música underground e resistência cultural nas periferias do rio de janeiro-um estudo de caso*

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Rev.latinoam.cienc.soc.niñez juv 12 (2): 535-547, 2014 http://revistalatinoamericanaumanizales.cinde.org.co 535 DOI:10.11600/1692715x.1222271113 Referencia para citar este artículo: Bárbara-Soares, A. & Rabello-de Castro, L. (2014). Música underground e resistência cultural nas periferias do Rio de Janeiro-um estudo de caso. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, 12 (2), pp. 535-547. Música underground e resistência cultural nas periferias do Rio de Janeiro-um estudo de caso * . ALEXANDRE BÁRBARA-SOARES ** Doutorando Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. LUCIA RABELLO-DE CASTRO *** Professora Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Artículo recibido en junio 11 de 2013; artículo aceptado en noviembre 27 de 2013 (Eds.) Resumo (descritivo): Este artigo curto discute as noções de dominação e resistência como aspectos do percurso profissional de dois músicos moradores da cidade de São João de Meriti, Baixada Fluminense, região metropolitana e proletária próxima à cidade do Rio de Janeiro. Eles fazem parte de um movimento cultural underground chamado Hardcore, oriundo da cultura punk. A partir de um estudo de caso, discute as relações entre cultura e juventude sob a perspectiva da dominação e levanta possibilidades de exercícios de resistência no âmbito cultural, neste contexto urbano. Os resultados apresentados mostram que as resistências percorrem caminhos de tensionamento entre constituir-se como ferramenta de tomada de consciência de si, de seu lugar no mundo e de abertura a outras possibilidades de existência, assim como de recurso para produzir uma distância ou “pureza” em relação a outros modos de existir. Palavras-chave: juventude, resistência, ação cultural (Tesauro de Ciências Sociais da Unesco). Underground music and cultural resistance in the peripheries of Rio de Janeiro-a case study Abstract (descriptive): This short article discusses the notions of domination and cultural resistance as key aspects of the professional trajectory of two musicians who are part of an underground cultural movement called Hardcore, and live at São João de Meriti City, a poor and working class area near Rio de Janeiro. Based on a case study, the article discusses the relationship between youth and culture from the standpoint of cultural domination, and interrogates about eventual practices of cultural resistance in this urban context. The results presented show that the paths of resistance oscillate between the tension of either favouring the conscientization of one self, of one’s position in the world, and of one’s possibilities, or inducing the separation, the distance or “purity” between one’s own and others’ ways of living. * Este artigo curto é parte da pesquisa de doutorado em curso que desenvolvemos no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, inscrito na área da Psicologia, na subárea da Psicologia Social. Apresenta resultados preliminares de pesquisa de caráter qualitativo, realizada com entrevistas semi estruturadas, iniciada em Março de 2011, sob o título “Juventude, cultura e resistência: a experiência juvenil nos movimentos culturais underground”. Tem apoio para seu desenvolvimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), desde 31 de Agosto de 2012. ** Doutorando do programa de Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestre em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Psicólogo graduado pela Universidade Federal Fluminense (1998). Endereço eletrônico: aleprofi[email protected] *** Doutora (Ph. D., 1988) e Mestrado (M.Sc., 1978) em Psicologia pela Universidade de Londres, Grã-Bretanha, Psicóloga graduada pela PUC-Rio (1974). Atualmente é Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e professora do Programa de Pós- graduação em Psicologia desse Instituto. Endereço eletrônico: [email protected]

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Este artigo curto discute as noções de dominação e resistência comoaspectos do percurso profissional de dois músicos moradores da cidade de São João de Meriti, BaixadaFluminense, região metropolitana e proletária próxima à cidade do Rio de Janeiro. Eles fazem partede um movimento cultural underground chamado Hardcore, oriundo da cultura punk. A partir deum estudo de caso, discute as relações entre cultura e juventude sob a perspectiva da dominaçãoe levanta possibilidades de exercícios de resistência no âmbito cultural, neste contexto urbano. Osresultados apresentados mostram que as resistências percorrem caminhos de tensionamento entreconstituir-se como ferramenta de tomada de consciência de si, de seu lugar no mundo e de abertura aoutras possibilidades de existência, assim como de recurso para produzir uma distância ou “pureza”em relação a outros modos de existir.Palavras-chave: juventude, resistência, ação cultural

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  • Rev.latinoam.cienc.soc.niez juv 12 (2): 535-547, 2014http://revistalatinoamericanaumanizales.cinde.org.co

    msica undeRgRound e Resistncia cuLtuRaL nas peRifeRias do Rio de JaneiRo-um estudo de caso.

    535DOI:10.11600/1692715x.1222271113

    Referencia para citar este artculo: Brbara-Soares, A. & Rabello-de Castro, L. (2014). Msica underground e resistncia cultural nas periferias do Rio de Janeiro-um estudo de caso. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niez y Juventud, 12 (2), pp. 535-547.

    Msica underground e resistncia cultural nas periferias do Rio de Janeiro-um estudo de caso*.

    alexandre BrBara-SoareS**Doutorando Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

    luCia raBello-de CaStro***Professora Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

    Artculo recibido en junio 11 de 2013; artculo aceptado en noviembre 27 de 2013 (Eds.)

    Resumo (descritivo): Este artigo curto discute as noes de dominao e resistncia como aspectosdopercursoprofissionaldedoismsicosmoradoresdacidadedeSoJoodeMeriti,BaixadaFluminense, regio metropolitana e proletria prxima cidade do Rio de Janeiro. Eles fazem parte de um movimento cultural underground chamado Hardcore, oriundo da cultura punk. A partir de um estudo de caso, discute as relaes entre cultura e juventude sob a perspectiva da dominao e levanta possibilidades de exerccios de resistncia no mbito cultural, neste contexto urbano. Os resultadosapresentadosmostramqueasresistnciaspercorremcaminhosde tensionamentoentreconstituir-se como ferramenta de tomada de conscincia de si, de seu lugar no mundo e de abertura a outras possibilidades de existncia, assim como de recurso para produzir uma distncia ou pureza em relao a outros modos de existir.

    Palavras-chave: juventude, resistncia, ao cultural (Tesauro de Cincias Sociais da Unesco).

