muçulmanos no brasil - dados

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155 ALCEU - v.1 - n.2 - pg 155 a 180 - jan./jul. 2001 1. Introduªo: turcos, Ærabes, srio-libaneses ** sob o nome de turco que a lngua popular brasileira designa as pessoas que falam Ærabe; o dicionÆrio AurØlio SØculo XXI estende mesmo esta designaªo aos judeus originÆrios do Oriente Prximo. Assim, a identidade turca Ø facil- mente perceptvel para o homem comum: Quando um turco chega a uma rua para atividade comercial, a rua logo se transforma; toma outro colorido, um colorido quase Øtnico. Foi o que se verificou na antiga rua do Aougue, em Macei, hoje Avenida Moreira Lima, onde mais ou menos em 1937 ou 1938 comearam os srios assim chamados genericamente na regiªo os elementos de lngua Ærabe a abrir suas casas comerciais (DiØgues, 1977). As observaıes de Pierre Deffontaines sobre os srios em Sªo Paulo confirmam esta percepªo: Philippe Waniez Violette Brustlein Os muulmanos no Brasil: elementos para uma geografia social *

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155ALCEU - v.1 - n.2 - pg 155 a 180 - jan./jul. 2001

1. Introdução: turcos, árabes, sírio-libaneses**

É sob o nome de �turco� que a língua popular brasileira designa as pessoas quefalam árabe; o dicionário Aurélio Século XXI estende mesmo esta designaçãoaos judeus originários do Oriente Próximo. Assim, a identidade �turca� é facil-mente perceptível para o homem comum:

Quando um �turco� chega a uma rua para atividade comercial, a rua logose transforma; toma outro colorido, um colorido quase étnico. Foi oque se verificou na antiga rua do Açougue, em Maceió, hoje Avenida MoreiraLima, onde mais ou menos em 1937 ou 1938 começaram os sírios �assim chamados genericamente na região os elementos de língua árabe� a abrir suas casas comerciais (Diégues, 1977).

As observações de Pierre Deffontaines sobre os sírios em São Pauloconfirmam esta percepção:

Philippe WaniezViolette Brustlein

Os muçulmanos no Brasil:elementos para uma geografia social*

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(...) quando um chega, instala-se modestamente, vai prosperando, man-dando buscar outros patrícios. E assim, as ruas primitivamente típicasou originais de traços brasileiros (�) vão se transformando, tomandonovo colorido, que é predominantemente racial ou étnico: sírio ou tur-co� (Deffontaines, 1936).

Pode-se observar o mesmo fenômeno nas ruas comerciais do centro doRio de Janeiro, como a Rua Buenos Aires que corta a Avenida Central(atual Ave-nida Rio Branco) onde ainda hoje se sente o perfume de especiarias num ambi-ente que remete ao Oriente.

Porém, a presença �árabe� não se limita apenas ao desenvolvimento docomércio de miudezas, mesmo que o mascate, vendedor ambulante, continuesendo o arquétipo do �turco� no imaginário popular. Quem conhece o Rio deJaneiro sabe que, nos numerosos restaurantes sírio-libaneses do centro da cida-de, são servidos deliciosos quibes e que, para o �suicídio dos diabéticos� sãooferecidas sobremesas nas quais a castanha de caju vem, cada vez mais, substi-tuindo as amêndoas�traduzindo assim o abrasileiramento de uma cozinha mui-to típica. A influência cultural árabe é percebida também na poesia (Zeghidour,1982). Denominado Adab al Mahjar, um movimento poético árabe se expandiupelo continente americano ao longo da primeira metade do século XX, princi-palmente em São Paulo e Buenos Aires. Em São Paulo, por exemplo, o poetaMichel Maluf foi escolhido como o primeiro presidente da Liga Andaluza deLetras Árabes (Al Usbah al Andaluziah), grupo poético muito atuante de 1933 a1953 (Folha de São Paulo, 1996). Reconhece-se também nos sírios e libanesesque vivem no Brasil uma grande capacidade de organização comunitária, par-ticularmente graças às suas associações escolares, profissionais ou esportivascomo o Clube Atlético Monte Líbano, no seio do qual se reúne ainda hoje umaparte da comunidade libanesa de São Paulo.

