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CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS FRENTE AS NECESSIDADES DO SÉCULO XXI Por Rosa M. Prista MOTRICIDADE HUMANA NO RIO DE JANEIRO 01/03/2017 Amigo, filósofo, mestre de todos nós!

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CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS FRENTE AS NECESSIDADES DO SÉCULO XXI

Por Rosa M. Prista

MOTRICIDADE HUMANA NO RIO DE JANEIRO

01/03/2017 Amigo, filósofo, mestre de todos nós!

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Fichas de catalogação

Centro de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares em Educação, Saúde e Esporte. (CEPTESE)

Mantenedores: CEC - Centro de Estudos da Criança Escola de Formação de Psicomotricistas Sistêmicos - Setor de Pós-Graduação

Editor: Dra. Rosa M. Prista Ph. D. Psicologia e Qualidade de Vida

orcid.org/ 0000-0003-2784.2817 [email protected]

Revisão: Tatiane Santos

Credito Edição- Wilson C. Monteiro

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Palavras da AMOHURJ - Associação de

Motricidade Humana do Estado do Rio de

Janeiro

Felismar Manoel*

Falar de Manuel Sérgio é falar da Motricidade Humana em minha vida pessoal e

profissional. Trago em minha verve pessoal o traço dos índios purys, naturalmente pela minha educação de base junto a esses

parentes em minha infância e adolescência; minha primeira formação acadêmica foi na área da Filosofia, onde fiz meu bacharelado

antes de cursar Teologia, já que busquei a vida de missionário cristão católico; tive portanto, duas fontes de vida observacional,

introspectiva, considerando-me participante do cenário, como parte da natureza, em uma verdadeira constelação positiva e atuante,

como uma gestalt. Muito cedo essa posição levou-me a buscar um melhor agiornamento para minhas funções

missionárias, o que me levou de volta a vida universitária, em busca de qualificação e habilitação como terapeuta, no afã de ser

mais útil no meu hethos de convivência. Procurei respostas científicas para os meus estudos iniciais em filosofia, quando tive como área de

concentração o comportamento humano, com ênfase nas disciplinas de Antropologia e Psicologia, bem como Teologia pastoral e

litúrgica. Que pulsão intelectual ou volição ôntica nos leva a construir uma práxis no mundo, em

forma de culturas, transformando a natureza, a sociedade e nos transformando diante dela, quando a internalizamos como atributo cultural

e social? Que ciência dá conta desse olhar diante da vida humana? Os modelos que eu encontrava no mundo acadêmico eram

fragmentados, não focava o ser humano nessa inteireza dimensional, deixando-me insatisfeito, inquieto, em abertura a outros paradigmas.

A antropologia filosófica de B. Mondin, de grande apreço para mim, me convencia não poder focar os humanos como seres de

clausura, mas ao contrário, como seres de aberturas relacionais em quatro direções, para si mesmo, para os outros, para o mundo e para

a transcendência, e era nesse viés que pretendia construir as minhas abordagens terapêuticas. Conclui o bacharelado de

Fisioterapia, convencido das possibilidades de executar um trabalho distanciado da visão

organicista da medicina dominante, focando o ser humano em suas complexidades, de um modo mais humano, humanizado e

humanizante. Complementei meus estudos com especialização pedagógica, me aproximei da graduação e das terapias psicomotoras, na

busca de melhor me tornar disponível como um ser terapêutico; reconheço com gratidão o importante papel desempenhado pela Profª.

Selma Magalhães, no IBMR, com a qual comecei a ser “ terapeutizado”, vencendo bloqueios corporais, pondo a mente e o

psiquismo em ordem, e emocionalmente equilibrado e disponível para assumir a condição de terapeuta psicomotor. Mas como

fazer? Que linha terapêutica escolher para a minha formação? A Profª. Selma foi de grande ajuda, pois me apresentou os diferentes

teóricos e suas obras de referências. Foi aí que conheci o nome do Prof. Dr. Manuel Sérgio da Vieira Cunha e sua tese doutoral; debrucei-me

sobre os textos “Por uma Epistemologia da Motricidade Humana” de Manuel Sérgio e sobre o texto “Hacia una Ciencia de la

Motricidade Humana” de Jean Le Boulch; fiquei convencido do arcabouço científico que ali se delineava, mas e agora, como fazer?