    Underground music and cultural resistance in the peripheries of Rio de Janeiro-a case study

    Abstract (descriptive): This short article discusses the notions of domination and cultural resistance as key aspects of the professional trajectory of two musicians who are part of an underground cultural movement called Hardcore, and live at So Joo de Meriti City, a poor and working class area near Rio de Janeiro. Based on a case study, the article discusses the relationship between youth and culture from the standpoint of cultural domination, and interrogates about eventual practices of cultural resistance in this urban context. The results presented show that the paths of resistance oscillate between the tension of either favouring the conscientization of one self, of ones position in the world, and of ones possibilities, or inducing the separation, the distance or purity between ones own and others ways of living. * Este artigo curto parte da pesquisa de doutorado em curso que desenvolvemos no Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, inscrito na rea da Psicologia, na subrea da Psicologia Social. Apresenta resultados preliminares de pesquisa de carter qualitativo, realizada com entrevistas semi estruturadas, iniciada em Maro de 2011, sob o ttulo Juventude, cultura e resistncia: a experincia juvenil nos movimentos culturais underground. Tem apoio para seu desenvolvimento da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes), desde 31 de Agosto de 2012.

    ** Doutorando do programa de Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestre em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Psiclogo graduado pela Universidade Federal Fluminense (1998). Endereo eletrnico: [email protected]

    *** Doutora (Ph. D., 1988) e Mestrado (M.Sc., 1978) em Psicologia pela Universidade de Londres, Gr-Bretanha, Psicloga graduada pela PUC-Rio (1974). Atualmente Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e professora do Programa de Ps-graduao em Psicologia desse Instituto. Endereo eletrnico: [email protected]

  • Rev.latinoam.cienc.soc.niez juv 12 (2): 535-547, 2014http://revistalatinoamericanaumanizales.cinde.org.co

    aLexandRe bRbaRa-soaRes - Lucia RabeLLo-de castRo

    536DOI:10.11600/1692715x.1222271113

    Key words: youth, resistance, culture action (the Unesco Social Science Thesaurus).

    Msica underground y resistencia cultural en las periferias de Rio de Janeiro-un estudio de caso

    Resumen (descriptivo): Este artculo corto discute las nociones de dominacin y resistencia como aspectos de la trayectoria profesional de dos msicos residentes en la ciudad de So Joo de Meriti, Baixada Fluminense, una regin proletarizada prxima la ciudad de Ro de Janeiro. Elloshacenpartedeunmovimientoculturalunderground llamadoHardcore,quesderivadodela cultura punk. Desarollado a partir de un estudio de caso, se analiza la relacin entre la cultura y la juventud bajo la perspectiva de la dominacin, y se levantan las posibilidades de ejercicio de resistenciaenelmbitoculturaldeesecontextourbano.Losresultadospresentadosmuestranquelasresistencias recorren caminos de tensionamiento entre constituirse como una herramienta de tomada de consciencia de si mismo, de su lugar en el mundo y de apertura en relacin a otras posibilidades de existencia, as como de recurso para producir una distancia o pureza en relacin a otros modos de existir.

    Palabras clave: juventud, resistencia, accin cultural (Thesauro de Ciencias Sociales de la Unesco).

    -1. Introduo. -2. Exerccios da dominao. -3. Dominao e resistncia cultural. -4. Percurso metodolgico. -5. O capital nos separa e a pobreza nos iguala: o caso do Confronto. -6. Concluindo: legado e aprendizados. -Referncias bibliogrficas.

    1. Introduo

    Neste trabalho buscamos explorar as tenses entre resistncia e dominao em termos de trs dimenses articuladas: o territrio fsico, as expresses culturais e as possibilidades de encontros, tendo como base de anlise o percurso profissional de dois msicos da Baixada Fluminense, estado do Rio de Janeiro, Brasil. Eles fazem parte de um conjunto musical oriundo de uma das mais pobres e precrias cidades da regio (So Joo de Meriti), que em quinze anos se tornou um dos maiores grupos de seu estilo na Amrica Latina. Alm de terem se apresentado em diversas cidades do continente e da Europa, so acompanhados por jovens pelo mundo com um estilo musical considerado underground e fora do roteiro reconhecidamente popular da produo cultural. Suas letras tratam de temas de difcil aceitao, como os limites da propriedade privada, a ocupao de terras, a reforma agrria, o veganismo e os direitos dos animais. Com trs discos lanados, quatro tournes europias e trs pela America do Sul, tocando em Squats1 e em grandes festivais, um

    1 Squats so ocupaes feitas em prdios abandonados por jovens da cultura punk que fazem destes espaos local de moradia e de mobilizao cultural em cidades, principalmente da Europa.

    grande nmero de lbuns distribudos em toda a Amrica latina, a banda de hardcore2 Confronto um ente estranho na cultura da Baixada Fluminense, mas o alcance de seu discurso e de sua msica uma incgnita. Seus integrantes, desde o incio, denominam o grupo como uma centelha de resistncia da Baixada. Mas em que reside esta afirmao? Que elementos podem apontar para tal resistncia?

    Pretendemos discutir algumas facetas contemporneas da dominao e de possibilidades de exerccios de resistncia no mbito cultural neste contexto urbano. O foco sobre o percurso de vida de atores especficos, no caso, estes dois msicos, busca explorar as tenses e contradies de aes de oposio por parte de indivduos, em contraposio s grandes narrativas dos movimentos historicamente considerados revolucionrios, ou a aes de indivduos que ganharam visibilidade como referencias de luta, como seus mrtires (Freire-Filho, 2007). O foco privilegia as possibilidades de um agir frente a imposies coercitivas ou compulsrias da estrutura social no cotidiano.

    2 Estilo musical oriundo da cultura Punk que apresenta caractersticas musicais mais agressivas que o punk original.

  • Rev.latinoam.cienc.soc.niez juv 12 (2): 535-547, 2014http://revistalatinoamericanaumanizales.cinde.org.co

    msica undeRgRound e Resistncia cuLtuRaL nas peRifeRias do Rio de JaneiRo-um estudo de caso.

    537DOI:10.11600/1692715x.1222271113

    Interrogamos se, por meio de dispositivos culturais, diferentes e particulares falas cotidianas podem dar visibilidade a conflitos e tenses de nosso tempo histrico, provocando o deslocamento do olhar da poltica institucional ou representativa na direo da politizao da cultura. Este deslocamento promove a luta por significados e representaes configurando um campo de conflito e disputa por sentidos que se trava entre os jovens e as instituies sociais hegemnicas (escola, famlia, etc.) Por esta via percorremos as trajetrias destes dois msicos no sentido de identificar possveis elementos da resistncia que se faz como processo de construo de si e de alternativas de vida.

    2. Exerccios da dominao

    Falar da dominao significa colocar em cena valores. Tais valores constituem uma seara que tende a produzir o outro como objeto na qual se reduzem as possibilidades deste outro resistir, uma vez que o processo de dominao engendra dispositivos prprios de se passar como natural e necessrio. Os processos de dominao demandam uma permanente legitimao de valores, resultantes de um poder que deve buscar continuamente formas novas de se legitimar para sua manuteno (Rabello de Castro, 2012).

