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O MundO dO TrabalhO e as nOvidades nOrMaTivas na PersPecTiva da MagisTraTura e dO MinisTériO PúblicO hOMenageM aO MinisTrO arnaldO süssekind Obra Coletiva do IPEATRA

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Page 1: Mundo Do Trabalho E As Novidades Normativas Na Perspectiva E Do Ministério Público: Homenagem Ao Ministro Arnaldo Sussek

O MundO dO TrabalhO e as nOvidades nOrMaTivas na PersPecTiva

da MagisTraTura e dO MinisTériO PúblicO

hOMenageM aO MinisTrO arnaldO süssekind

Obra Coletiva do IPEATRA

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Gérson Marques ney Maranhão

Coordenadores

O MundO dO TrabalhO e as nOvidades nOrMaTivas na PersPecTiva

da MagisTraTura e dO MinisTériO PúblicO

hOMenageM aO MinisTrO arnaldO süssekind

Obra Coletiva do IPEATRA

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Page 4: Mundo Do Trabalho E As Novidades Normativas Na Perspectiva E Do Ministério Público: Homenagem Ao Ministro Arnaldo Sussek

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-001 São Paulo, SP — Brasil Fone (11) 2167-1101 www.ltr.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índice para catálogo sistemático:

Todos os direitos reservados

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: R. P. TIEZZI X Projeto de Capa: R. P. TIEZZI X Imagem da Capa: Desenhado (1948), obra do artista gráfico holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972) Impressão: GRAPHIUM EDITORA

Janeiro, 2014

O Mundo do trabalho e as novidades normativas na perspectiva da magistratura e do Ministério Público: homenagem ao Ministro Arnaldo Süssekind : obra coletiva do IPEATRA / Ney Maranhão, coordenador. — São Paulo : LTr, 2014.

Vários colaboradores.

Bibliografia

1. Direito do trabalho 2. Direito do trabalho — Brasil 3. Süssekind, Arnaldo, 1917-2012 I. Maranhão, Ney.

13-13149 CDU-34:331(81)

1. Brasil : Direito do trabalho 34:331(81)

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Versão impressa - LTr 4960.6 - ISBN 978-85-361-2808-5Versão digital - LTr 7711.2 - ISBN 978-85-361-2886-3

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Colaboradores

Adriana Campos de Souza Freire Pimenta

Alda de Barros Araújo

Antônio Álvares da Silva

Bruno Alves Rodrigues

Carlos Eduardo de Azevedo Lima

Cláudio Dias Lima Filho

Francisco Milton Araújo Júnior

Guilherme Guimarães Feliciano

Igor Cardoso Garcia

Marcelo José Ferlin D’Ambroso

Marco Aurélio Marsiglia Treviso

Maria de Nazaré Medeiros Rocha

Maria Francisca dos Santos Lacerda

Ney Maranhão

Oscar Krost

Paulo Douglas Almeida de Moraes

Pedro Lino de Carvalho Júnior

Rodrigo Goldschmidt

Saulo Marinho Mota

Sérgio Cabral dos Reis

Xerxes Gusmão

Zéu Palmeira Sobrinho

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Sumário

Nota dos Coordenadores ...................................................................................................................... 11

Direito Material

Em Busca de um Caminho de Dignidade para os Trabalhadores Rurais: uma Análise Per-meada pela Teoria Crítica dos Direitos Humanos ...................................................................... 15 Alda de Barros Araújo

O “Simples Trabalhista” e a Precarização no Âmbito das Relações de Trabalho ..................... 46 Carlos Eduardo de Azevedo Lima

Motorista e o Controle no uso de Drogas e Bebidas Alcoólicas. Confronto entre o Direito Fundamental à Privacidade e o Direito Fundamental à Segurança no Trânsito .................. 52 Francisco Milton Araújo Junior

Relação de Emprego com a Administração Pública: Equívocos da Súmula n. 363 do TST e Competência da Justiça do Trabalho ............................................................................................ 68 Guilherme Guimarães Feliciano