A vox populi atribui também aos �turcos� uma grande capacidade deadaptação aos usos e costumes locais. Conta-se que o libanês Kalil, tido comomorto por seus companheiros ao longo de uma viagem pela Amazônia, foireencontrado doze anos mais tarde como cacique de uma tribo indígena, àqual ele havia ensinado nesse tempo a fabricação de artigos de couro e de obje-tos de borracha, lamentando-se, porém, de não poder mais saborear os pratosda culinária de seu país natal! Algumas vezes, a presença �árabe� provoca ondasde xenofobia, como se pode observar, por exemplo, pela proposta de um con-selheiro municipal nacionalista de São José do Rio Preto, no Estado de SãoPaulo, em 1906 : �Todos os turcos que fallar na lingua turca perto de um brasi-

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leiro por cada vez que fallar multa de 10$000 paga na boca do cofre municipal.Todo brasileiro que ouvir elles fallando e não der parte ao fiscal multa de 10$000�( Truzzi, 1997).

Assim, ainda que reduzida do ponto de vista numérico � estima-se queo número de descendentes de imigrantes libaneses no Brasil seja de 8 milhõesde habitantes, quase o dobro da atual população do Líbano, e de 5% da brasilei-ra (Folha de São Paulo, 1995) � a componente árabe da nação brasileira não édesprezível. Ela se manifesta no centro das grandes cidades, mas é em Itabuna,pequena cidade da região cacaueira do sul da Bahia, que Jorge Amado situa aação de seu pequeno romance A descoberta da América pelos turcos. Ele conta �comoo árabe Jamil Bichara, desbravador de terras virgens, foi à boa cidade de Itabunapara aí satisfazer as necessidades do corpo, oferecer fortuna e casamento� (Ama-do, 1994).

2. A imigração síria e libanesa no Brasil

A chegada do Islã ao Brasil data do período colonial: uma parte dos es-cravos, denominados sob o termo genérico de malês, eram muçulmanos. Lo-calizados principalmente na região de Salvador, na Bahia, a participação dosmalês nas revoltas contra a escravidão é observada, sobretudo, na de 1835 (existeuma importante documentação sobre esse assunto nos Arquivos Públicos daBahia). No entanto, a atual presença muçulmana no Brasil remonta,notadamente, da segunda metade do século XIX, com a imigração de sírios,libaneses e turcos portadores de documentos de identidade emitidos pela ad-ministração do Império Otomano, o que explica a denominação turco .

Os primeiros sírios e libaneses chegaram ao Brasil nos anos 1860; asestatísticas são imprecisas, mas as pesquisas sobre esse tema (Knowlton, 1960)mostram que o fluxo de imigrantes não cessa de crescer até à véspera da Pri-meira Guerra Mundial; mais de onze mil pessoas foram registradas em 1913(Truzzi, 1997). Nos anos 1920 e até à Grande Depressão contava-se em tornode cinco mil entradas por ano. No recenseamento de 1920, o Estado de SãoPaulo apresentava cerca de vinte mil sírios e libaneses, aproximadamente 40%do total nacional (os demais estavam instalados nos estados do Rio de Janeiro ede Minas Gerais). A cidade de São Paulo acolhia seis mil, principalmente nosbairros centrais da Sé e de Santa Ifigênia. Além da capital paulista, numerososgrupos se estabeleceram em São José do Rio Preto, Santos, Barretos e Campi-nas.

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Oswaldo Truzzi expõe um conjunto de fatores que desencadeou a emi-gração síria e libanesa não só para o Brasil, mas também para outros países daAmérica Latina e, mesmo, para os Estados Unidos. Os dois primeiros fatoresnão são muito diferentes daqueles que provocaram a saída de populações eu-ropéias para as Américas. De um lado, a melhoria das redes de transporte,facilitando o comércio internacional de bens manufaturados, levava à ruínanumerosas atividades artesanais tornadas pouco competitivas, provocando aemigração maciça para além dos oceanos. De outro lado, o crescimento urba-no não era suficiente para absorver o contingente demográfico das regiões ru-rais, cujas estruturas agrárias tradicionais se mostravam inadequadas às novascondições de produção e de comercialização (Truzzi, 1997).

Os fatores políticos e religiosos que originaram a emigração de sírios elibaneses em direção às Américas são muito controvertidos. Há, de um lado,a tese �política�, segundo a qual a administração turca (a Síria e o Líbanofaziam então parte do Império Otomano), aplicando o adágio de que �parareinar é preciso dividir�, estimulava as discórdias entre os drusos e os cris-tãos, a fim de manter um nível muito elevado de dominação, sem correr orisco de provocar revoltas diretas contra o ocupante otomano: de persegui-ção em perseguição, os cristãos não teriam outra opção senão a de deixar osseus países. De outro lado, a tese �antropo-religiosa� destaca a mentalidadeprogressista dos cristãos maronitas e sua menor ligação à pátria, ao contráriodos muçulmanos. Nos dois casos, a posição difícil dos cristãos explica o fatode estes se constituírem na maior parte dos sírios e libaneses que emigrarampara a América, até a Segunda Guerra Mundial. Isto explica sem dúvida que,apesar da presença tangível de um componente árabe na nação brasileira, onúmero de pessoas que se declaram de confissão muçulmana apareça redu-zido nos recenseamentos.

