisure in the city of Alagoinhas / BA and understand how to behave faced with that right. Is characterized as qualitative research and is presented in five chapters. Initially presents the main categories of theoretical then discusses and analyzes the representations raised and finally, summarizes the issue by asserting the need for action sports and leisure activities for / with the youths alagoinhenses.

Keywords: Sport and Leisure, Social Representation, Youth.

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LISTA DE SIGLAS

CELADE/ CEPAL

Centro Latinoamericano y Caribeño de Demografia /

Comisión Económica para a América Latina y el Caribe GEPEFEL Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Física Esporte e

Lazer OLLE Ordenamento Legal em Lazer e Esporte UNESCO- Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a

Cultura

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LISTA DE QUADROS

QUADRO I- FREQUÊNCIA DOS JOVENS NOS ESPAÇOS

PÚBLICOS

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QUADRO II- MOTIVAÇÃO PARA USAR O ESPAÇO 40

QUADRO III- NOÇÃO DE LAZER DOS SUJEITOS 41

QUADRO IV- IMPORTÂNCIA DO ESPORTE E LAZER 42

QUADRO V- NOÇÃO DO ESPORTE E LAZER COMO DIREITO

SOCIAL

43

QUADRO VI- PERCEPÇÃO DA GARANTIA DO DIREITO NA

CIDADE

44

QUADRO VII- POSSIBILIDADES DA AÇÃO PÚBLICA PARA

GARANTIR ESSE DIREITO

45

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS JUVENTUDES

14

2.1 A QUESTÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER

14

2.2 RETRATANDO A JUVENTUDE 23

2.3 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 31

3 PERCURSO METODOLÓGICO 34

4 DOCUMENTOS, DISCURSOS E OBSERVAÇÕES DE CAMPO 38

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 47

REFERÊNCIAS 49

APÊNDICES 52

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1 INTRODUÇÃO

Hoje muito se fala em esporte e lazer como prática social cultural e sua

importância na formação humana e cidadã das pessoas. Captar a representação

social sobre essas práticas e sua relevância como direito dos jovens da cidade de

Alagoinhas, se constitui no principal foco desta pesquisa.

Esse tema surge do convívio com os jovens na cidade de Alagoinhas e do

interesse de compreender como esses sujeitos tomam o esporte e o lazer como o

direito social e constitucional, que vai além das práticas assistencialistas e

desvinculas das reais necessidades e interesses das populações.

O presente trabalho teve como ponto de partida uma pesquisa matricial

intitulada Ordenamento Legal em Lazer e Esporte – OLLE - desenvolvida pelo Grupo

de Estudos e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer / GEPEFEL do

Departamento de Educação de Alagoinhas da Universidade do Estado da Bahia do

qual faço parte como bolsista. Trata-se de uma pesquisa sobre as representações

sociais dos jovens a cerca do seu direito ao esporte e lazer na cidade de Alagoinhas

no Estado da Bahia, tendo por objetivo compreender o que pensam e como se

comportam diante do direito social.

Esporte e lazer são fenômenos culturais desenvolvidos por todo mundo e são

tomados aqui de modo relacional e implicado. O esporte é uma prática social

difundida globalmente na forma de competições esportivas oficiais, que encontram

nos jovens, notadamente no seu momento de lazer, grande repercussão. Tal

processo é difundido pelos meios de comunicação de grande alcance e está

referenciado, em grande medida, num conjunto de regras e normas

internacionalmente aceitas. Para superar essa visão restrita, o esporte também deve

ser visto como uma prática social e que assume significados peculiares do universo

em que está inserido. Já o lazer, encontra definições em diversos campos teóricos.

Muitos autores o retratam como uma prática histórica e cultural, na qual o ser

humano se constrói e produz novas culturas ao longo das relações sociais

estabelecidas nesses momentos. Outros teóricos atrelam o lazer ao tempo livre ou

disponível e defendem que a democratização do lazer requer uma democratização

dos espaços públicos e das ofertas de atividades organizadas de lazer na cidade.

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Tomando o esporte e o lazer como direito de todos e dever do Estado que

reúne em torno de si distintas possibilidades culturais e que pode promover

diferentes programas e ações setoriais para as juventudes, a presente investigação

buscou captar as Representações Sociais sobre o esporte e lazer dos jovens que

frequentam os espaços públicos de lazer citadino.

Sendo assim as políticas públicas de esporte e lazer implantadas nas cidades

devem ampliar seu conceito de esporte e de lazer no processo de formulação e

implementação de programas e projetos nesse setor, resgatando a noção de direito

social, garantindo-o, não só aos jovens, mas aos demais grupos sociais.

A partir disso considero importante essa pesquisa pelo o que ela pode

contribuir no debate sobre as representações sociais dos jovens sobre esporte e

lazer como direito constitucional, bem como para os avanços no planejamento de

políticas públicas para legitimar esse direto para e com a juventude. Para discutir o

tema a presente monografia foi estruturada em cinco capítulos.

No capítulo introdutório situo as temáticas do esporte e do lazer como práticas

socioculturais e faço uma breve caracterização dos sujeitos da pesquisa e do intento

do estudo. No segundo capítulo elejo o esporte e lazer, as representações sociais e

a juventude como categorias teóricas principais.

No terceiro capítulo apresento o percurso tomado para a construção da

pesquisa, bem como os métodos utilizados para coleta e análise dos dados e

informações levantadas ao longo da caminhada.

No quarto capítulo discuto os dados e faço uma discussão daquilo que os

jovens representam sobre o esporte e lazer e sobre e a realidade da administração

pública no que tange ao fomento do esporte e lazer na cidade. Por fim no quinto capítulo apresento minhas considerações finais, fruto dos

referenciais teóricos e das informações colhidos ao longo do estudo e proponho uma

gestão pública comprometida com o esporte e lazer como direito.

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2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER E REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS DAS JUVENTUDES

O presente capítulo discute o esporte e o lazer como direito social que deve

ser assegurado por meio de políticas públicas que resgate a noção de direito dentro

de uma perspectiva de ações públicas descentralizadas. Ao lado de uma

apresentação sobre a juventude como categorias sociais que assume identidades e

características diversas e por fim faz uma breve reflexão sobre a noção da

construção das representações sociais, como construções que são afirmada ou

negadas dentro das relações sociais.

2.1 A questão das políticas públicas de esporte e lazer

As discussões em torno do esporte e lazer têm se intensificado nas últimas

décadas à medida que se reconhece a importância desses fazeres culturais dentro

de uma sociedade cada vez mais carente e necessitada de atenção.

Os debates decorrentes de pesquisa e de fóruns de discussões, que apontam

a importância do esporte e lazer, têm favorecido um olhar mais crítico, quando se

pensa nas políticas públicas destinadas a esse setor dentro de uma administração

pública. Pois, a forma como tem sido tratada a questão do esporte e lazer acaba por

restringir suas possibilidades, dificultando assim uma discussão mais abrangente

sobre o tema no âmbito nacional, regional e local.

Para tanto, importa-nos levantar alguns conceitos de esporte e de lazer, para

subsidiar os debates. Leiro (2004, p.35) define esporte como uma “prática social que

integra as manifestações da cultura corporal do ser humano” que assume

características próprias a partir do contexto que esteja inserido, “embora guarde

linhas e gestos internacionalmente praticados”. E amplia dizendo que:

Tais manifestações podem ainda, nos territórios citadinos formais e não-formais, se configurarem em espaços referenciais de aprendizagem das culturas corporais, independente do segmento social ao qual o cidadão pertence, da sua habilidade motora, do sexo ou da etnia. (p. 41)

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Marcassa e Sousa (2007, p. 85) apoiados em Mascarenhas dizem que a

manifestação do esporte sob a forma de lazer se constitui como:

um tempo e espaço de organização da cultura e prática da liberdade que se expressa também na qualidade social e popular alcançada por uma sociedade que tem seu direito ao lazer alicerçado sobre princípios como planificação, justiça, democracia, autonomia etc.

A percepção do lazer emerge em meio a construção de um novo modelo de

produção fabril e organização do trabalho em fábricas, o que resultou na

artificialização do tempo (tempo de trabalho e de não-trabalho). Restringir o lazer

ao tempo subtraído a jornada de trabalho foi alvo de muitas reflexões,

principalmente na segunda metade do século XX.

Historicamente o debate em torno o lazer vem acolhendo diversos caminhos

conceituais. No final da década de 70 o sociólogo francês Dumazedier (1980, p. 34)

define lazer como:

Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Outra definição muito importante é de Requixa (1980, p. 35) que entende o

lazer como “uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do individuo que avive,

e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de

desenvolvimento”.

Autor de grande repercussão teórica no campo do lazer, Marcellino (2004, p.

31) entende o lazer como “cultura vivenciada, praticada ou fruída no ‘tempo

disponível’. [...] A disponibilidade de tempo significa possibilidade de opção pela

atividade prática ou contemplativa”. O autor prefere usar o termo “disponível” ao

“livre” sob o pressuposto de que tempo algum é totalmente livre por estar submetido

a processos de coação ou a normas de conduta social.

Já Mascarenhas (2001, p.92) toma o lazer como prática da liberdade e

considera que o contexto em que o lazer emerge ocupa um lugar na sociedade e o

constitui como:

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Um fenômeno tipicamente moderno, resultante das tensões entre o capital e trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassado por relações de hegemonia.

O lazer pode se constituir como vivências de inúmeras práticas culturais,

como o jogo, as brincadeiras, a festa, o passeio, a viagem, o esporte, e também as

artes como pintura, teatro, cinema, musica, literatura. E os valores atribuídos a essas

atividades, na linguagem comum são: divertimento, descanso e também ao ócio,

este último muitas vezes relacionado, negativamente, ao não fazer nada, ao vazio

ou “coisa de vagabundo”. A ociosidade aparece na historia brasileira como força

negativa e o lazer é pensado a partir de um conjunto de atitudes a serem cultivadas

pelo individuo.

Ao lado dos estudos do lazer emerge os discursos sobre os direitos sociais e

o lazer como direito constitucional devendo sua prática ser assegurada e estendida

pelo Estado de forma a garantir o bem estar social.

A partir da Constituição Federal de 1988, o poder municipal no Brasil teve

suas funções bastante ampliadas, e com esse processo de descentralização, o

município se tornou responsável pelas principais ações que permitem assegurar a

qualidade de vida de sua população, incluindo ações de ordem social voltadas ao

lazer e ao esporte enquanto políticas públicas de um direito social.

