mulheres profissionais do sexo: redes socias … · o presente estudo visa expor a utilização de...

5

Click here to load reader

Upload: vanxuyen

Post on 08-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO: REDES SOCIAS … · O presente estudo visa expor a utilização de redes sociais como estratégia de enfrentamento das DST/HIV/AIDS e hepatites virais

MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO: REDES SOCIAS COMO

ESTRATÉGIA DE ENFRENTAMENTO DAS DST/HIV/AIDS E HEPATITES

VIRAIS EM GOIÂNIA-GOIÁS

SANTOS, Paulie Marcelly Ribeiro1; MORAES, Paula Ávila1; CAETANO, Karlla

Antonieta Amorim2; MORAES, Luciene Carneiro2; FRANÇA, Divânia Dias da Silva2;

CARNEIRO, Megmar A. dos Santos3; SOUZA, Márcia Maria4; TELES, Sheila Araújo4,

MATOS, Marcos André4

1- Discente de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. 2- Discente de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de

Goiás. 3- Docente do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. 4- Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás.

PALAVRAS – CHAVE: Prostituição, DST/AIDS/AIDS, Hepatites virais,

Prevenção.

INTRODUÇÃO

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) representam um

importante problema de saúde pública na atualidade, sendo mais prevalentes

em populações que apresentam comportamentos de risco como usuários de

drogas ilícitas, homens que fazem sexo com homens e Mulheres Profissionais

do Sexo (MPS) (DECKER et al., 2012; WANG et al., 2012; WHO, 2007).

Mulheres profissionais do sexo têm sido consideradas um grupo em

risco elevado para as ISTs. Muitas usam drogas lícitas e ilícitas e praticam

sexo sem preservativos. Alem disso, apresentam vulnerabilidades individuais,

sociais e programáticas como baixa escolaridade, grande mobilidade

geográfica, difícil acesso aos serviços de saúde e, barreiras relacionadas a

gênero e estigmas sociais (AYRES, 2009; DAMACENA et al;. 2011;

FIGUEIREDO & PEIXOTO, 2010; NURLAN et al., 2011).

A história nos mostra que a atual política brasileira de saúde voltada

para a mulher (PNAISM) com suas campanhas de prevenção, muitas vezes,

não conseguem englobar as diversidades da população feminina.

_________________________RESUMO EXPANDIDO REVISADO (Profº Marcos André de

Matos; email: [email protected]) Educação em saúde com profissionais do sexo:

uma intervenção necessária. Financiamento: Ministério da Educação PROEXT 2011.

Page 2: MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO: REDES SOCIAS … · O presente estudo visa expor a utilização de redes sociais como estratégia de enfrentamento das DST/HIV/AIDS e hepatites virais

Assim, as mulheres que realizam a comercialização sexual sempre

estiveram inseridas nas campanhas de saúde pública vinculada as ações

preconceituosas, o que as distanciam dos serviços de saúde (AQUINO et al.,

2010).

Portanto, o desenvolvimento de programas de educação em saúde

fundamentados em estratégias específicas para grupos populacionais de difícil

acesso torna-se fundamental no enfrentamento das DST/HIV/AIDS e hepatites

virais nas mulheres que realizam a prática da comercialização sexual, um grupo de

extrema vulnerabilidade. O presente estudo visa expor a utilização de redes sociais

como estratégia de enfrentamento das DST/HIV/AIDS e hepatites virais em

mulheres profissionais do sexo de Goiânia-Goiás.

METODOLOGIA

O público social alvo das intervenções de prevenção das DST/HIV/AIDS

e hepatites virais constituíram-se de MPS que exerciam a prática da relação

sexual em troca de dinheiro em locais públicos (praças, parques, ruas,

avenidas) e particulares (saunas, boates, bordéis) de Goiânia-Goiás e que

faziam parte da rede social de uma das participantes.

O projeto de extensão iniciou-se em 2009, sendo parte do projeto de

pesquisa “Epidemiologia das infecções pelos vírus da imunodeficiência

humana, hepatite B e C em profissionais do sexo de Goiânia, Goiás” aprovado

pelo comitê de Ética em Pesquisa do HC/UFG e financiado pela FAPEG e

CNPq: edital 002/2008-FAPEG e MCT/CNPq/SPM-PR/MDA nº 57/2008,

respectivamente.

Como as MPS constituem uma população de difícil acesso, utilizou-se

uma metodologia de amostragem, capaz de produzir amostras probabilísticas,

que tem sido recomendada para populações de difícil acesso como as MPS,

denominada Respondent-DrivenSampling (RDS) (BARBOSA et al., 2011;

DAMACENA et al., 2011; HECKATHORN, 1997).

Inicialmente, foi selecionado de forma não-aleatória um número pequeno

de participantes, designados de “sementes”, integrantes da população alvo

Page 3: MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO: REDES SOCIAS … · O presente estudo visa expor a utilização de redes sociais como estratégia de enfrentamento das DST/HIV/AIDS e hepatites virais

(MPS). A seleção e recrutamento das “sementes” foi realizada a partir de uma

pesquisa formativa, realizada nos meses de maio e junho de 2009. Por meio

dessa pesquisa, foi possível identificar locais de prostituição em Goiânia, MPS-

chaves, locais de coleta de dados. Essa etapa do estudo contou com o apoio

de Organizações da Sociedade Civil, que desenvolvem atividades com MPS

em Goiânia.

