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1 FOTO: DIEGO PHILIPE Crise macroeconômica atinge Atibaia Página 7 Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades • Atibaia • Dezembro 2015 • nº 21 Matéria-Prima Pós-modernidade impossibilita humanos de serem humanos Página 6 Atibaia tem forte produção química e alto consumo de medicamentos Página 3 YASMIN GODOY Operadores de telemarketing são submetidos a dinâmicas exaustivas para atingir metas Página 8 Vida sem pausa Pós-modernidade traz consigo o abalo das certezas estabelecidas, a dessacralização da autoridade e, sobretudo, a emergência do homem multifacetado. E agora?

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Nós, sujeitos pós-modernos,vivenciamos de fato uma vida sem pausa, comprimida em 24 horas por dia e sete dias por semana — ou 24/7, como teorizou o escritor Jonathan Crary. A presente edição do Matéria-Prima traz nas páginas seguintes os resultados alcançados nesse trabalho conjunto: algumas perguntas, bons momentos de reflexão e uma proposta: olhemos mais para o entorno e para o outro. Afinal, desconectar é também conectar-se.

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Page 1: MP Velocidade

1DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

FOTO: DIEGO PHILIPE

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Crise macroeconômica atinge AtibaiaPágina 7

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades • Atibaia • Dezembro 2015 • nº 21

Matéria-Prima

Pós-modernidade impossibilita humanos de

serem humanos

Página 6

Atibaia tem forte produção química e alto consumo de medicamentos

Página 3

YASMIN GODOY Operadores de telemarketing são submetidos a dinâmicas

exaustivas para atingir metasPágina 8

Vida sem pausaPós-modernidade traz consigo o abalo das certezas estabelecidas, a dessacralização

da autoridade e, sobretudo, a emergência do homem multifacetado. E agora?

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2 DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

EDITORIAL

Matéria-PrimaAno 7, nº 21 – Novembro de 2015

Desacelerar é necessárioPaulo Henrique da Silva

Por ora, desligue a TV. Não responda às mensagens do WhattsApp. Deixe de lado o Big Mac. Comparti-lhe depois aquela foto com inúmeros filtros. Caso se sinta depressivo, tente não se automedicar. Não com-pre nenhum produto ago-ra. Apenas respire, devagar. Desacelere. Defina priorida-des. Pense mais. Leia e com-preenda.

Nós, sujeitos pós-moder-nos, estamos condiciona-dos a uma correria danada. Dividimos a impressão de que as horas voam e o dia é sempre curto demais para realizarmos nossas tarefas. Vivenciamos de fato uma vida sem pausa, comprimi-da em 24 horas por dia e sete dias por semana — ou 24/7, como teorizou o escri-tor Jonathan Crary.

Pensando nisso, os alu-nos do primeiro, segundo e terceiro anos de Jornalismo lançaram luz sobre o tema “Tempo, Velocidade e Pós-modernidade”. O projeto integrado realizou-se em duas fases. A princípio com temáticas em nível global e, depois, regional. Anali-saram-nas a maneira como estão presentes na vida em sociedade, permeadas pelo

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo, da FAAT – Faculdades, produzido pelos alunos do 3º e 5º semestres. Os textos publicados são de responsabilidade dos autores, que os assinam, não refletindo a opinião da Instituição.

Diretores da Mantenedora da FAAT: Marilisa Pinheiro, Hercules Brasil Vernalha, João Carlos da Silva, Júlio César Ribeiro, Manoel Ferraz. Diretor Geral de Administração: Saulo Brasil Ruas Vernalha. Diretor

uso abusivo de psicofárma-cos; na formação identitária de crianças, jovens e adul-tos; no consumo desenfrea-do de bens; na consolidação do fast-food como alimento contemporâneo; na emer-gência de novas tecnologias; até na substituição do espa-ço público pelos ambientes virtuais.

Na fase seguinte, os alu-nos reportaram temas re-gionais, vinculando-os aos subtemas pesquisados ante-riormente. Finalmente, pro-duziram uma edição espe-cial do programa televisivo “FAAT em Pauta”, que con-tou com a presença de pro-fessores das áreas da socio-logia, filosofia, psicologia e meio ambiente para discuti-rem as causas e consequên-cias da pós-modernidade.

Desse modo, a presente edição do Matéria-Prima traz nas páginas seguintes os resultados alcançados nesse trabalho conjunto. A vocês, caros leitores, não imprimi-mos respostas definitivas, mas deixamos algumas per-guntas, bons momentos de reflexão e uma proposta:

Olhemos mais para o en-torno e para o outro. Desli-guemos a televisão e os celu-lares. Afinal, desconectar é também conectar-se.

Boa leitura!

FAAT em Pauta abordou temas de Projeto Integrado na TV

Aline Zarur*

Em 17 de novembro os alunos do sexto semestre do curso de jornalismo gravaram a primeira edição do progra-ma experimental “FAAT em Pauta”. O programa, resultado do PIJ (Projeto Integrado de Jornalismo), ocorreu no au-ditório do Campus Dom Pe-dro e contou com a presença de professores da faculdade. Participaram dessa edição os professores Érica Cardo-so, Marcos Bernardi, Yara Milan e Estevão Vernalha, que discutiram o tema Tem-po e Velocidade, relacionan-do o conteúdo de suas áreas de conhecimento ao debate proposto pelo apresentador, o aluno Hugo Moura. Os de-mais alunos atuaram em pro-dução, reportagem, fotogra-fia e técnica.

Os assuntos que marcaram o bate-papo foram “a identi-dade no capitalismo”, “con-sumismo”, “a felicidade como fetiche”, “o sentido da vida” e “meio ambiente”. Em meio à discussão, o professor Marcos Bernardi apontou que a socie-dade se orgulha em dizer que é conectada, ao invés de se or-gulhar em ser uma sociedade vinculada. Segundo ele, “a co-

nexão é frágil, cai, some. Já o vínculo é forte e intensifica as relações”.

Ao final do programa, os convidados agradeceram a oportunidade de participar do debate e disseram que a busca pelo sentido da vida sempre marcou a maneira como o ser humano vive.*Acadêmica do 2º semestre do curso de Jornalismo

Programa de entrevistas foi produzido em Telejornalismo

FAAT realiza 6ª edição do JOBMIX para alunos do curso de comunicação

Michele Gomes Montanher*

Na última semana de ou-tubro, nos dias 26, 27 e 28, foi realizada a 6ª edição do JOB-MIX na FAAT Faculdades. Este evento foi realizado para todos os alunos dos cursos de comunicação, Jornalismo, Re-lações Públicas e Publicidade e Propaganda. Cada curso teve um palestrante diferente du-rante os três dias, momento conhecido na faculdade como Semana de Comunicação.

Para o curso de Jornalismo, o primeiro dia contou com a presença do correspondente de guerra Moises Rabinovici,

que relatou um pouco da sua trajetória ao longo dos anos em que atuou como jornalista, e que, por ironia do destino, completava seus setenta anos no dia da palestra. Moises car-

rega em seu repertório um rico arquivo de credenciais, que lhe rendeu várias histórias, e uma delas é sobre os conflitos no Oriente Médio.

Lucas Rangel e Mayra Bon-dança, alunos formados pela própria faculdade, marcaram presença no segundo dia das palestras. Eles apresentaram seus projetos de TCCs para os estudantes de jornalismo. No último dia a palestra foi de Jean Takada, que contou suas experiências em produzir re-portagens especiais e sua vida inusitada como repórter.*Acadêmica do 2º semestre do curso de Jornalismo

ACONTECE

Acadêmico: Gilvan Elias Pereira. Diretor Administrativo-Financeiro: Elias dos Santos Reis. Diretora de Comunicação: Maria Gorette Lourenço Nobre. Diretor de Manutenção, TI e Projetos Prediais: Angel Henrique Rodrigues de Souza, Coordenador de Captação de Alunos e Pesquisa e Extensão: Orivaldo Leme Biagi; Coordenadora Geral da Pós-Graduação: Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga. Professores-orientadores: Osni Dias (MTb 21.511) e William Araújo (MTb 20.015). CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Ms. Osni Tadeu Dias

FOTOS: DIEGO PHILIPE

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3DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Atibaia tem forte produção química e alto consumo de medicamentos

Cidade sofre com a vida sem pausa e suas consequências. Para especialista, época patologiza nossos problemas

Yasmin Godoy

O Brasil é o país com maior número de farmácias no mun-do e o 4º em consumo de me-dicamentos. Segundo o IMS Health, só em 2013, a indústria farmacêutica brasileira lucrou cerca de R$ 58 bilhões com a venda de quase 3 bilhões de remédios. A Organização Mundial da Saúde (OMS) es-tima que metade desse con-sumo é feito de forma irracio-nal, ou seja, em dose, tempo e custo maior que o necessário.

Esse consumo excessivo vem se estendendo por todo o país. Em Atibaia, a situação não é diferente: a Secretaria Munici-pal de Saúde estima que só no setor público sejam consumi-dos anualmente mais de um milhão de hormônios para tra-tamento de hipotireoidismo e cerca de 650.000 comprimidos de omeprazol – medicamento utilizado em casos de proble-mas gástricos. Apesar de esses medicamentos serem conside-rados “essenciais” em muitos tratamentos, um dado chama a atenção: mais de 125.000 unidades de ibuprofeno – me-

dicamento analgésico e an-ti-inflamatório com efeitos colaterais comprovados – são consumidos por ano, muitas vezes de maneira excessiva e desnecessária. Tudo isso para uma população com pouco mais de 115.000 habitantes.

No setor público, o uso de medicamentos foi regulamen-tado no município em junho de 2012, através da Comis-são de Farmácia e Terapêuti-

ca, que estabelece normas de prescrição e dispensação, além de definir e selecionar os me-dicamentos essenciais à popu-lação. Já no âmbito privado, Atibaia pode ser considerada referência, pois possui uma grande produção química.

O laboratório farmacêutico Althaia possui uma fábrica operando em Atibaia des-de 2011, onde registra forte crescimento nas atividades.

O grupo possui seis produtos genéricos registrados, entre antibióticos, anticonvulsivan-tes, anticoncepcionais e an-ti-hipertensivos, além de 30 submissões de registros aguar-dando aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária). Segundo Carlos Eduardo Rodrigues, gerente de TI da marca, “a receita do grupo vem crescendo 100% a cada ano desde a abertura”. Só em 2013, registrou um fatura-mento de R$ 41 milhões, e o número de funcionários tam-bém tem dobrado a cada ano.