Limitação de Jornada do Trabalhador Doméstico: Análise Crítica à luz da Dignidade Hu-mana, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e das Novas Diretrizes da OIT .... 79 Igor Cardoso Garcia

Cooperativismo — Castigo ou Redenção? ........................................................................................ 87 Maria Francisca dos Santos Lacerda

Inconstitucionalidade do Limite Máximo de 90 dias Atinente ao Aviso-Prévio Proporcional ao Tempo de Serviço (Lei n. 12.506/2011): Reflexão Lastreada no Princípio da Vedação de Retrocesso Social ............................................................................................................................... 99 Ney Maranhão

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Direito do Trabalho e Dignidade da Pessoa Humana: Redescobrindo a Tutela por uma “Hermenêutica Responsável” ....................................................................................................... 106 Oscar Krost; Rodrigo Goldschmidt

Abordagem Holística sobre a Nova Regulamentação da Profissão do Motorista (Lei n. 12.619/2012) ....................................................................................................................................... 122 Paulo Douglas Almeida de Moraes

Novas Figuras Juslaborais na Jornada de Trabalho dos Motoristas Profissionais: Tempo de Direção, Tempo de Espera e Tempo de Reserva ........................................................................ 145 Saulo Marinho Mota

Nova Lei das Cooperativas de Trabalho: Réquiem para a Fraude Trabalhista? ...................... 162 Xerxes Gusmão

Direito Processual

Substituição Processual Sindical e Efetividade dos Direitos Fundamentais Sociais: uma Visão Prospectiva ............................................................................................................................ 171 Adriana Campos de Souza Freire Pimenta

Reflexões sobre a Execução Trabalhista ........................................................................................... 183 Antônio Álvares da Silva

Representatividade de Categoria. Por uma aplicação do Princípio da Unicidade Sindical Obstativa da Precarização Trabalhista ........................................................................................ 198 Bruno Alves Rodrigues

Constitucionalidade da Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT) e seu Ques-tionamento perante o Supremo Tribunal Federal ..................................................................... 207 Cláudio Dias Lima Filho

O Pacto de São José da Costa Rica e a Possibilidade de Prisão Civil por Dívida Alimentar Trabalhista......................................................................................................................................... 221 Marcelo José Ferlin D’Ambroso

O Limbo Jurídico: o Trabalhador que é Considerado Apto pelo INSS e Inapto pelo Empregador — uma Solução Hermenêutica em Prol da Justiça do Trabalho ...................... 236 Marco Aurélio Marsiglia Treviso

A Democratização do uso das Ações Processuais Disponíveis no Ordenamento Jurídico Brasileiro na Defesa dos Direitos Coletivos ............................................................................... 249 Maria de Nazaré Medeiros Rocha

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A Sentença Criminal e seus Efeitos na Jurisdição Trabalhista Coletiva .................................... 257 Pedro Lino de Carvalho Júnior

Tutela Judicial dos Direitos Sociais: para Além do Mínimo Existencial na Jurisdição Cons- titucional Democrática .................................................................................................................... 276 Sérgio Cabral dos Reis

A Tutela Antecipada e o Prejuízo Remuneratório em Face do Valor do Benefício Aciden- tário Auferido .................................................................................................................................... 291 Zéu Palmeira Sobrinho

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Nota dos Coordenadores

O trabalho humano sempre ocupou papel central na vida em sociedade. E tudo indica que essa importância há de se manter — apesar de, aqui e acolá, ver-se retumbar um ou outro prog-nóstico em sentido contrário.

Ocorre que também se afigura secular a resistência político-econômica frente a qualquer ten-tativa de impressão de melhoria à condição social da classe trabalhadora. Há mesmo quem pregue, nesse contexto, pautando-se em um ideal economicista diante do qual a mão de obra se traduz em um mero custo da produção, uma espécie de minimização da tutela do homem trabalhador, tanto em seu patrimônio quanto em sua própria dignidade. E isso mesmo diante do fato de que esse aprimoramento expressa indiscutível comando de nossa Carta Constitucional (art. 7º, caput).

