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    DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipeLe Livrose seus diversos parceiros, com oobjetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem co simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

    expressamente proibida e totalmente repudavel a venda, aluguel, ou quaisquer usocomercial do presente contedo

    Sobre ns:

    OLe Livrose seus parceiros, disponibilizam contedo de dominio publico e propriedadeintelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educao deser acessveis e livres a toda e qualquer pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nossosite:LeLivros.Infoou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.

    Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por

    dinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel.

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    TraduoLus Carlos Cabral

    1 edio

    RIO DE JANEIRO | 2013

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    G995m

    13-05640

    CIP-BRASIL. CATALOGA O NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    Gutman, Laura, 1958-Mulheres visveis, mes invisveis [recurso eletrnico] / Laura Gutman; traduo Lus C

    Cabral. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.recurso digital

    Traduo de: Mujeres visibles, madres invisiblesFormato: ePubRequisitos do sistema: Adobe Digital EditionsModo de acesso: World Wide WebInclui apndiceISBN 978-85-7684-806-6 (recurso eletrnico)

    1. Mulheres - Psicologia. 2. Autoestima em mulheres. 3. Maternidade. 4. AutorrealizaoLivros eletrnicos. I. Ttulo.

    CDD: 155.6463CDU: 159.9-055.52-055.2

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa.

    Ttulo originalMUJERES VISIBLES, MADRES INVISIBLES

    Copyright 2009 by Laura Gutman

    Copyright da traduo 2013 by Editora Best Seller Ltda.

    Publicado em 2009 na Argentina pela Editora Del Nuevo Extremo S.A.

    Capa: Marianne LpineEditorao eletrnica da verso impressa: Abreus System

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, no todo ou em parte, sem autorizao prvia por escriteditora, sejam quais forem os meios empregados.

    Direitos exclusivos de publicao em lngua portuguesa para o Brasiladquiridos pela

    EDITORA BEST SELLER LTDA.Rua Argentina, 171, parte, So Cristvo

    Rio de Janeiro, RJ 20921-380que se reserva a propriedade literria desta traduo

    Produzido no Brasil

    ISBN 978-85-7684-806-6

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    mailto:[email protected]
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    a meus filMical, Maara e G

    e a meu marido, Leonardo Sza

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    Sumrio

    CAPTULO1

    MaternagemO fenmeno da fuso emocional me-beb A fuso emocional curativa Para facilitar a concom o beb A voz do recm-nascido Tratar bem Diga que o ama Autoestima e seguinterior Lactncia versus liberdade pessoal Amamentar como um rio possvel amamquando estamos sozinhas, sem ningum para cuidar da gente? O puerprio existe

    CAPTULO2Vazio emocionalNs, os predadores da criana Carncia de maternagem e organizao de dinmicas violen

    Amparo e desemparo na primeira infncia As guerras emocionais Desamparo primrio e vciosesquecimento como mecanismo de sobrevivncia Procurar a prpria voz Abusos fsicos As criacomo inimigas Crianas muito estimuladas e vcios Violncia domstica: como interromper ovicioso

    CAPTULO3CriaoSofa sente falta da me Dizem que Francisco tem cimes Toms no fala Juan e os cavaEstou com medo O estresse no mais exclusivo dos adultos Crianas hiperativas Festaaniversrio e consumo Os ataques de raiva Comprar em vez de se vincular Ir s comprasuma criana pequena Vamos brincar juntos A televiso como bab Nasceu um irmozinhirmandade Voltar para casa com um beb prematuro Morte no bero O desmame O tempde dedicao exclusiva As crianas e o direito verdade Crianas que adoecem Meu filho brigescola Meu filho apanha na escola A administrao da fome A mesa familiar No quer dsozinho Cada criana tem a sua etiqueta Tudo o que dizemos O excesso de brinquedos e ob O uso do no, um recurso pouco eficaz Ouvir as crianas O chamado de uma criana queser adotada Filhos adolescentes

    CAPTULO4Ser mulherAs dores do parto Acompanhar toda mulher no parto Perguntas pertinentes antes do parto me depois dos 40 Ser me e trabalhar Maternidade, identidade e trabalho Sexualidapuerprio A plula anticoncepcional Fertilizaes assistidas O bero da violncia Doulas e femininas de apoio Mes sozinhas Mulheres de 50 As mulheres sbias Avs maduraimaturas Vincular-se prpria me A sndrome do ninho vazio Enfrentar a maturidade Cuidde pessoas doentes Uma viso possvel do cncer O juiz interior O corpo que abriga a alma

    CAPTULO5

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    CasalO papel do pai Confuses sobre o papel do pai Tudo o que supomos que os homens deveriampara resgatar a donzela e viver felizes para sempre ao lado das crianas A comunicao do quando h crianas pequenas Uma viso feminina da paternidade Cimes entre o casal Colaem casa A convivncia entre adultos e crianas Famlias reconstitudas Divrcios: tudo o quesabemos a nosso respeito Consequncias da rigidez e da arbitrariedade Crianas como refndivrcios A criana como alimento do pai Os novos companheiros dos ex-cnjuges As palnegativas que as crianas ouvem

    CAPTULO6ReflexesO Natal interior Os presentes de Natal O arco-ris tem muitas cores O Mago Merlin a nosso se Esperar O puerprio A generosidade das crianas A Me Terra Um mundo melhor Entre culturas Em sintonia com todos Nunca tarde Saber dizer no Pedir ajuda Acompanharopinar O medo nosso de cada dia A sabedoria dos mais velhos No s por qu, mas tampara qu O tecido da trama humana A felicidade responsvel

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    Palavras preliminares

    As pessoas vivem envolvidas em dramas pessoais, e acham que dever

    encontrar uma soluo. No entanto, no encontraro essas supostas soluescontinuarem pensando sozinhas e a partir de um nico ponto de vista. Essa leatravs da qual observam e acreditam compreender as coisas o resultado desistema de ideias construdo para permitir que se adaptem a uma determinsociedade, poca ou cultura. Ou seja, no so boas nem ruins, apenas servem no) para sobreviver. De qualquer maneira, preciso lembrar que essa vislimitada, fracionada e relativa.

    Vivemos em uma poca especial talvez porque em plena crise de identidsocial cabe s mulheres segurar as rdeas do pensamento global,

    movimentos espirituais e da ao criativa. Somos ns que teremos de assumrecente revalorizao da energia feminina integrada. Espero que sejamos capade abandonar o autoritarismo desgastado e as ideias preconcebidas do passadconsigamos pular no vazio, mesmo sem saber o que nos espera do outro lado.

    Abandonar os preconceitos, parar de repetir as mesmas frases que temos ouexaustivamente, nos atrever a pensar em liberdade cada uma a sua maneicom o compromisso emocional de procurar a si mesma de acordo com a realidinterior , exatamente, o que nos permitir chegar a concluses, a acerto

    propostas e a desafios diferentes. E assim, talvez, elevar o pensamento em das relaes amorosas, esperando conquistar um maior conforto nos intercmpessoais.

    Meus livros anteriores requeriam um certo conhecimento terico e uma cordem na abordagem de ideias complexas. Mulheres visveis, mes invisvediferente. Pode ser lido com mais liberdade. Trata-se de uma compilao de ideartigos, notas, pensamentos e anseios publicados em diversas revistas espanhoentre elas Mente Sana, nica, Tu Beb, El Mueble (Nios) e Lecturas. O objeera me aproximar do leitor de maneira simples. Este livro pode at ser lido de para frente, por partes ou da maneira que voc achar mais til e reveladora.

    Anseio que mulheres e homens encontrem algumas pontas do novelo prefazer seus prprios caminhos, s vezes ridos, ameaadores, sofridos negados. Quero que assumam a responsabilidade de se conhecer mais e deinterrogar mais, em favor daqueles que dependem do nosso equilbrio emociopara o prprio desenvolvimento.

    Laura Gut

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    CAP TULO

    1Maternagem

    O fenmeno da fuso emocional me-beb A fuso emocionacurativa Para facilitar a conexo com o beb A voz do recm-nasci

    Tratar bem Diga que o ama Autoestima e segurana interioLactncia versus liberdade pessoal Amamentar como um rio possvel amamentar quando estamos sozinhas, sem ningum para cuda gente? O puerprio existe

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    O fenmeno da fuso emocional me-beb

    Seria maravilhoso se a maternidade se limitasse a colocar em nossos braos o brosado e feliz que sorri nas pginas das revistas e se nossa vida seguisse seu cde uma maneira ainda mais plena do que antes. Porm, a realidade invisvecada uma de ns costuma ser diferente. No dispomos de palavras para nomeque acontece conosco quando estamos com uma criana no colo. uma misturaangstia, alegria, perda de identidade, vontade de desaparecer, cansao, orgusonho e excitao.

    Alm disso, h algo que no nos contaram ou que no estvamos dispostaouvir, fascinadas pelo glamour da gravidez ou bombardeadas por milharesconselhos recebidos para fazer as coisas direito: ser me se deixar inundar loucura de compartilhar um mesmo territrio emocional com a criaPorque, embora o beb j tenha nascido e acreditemos que se transformou outro, os campos emocionais tm mais nveis. Estou me referindo ao fenm

    da fuso emocional. No h fronteiras entre o campo emocional da me ecampo emocional da criana. So como duas gotas dgua no oceano. Npossvel identific-las de maneira separada. Perceber a existncia da fuemocional s ser possvel se olharmos mais alm do paraso terrestre, palpe visvel.

    Concretamente, as mes sentem como se fossem prprias todassensaes do beb. Por exemplo, se incomodam com os rudos ou com as pessque falam em voz alta. Os seios se enchem de leite segundos antes de a criadespertar. Sentem angstias repentinas. Precisam se enclausurar urgentementecasa. O beb, por sua vez, tambm vive as experincias da me como se fosprprias. No distinguem entre as que so conscientes e as que no o so, enas que pertencem ao passado, ao presente e ao futuro. Dentro da fuemocional, tudo o que um e outro sentem vivido por ambos.

    Agora vem a parte mais difcil: o beb, na qualidade de ser sutil, expressauma maneira especial toda a matria emocional que a me no registra, relegou sombra. Ou seja, expressa exatamente aquilo que ela se esforou ta

    para esquecer: situaes confusas vividas na infncia, abandonos emocion

    perdas afetivas ou dores inominveis. Passamos anos tentando super-los pnos tornar as mulheres maduras e independentes que somos hoje.

    No entanto, a criana nos sugere que voltemos a visitar, com honestidade, eslugares feridos do corao. Enquanto nosso corao interior estiver chorandocriana tambm vai chorar; mesmo que sejamos muito simpticas e encantadoenquanto a raiva e a irritao estiverem em ao, a criana vai gritar e se debtomada pela fria; enquanto a falta de amor da nossa infncia continuar instalaa criana no ir conseguir se acalmar.

