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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MULHERES NEGRAS E BRANCAS: RACISMO E SEXISMO COMO DEMARCADORES DE CONFRONTOS E RESISTÊNCIAS NAS CARREIRAS DE JORNALISTAS NO BRASIL Isabel Cristina Clavelin da Rosa 1 Resumo: Neste trabalho, abordo as dinâmicas decorrentes do racismo e do sexismo, tomando por base as vivências de jornalistas negras e brancas no decurso de suas carreiras no Brasil. Descumprimento de direitos trabalhistas, disparidades salariais e na ocupação de cargos e oportunidades de trabalho, assédios sexual e moral e alta e baixa consciência sobre as discriminações são alguns elementos em evidência nos discursos das profissionais sobre as suas trajetórias no mundo do trabalho. O texto desenvolve a reflexão sobre a prevalência do racismo nas tensões e nos confrontos vivenciados pelas jornalistas, a qual é explicitada com ênfase pelas mulheres negras no desvelamento do mito da democracia racial e das desigualdades de gênero em contraste com as discriminações interseccionais naturalizadas no exercício da profissão. Ao se afirmarem como sujeitas discursivas e parresiastas, as jornalistas negras delineiam aspectos oblíquos das relações raciais e de gênero na profissão, expondo, ainda, certas ambiguidades nos discursos de jornalistas brancas que pouco explicitam as vantagens decorrentes da branquitude nas carreiras e até reduzem as assimetrias de gênero por elas vivenciadas no exercício da atividade profissional. Palavras-chave: mulheres, raça, gênero, trabalho, jornalismo. A racialização do debate sobre as relações de trabalho no Brasil tem sido um tema com pouca aderência por parte das trabalhadoras, dos trabalhadores, das categorias profissionais, das empresas, dos órgãos públicos e das instâncias reguladoras do trabalho. Resguardada até por neologismos ou eufemismos, tais como diversidade, vieses inconscientes, sororidade e o que mais vier pela frente, a supremacia racial branca mantém-se incólume sob os auspícios do racismo e do mito da democracia racial. Outro aspecto observado é a costumeira desrracialização das pessoas, embora estejam hierarquizadas pelo racismo no desempenho de suas atividades produtivas, a exemplo do mundo do trabalho, com vistas à sua desumanização. Afinal de contas, os efeitos do racismo e da discriminação nas subjetividades negras pouco importam, uma vez que são vistas e tratadas como objetos e não sujeitas e sujeitos de suas próprias vidas. Evitam-se, assim, discursos racializados, os quais somente poderão vir à tona com potência por sujeitas e sujeitos discursivos. 1 Doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília e professora de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Serviço Social da Universidade Católica de Brasília. É jornalista, membro da Diretoria de Educação e Aperfeiçoamento Profissional da Federação Nacional de Jornalistas e integrante do Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

MULHERES NEGRAS E BRANCAS: RACISMO E SEXISMO COMO

DEMARCADORES DE CONFRONTOS E RESISTÊNCIAS NAS CARREIRAS

DE JORNALISTAS NO BRASIL

Isabel Cristina Clavelin da Rosa1

Resumo: Neste trabalho, abordo as dinâmicas decorrentes do racismo e do sexismo,

tomando por base as vivências de jornalistas negras e brancas no decurso de suas

carreiras no Brasil. Descumprimento de direitos trabalhistas, disparidades salariais e na

ocupação de cargos e oportunidades de trabalho, assédios sexual e moral e alta e baixa

consciência sobre as discriminações são alguns elementos em evidência nos discursos

das profissionais sobre as suas trajetórias no mundo do trabalho. O texto desenvolve a

reflexão sobre a prevalência do racismo nas tensões e nos confrontos vivenciados pelas

jornalistas, a qual é explicitada com ênfase pelas mulheres negras no desvelamento do

mito da democracia racial e das desigualdades de gênero em contraste com as

discriminações interseccionais naturalizadas no exercício da profissão. Ao se afirmarem

como sujeitas discursivas e parresiastas, as jornalistas negras delineiam aspectos

oblíquos das relações raciais e de gênero na profissão, expondo, ainda, certas

ambiguidades nos discursos de jornalistas brancas que pouco explicitam as vantagens

decorrentes da branquitude nas carreiras e até reduzem as assimetrias de gênero por elas

vivenciadas no exercício da atividade profissional.

