muito prazer 6 de maio

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degusta ESTADO DE MINAS D O M I N G O , 6 D E M A I O D E 2 0 1 2 EDUARDO AVELAR 2 MUITO prazer Tempero digno de E E f f e e i i t t o o Tiradentes O grande crescimento proporcionado pelo desenvolvimento da cidade de Tiradentes tem causado danos irreversíveis ao desconhecimento de nossa rica história e cultura culinária do Campo das Vertentes. Ao longo desses 15 anos, desde que surgiu o festival de gastronomia, os tesouros gastronômicos da região têm aflorado como aluvião, no mesmo ritmo frenético em que outras jóias têm sido trazidas para as cidades e distritos ao redor de São João del-Rei e Tiradentes. Os novos restaurantes, hotéis e pousadas puxaram o turismo, reforçado por outros eventos de grande importância, trazendo também comércio diversificado e atraente. Na estrada que liga BH a Tiradentes, vários estabelecimentos surgiram e alguns cresceram calçados na aposta de valorizar produtos e produtores regionais. Os artistas dos móveis e do artesanato despontaram para o mundo, mas os artistas das cozinhas locais, ainda tímidos e comedidos, vêm se revelando no ritmo lento dos fogões e fornos a lenha. Na última viagem de pesquisa e gravações do programa Sabores de Minas, exibido pela TV Alterosa, trouxemos no embornal algumas histórias de encher a boca d’água. São personagens e receitas que estão deixando de ser coadjuvantes para se tornar protagonistas da Espaguete ao pesto genovês 2 xícaras de folhas de manjericão lavadas; 2 dentes de alho; 1 xícara de queijo parmesão; 1 xícara de pinolis (pode ser substituído por castanha-do-pará ou nozes); 1/2 xícara de azeite e 500g de espaguete. INGREDIENTES MODO DE FAZER Ponha o manjericão, o alho, o parmesão, o pinoli e o azeite no liquidificador. Bata e, caso necessário, acrescente um pouco mais de azeite. Cozinhe o espaguete al dente, escorra e misture ao molho pesto. Sirva imediatamente, com um pouco mais de parmesão por cima. RAFAEL MOTTA/TV ALTEROSA Henrique Aquino se prepara para abrir nova escola de gastronomia cinema Talento nas panelas e um inquieto espírito empreendedor fazem a diferença Radicado em Búzios, o chef mineiro Henrique Aquino foi nada menos que o responsável pelo bufê da festa de lançamen- to no Brasil do filme Um novo despertar (The beaver), com Mel Gibson, que contou com figu- rões da Fox na balada carioca no ano passado. Mas isso é só um detalhe da história bacana desse chef e sommelier. Henrique Aquino, de 31 anos, nasceu em São Vicente de Minas, no Sul do estado, e foi para São Paulo aos 6 anos. Na infância, acompanhou a mãe, mineira de Juiz de Fora e cozinheira da Brastemp e da Nestlé, nos cursos que ela dava pelo interior paulista. Surgiu as- sim a paixão pela gastronomia. Logo foi morar em Florianópo- lis, para estudar o tema na facul- dade Assesc. Durante esse tem- po, trabalhou em restaurantes e em eventos na cidade. Formado, virou chef de cozinha. Em Flori- pa, também criou e apresentou um programa na TV local cha- mado Chef gourmet. O trabalho de âncora terminou quando as- sumiu o setor de gastronomia do Hotel Itaguaçu, onde funcio- na o café colonial mais famoso de Santa Catarina. De lá para o Rio Grande do Sul foi um pulo. No Sul, deu consultoria a restau- rantes do Vale dos Vinhedos e aproveitou para aprender sobre vinhos, outra paixão. Convidado para trabalhar no Hopi Hari, Henrique assumiu a produção das cozinhas dos seis restaurantes do maior parque de diversões da América Latina. Enquanto ainda atuava por lá, recebeu o convite da Gran Sapo- re (empresa de cozinha indus- trial com mais de 700 restauran- tes na América Latina) para ser consultor de alta gastronomia da organização. Desenvolveu pratos e treinava as equipes de cozinha da empresa. Não demo- rou muito para assumir o bistrô do programa da TV Cultura Café filosófico no lugar do chef Sergio Arno. Paralelamente a essas ex- periências, Henrique participa- va de diversos eventos gastronô- micos no interior de São Paulo, incluindo apresentações nos es- paços gastronômicos de impor- tantes mostras de decoração. Durante esse período, também começou a dar aulas no Serviço Nacional de Aprendizagem Co- mercial de São Paulo (Senac São Paulo) e no Centro Paula Souza, entidade que administra as es- colas técnicas estaduais paulis- tas. Seu