3. Os muçulmanos no recenseamento demográfico do Brasil

No Brasil, os recenseamentos demográficos realizados a cada décadaprocuram avaliar a importância relativa das religiões. É solicitado a cada pessoarecenseada que declare sua religião (uma e apenas uma). Ainda que a qualidadedos recenseamentos possa ser questionada em razão da dificuldade de se fazerpesquisa num país com as dimensões do Brasil, trata-se sem dúvida de umafonte de informação preciosa, em função de sua profundidade histórica,representatividade demográfica e exaustividade geográfica.

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O recenseamento demográfico de 1991, apresentou inúmeras dificulda-des de exploração estatística, ligadas à crise do funcionamento do aparelho doEstado. Assim, somente no início do ano de 1997 o Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE) tornou públicos os arquivos relativos às condições emodos de vida, exatamente os que englobam os dados relativos às religiões.

No âmbito da convenção entre o IBGE e o Instituto de Pesquisa para oDesenvolvimento (IRD) foi possível analisar os microdados do formulário 1.02do recenseamento de 1991, contendo as respostas relativas às questões sobre ascaracterísticas socioeconômicas da população e das habitações. A realização dequadros estatísticos a partir dos dados individuais exigiu a escolha de um mé-todo adaptado ao tratamento de cerca de 17 milhões de fichas gravadas em dezCD-Roms. Um programa de tabulação, chamado MicroDados, foi concebidopara construir tabelas que cruzassem uma dimensão geográfica (município,microrregião e unidade da federação) com uma ou duas variáveis relativas àpopulação e à habitação. A tabela 1 é resultado desses tratamentos; ela apresen-ta a população residente no Brasil em 1991 repartida entre os principais gruposreligiosos.

Tabela 1 - Repartição da população brasileira por grandes grupos religiosos

Religião População 1991

Grupo Cristão Tradicional 122 366 662Grupo Evangélico Tradicional 4 388 309Grupo Evangélico Pentecostal 8 179 661Evangélico não determinado 589 459Grupo neo-Cristão (Testemunhas de Jeová�) 875 201Grupo Mediúnico (Espíritas...) 2 292 817Grupo Oriental (Budistas�) 368 578Israelitas 86 422Muçulmanos 22 449Esotéricos 41 555Indígenas 7 413Outros Grupos 23 140Mal definidos � cristãos 58 926Mal definidos � crentes 31 846Mal definidos � outros 28 960Sem declaração 508 115Sem religião 6 946 237Total Brasil 146 815 750

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1991

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A tabela 1 apresenta uma surpresa: o número dos que se declararammuçulmanos não atingiu sequer o total de 25 000 habitantes (22 449), ou seja,quatro vezes menos que os que se declararam israelitas que, por sua vez, tam-bém são muito pouco numerosos (86 422). Mesmo admitindo-se um enormeerro de estimativa, os muçulmanos dificilmente chegariam aos 50 000 habi-tantes. Este fraco efetivo deve ser cotejado com as afirmações da Sociedade Be-neficente Muçulmana de São Paulo que calcula em um milhão o número total demuçulmanos no Brasil e a quase cem o número de mesquitas ou salas de ora-ção (Folha de São Paulo, 1998). Especialistas em islamismo no Brasil dizemque não existem dados confiáveis sobre a população muçulmana porque, norecenseamento, estes são agrupados numa categoria genérica chamada outros.Apesar de diversas entidades afirmarem que o número de muçulmanos se si-tue em torno de um milhão, estudiosos consideram que o mais provável é queele represente 20% deste total, considerando-se o número da categoria outros.

Mesmo admitindo-se que o recenseamento de 1991 tenha subestimadoo número de muçulmanos, o lugar da religião muçulmana no Brasil não dei-xaria de ser modesto. Mesmo se corrigido, este efetivo confirmaria, de umlado, a fraca proporção de muçulmanos entre os imigrantes sírios e libaneses,e, de outro, a forte capacidade de assimilação da nação brasileira que continuasendo o principal país católico da América do Sul. Na análise que se segue, asestatísticas serão calculadas com base nos dados do recenseamento (os únicosdisponíveis no momento), mas levando-se em conta as restrições que acabamde ser feitas, deve-se considerar os efetivos com uma certa reserva, e as propor-ções com uma confiança relativa, na esperança de uma certa uniformidade deerros entre as categorias.

