movimento estudantil dos anos 60

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O texto destaca, embora 1968 seja o marco de maior expressão do movimento estudantil, essa mobilização juvenil ocorrera desde o início da década de 1960, sendo 1968 apenas o ápice do movimento. Os estudantes, desde o golpe de 64 até 1968 com a edição do AI-5, foram a principal força de resistência em oposição e enfrentamento do governo militar. O autor ainda ressalta com muita ênfase que a expressão "movimento estudantil" só é adequado usá-la a partir da mobilização desse grupo nos anos 60, antes disso a expressão não é cabível, embora existisse uma organização de estudantes anterior a essa marco da década de 1960, mas sendo muito mais atrelado à uma elite estudantil. O autor coloca que esse movimento estudantil organizado na década de 60 é fruto de algumas mudanças ocorridas na década anterior, sendo elas: a abertura das universidades (públicas) para os setores médios da sociedade, proporcionando um enorme crescimento de matrículas nas universidades; e o surgimento de uma corrente política que serviu para introduzir o meio estudantil no campo da política, corrente política essa vinda de um movimento vinculado à Igreja Católica (JEC e JUC). A mudança do meio estudantil é decorrente do contexto histórico dos anos 1950: com forte crescimento das cidades e de sua população e das indústrias; com forte presença da classe operária enquanto atores políticos; com a militância católica internacional oferecendo uma 3ª via entre a esquerda e a direita; num momento em que o

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O texto contém algumas anotações referentes ao artigo "O movimento estudantil dos anos 1960" escrito por João Roberto Martins Filho, presente no livro As esquerdas no Brasil de organização de Jorge Ferreira e Daniel Aarão Reis Filho. O texto trás a trajetória histórica do movimento estudantil dentro da conjuntura dos anos 60 no Brasil, apresentando sua importância no que diz respeito a mobilização contra o governo do militares, destacando principalmente o ano de 1968.

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Page 1: Movimento Estudantil Dos Anos 60

O texto destaca, embora 1968 seja o marco de maior expressão do

movimento estudantil, essa mobilização juvenil ocorrera desde o início da

década de 1960, sendo 1968 apenas o ápice do movimento. Os estudantes,

desde o golpe de 64 até 1968 com a edição do AI-5, foram a principal força de

resistência em oposição e enfrentamento do governo militar. O autor ainda

ressalta com muita ênfase que a expressão "movimento estudantil" só é

adequado usá-la a partir da mobilização desse grupo nos anos 60, antes disso

a expressão não é cabível, embora existisse uma organização de estudantes

anterior a essa marco da década de 1960, mas sendo muito mais atrelado à

uma elite estudantil.

O autor coloca que esse movimento estudantil organizado na

década de 60 é fruto de algumas mudanças ocorridas na década anterior,

sendo elas: a abertura das universidades (públicas) para os setores médios da

sociedade, proporcionando um enorme crescimento de matrículas nas

universidades; e o surgimento de uma corrente política que serviu para

introduzir o meio estudantil no campo da política, corrente política essa vinda

de um movimento vinculado à Igreja Católica (JEC e JUC).

A mudança do meio estudantil é decorrente do contexto histórico dos

anos 1950: com forte crescimento das cidades e de sua população e das

indústrias; com forte presença da classe operária enquanto atores políticos;

com a militância católica internacional oferecendo uma 3ª via entre a esquerda

e a direita; num momento em que o nacionalismo ganha grande força em suas

mais variadas manifestações; momento de início de uma efervescência cultural

que se tornaria mais forte nos anos 1960, a partir da literatura, do cinema, do

teatro, da musica popular. Era um clima que emergiu os estudantes no

nacionalismo e na preocupação com os problemas nacionais.

De volta aos anos 60, temos a greve estudantil de 1962, que porém

acabou por ser um fracasso, levando o movimento a se dividir, tanto é que

quantidade expressiva de estudantes aderiram aos argumentos do

anticomunismo dos golpistas e foram a favor do golpe que derrubou Goulart.

Diante desse quadro de expressiva adesão estudantil ao golpe, os

militares pensaram que a UNE não causaria problemas, pois apenas se tratava

de eliminar a parte do meio universitário que era "subversiva" e "comunista"

para colocar o movimento estudantil no caminho certo, que se traduzia para os

Page 2: Movimento Estudantil Dos Anos 60

militares em afastar os estudantes da política para serem controlados, os

deixando isolados destas questões. Porém essa domesticação estudantil

pretendida pelos militares não ocorreu. Pelo contrário, as medidas tomadas

pelos militares na direção do poder contribuíram para que o meio estudantil

construísse uma imagem extremamente negativa desse governo, medidas

essas como: o incêndio do prédio da UNE, as perseguições políticas, a censura

às manifestações culturais, inquéritos policiais indiciando grande parte dos

estudantes, etc, criando uma imagem do novo regime como sendo um

retrocesso cultural.

Ainda em final de 1964 houve a pretensão de se extinguir a UNE, as

UEEs e os diretórios acadêmicos para substituí-los por uma nova estrutura de

representação universitária, que obviamente seria colocada sob as rédeas do

governo militar. Tal medida obteve reação da esquerda estudantil, que já

estavam se reorganizando, levando a unificação do movimento estudantil de

1965 com um propósito: defender a UNE como a entidade representativa que

dá voz aos estudantes. Essa reação pegou o governo Castelo Branco de

surpresa, tanto é que nem se preocuparam em proibir a existência da UNE

como entidade civil, medida essa tomada apenas em 1967 com a Lei Aragão

que decreta o fechamento da UNE, mas tal ação foi tomada tardiamente e o

meio estudantil já havia sido tomado pelas direções de esquerda.

