musical de rogério viana · 2007. 3. 2. · para conquistar mocinha, elias pede ajuda para treinar...

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TEATRO Musical de Rogério Viana Curitiba Paraná Fevereiro de 2005/Fevereiro de 2007 Arco, tarco ou verva? Paixão e alegria de um barbeiro caipira

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TEATRO

Musical de

Rogério Viana

Curitiba ParanáFevereiro de 2005/Fevereiro de 2007

Arco, tarco ou verva?

Paixão e alegria de um barbeiro caipira

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DIREITOS RESERVADOS

ROGÉRIO Otávio Basílio VIANA

Rua Gal. Aristides Athayde Junior, 1520 apto. 601Bigorrilho Curitiba PR CEP 80710-520

Fones 41 8803 7626 3339 0534

PROTOCOLADO NA BIBLIOTECA NACIONAL - Rio de Janeiro - RJ

214/07- PR28/02/2007

RG 13.376.801 SSPSPCPF 033.859229-68

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Para

Vera Maria Carvalho

Marcela Viana Franzol

Cecílio Elias Neto

Aos meus pais Elzeário Santos Viana e Yolanda Basílio Viana, minhas irmãs Vera Lúcia, Ana Maria, Izabel Christina e Gisela Maura; meus

filhos Séfora, Juliana e Rafael Viana.

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Salão de Barbeiro antigo

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Personagens

Veneno, palhaço-caipira e cantor

Elias, barbeiro, poeta e cantor

Dorfinho, locutor do arto-falante, violonista e cantor

Cróvis, comerciante, agiota e cantor

Zurmira/Dalila, donzela, carola, fuxiquera e cantora.

Cornélio Pires, contador de causos, poeta e cantor

Mocinha, donzela e cantora

Inezinha, donzela e cantora

Zé do Fole, sanfoneiro e cantor

Curió, violeiro e cantor

Passarinho, violonista e cantor

Músicos: bateria, percussão, baixo, violão (Passarinho), viola (Curió), flauta (cantora) e acordeon (Zé do Fole), duas cantoras no

coral

“Quem canta, seus males espanta”

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SinopseNuma pequena vila perdida no interior brasileiro, vive um barbeiro de nome Elias. Ele é apaixonado por Mocinha, uma das donzelas do lugar. Seu rival é Cróvis o dono da venda e agiota. Elias tem como aliados o amigo Dorfinho, dono do serviço de alto-falante do lugar. A paixão de Dorfinho é Inezinha, outra donzela, amiga de Mocinha.

Cróvis tem uma aliada, Zurmira, uma solteirona que quer casar com um homem de posses.

Em pouco tempo a cidade vai organizar sua tradicional festa junina. Nesta ocasião costumam se apresentar na pracinha vários artistas, alguns convidados e as pessoas do lugar. Nestas apresentações há cantoria, declamações de poesias, piadas e causos engraçados ou tristes são contados.

Para conquistar Mocinha, Elias pede ajuda para treinar algumas músicas e para aprender a escrever alguns versinhos, quadras, poesias. Apresentando-se bem, poderá conquistar sua amada. Cróvis contra-ataca, mostrando-se disposto a conquistar Mocinha com presentinhos, jóias.

A história do amor e paixão de Elias, o barbeiro, é contada por Veneno, palhaço de um circo mambembe, que sempre se instala por aquelas bandas. Veneno recebe a visita de Cornélio Pires, escritor, contador de causos e o incentivador das primeiras gravações de música caipira no País.

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PRIMEIRO ATO

Cenário: Ambiente estilizado de uma pequena cidade caipira do interior brasileiro. No lado esquerdo do palco, espaço de um salão de barbeiro, com a tradicional cadeira do barbeiro. Ao centro, um banco de praça. No lado direito, o balcão de uma vendinha. No fundo, um praticável, onde ficarão os músicos e cantores. O fundo do palco traz um pano pintado, mostrando em perspectiva, o desenho de uma ruazinha, suas casinhas e um coreto.

CENA I

(O som de um chorinho, na flauta e violão, é o TEMA DO VENENO. Veneno entra caminhando devagar olhando para os lados do palco e um foco de luz o acompanha e na medida em que ele caminha, as luzes do palco são acesas. Ele pára no centro do palco, ao lado do banco.).

Veneno

Bás noite. Que pratéia mais das boa, que pratéia maraviósa! Agardeço a presencia de todo oceis.

Meu nome é Osvardo.Osvardo Moreira, seu criado.Não escuito mais as pessoa me chamáNem de Osvardo, nem OsvardinhoAssim, falando com carinhoMuito tempo já se passô.

Despois que nasci prosEspetáculo, os teatro,As moda e as cantoriaEu ganhei um apelidoDe verdadeira serventiaQue escuito de noite, de dia

Se quisé me chamáDereito, pra eu dá só atençãoChame pelo premero nomeNome verdadeiro, de coraçãoÉ só chamá pelo Veneno

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Que a todos arrespondereiCom carinho e afeiçãoPois sou Veneno no nomeMais sem veneno noMeu simprório coração

Alguns me chama tamém de paiaçoPois paiaço é o que eu sôPaiaço caipira, que sempre amôEstas terra, estas barranca de rioOnde tanta mágoa se afogô

Sou paiaço e sou caipiraTudo isto é o que sôMais óia pra minha caraPois burro é que eu não sô...

Nesta noite de espetáculoVou contá sem destemôArgumas estória de quemJá se foi e de quem tamém ficô

A história que vô contáÉ do Elias, barbeiro caipira,Rapais dos mais trabaiadôDas modas que ele gostaDas coisas também da roçaE da Mocinha, donzela,seu grande, verdadeiro amô...

Foi por estas bandaQue nossa estória começôE por todo país logo se espaiôNóis sabe cantá a alegria,As ventura e as desventuraDe nossas vida e daBoa moda caipira

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CENA II

(Elias entra em cena e fica ao lado da cadeira de barbeiro. Dorfinho chega na barbearia. Veneno sai de cena TEMA MUSICAL DO ELIAS)

Elias

Bãos dia! Vá tomando assento, cumpadri Dorfinho.

Dorfinho

Hoje não vim fazê a barba, nem cortá o cabelo. Vim prosiá com ocê. Sei que ocê anda triste, que tem argo na sua vida que tá tirando seu sossego. Quê se assucede, cumpradri?

Elias

Tô meio perdido nos pensamento. Tô feito sombração pelas madrugada. Tô mais desnorteado que cachorro quando cai de uma mudança. Ocê sabe o que se passa. O coração anda apertado. O sorriso da Mocinha mexeu mermo comigo. Tô paixonado!

Dorfinho

Óia, cumpradri. Este negócio de se paixoná é coisa mesmo doída. Dói pra todo o lado, se esparrama a partir do coração, mas é coisa que passa logo. Óia...é só casá que a dor logo passa, a doença sara!

Elias

Não dá, não é assim fáci de se arresorvê. A Mocinha tamém tem outro pretendente. Ele aveve cercano ela. O tár tamém não gosta de mim. Intão aveve aquerendo mi aprejudicá...

Dorfinho

É mermo o tár que ocê me contô? Aquele lascrifento de um gióta, que róba a gente até nos kilo do feijão que vende? Ele se faiz de bonzinho, mas é mais marvado que jararaca.

Elias

Arre! É mermo o tár!

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CENA III

(Cróvis entra pela lateral do palco e fica no balcão anotando alguma coisa numa cadernetinha, com um lápis. Zurmira entra em cena, pelos fundos do palco. Vai em direção ao balcão da venda. TEMA MUSICAL DO CRÓVIS/ZURMIRA)

Zurmira

Bãos dia, Cróvis.Cróvis

Bãos dia, Zurmira! Ocê veio trazê novidade ou só veio fuxicá? Aliás, é o que ocê mais sabe fazê. Ocê intregô o presente pra ela, Zurmira?