    Por isso, precisamos entender que quando a criana estiver irritada mesestando no colo, ninada e higienizada, porque chegou a hora de

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    perguntarmos: O que est acontecendo comigo? em vez de O que eacontecendo com a criana? A fuso emocional se transforma, assim, emcaminho de autodescoberta, pois permite que nos faamos perguntas ntimverdadeiras, repletas de significado, em uma dimenso espiritual talvez nuantes experimentada.

    A fuso emocional curativa

    O beb chega ao mundo fsico trazendo notcias do mundo sutil, mparadoxalmente, s consegue transmiti-las medida que suas necessidaimediatas do mundo fsico so atendidas com preciso.

    Ele incapaz de sobreviver no mundo da luz se no tiver qualquer necessidfsica e emocional satisfeita integralmente. Ento, aquele corpinho, que n

    sequer consegue sustentar a cabea, mas que conta (como ferramenta sobrevivncia) com uma enorme fora para sugar o peito materno, faz exatameisso: suga. Depois, vai se habituando aos espantosos rudos e incmodos de imenso aparelho digestivo, que dominam a maioria de suas sensaes fsicas.

    O bem-estar ou o mal-estar fazem toda a diferena neste tempo mgicoqualquer ser humano. Atrevo-me a afirmar que este o momento em quhumanidade dividida entre aqueles que receberam proteo, conteno e concorporal, e aqueles que no ganharam nada disso.

    Quando ainda esto no tero, os bebs ouvem as batidas do corao da msua voz, as vozes de outras pessoas, os rudos do entorno. Ouvem os rudoscorpo materno digerindo a comida, rindo, falando, cantando, respirando, e voadaptando, da mesma maneira como fizeram nossos antepassados ao longomilhes de anos. No momento em que nasce, alm da impactante experincia comear a respirar com seus prprios pulmes que se enchem de ar, o btambm passa de um ambiente mido a um seco, experimenta uma quedatemperatura e tambm atingido pelos sons, que no esto mais amortecid

    Alm disso, sua postura passa por uma mudana radical: no est mais de cab

    para baixo, mas sim deitado ou com a cabea mais alta que o resto do corpo. Mquando est em boas condies, o beb consegue suportar e assimilar enovas sensaes com tranquilidade e prazer.

    Nesta fase, o beb mais sensvel do que consciente. Na verdade, tconscincia do estado de bem-estar. Se o beb encontrar refgio e o corposua me estiver sempre disponvel, o passar do tempo no ser um inconveniecomo no o era na fase intrauterina, j que, simplesmente, se sente bem. O bpode viver no eterno agora, grudado ao corpo da me, em estado de beatitud

    O perodo imediatamente posterior ao nascimento a etapa que mais influea constituio do ser humano. Aquilo que encontrar ser o que depois sentir co

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    a natureza da vida. Quando abandona a hospitalidade absoluta oferecida tero, s quer chegar a um lugar: os braos da me. Ao longo de milhesanos, os bebs recm-nascidos mantiveram um estreitssimo contato corporal suas mes. E, embora nos ltimos sculos os bebs tenham sido privados dexperincia inestimvel, cada novo beb que nasce anseia por chegar a emesmo lugar.

    A criana amparada, em fuso, sabe que obter aquilo de que precisa. E

    sua experincia cotidiana, que se repete a cada instante e d forma sua rosem qualquer tipo de sobressalto.A segurana interior se estabelece provvel que no se afaste nunca mais das entranhas desse ser. Sentir-se seguamado, considerado, estvel e com total confiana em si mesmo e nos demaEsse , obviamente, o tesouro mais precioso para o desenvolvimento da vida.

    Como resolver o problema da ausncia de fuso emocional? Sabendo que nu tarde. Quando uma criana de 3 anos pede me que a segure no colo, porest precisando. Se no for mais adequado para a idade dela, no importa, parece que continua precisando, talvez no tenha tido o suficiente quando ainda menor. Ao longo de toda a infncia, ou seja, at os 14 ou 15 anos,crianas so capazes de pedir aquilo de que precisam. De uma maneira gepedem presena, carcias, proximidade com o corpo dos pais, olhar, atendedicao. Isso tudo. muito simples.

    Se uma criana de 8 anos chora porque no quer ficar sozinha na escola, o lhe faz falta. Precisa que algum de confiana a acompanhe. Talvez ela no tesido acompanhada o suficiente no passado.

    Ningum pede uma coisa da qual no precisa. Com o passar dos anos

    necessidades que no foram satisfeitas continuam agindo com a meintensidade inicial. No entanto, os adultos esto cada vez menos dispostocompreender as mensagens e vivem repetindo frases como: Voc j grande.a pior de todas: Isso uma regresso.

    No entanto, quando viram adultos, recorrem a diversas modalidateraputicas, e, em todas elas, a palavra de ordem regressar. Todasterapias e sistemas de aperfeioamento pessoal so baseados na capacidaderegressar aos lugares que ficaram vazios de afeto e de esteio. A experincialembrar vidas passadas, o prprio nascimento nesta vida, as experinciasprimeira infncia, tcnicas corporais de qualquer tipo, astrologia, as tcndivinatrias e as estratgias intelectuais desde Freud at os dias de hoje formquase todo o leque de modalidades ao alcance dos adultos que queremcompreender um pouco mais. E qualquer uma delas lhes pedir para regrespois regressar entrar novamente em fuso emocional. A fuso emocional curfuso emocional sara.

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    Para facilitar a conexo com o beb

    Esquea os relgios.Use tipoias, porta-bebs ou algum sistema confortvel que permita mantebebs nos braos sem fazer muito esforo fsico.Delegue todas as tarefas possveis, desde cuidar de crianas mais velhaafazeres domsticos.Imagine que est de frias e d prioridade ao prazer.Durma com o beb.Passe momentos a ss com o beb, sem outras crianas por perto e longeolhar de outros adultos.Pense que cada instante em que o beb no est sobre o corpo da me,tem a experincia de no mame.Converse com o beb usando palavras simples, contando tudo o que eacontecendo, mesmo que sejam coisas difceis e dolorosas.

    Quando chegar em casa aps o trabalho, tire a roupa que estava usandvista outra mais confortvel ou dispa-se e se enfie na cama com o beb.Aps o trabalho, permita que o beb recupere o tempo perdido.As mes no devem compartilhar com os demais a maneira comorelacionam com seu beb. So coisas que fazem parte da sua intimidade.

    A voz do recm-nascido

    As culturas se transformam, e os adultos mudam de papel de acordo comnecessidades da comunidade em que vivem. Hoje, est claro que ns, mulhetrabalhamos de igual para igual com os homens, coisa que fazemos com orgulhsatisfao. Alm disso, nenhuma mulher est disposta a voltar ao passadosubmisso econmica, religiosa ou social. Atualmente, nos sentimos livres e pmodernas quando os pais ficam em casa e ns, as mes, usufrumos a mere

    autonomia. Depois, nos felicitamos mutuamente pela vitria do pensametecnolgico. At a, estamos todos de acordo.Quem, provavelmente, no est to de acordo o beb recm-nascido. Porq

    como mamfero, nasceu sem terminar. Ou seja, precisar de nove mesesgravidez extrauterina e espera encontrar a mesma qualidade de conforto, pra

    movimentos, alimento, cheiros, olhar e presena que experimentou no ventreme. E poder ter essas experincias agradveis em um entorno feminino ou, mprecisamente, em um entorno maternal.

    Os bebs recm-nascidos no foram convidados para a festa dos tem

    modernos. No tm voz nem voto nessas decises. E os adultos no se do

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    trabalho de saber do que eles, como crianas muito pequenas, precisBasicamente, eles precisam continuar navegando na sutileza da energia matePorm, h mais uma coisa que permanece oculta no pensamento coletivo: a nte espontnea ateno que a me d ao chamado do recm-nascido intransfervel conexo que cada mulher sente em relao ao filho.

    Para admitir que a necessidade de estar junto tambm das mes, as mulheprecisam se sentir cuidadas, atendidas, apoiadas e sustentadas. Liberdade n

    depender dos prprios recursos para subsistir. Liberdade no trabalhar duplastriplas jornadas. As mulheres no esto livres quando vo para o mercadotrabalho e se veem obrigadas a abandonar os filhos. Isso o que elas folevadas a acreditar e aceitaram como certo , ludibriadas pela modernidaderealidade, elas s so livres quando se permitem viver a fundo cada etapa da vE o primeiro perodo da vida dos filhos uma fase muito especial. E dura pouco

    ratar bem

    Vamos pensar de maneira positiva. J nos queixamos o bastante dos problemda violncia nas ruas, da violncia domstica e da violncia na televiEntretanto, no damos ateno a todas aquelas pequenas atitudes que signifitratar bem o prximo e, muito especialmente, as crianas. Tratar carinhosamenoutro significa observar com cuidado suas idiossincrasias, seus desejos,

    maneira de se relacionar e de explicitar as necessidades que tem. Trata-se, pde respeit-lo e de atender na medida do possvel aos seus pedidos. Portodos ns merecemos isso. Todos acabamos nos sentindo melhor e nos tornampessoas melhores. Quando tratamos bem as crianas, as coisas passsimplesmente, a acontecer de uma maneira suave e agradvel. No entaquando no as tratamos bem, quando as desrespeitamos apenas porque pequenas, com o passar do tempo cada circunstncia vai se transformando em upermanente luta cheia de rancor e de desinteresse. E, se no nos importamos co que acontece com as crianas, elas tampouco se importaro com o que acont

    conosco, perpetuando uma cadeia de desapego e ingratido.No entanto, como trat-las bem se no fomos bem tratados na infn

    Recordando. Resgatando os momentos em que um nico olhar carinhoso era cade abrir as portas da beleza. Evocando a msica que perfumava certas presenSentindo a delicadeza de um sorriso recebido no momento certo. Rememorandinstante em que a ternura que algum nos dirigiu nos faz saber que viver valpena. No precisamos aprender a tratar bem os outros, porque j sabemos cose faz. S precisamos recordar como nossos coraes se abriam diante de c

    situao agradvel. Como nos sentamos bem quando algum se compadeciagente. A felicidade que nos inebriava quando alguma pessoa acariciava nos

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    cabelos. Agora, no temos mais que constatar como as coisas ficam fceis quaestamos dispostos a comear o dia com bom humor, tentando fazer com que nopresena propicie alvio e bem-estar queles que esto conosco. E, especialmesabendo que cada criana que hoje bem tratada ser uma pessoa que far o bamanh.

    Diga que o ama

    Vamos fechar os olhos e recordar as coisas mais bonitas que nossos pais disseram: Princesa... Reizinho da casa... Minha vida... Voc to bonito... Miquerida... Meu corao... Meu amor... Meu cu... Que linda... Que inteligente...

    Talvez alguns no consigam reviver essas recordaes, e em seu lugar apareoutras, que entram sem pedir permisso: Que idiota... A nica coisa que voc s

    fazer mentir... Se continuar agindo assim, vou contar para o seu pai... Voc intil... No gosto de voc... Est entendendo...? Ficou surdo...? to desatequanto a me...

