mvrdv vs s'a arquitectos

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arq./a ARQUITECTURA E ARTE 4,90 | Nº52 – Dezembro 2007 Ecologias Alternativas MVRDV S’A arquitectos arq./a 52 Ano VIII – Dezembro 2007 4,90 (continente) – 7,50 Espanha Ecologias Alternativas NAUBI SOBRE O ENSINO DA ARQUITECTURA Desde os anos 80 que o ensino da arquitectura em Portugal se tem disseminado através de inúmeras escolas espalhadas por todo o país e com um número sempre crescente de candidatos à profissão. Consequentemente, o ensino das ciências da arquitectura tem-se desenvolvido quase sempre de acordo com os padrões internacionais para tal estabelecidos. Na Universidade da Beira Interior, o curso de arquitectura teve o seu início em 2003 e evoluiu já para 5 anos de mestrado integrado, de acordo com o modelo de Bolonha. O facto de arquitectura estar na U.B.I. integrada no seio da Faculdade das Engenharias, pressupõe, obviamente, uma componente tecnológica elevada, o que de facto se verifica, sem que no entanto as Artes e Humanidades sejam de modo algum secundarizadas. A componente prática e experimental da arquitectura é pautada pelo rigor e exigência, recorrendo frequentemente à auto-aprendizagem através de seminários de investigação, acompanhamento de docentes–tutores, privilegiando uma formação específica nas áreas da construção sustentável, patologia da construção e conforto ambiental. Temos plena consciência que a arquitectura de hoje já não consiste apenas na integração projectual dos conceitos puramente estéticos e funcionais, mas muito para além disso, engloba também todos os aspectos que perseguem um desenvolvimento mais sustentável, ou seja: os aspectos sociais, económicos e ecológico/ambientais relacionados com os novos modos de pensar a arquitectura. Em 2008, os primeiros arquitectos formados na UBI irão enfrentar a vida profissional e, isso estamos certos, será o nosso contributo para um melhor ambiente humano construído. José Justino Barros Gomes, nasceu em Lisboa, em 1944. Formou-se em arquitectura na Ryerson University, em Toronto, Canadá. É licenciado em arquitectura pela E.S.B.A.L. e Doutorado (PhD) pela Universy of Salford – Manchester - U.K., com a tese “Sustainable Rehabilita- tion Indicators For Public Housing In Lisbon”. Exerce a prática profissional desde 1971, tendo produzido e colab- orado em dezenas de projectos de: arquitectura, urban- ismo e interiores públicos, em todo o país. Iniciou a sua actividade docente como professor convidado, regente da cadeira de Tecnologia da Arquitectura II e III, na Uni- versidade Moderna em Lisboa, de 1998 a 2001. Em 2004, ingressou na UBI, como docente das disciplinas de Projec- to do curso de arquitectura; presentemente rege a cadeira de Projecto V, sendo também director do respectivo curso. Os seus actuais interesses de investigação centram-se nas áreas do desenvolvimento sustentável, aplicadas ao ambi- ente humano construído. ACADÉMICOS NAUBI - Núcleo de Arquitectura da Universidade da Beira Interior N AUB N I ENSINO DA ARQUITECTURA no seio da Faculdade das Engenharias, pressupõe, obviamente, uma componente tecnológica elevada, o que de facto se verifica, sem que no entanto as Artes e Humanidades sejam de modo algum secundarizadas. A componente prática e experimental da arquitectura é pautada pelo rigor e exigência, recorrendo frequentemente à auto-aprendizagem através de seminários de investigação, acompanhamento de docentes–tutores, privilegiando uma formação específica nas áreas da construção sustentável, patologia da construção e conforto ambiental. Temos plena consciência que a a arquitectura de hoje já não consiste a apenas na integração projectual d dos conceitos puramente estéticos e e funcionais, mas muito para além disso, e engloba também todos os aspectos que p perseguem um desenvolvimento mais sustentável, ou seja: os aspectos sociais, económicos e ecológico/ambientais relacionados com os novos modos de pensar a arquitectura. Em 2008, os primeiros arquitectos formados na UBI irão enfrentar a vida profissional e, isso estamos certos, será o nosso contributo para um melhor ambiente humano construído. no Barros Gomes, nasceu em Lisboa, em 1944. em arquitectura na Ryerson University, em Canadá. É licenciado em arquitectura pela e Doutorado (PhD) pela Universy of Salford ter - U.K., com a tese “Sustainable Rehabilita- ators For Public Housing In Lisbon”. Exerce a fissional desde 1971, tendo produzido e colab- dezenas de projectos de: arquitectura, urban- eriores públicos, em todo o país. Iniciou a sua actividade docente como professor convidado, regente da cadeira de Tecnologia da Arquitectura II e III, na Uni- versidade Moderna em Lisboa, de 1998 a 2001. Em 2004, ingressou na UBI, como docente das disciplinas de Projec- to do curso de arquitectura; presentemente rege a cadeira de Projecto V, sendo também director do respectivo curso. Os seus actuais interesses de investigação centram-se nas áreas do desenvolvimento sustentável, aplicadas ao ambi- ente humano construído. SOBRE O Desde os anos 80 que o ensino da arquitectura em Portugal se tem disseminado através de inúmeras escolas espalhadas por todo o país e com um número sempre crescente de candidatos à profissão. Consequentemente, o ensino das ciências da arquitectura tem-se desenvolvido quase sempre de acordo com os padrões internacionais para tal estabelecidos. Na Universidade da Beira Interior, o curso de arquitectura teve o seu início em 2003 e evoluiu já para 5 anos de mestrado integrado, de acordo com o modelo de Bolonha. O facto de arquitectura estar na U.B.I. integrada José Ju Formou Toronto E.S.B.A – Manc tion In prática orado e ismo e E n p t e e p f a a p n p a ustin u-se o, C A.L. e chest ndica a pro em d inte AC A AC A AC AC A A A C C C C C C ÉMICOS O O DÉMICOS O O DÉMICOS O O DÉMICOS É D DÉMICOS DÉMICOS DÉMICOS quitectura da Universidade da Beira Interior a id NAUBI - Núcleo de Arq q A NAUBI Núcleo de Arquitectura da Universidade da Beira Interior Peter Marigold Ana Mendieta

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December 2007 issue of portuguese magazine ARQ./A featuring MVRDV and S'A arquitectos

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Page 1: MVRDV vs S'A arquitectos

arq./aA R Q U I T E C T U R A E A R T E €4,90 | Nº52 – Dezembro 2007

E c o l o g i a s A l t e r n a t i v a s

MVRDV • S’A arquitectos

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52

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VII

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NAUBI

SOBRE O ENSINO DA ARQUITECTURA Desde os anos 80 que o ensino

da arquitectura em Portugal se tem

disseminado através de inúmeras escolas

espalhadas por todo o país e com um

número sempre crescente de candidatos

à profissão. Consequentemente, o ensino

das ciências da arquitectura tem-se

desenvolvido quase sempre de acordo

com os padrões internacionais para tal

estabelecidos. Na Universidade da Beira

Interior, o curso de arquitectura teve o

seu início em 2003 e evoluiu já para 5

anos de mestrado integrado, de acordo

com o modelo de Bolonha. O facto de

arquitectura estar na U.B.I. integrada

no seio da Faculdade das Engenharias,

pressupõe, obviamente, uma componente

tecnológica elevada, o que de facto

se verifica, sem que no entanto as Artes

e Humanidades sejam de modo algum

secundarizadas. A componente prática

e experimental da arquitectura é pautada

pelo rigor e exigência, recorrendo

frequentemente à auto-aprendizagem

através de seminários de investigação,

acompanhamento de docentes–tutores,

privilegiando uma formação específica

nas áreas da construção sustentável,

patologia da construção e conforto

ambiental. Temos plena consciência que

a arquitectura de hoje já não consiste

apenas na integração projectual

dos conceitos puramente estéticos

e funcionais, mas muito para além disso,

engloba também todos os aspectos que

perseguem um desenvolvimento mais

sustentável, ou seja: os aspectos sociais,

económicos e ecológico/ambientais

relacionados com os novos modos

de pensar a arquitectura.

Em 2008, os primeiros arquitectos

formados na UBI irão enfrentar a vida

profissional e, isso estamos certos, será

o nosso contributo para um melhor

ambiente humano construído.

José Justino Barros Gomes, nasceu em Lisboa, em 1944.

Formou-se em arquitectura na Ryerson University, em

Toronto, Canadá. É licenciado em arquitectura pela

E.S.B.A.L. e Doutorado (PhD) pela Universy of Salford

– Manchester - U.K., com a tese “Sustainable Rehabilita-

tion Indicators For Public Housing In Lisbon”. Exerce a

prática profissional desde 1971, tendo produzido e colab-

orado em dezenas de projectos de: arquitectura, urban-

ismo e interiores públicos, em todo o país. Iniciou a sua

actividade docente como professor convidado, regente

da cadeira de Tecnologia da Arquitectura II e III, na Uni-

versidade Moderna em Lisboa, de 1998 a 2001. Em 2004,

ingressou na UBI, como docente das disciplinas de Projec-

to do curso de arquitectura; presentemente rege a cadeira

de Projecto V, sendo também director do respectivo curso.

Os seus actuais interesses de investigação centram-se nas

áreas do desenvolvimento sustentável, aplicadas ao ambi-

ente humano construído.