Sete MPS, ditas “sementes” foram convidadas a participar do estudo. A

cada recrutada foi solicitado à indicação de três MPS “conhecidas/amigas” para

participação no estudo e também das atividades educativas. Para tanto, cada

semente recebeu três convites/cupons personalizados, para convidar seus

pares, iniciando-se, assim, a primeira “onda” do estudo. As MPS recrutadas

pelas “sementes”, por sua vez, recebiam, também, três cupons referenciados

para recrutarem suas “conhecidas/amigas MPS” (novas ondas) e assim,

sucessivamente, até a saturação da população em estudo.

As mulheres recebiam vacinas – esquema básico de vacinação do MS e

vacina contra hepatite B, um folder educativo voltado para o público alvo e

elaborado juntamente com as MPS e “kits” compostos de cartilha para ações

de prevenção das doenças de transmissão sexual, contato com as ONGs,

Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), além de preservativos

masculinos e femininos fornecidos pela Coordenação de DST/AIDS/AIDS e

hepatites virais da Secretaria Municipal e Estadual de Saúde da Capital.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Por compreendermos o nosso papel social enquanto profissionais de

saúde e a gama de vulnerabilidades das MPS, realizamos atividades de

educação em saúde in lócus em todas as cenas de prostituição visitadas;

inclusive alguns autores apontam que várias mulheres acreditam nessa

estratégia (AQUINO, et al., 2010; BRASIL, 2002, BLANKENSHIP, 2010).

Esta metodologia garante a contextualização da informação e maior

aproximação do conhecimento transmitido, passível, então, de ser convertido

em prática, uma vez que é legitimado por um discurso que apresenta o mesmo

Page 4: MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO: REDES SOCIAS … · O presente estudo visa expor a utilização de redes sociais como estratégia de enfrentamento das DST/HIV/AIDS e hepatites virais

código lingüístico e cultural da população, o que produz sentido e provoca a

reflexão capaz de transformar o comportamento, crenças e atitudes (AYRES,

2009; BRASIL, 2002).

Os resultados deste projeto de extensão assinalam que intervenções,

utilizando novas técnicas de amostragem, que visem identificar “em lócus” a

população alvo, verificando o conhecimento das formas de transmissão, o auto-

relato de DST e realizando ações educativas têm sido reconhecidas como

ferramenta essencial para o adequado controle da disseminação das

DST/HIV/AIDS e hepatites virais, principalmente pelo peso que os resultados

têm na elaboração de novas medidas de prevenção e de estratégias mais

efetivas para grupos populacionais de difícil acesso, invisíveis pelos serviços

de saúde, marginalizados e estigmatizados, e que contribuem

significativamente para a disseminação dessas infecções.

CONCLUSÕES

Diante das informações apresentadas, fica evidente a importância desta

nova estratégia de articulação pesquisa/extensão em grupos de difícil acesso,

como as MPS. Ainda, a divulgação dessas novas estratégias e políticas

públicas representa um grande desafio para a extensão no Brasil e em nossa

região. Espera-se que o nosso projeto desperte outros grupos de

pesquisa/extensão para a elaboração de intervenções com outros grupos

populacionais de difícil acesso, como os Homens que fazem Sexo com outros

Homens (HSH), homens profissionais do sexo, transgêneros, usuários de

drogas ilícitas, entre outros.

REFERÊNCIAS

1- Ayres, JRCM; Calazans GJ, Filho HCS, Júnior IF. Risco, vulnerabilidade

e práticas de prevenção e promoção da saúde. In: Campos,

GWS. (Org.). Tratado de saúde coletiva. 2ªed. São Paulo: Hucitec / Rio

de Janeiro: Fiocruz, 2009. Cap. 12, p. 375-417.

Page 5: MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO: REDES SOCIAS … · O presente estudo visa expor a utilização de redes sociais como estratégia de enfrentamento das DST/HIV/AIDS e hepatites virais

2- Aquino, PS; Ximenes, LB; Pinheiro, AKB. Políticas públicas de saúde

voltadas à atenção à prostituta: breve resgate histórico. Enf. em Foco.

2010; 1(1):10-22.

3- Blankenship, KM; Burroway, R; Reed, E. Factors associated with

awareness and utilisation of a community mobilisation intervention for

female sex workers in Andhra Pradesh, India. Sex Transm Infect. 2010;

86(1):69-75.

4- Damacena, GN; Szwarcwald, CL; Júnior, AB. Implementação do método

de amostragem respondent-drivensampling entre mulheres profissionais

do sexo no Brasil, 2009. Cad Saúde Pública. 2011; 27(1):45-55.

5- Decker, MR; Wirtz, AL; Baral, SD; Peryshkina, A; Mogilnyi, V; Weber,

RA; Stachowiak, J; Go, V; Beyrer, C. Injection drug use, sexual risk,

violence and STI/HIV among Moscow female sex workers. Sex Transm

Infect sex trans. In press. 2012.

6- Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Políticas de Saúde.

Coordenação Nacional de DST e Aids. Profissionais do sexo: documento

referencial para ações de prevenção das DST e da aids/ Secretaria de

Políticas de Saúde, Coordenação Nacional de DST e Aids- Brasília,

2002.

7- Nurlan, SN; Davies, SCSC; Kaldor, JJ; Wignall, SS; Okoseray,

MM. Prevalence over time and risk factors for sexually transmissible

infections among newly-arrived female sex workers in Timika, Indonesia.

Sex Health. 2011; 8(1):61-4.

8- Wang, K; Yan, H; Liu, Y; Leng, Z; Wang, B; Zhao, J. Increasing

prevalence of HIV and syphilis but decreasing rate of self-reported

unprotected anal intercourse among men who had sex with men in

Harbin, China: results of five consecutive surveys from 2006 to 2010. Int.

J. Epidemiol. 2012; 41(2):423-432.