4. O perfil socioeconômico dos muçulmanos no Brasil

O principal interesse do acesso aos microdados do recenseamento resi-de na possibilidade de se realizar cruzamentos de informações inéditas, permi-tindo confirmar e ressaltar o que é supostamente sabido e, eventualmente,revelar certos aspectos desconhecidos de tal ou qual sub-população. Natural-mente, isto obriga o pesquisador a respeitar o segredo estatístico e liberar ape-nas informações suficientemente agregadas, que não tragam nenhum prejuízoàs pessoas recenseadas. Nessa perspectiva, os registros permitiram construircerca de dez tabelas estatísticas, cruzando-se o item �religião� com outras ca-racterísticas econômicas e sociais.

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Características gerais

A população muçulmana residente no Brasil em 1991 é majoritariamenteurbana (99,4% contra 74,6% para o total dos brasileiros), masculina (59,5%contra 48,5% para a população urbana e 49,4% para o conjunto dos brasilei-ros), e de cor branca (87,9% contra 51,6% para a totalidade dos brasileiros).Como a população muçulmana vive quase totalmente nas cidades, suas carac-terísticas socioeconômicas serão comparadas somente com as da populaçãourbana brasileira.

Nacionalidade

Mais de um quarto dos muçulmanos residentes no Brasil, ou seja, 6 339pessoas, não possuem a nacionalidade brasileira (fig.1); para 12,6% dos muçul-manos, isto é, 2 821 pessoas, a nacionalidade brasileira resulta de naturalização(contra, respectivamente, 0,5% e 0,1% para os urbanos). A pesquisa sobre olugar de nascimento das pessoas naturalizadas ou estrangeiras mostra a predo-minância do Líbano (48,8% e 60,1%, respectivamente) e, de maneira secundá-ria, da Síria (4,4% e 4,5%) e de Israel (4,5% e 2,4%). Observa-se igualmenteuma forte proporção de muçulmanos nascidos em �outros países da Ásia�, querepresentam 35,7% dos naturalizados e 23,3% dos estrangeiros. Todas estasobservações convergem para a confirmação da continuidade dos movimentosmigratórios �tradicionais� do Oriente Médio. O fato novo parece vir da imi-gração muçulmana originária da África que representa 2,5% dos naturalizadoscontra 5,8% dos estrangeiros. Considerando-se que a naturalização constitui aetapa normal que se segue à chegada ao país, pode-se observar então um au-mento da imigração africana e libanesa.

Educação

O nível de educação dos muçulmanos é muito mais elevado do que o doconjunto da população urbana. Dois indicadores convergem nesse sentido. Aproporção de pessoas alfabetizadas (que sabem ler e escrever um texto simplesna língua que eles conhecem) atinge a proporção recorde de 92,8%, somenteinferior à proporção máxima de 98% apresentada pelos israelitas, contra 82,2%da população urbana e 75,8% para o total dos brasileiros. O nível de educação,avaliado pelo grau da última série escolar ou universitária concluída (fig.2),

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mostra que o da população muçulmana é nitidamente mais alto. É bem verda-de que mais de um terço dos muçulmanos não concluiu ciclo algum, mas estacaracterística diz respeito a 43% da população urbana. Ao contrário, 13,5% dosmuçulmanos possuem nível superior contra somente 4,8% da população ur-bana e 3,7% dos brasileiros; esta desproporção vale por todos os outros graus.

Atividades

A repartição da população com dez anos e mais, por setor de atividade,confirma a importância do setor comercial, que ocupa quase 60% dos muçul-manos (fig.3), enquanto corresponde a apenas 15,2% da população urbana bra-sileira. O setor de prestação de serviços situa-se em segundo lugar, com apenas10,4% dos muçulmanos, ou seja, duas vezes menos do que a proporção dosdemais habitantes urbanos (21,1%).Três outros setores absorvem de 6 a 8%dos muçulmanos: as indústrias de transformação, o setor social e os serviços àsempresas. Nota-se, no entanto, uma fraca participação de muçulmanos no se-tor de transportes (1,4% contra 5,1% da população urbana), na agricultura (1,8%contra 7,2%) e na administração pública (2,1% contra 5,7%).

A análise dos diferentes tipos de ocupação revela que quase 40% dosmuçulmanos são empregadores, enquanto esta categoria representa apenas 4,3%da população urbana (fig.4). Esta concentração tem como conseqüência umareduzida participação de empregados do setor privado (23,5% contra 48,1%),enquanto o peso dos trabalhadores autônomos ou por conta própria se aproxi-ma (28,5% contra 20%).

