movimento contra pf une centrão, pt, bolsonaro e ... · sobre a então presidente dilma, que...

6
Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: Não Especificado - Assunto: Política - Página: A4 - Publicação: 03/05/20 URL Original: Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro e integrantes do Judiciário Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro e integrantes do Judiciário Fortalecimento da Polícia Federal não é bem visto por alvos de apurações e por aqueles que enxergam excessos em operações 3.mai.2020 à 0h00 Camila Mattoso Ranier Bragon BRASÍLIA Apesar da bombástica saída de Sergio Moro do governo , com graves acusações contra Jair Bolsonaro (sem partido), antagonistas políticos e setores do Judiciário estão unidos nos bastidores em uma espécie de frente contra a Polícia Federal, da qual também faz parte o presidente. Em comum, esses atores acumulam críticas à atuação do órgão desde o início da Lava Jato, em 2014 , quando se intensificaram as operações de combate à corrupção que devastaram o mundo político. Fazem parte do bloco investigados e seus aliados, que tentam de alguma forma frear inquéritos, e autoridades que, não necessariamente implicadas nas investigações, argumentam que há excessos, apurações mal feitas e baseadas apenas na palavra de delatores —que seriam obrigados a carregar nas tintas para salvar a própria pele. Tudo isso causando grave instabilidade política no país.

Upload: others

Post on 14-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro e ... · sobre a então presidente Dilma, que acabou sofrendo impeachment em 2016. Cardozo discorda da avaliação de Lula sobre a

SemOpção

Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: Não Especificado - Assunto:Política - Página: A4 - Publicação: 03/05/20URL Original:

Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro eintegrantes do JudiciárioMovimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro eintegrantes do JudiciárioFortalecimento da Polícia Federal não é bem visto por alvos de apurações epor aqueles que enxergam excessos em operações3.mai.2020 à 0h00

Camila MattosoRanier BragonBRASÍLIAApesar da bombástica saída de Sergio Moro do governo, com graves acusações contra Jair Bolsonaro (sem partido), antagonistaspolíticos e setores do Judiciário estão unidos nos bastidores em uma espécie de frente contra a Polícia Federal, da qual tambémfaz parte o presidente.Em comum, esses atores acumulam críticas à atuação do órgão desde o início da Lava Jato, em 2014, quando se intensificaramas operações de combate à corrupção que devastaram o mundo político.Fazem parte do bloco investigados e seus aliados, que tentam de alguma forma frear inquéritos, e autoridades que, nãonecessariamente implicadas nas investigações, argumentam que há excessos, apurações mal feitas e baseadas apenas napalavra de delatores —que seriam obrigados a carregar nas tintas para salvar a própria pele. Tudo isso causando graveinstabilidade política no país.

Page 2: Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro e ... · sobre a então presidente Dilma, que acabou sofrendo impeachment em 2016. Cardozo discorda da avaliação de Lula sobre a

PF faz buscas no gabinete do senador Fernando Bezerra - Pedro Ladeira - 19.set.19/FolhapressEsse grupo heterogêneo, que comunga da mesma análise apesar de muitos não conversarem entre si, é composto também porintegrantes do Poder Judiciário.Moro pediu demissão após dizer que Bolsonaro teria lhe pedido a troca do diretor-geral da PF para ter acesso a dados deinteligência e interferir politicamente no órgão, com provável interesse pessoal.As declarações foram acompanhadas da decisão de Bolsonaro de colocar no comando da PF um amigo da família, AlexandreRamagem. A nomeação, porém, acabou sendo suspensa por decisão liminar do ministro Alexandre Moraes, do STF (Supremo TribunalFederal).Toda essa movimentação do Palácio do Planalto, que surpreendeu e chocou parte da sociedade nos últimos dias, não foisuficiente para mover de forma relevante as peças no tabuleiro político.Este é Alexandre de Moraes, do MP ao STF

Page 3: Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro e ... · sobre a então presidente Dilma, que acabou sofrendo impeachment em 2016. Cardozo discorda da avaliação de Lula sobre a

O advogado, jurista e ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes é paulistano e nasceu em 13 de dezembro de 1968. Se tornouo 168º e mais recente ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) em 22 de março de 2017, nomeado pelo então presidenteMichel Temer. Moraes assumiu a cadeira deixada por Teori Zavascki, que morreu em um acidente de avião em janeiro domesmo ano Pedro Ladeira - 22.mar.2017/Folhapress Donos de cerca de duas centenas de votos na Câmara dos Deputados, partidos do centrão saíram em defesa de Bolsonaro, nãosó pelos cargos que negociam no governo.Eles não tratam do assunto publicamente, por ser tema caro ao eleitorado, mas nutrem há muito tempo fortes críticas aotrabalho da PF.Arthur Lira (AL), Eduardo da Fonte (PE) e Aguinaldo Ribeiro (PB), todos do PP, por exemplo, viraram réus em decorrência deinquérito da Lava Jato, na investigação do chamado quadrilhão.Caciques das outras legendas do grupo também foram e são alvos da polícia.É o caso, por exemplo, do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), que sofreu busca e apreensão no fim do anopassado—seu filho também foi alvo. Eles são investigados sob suspeita de desvios de dinheiro de obras públicas no sertãonordestino.Principal partido de oposição ao governo, o PT tem adotado uma postura de inércia. Além das diversas investigações, prisões eindiciamentos de que o partido foi alvo nos últimos anos, dirigentes e integrantes da legenda se recusam a estar ao mesmo ladode Moro, autor da sentença, confirmada em segunda instância, que condenou e levou à prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lulada Silva (PT).Tanto é que o próprio ex-presidente deu declarações públicas criticando a decisão de Alexandre de Moraes de suspender anomeação do novo comandante da PF.1 11O ex-presidente Lula após sair da prisão