ACADÉMICOS

NAUBI - Núcleo de Arquitectura da Universidade da Beira Interior

NAUBNAUBN I

SOBRE O ENSINO DA ARQUITECTURA no seio da Faculdade das Engenharias,

pressupõe, obviamente, uma componente

tecnológica elevada, o que de facto

se verifica, sem que no entanto as Artes

e Humanidades sejam de modo algum

secundarizadas. A componente prática

e experimental da arquitectura é pautada

pelo rigor e exigência, recorrendo

frequentemente à auto-aprendizagem

através de seminários de investigação,

acompanhamento de docentes–tutores,

privilegiando uma formação específica

nas áreas da construção sustentável,

patologia da construção e conforto

ambiental. Temos plena consciência que

a arquitectura de hoje já não consiste a arquitectura de hoje já não consiste

apenas na integração projectual apenas na integração projectual

dos conceitos puramente estéticos dos conceitos puramente estéticos

e funcionais, mas muito para além disso, e funcionais, mas muito para além disso,

engloba também todos os aspectos que engloba também todos os aspectos que

perseguem um desenvolvimento mais perseguem um desenvolvimento mais

sustentável, ou seja: os aspectos sociais,

económicos e ecológico/ambientais

relacionados com os novos modos

de pensar a arquitectura.

Em 2008, os primeiros arquitectos

formados na UBI irão enfrentar a vida

profissional e, isso estamos certos, será

o nosso contributo para um melhor

ambiente humano construído.

José Justino Barros Gomes, nasceu em Lisboa, em 1944.

Formou-se em arquitectura na Ryerson University, em

Toronto, Canadá. É licenciado em arquitectura pela

E.S.B.A.L. e Doutorado (PhD) pela Universy of Salford

– Manchester - U.K., com a tese “Sustainable Rehabilita-

tion Indicators For Public Housing In Lisbon”. Exerce a

prática profissional desde 1971, tendo produzido e colab-

orado em dezenas de projectos de: arquitectura, urban-

ismo e interiores públicos, em todo o país. Iniciou a sua

actividade docente como professor convidado, regente

da cadeira de Tecnologia da Arquitectura II e III, na Uni-

versidade Moderna em Lisboa, de 1998 a 2001. Em 2004,

ingressou na UBI, como docente das disciplinas de Projec-

to do curso de arquitectura; presentemente rege a cadeira

de Projecto V, sendo também director do respectivo curso.

Os seus actuais interesses de investigação centram-se nas

áreas do desenvolvimento sustentável, aplicadas ao ambi-

ente humano construído.

SOBRE O ENSINO DA ARQUITECTURA Desde os anos 80 que o ensino

da arquitectura em Portugal se tem

disseminado através de inúmeras escolas

espalhadas por todo o país e com um

número sempre crescente de candidatos

à profissão. Consequentemente, o ensino

das ciências da arquitectura tem-se

desenvolvido quase sempre de acordo

com os padrões internacionais para tal

estabelecidos. Na Universidade da Beira

Interior, o curso de arquitectura teve o

seu início em 2003 e evoluiu já para 5

anos de mestrado integrado, de acordo

com o modelo de Bolonha. O facto de

arquitectura estar na U.B.I. integrada

José Justino Barros Gomes, nasceu em Lisboa, em 1944.

Formou-se em arquitectura na Ryerson University, em

Toronto, Canadá. É licenciado em arquitectura pela

E.S.B.A.L. e Doutorado (PhD) pela Universy of Salford

– Manchester - U.K., com a tese “Sustainable Rehabilita-

tion Indicators For Public Housing In Lisbon”. Exerce a

prática profissional desde 1971, tendo produzido e colab-

orado em dezenas de projectos de: arquitectura, urban-

ismo e interiores públicos, em todo o país. Iniciou a sua

SOBRE O ENSINO DA ARQUITECTURA no seio da Faculdade das Engenharias,

pressupõe, obviamente, uma componente

tecnológica elevada, o que de facto

e Humanidades sejam de modo algum

e experimental da arquitectura é pautada

pelo rigor e exigência, recorrendo

frequentemente à auto-aprendizagem

através de seminários de investigação,

acompanhamento de docentes–tutores,

privilegiando uma formação específica

nas áreas da construção sustentável,

patologia da construção e conforto

ambiental. Temos plena consciência que

José Justino Barros Gomes, nasceu em Lisboa, em 1944.

Formou-se em arquitectura na Ryerson University, em

Toronto, Canadá. É licenciado em arquitectura pela

E.S.B.A.L. e Doutorado (PhD) pela Universy of Salford

– Manchester - U.K., com a tese “Sustainable Rehabilita-

tion Indicators For Public Housing In Lisbon”. Exerce a

prática profissional desde 1971, tendo produzido e colab-

orado em dezenas de projectos de: arquitectura, urban-

ismo e interiores públicos, em todo o país. Iniciou a sua

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NAUBINúcleo de Arquitectura da Universidade da Beira Interior

Peter Marigold • Ana Mendieta

Page 2: MVRDV vs S'A arquitectos

LUÍS SANTIAGO BAPTISTA

MARGARIDA VENTOSA

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quite

ctur

a S’A arquitectos com a arq./a

«Somos uma profissão simultaneamente pragmática e utópica»

O atelier S’A arquitectos apresenta-nos uma abordagem arquitectónica pouco comum em Portugal. Na verdade, a deslocação precoce e posterior instalação do S’A em

Barcelona permitiu-lhe participar numa das plataformas mais dinâmicas da arquitectura contemporânea, expandindo irreversivelmente os seus horizontes disciplinares. Neste

sentido, a necessidade de compreensão da «grande escala», a exigência de uma perspectiva contemporânea de sustentabilidade, a convicção da possibilidade de

conjugação entre «utopia» e «pragmatismo» e a abordagem «estratégica» ao projecto arquitectónico são os fundamentos de uma prática empenhada e entusiasta que

procura responder efectivamente aos problemas da realidade concreta.

Page 3: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 023

arq./a: O vosso percurso está marcado pela presença em novas

plataformas de afirmação profissional. De facto, têm-se afirmado

através da participação em programas internacionais no âmbito da

arquitectura, o EUROPAN, a EXPERIMENTA DESIGN, o ARCHILAB, o

HIPERCATALUNYA, a BIENAL DE ARQUITECTURA DE VENEZA, etc.

Qual a importância dessas experiências?

Carlos Sant’Ana: O aspecto mais positivo de todas estas experiências

foi poder estar entre os melhores e aprender com eles. Não tenho

dúvidas que foram experiências bastante positivas, principalmente pelo

reconhecimento dado a quem não tem obra construída. A nossa presença

no Archilab em França foi uma das mais marcantes pois foi o primeiro

evento em que participámos e éramos os arquitectos mais novos que

estavam presentes. Foi uma exposição chamada 90 casas, 90 arquitectos

e estavam lá grandes nomes da arquitectura mundial como OMA, Ben

Van Berkel, MVRDV, Neil Denari, etc… O mais importante de tudo não

foi nem a exposição nem as apresentações, mas sim as pausas de café,

almoços e jantares durante os três dias que durava o evento. Foi mais

importante a parte informal do evento, pensada de modo a que houvesse

intercâmbio de ideias e contactos. Talvez isso tenha sido uma das grandes

lições que aprendi: o valor da Informalidade nas relações profissionais.

arq./a: Por outro lado, a vossa produção parece muito marcada

pelo contexto académico e disciplinar de Barcelona. Frequentaram o

mestrado na Universidade da Catalunha, colaboraram com Manuel

Gausa e com a ACTAR e foi aí que decidiram fundar o atelier. De que

forma se sentem marcados pela experiência continuada em Barcelona?

C.S’A: A existência de S’A é indissociável de Barcelona. A cidade é uma

grande escola e todo o tempo que passamos aqui serve para aprender.

A cidade funciona bem a todos os níveis e torna-se um exemplo só pelo

facto de viver aqui. Não somos influenciados pela tradicional “Escola de

Barcelona” mas estamos ideologicamente ligados a uma nova geração de

arquitectos, como Manuel Gausa ou Willy Muller, e quase todo o grupo

que fundou o Metápolis e posteriormente o Instituto de Arquitectura

Avanzada da Catalunya. É uma geração muito internacional e bastante

propositiva nos projectos, investigações e publicações, através de um

constante olhar critico para a realidade a uma escala simultaneamente

Global e Local. Trabalhei com Manuel Gausa durante bastantes anos

e segui de perto toda esta evolução, de sonho a realidade. Vi como o

apoio do Generalitat da Catalunya foi essencial para transformar uma

associação cultural num centro educativo reconhecido pela Universitat

Politècnica da Catalunya e com parcerias com MIT, bem como com uma

série de empresas catalãs que apostam na inovação como ferramenta de

diferenciação competitiva e por isso aparecem associadas ao Instituto de

Arquitectura. Foi um tomar de consciência em que não basta força de

vontade e qualidade de trabalho. Torna-se necessário investimento público

e privado, político e social para as coisas avançarem.

arq./a: Pedro Gadanho e Luís Tavares Pereira distinguiram duas

gerações na arquitectura portuguesa recente, a primeira X e a seguinte

Y, onde vos incluiu. Sentem essa diferença geracional?

C.S’A: No Metaflux podíamos ver essa diferença devido à escolha dos

nomes. A geração X era mais coerente e homogénea, enquanto a geração

Y era demasiado heterogénea para poder definir algum tipo de conjunto.