Marshall, citado por Menicucci (2006, p. 138) define direito social como “o

direito de participar por completo da herança social, levando a vida de um ser

civilizado, de acordo com os padrões prevalecentes na sociedade em que está

inserido”. Diante disso a autora afirma que “os direitos sociais permitem reduzir os

excessos de desigualdades geradas pela sociedade de mercado e garantir um

mínimo de bem-estar para todos”. Contudo, a efetivação desses direitos demanda

uma ação ativa do Estado por meio de políticas públicas. Sendo que, os mesmos

apresentam uma capacidade de poderem ser ampliados e redefinidos

frequentemente devido às mudanças que ocorrem na sociedade, as quais estão

vinculadas aos padrões em evidencia.

Num contexto onde se busca especificar o conteúdo de uma política pública

voltada para o esporte e o lazer, ou melhor, em que se discute como efetivar o

direito constitucional ao esporte e ao lazer, torna-se necessário analisar o conceito

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de políticas públicas e sobre o processo de sua constituição. A mesma autora define

políticas públicas de forma bem sucinta:

Uma política pública diz respeito à ação das autoridades públicas na sociedade, referindo-se àquilo que os governos produzem, para alcançar determinados resultados, através de alguns meios. Nessa concepção políticas públicas remetem a um conjunto de decisões e um conjunto de ações para implementar aquelas decisões (MENICUCCI 2006, p. 141).

O processo de formação de uma política pública começa a partir da

identificação de um problema que demande uma intervenção governamental, mas

não basta ser considerada problemática, é necessário que a questão levantada

também seja um problema político, que a través de mobilizações políticas mediadas

por atores articulados e envolvidos nessa situação, façam com que seja reconhecida

como problema e entre na agenda do governo.

O esporte e o lazer não são problemas, mas sim a ausência deles como

direitos sociais. Depois de constatados como problema, o próximo passo é definir os

conteúdos e estratégias para uma política de esporte e lazer. Para isso é

fundamental o desenvolvimento de conhecimento e produção teórica, capacitação

de profissionais, veiculação de idéias e aglutinação do pensamento crítico e criativo,

além da construção de uma rede de atores que agregue diferentes segmentos que

possam participar do processo de construção social do lazer e do esporte tanto

como direito quanto política pública, consolidando uma agenda pública que os

tematizem.

Zingoni (2003) percebe que nas administrações públicas brasileiras, no que

diz respeito ao esporte e lazer, que elas são pautadas por características

mesquinhas e tradicionais, marcadas pela fidelidade e pela troca de favores, suas

ações não são planejadas, agem por intuição. Suas propostas são marcadas pelo

assistencialismo, ações desconectadas das reais aspirações das populações.

O assistencialismo é o acesso a um bem através de doação, em outras

palavras, supõe sempre um doador e um receptor. Dessa forma o dirigente esportivo

age como alguém que quer ganhar o reconhecimento e a dívida de favor por sua

prática.

Sobre isso, Zingoni (2003, p. 228) afirma:

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A prática assistencialista, alimentada pela gestão tradicional, cria nas lideranças esportivas o mesmo hábito alimentado pelos dirigentes, ou seja, as lideranças esportivas não conseguem se pensar como gestores públicos, agentes do governo provido de direitos e deveres, mas sim, como meros mensageiros de demandas e favores.

O desafio para as gestões nesse campo deve contemplar ações públicas que

em sintonia com o direito social e uma política pública que garanta o acesso às

atividades com qualidade social, independentemente da renda ou segmento social

dos sujeitos.

De acordo com Zingoni (2003) persistem nas administrações públicas

brasileira de esporte e de lazer uma estrutura e um estilo de gestão burocrático, que

estabelecem hábitos políticos e sociais marcados por algumas características

comuns neste setor, onde a gestão é marcada pelo discurso da competência

puramente técnica, possui um estilo centralizador de governar - distanciando-se da

população, de suas demandas e desejos e na qual a dimensão econômica

sobrepuja à dimensão social - a capacidade de investimentos da burocracia está

sempre em primeiro lugar, em tempos de crise, os primeiros cortes são feitos nos

programas sociais.

A autora ainda cita que no Brasil, existe um outro estilo de gestão nas

administrações públicas de esporte e lazer, o tradicional, pautado pelas seguintes

características: a) Políticas públicas marcadas pela fidelidade e pela troca de

favores. O dirigente aparece como um patrono, um protetor que se comove com o

sofrimento do outro, é aí que o seu poder se alimenta, pela cumplicidade; b)

Ausência de planejamento global de ações. O plano de ação é considerado, pelos

dirigentes, como instrumentos de fiscalização e controle, rejeitam discursos técnicos

e regras fixas. Administram puramente por intuição e pela falta de planejamento; c)

Pospostas marcadas pelo assistencialismo. O dirigente procura criar o maior número

de ações assistencialista que mantém a dependência da comunidade à sua boa

vontade, ele não acredita que a população se encontra madura e autônoma para

determinar os rumos de sua vida.

Superar esses estilos de gestão e essa visão restrita ao esporte e lazer

demanda uma descentralização dos órgãos administrativos das políticas públicas

deste setor, o que tem sido um dos objetos de estudo e ações do nosso grupo de

pesquisa.

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Nas políticas sociais do município, há necessidade de entender o esporte e o

lazer como direitos integrados as demais políticas sociais, sem, contudo, serem

subordinados a elas e ancorados nelas para receber atenção do poder público,

como aponta Marcellino (2001, p. 11-12) quando fala em políticas de lazer.

Falar de uma política de lazer significa falar não só de uma política de atividade, que na maioria das vezes acabam por se constituir em eventos isolados, e não em políticas de animação como processo, significa falar em uma redução de jornada de trabalho – sem redução de salário, e portanto, numa política de reordenação do tempo, numa política de transporte urbano etc.; significa, também falar de numa política de reordenação do solo urbano, incluindo aí os espaços e equipamentos de lazer, o que inclui a moradia e seu entorno; e finalmente falar numa política de formação de quadros profissionais e voluntários para trabalharem de forma eficiente e atualizada. Resumindo: o lazer tem sua especificidade, inclusive como políticas públicas, mas não pode ser tratado de forma isolada de outras questões sociais.

Diante desse diagnóstico, a gestão municipal tem sido um laboratório de

inovações na busca de maior efetividade das ações num contexto de muitas

demandas e poucos recursos. Partindo de um maior conhecimento sobre a realidade

na qual atuam as políticas sociais, novas estratégias de gestão vêm sendo

implementadas. Ao se reconhecer que os problemas, que são objetos de diversas

políticas sociais, são integrados e independentes e se reforçam mutuamente, uma

proposta de integração intersetorial e interinstitucional tem ganhado força nos

últimos anos, no desenho de implementação e gestão de políticas sociais.

Essa proposta de intersetorialidade tem sido vistas como uma nova maneira

de abordar os problemas sociais, considerando o cidadão em sua totalidade e

estabelecendo uma nova lógica para gerir a cidade, o que acaba por superar a

forma segmentada e desarticulada de como as políticas públicas são abordadas e

implementadas em diversos setores.

A intersetorialidade se apresenta como desafio para a gestão e para os

gestores, pela necessidade de se obter uma compreensão compartilhada de

finalidades, objetivos, ações, indicadores e práticas articuladas. Ou seja, se coloca

como desafio por demandar uma construção coletiva de objetivos e o compromisso

de superar os problemas de maneira integrada.

Menicucci (2006, p.148) vê esse modelo organizacional como uma rede que

estabelece “um espaço de poder compartilhado e de articulação de interesses,

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20

saberes e práticas de organização, indivíduos e grupos, sendo uma rede centrada

na identidade de um projeto”, garantindo assim uma melhor efetivação das ações.

Ao considerar que o trabalho em rede se baseia em uma visão sistêmica do

mundo, Zingoni (2003, p. 223) define rede como:

Um espaço de convergência de vários atores sociais, todos incompletos, que precisam tecer uma articulação de esforços diante de objetivos definidos, ou seja, potencializar recursos com e para o público comum. [...] A idéia de rede consagra o princípio de descentralização, entendida em suas três vertentes: horizontal- compartilhamento de poder dentro de um mesmo nível de governo; a vertical- compartilhamento de poder entre diferentes níveis de governo, e a extragovernamental- compartilhamento de poder entre Estado e sociedade civil.

Diante disso, a implementação de políticas públicas de esporte e lazer que

visa a superação, das que estão postas na sociedade brasileira, demanda um

trabalho integrado intra e intersecretarias, como realça Marcellino (2001) um

trabalho pautado na intersetorialidade. Uma vez que o lazer e o esporte estão

ligados à educação, à saúde, à habitação, ao transporte, ao serviço social, de forma

a efetivar o planejamento, a execução e a avaliação dos programas e equipamentos

destinados às praticas de esporte e lazer na cidade.

Ao se pensarem uma política pública descentralizada, visando a decadência

dos modos de gestão burocrático e tradicional, anteriormente citados, alguns

indicadores apontam para um novo estilo de governar, o estilo participativo, que é

destacado por algumas características levantadas por Zingoni (2003, p. 227).

a) Uma política de esporte e lazer que busca um estilo participante

de governar deve superar o centralismo das decisões. É preciso que os dirigentes esportivos passem a se reconhecer e a se fazer reconhecidos como gerentes dos assuntos públicos do município, pois em suas mãos encontra-se, por lei, a responsabilidade pelo diagnóstico, programação, supervisão e continuidade das ações de espore e lazer.

b) Estas decisões devem ser compartilhadas com a sociedade civil, [...] o objetivo é articular formas de democracia direta: os próprios governados decidem sobre as políticas; com formas representativas: eleição de representantes que fazem a mediação entre o Estado e a sociedade civil.

c) Para as formas colegiadas de governo funcionarem, é necessário construir um novo perfil de liderança popular no esporte e lazer. É preciso agregar a estes a capacidade de formulação de políticas públicas, gestão e fiscalização de sua implementação.

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21

Vários estudos e documentos mais prescritivos têm destacado a importância

do envolvimento da população no processo decisório e na gestão das políticas

sociais, como forma de garantir legitimidade e sustentabilidade das políticas, bem

como a eficácia das ações. Isso se justifica na medida em que as políticas sociais

afetam diretamente a vida das pessoas e envolvem muitas vezes mudanças de

comportamento e de atitudes do público alvo.