Zurmira

Cráro, Cróvis qui intreguei! Ocê num mi pidiu? Intreguei mermo. Mais ela num gostô muito do presentinho, não. Ela mi falô que era coisa das mixa. Que ela é muié de presente mió! Eu disse que a tár é das ladina.

Cróvis

Ocê tá de brincadêra cumigo...!!!

Zurmira

É a mais pura das verdade! Ela até mandou dizê que é pra ocê descavocá seu dinhero e comprá coisa mió, pois ela aceita o presentinho por prova de amizade. Mas disse que de amor num é mermo!

Cróvis

Mas que danada mais interessêra, num é? Ansim, presenteá fica mais difíci. Agradá, intão, nem si fala! O que faço pra agradá a Mocinha?

Zurmira

Mais eu inté falei pro ocê que ela num era de se acostumá com pôca coisa... com esta mixaria. Ela é das tar que só gosta du bão e du mió! Se ocê quisé mermo terá que abrir as burra e comprá coisa das boa. Só umas lembrancinha não vai agradá a tarzinha exigente.

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(Veneno entra e cena. Ele fica perto dos músicos. Elias e Dorfinho continuam conversando. Zurmira volta para os fundos do palco.)

Veneno

Vamu botá música nesta cunversa! Quem sabe ajuda os casar paixonado! Esta moda é um ofiricimento de um coração paixonado pra uma donzela especiar. Estica o fole, sanfoneiro! Faz o pinho cantá, violeiro!

(Os músicos tocam MARICOTA, SAI DA CHUVA de Marcelo Tupinambá que é cantada por Curió, Passarinho, Mocinha e Inezinha)

Coro:

Maricóta sai da chuvaDeixa, deixa de embromáMaricóta, sai da chuvaQue tu vai te aconstipáA chuva tá penêranoTá penêrano no arMaricóta, sai da chuvaQue tu vai te aconstipá.

Maricota (Mocinha)

Não tenho medo da chuvaNem do ronco do trovãoEu quero mêmo que chovaPra lavá meu coração

Penéra, chuva, penéra; Não deixa de penêrá...E prô sê triste rocêraComo tu anda a chorá...

Coro: Maricóta sai da chuva, etc...

Maricota (Mocinha)

Não tenho medo da chuva, etc...

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Lá no céu tá fuzilanoVejo as nuvens a se mexêPode sê que seja enganoSe chovê logo se vê...

Coro: Maricóta sai da chuva, etc...

Maricota (Mocinha)

Não tenho medo da chuva, etc...

Óia o sór já pareceu...Já, não chóve, nhô Vadô,Óia o arco, lá no céu,A trovada já passô...

Coro:Maricóta sai da chuva, etc...

Maricota (Mocinha)

Não tenho medo da chuva, etc...

Cala a boca, nhô VadôQue essa chuva não me móia...Vá s'imbora, minha gente,Que moiada eu não estô...

CENA IV

(Elias e Dorfinho estão em pé ao lado da cadeira de barbeiro e caminham para o centro do palco. Mocinha e Inezinha saem do praticável dos músicos e cantores e vão para o centro do palco e os quatros se cumprimentam, dando as mãos. TEMA DAS DONZELAS Mocinha e Inezinha)

Dorfinho

Bás tarde, senhoritas. Tudo bão co ceis?

Inezinha

Comigo tá tudo bão. Já com a Mocinha...

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(Mocinha interrompe a fala de Inezinha)

Mocinha

Pare de brincadêra, Inezinha! O quê o Dorfinho e o Elias vão pensá di mim? Óia, num brinque assim... ocê parece fuxiquera!

Inezinha

Tá bão, tá bão... Não foi intenção. Tô brincando co ceis.

Elias

Sei que ela tá mermo brincando. Ela gosta de brincá e de imitá as pessoa. Vai acabá virando artista di rádio, teatro i di cinema.

Inezinha

Cê tá doido? Se meu pai ficá sabendo, vai me mandá pro convento! Isquece disso.

Elias

Eu adoro estas moda que fica tocando no arto-falante. Ceis tamém gosta?

Mocinha

Pode acreditá que eu tamém gosto destas moda! Adoro todas elas que ocê manda ponhá no arto-falante, Dorfinho. Ocê faz dedicatória pra Inezinha, num é? Mais quem é que tá lá ponhando estas moda pra nóis?

Dorfinho

Tem dia que fica o Curió, tem otros que fica o Passarinho. Hoje eu deixei o Veneno mexendo nos pareio do arto-falante pra mim. Ele e o Zé do Fole adora uma moda tocada na sanfona! O Zé do Fole ôve só pra prendê mió!

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(Os músicos tocam Saudades de Matão. A primeira parte com o acordeon, tocada por Zé do Fole, que desce do praticável e segue em direção ao meio do palco. Na segunda-parte da música, todos cantam, inclusive Elias e Dorfinho, Mocinha e Inezinha)

Elias

Esta moda mexe cumigo. Co ceis tamém?

Dorfinho

Mexe demais da conta!

Inezinha

Ela me faz até chorá! Dá uma sodade di nem sei o quê.

Saudades de Matão

(Jorge Galati, Antenógenes Silva e Raul Torres)

G D7 GNeste mundo eu choro a dor / Por uma paixão sem fim

D7 GNinguém conhece a razão / Porque eu choro no mundo assim

D7 GQuando lá no céu surgir / Uma peregrina flor

G7 C D7 GPois todos devem saber / Que a sorte me tirou foi uma grande dor

D7 G D7 GLá no céu junto a Deus / Em silêncio minh'alma descansa

D7 GE na terra, todos cantam

C D7 G G7Eu lamento minha desventura nesta grande dor

C G7 C G7Ninguém me diz / Que sofreu tanto assim

C C7Esta dor que me consome / Não posso viver / Quero morrer

FVou partir prá bem longe daqui

C G7 CJá que a sorte não quis / Me fazer feliz.

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Mocinha

Eu queria aprendê a escrevê ansim tão bonito. A fazê letra destas moda. Como estas moda que o Dorfinho bota no arto-falante. Estas letra são tão bela! Da mais pura singeleza! E eu aprecio muito!

Elias

São mermo de se apreciá. Bonita demais da conta! Até me fraqueia o coração ouvi ocê dizê isto, Mocinha. Fico comovido com ocê. Moça que gosta de palavras bunita.

Dorfinho

Quem sabe o Elias não escreve uns versos bem bonitos pra ocê, Mocinha. Não é, Elias?

Elias

Ara... Sei não, Dorfinho. Sei não... ocê que mexe com as moda é que sabe. Mais eu inté gostaria de aprendê tamém.

Inezinha

Quando ocê escrevê me dá que eu intrego pra Mocinha, sem o pai dela sabê.

(Cróvis sai do balcão e vai se juntar aos demais no centro do palco.)

Cróvis

A cunversa parece que tá boa. Intão vim participá! Bás tarde, Mocinha... Pro cê tamém, Inezinha!

Mocinha

Mais nóis já tava de saída. Inté já ia, não é Inezinha?

Inezinha

Nóis já tá indo mermo. Me adiscurpa, Cróvis, mas já tá na hora de ir pra casa. O feijão já teve tá queimano.

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Dorfinho

Eita Cróvis... Ocê chega e as senhoritas vão logo simbora.

Elias

Ansim ocê espanta a friquizia deixando o barcão sem ninguém pra atendê por lá.

(Mocinha e Inezinha saem de cena. Um ponteado de viola CATIRA - acompanhado por percussão, só viola e violão com discreto sapateado)

Cróvis

Oceis dois trapaiando minha vida. Inté pareci que oceis tem inveja. Basta eu botá reparo em arguém que oceis estica o zóio gordo. Que mardição. Num sei como fui imprestá dinhero pro cê, Dorfinho, pra compra os pareio do arto-falante!