Todos éramos diferentes e talvez isso possa criar alguma unidade. Temos

cumplicidade de objectivos e necessidades mentais, mas a resposta dada

por cada um é totalmente personalizada e suficientemente diferente para

não conseguir definir uma geração. Talvez seja consequência do nosso

percurso mais internacional, com experiências académicas e colaborações

profissionais em diferentes situações e contextos. Não acho que se trate

de uma diferença geracional pelo simples facto de grande parte da minha

geração ainda se identificar com os valores tradicionais da arquitectura

contemporânea portuguesa. As figuras do Siza, Souto Moura e Carrilho

da Graça, entre outros, ainda têm muita influência no modo de pensar

e projectar em Portugal e são poucos os que tentam libertar-se dessa

carga. Se olharmos o panorama europeu, ou apenas o espanhol que nos

é mais próximo culturalmente, vemos que há uma nova geração com

oportunidades de mostrar a sua criatividade e capacidade de resposta,

tão diversa quanto o número de intervenientes. Em Portugal, salvo raras

excepções, apenas vemos que se destacam os que dão algum tipo de

continuidade às outras gerações levantando uma questão: sucessão ou

evolução?

arq./a: Uma dos fundamentos dessa mudança geracional seria uma

crescente hibridização de práticas criativas, integrando a arquitectura,

a arte, o design, etc. Está a vossa produção associada a essa abertura e

expansão dos limites tradicionais da disciplina da arquitectura?

C.S’A: A nossa visão sobre o que é ser arquitecto é bastante mais ampla

do que a prática tradicional do arquitecto. Na rotina diária do nosso

Page 4: MVRDV vs S'A arquitectos

024 arq./a Dezembro 2007

estúdio, procuramos visões alternativas e criativas do mundo, levando-

nos à procura de referenciais numa série de outros campos de actividade.

Particularmente não me interessam as Artes Plásticas ou Performativas.

Interessam-me outras coisas. O Design Gráfico e de Comunicação são um

exemplo, por serem trabalho criativo com um fim bastante prático, assim

como o Design Industrial. Para mim isto é o que deve ser a arquitectura.

Inovação e criatividade como solução a problemas reais. Quando temos

que dar respostas a um problema, chegamos sempre com alguns anos

de atraso. Não deveríamos concentrar a nossa atenção em antecipar

os problemas? Em trabalhar com projecções e cenários de futuro como

fazem todas as empresas? Só assim poderemos responder do modo certo,

na altura certa. Somos por definição uma profissão simultaneamente

pragmática e utópica. O conceito de Pragmatopia engloba estes extremos,

onde nos movemos enquanto estúdio. Pragmatismo enquanto processo,

Utopia enquanto objectivo. A procura de um mundo perfeito através

de respostas realistas. Utilizando uma metáfora frequentemente citada

por Ole Bouman, a imagem do arquitecto como surfista das ondas do

sistema moderno, entendendo e utilizando a força inconquistável do

mar para conseguir contornar os obstáculos e, em constante equilíbrio

dinâmico, manobrar com graciosidade e fluidez. A audácia de enfrentar

preconceitos e problemas levantados pelos vários intervenientes, correndo

maiores riscos e que permite a longo prazo ganhos mais significativos.

Por outro lado, somos influenciados por uma série de campos de

trabalho diversos como ecologia e sustentabilidade, bem como práticas

económicas e sociais aplicadas em países em desenvolvimento. Interessa-

me a problemática da produção de energia, de alteração de hábitos de

consumo, de reciclagem, auto-construção, etc. Estou atento a temas como

agricultura urbana, bio-combustíveis, novos materiais e construção ligeira.

Actualmente investigo sobre arquitectura em crise ou como dar resposta

a situações humanitárias de excepção, seja por catástrofes seja por crises

politicas ou climáticas. Sou curioso para tentar entender o mundo que

nos rodeia e tento incorporar essa informação no meu trabalho. Devíamos

deixar de ser autistas, de projectar olhando para o umbigo. Temos de

começar a procurar novos territórios de oportunidade para desenvolver o

nosso trabalho. Talvez esse seja o futuro da nossa profissão.

arq./a: O vosso percurso denota uma internacionalização da prática

do arquitecto. Não só respondem a contextos muito diferenciados

geograficamente, de Portugal a Angola, passando pelo Brasil e Noruega,

como o próprio atelier tem vagueado por Lisboa, Barcelona, ou mesmo

São Paulo. É essa internacionalização da vossa actividade mais uma

vontade de abertura ao mundo ou uma exigência da nossa condição

globalizada?

C.S’A: Não tenho claro se é vontade própria ou se nos foi imposto

pela evolução do nosso percurso. As oportunidades que surgiram e as

opções que tomamos levaram-nos a este ponto. Temos tantos projectos

feitos para Portugal como para fora e estamos continuamente à procura

de oportunidades em todos os sítios. Movemo-nos pelo interesse

que um trabalho possa ter e isso leva-nos a concursos, programas e

investigações extremamente interessantes. Por um lado, temos a nossa

formação académica, em Lisboa e em São Paulo. Por outro, temos o

nosso desenvolvimento enquanto profissionais. Eu já tenho mais anos

de vida profissional em Barcelona do que tive em Portugal e talvez por

isso seja bastante crítico face ao que se passa na “santa terrinha”. Já

passei por episódios no mínimo estranhos com entidades públicas e

privadas para agora conseguir assumir tudo isso com sentido de humor.

De qualquer modo, é o mesmo projectar para Portugal, para Barcelona

ou para qualquer parte do mundo. Mudam as condicionantes locais,

mudam regulamentos e legislação, mudam condições económicas mas

o processo mental necessário ao desenvolvimento de um projecto é

igual em qualquer parte do mundo. Não entendo muito bem a defesa de

uma imagem nacional na arquitectura. É extremamente redutor e nada

coerente com a nossa história. Sempre fomos um local de intercâmbio de

ideias e a nossa sociedade sempre foi resultado destas misturas. Como

podem ser críticos dos defensores do nacionalismo na politica e sociedade

e depois praticá-lo continuamente na arquitectura? Tento ser coerente e

assumir que estamos num mundo global, com todas as suas virtudes

e defeitos, e que o nosso trabalho passa por maximizar as virtudes e

controlar os defeitos do sistema em que estamos inseridos.

arq./a: Outra das características do vosso trabalho é a diversificação

das actividades do arquitecto. A vossa produção não se limita

ao projecto arquitectónico, incluindo a criação de plataformas

de investigação, a organização de exposições e publicações, o

desenvolvimento de espaços de ensaio e divulgação na imprensa

especializada, etc. Quais são no vosso entender as valências

profissionais do arquitecto na contemporaneidade?

C.S’A: Eu entendo a diversificação como a verdadeira essência da

Materialeza, Sede do CREA-ES, Vitória, Brasil, 2001

Page 5: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 025

profissão. Nem toda a arquitectura é construção e certamente nem toda a

construção é arquitectura, mesmo que assinada por colegas nossos. Não

tenho dúvidas que ser arquitecto passa por dar resposta a problemas que

envolvam a cidade num sentido lato. Isso não significa necessariamente

que tenhamos que construir. A profissão é abrangente, e como tal temos

que conseguir diversificar, ou pelo menos tentar olhar através de uma

grande angular para poder dar a resposta que esperam de nós enquanto

profissionais. Não somos apenas técnicos. Qualquer profissional dos mais

variados temas sabe mais que nós. Qualquer pessoa que trabalhe com

caixilhos desenha-os melhor que um arquitecto, pelo que não entendo a

obsessão que temos com isso. Somos gestores de pessoas e processos e

como tal devemo-nos mover em campos variados dos quais a construção

é apenas um deles. Interessa-me o aspecto cultural da arquitectura e

a sua divulgação. É curioso que um dos poucos cursos não ligados à

saúde abrangido por uma normativa europeia é o da arquitectura. Talvez

sejamos todos um pouco egocêntricos, mas para mim isso demonstra o

potencial impacto das nossas acções. Como se o facto de nos tentarem

controlar um pouco seja uma espécie de medicina preventiva. Talvez por

isso seja importante uma reflexão e divulgação do trabalho do arquitecto

como instrumento de educação, à semelhança do que fazemos com

hábitos alimentares e de higiene...

arq./a: Uma das características fundamentais da vossa produção

projectual é o trabalho num espectro de escalas muito alargado. Não

só os projectos variam da escala doméstica da Casa.Zip até à escala

territorial da Alseiba Momontal, como num mesmo projecto recorrem

com frequência a uma expansão metodológica da escala de trabalho,

como acontece por exemplo no Eco-Centro. É essa variação escalar, um

constante zoom in e zoom out, um modo instrumental de sustentar as

vossas opções projectuais?

C.S’A: Parte de uma curiosidade de tentar entender o mundo e de

uma necessidade de projecto. Estamos atentos à realidade em que nos

inserimos e somos críticos face ao que acontece diariamente. Isto leva

a um exercício de reconhecimento constante de situações que poderiam

ser melhoradas e, inevitavelmente, colocamo-nos a pensar em modos

de o fazer. Alguns desses problemas transformam-se mais tarde em

projectos ou em visualizações de possíveis soluções. É este olhar critico

que permite ou que necessita de constantes mudanças de escala para

entender o problema em toda a sua complexidade. Acredito que o

processo de projecto é algo semelhante, qualquer que seja o problema

em que trabalhamos. Detecção de necessidades, observação critica,

desenvolvimento de programa e proposta de projecto são de modo

genérico os passos dados para chegar a um pensamento ou conclusão.