    O que nossos pais ou aqueles que nos criaram disseram foitransformando, necessariamente, no ponto mais slido da nossa identidade. Sadultos que do nomes s coisas. Por isso, aquilo que dizem o que .

    A criana pequena no questiona aquilo que ouve dos adultos. verdade quesituaes em que a criana se equivoca ou faz alguma coisa inadequada.

    entanto, uma coisa conversar sobre o que ela fez de errado, e outra que ato a transforme em uma pessoa que m. O rancor que sentimos pconfundir as coisas. Quando a criana, de tanto ouvir seus pais dizerem a mescoisa, se convence que realmente m, fica presa nesse circuito em que existe medida que m e, para ser m, ter de continuar fazendo tudo p

    irritar seus pais. Nesse ponto, perdeu toda esperana de ser amada de manincondicional.

    Parece que os adultos precisam apontar tudo o que as crianas fazem de erramostrar-lhes como so ineptas e lerdas, para que possam se sentir um pouco m

    inteligentes. um paradoxo, porque, quando agem dessa forma, bvio que essendo incrivelmente estpidos.

    No entanto, as coisas so mais simples do que parecem. Dizer s crianas so belas, amadas, bem-vindas, generosas, nobres, lindas, que so a luz nossos olhos e a alegria dos nossos coraes gera filhos ainda mais agradvsaudveis, felizes e bem-dispostos. E no h nada mais prazeroso do que convcom crianas alegres, seguras e cheias de amor. No h nenhum motivo para lhes dirigir palavras repletas de cores e de sonhos, a no ser que esteja

    dominados pela raiva e pelo rancor. possvel que palavras bonitas no faparte do nosso vocabulrio, porque jamais as ouvimos em nossa infncia. Ne

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    caso, precisamos aprend-las com tenacidade e vontade. Se fizermos esse trabagora, nossos filhos os futuros pais no sero obrigados a aprender esta liPois surgiro de suas entranhas, com total naturalidade, as palavras mais belaas frases mais gratificantes em relao aos seus filhos. E essas cadeias de palaamorosas se perpetuaro por geraes e geraes, sem que nossos netobisnetos percebam, porque faro parte de sua genuna maneira de ser. investimento no futuro com risco zero. De agora em diante, digamos ape

    palavras de amor para nossos filhos! Gritemos ao vento que os amamos at o E mais alto ainda. E mais e mais.

    Autoestima e segurana interior

    Os mamferos vm ao mundo pelo corpo das mes, que os alimentou durant

    vida intrauterina e, de alguma maneira, o continuar fazendo nas primeiras etada vida extrauterina. Na primeira infncia, os atos de alimentar e de dar acaminham juntos, so quase a mesma coisa, pois, se no sentirem amor,mes no estaro em condies de alimentar o filho e, inversamenquando alimentam a criana, cresce seu amor pela criatura. Essa primexperincia de serem alimentadas e abrigadas como se fosse um movimento se estabelece (se transforma) em uma fora poderosa parconstituio da psique, a tal ponto que marcar a fogo toda a nossa evoluo co

    indivduos.O bem-estar ou o mal-estar experimentados durante os primeiros anos de vorganizam a conformao psquica e espiritual de qualquer ser humano. A priminfncia o momento-chave, a raiz, a semente da constituio corporal, afetivemocional. O desenvolvimento de nossa vida futura depender de como foamados, protegidos, apoiados, amparados e tocados.

    Nos primeiros anos de vida, os bebs so submetidos a verdadeiros testessobrevivncia. Por isso, as boas ou ms condies que lhe so oferecidas duraseu crescimento vo impactar fortemente a constituio da sua personalidad

    interpretao do que a vida significa para eles e as ferramentas que iro adqpara o posterior desenvolvimento como membros da sociedade.

    Quando uma criana amparada experimenta, no dia a dia, a certeza de obter o que necessita, a segurana interior vai se estabelecendo e bpossvel que no saia nunca mais das entranhas desse ser. Sentir-se segamado, considerado, estvel e com total confiana em si mesmo e nos demaobviamente, o tesouro mais precioso para o desenvolvimento da vida.

    No entanto, o beb que no est em contato com o corpo da me tem

    sensao de estar em um universo inspito diametralmente oposto ao bem-enatural que sentia quando vivia no tero. A sensao de se sentir despojado

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    suas mais elementares necessidades de proteo, de amparo e de apoio, provmais sofrimentos do que possamos imaginar, e estabelece um profundo mentendido entre a me e o filho. Devemos compreender que quando a criana sustentada e carregada nos braos por outro ser humano adulto durante todtempo, ou em sua maior parte, ela se sente trada. Surge, ento, o medo. Eestas experincias de solido, medo, silncio e quietude se transformam em rotbrota essa coisa to dolorosa para a alma que a resignao. Nesses caso

    criana saber que no pode esperar que sua me ou outros adultos prxisatisfaam suas necessidades bsicas, que so as de ser alimentada, embalasustentada, tocada, levantada, olhada e amada todo o tempo, no mnimo at possa iniciar alguns movimentos de independncia corporal e emocional. At emomento, depender absolutamente de adultos que lhe possam dar cuidadoproteo.

    Um beb (ou uma criana pequena) que no se sentir valioso ou bem-viser, necessariamente, um ser humano sem confiana, sem espontaneidade e base emocional. Porm, acima de todas as coisas, no se sentir seguro. E, ssegurana interior, toda nova experincia, todo desafio e toda dificuldadetransformaro em enormes obstculos para a realizao pessoal futura.

    As crianas pequenas precisam de uma nica coisa: ficar perto do corpo da modo o resto aleatrio. At mesmo nos momentos muito difceis, o corpo da m

    compensa a pior das calamidades. A verdade que no existe paraso terrepara um beb se a me no estiver presente.

    Se nos observarmos como adultos, constataremos que o medo, a desconfiana solido so os principais obstculos para o processo de interao com os out

    Atualmente, temos em nossas mos a possibilidade de dar aos nossos filhos uvida mais saudvel, aberta, fcil e feliz. S precisamos olhar alm, perceber alguns anos dedicados a eles no passam de alguns anos, que no perdemos naque precisamos aprender a viver nossa vida em companhia dos nossos fipequenos, ao lado, juntos, em cima, em contato. No h nenhum problema niChegar o momento em que as crianas no precisaro tanto de nosso apoiento, elas sairo, naturalmente, de nossos braos, iro dormir em suas camasafastaro alguns passos, depois por algumas horas, depois alguns por diaquando forem adultas, talvez at por alguns anos, porque tero se constitudoseres livres do ponto de vista interior. Sabero que a segurana no dada pdinheiro, nem pelo conforto, nem pelo consumo, nem pelos investimentos. Sabeque no dependem de nada e de ningum. Sabero que so mulheres e homlivres.

    Lactncia versus liberdade pessoal

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    Somos considerados mamferos porque temos mamas. E as fmeas fodesenhadas para amamentar a cria. Portanto, todas so capazes de nutrir o recchegado com o leite que brota do corpo de maneira natural. verdade quconceito natural completamente influenciado pela cultura; portanto, difereno que ou no natural costuma ser bastante complexo.

    Pois bem, depositamos tantas fantasias na alimentao, no que bom ou nbom para oferecer criana, que dar de comer se transformou em um gra

    problema para as mes modernas. At mesmo dar de mamar se tornou em ucoisa difcil de fazer, que precisa ser superada, controlada e estudada para quepossa ter xito. estranho que, em apenas cinquenta anos, tenhamos conseguesquecer a natureza, a simplicidade e o silncio com o qual as mulheamamentaram seus filhos desde o incio da humanidade.

    A verdade que a lactncia fundamentalmente contato, conexo, brasilncio, intimidade, amor, doura, repouso, permanncia, sonho, noite, solidfantasia, sensibilidade, olfato, corpo e intuio. Ou seja, nada mais distante receitas peditricas e de todos os deve ser que pretendemos cumprir no papeme.

    A lactncia falha quando a colocamos dentro dos parmetros do mealimento, ela falha quando calculamos, meditamos, pesamos ou estamos atens quantidades e aos tempos em que o beb mamou ou deixou de mamar. Notrata de pensar no que ele come. Trata-se de estar junto. E essa uma coisa natural que a esquecemos.

    Pensemos que nenhuma mulher cria os filhos de maneira diferente de covive. Quando so obsessivas e chatas, assim sero na sua relao com a cria

    Quando transferem sua identidade para o xito profissional, assim sero cocriana. Quando no conseguem parar de pensar, assim sero com a crianQuando a autonomia e a liberdade pessoais so os basties da sua identidaassim sero com a criana. Quando se nutrem das relaes sociais, assim secom as crianas. Enfim, revisando a vida que construram antes do nascimentocriana, podero reconhecer facilmente a distncia que h entre suas vidas e ulactncia feliz. No uma lactncia bem-sucedida, porque criana importa bpouco o xito, o aumento de peso segundo os padres estabelecidos ou as hocorridas de sono. Refiro-me felicidade e ao bem-estar da criana. Refiro-mcriana conectada, que procura o olhar da me e lhe sorri. Refiro-me criana no se conforma quando no est no colo. Refiro-me criana que fica tranquimedida que experimenta um conforto mximo.

    Para o recm-nascido, conforto tudo o que se assemelhe ao tero onavegou durante nove meses. Ou seja, contato permanente, alimentapermanente, movimento, calor, ritmo cardaco, suor, o cheiro e o timbre docevoz da me. Quando isso acontece, o leite flui. No h segredo maior qurepouso, a disponibilidade do corpo, a intimidade e a disposio para ter o b

    nos braos ao longo das 24 horas do dia.

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    Para dar de mamar, a me precisa estar disposta a perder todautonomia, liberdade e tempo para ela prpria. Essa uma deciso.medida em que optam por uma modalidade, perdem as vantagens da ouFalando de outra maneira: se a me for muito apegada sua liberdade pessprovavelmente a criana ter de se conformar com outros alimentos, porque mfilho no encontraro conforto ou paz na lactncia. No entanto, se decidir prioridade lactncia, perder a liberdade e a vida prpria. As duas situa

    lactncia e liberdade, no so compatveis. Ningum pode determinar o que cum deve fazer. Mas de fato importante que saibamos o que ganhamos e o perdemos em cada escolha.

    Amamentar como um rio

    Quando entram em contato com sua natureza, as mulheres se sentem estranAlgo pouco apresentvel em sociedade surge dentro de seu ser. No entanto, conhecimento dessa natureza o que lhes permite perceber os ritmos interioreviver ao seu som para no perder o equilbrio espiritual. Quando as mulheresafastam da fonte bsica, perdem os instintos, e os ciclos naturais ficam submet cultura, ao intelecto ou ao ego. O selvagem torna todas as mulheres saudvSem o lado selvagem, a psicologia feminina perde sentido.

