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"' -,., s;. ~~ ~t ::i -: E ste artigo visa auxiliar a compreensão dos proble- mas mais freqüentes com máquinas para plantio direto, especi- almente semeadoras-adubadoras. Constitui uma reunião de informações, coletadas e discutidas com produto- res de várias regiões do Estado do Pa- raná, com as principais indústrias na- cionais e av~iadas, nos projetos de pesquisa da Area de Engenharia Agrí- cola do Instituto Agronômico do Para- ná (IAPAR),nos últimos cinco anos. A adoção do plantio direto requer do produtor maior atenção e conheci- mento em relação ao preparo conven- cional, porque com o passar do tem- po, as condições locais de solo e de manejo da propriedade ganham im- portância na evolução do sistema, in- fluenciando o desempenho das máqui- nas, principalmente das semeadoras- adubadoras. PROBLEMASCOMSEMEADORAS Um dos maiores obstáculos para expansão do plantio direto está relaci- onado ao uso de máquinas em solos argilosos. O tráfego de máquinas (co- lhedoras, tratores e pulverizadores) ali- J -. ~ilqulnas '".- N! ," ... Máquinas avaliação 4, ,"\ 4JI ., "" .. ~ . . ado à maior retenção de água no solo e ao curto período de tempo com umi- dade do solo propícia às operações me- canizadas, ocasionam, com freqüên- cia, problemas de compactação nas camadas superficiais. Nas semeadoras, a aderência de solo nos sulcadores resulta em redu- ção do corte da palha e em embucha- mentos. A necessidade de utilizar has- tes sulcadoras ou facões para romper a camada superficial compactada e penetrar no solo aumenta a exigência de tração das semeadoras de plantio direto, as quais passaram a requerer tratores com potências superiores a 85 cv (cavalo-vapor), nem sempre dispo- IÚveis nas propriedades. As hastes sulcadoras, por sua vez, promovem uma maior mobilização do solo nos sulcos de semeadura em re- lação aos discos duplos, aumentando a incidência de ervas, a possibilidade de falhas no aterramento do sulco e a ocorrência de erosão. De forma geral, as semeadoras de plantio direto comercializadas no Bra- sil apresentam, ainda, problemas quanto à segurança do operador e re- gulagens. No primeiro caso, destaca- se, em vários modelos, a posição ina- propriada do apoio para os pés e a ine- www.cultivar.inf.br ~ j. } i~~1 1 1 1 .- \. ,li . .. "'I .. / ""Üli r'" I ~ ~ ,_, '" ;. .. ." " .. fi J ~.. ! ,~ . . ,. rt""1 ". .. xistência de apoio para as mãos para o auxiliar que, geralmente, trabalha so- bre a semeadora. Quanto às regulagens, a maior di- ficuldade está na mudança do espa- çamento entre as linhas de semeadu- ra, por ser uma atividade trabalhosa e demorada. EVITANDOO EMBUCHAMENTO A aderência de solo nos sulcadores (disco de corte, disco duplo e haste) é tanto maior quanto mais alto forem os teores de argila e de água no solo. Um dos efeitos mais evidentes da ade- rência nos sulcadores é a abertura de sulcos mais largos e o aumento da mo- bilização do solo. Em geral, quando a aderência é excessiva, ou seja, quan- do a quantidade de solo agregado é igual ou superior à largura do sulca- dor, em ambos os lados e em toda su- perficie do mesmo, também ocorre em- buchamento de palha nos sulcadores, pois esta não é cortada completamen- te. Por outro lado, quando a quanti- dade de palha na superficie do solo é reduzida, pode-se retirar o disco de corte e operar apenas com discos du- Março / Abril200]

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Page 1: N! - USP 2015/Molin/Semeador… · cv (cavalo-vapor). Com disco duplo, a potência subiu de 56 para 84 cv quando a velocidade passou de 9 para 12 km/h. Fica evidente, portanto, a

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E ste artigo visa auxiliar acompreensão dos proble-mas mais freqüentes com

máquinas para plantio direto, especi-almente semeadoras-adubadoras.Constitui uma reunião de informações,coletadas e discutidas com produto-res de várias regiões do Estado do Pa-raná, com as principais indústrias na-cionais e av~iadas, nos projetos depesquisa da Area de Engenharia Agrí-cola do Instituto Agronômico do Para-ná (IAPAR),nos últimos cinco anos.