Palavras-chave: mulheres, raça, gênero, trabalho, jornalismo.

A racialização do debate sobre as relações de trabalho no Brasil tem sido um

tema com pouca aderência por parte das trabalhadoras, dos trabalhadores, das categorias

profissionais, das empresas, dos órgãos públicos e das instâncias reguladoras do

trabalho. Resguardada até por neologismos ou eufemismos, tais como diversidade,

vieses inconscientes, sororidade e o que mais vier pela frente, a supremacia racial

branca mantém-se incólume sob os auspícios do racismo e do mito da democracia

racial.

Outro aspecto observado é a costumeira desrracialização das pessoas, embora

estejam hierarquizadas pelo racismo no desempenho de suas atividades produtivas, a

exemplo do mundo do trabalho, com vistas à sua desumanização. Afinal de contas, os

efeitos do racismo e da discriminação nas subjetividades negras pouco importam, uma

vez que são vistas e tratadas como objetos e não sujeitas e sujeitos de suas próprias

vidas. Evitam-se, assim, discursos racializados, os quais somente poderão vir à tona

com potência por sujeitas e sujeitos discursivos.

1 Doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília e professora de Jornalismo, Publicidade e

Propaganda e Serviço Social da Universidade Católica de Brasília. É jornalista, membro da Diretoria de

Educação e Aperfeiçoamento Profissional da Federação Nacional de Jornalistas e integrante do Núcleo de

Jornalistas Afro-brasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul.

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Após décadas de debates e produções teóricas do movimento negro e de

mulheres negras, Sueli Carneiro (2005) já sintetizava a impregnação da negação do

racismo na linguagem ao longo dos tempos: “o discurso que molda as relações raciais é

o mito da democracia racial. (...) a grande narrativa que desnuda a existência de um

acordo de aceitação do discurso em todas as suas decorrências” (CARNEIRO, 2005,

p.62).

Essa também tem sido uma constante também nas rotinas produtivas do

jornalismo no Brasil. Ocorre na relação de jornalistas com as fontes (ROSA, 2011) –

como destaco num primeiro momento –, e na relação de jornalistas entre si (ROSA,

2016), a ser observado na segunda abordagem. Nesse ponto, recuperarei o conceito de

parresia (FOUCAULT, 2011), para relevo da coragem de dizer das jornalistas negras,

visto que a

a parresia consiste em dizer a verdade, sem dissimulação nem reserva

nem cláusula de estilo nem ornamento retórico que possa cifrá-la ou

mascará-la. O “dizer tudo” é nesse momento dizer a verdade sem dela

nada esconder, sem escondê-la com o que quer que seja. [...] implica

uma certa forma de coragem, coragem cuja forma mínima consiste em

que o parresiasta se arrisque a desfazer, a deslindar essa relação com

o outro que tornou possível seu discurso. De certo modo, o parresiasta

sempre corre o risco de minar essa relação que é a condição de

possibilidade do seu discurso. (FOUCAULT, 2011, p. 11-12).

Ambos os elementos em abordagem são articulados nas dimensões de raça e de

gênero e se entremeiam à minha condição de pesquisadora de comunicação, professora

universitária e jornalista com atuação em assessoria de comunicação.

Racismo: entre maldita, não-dita e última palavra

Em julho de 2017, na coluna Primeira Palavra da revista Marie Claire, a diretora

de Redação, Marina Caruso (2017) – jornalista branca –, apresenta com ares de pseudo

altruísmo – ou mea-culpa, como ela mesma se refere –, o que poderia ser chamado de

momento catártico diante do boicote deliberado de sua parte, da revista e da editora à

atriz Taís Araújo e da estigmatização do ator Lázaro Ramos:

“Impossível começar este editorial sem fazer um mea-culpa. Aliás, um

não, dois. O primeiro é que deixamos Taís Araújo, uma das mulheres

mais admiráveis do país, longe das páginas de Marie Claire por um

tempo desde que, em 2015, ela se recusou a nos conceder uma

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entrevista sobre os ataques racistas que sofrera na internet. (...) Me

parecia absurdo não falasse disso com Marie Claire, uma das

primeiras revistas femininas a colocá-la na capa, em maio de 2004.