Dorfinho

Ocê imprestô, arrecebeu tudo de vorta. Mais ocê cobrô juro e eu paguei tudinho, não fiquei devendo nada pro cê. Tá arecramando do que? Te devo argum trocado?

Cróvis

Si arripindimento matasse, eu tava mortinho. E ocê, turco? Tá se assanhando agora pra cima da Mocinha tamém?

Elias

Falando ansim ocê parece que tem algo cum eu. Tenho nada com ocê não, agiota de uma figa! Sarta fora! Ocê me deixa infastiado.

Cróvis

Ocê pensa que é gente, fio de mascate. Vê se inxerga! Quar muié vai se interessá por um borra-botas como ocê? Muié gosta de home que tem bufunfa, não dos que aveve no miserê. Nóis vamu vê quem fica com a Mocinha, barbeiro de meia-tigela!

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Dorfinho

Óia, Cróvis. Ocê não se mete com o Elias que ele é home dos bão, não fica de futrica na vida de ninguém. Só sabe trabaiá... Agora cumigo tá tudo acertado. Ocê emprestô a bufunfa, eu suei feito um burro véio pra pagá e paguei tudinho. Adevorvi cada centavo. Intão num devo favô ninhum pro cê.

Elias

Deixe este lascrifento ficá falando sozinho... Dá trela pra ele não...Por mim tô sastifeito. Tô fora de má criação.

Cróvis

Quando eu for arcaide desta vila ocês vão vê o que é bão pra tosse! Vô mandá tirar este arto-falante no mermo dia da posse!

Dorfinho

Vá isperando. Mais ispere deitado. Em pé vai cansá muito! Logo, logo ocê vai sabê quar é a cor da chita!

Cróvis

Oceis fique isperto. Nada de cruzar meus caminho de novo, viu, sô?

(Uma moda de viola, no fundo. A luz vai caindo bem devagar. Os atores saem do palco. A moda de viola continua com o sapateado)

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SEGUNDO ATO

Cena I(Veneno retorna para o centro do palco. Está com um pé apoiado no banco da praça. Entra Cornélio Pires. Na medida em que Cornélio Pires vem entrando, os músicos tocam e cantam Viola Quebrada Mário de Andrade e Ary Kerney)

VIOLA QUEBRADA

Quando da brisa no açoite a frô da noite se acurvouFui s'incontrá co'a maroca, meu amor

Eu tive n'arma um choque duroQuando ao muro já no escuro

Meu oiá andou buscando a cara dela e não achou

Minha viola gemeuMeu coração estremeceu

Minha viola quebrouTeu coração me deixou

Minha maroca resorveu pra gosto seu me abandonarPruquê os fadista nunca sabe trabaiá

Isso é besteira que das frô que bria e chera a noite inteiraVem dispois as fruita que dá gosto de saborear

Pru causa dela eu sou rapaz muito capaz de trabaiáOs dia inteiro e as noite inteira capinar

Eu sei carpir pruquê minh'arma tá arada e loteadaCapinada co'as foiçada dessa luz do teu oiá.

(Cornélio Pires declama os versos iniciais da CABOCLA TEREZA Raul Torres e João Pacífico, que é cantado por todos os músicos)

CABOCLA TEREZA

TOM : EINTRO: ( B7 A B7 E E7 ) 2X

FALADO:Lá do alto da montanha, numa casinha bem estranha, toda feita de sapêParei uma noite o cavalo prá mor de dois estalos, que eu lá dentro batê.

Apeei com muito jeito, vi um gemido perfeito, e uma voz cheia de dó:- Vancê Tereza, descansa, jurei de fazê vingança, pra mode de meu amor.

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Pela réstia da janela, por uma luzinha amarela, dum lampião apagando.Vi uma cabocla no chão, e um cabra tinha na mão

Uma arma alumiando.Virei meu cavalo a galope, risquei de espora e chicoteSangrei a anca do talo, desci a montanha abaixo, galopando o meu macho

Seu dotô eu fui chamá. Vortemo lá prá montanha, naquela casinha estranhaEu e mais seu dotô, topemo um cabra assustado, que chamando nóis prum lado

A sua história contô :

E A E B7HÁ TEMPO FIZ UM RANCHINHO / PRÁ MINHA CABOCLA MORAR

A B7 A B7 EPOIS ERA ALI NOSSO NINHO / BEM LONGE DESTE LUGAR

A E B7NO ALTO LÁ DA MONTANHA / PERTO DA LUZ DO LUAR

A B7 A B7 EVIVI UM ANO FELIZ / SEM NUNCA ISSO ESPERAR

A E B7E MUITO TEMPO PASSOU / PENSANDO EM SER TÃO FELIZ

A B7 A B7 EMAS A TEREZA, DOUTOR , / FELICIDADE NÃO QUIS

A E B7OS MEUS SONHOS NESSE OLHAR / PAGUEI CARO MEU AMOR

A B7 A B7 EPRÁ MODE DOUTRO CABOCLO / MEU RANCHO ELA ABANDONOU

A E B7SENTI MEU SANGUE FERVER / JUREI A TEREZA MATAR

A B7 A B7 EO MEU ALAZÃO ARRIEI / E ELA FUI PROCURAR

A E B7AGORA , JÁ ME VINGUEI / É ESTE O FIM DE UM AMOR

A B7 A B7 EESSA CABOCLA MATEI / É A MINHA HISTÓRIA DOUTOR.

Veneno

Estas moda de tanto sentimento, que traz tristes e boas lembrança, são história reais verdadeira, de nossos cantadores, de poetas, de gente sem fingimento. Argumas moda são de deixá quarqué um paixonado, pensativo, com o coração só parpitanto! Mais paixão só é boa mermo se for correspondida. Estas moda que nóis vai cantá tem que dá inspiração pra quem seu amor não consegui decrará!

(Um ponteado de viola vai marcando os versos de Veneno e Cornélio Pires)

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Cornélio Pires

Bás tarde, cumpradri Veneno!Quanto tempo nós não se viaOcê ainda tava sorteroQuerendo arrumá compania

Veneno

O sinhô seja bem vindoArreceba os meu cumprimentoMe dê logo um forte abraçoDo amigo sem acanhamento

Cornélio Pires

Vez ou outra eu sô alembradoInda agorinha alguém me chamôVim de longe, mas vim rapidinhoPra atendê quem de mim se alembrô

Vim de longe atendê um pedidoDe um home bão e paixonadoO nome dele é EliasUm barbeiro muito esforçado

Veneno

Que boas falas, mestre CornélioAssim se fala quando se tem fervôNeste canto de tanto trabáioPrecisa de frores e de muito amô

Cornélio Pires

Ele nem sabe que eu vinhaPra atendê um pedido especiáInda agora eu quero sabêPor quem ele foi se paixoná

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Veneno

Vamu fazê uma surpresa pro tarQue tá se sentindo em desamparoO senhor chega e nada falaPra depois eu deixá tudo craro

Cornélio Pires

Intão vamu pra lá...

Cena II(Veneno e Cornélio Pires vão se juntar com Elias. Uma música de fundo é tocada, solo de viola, um violão e a sanfona, bem baixinho)

Veneno

A naváia tá bem afiada, cumpadri Elias?

Elias

Bãos dia, amigo Veneno. Veio tamém proseá?

Veneno

Óia... vim não! Vim pra ocê fazê mia barbicha. E truxe comigo o cumpadri Tietê, que veio me avisitá. Ele tamém vai querê que ocê apare, bem aparadinho, o cabelo dele.

Elias

Muito bão. Intão seja bem vindo, sinhô Tietê. Areceba meus mió cumprimento, de todo o meu coração.

Cornélio Pires

Fico feliz de sê bem arecebido com gentileza e boa educação. A arte da amizade só traz alegria e boas recordação.