Talvez devido ao modo de funcionamento não linear do ser humano

sinta necessidade de dar estes saltos de escala para melhor entender as

consequências de cada opção tomada. Também é um modo de gerar

informação necessária para a reflexão de projecto. Não é um modo de

sustentar as nossas opções, mas sim um processo de trabalho.

arq./a: Essa atenção à operatividade projectual das diferentes

escalas tem algo a ver com aquilo que os sociólogos, para definir

a simultaneidade do local e do global, do genérico e do específico,

chamaram de «Glocal»?

C.S’A: O conceito de Glocal aparece no nosso estúdio através de duas

formas. Uma no projecto e outra no processo de trabalho. Interessam-

nos estes saltos de escala como modo de entender o projecto como um

todo. Do território à casa e vice-versa. Só assim conseguimos manter uma

SDK Urban Skinergy, Lisboa, Portugal, 2001

Centro 3ª Idade, Oeiras, 2003

Page 6: MVRDV vs S'A arquitectos

026 arq./a Dezembro 2007

lógica do principio ao fim, respondendo com efectividade às diferentes

necessidades de cada escala de trabalho. É esta visão global, procurando

sempre uma imagem completa, que dá coerência ao projecto.

Por outro lado, somos um estúdio de visão global que actua localmente.

Temos referências de distintos pontos e tivemos colaborações de todo o

mundo. Sou português nascido em Angola, a minha sócia é brasileira.

Operamos em Lisboa e Barcelona fazendo projectos para lugares variados.

Tivemos colaboradores de todos os cantos do planeta: italianos, alemães,

franceses, suecos, espanhóis, argentinos, chilenos, mexicanos, coreanos,

japoneses, etc. Também portugueses. É inevitável que tenhamos

influências de todo o sitio...

arq./a: Defendem uma “aproximação estratégica” ao projecto

arquitectónico assente no “trabalhar com o programa”, “trabalhar com

acções em lugar de imagens”. É a vossa arquitectura essencialmente

programática?

C.S’A: Como dizia Tartakover, um mestre de xadrez polaco, táctica é

saber o que fazer quando algo se pode fazer. Estratégia é saber o que

fazer quando nada se pode fazer. E é entre estes dois extremos que

nos movemos enquanto profissionais. Temos que saber quando tomar

decisões tácticas, e quando definir estratégias. O programa é o ponto

de partida de qualquer trabalho de arquitectura mas não deve ser uma

base dogmática. Programa não é função, é articulação de funções,

uma avaliação de uma lista de necessidades. É algo que propomos

e que moldamos de acordo com cada cliente. Por isso devemos ser

críticos e criar margem de manobra para procurar soluções criativas.

Há uma expressão em Inglês, que infelizmente não tem tradução em

português que é Thinking Out of the Box. Não é nada mais do que

olhar os problemas a partir de outro prisma, numa procura de soluções

inovadoras. Sabemos que a sociedade portuguesa tem problemas com

o conceito de inovação e talvez por isso a produção arquitectónica em

Portugal, apesar de ser de alta qualidade, é conservadora e não criativa.

É mais fácil seguir do que guiar e não estão criadas as condições para

sermos lideres no que quer que seja. O mercado público não dá valor à

criatividade ou inovação e o mercado privado tem um campo de trabalho

apenas interessado no lucro imediato e fácil. As poucas excepções são

resultado de fazer as coisas certas pelos motivos errados, convidando

nomes seguros como marca ou selo de garantia, deixando uma série

de profissionais sem aceder às mesmas oportunidades. A questão de

trabalhar com o programa, ou com acções em lugar de imagens é uma

necessidade projectual. O mercado sofre mudanças demasiado rápidas

e a arquitectura é demasiado lenta a responder a isso. Cedric Price dizia

que enquanto arquitectos não somos eficazes para resolver problemas.

Estava cheio de razão, pois isso acontece porque o projecto arquitectónico

depende de demasiados factores para se concluir. O tempo entre a

percepção de uma necessidade e o objecto construído para a resolver é

demasiado longo. Continuamos a dar mais valor às soluções formalistas

em lugar de desenvolver processos de trabalho adaptáveis às mudanças

que inevitavelmente ocorrem. Este ponto de vista leva-nos à necessidade

de trabalhar com o programa como interpretação das necessidades de

um cliente, deixando margem para flexibilizar a resposta. Enquanto

arquitectos temos que ter a capacidade de antecipar o futuro, definindo

estratégias de projecto para construir com flexibilidade de adaptação. Só

assim conseguimos dar uma melhor resposta.

arq./a: Poder-se-ia dizer que essa centralidade do trabalho sobre o

programa torna a vossa produção mais processual do que objectual?

C.S’A: Sem dúvida. Interessa-me mais o processo de trabalho do que

o objecto final. Talvez por isso os nossos projectos tenham formalismos

tão distintos entre si. Trabalhamos com Topografias, com Topologias, com

Senior Circuits, Catalunha, Espanha, 2003

Page 7: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 027

Geografias e com um sem fim de distintas configurações formais. Não nos

interessa uma linha de investigação única ou um percurso formalmente

reconhecível, mas sim a eficácia de uma resposta face a um problema.

Não vejo o arquitecto como um artista, apenas preocupado com a estética

ou com valores formais, mas preocupa-me a ética de projecto, que passa

por conseguir dar uma resposta adequada, em meios e custos. Talvez por

isso esteja mais envolvido com o processo, por ser onde conseguimos

definir estratégias e tácticas. Demasiadas vezes o cliente está equivocado

e não consegue ver com clareza as suas necessidades e é a partir deste

pressuposto que trabalhamos. Entender objectivos, necessidades e

ambições em conjunto com o cliente e procurar as soluções que melhor

respondam a isso.

arq./a: A vossa arquitectura revela fortes preocupações ambientais e

ecológicas, não só nos programas que elegem, como no caso dos CMIA

ou mesmo do Europan, mas na configuração das propostas em si. Por

outro lado, ainda agora comissariaram em parceria a exposição A Casa

Da Vizinha Não É Tão Verde Quanto A Minha sobre esse tema. Qual o

vosso entendimento de uma arquitectura ecológica?

C.S’A: Esta exposição, organizada juntamente com Nadir Bonaccorso

e João Manuel Santa Rita tenta divulgar variadas aproximações ao tema

na prática arquitectónica nacional. A ecologia é a interacção entre os

vários actores e ecossistemas e o modo como se articulam e completam

entre si, pelo que a arquitectura é parte integrante num sentido amplo do

conceito. Toda a arquitectura terá necessariamente que ter preocupações

ecológicas, pois temos consciência do impacto negativo no ambiente

e devemos tentar fazer algum tipo de controle de danos. Mais do que

a nossa produção ser ecológica, acho que toda a arquitectura deve ter

preocupações ecológicas. As propostas que fazemos assentam nesse

pressuposto. Projectos como o Europan de Tromso trabalham no sentido

de entender as necessidades específicas de cada situação. Neste caso,

é primordial resolver o problema climático e de protecção de espaço

público, pois só assim poderemos ter palcos para o desenvolvimento

de relações sociais. Poderíamos ter resolvido o problema de modo

Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental, Bragança, 2003

Page 8: MVRDV vs S'A arquitectos

028 arq./a Dezembro 2007

extremamente artificial, mas um olhar atento permitiu-nos desenvolver um

conceito de protecção térmica a partir dos elementos agressivos. A acção

conjunta do frio e neve criam uma camada protectora extra feita de gelo,

necessária no Inverno. Nos silos automóveis, a resposta passa por criar

estruturas verdes onde praticamente não existem no centro de Lisboa,

criando assim pequenos pontos catalizadores de vida natural urbana. Para

nós, arquitectura ecológica é simplesmente a que tem a capacidade de

articular natureza e urbanidade.

arq./a: Numa perspectiva contemporânea de sustentabilidade, que tipo

de relação deve ser estabelecida entre ecologia e tecnologia?

C.S’A: Encontramos hoje duas posturas genéricas face à

sustentabilidade. Uma Retro-Eco, que defende um regresso às origens

com técnicas construtivas vernaculares e ambientes sociais neo-hippies.

Não é uma linha de investigação que me interesse pela incapacidade de

lidar com processos urbanos de grande escala. Por outro lado, há uma

componente Eco-Tech que tenta aprender e evoluir a partir da natureza

e processos naturais. Conceitos como Biomimética, smart materials,

consciência ecológica, economia de custos, etc, passam a estar presentes.

A solução é entender o potencial de cada lugar e situação e conseguir

aproveitar ao máximo as oportunidades sem ser necessário impor grandes

cargas tecnológicas que mais tarde se tornam inviáveis devido aos

enormes custos de manutenção. Estamos em países do sul da Europa

e não na Escandinávia ou Reino Unido. Temos que ter conhecimento

das nossas limitações culturais e assumir que conceitos de manutenção

preventiva não são eficazmente incorporados na nossa rotina. A

tecnologia, independentemente de ser avançada ou não, é uma mera

ferramenta para atingir um determinado objectivo. Na Noruega propus

trabalhar com gelo como isolamento térmico e, em Angola, com distintos

materiais reciclados de modo a aproveitar as diferenças nas inércias

térmicas para gerar uma casa mais confortável do que as que o ocidente

lhes tenta impingir. Em Lisboa, trabalhamos com fachadas vegetais e

em Espanha, com blocos cerâmicos vazados. Adaptamos mobiliário de

arquivo para aumentar o espaço útil de uma casa e aproveitamos o know-

how tecnológico dos trabalhadores da Lisnave e Cuf para desenvolver

clusters de produção energética na Alseiba Momontal. Cada caso concreto

leva à procura de soluções adequadas, numa perspectiva de maximização

de resultados.

arq./a: Defendem a necessidade de procura de sustentabilidade, mas

afastam-se da dimensão puramente técnica da questão, evidenciando a

sua vertente política e estratégica...

