na cuia #5

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A VOZ DELAS MULHERES DO CENÁRIO CULTURAL DE BELÉM DISCUTEM SEUS TRABALHOS E A SUA RELAÇÃO COM A ARTE DRIKA CHAGAS E O MUNDO DO GRAFITE ”A MELHOR CHEF MULHERA FICÇÃO DE ROBERTA SPINDLER VACAS PROFANAS: O MOVIMENTO E A ARTE Edição 5

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Revista Cultural

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Page 1: Na Cuia #5

A VOZ DELASMULHERES DO CENÁRIO CULTURAL DE BELÉM

DISCUTEM SEUS TRABALHOS E A SUA RELAÇÃO

COM A ARTE

DRIKA

CHAGAS E O

MUNDO DO GRAFITE

”A MELHOR

CHEF MULHER”

A FICÇÃO DE

ROBERTA

SPINDLER

VACAS

PROFANAS:

O MOVIMENTO E

A ARTE

Edição 5

Page 2: Na Cuia #5

EditorialA equipe da Na Cuia é

composta por feministas e integrantes pró-

feminismo. Acreditamos na igualdade de salários e funções – tanto domésticas quanto profissionais -, na mulher como única detentora de posse do próprio corpo, na inserção política e social das mulheres em espaços de visibilidade. Também pensamos que as pautas das outras minorias que transpassam o movimento devem ser discutidas. A gente acredita em um monte de coisa que não temos espaço para listar. O fato é que, de certa forma, não estávamos contribuindo para essa igualdade. Nas últimas quatro edições da Na Cuia, entrevistamos 34 homens e 17 mulheres. É uma disparidade que precisa ser corrigida. A inspiração dessa edição veio do projeto “Entreviste uma mulher”, do site Think Olga, que estimula jornalistas a

produzirem matérias cujas fontes e personagens sejam mulheres. Muito do que é produzido artisticamente não é reconhecido, não pela falta de qualidade, mas pela falta de visibilidade. A segregação das mulheres em espaços relacionados à cultura acontece de diversas maneiras. Essa edição é um termo de compromisso com as artistas: estamos de olho no talento de vocês e vamos ajudar a divulgá-lo.

Juliana Araujo - Editora-chefe

ExpedienteNA CUIA REVISTA CULTURALPara contatar qualquer departamento da revista:[email protected]@revistanacuia/nacuia REDAÇÃOBianca Brandão, Caio Jesus, Juliana Araujo, Louise Lessa, Luciana Vasconcelos, Madylene Barata, Matheus Botelho, Stéfanie Olivier, Vitória Mendes

CHEFE DE REDAÇÃOMatheus Botelho DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃOCoordenação de Mídias Sociais: Ana Luiza RochaPlanejamento de Comunicação: Mariana Guimarães

DEPARTAMENTO DE ARTE & DESIGNDiretora de Arte e Diagramação: Lorena EmanueleArte: Luana Lisboa

DEPARTAMENTO DE FOTOGRAFIADiretora de Fotografia: Bianca BrandãoFotógrafas: Louise Lessa e Madylene Barata

REVISÃO E FINALIZAÇÃOVitória MendesMadylene Barata

EDITORA-CHEFEJuliana Araujo

Page 3: Na Cuia #5

Edição 5

4 - Tamo Juntas no Pasto

por Bianca Brandao e Madylene Barata

12 - Lugar de mulher é na cozinha (se ela qui-

ser) por Juliana Araujo

18 - A escritora debai-xo da ficçao por Mariana

Guimaraes

26- Drika Chagas por Matheus Botelho

36 - Feira do Livro Pa-raense por Bianca Brandao

38 - Feira Internacional do Livro de Buenos Ai-

respor Stefanie Olivier

42 - Agenda Culural por Bianca Brandao~

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Foto: Madylene Barata

Errinhos da #4- A primeira foto da matéria Amor analógico saiu com a legenda errada. O correto é “Workshop de Estúdio Fotográfico 35mm com Faustino Castro” em vez de ““Compartilhando Experiências” com Bob Menezes e Mário Guerrero.”- Também na matéria Amor analógico, escrevemos “empliação” em vez de “ampliação” no parágrafo sobre a mesa de abertura da Semana.

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Roda de conversa sobre “feminismos” no Solar das Artes. Foto: Madylene Barata.

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Tamo juntas no pasto

Conheça o Vacas Profanas, um grupo de expressão cultural feminista que celebra a liberdade feminina através da arte.

A Na Cuia é uma revista cultural e sabemos

que não existe uma só “cultura paraense”, o que existe é um conjunto de costumes, gostos e identidades que se complementam de maneiras diferentes na individualidade de cada paraense. Assim é

também o feminismo. A palavra “feminismo” é utilizada para designar a luta feminina contra o machismo e o patriarcalismo presentes nas sociedades e pela emancipação da mulher. Mas não existe apenas um feminismo. Ele é múltiplo, diverso e possui várias vertentes.

Por Bianca Brandão e Madylene Barata

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O feminismo negro, por exemplo, agrega valores anti-racismo pois a discriminação e opressão sofridas pelas mu-lheres negras assume aspectos diferentes das sofridas pelas mulheres brancas. E assim por diante vão o feminismo das transsexuais, o das lésbicas, o das mulheres com pensamen-tos mais radicais, mais liberais, entre tantos outros. É desse modo que o feminismo geral se constrói, agregando diversas lutas dos mais variados tipos de mulhe-res, respeitando suas diferenças e apoiando as causas de cada mulher com base no respeito mútuo, empatia e sororida-de*. O feminismo é a busca da libertação feminina, da não obrigação de seguir regras im-postas socialmente, mas tam-bém da opção de agir como se quer. O feminismo é não sen-tir-se coagida a casar, ter filhos

*Sororidade: é a união entre as mulheres, o ato de reconhecer-se como irmãs. Faz parte das bases éticas do feminismo.

1 - Cortejo do Flor de Mururé na Praça do Carmo. Foto: Madylene Barata2 - Zine 2 do Vacas Profanas3 - Confecção da vaca-bumbá por integrantes do grupo. Foto Madylene Barata.

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e viver como dona de casa, mas é também ter o direito de esco-lher ser mãe ou esposa sem ser julgada por isso. Não é quei-mar sutiãs ou deixar crescer os pelos do corpo, é sentir-se do-tada de autonomia para exercer ou não militância e para ter a aparência que desejar. É ter os mesmos direitos que toda e qualquer pessoa e salários condizentes com a função que se desempenha. É não sentir medo de sair sozinha pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite. É sentir-se respeitada, reconhecida e em pé de igual-dade com as outras pessoas. É ter autonomia sobre o próprio corpo. É fazer suas próprias es-colhas sem cobranças sociais. É viver longe de rótulos e estere-ótipos. Feminismo é liberdade.