Um pouco mais de um quarto (28%) da população muçulmana ativatrabalha em estabelecimentos com mais de 10 empregados (fig.5), enquantoesta proporção é duas vezes mais importante no que diz respeito à populaçãourbana (51,6%). Já os estabelecimentos que possuem menos de 10 emprega-dos são mais expressivos em relação aos muçulmanos: 11,7%, contra 4,7% doshabitantes urbanos, quanto aos estabelecimentos de 1 a 2 empregados; 14,2%contra 6,2%, de três a quatro empregados e 13% contra 6,8%, de cinco a noveempregados. Portanto, o tamanho dos estabelecimentos que empregam mu-çulmanos se destaca por reduzidas dimensões e isto fica ainda mais claro ao seconsiderar que a proporção de pessoas que trabalham sozinhas atinge 22,9%,no que diz respeito aos muçulmanos, contra 17,6%, no que se refere à popula-ção urbana. Finalmente, as pessoas que trabalham com um sócio ou uma pes-soa não remunerada atinge, em relação aos muçulmanos, o dobro da propor-ção apresentada pela população urbana (7,7% contra 3%). Nota-se, ainda, a

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fraca participação de trabalhadores domésticos muçulmanos (0,2% contra 7,7%),o que se explica sem dúvida pelo nível de educação elevado observado anteri-ormente.

Assim, o perfil majoritário do muçulmano ativo é o de um comercianteindependente ou patrão de uma empresa que emprega menos de 10 pessoas.Porém, além deste arquétipo, o recenseamento de 1991 revela umamultiplicidade de situações.

Rendimentos

Como se poderia esperar, levando-se em conta o nível de educação e otipo de atividade, os rendimentos dos muçulmanos revelam-se elevados (fig.6).A distribuição dos rendimentos, medida pelo número médio de salários míni-mos mensais recebidos por pessoa de uma mesma família, mostra realmenteuma nítida predominância de níveis elevados. Assim, a faixa máxima de maisde 10 salários mínimos apresenta-se cinco vezes mais elevada, no que concerneà população muçulmana, quando comparada à população urbana (9,2% contra1,8%). Observa-se o mesmo fenômeno, mais atenuado porém, para as faixasde 2 a 3 salários mínimos (18% contra 7,9%), de 3 a 5 (19,8% contra 6,1%) e de5 a 10 (12,5% contra 4%). Da mesma forma, é pequena a proporção de muçul-manos pobres, pois apenas 13,7% deles recebem um salário mínimo ou me-nos, contra 55,7% da população urbana.

5. A repartição geográfica dos muçulmanos no Brasil

Através do recenseamento de 1991, encontra-se pelo menos um muçul-mano em 263 municípios do Brasil (num total em torno de 4 500). Porém osefetivos são distribuídos de forma bastante desigual no conjunto do territórionacional. A tabela 2 apresenta o número de muçulmanos recenseados em cadaestado da Federação e relaciona seu efetivo à população total, a fim de avaliar ograu de concentração desta sub-população que nos interessa aqui.

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Tabela 2 - Repartição da população brasileira total e muçulmana por estados

ProporçãoEstados Muçulmanos População por um milhão

de habitantes

São Paulo 9 884 31 546 473 313Paraná 4 360 8 443 299 516Rio Grande do Sul 2 734 9 135 479 299Rio de Janeiro 1 207 12 783 761 94Distrito Federal 869 1 598 415 544Mato Grosso do Sul 661 1 778 741 372Minas Gerais 657 15 731 961 42Goiás 558 4 012 562 139Mato Grosso 464 2 022 524 229Santa Catarina 463 4 538 248 102Bahia 141 11 855 157 12Amazonas 96 2 102 901 46Rondônia 80 1 130 874 71Pará 71 5 181 570 14Maranhão 63 4 929 029 13Pernambuco 38 7 120 862 5Ceará 21 6 362 620 3Roraima 20 215 950 93Espírito Santo 20 2 598 505 8Rio Grande do Norte 12 2 414 121 5Paraíba 11 3 200 677 3Sergipe 8 1 491 867 5Tocantins 6 920 116 7Acre 5 417 165 11Amapá 0 288 690 0Piauí 0 2 581 215 0Alagoas 0 2 455 627 0

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1991

O estado de São Paulo é o que mais se destaca em relação ao número demuçulmanos, com quase 10 000 pessoas declarando sua confissão religiosaislâmica, dos quais 6 300 residem no município de São Paulo (fig.7). Esta ob-servação é confirmada pelo número de instituições muçulmanas localizadas nacapital paulista (tabela 3); encontra-se aí, de fato, quase a metade dessas insti-tuições (13 em 28), algumas estritamente religiosas (como a mesquita OmarIbn Khattab ou os diferentes centros islâmicos), outras mais abertas para oexterior, dispondo freqüentemente de lugares de oração (como as sociedades

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beneficentes); a estas se acrescentam um hospital e duas sedes associativas na-cionais, a da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil e a dos Estu-dantes Muçulmanos do Brasil.