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Elias

Quem vai se assentá primero? Começo com o sinhô Tietê?

Veneno

Eu vô primero, apois tenho que tratá dumas questão no arto-falante com o Dorfinho. Inquanto ocê faz mia barbicha, o cumpadri Tietê capricha nuns causo pra nóis.

(Veneno senta na cadeira do barbeiro, Elias coloca um pano branco em volta do pescoço dele, ajeita uma espuma branca com um pincel e aplica no rosto dele. Começa a afiar a navalha cenográfica. Cornélio Pires fica em pé, observando)

Elias

Vô cortá como sempre? Qué ajeitá o bigodinho tamém?

Veneno

Cumpadri Elias, use a naváia mais véia. É da minha preferença. As mais nova não tem a merma serventia, nem a merma experiença.

Cornélio Pires

Ocês conhece a história do ricaço da capitar que foi visitá um caboclinho lá pras banda de Sartinho?

Veneno

De Sartinho? Cunheço não!

Cornélio Pires

Intão, o tár do Adirço Berdoégas chegou na casa do nhô Calixto e viu que tinha argumas image pregada na parede do ranchinho. Oiô, oiô, muito interessado. Inquanto ia oiando, preguntava:Esta muié, quem é, nhô Calixto? É mia muié! Apontando otra image. E esta ôtra, quem qui é? Ah... esta é meu subrinho, lá de Sumpaulo... E este outro no retratinho? Este é o afiado do meu ermão. É o Tiãozinho, lá de Pinhár. Oiando mais, o Adirço viu uma image de um burro e foi

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logo preguntando: I esti quem qui é? Tirando o guspe do pito, nhô Calixto, disse com a maió cara de inocenti: Ué, é um ispêio!

(Elias para de cortar a barba, para ouvir o final da piada e dar risada)

Veneno

Êta caboclinho isperto!

Elias

O sinhô gosta de contá causos?

Cornélio Pires

Gosto, sim! Ocê sabe algum pra me contá?

Elias

Eu gosto mais é de ouvi, mas conheço arguns.

Veneno

Conte ôtro, cumpadri!

Cornélio Pires

O caipirinha Tunico, lá das barrancas do Capivari, arresorveu abri seu coração aguniado pro cumpadri Firmino Carvaio. Chegô e disse. O sinhô tem que me ajudá. Inda onti mermo eu ia passando pelo cafezá quando vi os pé tudinho aflorescido. Fui logo vendo a Berzinha vestida de noiva. Ela gosta di mim tamém. Mais tem pobrema. O pai dela, o nhô Belinazo é ermão de mia mãe.

Nhô Firmino botô reparo: Tunico, ocê já falô com o pai dela, o seu tio? Acho que vou percisá de sua ajuda, nhô Firmino. Fale com o pai dela. Me dá uma ajuda pra eu arresorvê este pobrema. E lá se foi o nhô Firmino falar com o nhô Belinazo. E se picou...Nhô Belinazo, o que o sinhô acha do seu subrinho Tunico?Rapaiz dos bão, trabaiadô, não fica de trelelê... Num bebe, não fuma e nem joga baraio. É um santo rapaiz. Dos bão.Intão é um belo corte de marido para sua fia, a Berzinha...

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Deuzolivre! Prifiro vê ela morta a se casá com o tárzinho.Mais como? Si o rapaiz é dos bão!!!Ocê sabe, nhô Firmino. Casá primo-ermão é pobrema.Tem pobrema não, nhô Belinazo! Nas antiga, nossos parenti tudo se casava com primas. E tamos todos vivos por aqui!Até que eu sei. Mas casá gente mia com a parentaia, num quero e num aceito.Porquê?Arre arespondeu nhô Belinazo os fio nasce tudo narfabeto!

(Cornélio Pires, Elias e Veneno repetem juntos e caem na risada)

Nar...fa...be...to!!! Nar...fa...be...to!!!

Veneno

(virando-se para a platéia, com a mão em concha, como se confidenciasse)

Narfabeto como a mãe de arguns que nóis conhece muito bem!!!

(Depois dos risos, Elias limpa o rosto de Veneno com uma toalha)

Elias

Acabei di acabá...Cumpadri Veneno, ocê quer o quê na barba? Arco, tarco ou verva?

Veneno

Taque tarco só. O arco dá gastura ni mim, pele fica avermeiada e a verva a Dalila não aprecia muito.

Elias

Vô ponhá um tarquinho nocêPra te deixá bem cheirosinhoOcê dá um beijo na DalilaE ela te dá mais uns beijinho

Veneno

Ocê sabe versejá, Elias? Fez este na hora?

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Elias

Tô querendo aprendê mió. Quem sabe si eu aprendê a versejá eu conquiste o coração da Mocinha. Mais tenho que aprendê com quem sabe ensiná.

Cena III(Chega na barbearia, Dorfinho)

Dorfinho

Ocê por aqui, Veneno? Quem que tá no arto-falante?

Veneno

Deixei o Curió e o Passarinho por lá. Tá tudo bão. Se aproxegue, Dorfinho. Ocê conhece o cumpadri Pires, lá de Tietê?

Dorfinho

Pires? O sinhô é o famoso Pires, lá das banda deTietê mermo?

Cornélio Pires

Sim, sô sim... Ocê é ...

Dorfinho

Eu sô filho do Dorfão, o que tinha uma serraria pelos lados do Riachão.

Elias

Intão... o sinhô será...O sinhô será conhecido do meu pai, tamém, craro! Meu pai é o Tufi, que trabaiô como mascate pelas bandas de Piracicaba, Tietê... Ele sempre contava causos, causos que inté eu me alembro.

Veneno

Elias, o cumpadri Cornélio Pires não só conhece o seu pai, como é mesmo seu cumpradri. Ele é cumpadri do Tufi de verdade.

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Ele é seu padrinho, Elias. E veio aqui pra te ajudá a conquistá a tár da Mocinha... Ocê nem discunfiava, não é mermo? Alembre, sempre: quem tem padrinho não morre pagão.

(Elias e Cornélio Pires se abraçam. Todos os músicos e os personagens em cena cantam TRISTEZA DO JECA Angelino de Oliveira. A luz vai diminuindo até apagar, enquanto isto, em cena aberta, é preparado o cenário para o terceiro ato)

Tristeza do Jeca

D G D A7Nestes versos tão singelos / Minha bela,

D G D A7Meu amor / Pra você quero cantar o meu sofrer

D D7 G DE a minha dor / Eu sou que nem o sabiá

B7 Em A7Quando canta é só tristeza / Desde galho

D onde ele está

A7 DNesta viola eu canto e gemo de verdade

A7 DCada toada representa uma saudade (bis)

D G D A7 DEu nasci naquela serra / Num ranchinho beira-chão

G D A7 D D7Todo cheio de buraco / Onde a lua faz clarão G D B7 Em

Quando chega a madrugada / Lá no mato a passarada A7 D

Principia um barulhão (refrão)

D G DVou parar com a minha viola

A7 DJá não posso mais cantar

G D A7 D D7Pois o jeca quando canta tem vontade de chorar

G D B7 EmO choro que vai caindo/ Devagar vai se sumindo

A7 DComo as águas vão por mar ( refrão )

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TERCEIRO ATO

Cena I(O cenário ganha bandeirinhas coloridas de festa junina. Todos os personagens estão no centro do palco. Pedestais antigos com microfones serão colocados em linha, na frente do palco. Os músicos tocam as tradicionais canções juninas)

Veneno

Hoje é dia de festança aqui no arraiá do cumpadri Cornélio Pires, nosso cunvidado especiá. Muita gente vai chegá, muita gente pra cantá. Muita festa e cantoria para a tristeza espantá.