Mas essa produção em lar-ga escala traz sérias conse-quências sociais e até ambientais: águas de abas-tecimento em todo o mundo estão sendo con-taminadas por medicamentos, antibióticos, hormônios, agrotóxicos, en-tre outros químicos. Os efei-tos dessa contaminação são prejudiciais tanto para a po-pulação que a consome quan-to para o meio ambiente.

Henrique Cisman

A tecnologia trouxe e conti-nua trazendo muitas inovações à sociedade. Dentre inúmeras profissões que tiveram sua di-nâmica modificada por essas novas ferramentas, a medicina é uma das que mais se destacam e continua apostando em novas pesquisas para alcançar a cura de doenças, o aperfeiçoamento de tratamentos já existentes e, por consequência, a oferta de melhores serviços à população.

Apesar disso, médicos se de-param diariamente com gran-des desafios e sentem a carga de estresse causada pela ten-são da rotina. Será também a própria tecnologia responsá-vel por momentos estressantes para médicos e pacientes? Para Wanderley Tasca, cardiologista há 41 anos e médico da rede municipal de saúde do municí-pio de Socorro, a informatiza-

ção é uma aliada para ambos. Segundo ele, o problema é a falta de investimento na área: “A informatização vem para facilitar, agilizar e melhorar o atendimento. Acho que esse esquema do SUS, se fosse bem aplicado o investimento nele, seria a solução, porque a popu-lação aumentou e o número de médicos não”.

O cardiologista também afir-ma que o estresse existe e é mui-to comum em médicos, mas que isso nada tem a ver com a

velocidade imposta pela tecno-logia e informatização do aten-dimento, mas sim com o fato de ser uma profissão que lida com vidas: “Com certeza é uma ro-tina estressante. Porque mexe com sentimentos, mexe com vida humana. Às vezes, ele (mé-dico) não é um cardiologista e tem que tratar de um problema cardíaco sério, então você ima-gina o estresse. A vida daquela pessoa depende dele, e ele está ali sozinho.” – exemplifica.

Para o médico-chefe da equi-pe de cirurgia de urgência do Hospital Sancta Maggiore, Ro-meu Pompeu Junior, a infor-matização do sistema de saúde é muito benéfica, pois com ela é possível ter “acesso a todos os dados dos pacientes no com-putador e no celular e evitar a solicitação de exames repeti-dos ou desnecessários”. Para ele, a tecnologia é importante no sentido de complementar

diagnósticos e diminuir o tem-po de procedimentos, como as cirurgias: “A informatização acelerou os processos, mas sua ausência não alteraria a condu-ta médica. A consulta clínica ainda é soberana. Uma história bem colhida do paciente, um exame físico bem realizado, permitem ter um diagnóstico em cerca de 85% dos casos”, afirma.

Sobre o estresse da rotina, o cirurgião admite que existe, mas diz que é causado pela res-ponsabilidade de lidar com ca-sos graves que exigem solução rápida, e não pela informatiza-ção e o consequente aumento no número de pacientes: “Ou-tros colegas da equipe também fazem visita na enfermaria aos pacientes, centro cirúrgico, evi-tando sobrecarregar o atendi-mento”, ressalta.

A psicóloga do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medi-

cina da USP, Bianca Nascimen-to, concorda que a rotina de médicos é bastante estressante, mas também atribui essa carga à responsabilidade de lidar com vidas: “Eu acho que a questão não é tecnologia e tempo. Eu acho que é uma questão do nível de cobrança, do material humano com que se trabalha”.

Bianca ressalta que, ao con-trário do que acontece com psicólogos, o médico não tem a opção de delimitar o tem-po de atendimento. Mesmo assim, por conta da baixa re-muneração de consultas por convênio ou devido a outros atendimentos marcados, mui-tas vezes as consultas duram 15 minutos ou até menos que isso. “Já ouvi de pacientes re-latos em que dizem ter ido a consultas, que isso ocorreu em cinco minutos e o médi-co nem olhou para seu rosto”, informa.

YASMIN GODOYPreocupado com a presença

de antibióticos nas águas dos rios, o professor Wilson Jar-dim, do Instituto de Química da UNICAMP, realizou um estudo, apoiado pela FAPESP, entre 2007 e 2009. O proje-to chamado “Antibióticos na bacia do Rio Atibaia” chama a atenção pela forte presen-ça de antibióticos populares nas águas, em razão do con-sumo exagerado de medica-mentos e pela automedicação.

Para o professor e psi-canalista Tácito Carderelli da Silveira, esse consumo está relacionado ao estilo de vida

“sem pausa” em que a socieda-de está inseri-da: “Vivemos em uma época que patologi-za e medicali-za muitos dos nossos pro-

blemas e sintomas psicoló-gicos, cujas causas estão de alguma forma relacionadas ao nosso modo de vida indi-vidualista e acelerado, quase sempre voltado para a pro-dução e o consumo”, afirma.

Informatização agiliza, mas não satisfaz pacientes

“Vivemos em uma época que patologiza e medicaliza muitos

dos nossos problemas e sintomas psicológicos”

Tácito Carderelli

Atibaia: 650 mil comprimidos Omeprazol e 125 de analgésico por ano

Consultas contra o relógio

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4 DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Conectividade e alterações na produção da notícia alteram rotina de jornalistas

Assessores de imprensa relatam como as novas tecnologias e as mídias sociais influenciaram seus cotidianos

Diego Lima

Muita correria e loucura, assim é retratada a vida de um jornalista nas redações em produções cinematográ-ficas, como no filme “O Jor-nal” (The Paper, EUA, 1994), de direção de Ron Howard. Muitos, no entanto, ficam em dúvida se a rotina do noticia-rista é mesmo assim, uma vez que nos telejornais o que se vê são as redações tranquilas e calmas como cenário.

Em Atibaia, os meios de comunicação publicam, em sua maioria, releases e ma-térias produzidas por asses-sorias de órgãos públicos da cidade. Há pouca produção própria dos jornais impres-sos que, no máximo, pos-suem tiragem duas vezes na semana. De uma década bem diferente da atual, a secretá-

ria de comunicação da Pre-feitura de Atibaia, Viviane Cocco, que em 2000 presen-ciava uma estrutura peque-na, percebe hoje como sua rotina está diferente e muito mais corrida. “Antes você ti-nha um horário definido de trabalho, tanto em locais de iniciativa privada como no poder público. Lembro-me de ficar produzindo matéria para os jornais semanais da cidade, tranquila. Dava até tédio. E hoje você não conse-

gue nem respirar. Não existe tranquilidade”, declarou.

Da mesma forma, Simone Noguera Cesar, diretora do Departamento de Comunica-ção da Câmara Municipal de Atibaia, acentua que as tec-nologias mudaram a realida-de de trabalho. “Há 10 anos trabalho com comunicação política e com as novas tecno-logias, a população passou a ter mais facilidade de encon-trar a informação. Com isso, mais questionamentos, mais

envolvimento e mais intera-ção”, conta.

Para a médica Rita Bergo, no tocante à conectividade ininterrupta incorporada à vida desses profissionais, per-cebe-se que o uso do celular tem levado os usuários ao es-tresse por meio da fadiga men-tal. “Hoje em dia existe uma dependência muito grande de celular. Os usuários recebem um excesso de informação que leva a um cansaço, uma fadiga mental ou até mesmo uma de-pressão”, explica Rita.

Nesse sentido, acentua Rita, a vida pessoal do jorna-lista é afetada pelo “não des-ligamento” do profissional. “É bom por saber das infor-mações em tempo real, con-seguir informar a população dos fatos com credibilidade. Mas não tenho mais vida pes-soal”, relata Simone.

Já para Viviane, a vida é

muito mais influenciada pela correria do dia a dia conec-tado. “Levanto às 6h30 todo dia, quando estou me arru-mando para ir trabalhar, já estou respondendo mensa-gem no WhatsApp. Até quan-do vou dormir, por volta da meia-noite, estou olhando o WhatsApp. Aí você fala: não, espera aí, tem alguma coisa errada nessa história”, desaba-fa Viviane.

A história de que existe tranquilidade no interior cai por terra quando se fala em jornalismo. A rotina tem sido intensificada cada vez mais e feito com que o profissional do jornalismo tenha sua di-visão de trabalho e folga aba-lada. “Mesmo que você não esteja trabalhando efetiva-mente, sua mente não para e com isso o jornalista se deixa levar pelo 24/7”, completa Si-mone Noguera.

Região valoriza as redes sociaisJuliana Dorigo

A clássica ideia de que os meios de comunicação coloca-riam a sociedade comunicável tal como uma aldeia global, ficou na teoria. E na Região Bragantina, esse advento só foi possível com a expansão das redes sociais, ferramen-ta que se destaca no cenário local, ocupando o tempo e o espaço da mídia tradicional.

Com cerca de 150 mil habi-tantes, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística), Bragan-ça Paulista possui diferentes plataformas de comunicação,

como jornais, rádios e emis-soras de TV a cabo. Veícu-los como os jornais Bragança Jornal Diário, Gazeta Bra-gantina, GB Norte, Jornal da Cidade e Jornal em Dia, bem como as emissoras de rádio 102 FM e Bragança AM além da emissora de televisão Al-tiora que alimentam a teia de informações no município.

Para o público de um modo geral a maioria dos veículos de comunicação da cidade utiliza releases de empresas particula-res e públicas. Em uma rápida constatação percebe-se que os veículos regionais encontram dificuldades para sobreviver,

seja pela demora na distribui-ção, seja pela reduzida força de trabalho nas redações. O ce-nário só acelera em termos de hard news quando há sessões na Câmara Municipal e na Prefeitura. A dificuldade em acompanhar a velocidade dos veículos das grandes metró-poles, estimula o “reaproveita-mento” de material da capital.

Na visão da jornalista Ana Maria, aliado a isso, o jogo de interesse político mina o inte-resse do público em consumir essas notícias, e, para isso, ela aponta uma saída: que a mí-dia regional amplie o interesse para os furos de reportagem, matérias mais elaboradas e menos corriqueiras, além de dar devida importância ao in-teresse público. Isso, aliado ao avanço das redes sociais, faz com que os veículos tradi-cionais da região tendam a se tornar secundários. Segundo a jornalista, já é perceptível uma dispersão no interesse do público local. “O leitor não vê

interesse em comprar jornal, pois tudo está na internet”.

