museu de lamego | apontamentos janeiro 2015

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APONTAMENTOS janeiro 2015 www.museudelamego.pt

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A primeira newsletter de 2015 destaca a chegada de "Cister no Douro" a Lamego. Inclui ainda um dossier com todas as peças eleitas em 2014 para a rubrica "Peça do Mês".

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APONTAMENTOS janeiro 2015

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3 | APONTAMENTOS

dest

aque

“Cister no Douro” não é, por isso, uma exposição

tradicional, mas a tradução de um espaço maior, de uma

Ordem que transformou um vale e que desempenhou um

papel primordial na excelência hoje reconhecida à região

como Património da Humanidade.

Com comissariado científico de Nuno Resende e organizada

pela Direção Regional de Cultura do Norte, Museu de Lamego

e projeto Vale do Varosa, “Cister no Douro” assume-se como

uma instalação multimédia, destinada a divulgar a

herança histórica, cultural, arquitetónica e artística

legada pela presença desta Ordem monástica na região.

Ao todo são seis os testemunhos materiais das comunidades

cistercienses instaladas durante a Idade Média e o período

moderno a sul do Douro, duas casas femininas e quatro

masculinas: Tabosa, Arouca, S. João de Tarouca, Santa Maria

de Salzedas, São Pedro das Águias e Santa Maria de Aguiar.

Todas, à exceção de Tabosa, fundadas no rescaldo da

reconquista e sob a matriz “Ora et Labora”, colocaram a

espiritualidade ao serviço de Deus, mas também do

conhecimento, possibilitando o avanço de novas técnicas,

instrumentos e saberes.

Depois da estação de metro do Porto da Casa da Música, “Cister no Douro” chega agora ao

Museu de Lamego. A partir de 31 de janeiro e até 26 de abril, um território histórico, detentor

de um património único, revela-se através de experiência de som e imagem, numa instalação

que recria um claustro, que sintetiza uma filosofia de vida.

“CISTER NO DOURO” chega a Lamego

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dest

aque

A chegada de Cister no século XII viria a marcar em

definitivo a História de um território hoje reconhecido

internacionalmente. Património da Humanidade, deve a

sua classificação ao trabalho das sucessivas comunidades de

cistercienses que transformaram o Vale do Douro num

espaço de cultura e saber, modificando a paisagem e o

território. É este legado que “Cister no Douro” traz a partir

do próximo dia 31 de janeiro ao Museu de Lamego, numa

instalação sustentada por imagem impressa e projetada e

por uma sonoplastia capaz de envolver o visitante.

A entrada é livre.

Vídeo promocional | http://bit.ly/CisterDouroML

4 | APONTAMENTOS

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ediç

ões

No arranque de 2015, o Museu de Lamego lança mais uma edição online, cumprindo desta

forma o seu grande objetivo de desenvolvimento de um programa de publicações em linha,

alargado e gratuito. Agora é a vez da Secção de Inventário do Museu ter um espaço de

divulgação e partilha, enquanto pilar fundamental da atividade museológica.

“INventa MUSEU” divulga trabalho de inventário

A abertura no site do Museu de Lamego deste espaço

visa divulgar um trabalho que muitas vezes se fica pelos

bastidores, mas que é fundamental na conservação

das coleções e na produção de informação relevante,

imprescindível na realização de exposições e com

consequências na divulgação dos acervos e no

reforço do relacionamento do Museu com os seus

públicos.

Instrumento primordial na abordagem dos objetos e

das coleções, a partir do qual se definem e

desenvolvem as tarefas de conservação, estudo e

divulgação, o trabalho de inventário é também o

garante da posse jurídica e da preservação da

informação, onde o objeto se assume simultaneamente

como uma entidade individual e única e uma realidade

complexa e plural.

A ação da secção de Inventário do Museu de Lamego

desenvolve-se assim no âmbito da política museológica

e da missão assumida pelo Museu de Lamego e

respectiva tutela, numa prática orientada por três

vectores essenciais: registo/inventário de aquisições,

doações, legados, revisão do acervo do Museu já

inventariado e o registo/inventário/conservação de

coleções de interesse histórico, cultural e artístico de

foro privado.