Agora vou chama a Dalila para comigo cantá. Vem cá meu amor... Vamos cantá a bela e paixonada moda dos caipirinhas querido lá do grandioso Paraná, nossos querido amigo Nhô Belarmino e Nhá Gabriela...

(Dalila/Zurmira se aproxima de Veneno para cantar MOCINHAS DA CIDADE Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, acompanhado por Zé do Fole.)

Mocinhas da CidadeTom: C

C G7 CAs mocinhas da cidade, são bonita e dançam bem

C G7 C C7As mocinhas da cidade, são bonita e dançam bem

F G G7 C C7Dancei uma vez com uma moreninha e já fiquei querendo bem

F G G7 CDancei uma vez com uma moreninha e já fiquei querendo bem

C G7 CE o sol já vai entrando, e as saudades vem atrás

C G7 C C7E o sol já vai entrando, e as saudades vem atrás

F G G7 C C7Vou buscar aquela linda moreninha para mim viver em paz

F G G7 C C7Vou buscar aquela linda moreninha para mim viver em paz

C G7 CFui na casa da morena, pedir água pra beber

C G7 C C7Fui na casa da morena, pedir água pra beber

F G G7 C C7

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Não é sede não é nada moreninha eu vim aqui para te verF G G7 C C7

Não é sede não é nada moreninha eu vim aqui para te verC G7 C

Embora o teu pai não queira, que eu me case com vocêC G7 C C7

Embora o teu pai não queira, que eu me case com vocêF G G7 C C7

Mas depois de nóis casado moreninha ele vai me compreenderF G G7 C

Mas depois de nóis casado moreninha ele vai me compreender

Veneno

Agora vamu vê uma artista aqui do arraiá. Inezinha mostre pra nóis tudo o que ocê sabe cantá, imitando um bêbo...

(Inezinha canta, imitando um bêbado, a MODA DA PINGA de Ochelsis Laureano e Raul Torres)

Moda da pinga

Co'a marvada pinga é que eu me atrapaioEu entro na venda e já dô meus taio

Pego no copo e dali num saioAli mesmo eu bebo, ali mesmo eu caioSó pra carregá é queu dô trabaio, oi lá!

Venho da cidade, já venho cantandoTrago um garrafão que venho chupandoVenho pros caminho, venho trupicando

Chifrando os barranco, venho cambeteandoE no lugar que eu caio já fico roncando, oi lá!

O marido me disse, ele me falôLargue de bebê, peço pro favorProsa de home nunca dei valor

Bebo com o sor quente pra esfriá o calôE bebo de noite que é pra fazer suadô, oi lá!

Cada vez que eu caio, caio deferenteMe arço pra trás e caio pra frente

Caio devagar, caio derepenteVou de currupio, vou deretamente

Mas sendo de pinga eu caio contente, oi lá!

Pego o garrafão é já balanceioQue é pra mor de vê se tá mesmo cheio

Num bebo de vez por que acho feio

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No primeiro gorpe chego inté no meioNo segundo trago é que eu desvazeio, oi lá!

Eu bebo da pinga porque gosto delaEu bebo da branca, bebo da amarela

Bebo no copo, bebo na tigelaBebo temperada com cravo e canela

Seja quarqué tempo vai pinga na goela, oi lá!

Eu fui numa festa no rio TietêEu lá fui chegando no amanhecêJá me deram pinga pra mim bebê

Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê

Eu bebi demais e fiquei mamadaEu cai no chão e fiquei deitada

Aí eu fui pra casa de braços dadoAi de braço dado ai com dois sordado

Ai, muito obrigado!

Veneno

Agora o Elias e o Dorfinho vão cantá uma moda especiá, desta que é pra todo mundo cantá. Uma moda das boa, de fazê o pinho chorar e o coração se apaixoná...

(Elias e Dorfinho cantam RIO DE LÁGRIMAS Tião Carreio, Piraci e Lourival Santos)

Rio de lágrimas

O rio de PiracicabaVai jogar água pra foraQuando chegar a água

Dos olhos de alguém que chora

Lá no bairro onde eu moroSó existe uma nascente

A nascente dos meus olhosJá brotou água correntePertinho da minha casa

Já formou uma lagoaCom lágrimas dos meus olhos

Por causa de uma pessoa

O rio de PiracicabaVai jogar água pra foraQuando chegar a água

Dos olhos de alguém que chora

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Eu quero apanhar uma rosaMinha mão já não alcança

Eu choro desesperadoIgualzinho a uma criança

Duvido alguém que não chorePela dor de uma saudade

Eu quero ver quem não choraQuando ama de verdade

O rio de PiracicabaVai jogar água pra foraQuando chegar a água

Dos olhos de alguém que chora

Elias

Esta moda ofereço pra Mocinha, como prova da minha distinta consideração. Sapeca na sanfona, Zé do Fole!

(Elias canta, com vocal de todos, Chuá, chuá, de Pedro Sá Pereira e Ary Pavão)

Chuá, chuá

Deixa a cidade formosa morenaLinda pequena e volta ao sertão

Beber da água da fonte que cantaE se levanta do meio do chão

Se tu nasceste cabocla cheirosaCheirando a rosa, no peito da terra

Volta pra vida serena da roçaDaquela palhoça no alto da serra

E a fonte a cantar, chuá, chuáE as água a correr, chuê, chuê

Parece que alguém que cheio de mágoaDeixaste quem há de dizer a saudadeNo meio das águas rolando também

A lua branca de luz prateadaFaz a jornada no alto do céu

Como se fosse uma sombra altaneiraNa cachoeira fazendo escarcéu

Quando essa luz na altura distanteLoira ofegante no poente a cair

Dai essa trova que o pinho disseraQue eu volto pra serra que eu quero partir

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E a fonte a cantar, chuá, chuáE as água a correr, chuê, chuê

Parece que alguém que cheio de mágoaDeixaste quem há de dizer a saudadeNo meio das águas rolando também

Veneno

Não vamos deixá nenhuma lágrima mais rolá. Neste dia de muita alegria, os caipirinha fica todo inspirado e qué pra todos mostrá como é tão bem educado. Educação com as coisa da vida, educado pra mais de metro. Intão nóis não vai deixá mais ninguém queto!

(Todos cantam MORENINHA LINDA, de Tonico, Priminho e Maninho)

MORENINHA LINDA

G D7Meu coração tá pisado

GCom a flor que murcha e cai

C D7Pisado pelo desprezo

GDe um amor quando desfaz

C D7Deixando triste a lembrança

GAdeus para nunca mais

D7 GMoreninha linda do meu bem querer

D7 G D7 G D7 GÉ triste a saudade longe de você

D7 GO amor nasce sozinho não é preciso plantar

C D7 GA paixão nasce no peito, farsidade no olhar

C D7 GVocê nasceu para outro, eu nasci pra te amar

D7 GMoreninha linda do meu bem querer

D7 G D7 G D7 GÉ triste a saudade longe de você

D7

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Eu tenho meu canarinhoG

que canta, quando me vêC D7 G

Eu canto por ter tristeza, canário por padecerC D7 G

Da saudade da floresta, e eu saudade de você

(em seguida, emendam, CABELO LOIRO de...)