Pela libertação da vaca Para muitos, o machis-mo já não existe na sociedade atual. No entanto, quem tem de conviver com esses obstácu-los diariamente sabe que a ver-dade não é bem essa. O ano era 2013 e segmentos da sociedade brasileira ligados à religião or-ganizavam marchas contra o aborto e o direito das mulheres

sobre seus corpos. Em Belém, foi realizada a “Marcha Para-ense em Cidadania pela Vida – Por um Brasil sem aborto” e um grupo de garotas deci-diu opor-se a essa opressão re-alizando a “Marcha das Vacas Profanas pelo Útero Laico” si-multaneamente. Nascia assim o Vacas Profanas, grupo que, atráves das diversas artes – dança, mú-sica, poesia, teatro -, luta contra a dominação patriarcal ainda existente em nossa sociedade e busca promover a liberdade fe-minina e a sororidade entre as mulheres, bases do pensamento feminista. Pelo direito de ser mulher como se quer. Mais tarde, em 2014, surgiu a ideia do cortejo juni-no e da confecção de uma vacá-bumbá em contrapartida aos cordões de boi-bumbá, geral-mente protagonizados por ho-mens. A iniciativa, todavia, não acaba no Cordão Flor de Muru-ré - nome dado ao cortejo. Há também um lado político de discussão do papel feminino nas manifestações culturais. A própria ideia da vaca em opo-sição ao boi já faz parte da desconstrução simbólica dos

elementos que caracterizam o patriarcalismo dentro da socie-dade. Na metáfora do pasto, o boi é tido como o reprodutor e supervalorizado, enquanto a vaca, sendo quem dá o leite e alimenta, é posta de lado. Essa relação de desvalorização da fêmea é análoga à questão da desigualdade entre os gêneros nas sociedades humanas. E é essa desigualdade que o Vacas Profanas questiona.

Expansões Expandir-se é direito! O cotidiano nos limita e sufo-ca. Libertar-se através da arte é vislumbrar-se, reconhecer-se no mundo e reconhecer o mun-do em si. É fazer parte dele e agir sobre ele. As vacas profa-nas querem exercer esse direito de libertação, sem hierarquias e opressões. Daí o próprio coleti-vo acreditar que juntas, sem de-limitações, podem somar mui-to mais e que construir “algo mais livre, sem o militarismo” pode favorecer a compreensão mútua de e sobre todas nós, mulheres. A relação com a música veio quando o coletivo, que já existia e tinha o mesmo nome,

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percebeu que o boi, símbolo da força masculina, dominava festivais juninos. “E onde está a vaca? (pensaram as vacas), foi ai que, há quase um ano atrás, as vacas fizeram um cortejo, guiando várias mulheres e pro-fanando palavras de coragem sobre seus corpos e mentes. “Ver mulheres batucan-do já é uma resistência”, dis-se Inaê Nascimento. Algumas músicas são feitas pelas vacas e outras podem apresentar mo-dificações em algumas estro-fes. Tudo vai acontecendo de forma espontânea, e nesse ca-minho elas já têm músicas de resistência no ritmo de funk, brega, carimbó e outros. Ocu-par as ruas e outros espaços, batucando e entoando algumas (quase) orações sobre a força da mulher, assusta e/ou encanta quem vê passar, e ai se cria o espasmo e a notoriedade sobre o lugar que as mulheres adam e devem estar ocupando. Inaê Nascimento conta que elas não querem debater,

discutir e compartilhar apenas entre elas aquele conhecimen-to: “a gente quer transcender e essa transcendência vem através da nossa subjetividade, através da arte”. As vacas criaram, as-sim, o fanzine, uma expressão artística do coletivo, resultado dos encontros e trocas de sa-beres. É uma forma de mate-rializar pensamentos, críticas e dores em forma de poesia, tornando-a acessível as outras mulheres. As vacas também fazem cineclube, ocupam e resistem junto com artistas o Solar da Beira e dialogam com erveiras do vêr-o-pêso. Buscam essa es-sência do saber natural e tradi-cional, passado entre gerações de mulheres. O objetivo não é criar algo novo, é, principal-mente, resgatar saberes anti-gos, apagados pela virilidade masculina: “parece que houve um grande genocídio com os saberes femininos, a gente vive num mundo só com o olhar do homem” (Luana Weyl). “A arte é um dos grandes comunicadores; quando a gale-ra vê que tem arte a galera vai resistindo e re-existindo” (Ma-rina Trindade). A busca então é fazer com que a mulher enxer-

gue para dentro dela mesmo e para o conhecimento que vem das outras. Por isso, assuntos como aborto, violência contra a mulher, ginecologia autôno-ma, autodefesa são sempre co-locados em rodas de conversas, que se intercalam com as sub-jetividades das vacas, resultan-do em música, poemas e muita energia, ajudando cada uma a mergulhar, espontaneamente, no universo complexo dos fe-minismos.

Ser mãe, vaca, santa e puta Cada uma tem uma re-lação com as vacas, cada uma percebe uma mudança em si depois de compartilhar suas inquietações com as outras, cada uma relata o sentimento de estar em união para desmis-tificar a fraqueza da mulher inventada e mantida pela socie-dade machista. Com pontos de vistas diferentes e, ao mesmo tempo convergentes, as vacas acreditam na proposta de expe-rimentar e se libertar por meio da arte e, assim, concentram uma energia, que faz com que todas se sintam fortalecidas e ouvidas depois dos encontros. “A relação das vacas é a força e a energia feminina na

4- Final do cortejo, em que os participantes, simbolicamente, queimam atitudes opressoras. Foto: Divulgação5 - Zine 1 do Vacas Profanas

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rua ou onde puder ocupar”, disse Erika Boni. Desde que começou, Inaê Nascimento diz que consegue enxergar melhor as questões de gênero e que a energia do grupo lhe possibi-lita intervir nos problemas co-tidianos com muito mais sere-nidade e força: “Eu comecei a enxergar coisas que eu não via como machismo. A gente co-meça a ampliar o foco ou con-segue enxergar as sutilezas. E não só enxerga isso, mas perce-be que a gente não está só, que tem outras mulheres do nosso lado e que essa união fortalece a gente”.“Algumas meninas que fun-daram o coletivo, as vezes não podem participar, mas a gen-te sente a energia delas”, disse Marina Trindade, que se iden-tificou com o coletivo quando percebeu que seria algo livre e mantido por mulheres, que ti-nham mais a inteção de com-partilhar saberes do que pro-por relações de subordinação: “não é um grupo fechado, é um grupo de passagem, de tran-sição e de emponderamento, completa. É um espaço espon-tâneo, sem hierarquias e regras. O coletivo apresenta tanto um fluxo de pessoas, quanto um

fluxo de ideias que, no final, caminha para o mesmo fim: desconstruir todas as formas de opressão.

Vacas, profanem-se! O editorial do segundo zine das Vacas começa com a seguinte frase: “Todos os dias nos dizem que nossa luta há muito não faz sentido, que o mundo é outro e o machismo foi superado.” E é claro, a luta pela igualdade de diretos entre homens e mulheres avançou de modo extremamente significa-tivo nas últimas décadas e nós, mulheres do século XXI, deve-mos enorme gratidão àquelas que vieram antes de nós, que lutaram e sofreram pela causa que outrora foi delas e hoje é nossa. Entretanto, a luta não acabou. O machismo ainda se faz presente em nosso dia-a-dia e assumimos o dever de nos opormos a ele sempre. O fe-minismo é libertador e aceita a diversidade. Assim é também o Vacas Profanas. Qualquer mu-lher pode ser uma vaca: jovem, velha, negra, branca, indígena. O grupo é aberto e aceita toda e qualquer pessoa disposta a somar-se a essa luta tão neces-sária.