Dois anos e uma longa conversa depois, entendi os motivos da atriz.

(...) O segundo mea-culpa vai para Lázaro, o marido, a quem nesta

mesma carta, no mês passado, descrevi como “o maior negro do

showbiz brasileiro”, quando deveria apenas ter dito “um dos maiores

atores do showbiz”, e ponto. (...) Lázaro e Taís me estarrecem. Me

mostram que mesmo eu, defensora da diversidade e da democracia,

tenho o preconceito arraigado.” (CARUSO, 2017, p.9).

Ao expor o racismo com que trata a revista Marie Claire e ela mesma – a

terceira pessoa que esconde e mostra o jogo de escamoteamento que o racismo e racista

gostam –, a diretora de Redação é muito audaciosa. Confessa o pecado sem a

penitência, buscando alento na plateia – no caso o leitorado da revista –, e com ares de

falsa reparação. Expõe, novamente, que a primeira e a última palavra é dela, a qual

detém o poder de barrar a atriz negra que lutava, há pelo menos dois anos sobre o que e

quando falar ou parar de falar das dores decorrentes do racismo –, a qual passa a ser

novamente vitimizada pelo racismo por meio de uma algoz que se apresenta como

redentora. Aqui, reside o velho racismo por novos rostos e plataformas, com ares de

cosmopolita, porém arcaico sobre como o poder se expressa e em que mãos está

concentrado mesmo diante daquela que tem fama, beleza e conta bancária, os quais

sucubem diante do velho racismo à brasileira (GONZALEZ, 1982).

Ao investir numa falsa coragem de dizer sobre racismo e relações raciais –

reivindicada, é verdade, para fins de efeito de real –, a diretora de Redação da Marie

Claire exibe a velha coragem de dizer de quem detém o poder, preservando-se, ao longo

dos tempos, nas posições de decisão. Ao confessar o crime com ares de pecado, Caruso

(2017) o faz com a quase certeza de absolvição, pois vive no País que nega os conflitos

raciais. E quando expostos, como faz Caruso (2017), confia na própria brancura para

manter-se no seu lugar de branca. Aquela que agride, violenta e devasta, entra na casa e

se faz de amiga em troca da visibilidade almejada pelas entrevistadas, garantindo o seu

poder a despeito de tudo. Prática muito característica da imprensa hegemônica e racista

deste País (ROSA, 2011), a qual tenta interditar, hierarquirizar e definir a circulação de

discursos e imagens.

Ademais, vale-se da onda do chamado feminismo soft, que mais surfa do que

aprofunda a onda, esvaziando a urgência do debate sobre as desigualdades e as

discriminações de gênero na perspectiva interseccional. A reivindicada e pretensa

redenção de Caruso (2017) não se sustenta pelo adjetivo “absurdo”, que nos faz pensar

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sobre a violência com que a contrariedade à vontade da atriz é brutalmente atacada, o

que nos faz pensar o que a diretora de Redação faria em plena era colonial. Nós,

mulheres negras, sabemos de quem descendemos e como somos historicamente tratadas

quando fazemos valer as nossas vontades – aquelas que seriam naturais de serem

expostas num quadro utópico de equidade –, as quais são violentamente atacadas física

ou simbolicamente, a exemplo da revelação da diretora de Redação da Marie Claire.

A coluna Primeira Palavra poderia estar mais para última palavra de Caruso

(2017), pois, ao final da revelação do caso de explicitação do editorial, em edição

passada, sobre o ator Lázaro Ramos e, após ter passado o vangloriado dia na casa do

casal, a diretora de redação faz a ode ao mito da democracia racial, quando se volta para

si mesma como “defensora da diversidade e da democracia, tenho o preconceito

arraigado” (CARUSO, 2017), aquela que nem mesmo consegue fazer uso das palavras

tão evidentes quanto as tergiversões, as quais poderiam ser reescritas como: defensora

da democracia racial, tenho o racismo arraigado. Na dinâmica enuvear-evidenciar-

enuvear, Caruso (2017) mantém-se fixa na sua posição de poder e de reificação do

racismo.