Enfim, resgatar a noção de direito ao esporte e ao lazer, na formulação de

políticas públicas, vem contrapor a lógica da indústria cultural, que se apropria

desses elementos culturais como mercadoria, um entretenimento a ser consumido,

reduzindo as possibilidades de acesso ao patrimônio historicamente construído pela

humanidade, o que acaba reforçando os valores de uma sociedade de consumo.

Outro aspecto das políticas públicas de esporte e lazer está na atenção

atribuída aos espaços e equipamentos destinados a essas práticas na cidade.

Para tanto, os conceitos de espaço e equipamentos se confundem.

Marcellino (2006, p. 66) aponta Santini, o qual cita que há duas maneiras de

entendimento para essa diferença entre os conceitos. O primeiro entendimento

sugere que sejam tratados como sinônimos, já o segundo propõe uma distinção

clara entre espaço e equipamento. “Espaço é entendido como suporte para os

equipamentos. E os equipamentos são compreendidos como os objetos que

organizam o espaço em função de determinada atividade”. Marcelino conclui que é

possível se exercer as práticas culturais de esporte e de lazer sem a existência de

um equipamento, mas não é possível a realização dessas praticas sem a existência

de um espaço.

O crescimento de nossas cidades caracterizado pela aceleração e o

imediatismo e o aumento da população, decorrente do êxodo rural e das migrações

de cidades menores para aquelas constituídas como pólo de atração, geram

consequências inevitáveis na ocupação do solo, provocando desníveis,

diferenciando-o de forma notável, onde “de um lado se estabelece as áreas centrais,

concentradoras de benefícios, e de outro a periferia, verdadeiro depósito de

habitações” (MARCELLINO 2006, p. 66-67).

Sendo assim, isso justifica o fato dos equipamentos específicos de lazer e

esporte estarem concentrados nas áreas centrais da cidade, pois a maioria dos

investimentos que são feitos, esses os são, pela iniciativa privada, que os vêm como

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uma mercadoria a mais para atrair o consumidor, consequentemente favorecendo

àqueles que residem nessas áreas, dificultando-se assim o acesso de quem mora

na periferia, os quais dependem de transporte, preços mais acessíveis para usufruir

desses equipamentos, sem falar no tempo gasto para o deslocamento até essas

áreas centrais.

Isso se dá ao fato de que os equipamentos que são dispostos, de certa forma

escassos, para a população periférica são de péssima qualidade, retrato da

negligência do poder público para essa questão.

Um dos fatores mais importantes para o crescimento do lazer mercadoria é a

falta de espaços vazios urbanizados. As ruas e a maioria das praças, das grandes

cidades, são, geralmente, concebidas como locais de acesso e passagem. Sobre

isso Marcellino (2006, p.76) expõe que “o espaço público vem perdendo seu uso

multifuncional, deixando de ser um local de encontro, de prazer, de lazer, de festa,

de espetáculo”.

Diante dessa problemática da falta e, até mesmo, da centralização desses

equipamentos nos espaços da cidade, somando ao aumento da violência urbana e

falta de segurança, são aspectos que vêm contribuindo para o enclausuramento das

pessoas em suas próprias casas, elevando o número de indivíduos que têm, na

casa, seu próprio equipamento de lazer. Vivendo uma realidade, como aponta

Marcellino (2006, p. 77) citando Rodrigues, “travestida pelo virtual e pela imitação,

dessa forma desaparece a família, a rua, as relações de vizinhança que deixam de

existir no interior desses espaços públicos”.

Para ir contra essa individualização do lazer, torna-se necessário uma

demanda de políticas públicas de esporte e lazer, formuladas pelo poder público,

que enfatizem os espaços e equipamentos contribuindo para o lazer de convivência

social. Criando novos e revitalizando antigos, proporcionando à população maior

disponibilidade de acesso às atividades de lazer e esportivas, garantindo assim, o

seu direito constitucional.

Contudo, o diálogo com a população, notadamente com a juventude, se torna

fundamental no processo de planejamento de um equipamento de lazer, antes da

sua construção, para identificar quais são as aspirações e necessidades da

comunidade em questão e a partir daí saber que tipo de equipamento construir

atendendo os conteúdos culturais locais.

Page 24: Narla

23

A participação comunitária é importante para o conhecimento do ambiente e

da cultura, e para o incentivo a um comportamento destinado à preservação,

valorização e revitalização urbanas. De acordo com Marcellino (2006) esses

espaços preservados e revitalizados contribuem para uma vivência mais rica da

cidade, quebrando a monotonia dos conjuntos, estabelecendo pontos de referência

e vínculos afetivos.

Enfim, é preciso atenção e entender que todo processo de planejamento,

construção e administração dos equipamentos resultará numa política de

democratização cultural, alcançando também a população periférica. Para isso é

importante, nesse processo, a participação de profissionais da área. Garantindo-se,

assim, as qualidades técnicas requeridas e as especificidades da área, promovendo

com isso, espaços que contribuam para a convivencialidade e a qualidade de vida

da população em geral.

2.2 Retratando a juventude

Os focos de atenção tradicionalmente predominantes nos estudos sobre

juventudes na América Latina tiveram como eixo considerações demográficas,

biológicas e psicológicas. Nas últimas duas décadas, no entanto, os enfoques

sociológicos e políticos vêm sendo dotados de forma crescente, bem como outras

contribuições provenientes de perspectivas culturais e antropológicas.

Segundo dados da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura - (2004, p.25) no ponto de vista demográfico, os

jovens são:

Principalmente, um grupo populacional que corresponde a uma determinada faixa etária que varia segundo contextos particulares, mas que, geralmente, está localizada entre os 15 e os 24 anos de idade. No caso de áreas rurais ou de pobreza extrema, o limite se desloca para baixo e inclui o grupo de 10 a 14 anos; em estratos sociais médios e altos urbanizados se amplia para cima para incluir o grupo de 25 a 29 anos.

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24

Dentro deste viés, de circunstâncias particulares, os jovens podem ser

identificados como “um conjunto de pessoas de idades variáveis que não pode ser

tratado com começo e fim rígidos” (UNESCO 2004, p. 25).

Nos enfoques biológicos e psicológicos, a juventude está definida como um

período que se inicia a partir da maturidade fisiológica até a maturidade social.

Contudo, nem todas as pessoas de mesma idade passam por esse período da

mesma forma e nem atinge tal meta ao mesmo tempo. E é, a partir disso, que a

sociologia e as ciências políticas sentem a necessidade de incorporar outras

dimensões de análise.

A juventude tem significados distintos para pessoas de diferentes estratos socioeconômicos, e é vivida de maneira heterogênea, segundo contextos e circunstâncias. Esse é um dos embasamentos para a utilização do termo juventudes no plural. Contudo não se apela para uma visão fragmentada por tipos de jovens, e se ressalta que há elementos comuns a todos os jovens (UNESCO 2004, p.25).

Como tema de investigação científica, a juventude é identificada ora como

problema social, ora como problema sociológico. Pais (2003) faz uma distinção entre

esses problemas. O primeiro se trata de problemas que emergem de uma realidade

material e social (real-social), cuja solução está em não pensar em uma realidade

distinta, em não diferenciar os contextos vividos pelos jovens, a solução dos

problemas da juventude (drogas, delinqüência, desemprego, etc.) passa pela

projeção de uma modificação do real-social. Diferentemente são os problemas

sociológicos, que estão direcionados a interrogar essa realidade.

Essas duas classes de problemas possuem origens diferentes e não propõem

a redução de uma na outra. Por esta razão começa a generalizar-se uma

“consciência sociológica” da juventude, uma linguagem comum, de intervenção

administrativa, do discurso político. O que acaba caracterizando a juventude como

uma categoria socialmente manipulada e manipulável como retrata Pais (2003, p.

28) abordando Bourdieu onde diz que

o fato de se falar dos jovens como uma <<unidade social>>, um grupo dotado de <<interesses comuns>> e de se referirem esses interesses a uma faixa de idades constitui, já de si, uma evidente manipulação.

Page 26: Narla

25

Nas representações correntes da juventude, os jovens são apontados como

fazendo parte de uma cultura juvenil unitária. Contudo, a questão que se coloca à

sociologia da juventude é a de explorar não apenas as possíveis semelhanças entre

os jovens ou grupos de jovens, mas também, e principalmente, as diferenças sociais

que existem entre eles, reconhecendo-os como indivíduos que apesar de portadores

do um sentimento comum, são pertencentes a classes sociais, grupos ideológicos,

grupos profissionais diferentes.

Sobre isso Pais (2003. p. 29-30) aponta duas tendências e como a juventude é

por elas abordadas.

a) Numa delas, a juventude é tomada como um conjunto social cujo

principal atributo é o de ser constituído por indivíduos pertencentes a uma <<fase da vida>>, prevalecendo a busca dos aspectos mais uniformes e homogéneos que caracterizam essa fase da vida – aspectos que[...] fariam parte de uma << cultura juvenil>>, específica , portanto, uma geração definida em tempos etários;

b) Noutra tendência, contudo, a juventude é tomada como um conjunto social necessariamente diversificado, perfilando-se diferentes culturas juvenis em função de diferentes pertenças de classes, diferentes situações económicas, diferentes parcelas de poder, diferentes interesses, diferentes oportunidades ocupacionais, etc.. Isto é, nesta tendência, a juventude é tomada como um conjunto social cujo principal atributo é o de ser constituído por jovens em diferentes situações sociais. Nesta outro sentido, seria um abuso de linguagem, como refere Bourdieu, subsumir sob o mesmo conceito de juventude universos sociais que não têm entre si praticamente nada em comum.

Segundo Pais (2003, p. 36) a definição de cultura juvenil “é como qualquer

mito, uma construção social que existe mais como uma representação do que como

realidade”. Daí a generalização da juventude como um problema social

(manifestações, delinquência, moda, drogas, etc.). O autor indaga se os jovens

sentem esses problemas como seus, na tentativa de desconstruir (desmistificar)

sociologicamente alguns aspectos da construção social (ideológica) da juventude

que, em forma de mito, nos é passada, com a ajuda da mídia, como uma entidade

homogênea.

O referido autor afirma que a juventude é “uma categoria socialmente

construída, formulada no contexto de particulares circunstâncias econômicas, sócias

Page 27: Narla

26

ou políticas, uma categoria sujeita, pois, a modificar-se ao longo do tempo” (PAIS

2003, p.37).