A adoção do plantio direto requerdo produtor maior atenção e conheci-mento em relação ao preparo conven-cional, porque com o passar do tem-po, as condições locais de solo e demanejo da propriedade ganham im-portância na evolução do sistema, in-fluenciando o desempenho das máqui-nas, principalmente das semeadoras-adubadoras.

PROBLEMASCOMSEMEADORAS

Um dos maiores obstáculos paraexpansão do plantio direto está relaci-onado ao uso de máquinas em solosargilosos. O tráfego de máquinas (co-lhedoras, tratores e pulverizadores) ali-

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Máquinasavaliação

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ado à maior retenção de água no soloe ao curto período de tempo com umi-dade do solo propícia às operações me-canizadas, ocasionam, com freqüên-cia, problemas de compactação nascamadas superficiais.

Nas semeadoras, a aderência desolo nos sulcadores resulta em redu-ção do corte da palha e em embucha-mentos. A necessidade de utilizar has-tes sulcadoras ou facões para rompera camada superficial compactada epenetrar no solo aumenta a exigênciade tração das semeadoras de plantiodireto, as quais passaram a requerertratores com potências superiores a 85cv (cavalo-vapor), nem sempre dispo-IÚveis nas propriedades.

As hastes sulcadoras, por sua vez,promovem uma maior mobilização dosolo nos sulcos de semeadura em re-lação aos discos duplos, aumentandoa incidência de ervas, a possibilidadede falhas no aterramento do sulco e aocorrência de erosão.

De forma geral, as semeadoras deplantio direto comercializadas no Bra-sil apresentam, ainda, problemasquanto à segurança do operador e re-gulagens. No primeiro caso, destaca-se, em vários modelos, a posição ina-propriada do apoio para os pés e a ine-

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xistência de apoio para as mãos parao auxiliar que, geralmente, trabalha so-bre a semeadora.

Quanto às regulagens, a maior di-ficuldade está na mudança do espa-çamento entre as linhas de semeadu-ra, por ser uma atividade trabalhosa edemorada.

EVITANDOO EMBUCHAMENTO

A aderência de solo nos sulcadores(disco de corte, disco duplo e haste) étanto maior quanto mais alto foremos teores de argila e de água no solo.Um dos efeitos mais evidentes da ade-rência nos sulcadores é a abertura desulcos mais largos e o aumento da mo-bilização do solo. Em geral, quando aaderência é excessiva, ou seja, quan-do a quantidade de solo agregado éigual ou superior à largura do sulca-dor, em ambos os lados e em toda su-perficie do mesmo, também ocorre em-buchamento de palha nos sulcadores,pois esta não é cortada completamen-te.

Por outro lado, quando a quanti-dade de palha na superficie do solo éreduzida, pode-se retirar o disco decorte e operar apenas com discos du-

Março / Abril200]

Page 2: N! - USP 2015/Molin/Semeador… · cv (cavalo-vapor). Com disco duplo, a potência subiu de 56 para 84 cv quando a velocidade passou de 9 para 12 km/h. Fica evidente, portanto, a

pIos para sementes e fertilizante (casohaja condições de penetração no solo),de modo a reduzir a aderência de solonos discos. Quando o volume de palhana superficie é grande, ou seja, acimade 6 ton/ha e o espaçamento entre li-nhas da semeadora é reduzido (menorou igual a 50 cm), aumenta a possibili-dade de embuchamentos principal-mente quando se utilizam sulcadoresdo tipo haste. Outro fator importante,relacionado diretamente com embu-chamento, é o manejo da cobertura ve-getal.

Máquinas que fragmentam poucoa cobertura, tais como, o rolo-faca oucolhedoras de milho sem picadores, de-vem ser usadas precedendo semeado-ras com espaçamentos entre linhas lar-gos (0,9 metros ou maior) e, preferenci-almente, com linhas que tenham sul-cadores desalinhados ("zigzag").

COMPAaAÇÃODO SOLO

É comum no plantio direto o apare-cimento de uma camada superficial dosolo (entre 5 e 20 cm de profundidade)mais "dura" que pode ou não, depen-dendo do IÚvelde compactação, preju-dicar o desenvolvimento das plantas.No entanto, é dificil a determinação doIÚvelprejudicial de compactação, poisisso depende de fatores fisicos, quími-cos e biológicos.