Sororidade – entre a ilusão e o poder intacto

O racismo e o sexismo são reconhecidos não somente na relação de jornalistas e

as fontes, mas também nas relações entre jornalistas. Desse modo, o racismo e sexismo

podem ser considerados demarcadores de confrontos raciais entre jornalistas negras e

brancas, jornalistas negros e brancos (ROSA, 2016). Em meio a silêncios e

encobrimentos, instalam e consolidam dinâmicas de tratamentos diferenciados em meio

a códigos que precisam ser racializados para a sua decodificação.

Nos últimos anos – valendo-me da minha trajetória como jornalista, com 17 anos

de atuação em assessorias de comunicação –, tenho dedicado a minha pesquisa

acadêmica a buscar rastros que colaborem para elucidar os emaranhados que o racismo

e o sexismo tecem nas dinâmicas profissionais por meio de relatos de jornalistas

(ROSA, 2016). Meu percurso alimenta-se, de certo modo, do mundo do trabalho,

especialmente no olhar e na vivência de assessoria de comunicação. Nesta área, tenho

me deparado com pesos desmedidos de trabalho e tratamentos díspares, nos quais as

vantagens para as mulheres brancas vão além das melhores posições de poder ocupadas

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por elas, as melhores pautas ou estabilidade profissional na comparação com as

mulheres negras.

Costumeiramente, as mulheres brancas desfrutam de créditos pouco

reconhecidos publicamente, que lhes são oferecidos em razão da sua brancura numa

articulação tão vasta quanto os dramas vivenciados por nós, mulheres negras. O

preterimento nos joga para léguas de distância de qualquer condição mínima de

isonomia. Geralmente, as mulheres brancas são adotadas como filhas ou alçadas à

condição de alunas ou discípulas por outras mulheres brancas, que exercem as funções

maternais ou professorais em meio a dinâmicas profissionais complacentes com o

racismo.

Dentre os fenômenos que tenho observado no mundo do trabalho, o

reconhecimento de si mesmas e entre si estabelece uma aliança inquebrantável entre as

mulheres brancas, as quais têm resgatado a sororidade. Palavra da moda, a sororidade

vem sendo forjada como uma aliança a ser firmada entre as diferentes mulheres,

contudo, encobre o elo entre mulheres brancas, que têm protegido a si mesmas e todas

suas vantagens decorrentes do racismo. Mais do que isso, a sororidade em tempos de

internet reveste-se de ilusão, arregimentando multidões de não brancas que gostariam de

fazer parte do seleto clube enquanto, as mulheres brancas mantêm-se intocáveis,

sobretudo, na ardilosa estratégia bem-sucedida de preservarem o seu poder por meio de

críticas moderadas ao seu poder, tendo em que vista que estão protegidas pelo pacto

falacioso da sororidade.

Assim como no passado, o feminismo branco transmuta-se para manter a sua

hegemônia, o poder praticamente intacto e a hierarquização do que pode ou não ser dito.

Aliás, nada além da assunção do tal privilégio branco e do respeito ao lugar de fala.

Estas são expressões recorrentes nas redes sociais e cada vez mais vazias quando

analisamos que pouco resultam em ações práticas de enfrentamento e eliminação do

racismo nas relações intragênero. Há mais de 30 anos, Lélia Gonzalez já nos ensinava

sobre o esgotamento do feminismo branco devido à coadunação com o racismo e o

eurocentrismo, bradando um feminismo afro-latino-americano (GONZALEZ, 1988).

Em tempos de debates sobre decolonialidade, Lélia Gonzalez revela-se atual e, ainda,

incomparável pela sua solidez intelectual e lucidez política.