A noção mais geral e usada do termo juventude refere-se a uma faixa de

idade, um período de vida em que se completam o desenvolvimento físico do

indivíduo e uma série de mudanças psicológicas e sociais, período em que

abandona a infância e ingressa num processo para entrar na vida adulta. Todavia, a

noção de juventude é socialmente variável, e em algumas formações sociais é que a

juventude se configura como uma categoria com visibilidade social.

Para Abramo (1994) a juventude aparece como uma categoria destacada nas

sociedades industriais modernas, especificadamente nas sociedades ocidentais. E

como fenômeno da sociedade moderna a juventude emerge como tema para a

sociologia.

Ao traçar esse tema, a autora fala que a idéia central é a de que a juventude:

É o estágio que antecede a entrada na ‘vida social plena’, e como situação de passagem, compõe uma condição de relatividade: de direito e deveres, de responsabilidades e independência, mais amplos do que os da criança e não tão completos quanto os do adulto (ABRAMO, 1994, p.11).

Marcada sobre tudo pela negatividade: o que não se é mais e ainda não

chegou a ser; ou pela indeterminação: estado incerto que vem da coexistência, da

imbricação e também da distancia entre o universo infantil e o universo adulto.

Para Pais (2003) a noção de juventude somente adquiriu uma certa

consistência social a partir do momento em que, entre a infância e a vida adulta, se

começou a verificar o prolongamento dos tempos de passagem que hoje em dia

continuam a caracterizar a juventude – derivando daí os consequentes problemas

sociais. Não que os jovens não tenham existido antes, mas não com o estatuto nem

com a autonomia ou a força de grupo social que agora têm. O mesmo autor fala que

na sociedade contemporânea “os jovens revelam e reclamam uma capacidade de

intervenção, decisão, e influência em numerosos domínios nos quais ditam modos

de comportamentos” (PAIS 2003, p. 41).

Diante do grande contingente demográfico de jovens no Brasil, as projeções

da CELADE/CEPAL – Centro Latinoamericano y Caribeño de Demografia - indicam

que serão, em 2010, cerca de 50 milhões de pessoas entre 15 a 29 anos

(abrangendo o ciclo etário), o que chama a atenção sobre a importância de um

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27

enfoque maior em políticas públicas para juventudes, as quais são vistas como

bônus demográfico, por oferecer oportunidades ao desenvolvimento econômico e

social do país. As políticas públicas voltadas, estrategicamente, para a juventude

incluem questões trabalhistas, a criminalidade, a educação e a previdência social,

esta última influenciada pelo aumento da expectativa de vida.

Apesar desse momento demográfico favorável para o país, quer pela

influência desse contingente nas gerações sucessivas, quer por sua vulnerabilidade

negativa (alta exposição a violência e que resulta em morte, a gravidez precoce),

quer pela potencialidade dos jovens para os novos paradigmas de desenvolvimento

como identidade social, os mesmos jovens pedem tratamento como identidade

social em si.

A categoria juventude também começa a ser notada pela sua voz e força

ativa, quando começa a ir as ruas protestar e reclamar por seus direitos. A exemplo

disso, nas décadas anteriores, temos o movimento das “Diretas Já” e o

impeachment do presidente Fernando Collor, onde os jovens, incontentes com a

realidade da política brasileira, saem às ruas para lutar pela democracia, pelo voto

direto. E hoje são inúmeros os movimentos juvenis, em especial destacam-se os

movimentos estudantis, que buscam melhoras no sistema educacional brasileiro. É

característico dos jovens essa inquietação e questionamento contra os padrões

vigentes da sociedade, onde muitas vezes seu comportamento é considerado como

anormal/rebelde, por fugir dos padrões de socialização aos quais deveriam estar

submetidos.

Para Abramo (1994, p. 13) a juventude está associada a um período de

turbulência e tensão, etapa conturbada pelas transformações envolvidas no

processo de transição - para a vida adulta – que provoca uma relação conflituosa do

jovem com seu ambiente, mudanças que:

[...] provocariam uma serie de crises: de auto estima, conflitos familiares e outras autoridades e, por fim, choques com a própria ordem social na qual devem efetuar sua entrada (revolta contra as leis e contra as autoridades que definem essa ordem).

Atualmente a juventude passa por mudanças significativas na sua

configuração e problematização, centrada na ampliação e veiculação aos espaços

de lazer, à industria cultural e aos meios de comunicação. Uma cultura juvenil agora

Page 29: Narla

28

“ligada ao tempo livre a ao lazer que abarca novas atividades e espaços de diversão

e novos padrões de comportamento, especificamente juvenis” (Idem, p. 28). Não

que isso queira dizer que eles deixaram de contestar os problemas sociais que os

afetam.

E é a partir desse aumento da disponibilidade e procura por diversão que

rápida foi e é a resposta por parte das indústrias, do comércio, e da publicidade que

começam a produzir bens e serviços para esse público.

Segundo a UNESCO (2004, p. 33), lazer, formação cultural e exercícios de

atividades esportivas são dimensões habitualmente relacionadas principalmente aos

jovens, e que geralmente estão presentes em suas falas, sublinhando a vontade de:

“ter aonde ir aos finais de semana, poder usufruir de atividades culturais e também

delas participar como produtores, assim como praticar não somente esporte na

comunidade, mas também em quadras e ginásios apropriados”. Essas dimensões

são importantes, tanto como direito dos jovens, como opções e alternativas de

modos de vida, “como benefícios para eles próprios e para comunidade” (Idem,

p.33).

Falar de lazer implica também falar do tempo para usufruir-lo. E é nos tempos

livres que os jovens:

Constroem suas próprias normas e expressões culturais, ritos, simbologias e modos de ser que os diferenciam do denominado mundo adulto [...] a ocupação do tempo livre pelos jovens pressupõe a satisfação de necessidades materiais objetivas e a existência de tempo liberado das obrigações cotidianas e de conteúdos culturais que organizem que dêem sentidos à experiência desse tempo (CARRANO; DAYRELL; BRENNER. 1995. p.176).

Os autores acima citado afirmam que o lazer juvenil como experiência cultural

coletiva ganha enfoque maior quando se considera a importância do grupo de pares

no processo de formação humana. Essa convivência em grupos favorece a criação

de relações de confiança, além das aprendizagens, provenientes dessas relações

sociais, servem também de espelho para a construção de identidades coletivas e

individuais.

De acordo com Carrano, Dayrell e Brenner (1995, p. 177), no espaço-tempo

do lazer, “os jovens consolidam relacionamentos, consomem e (re)significam

produtos culturais, geram fruição, sentidos, e processos de identificação cultural”.

Page 30: Narla

29

Nesse sentido os espaços sociais públicos se tornam significativos laboratórios onde

as experiências acontecem e onde são produzidas as subjetividades decorrentes

das diferentes práticas coletivas.

Os espaços de cultura e de lazer, bem como todas as suas potencialidades,

se colocam na perspectiva do direito, um direito cultural que implica criar condições

de produção cultural, compreendendo o acesso dos produtos, informações, meios

de produção, difusão e valorização da memória cultural coletiva. Sob essa noção de

direito, Carrano, Dayrell e Brenner (1995, p.177) criam a expectativa de que as

políticas públicas sejam capazes de “promover cidadania cultural em que amplie a

capacidade critica dos jovens ante a tendência de indústrias culturais de

homogeneizar e reforçar os guetos de identidades”.

As políticas públicas mais recentes tentam focalizar esforços nos setores

juvenis que enfrentam mais dificuldades e carências, e desenvolver ações

municipais a partir de ações descentralizadas em temos de gestão pública. Embora

o assunto tenha uma grande relevância, tensões são geradas pelos próprios órgãos

públicos e privados encarregados de proporcionar serviços e respaldos aos jovens,

daí destacam-se dois tipos de confrontações, citado pela UNESCO (2004): na

primeira ocorre entre os enfoques promocionais e aquelas centradas no controle

social; na segunda as confrontações estão entre os enfoques de desconfiança em

relação aos jovens – considerados perigosos – e aqueles que promovem a

manipulação e a instrumentalização da juventude, a partir de posturas populistas.

O lazer é atividade social e está condicionada “pelas condições de vida

material e pelo capital cultural que constitui esses sujeitos e coletividades”

(CARRANO; DAYRELL; BRENNER. 1995 p. 178).

Para os referidos autores os planos de ação são desenvolvidos sem uma

base real de conhecimento sobre o que os sujeitos podem realizar ou desejam

experimentar, geralmente essas ações são sob bases voluntaristas. Os mesmos

autores afirmam que o conhecimento sobre essa realidade pode, além de, contribuir

para políticas mais efetivas, também podem impor limites à ação ideológica do

Estado na definição dos conteúdos de determinada diretriz da política cultural.

A carência de uma visão integral e articulada dá lugar a uma política de

enfoque universal que na verdade só beneficiariam os jovens pertencentes às

classes média e alta da sociedade. Isto é, “os mais bem preparados para aproveitar

Page 31: Narla

30

os serviços que oferecem as políticas públicas universais, ou os mais aptos a utilizar

os serviços que são regulados pelo mercado” (UNESCO, 2004. p. 34).

Carrano, Dayrell e Brenner (1995, p. 210) ao analisar os dados da pesquisa

sobre o “Perfil das Juventudes Brasileira” constatam que:

Os contrastes socioeconômicos da sociedade brasileira se manifestam eloqüentemente na desigualdade da qualidade do tempo livre juvenil e no precário acesso a bens, serviços e espaços públicos de cultura e lazer da maioria da população juvenil.

A sociedade brasileira, por ser uma sociedade que tem atenuada as

desigualdades sociais, precisa desenvolver políticas públicas culturais para os

tempos de lazer dos jovens, especialmente àquelas dos setores populares, que, por

possuírem poucos recursos para o consumo nos diferentes mercados culturais,

habitam espaços com baixa infra-estrutura social pública.

Os dados da pesquisa demonstraram que as desigualdades nas formas e

conteúdos de ocupação do tempo livre se manifesta mais acentuada nas variáveis

de gênero e faixa de renda.