Em meio a essa clássica tensão, foi criado, no final de 2007, em Florianópolis/SC, o Instituto de Pesquisas e Estudos Avançados da Magistratura e Ministério Público do Trabalho — IPEATRA, instituição sem fins lucrativos composta por Juízes e Procuradores do Trabalho de todo o território nacional e que tem por objetivo instigar a reflexão de questões ligadas ao campo juslaboral, à luz de uma perspectiva de máxima humanização nas relações de trabalho.

Atento aos seus propósitos, vem o IPEATRA, neste momento, perante a comunidade jurídica, prestar sua homenagem ao saudoso Ministro Arnaldo Süssekind, falecido em 2012, jurista de escol e um dos autores da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) — referência normativo-laboral no Brasil e que, este ano, logra êxito em alcançar seu 70º aniversário.

O sincero preito de admiração e gratidão vem materializado, como não poderia deixar de ser, por meio de manifestações plurais e humanistas, a formar um rico e denso trabalho intelecti-vo cuja estruturação final foi forjada à luz de um elevado grau de reflexão, investigação e crítica. Um tributo, ainda que singelo, a uma mente prodigiosa cuja influência de pensamento entre nós ressoa indiscutível.

Que os predicados da coerência, lucidez e tenacidade, marcas da vida e obra de nosso home-nageado, também possam ser encontrados em cada tinta deste livro, de modo a servir de inspiração para iniciativas outras de similar natureza.

Bons estudos!Fortaleza/CE — Belém/PA, em setembro de 2013.

Gérson Marques Procurador do Trabalho (MPT-7 — CE)

Presidente do IPEATRA (biênio 2011/2013)

Ney Maranhão Juiz do Trabalho (TRT-8 — PA/AP)

Membro (Conselheiro) do IPEATRA (biênio 2011/2013)

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Direito Material

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Em Busca de um Caminho de Dignidade para os Trabalhadores Rurais: uma Análise Permeada pela

Teoria Crítica dos Direitos Humanos

alDa De Barros araújo(*)

Sumário: Introdução. 1. O desenvolvimento da concepção de direitos humanos na contemporaneidade. 1.1. A concepção tradicional de direitos humanos. 1.2. Em busca de uma aproximação à teoria crítica dos direitos humanos. 1.3. Direitos humanos, dignidade e trabalho decente. 1.4. O estado de necessidade e injustiça econômica e cultural e o fenômeno da habituação — o mal a ser combatido. 2.1. Sindicatos de trabalhadores rurais: da formação à proposta de desmembramento. 2.2. A proposta de intervenção do Ministério Público do Trabalho. 2.3. A atuação do Poder Judiciário como vetor de dignidade do traba-lhador rural. 2.3.1. Da remuneração das horas extras. 2.3.2. Do adicional de insalubridade. 2.3.3. Do adicional de penosidade. 2.3.4. Do descanso semanal remunerado e das férias anuais. 2.3.5. Do banco de horas. Considerações finais.

(*) Juíza do Trabalho, Titular da 3ª Vara de Maceió — AL. Membro do IPEATRA e da AJD. Professora da EMATRA XIX. Especialista em Direito Processual (UFAL), Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho (Faculdade Maurício de Nassau), Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo (UNICAMP-CESIT). Cursa Máster em Teoria Crítica dos Direitos Humanos, pela Universidad Pablo de Olavide (Sevilha) em convênio com a Anamatra.

introdução

A proposta deste trabalho consiste em ana-lisar as condições do trabalho rural e, tomando como marco teórico a teoria crítica dos direitos humanos, apresentar propostas que levam ao empoderamento dos trabalhadores a partir de uma estruturação sindical legítima, sugerindo--se vias de ação estatal capazes de contribuir para o alargamento do sentido da dignidade humana dos trabalhadores rurais.