Os grupos que constituíam o movimento estudantil eram: AP, que

tinha apoio informal de setores ligados à JUC; dissidentes do PCB, que se

desmembraram do partido após a crise do mesmo em decorrência de ter sido

culpado pela ineficácia de suas posições de revolução pacífica pela via

institucional, que teria levado ao fracasso a resistência diante do golpe civil-

militar da direita; além disso parte do grupo de estudantes foi constituído por

militantes da Polop, sendo esses grupos constituídos por dissidentes do PCB e

militantes da Polop reivindicantes do meio estudantil no que diz respeito a luta

por verbas e melhores condições de ensino, além de prepararem organizações

de luta armada; cabe destacar também a existência de estudantes que não

eram de esquerda, mas que eram contra a permanência dos militares no poder;

dissidências do PC do B também compunham o quadro estudantil da época.

Em 1966 o movimento estudantil entra em choque contra as políticas

do governo ditatorial militar, gerando constantes confrontos violentos entre

Page 3: Movimento Estudantil Dos Anos 60

estudantes e policiais. Diante desse quadro de violência do regime, o

movimento estudantil vai se posicionar contra tal violência ditatorial.

As medidas que o governo desejava tomar em relação à reforma

universitária (como a racionalização de custos e adaptação dos currículos às

necessidades da produção) foram repudiadas pelo setor estudantil,

fortalecendo mais ainda o movimento. Os estudantes também se posicionaram

fortemente contra o projeto militar de privatizar a universidade pública e

implantar o ensino pago. Além disso, em 1967 houve uma luta dos estudantes

em torno do direito dos estudantes excedentes, que foram impossibilitados de

se matricularem nas escolas devido à superlotação das mesmas.

O que se pode ver num panorama geral de 1968 é uma sucessão de

crises e enfrentamentos de estudantes (que contaram com apoio popular) e

policiais, confrontos esses que ocasionaram manifestações e que a mais

expressiva foi a Passeata dos Cem Mil, além é claro diante desse quadro de

violência do regime geral o discurso de 2 deputados da oposição, dando uma

justificativa para os militares da "linha-dura" recrudescerem mais ainda o

regime, tal como se dá com a edição do AI-5, que tem como uma das

consequências a desmobilização do movimento estudantil, em especial o

universitário da UNE, que já vinha sofrendo ações repressivas mesmo antes do

ato institucional (como no congresso da UNE no interior de São Paulo em

outubro de 68, que gerou o fichamento de grande parte das lideranças

estudantis, tornando-se processos que levaram a punição de muitos

estudantes no ano seguinte (1969) já sob vigência do AI-5).

Em determinado momento houve um esgotamento da luta estudantil

devido às constantes e violentas repressões policiais empregadas contra os

estudantes e a incapacidade dos mesmos em reagirem a tais atos repressivos.

Assim, nas palavras do autor, "o movimento estudantil de massas de 1968

declinou. A UNE só reapareceria em 1979".

O ano de 1968 foi o principal marco do movimento estudantil dos

anos 60, especialmente atuando como resistência ao regime militar instaurado

em 1964. Nesse mesmo ano (1968), em várias parte do mundo, a juventude se

mobilizou e foi às ruas manifestar seus pensamentos e suas reivindicações.

Page 4: Movimento Estudantil Dos Anos 60

Aqui no Brasil, após o golpe de 1964, o prédio da UNE foi incendiado pelos

golpistas, assim por essas e outras medidas que o governo militar tomou em

relação ao movimento estudantil, os estudantes viram no governo uma ameaça

à suas atividades e que deveria então ser derrubado. Com isso muitos foram

os choques entre policiais e estudantes, estes que foram violentamente

repreendidos nos anos que se seguiram pós-64. Em março de 1968, a ação

policial contra estudantes provocou a morte de um estudante (Edson Luis

Souto), gerando forte mobilização do meio estudantil e de vários outros setores

da sociedade em protesto às ações violentas da ditadura. Em Junho ocorre

uma nova crise, gerando fortes manifestações de rua de estudantes e

populares no Rio de Janeiro em luta pela libertação de estudantes presos. No

dia 20 deste mesmo mês outra crise entraria em cena, quando na saída de

uma assembléia estudantil realizada na Universidade do Brasil vários

universitários foram presos pela polícia. Essa ação gerou no dia seguinte um

movimento de protesto de estudantes e populares que novamente foram

repreendidos e alguns mortos pelas ações da polícia. A onde de violência

policial do regime despertou protestos em várias localidades do país, e

desembocou no Rio de Janeiro a maior manifestação denominada de Passeata

dos Cem Mil, que contou com amplo apoio da sociedade. Em fins de agosto, a

operação realizada pela polícia na Universidade de Brasília para realizar novas

prisões a lideres estudantis, gerou um discurso de 2 deputados da oposição ao

governo, criticando o regime e suas atitudes e ações repressoras, discurso

esse que serviu de justificativa para a “linha-dura” dos militares recrudescer

mais ainda o regime, colocando em vigência o AI-5, que desmobilizou o

movimento estudantil, em especial da UNE (que já atuava quase em condições

de clandestinidade), este que voltaria a ativa somente em 1979 enquanto um

movimento organizado.