    A lactncia uma continuao e desenvolvimento dos aspectos femininos m

    terrenos, selvagens, diretos, filogenticos. Para dar de mamar, as mulhedeveriam passar quase todo o tempo nuas, sem largar sua cria, mergulhadasum tempo fora do tempo, sem intelecto nem elaborao de pensamentos, snecessidade de se defender de nada nem de ningum, mas apenas mergulhaem um espao imaginrio e invisvel para os demais.

    Isto possvel quando compreendem que a psicologia feminina inclui profundo vnculo com a Me Terra, que ser una com a natureza intrnseco aoessencial da mulher, e que, quando esse aspecto no se torna evidente, a lactnsimplesmente no flui. As mulheres no so muito diferentes dos rios, dos vulc

    e das florestas. S preciso preserv-los dos ataques.A insistncia para que as mes se afastem do corpo do beb inibe a naturalid

    da lactncia e dificulta a fluidez do leite. Ao contrrio do que se supe, o bdeveria ser carregado pela me durante todo o tempo, inclusive e sobret quando dorme. Os bebs ocidentais dormem em moiss, no carrinho ouberos ao longo de muitas horas. Este comportamento atenta contra a lactmuito mais do que podemos supor. Dar de mamar uma atividade corporaenergtica constante. como um rio.

    Uma atitude antileite costuma estar presente na ideia absurda de que o bebficar mal acostumado. Qualquer outra espcie de mamfero morreria de ri

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    tambm morreria) diante da ideia de negar aquilo que o recm-nascido reclapara sua subsistncia. O ser humano muito menos inteligente do acreditamos quando pretende negar as leis da natureza e complicar a existncia

    Dar de mamar aos nossos bebs uma atitude ecolgica no sentido mais am voltar a ser o que somos. a nossa salvao. um ponto de partida eencontro com ns mesmas. despojar-nos da cultura e envolver-nos na naturezlevar nossas crianas a um mundo de cores, ritmos, cheiros, aromas, sangu

    fogo, e danar com elas a dana da vida.

    possvel amamentar quando estamos sozinhas, sem ningum para cuidar dagente?

    alvez esta seja a questo central a ser levada em conta pelas mulheres que

    importam com a lactncia. A maioria das mulheres modernas passa horas sozicom a criana nos braos, trancada em um pequeno apartamento da cidaafastadas das suas mes, das suas amigas, dos seus ambientes sociais. A solida falta de referncias externas e a perda dos lugares de identidade comtrabalho, o estudo e o lazer as deixam sozinhas e deslocadas. A solido e a faltaapoio so as principais inimigas da lactncia.

    No incio da maternidade, h uma pergunta essencial a ser feita: tenho alguprximo e amoroso para cuidar de mim, me apoiar, me estimular e que te

    confiana em minhas capacidades maternais? Quando nosso companheiro upessoa disponvel, ento timo, maravilhoso. Porm, se no for a pessoa adequpara fazer o papel de esteio emocional j que as relaes, muitas vezes, baseadas no fato de que somos autossuficientes e nunca revelamos que estanecessitadas talvez o homem fique surpreso e no esteja preparado presponder aos nossos pedidos, pois esta no a maneira habitual que adotano passado para nos vincular. Seja quem for a pessoa apoiadora, a verdade precisamos de, pelo menos, uma. Da prpria me. De outra me capazsubstitu-la. De alguma amiga experiente ou com excelente disposio para

    ajudar. De uma rede de amigas. De um grupo de mes que se renam para fmenos sozinhas e compartilhar experincias. Enfim. Seja o que for, no podemficar sozinhas. H um momento do dia em que ficamos sem foras emociopara continuar tranquilizando a criana, coisa que acontece quando conseguimos nos alimentar da energia vital de outras pessoas. fundamental saibamos que no fomos desenhadas para criar nossos filhos sozinHistoricamente, as mulheres criaram as crianas em grupos, aldeias, tribospequenos povoados. No entanto, cri-las sozinhas, como tem acontecido

    ltimas geraes, leva-as a menosprezar a lactncia, a voltar o mais cedo posspara o trabalho e a deixar a criana aos cuidados de outras pessoas ou institui

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    Mesmo quando a relao do casal boa, na maioria dos casos, o homem retoseus horrios habituais de trabalho, e a realidade que as horas do dia pareceternas para as mulheres que ficam solitrias com uma criana nos braoslactncia a primeira coisa a ser afetada quando a solido e o isolamento sociainstalam, porque as mulheres perdem a pacincia com a criana, ao mesmo temem que se sentem cada vez mais consumidas e presas em um labirinto.

    Quando a lactncia vira um problema, as mulheres tm que refletir sobre s

    apoios emocionais e sobre suas companhias cotidianas. Quando no so bcuidadas, dificilmente conseguem transformar a lactncia em um momeprazeroso. Pode acontecer que, pelo contrrio, estejam invadidas por pessoasquem no confiam, que tomaram posse da sua casa com as melhores inteneajud-las, mas, no entanto, as afligem com conselhos, julgamentos, controopinies sobre seu desempenho como me. importante que tenham clarezapode ser benfica ou no a presena de tais pessoas, e rever se procuraram eajuda ou se foi uma simples imposio externa.

    Saibamos que, para apoiar e embalar a criana, as mulheres precisam, sdvida nenhuma, ser apoiadas e cuidadas. No importa se em outras circunstnde sua vida elas se viraram sozinhas. No importa se so independentes, madue intrpidas. Nenhum parmetro da sua vida anterior comparvel maternidaElas podem ser gerentes de empresas multinacionais, ministras ou prefepodem at ser presidentes de uma nao. Nada comparvel ao fatoamamentar e cuidar de um recm-nascido. Para cumprir essas tarefas, precisaro, inevitavelmente, de apoio, ajuda e de uma generosa companhia.

    O puerprio existe

    Para tentar mergulhar nos difceis caminhos energticos, emocionais e psicolgdo puerprio, necessrio reconsiderar a durao verdadeira deste ritopassagem. Estou me referindo ao fato de que os famosos quarenta destipulados no se sabe mais por quem e para quem s sentem como

    veto moral histrico destinado a livrar a parturiente do assdio sexual do homPorm, esse tempo cronolgico no significa, do ponto de vista psicolgico, num comeo e nem um fim de nada.

    Refletir sobre o puerprio levar em conta situaes que, s vezes, no nem to fsicas, nem to visveis, nem to concretas, mas que, nem isso, so menos reais. Em sntese, trata-se do invisvel, do submundo femindo oculto, do que est mais alm do nosso controle, mais alm da razo parmente lgica. Para falar do puerprio, teremos de inventar palavras ou

    outorgar um significado transcendental.Parece-me oportuno considerar o perodo puerperal como um rito de passag

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    que dura pelo menos dois anos, ao longo dos quais a me compartilha campo emocional fusionalmente com o campo emocional do beb. a pocaque a dade me-beb navega no mar de acordo com suas prprias leis: lenapaziguadas, silenciosas, redondas, ressonantes e misteriosas. Durante eprocesso, o mundo distante fica ainda mais longe. Essa experincia pode provoalteraes repentinas de conscincia e clares de intuio. Abre-se um caatravs do qual fluem foras poderosas, embora sejam inominveis para a mu

    que as percebe.De fato, aps o parto, as mulheres invariavelmente choram desconsoladasperguntando: Quem sou?, O que est acontecendo comigo? e O que eu fiz pmerecer isso? A certeza de ter enlouquecido para sempre maior medida tenham se identificado de maneira radical com os aspectos mais concretos dapersonalidade. Isso acontece de maneira especial com as mulheres organizaativas, competentes, pontuais, bem-sucedidas e pensantes.

    Para culminar, seguindo as regras de carter intelectual, medida que tenhprevisto com antecipao mas usando as armas da conscincia, do racion

    do masculino o funcionamento do futuro vnculo com o hipottico bebdesconcerto fato desconcertante. Sobretudo nos casos em que participaseriamente de uma preparao racional para o parto, fizeram os exerccios ctoda dedicao, o parto em si foi medianamente satisfatrio e tudo levava a que a presena do beb teria um desenvolvimento previsvel...

    O problema para a nova me o de aprender a submergir simultaneamena imensido do seu campo emocional, para depois emergir no mundo conc(trabalho, dinheiro, preocupaes cotidianas, outros vnculos), para ento volt

    escurido, em uma dana pouco aceita do ponto de vista social. Mundo racionmundo sutil. Identidade e perda de fronteiras. Mulher e me. Ao e espDeciso e leite.

    O puerprio pode ser uma abertura da alma. Um abismo. Uma iniciao. Semulheres estiverem dispostas a submergir nas guas de seu eu desconhecido. procurarem apoio para a travessia.

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    CAP TULO

    2Vazio emocional

    Ns, os predadores da criana Carncia de maternagem e organizade dinmicas violentas Amparo e desamparo na primeira infncia

    guerras emocionais Desamparo primrio e vcios O esquecimecomo mecanismo de sobrevivncia Procurar a prpria voz Abufsicos As crianas como inimigas Crianas muito estimuladas e v Violncia domstica: como interromper o ciclo vicioso

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    Ns, os predadores da criana

    As lobas, as cadelas, as gatas, as vacas, as focas, as elefantas, as leoas, as goras ovelhas, as baleias, as guas, as macacas, as girafas, as raposas e as humatm algo em comum: o instinto de proteger a cria.

    As fmeas so especialmente sensveis quando alguma coisa se interpe eelas e seus filhotes depois do parto. Por exemplo, quando algum toca um deimpregnando-o com um cheiro estranho, perdem o olfato que o toabsolutamente reconhecvel como prprio. Quando ficam afastadas do corpomes vo perdendo a necessidade urgente de abrig-los.

    Cada espcie de mamfero tem um tempo diferente de evoluir em direautonomia. Em termos gerais, podemos falar de autonomia quando a criatura em condies de procurar alimento por seus prprios meios e quando consesobreviver cuidando de si mesma sem depender da me. Em muitos casos, o filhir precisar da manada para sobreviver, e esta tambm vai funcionar co

    proteo diante dos predadores de outras espcies ou da prpria.Entre os humanos do mundo civilizado, acontece uma coisa diferente:fmeas no desenvolvem o instinto maternal de dar cuidado e proteo, porqlogo aps o parto, so proibidas de cheirar os filhos, que so rapidamebanhados, penteados e perfumados antes de serem devolvidos aos seus braosmulheres perdem um sutil elo do apego com os filhotes. Depois, quase nuestaro bem acompanhadas para que aflorem os instintos mais arcaidificilmente conseguiro amament-los coisa que todas as outras mamfconseguem desde que no tenham parido em cativeiro , poucas vezes ficanuas para se reconhecer e seguiro regras fixas sejam filosficas, cultureligiosas ou morais que terminaro de enterrar qualquer vestgio humanidade. Se que, a esta altura, podemos cham-la assim.