C.S’A: Temos que entender qual o papel do arquitecto enquanto

profissional antes de poder dar qualquer resposta. Não acho que o

arquitecto seja apenas um técnico. Somos essencialmente coordenadores

e gestores de pessoas, meios e tempos. Temos capacidade de articular

diferentes intervenientes e pontos de vista numa solução conjunta. Deste

prisma, somos mais políticos ou mediadores do que técnicos e como

tal temos que ter uma visão estratégica dos problemas. Onde queremos

chegar é mais importante pois só assim poderemos decidir como lá

chegar e procurar as soluções adequadas a isso. O papel da arquitectura

é indissociável da procura de uma sustentabilidade. Dados indicam que

50% da população mundial mora actualmente em centros urbanos e

as previsões apontam para 80% dentro de trinta anos. Arquitectura, no

ParQ Estacionamento Vertical, Lisboa, Portugal, 2003

Page 9: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 029

seu sentido amplo de escalas, proporciona o palco onde isto tudo se

passará, pelo que teremos que necessariamente ser membros activos na

solução dos possíveis problemas derivados da pressão urbana. Melhores

cidades implicam uma gestão consciente de meios, alocação de recursos

e visão estratégica e resultam num ecossistema onde se possa viver com

qualidade. Existem actualmente soluções técnicas para praticamente tudo,

mas o importante é a vontade politica e social de mudar. Alterações nos

padrões de consumo levam inevitavelmente a mudança nos padrões de

cidade, repensando distribuições territoriais e conceitos de mobilidade.

arq./a: As vossas propostas desenvolvem conceitos explorados por

tendências recentes bem demarcadas. Se a defesa da «densidade»

parece derivar das premissas da Escola Holandesa, de Koolhaas aos

MVRDV, a concepção paisagística, das «paisagens operativas» à

simbiose «natural-artificial», parece fortemente marcada pela ACTAR.

Foram estas influências estruturantes na vossa arquitectura?

C.S’A: Apesar de nunca ter estado na Holanda a trabalhar ou

estudar, identifico-me com uma série de atitudes profissionais que se

desenvolveram nos últimos anos. A postura profissional de Rem Koolhaas

e OMA é muito influente na arquitectura contemporânea, com viagens

constantes entre exercício da profissão, investigação prática e teórica e

divulgação. Toda uma série de arquitectos que passaram pelo seu estúdio,

por Harvard ou se moveram nesse meio profissional como MVRDV, NL

Architects, REX, Romero, BIG, JDS, Hosoya-Schaefer, etc. continuaram

com este processo como metodologia de trabalho. O que mais me

interessa não é o conceito de densidade mas sim a procura de novas

soluções através da hibridização de usos ou a utilização de situações

extremas numa nova combinação de elementos, e como fazê-lo de modo

user-friendly para o utilizador final. É aqui que entra a nova escola de

Barcelona. Não tenho dúvida que a minha grande influência é a ACTAR.

Fui um dos arquitectos que trabalhou mais de perto com Manuel Gausa,

desenvolvendo conceitos e aplicações estratégicas em variados contextos,

tanto a nível profissional como académico, pelo que é impossível evitar

que haja influências nos dois sentidos. Desde logo me identifiquei no

Pavilhão Multi-Usos, Lisboa, Portugal, 2004–06

Casa Portuguesa, Lisboa, Portugal, 2005

Page 10: MVRDV vs S'A arquitectos

030 arq./a Dezembro 2007

processo de trabalho da ACTAR, com liberdade para discutir, propor e agir

e foi assim que desenvolvi grande parte da minha carreira profissional,

paralelamente ao meu próprio estúdio.

arq./a: Os vossos renderings mostram sempre pessoas felizes e activas

experimentando os espaços arquitectónicos que propõem. Pode a

arquitectura revolucionar as sociedades?

C.S’A: Os arquitectos desenham palcos de acção social e, como tal,

os espaços arquitectónicos não são mais que cenários onde decorrem

acontecimentos da vida diária. As coisas têm a importância que lhes

damos e arquitectura é apenas isso. Um palco onde os actores diários

desempenham o seu papel. O conceito de pessoas felizes e activas talvez

seja espelho das minhas ambições enquanto arquitecto: criar espaços

que as pessoas possam usufruir. Devemos assumir o nosso papel de

profissionais com capacidade de antecipar e pensar o futuro e com as

nossas ideias e conceitos propor alternativas viáveis e optimistas. Não

sei se conseguimos revolucionar sociedades. Para mim essa palavra

tem um ponto negativo: o R que implica que uma revolução seja na

realidade uma evolução a partir do zero. Será necessário deitar fora tudo

o que foi conquistado até agora. Queremos de facto partir do zero? Fazer

Tabula Rasa? Não sei se nos interessa isso. Acho que a melhor opção é

conseguir aproveitar o que temos de bom e crescer a partir desse ponto.

Talvez então a arquitectura possa ajudar a “evolucionar” a sociedade.

arq./a: A concepção do arquitecto como coordenador central de

processos económicos, sociais, culturais não revela, tal como já tinha

acontecido com os arquitectos modernos do período heróico, uma

sobrevalorização da função do arquitecto nas sociedades?

C.S’A: Não acredito que esteja em causa a sobrevalorização do papel

do arquitecto numa sociedade que constantemente subvaloriza as

profissões criativas. É difícil uma repetição do movimento moderno e de

toda a sua pujança arquitectónica. Os tempos são outros, as condições

socio-económicas mudaram e a inocência face ao potencial tecnológico

enquanto panaceia para todos os problemas da sociedade acabou. Mon

Uncle não existe mais. Estamos numa era de cepticismo e isso leva-nos

a procurar novos tipos de resposta, novos campos de trabalho e um

envolvimento em novas problemáticas. Acredito que a grande virtude

da profissão é a capacidade de gerir e articular pessoas e meios para

atingir um objectivo concreto. Tradicionalmente foi aplicado à construção,

mas cada vez mais nos vemos no meio de processos complexos que

necessitam de respostas complexas. Estamos neste momento com

uma investigação sobre casas pré-fabricadas para Angola. Começámos

o projecto na ingenuidade de procurar uma solução técnica para o

problema, quando na realidade o problema não é relativo às casas mas

sim à implantação do processo. Existem centenas de projectos, protótipos,

técnicas, soluções mas o que falta resolver é o modo como conseguir o

financiamento e utilizá-lo. Após conversas com pessoas ligadas a ONGs

e alguma investigação sobre processos de trabalho em países em vias

de desenvolvimento, decidimos avançar com uma proposta que inclui o

desenho do processo de financiamento, procurando juntar entidades e

parceiros para cada um dos pontos chave. Assim acabámos por projectar

não só a casa, mas também o modo de fazer, articulando e modificando

conceitos de micro-crédito, investidores sociais, títulos de propriedade,

auto-construção e produção local. Não sei se é parte do trabalho do

arquitecto convencional, mas partindo do princípio de que o objectivo é

providenciar abrigo a uma comunidade, temos que pensar mais do que a

simples casa. Num processo normal de trabalho somos frequentemente

confrontamos com a necessidade de resolução de problemas que não

Museu Imaterial Café, Badajoz, 2006

Page 11: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 031

dizem directamente respeito ao exercício da profissão que assumimos

sem problema. Talvez deva passar a ser prática corrente um maior

envolvimento e compromisso com um objectivo.

arq./a: Defendendo ideias tão na ordem do dia, em volta da ecologia,

sustentabilidade, pragmatismo, etc, o que tem faltado para conseguirem

efectivamente construir?

C.S’A: Aplico estes conceitos há bastante tempo para me sentir à vontade

com eles, mas não acredito que estas ideias sejam realmente importantes

para a sociedade actual, pois continuam a ser vistas como obstáculos.

Ainda não ficou claro que uma coisa não é incompatível com a outra e

que desenvolvimento sustentável não implica redução no crescimento

económico. Não é por uma pessoa defender ideias que estão na ordem

do dia que significa que tenha mais trabalho. Terá como consequência o

facto de construirmos ou não? Não sei. Temos experiência de construção

- damos apoio a outros ateliers aqui em Barcelona - e uma atitude que

permite facilmente contornar qualquer obstáculo, mantendo como objectivo

a qualidade final do projecto. Acho que o problema geral passa pelo

processo de encomenda arquitectónica que é quase sempre obscuro.

Os motivos que levam à escolha de determinado arquitecto são pouco

transparentes, não democráticas e não dão valor à criatividade como mais

valia competitiva. Talvez por isso o trabalho vá sempre parar aos mesmos:

quase todos praticam dumping para ficarem com projectos e mordem-

se frequentemente. Talvez devêssemos criar um código Odontológico na

Ordem dos Arquitectos pois parece ser prática comum andar às dentadas

uns aos outros. Não sei o que falta, mas o que está a mais nisto tudo é

o conservadorismo português. Há uma enorme incoerência entre o que é

defendido pelo poder político e pelos investidores em matéria de inovação

e a dura realidade portuguesa. Primeiro é um equívoco considerar apenas

os ramos estritamente científicos como os únicos campos capazes de

inovar. Temos uma série de profissionais de muitas áreas com talento, com

reconhecimento profissional em todo o planeta e que não têm oportunidade

de aplicarem os seus conhecimentos em casa. Todos perguntam porque

há fuga de cérebros para o estrangeiro, mas ninguém questiona a fuga

de criativos. Temos arquitectos, músicos, actores, publicitários, artistas,

fotógrafos, designers, etc. que estão no estrangeiro a ter êxito e são

totalmente ignorados em Portugal. O que eu defendo vai além das posturas

meramente arquitectónicas: defendo mudanças nos hábitos e no respeito.