CABELO LOIRO

D CCabelo loiro vai lá em casa passear

GVai, vai cabelo loiro

D7 GVai cabar de me matar (2x)

DEstou na sombra da noite

CPensando na luz do dia

D7O dia inteiro penso estar

DÀ noite em sua companhia

D CCabelo loiro vai lá em casa passear

GVai, vai cabelo loiro

D7 GVai cabar de me matar (2x)

D CVocê disse que bala mata, bala não mata ninguém

D7 Da bala que mais me mata é o desprezo do meu bem

D CCabelo loiro vai lá em casa passear

GVai, vai cabelo loiro

D7 GVai cabar de me matar (2x)

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D Ccasa de pobre é ranchinho, casa de rico é de telha

D7 Dse ter amor fosse crime minha casa era cadeia

D CCabelo loiro vai lá em casa passear

GVai, vai cabelo loiro

D7 GVai cabar de me matar (2x)

DQuanto mais tu me despreza

CA dor no meu peito inflama

D7Quem eu quero não me quer

DE quem eu quero não me ama

D CCabelo loiro vai lá em casa passear

GVai, vai cabelo loiro

D7 GVai cabar de me matar (2x)

DBeija flor que beija a rosa

CSe despede do jardim

D7Assim fez o meu amor

DQuando despediu de mim

D CCabelo loiro vai lá em casa passear

GVai, vai cabelo loiro

D7 GVai cabar de me matar (2x)

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Veneno

Eita que moda das boa!!! Agora é hora de dançá. Vamo formá os casar. Sapequem umas moda das boa pra gente dançá!

(Zurmira/Dalila junta-se a Elias. Dorfinho, se ajeita com Inezinha. Uma das cantoras vai dançar com Cornélio Pires. Cróvis vai conversar com Mocinha. A música é tocada bem baixo)

Cróvis

Intão, ocê gosta de cantar tamém? Pois eu num sabia. Se gosta mermo vou comprá uma vitrola pra lhe presenteá.

Mocinha

Carece não, Cróvis. Ocê não tem motivo pra me dá presente!

Cróvis

Motivo maior eu tenho. Ocê si disfarça...

Mocinha

Craro que não, Cróvis. Eu num priciso mi disfarçá nada.

Cróvis

Do que ocê gosta? Diz intão...

Mocinha

Óia... presente bão mermo vem direto do coração. São palavra, são poesia, são moda, são alegria, são verso feito com a voz do coração, do sentimento.

Cróvis

Mais ocê num gosta...Num...

Mocinha

Óia Cróvis, eu gosto de palavra bunita. Iscreve argo pra mim. Vô vê se ocê tem sentimento. Nóis se fala despois, tá bão?

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(Zurmira pára de dançar com Elias e vai conversar com Cróvis. Elias pega uma cadernetinha e escreve nela)

Zurmira

Ocê gostô de fala com a Mocinha? Nem foi me tirá pra dançá.

Cróvis

Óia, Zurmira. A Mocinha nem falô nada sobre os presente que mandei ocê intregá pra ela.

Zurmira

Mais ocê é mesmo muito dos burro! Num se fala sobre presente que se dá. Espera ela puxá conversa. Depois ocê fala. Num fale nada antis dela querê conversá com ocê.

(Elias escreve mais no caderninho. Cróvis vai para o balcão e também pega uma cadernetinha e escreve. Elias chama Veneno)

Elias

Cumpadri Veneno. Entregue este correio elegante pra mim.

(Veneno pega o papel e pega outros papéis com Dorfinho, Inezinha, Zurmira e Cróvis. E começa a anunciar no microfone a entrega do correio elegante, chamando cada destinatário para pegar o papel com ele)

Veneno

Inquanto os músico refresca a guéla, nóis vamu adistribuí os correio elegante. Já tem muitos aqui pra ser intregui. Vamos vê quem é o primeiro...Ah... este é pro ... é pra... mim mermo. Como eu sô besta... esta é a conta da venda do Cróvis pra eu pagá...Não me isqueci, Cróvis... Amanhã ocê mi alembra.

Ah... este agora é pra.... pro Elias.

Desta vez o correio chegô para ... Inezinha!

Será que tem argo para ... sim... agora é pra Mocinha. E tem mais uma, duas, são três pra Mocinha.

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(Mocinha pega os papéis e faz sinal para Inezinha conversar com ela. Ficam no lado da barbearia)

Veneno

Tem outro pro Elias... E tem um pro Cróvis.

Tem um agora pro Dorfinho. Quanta gente paixonada!

Será que é tudo bilhetinho de amor?

(Mocinha conversa com Inezinha)

Mocinha

Óia só quantos bilhetinhos eu recebi! E só tem quadrinhas e poesia!Nossa! Acho que foi o Cróvis! Eu falei pra ele iscrevê pra mim. Só pode sê ele mermo. Num acredito que ele iscreveu isto. Mas é tudo verso bonito!

Inezinha

Será que foi ele mermo? Óia que não pode sê! Logo ele... Sei não...

Veneno

Inquanto as pessoa tá lendo os bilhetinho, um pouco mais de moda e causos pro oceis.

Cumpadri Cornélio Pires, se aproxegue pra nóis contá uns causo.

(Cornélio Pires se aproxima e os dois contam, juntos, dois casos engraçados de caipiras)

Cornélio Pires

Ocê alembra do causo dos surdinhos, Veneno?

Veneno

Cráro que mi alembro... É só começá...

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Cornélio Pires

Uma família de caipirinhas, lá das beiras de Rio das Pedras, foram pagá uma promessa em Bom Jesus de Pirapora. Todos muito trabaiadô, mais muito surdos. Surdinhos, como só...Chegaro e se instalaro na pensão do povoado.Na manhã siguinte, ao se levantar, Nhô Sirvo, o pai, chegô na porta e foi cumprimentado pelo dono da pensão.

Veneno

Bãos dias... Como passaram a noite? Dormiram bem?

Cornélio Pires

Nhô Sirvo fechô a porta do quarto e gritô para Nhá Tiana...Muié, nem bem cheguemo e o home já tá cobrano nóis...

Veneno

Puis se fô gordo compre, home arrespondeu a muié pro marido. E gritou para a fia, lá nos fundo: ô Rosicrér, seu pai vai comprá um porco, bem gordo...

Cornélio Pires

Toda feliz, a Rosicrér gritou para o irmão: ô Cardinho, ô Cardinho... o pai falô pra mãe que vai aranjá uma noiva procê, inda hoje...

Veneno

O Cardinho respondeu de pronto: Que bão, que bão... se ela fô mansa de arreio e não tivé o queixo duro, se fô certa de boca, pode comprá que eu vô montá nela assim que chegá...

Cornélio Pires

Dois caipirinha, do Córgo das Onça, se aventuram pra conhecê Campinas, uma bela cidade... Descero da jardinera e foram a pé para o comércio. A cidade pogressista, toda em obra. Alguns trechos os tomóvi não podia passá. Nhô Cerinha, narfabeto de pai e di mãe, mais

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ladino que ele só, aprovocô o cumpadri Gerardo: Intão, ocê disse que sabe lê... pois diga o que a práca tá dizendo.

Veneno

Geraldo, que malemá conhecia as letra não se fez de rogado e começô a soletrá: pê com rê com ô.... por... Vi com i... prorivido...Sim prorivido... Pê com á, pá... Sá.... Passá.... Vê com i... cu... Ah... Prorivido passá veícu. Intão... a práca diz que é Prorivido passá veícu.

Cornélio Pires

Bem... veícu... é quem é véio? Ou é quem tem veia?

Veneno

Véio nóis num é... mais nóis tem veia. Intão... não podemo passá...

Cornélio Pires

Vortêmo?

Veneno

Vortêmo, cumpradri!

(Mocinha vai para o lado da vendinha, dobra os papéis, coloca numa bolsinha e vai conversar com Cróvis, que fica meio sem jeito)

Mocinha

Inezinha vou logo falá com o Cróvis. Intão tenho que conferi... Depois eu conto pro cê.

Inezinha

Vai chegá ansim na cara dura?

Mocinha

Óia Cróvis. Num imaginei que ocê fosse me presenteá com aquelas jóia! São pérola, verdadeiras pérola.

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Cróvis

Pérola? Ah... os rubi... É mermo pedra preciosa. Que bão que ocê reconhece que tenho bão coração. Mais... ocê nunca falava nada comigo...