nome ficava conhecido. CASA DO CHEF Apesar da pouca idade, o currículo do chef é am- plo, cheio de experiências legais. Henrique Aquino já trabalhou para uma empresa de alimenta- ção africana, onde atuou no trei- namento e na gestão de projetos de alimentação para construto- ras brasileiras em Angola, fican- do dois anos fora. Até o dia em que um grupo jamaicano cha- mado Superclubs, que opera re- sorts em toda a Jamaica e Amé- rica Latina, convidou-o para tra- balhar na implantação da cozi- nha de um dos hotéis de sua re- de no Brasil, o Breezes Resort, em Búzios (RJ). Antes de aceitar o projeto, voltou ao Brasil para gerenciar a parte de alimentos e bebidas de outro hotel no Litoral Norte paulista, até finalmente oficializar a ida para a pré-aber- tura do Hotel Resort Breezes Bú- zios. Chegando lá, se apaixonou pela cidade e conheceu a mu- lher: casou e por lá ficou. Depois de alguns meses mo- rando lá, observou que além de Búzios e Cabo Frio, Rio das Os- tras e outras cidades da região necessitavam muito de mão de obra qualificada. Foi então que decidiu abrir um centro de trei- namento em gastronomia. O su- cesso foi tanto, que logo fez par- cerias com diversas empresas do segmento de alimentação e com a Universidade Veiga, para ofe- recer cursos de extensão. Nesse período, várias mídias começa- ram a procurá-lo. A primeira es- cola de gastronomia da região, a Casa do Chef, vai tão bem que Henrique já se prepara para abrir mais uma, em Macaé. Ela irá atender a demanda de treina- mento de cozinheiros para o mercado petroleiro. Hoje, o chef administra as duas escolas de gastronomia e também faz palestras e apre- sentações gastronômicas em faculdades e em eventos na re- gião. Quem quiser conhecer um pouco mais do talento des- se profissional pode experi- mentar uma de suas receitas simples, clássica e muito sabo- rosa, o espaguete ao molho pesto, que ele ensina aos leito- res do Degusta nesta página. MÍRIAN PINHEIRO HENRIQUE AQUINO/DIVULGACAO FOTOS: ARQUIVO PESSOAL valorização da cultura local. São casos como o da carne de lata e da linguiça artesanal produzidas na parada Café com Prosa e o dos rocamboles de Lagoa Dourada, que já figuram há mais tempo no hall da fama da estrada. O melhor recheio do rocambole, porém, descobrimos ao conhecer mais a história iniciada pelo senhor Miguel Assef Líbano, há mais de 100 anos. Inicialmente a iguaria era vendida na parada do ônibus São João-BH. Algum tempo depois, seu Mário, filho e sucessor, com duas jogadas de mestre virou o jogo. Primeiro, criou uma caixa para facilitar o delivery dos rocamboles, antes somente degustados in loco. A segunda e grande jogada de marketing surgiu quando vendeu um vídeo para levantar recursos e instalar placas na estrada. Daí, a história se fez conhecida, e “o legítimo”, “o tradicional”, “o rei” e outros superlativos rocamboles tornaram-se referência e motivo de orgulho para Lagoa Dourada. Outro ouro bem escondido encontramos em Coronel Xavier Chaves, na fazenda dos descendentes de Tiradentes, o nosso herói da Inconfidência. Rubinho Chaves e o filho Nando, além de receber para um trago da gostosa cachaça Séc. XVIII, produzida no mais antigo engenho em funcionamento no Brasil, oferecem uma prosa impagável, acompanhada sempre de uma surpresinha preparada na chapa do fogão a lenha. Em São João, o famoso e concorrido picolé do Amado teve sua história iniciada há 40 anos, de maneira inusitada. Depois de consertar uma máquina de sorvete de refugo na sua oficina de bicicletas, seu Amado começou a brincar de fazer picolé. Logo largou a Rede Ferroviária e fechou a oficina para se dedicar aos gelados. Transformou-se no maior sucesso e a família preserva a tradição até hoje, produzindo deliciosos picolés de abacate, amendoim e vários outros sabores imperdíveis. Já a história da maria-fumaça de São João a Tiradentes tem duas fases: antes e depois da Edna “Doceira”. As gostosuras caseiras do seu tabuleiro, em especial o pirulitinho de mel, não podem deixar de ser degustadas, junto com a simpatia e o sorriso permanente da Edna, que encantam e emocionam todos que fazem essa viagem no tempo. São histórias que se repetem e nos fazem refletir sobre a importância de levar esse “efeito Tiradentes” para todas as regiões de Minas e resgatar os melhores sabores da nossa cultura.