Considerando-se a capacidade de mudan-ça do mundo por meio de ações voltadas para essa finalidade no âmbito interativo comunitá-rio, este trabalho tem como objetivo discutir a questão da efetividade dos direitos sociais dos trabalhadores rurais, a partir do contexto de sua estruturação sindical, bem como o papel das instituições públicas — Ministério Público do Trabalho e Justiça do Trabalho, apresentando- -se algumas linhas de interpretação possíveis da legislação nacional capazes de conferir maior nível de efetividade aos direitos da categoria.

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Em razão do caráter de indivisibilidade dos direitos humanos, a distinção não signifi-cativa para alguns doutrinadores entre direitos humanos e direitos fundamentais, bem como a partir da constatação que os direitos trabalhis-tas são direitos humanos forjados na luta entre interesses antagônicos, será abordado o tema dos direitos sociais dos trabalhadores rurais, utilizando-se indistintamente os termos direi-tos humanos, direitos fundamentais, direitos sociais, direitos trabalhistas, sem desconhecer a autora a respeito da existência de teorizações a respeito de cada nomenclatura específica.

A primeira parte tem como objetivo de-monstrar o desenvolvimento da concepção contemporânea dos direitos humanos, partindo da teoria tradicional, a fim de subsidiar uma posterior aproximação à teoria crítica de Her-rera Flores. Em seguida, traça-se um paralelo entre direitos humanos, dignidade humana e trabalho decente, que servirá de pressuposto ao estabelecimento das premissas básicas que fundamentam o desenvolvimento do tema, sob o pressuposto de que os trabalhadores rurais se encontram em uma situação de injustiça e violência social.

O segundo item tem como intenção sugerir alguns caminhos para um maior nível de dig-nidade dos trabalhadores rurais e começa pela apresentação da formação dos sindicatos rurais estabelecido no Brasil em 1965, com a devida crítica ao modelo legislativo e proposta de des-membramento, a partir dos conceitos gerais de autonomia privada coletiva e solidariedade de interesses, mediante uma atuação pedagógica do Ministério Público do Trabalho, vez que a ca-tegoria tem se apresentado historicamente como carente de políticas públicas de emancipação.

Em prosseguimento, no que toca ao Ju-diciário Trabalhista, buscam-se interpretações que parecem atender ao princípio da máxima eficácia das normas constitucionais, abordando--se a questão da remuneração por produção e

(1) PIOVESAN, Flávia. A Constituição brasileira de 1988 e os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos. Direitos humanos — visões contemporâneas. São Paulo: AJD, 2001. p. 32.(2) VERDÚ, Pablo Lucas. Los derechos humanos como “religión civil”. Derechos humanos y concepción del mundo y de la vida. Sus desafios presentes. In: GRAU, Eros Roberto; GUERRA FILHO, Willis Santiago (org.). Direito constitucional — estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 516.

o pagamento de horas extras, pagamento de adicionais de insalubridade e de penosidade, aplicação da teoria da exceção do contrato não cumprido e banco de horas.

Ao fim, intenciona-se contribuir para o alargamento do sentido da dignidade huma-na dos trabalhadores assalariados no campo, com o intuito de demonstrar que o processo de empoderamento sindical da categoria constitui pressuposto básico à ampliação da garantia dos direitos sociais dos trabalhadores rurais, objetivo que poderá ser acelerado pela partici-pação ativa do Ministério Público do Trabalho e, no que tange à Justiça do Trabalho, por meio da aplicação da norma comprometida com a eficácia dos direitos fundamentais.