6 - Integrantes do grupo tocam instrumentos e entoam canções. Foto: Bianca Brandão.7 - As vacas participam do Solar das Artes, ocupação do Solar da Beira. Foto: Madylene Barata.

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Mais, mais, mais...Grupo de Discussãohttps://www.facebook.com/groups/742404765773186/Facebookhttps://www.facebook.com/vakasprofanasBloghttp://vacasprofanas.noblogs.org/Zine #1http://issuu.com/rapsodiaboemia/docs/vacas_zineZine #2http://issuu.com/luahsampaio/docs/zine_das_vacas_paginas_separadas.doSoundcloudhttps://soundcloud.com/vacasprofanas/

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Sônia mostrando a preparação de um calzone passo-a-passo. Foto: Juliana Araujo

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Lugar de mulher é na

cozinhase ela quiser

Listas com nomes como “A Melhor Chef Mulher do Mundo” precisam parar de acontecer.

A última lista de “Melhor Chef Mu-lher” do Maison

Veuve Clicquot, que elege uma mulher com desta-que na gastronomia, saiu no início de maio. O fato de essa lista ser necessária - pois nas de “chefs” é difí-cil entrar qualquer mulher - é curioso, justamente por

estarmos acostumados com a expressão “lugar de mulher é na cozinha”. Por que a visibilidade dessas profissionais continua a ser negada na alta gastro-nomia? E o que a glamou-rização da profissão tem a ver com poder e desigual-dade de gênero?

Por Juliana Araujo

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plica Carlos Alberto Dória, no artigo “Flexionando o gênero: a subsunção do feminino no discurso moderno sobre o tra-balho culinário”. A culinarista Sônia San-tos, professora do SENAC, co-meçou a amar a cozinha muito cedo. “Eu tinha o olfato mui-to bom e gostava de estar lá, era o meu ambiente preferido da casa”, declara. “Até mesmo com brinquedos, quando eu ganhava panelas e fogões ficava muito feliz. Não era a mesma coisa de ganhar uma boneca, um bebê”. Sônia foi trabalhar cedo. Com 14 anos pegou o primeiro emprego em casa de família, para cuidar de crian-ças. Com culinária, ganhou um carrinho de um de seus patrões. Ela vendia doces, salgados, sanduíches e, depois de algum tempo, marmitas. A sua história de profis-sionalização começou no SE-NAC mesmo: “Eu vim fazer o exame do meu primeiro filho, passei aqui na frente e as inscri-ções do curso de cozinheiro es-tavam abertas. Eu fiz. Quando passei que eu fui ver que a men-salidade era 100 reais, e na épo-ca eu não tinha como pagar”. Sônia conseguiu um desconto, mas ia e voltava das aulas à pé. Hoje ministra módulos em to-dos os cursos de culinária do SENAC e faz parte do progra-ma ProChef, da CIA (Culinary Institute of America). Contu-do, a culinarista se recusa a se denominar chef. “Existe uma hierarquia dentro da cozinha. Tem aluno meu que sai daqui, compra uma dólmã [vestes que indicam alta patente na hierar-quia da cozinha] e inscreve chef Fulano. E não é assim, você tem que trabalhar”. Para entender a defici-ência de mulheres na alta gas-tronomia é preciso olhar para o outro lado: quando e como os homens entraram na cozi-nha? De acordo com Carlos Dória: “A condução ideológica da culinária ocidental se torna plenamente masculina quando se recrutam cozinheiros para as cortes ou quando começam a se propagar os restaurantes nas grandes cidades. Mas mesmo

antes disso, os principais livros de difusão da cultura culinária são de autoria masculina”. O que quer dizer que, seja traba-lhando fora de casa, seja crian-do conteúdo sobre o assunto, quem dominava a cozinha era o homem. No restaurante e pizza-ria Xícara da Silva, contudo, quem manda na cozinha é a Dona Norma. Norma Oliveira, antiga cozinheira da casa dos pais da proprietária do restau-rante, é uma senhora lacônica, que pareceu bem intimidada pela minha presença. Apre-sentei-me informalmente, ten-tei fazer com que prolongasse as respostas. Perguntei à dona Norma qual o prato que ela mais gostava de fazer e a cozi-nheira soltou uma gargalhada, “Todos!”. Essa resposta pode resumir seu trabalho: comida boa é aquela feita com amor. O Xícara precisa de uma gerência na cozinha em harmo-nia com a pizzaria, para que os pratos cheguem à mesa ao mes-mo tempo. Portanto, como o trabalho exige certo comando, dona Norma foi eleita como a chefe da cozinha. Rute Noguei-ra, a dona do estabelecimento, explica como funciona a rela-ção do restaurante com o título de chef: “Hoje tá muito cheio de glamour. E no Xícara nós começamos com cozinheiros. É uma casa sem chefs, é uma casa de cozinheiros da terra. Não veio ninguém de fora, não veio ninguém pra fazer o cardápio”. O cardápio é uma cons-trução coletiva da cozinha, como diz Rute. Os clientes su-gerem a inclusão de pratos, ou a equipe percebe a possibilidade de um novo acompanhamento, e são feitos diversos testes até o prato ser incluído no cardápio. É diferente de como Norma trabalhava na cozinha domés-tica:” Aqui é tudo na equipe, é todo mundo entrosado, um ajuda o outro. Pra mim, eu me senti até privilegiada. Eu nunca tinha trabalhado em restauran-te, então acho que é ótimo”.

Ambiente hostil Sônia conta que nenhum dos dois homens com quem

A sistematização da dita alta gastronomia, pensada por Auguste Escoffier (que fazia apologia clara à sua crença de que homens são melhores co-zinheiros) serviu para resignar as mulheres à cozinha da casa. “Escoffier estava ocupado em definir um ofício do qual não participariam as mulheres e, por isso, devia se ocupar do “lugar” da mulher na socieda-de, reforçando a ideia de que a ela estava reservada a família, não a indústria hoteleira”, ex-

1 - Pizzas produzidas pela turma de Pizzaiolo do SENAC. Foto: Jualiana Araujo.2- “Eu me preocupo com isso do glamour que começou a ter. As pessoas não se ligam na responsabilidade que tem você alimentar as pessoas”. Foto: Juliana Araujo.

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foi casada aceitou sua inserção no mercado profissional. “Eu trabalhava em buffet, chegava tarde em casa. Eles implica-vam, achavam que não estava trabalhando. Sofri até retalia-ção da família, não me convi-davam para as festas, diziam que eu só comia “comida boa”, e não tem nada a ver”, conta. Com as turmas do SENAC e o próprio buffet, a culinarista diz que precisou escolher: “ou eu trabalhava, ou tomava conta de homem”. Além de ser forma-da pelo SENAC, Sônia estuda nutrição e se preocupa demais com a manipulação dos ali-mentos. “Eu me preocupo com isso do glamour que começou a ter. Toda a novela agora tem um chef. Mas as pessoas não se ligam na responsabilidade que tem você alimentar as pessoas. As DTA’s [Doenças Transmiti-das por Alimentos] tão aí e a gente tem que ensinar os alu-nos a ter esse cuidado”, explica.