A presença dos muçulmanos é forte igualmente em alguns municípiosda região metropolitana de São Paulo: na cidade industrial de São Bernardo doCampo (335 muçulmanos recenseados e 5 instituições), em Santo André (232muçulmanos), em Guarulhos (221 muçulmanos, a mesquita Al-Murabitun,uma sociedade beneficente e a associaçõa cultural árabe-brasileira), em Mojidas Cruzes (144 muçulmanos e uma sociedade beneficente), em Osasco (121muçulmanos) e em Itapecerica da Serra (70 muçulmanos).

Além desses, embora mais afastados mas ainda na órbita da capital, en-contramos a presença significativa de muçulmanos em Santos (487 muçulma-nos recenseados e uma sociedade beneficente), em São José dos Campos (148muçulmanos), em Campinas (85 muçulmanos e um centro islâmico), emItanhaém (111 muçulmanos) e em Sorocaba (61 muçulmanos).

No total, o recenseamento da população de 1991 relaciona, na cidade deSão Paulo e em alguns municípios de sua região metropolitana, em torno de 8600 muçulmanos, ou seja, 85% do total do Estado e 40% do total nacional.Encontra-se igualmente no seio deste espaço 22 das 52 instituições muçulma-nas recenseadas pelo Centro Islâmico de Foz do Iguaçu, isto é, uma proporçãosemelhante a dos crentes. Mesmo que alguns erros possam macular os dadosdo recenseamento demográfico de 1991, deve-se reconhecer que há uma certalógica nessas informações.

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Tabela 3 - As instituições muçulmanas no estado de São Paulo

CapitalCentro Islâmico Abdallah AzzimCentro Islâmico da Juventude Salah´udinEscola Árabe Islâmica Ibn KhaldonFederação das Associações Muçulmanas do BrasilFundação Beneficiente Muçulmana Mesquita Omar Ibn KhattabHospital Islâmico AvicenaS.B.R.C. Islâmica de São Miguel PaulistaSociedade Beneficiente Muçulmana Ali Ibn TalibSociedade Beneficiente Muçulmana de Santo AmaroSociedade Beneficiente Muçulmana de São PauloSociedade Beneficiente Muçulmana do BrásUnião dos Estudantes Muçulmanos no Brasil

Região MetropolitanaGuarulhos Liga Cultural Árabe-Brasileira

Mesquita Al- MurabitunSociedade Beneficiente Islâmica de Guarulhos

Moji das Cruzes Sociedade Beneficiente Islâmica de Moji das CruzesSão Bernardo do Campo Associação Jasseb

Centro de Divulgação do Islam para a América LatinaClube Sultan YacobSociedade Beneficiente IslâmicaSociedade Beneficiente Islâmica Abu Bakr Al-Sadik

Interior

Campinas Centro Islâmico de CampinasColina União Beneficiente Muçulmana de ColinaJundiaí Centro Islâmico de JundiaíSantos Sociedade Beneficiente Islâmica de SantosTaubaté Sociedade Beneficiente Islâmica de Taubaté

Fonte: Centro Islâmico de Foz do Iguaçu

Uma tal concentração geográfica na região metropolitana de São Paulodeixa pouco espaço às regiões do interior do estado, mas Barretos, RibeirãoPreto, Araraquara e Bauru englobam juntos mais de 600 muçulmanos. Nota-se que várias dessas localidades aparecem já no recenseamento de 1920 comoos lugares principais de concentração de sírio-libaneses. São José do Rio Pretoque era o segundo ponto de fixação dessas populações no estado, com 730pessoas em 1920, conta apenas com 65 muçulmanos em 1991.