Jornalistas brancas

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Em minha tese, das 21 entrevistas que realizei com jornalistas negras, brancas,

negros e brancos, um dos aspectos questionados foi sobre a percepção das e dos

entrevistados sobre o racismo e o sexismo nas relações de trabalho. Na examinação das

enunciações das seis jornalistas – Adriana Carranca, Alessandra Machado, Julianna

Granjeia, Mara Régia, Patrícia Zaidan e Sílvia Salek – é notória a concentração de

reflexões em torno do racismo sobre os efeitos sobre jornalistas negras e negros e pouca

reflexão sobre a branquitude, até mesmo, sob os benefícios de terem suas vidas

impactadas positivamente pela ação do racismo. Controversamente, todas expuseram

compreensões elucidativas, quando perguntadas sobre o que é o racismo, porém, pouco

discorreram sobre as relações raciais desde a perspectiva de mulheres não-negras.

As parcas referências à branquitude foram feitas por três jornalistas – Julianna

Granjeia, Mara Régia e Patrícia Zaidan. Mara Régia é quem organiza um relato mais

completo, posicionando-se racialmente: Então eu acho que, como uma mulher branca,

eu fui menos testada à prova. Acho que as negras precisam se desdobrar. Se nós

fazemos a tripla jornada, elas fazem a quarta nesse esforço de se afirmar, de mostrar

o quanto são capazes. Porque o racismo embutido ou declarado, ele põe a dúvida

sobre a sua capacidade. Granjeia mencionou a sua branquitude como impossibilidade

de pensar soluções para enfrentar o racismo nas redações: (...) “eu como branca não me

sinto à vontade para falar. Eu realmente não sei como poderia ser feito. Não sei se de

repente o esquema de cotas ou abrir um processo seletivo somente para negro. Eu

não sei. Eu realmente, como branca, não me sinto à vontade assim para apontar um

caminho. Acho que os negros poderiam falar melhor sobre isso”. Apesar de, em sua

entrevista a esta pesquisadora Patrícia Zaidan ter feito diversas referências ao racismo

nas redações por que passou, em seu relato ocultou a brancura nas enunciações acerca

da diferença salarial, expondo a falsa alusão à pluralidade das mulheres: “Se para nós,

mulheres, a ascensão e o salário mais alto ainda é difícil, para os profissionais

negros, homens e mulheres, é mais ainda. Eu me lembro de um negro ocupando uma

chefia, aqui, na editora Abril”.

A interpretação das enunciações – análises dos discursos – evidenciam o

escamoteamento da branquitude a que Cida Bento (2013, p.25) designa como “traços da

identidade racial do branco brasileiro” e a sua indisposição de ponderar sobre as

relações raciais a partir da perspectiva das pessoas brancas e não somente da perspectiva

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de negras e negros. No artigo Branqueamento e branquitude no Brasil, Bento (2013,

p.25) agrega o sentido político dessa escolha deliberada ou, no mínimo, não admitida,

pois “evitar focalizar o branco é evitar discutir as diferentes dimensões do privilégio.

Mesmo em situação de pobreza, o branco tem o privilégio simbólico da brancura, o que

não é pouca coisa”.

Outra abordagem complementar é de bell hooks (2015), no artigo Mulheres

negras: moldando a teoria feminista, com relevo às vivências identitárias que

suscitam bagagem interpretativa mais ampla sobre as formas de opressão contra as

mulheres. Uma explicação seria a de que “a ausência de restrições extremas leva muitas

mulheres a ignorar as áreas em que são exploradas ou discriminadas” (HOOKS, 2015,

p. 198).

Sem dúvida, essas são questões que necessitariam ser mais dirimidas para o que

Sueli Carneiro (2015, p. 5) qualifica como “radicalização de uma perspectiva

democrática no país” por meio da combinação de “critérios de qualificação técnica com

recorte de gênero e de raça”, com vistas a “romper com a lógica excludente (...) nas

estruturas de poder no país”, cuja reprodução não se restringe ao ambiente de

representação política, mas se espraia para outros campos, como o mundo do trabalho.

Evidentemente, essa redistribuição de poder incide, sobremaneira, na desativação dos

mecanismos de manutenção da supremacia ou superioridade branca, qual seja, o

enfrentamento e a eliminação implacável do racismo e do sexismo.