Quem está trabalhando nessa linha de conduta, terapeuticamente? Foi quando surgiu o nome da Profª Rosa Maria Prista Duarte, do

CEC no Méier, que acabei encontrando no quadro docente de uma Faculdade Fluminense onde eu também lecionava, tendo aí iniciado a

minha formação psicomotora, sob o viés da Psicomotricidade Sistêmica dirigida pela Profª Rosa Prista e também a minha busca pela

formação em Psicanálise Clínica, tal a presença das questões do inconciente na esfera terapêutica.

Gostei tanto dessa abordagem que, mesmo tendo já um doutorado livre de Ciência da Religião, mais precisamente em Filosofia da

Religião, me dispus a fazer o Mestrado em Ciência da Motricidade Humana, conforme a delineou o Prof. Dr Manuel Sérgio; mas onde

fazer? Ir a Portugal me era muito difícil e oneroso; fazer uma linha de pesquisa existente em Campinas, São Paulo, também eu não teria

condições; quando então surgiu a oportunidade na Universidade Castelo Branco, onde me matriculei, cursei e me titulei como

Mestre, defendendo uma dissertação sobre “A Questão Relacional em Terapia Física sob o Enfoque da Ecologia do Desenvolvimento

Humano de U. Bromfrenbrener”.

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Encontro pleno respaldo teórico para a minha prática científica como psicomotricista,

observando o paradigma científico proposto por Manuel Sérgio, pois foco o meu cliente/paciente como sujeito e objeto

terapêutico simultaneamente, a partir do seu movimento volitivo, pleno de intencionalidades operantes, envolvendo todas as

potencialidades suas enquanto ser, que se transformam em praxias operacionais emergentes, transcendentes, modificadoras dos

cenários socioculturais habitados e compartilhados, assimiláveis e assimiladas, internalizando-as e também se transformando,

por imergências corporais duradouras, em prol da vivência, na realização de uma experiência de melhor percepção de vida e

bem estar. Dificilmente eu realizaria isso, sem a significativa fundamentação do Prof. Manuel Sérgio, da Ciência da Motricidade Humana.

Foi como terapeuta psicomotor, um ser humano em movimento, que naturalmente me aproximei de outros seres em movimento,

graças ao trabalho da Profª Drª Rosa Prista e sua equipe no CEC, no Méier, Rio de Janeiro, surgindo então a parceria, no labor e no ideal,

com a organização de nossa tão cara AMOHURJ, que tem sido o nosso verdadeiro “canteiro de semeaduras” para levar avante

as reflexões epistemológicas, na sustentação de nosso fazer fazendo, desabrochante, emergente de novas praxias, plenas de

sentidos, construtoras de vida, bem estar e realizações. Como dizia quase sempre em suas prédicas, um outro ser em movimento, Francisco

Cândido Xavier, o parafraseando, eu ouso afirmar aqui, “somos devedores” desta ciência da motricidade humana e de seu principal

articulador, o Prof. Dr. Manuel Sérgio da Vieira Cunha.

*Felismar Manoel, conselheiro presidente da AMOHURJ ,

professor da UnigranRIO, psicomotricista sistêmico. Professor

da pós graduação e formação Psicomotricidade sistêmica

CEC-RJ.

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

A Motricidade Humana é a base para toda e qualquer

ciência que volta-se ao desenvolvimento humano. Sua

fundamentação epistemológica mostra a grandeza de

seus princípios. Em minha história de vida a Motricidade

Humana foi o elo encontrado para retornar a minha

unidade interna e constituir a unidade do processo de

circulação de conhecimento com amigos, filhos, clientes,

alunos..

Rosa M. Prista*

Palavras do CEPTESE - Centro de Estudos e

Pesquisas Transdisciplinares em Educação,

Saúde e Esporte.

A tese de Manuel Sérgio defende não só a existência da

motricidade humana, que integra, no meu entender, o

desporto, a dança, a ergometria, a reabilitação, etc e oferece

fundamento para muitas áreas do conhecimento além da

Educação Física.

Sidirley de Jesus Barreto( 1991)

Escrever sobre a Motricidade Humana

significa escrever minha história pessoal e

profissional a partir dos anos 80 quando um

grande amigo citou o nome de Manuel Sérgio

e me disse: - Se você conhecer Manuel Sérgio

suas inquietações irão diminuir. Este professor,

irmão e grande amigo, Sidirley de Jesus

Barreto comentava sobre um filósofo que

pensava de forma diferente e que tinha ideias

próximas ao que acreditávamos. Este grande

companheiro faleceu em agosto de 2016

deixando um grande legado e por isto eu

inicio estas palavras com suas palavras.