É nesta esfera que se move toda a atividade da Secção

de Inventário, que a partir de agora passa a ter um

instrumento de comunicação privilegiado. O primeiro

número da revista centra-se no estudo de uma Cruz

Relicário indo-portuguesa, datada do séc. XVII/XVIII,

revestida de placas e incrustações em madrepérola,

proveniente do Cabido da Sé de Lamego.

Sem periodicidade e formato fixos, dado que o contínuo

trabalho de inventário alterna o seu ritmo consoante a

natureza e complexidade de cada bem inventariado, a

INventa MUSEU pode ser consultada a partir do site do

Museu de Lamego, em www.museudelamego.pt.

6 | APONTAMENTOS

Page 7: MUSEU DE LAMEGO | apontamentos janeiro 2015

CRUZ RELICÁRIO

Autor Produção Matéria Desconhecido Indo-portuguesa Madeira, madrepérola, tinta-da-china, vidro, têxtil,

pedra Alt. 88 cm; a. cruz c/ espigão 67,2 cm; peanha 24 cm Larg. 34,8 cm; peanha 28,5 cm; Esp.: cruz Dimensões

2 cm; peanha 16,2 cm ; P: 3297 g Séc. XVII / XVIII Sé de Lamego 765Datação Proveniência Inv.

7 | APONTAMENTOS

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DIREÇÃO EDITORIAL

Luís Sebastian

TEXTOS

Georgina Pinto Pessoa

Luís Sebastian

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS

Alexandra Pessoa

José Pessoa

TRADUÇÃO

Padre Paulino Castro

DESIGN E COMPOSIÇÃO

Luís Sebastian

Paula Pinto

COMUNICAÇÃO

Patrícia Brás

EDIÇÃO

Museu de Lamego | Direção Regional de Cultura do Norte

DATA DE EDIÇÃO

janeiro de 2015

ISSN

2183-4482

ediç

ões

8 | APONTAMENTOS

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Feira d

o L

ivro

Devido à grande afluência registada durante o mês de

dezembro, a Feira do Livro no Museu de Lamego foi

prolongada até ao final de janeiro. Esta é assim uma

segunda oportunidade de adquirir obras de referência

com descontos que podem chegar aos 85%.

A Campanha, promovida pela Direção Regional de

Cultura do Norte (DRCN) e que abrange as lojas dos

museus e monumentos sob sua tutela, disponibiliza ao

público obras sobre História da Arte, Arquitetura,

Escultura, Pintura, Fotografia, Arqueologia,

Ourivesaria ou Museologia a preços mais reduzidos.

Na região, a Feira do Livro chega à Loja do Museu de

Lamego e ainda à Loja do Mosteiro de Santa Maria de

Salzedas, monumento integrado no projeto Vale do

Varosa.

A campanha de descontos, em edições DRCN, decorre

até 31 de janeiro.

FEIRA DO LIVRO agora até 31 de janeiro

10 | APONTAMENTOS

Page 11: MUSEU DE LAMEGO | apontamentos janeiro 2015

PEÇA DO MÊS 2014 | dossier Ao longo do ano de 2014, o Museu de Lamego trouxe a público um conjunto de peças,

uma por mês, que pretenderam espelhar a qualidade e a diversidade do acervo,

através, porventura, de objetos menos conhecidos do grande público.

Entre escultura, pintura, ourivesaria, azulejaria, gravura, mobiliário ou espólio

documental, foram vários os objetos que mereceram destaque ao longo do ano.

Em janeiro de 2015 reunimos em dossier todos objetos que integraram a rubrica

«Peça do Mês».

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Natureza morta

Roma

Séx. XVII - XVIII

Óleo sobre tela

Proveniência: antigo Paço Episcopal

Museu de Lamego, inv. 41

jan

eir

o

COMENTÁRIO

Tradicionalmente classificada como uma pintura

holandesa, de autor não identificado, este

exemplar deverá ter sido produzido em Roma e

tratar-se-á de uma reprodução da obra "Natura

Morta" do pintor alemão que fez carreira em

Itália, Christian Berentz (1658-1722), e que se

conserva na Galleria Nazionale d'Arte Antiga in

Palazzo Corsini, em Roma.