Pelos profissionais e pelo planeta que é o único que temos.

arq./a: Numa recente entrevista transpareceu um certo pessimismo

com a situação profissional em Portugal, em claro contraste com o

espírito optimista e interventivo em que trabalham em Barcelona.

Faltam condições para conseguirem exercer em Portugal?

C.S’A: Não sou pessimista em relação a Portugal. Sou um Optimista

Informado, e como tal torno-me céptico em relação a muita coisa. Não

acho que faltem condições para exercer em Portugal pois apesar de estar

em Barcelona, tenho dois projectos em Lisboa que devem entrar em obra

brevemente. O nosso regresso a Barcelona parte de uma perspectiva de

ampliar o mercado de trabalho e até agora tem sido recompensador. O

optimismo está sempre presente no meu trabalho, pelo que continuo

activo em Portugal. Muita gente ainda nem deu conta que regressei a

Espanha porque continuo ligado a publicações, projectos web, divulgação,

investigação, etc. Na realidade, do modo como está desenhada a nova

Europa, estou mais perto de Lisboa estando aqui do que estando no

Porto. As comunicações e deslocações são cada vez mais fáceis e baratas

devido à Internet e às Low Cost. Levo hora e meia daqui a Lisboa por

um preço razoavelmente baixo. Melhor do que apanhar o trânsito e as

portagens da A1, não?

Page 12: MVRDV vs S'A arquitectos

Projecto Urbano “Fata Morgana”, Europan 7, Tromso

S’A arquitectos

1. A miragem da FATA MORGANA apenas acontece quando existem

camadas alternadas de ar quente e frio próximo de superficies de solo

ou de água. Em lugar de atravessar estas camadas de modo directo,

a luz dobra em direcção à parte mais fria, ou seja, onde o ar é mais

denso. O resultado pode ser um complicado percurso dos raios de luz

e uma estranha imagem de um objecto distante. A FATA MORGANA é

na realidade uma sobreposição de várias imagens do mesmo objecto.

Normalmente, uma imagem está normal, em cima de duas imagens

invertidas que podem estar misturadas. As imagens podem sofrer rápidas

alterações à medida que as camadas de ar se movem ligeiramente no

sentido ascendente em relação ao observador. FATA MORGANA é uma

ilusão óptica que quisemos representar: a importância das condições

climáticas, as diferentes vistas de um objecto, o contraste entre Horizontal

e Vertical, etc.

2. Queremos natureza, mas aqui a natureza é violenta. A presença

humana é apenas tolerada e cada sinal da sua existência é maltratado.

Gelo e Neve são o mais comum neste lugar. Porque não usá-los? Como

um Creme de Mãos Neutrogena, propomos uma nova escala urbana,

FÓRMULA NORUEGUESA para proteger a natureza e as actividades

humanas. Construir uma pele de Gelo e colocar a Natureza e as Pessoas lá

dentro, protegidos. Se não os conseguimos vencer, juntamo-nos a eles…

3. A falta de espaço público em Tromso é resultado das suas condições

climáticas. Como podemos contornar este problema? Como podemos criar

um espaço público protegido onde as pessoas possam passear, correr,

andar de bicicleta, ir ás compras, ter uma vida normal nestas condições

climáticas extremas? A proposta passa por cobrir as ruas para ter um

espaço protegido. Fechado no inverno e aberto no verão. Deste modo,

as actividade quotidianas podem acontecer diariamente, sem importar o

tempo que faz lá fora. Cafés, Igreja, Escolas, Centros comerciais, Sauna,

Marina, até uma nova conexão maritima para o centro da cidade.

4. As unidades de habitação formam uma estratégia simples mas eficaz.

Maximizar a exposição a sul, protegendo o lado norte dos fortes e frios

ventos polares com umas peças longitudinais. Estas casas desenvolvem-

se de modo linear, como braços que protegem o espaço público. Uma

sequência formada por Acessos Verticais : Conexão Pública Horizontal:

Conexão Privada Horizontal : Serviços Técnicos : Vivência Interior :

vivência Exterior permiteuma variedade de tipologias habitacionais que

possam acomodar diferentes tipos de usuários. A pele exterior, feita de

Gelo, é resultado da acumulação de neve durante o Inverno e proporciona

o conforto térmico extra que as pessoas necessitam. embora pareça

paradoxal, Gelo é um dos melhores isolamentos térmicos que existe, e

aqui em Tromso está disponivel todo o ano, gratuitamente. Porque não o

podemos então utilizar como mateiral de construção? Quanto mais frio faz

lá fora, mais quentes estamos aqui dentro…

ArquitecturaCarlos Sant’AnaIgnasi Perez-ArnalEquipaIsabella Rusconi, Mika Iitomi, Sérgio Pinto, Kaina Celedon, Roberto TerrazasTipoConcurso. Europan 7. Menção EspecialAno 2003 Esquema conceptual

042 arq./a Dezembro 2007

PROJ

ECTO

SNoruega

Page 13: MVRDV vs S'A arquitectos

Organização funcional. Verão - InvernoEsquema compositivo

Dezembro 2007 arq./a 043

Dominio Público

Malha Estrutural Envolvente

Blocos de Habitação em Altura

Nevadas Frequentes

Aproveitamento da Neve como Isolamento Térmico

VERÃO temperatura uniforme

INVERNO temperatura controlada

VERÃO estrutura aberta. ventilação natural

INVERNO estrutura fechada. protecção térmica.VERÃO temperatura uniforme

INVERNO temperatura controlada

VERÃO estrutura aberta. ventilação natural

INVERNO estrutura fechada. protecção térmica.

VERÃO temperatura uniforme

INVERNO temperatura controlada

VERÃO estrutura aberta. ventilação natural

INVERNO estrutura fechada. protecção térmica.

VERÃO temperatura uniforme

INVERNO temperatura controlada

VERÃO estrutura aberta. ventilação natural

INVERNO estrutura fechada. protecção térmica.

Esquema comportamento térmico

Page 14: MVRDV vs S'A arquitectos

Cortes gerais

Infrastructure VehicleBike & Pedestrian

Planta infraestrutura Planta habitação Planta paisagismo

044 arq./a Dezembro 2007

Page 15: MVRDV vs S'A arquitectos

Plano tipologias

Dezembro 2007 arq./a 045

Page 16: MVRDV vs S'A arquitectos

034 arq./a Dezembro 2007

Parque de Estacionamento Automático, Portas do Sol, Lisboa

S’A arquitectos

ArquitecturaCarlos Sant’Ana e Luis Pedra Silva com Isabella Rusconi, Vanda Silva, Nuno Cerqueira, Inês Henriques, Joana Corticinho, Rafael Fortes, Gonçalo Sant’Ana, Ricardo SousaMaqueteRicardo SousaClienteEMEL - Empresa Municipal de Estacionamento de LisboaConsultoresEstruturas Grese - Ricardo Sampaio, Eng.Estacionamento Automático Autoparksysteme - Miguel Louro, Eng.Electricidade Engenheiros Associados - João Cristovão, Eng.Segurança Engenheiros Associados - João Caxaria, Eng.Climatização, Ventilação Engenheiros Associados - João Caramelo, Eng.Águas, Esgotos, Incendios Ductos - Vieira de Sampaio, Eng.Fachada Vegetal Irrigarden - António João Matias, Eng.Data2003-2005

Construir no centro histórico de qualquer cidade é dificil. Quando

falamos de Lisboa e de uma das vistas mais visitadas, estamos a falar

de um projecto perigoso. Foi-nos pedido para desenhar um parque de

estacionamento para 150 automóveis, e ao mesmo tempo respeitar a

envolvente histórica. O lugar é uma praça pública com carácter de rua

devido ao excesso de objectos e de informação. Propomos um novo

edificio de estacionamento com uma praça pública na cobertura e uma

vista privilegiada parra a cidade e para o rio. Duplicamos o espaço

público existente, limpando e criando um palco para a actividades do

bairro, sejam festas populares, eventos desportivos ou apenas o dia a

dia. A fachada verde recupera uma tradição antiga de decorar as janelas

e varandas com flores e plantas, criando uma máquina sustentável de

arrefecimento da envolvente.

PROJ

ECTO

SPortugal

Page 17: MVRDV vs S'A arquitectos

Localização Implantação

Dezembro 2007 arq./a 035

Page 18: MVRDV vs S'A arquitectos

Corte longitudinal Planta cota 53.50 m

036 arq./a Dezembro 2007

Page 19: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 037

Planta cota 49.50 m Planta cota 46.50 m

Page 20: MVRDV vs S'A arquitectos

046 arq./a Dezembro 2007

Casa Angola

S’A arquitectos

ArquitecturaCarlos Sant’AnaIsabella RusconiInês Melo Junseung WooLocalAngolaTipoConsulta. Investigação para ONGAno2004

Um clima quente e pouca capacidade financeira. Foi este o desafio

colocado para pensar uma casa de baixo custo e de produção industrial

para Angola. Um dos pontos de partida é o custo controlado de €50 por

metro quadrado. Uma das necessidades é controlar o conforto ambiental

na casa, até hoje pouco importante neste pais. Casa Angola é um sistema

compositivo de crescimento por adição dependendo das condições

económicas e sociais dos habitantes. A construção da casa é tradicional.