Percepção recente também evidencia que os meios não conseguem acompanhar a ve-locidade dos fatos cotidianos da cidade e, como consequên-cia, a própria população torna-se o motor de disseminação das informações utilizando as redes sociais como meio de di-vulgação de acontecimentos.

Esse meio, por suas carac-terísticas, coloca em destaque pessoas influentes e que ga-nharam notoriedade e aca-baram gerando expressivo fluxo de conteúdo, facilmen-te compartilhado. Nas redes, quanto maior a quantidade de acessos à postagem, me-lhor será o retorno para quem a escreveu, principalmente quando está em busca de no-tabilidade, ou seja: quanto mais acessos, mais notorie-dade terá o administrador.

Exemplo disso está na pá-gina “Dia a dia de Bragança”, que obtém cerca de 10 mil

Vida com um volume de

informação acelerado exige estar atualizado

sistematicamente: o novo fica velho

em segundos

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curtidas e mais de 4 mil aces-sos por dia; “Tudo que acon-tece em Bragança e Região”, por sua vez, recebe cerca de 14 mil curtidas e mil acessos por dia. A mais expressiva de-las, do apresentador Claudio Moreno (Rádio 102 FM), re-cebe mais de 20 mil curtidas e tem o alcance de mais de 5 mil pessoas por dia. De um modo geral, esses perfis totalizam a quantidade de informação do que acontece na cidade.

Segundo Moreno, o Face-book, por exemplo, facilitou o compartilhamento de notí-cias. Para ele, “as redes, além de darem voz às pessoas, permitem acesso considerá-vel aos veículos tradicionais (jornais, revistas, rádio e TV”. No seu caso, utiliza as redes sociais para dimensionar os acontecimentos de Bragança. Ele, que pretende em breve criar um canal no YouTube, diz que seu perfil ficou mais concorrido depois que prio-rizou o uso das redes sociais.

A mídia não acompanha a velocidade

das metrópoles, “reaproveitando”

as notícias publicadas por elas

Hábito visa a suprir precariedade dos meios de comunicação tradicionais

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5DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Má alimentação reflete no cotidianoMudança nos hábitos alimentares depende da educação, apontam especialistas

Laila Faria

O homem, com a descoberta de ferramentas e da agricultu-ra, deu um salto no modo de se alimentar. Hoje, a indústria alimentícia possui uma grande variedade de alimentos. Além de preparar o próprio alimen-to, há uma infinidade de opções de alimentação rápida, os fast-food. Sem contar outras opções presentes nos supermercados e até mesmo em aplicativos para tablets e smartphones, que fazem o serviço delivery, as encomen-das de comida pela internet.

Como no texto “La Vida sin Pausa”, do escritor Jonathan Crary, publicado no EL PAÍS, em que o autor escreve sobre um tempo em que tudo é cro-nometrado, a expressão “não te-nho tempo” tornou-se parte do vocabulário.

Duas cidades, separadas por 50 quilômetros, abrigam o futu-ro da agricultura, mas também quatro famosas redes de fast-food. Socorro é conhecida por sua beleza natural, cercada de montanhas, cujo turismo rural e de aventura é também destino da agricultura orgânica, inicia-da pela década de 80 na cidade - hoje base da economia de mui-tas famílias socorrenses. Já Bra-gança Paulista, com quase 150 mil habitantes, possui quatro re-

des de comida rápida: McDon-alds, Habib’s, Subway e Burger King. A questão é que, com mais habitantes e uma economia maior, os bragantinos possuem uma alimenta-ção do estilo de vida americano. Já Socorro, liga-da à área rural (é a maior ci-dade com área rural do estado de São Paulo) é dotada desse novo modelo de plantio.

Para saber mais sobre essa questão, a reportagem analisou todos os fast-food de Bragan-ça. O Habib’s e a Subway não aparentavam ter muita gente. Já o Burger King e o McDon-alds, estavam cheios. Segundo a ABRASEL - Associação Bra-sileira de Bares e Restaurantes, “28% dos brasileiros fazem re-feições em restaurantes fast-food mais de uma vez por semana; 27% uma vez por semana; 20% uma vez a cada quinzena; 13% uma vez ao mês; 10% menos de uma vez por mês; e 2% nunca consomem alimentos em redes fast-food. Essa realidade não é observada somente em grandes centros, como comenta Jona-than Schiffer, atendente comer-cial do McDonalds de Bragança. Ele explica sobre a rotina do res-

taurante: “nossa percepção so-bre consumo desenfreado nos fast food pode estar enganada. É agitada, porém divertida com os colegas de trabalho, cansativa,

mas você apren-de muito e com isso ganha ex-periência para o futuro”. Sobre o consumo, ele completa que as pessoas comem o suficiente.

Segundo a nutricionista Thaís Emanuelli Souza Vichin-ni , “o problema da má alimen-tação pode ser resolvido com a educação das crianças. Na es-

cola em que trabalho, muitos alunos mudaram suas escolhas e influenciaram seus familiares, levando informações sobre ali-mentos que fazem mal à saúde, e como alguns deles são fabrica-dos”.

É importante ressaltar que para a solução da má alimenta-ção, a esperança são as crianças, que devem aprender, desde pe-quenas, o que ingerem, pois fu-turamente, suas escolhas serão as escolhas de outras gerações.

Thaís aponta também que outras crianças disseram que em suas casas não havia outras opções saudáveis para escolher e seus pais não queriam mu-

dar, tornando impossível me-lhorar a alimentação. Comer em fast-foods não é expressa-mente proibido, no entanto é necessário que se tenha bom senso ao frequentá-los, pois não deve tornar-se uma rotina, nem substituir a alimentação básica”. Caroline Oliveira afirma que “segundo a SBH (Socieda-de Brasileira de Hipertensão), o significativo aumento da obesi-dade ocorrido nas três últimas décadas está longe de acabar, a previsão é de que o quadro se amplie ainda mais nos próxi-mos anos, expondo cada vez mais pessoas ao risco de doen-ças como hipertensão arterial, diabetes, doenças cardiovascu-lares, apneia do sono, osteoar-trite e até mesmo câncer. Para a nutricionista, trata-se, portanto, de um dos principais desafios da saúde pública e da medicina no século 21. Pelo lado dos con-sumidores, Cristina Moraes, de 29 anos, frequenta pouco fast-food. “Acredito que não deva fazer mal. Mesmo sabendo que faz, eu como devido ao sabor que, querendo ou não, é muito bom”. Para Felipe Staboli, “ex-consumidor”, que atualmente é agricultor orgânico, “penso que o fast-food é um mecanismo de segregação do homem com suas relações na alimentação. O ho-mem sempre teve uma relação direta com as atividades que re-sultavam no preparo e obtenção do alimento”, conclui.

Monise Montanher

Em tempos modernos, mui-tas profissões se tornam estres-santes por suas rotinas diárias, entre elas, colaboradores de redes de fast-food, onde a luta contra o tempo é primordial na produção de alimentos rápidos e práticos. Normalmente, uma rede de fast-food conta com vá-rias seções. O trabalho é sepa-rado por estações, dividindo os funcionários em equipes para cuidarem de cada uma das pre-parações, como uma linha de montagem.

Originárias nos Estados Uni-dos, as companhias de fast-food se espalharam pelo mundo por meio das franquias que susten-tam um sistema de produção

em série. No Brasil, as redes se adequaram à necessidade coti-diana. Para grandes metrópo-les, onde a distância e tempo impedem que as pessoas façam suas refeições em casa, as lan-chonetes são os ambientes mais próximos e que atraem pela agilidade e menor preço.

Segundo a nutricionista e ex-colaboradora de rede fast-food, Adryane Rodriguês, as rotinas de trabalhos eram intensas, com três turnos, sendo que o último terminava às 4 horas da manhã. “As condições de tra-balho seriam boas se os funcio-nários respeitassem as normas estabelecidas”, afirma.

As comidas chegavam aos es-tabelecimentos prontas. Já nas cozinhas, o sistema de produ-

ção é rígido e altamente disci-plinado. Apesar dos equipa-mentos que agilizam o serviço, os colaboradores não escapam de acidentes. “Como precisá-vamos ser rápidos, já acontece-ram tombos no chão molhado. Uns se machucavam feio, como uma menina que chegou a des-locar um ombro e outro rapaz, que queimou a mão ao tentar pegar o frango que caiu no óleo quente”, diz Adryane.

Trabalhar num fast-food é exaustivo, principalmente nos períodos de movimento como Natal e feriados. Há dias em que funcionários entram no seu expediente e irão se ali-mentar apenas na hora de ir

Faça o seu pedidoProfissionais que atuam em redes

de fast-food tem grande chance de serem estressados no trabalho

embora, outros não podem sair do caixa para ir ao banheiro ou tomar água.

Mesmo com o ritmo de vida considerado mais calmo, as ci-dades interioranas têm atraído franquias. A gerente de atendi-mento do McDonald’s Atibaia, Mariana Bertini, explica que a missão da rede é proporcionar uma experiência única de qua-lidade e que o atendimento é o diferencial. “Atibaia estava evo-luindo e ainda não tinha ne-nhum fast food aqui. Fomos os primeiros. A procura é grande, temos muitos clientes”, afirma, animada.

A franquia é aberta todos os dias da semana, sendo que o

dia de maior movimento é o sábado, das 21 às 2 horas. A ve-locidade é que comanda a pro-dução dos combos, e, em horá-rio de pico, é comum ocorrer reclamações devido aos atrasos na produção dos lanches.

Uma regra é que não se pode sair da lanchonete vestindo o uniforme, e a alimentação do funcionário é de acordo com a carga horária trabalhada. Cada um recebe uma LV (Lista de Verificação), que contém os procedimentos corretos para atuar em determinada área. Por haver rodízios de funcionários nos setores, a inexperiência e a falta de agilidade podem acar-retar a insatisfação do cliente.