No que se refere a gênero, percebeu-se que as mulheres praticam menos esportes e realizam mais atividades dentro de casa para ocupar o tempo livre dos que os homens. [...] determinado padrão de cultura corporal de movimento que faz a prática do futebol – seja responsável pela desigual frequência de participação em atividades esportivas. [...] A faixa de renda, por sua vez, é condicionante que limita o acesso aos bens e espaços culturais (CARRANO; DAYRELL; BRENNER, 1995.p. 211).

Os autores evidenciam que a desigualdade social “gera desníveis culturais

que reproduzem o circulo vicioso que vem empobrecendo o capital instrutivo dos

jovens”, por não permitir condições materiais e socioculturais das possibilidades

para os jovens realizarem “escolhas culturais alternativas” (CARRANO; DAYRELL;

BRENNER, 1995, p. 212).

Desta forma, o resgate da noção de direito é de fundamental importância no

desenvolvimento de política pública para a juventude no âmbito de cultura, esporte e

lazer, abrangendo a integração e serviços públicos ao analisar as condições de vida

das juventudes.

Page 32: Narla

31

A preocupação com o tempo livre da juventude não pode limitar-se a tentativa

de redução de danos ou de prevenção da violência, mas considerar as

potencialidades impressas na vivencia plural do tempo disponível, do lazer e da

cultura como direitos plenos de cidadania, garantindo a todos - ampliando para toda

a sociedade - serviços e projetos de qualidade.

2.3 A construção das representações sociais

A noção de representação social se inspira na sociologia das formas

simbólicas e das produções mentais coletivas, em que Mead, Mauss e Durkheim são

os pioneiros. Entretanto, ela se desenvolve no campo da sociologia européia,

fundada por Serge Moscovici (1961) na obra A psicanálise, sua imagem e seu

público, na qual seu conceito se efetua dentro de uma perspectiva construtivista e

interacionista, que assume o papel de fenômeno estruturante da realidade, da

gênese das representações sociais.

Anadón e Machado (2003, p.10) diz que para Durkheim “o termo

representação social se refere a representações coletivas, como uma forma de

ideação social à qual se opõe a representação individual”. Sendo aplicado em

relação a sociedades estáticas e tradicionais. Durkheim concebia as leis de ideação

social no jogo que permanece entre elas, sem discutir os aspectos cognitivos da

representação e sua produção pelos grupos sociais.

Moscovici retoma o ponto de vista de Durkheim em relação à sociedade e

soma a essa perspectiva novas especificações, mostrando que é possível a

construção de um conhecimento válido pelo senso comum e que se pode apreender

o conhecimento de uma dimensão pisicossociológica.

A proposição de Anadón e Machado (2003, p. 14) sobre a representação

social é que ela é a:

Construção social de um saber ordinário (de senso comum) elaborado por e dentro das interações sociais, através de valores, das crenças, dos estereótipos etc partilhada por um grupo social no que concerne a diferentes objetos.

Page 33: Narla

32

A noção de representação social se dá na interface do psicológico e do social,

do individual e do coletivo, que se assemelha a alguns conceitos da sociologia,

como da ideologia e da psicologia, como os conceitos de cognição, opinião, atitude e

imagem. Portanto, a noção de representação social tem suas especificidades: ela é

gerada e reproduzida ao longo das relações sociais.

Amorim (2009, p.11) aponta que “as representações sociais dizem respeito ao

universo de opiniões construídas, reelaboradas e redimensionadas pelos indivíduos,

em relação a um determinado objeto social, de acordo com a história de vida de

cada um”. E por ser uma construção social dos sujeitos ela é contextualizada a partir

das condições em que são produzidas e em que circulam.

O conceito abordado para entender como as representações sociais são

construídas, levantado por Moscovici (1961), que surge do olhar psicossocial à

realidade, rompendo assim, com o tradicional pensamento da psicologia, no qual a

noção de sujeito era dissociada do contexto social. Para o autor sua teoria implica a

consideração de aspectos individuais e coletivos do conhecimento social, ou seja, o

sujeito se constitui nas relações sociais e esse fato ocorre através da linguagem,

muito influente no processo da representação. Segundo Duveen (2003, p. 8)

[...] as representações sociais sustentadas pelas influências sociais da comunicação constituem as realidades de nossa vida cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer as associações com as quais nós nos ligamos uns aos outros.

Minayo (1995) citando Schutz diz que a compreensão do mundo se dá a partir

de um estoque de experiências pessoais e de grupo, isto é, de companheiros.

Portanto, o conhecimento é produzido através da interação e comunicação e sua

expressão está sempre ligada aos interesses humanos que estão neles implicados.

O conhecimento emerge do mundo onde as pessoas se encontram e interagem,

surge das paixões humanas e nunca é desinteressado, é sempre produto dum grupo

específico de pessoas.

Jodelet sendo citada por Fernades, (2000?) enfatiza o fato de que, como ser

social, o homem precisa ajustar-se ao mundo em que vive, sobretudo para adequar-

se a ele, no que se refere ao comportamento e sobrevivência. E para tal é

necessária uma busca contínua de informações sobre esse mundo, informações

importantes à vida cotidiana, que serve de instrumento para o convívio em

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33

sociedade. Portanto, as representações que criamos sobre determinado objeto são

sociais, uma vez que a existência humana não transcorre de um vazio social. O

conhecimento não se constrói no vazio, ele se enraíza nas formas e nas normas da

cultura e se constrói ao longo das trocas cotidianas. Por isso que a representação

social é socialmente construída.

Como pontua Moscovici (2003), onde diz que pessoas e grupos criam

representações no decurso da comunicação e cooperação. O processo de

construção é psicossocial do ser humano, portanto, envolve integração de história

pessoal à do grupo com o qual interage, em outras palavras, uma articulação entre o

particular e o social de forma indissociável.

Page 35: Narla

34

3 PERCURSO METODOLÓGICO

A priori considero importante trazer algumas definições sobre ciência,

pesquisa e método, antes de relatar o percurso tomado.

A ciência surgiu pela necessidade dos homens saberem o por que dos

acontecimentos, descobrir como cada fato aconteciam. Para Mattos, Rossetto Jr.,

Blecher (2004, p. 10), ciência pode ser definida como “uma busca constante de

explicações e soluções para os problemas que afligem e incomodam o ser humano”.

Uma produção de conhecimento que pode e deve ser devolvida para a sociedade

com um acréscimo qualitativo.

Para Lakatos e Marconi (2001, p. 80), a palavra ciência é entendida como “um

conjunto de proposições lógicas correlacionadas sobre um comportamento de certos

fenômenos que se deseja estudar”.

Por haver diversas ciências, como a matemática, biologia, fisiologia, as

ciências sociais, elas apresentam objetos diferentes, sendo este último subdividido

em materiais (de modo geral) e formais (enfoque específico). A partir disso,

podemos dizer que a ciência é algo dinâmico, um processo de construção, que se

modifica de acordo com as necessidades da sociedade.

Quando se pensa em fazer pesquisa, pressupõe-se que há uma dúvida,

curiosidade ou um problema a ser resolvido. Sobre a pesquisa, ela pode ser

caracterizada como uma atividade focada na descoberta de soluções para os

problemas levantados.

Gil (2002, p. 17) define pesquisa como:

Procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. [...] a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados.

Marconi e Lakatos (2002, p.15) dizem que Ander-egg vai além, pois para ele a

pesquisa é um “procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite

descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do

conhecimento”. Pode-se dizer que a pesquisa é um procedimento formal, com

Page 36: Narla

35

métodos reflexivos de teor científico e que se estabelece para se reconhecer a

realidade ou para descobrir verdades parciais.

Segundo Marconi e Lakatos (2001), método é um conjunto de atividades

sistemáticas e racionais que permitem alcançar um objetivo, traçando o caminho a

ser seguido, detectando erros e auxiliando nas decisões do pesquisador, dando

direcionamento para a execução do trabalho.

Sobre método científico, Mattos, Rossetto Jr. e Blecher (2004, p. 13) define-o

como um “processo que possibilita questionar e manipular a realidade, ou seja, é o

traçado das etapas fundamentais da pesquisa, o caminho e os procedimentos que

se deve percorrer para chegar aos resultados de forma precisa e segura”.

Com base nessas definições, um percurso metodológico foi traçado para essa

pesquisa. Inicialmente é preciso dizer que o presente trabalho caracteriza-se como

pesquisa qualitativa, que teve como objetivo colher as representações sociais de

jovens sobre direito ao esporte e ao lazer na cidade de Alagoinhas/BA. Como afirma

Gaskell (2002, p. 68) “sobre pesquisa qualitativa, onde sua finalidade não é contar

opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as

diferentes representações sobre o assunto em questão”.

Considerada como o primeiro passo de qualquer pesquisa científica, a

pesquisa bibliográfica foi realizada com o intuito de me aproximar de materiais e

informações que foram anteriormente abordados sobre o tema em destaque.

Sob a perspectiva de pesquisa bibliográfica — definida por Gil (2002, p. 44)

como “pesquisa desenvolvida com base em material já elaborado, constituído

principalmente de livros e artigos científicos” — foram consultados autores como

Moscovici, Jodelet, Minayo, Amorim, Anadón e Machado que tematizam sobre

representações sociais. No âmbito de esporte e lazer, inclusive como políticas

públicas, os autores utilizados como referência foram Leiro, Marcassa e Sousa,

Marcellino, Castellani Filho, Zingoni e Menicucci. Na perspectiva da juventude, os

autores consultados foram Pais, Carrano, Dayrell, Brenner e Abramo, além de um

documento sobre o tema no site da UNESCO. Com bases nessas referências e minhas andanças e observações pelas ruas

e praças realizei um mapeamento dos espaços públicos da cidade de Alagoinhas,

sendo selecionadas as quadras Mario Laerte e a Praça Rui Barbosa, por serem

espaços localizados na área central da cidade, o que contribui para reconhecer os

principais lugares de interesses dos jovens bem como os equipamentos específicos

Page 37: Narla

36

para as práticas de esporte e lazer da cidade. Considero aqui a idéia de Rudio

(2001, p. 40) que entende por observação “a aplicação de sentidos a fim de obter

uma determinada informação sobre algum aspecto da realidade”.

Paralelo a esse mapeamento foi realizado um levantamento documental

sobre programas públicos de esporte e lazer da cidade no site oficial da prefeitura de

Alagoinhas.