Do mesmo pintor e no mesmo "Palazzo", conserva-se

a pintura "Lo Spuntino elegante", da qual o Museu de

Lamego também possui uma reprodução.

As duas pinturas que se conservam em Roma são

provenientes da coleção Corsini e referenciadas

como "due quadretti di cose naturali, carne,

insalate e frutti. Regalati dall Alfiere Probstat."

[ " B e r e n t z - L o s p u n t i n o e l e g a n t e "

http://galleriacorsini.beniculturali.it/index.php?it

/111/berentz-lo-spuntino-elegante]

Do recheio do antigo paço episcopal, as réplicas

do Museu de Lamego deverão estar relacionadas

com a atividade colecionista dos prelados

lamecenses, sobretudo ao longo dos séculos XVIII

e XIX, e com as frequentes deslocações a Roma,

junto da Cúria papal.

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13 | APONTAMENTOS

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Salvas de pé alto (par)

Portugal

Séc. XV e XVIII

Prata dourada, relevada, incisa e recortada

Proveniência: antigo Paço Episcopal

Museu de Lamego, invs. 144, 145

fevere

iro

COMENTÁRIO

Testemunhos de uma atmosfera de conforto e aparato,

emergente nos finais da Idade Média, embora

estruturalmente alteradas por uma adaptação

posterior, os dois exemplares inscrevem-se numa

tipologia de salvas decorativas de pé alto com a

marca estética e ornamental do manuelino. A nota

mais expressiva e original destas peças reside na

solução decorativa da superfície circular do prato,

com um recurso a um esquema de faixas

concêntricas de alvéolos hemisféricos e fiadas de

pontas de diamante. Estas formas resultam de uma

reciprocidade de relações entre a ourivesaria e

arquitetura. Entre os mais conhecidos exemplos de

apropriação do motivo das «pontas de diamante»

pela arquitetura portuguesa, refira-se a celebrada

Casa dos Bicos, em Lisboa.

Habitualmente exibidas em aparadores, nas salas

destinadas a momentos de convívio, as salvas

funcionavam como uma verdadeira metáfora da

posição e hierarquia do seu proprietário.

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març

o Painel de Azulejos

Fernan Martínez Quijarro e Pedro Herrera

Sevilha,1503

Barro vidrado, aresta policromada

Proveniência: Sé Velha de Coimbra

Museu de Lamego, inv. 607

COMENTÁRIO

Este painel de azulejos, à semelhança de outros que

integram a coleção do Museu de Lamego, é oriundo da

nave lateral esquerda da Sé Velha de Coimbra e

resulta de uma oferta do professor de História da Arte,

Vergílio Correia.

Coimbra foi, depois de Lisboa, o mais importante

centro de propagação de azulejos quinhentistas em

Portugal. Isto ficou a dever-se ao patrocínio do grande

Bispo-Conde "renascentista" D. Jorge de Almeida, que

governou a diocese de 1483 a 1543. O embelezamento

da Sé Velha com azulejos "de labores" fazia parte, das

obras renascentistas empreendidas no templo pelo

Bispo.

Avultavam, pela quantidade e variedade de padrões,

os azulejos que revestiam quase totalmente o

interior da Sé Velha, pelo menos até finais do século

XIX, tendo sido, pouco a pouco, arrancadas até

ficarem reduzidos a um pequeno revestimento junto

à pia baptismal e alguns dispersos.

Os museus nacionais do Azulejo (Lisboa) e Machado de

Castro (Coimbra) conservam, atualmente, a mais

importante coleção destes azulejos retirados da Sé

Velha de Coimbra.

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ab

ril

COMENTÁRIO

Em abril, a “Peça do Mês” destacou uma gravura que reproduz uma

das mais célebres obras de Rafael, um dos mestres do Ranascimento

italiano. “A Virgem da Cadeira” ("Madonna della Seggiola") é uma

composição a óleo sobre madeira, do início do século XVI, onde

figuram a Virgem, o Menino e São João Batista. Mais de duzentos

anos depois, outro Rafael, agora gravador, reproduziu-a em

gravura.