A esperança são as crianças, que devem

aprender o que ingerem pois, futuramente, suas

escolhas serão as escolhas de outras gerações

O círculo vicioso: preparar comida rápida sugere consumo idêntico, que libera espaço para repetição sistêmica

LAILA FARIA

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6 DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Paulo Henrique da Silva

Imagine se tivéssemos a oportunidade de reviver o mes-mo dia várias vezes, assim como o personagem de Bill Murray no filme Feitiço do Tempo, lan-çado em 1993. Poderíamos, en-tão, quem sabe, refletir sobre os produtos que compramos, os alimentos que consumimos, os medicamentos que ingerimos, através da automedicação, e até mesmo repensar os estilos de vi-das e modismos que adotamos com base na propaganda televi-siva. Mas em tempos em que as horas voam e desacelerar é in-viável, sobra-nos apenas o bom senso para compreendermos as lições contidas no metafórico “Dia da Marmota” e aplicá-las ao nosso cotidiano.

Vivemos a modernidade líquida, segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, es-pecialista em pós-modernida-de. Iniciada na década de 60, ela representa a superação das velhas técnicas do século XIX, por meio da popularização da TV, dos avanços tecnológicos, da invenção dos computadores, mas, sobretudo, pelo início do processo de globalização.

Para Bauman, essa era é marcada pela efemeridade e pelo imediatismo nas relações humanas, que acrescidos ao atual ritmo acelerado e inin-terrupto que condiciona os ho-mens — tal como descrito por Jonathan Crary em seu recente livro 24/7, Capitalismo Tardio e os Fins do Sono — privou os sujeitos do direito de serem humanos, impossibilitando-os, inclusive, de fixarem uma iden-tidade permanente, com base na reflexão.

Mas a discussão vai além. O teórico marxista Fredric Jame-son, evocando Jacques Lacan, afirma que o homem contem-porâneo está condenado a viver eternamente o presente, num

estado semelhante à esquizo-frenia, em virtude da ausência de vínculos firmes com a linea-ridade temporal, responsáveis por conferir as noções de pas-sado, presente e memória do eu. Em outras palavras, realidade e identidade apresentam-se, nos dias atuais, em percepções frag-mentadas, sobretudo descentra-lizadas, como também obser-vou o sociólogo Stuart Hall, em A identidade cultural na pós-modernidade.

De acordo com Juracy Ar-mando Mariano de Almeida, dou-tor em Psicologia Social e membro do Núcleo de Estudos e Pesqui-sas em Identida-de-Metamorfose (NEPIM), na PUC-SP, essa descentralização acarretou drásticas mudanças ao identitário contemporâneo. “Gerou, entre outras coisas, a perda de sentido da vida, des-compromisso com entidades e instituições e, contraditoria-mente, a procura de elementos apaziguadores ou de defesa. Os movimentos fundamentalistas e o apego a religiões carismáti-cas seriam faces dessa procura. Temos ainda as contestações so-ciais e políticas, além da procura de novos caminhos por parte da juventude. Acrescente também as revoltas sociais e terá instala-do um quadro de incertezas. Tudo isso junto promove um sentimento de anomia e a difi-culdade de controle sobre as in-dividualidades”, analisa.

Fato é que a pós-moderni-dade trouxe consigo o abalo das certezas estabelecidas, a dessacralização da autoridade, sobretudo a emergência do ho-mem multifacetado. Se na psi-cologia lacaniana a identidade é formada por meio da metáfora do espelho, iniciada ainda na infância – quando a criança tem

nos familiares suas referências para compreender o outro e a si mesma, na era pós-moderna a coisa acontece de outra for-ma. As identidades de nossas crianças formam-se com base na cibercultura e em estereóti-pos televisivos. As celebridades de redes sociais, os mocinhos daquela série sobre vampiros, as várias personagens figuradas pela boneca Barbie e os super--heróis da Marvel são exemplos clássicos desse nosso tempo.

Assim, ana-lisa Juracy, “se por um lado temos o indiví-duo que transita entre múltiplas esferas de ação e entre distintos universos de sig-

nificados, então temos também uma identidade que integra múltiplos personagens, comple-mentares ou contraditórios, em constante metamorfose”.

Personagens que apreen-dem as inúmeras identidades ofertadas pela cultura ligada ao merchandising, estando elas já embutidas em mercadorias e serviços. Nesse esquema de sig-nificações latentes, o pré-requi-sito para “ser” é “ter”, de modo que a identidade social é dada aos bons consumidores. Dese-josas por serem alguém, as pes-soas aderem e compram. Tanto, que acolhem o consumismo e fazem dele um estilo de vida, as-sim como escreveu Bauman em Vida para Consumo. Ademais, é fato apurado — precisamen-te pela World Wide Fund for Nature (WWF) — que já con-sumimos além do que a Terra é capaz de repor, o que configura dizer que essa demanda globa-lizada de consumidores, desejo-sos a terem uma identidade so-cial, está diretamente vinculada à degradação ambiental.

Por outro lado, o padrão alimentar ocidental também

Pós-modernidade impossibilita humanos de

serem humanosEm face da globalização

econômica, cultural e tecnológica, quem realmente somos nós?

sofreu transformações signi-ficativas nos últimos 50 anos, em decorrência da globaliza-ção dos costumes norte-ame-ricanos. O imediatismo pós-moderno atingiu os alimentos, consolidando o hambúrguer e a Coca-Cola como símbo-los identitários da cultura jo-vem. Chamados também de fast-food — termo criado pe-los irmãos Richard e Maurrice McDonald — expandiram-se mundialmente substituindo os cereais, fiéis representantes da alimentação provinciana. Livre de ritos e feita para ser ingerida às pressas, a comida contem-porânea tornou-se conceitual, símbolo de status, ingresso para ascender socialmente, como se comê-la fosse revelar-se para o mundo, ou para as vanguardas sociais – as quais se deseja per-tencer. Desse modo, é consumi-da para suprir as necessidades biológicas e sociais dos homens pós-modernos, sendo também “culturalmente comestível”, se-gundo o antropólogo Claude Levi Strauss. Se na pós-moder-nidade consumimos para ser-mos alguém, — então comemos para pertencer.

Todavia, não foi apenas o con-ceito de comida que mundiali-zamos. Cultura, economia e tec-nologia também foram glo-balizadas, sendo essa última responsável por criar um novo paradigma de tempo e espaço, com novas percepções e sem barreiras geográficas. Vivemos o processo de migração do átomo para bit, de acordo com Nicholas Negroponte, autor de Vida Digital. Esta tornou-se na-tural a todos, parte inseparável do identitário contemporâneo, obtido pela conexão em rede. Mas há ressalvas a serem feitas. “A cibercultura permite, em

tese, a livre manifestação das individualidades, a circulação de ideias, assim como o maior acesso à informação. Contudo, as interações podem ser envol-vidas em teias de manipulações. Não devemos esquecer o quan-to os poderes sociais procuram estabelecer controles e o quan-to a cibercultura também é um meio de circulação de ideias consumistas, hedonistas, auto-ritárias, fundamentalistas, que promovem determinados tipos de identidades que nada têm de libertárias”, alerta Juracy.

“Vivemos muito sós. Hoje a mais poderosa instituição que nos referencia é o consumo. Paralelamente a ele, a vida é virtualmente tornada pública. Vida que é pautada pela internet e pelas redes sociais, nas quais se anulam privacidades, singulari-dades e diferenças. Somos cada vez mais uma massa disforme de pessoas solitárias, carentes de visualizações e ‘curtidas’ no Facebook”, complementa Ana Maria Melo e Souza, psicóloga, jornalista e também membro-pesquisadora do NEPIM.

Para ela, essa vida pós-moder-na individualista e ensimesmada representa um empecilho às relações plurais. “Acredito que leve ao enfra-

quecimento das capacidades de articulações entre as pessoas, pois é nas relações grupais, nos encontros e nas interações co-munitárias que os indivíduos são capazes de se apropriarem criticamente de suas próprias histórias e tradições, num pro-cesso de inovação emancipató-rio”, afirma.

Alinhados ou não ao pro-cessamento eletrônico, sermos pós-modernos significa estar-mos em constante movimento nas redes e nas ruas, “como eter-

REPRODUÇÃO

Fato é que a pós-modernidade trouxe consigo o abalo das

certezas estabelecidas, a dessacralização da

autoridade

Segundo Bauman, uma época de incertezas: “vivemos tempos líquidos, nada é para durar”

“Vivemos muito sós. Hoje a mais

poderosa instituição que nos referencia é o

consumo.”Ana Melo

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7DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Hugo Moura

Com um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,819 – bastante elevado se comparado aos indicativos da Organização das Nações Uni-das (ONU) –, estima-se que, desde 2013, mais de 134 mil pes-soas moram em Atibaia. Nela, a expectativa de vida beira os 73 anos de idade, 92% da popula-ção é alfabetizada, possui cerca de 40 mil empregados formais, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desemprega-dos (CAGED), motivos pelos quais Atibaia é considerada um diamante bruto e raro incrus-tado no estado de São Paulo.

Com localização estratégi-ca, entre duas importantes au-toestradas do país — rodovias Dom Pedro I (SP-065) e Fer-não Dias (BR-381) —, o mu-nicípio pode transformar-se no próximo polo industrial e tecnológico do estado, repor-tando apenas para São Paulo e Campinas. Nos âmbitos es-tadual e nacional, segundo o Índice Firjan de Desenvolvi-mento Municipal (IFDM), Ati-baia ocupa a 11ª posição, con-siderando os números ligados à qualidade da educação, saúde, bem como quantidade de em-prego e distribuição de renda.

A cidade, uma das mais anti-gas do país, completou 350 anos em julho e ainda conta com os projetos “Município Susten-tável”, “Atibaia Vende Mais”, “Projeto de Desenvolvimento Econômico com Foco em Ino-vação Tecnológica”, “Easy City”, “Programa de Capacitação e

Qualificação Profissional”, “Fo-mento ao Empreendedorismo”, “Fórum de Desenvolvimento Econômico”. Idealizados pela Prefeitura, objetivam conquis-tar os grandes investidores. Brazilian Business Park, por exemplo, são condomínios empresariais que já atraem di-nheiro da capital, verbas fede-rais, gerando emprego no mu-nicípio. Problema: quem assu-me as vagas são pessoas mais qualificadas, de outras cida-des, onde o dinheiro vai girar.

Por possuir o 2º melhor cli-ma do mundo, em 2014 Ati-baia atraiu turistas do exterior, por conta da Copa do Mundo. Na condição de cidade dor-mitório parece estar afastada da compressão do tempo e da velocidade constante das grandes metrópoles. Fenôme-nos macroestuturais como a recessão e em breve a estagfla-ção, no entanto, não poupam ninguém, tampouco Atibaia.