    A criana sobreviver. Completar 1, 2, 3 anos. As mulheres seguiro as reem vez de seguir seus instintos. Estimularo as crianas a se transformadepressa em pessoas autnomas. Elas as deixaro com outras pessoas duramuitas horas todos os dias. Colocaro os filhos de castigo. Ficaro irrita

    Visitaro especialistas para se queixar de como foram enganadas por e

    crianas, que no so to boas quanto esperavam.Em algum momento, elas sentiro que estas crianas no lhes pertenc

    Esperaro que se arrumem sozinhas, que durmam sozinhas, que comam sozinque brinquem sozinhas, que controlem seus esfncteres, que cresam sozinhaque no incomodem. Deixaro de farejar o que acontece com elas. aprendero o idioma dos bebs, no sabero interpretar nem traduzir o acontece com elas. Quando estiverem ausentes ou at mesmo quando estivepor perto para ficar tranquilas elas as deixaro completamente expos

    Ento, poder surgir o mais feroz dos lobos. J que, na realidade, so elas messeus mais terrveis predadores.

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    Carncia de maternagem e organizao de dinmicas violentas

    Pessoalmente, acredito que todas as formas de violncia, passivas e ativas,geradas a partir da falta de maternagem, ou seja, a partir da faltaateno, ternura, amor, braos, altrusmo, generosidade, pacincia, compreensleite, corpo, olhar e apoio recebidos ou no a partir do nascimento e duratoda a infncia.

    Do ponto de vista do beb, qualquer experincia que no conte com ape proteo suficientes violenta, pois age em detrimento das necessidabsicas.

    Um beb pequenino chega ao mundo sem nenhuma autonomia. Ele adquircapacidade de se deslocar por seus prprios meios por volta dos 9 meses, quacomea a engatinhar. E precisa de aproximadamente dois anos para ter conscide que um ser separado da me. Ele precisado adulto para sobreviver. cque quer que lhe deem alimento, higiene, paz e faam silncio para que po

    dormir. Tambm precisa de conteno, calor, proximidade de outro corpo, leolhar, palavras e, sobretudo, de algum que faa o papel de mediadorentre eo mundo externo. Quando no recebe uma ateno de qualidade compatvel suas necessidades bsicas, vive essa falta como uma violncia. a violnciadesamparo.

    O beb que no est em contato com o corpo da me experimenta um insuniverso vazio, que o vai afastando do desejo de experimentar um bem-estar sentia desde a poca em que vivia no amoroso ventre materno. O recm-nasno est preparado para se atirar no nada, especialmente em um bero movimento, sem cheiro, sem sensao de vida. Quando as expectativas natuque o beb trazia so tradas, se manifesta o desencanto, ao lado do medo deferido novamente. E depois de muitas experincias semelhantes, brota algo doloroso para a alma como a irritao, o medo e a resignao. Ento, eletransformar em um ser humano sem confiana, sem espontaneidadsem vnculos emocionais.

    Uma criana insatisfeita uma criana que insistir em conquistar aquilo qlegitimamente, precisou em um momento da vida. E assim crescer,

    transformar em adolescente, em jovem e em adulto: como um ser necessitaAssim, agredir as pessoas, roubar, manipular situaes, ser vtima terceiros, adoecer ou lutar para obter o que achar imprescindvel sobrevivncia emocional. Porm, ter esquecido o que sempre quis e conseguir mais; por mais forte e poderoso que venha a ser, no conseguir mobter a mame.

    Amparo e desamparo na primeira infncia

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    O perodo imediatamente posterior ao nascimento a etapa que mais influconstituio do ser humano. Aquilo que ele encontrar o que sentir comnatureza da vida. Ao abandonar a mais completa hospitalidade oferecida pelo materno, o beb quer chegar a um nico lugar: os braos da me. Duramilhes de anos, os bebs recm-nascidos mantiveram um estreitssimo concorporal com as mes. E, embora nos ltimos sculos os bebs estejam seprivados desta inestimvel experincia, cada novo filho que nasce esp

    chegar a esse mesmo lugar.No entanto, a maioria dos bebs amados no recebe incondicionalmenque pedem. As mes amorosas costumam entrar em contradio com os prppensamentos. Nos pases desenvolvidos, elas compram livros com indicapara deix-los chorar at que adormeam e para abandon-los no vazio emocisem nem sequer toc-los. Parece que os filhos se transformaram em inimigos as mes devem derrotar.

    No entanto, quando um adulto no est em condies de responder demapermanente, constante e sem trgua de um beb, porque deve ter vividmesma realidade emocionalna primeira infncia. Ou seja, aprendeu que a uma batalha, que tinha de conquistar o amor materno e que parecia que s hlugar para umdentro do territrio de intercmbio emocional.

    Quando as mes tiveram uma experincia infantil de amparo e cuidamaternos, no haver conflito. No entanto, quando sofreram situaemocionais de desamparo (sejam em maior ou menor grau), imediatainconscientemente ser declarada uma guerra de desejos. As necessidadesdesejos da criana sero considerados perigosos, exagerados, desmedidos

    impertinentes. Sentiro um abismo entre aquilo que a criana pede e capacidade de satisfaz-la.A maioria das mes conscientes e dispostas, que, inclusive, se prepara

    durante a gravidez, acredita que tem disponibilidade suficiente para o bebproblema aqui que no se trata de boas intenes, mas das experinprimrias gravadas em suas almas e das quais no costumam ter recordaDisso depende se as mes vo considerar a presena da criana devastadormuito exigenteou simples e pacfica.

    A presena do beb e suas exageradas necessidades evidenciam uma realidade: muitas vezes, as mes e os pais aparentemente adultos continusendo, na verdade, bebs terrivelmente carentes de amor e de cuidadContinuam arrastando privaes histricas de tal maneira que suas prpnecessidades parecem ser prioritrias e merecedoras de toda a ateno. Portaa quem satisfazer primeiro? criana recm-nascida ou criana que, em mago, ainda chora? A guerra invisvel entre adultos e crianas trata-se dissoadultos podem continuar reproduzindo as guerras emocionais de gerao gerao ou, ento, entender que uma criana satisfeita e amada hoje em

    abandonar qualquer guerra no futuro.

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    As guerras emocionais

    H uma ideia difcil de descrever que quase todas as mes compartilham quase ocupam do filho muito pequeno: a de que esse beb vai domin-la. usensao estranha e inominvel, na qual se tem a impresso de que se o desdo beb manifestado, automaticamente trabalha em detrimento de prprio desejo.

    Estamos falando da violncia emocional. Embora essa palavra nos parexagerada, e acreditemos que ela s vista na televiso ou lida nas pginas ornais, a violncia, como fenmeno individual e coletivo, simplesme

    isto: a impossibilidade de dois desejos conviverem em um mesmo camemocional.

    Por isso, para compreender as dinmicas violentas, importante obsese no campo de intercmbio emocional podem conviver dois desejos.entanto, para que um adulto no tolere a cumplicidade e a convivncia de

    desejos diferenciados, inclusive quando se trata de um ser to amado quantobeb recm-nascido, precisa ter vivido a mesma realidade emocionalprimeira infncia. Dizendo de outra maneira, se, quando este adulto era beteve de submeter suas prprias necessidades bsicas a adultos no dispostosatisfaz-lo, ento este indivduo aprendeu que no intercmbio afetivo slugar para um. E foi custa do desejo do outro.

    Mesmo as mulheres mais modernas que procuram alternativas e que amamfilhos, sentem, em um lugar muito profundo, que este filho realas devora, mas, expulsa-as de suas prprias vidas. E essa uma sensao indiscutvel e verpara a vivncia interior, que elas mesmas tentam ignorar e, alm do mais, no ocorre com quem compartilh-las.

    Se viveram situaes emocionais de desamparoem maior ou menor graguerra ser declarada. Procuraro algum que lhes d razo. E o encontrafacilmente, pois a sociedade est organizada tendo como base a guerra desejos. No apenas encontraro profissionais que lhes garantam que a criaprecisa de limites (embora tenha 15 dias de vida!), como tambm acharo muconselhos nas pginas de uma infinidade de livros e revistas que ensinam a fa

    as crianas se comportarem bem.O que as mes no vo encontrar facilmente algum que traga a voz

    criana em questo. Algum que lhes pergunte de que trata realmente eluta que esto to decididas a travar.

    Podero confirmar, na presena da criana, se a realidade de sua infnciabaseada em uma guerra de desejosou, pelo contrrio, na integrao de ddesejos. Provavelmente, em outros vnculos conseguem vencer o inimigo ouretirar de cena. No entanto, com uma criana nos braos, esto aprisionadas,

    podem abandonar a relao. justamente essa sensao de que esto tolhque lhes d as pistas de como organizaram seu estar no mundo desde a

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    infncia. Se perpetuarem o mesmo mecanismo, simplesmente daro continuidadguerra. Este o verdadeiro bero da violncia.

    Desamparo primrio e vcios

    Quando precisam de leite, os bebs precisamj. A necessidade imeurgente, envolvendo-os completamente. Quando precisam de braos, na pressaobt-los, vida que est em jogo. Cada pequena necessidade vivida como uquesto de vida ou morte. Realmente assim, no h lugar para espera nindeciso.

    Por outro lado, para o beb no h mundo externo, no h outro. S exseu prprio desejo que a chave da sua sobrevivncia e a me (que vicomo si mesmo pelo recm-nascido) que prov e acalma suas necessida

    permanentemente. Poderamos dizer que isto se aproxima bastante da definde beb humano.

    Quando o beb no obtm aquilo que precisa, se desespera. E, medida vai crescendo, vai conformando uma identidade na qual sempre contiprecisando. A criana, em vez de ir apaziguando sua voracidade, a aumeQuando no conseguir obter leite materno nem colo, tentar satisfazer snecessidades atravs de substitutos. No importa que substncia ou alimeincorpore, o que importa ingerir alguma coisa, seja o que for, que po

    acalm-la.Pouco a pouco, o ato de incorporar vira primordial em si mesmo. E, endirigimos todo nosso interesse a devorar o que for, o mais depressa possvel, anque acabe e sintamos falta. assim que uma criana pede qualquer coisa, pora faltaest sempre presente. Normalmente pede o que sabe que os adultos esdispostos a fornecer: brinquedos, comida, sucos ou guloseimas. No entanto, ecrianas ficam desorientadas, porque, apesar de tudo o que ingerem, elas conseguem satisfazer sua necessidadeoriginal, j bastante esquecida.

    As falsas necessidades aumentam ainda mais. Em nossa sociedade de consu

    elas so muito difceis de identificar, porque vivemos em um sistema que nos la acreditar que precisamos de uma infinidade de objetos capazes de garaconforto. Portanto, quando a criana pede e obtm permisso para ver televisobrincar com joguinhos eletrnicos durante horas, no percebemos que algucoisa no est funcionando direito. Nem sequer quando a criana sente que pode viversem os objetos que deseja.