A inovação é uma pele exterior feita de materiais baratos da região como

Bamboo, Madeira, Palha ou outros. A inércia térmica desta camada

protectora é menor que a do edifício, permitindo controlar as trocas de

calor de dia e noite. A caixa de ar sobre-dimensionada e ventilada permite

o arrefecimento da casa. Missão cumprida.

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na casa, até hoje pouco importante neste pais. Casa Angola é um sistema

compositivo de crescimento por adição dependendo das condições

económicas e sociais dos habitantes. A construção da casa é tradicional.

A inovação é uma pele exterior feita de materiais baratos da região como

Bamboo, Madeira, Palha ou outros. A inércia térmica desta camada

protectora é menor que a do edifício, permitindo controlar as trocas de

calor de dia e noite. A caixa de ar sobre-dimensionada e ventilada permite

o arrefecimento da casa. Missão cumprida.

PROJ

ECTO

SAngola

Page 21: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 047

Esquema evolutivo

casa 1 pessoacasa 2 pessoas

casa 3 pessoascasa 4 pessoas

casa 1 pessoacasa 2 pessoas

casa 3 pessoascasa 4 pessoas

Page 22: MVRDV vs S'A arquitectos

038 arq./a Dezembro 2007

Centro de Eco-Turismo, S. Miguel, Açores

S’A arquitectos

UMA ESTRATÉGIA DE ECO-TURISMO PARA S.MIGUEL, AÇORES

Durante décadas, milhares de açorianos abandonaram a sua terra em

busca de um local onde conseguir construir uma vida melhor. Uma

vocação de ser terra de origem de emigração. Apesar de deslocados

espacialmente, a paixão pelo verde das ilhas e pelo azul do mar nunca os

abandonou. Com a viragem do século surge uma importante mudança.

Turismo Activo. A sociedade contemporânea ganhou nos últimos anos

uma consciência social e ecológica bastante ampla. O reconhecimento

das boas práticas e da preservação de zonas verdes tem como

consequência o surgimento de um novo tipo de turismo. Ultrapassada

a época das 12-horas-por-dia-de-barriga-para-cima-e-pé-descalço, cujo

único objectivo era estar passivamente num lugar onde houvesse sol e

praia a custo reduzido, temos agora uma nova geração de turistas activos.

Pessoas que viajam com vontade de conhecer outras culturas e partilhar

novas experiências. Viajantes que, cansados de ver o mundo pelos olhos

da “caixa-mágica”, decidem viver na primeira pessoa as emoções de ser

um turista do século XXI.

Analisando as conexões aéreas de S.Miguel, descobrimos relações com

os grandes centros urbanos da sociedade ocidental. Entre voos directos

e indirectos regulares, a cidade de Ponta Delgada tem um potencial

de visitantes -moradores nestas áreas urbanas- de 77 milhões de pessoas.

É este o nosso alvo. Pessoas urbanas, com poder de compra e vontade

de estarem num lugar para conhecer e desfrutar de um troca constante.

Estado da situação. S.Miguel é uma ilha com uma paisagem única.

A relação entre a natureza vulcânica e a paisagem transformada pelo

homem durante o século XIX resulta numa combinação idílica, numa

visão de sonho para um mundo melhor, onde a harmonia entre o urbano

e o natural coexistem na perfeição. Uma ilha onde o entendimento do

ambiente natural permite uma estratégia de ocupação pela integração. É a

maior riqueza da ilha neste momento, e deve ser preservada a todo custo.

Para tal, devemos ter atenção e restringir o crescimento urbano, pois se

for pensado de modo deficiente poderá colocar em causa a existência de

toda a paisagem e consequentemente colocar em causa o próprio turismo

que a procura.

ArquitecturaS’A arquitectos: Carlos Sant’Ana, Isabella Rusconi, Inês Melo, Andreia Cunsolo Ano2005

Terra de emigração. Ponto de Partida…

…ponto de chegada. Terra de turismo de qualidade

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PROJ

ECTO

SPortugal

Page 23: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 039

Estudo analítico. São Miguel, Açores Plano eco-centros

Page 24: MVRDV vs S'A arquitectos

040 arq./a Dezembro 2007

Estratégia social ambiental e ecológia. É assim necessário actuar em três

frentes distintas, mas complementares. Numa materialização dos três pilares da

Sustentabilidade – Ambiente, Economia, Sociedade – procuramos ampliar

e re-direccionar as potencialidades do lugar. Ambiente porque cada peça

incorpora um Centro de Interpretação, onde podemos educar e divulgar as

características ambientais da ilha e da zona. Economia porque criamos postos

de trabalho para as pessoas locais, de modo a dinamizar e criar condições de

manutenção e sustentação económica da região. Sociedade porque criamos

locais de estadia onde os visitantes globais possam ficar e descansar, dedicando

algum tempo a trocar ideias e conhecer a rotina da cidade local.

Ribeira grande. A localização da Ribeira Grande é aqui uma grande vantagem.

Em resposta á capacidade centralizadora de Ponta Delgada – não apenas na

ilha mas em todo o arquipélago - temos a cidade de Ribeira Grande. Localizada

na Costa Norte de S.Miguel está bem conectada com a capital e com o

aeroporto. Mas a sua grande vantagem é poder servir de ponto de partida

e chegada de uma Rede de Percursos Naturais. Trilhas de Pequenas Rotas,

passíveis de uso a pé, bicicleta ou cavalo. É aqui que conseguimos conectar

com naturalidade o norte com o sul, o este e nordeste com o oeste, e assim

servir de grande interface de turismo e educação ecológica.

Centro de eco-turismo. Esta rede é formada por seis centros de Eco-Turismo.

Seis pontos de partida e chegada que permitem pensar tacticamente em

circuitos de sete dias – seis noites na ilha de S.Miguel, visitando os locais

de maior interesse da ilha e ao mesmo tempo descentralizar a actividade

económica e turística na ilha. Assim, cada localização está pensada para poder

permitir o conhecimento da realidade. Seis edifícios em estrela. Uma forma

que serve de re-distribuidora de fluxos turísticos. Uma forma elegante, elevada

do solo, com pouca pegada ecológica e revestida a Basalto negro, como toda

a pedra que vemos ao caminhar pela ilha. Uma arquitectura que serve de

educador ambiental, interface económico e condensador social.

Planta piso 1

A

A

Corte longitudinal

Page 25: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 041

A

A

Planta piso térreo

Page 26: MVRDV vs S'A arquitectos

048 arq./a Dezembro 2007

Protótipo Habitacional “Luxo é Lixo”, Tektónica 06

S’A arquitectos

ArquitecturaS’A arquitectos: Carlos Sant’Ana, Isabella Rusconi, Inês Melo, Miguel Alves, Flor ne GrimalLocalSem LocalAno2006

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AGRICULTUR

A B

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GICA

TORRE EÓLICA8m2 : 7500€

SOLAR TÉRMICA4m2 : 7500€

LIVING MACHINE12m2 : 5000€

FOTOVOLTAICA8m2 : 5000€

DEPURAÇÃO BIOPOOL 16m2 : 4000€

MADEIRA4m2 : 900€

RELVA12m2 : 500€

VIDRO8m2 : 900€

ÓCIO BIOPOOL 8m2 : 3000€

VIDRO8m2 : 900€

VIDRO8m2 : 900€

GRAVILHA4m2 : 750€

GRAVILHA4m2 : 750€

GRAVILHA4m2 : 750€

Luxo do Lat. luxu s. m., ostentação ou magnificência; ornamento;

decoração faustosa; viço; vigor; esplendor; capricho; extravagância;

Lixo do Lat. lixiu ou lixu s. m., todo o tipo de material desnecessário não

aproveitável ou indesejado, originado no processo de produção e consumo

de produtos úteis; tudo o que se retira de casa ou de qualquer lugar para

o tornar limpo; sobras; detritos; cisco; sujidade; imundície; fig., coisas

inúteis.

A proposta irá utilizar apenas energia gerada a partir de fontes renováveis

geradas on site, sendo uma unidade com Zero Emissões de dióxido de

carbono para a atmosfera e com Zero Energia, não consumindo mais

energia do que a que consegue produzir, provando que se pode construir

sem degradar o ambiente. A proposta é um sistema de módulos de

permanência temporal. Composto por um variado catálogo de opções

espaciais - Made in Portugal, esta casa é adaptável e customizável às

diferentes necessidades de cada local - espaço, exposição climatérica

e solar- com a capacidade de se tornar auto-suficiente em termos

energéticos e alimentares, sendo totalmente independente das flutuações

imprevisíveis do mercado e do clima. Não será este o último grande Luxo

a que podemos aspirar.