O prêmio do Veuve Cli-quot tem a intenção de premiar quem se destaca neste mercado ainda tão (surpreendentemen-te!) machista. A intenção não é ruim. A mulher que inspirou a categoria, Madame Clicquot Ponsardin, cuidou e fez prospe-rar a empresa de vinho e espu-mantes do marido quando ele faleceu. O que choca é que, ain-da hoje, listas como esta sejam necessárias para dar destaque ao trabalho de mulheres, por tão poucas aguentarem o “am-biente hostil das cozinhas”. Quando pergunto à Rute se ela gosta de cozinhar, a resposta é afirmativa, mas sem escapar do discurso da maio-ria das cozinhas de restauran-te. “É muito difícil pra mulher, não é? Cozinha é muito quen-te. Eu cozinho em casa, em um final de semana, mas todo dia é muito desgastante”, explica. Ela também diz que tem duas mulheres, além de Norma, na cozinha, que entram mais cedo

e saem mais cedo, “pra poupar elas mesmo. Mas a Norma, ela é incrível, o paladar é único”. Essa crença permeia o ofício. Dória também comenta sobre o fato, ao dizer que é mui-to difícil analisar a excelência das mulheres cozinheiras, por-que a própria figura do chef - o criativo, o que domina certas técnicas e estilos culinários - é masculina, o que desencadeou a rejeição inicial das mulheres pelo trabalho em restaurantes. “O contra-discurso opressor nesse domínio é também mui-to claro: trabalho de cozinha é coisa árdua, não é para mulhe-res”, diz o pesquisador. A inspiração para a per-sonagem Colette do desenho Ratatouille, Hélène Darroze, foi eleita a melhor chef esse ano. Então encerro esta repor-tagem com uma citação de sua versão animada: “Quantas mu-lheres tá vendo nesta cozinha? Sou a única! Por que será, hein? Porque gastronomia tem uma

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hierarquia antiquada de regras escritas por estúpidos e velhos, por homens! Regras criadas para impedir que as mulheres entrem neste mundo! Mas eu ainda tô aqui!”

1 - Norma Oliveira, a Dona Norma,

é chefe da cozinha do Xícara.

Foto: Juliana Araujo.

2 - Rute Nogueira, proprietária do

restaurante e pizzaria Xícara da

Silva. Foto: Juliana Araujo.

3 - Rute sobre o Xícara: “É uma

casa sem chefs, é uma casa

de cozinheiros da terra”. Foto:

Juliana Araujo.

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Roberta Spindler, autora de A Torre Acima do Véu. Foto: Roberta Spindler.

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A escritora debaixo da

ficçao

Roberta, que começou suas aventuras em mundos fantásticos desde cedo, diz que

é preciso uma maior união dos escritores para fortalecer o universo fantástico

nacional e regional, e é otimista em relação aos leitores jovens no Brasil

~

Por Mariana Guimarães

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Escritora, blogueira, vlogueira, podcaster e publici-tária, Roberta Spindler é apai-xonada por literatura desde criança. Quando perguntei que livro ela gostaria de ter escrito, respondeu Jurassic Park: “É um livro genial, já reli umas dez ve-zes”, sobre o exemplar que ocu-pava sua cabeceira na infância. Antes de lançar seu primeiro livro, Contos de Meigan - com a amiga Oriana Comesanha em 2011 -, escrevia fanfics (criação baseada em histórias já exis-tentes) de Arquivo X, e em um processo natural, foi sentindo a necessidade de atender à sua voz como escritora e de fazer algo próprio. Roberta contou que queria escrever para jovens, mas não pensava exatamente numa faixa etária. “Me identi-fico com histórias de aventura e temáticas não necessariamen-te adultas, mas cada livro fala por si, não tem uma barreira

exatamente”, explica. Uma das coisas mais interessantes na fic-ção científica é o fato de usar problemas atuais e elevá-los a extremos como maneira de nos fazer notar e refletir sobre nos-sos problemas. Em A Torre Acima do Véu (2014), seu segundo e mais recente livro, uma névoa vene-nosa invade o mundo. Nessa distopia, ninguém sabe as cau-sas dessa névoa, mas as pou-cas pessoas que conseguiram sobreviver viviam em Mega Edifícios – comandados pela Torre - onde uma nova socie-dade se reestruturou e tentava lidar com o caos, as doenças e a escassez de alimento, espaço e sonhos. Para a autora a humani-dade pode, infelizmente, che-gar a esse ponto, “As obras de distopia, um ramo da ficção, são tradicionalmente pessimis-tas e mostram um futuro ruim, onde as pessoas normalmente

vivem uma realidade opres-sora. Eu espero que nós não cheguemos a esse ponto, e es-sas histórias servem justamente para abrir os olhos e fazer os leitores se questionarem sobre de que forma podemos agir para impedir essa realidade.” A autora brincou que não viveria num mundo distó-pico como os dos livros Jogos Vorazes, Admirável Mundo Novo. “E em Fahrenheit (451) então, que queimam livros, eu quero distância. ” E retomou, “Mas se fosse em um mundo de fantasia, com certeza gostaria de viver na Terra Média”, fa-zendo referência ao universo de Senhor dos Anéis, um dos títu-los preferidos de Roberta, que junto com as Sagas de Frontei-ras do Universo, Otori e Guer-ra dos Tronos, a influenciaram muito. A protagonista de A Torre Acima do Véu, Beca, é uma personagem forte, inde-

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pendente, e está se aventurando a todo momento, o que é insti-gante, já que segundo uma pes-quisa da UnB - 2012 - coorde-nada por Regina Dalcastagnè, apenas 37,8% dos personagens são mulheres. Sendo assim, a autora respondeu ao porquê da escolha de uma protagonista feminina: “A ideia veio de um sonho em que a cena parecia muito com a do início do livro, que era dela procurado algu-ma coisa em um lugar cheio de sombras... Ali era uma mulher, então era algo que já tinha que ser.”, e completou dizendo que queria uma personagem forte, segura de si e que não se dei-xasse levar pela opinião dos ou-tros, mesmo num ambiente tão hostil. Apesar da predomi-nância masculina na literatu-ra ficcional, Roberta Splinder enxerga uma mudança positiva no cenário, “Graças às pautas de diversidade e representati-vidade, muitas mulheres estão conseguindo achar sua voz e espaço”, e acredita que quanto mais essa discussão for aborda-da e as pessoas forem tomando consciência sobre a questão de igualdade de gênero, as coisas vão melhorar. Se tratando do Norte, o gênero é raro tanto para homens quanto mulheres. A autora diz que conhece mui-tos jovens que escrevem, e até publicam, mas não levam os projetos adiante. “Falta os es-critores se conhecerem mais, se unirem”, diz. Com o avanço das tec-nologias de hoje, é possível ex-plorar o mundo literário em diversas plataforma, como os podcasts, blogs e vlogs. Mas como as redes sociais, por exemplo, influenciam nesse consumo de literatura? Roberta afirma que as redes se tornaram

1 - Planta da Zona da Torre. Foto: Créditos na Imagem.2 - Beca. Ilustração: Fábio Nahon. Cores: Andre Ciderfao

