não sei ser triste a valer

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ESA – Curso Tecnológico de Não sei ser triste a valer Nem ser alegre deveras. Acreditem: não sei ser. Serão as almas sinceras Assim também, sem saber? Ah, ante a ficção da alma E a mentira da emoção, Com que prazer me dá calma Ver uma flor sem razão Florir sem ter coração! Mas enfim não há diferença. Se a flor flore sem querer, Sem querer a gente pensa. O que nela é florescer Em nós é ter consciência. Depois, a nós como a ela, Quando o Fado a faz passar, Surgem as patas dos deuses E a ambos nos vêm calcar. ‘Sta bem, enquanto não vêm Vamos florir ou pensar. É na 1ª quadra que o sujeito poético reflecte sobre a sinceridade das pessoas, para ele estas vêem o “ser sincero” como “ser verdadeiro”, mas ele vê a sinceridade de um ponto de vista intelectual, ou seja, a sinceridade não é entendida em termos de verdade ou mentira, mas sim como a capacidade de usar a inteligência que transforma as sensações em ideias. Fernando Pessoa escreve sobre a flor, pois esta é desprovida de razão, contrariamente ao Homem, por outro lado, eles são semelhantes, no aspecto em que, tal como a “flor flore” naturalmente, também o Homem pensa, sendo este acto natural. a razão pela qual o poeta não consegue 1ª Estrofe: Nos três primeiros versos o sujeito poético refere- se a si próprio como não sabendo ser triste, nem alegre nem ser. Nos outros dois versos já se interroga sobre a hipótese de as outras pessoas partilharem do mesmo problema que ele. 2ª Estrofe: A mudança entre os tons interrogativo (1ª estrofe) e exclamativo (2ª estrofe), que passa depois para um tom declarativo é de simples análise. É claro que Pessoa tenta nas duas primeiras estrofes estabelecer a sua comparação - a linha condutora, pelas evidências e semelhantes entre pensar e florir. Por isso ele primeiro interroga e depois afirma para si mesmo a realidade. 3ª Estrofe: O sujeito poético estabelece um paralelo entre as flores e as pessoas pois florem e pensam sem querer respectivamente pois faz parte dos seus ciclos de vida. 4ª Estrofe:

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Page 1: Não sei ser triste a valer

ESA – Curso Tecnológico de Desporto – 12º Ano

Não sei ser triste a valer

Nem ser alegre deveras.

Acreditem: não sei ser.

Serão as almas sinceras

Assim também, sem saber?

Ah, ante a ficção da alma

E a mentira da emoção,

Com que prazer me dá calma

Ver uma flor sem razão

Florir sem ter coração!

Mas enfim não há diferença.

Se a flor flore sem querer,

Sem querer a gente pensa.

O que nela é florescer

Em nós é ter consciência.

Depois, a nós como a ela,

Quando o Fado a faz passar,

Surgem as patas dos deuses

E a ambos nos vêm calcar.

‘Sta bem, enquanto não vêm

Vamos florir ou pensar.

É na 1ª quadra que o sujeito poético reflecte sobre a sinceridade das pessoas, para ele estas vêem o “ser sincero” como “ser verdadeiro”, mas ele vê a sinceridade de um ponto de vista intelectual, ou seja, a sinceridade não é entendida em termos de verdade ou mentira, mas sim como a capacidade de usar a inteligência que transforma as sensações em ideias.Fernando Pessoa escreve sobre a flor, pois esta é desprovida de razão, contrariamente ao Homem, por outro lado, eles são semelhantes, no aspecto em que, tal como a “flor flore” naturalmente, também o Homem pensa, sendo este acto natural. a razão pela qual o poeta não consegue “ser triste a valer / Nem alegre deveras” é porque não consegue libertar-se da dor de pensar e viver apenas ao nível do sentir, como acontece com a flor. Ele vê na flor aquilo que deseja ser, pois esta é desprovida de razão.É também visível no poema a ideia da força esmagadora da morte e do Destino que se abatem sobre o poeta e a flor. Fernando Pessoa apercebe-se que a morte é uma coisa certa, pois nascemos logo morremos, enquanto esta não vem, e ele não consegue deixar de pensar termina o poema dizendo “Vamos florir ou pensar”sendo este um verso que se aplica à vida, pois muitas vezes deparamo-nos com situações às coisas não podemos fugir, só nos resta aceita-las.

1ª Estrofe:

Nos três primeiros versos o sujeito poético refere-se a si próprio como não sabendo ser triste, nem alegre nem ser.

Nos outros dois versos já se interroga sobre a hipótese de as outras pessoas partilharem do mesmo problema que ele.

2ª Estrofe:

A mudança entre os tons interrogativo (1ª estrofe) e exclamativo (2ª estrofe), que passa depois para um tom declarativo é de simples análise. É claro que Pessoa tenta nas duas primeiras estrofes estabelecer a sua comparação - a linha condutora, pelas evidências e semelhantes entre pensar e florir. Por isso ele primeiro interroga e depois afirma para si mesmo a realidade.

3ª Estrofe:

O sujeito poético estabelece um paralelo entre as flores e as pessoas pois florem e pensam sem querer respectivamente pois faz parte dos seus ciclos de vida.

4ª Estrofe:

Ciclo da vida tanto das flores como das pessoas. As flores nascem, florescem e morrem e as pessoas nascem, pensam e morrem.

É atribuída aos deuses e ao Fado (destino) a responsabilidade pela morte das flores e das pessoas.

5ª Estrofe:

Já que o ciclo de vida é inalterável compete-nos aproveitar a nossa vida.