A psicóloga Ana Maria Melo e Souza falou ao Ma-téria-Prima sobre a pesquisa que vem realizando com co-munidades indígenas da etnia Guarani Kaiowá, alocadas no Mato Grosso do Sul. Explicou como se dá o contato entre as culturas indígena e pós-mo-derna, e nesse sentido, como são formadas as identidades dos jovens kaiowás.

“Eu verifico, por exemplo, em meus estudos sobre as identidades de jovens indí-genas guarani kaiowás, que, na contemporaneidade, essas sociedades chamadas por nós de “tradicionais” são con-

frontadas com outras lógicas e representações culturais na convivência com a sociedade envolvente, levando à ocorrên-cia de outras identidades pos-síveis e não mais somente sua identidade étnica. Desta forma, o indivíduo pode agir de deter-minado modo em um ambien-te social e de modo diferente em outro ambiente. Isso não ocorre por inautenticidade, mas porque somos um e somos muitos.

O jovem kaiowá é integrante de uma comunidade, seu gru-po, sua aldeia, mas também é estudante, trabalhador, inter-nauta, telespectador, futebolis-

ta, consumidor, etc. Assim, representa vários persona-gens ao mesmo tempo. São as identidades múltiplas que marcam a atualidade.

Este processo de articula-ção de múltiplas identidades que marca o nosso tempo, a pós-modernidade, é bastan-te complexo e nos dá essa sensação de um momento caótico. Esse estado confuso, a permanente sensação de confusão, de “não ser”, de ser tudo e não ser nada. Vive-se, portanto, um estado de cho-que de identidades em nível interno, na esfera pessoal”, pontua. (PHdS)

nos nômades”, diria Bauman em O mal estar na modernidade. Vivemos apressados. A mo-bilidade, tipicamente urbana, do homem atual, exige que ele movimente-se para fora de seus centros de origem, movido por necessidades sociais e relacio-nais mais amplas, culturalmente globalizadas. Do mesmo modo, o espaço público contempo-râneo é também caracteristi-camente urbano, sobretudo virtual. Nesse sentido, praças e parques perderam suas finali-dades socializadoras, ao passo que as cibercidades tornaram-se locais de socialização e inte-ração. A isso, o filósofo francês Pierre Lévy chamou de Ciber-cultura.

Talvez, integração seja o “Santo Graal” da pós-moder-nidade, o qual buscamos inces-santemente. Seja comprando para ser, comendo para perten-cer, ou cultuando a imagem de si e de outros. Na sociedade do espetáculo a não-identificação tem um custo alto. Inúmeras são as psicopatologias que afli-gem o homem pós-moderno, advindas dos novos paradig-mas sociais e dos falsos valores e necessidades. Escreveu Freud que a sociedade adoecia por ter adquirido um “mal-estar”, que resultou em síndromes, fobias e depressões, levando pessoas a se automedicarem. Michael Fou-cault denominou medicalização do social esse uso inadequado e abusivo de psicofármacos. Fato é que nunca estivemos em um tempo tão caótico. Talvez em nenhuma outra época o ser humano tenha se perguntado tanto sobre si mesmo, ou teve tantas dúvidas sobre quem é, ou o que não é. Assim, se sobra-nos algo, são questio-namentos, ao passo que nos faltam respostas, e certamente tempo para obtê-las.

Crise macroeconômica chega a AtibaiaEntre finanças pessoais e preocupações econômicas,

munícipe paga o preço com a qualidade de vida

Para a contadora e advoga-da Taís Regina Pereira Reimer, pós-graduada em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, “observa-se uma elevação na inadimplência de nossos clien-tes em 50%, se comparado ao mesmo período em 2014.” Ela, no entanto, aposta na crise enquanto oportunidade. Re-ticente quanto à estagnação, assevera: “Não dá para ficar parado”. Por isso, atendendo mais de 150 empresas da cida-de e região, observa que “mui-tos clientes conseguem se de-senvolver e caminhar, mesmo durante a crise”, complementa.

Considerando a estimati-va de a inflação aumentar três pontos percentuais ainda em 2015, bem como o teto da meta estipulada pelo Banco Central atingir 9,46%, ou mesmo con-tração de 2,8% do PIB, pode-se dizer que a “marolinha” da cri-se imobiliária de 2008 nos EUA chegou com tudo no Brasil. A resposta do Governo Federal, elevando a taxa SELIC, levou o comércio de imóveis no mu-nicípio às moscas. Para Celso Silva Moura, ex-operador da Bolsa de Valores — 12 anos na corretora Headging-Griffo — a tecnologia é a grande responsá-vel pela alteração e aceleração desse cenário, porque “faz com que a informação — ao seu ver o produto mais valioso do mer-cado— chegue mais rápido, gira a economia e altera vida de todos”. Por isso esse reflexo já é percebido na cidade: quedas no setor do varejo. Em 2014, por exemplo, 449 lojas fecharam.

Efeito desse fenômeno na re-gião é explicado pelo advogado e corretor de imóveis Douglas Gamez, para quem “as muta-

ções do mercado imobiliário, provocaram um engodo, tanto para os investidores imediatos como para aqueles que neces-sitam de moradia. A facilidade no financiamento habitacio-nal até meados de junho des-te ano fez com que houvesse uma crescente e considerável compra de imóveis, culminan-do em uma bolha imobiliária”. Nela, as regras foram mudadas: o sinal para garantia da com-pra do imóvel, de 10% do valor total, passou para 50%, res-tringindo o acesso ao financia-mento habitacional. Com isso, estima o corretor, “os preços começam a cair, regularizando o cenário de dificuldades vi-gente no comércio atibaiano”.

O desemprego também che-gou à região: de acordo com o CAGED, de janeiro a setembro deste ano cerca de 19 mil pes-soas foram desligadas de em-pregos formais no munícipio. Procurado para elucidar a si-tuação e averiguar medidas de fomento ao consumo para Ati-baia driblar essa crise econômi-ca, o Secretário de Desenvolvi-mento Econômico, Lívio Gio-sa, preferiu não se pronunciar.

Para Tais Reimer, “a Prefei-tura tem incentivado bastante, com foco no empreendedo-rismo,” sugerindo que a mão-de-obra do atibaiano busque qualificação. Chama a atenção a segregação social geografica-mente dada pela Rodovia Fer-não Dias, que separa o Centro comercial e seus bairros no-bres, onde prevalece o frene-si dos carros, trânsito, pressa, compressão do tempo, uma vida aparentemente agradá-vel, perpassada pela velocida-de em que se vive. Nessa cena atual, bares, festas, glamour, lojas fechadas, preocupações variadas, pessoas com seus celulares, o computador que substitui o escritório e a velo-cidade que substitui a calma.

Do outro lado, nos bairros afastados, prevalecem as dificul-dades do subúrbio: ônibus, car-roças, plantação rural, cavalos, flores, morangos e as dificulda-des do trabalho pesado. O tem-po desacelerado permite mais contatos e encontros. A vida pa-cata se instala e o tempo é outro. A vida não para, mas desacelera.

Os Guarani Kaiowás e a Pós-modernidade

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8 DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Estresse e pressão diária assolam profissionais da área de telemarketing

Para atingir metas, operadores são submetidos a dinâmicas de esgotamento no trabalho

Gislaine Januário

Certamente você já ouviu essa frase durante uma ligação para o SAC (Serviço de Atendi-mento ao Consumidor) de uma determinada empresa: “Aguarde na linha até que sua ligação seja transferida para um de nossos atendentes” ou “um minuto se-nhor(a), irei verificar, aguarde na linha”. Muitas pessoas se es-tressam ao ligar para as empre-sas, mas já se perguntaram sobre a pressão a que esses atendentes estão submetidos?

Atualmente tecnologia é in-dispensável para esta área, que aposentou o telefone tradicio-nal por aplicativos como VoIP (Voice over Internet Protocol), que fazem ligações a partir do IP do computador. Esse tipo de aparato oferece praticidade e re-duz a quantidade de utensílios para desempenho da profissão. Leandro Nazareth, gerente de produto da Algar Tech, diz que “sem dúvidas a tecnologia avan-çou muito nos últimos anos.” Segundo ele, “atualmente os contact centers trabalham com um aparato tecnológico fortís-simo visando trazer melhores resultados para seus clientes e

comodidade para os operadores e gestores”. O telefone foi o mar-co inicial na área de telemarke-ting, um órgão vital para os call centers espalhados pelo mundo. Mesmo com tantas mudanças, a essência do período inicial se mantém, ou seja, ainda consiste em efetuar ou receber ligações – uma junção de marketing com telefonemas – importante para vendas ativas e de suporte para reclamações com empresas.

Geralmente as pessoas que atuam nessa profissão são as mulheres. Levantamento sobre o perfil profissional da área, rea-lizado pela Algra Tech, em 2013, dá conta que 63% são mulheres e 37% são homens, com idades variadas, além de 2500 colabo-radores serem universitários. A carga horária estipulada para esses profissionais é de seis ho-ras diárias, com duas pausas de 10 minutos para descanso e 20 minutos para alimentação. Há ainda horas extras e uma série de cobranças de metas exigidas pelas empresas. Porém, muitas reclamações chegam ao SINTE-TEL (Sindicato do Trabalhador de Telemarketing), principal-mente sobre assédio moral e doenças adquiridas no trabalho.

“A realidade e o cenário do se-tor de teleatendimento, tanto na capital quanto no interior, é a mesma e os problemas também. O assédio moral é uma realida-de, pois a pressão pelo cumpri-mento de metas é grande. Já o assédio sexual ocorre em uma escala menor. Com relação às doenças, registra-se o estresse e as DORT – Doenças Ocupacio-nais Relacionadas ao Trabalho – alvo de muitas reclamações que recebemos”, relata Marco Tirelli, do setor de comunicação da SINTETEL.