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uma importante ferramenta para o autor nacional, princi-palmente os blogs literários, que apesar de não alcançarem a todos, consegue despertar o interesse dos jovens, sem esque-cer que a escola é primordial como agente nesse processo de formação de leitor. “Com as redes, eu posso me comunicar com todo o Brasil; elas fazem o mercado crescer e gerar co-mentários sobre literatura”. Falando sobre os próxi-mos projetos, Roberta já come-çou duas outras histórias bem

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diferentes das dos seus livros anteriores, sendo que uma de-las já está engatilhada e talvez saia esse ano. “Todo mundo fica me pedindo ‘pelo amor de deus’ para escrever uma con-tinuação da Torre, por conta do final, e já estou com planos para construir mais uma histó-ria nesse universo.” Roberta Spindler, que agora está lendo O Herdeiro do Império, uma trilogia de Star Wars, vai participar da XIX Feira Pan-Amazônica do Livro – no estande dos escritores pa-

raenses -, que começa dia 29 de Maio e do Animazon que ocor-rerá no inicio de Julho, com a segunda edição de A Torre Aci-ma do Véu, que terá ilustrações caprichadas dos personagens. Precisamos de mulheres con-quistando sua voz, produzindo e representando outras mu-lheres, e só assim teremos um universo mais diverso. Mostrar que é possível escrever ficção, um ambiente predominante-mente masculino, é um dever e uma prova de que podemos todas nos arriscar sobre o véu.

3 - Nevoa Y. Ilustração: Fábio Nahon. Cores: Andre Ciderfao 4 - Roberta Spindler no lançamento de A Torre Acima do Véu. Foto: Divulgação.5 - Capa do livro de Roberta.Foto: Divulgação

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Casa de botao pro amor morar

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Uma tentativa sincera de converter em palavras o feminismo de uma mulher que nunca se achou tão feminista assim

Por Luciana Vasconcelos

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“Eu tô bonita?”, quer saber vovó. Hoje é aniversário dela. Me viro e olho. Bem

atentamente. Na verdade, pas-so meio segundo contemplan-do. Mas não quero que ela per-ceba, então disfarço. “O batom tá borrado aqui no cantinho”, aponto, envergonhada. Ela ri, os cantos dos olhos se enrugan-do daquele jeito bonito dela. E sinto saudades de um tempo que ainda não vivi. Vovó casou cedo. Teve minha mãe, a filha mais velha, logo aos quinze anos. Só algum tempo depois, criando quatro filhos, foi que ela decidiu mui-tas coisas de uma vez: termina-ria o ensino médio, se formaria em universidade pública, tra-balharia e descobriria mais coi-sas para fazer. E ela fez. Tudo isso. Tudo o que quis. E mais. Vovó escolheu ser professora e hoje eu entendo, pelo menos parcialmente, o porquê: ela sempre quis ser parte de algo maior. Talvez ela tenha conser-vado esse tempo todo um de-sejo - inexplicável e inalcança-velmente atávico - de se juntar à estranha mecânica do mundo e fazer rodar, pelas próprias mãos de mulher, muitas engre-nagens já enferrujadas. Durante esse momento epifânico, ela também resolveu aprender tudo aquilo que que-ria saber. Vovó, determinada, ansiava ganhar o próprio di-nheiro e, consequentemente, a própria independência. Ela se matriculou em aulas de con-feitaria doce e salgada, crochê, corte e costura. Numa dessas, aprendeu a fazer casa de botão. Eu a observava habilidosa, com o olhar atento de menina artei-ra, e descobri que, de alguma forma, sempre quis saber fazer casinha para botão morar. Mas queria fazer igualzinho ela. Vovó preparava comi-dinhas para festas. Quando ti-

nha encomenda, como ela cha-mava, eu ficava toda felizinha. “Encomenda” significava mui-tas coisas: massa e cobertura de bolo para raspar, docinhos para moldar (e roubar alguns no processo), afinar massa de pas-telzinho na máquina de prensa (o que rendia alguns aciden-tes com trigo por toda a casa), torcer para a coxinha sobrar (e comer uma ou duas assim que saíssem quentes), abrir for-minhas de papel (arrumando cada uma metodicamente para receber o doce), apertar o bo-tão da batedeira, despejar leite condensado na panela. A festa começava já dentro de mim. Houve uma época em que vovó vendia “chopp” de frutas. Ma-mãe os carregava em grandes sacolas de pano, produzidas e enfeitadas com desenhos e pin-turas também feitos com capri-cho por vovó. Só descobri isso dia desses. Mamãe me contou. Fiquei pensando se há alguma coisa boa nessa vida que vovó ainda não fez. Talvez não. Mas vovó não parou. E acredito que é muito cedo para ela. Continua descobrindo e fazendo coisas: yoga, pilates, teatro, viagens, frequenta aca-demia, dirige e cuida da ali-mentação. Já está nos planos dela se inscrever em um curso de informática assim que abrir uma vaga. Vovó é muito sociá-vel. Conversa com todo mundo em qualquer lugar: na fila do banco, no elevador, no estacio-namento, no supermercado, no consultório médico, nas lojas, no restaurante. E gosta de todo mundo. Uma vez, quando teve oportunidade, vovó alugou o prefeito da cidade por vários minutos quando o encontrou na rua. Deu conselhos, suges-tões, puxões de orelha e tudo. É uma história muito engraçada. Talvez ela te conte um dia. Ainda hoje, vovó faz bo-

los e tortas nos almoços em fa-mília, mas ela aposentou a ven-da. Na verdade, o que ela gosta mesmo de fazer é costurar. Essa arte ela nunca vendeu. Vovó faz vestidos para ela mesma e veste as crianças da família com rou-pinhas de princesas - até as bo-necas posam nas estantes com peças nascidas direto na imagi-nação e dos dedos mágicos de vovó. As casas dos filhos são cheias de roupas feitas ou me-lhoradas por ela, tapetes de sala e de quarto, roupa de cama, panos de prato e de estante.Essas casas também são reple-tas de conselhos. Lembro de como, numa tarde fria de domingo, me en-colhi ao lado dela na cama como um feto e me enrolei toda no lençol, soluçando. E chorei muito, de fazer da vis-ta cachoeira. Chorava por um cara. Ela olhou para mim com aqueles olhos de águas profun-das e - nem lembro se fez ca-funé - me disse as coisas mais tranquilas que já ouvi. Me fez perceber que cara nenhum deve ter esse poder sobre mim. Me senti burra. E me senti muito sábia. Dia desses vovó disse, a cara fechada igual tempo de chuva e a voz irritada que nem bronca de mãe: “Esse mundo é muito machista!”. E é verda-de, vó. Mas também por isso o mundo precisa de gente - e não só mulheres - assim, mais como a senhora. Pessoas que acredi-tem na “igualdade social, po-lítica e econômica dos sexos”. Pessoas irritadas com as in-justiças e que reconheçam que as mulheres são “tão humanas quanto os homens”. E devemos ser respeitadas por isso. Obri-gada, vó, por nunca ter capi-tulado. Obrigada por nunca se desculpar ou sentir vergonha por ser mulher e ser forte. E por continuar.