Raphael Morghen (Florença, 1758-1833), foi um dos maiores

gravadores de finais do século XVIII e inícios do XIX que iniciou a sua

aprendizagem com o pai, Filippo Morghen, destacado gravador de

assuntos mitológicos e de retratos. Com apenas 12 anos publica a sua

primeira gravura e aos 20 estabelece-se, por conta própria, recebendo

numerosas encomendas de retratos, assuntos mitológicos e religiosos.

Viveu e trabalhou em Nápoles, Roma e Florença, tendo executado, no

total, 252 gravuras originais, a partir de obras de mestres como o já

referido Rafael, mas também Titan, Bronzino, Correggio, Matteini. Foi

ainda membro das mais prestigiadas academias italianas e do Instituto

Francês.

Possuidor de uma técnica notável, a sua obra destaca-se por valores

tonais e texturais inegualáveis.

Legendada, a gravura da “Virgem da Cadeira” foi executada por

Raphael Morghen para o General Monfrendini, tendo sido impressa,

em Roma, na oficina de Nicola de Antony.

O original a óleo sobre madeira de Rafael conserva-se em Florença, na

Galeria Palatina do Palácio Pitti.

Virgem da Cadeira

Raphael Morghen

Florença, 1770 - 1833

Proveniência: Legado poeta Fausto Guedes Teixeira

Museu de Lamego, inv. 905

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COMENTÁRIO

Em maio, o Museu de Lamego destacou uma cabeça

feminina, em mármore, datada do século I.

Cortada pelo pescoço, de cabelos apartados, olhos

amendoados e salientes, sublinhados por pálpebras bem

marcadas, sem marca de pupila e íris, esta escultura

terá feito parte de uma estátua hoje desaparecida.

De origem mal documentada, a coleção de vestígios

romanos do Museu de Lamego é constituída por moedas,

fragmentos cerâmicos, estelas funerárias e um

reduzido, mas importante núcleo de estatuária, tudo

recolhido em Lamego e concelhos limítrofes. Entre a

estatuária, um torso feminino, eventualmente

associado à deusa da Fortuna, e a presente cabeça,

ambos recolhidos nos muros da cidade de Lamego,

comprovam a importância da antiga cidade de

"Lamaecus".

Esta convicção baseia-se não só no facto de os dois

fragmentos, apesar de muito erodidos, revelarem um

tratamento cuidado e de muito boa qualidade, mas

também na escolha de uma pedra que não é da região -

o mármore - para a sua execução, atestando a

capacidade económica e grau de exigência por parte

dos encomendantes.

Cabeça feminina

Séc. I (Romana)

Mármore

Proveniência: Lamego

Museu de Lamego, inv. 573

maio

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COMENTÁRIO

Essencialmente destinadas ao transporte em viagens,

as arcas foram também utilizadas como móvel fixo de

guarda. É precisamente uma arca, datada dos séculos

XVII-XVIII, que o Museu de Lamego elegeu em junho

como “Peça do Mês”.

As arcas encoiradas, tipo a que este exemplar pertence,

eram quase sempre de couro liso e preto. Podiam ser

"de uma em carga" ou "de duas em carga", terminologia

que se prendia com essa função. A sua execução

pertencia aos correeiros de obra grossa, a quem cabia

igualmente a sua venda.

Documentação do séc. XVI menciona fechaduras,

engonços e pregos estanhados, distinguindo-se, entre

as fechaduras, as que se destinavam a arcas encoiradas.

Esta arca, de tampo retangular, é revestida, no exterior,

com couro parcialmente gravado e, no interior, a estopa

de linho, decorado com fitilho.

Arca

Portugal, sécs. XVI - XVII

Cerejeira(?), couro gravado, linho e ferro estanhado

Proveniência: antigo Paço Episcopal(?), Mitra de Lamego(?)