Jornalistas negras

O outro grupo que compõem a tese é composto por jornalistas negras, das quais

reconstituo algumas enunciações. As sujeitas discursivas destacadas são cinco

jornalistas negras: Cleidiana Ramos (ex-jornal A Tarde), Flávia Oliveira (Globo,

GloboNews e Canal Viva), Juliana Nunes (Radioagência da Empresa Brasil de

Comunicação), Joyce Ribeiro (SBT) e Luciana Barreto (TV Brasil). Todas

autodeclararam-se negras e vivenciaram situações semelhantes de afirmação identitária

no desempenho de suas atividades profissionais num intercruzamento entre identidade

racial, de gênero e profissional, assim como vivências de racismo e sexismo no

exercício do jornalismo como profissão.

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Ao ser perguntada, Flávia Oliveira inter-relaciona sexismo com racismo,

refletindo sobre a concentração de vantagens e o consequente desfrute de privilégios por

parte dos homens brancos. Das raízes de tais operações aos dias atuais, ela enuncia a

persistência de valores coloniais ao revisar os papéis de liderança de mulheres negras e

brancas, dentro das redações e no cenário político brasileiro.

– Eu acho que é essa atmosfera de domínio desse homem branco que

mencionei no início da nossa conversa. Parece que as mulheres estão aqui de

brincadeirinha. Tem um lado ... eu já vivi isso ... em 25 anos de profissão, de uma

expectativa da ascensão feminina pela masculinização, né? Hoje, a gente vive uma

nova era: você pode ser mulher. Mulher mesmo. (...) Eu acho que o mundo ainda é

muito masculino, mas eu acho que as mulheres abriram muito espaço de trabalho.

Agora, abriram espaço na base, nos setores intermediários, mas não nas posições de

topo. Mesmo quando você tem uma mulher diretora ... no caso do jornalismo,

diretora de Redação, mas quem são os acionistas? Quem é o conselho de

administração, né?

As práticas racistas e sexistas nas redações foram reconhecidas e exemplificadas

por todas as cinco jornalistas negras entrevistadas. Cleidiana Ramos as identificou ao

longo de sua carreira, em 17 anos, no jornal A Tarde. A jornalista conta a ocorrência de

piadas machistas, controle das roupas das mulheres e até as suas reações diante das

intimidações coletivas à presença das mulheres.

- Sim, o tempo inteiro. Eu entrei no jornal, em 1998, numa época em que a

própria Redação, onde trabalhei durante anos, ela tinha questões muito fortes de

racismo, machismo. Tanto é que aqui no jornal a gente foi perceber uma maior

quantidade de jornalistas se assumindo negros nos últimos dez anos.

Para Joyce Ribeiro, as práticas sexistas são perceptíveis na própria dinâmica do

jornalismo como profissão: –Se eu for observar o que eu vejo na Redação onde eu

trabalho [SBT] e nas outras, onde eu tenho colegas, a gente tem uma massa feminina

comandada por uma minoria masculina. Então, são poucas as mulheres nos cargos

de chefia. São poucas. Então, isso já mostra, né?, que a gente tem. Porque os chefes

são homens comandando um time de mulheres, né?, que ainda está tentando

ascensão.

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A ocupação de cargos e funções foi apontada por Luciana Barreto pelo

entrelaçamento entre racismo e sexismo. Assim como Cleidiana percebe a frequência de

tais discriminações e faz uso da expressão “o tempo todo”, Luciana Barreto utiliza

expressão semelhante “o tempo inteiro” logo que a pergunta lhe é feito, o que chama a

atenção pela identificação automática das práticas sexistas e racistas no jornalismo

como profissão.

Flávia Oliveira dimensiona a ação do racismo na mídia e seus efeitos na

representatividade negra (HOOKS, 1992), num jogo de poder em que as pessoas

brancas dão as cartas e comandam o quadro de respostas face à operacionalização do

dispositivo da racialidade/biopoder (CARNEIRO, 2005).

– Essa exclusão literal ou simbólica dos negros nos espaços de poder e nas

representações. Hoje a minha grande briga tem sido desconstruir e reconstruir a

representação dos negros.

Flávia Oliveira também faz a interrelação entre racismo e sexismo no jornalismo

como profissão e ilustra situações em que ela mesma foi o alvo de tais práticas seja

dentro da Redação – com colegas –, ou fora da Redação, com as fontes, e nos lugares

por onde passou quando estava trabalhando. Perguntada sobre a ocorrência de práticas

sexistas e racistas no jornalismo, ela sentencia:

– Sexistas, racistas e homofóbicas. Ah, tipo reuniões de pauta, comentários,

piadas. Um bolinho de homens em torno de uma foto de uma mulher assim ou

assado. Essa coisa de qualificar a mulher pela forma física. Ela não é competente.