Segundo Nazareth, na Algar Tech existem iniciativas para

melhoria do clima organiza-cional e bem estar dos colabo-radores, seguindo as regras da NR-17. A Norma Regulamenta-dora- 17 (NR-17), aprovada pela Portaria SIT nº 09/2007, tem cláusula dizendo que “devem ser garantidas pausas no traba-lho imediatamente após opera-ção onde haja ocorrido amea-ças, abuso verbal, agressões ou que tenha sido especialmente desgastante, que permitam ao operador recuperar-se e sociali-zar conflitos e dificuldades com colegas, supervisores ou pro-fissionais de saúde ocupacio-nal especialmente capacitados

para tal acolhimento”. Segundo o ex-operador de telemarke-ting João Pedro Blasi, isso não acontecia quando trabalhou na empresa “Atento”, em São Pau-lo, durante 7 meses do ano de 2011. Segundo diz, o estresse surgia por situações pequenas. “Uma vez vi duas mulheres – uma inclusive estava grávida – brigarem por uma cadeira, pois a PA (mesa de operações) de uma delas estava desprovida. Nessa mesma época comecei a fumar para relaxar.”

Na visão do psicólogo Dio-go Imbriosi, o trabalho pode ser considerado culpado por doenças psicológicas, porque as pessoas “buscam atividades que trazem realizações, tornando-se também responsável por episó-dios de depressão e ansiedade”. Em seu consultório, no Rio de Janeiro, a maior causa de depres-são em seus pacientes está rela-cionada ao trabalho. “Em alguns casos, o profissional se submete ao stress e à pressão subumana. Acredito que deve haver um equilíbrio. Comprovadamente exercícios físicos ajudam, entre outros fatores, no equilíbrio neu-roquímico do cérebro. O plane-jamento profissional é a chave.”

CAROLINA BONASSA

GISLAINE JANUÁRIO

Mulheres são maioria em Call Center, segundo levantamento da Algar Tech

Carolina Bonassa

Com o destaque dado pela mídia aos altos níveis de doen-ças como obesidade e hiper-tensão, o brasileiro começa a se preocupar mais com o seu modo de vida – visando a pre-venir-se a partir da alimentação e hábitos saudáveis. O primei-ro obstáculo que ele encontra, porém, é a vida acelerada, que acaba servindo como desculpa para o consumo de alimentos rápidos e pouco nutritivos.

Segundo o IBGE, 10,5 mi-lhões de brasileiros com idade acima de 20 anos apresentam quadro de obesidade. Entre as crianças e adolescentes, o nú-mero é ainda maior: são mais de 15 milhões de casos de obe-sidade, segundo a Associação Brasileira de Estudos Sobre a Obesidade (ABESO). Para Carlos Cardinalli, nutricionis-

ta esportivo em Atibaia, a am-pla divulgação desses números funciona como um alerta e en-coraja as pessoas a procurarem ajuda de um profissional. “As pessoas acabam optando por aqueles alimentos dispostos na gôndola do mercado, que são mais rápidos de obter, acabam comendo apenas por comer, sem pensar no valor nutricio-nal daquilo”, diz Cardinalli.

Lu Fernandes, diretora co-mercial da Blessing, empresa de alimentos orgânicos, há oito anos no mercado, afirma que a procura por seus produtos só aumentou. Segundo ela, a preocupação não é apenas pes-soal, mas também com o meio ambiente. “As pessoas estão adquirindo consciência de que o lixo produzido pelo atual sis-tema industrial não pode ser descartado. O planeta é um só, tudo que é dispensado conti-

nua dentro dele e vai para a água que tomamos e o alimen-to que consumimos”, aponta.

Para conseguir ultrapassar esse obstáculo, que é a falta de tempo, o nutricionista estuda toda a rotina do paciente: da hora que acorda até a que vai dormir, e adequa as necessi-dades nutricionais dele ao seu

dia a dia e transforma o ato de “viver para comer” em “comer para viver” – pensando no que o alimento traz de bom para o organismo.

Para isso, o profissional de nutrição, a partir da análise do comportamento do paciente, elabora estratégias com aju-da da tecnologia da área, que

inclui shakes proteicos e vita-minas, ganhando tempo e fa-cilitando a vida de quem se vê preso a um dia a dia turbulento.

Parte da população já co-meça a se conscientizar sobre a necessidade de cuidar da alimentação e do bem-estar, o que explica a alta demanda nos consultórios e academias em busca de uma melhor qua-lidade de vida. Isso antevê a possibilidade de, num futuro não tão distante, o Brasil con-seguir superar suas dificulda-des e, enfim, diminuir os níveis de doenças crônicas que atual-mente afligem a população.

Brasileiros buscam conciliar rotina e bons hábitosCompras devem valorizar as possibilidades saudáveis dos alimentos

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9DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Julio Cesar Jacob

Muitas garotas de progra-ma perceberam o potencial da internet (redes sociais, blogs, aplicativos, entre outros) e mergulharam de cabeça nes-se ambiente. Abandonaram as esquinas, boates, casas de prostituição e investiram pesa-do no marketing virtual. Fotos atraentes, vídeos bem produ-zidos e textos “apimentados” são alguns ingredientes para seduzir a clientela. Basta olhar ao seu redor para notar indiví-duos de todos os tipos com o celular em punho, conectados, vivendo em um mundo para-lelo. Esta é a era digital.

Sudhir Venkatesh, um so-ciólogo americano da uni-versidade Columbia (EUA), estudou durante 10 anos as prostitutas de Nova York. De acordo com os dados de sua pesquisa, no ano de 2003, 83% das garotas analisadas encon-travam seus clientes de manei-ra tradicional, em boates, ruas, clubes de striptease ou por meio de agências de prostitui-ção gerenciadas por cafetões. Em 2008 esse número caiu

para 57%, devido à populari-zação da internet . O sociólogo calcula que hoje em dia 83% das profissionais angariam seus clientes pelo facebook e prevê que a rede social pode se tornar o maior serviço de prostituição online do mundo.

Partindo desse pressuposto, quem quiser ser notado tem que estar na web. Foi o que fez a acompanhante Juju Safadi-nha, loira de 24 anos, mora-dora de Atibaia, e no ramo há quatro anos. Usuária ativa das redes sociais, a moça expõe suas fotos em blogs e sites es-pecializados. Na opinião dela

a tecnologia só trouxe pontos positivos para a rotina de tra-balho. “Tenho amigas que con-tinuam trabalhando na rua, não tenho nada contra, mas hoje faço tudo pelo meu celu-lar, aliás, quase tudo. No blog está bem explicado sobre meu trabalho, o que facilita muito na negociação”, acentua. Sobre o retorno financeiro, ela ex-plica: “além de ser muito mais vantajoso financeiramente, não preciso dar meu dinheiro para cafetão nenhum. Não me vejo mais trabalhando na rua, afinal também temos o direi-to de evoluir. Todas as outras

profissões evoluíram, por que a gente não?”, indaga.

Embora a internet seja uma grande vitrine de exposição, a maioria opta por esconder o rosto nas fotos publicadas, exi-bem apenas o corpo ou usam máscaras, seja pelo receio de suas famílias descobrirem, por questões de segurança ou até por almejarem ter outra pro-fissão futuramente. Assim, não querem ter sua imagem atrela-da a essa vida para sempre.

Paula, 30 anos, residente em Bragança Paulista e estudante de Odontologia, trabalha como garota de programa para pagar sua faculdade e ter sua inde-pendência. Divulga frequen-temente seu WhatsApp nos jornais do município e, através do aplicativo, articula toda a clientela: “Hoje em dia nin-guém liga para ninguém, a co-municação é só pelo ‘zapzap’, só ligam se for muito impor-tante. Quando mando fotos para os interessados, ou nudes (foto nua ou seminua) como todo mundo fala, não mostro o rosto. Prefiro assim, minha família nem imagina que eu faço isso e, na faculdade, pro-

Professores encaram mudanças nas escolasRotina acelerada e exaustiva exige mais dos professores e inibe renovação da categoria

Samantha Wunsch

Entre as rotinas estressan-tes, dificuldades no trabalho e o esforço para manter uma vida pessoal, os professores estão sendo afetados pela ve-locidade e o estilo de vida que estão se tornando hábito no cotidiano e na realidade de trabalho de diversas profis-sões. Em virtude de a profissão exigir um contato direto com elevado núme-ro de pessoas, um dos maio-res conflitos desta catego-ria é manter-se atualizado para acompa-nhar o ritmo dos alunos. “Se o professor não se adapta, ele está fadado a falhar”, explica o professor Ro-drigo Mendes Rodrigues, que já leciona em escolas estaduais, particulares e faculdades há mais de 20 anos. Essa questão também é relatada pelo pro-fessor de história e proprietá-rio do curso preparatório para

vestibulares V8, em Bragança Paulista, Hilário Xavier. “Nem sempre é tão fácil acompanhar em razão da quantidade e da velocidade da informação”, diz o educador. Ele explica que os alunos cobram do professor a atualização em assuntos recen-tes, bem como pedem comen-tários sobre questões levanta-das pela mídia no dia da aula, resultando em sobrecarga na atuação do professor. A rotina

do profissional da educação é exaustiva, já que envolve mara-tonas de aulas, muitas vezes em diferentes cidades, corre-ção de provas e

trabalhos de dezenas de alu-nos bem como todo o material pedagógico a ser apresentado em aula, ações que têm esgota-do seu tempo para a vida pes-soal. Professores revelam que essa é uma profissão que de-manda dedicação 24 horas por dia, atividades que continuam realizando em suas casas. O

professor Hilário Xavier, além de lecionar 55 aulas por sema-na, em três cidades diferentes, possui um canal do Youtube com mais de 1.800 inscritos, chegando a 32 mil visualiza-ções. “Ou seja: sou professor 24 horas por dia”, conta.

A professora Ana Carolina Fagundes explica que isso é perfeitamente compreensível, não só pelas tecnologias que permitem isso, mas também em razão da falta de profes-

sores. Atualmente verifica-se uma escassez de professores, o que também leva um professor a assumir mais aulas. Outro fa-tor é a diminuição de estudan-tes de Licenciatura a cada ano. Por isso, a maioria dos profes-sores sintomaticamente reve-lam haver uma desvalorização da profissão. Com essa carên-cia de profissionais, a probabi-lidade de a educação se tornar mais eletrônica cresce ainda mais. O que preocupa é o en-

A rotina do profissional da educação é exaustiva,

envolve maratonas de aulas, muitas vezes

em diferentes cidades, correção de provas e

trabalhos

sino em escolas que hoje ainda nem possuem energia elétri-ca e quem vai ser responsável pela educação desses jovens. Segundo uma pesquisa reali-zada pelo Tribunal de Contas da União, em 2014 registrou-se a falta de pelo menos 32 mil professores de matérias obri-gatórias no currículo escolar. Outro estudo aponta que 52% não possuem licenciatura, ou seja, uma formação específi-ca para lecionar uma matéria. Outra pesquisa realizada pelo CNTE (Confederação Na-cional dos Trabalhadores em Educação) revela que o país corre perigo de ficar sem pro-fessores para escolas de ensino médio, ainda nesta década.

curo ser discreta”, confesssa. Paula concluiu dizendo que nunca trabalhou em casas de prostituição, tampouco “fez ponto” na rua e, assim que terminar a faculdade, preten-de encerrar a carreira nessa atividade.