    H, portanto, distintas formas de exerccio da dominao -algumas mais explcitas e outras mais sutis e subjetivas. Scott (1990) prope trs nveis de exerccio do poder que justificam o exerccio da dominao: um seria o de coero e presso; o segundo, o da intimidao; o terceiro seria o desenvolvimento e a legitimao do controle atravs de processos de subjetivao, realizados pelos meios de comunicao e pelas instituies de socializao. Cria-se uma hegemonia ideolgica que legitima e, at certa medida, justifica a dominao: assim, se faz valer uma nica histria oficial que acarreta, por outro lado, uma invisibilidade dos movimentos e momentos de lutas e resistncias dos subordinados.

    Ao mesmo tempo, a construo da dominao pela produo da submisso, atravs do medo, da autoridade e da obedincia ao poder constitudo no opera apenas marcas

    visveis, comportamentos imediatos, mas produz uma ancoragem na estrutura psquica, na constituio de certo sujeito e de seu outro (Benjamin, 1988). Neste processo de subjetivao o outro no somente valida e reconhece minha existncia, mas, pelo poder de reconhecimento de que portador, se torna capaz de impedir a diferenciao e a separao. Desta forma, o eu permanece capturado pelo outro, e a ele submetido. O processo de validao da existncia depende do reconhecimento do outro, o que implica aceitar a dependncia a ele tolerando a tenso entre separao e dependncia.

    No entanto, tal reconhecimento pode encontrar na cultura e nas manifestaes culturais uma poderosa ferramenta de enfrentamento e resistncia, quando elementos culturais podem ser utilizados para simbolizar e permitir dizer da captura do eu nas engrenagens da dominao. As experincias de subordinao, ao se tornarem traduzidas por manifestaes culturais que lhes do visibilidade, encontram respaldo na ao de grupos especficos. A produo de textos e msicas, por exemplo, so respostas de grupos a tenses ocasionadas por experincias de subordinao.

    A dominao tambm pode ser exercida atravs da normatizao de estilos de ser e estar na cidade. Uma das formas de legitimao da dominao seria por meio da ideia de uma ordem social inevitvel e natural a qual todos devem se adequar e participar. A dominao ganharia forma atravs da instituio de lugares aos quais os indivduos so remetidos e que apontam para formas cristalizadas de agir coletivamente, seja nos territrios, seja nas possibilidades de deslocamento. Atualmente, os indivduos se subjetivam conformando seus estilos de vida, aspiraes e expectativas crena de felicidade depositada nos bens materiais e imateriais -como arte e cultura. O lazer e o entretenimento se tornaram formas de reconciliar a insatisfao e a revolta com formas culturalmente aceitas de ousar e aventurar-se. Adorno (1999) j havia abordado a dimenso imaterial da dominao em seus estudos sobre a indstria cultural, que estaria transformando o homem em instrumento de trabalho e consumo, moldando suas aes segundo uma estrutura social dominante.

  • Rev.latinoam.cienc.soc.niez juv 12 (2): 535-547, 2014http://revistalatinoamericanaumanizales.cinde.org.co

    aLexandRe bRbaRa-soaRes - Lucia RabeLLo-de castRo

    538DOI:10.11600/1692715x.1222271113

    Entretanto, nos interessa interrogar se so possveis movimentos de indagao sobre a ordem fixa e cristalizada dos lugares que so ofertados aos indivduos no espao urbano contemporneo. Para uma grande parcela de moradores de regies perifricas das grandes cidades do Brasil, o bairro e a cidade de moradia se tornam veculos de uma dominao exercida sobre seus corpos desde muito cedo, pela escassez de recursos fsicos e simblicos e pela falta de um horizonte de possibilidades de convivncia. O depauperamento fsico e psicolgico produz profundas transformaes nas maneiras como os indivduos percebem a si e ao outro no mundo.

    Ao mesmo tempo, ancorados em um territrio identificado por diversas faltas, enrazam-se percepes comuns de como ser e estar nestes lugares, em todas as dimenses da vida cotidiana -por exemplo, no lazer e na arte. A msica funk e o pagode, por exemplo, so ritmos musicais imediatamente associados, no Brasil contemporneo, aos grupos populares e so manifestaes dominantes nas cidades e bairros perifricos, assim como o Reggaeton no restante da America Latina. Existem poucos espaos ou pouca penetrao para outras manifestaes culturais alm daquelas que so naturalmente esperadas das camadas populares.

    Mas, em meio ao movimento de homogeneizao da cultura capitalista contempornea, podem emergir expresses de resistncia que Scott (1990) denomina de gestos mnimos. A noo de resistncia cultural trata de alguns destes gestos e movimentos, que podem ser motivadores de outras aes de resistncia quando no se configuram, por si s, como um ato de resistir.

    3. Dominao e Resistncia Cultural

    Diversos autores como Eagleton (2003) e Williams (1979) se debruaram sobre as relaes entre cultura e a vida social cotidiana, suas expresses e conexes com a poltica. Outros como Thompson (1998) exploraram os contedos simblicos das diferentes expresses culturais e sociais dos indivduos, como maneiras de ser e estar visveis socialmente.

    A noo de violncia simblica (Bourdieu, 1975) tem sido til para ilustrar e analisar as relaes de dominao, presentes entre as pessoas e grupos sociais, que no implicariam, necessariamente, em alguma forma de coero fsica. A matriz da violncia simblica se materializaria nos smbolos e signos culturais, a partir do reconhecimento de uma autoridade exercida por certas pessoas e grupos sobre outros, atravs das normas internas do mundo social as quais os sujeitos aderem e que terminam por se incorporar em seus hbitos.

    Para nossa anlise, recorremos a Duncombe (2002) que trabalha com a noo de resistncia cultural de modo a articular a relao entre poltica e cultura. Esta perspectiva se estrutura em torno das ideias de dissidncia dos jovens e de seus movimentos em relao a normas impostas, a padres institudos e a regras. Esta noo aponta para a vivncia da opresso e da injustia das quais os jovens se sentem vtimas frente ao poder institudo. Entendem-se tais movimentos como rotas possveis frente ausncia de perspectivas (de participao, de trabalho e de expresso) de parte da juventude. Para o autor, a cultura e, em especial, a criao artstica, podem ser profundamente polticas ao expressarem tradies e experincias vividas por um conjunto de pessoas. Esta noo abre margem para um tensionamento inicial: a cultura tanto pode ser um poderoso aliado na reproduo de comportamentos e normas adequadas ao bom funcionamento institucional e macro poltico, quanto uma vlvula de escape para a expresso de grupos minoritrios, de enfrentamento ao establishment e de confrontao ao status quo. Desta forma, a poltica na cultura no seria predeterminada: a cultura malevel. Como usada o que importa, para Duncombe, que pode ser como um campo de oferta e procura de smbolos, signos e identificao, como define Bauman (1997).