Para alcançar o objetivo central foi realizada entrevista semi-estruturada,

como instrumento de coleta de dados, com a juventude frequentadora dos espaços

públicos da cidade a fim de captar a representação social sobre seu direito ao

esporte e lazer, sendo selecionados seis jovens, dois freqüentadores das quadras

Mario Laerte e quatro de Praça Rui Barbosa. A seleção foi mediante observação de

seu comportamento e sua relação com o espaço, tendo como critério se os sujeitos

utilizam o espaço apenas para circulação ou como local de trocas, de convivência,

de encontro com o novo e o diferente, um local para as práticas culturais de criação

e transformação.

Foi realizada, também, uma entrevista com o diretor responsável pelo setor

de esporte e lazer da cidade de Alagoinhas, com o intuito colher e confrontar

informações sobre as ações públicas para garantir o direito ao esporte e ao lazer na

referida cidade. Concebe-se a entrevista como método qualitativo que fornece os

dados básicos para o desenvolvimento e compreensão das relações entre atores

sociais e sua situação.

Para a análise dos dados obtidos nas entrevistas, a técnica utilizada é a

análise do discurso, a qual contribui para dar elementos para a contextualização da

fala. Eni Orlandi (1987 apud MINAYO, 2008, p. 320) diz que:

A analise do discurso cria um ponto de vista próprio de olhar a linguagem como espaço social de debate e de conflito. Nela, o texto é considerado como unidade significativa, pragmática e portadora de contexto situacional dos falantes.

A mesma autora diz que neste tipo de análise é possível compreender melhor

aquilo que faz o homem ser especial com sua capacidade de significar e significar-

se. Para ela, a análise do discurso “concebe a linguagem como mediação

necessária entre o homem e a realidade natural e social” (ORLANDI, 2007, p. 15).

Page 38: Narla

37

E ainda diz que o objeto de análise não se esgota em uma descrição, não tem

a ver com objetividade da análise, mas com o fato de que todo discurso faz parte de

um discurso mais amplo que é recortado.

O procedimento de análise começa na transformação do discurso concreto

em um objeto discursivo, onde saímos do produto acabado e começamos entrar no

processo discursivo. Inicia-se o trabalho configurando o corpus do discurso,

delineando-se seus limites, fazendo recorte e ao mesmo tempo retomando os

conceitos e noções, pois a “análise de discurso tem um procedimento que demanda

um ir-e-vir constante entre teoria, consulta ao corpus e a análise” (ORLANDI, 2007,

p. 67).

Diante disso a pesquisa foi realizada a fim de colher essas representações

sociais sobre o direito ao esporte e lazer, de maneira que a sistematização das

informações e dos dados levantados possam contribuir para futuras pesquisas e

ampliação das discussões sobre o tema visando a construção de uma política

pública que regaste a noção de direito assegurando aos diversos grupos sociais.

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38

4 DOCUMENTOS, DISCURSOS E OBSERVAÇÕES DE CAMPO

Valendo-se do estudo bibliográfico e do mapeamento dos espaços, a cidade

de Alagoinhas, com 156 anos de história, com pouco mais de 139 mil habitantes,

distribuídos nos 734 km², dispõe, oficialmente, de 48 praças, três delas possuem

parques infantis, a cidade também acolhe um Centro de Cultura, um cinema, 120

campos de futebol e um estádio, o Antônio Carneiro. No que tange aos espaços

disponíveis para as práticas corporais de lazer temos as praças: Rui Barbosa,

Kennedy, e Santa Isabel e as quadras Brasilinha, Santa Terezinha e Mário Laerte.

Percebe-se então, uma redução das possibilidades às praticas de lazer, além da

falta de infra-estrutura adequada e de conservações desses espaços como

responsabilidade do poder local. Foram recortadas as quadras Mario Laerte e a

Praça Rui Barbosa para um estudo detalhado das práticas de lazer nesses espaços.

A Praça Rui Barbosa, é a praça central da cidade, que geralmente é utilizada,

durante a semana, como local de travessia, ponto de ônibus, por pessoas que vem

de distritos próximos e que estudam na cidade e pelas crianças na saída da escola,

que brincam no parque. A circulação é mais intensa nos finais de semana onde a

população se concentra mais, circulam pela praça e encontram conhecidos, utilizam

a praça de alimentação, é nos finais de semana que os pais levam os filhos para

brincar, para utilizar além dos brinquedos disponíveis neste espaço público, outros

que são montados como mais uma opção para as crianças, os quais cobram um

taxa para utilizá-los, vemos aqui uma ramo da indústria cultural do lazer, que veem

no lazer uma possibilidade de arrecadar dinheiro, no qual a sua utilização é

mediante pagamento.

Nas quadras Mário Laerte possui duas quadras poliespotivas e uma pista de

skate, as possibilidades de uso consiste na prática de esportes, resumidamente o

basquete e o futsal, que geralmente já tem seus grupos estabelecidos e que se

encontram frequentemente nesses espaços. A pista de skate tem um público

freqüentador consistente, e que é muito utilizada ao cair da tarde, devido as

condições climáticas.

Em pesquisa realizada no site oficial da prefeitura não foi encontrado nenhum

documento ou citação de projetos que fomente a prática de esporte e lazer na

cidade, embora possua, na sua página virtual, um link descrevendo a Secretaria de

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Cultura, Esporte e Lazer e seu papel para a cidade de Alagoinhas. Na entrevista

feita com o diretor de esporte e lazer da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de

Alagoinhas, o mesmo cita que o único programa que está sendo efetivado é o

Programa Segundo Tempo, do Governo Federal, oferecido à crianças e

adolescentes na faixa etária de 7 ao 17 anos, em núcleos distribuídos na zona rural

e urbana. Um programa que está acontecendo de forma deficiente a nível local por

apresentar no seu desenvolvimento interesses políticos o que acaba fragilizando o

programa, esquecendo que foco está nas crianças e adolescentes por oferecer

oportunidades de realização de práticas culturais.

Ele diz que a secretaria dispõe de outros projetos, Jogos da Zona Rural,

Jogos Estudantis de Alagoinhas, Escolinhas de Futebol nos bairros, Corridas de rua

(pedestrianismo) em Alagoinhas, mas que estão previstos para começar em

Setembro de 2009. Quando perguntado sobre os espaços públicos destinados a tais

práticas, afirma que a cidade possui vários campos de várzeas, onde é utilizado,

quase exclusivamente, para jogar futebol e quadras poliesportivas nos bairros para a

prática das modalidades esportivas de quadra como o basquetebol, voleibol,

handebol.

Sobre as práticas de esporte e lazer, o diretor, as concebem como

instrumentos para inclusão social, de promoção de saúde, gerando melhor qualidade

de vida. Em certo ponto da entrevista ele afirma que esses fazeres culturais são

direitos de todos os cidadãos, mas ao se perguntar quais as ações do poder público

local para garanti-los, fica perceptível o enfoque que é dado a cultura esportivista

dentro do viés competitivo em que os participantes devem apresentar habilidades

específicas, o que reduz as possibilidades de práticas e de sujeitos, resultando na

descaracterização do esporte e do lazer como direito social de todos e que deve ser

assegurado pelo poder público.

Visando captar as representações sociais dos jovens frequentadores dos

espaços públicos de lazer da cidade de Alagoinhas sobre seu direito ao esporte e

lazer, está pesquisa preocupou-se em elaborar questões que pudessem dar conta

desta captura, como podem ser observadas nos quadros a seguir.

QUADRO I – FREQUÊNCIA DOS JOVENS NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER

Sujeitos Frequência no espaço público de lazer

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Jovem A Finais de semana

Jovem B Praticamente todos os dias

Jovem C De vez em quando, mais aos domingos.

Jovem D De vez em quando

Jovem E Bastante

Jovem F Finais de semana. Sempre, sempre tô por aqui.

Sobre a frequência pode se notar que os espaços públicos são mais

freqüentados nos finais de semana, onde os jovens estão menos comprometidos

com as atividades escolares, de casa e/ou do trabalho. O jovem B, praticante de

skate diz utilizar da pista de skate todos os dias, com intuito de aprimorar as técnicas

dos movimentos próprios do esporte. Os jovens A, B, D, E e F vê o final de semana

como melhor momento para as práticas de esporte e lazer, sendo este o momento

disponível para tais práticas. O uso desses espaços torna-se uma prática cotidiana,

vivenciada por diferentes grupos sociais.

QUADDRO II – MOTIVAÇÃO PARA USAR O ESPAÇO

Sujeitos O que te traz/motiva ou o que você encontra aqui?

Jovem A A vontade de andar (skate), eu tenho como um hobby.

Jovem B O amor ao meu esporte, meu estilo de vida. (skate)

Jovem C De fazer novas amizades, conhecer... encontrar uns amigos, uma paquera de vez em quando também é bom.

Jovem D Aqui eu encontro amigos, a galera.

Jovem E Nada. Nada mesmo... Me divertir com minhas amigas.

Jovem F Passear, encontrar com os amigos.

Falar de motivação é algo muito interessante no que diz respeito à prática do

esporte e lazer, conhecer o interesse ou que estimulam os jovens para realizar tais

práticas. Nos jovens A e B pode-se perceber que há uma relação de prazer com

esporte que eles praticam - o skate - estando este prazer submerso no mundo de

adrenalina e aprendizado em que eles encontram motivação. Os jovens C, D e F

relatam que o que os motivam a frequentar os espaços públicos é encontrar os

amigos e fazer novas amizades, é no espaço e tempo de lazer os jovens

estabelecem e consolidam relacionamentos. Aqui os espaços podem ser

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considerados como ponto de encontro, onde diversas experiências coletivas e

individuais podem se constituir. A jovem E, ao responder “nada”, relaciona a tua

saída de casa a um momento disponível para um simples passeio, mas entendo que

pela inexistência de algo que chame sua atenção, como por exemplo,

apresentações culturais na praça, esse simples passear na praça não gere ou não

seja entendido como algo que provoque uma motivação, pois geralmente as

pessoas atribuem ao lazer àquilo que é veiculado pela mídia com grande alcance

popular.

Compreender o espaço público, como relata Rechia (2006, p. 95) consiste em

entendê-los como ambientes que se “originam da necessidade de contato,

comunicação, organização e troca entre as pessoas”.

Portanto as representações dos jovens sobre o espaço público é que este é

visto como local para reafirmar/fortalecer ou estabelecer novas relações de amizade.

QUADRO III – NOÇÃO DE LAZER DOS SUJEITOS

Sujeitos O que é lazer para você?