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Coluna Muito Prazer do dia 6 de maio de 2012.

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Page 1: Muito Prazer 6 de maio

degustaE S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 6 D E M A I O D E 2 0 1 2

EDUARDO AVELAR

2

MUITOprazer

Tempero digno de

EEffeeiittoo TiradentesO grande crescimentoproporcionado pelodesenvolvimento da cidade deTiradentes tem causado danosirreversíveis aodesconhecimento de nossa ricahistória e cultura culinária doCampo das Vertentes. Ao longodesses 15 anos, desde que surgiuo festival de gastronomia, ostesouros gastronômicos daregião têm aflorado comoaluvião, no mesmo ritmofrenético em que outras jóiastêm sido trazidas para as cidadese distritos ao redor de São Joãodel-Rei e Tiradentes. Os novosrestaurantes, hotéis e pousadaspuxaram o turismo, reforçadopor outros eventos de grandeimportância, trazendo tambémcomércio diversificado e

atraente. Na estrada que liga BHaTiradentes, váriosestabelecimentos surgiram ealguns cresceram calçados naaposta de valorizar produtos eprodutores regionais. Os artistasdos móveis e do artesanatodespontaram para o mundo,mas os artistas das cozinhaslocais, ainda tímidos ecomedidos, vêm se revelandono ritmo lento dos fogões efornos a lenha.Na última viagem de pesquisa egravações do programa Saboresde Minas, exibido pela TVAlterosa, trouxemos noembornal algumas histórias deencher a boca d’água. Sãopersonagens e receitas que estãodeixando de ser coadjuvantespara se tornar protagonistas da

EEssppaagguueettee aaoo ppeessttoo ggeennoovvêêss

2 xícaras de folhas de manjericão lavadas; 2 dentes dealho; 1 xícara de queijo parmesão; 1 xícara de pinolis(pode ser substituído por castanha-do-pará ou nozes);1/2 xícara de azeite e 500g de espaguete.

INGREDIENTES

MODO DE FAZER

Ponha o manjericão, o alho, o parmesão, o pinoli e oazeite no liquidificador. Bata e, caso necessário,acrescente um pouco mais de azeite. Cozinhe oespaguete al dente, escorra e misture ao molhopesto. Sirva imediatamente, com um poucomais de parmesão por cima.

RAFAEL MOTTA/TV ALTEROSA

Henrique Aquino se prepara para abrir nova escola de gastronomia

cinemaTalento nas panelas e uminquieto espírito empreendedorfazem a diferença

Radicado em Búzios, o chefmineiro Henrique Aquino foinada menos que o responsávelpelo bufê da festa de lançamen-to no Brasil do filme Um novodespertar (The beaver), com MelGibson, que contou com figu-rões da Fox na balada carioca noano passado. Mas isso é só umdetalhe da história bacana dessechef e sommelier. HenriqueAquino, de 31 anos, nasceu emSão Vicente de Minas, no Sul doestado, e foi para São Paulo aos 6anos. Na infância, acompanhoua mãe, mineira de Juiz de Fora ecozinheira da Brastemp e daNestlé, nos cursos que ela davapelo interior paulista. Surgiu as-sim a paixão pela gastronomia.Logo foi morar em Florianópo-lis, para estudar o tema na facul-dade Assesc. Durante esse tem-po, trabalhou em restaurantes eem eventos na cidade. Formado,virou chef de cozinha. Em Flori-pa, também criou e apresentouum programa na TV local cha-mado Chef gourmet. O trabalhode âncora terminou quando as-sumiu o setor de gastronomiado Hotel Itaguaçu, onde funcio-na o café colonial mais famosode Santa Catarina. De lá para oRio Grande do Sul foi um pulo.No Sul, deu consultoria a restau-rantes do Vale dos Vinhedos eaproveitou para aprender sobrevinhos, outra paixão.

Convidado para trabalhar noHopi Hari, Henrique assumiu aprodução das cozinhas dos seisrestaurantes do maior parquede diversões da América Latina.Enquanto ainda atuava por lá,recebeu o convite da Gran Sapo-re (empresa de cozinha indus-trial com mais de 700 restauran-tes na América Latina) para serconsultor de alta gastronomiada organização. Desenvolveupratos e treinava as equipes decozinha da empresa. Não demo-rou muito para assumir o bistrôdo programa da TV Cultura Caféfilosófico no lugar do chef SergioArno. Paralelamente a essas ex-periências, Henrique participa-va de diversos eventos gastronô-micos no interior de São Paulo,incluindo apresentações nos es-paços gastronômicos de impor-tantes mostras de decoração.Durante esse período, tambémcomeçou a dar aulas no ServiçoNacional de Aprendizagem Co-mercial de São Paulo (Senac São

Paulo) e no Centro Paula Souza,entidade que administra as es-colas técnicas estaduais paulis-tas. Seu nome ficava conhecido.