Museu de Lamego, inv. 516

jun

ho

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Bula

Roma, 2 de julho de 1403

Pergaminho

Proveniência: antigo Paço Episcopal

Museu de Lamego, inv. 969

COMENTÁRIO

Datada de julho de 1403, a Bula ”Eximie devotionis”, do papa Bonifácio IX, é

“Peça do Mês” do Museu de Lamego. O documento, com mais de 600 anos, é

de entre a coleção de pergaminhos do Museu o de maior interesse para a

história da Diocese, para além de ser também o mais antigo.

Datada de 2 de julho, a Bula integra na mesa episcopal de Lamego os bens que o

bispo cismático de Cidade Rodrigo possuía em Portugal, a pedido dos reis

portugueses D. João I e D. Filipa de Lencastre.

A emissão deste diploma coincide com o governo episcopal de D. Gonçalo

Gonçalves, Bispo de Lamego entre 1393 e 1419, sendo o único exemplar

conhecido em Portugal, existindo apenas uma cópia guardada no Arquivo do

Vaticano.

Com um importante significado religioso, mas também político, em dezembro do

mesmo ano o Bispo de Lamego deu conhecimento da Bula em Castelo Rodrigo a

todo o clero de Riba Coa, acontecimento que, pela importância, ficou registado

no verso do próprio documento.

A Bula “Eximie devotionis” é assim entendida como o anúncio do fim do domínio

secular da Diocese de Ciudad Rodrigo sobre terras portuguesas, num tempo de

oposição entre dois papas, dois reinos e duas dioceses.

A “Peça do Mês” é uma iniciativa que traz mensalmente a público um conjunto de

objetos que pretendem espelhar a qualidade e a diversidade do acervo, através,

porventura, de objetos menos conhecidos do grande público. Depois da pintura,

ourivesaria, azulejaria, gravura, escultura e mobiliário, chegou agora a vez do

espólio documental integrar esta rubrica.

julh

o

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Píxide

Séc. XVIII

Prata dourada, relevada e incisa

Proveniência: Sé de Lamego

Museu de Lamego, inv. 143

A aproximação a esta cidade, notável pela qualidade do

trabalho dos seus ourives, verifica-se, aliás, noutros

objectos do acervo episcopal. E como sabemos, a

relevância cultural e artística dos bispos dependia

inquestionavelmente dos seus círculos familiares e até

da sua origem, como se deduz do facto de uma das

grandes encomendas de alfaias litúrgicas no século XVIII

ser atribuída à figura de D. Nuno Álvares Pereira de

Melo, que em Lisboa, onde nascera e vivera à sombra da

sociedade de corte, fora buscar a obra

do ourives Tomás Correia com que presenteara a

cátedra por si ocupada desde 1709 (ver BRAGA em

RESENDE, 2006, I: 208-210).

Toda a centúria de setecentos foi para a sé de Lamego

uma manifesta época de ouro no sentido material e

espiritual do termo, de que a dotação da catedral de

grandes e vistosos conjuntos de alfaias litúrgicas (na

sequência das grandes campanhas de obras que o

próprio edifício recebeu) testemunham.

A píxide ou cibório, pela importância da sua função de

salvaguarda do Alimento Sagrado associa-se a um

conjunto de alfaias e elementos arquitectónicos que

constituem o património sacro das igrejas, como a

patena (que cobre o cálice) e o sacrário ou tabernáculo

reservatório maior da Eucaristia.

NUNO RESENDE in «A Sé de Lamego no Museu»

(disponível em http://bit.ly/MLcatalogoEXP)

COMENTÁRIO

Notável exemplo da introdução de ornamentação

rococó no já enraizado barroco português, a píxide de

Lamego não deixa de, em termos formais, apresentar o

significado e a função que desde a actividade

reformista do século XVI lhe foi atribuída pelo uso em

contexto litúrgico. De facto é na copa, em forma de

urna, que o artífice nos elucida sobre a importância da

peça: três cartelas ou medalhões trilobados registam

em relevo as cenas da Última Ceia, da Ressurreição e do

Pentecostes que definem a relevância do objecto

enquanto guardião do alimento consagrado. Continente

do Pão da Vida, sepulcro do Corpo de Cristo,

receptáculo para a substanciação do Espírito a píxide é,

ao contrário do cálice mencionado nos evangelhos um

objecto criado na sequência do rito eucarístico. A base

sustenta o sentido teológico da copa: um feixe de

espigas de trigo, um cacho de uvas e o cordeiro místico

definem o alimento sagrado e a sua importância

sacrificial transubstanciada na hóstia.