    Todo vcio precisa ser compreendido. Se ainda somos crianas, uma meum pai poderiam reconhecer que foram incapazes de permanecer ao lado do f

    no passado. Ainda h tempo: os pais podem trocar os jogos eletrnicos por passeio a ss pelo bairro. A ss quer dizer que, quando h vrias crianas

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    casa, o passeio deve ser feito com uma criana de cada vez, porque os bebs socializam, mas fusionam. Um menino de 11 anos necessitado de fusemocionalmente um beb necessitado. Portanto, no poder se curar spasseio for compartilhado. Porque, nesse caso, no se enche de mame, masperde na dinmica do grupo, e isso no capaz de preencher um beb. importa a idade de uma criana viciada, ou seja, necessitada. Se ainda ucriana, se no completou a separao emocional (entre os 14 e os 18 anos), a

    h tempo de maternar. Ou seja, de fusionar.Todo beb sente que vai morrer sem a presena materna. Se escolhedesde pequenos o vcio como mecanismo de sobrevivncia, quando viramadultos perpetuamos esta maneira de nos vincularmos a objetos ou a oupessoas sentindo que, sem a incorporao ou o usufruto da substncia ousituao escolhida, morremos. Nessas circunstncias, qualquer coisa consumimos se torna vital.

    Quando a incorporao de qualquer coisa desesperadora, estamos falade vcio. H vcios mais fceis de reconhecer, como o do cigarro ou do lcOutros so menos detectveis, como o de comer, de acar ou de psicotrpicosh outros ainda mais invisveis, como o vcio pelo reconhecimento sociatrabalho, o xito e o conforto.

    No entanto, no se combate o vcio. No possvel lutar contra unecessidade primria. Alm disso, qualquer vcio, ou seja, qualqincorporao desesperada de me procura se ressarcir. Portanto, smuita idiotice se, alm de terem ficado sem me, ficassem sem cigarro, lutapara suportar a falta.

    O problema do vcio que as pessoas permanecem prisioneiras de unecessidade infantil. imprescindvel compreender que, incorporem o incorporarem, no obtero mais mame. Essa uma histria antiga, merece uma profunda reflexo e um delicado trabalho de regresso e cura.

    O esquecimento como mecanismo de sobrevivncia

    Se, durante a infncia, as pessoas muito prximas afetivamente, como a me opai, foram ao mesmo tempo protetores e predadores do ser interiorcriana, alimentaram-nas, mas tambmviolentaram suas emoes, acontecefenmeno: a conscincia se divide.

    O fato de a conscincia se dividir significa que, ao no conseguir aceitar,mesmo tempo, ser amado e rejeitado pela me, o mecanismo da consciopera assim: recorda as cenas em que recebe amor da me e esquece

    manifestaes de rejeio e desprezo, relegando essas emoes sombEsse dispositivo da conscincia extremamente til, j que, como so criana

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    muito complicado gerar recursos para enfrentar a dor e o isolamento. Podedizer que essa diviso da conscincia nos salva, porque s admite aquilo que faz bem.

    No entanto, uma vez transformados em adultos, a conscincia continua automtico com o mesmo mecanismo: uma parte admite e outra parechaa. O confronto entre o que admitimos e o que esquecemos psurgir em certas crises existenciais.

    Qualquer crise um momento oportuno para comear a fazer o trabalhoquestionamento pessoal, mas com a dificuldade adicional de no podermos cona princpio, com nossas recordaes. Afinal, a conscincia as esqueceu. Tudque recordamos belo e prazeroso, e no compreendemos por que noterapeuta ou guia insiste em nos fazer perguntas de duplo sentido.

    H informao muito valiosa que nossa conscincia rechaou, quando racrianas, para nos salvar. Quando viramos adultos, por um simples mecaniautomtico, tal sistema se perpetua. A reconstruo paulatina da trama ocultanossa vida, especialmente da nossa infncia, muito complexa. Muitas pessno guardam nenhuma recordao, nem bela nem feia. Outras no recordamnada que tenha acontecido antes da adolescncia.

    Esses casos requerem um trabalho minucioso, como se ns transformssemos em detetives de ns mesmos. Cada pista pode nos levar a ouIsso s possvel com ajuda externa. Se continuarmos investigandomemria do indivduo ser ativada, treinada como um msculo. E, pouco a po

    organizaremos uma histria confivel, completa, e, de modo geral, encontrareum fio lgico. Tambm indispensvel agregar nomes s experinc

    ustamente porque o desamparo, a solido, o medo, o desconhecimento odistncia afetiva no foram nomeados por ningum durante nossa infnportanto, aquilo que sentamos no conseguiu se acomodar em nenhuma estada nossa organizao psquica.

    Antes de mais nada, esse trabalho profissional requer ordem, como qualquer boa investigao, e disponibilidade para oferecer amor ao longotravessia. Em linhas gerais, podemos afirmar que as pessoas muitoesquecidcom pouca memria ou distradas tm em comum uma histria de violemocional na infncia, embora no o admitam. Como ficam sabendo? Porquconscincia adotou uma dinmica de salvao: assim que alguma cacontecia, por via das dvidas a mente esquecia o fato, para no correr o ride sofrer.

    A conscincia uma ferramenta muito poderosa. Ela sabe qual o momeadequado para abrir a porta aos seus prprios demnios. E, se ainda est preparada, pois bem, esperemos um sinal. O trabalho teraputico ouacompanhamento emocional tem sentido apenas medida que o paciente se sesuficientemente resguardado para investigar as recordaes que surgem,

    sentimentos confusos e as dores inominveis, pelas mos de um profissional

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    guia atravs de perguntas simples e pertinentes. O profissional sabe que preabordar essa outra parte da experincia individual que se esconde, temerabraada aos esquecimentos. O medo no sonso. E o esquecimento principal guardio.

    Procurar a prpria voz

    odos temos vivncias e recordaes, mas a organizao consciente da nohistria depende do que contaram a ns. Quem so os bons, quem so os mquem so os confiveis, se a vida bela ou difcil, se vov uma bruxa, se pnos abandonou e foi viver com outra, se a vizinha uma metida ou se voc mefoi uma criana muito mimada e arrogante. Enfim, seja o que for que tenham dresolvemos acreditar. Geralmente, esse personagem que tem certa influncia so

    a gente costuma ser nossa me. Em certas famlias, pode ser o pai. E, em meproporo, a av, sobretudo se foi ela quem nos criou e se esteve em gupermanente contra mame.

    Em todos os casos, h sempre algum que foi influente em nossa infncnomeouas coisas. Claro que nomeou-as de acordo com as prprias lentes, cotodos fazem. O interessante que aquilo que foi ditopassou a constituir noidentidade. Por outro lado, as vivncias que no foram nomeadas no chegaconscincia. E se no chegam conscincia, temos a sensao de que

    existem.Em cada histria de vida, indispensvel saber a partir da tica de qurecordamos. Veremos que, embora nos consideremos adultos, o ponto de v

    costuma ser infantil, ou seja, completamente tingido pelo que precisvaacreditar quando ramos crianas. Ento, teremos de reconstruir as recordabaseando-nos nas... recordaes! Esta uma tarefa complexa, porque norecordaes esto organizadas de acordo com o que foi nomeado. Portantonecessrio fazer um trabalho de indagao pessoal, de autoescuta e introspeco, e que outra pessoa nomeie outros fatos para que possamos

    reconhecer, ou no, neles.A partir da primeira experincia de nomear algo que nunca havia sido

    anteriormente, acontece um fato curioso: as recordaes comeam a surgir forma de cascatas. A princpio surgem imagens confusas, mas logo vo aparececom mais velocidade recordaes cada vez mais ntidas e claras. Algumas pesstm sonhos (ou se lembram quando acordam, o que neste caso a mesma cocheios de significados.

    Por exemplo, se acreditvamos que tivemos uma infncia irrepreensvel,

    descobrimos o nvel de abandono emocional em que vivemos apesar de nome nos ter inculcado uma devoo em relao a ela , ento conseguiremos

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    compreender um pouco mais. Suspeitaremos que esse abandono infantil algo a ver com nossos medos de adultos. Ou com a nossa impacincia quandocoisas no so exatamente como gostaramos que fossem. Ou, inclusive, coimpossibilidade de cuidarmos dos nossos filhos pequenos. Apenas compreendea criana que vive dentro da gente poderemos chegar verdadeira dimenso nossos fracassos e dos nossos medos, e, a partir dessa realidade emocional,quais so os recursos de que dispomos para melhorar nossa vida adulta

    indispensvel entender que dependemos da realidade emocional. E que terede encontrar nossa prpria vozpara nome-la.

    Abusos fsicos

    Os adultos podem bater nas crianas. No faltam motivos: elas so desobedien

    no aceitam limites, choram em lugares inadequados, levantam a voz, deixambrinquedos desarrumados, machucam outras crianas, desrespeitam os mvelhos, fazem caretas estpidas, no estudam ou mentem. Qualquer ato infanegativo pode ser uma desculpa satisfatria para castig-los, de acordo comcrena disseminada de que, dessa forma, aprendero a ser educadasresponsveis.

    No entanto, indo alm dos valores morais de cada um ou das discusses sobque certo ou errado, o problema subjacente a mentira que contamos a

    mesmos. Tentamos nos convencer de que fazemos aquilo para o prprio bemcriana, que compreendero nossos atos, sero educadas, se tornaro cidadcorretos no futuro ou estudantes mais aplicados. Porm, a cada dia constataque as crianas no se comportam melhor pelo contrrio, se tornam cada mais desafiadoras e perigosas. Sabemos que fracassamos em nossa luta peduc-las, pois aprendem conosco a usar seus recursos para derrotar os mfracos, enganar, levar vantagem, manipular, mentir ou roubar para se dar bem qualquer situao que lhes propicie mais poder ou valorizao pessoal. tambm usam a fora, os abusos fsicos, as pancadas e qualquer modalidade

    lhes permita impor suas vontades a crianas menores ou mais fracas.colocarmos a mo na conscincia, seremos obrigados a reconhecer que noestamos educando, e sim lhes transmitindo estratgias de sobrevivncia parguerra entre os seres humanos. Batemos nelas exatamente porque conseguimos educ-las. Batemos porque, diante da impotncia e impossibilidade de am-las, a nica coisa que sabemos fazer.

    Na verdade, quando batemos nas crianas, quem est batendo a nocriana ferida, violentada, atemorizada, destruda, impotente e ferozme

    inabilitada. nossa criana interior que perdeu todas as batalhas durantinfncia, submetida ao desamor e incompreenso de quem deveria proteg-la

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    No entanto, claro que essa situao uma espiral sem sada. Sabemos, experincia prpria, que no nos tornamos pessoas melhores graas ao despdos nossos pais. Entretanto, no nos ocorre fazer outra coisa. Pedir-lhes quecomportem no d resultado. Suplicar-lhes que sejam boas, tampouco. podemos troc-las por outras crianas. E devolv-las a Deus, menos ainda.