A compactação do solo é causadaprincipalmente pela pressão das rodase outros componentes das máquinasagrícolas e pode aumentar quando asoperações forem realizadas com altaumidade do solo. A avaliação do IÚvelde compactação pode ser feita atravésde penetrômetros ou abrindo-se umapequena trincheira no solo. Os pene-trômetros são hastes com uma pontacônica que, introduzidas no solo, indi-cam a pressão requerida. Uma formadireta para identificar se a compacta-ção é prejudicial às plantas é analisarse as raízes apresentam algum desviolateral e se concentram na superficie.

O amarelecimento das plantas e seucrescimento desuniforme também po-dem estar relacionados à compactaçãodo solo. No solo, a presença de crostassuperficiais e fendas, o acúmulo deágua no sulco, a erosão hídrica, a pre-sença de palha incorporada e não de-composta e o aumento da exigência depotência dos tratores também são in-dicativos de possíveis problemas decompactação. Deve ser consideradoainda que, antes da implantação dosistema plantio direto, o agricultordeve avaliar as condições de seu ter-reno e, na presença de camadas com-

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Os autoresrecomendamcuidadosno manuseioe

conservaçãode máquinassemeadoras

pactadas, eliminá-Ias.A utilização de sistemas de rotação

de culturas também é uma das formasde se minimizar os efeitos da compac-tação do solo. Com a utilização de adu-bos verdes na rotação, como o naboforrageiro e aveia, entre outros, é pos-sível promover a descompactação bio-lógica.

HASTESUlCADORA

A melhor haste é aquela que conse-gue penetrar com facilidade no solomais "endurecido" superficialmente,típico do plantio direto, exigindo baixaforça de tração e movimentando poucosolo no sulco. O desempenho da hastedepende de vários fatores, tais como ve-locidade de operação, posição em rela-ção aos demais sulcadores da semea-dora, condições de solo (densidade apa-rente, teor de umidade e resistência àpenetração), IÚvelde aderência de soloe das características geométricas daprópria haste (forma).

Observações realizadas pelo IAPARmostraram que hastes com ângulo deataque (ângulo entre a superficie su-perior da ponteira e a horizontal) de 20Qe espessura máxima da ponteira de 20mm têm apresentado bons resultados.

MUlTISSEMEADORAS

Apesar de o mercado brasileiro dis-por de vários modelos de semeadorasmúltiplas, ou seja, de máquinas quesemeiam em precisão (soja, milho) e emfluxo contínuo (trigo, aveia) ainda é pe-quena a sua disseminação entre os pro-dutores. Esta situação se deve à exis-tência do mito de que há necessidadede a semeadora ser "especializada" emum determinado método de semeadu-ra e, também, pelas dificuldades quealguns modelos comerciais apresentampara realizar as mudanças dos conjun-tos dosadores.

Como o mercado (produtores) co-nhece pouco esses modelos e a deman-

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da é pequena, as indústrias têm inves-tido, principalmente, no aperfeiçoamen-to de máquinas para semeadura deprecisão.

Avaliações a campo, realizadas peloIAPAR,têm demonstrado que o desem-penho das semeadoras múltiplas sãoequivalentes às demais em ambos osmétodos de semeadura. As múltiplassão importantes também na melhoriada qualidade do sistema de plantio di-reto, pois possibilitam a introdução denovas espécies vegetais viabilizando arotação de culturas.

POTÊNCIANECESSÁRIA

No plantio direto, apesar de haveruma redução no uso de máquinas, hánecessidade, de forma geral, de trato-res com potências superiores em rela-ção ao manejo convencional, devido àmelhor estruturação do solo, ao maiorpeso das semeadoras e ao uso de has-tes em solos argilosos. Estudos reali-zados no IAPAR,em solos muito argilo-sos, mostraram que a potência no mo-tor do trator exigida para tração de setelinhas de soja com haste sulcadora pra-ticamente dobrou quando a velocidadede operação aumentou de 4,5 para 7,7km/h, ou seja, passou de 42 para 79cv (cavalo-vapor).

Com disco duplo, a potência subiude 56 para 84 cv quando a velocidadepassou de 9 para 12 km/h.

Fica evidente, portanto, a importân-cia de velocidade e do tipo de sulcadorna definição do tamanho do trator. Re-sultados de avaliações em um amploconjunto de modelos de semeadoraspara plantio direto comercializadas noParaná, mostrou que a exigência de po-tência das semeadoras equipadas comhastes variou entre 5,3 e 7,7 cv por li-nha a 10 cm de profundidade do sulcoe 5 km/h. rn

Augusto Guilherme de AraújoRuy Casão juniorRubens Siqueira,IAPAR

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