Mocinha

Tudo tem a hora certa pra gente falá. Mais ocê me mandô estas jóias que vão ficá guardada aqui comigo nesta borsinha... Nem vô mostrá pra ninguém ficá com inveja.

Cróvis

Bem se ocê dá tanto valor pros meu presentinho... Fico sastifeito e animado pra mandá mais pro cê. Mais ocê demorô para reconhecê o valô dos meus presentinho...

Mocinha

Hoje é o dia de falá com ocê. Gostei muito de tudo que ocê me mandô. São lindos presente para o meu coração. Estou discubrindo que ocê é diferente. Eu gosto muito deste presente, o Cróvis...

Cróvis

Muito bão... ansim vô mandá mais uns presentinhos pra ocê. Que bão!

(Mocinha vai ao encontro de Inezinha)

Mocinha

Viu só... fui agardecê ele pelos belos presentes. Ele inté ficou meio perdido. Acho que ele num esperava eu arespondê assim tão direto.

Inezinha

Ocê falou dos versinhos? E o que ele falô? Ele aconfirmô que escreveu os versinho pro cê?

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Mocinha

Cráro! Falei destas belezuras que ele me mandou. Talveiz ele num seja um home ruim, marvado como falam. Pode ser que ele seja tímido e não goste de se amostrá... Mais aconfirmô tudinho, sim.

Inezinha

Mais será mermo? Óia... é difíci de acreditá ele iscrevê versinho pro cê. Mais, milagre de Santo Antonho acontece...

Mocinha

Intão... ele inté falô que vai me mandá mais presentinho. Vô esperá

Inezinha

Ocê me mostra tudo despois?

Mocinha

Mostro sim... Ocê é minha mió amiga. Mas fiquei feliz com os versinho do Cróvis. Ele chama os versinho de presentinho! Presentinho bem delicado, num é Inezinha? Eu chamo de pérolas, as quadrinhas e ele disse que é tudo rubi... Que lindo!

(Curió e Passarinho cantam Você Vai Gostar de Elpídio dos Santos e Flor do Cafezal Luiz Carlos Paraná Todos fazem o coral)

Você Vai Gostar (Casinha Branca)

Tom: Am

AmFiz uma casinha branca

A7Lá no pé da serra

E7Pra nós dois morar

Fica perto da barrancaAm

Do Rio ParanáA paisagem é uma beleza

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A7Eu tenho certeza

DmVocê vai gostarFiz uma capelaAm E7

Bem do lado da janelaA

Pra nós dois rezarQuando for dia de festa

EVocê veste o seu vestido de algodão

Quebro meu chapéu na testaA

Para arrematar as coisas do leilãoA7 D

Satisfeito eu vou levarC#7

Você de braço dadoF#

Atrás da procissãoD A

Vou com meu terno riscadoF#7 B7 E7 A

Uma flor do lado e meu chapéu na mão

Flor do Cafezal

Tom: DIntrod A7 D

A7 DMeu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

A7 DMeu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

A D A DAi menina, meu amor, branca flor do cafezal

A D A DAi menina, meu amor, branca flor do cafezal

A G DEra florada, lindo véu de branca renda

A7 DSe estendeu sobre a fazenda, igual a um manto nupcial

A G DE de mãos dadas fomos juntos pela estrada

A7 DToda branca e pefumada, fina flor do cafezal

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A7 DMeu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

A7 DMeu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

A D A DAi menina, meu amor, branca flor do cafezal

A D A DAi menina, meu amor, branca flor do cafezal

A G DPassa-se a noite vem o sol ardente bruto

A7 DMorre a flor e nasce o fruto no lugar de cada flor

A G DPassa-se o tempo em que a vida é todo encanto

A7 DMorre o amor e nasce o pranto, fruto amargo de uma dor

A7 DMeu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

A7 DMeu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

Introdução

(Veneno conversa com Cornélio Pires)

Veneno

Cumpadri Cornélio Pires... acho que chegô a hora de nóis começá o concurso de versinho, de poesia e cantoria... Vamo vê se nosso aluno aprendeu direitinho a lição...

Cornélio Pires

Ocê vai fazê como? Veneno

Aqui, nas nossas festa nóis anuncia e as pessoa logo faz fila pra vim decramá. Ispere só. Mais vô pedi, desta vez, que ocê faça a apresentação das decramação.

Cornélio Pires

Intão é só começa!

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(Veneno vai até o microfone)

Veneno

Atenção pessoar! Vai começá o concurso das decramação. Quem já tivé seu versinhos, faz uma fila aqui do lado. Quem fará a presentação é o cumpadri Cornélio Pires. Palmas pra ele!

(O primeiro da fila é Dorfinho)

Cornélio Pires

Vamu começá com o cumpadri Dorfinho. Este rapaz que gosta de moda das boa e de fazê versinho. Palma pra ele que é o mais corajoso do arraiá. A arrecebe meu incentivo e louvô.

Dorfinho

Estas quadrinhas eu fiz pra alguém que estimo muito. E ela já deve sabê. Vai pro cê, intão.

Na curva daquela estradaTinha uma planta formosaPaixão de minha namoradaQue só gostava de rosa

A vida só tem um caminhoo destino a gente escolhese voas, é um passarinhose pousas, a flor te acolhe

Eu chorava de dá penaMinhas lágrima caia no chãoAgora que ela gosta de mimNão mais dói meu coração

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Cornélio Pires

Palmas pro Dorfinho! Um viva pra ele! Agora é a vez da nossa Inezinha, a artista do arraiá. Palmas para ela.

Inezinha

Muito brigada. Agora vou decramá uns versos que eu adoro.

Foi num baile de São JoãoQue descobri o meu amorEle andava com tanta dorDor demais no coração

Tanta pena eu sentiaMas nada eu podia fazêSe ele nada me pediaComo eu podia sabê

Ele veio dançá comigoParecia não acreditáDepois do ombro amigoSó me faltou foi chorá

Agora que ele já sabeQuanto nóis dois se gostaÉ amor a palavra que cabeIntão aceito sua proposta

Cornélio Pires

Palmas pra Inezinha!

Veneno

Inté me alembrei de uma moda... Vamos todos cantá...

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(Todos cantam CABECINHA NO OMBRO de Paulo Borges)

Cabecinha No Ombro

Tom: A

A E7 A A7Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora

D AE conta logo a tua mágoa toda para mim

E7 D AQuem chora no meu ombro eu juro que não vai embora,

E7que não vai embora

Aque não vai embora

E7 D AQuem chora no meu ombro eu juro que não vai embora,

E7que não vai embora

A A7porque gosta de mim

D A E7 AAmor, eu quero o teu carinho, porque eu vivo tão sozinho

Bm D ANão sei se a saudade fica ou se ela vai embora,

E7 Ase ela vai embora,se ela vai embora

Bm D ANão sei se a saudade fica ou se ela vai embora,

E7 Ase ela vai embora,porque gosta de mim

(Dorfinho se aproxima de Inezinha)

Dorfinho

Ocê qué casá comigo, Inezinha?

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Inezinha

Agora não, Dorfinho, tenho que pedi a bença do meu paizinho. Mais nóis se casa na festa do Padroeiro, no dia de São Bastião.

(Dorfinho vai e abraça Inezinha. Todos aplaudem)

Cuitelinho--Paulo Vanzolin e Xandó "Folclore Paulista"Tom: G

GCheguei na beira do porto

DOnde as ondas se espáia

GAs garça dá meia volta

DE senta na beira da praiaE o cuitelinho não gosta

G D C D GQue o botão de rosa caia, ai, ai, ai

GAí quando eu vim de minha terra

DDespedi da parentaia

GEu entrei no Mato Grosso

DDei em terras paraguaia

Lá tinha revolução G D C D GEnfrentei fortes bataia, ai, ai, ai

GA tua saudade corta

DComo aço de navaia

GO coração fica aflito

DBate uma, a outra faia

Os óio se enche d`água G D C D G

Que até a vista se atrapaia, ai, ai, ai

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Cornélio Pires

Esta festa está me trazendo surpresa e alegria pro meu coração. Cada moda mais bonita! Viva o casar de pombinho, que se paixonô na festa de São João. Viva todos os cantadô!