O estado do Paraná, com 4 360 pessoas de confissão muçulmana, é duasvezes menos importante em número que o estado de São Paulo, mas sua pro-porção na população total é mais elevada (516 por um milhão contra 313). Ao

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contrário do caso anterior, não é na capital do estado, Curitiba (1 006 muçul-manos recenseados), que se encontram os efetivos mais elevados, mas sim naquinta cidade do Paraná, Foz do Iguaçu (1 873). Esta cidade é mundialmenteconhecida pelo esplendor de suas cataratas e pela grandeza da barragem deItaipu. Porém, Foz do Iguaçu apresenta outra característica, a de fazer ao mes-mo tempo fronteira com o Paraguai e com a Argentina. Esta situação, tradicio-nalmente favorável ao comércio (legal ou não�), foi reforçada recentementepelo crescimento do poder do mercado comum dos países do sul da Amércado Sul, o Mercosul, em decorrência do Tratado de Assunção que visou o esta-belecimento de um conjunto econômico integrado permitindo a livre circula-ção de bens, pessoas, capitais e serviços entre o Brasil, Argentina, Paraguai eUruguai.

Assim, dois fatores geográficos, o tamanho médio da cidade e sua posi-ção de entroncamento rodoviário, contribuem para dotar a comunidade mu-çulmana de Foz do Iguaçu de um forte dinamismo que se manifesta de manei-ra ostensiva no seu site na internet. Sabe-se que esta comunidade dedicou-semuito à construção de sua mesquita cuja pedra fundamental foi colocada em1981. Nesta ocasião, o Corpo Diplomático do Mundo Árabe foi convidadopara a cerimônia, bem como autoridades civis, militares e eclesiásticas brasilei-ras. Terminada em 1983, esta mesquita, que leva o nome do califa Ibn Al-Khatab, se constitui num templo suntuoso, possuindo uma sala de orações de400 m2 e um minarete, apresentando um interior de rara e incrível beleza,ornamentado com arabescos e figuras geométricas. Foz do Iguaçu dispõe tam-bém de um Centro Cultural e de Beneficência Islâmica, que tem o objetivo dedifundir o �islamismo�, a cultura e a civilização árabe, principalmente, atravésda distribuição de material religioso e didático à imprensa.

O estado do Rio Grande do Sul, com 2 734 recenseados ocupa a terceiraposição entre os estados brasileiros, com uma proporção de muçulmanos napopulação total próxima daquela do estado de São Paulo (299 para um milhãocontra 313). Como no caso do Paraná, a principal concentração não se verificana sua capital Porto Alegre (429), mas em Uruguaiana, cidade fronteiriça coma Argentina que conta com 842 muçulmanos recenseados. Observa-se outroagrupamento da mesma natureza na cidade de Chuí, na fronteira com o Uru-guai (419), ocupando a terceira posição no Rio Grande do Sul. Uruguaiana eChuí possuem uma sociedade beneficente muçulmana, enquanto Porto Ale-gre detém um centro cultural islâmico. Os outros 1 000 muçulmanos restan-tes encontram-se dispersos pelo território do estado e não parecem dispor denenhuma infra-estrutura religiosa.

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As cidades do Rio de Janeiro e de Brasília formam as duas concentraçõessignificativas restantes, com, repectivamente, 906 e 870 muçulmanos recense-ados. No Rio, há uma sociedade beneficente muçulmana e em Brasília umcentro islâmico.

Finalmente, é preciso registrar a existência de pequenas concentraçõesna região Centro-Oeste. No estado de Mato Grosso do Sul registram-se: nacapital, Campo Grande (231), em Corumbá (230) e em Dourados (145); emMato Grosso: Cuiabá (310); em Goiás: em Rio Verde (124) e em Jataí (69).Sabe-se que tais lugares se beneficiaram do avanço de frentes pioneiras (comexceção de Corumbá), a partir do final dos anos 60, e formam hoje importan-tes centros de produção agrícola destinada à exportação, constituindo-se numadas principais regiões produtoras de soja do Brasil. Sabe-se também que a ex-pansão dessas frentes foi, em grande parte, devida a pioneiros originários dosestados da Região Sul. É portanto interessante notar a participação de muçul-manos no movimento de expansão dessas fronteiras agrícolas, mesmo que aagricultura não esteja ligada as suas atividades. Todas essas cidades, menos RioVerde, possuem uma sociedade beneficente muçulmana e Cuiabá dispõe, alémde uma mesquita, de um site na internet.

6. Conclusão

A análise dos microdados do recenseamento demográfico de 1991 mos-tra uma nítida diferença da população muçulmana face ao conjunto da popula-ção urbana brasileira. Ela vem confirmar alguns fatos já bastante conhecidos,como a importância da atividade comercial. Mas traz também um conjunto denovidades, no qual deve-se destacar o reduzido número de pessoas que se de-clara de confissão muçulmana. Apesar das dificuldades encontradas num re-censeamento de grandes dimensões, como é o censo demográfico brasileiro, énecessário ressaltar a grande coerência existente nas tabelas resultantes desselevantamento estatístico como, por exemplo, a associação verificada entre aboa posição financeira dos muçulmanos, o nível de educação elevado e o tipode ocupação com o predomínio de empregadores.