Embora se não conheça o seu percurso desde a

execução até à incorporação no património da Mitra

lamecense (que poderá ter ocorrido durante um dos

longos episcopados da segunda metade do século XVIII)

a píxide de Lamego apresenta notáveis semelhanças

com algumas peças setecentistas tardias de produção

portuense.

ag

osto

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Page 27: MUSEU DE LAMEGO | apontamentos janeiro 2015

27 | APONTAMENTOS

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São Miguel

Séc. XVIII

Madeira de castanho, estofada, dourada e policromada

Proveniência: Convento das Chagas de Lamego

Museu de Lamego, inv. 730

COMENTÁRIO

Integrada na composição retabular lateral da Capela de

São João Evangelista, esta peça foi recentemente

intervencionada, no âmbito de uma ação integral de

conservação e restauro do retábulo.

A escolha de S. Miguel para integrar esta rubrica não é alheio

o facto de, exatamente em setembro de 1919, o primeiro

diretor do Museu de Lamego, João Amaral, ter emitido um

ofício a solicitar ao Presidente da Comissão Executiva da

Câmara Municipal de Lamego a oferta das esculturas de

madeira que ainda restavam nas capelas do claustro do

extinto Convento das Chagas de Lamego.

O pedido seria atendido a 26 de setembro do mesmo ano,

tendo dado entrada no Museu de Lamego trinta e seis

esculturas de santos que se encontravam expostas nas

capelas do claustro do Convento, entre as quais a estatuária

do arcanjo, cujo dia comemorativo acontece, também em

setembro (dia 29).

Nesta escultura em particular, S. Miguel é representado

envergando traje militar de fantasia (couraça e elmo),

empunhando espada longa, de lâmina ondulada.

sete

mb

ro

28 | APONTAMENTOS

Page 29: MUSEU DE LAMEGO | apontamentos janeiro 2015

29 | APONTAMENTOS

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Jarro

Séc. XX (1938-1958)

Autor: José Martins Meireles (ourives)

Prata fundida, cinzelada e dourada

Centro de Fabrico: Porto

Oficina-Fabricante: REIS-PORTO

Proveniência: Doação de João de Almeida

Museu de Lamego, inv. 2636

COMENTÁRIO

Decorado com parras e cachos de uvas e produzido na

primeira metade do séc. XX, este é um objeto ligado

ao universo da mesa, muito comum ao recheio das

quintas da região.

Pertencente à coleção do médico cirurgião de Lamego, Dr.

João de Almeida, doada ao Museu de Lamego em 1981, o

jarro foi produzido na importante casa de ourivesaria

nacional Casa Reis & Filhos, situada no Porto.

Na sua conceção formal e decorativa há uma clara alusão à

produção do vinho, numa altura em que a ourivesaria

portuguesa, de acordo com a ideologia vigente, se inspira

na tradição, dentro do espírito de recuperação dos valores

nacionais.

A ourivesaria da primeira metade do século XX vai assim

dar origem a diversas peças em prata que espelhavam um

país ainda rústico, cujos valores passavam para a mesa

através de objetos nobres como canecas, bilhas, jarros,

entre outros. inspirados nas formas populares.

ou

tub

ro

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no

vem

bro

Cadeirinha

1790-1795 (Estilo Império)

Autor: Holmes, George

Griffin, William Morely

Madeira, couro, marroquim, bronze, ferro,

tecido, vidro, crina

Centro de Fabrico: Londres, Conventry Street

Oficina-Fabricante: Holmes and Griffin

Proveniência: Doação de D. Margarida Braga Guedes Teixeira

Museu de Lamego, inv. 336

COMENTÁRIO

Muito populares na Europa, sobretudo entre os

séculos XVII e XIX, as cadeirinhas eram utilizadas

em pequenas viagens, nas ruas estreitas do

interior das cidades. O Museu de Lamego possui

um exemplar deste meio de transporte,

integrado num conjunto de 87 que se conhecem

deste tipo.