    A noo de resistncia tomada como um conjunto de foras opostas ao poder dominante, transcries ocultas da fala e do comportamento manifestando outras formas de ver e perceber o mundo por trs da histria oficial e das transcries pblicas hegemnicas (Duncombe, 2002). No mesmo compasso,

  • Rev.latinoam.cienc.soc.niez juv 12 (2): 535-547, 2014http://revistalatinoamericanaumanizales.cinde.org.co

    msica undeRgRound e Resistncia cuLtuRaL nas peRifeRias do Rio de JaneiRo-um estudo de caso.

    539DOI:10.11600/1692715x.1222271113

    Freire-Filho (2007) nos coloca as possibilidades contemporneas de pensar a noo de resistncia como plural, diversa e polimorfa, vinculada a experincias temporrias de empoderamento, de relativizao de identidades e de recusa das formas convencionais de comunicao e de relacionamento cotidianos. Bleiker (2000) caminha pela mesma trilha ao conceituar a dissidncia e a cultura de resistncia como sendo localizadas em inmeras prticas nada hericas que compem a esfera do cotidiano e suas mltiplas conexes com a vida contempornea em geral (Bleiker, 2000, p. 278).

    Duncombe (2002) sugere que a noo de resistncia cultural pode ser vista positivamente como um espao de desenvolvimento de ferramentas para a ao poltica, um ensaio geral para o ato poltico atual, ou, como uma ao poltica em si, redefinindo a prpria noo de poltica em ato ou, por outra via, reconfigurando suas possibilidades de impacto. Equipados de novas ideias, habilidades, confiana e comparsas, o passo adiante no terreno da resistncia poltica pode parecer menos amedrontador, por esta perspectiva.

    Nesse sentido, a resistncia cultural funciona como uma espcie de trampolim para o ativismo poltico, atravs da ampliao do arsenal lingstico e intelectual fora dos canais formais de transmisso -como a escola e a famlia (Duncombe, 2002) Para Freire-Filho (2007) a msica underground ou alternativa tem sido um elemento deste engajamento juvenil, em especial na construo de elos entre resistncias microscpicas, cotidianas (um evento, uma msica, uma forma de vestir ou uma ao pontual) e movimentos ampliados de contestao a certa ordem global hegemnica.

    Scott (1990) defende que os grupos subordinados podem utilizar estrategicamente a cultura como forma de expressar e construir seus discursos e prticas em espaos seguros como, por exemplo, os espaos culturais. Desta forma, ele ir defender que o lazer e os rituais coletivos podem se configurar como nichos de autonomia onde se asseguram, minimamente, a liberdade de expresso e a segurana em relao ao que se pensa e se diz, materializando discretas formas de resistncia atravs de formas indiretas de expresso, do

    uso subversivo da linguagem como arma de defesa, das ambigidades e discursos duplos. Seriam, portanto, diferentes formas de dilogo com o poder ou, como ele denomina, dizeres ocultos, expressando tentativas das camadas subordinadas de dialogar e negociar sua existncia, voz e expresso. A voz e a expresso prprias, autnomas, de grupos subordinados so entendidas aqui, portanto, como um exerccio poltico de tais grupos.

    A ritualizao de identidades atravs dos eventos culturais, por exemplo, colocaria em cena figuras simblicas que permitiriam as camadas subordinadas criarem momentos de reconhecimento coletivo. Sandlin e Milam (2010) iro caminhar por esta mesma percepo defendendo que o engajamento poltico pode advir destas experincias de participao em grupos e coletivos culturais atravs da formao, nestes, de uma conscincia crtica de sua condio coletiva, via o compartilhamento de situaes e percepes comuns. Esta percepo comum seria expressa atravs de diferentes formas, alm dos canais institucionais constitudos: msica, teatralidade, esttica, rituais -configurando formas de falar e fazer distintas. Rabello de Castro (2011), abordando as possibilidades de atuao poltica dos jovens, afirma que esta se daria por um processo de produo e articulao de narrativas com potencial de subverter o silenciamento destes jovens na vida coletiva. A ao poltica estaria articulada com as possibilidades de fala dos diferentes atores sociais. Entendendo a noo de fala como a articulao pblica de um discurso por parte de um sujeito coletivo, constituindo o sujeito como poltico neste mesmo ato (Rabello de Castro, 2011, p. 301). , assim, a maneira pela qual apostamos que a resistncia cultural pode se configurar como resistncia poltica, na medida em que esta se compe de signos e smbolos compartilhados, compreendidos de maneira comum e disseminados entre os coletivos: compartilhando percepes, sentimentos e saindo da posio de isolamento para outra, comunitria (Duncombe, 2002, p. 4).

    Entretanto, tais expresses apresentam limites e modulaes. Qual seria, aqui, o marco divisrio entre uma expresso de oposio e

  • Rev.latinoam.cienc.soc.niez juv 12 (2): 535-547, 2014http://revistalatinoamericanaumanizales.cinde.org.co

    aLexandRe bRbaRa-soaRes - Lucia RabeLLo-de castRo

    540DOI:10.11600/1692715x.1222271113

    uma ao poltica? Seria a prpria dissidncia uma ao poltica? Duncombe (2002) comea a oferecer pistas ao afirmar que, para ele, seria a transio da transcrio oculta para a transcrio pblica que ofereceria a chave para a existncia de um impacto poltico significativo. Freire-Filho (2007) contribui afirmando que, em muitos casos, respostas individuais a opresso tem sido hipervalorizadas terminando por obscurecer ou desbancar modalidades coletivas de solidariedade e luta poltica, processuais e de longo prazo.

    Os ritos coletivos culturais podem servir justamente ao processo de reencontro de indivduos, tornados invisveis, que compartilham histrias comuns, fortalecendo um sentimento de identificao. Assim pequenos atos subversivos pontualmente localizados podem obter ressonncia social mais ampliada a longo prazo. No necessariamente todos os atos expressam a recusa declarada em obedecer a uma dada ordem poltica e social hegemnica, mas podem expressar de maneira sutil sentimentos de desobedincia e inconformismo. Se estes atos podem reconfigurar o mapa poltico e a distribuio de foras que parece ser um dos entraves ou encruzilhadas do debate. Freire-Filho (2007) vai afirmar, por exemplo, em relao msica punk, que esta pode operar como um chamado ao combate contra o sistema social e as formas de oposio institucionalizadas, encorajando a constituio de novas comunidades de dissenso artstico e poltico. Mas isso no um fim em si mesmo.