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Drika Chagas. Foto: Louise Lessa

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Com a lata na mao: Drika

Chagas

Drika Chagas é uma artista plástica, graduada pela Universidade Federal do Pará.

Uma grafiteira, uma mulher. Que levas nos traços e cores dos seus grafites, delicadeza e feminilidade. Num meio dominado por

homens, a presença feminina é fundamental para a igualdade de gêneros nas profissões e

nas artes.

~

Por Matheus Botelho

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Ela já participou de 17 ex-posições, coletivas e in-dividuais. Em 2010, foi

contemplada com o Prêmio Cultura Hip Hop 2010 – Edi-ção Preto Ghóez pelo Ministé-rio da Cultura e neste ano foi a única artista paraense convi-dada para a 3ª edição da Bienal Internacional Graffiti Fine Art. Conheça um pouco mais a rea-lidade e a visão de uma mulher, uma profissional e uma artista que vive num meio predomi-nantemente masculino. Com a lata na mão: Drika Chagas.

NC: Quando e como começou o teu interesse pelo grafite?

DK: Esse interesse veio com uma revista. Na época eu tinha 14 para 15 anos. Foi quando eu peguei pela primeira vez a revista chamada Grafite Mun-do Bomb, que era uma revista produzida pela editora Abril na época e tinha a curadoria pelo Binho Ribeiro, que é um dos precursores do grafite no Bra-sil. Então a primeira vez que eu vi a revista eu me encantei logo pelo wild style, que são aqueles

estilos de letras entrelaçadas. E na mesma hora eu falei: “eu quero aprender a fazer isso”. Na época eu falei com um ami-go: “Pô, grafite, vamos fazer e tal?” e ele: “Tá! Vamos”. E a gente foi procurando os movi-mentos, os encontros, as ofici-nas e a gente foi se inteirando, mas muita coisa veio de uma maneira muito independente de você descobrir o estilo, des-cobrir como é que funciona o manuseio do spray, de como é que você vai usar esse espaço, de como é que você vai intera-gir, onde você vai interagir. Na época, quando eu comecei, era como hobby, final de semana, brincar, conversar com os ami-gos e pintar, então era um ne-gócio bem tranquilo.

NC: Quando tu decidiste ser grafiteira, trabalhar com isso mesmo, tiveste o apoio da tua família e amigos?

DK: Eu nunca tive nada que me desanimasse, que me botas-se para trás e falasse: “Não, isso não é para fazer”. Pelo contrá-rio, acho que a minha família

sempre me apoiou em qualquer decisão minha, até porque meu pai pintava quando era mais novo e eu fiz o curso de artes, então a minha família nunca foi um empecilho para isso, os amigos muito menos.

NC: Como é pra ti, sendo mu-lher, participar de um meio do-minado por homens? Como é essa tua relação?

DK: Tem a relação da atitude, porque não são todas as mu-lheres que tem a atitude de subir num andaime de tantos metros e ficar na rua pintan-do até tarde. Por exemplo, eu estava pintado nesse final de semana, eu e a menina que me ajuda, que é a Cris. Estávamos só nós duas na rua pintando e isso já era quase nove horas da noite. É normal a gente fi-car até tarde. Aí veio um cara, morador de rua, e começou a brigar, essas coisas todas! Se fosse outra mulher ia surtar ali, ficar com medo. Então a gente passa por várias situações, mas eu acho que isso é muito pouco do que a gente consegue como

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um todo. É bom ser mulher, eu adoro! Porque você está na rua ali e as pessoas se preocupam: “Ah, e aí? O que você está fa-zendo?”. Então, já vêm com outra abordagem pra cima de você, né. Como os meninos fa-lam, às vezes, eles estão pintan-do na rua e vem um segurança, já vem como uma abordagem mais agressiva. E pelo fato deu ser mulher a abordagem já é mais tranquila, já olha com ou-tros olhos.

NC: E tu já sofreste algum pre-conceito?

DK: Nunca senti algo que, como eu te falei que, me botas-se para baixo, que eu visse como algo preconceituoso. Nunca passei por um momento des-ses. O preconceito que, às ve-zes, eu sinto é o estranhamento das pessoas de ver uma mulher na rua com uma lata de spray na mão. De a pessoa olhar e di-

1 - Grafitagem. Foto: Louise Lessa

2 - Latas de spray de Drika. Foto: Louise Lessa

3 - Entrevista com Drika Chagas. Foto: Louise Lessa

4- Parede feita com latas de spray. Foto: Louise Lessa

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zer: “o que aquela menina está fazendo na frente do muro?”. Mas nada muito agressivo. Até porque eu acho que a gente está vivendo um movimento, está passando por uma fase onde as coisas estão mais abertas, as pessoas discutem mais. A in-ternet está ai para mostrar isso, então eu acredito que o mo-mento que a gente está vivendo é um momento muito interes-sante para quem está produzin-do qualquer tipo de arte.

NC: Quais são as tuas influên-cias, como artista, no trabalho que tu fazes?

DK: Eu sempre comento que a minha influencia é o meu co-tidiano, o meu dia-a-dia. En-tão, às vezes, eu andando na rua, eu pego uma referência de alguém, uma expressão de

1 - Grafitagem de Drika Chagas na parede. Foto: Louise Lessa 2 - Drika Chagas grafitando. Foto: Divulgação

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alguém que está na parada de ônibus, às vezes, eu conversan-do com outra pessoa. Às vezes você está vendo um filme, está conversando um assunto com os amigos e é impressionante como quem trabalha com arte não para nunca de pensar. É um negócio muito frenético! Eu sempre falo que eu gosto de usar muita coisa da nossa região, muita coisa que eu falo é no sentido desse misticismo, desse sincretismo que a gente carrega, dessa magia que tem aqui, nessa parte da Amazônia. Então, eu gosto muito de pegar um pouco dessa referência.

NC: Quando foi que tu come-çaste de verdade nessa profis-são?

DK: Ah! Foi em 2009 quando eu recebi um convite para fazer uma exposição. Na verdade era para fazer parte de uma exposi-ção, só para dar um take na ex-posição de dois amigos, que era do Ulisses e do Diogo Parente, que estavam trabalhando com fotografia. Eles estavam com um trabalho bem interessan-

te. Eles saíram viajando pelo Brasil e fora do Brasil e foram fotografando várias paisagens, que falavam do ambiente na-tural. Aí eles me convidaram para fazer uns grafites em cima dessas fotografias, uma releitu-ra. Ai eu acabei interferindo na galeria, pintei toda galeria. Eu tive um resultado muito po-sitivo, porque foi a primeira vez que eu estava expondo um trabalho, estava desenvolvendo uma técnica, que eu era muito nova. Na época era um estilo meio despixelizado que eu es-tava fazendo, uma coisa meio fragmentada e eu tive que me perguntar se realmente era isso que eu queria, porque estava meio que entrando em conflito com o meu trabalho. Na época eu era concursada da prefeitu-ra de Belém. Ai foi o momen-to que eu falei: “ou eu vivo de uma coisa ou de vivo de outra, porque senão eu não vou con-seguir fazer os dois”. E foi a época que resolvi me dedicar a isso e seguir em frente. Então eu digo que foi em 2009. Final de 2009 para 2010 que eu real-mente me entreguei.