1. o deSenvolvimento da concepção de direitoS humanoS na contemporaneidade

1.1. a concepção traDicional Dos Direitos huManos

A concepção contemporânea dos direi-tos humanos foi introduzida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, ori-ginada após a 2ª Grande Guerra como resposta aos horrores promovidos pelo nazismo, dando origem a um recente campo do Direito, deno- minado Direito Internacional dos Direitos Hu-manos.(1)

Invocando uma fundamentação jusnatu-ralista, Lucas Verdú defende que os direitos humanos podem ser interpretados como uma fundamentação axiológica da posição do ho-mem no cosmos.(2)

Conceitua direitos humanos da seguinte forma:

Los derechos humanos, si bien son deter-minaciones politico-positivas, emanadas

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por órganos estatales y supraestatales, corresponden a una concepción trans-cendente, de una cosmovisión basada en crencias religiosas o según un enfoque no credencial, se apoyan en el pensamiento kantiano al considerar al hombre como autofín y no como instrumento, como un médio.(3)

A Declaração de 1948 “constitui a mais importante conquista dos direitos humanos universais em nível internacional”.(4)

Instituída por meio da Resolução n. 217-A(III), da Assembleia Geral das Nações Unidas, seus dispositivos não constituem obrigações jurídicas aos Estados-partes.(5) Tem forma jurídica de recomendação, o que levou à necessidade de a adoção de um pacto ou tratado a fim de vincular os países signatários.(6)

Para Konder Comparato, no contexto do sistema global, os direitos humanos vêm se desenvolvendo em três etapas bem distintas.(7)

A primeira etapa a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, com o reconhecimento dos valores supremos de igualdade, liberdade e fraternidade.

A segunda etapa consiste na adoção do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e do Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966.

A terceira etapa, em andamento, consiste na instrumentalização dos mecanismos neces-sários para assegurar o respeito aos direitos humanos e tratar casos de sua violação, do

(3) Ibidem, p. 517.(4) MORAES, Alexandre. Direitos humanos fundamentais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 36.(5) Ibidem, p. 36.(6) COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, p. 224.(7) Ibidem, p. 222.(8) Ibidem, p. 222-223.(9) PIOVESAN, Flávia. Direito ao trabalho e a proteção dos direitos sociais nos planos internacional e constitucional. In: PIOVESAN, Flávia; CARVALHO, Luciana Vaz de (coord.). Direitos humanos e direito do trabalho. São Paulo: Atlas, 2010. p. 6.(10) COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica..., p. 275-276.(11) A Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento não foi ratificada pelos EUA.(12) PIOVESAN, Flávia. Direito ao trabalho..., p. 12.(13) Distr. GENERAL A/CONF.157/23 12 de julio de 1993. ESPAÑOL. Original: Ingles Conferencia Mundial de Derechos Humanos. Viena, 14 a 25 de junio de 1993. Declaracion y Programa de Accion de Viena. Disponível em: <http://www.cinu.org.mx/temas/dh/decvienapaccion.pdf> Acesso em: 28.6.2012, às 11h59min.

qual é exemplo a criação do Tribunal Penal Internacional.(8)

A Declaração Universal já dispunha sobre o caráter de universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos.(9) No entanto, em sentido contrário, em 1966, em meio à Guerra Fria que dividia o mundo em dois blocos, foram apro-vados dois pactos, o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, com o rol dos direitos denominados de primeira dimensão; e o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), com os chamados direitos de segunda dimensão,(10) o que na época levou a uma quebra na concepção de indivisibilidade dos direitos humanos.

O sistema global de direitos humanos atualmente está fundado principalmente De-claração Universal de Direitos Humanos de 1948; nos Pactos dos Direitos Civis e Políticos, o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Cul-turais de 1966; na Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento de 1986(11) e na Convenção de Viena de 1993.(12)

Sobre a Convenção de Viena, importa sa-lientar que, quatro anos após a queda do Muro de Berlim, foi aprovada a Declaração reiterando a concepção contemporânea de indivisibilidade dos direitos humanos, fixando-se uma clara ideia de que não pode haver prevalência de uma dimensão sobre outra, visto que para a efetivação das liberdades é necessário que estejam presentes condições de igualdade e vice--versa, conforme se depreende do item 5 de sua Declaração e Programa de Ação, abaixo trans-crita(13):