    Desta forma, aderimos a perspectiva da resistncia cultural colocada a partir de dois eixos que se tensionam: como um trampolim, uma ferramenta, provendo a linguagem, as prticas e os parceiros, ou a comunidade, para facilitar o caminho at a atividade poltica. No limite, ela pode ser pensada ela mesma como uma atividade poltica, uma ao da juventude sem intermedirios, sem a necessidade de aprendizagem de cdigos de acesso a participao, um campo de construo cotidiana de relaes entre os indivduos e suas possibilidades de expresso, dilogo e negociao com a sociedade ampliada. Ou,

    por outra via, uma fuga do mundo da poltica e dos seus problemas concretos e determinantes, um refugio em um mundo sem corao (Duncombe, 2002, p. 8), um fechamento em si mesmos demarcando fronteiras quase intransponveis entre ns e eles. Esta tenso se estabelece sem, necessariamente, ser uniforme ou permanente -pode-se oscilar entre as diferentes perspectivas de acordo com o momento, o contexto e as aes de cada coletivo.

    Diferentes caminhos podem conduzir tal resistncia cultural: o contedo (o que se diz), a forma (como se expressa), a interpretao (como as informaes e as relaes com o mundo em geral se do nas e a partir das expresses culturais) e a atividade (a ao de produzir cultura como uma forma mesma de mensagem). Estes contedos aparecem misturados e entremeados no discurso de dois personagens de um territrio definido, que apresentamos em seguida, oferecendo algumas imagens que nos ajudam a avanar nas anlises.

    4. Percurso metodolgico

    Os depoimentos utilizados nesta anlise foram colhidos em uma entrevista semiestruturada, com membros da banda Confronto3, transcrita e analisada atravs do mtodo da anlise de discurso. Tambm foi utilizado como elementos de anlise parte do documentrio Meriturope4. Todas as falas foram categorizadas e classificadas por saturao, relacionando os assuntos que se repetiam ou as falas que constantemente retornavam no discurso dos entrevistados. Algumas das falas dos jovens, transcritas ao longo do texto, preservam o contedo original da gravao, da forma como foram ditas, com suas grias, vcios de linguagem e expresses particulares.

    3 Entrevista realizada em 01/03/2013, na cidade do Rio de Janeiro no Estudio Superfuzz, com Felipe Chehuan e Felipe Ribeiro.

    4 Documentrio realizado pelos prprios membros da banda Confronto, ainda em fase de edio, sobre os contrastes observados por eles entre seu local de origem e dos locais pelos quais a banda passou em suas viagens de tourne.

  • Rev.latinoam.cienc.soc.niez juv 12 (2): 535-547, 2014http://revistalatinoamericanaumanizales.cinde.org.co

    msica undeRgRound e Resistncia cuLtuRaL nas peRifeRias do Rio de JaneiRo-um estudo de caso.

    541DOI:10.11600/1692715x.1222271113

    5. O capital nos separa e a pobreza nos iguala5: o caso do Confronto

    Eles precisam que a gente saia da baixada, v l pro centro do Rio, trabalhe, faa o capital girar, o dinheiro circular, e volte pra baixada -no venham muito pra c no. De Segunda a Sbado ta bom, de oito as cinco, quando chegar a hora, volta pra casa (Felipinho, 33 anos, msico, morador de So Joo de Meriti).

    Felipe Chehuan, 31 anos e Felipe Ribeiro (Felipinho), 33, se conhecem h 16 anos. Ambos moradores da cidade de So Joo de Meriti, Baixada Fluminense, municpio do estado do Rio de Janeiro. Com uma populao de 459.356 habitantes, segundo dados do Ibge (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) (2010), conhecido como Formigueiro das Amricas, pois sua densidade demogrfica (nmero de habitantes dividido pela rea em quilmetros quadrados) uma das mais altas do continente6.Os dois rapazes fazem parte de um conjunto musical chamado Confronto. A msica que tocam (o Metalcore, ou hardcore com elementos de Thrash Metal) no popularizado maciamente entre os jovens, no circula em veculos de comunicao tradicionais, como emissoras de tev e rdios, nem trilha sonora da indstria de consumo, atravs de propagandas e comerciais. Tambm no de fcil aceitao por produtores culturais em geral, devido ao carter extremo do som e o aspecto de contestao de suas temticas. Mas o Confronto, em 15 anos, conseguiu gravar trs discos e um DVD, feitos e lanados de maneira independente, sem apoio de grandes corporaes ou empresas e efetivados atravs do esquema cooperativo de membros do movimento underground. J realizou cerca de 180 shows mundo afora, em pases da America Latina e em quatro tournes pela Europa. Tudo feito e viabilizado atravs do esquema cooperativo e de forma independente. Suas letras sobre vegetarianismo, direitos dos animais, ativismo poltico do MST e dos Zapatistas e pobreza repercutem entre jovens

    5 Trecho da cano Vale da Morte, da banda Confronto.

    6 Fonte: web Page Ibge - http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=330510 Acessado em 05/03/2013

    de diferentes nacionalidades. Alm disso, o Confronto foi um dos conjuntos pioneiros no meio da cultura underground brasileira a levantar explicitamente a bandeira do veganismo7, postura adotada pelos quatro integrantes da banda e considerada por eles uma das formas de enfrentamento, possveis, s grandes corporaes.

    Entretanto, Felipe e Felipinho continuam morando em So Joo de Meriti. Sua msica, ancorada neste territrio e nas problemticas dele, ganha expresso para muito alm. A cidade e sua precariedade desde cedo produzem uma percepo de valor nos indivduos, naqueles que nela habitam. Os elementos que se destacam no seu discurso do visibilidade tanto a distintas esferas concretas e simblicas da dominao, quanto das possibilidades de emergncia de aes de resistncia. A forma como ambos narram este percurso nos oferece, daqui em diante, algumas pistas sobre tais expresses de opresso e resistncia.

    A cidade, seu contexto e seus habitantesA contnua e macia produo de

    precariedade fsica das cidades perifricas tm sido um forte aliado da dominao sobre estas populaes, legitimando a relao entre (ausncia de) condies materiais e condies simblicas de existncia. Esboam-se subjetivaes subordinadas queles que detm as relaes de produo e, principalmente, parece criar-se um aprisionamento simblico ao territrio pela impossibilidade de encontro com a diferena, com outra realidade vivel, possvel. Estas condies, tanto de isolamento fsico e simblico quanto de uma subordinao material transparecem quando os dois msicos falam de sua cidade de origem:

    A imagem que eu tenho da cidade de ver So Joo ser asfaltada. S o centro era asfaltado.