    Supomos que nos restam poucas opes. Mas h uma que est ao alcancetodos ns, que requer mais coragem que a de um guerreiro: procurar outro

    humano com quem possamos recordar, cena por cena, os castigos fsicos a fomos submetidos na infncia. Aquilo que recordamos espontaneamente nconfivel. apenas a ponta do novelo que comearemos a puxar de forma suacompanhados por alguma pessoa amorosa disposta a acreditar na gentemedida que vamos recordando a nossa infncia e entramos em contato comterror experimentado surge a compaixo por ns mesmos. S depois serecapazes de sentir compaixo pelos nossos filhos pequenos. Encompreenderemos que ter sido atrozmente maltratado no foi uhumilhao e sim que, pelo contrrio, ter sobrevivido foi a maior nossas conquistas.

    A poderemos fitar os olhos de nossos filhos e lhes dizer que temos tanto mquanto eles. Que estamos vidos por amor, mas no sabemos como receb-lmuito menos como oferec-lo. Que aprendemos a nos vincular atravs de matratos, desprezo e jogos de poder, e que agora precisamos aprender com elessegredos das relaes respeitosas. Por isso faremos um esforo para acompanlos. Compartilharemos com as crianas nossa ignorncia em matria de equidadharmonia. Abriremos nosso corao. Passaremos a lhes dedicar um pouco

    tempo. E pediremos perdo.

    As crianas como inimigas

    Somos adultos, portanto podemos fazer o que queremos. Deixar que a crianaacalme sozinha e adormea? possvel. Permitir que chore fechando a porta p

    no ouvi-la? possvel. Abandon-la no quarto e ignorar o que est acontecendpossvel. Podemos fazer algo mais: acreditar e nos convencer de que o fato de ucriana dormir sozinha uma conquista. Obviamente, podemos fazer tudo iinclusive achando que vencemos uma batalha contra o capricho da criana precisa aprender a no incomodar.

    No entanto, a realidade um pouco mais complexa. Porque a nica coisa uma criana que est sozinhaaprende que o mundo hostil, perigoso, ridcheio de dor. No h nenhuma conquistaquando a criana de fato adorm

    Ao contrrio, o pequeno conhece nessa instncia a dor da resignao, ao constque, mesmo que chore, grite ou se desespere, ningum vai aparecer para ajud

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    e que lhe convm parar de chorar para sobreviver. Aprender que no vale a ppedir ajuda, entender que no conta com ningum, embora s tenha poucos de vida.

    necessrio compreender que a necessidade bsicade toda criana de eem contato corporal e emocional permanente com outro ser humano necessidade de calor, proteo, ritmo, movimento, proximidade e olhar desaparece quando no obtida. A criana simplesmente sabe por experi

    prpria que o choro no lhe fornecer uma soluo, e que at aquele momentlhe deu solido, escuro e quietude. Ento, com cuidadosa inteligncia, a criatransfere sua necessidade para uma manifestao que o adulto possa ouvGeralmente adoece.

    Ns, adultos, somos to estpidos que no reconhecemos na doennecessidade transferidada criana. Achamos que adoeceu, e que isso no nada a ver com a conquista de dormir direito, ou, mais precisamente, comsolido e o sofrimento que suporta.

    No entanto, se cada um de ns tivesse a coragem de recordar e sentir a dor sentimos por causa dos mtodos de criao e educao que vivenciamos, epudssemos colocar as mos no corao e recordar os desprezos, as humilhadesamparos que sofremos quando ramos criana, compreenderamos que tisso se trata de uma revanche. Ento, vomitamos a impacincia, a incompreena infelicidade e o dio de que fomos vtimas. Tentamos nos salvar e dormir em pComo se dormir uma noite inteira fosse to importante para um adulto, dianteimensido da noite do ponto de vista de um recm-nascido.

    Crianas muito estimuladas e vcios

    Quando os jovens chegam adolescncia, no querem mais depenemocionalmente dos pais, mas, em muitos casos, no dispem de uma estrutinterior consistente. Ento, eles manifestam suas nsias de liberdade e autonosem muito cuidado. Distanciam-se de suas percepes, consumindo vorazme

    substncias que lhes deem uma falsa sensao de liberdade (tabaco e lcprincipalmente) ou apenas se irritando. Esta tambm a fase em que se pede adolescentes que definam uma identidade, de preferncia atravs da vocamas poucos esto em condies de lidar com seu mago, e assim conhecer svirtudes e imaginar uma maneira pessoal de desenvolv-las. Em geral, upoca sofrida, a meio caminho entre o desconcertante desejo prprio inalcanvel desejo dos pais.

    Quando os problemas com as drogas ou os males mais modernos, com

    bulimia e a anorexia se manifestam nos filhos adolescentes, os pais percebque alguma coisa est acontecendo. E vo procurar, correndo, solues p

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    liquidar imediatamente o problema. Mas o fato que eles deveriam ter se dconta de que o adolescente perdera, ao longo da infncia, a possibilidadeencontrar o prprio ritmo ou desejos ocultos, e tentou enganar os pais transferas necessidades primrias. Deixou de reconhecer h muito tempo os prprios sie, quando os pais lhe perguntam o que deseja ou o que lhe importa, crava o oem um ponto perdido ou mergulha na msica que toca nos fones de ouvisolando-se de qualquer conexo com o mundo exterior. De qualquer maneira

    fora no h nada que lhe interesse, porque foi perdendo, ao longo dos anos, tvibrao ou ressonncia com seu ser interior.Mesmo assim, continua me surpreendendo o fato de que pais dispostos a in

    um dilogo com os filhos adolescentes a partir da honestidade e da dor das sprprias limitaes consigam atrair, rapidamente, a ateno desses jovens parecem apticos. possvel tentar usar as ltimas cartas da comunicao e abcorao a partir da posio de pais , desde que estejam dispostos a olhar pdentro e a compartilhar as descobertas dolorosas com os filhos. Poucos adepois, quando virarem adultos, todo o processo de indagao pessoal dependda deciso pessoal e consciente deles e no da dos pais.

    A maioria dos adolescentes est farta da hipocrisia desses pais em quem acreditam mais e continuam sofrendo a distncia emocional que eles instauranos vnculos familiares. Com o agravante de no terem recursos pessoais pmodificar as coisas, a no ser perpetuar um sistema de insatisfao e consuresultando tudo em mais vazio e mais consumo.

    evidente que so os adultos que devem reconhecer sua imensa solido e incapacidade de oferecer algo alm da violncia interior que os devora, me

    diante da urgncia de um jovem em risco. Porque teimam em acreditar quurgncia s se instalou agora que os sintomas se tornaram muito evidenquando, na verdade, a criana est pedindo ajuda h muitos anos.

    Urgente a fome de me quando sou um recm-nascido, urgente a caprotetora da me quando sou muito pequeno e h predadores em todos os lugaurgente a presena da me quando meu corpo est destroado pela solidoentanto, quando a droga, por exemplo, aparece para acalmar as aflies, tetempo de sobra para percorrer todos os cantos da histria pessoal e compreendque est acontecendo e at aonde aquilo nos leva.

    Quando o adolescente entra, de maneira clara, em uma espiral de consumolcool ou de drogas pesadas, ou ento no crculo da bulimia e da anorexia, parque, nesse momento, os pais se assustam e se dispem a ouvir os sinais. Jpassaram talvez 15 anos, ou 18, ou 20. Nunca estiveram dispostos, porque acharam perigoso o choro doloroso do beb, o pranto desesperado da crianacolgio ou as doenas repetidas de uma criana cada vez mais debilitada. Agsim compreendem a urgncia, embora os sinais tivessem sido claros desdprincpio.

    possvel que o adolescente no acredite na aproximao do pai ou da m

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    pois passou toda a vida reclamando essa presena sem obt-la. Por que devconfiar neles? Nada o leva a confiar na aproximao amorosa. Nesses casosvezes mais til que outro adulto protetor, confivel e mediador apoie a famlialtima tentativa desse jovem de pedir amor e se sentir merecedor e importacomo indivduo.

    Violncia domstica: como interromper o ciclo vicioso

    Muitos de ns viemos de famlias nas quais o que acontecia com a gente nolevado muito a srio e nas quais o processo de educao se apoiava em idautoritrias e rgidas. Mesmo que no tenhamos sido vtimas de surras oubroncas, podemos ter vivido inmeras situaes de solido, nas quais nossa ainfantil, nossas percepes ou melancolias ficavam muito distantes do mundo

    demais.A partir dessa realidade, construmos modalidades de sobrevivncia. s ve

    obrigando os outros a se submeter a nossos desejos ou necessidaidentificando-nos com um dos nossos pais. Assim, assumimos o papel de mal nos relacionamos com o outro quando ele faz aquilo que supostamente queremOutras vezes, adotamos um personagem complementar, relegando tudo o quede valioso em nosso interior em prol do desejo ou da necessidade do outro.seja, vestimos a roupa de vtima. A partir da, parece que s existimos med

    que o outro nos humilha, nos desqualifica ou nos despreza.No importa se adotamos um ou outro personagem, porque somos duas fade uma mesma moeda. Ambas experimentaram histrias de abuso emocionaldesertos afetivos e de desamor. Estamos carentes e desesperadamenecessitados, mas manifestamos isso de formas diferentes. Por outro lado, podemos viver um sem o outro, porque, no fundo, nos compreendemutuamente.

    Esta a armadilha que enfrentamos quando abordamos o problema da violdomstica, geralmente manifestada na relao entre o homem algoz e a mu

    vtima. O problema no passa por conseguir que a mulher se salve das garrashomem que a tortura, porque, no importa o que faamos, essa mupermanecer ali, nesse lugar quentinho que se assemelha a sua experinciaamor primrio. E no h muitos lugares to mais doces para onde fugir.

    Por isso, uma abordagem verdadeiramente cuidadora, livre dos preconceitodas opinies sobre moral e bons costumes, deve ser feita a partir da compreendo que aconteceu com a gente, expondo as situaes de desemparo em que focriados, reconstruindo, por sua vez, os desamparos de que nossos pais fo

    vtimas quando eram crianas e procurando, como detetives, todas as peas faltam at concluir o quebra-cabea da nossa vida. Assim, conseguiremos sabe

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    que dispomos quando queremos nos vincular aos outros. Em sntese, sabereque no temos reservas emocionais para o intercmbio amoroso. No entantoculpa no ser do outro. Mais: no haver culpas. Se conseguirmos fazconstataremos que a histria de A bela e a fera apenas isso: uma histria.