Como nunca deixei de ouvir propostas,

pesquisei, busquei ideias e comecei a buscar

sobre a temática e logo depois estive com o

grande professor na cidade de Lisboa, quando

de forma rápida me autorizei a lhe

encaminhar uma carta solicitando este

encontro. E com a humildade que é

característica Manuel Sérgio me convidou para

o I Congresso Internacional de Motricidade

Humana. Neste encontro ofereci um de meus

livros: " Superdotados e Psicomotricidade. Um

resgate a unidade do Ser”, livro elogiado e

ampliado nas demais edições seguindo as

orientações do próprio Manuel Sérgio. A partir

deste momento minha vida não se separou

mais deste professor. Em cada aula, em cada

projeto, em cada curso criado suas palavras

ecoavam. Foi meu professor de banca de

doutorado e meu orientador temático. Grandes

momentos, muitas emoções e o orgulho de ter

tido a oportunidade de sua presença em minha

vida profissional. Sua forma de ver o mundo,

reinventando formas, cores e texturas

encantavam a quem o ouvia e lamentei ter

recusado o seu convite em três momentos para

trabalhar em Portugal, terra de meus avós. A

vontade era imensa, mas eu era mãe de dois

pequenos e senti que naquele momento eu não

devia retirá-los de seus ambientes relacionais.

A instituição que dirijo - CEC, Centro de

Estudos da Criança, teve fortemente sua

influência em seus programas de superdotados,

deficiência mental, programas de

aprendizagem e atualmente no processo de

aprendizagem de autistas. Nossa! Passou muito

tempo, mas um tempo produtivo rico de ideias

me fez ter força para continuar, afinal, a área

que escolhi - educação e saúde são campos

minados pelo cartesianismo que por muito

tempo bloquearam as idéias inovadoras de

totalidade, de elaboração e finalmente de (re)

construção.

Vivi demissões, exclusões em instituições

universitárias por acreditar que "não educo

físicos, mas Homens". Esta expressão típica de

Manuel Sérgio sempre ecoava quando eu

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

pensava em desistir de alguns projetos tal a

força de oposição que enfrentava. Sempre

estive antenada com a ética e com a

seriedade do meu "fazer acadêmico" e sempre

acreditei que a tarefa de educar implicava em

mergulhar o discente em seu próprio processo

de autoconhecimento para poder construir o

fazer com o outro. Sempre acreditei que o

discente mais do que informação precisava

aprender a ser, aprender a aprender, usando

com intensidade sua capacidade de

pensamento divergente, criativo, analítico

esintético. Mas, além de si, existe o outro, então

aprender a conviver, a trocar, a compartilhar é

tarefa de um "Homem que transcende". Como

meus amigos costumam dizer: “Você é amada

e odiada!" Sim, amada por aqueles que viram

em meus atos uma forma amorosa de ensinar a

serem autônomos e produtivos. Sim, odiada por

aqueles que presos a uma forma confortável

de estar no mundo detestavam todas as

provocações verbais e não verbais que os

estimulava a ver horizontes nunca navegados.

Manuel Sérgio foi um grande provocador

de minhas estruturas internas e de todos os que

estiveram próximos de mim: discentes, clientes,

colegas de profissão, famílias...e em 2017

quando vamos estar presentes em um evento

internacional em sua homenagem, não

poderíamos deixar de registrar neste e-book

a grandiosidade de sua existência.

E como Jung nos ensinou, nada acontece

por acaso. Estivemos juntos quando minha

instituição fez dez anos de existência e sua

pessoa em meu país marcou a diferença.

Manuel Sérgio sempre esteve presente, nunca

rejeitava os convites de nossa equipe e mesmo

em condições simples adorava a convivência

com os cariocas. Da feijoada da Dona "Yara"

até os saraus poéticos criados pelo Grupo

"Poesia em Movimento" em sua homenagem,

sempre tínhamos algo a aprender e a

agradecer.