Ela é anta, ela é baranga, ela é puta, ela é vagabunda. Ela é ... isso é super ...

estranhamento. Já vivi situações assim ... até de assédio .... “Nossa, uma mulher

negra, falando de economia. Que vontade de te beijar”, entendeu? Você diz: oi? Tem

muito. Tem muito. No próprio exercício diário, na relação com a fonte, na forma

como você chega... o esperado é que você entre pela porta de serviço, mas você entra

pela recepção porque é convidada na cobertura. E esses comentários, essas piadas,

nas reuniões de pauta, momento do fechamento ...

São outros dois pontos enumerados por Flávia Oliveira: a apregoada fragilidade

das mulheres em situações de pressão e a masculinização daquelas que estejam em

posições de tomada de decisão. A maternidade – experiência comum na vida da maior

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parte das mulheres – acaba por se tornar outro empecilho na trajetória das mulheres,

entre elas as jornalistas, por estar revestida de estigmas e estereótipos. Amplamente

disseminados no imaginário coletivo, os estereótipos se tornam novos obstáculos

invisíveis, embora muito presentes na vida das mulheres.

Dentre as tendências, duas delas despontam: afastamento de posições com mais

poder e remuneração, as quais exigem mais carga de trabalho, ou a assunção de mais

poder e remuneração, e o distanciamento da vida pessoal. Ambas têm efeitos muito

concretos na vida das mulheres. Contudo, limitam-se ao universo delas e pouco são

repensadas nas empresas, em particular nas empresas jornalísticas. Recaem sobre as

mulheres as buscas por alternativas provisórias ou permanentes sobre as suas condições

de trabalho, as quais seriam mais amenas com o compartilhamento das soluções,

envolvendo outros agentes: empresas e família. De acordo com a OIT, o equilíbrio entre

trabalho e família é condição fundamental para a igualdade de gênero no trabalho, de

modo a não prejudicar o desenvolvimento das carreiras das mulheres.

A organização política interna das mulheres, por meio de coletivos e comitê em

favor da igualdade, como narra Juliana Nunes, tem propiciado movimentos internos de

exposição de práticas discriminatórias, algumas delas com processos administrativos.

– A gente teve um recente caso de um chefe que chegou no meio (da Redação)

e disse: “Mais uma grávida? Por favor, fechem as pernas”. (...) É. Mulheres, fechem

as pernas. É desse jeito. O cara está sendo processado na sindicância. Mas já tem

outro que chamou a funcionária de gostosa que vai se ferrar mais. Enfim. É bizarro.

É cada história lá dentro que a gente não acredita.

A almejada igualdade de gênero no jornalismo como profissão é negada como

prática incorporada nas empresas jornalísticas por todas as cinco jornalistas negras

entrevistadas. Continua, portanto, a ser uma utopia, sobretudo, pelas práticas enunciadas

para expor o quão adiada é a igualdade entre mulheres e homens jornalistas na atual

configuração do jornalismo como profissão. Questionadas acerca da igualdade de

gênero, as cinco jornalistas constestaram as perguntas interseccionalizando as

dimensões de raça e gênero, pontos elementares sobre o ethos mulher negra, fartamente

teorizado pelo pensamento feminista negro, e sinalizaram algumas estratégias para a

superação das realidades excludentes. Ademais, indicaram como imperativo o

engajamento efetivo das empresas para a eliminação do racismo e do sexismo,

estruturantes de desigualdades, ao passo em que urge a instauração de novas práticas de

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trabalho para o livre desenvolvimento das carreiras de negros e brancos, mulheres e

homens.

Considerações finais

A parresia (FOUCAULT, 2011) – ora mais incisiva pela coragem da verdade

das sujeitas-discursivas negras, ora oblíqua pelos interditos ou não-ditos das jornalistas

brancas – imprime características na comunidade real, seja pelas funções, mídias,

especialidades, lugares e tempo de trabalho em que as relações raciais e as relações de

poder estruturam subordinações, exclusões e opressões sistemáticas.