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5. Todos los derechos humanos son universales, indivisibles e interependientes y están relacio-nados entre sí. La comunidad internacional debe tratar los derechos humanos en forma global y de manera justa y equitativa, en pie de igualdad y dándoles a todos el mismo peso. Debe tenerse en cuenta la importancia de las particularidades nacionales y regionales, así como de los diversos patrimonios históricos, culturales y religiosos, pero los Estados tienen el deber, sean cuales fueren sus sistemas po-líticos, econômicos y culturales, de promover y proteger todos los derechos humanos y las libertades fundamentales.(14)

Hector Gros Espiell confere uma noção bem clara a respeito da indispensável indivisi-bilidade dos direitos humanos, com a seguinte passagem:

Só o reconhecimento integral de todos estes direitos pode assegurar a existência real de cada um deles, já que sem a efetividade de gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais, os direitos civis e se reduzem a meras categorias formais. Inversamen-te, sem a realidade dos direitos civis e políticos, sem efetividade da liberdade entendida em seu mais amplo sentido, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem, por sua vez, de verdadeira sig-nificação.(15)

Nesse sentido, a distinção entre direitos individuais e sociais, entre os chamados diretos de primeira e segunda dimensão, tem impor-tância histórica, uma vez que a característica de indivisibilidade dos direitos humanos prevalece no ordenamento jurídico internacional, princi-palmente a partir da Declaração de Viena.

(14) Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis e interdependentes e estão relacionados entre si. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global e de maneira justa e equitativa, em pé de igualdade e conferindo-lhes a todos o mesmo peso. Deve ter-se em conta a importância das particularidades nacionais e regionais, assim como a dos diversos patrimônios históricos, culturais e religiosos, porém os Estados têm o dever, sejam quis forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais, de proteger todos os direitos humanos e as liberdades fundamentais. (Tradução livre).(15) Apud PIOVESAN, Flávia. Direito ao trabalho..., p. 8.(16) COMPARATO. Fábio Konder. O papel do juiz na efetivação dos direitos humanos. In: ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA. Direitos humanos: visões contemporâneas. São Paulo, 2001. p. 17.(17) Ibidem, p. 17.(18) Idem.(19) MORAES, Alexandre. Direitos..., p. 41.

Com esse foco será desenvolvido o tema, sem quaisquer distinções a respeito da dimen-são dos direitos, objeto de estudo, que se referem mais especificamente à garantia de direitos ditos sociais dos trabalhadores rurais.

Apenas para situar espacialmente o en-foque que será conferido ao tema, convém mencionar ainda que os direitos humanos estão integrados em um sistema nacional e internacio-nal e comporta, em consequência, dois níveis, o direito positivo e o suprapositivo.(16)

No primeiro plano estão situados os chamados direitos fundamentais, ou seja, os direitos humanos declarados internamente pe-los Estados, seja por meio de suas constituições ou pela adoção de documentos internacionais, como tratados, pactos ou convenções.(17)

No nível suprapositivo, encontram-se os direitos humanos que não chegaram ainda a integrar os ordenamentos internos, ou seja, não foram ainda positivados, mas que vigem na consciência jurídica coletiva.(18)

O Brasil segue a tendência de integração ao ordenamento nacional dos direitos humanos declarados em tratados ou convenções interna-cionais, bem como se submete ao Tribunal Penal Internacional, de acordo com o art. 5º, §§ 2º e 4º da Constituição da República Brasileira (CRB).

Dentre as características clássicas dos di-reitos humanos, que podem variar de acordo com os autores, encontram-se universalidade, imprescritibilidade, inalienabilidade, irre-nunciabilidade, inviolabilidade, efetividade, interdependência e complementariedade.(19)

Herrera Flores apresenta críticas con-tundentes ao caráter de universalidade e ao

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essencialismo, lembrando que essas caracte-rísticas atribuem a todos os seres humanos a qualidade de sujeitos de direitos, compreenden-do o ser humano como sujeito de direito pelo simples fato de ter nascido,(20) o que evidente-mente entra em contradição com a vida real.