Enquanto umas se rende-ram à praticidade e comodi-dade das ferramentas digitais, outras continuam trabalhan-do da maneira tradicional, pois não se sentem à vonta-de com a exposição. Jady, 28 anos, trabalha numa conhe-cida boate em Atibaia, atua há três anos e meio como prosti-tuta e, desde então, nunca fez uso de blogs, redes sociais ou aplicativos para divulgar seus atributos. Não gosto de mis-turar as coisas. Tenho redes sociais, mas não utilizo pra isso. Acredito que para muitas profissionais do sexo essa tec-nologia atrapalha, pois ainda existem muitas casas noturnas abertas”. Ela acentua, ainda, que prefere pagar para a boate em que trabalha a se encontrar com um estranho da internet e estar vulnerável a todo tipo de violência.

Professores revelam que essa é uma profissão

que demanda dedicação 24 horas por dia,

não deixando de ser professores quando

chegam em suas casas

Era digital transforma o mercado da prostituição

Ana: professores trabalham 24 horas e ainda perdem vida pessoal

SAMANTHA WUNSCH

Apesar da Internet ser rápida (foto), algumas garotas agenciam sexo presencialmente

JULIO CESAR JACOB

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10 DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Demandas aceleram linhas de produçãoOperários trabalham “sem parar” para atender ao consumo instantâneo exigido pelo mercado

Monika Shulz

A sociedade vive em cons-tantes avanços em períodos curtos. Com o objetivo de “otimizar” o tempo e buscar atender às demandas do mer-cado consumidor, as indústrias aplicam em seus estabeleci-mentos as linhas de produção, processo que intensifica a fa-bricação, fortalece o consu-mo e contribui com o cresci-mento dos serviços 24 horas.

“O consumismo exige a pro-dução de maiores quantias de produtos fabricados em menores tempos de entrega e sem perder a qualidade. As-sim, as empresas consolida-das no mercado adaptaram-se ao novo modelo, produzindo cada vez mais para enfrentar a concorrência”, afirma o diretor do Sindicato dos Trabalhado-res nas Indústrias de Alimen-tação de Bragança Paulista e Região, Roberto Cardoso.

Em busca do lucro, a maioria dos empresários sobrecarre-garam esteiras, maquinários e operários. Por isso, no mundo, somente duas mil empresas faturam o total de 39 trilhões de dólares. Distribuídas em 61 países, 579 delas estão nos Esta-dos Unidos, 232 na China e 218 no Japão. Segundo o SEBRAE--SP, o Brasil tem 6,4 milhões de estabelecimentos. Destes, 99%

são micro e pequenas empresas, responsáveis por 52% dos em-pregos com carteira assinada no setor privado. Atualmente, a região bragantina conta com cerca de 4 mil operários regis-trados em 150 empresas que possuem linhas de produção.

Essa disponibilidade dos ser-viços “sem parar” no mundo levou ao fenômeno “socieda-de 24 horas”, que surgiu com a globalização, cuja aceleração transformou o padrão bioló-gico e cultural e possibilitou qualquer pessoa a atender seus desejos, sem depender dos ho-rários de funcionamento. “A produção em turnos ininter-ruptos ocorre por dois moti-vos: devido à necessidade de ajustes da capacidade da fábri-ca à demanda e por causa de uma questão técnica. Algumas

atividades fabris não têm como serem interrompidas, exigin-do que os turnos e mão de obra façam revezamento para manter a operação”, explica Fernando Andrian, professor de Estrutura e Economia do Varejo da FAAT – Faculdades.

Quando a linha de produ-ção passa por determinadas adaptações, como o aumento da demanda de forma sobre-carregada incorreta, os ope-rários começam a apresentar problemas de saúde ocupa-cional. As maiores incidências são as Lesões por Esforço Re-petitivo (LER), níveis inten-sos de estresse e os acidentes com máquinas, por ausência de EPIS ou pela falta de aten-ção provocada pelo cansaço.

A ex-operária Gilma de Jesus conta que sua rotina começava

às 3 horas da manhã para es-perar o ônibus rumo à indús-tria alimentícia do segmento de aves, onde trabalhava das 6h20 às 14h. Para atender à de-manda, várias vezes precisou fazer horas extras até as 17h40.

No período que antecedia o almoço, ela trabalhava no setor de embalagem de aves e, após a refeição, assumia uma estei-ra para separar as carnes das carcaças e dos ossos, perto de uma máquina moedora. “Mi-nha rotina era puxada! Realiza-va movimentos repetitivos por muito tempo, e causavam mui-ta dor. Além disso, transitava por setores com temp eraturas diferentes, ge-rando mal estar.” Tudo isso, diz, “resultou em um derrame arterial no pulso direi-to. Perdi parte dos movimentos da mão e tive que fazer cirurgia.” Hoje seus movimentos voltaram parcial-mente, por isso tem um pro-cesso em andamento contra a empresa em que trabalhava.

As indústrias alimentícias fa-bricam os seus produtos de for-ma frenética, principalmente as que manipulam carnes de aves, suínas e bovinas. Os trabalha-dores que são locados no setor de desossa são obrigados a rea-

IMAGEM: MUNDO DO TRABALHO PREVIDENCIÁRIOlizar o preparo de 4 a 7 coxas de frango em 1 minuto. Essa ação exige de 70 a 120 movimentos por minuto, quando o limite seguro estipulado para a saúde é de no máximo 35. O mesmo ocorre na indústria automoti-va. A fabricação de um carro modelo, incluindo todas as eta-pa, é realizado em menos de 20 horas, incluindo 3.000 pontos de solda e 6.500 peças de encai-xe. Para acelerar a fabricação, as empresas instalaram máqui-nas que produzem 900 tonela-das de peças moldadas por dia, que levam em média de 11 a 16 minutos por unidade prensada.

Estudiosos pre-veem a intensifi-cação do fenôme-no denominado “mão de obra bimodal” no am-biente indutrial. Isso significa que as ocupações de

“nível médio” tendem a ser mi-nimizadas, ou desaparecer, em benefício das máquinas. Já as atividades que exigem imagi-nação, planejamento, estratégia ou as tarefas “brutas”, muitas vezes penosas, árduas e difí-ceis de serem automatizadas, continuarão sendo executadas pelos homens”, contou Her-cules Brasil Vernalha, coor-denador dos cursos de Enge-nharia da FAAT – Faculdades.

Fato é que a pós-modernidade trouxe consigo o abalo das

certezas estabelecidas, a dessacralização da

autoridade

Operários trabalham freneticamente visando às demandas de produção

Ritmo acelerado impacta os analistas

de sistemasLetícia Dias

O analista de sistemas é um profissional ainda muito recen-te no mercado de trabalho, mas está por trás do desenvolvimen-to de aplicativos para celulares, paginas de web e até softwares para empresas agrícolas. A pro-fissão surgiu com os avanços da tecnologia e esse é um ramo que vem exigindo cada vez mais dos profissionais. Essa é uma área que necessita de muita atenção e cuidado, cujo cargo sobre-carrega física e cognitivamente os funcionários, trazendo uma baixa qualidade de vida. A fun-ção do Analista é realizar estu-

dos de processos computacio-nais para encontrar o melhor e mais racional caminho para que a informação virtual possa ser processada. Com os novos avanços da computação abriu-se um leque na área, e entre as principais profissões estão as de projetista, engenheiro de soft-ware, administrador de banco de dados, consultor de tecno-logias (hardware, software ou de processos informatizados), gerente da área/empresa tecno-lógica, entre outras.

A sobrecarga física se deve às jornadas de trabalho exaus-tivas. Os analistas de sistema utilizam apenas computado-

res e por isso estão sujeitos a distúrbios mísculo-esquelé-ticos, casos de LER/DORT e doenças crônicas. Segundo Bruno Santos, 32, engenheiro de computação, há mais de 10 anos na área, ele já tem proble-mas físicos, como hipertensão e diabetes.

Isso ocorre por conta da pressão, dos prazos curtos e do grau de responsabilidade. “A pior parte é a pressão de da-tas de entrega, que são sempre

altas e estressantes, isso afeta o meu trabalho, pois qualquer erro compromete todo o de-senvolvimento”, diz Wagner Gomes, 20, analista de sistemas há pouco tempo na área.

Também está na lista de transtornos dessa atividade a “doença da pressa”, descoberta pelo cardiologista americano Meyer Friedman em 1959, a partir dos sintomas alta ansie-dade, dificuldade para relaxar, bem como problemas de saúde

e relacionamento.Bruno Santos diz ter apresen-

tado alguns desses problemas, com alguns resquícios psicoló-gicos. Ele diz que na área “esses problemas ainda são tabus, pois pouco comentados, e são pou-cos os que reconhecem e tratam os quadros de depressão.”

A procura por esse setor é grande: no ano de 2013 foram contratadas cerca de 159 mil pessoas no país, segundo dados da consultoria IDC Brasil. Isso representa cerca de 14,3% de todos os empregos gerados no período, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. Ainda segundo a pesquisa, a procura é tão grande que existe um déficit de profissionais no mercado.

No Brasil, essa profissão só tende a continuar crescendo, segundo o ranking desenvolvi-do pela Deloitte, em 2014. As 250 maiores empresas de TI brasileiras tiveram a soma de suas receitas líquidas na ordem de R$ 36,9 bilhões.

REPRODUÇÃO

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11DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Profissão tida como “privilegiada” pode estar com os dias contados pela automação

Uso de atendimento virtual pode acabar com atividade bancária convencional, em agências

Lucas Borges

A constante pressão que exi-ge do bancário o cumprimento de metas, bem como uma roti-na de 6 horas diárias e um qua-se incessante atendimento às fi-las (há apenas um intervalo de 15 minutos para o almoço) são alguns dos dilemas enfrentados pelos bancários, que estão ex-postos ao estresse durante todo o expediente.