    7 Veganismo um estilo de vida em respeito aos animais. Um vegan no come alimentos de origem animal, carnes de todas as cores e tipos, ou que contenham qualquer resduo: leites, queijos, salsichas, ovos, mel, banha, manteiga, etc. Tambm no veste roupas ou sapatos feitos de animais: couro, seda, l, etc., evita o consumo de cosmticos e medicamentos testados em animais ou que contenham componentes animais na formulao: sabonetes feitos de glicerina animal, maquiagem contendo cera de abelha, etc., profissionalmente no trabalha com explorao animal, seja vivo ou morto. Fonte: site veganismo.org.br. Acessado em 15/05/2013.

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    Lembro de gente saindo pra rua com saco de supermercado amarrado no calado pra sair pra trabalhar no centro, por causa da lama e terra. De 10 anos pra c que comeou a ter um pouco mais de dignidade -ou no (Felipe).

    Um lugar como esse, o que mais tem aqui loja de material de construo. As famlias ganham um dinheiro, ele vai dar um jeito na casa dele, vai terminar a cozinha, assim que as pessoas vivem. Quando sobra alguma coisa pra famlia, pra dentro de casa. E o sonho de conhecer outros mundos, de viajar, de entrar em um avio que seja j uma conquista absurda (Felipe).

    Aliada a este isolamento e somando novos elementos a esta condio, ganha visibilidade a srie de precariedades que submetem desde cedo os que moram ali, reforando a associao entre territrio e vida cotidiana ao discurso da falta e do dficit:So Joo uma cidade muito pequena. Aqui no tem quadra, campo, nada que te oferea diverso, lazer. Um amigo nosso de Portugal, quando veio ao Brasil e conheceu a baixada, viu as casas, como as pessoas moram, ele disse: eu sou o cara mais feliz do mundo, eu descobri que eu no tenho problemas (Felipinho).

    Eu casei tem quatro anos e constru minha casa -bem tpico da Baixada isso, voc mesmo construir sua casa. Geralmente acontece nas lajes das famlias, sempre pra cima. A cidade tem uma densidade demogrfica imensa, quando eu era pequeno tinham campos de futebol, hoje s tem casa com duas, trs lajes. Eu constru tudo do zero, da fundao da casa, uma obra eterna, sem fim. As pessoas vivem com nada, entram na casa vazia. E a gente vive cercado disso (Felipe).

    Em meio a tal cenrio emergem anlises produzidas pelo msico sobre os efeitos destas condies de vida no cotidiano como as pessoas se relacionam e nas alternativas que constroem neste territrio:Voc passa em uma rua de So Joo, tem em uma rua, trs, quatro igrejas e trs, quatro bares, na mesma rua. Vira a rua, tem mais trs igrejas. Vira a outra rua, tem mais quatro igrejas. E a mais trs biroscas8. Cu e inferno, no tem real (Felipe).

    8 Bares pequenos e geralmente de estrutura precria caractersticos nas cidades perifricas e favelas das grandes cidades brasileiras.

    Os primeiros encontros com a cultura juvenil underground

    Fanon (2005), falando de sua condio de submisso pela raa, afirmava que uma vez que o outro hesitava em me reconhecer, s havia uma soluo: fazer-me conhecer (Fanon, 2005, p. 13). Este caminho de fazer-se conhecer pressupe provocar uma ao, uma resposta no mundo em forma de ao no mundo. A alternativa que os dois msicos apresentados no texto tm explorado para fazer-se conhecer foi a da cultura e da msica. Este caminho se deu inicialmente sem uma razo lgica atravessando as aes. Os caminhos foram espontneos e permeados por afetos -seus discursos so repletos de eu gostei, mexeu comigo, me abriu a cabea- sem que necessariamente fosse um movimento voluntrio, lgico ou racional motivado pelas condies de vida precrias e subalternizadas:

    Meu primeiro contato com a cultura rock foi no (bar do) Juvenal, um festival punk. Tocaram vrias bandas. Eu tinha 14, 15 anos. Nesse dia mexeu comigo... foi meu primeiro contato com o faa-voc-mesmo, com fazer msica sem a necessidade de saber msica, com as pessoas que tocavam ajudando as outras a montar palco, a preparar equipamento, tudo aquilo era novo pra mim (Felipe).

    A perspectiva colocada por Duncombe (2002) sobre as noes de comunitarismo e smbolos compartilhados expressando caminhos da resistncia, etapas, comea a ganhar contornos no percurso. Este autor tambm vai afirmar que nem sempre os indivduos ou grupos tm plena conscincia de que seus atos se constituem, por exemplo, em atos de resistncia. Isto se d a posteriori da ao. Um dos elementos que motiva estas aes pode ser a prpria relao com distancias e espaos. A ampliao das perspectivas de encontros, descoberta de novos territrios e de outras relaes atravs da reconfigurao dos significados dos espaos pblicos e coletivos por parte dos jovens atravs de atividades artstico-culturais uma possibilidade de resistir ao isolamento fsico e simblico. O quanto o ir e vir pela cidade e as formas de ocupar seus espaos e o estabelecimento de formas de comunicao e interao podem ser,

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    em alguma medida, expresses de resistncias destes grupos. Esta perspectiva aparece no discurso de Felipe:A gente vivia na baixada e tocava na baixada. A quando uma banda da baixada tocava no Garage9 eu ficava admirado com isso, eu ficava pensando um dia eu vou chegar l, vou tocar l no Rio, no Garage. O sonho era tocar no Garage (Felipe).A minha banda comeou quando eu fui a um show da banda do Max (guitarrista do Confronto), o Detrito Urbano. Eu me amarrei no show e a gente trocou fita demo. A beleza, mas o Marcelo, que tocava no Detrito, aqui de So Joo mesmo, me escreveu uma carta e comeamos a trocar cartas. Ele me mandou 200 flyers10, das bandas que se correspondiam com ele na poca. De 1996 a 1998 rolou muita carta entre ns, eu entrei feroz nessa parada de carta11 (Felipe).

    Interessante perceber aqui que a troca de cartas, em um perodo em que a internet ainda iniciava sua expanso pelo pas, se dava dentro da prpria cidade e tambm com atores de fora, de outros estados. Esta forma de comunicao foi uma das caractersticas da formao de redes contraculturais underground nos anos 80 e 90 e possibilitou a expanso do que Uzctegui (2012) denomina uma rede sem centro e de fluxos livres, que, ao menos em sua arquitetura bsica e em sua intencionalidade, anteciparia a internet (Uzctegui, 2012, p. 4).

    Ao mesmo passo, a entrada em um universo cultural de certa forma pouco conhecido, com um apelo visual e esttico muito forte, provocava reaes externas e promovia reconfiguraes na prpria percepo de mundo e de si. Quando eu terminei a 8 serie, cada um dos amigos meus foram para um lado. E meus amigos no entenderam muito quando eu entrei pra esse lance do rock. Foi mais por causa da parada da atitude mesmo, sabe... tipo, era agressivo (...)