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    CAP TULO

    3Criao

    Sofa sente falta da me Dizem que Francisco tem cimes Toms fala Juan e os cavalos Estou com medo O estresse no m

    exclusivo dos adultos Crianas hiperativas Festas de aniversrconsumo Os ataques de raiva Comprar em vez de se vincular Icompras com uma criana pequena Vamos brincar juntos A televcomo bab Nasceu um irmozinho A irmandade Voltar para ccom um beb prematuro Morte no bero O desmame O tempo de dedicao exclusiva As crianas e o direito verdade Crianas adoecem Meu filho briga na escola Meu filho apanha na escola administrao da fome A mesa familiar No quer dormir sozinh

    Cada criana tem a sua etiqueta Tudo o que dizemos O excessobrinquedos e objetos O uso do no, um recurso pouco eficaz Oas crianas O chamado de uma criana que quer seradotada Fiadolescentes

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    Sofa sente falta da me

    Esta uma histria comum: trata-se de um belo beb de 3 meses e de uma mdesesperada que acha que as coisas esto indo de mal a pior. A me de Sofachama Claudia e ficou grvida em uma relao ocasional. Ela no tem ampeconmico nem afetivo. contadora, trabalha desde que era muito jovem e eacostumada a no pedir nada a ningum.

    Claudia sempre foi exigente com ela mesma e muito organizada com a fNo entanto, Sofa no dorme. Ou seja, as coisas no funcionam como esperava. Eu lhe pergunto o que significa no dorme. Ela passa a noite intacordada? Chora sem parar? Claudia me conta que a criana acorda assim qucoloca no bero. E que precisa que Sofa durma a noite inteira, para poderrecuperar e conseguir enfrentar o trabalho no dia seguinte. Pergunto como Spassa os dias, quando ela est ausente. Responde que fica tranquila, nos braouma senhora que cuida dela, e que escolheu uma pessoa competente, fiel a

    estilo.Digo a Claudia que Sofa faz um esforo enorme para facilitar as coisas, compreende a situao difcil que as duas compartilham. No adoece nincomoda quando est ausente. Porm, quando a me volta, no suporta maexigncia de ter de aguentar a solido. S quer se preencher de mame. sorte a encontra noite.

    Pergunto a Claudia, abraando-a docemente, se ela sente falta da filha quaest no trabalho. Ento, a moa se desarma em um pranto profundo, afogareprimido, silencioso. Chora cada vez com mais fora, e eu tento apoi-la silncio, acariciando-a. Viro minha cabea e vejo Sofa, sentada na cadeirinobservando a cena com tranquilidade.

    Voc precisa da minha permisso para dormir ao lado de Sofa?, eu pergunto. Acredito que as duas sentem falta uma da outra. Claudia, eenvergonhada e aliviada, me responde que quando o cansao toma conta de tudorme abraada com a filha. Nessas noites, o beb costuma acordar apenas uvez, para mamar.

    Dizem que Francisco tem cimes

    eresa, a me de Francisco, de 6 anos, entrou no meu consultrio com um beb4 meses. Tinha tambm uma menina de 2 anos. A preocupao dela estvoltada para o filho mais velho, que, segundo ela, estava com cimes irmozinho. Perguntei por que achava isso. Ela respondeu que Francisco

    obedecia, chorava sem motivos, incomodava-se toda vez que se preparava p

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    amamentar o beb e vivia permanentemente irritado.Fiz muitas perguntas sobre a vida de Teresa, mas me concentrei no vnculo

    ela estabelecera com Francisco a partir do nascimento dele. Soube que decidirapouco tempo, sair do emprego para dedicar cerca de dois anos criao dos filOu seja, Francisco havia desfrutado de me em tempo integral s nos primeiros meses de vida. Ento, sua me voltou ao trabalho, mais tarde, ele tuma irmzinha, e, tempos depois, outro irmo. Teresa no conseguira amamen

    Francisco, em parte por falta de experincia, em parte por falta de apoiosegunda filha tivera muitas crises de bronquite, e, por isso, fora obrigada adedicar a ela. Com a chegada do terceiro beb, as coisas se complicaram aimais.

    Conversamos informalmente sobre as dificuldades da vida cotidiana, e brindurante um tempo de ser Francisco. Disse que eu era capaz de me compobem, que costumava ter pacincia, mas que j estava cansado. Que precisavaateno, mimos e de um pouco de me s para mim. Para completar, eu saperfeitamente o que estava acontecendo com a minha me, mas queria quecompartilhasse tudo comigo, para sentir que ser grande poderia ao menos trazer alguns benefcios. Por exemplo, ser aquele que a ouve, acompanhcompreende.

    Voc acha que Francisco se importa com o que acontece comigo? No confundi-lo?

    Teresa fez um teste. Compartilhou com o filho mais velho as preocupaes responsabilidade de ter trs filhos pequenos. Francisco respondeu com atitusolidrias, como todas as crianas, que s querem ficar perto do corao da me

    oms no fala

    Recebi os pais de Toms quando ele tinha 5 anos. Em casa, era uma crianormal e alegre, mas, fora do lar, no falava. A professora sugeriu que consultassem, pois o menino no abria a boca na sala de aula a ponto de

    nunca ter ouvido sua voz. Tampouco seus colegas, com quem Toms brincava silncio, usando sinais, como se fosse mudo.

    Recorri histria da me, mas, como Toms tinha 5 anos, pensei que a biogrdo pai poderia ser muito reveladora.

    O pai, Rubn, costumava esperar alguns minutos antes de responder s minperguntas. No entanto, a mulher falava com muita espontaneidade e simpaGraas ajuda dela, pude reconstruir as histrias de ambos. Os pais de Rutiveram trs filhos meninos. Alguns anos depois, adotaram uma menina, isso

    uma poca em que a adoo no era to aceita socialmente quanto hoje em Era quando no se falava sobre isso. A questo que a adoo era um segr

  • 5/23/2018 Mulheres Visiveis Maes Invisiveis

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    familiar. Para mant-lo, mudaram de bairro, mudaram os trs filhos de escola eambiente social, deixaram de visitar tios e primos e, como no poderia deixaser, a menina adotada cresceu acreditando que era filha biolgica, como os irm

    Perguntei a Rubn se havia alguma vez compartilhado o segredo com alguEle olhou para mim desconcertado. A mulher, Silvia, deu uma risada, dizendo qumenina descobrira, porque havia muitas coisas na famlia que no encaixavam, rebelando-se contra tamanha mentira sem sentido. Rubn nunca

    falar do assunto, apesar da insistncia da mulher.Pois bem. Como Toms poderia falar, se estava em fuso com este pai qinconscientemente, acreditava que falar era uma coisa perigosa? S meque Rubn reconhecesse que o perigo era infantil seria capaz de ajudar Tomse apropriar de sua voz e de sua palavra, para circular com confiana pelo mund

    Juan e os cavalos

    A me e o pai de Juan me procuraram porque o filho de 11 anos estava semedicado com tranquilizantes h muitos anos, graas a um diagnsticohiperatividade. Quando Juan nasceu, a me seguiu as regras dos mais famo

    especialistas na cincia de criar seres humanos. Depois, com a experincia qumaternidade foi lhe dando e sua prpria maturidade, reconheceu que consideratrozes a maioria das atitudes que tivera com Juan quando ele era pequeno: nu

    havia atendido nem compreendido suas queixas, jamais aceitara dormir com nunca estivera disposta a segur-lo nos braos e, frequentemente, se irritavacausa dos caprichos do filho. Juan cresceu em um desamparo e solido invisvEra considerado uma criana difcil e de reaes imprevisveis.

    A famlia tinha o hbito de visitar uma fazenda da famlia, onde Juan aprenda cavalgar. Saa sozinho com os cavalos e ia a uma montanha distante, opassava horas e horas construindo seus refgios. Mal se relacionava com os prie vizinhos, por isso os adultos viviam preocupados em ajud-lo a se socializarfazer amizades. Coisa que a Juan importava muito pouco.

    Perguntei aos pais se alguma vez haviam ido com Juan aos refgios construa na montanha. De fato, algumas vezes o haviam acompanhadodescobriram construes incrveis, que o menino fizera sozinho usando batroncos, folhas e pedras. Eram sua proteo, seu resguardo, seu lar. Quando Jmontava no cavalo e galopava at seu lar de barro e pedra, no era um medifcil, nem tinha reaes imprevisveis, nem era antissocial. Pelo contrrio, feliz.

    Ento, sugeri me que fosse ao encontro desse filho excepcional,

    galopasse at esse lar, que pedisse permisso para entrar e permanecesse ao ldele, disponvel. Coisa que ela comeou a fazer. E descobriu um filho incrivelme

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    criativo, slido e feliz, que precisava compartilhar seu mundo interior com os seque mais amava.

    Estou com medo

    Quando uma criana pequena nos chama e diz que tem medo de alguma cocostumamos no acreditar. Porque queremos saber exatamente do que tmedo, e como percebemos que o objeto que parece temer ou a situao qupreocupa so irreais, s nos ocorre menosprezar o medo, fazendo-a ver que tem motivos concretos para sentimento to disparatado.

    Provaremos que monstros e drages no existem, que moscas e mosquitos incapazes de nos fazer danos. Brincaremos a respeito dos encontros com fantasou com mortos, pensando que a criana tergiversa ou amplia as imagens vistas

    televiso, e que as usa para nos molestar. At que somos dominados pelo fasquando um lugar um pouco escuro, o momento de ir dormir, um passeio cestranhos, um inseto, um animal ou uma tempestade de vero a enchemangstia e a tornam incapazes de viver a vida. Tentamos ter pacincia, depois damos importncia ao que a criana nos relata. E a colocamos de castigo, achaque est gozando com nossa cara.

    A questo que a criana continua sentindo medo, e isso altera a vida de todfamlia.

    Quando nos importamos de verdade com o sofrimento do filho, temos de edispostos a ouvi-lo e a procurar esses monstros que cresceram dentro dmuito antes que soubesse nome-los. A qualidade do cuidado, permanncia, do colo, da proteo, do corpo, do calor, da pacincia e disponibilidade que lhe demos (ou que no lhe demos), desde o nascimento atdias de hoje fizeram crescer, em maior ou menor medida, os monstros quealimentaram da solido, da distncia emocional ou da falta de palavras.

    Definitivamente, uma criana humana um personagem estranho. Talvez extraterrestre adulto nos fosse mais familiar. Acomodados a nossas prp

    necessidades, determinamos que as crianas devem dormir sozinhas, fsozinhas, brincar sozinhas, comportar-se bem e, sobretudo, no ver monstros ono existem.

    Quando o entorno hostil para a criana que est no bero pedindo presencorpo e calor sem obt-los, sua vivncia aterrorizante. Ela se secompletamente indefesa e claro que . Sem a presena imediata da mede outra pessoa amorosa e maternal, qualquer predador poderia acabar com Para a maioria das crianas ocidentais, a solido e o terror decorrente disso

    uma experincia cotidiana. Por isso to frequente que as crianas tenham meNo um capricho. uma consequncia do desamparo emocional em que

  • 5/23/2018 Mulheres Visiveis Maes Invisiveis

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    criadas.Nossa melhor opo rever quantas vezes a deixamos emocionalment

    deriva. Quantas vezes pretendemos que se arrumasse sozinha, que se acalmasozinha, que se alimentasse sozinha, que recuperasse o equilbrio sozinha. Cvez que desprezamos o medo que de fato sente, essa emoo aumenta, porqucriana constata que ningum cui