A coerência dos resultados não é menos nítida do ponto de vista geográ-fico. Os muçulmanos encontram-se sobretudo na cidade de São Paulo e emsua região metropolitana, principal área de imigração árabe no final do séculoXIX e começo do XX, bem como em algumas localidades do interior do esta-do. Além dessa área, a importância dos muçulmanos em cidades de fronteira,voltadas para países que integram o Mercosul é evidente: Foz do Iguaçu,

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Uruguaiana e Chuí se destacam sobre o mapa. Finalmente, a presença de mu-çulmanos nas capitais dos estados do Sudeste e do Sul do país é significativa(Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro), assim como na capital federal, Brasília.Todos esses lugares apresentam infra-estrutura associativa confessional,identificada através da presença de sociedades beneficentes, centros culturaise, algumas vezes, grandes mesquitas.

O conjunto desses fatores de diferenciação socioeconômica e espacialfaz dos muçulmanos no Brasil um grupo social particular, pequeno em núme-ro, mas bastante ativo nas camadas sociais superiores da população e nos luga-res de importância do poder econômico.

Philippe Waniez é Pesquisador do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), Paris

Violette Brustlein é Engenheira doCentro de Pesquisa e Documentação sobre a América Latina (CREDAL),

do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), Paris

Notas

* Uma primeira versão deste artigo foi apresentada no ateliê �O Islã naLusofonia�, no XIV Congresso da Associação Francesa para o Estudo do MundoÁrabe e Muçulmano (AFEMAM), Bordeaux-Talence, de 6 a 8 de julho de2000.** Os autores agradecem ao serviço de documentação da Biblioteca da PUC-Rio, pela ajuda preciosa no levantamento da bibliografia, e a Dora RodriguesHees pela tradução do artigo para o português.

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Clube Atlético Monte Líbanohttp://www.montelibano-sp.org.br/

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ResumoA presença dos árabes no Brasil data da época colonial, mas a imigração se desenvolveua partir de 1860, quando chegaram, em grande número, sírios e libaneses, sobretudocom destino ao estado de São Paulo. O artigo parte dos resultados do RecenseamentoDemográfico de 1991, do IBGE, que permitiram realizar cruzamentos entre asinformações sobre a religião declarada pelas pessoas recenseadas e indicadores sociais:idade, sexo, nacionalidade, país de nascimento, nível de educação, atividades erendimentos. Constata-se que os muçulmanos concentram-se na Região Metropolitanade São Paulo e em cidades de fronteira com países do Mercosul. Observa-se grandecorrelação entre boa situação financeira, nível educacional elevado e categoriaocupacional na qual predominam empresários. Tais características fazem dosmuçulmanos no Brasil um grupo social particular, pequeno em número, mas ativonas camadas sociais superiores da população e na esfera do poder econômico.

Palavras-chaveMuçulmanos, islamismo, turcos, árabes, sírios, libaneses, religião, imigração, geografia,sociedade, idade, sexo, nacionalidade, origem, educação, atividades, rendimentos.

ResuméLa présence des arabes au Brésil date de l�époque coloniale, mais l�immigration s�estdéveloppée à partir de 1860, quand sont arrivés, en grand nombre, les syriens et leslibanais, surtout dans l�État de São Paulo. Cet article utilise les données du RecensementDémographique de 1991, réalisé par l�IBGE, pour produire des croisements entre lesinformations sur la religion déclarées par les personnes recensées et plusieurs indicateurssocio-démographiques : âge, sexe, nationalité, pays de naissance, niveau d�éducation,activités et revenus. On constate que les musulmans se concentrent dans la RégionMétropolitaine de São Paulo et dans les cités frontalières du Mercosul. On observeque les musulmans sont principalement caractérisés par une bonne situation financière,un niveau d�éducation élevé et un statut d�occupation dominé par les entrepreneurs.De telles caractéristiques font des musulmans au Brésil un groupe social particulier,petit en nombre, mais actif dans les couches supérieures de la population et dans lessphères du pouvoir économique.

Mots-clésMusulmans, islam, turcs, arabes, syriens, libanais, religion, immigration, géographie,société, âge, sexe, nationalité, origine, éducation, activités, revenus.

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