NC: Como é que tu fazes a transposição do grafite para as galerias? Como tu vês essa re-lação?

DK: A maioria dos grafiteiros que eu conheço está nessa tran-sição: rua e galeria. Agora sim, eu reconheço que o grafite vem das ruas, surgiu com os guetos, e o mais importante quando ele surge, naquela época final de 70, início de 80, ele já vem com essa carga de ativismo políti-co né, principalmente aqui no Brasil, com a época da ditadu-ra a gente teve vários manifes-tações, várias coisas usando o spray e a parede para se mani-festar e botar os seus ideais ali. A essência do grafite é a rua, é de você ocupar um espaço que está vazio, ocioso, e você dar uma cor, dar uma vida e ten-tar sensibilizar as pessoas com isso. Esse é o papel principal do grafite hoje. Mas o que aconte-ce? As pessoas que fazem grafi-te estão com uma criatividade aí né, aflorando e botando para fora. Então por que não botar isso numa galeria também? Só que existe a diferença: existe a

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arte que está ali na rua acessí-vel para todo mundo e existe a arte da galeria. Passarinho na gaiola deixa de ser passarinho? Não deixa, então é quase que o mesmo sentido. Você está ali delimitado a um espaço? Você está né, porque na rua você tem “n” possibilidades de explorar e botar sua ideia, mas na gale-ria você tem um espaço defini-do, você tem um período certo para acontecer aquilo. Enfim, a gente está num país e numa cidade onde a cultura não é muito cultivada, apesar de a galeria ser aberta ao público, as pessoas ainda tem um receio de entrar na galeria. Ai você tem aquele limite. Ela também não deixa de ser uma arte efêmera, porque vai chegar um momen-to que ela vai se apagar. Se você pinta a parede, vai chegar um momento que ela vai sumir. São duas coisas completamente diferentes. Hoje o grafite não está mais preso a essa coisa só do ativismo político. Ele atin-giu vários suportes. Na verda-de você puxa vários conceitos. Tem vários estilos de grafite. Você tem desde o style até o de personagens. Você tem um universo visual de referencias, como cada artista tem um es-tilo completamente diferente um do outro, por causa da sua cultura, da sua história. Se você pegar o grafite do Brasil, só do Brasil, você vai ter ai vários es-tilos completamente diferentes um do outro. Então eu acho que os dois meio que se com-plementam, mas eu vejo que o grafite é da rua, a essência ver-dadeira dele é essa, é a rua, é o público. É de você interagir com as pessoas que estão pas-sando ali; da pessoa se sensibi-lizar, parar ou não. Pode puxar uma raiva, mas pode puxar algo bom da pessoa, mas ele movi-mentou a pessoas ali naquele curto momento que ela passou e viu. Então acho que os dois são essenciais.

NC: Explica o porquê dessa in-fluência feminina nas tuas ar-tes?DK: Todo mundo pergunta as-sim: “ah! Por quê?” e eu falo: “gente, primeiro porque eu sou

mulher”. Eu acho que quando você tem um trabalho, você acaba refletindo nele o que você é. E eu fui criada no meio de várias mulheres. Eu tenho cerca de 7 tias que eu sempre convivi, que eu sempre estive ali perto. Então acho que vem dessa referencia da família, do convívio com esse universo que, eu acho que precisa tam-bém ser mostrado, pelo fato do grafite ser algo muito mascu-lino né. Acho que é legal você ter algo também delicado, algo que você faz com mais cuida-do, com feminilidade mesmo. Acho que é legal para dar esse contraste nesse universo que tem vários estilos.

NC: Qual é a tua relação com esses coletivos de grafite que nascem na periferia?

DK: Eu nunca fiz parte de ne-nhum coletivo, na verdade. Eu gosto mais assim: de interagir com a pessoa e fazer uma pin-tura e depois fazer com outro, porque quando você fica num coletivo, às vezes, você fica muito preso a só pintar com esse coletivo. Acho que pelo fato deu estar viajando, fazen-do vários trabalhos, acaba que eu gosto de pintar com vários tipos de pessoas diferentes. Então, por exemplo, esse final de semana eu pintei com o Ed que é do Cosptinta, mas daqui a uma semana eu posso estar pintado com outro coletivo de meninas da periferia tal. Então, como eu posso dizer... Eu não gosto de me prender, de me ro-tular. Eu gosto de botar o meu trabalho para fluir e interagir com vários tipos de pessoa e vários tipos de estilo. Eu prefi-ro ficar interagindo com todos esses coletivos do que me pren-der a um só. Acho mais inte-ressante.

NC: O que tu tens a dizer a es-ses jovens que estão começando com o grafite?

DK: Eu acho que a galera que está começando, viva ali aque-le momento. Sempre que você for fazer um trabalho imagina que ele é o último da sua vida

e coloque ali o seu sentimento, as cores que você quer usar. A pessoa tem que acreditar nela. Não deixar com que outras pessoas... “Não faz isso, porque não dá futuro”. Acho que a pes-soa não tem que se prender a isso. Ela tem que se prender no que ela gosta de fazer, porque, às vezes, a pessoa se tranca. Ela não desenvolve um trabalho porque tem medo. Acha que não vai ganhar dinheiro, acha que não dá para viver disso e acaba desistindo. Tenho vários amigos que começaram comi-go, mas não botaram fé, não acreditaram no potencial deles e acabaram largando e fazen-do coisas hoje que não gostam. Então eu sempre digo para as pessoas acreditarem mesmo até o final. A pior coisa é você está fazendo um negócio que você gosta e a pessoa está te deses-timulando, te colocando para baixo, que é o que acontece às vezes, né. Pai não quer tio, amigo, namorado... Então não deixa. Vai, segue em frente que o negocio vai fluir lá na frente.

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Fotos: Divulgação

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Fotos: Divulgação

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XIX Feira Pan-Amazônica

do Livro

A feira do livro, no ano de 2015, no Hangar, Centro de Convenções da Amazônia. Foto: Bianca Brandão

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Entre os dias 29 de maio e 7 de junho, Belém recebe a XIX Feira Pan-Amazônica do Livro. Com o tema “A certeza milenar de quem sabe vencer os desafios”, a Feira deste ano cele-bra os 120 anos de Amizade entre o Brasil e o Japão e homenageia o escritor paraibano Aria-no Suassuna, morto no ano passado e autor de grandes obras da literatura brasileira como O auto da compadecida. Com realização da Secretaria de Estado de Cultura do Pará, a tradicional Feira faz parte do calendário de todo apaixonado pela litera-tura. Em 2015, o Hangar recebe stands de 144 editoras e livrarias do Pará e do Brasil inteiro. Durante os 10 dias de feira, a organização espe-ra que circulem pelo evento cerca de 400 mil pessoas, mesmo público do ano passado. Em termos de vendagem, a Feira de 2014 fez cir-cular 16 milhões de reais na forma de 880 mil livros, marca que deve ser superada em 2015. O ano de 2014 também trouxe outro dado impor-tante: com o aumento da segurança, houve que-

da de 70% no número de ocorrências dentro do evento.