PROJ

ECTO

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Dezembro 2007 arq./a 049

Page 28: MVRDV vs S'A arquitectos

050 arq./a Dezembro 2007

Projecto de Investigação “Alseiba Momontal”, Lisboa

S’A arquitectos

Cenárío de Futuro. Proteger o ambiente não implica reduzir o crescimento

económico. Pensar sustentavelmente é hoje sinónimo de um aumento no

leque de oportunidades e a ampliação do potencial económico e social de

cada região. No entanto, temos claro que o nosso modelo de crescimento

está assente numa economia de consumo sem qualquer tipo de critério

ou de controle. Como fazer então a transição para um ecossistema

socialmente mais justo e para um estilo de vida mais sustentável? Várias

respostas podem surgir, mas é urgente direccionar a nossa atenção para

os centros urbanos. De acordo com recentes previsões, cerca de 80%

da população global será urbana num futuro próximo, e dentro deste

contexto, a cidade, outrora vista como a pior das possibilidades terá que

ser obrigatoriamente a solução. É aqui que conseguimos encontrar e

materializar a diversidade de recursos necessários a uma gestão eficiente

da sociedade urbanizada. Qual é então a nossa capacidade de mudar, de

proporcionar à cidade a nova infra-estrutura e serviços necessários para

crescer de modo sustentável?

Torna-se urgente redesenhar este modelo através de uma mudança de

paradigma de crescimento por um paradigma de sustentabilidade.

É altura de perguntar que modelo de desenvolvimento queremos e

à conta de que recursos. É desde logo necessário separar o conceito

de crescimento económico de consumo material. A nossa inesgotável

necessidade de consumo já ultrapassou a capacidade própria de

regeneração. A nossa dependência da importação de bens de consumo

-comida, automóveis, roupa, tecnologia, etc.- e de fontes energéticas

-petróleo, gás natural, electricidade, etc.- têm como consequência a

canibalização de recursos externos.

Arquitectura e InvestigaçãoO Grande Estuário 2005-2006: S’A arquitectos + Aula do Risco (Carlos Sant’Ana e António Cerveria Pinto com Cândida Vasconcelos, Daniela Lopes, Inês Melo, Leonor Faulenbach, Mónica Garcia, Nuno Almeida, Pedro Sol, Ricardo Sousa, Victor Correia).Alseiba Momontal 2007: S’A arquitectos (Carlos Sant’Ana)TipoInvestigação. EstratégiaData2005-2007

Começo por apresentar ALSEIBA MOMONTAL. O nome pode parecer

estranho, mas o conceito é simples. Almada (AL), Seixal (SEI), Barreiro

(BA), Moita (MO), Montijo (MONT) e Alcochete (AL) são cidades

periféricas em relação a Lisboa, no entanto a sinergia AL + SEI + BA +

MO + MONT + AL permite repensar uma nova urbanidade, assumindo

Lisboa com frontalidade. A necessidade de reconquistar uma identidade

perdida obriga-nos a repensar as estratégias municipais da margem sul.

Nenhuma destas cidades têm a capacidade -no presente ou futuro- de

competir com Lisboa. No entanto, podemos assumir que podem ser

cidades complementares -não apenas dormitórios. Esta nova cidade, ou

à falta de melhor expressão, Multi-cidade, é composta pela articulação

das cidades intermédias em rede como resposta ao modelo tradicional

de grande cidade, onde o conceito de Cooperação passa a substituir o

conceito de Competição.

Uma das estratégias possiveis passa por entender esta Multi-cidade como

um pautado sequencial de cheios e vazios, como uma partitura habitada.

Não se trata de localizar especificamente cada actividade ou ocupação

-meramente posicional como nas utopias urbanas do Movimento

Moderno- mas criar um palco de acontecimentos dinâmicos, de

entendimento imprevisível e descontínuo. Esta matriz de acontecimentos

-simultaneamente sequencial e em rede- transforma a imagem tradicional

de cidade num grande parque de características territoriais, onde várias

dicotomias complementares -cheio/vazio, local/global, natural/artificial,

etc.- aparecem como realidades compostas que extravasam as suas

próprias definições. Um espaço urbano onde as manchas já consolidadas

se completam com o aparecimento destes Parques Conectores

PROJ

ECTO

SPortugal

Page 29: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 051

Page 30: MVRDV vs S'A arquitectos

052 arq./a Dezembro 2007

Intermédios, entendidos como áreas de oportunidade onde se podem

desenvolver programas livres de preconceitos e prejuízos, obsoletos ou

ainda por inventar.

Para tornar este objectivo numa realidade tangível, partimos de três linhas

de actuação que nos ajudam a definir uma estratégia para ALSEIBA

MOMONTAL.

Expansão do Centro. Apesar da previsão de população portuguesa se

manter estável para 2030 -cerca 11 milhões de habitantes- estima-se que

a Grande Lisboa duplique o seu número actual, passando a ser cerca de

metade da população nacional. O centro de Lisboa não têm a capacidade

de lidar e organizar uma área metropolitana com 5 milhões de habitantes

em 2030 sem entrar em colapso.

É urgente assumir uma descentralização e repensar a expansão do centro

como único modo de reconverter a suburbanização existente, deixando

de lado os espaços urbanos mono-funcionais e movimentos pendulares

diários, reforçando as centralidades locais de modo a permitir que uma

nova estrutura policêntrica responda com qualidade às necessidades da

região.

Esta expansão do centro em direcção a sul vai dar uma nova vitalidade às

cidades intermédias desta margem. Este projecto implica a criação de dois

novos centros, descentralizando a hierarquia mono-cêntrica existente em

Lisboa, estabelecendo um triângulo que conforma uma nova relação de

forças: Terreiro do Paço ou a velha cidade e o reforço de Almada e Barreiro

como novas centralidades da Multi-cidade.

Mobilidade. A menor escala assumida é a Mobilidade Pessoal (1 ou

2 pessoas). As pequenas deslocações que fazem parte do nosso dia a

dia enquadram-se nesta categoria. Trata-se de uma escala considerada

walkable distance e que varia de acordo com as condicionantes locais

-topografia, morfologia, etc.- e pessoais -idade, condição física, tempo

disponível, e cuja solução mais imediata é a possibilidade de andar a pé,

pensando e desenhando a cidade para potenciar uma vida de bairro, à

semelhança dos centros históricos das cidades europeias.

Temos que igualmente considerar as necessidades diárias das famílias

da Multi-cidade pensando num esquema de Mobilidade Familiar (2

a 5 pessoas). A existência e uso do automóvel não é negada, apenas

sendo recolocada no lugar devido. É absurda a dependência da

sociedade actual em relação ao veiculo, utilizado indiscriminadamente

para pequenas viagens -até à padaria da esquina- como para grandes

viagens -deslocações de férias atravessando o pais. Torna-se prioritário

um redesenho urgente deste meio de transporte para ser um meio limpo

e de emissões zero, optando por tecnologias eléctricas, híbridas ou

bio-combustíveis e pela criação de redes de partilha automóvel como já

existem em várias cidades europeias.

A Mobilidade Colectiva (+5 pessoas) é a que permite a conexão dos

Esquemas analíticos de circulação

Page 31: MVRDV vs S'A arquitectos

Dezembro 2007 arq./a 053

vários centros da Multi-cidade com Lisboa e vice-versa, onde a rapidez

de transporte e a sua grande capacidade permite a inter-conexão em

grande escala. Este transporte de carácter totalmente público -autocarros,

eléctrico, metro, barco, maglev, etc.- são os vectores chave para um

Transit Oriented Development, potenciando um desenho urbano de uso

misto e de protecção ambiental, procurando alternativas credíveis para

uma mobilidade sustentável.

Energia. Duas opções opostas mas complementares surgem no

panorama. Por um lado, o aparecimento de grandes grupos produtores

de energia -nacionais e estrangeiros- garantem o fornecimento de grande

escala à região e ao país. Não é de estranhar a implantação de consórcios

alemães para explorarem a maior quinta de energia solar da Europa em

pleno Alentejo ou a empresa escocesa que está a construir a primeira

exploração comercial de energia das ondas ao largo da Póvoa de Varzim.

Por outro lado, a micro escala é cada vez mais frequente, surgindo

sistemas off grid de geração, impulsionados por indivíduos que optam

por não estar dependentes das grandes companhias, com o bónus de

garantirem a venda do excesso de produção à rede pública e privada,

democratizando e diversificando ainda mais o mercado energético.

As possibilidades neste campo passam pela tradição industrial e

capacidade de reconversão da região, em paralelo com o potencial

gerador de energias limpas. A cultura de trabalho e conhecimento técnico

acumulado nas grandes industrias -metalúrgica, naval e química- são

factores potenciadores de uma mudança de estratégia para a implantação

de um cluster industrial de elementos para produção energética -fábricas

de turbinas, rotores, geradores, painéis, pás de hélice, circuitos eléctricos,

bolachas de silício, etc.- com o devido impacto na economia local através

da criação de postos de trabalho -bastante superior às fontes de energia

fóssil- numa enfraquecida industria produtiva. O objectivo é passar a

liderar o futuro energético através da reconversão de unidades industriais

desactivadas ou em crise, permitindo que os produtores adoptem novas

tecnologias e métodos, iniciando assim uma fase de próspero impacto na

economia local, regional, nacional e internacional.

Conclusão. A nova Multi-cidade resulta da sinergia entre várias cidades

médias, pertencentes a uma realidade diferenciada, uma multiplicação

de lugares e de acontecimentos onde a coexistência de diversos modelos

urbanos -cada um com as suas qualidades e defeitos - permite a

complementaridade de programas e escalas.

Um sistema complexo de relações entre observadores e usuários, entre

actividade e ócio. Uma síntese de situações evolutivas com a capacidade

de se moldarem às necessidades do dia a dia.

Uma acção crítica multi-camada de acontecimentos, informações,

movimentos, interacções. Uma integração estratégica onde nada se perde

mas tudo se transforma…

[SmF3] sinergiasDiagrama energético