As cadeirinhas são um meio de transporte sem rodas,

transportadas por dois ou quatro lacaios (conforme o

peso do ocupante) que a erguiam, sustentando os dois

longos varais encaixados nas laterais da cabine, com o

auxílio de tiras de couro ou de têxtil colocadas à volta

do pescoço.

Em novembro de 2012, o Museu de Lamego recebeu a

visita do especialista britânico em cadeirinhas

europeias, Stephen Loft-Simson, que integrou o

exemplar do Museu de Lamego num conjunto de 87,

dito "de Westminster", com o tejadilho ligeiramente

abaulado e com ornatos de inspiração neoclássica,

muito comuns nos desenhos de Robert Adams,

publicados em 1775.

De acordo com o mesmo autor, este tipo de cadeirinhas,

nove identificadas em Portugal, foi produzido entre

1765 até 1825, não sendo, no entanto, muito claro se

terão sido compradas novas em Londres ou, mais

provavelmente, t raz idas por comerc iantes

portugueses, ligados, eventualmente, ao comércio do

vinho do Porto. Outros exemplares poderão ter chegado

a Portugal através dos fornecedores da Armada

Britânica durante a Guerra Peninsular.´

Símbolos do estatuto social dos seus possuidores, a

origem do presente exemplar não se encontra

documentada, estando apenas identificado o seu

último proprietário, o poeta lamecense Fausto

Guedes Teixeira (1871-1940), conforme inventário de

1942, dos bens doados por D. Margarida Braga Guedes

Teixeira (viúva do poeta), ao Museu de Lamego. Fausto

Guedes Teixeira foi sobrinho neto do 1.º Visconde de

Valmor, José Isidoro Guedes, podendo a cadeirinha em

apreço estar relacionada com este rico proprietário,

que adquiriu a Quinta do Ramalhão (Sintra), em 1851.

32 | APONTAMENTOS

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Virgem da Conceição

Séc. XVII

Marfim, prata dourada, madeira

Centro de Fabrico: Ceilão (?)

Proveniência: Doação de Maria Manuela Fonseca Ferreira

(Data de incorporação: 26/05/2014)

Museu de Lamego, inv. 8547

COMENTÁRIO

O reconhecimento dos museus como locais privilegiados

de perpetuação da memória, muitas vezes ligada ao

universo pessoal e familiar de colecionadores privados, tem

sido um dos principais motivos que justificam o

engrandecimento da coleção do Museu de Lamego ao

longo das últimas sete décadas. O museu reúne mais de

meia centena de nomes associados a doações ou legados

de obras de arte que lhe foram confiadas.

A Virgem da Conceição em marfim, de produção indo-

portuguesa, datável de finais do século XVII, foi escolhida

para peça do mês de dezembro entre as mais de 600 obras

que foram incorporadas nessas circunstâncias no acervo do

museu entre 2013 e 2014.

Pesaram na escolha, a proximidade do dia 8 de dezembro,

que no calendário litúrgico corresponde à celebração de

Nossa Senhora da Conceição, que Portugal converteu em

padroeira e rainha, e, naturalmente, a sua qualidade

artística e estética. Também determinante o valor desta

imagem devocional como documento histórico: foi trazida

da Índia, por um lamecense, no contexto de uma missão

militar na 1.ª Guerra Mundial, cujo centenário agora se

comemora.

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De terça a domingo, das 9h30 às 18h00.

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Museu de Lamego

Largo de Camões

5100-147 Lamego

Tel: (+351) 254600230

E-mail: [email protected]

Site: www.museudelamego.pt

Facebook: www.facebok.com/museu.de.lamego

Horário

De terça-feira a domingo, das 9h30 às 18h00.

Encerra às segundas-feiras.

Gratuito no primeiro domingo do mês.

Serviço Educativo

Visitas orientadas/comentadas à exposição permanente e

exposições temporárias, mediante marcação prévia.

Biblioteca

De terça a sexta-feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às

18h00, mediante contacto prévia.

Auditório

100 lugares

Loja

APONTAMENTOS janeiro 2015

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