Atrações Entre os convidados para a Feira des-te ano estão a escritora Thalita Rebouças e o jornalista Julio Maria, repórter do jornal O Estado de S. Paulo e autor do livro “Elis Regina - Nada Será Como Antes”. Em 2015, a poesia feminina terá destaque através das escritoras paraenses Giselle Ribeiro e Lucia-na Brandão Carreira, que participarão de um Encontro Literário especial sobre o tema. Além disso, também participarão dos Encon-tros Literários a vencedora do Prêmio Jabuti Stella Maris Rezende e os escritores Daniel Munduruku, Ignácio de Loyola Brandão e Oscar Nakasato, que durante o evento lança-rá seu livro “Nihonjin”, romance que trata da imigração japonesa para o Brasil.

ServiçoXIX Feira Pan-Amazônica do Livro

Quando? De 29/05/15 à 07/06/2015

Onde? Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia

Av. Dr. Freitas s/n - Marco - Belém – Pará

Por Bianca Brandão

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Feira Internacional do Livro de Buenos

Aires

Um Snoopy e um Woodstock bem grandes e aleatórios na área livre. E o patriotismo argentino pra fazer mershan. Foto: Stéfanie Olivier

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De 23 de abril até 11 de maio, Buenos Aires ficou repleta de letras e cultura. Uma fila de três (ou mais)

quarteirões é o que se espera quando vamos a uma noite de autógrafos com alguém bem famoso ou para algum show,

mas a verdade é que tive que enfrentar isso só para poder comprar meu ingresso e

depois conseguir entrar na 41ª edição desta feirinha

Por Stefanie Olivier

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Aliás, feirinha é modo de falar. A Feira Internacio-nal do Livro de Buenos Aires é uma das mais importantes do mundo, tem 45 mil metros quadrados de muitas palavras, personalidades da literatura, poesia e cultura. Só para ter uma ideia da dimensão, o espa-ço que a Feira Pan Amazônica do livro que ocorre todo ano no nosso lindíssimo Hangar tem 8.500 m². Falando nisso, a entra-da só é grátis durante a semana para idosos, aposentados, estu-dantes universitários e crianças até 12 anos (quando um univer-sitário tem tempo de ir numa feira enorme durante a sema-na? Nunca, pois é). Durante os finais de semana e feriados é preciso pagar $50,00 (pesos),

como se fossem R$13,00. E dão um “chequelivro” junto com a nossa entrada, que são $35,00 (quase 10 reais) de desconto por pessoa pra usar em qual-quer livraria. Quando a feira acaba, ele ainda vale por mais um mês para ser usado nas li-vrarias/editoras participantes, vê que legal! Todo ano a organização escolhe alguma personalidade famosa da cultura argentina para fazer um discurso inau-gural e depois cortar a “fita” que abre oficialmente o evento. Ano passado foi o aniversário de 40 anos da Feira e quem foi escolhido pra fazer esse discur-so foi ninguém mais, ninguém menos que o Quino (paizinho e criador da Mafalda que mora no coração da Na Cuia)! Esse

ano o eleito foi Roberto “Tito” Cossa, um dramaturgo que é referência do teatro argentino. A parte que a gente vê logo de cara é uma área grandinha com stands de vários países e cidades da Ar-gentina, normalmente lá estão expostas obras de autores im-portantes de cada lugar. E é um mais fofo que o outro, uns tem espelhos que nos emagrecem e engordam, outros com escultu-ras que representam o lugar ou tendas escuras com video-poe-mas de autores do país/cidade. Eu não fui a única pa-raense a ir lá nesse ano, então com quem já conversei, percebi que a sensação é a mesma: a gente en-tra e pensa “Ah, é isso? Só isso? Nada mais? Todo esse auê pra

Zona de Poesia. Com muitas obras. Obras cheias de poesias. Foto Stéfanie Olivier

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isso?”. Que nada, tem um cor-redor branco enorme que nos leva até uma área livre cheia stands do Snoopy e Mafalda pras crianças-e-turistas tirarem fotos, stands lindos que fazem propaganda pra ajudar o meio ambiente e apresentações musi-cais. Nessa área livre, tem mais outras três entradas que dão pra áreas distintas com muitos, mas muitos stands de editoras que vendem os livros mais comuns, tipo os da fei-ra que rola em Belém. Como qualquer outra pessoa em sã consciência que vai numa feira de livros, acabei me compran-do três livros só pra não perder o costume e usar os meus des-contos.

Stand da cidade Terra do Fogo, que fica ao Sul da Argentina. Foto Stéfanie Olivier

Stand da cidade argentina de San Juan. Muitas cores, muita felicidade,

muita literatura e muita cultura. Foto Stéfanie Olivier

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Agenda Cultural

BoulevArtNo próximo dia 7 de junho, os arredores da Praça dos Estivadores, na Avenida Bou-levard Castilhos França, estarão cheios de arte, música, gastronomia, moda e esportes. Será a primeira edição do BoulevArte, ocupação que pretende resgatar a história de Belém através da arte e criar nos belenenses o hábito de passear pelos pontos turísticos dos bairros antigos da cidade. Entre as 6 e as 18 horas do domingo, o público verá di-versos shows musicais, apresentações de teatro e dança e terá a oportunidade de provar o melhor da culinária e das cervejas paraenses e participar de oficinas e passeios. Além de tudo isso, os skatistas e patinadores terão uma das pistas da avenida fechada para seu uso e diversas marcas e lojas locais estarão com seus produtos à venda. Na ocasião também será inaugurado o Hermanos Food Truck, de Renan Barata e Roberto Hundert-mark, sobre o qual a Na Cuia falou na segunda edição.

ServiçoO que? 1º BoulevArte Quando? 07/06/2015 (domingo), das 6h às 18hOnde? Av. Boulevard Castilhos França (corredor da Rua Marechal Hermes, que vai da Avenida

Presidente Vargas até o prédio da Alfândega, passando pela Praça dos Estivadores) Belém - PA

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Agenda Cultural

Programaçao Cine Líbero

Junho será um mês de grandes destaques no Cine Líbero Luxardo. O documentário indicado ao Oscar “O Sal da Terra”, sobre a vida e a obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e dirigido pelo

filho dele, estreou no último dia 27 e estará em cartaz até o próximo dia 7 de junho. Também neste mês, o Líbero receberá o Festival Varilux de Cinema Francês. Entre os dias 10 e 17 de junho, o pú-

blico verá diversas produções cinematográficas francesas dentre as quais está o filme de abertura do

Festival de Cannes: “La Tête Haute” (De Cabeça Erguida), da diretora Emmanuelle Bercot.

O que? “O Sal da Terra”, de Juliano Salgado e Wim WendersOnde? Cine Líbero Luxardo, Fundação Cul-tural do Pará. Av. Gentil Bittencourt, 650. Belém - PAQuando? Até o dia 07/06/15, domingo. 03 a 05/06 (quarta a sexta) - 19h 06/06 (sábado) - 19h e 21h 07/06 (domingo) - 17h e 19h

Serviço

O Que? Festival Varilux de Cinema FrancêsOnde? Cine Líbero Luxardo, Fundação Cultural do

Pará. Av. Gentil Bittencourt, 650.

Belém - PAQuando? De 10 à 17/05/15.

Programação completa disponível na fanpage do Cine Líbero https://www.facebook.com/cinelibero-

luxardoI

Por Bianca Brandão

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