Já há alguns anos, os avan-ços tecnológicos surgem como aliados e inimigos ao mesmo tempo. Por um lado, auxiliam nas mais diversas tarefas, e por outro, ameaçam a existência da profissão que tende, cada vez mais, a ser substituída pelos ser-viços de atendimento online.

Os cerca de 500 mil bancá-rios do país seguem a filosofia dos bancos – “crescer” a qual-quer custo – em que os ban-queiros não se preocupam com

a qualidade do atendimento, mas com o número de vendas concretizadas, fato que reduz os bancários a meros números, como define Marcelo Assis, 44 anos e há 24 como bancário. “Quando eu entrei no banco, funcionário bom era aquele que fazia a fila andar, mas hoje a pressão é por vendas, muda-ram o foco”. E quando se fala em mudança de foco, eviden-cia-se a questão da diminuição constante de profissionais em cada agência bancária, como afirma Luis Carlos de Andra-de, 51 anos, e que há 2 deixou a superintendência do Banco do Brasil. Ele compara a atual situação com a de outros paí-ses. “Do jeito que as coisas vão, estamos acelerando o processo dos bancos em mudar tudo para o ambiente virtual, man-tendo um número mínimo de 2 a 3 funcionários por agên-cia, como na Europa e nos Es-

tados Unidos”.Enquanto não há a migração

total dos clientes para o atendi-mento online, as novas ferra-mentas podem ajudar os ban-cários, como as máquinas que contam automaticamente o di-nheiro, verificam as notas falsas e ainda determinam o troco a ser devolvido – caso seja neces-

sário. Ainda segundo Andrade, “não podemos frear a tecnolo-gia, o progresso está vindo inde-pendente de aceitação ou não, e nós temos que nos adaptar”. En-tre as adaptações, está a questão de o cliente se auto atender, pois é isso que os serviços online têm a oferecer, uma independência no atendimento.

Para Assis, as greves tam-bém impulsionam a aceitação das pessoas pelo atendimento virtual, pois “nas greves você não tem outro caminho, e às vezes nesse caminho surge a adesão pelo novo método”. As-sis também conclui que “nesse aspecto, as greves são interes-santes para os banqueiros, que querem forçar essa migração para o autoatendimento.”

Independente do aumento ou não de atendimentos online, as agências bancárias são sem-pre sinônimo de ambientes lo-tados, o que fomenta a fortuna dos grandes bancos. Segundo comparação feita recentemente com dados do Fundo Monetá-rio Internacional (FMI), os lu-cros de bancos Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil somam um valor superior ao PIB de 83 países, sendo estes em sua maioria da África, Ásia e Oceania.

LUCAS BORGES

Filas já fazem parte da rotina em agências bancárias e casas lotéricas

Ana Paula Medeiros

O acidente ocorrido em abril de 2015, nos tanques de combustível na cidade de San-tos, litoral de São Paulo, deu a dimensão do perigo, do es-tresse e do risco de morte pe-los quais os bombeiros passam periodicamente na atuação visando à segurança da so-ciedade. Nessa ocasião, esses profissionais foram ágeis para combater as chamas que le-varam quatro dias para serem controladas. A fumaça pôde ser avistada de diversas cida-des da Baixada Santista. Equi-pes do Corpo de Bombeiros de vários lugares foram enviadas para o local. Outro acidente que repercutiu na mídia foi em 2013, na Boate Kiss em Santa Maria, Rio Grande do Sul, tragédia que matou 243 pessoas. A atividade bombeiro militar é considerada uma das mais perigosas, levando em consideração a complexidade das operações, as quais exigem do militar a máxima atenção e ação rápida e eficaz.

O estresse é considerado um dos males do século. Com

aumento da carga horária de trabalho uma pessoa pode de-senvolver muitas vezes quadros ansiosos e depressivos mais significativos. Diante disso, cabe observar não só a quan-tidade de fatores desencadean-tes de estresse, mas também os aspectos individuais, a manei-ra com que cada um reage às pressões cotidianas, bem como os aspectos sociais aos quais as pessoas estão submetidas.

Em situações de sinistros, um erro pode ser fatal. Nesse sentido, o envolvimento do profissional que combate es-

sas ocorrências amplia a ten-são psicológica, pela tensão e responsabilidade da ocasião. A rotina de atividade é inten-sa devido à adrenalina que sofrem por conta das ocor-rências que atendem – muitas vezes, quase de hora em hora – explica Simões, Subtenente de Assuntos Institucionais da Escola Superior de Bombeiros de Franco da Rocha, em São Paulo. Os profissionais dessa área confirman isso, associado ao alto grau de comprome-timento físico e mental du-rante a atividade operacional

faz com que a pessoa transfi-ra toda a sua energia vital em prol do bem estar do próximo. E, na menor possibilidade de erro, têm consciência de que vidas estão em risco, tanto do bombeiro quanto da vítima.

No decorrer dos anos, ob-serva-se uma grande e cons-

tante modificação nas ativida-des, na forma e na estrutura de trabalho, em razão dos avan-ços tecnológicos, dos novos paradigmas do trabalho e, re-centemente, da globalização, que veio para destruir barrei-ras de raça, cultura e comuni-cação, encurtando a distância entre os povos. Prova disso está na viatura ABTS, cujas inovações tecnológicas ofe-recem modelo de compar-timentação para a guarda e transporte de equipamentos para vários tipos de ocorrên-cias, incluindo uma bomba de alta pressão que aumenta a eficiência nos combates a incêndios, com capacidade de 4000 litros de água.

Ela é destinada ao combate de incêndios urbanos e flores-tais, e ocorrências diversas de busca e salvamento — incluin-do retirada de pessoas presas às ferragens de um veículo. Com o avanço tecnológico amplia a rapidez e a eficácia no salvamento de pessoas. Além disso, esse aparato rea-liza economia significativa de água utilizada para combater incêndios.

Bombeiros sofrem estresse no trabalhoANA PAULA MEDEIROS

A rotina é intensa devido à adrenalina conta das ocorrências que atendem

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12 DEZEMBRO 2015 • Matéria-Prima

Onde estão as brincadeiras de criança?

Velocidade no mundo contemporâneo afetou o modo

de brincar das crianças modernas

Matheus Godoy

“Brincadeira de criança, como é bom, como é bom. Guardo ainda na lembrança, como é bom, como é bom”. As brincadeiras infantis possuem, em sua essência, a finalidade de desenvolver a imaginação, a criatividade e a maturidade física e psicológica da criança, a fim de que ela adquira co-nhecimento de si mesma e do mundo. Há, po-rém, um grande problema na so-ciedade moderna.

A velocidade com que as pes-soas desempe-nham suas ativi-dades – em fun-ção da falta de tempo e espaço – tem impactado, de maneira muito acelerada, o modo de vida e as relações humanas, inclusive na infância. Hoje, as crianças interagem cada vez mais com as novas tecnologias e o resultado disso reflete dire-tamente no modo de brincar. Bonecas, bolas e as brinca-deiras de rua foram substituí-das por aparelhos modernos, jogos eletrônicos, ambientes virtuais e controles remotos.

Sabe-se que o uso das tecno-logias digitais é inevitável nos diversos ambientes, inclusive, escolares. Porém, é importan-te refletir até que ponto o uso dessas novas tecnologias pre-judica o contato das crianças com as brincadeiras lúdicas e apropriadas à faixa etária de-las. De acordo com a psico-

pedagoga Marissol Salema, da Escola Santo Agostinho e do Projeto Transformando Vidas, de Bragança Paulista, as no-vas tecnologias têm impedido muitas atividades recreativas das crianças, uma vez que elas não vivenciam mais as antigas brincadeiras e jogos. “Ao longo do tempo, as velhas práticas in-fantis vão se perdendo. Cabe a nós, educadores, oportunizar-mos essas práticas resgatando

as brincadeiras antigas e não considerando os novos recur-sos tecnológi-cos” concluiu.

A diminuição dos espaços pú-blicos é outro

agravante para os problemas da infância. Temor da violên-cia, crescimento urbano e au-mento do trânsito, inclusive nas cidades do interior, refor-çam o isolamento social das crianças e inibem as famosas brincadeiras infantis, outrora praticadas, majoritariamente,

Rolfe Kolbe - flicKR.com/photos/RolfeK/6885273501/in/photostReam/

nas ruas. Pular corda, pega-pe-ga, esconde-esconde, bolinhas de gude, pipa, mãe de rua, pula pauzinho, 5 Marias. A lista de brincadeiras deixadas para trás, em um curto período de tempo, é bem grande. Restam a nostalgia e as lembranças.

Para a pedagoga Vânia Vaz, educadora no Colégio Viven-do e Aprendendo, de Bragan-ça Paulista, as brincadeiras lúdicas não perduraram por falta de incentivo dos pais e também de professores dis-postos a seguir em frente com a cultura, passada de geração em geração. “A televisão e a internet também são grandes aliadas que influenciam na quebra do valor de brincar. Isso porque os pais são mui-to permissivos e transferem

o tempo que poderiam de-dicar às brincadeiras com os filhos, para deixá-los em con-tato com a TV e outros meios de comunicação”, finalizou.

Em Atibaia, as escolas Wal-dorf trabalham com uma rara pedagogia que utiliza os prin-cípios básicos da antroposofia no ensino infantil, segundo os quais a liberdade é a maior riqueza dos alunos, o ensino deve ser livre e munido de emoções e sensações, além do respeito com o amadure-cimento sadio das crianças. Nelas, a transmissão dos con-teúdos se dá de acordo com a fase de desenvolvimento em que o aluno se encontra, de modo que ele reconheça dentro de si as experiências para as quais está apto a viver. As crianças são estimuladas pela curiosidade e mantêm contato direto com brinque-dos lúdicos e brincadeiras que estimulam a imaginação.

Por fim, as brincadeiras e jo-gos oferecidos às crianças mo-dernas, inseridas em uma so-ciedade pautada pelo conceito 24/7, alertam para a necessi-dade urgente de se preservar os valores infantis e as antigas práticas daqueles que, hoje, crescidos, sentem saudade da boa e velha infância na rua.

Fato é que a pós-modernidade trouxe consigo o abalo das

certezas estabelecidas, a dessacralização da

autoridade

RepRodução