CASA DO CHEF Apesar da poucaidade, o currículo do chef é am-plo, cheio de experiências legais.Henrique Aquino já trabalhoupara uma empresa de alimenta-ção africana, onde atuou no trei-namento e na gestão de projetosde alimentação para construto-ras brasileiras em Angola, fican-do dois anos fora. Até o dia emque um grupo jamaicano cha-mado Superclubs, que opera re-sorts em toda a Jamaica e Amé-rica Latina, convidou-o para tra-balhar na implantação da cozi-nha de um dos hotéis de sua re-de no Brasil, o Breezes Resort,em Búzios (RJ). Antes de aceitaro projeto, voltou ao Brasil paragerenciar a parte de alimentos ebebidas de outro hotel no LitoralNorte paulista, até finalmenteoficializar a ida para a pré-aber-tura do Hotel Resort Breezes Bú-zios. Chegando lá, se apaixonoupela cidade e conheceu a mu-lher: casou e por lá ficou.

Depois de alguns meses mo-rando lá, observou que além deBúzios e Cabo Frio, Rio das Os-tras e outras cidades da regiãonecessitavam muito de mão deobra qualificada. Foi então quedecidiu abrir um centro de trei-namento em gastronomia. O su-cesso foi tanto, que logo fez par-cerias com diversas empresas dosegmento de alimentação e coma Universidade Veiga, para ofe-recer cursos de extensão. Nesseperíodo, várias mídias começa-ram a procurá-lo. A primeira es-cola de gastronomia da região, aCasa do Chef, vai tão bem queHenrique já se prepara paraabrir mais uma, em Macaé. Elairá atender a demanda de treina-mento de cozinheiros para omercado petroleiro.

Hoje, o chef administra asduas escolas de gastronomia etambém faz palestras e apre-sentações gastronômicas emfaculdades e em eventos na re-gião. Quem quiser conhecerum pouco mais do talento des-se profissional pode experi-mentar uma de suas receitassimples, clássica e muito sabo-rosa, o espaguete ao molhopesto, que ele ensina aos leito-res do Degusta nesta página.

MÍRIAN PINHEIRO

HENRIQUE AQUINO/DIVULGACAO

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

valorização da cultura local. Sãocasos como o da carne de lata eda linguiça artesanal produzidasna parada Café com Prosa e o dosrocamboles de Lagoa Dourada,que já figuram há mais tempono hall da fama da estrada.O melhor recheio do rocambole,porém, descobrimos ao conhecermais a história iniciada pelosenhor Miguel Assef Líbano, hámais de 100 anos. Inicialmente aiguaria era vendida na parada doônibus São João-BH. Algumtempo depois, seu Mário, filho esucessor, com duas jogadas demestre virou o jogo. Primeiro,criou uma caixa para facilitar odelivery dos rocamboles, antessomente degustados in loco. Asegunda e grande jogada demarketing surgiu quandovendeu um vídeo para levantarrecursos e instalar placas naestrada. Daí, a história se fezconhecida, e “o legítimo”, “otradicional”, “o rei” e outros

superlativos rocambolestornaram-se referência e motivode orgulho para Lagoa Dourada.Outro ouro bem escondidoencontramos em Coronel XavierChaves, na fazenda dosdescendentes de Tiradentes, onosso herói da Inconfidência.Rubinho Chaves e o filhoNando, além de receber paraum trago da gostosa cachaçaSéc. XVIII, produzida no maisantigo engenho emfuncionamento no Brasil,oferecem uma prosa impagável,acompanhada sempre de umasurpresinha preparada na chapado fogão a lenha.Em São João, o famoso econcorrido picolé do Amadoteve sua história iniciada há 40anos, de maneira inusitada.Depois de consertar umamáquina de sorvete de refugona sua oficina de bicicletas, seuAmado começou a brincar defazer picolé. Logo largou a Rede

Ferroviária e fechou a oficinapara se dedicar aos gelados.Transformou-se no maiorsucesso e a família preserva atradição até hoje, produzindodeliciosos picolés de abacate,amendoim e vários outrossabores imperdíveis.Já a história da maria-fumaça deSão João a Tiradentes tem duasfases: antes e depois da Edna“Doceira”. As gostosuras caseirasdo seu tabuleiro, em especial opirulitinho de mel, não podemdeixar de ser degustadas, juntocom a simpatia e o sorrisopermanente da Edna, queencantam e emocionamtodos que fazem essaviagem no tempo.São histórias que se repetem enos fazem refletir sobre aimportância de levar esse“efeito Tiradentes” para todasas regiões de Minas e resgataros melhores saboresda nossa cultura.