Page 4: Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro e ... · sobre a então presidente Dilma, que acabou sofrendo impeachment em 2016. Cardozo discorda da avaliação de Lula sobre a

???????O ex-presidente Lula discursa durante evento do 40º aniversário do PT, no Rio Daniel Ramalho - 8.fev.20/AFP “O presidente da República tem mais autoridade para indicar o delegado do que o ministro, afinal de contas foi o presidente daRepública que foi eleito. O que é importante é tratar a instituição de forma republicana, ou seja, não é um instrumento dopresidente da República [...] Um dia você pode ser presidente e você pode querer indicar uma pessoa que você conheça paraum cargo e alguém vai dizer que não pode indicar”, afirmou Lula, que em 2016 viu barrada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF,sua ida para a Casa Civil de Dilma Rousseff.À época, Gilmar Mendes disse ter visto elementos de que a nomeação havia sido feita para evitar uma iminente prisão dopetista pela Lava Jato. Mais tarde, conversas de Lula gravadas pela PF e reveladas pela Folha colocaram em xeque essa tese.Apesar da referência pública feita por Moro de que a PF não sofreu interferência nas gestões petistas, o ex-ministro José EduardoCardozo (Justiça), do PT, diz que sofreu pressões de correligionários para tentar interferir quando a Lava Jato elevava a pressãosobre a então presidente Dilma, que acabou sofrendo impeachment em 2016.Cardozo discorda da avaliação de Lula sobre a decisão de Moraes. Segundo o ex-ministro, há no caso vários indícios de desviode poder por parte de Bolsonaro, que chegou a confirmar em entrevista coletiva o desejo de direcionar investigações baseadasem interesses particulares, o que, para Cardozo, torna “rigorosamente legal” a liminar concedida pelo ministro. Apesar de a nomeação de Ramagem ter sido barrada, políticos de vários partidos não abandonaram a tentativa de pressionarpela escolha de dirigentes da PF mais alinhados aos políticos.No Norte, por exemplo, políticos tentaram ao longo do último semestre de 2019 diversas estratégias e caminhos para paralisarinvestigações que têm garimpeiros e grandes madeireiras na mira.Um procedimento interno chegou a ser aberto para apuração da conduta de delegados, por supostos abusos, nuncacomprovados.“Você vai pagar. Eu vou para cima de você. Tenho medo de você, não. Você disse aos madeireiros que ia me pegar. Você pegaladrão e vagabundo. Vamos para cima. Vamos lutar”, disse o senador Telmário Mota (RR), líder do Pros, em vídeo gravadomandando recado para o superintendente da PF do Amazonas, Alexandre Saraiva, em outubro do ano passado.4 20

Page 5: Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro e ... · sobre a então presidente Dilma, que acabou sofrendo impeachment em 2016. Cardozo discorda da avaliação de Lula sobre a

Veja a trajetória do ex-juiz Moro no ministério da Justiça em 20 fotos

O ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) fala em painel no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça FabriceCoffrini/AFPAo mesmo tempo, nunca antes no país o Judiciário também esteve tão exposto a ações da polícia.As delações do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) e do ex-ministro Antônio Palocci colocam magistrados sobos olhares de delegados.O emedebista traz em sua colaboração ministros do STJ, ministros do TCU, desembargadores e advogados renomados do país.Apesar de o ministro Edson Fachin, do STF, ter homologado a delação, os inquéritos ainda não foram distribuídos e, portanto,ainda não estão em andamento.Cabral fez ministros do Supremo e do STJ se unirem para, de novo, colocar em discussão o poder da PF para realizar colaboraçãopremiada.O tema já havia sido apreciado anteriormente, com decisão favorável à PF.Há ainda outra operação que toma as atenções do mundo jurídico.Deflagrada no final de 2019, a operação Faroeste tenta desarticular um possível esquema criminoso voltado à venda dedecisões judiciais, por juízes e desembargadores. A investigação começou na Bahia, com prisões e buscas de diversos alvos.GRUPO ANTIPFDeputados do centrãoParlamentares do PP, MDB e outras siglas do centrão defendem Bolsonaro no embate com a PF por estarem negociando cargosno governo e por serem alvos de investigaçõesPolíticos do PTAlvos das principais operações da Lava Jato, petistas também reclamam da PF e evitam estar ao lado de Moro, algoz de LulaMembros do JudiciárioTentaram minar poder da PF de realizar delação após se tornarem alvos de colaborações, como a de Sérgio Cabral, quemenciona ministros do STJ e desembargadores

Page 6: Movimento contra PF une centrão, PT, Bolsonaro e ... · sobre a então presidente Dilma, que acabou sofrendo impeachment em 2016. Cardozo discorda da avaliação de Lula sobre a