    9 Casa de shows underground na Praa da Bandeira, centro da cidade do Rio de Janeiro, que existiu entre 1991 e 2002.

    10 Filipetas em que bandas e fanzines colocam suas informaes e contatos.

    11 Na dcada de 90 do ultimo sculo se tornou comum a troca de materiais (fanzines, releases, flyers de bandas) entre pessoas ligadas a cultura underground atravs de cartas sociais -de valor pequeno e destinatrio pessoa-fsica.

    eu queria aquilo. Meus pais sempre estiveram comigo, nunca ficaram preocupados nem nada, mas sempre acompanharam de perto (Felipe).

    Informao e novas experinciasAlguns elementos que Duncombe

    (2002) apresenta para discutir a noo de resistncia cultural se mostram, algumas vezes timidamente, outras de forma mais explcita, no discurso dos dois rapazes com os quais dialogamos. Um deles a ampliao do arsenal lingstico e intelectual, fora dos canais tradicionais de transmisso cultural, como a famlia e a escola. E tambm um canal de interpretao da realidade. A experincia enfatizada por eles da troca de cartas e da busca no outro, naquele que vivencia as mesmas experincias e sensaes, de informao, apoio e interlocuo se configura como a tentativa -precria, parcial, efmera- de formulao de uma direo, de um caminho alternativo de circulao de conhecimento e de percepes. Este percurso foi reforado tanto pelo contato com indivduos quanto pelo encontro com novos territrios -cidades e estados:Meu mundo era aquilo ali (So Joo do Meriti). Eu s tive uma dimenso do que o mundo pode te proporcionar no dia que eu peguei um nibus e fui pra So Paulo (tocar). Quando eu conheci aquela cidade gigante, quando cheguei l, vi aquele caos, aquilo me instigou. Abriu (a cabea). Eu falei quero ir mais longe, conhecer outros lugares assim (Felipe).Quando eu vi o primeiro zine falando sobre anarquismo, j vinha junto anarquismo, o MST ocupando, zapatismo, veio tudo de uma vez s. Naquela de carta, chegava muito zine, muita fita e eu passava tudo pros caras (que vieram a ser da minha banda) (Felipe).Eu nunca tinha pensado em viajar pra Europa, pra Argentina, pra tocar. S a msica me proporcionou isso, conhecer outras ideias, outras culturas. Conhecer cidades do interior da Alemanha, ser recebido na prefeitura de uma cidade de 2.000 habitantes. Interior do Brasil a gente conheceu menos, s no nordeste, mas foi outra experincia forte. E me fez pensar pra burro (Felipinho).A proposta de Duncombe de escalas de resistncia nos parece oportuna aqui. Ele

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    defende que, dentro das aes de resistncia cultural, podem-se observar etapas na direo da atividade poltica contra o poder institudo. Entre elas, a apropriao de informao, a construo de autoconscincia poltica, uma caminhada do sentido individual para o comunitrio e, ento, para um espectro social mais ampliado. Esta perspectiva da apropriao ganha contornos a partir do contato com novas perspectivas e da adeso racional a algumas.

    E no final dos 90s em comecei a curtir as bandas mais srias, mais polticas. As bandas chamadas for fun12 no me cativavam tanto quanto de outras bandas mais srias, pela mensagem. O contato com cartas me fez ter contato com o lance mais libertrio, anarquista, me fez comear a ficar mais atento a essa coisa poltica, a leitura de zines, etc. Ali comecei a conhecer zapatismo, desigualdade, combate ao racismo, vida livre de drogas... e eu comecei a pensar como assim, cara? Abriu a mente, um horizonte. E eu fiquei com sede de buscar mais conhecimento sobre aqueles assuntos (Felipe).

    A msica e a bandaA contestao tambm pode se dar atravs

    de certos processos de distanciamento em relao s estruturas tradicionais morais, como defende Pinto-Toms (2010). A relao entre arte e lucro estabelece uma fronteira que tensiona as noes de produo capitalstica e prope outra forma de percepo do que se denomina trabalho, atividade humana. O fato de no ganhar a vida com a msica sempre se coloca como um questionamento, ora para os jovens que a fazem, ora para aqueles que os rodeiam e no entendem o porqu de permanecerem fazendo arte sem ganhar por isso -ao menos o suficiente para sobreviver.

    E a teve aquele momento que meu irmo saiu disso, saiu da banda, porque viu que no ia dar grana. Eu fiquei porque eu gosto pra caralho. Ele achava que em algum momento a gente ia virar um Raimundos13. Eu, por ter contato com muitas bandas, por carta, que

    12 Eram chamadas for fun as bandas do universo do Rock alternativo que apresentavam letras puramente ldicas, sem nenhum contedo poltico ou social.

    13 Banda brasileira de grande apelo comercial.

    eram p no cho14, tinha mais contato com a realidade. difcil pras pessoas digerirem isso, eu mostro meus vdeos pro meu pai tocando em Quito pra 70.000 pessoas e ele me v no Brasil trabalhando em escritrio e ele no entende. Porque esta pergunta voc vive dessa porra? sempre. No incomoda responder a essa pergunta, mas nego acha que estar bem viver disso, ganhar grana com isso. Pra mim a banda e a msica so outra coisa (Felipe).

    Segundo Lpez-Cabello (2013) a msica punk funciona como uma tela que permite aos jovens vislumbrar e reconhecer uma realidade oferecendo recursos para nomear e distinguir situaes e sujeitos com quem se relacionam. Aqui, a opo pela msica e pela cultura como forma de expresso de um discurso pblico que se tornou prprio, autnomo, entra em conflito constantemente com as vises e percepes hegemnicas sobre este campo -a figura do artista que vence ao ter uma superexposio de sua obra e acumular muito ganho financeiro conflitada com outras percepes e formas de pensar e conceber a arte e a cultura. O constante incmodo em responder aos amigos e familiares sobre dar certo com a msica encontram um elemento de tensionamento da resposta negativa, mas que no se encerra em uma concluso, deixando uma dvida no ar- porque eles ainda fazem isso?

    Como a gente est a tanto tempo dentro disso, vivendo a msica e a coisa toda do underground, as pessoas acham que isso d certo (financeiramente). As pessoas nos vem viajando pra Europa, fazendo muitos shows, ento na prpria pergunta delas ta embutida a resposta -tipo, isso a d certo (d grana). No entra na cabea deles que o sucesso pra gente no ir no Fausto15. Mas no fim eles chegam concluso que no mundo deles, isso a d certo, muda o conceito de dar certo deles (Felipinho).Finalmente, os msicos tambm do grande nfase na entrevista ao papel de conhecer outros pases sobre a forma como viam o seu prprio territrio, e ao mesmo tempo as implicaes difceis que tais desafios colocavam.