Analisando-se essas e outras características, como irrenunciabilidade, inviolabilidade, efe-tividade e complementariedade, em confronto com a realidade social, percebe-se tratar-se de mero reconhecimento formal, fincado no para-digma do humanismo abstrato, que propõe ser a condição humana sustentada em uma tríplice ga-rantia moral, metafísica e a-histórica(21), substrato único ao gozo dos direitos humanos.(22)Ocorre que a ratificação dos Tratados Internacionais pelos Estados Nacionais, a universalidade atri-buída aos direitos humanos enquanto direitos intrínsecos à pessoa e a previsão nos ordena-mentos jurídicos nacionais, não garantem a efetivação dos direitos humanos. Eis a antiga e tormentosa questão da efetividade ou eficácia so-cial.(23)A concepção clássica de direitos humanos é de suma importância, constitui a base teórica, revela o desenvolvimento histórico e econômico da humanidade, porém se mostra insuficiente porque não é capaz de solucionar os problemas da efetividade. Apesar de a categoria de funda-mentalidade de proteção dos direitos apontar para uma especial dignidade de proteção dos direitos num sentido formal e material,(24) é pre-ciso questionar: além das previsões de direitos nas diversas constituições e dos mecanismos incipientes de controle e fiscalização dos direitos humanos pelos organismos internacionais, es-pecialmente quanto aos direitos sociais,(25) como efetivar na realidade esses direitos?

(20) HERRERA FLORES, Joaquín. La reinvención de los derechos humanos. Andalucia: Atrapasuenos, 2008. p. 32.(21) Ibidem. Los derechos humanos como productos culturales: critica del humanismo abstracto. Madrid: Los Libros e La Catarata, 2005. p. 26.(22) Ibidem. La reinvención..., p. 32.(23) BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 247. (24) CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993. p. 498.(25) BERRAONDO, Mikel. Proteccion y garantía de los derechos humanos en ambitos internacionales. Disponível em: <http://profmoraes.files.wordpress.com/2012/02/texto-5-quinta-semana-protec3a7ao-garantia-dos-dh.pdf> Acesso em: 28.6.2012, às 13h15min.(26) CAPLAN, Luciana. O direito do trabalho e a teoria critica dos direitos humanos. In: SILVA, Alessandro et al. Direitos humanos: essência do direito do trabalho. São Paulo: LTr/AJD, 2007. P. 259.(27) HERRERA FLORES, Joaquin. Los derechos humanos..., p. 21.(28) Ibidem, p. 26.

Luciana Caplan lembra com propriedade que “Os direitos humanos visam assegurar o acesso a bens e não constituem a si próprios como finalidade”.(26) Daí porque é indispensável não perder de vista a noção de corporalidade do ser humano, entendido como um ser que tem necessidades de bens materiais e imateriais para a realização de sua dignidade, que deve ser considerada objetivamente e não de forma metafísica.

Nesse sentido aponta Herrera Flores: “Des-pués de más de cincuenta anos de vigencia de una Declaración de Derechos Humanos que de autoproclama como universal, los derechos humanos sieguen sin cumplirse en gran parte de nuestro mundo”.(27)

O que se percebe é que a formulação teórica tradicional continua insuficiente para conferir efetividade aos direitos humanos, especialmente aos direitos sociais, o que reclama uma nova concepção, fundada no humanismo concreto, não abstrato.(28)

Em meio a esse panorama, parte-se para uma tentativa de aproximação à teoria crítica, marco teórico que subsidiará o desenvolvimento do argumento proposto neste trabalho.

1.2. eM Busca De uMa aproxiMação à teoria crítica Dos Direitos huManos

Conforme visto no item anterior, a concep-ção tradicional dos direitos humanos é fundada

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