Vamos agorinha arecebê outro corajoso decramadô. Com oceis, Elias, meu afilhado de verdade, filho de um grande amigo meu lá das beradas do Piracicaba.

Elias

Eu nunca pensei que fosse fazê poesia. Mais coração a gente não controla. Os verso vão parecendo quando a gente menos ispera.Fiz uns versos, são capengas, mais são feito com tanta emoção. Fiz pra quem eu tamém amo, com toda força do meu coração.

Tenho que lê, pois num sei decorá dereito. Premero uns versos, que meu padrinho inspirô:

Ai, seu moço, eu só quiria,Pra minha filicidade,

Um bão fandango por diaE um pala de qualidade

Pórva, espingarda e cutia,Um facão fala-verdade,

E uma viola de harmunia,Pra mata minha sodade.

Um rancho da bêra d´águaVara de anzó, pôca mágua,

Pinga boa e bão café

Fumo forte de sobejo;Pra cumpretá meu desejo,

Cavalo bão e muié

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(todos batem palmas. Os versos lidos por Elias são de Cornélio Pires e do poeta Emiliano Perneta A uma desconhecida- do livro Ilusão e Outros Poemas páginas 150/160)

Elias

Cumpretando minha decramação, uns versos que eu mermo copiei, de palavras tão difíci de lê e intendê, mais o padrinho disse que era coisa das boa, de um livro lá do Paraná.

Tua beleza é como essa estação que passa,Cujo encanto fugaz inda brilha e palpita,Cheio de frutos bons, leve de aroma e graça,De um aroma ideal, de uma graça esquisita

(enquanto Elias está lendo, Mocinha abre a bolsa e pega os papéis e acompanha cada verso)

Ainda ao tronco gentil o desejo entrelaçaAs rosas do prazer e a doçura infinita;Quanto, porém, a luz vai se tornando escassa...Quanta folha caiu dessa árvore bendita!

Em te vendo passar, ó doce fim de outono,Fechando na estamenha escura do abandono,Como zéfiro fala ao ouvido da rosa!

Ah, pudesse eu falar-te, um dia, voluptuosa,Sem palavras, assim como uma sobra estranha,Como zéfiro fala ao ouvido da rosa!

Cornélio Pires

Bravo! Bravíssimo! Que bela página poética! Meu afilhado estava inspirado ao colhê versos de tão boa lavra!Intão cite o autor, meu caro Elias.

(Mocinha se antecipa com os papéis na mão se aproxima de Elias)

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Mocinha

Que coisa mais feia! Ocê copiô os verso do Cróvis. Ele me mandô os mermo verso que ocê! Coisa mais das feia, ficá robando os verso dos outro!

Elias

Ara... num copiei nada do Cróvis... Eu mi isqueci de dizê que é uns verso do Emiliano Perneta, no poema “A uma desconhecida”, do grande poeta paranaense, que tá num livro que o padrinho me deu. Aliás, ele me deu vários livro pra eu estudá. Intão foi o Cróvis que cupiô di mim ou foi do mermo livro.

(Cróvis se aproxima de Elias e Mocinha)

Cróvis

Eu num cupiei foi nada. Nem lê dereito eu sei. Só sei anotá mercadoria e os preço. Fazê contas é o que mais sei.

Mocinha

Mais eu disse procê me escrevê poesia e ocê me mandou estes versos que tão na minha mão. E ocê me disse que...

Cróvis

Ocê me disse que gostô das jóias que eu mandei. Intão, eu cunfirmei que havia mandado integrá uns presentes pro cê. Mais num mandei verso ninhum! Ocê que confundiu toda minha cabeça... Ocê veio falando em beleza, alegria no coração... Jóias, pérolas...Pensei que ocê falava nos presente que mandei a Zurmira integrá pro cê.

Mocinha

Mais num ganhei presente ninhum da Zurmira. Falando na tár, cadê ocê, muié? Que confusão ocê armô!

(Zurmira tenta se afastar e sair de cena, mas volta e enfrenta a situação, exibindo o anel e a pulseira)

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Cróvis

Zurmira, sua mardita, sua marvada! O que ocê fez com meus presente, que mandei ocê integrar pra Mocinha? Ocê me inganô, dizendo que tinha intregue os presentinho pra Mocinha.

Zurmira

Ocê num mandô eu integrá nadica de nada. Ocê me deu este anel e esta purseira como prova do seu amor por mim, se isqueceu, gióta de uma figa! Agora tá sartando fora do nosso cumpromisso de noivado?Ocê me deu as jóia para me alegrá e casá com ocê!

Cróvis

Fui inganado por todos oceis. Passaram a perna ni mim. Estou todo esfolado com os gorpe! Me estriparo todo! Me tiraro o côro! Gente marvada!

(Inezinha se aproxima de Mocinha)

Inezinha

Eu bem que falei que o Cróvis num sabia nem iscrevê dereito... Eu avisei, ocê ficou toda animada com os versos... Intão, quem mandô foi o Elias, não o Cróvis. Ocê desfaça o malentendido e peça descurpa pro Elias que deve tá ofendido com a confusão que ocê criou.

(Inezinha pega Elias pela mão e o traz para perto de Mocinha)

Elias

Mocinha, ocê me descurpa a confusão, mais eu imaginei que ocê ia reconhecê minha letra de carrerinha, que eu treino todo dia pra iscrevê uma carta de amor pro cê.

Mocinha

Ocê não tem discurpa pra pedi. Foi tudo farta de atenção. Agora que eu descobri que ocê é um home dos bão, que merece todo meu respeito e consideração. Mais, da próxima vez, coloque o seu nome escrito de carreirinha, numa letra bem bonitinha...

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Elias

Eu não quero o már de ninguém. Só queria aprendê a iscrevê pra agradá a pessoa do meu doce querê. Intão, assim tudo expricado não vou deixar ninguém magoado. Eu quero namora com ocê, dona Mocinha e aproveito a festa de São João pra pedir a sua mão.Ocê qué casá comigo?

Mocinha

Se eu quero? É a coisa que mais quero e se ocê quisé nóis se casa hoje mermo, ocê já tem um padrinho e o meu vai ser o Dorfinho.

(Todos batem palmas e os músicos começam a tocar músicas de quadrilha. Enquanto a dança começa, Mocinha e Elias saem de cena. Veneno segue todos. Mocinha veste um vestido de noiva caipira, Elias veste um paletó apertadinho e põe um chapéu de palha na cabeça. Veneno veste roupa de padre. Todos voltam para dançar o final da quadrilha, fazem o túnel, e a festança acaba com o casamento caipira).

Veneno / padre

É de livre vontade ocês se casarem? Ocê, sinhô Elias da Sirva Abrahão, aceita se casá com dona Mocinha, digo, dona Eugênia Filomena da Cruz? E ocê, dona Eugênia Filomena da Cruz, aceita se casá com Elias da Silva Abrahão?

Mocinha

Sim, cráro que quero mi casá com o Elias.

Elias

Eu tamém quero mi casá com a Mocinha. Sim, eu quero!

Veneno

Como disseram que sim, estão os dois agora casados.Viva a noiva! Viva o noivo! Viva São João! Viva o povo caipira! Viva tudo que nos inspira!Um viva pra viola, pra sanfora e pro violão!Um viva pra nóis tudo, tudo caipirinha dos bão!

(Os noivos se abraçam e se beijam. A quadrilha continua. Todos formam uma fila e vão saindo do palco, enquanto a luz vai se apagando).

FIM

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