    14 Realistas e conhecedoras do cotidiano da cultura underground.

    15 Programa popular televisivo de imensa audincia no Brasil.

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    Primeira vez que eu voltei da Europa eu voltei triste. D vontade de chorar. Voc v que no precisa ser assim, tem outra vida que d pra levar, sem tanto sofrimento pras pessoas (Felipinho).Da primeira vez que a gente foi pra Argentina a gente foi s com o dinheiro da ida e 60 camisas pra vender e tentar grana pra voltar. Conseguimos juntar pra volta e voltamos nos dois anos seguintes pra tocar l e no Chile (Felipinho).

    As limitaes da forma de vida VEGAN/ Straight Edge

    Os dois msicos tambm so adeptos, dentro da cultura underground, da corrente Straight Edge16 e do veganismo. Em meados dos anos 90, o veganismo passou a fazer parte das reivindicaes difundidas pelas culturas underground. Para grande parte dos straight edges, a absteno do consumo de qualquer produto de origem animal seria, principalmente, uma expresso de boicote s grandes indstrias capitalistas que lucram atravs da destruio do meio ambiente (OHara, 2005, p. 59). Esta atitude faz parte do arsenal de convices e referncias coletadas ao longo do percurso de ambos na cultura underground e os coloca frente a impasses cotidianos para manterem-se fiis a tais princpios. s vezes mais caro pra mim comer verdura que seria se eu comesse, sei l, bife, fgado todo dia ou porcaria de lata. Porque a feira longe de casa, no mercado caro ou est estragado. Mas eu estou nessa (veganismo) h muito tempo e a gente se acostuma a viver nesse perrengue, nesse constante embate com a indstria (Felipe).A Sadia lanou uma linha vegetariana. Mas da ela colocou os preos l no alto e com poucos mercados vendendo. Assim eles podem falar: viu, essa parada no vende, no funciona. E eles continuam vendendo mais porcaria industrializada, carne podre, pras pessoas (Felipe).

    16 Movimento que prega um estilo de vida livre de drogas, de oposio a atitude hedonista que caracterizava o comportamento de inmeros jovens que faziam parte do punk - que incluam no seu repertrio, o consumo abusivo de drogas (licitas e ilcitas) e um forte apelo violncia e ao que eles denominam autodestruio (OHara, 2005).

    6. Concluindo: legados e aprendizados

    Duncombe (2002) havia colocado uma encruzilhada a respeito da noo de resistncia cultural: se constituir como uma ferramenta, ou a prpria resistncia cultural sendo uma atividade poltica, ou ainda, por outra via, uma fuga do mundo da poltica e dos problemas concretos e determinantes, um fechamento em si mesmos demarcando fronteiras quase intransponveis entre ns e eles. Esta tenso permanece na leitura do percurso dos integrantes da banda Confronto e de suas percepes. Ao mesmo tempo em que o contato proporcionado aos jovens pela cultura underground com outras pessoas e territrios se configurou, segundo eles mesmos, em portas para outros mundos e aes, as condies concretas de vida as quais esto submetidos parecem se manter intactas sob a procura de uma certa pureza em atos e discursos. Como exemplo, estaria a rejeio aos canais comerciais convencionais de difuso da msica que se torna um obstculo ao acesso a maiores pblicos, ao passo que mantm o grupo protegido do assdio uniformizante da indstria do entretenimento.

    Desde aquela infncia de canela na lama na vila Roseli at agora e s ver a realidade de fora e de outras culturas atravs dos filmes at agora, pisar na Europa, conversar com as pessoas, mudou minha vida. Isso faz com que voc tenha uma autoanlise da sua vida, da sua sociedade, voc descobre que tudo que voc achava que era verdade absoluta, no . No caso da gente, com muita informao, com mais referncia, a gente consegue discernir melhor o que bom e ruim pra gente. Antes, quando eu era um simples f das bandas que eu curtia, e quando eu tive contato com o D.I.Y. com essa ideia de que eu estou em uma comunidade e podemos fazer juntos, na nossa, as coisas sem depender do governo, dos caras que tem o poder... esse universo da msica, me fez acreditar que possvel fazer as coisas mesmo com todas as dificuldades (Felipe).

    Freire-Filho (2007) chama a ateno para o fato de que o papel do posicionamento de classe como elemento de diferenciao dentro das culturas juvenis tem sido omitido, em vez de analisado, na interseco complexa com

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    outros fatores sociais relevantes. Este parece ser um elemento presente neste tensionamento entre o que se fala, como se fala e as condies concretas subjacentes a isso.

    Se, para Scott (1990), na maior parte dos casos na vida poltica o que est em jogo a conquista de outro mundo, de outras formas de ser neste mundo que reconfigurem as relaes hegemnicas existentes (Scott, 1990, p. 130), o ato de no conformidade com os padres pode ser o apontamento de uma direo. Ou seja, se h legitimao do controle e da dominao atravs de processos de subjetivao, tambm podem-se afirmar outras possibilidades de viver em sociedade como forma de resistncia.

    A gente vive completamente fora da realidade convencional, a gente no vive uma vida igual a dos outros. A gente vive um outro mundo, diferente da maioria das pessoas. E tenta fazer com que eles entendam e aceitem n, que como ns h muitos (Felipinho).

    A identificao de aliados (Como ns tem muitos) refora a posio de rejeio aos padres dominantes. Ainda que permeado pelas contradies de um processo fragmentrio de construo de uma direo de resistncia, equilibrando-se entre um processo ativo e um possvel fechamento em torno de crculos prprios ensimesmados, h no percurso e nos relatos apontados uma tentativa de afirmar uma potncia de si frente s condies que procuram dessubjetiva-los (Rabello de Castro, 2012, p. 84), mantendo-se vivos de uma maneira que provoca, causa estranheza, no segue scripts todo o tempo. Com sua banda Confronto e seu estilo de vida, os dois rapazes tem se mantido convictos em um caminho contra-hegemnico pagando, em certos momentos de vida, um preo afetivo e concreto por isso: os questionamentos familiares, a ausncia de recursos financeiros estveis, a permanncia em seu territrio de origem, enfrentando as dificuldades do local. Mas, se um dos princpios da resistncia de questionar a prpria realidade, talvez tecer, silenciosamente e entre poucos, inicialmente, outras vozes e outros modos alternativos de conceber a historia (Said, 2011, p. 338), seja uma das apostas possveis que ambos esto trilhando. E conquistando aliados neste caminho.

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