Jovem A Lazer é tá com meus amigos, né. Fazendo o que gosta, se divertindo, botando o estresse da semana um pouco de lado.

Jovem B Lazer é viver do jeito que eu gosto, com os meus amigos, estilo de vida, andando de skate sempre, conhecer muita gente boa.

Jovem C Eu acho que é aquele momento mais descontraído que você... não se preocupa com a hora de chegar em casa.. Aquele momento mais de descontração... de... momento despreocupado.

Jovem D Lazer pra mim seria uma forma de se divertir, brincando, curtindo.

Jovem E Ter festa todo dia na praça, dia de sábado e domingo.

Jovem F Lazer é me divertir, descontrair com os amigos, ter lugar bacana pra ir, mudar, a rotina do dia-a-dia, mas aqui não tem isso, não tem muitas opções.

Neste quadro temos as concepções de lazer dos jovens, pode-se perceber

que diversão, descontração e que estar com os amigos são fatores importantes para

esses momentos de lazer. Os jovens A, C, D e F relatam que o lazer seria um

momento em que a pessoa se desligaria das obrigações da vida diária e se

dedicaria à alguma atividade de sua escolha,

O jovem B atribui às suas atividades de lazer aquilo que lhe dá prazer,

adotando um estilo de vida que assume características próprias, construindo uma

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identidade onde outros partilham dos mesmos interesses, o lazer como um espaço

de aprendizagem das relações sociais em contexto de liberdade de experimentação.

Lazer para a jovem E é sempre ter festa, principalmente nos finais de

semana, percebe-se aí a influência midiática e da indústria cultural sobre as práticas

de lazer, restringindo as diversas possibilidades de vivenciais. Podemos dizer que

muitas pessoas fazem lazer sem saber que estão fazendo, pois associam lazer

àquilo que difundido pela mídia.

Essas práticas sociais realizadas no interior do mundo vivido – onde a

dimensão de existência se traduz mediante um cotidiano compartilhado por várias

pessoas - podem significar uma fuga a formas sistemáticas de trabalho e que

adquirem novos valores humanos, distinguindo-se das atividades compensatórias,

funcionalista e consumista.

A representação dos jovens sobre o lazer consiste de um lado às possíveis

práticas realizadas e de outro ao tempo disponível, momento este em que as

obrigações da vida diária ficariam esquecidas.

QUADRO IV – IMPORTÂNCIA DO ESPORTE E LAZER

Sujeitos O esporte e lazer são importantes para o jovem?

Jovem A Sem dúvida. Ainda mais nessa sociedade estressante que é. Cobrança todo dia, tanto no trabalho, quanto no estudo. Tem que ter um momento de lazer pra descontrair. E aí a gente encontra isso através do esporte, né?!.

Jovem B Esporte e lazer proporciona aos jovens uma aprendizagem mais aberta culturalmente pra sociedade, a sociedade tem que se expandir, então o jovem tem que evoluir com alguma coisa, no caso, eu evoluo com o skate.

Jovem C Com certeza é importante. É especial para os jovens. Rapaz eu acho que aí vai muito da cabeça do jovem, que tem muito jovem que não faz nada o dia todo. Só faz subir e descer, a vida dele já é um lazer. (risos). Daí vai da cabeça da pessoa. Da rotina de trabalho também.

Jovem D Com certeza. Porque, por enquanto que ele ta lá se divertindo, não tá fazendo outras coisas erradas, não ía ficar imaginado coisas assim, eu acho que seria importante.

Jovem E Com certeza, eu acho que sim. Pra mim é.

Jovem F De grande importância, pra instruir os jovens. Fazer com que eles não fiquem, digamos que, de fácil acesso a cominhos exclusos, como as drogas e outros tipos de coisas que não são boas.

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Aqui o jovem A atribui importância ao lazer, por propiciar um tempo de

descontração, liberdade das cobranças diárias. Os jovens B, C, D e F veem nas

práticas de lazer uma possibilidade de aprendizado, as quais afastariam os jovens

de caminhos, considerados errôneos, por levar às drogas, à criminalidade. Isso pode

ser visto como reprodução dos discursos políticos para o incentivo as realização de

projeto e programas de esporte e lazer nas cidades, atribuindo à essas práticas

valores tão mínimos, visa simplesmente a ocupação do tempo dos jovens. Um

detalhe importante está na fala do jovem C em que a importância está implicada ao

tempo que ele tem disponível para tal prática. A jovem E de fato considera

importante, mas por inexperiência da pesquisadora, essa importância poderia ser

captada por outras perguntas, na tentativa de colher o porque as práticas de esporte

e lazer são importantes para os jovens. Em suma os jovens atribuem importância a

essas práticas pelo viés educativo que o lazer e o esporte possibilitam.

Na perspectiva educativa do lazer Mascarenhas (2004. p. 34) o configura

como “uma possibilidade de construção de sujeitos co-participantes do processo

educativo e que se transforma na medida em que modificam também suas próprias

circunstancia de vida“.

QUADRO V – NOÇÃO DO ESPORTE E LAZER COMO DIREITO SOCIAL

Sujeitos O esporte e o lazer é um direito social?

Jovem A Sem dúvida, eu acho que até constitucional, né?! Constitucional. E aí... Se bem que a constituição não é muito seguida nesse Brasil, mas a gente pode dizer que sim, é um direito social.

Jovem B Exatamente. É um direito de qualquer um, cara. Porque, cada um tem o seu livre arbítrio, então faz o que quer, se gosta, ingresse nisso.

Jovem C Acho que sim. Acho que... Não, não é, mas acho que deveria ser. Porque o esporte ajuda muito na vida da pessoa. Uma pessoa, assim, atleta tal, tanto o físico como na mente e você vê muitos casos na televisão mesmo, que a pessoa conseguiu muitas coisas, através do esporte, do seu esforço também, tal.

Jovem D Com certeza.

Jovem E Com certeza

Jovem F Com certeza

Esse quadro traz a perspectiva da noção do direito social, cinco dos jovens

consideram o esporte e lazer como direito. O jovem A afirma que é constitucional,

mas devido o histórico brasileiro sobre a garantia de efetividade dos direitos, relata

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44

que nem sempre o que está na Constituição significa que seja comprido. O jovem C

afirma e depois nega que o esporte e lazer seja um direito, isso pode ser o retrato

das políticas públicas de esporte e lazer quase inexistente na cidade. Digo quase,

por haver de fato pelo menos um projeto na cidade, mas o mesmo não abrange toda

a população juvenil, tanto na faixa etária quanto na quantidade que é limitada, sendo

este o Projeto Segundo Tempo. O mesmo jovem diz que o esporte se configura

como um instrumento que possibilita uma melhora da condição de vida, e por isso

deveria ser considerado como direito. Entende-o como um fator de transformação

social, mas não amplia para o sentido de formação humana, uma vez que o esporte

e lazer contribuem para aprendizagens diversas no interior das relações sociais

proveniente de tais práticas. Castellani Filho diz que a população precisa ver

garantido seu direito ao esporte e ao lazer de forma gratuita, direito esse capaz de

mobilizar interesses, incentivar a participação, construir valores como a cooperação,

a solidariedade, o respeito às diferenças, propiciar situações em que os sujeitos

superem desafios e promovam conquistas coletivas. Mascarenhas (2004) defende a

idéia do lazer como uma prática de liberdade e exercício de cidadania, o qual deixa

de ser monopolizado por aqueles que concentram o poder, estendendo-o para toda

a sociedade.

QUADRO VI – PERCEPÇÃO DA GARANTIA DO DIREITO NA CIDADE

Sujeitos Aqui na cidade esse direito é garantido?

Jovem A Eu acho que parcialmente, viu?! No caso do skate, a gente conseguiu essa pista apropriada para praticar o esporte, mas tem outro esporte que não tem o devido reconhecimento, então se for generalizar esporte, eu acho que não, ou melhor, parcialmente.

Jovem B Rapaz, isso é uma questão que, aqui ainda não tem investimento suficiente. Tipo, que faça o atleta evoluir mesmo, investir no atleta, investir nos jovens. A galera não investe suficiente para um atleta expandir, tipo um patrocínio, uma ajuda de custo pra viagem, disputa de campeonatos, tudo mais. E aqui não rola, assim malmente fizeram uma pista de skate mesmo. Já é uma coisa, mas que deveria ter mais investimento.

Jovem C Eu acho que não. Aqui falta muito ainda.

Jovem D Eu acho que ainda falta investir mais, tá muito fraco. Tipo assim para os jovens.

Jovem E Tem esporte e lazer aqui? Não, não tem não.

Jovem F Nunca. Nuca foi, nem nessa gestão, nem nas gestões anteriores. Só que isso cabe muito aos jovens lutar pelos sues direitos.

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Porque nem eles mesmos ligam pra isso. É um direito deles, mas eles não fazem questão de ir lá e brigar pra que seja garantido.

Ao se fazer a pergunta: Como eles percebem o esporte e lazer na cidade? E

se eles são garantidos pelo poder público? Eles simplesmente confirmam a

inexistência de projetos permanentes e que garantam esse direito. Pode-se notar

que eles têm uma carência por essas práticas corporais e que as ações públicas não

contemplam as necessidades e aspirações da população. As ações se tornam

episódicas e desarticuladas, isso por conceber o esporte e o lazer como políticas

assistencialistas, como elementos compensatórios das mazelas sociais,

principalmente para as populações mais carentes. O jovem A quando diz

parcialmente, ele retrata uma cultura esportista brasileira, não diferente de

Alagoinhas, que enfoca muito o futebol, por conseqüência, os demais esportes e o

incentivo ao lazer são desprivilegiados ou até mesmo esquecidos, como ele mesmo

cita a pista de skate, que foi construída depois de muito insistirem na secretaria. Em

geral, eles percebem que faltam investimentos neste setor administrativo da cidade.

Em tese os jovens permanecem imparciais diante da situação local, no que

diz respeito a garantia de tais direitos. Um ponto muito importante está na fala da

jovem F, onde diz que o direito a o esporte e lazer não foi e ainda não é garantido e

ressalta do papel dos jovens enquanto sujeitos ativos e que devem se organizar e

lutar para que seja garantido.