As formas simbólicas de jornalistas negras desvelam singularidades

contrastantes possivelmente pelo fato de serem as mais oprimidas e violentadas pelas

sucessivas discriminações. São elas, também, as que contestam a cultura discriminatória

de ordem racista e sexista no jornalismo como profissão no Brasil, propõem mudanças

mais assertivas e mostram-se mais contundentes com relação à exposição das vivências

opressivas. Como grupo intrarracial e intragênero, as jornalistas negras são as que

respondem mais ao ethos político das mulheres negras brasileiras, a exemplo do que se

viu na Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver,

ocorrida em 2015, com mais de 50 mil mulheres negras. De tal modo que emergem

discursividades combativas frente às intimidações decorrentes da rejeição existencial

das mulheres negras na sociedade brasileira por meio da conjugação do racismo e do

sexismo, circunscrevendo-as no signo da morte (CARNEIRO, 2005), ao passo que a sua

invisibilidade e a inviabilidade na gestão da vida possibilita, sobremaneira, o grupo

racial branco.

Parresiastas por excelência, as jornalistas negras distinguem-se dos demais

grupos estudados pela ênfase da coragem da verdade, distanciando-se da covardia e do

imobilismo decorrentes ora do mito da democracia racial – pela narrativa que

desarticula confrontos raciais por meio de uma falsa harmonia – e das dinâmicas

patriarcais, seja pela divisão sexual do trabalho, aquela que, inclusive, determina as

funções e os cargos de maior e menor mando, salários, ou pelo androcentrismo pela

valorização das experiências e modos de gestão masculinos.

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Para as pessoas negras, essa coragem de dizer somente é possível pela

hermenêutica do sujeito na dinâmica do cuidar de si, como observou Carneiro (2005),

em enfrentamento às experiências catalisadas pelo dispositivo de racialidade/biopoder, o

qual implica confrontos abertos e contundentes com a hegemonia da brancura. No

entanto, são as jornalistas negras as que melhor correspondem à hermenêutica do sujeito

devido à ruptura constante e desafiadora da supremacia branca. Para as pessoas

brancas, a parresia em torno da temática deste estudo implicaria o confronto com o

ideário da brancura e da branquitude por meio da emergência de reflexões, por vezes,

raríssimas de serem acionadas devido ao lugar de privilégio a que estão circunscritas

pelo racismo.

As vivências sobre a branquitude são ofuscadas pela intensidade do racismo a

partir das enunciações de jornalistas negras e negros. As sujeitas e os sujeitos

discursivos não negros, possivelmente pela ênfase do roteiro de entrevistas, evidenciam

relatos e situações em referência a sujeitas e sujeitos negros, restringindo o arcabouço

de formas simbólicas sobre a branquitude.

Referências bibliográficas

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Disponível em: <

http://www.ceert.org.br/premio4/textos/branqueamento_e_branquitude_no_brasil.pdf>.

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Brasília: UnB, 2016. Tese (Doutorado em Comunicação), Faculdade de Comunicação,

Universidade de Brasília, 2016.

Black women and white women: racism and sexism as demarcates of

confrontations and resistances in the careers of journalists in Brazil

Abstract: In this work, I approach the dynamics derived from racism and sexism, based

on the experiences of black and white journalists in the course of their careers. Non-

compliance with labor rights, pay gaps and barriers to occupation key-posts and job

opportunities, sexual and moral harassment and high and low awareness about

discrimination are some elements in evidence in the discourses of professionals on their

trajectories in the world of work in Brazil. The text develops the reflection on the

prevalence of racism in the tensions and confrontations experienced by journalists,

which is explicitly emphasized by black women in the unveiling of the myth of racial

democracy and gender inequalities in contrast to naturalized intersectional

discrimination in the exercise of profession. Black journalists, outlining oblique aspects

of race and gender relations in the profession, have also stated certain ambiguities in the

speeches of white journalists who make little explicit the advantages of career whiteness

and even reduce asymmetries of gender in the exercise of their professional activity.

Keywords: women, race, gender, work, journalism.