Nesse sentido resgatar a noção de direito implica numa política democrática

que supere a visão reducionista do esporte e lazer como práticas sociais, como

sugere Mascarenhas (2007) que coloca como desafio para o governo, reafirmar a

responsabilidade do Estado quanto à efetivação do direito ao esporte e lazer e

desenvolver políticas de caráter transdisciplinar e intersetorial ultrapassando os

limites do esporte, que em geral é visto pelo enfoque da formação de atletas ou até

mesmo de recreação.

QUADRO VII – POSSIBILIDADES DA AÇÃO PÚBLICA PARA GARANTIR ESSE

DIREITO

Sujeitos Como o poder público poderia garantir esse direito?

Jovem A Eu acho que junto a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer deveria ter uma espécie de ouvidoria, para que os, as pessoas que praticam o esporte, não muito comuns, como o futebol ou o vôlei,

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tal, sejam ouvidos, né?! Ter esse espaço. Tem que criar esse canal para saber o que a sociedade quer né?! No que se relaciona com o esporte, pra depois eles criarem políticas públicas, conseguirem verbas juntos ao ministério do esporte mesmo, construir né?! Proporcionar esse espaço para pessoas que praticam outro tipo de esporte.

Jovem B Eles deveriam investir mesmo, investir mais na cultura, esporte e lazer, música. Se tivesse investimento financeiro mesmo, várias pessoas aqui iam se expandir, iam evoluir e isso traria renda para cidade também, que várias pessoas iam gostar desse tipo de coisa e tudo mais. Investimento mesmo.

Jovem C Rapaz, eu acho que através de ajuda financeira mesmo. Porque aqui na cidade só tem mesmo, o que de esporte? A única coisa que tem aqui é o “Carneirão”, o atlético de alagoinhas e que agora fez uma parceria com a catuense. Aqui não tem, como por exemplo, uma academia de Karatê, Capoeira. É mais para pessoas financeiramente bem. Porque não é todo mundo que tem dinheiro pra ir para uma academia. Eu acho que, com mais ajuda financeira da prefeitura, abrir, procurara um espaço assim, aí como certeza, ía tirar muitas crianças da rua, que não faz nada o dia todo, fica subindo e descendo.

Jovem D Deixa eu ver... Uma forma... Eu acho assim, montando quadras de esportes, os colégios investindo em clubes, dentro deles mesmos, com piscinas, para os finais de semana. Assim os colégios fechados aos finais de semana, mas aos finais de semana seriam abertos, pra eles, os estudantes, pessoas que já estudaram no colégio e outras pessoas do bairro que gostariam de freqüentar, seria ideal assim, uma coisa muito boa.

Jovem E Você quis dizer os mandantes de Alagoinhas né?! Que eles poderiam fazer mais para gente né, pela população. Porque não faz nada. Falta bastante coisa, tipo... lazer, esporte que não tem. Onde tem esporte aqui? Não tem. Falta um “bucado” de coisa. Se tivesse alguma coisa aqui, eu faria esporte, faria futebol.

Jovem F Promovendo, digamos que gincanas culturais, que formassem grupos, por exemplo, grupos, deixa eu citar um aqui, como alguns partidos tem, grupos de jovens. Organizassem pra, por exemplo, juntasse grupos nos bairros e arrecadassem alimentos, brinquedos para doar pra alguma instituição, e em compensação a gente teriam um show na praça, de graça pra gente se divertir no final de semana, pra não ficar em casa, ou ficar conversando todos os finais de semana. Porque ninguém tem assunto pra todos os finais de semana. Aquela mesma coisa. Então, acho que uma coisa puxa a outra, a gente ajuda pra eles nos ajudarem.

Aqui eles situam como os gestores públicos poderiam agir para que esse

direito ao esporte lazer fosse garantido. O jovem A enfoca no diálogo dos gestores

com a população como meio de atender e perceber as necessidades dos mesmos.

Onde, de fato, se constituiria numa política participativa. Zingoni (2003) fala que a

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participação “surge como consolidação da cidadania, da emancipação e

democracia” superando a prática assistencialista da relação Estado - sociedade civil.

Os jovens B e C apontam que deveria ter mais investimentos nas diversas

práticas corporais de esporte e lazer, e que de alguma forma esses investimentos

teriam retorno para a cidade, com a participação em campeonatos e conquista de

premiação, por exemplo. Algo interessante é quando o jovem C fala que certas

práticas corporais esportivas não são disponíveis para todos, mas àqueles que

dispõem de renda favorável para o seu uso, como as academias de karatê, jiu-jitsu,

capoeira. E que os gestores poderiam construir espaços e implementar oficinas, o

que tiraria muitas crianças das ruas. Mais uma vez pode-se ver a reprodução de

uma política que utiliza o esporte e o lazer como subsídio de outras necessidades

sociais.

A jovem D propõe uma ação coletiva com outras instituições, como a escola

que funcionaria nos finais de semana com outras finalidades para além das

educacionais, onde a comunidade local se encontraria e compartilharia as

experiências. Na fala da jovem E pode-se sentir a necessidade que ela tem de

projetos e programas públicos que fomente o esporte e lazer na cidade. A jovem F

sugere que os gestores promovam ações culturais em que os jovens de forma

coletiva participem de atividades em que instituições sociais seriam beneficiadas

com alimentação e agasalhos, e o retorno para os jovens estaria na realização de

eventos culturais nas praças e de graça. Mas isso não pode ser visto ou realizado

como uma ação de troca de favores, trata-se de uma ação que articule e mobilize

jovens para usufruir de seu direito ao esporte e lazer.

Dentro de uma perspectiva de superação das permanentes políticas públicas

voltadas para o esporte e o lazer, Leiro (2001) propõe cinco diretrizes que

contemplam um novo modo de ver esses fazeres culturais como direito, estratégias

para uma administração pública de qualidade social. Primeiramente deve-se regatar

a cidadania, garantindo a população uma efetiva participação na formulação de

políticas públicas que assegurem os direitos sociais, ao lado disso construir uma

cultura de qualidade no sentido de promover a satisfação de cidadão, o que implica

a construção de quadros específicos com profissionais especializados, que atuem

nos espaços e equipamentos dispostos na cidade, por meio de atividades sócio-

educativas considerando os distintos interesses culturais presentes no cotidiano

desses espaços públicos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta produção acadêmica teve como objeto de estudo as representações

sociais que os jovens tem sobre seu direito ao esporte e ao lazer na cidade de

Alagoinhas. Depois dos estudos sobre esporte e lazer, representação social e

juventude e dos dados levantados e discutidos ficou evidente que os jovens

representam o esporte e o lazer como direito social, contudo, apresentam uma idéia

difusa, atribuindo a esse direito quase como uma concessão do poder público.

A ampliação dessa noção de direito social só será consciente quando

desenvolver uma nova postura da administração pública local concebendo o lazer e

o esporte como um direito e não como uma simples prática realizada ou promovida

para ocupar o tempo livre dos jovens ou como atividades compensatórias de outras

mazelas sociais. E a partir disso propor políticas públicas que garantam tal direito

através de ações descentralizadas, garantindo e efetivando o planejamento, a

execução e a avaliação dos programas.

Cabe ao poder público reorientar seu planejamento estratégico de modo a ser

capaz de entender concretamente a importância do esporte e lazer como direito

social e como fenômenos culturais intergeracional. Suprindo as necessidades e

carências dos jovens por práticas que lhes sejam atribuídos sentidos e significados,

onde as relações sociais estabelecidas possibilitam novos aprendizados, e

compartilhamento de experiências.

Diante dessa síntese, algo que não foi contemplado nessa pesquisa, é como

essa representação social é construída, quais os processo implicados nessa

construção, e a partir de que os jovens estabelecem essas representações? Esses

questionamentos se revelam numa temática para futuras pesquisas, a fim de ampliar

os estudos e pesquisa sobre esse tema e qualificar a discussão entre a

universidade, comunidade e o poder público local, com vista a assegurar o direito

constitucional das juventudes às diversas manifestações do esporte e do lazer

citadino.

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49

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ORLANDI, Eni P. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas: Pontes, 2007. RECHIA, S. O pulsar da vida urbana: espaço, o lugar e os detalhes do cotidiano. In: CARVALHO, J. E. (org). Lazer no espaço urbano: transversalidade e novas tecnologias. Curitiba. Champagnat, 2006. RUDIO, F. V. Introdução ao Projeto de Pesquisa. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. PAIS, J. M. Culturas juvenis. 2. ed. Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2003. UNESCO. Políticas públicas de/para/com as juventudes. Brasília, 2004. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001359/135923POR.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2009. ZINGONI, P. Descentralização e participação em gestões municipais de esporte e lazer. In: WERNECK, C. L. G.; ISAYAMA, H. F. (org). Lazer, recreação e educação física. Belo Horizonte. Autêntica, 2003.

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APÊNDICES

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Roteiro de entrevista com o diretor de esporte e lazer da cidade de Alagoinhas/ BA

1. Há quanto tempo o senhor está na administração da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer?

2. E nesse tempo, como se encontra o quadro do esporte e do lazer na cidade? - De quantos programas e projetos a secretaria dispõe? - Quantos estão, efetivamente, sendo realizado?

3. O que é lazer e esporte para o senhor? - qual a importância que o senhor atribui a essas práticas para a sociedade e em especial para os jovens?

4. Para o senhor esporte e lazer são um direito social? - De que forma esse direito é garantido à população de Alagoinhas? - Quais as ações do Poder Público para garanti-los?

5. Como é o processo de formulação e construção das políticas públicas de esporte e lazer aqui na cidade? - Nesse processo de construção a população participa, ela é ouvida? 6. Como é esse diálogo com a população? - Com que intuito esse diálogo acontece? 7. O senhor poderia falar um pouco sobre os espaços públicos destinados às

práticas de esporte e lazer da cidade de Alagoinhas? - E sobre suas estruturas e o estado de conservação. 8. O senhor encontra dificuldades para implementar projetos no âmbito de

esporte e lazer na cidade?

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Roteiro de entrevistas com os jovens da cidade de Alagoinhas

1. Sua idade e bairro onde mora?

2. Você freqüenta muito esse espaço? O que traz você aqui?

3. O que lazer para você? - Você acha que o lazer e o esporte são importantes para a sociedade, em especial, para os jovens? 4. Para você o esporte e o lazer é um direito social?

5. Aqui na cidade de Alagoinhas esses direitos são garantidos à população por meio das ações dos gestores públicos?

6. De que forma os gestores públicos da cidade poderiam agir, de forma mais efetiva, para garantir esse direito social à população de Alagoinhas?