Sua presença em nossas vidas foi

paradigmática. Romper com uma pessoa que

trabalhava com movimentos e criar uma pessoa

em movimento, tanto profissionalmente como a

nível pessoal foi a grande questão... Buscar

coerência entre o que dizemos, fazemos e

construímos... Manuel tornou-se um amigo

inestimável e nossa amizade está registrada

em 60 cartas que estão carinhosamente

guardadas numa pasta em minha casa. Ali

posso agradecer a este Homem as dicas, as

oportunidades e fundamentalmente a

construção de um trabalho inovador que o CEC

– Centro de Estudos da Criança veio

realizando. Quando eu escrevia este texto a

publicação de mais um trabalho muda a

direção paradigmática dos estudos com

autistas. No artigo: “Autismo sob novas

configurações" publicado pela editora Mythos

propõe a mudança estratégica do olhar

simplista para um olhar contextualizado.

Manuel Sérgio participou de muitos eventos

no Rio de Janeiro. O primeiro em 1993

quando o CEC fez 10 anos de fundação. No

evento: “Motricidade Humana. A Revolução

Cientifica" que ocorreu na UERJ - Universidade

do Estado do Rio de Janeiro ele afirmou que

naquele momento ele via no CEC - Centro de

Estudos da Criança a motricidade em ação!

Dali pra frente de ano em ano organizamos

eventos com ele e com pessoas da Rede

Internacional de Pesquisadores em Motricidade

Humana. Manuel Sérgio esteve na UNI-RIO, na

Universidade Celso Lisboa, Universidade do

Estado do Rio de Janeiro, PUC – Rio, Centro de

Estudos da Criança, Vila Olímpica da Maré,

Universidade Castelo Branco onde

implantamos um núcleo de pesquisas tendo a

sua presença via conferência on line na

inauguração do CEPTESE - Centro de Estudos e

Pesquisas Transdisciplinares em educação,

Saúde e Esporte. Cabe marcar a fala de uma

das responsáveis da Reitoria: “Nunca assisti

alunos estudando sem comando. O CEPTESE

reúne discentes fora do horário de aula em um

movimento transformador. Os alunos estão

finalmente pensando como pesquisadores do

século XXI." Em dezembro de 2016 o Centro

de Pesquisas foi encerrado sem nenhuma

notificação oficial. Retornamos com o CEPTESE

para sua sede original que era no CEC -

Centro de Estudos da Criança, local que

Manuel Sérgio já considerava uma comunidade

científica nos anos 90. Eu sempre acreditei que

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

pesquisa deveria ser feito na Universidade e

por isto levei todo o nosso acervo para a

universidade que trabalhava. Foi um grande

engano, pois a ciência está onde existem

pessoas éticas, comprometidas e com vontade

de transcender.

Organizamos um curso de formação nos

anos 90 em Motricidade Humana onde um

grupo iniciante participou durante um fim de

semana. Os professores Sidirley de Jesus

Barreto e Gustavo Guerra estiveram presentes.

Hoje Manuel Sérgio é conhecido em todas

as instituições que trabalhamos, é alvo de

estudos na Educação, na Fisioterapia, na

Psicologia, na Psicomotricidade pois cremos na

responsabilidade de uma pessoa que

transcendeu e não teve medo de agir. Os

frutos desta bela amizade e respeito

profissional estão nas inúmeras pessoas que

hoje também estudam Motricidade Humana e

que fazem diferença em sua ação.

Em 2017 minha instituição faz trinta e cinco

anos de existência e a comemoração será em

sua presença e de alunos que se colocaram em

movimento na busca por sua transcendência e

daqueles a quem se responsabilizaram por

cuidar.

O Colóquio Internacional Professor Manuel

Sérgio: Obra e Pensamento (CIPMS) , iniciativa

da Cátedra Convidada FCT Infante Dom

Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e

a Globalização (CIDH – UAb/CLEPUL-FLUL),

do Instituto Português do Desporto e Juventude

(IPDJ), do Centro de Literaturas e Culturas

Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras

da Universidade de Lisboa (CLEPUL-FLUL), e

do Instituto Europeu de Ciências da Cultura

Padre Manuel Antunes (IECCPMA), em parceria

com a Câmara Municipal de Lisboa (CML), a

Faculdade de Motricidade Humana (FMH-UL),

o Sporting Clube de Portugal (SCP), o Clube

de Futebol Os Belenenses (CFB), os quais quero

agradecer inclusive pela inclusão do CEPTESE -

Centro de Estudos e Pesquisas

Transdisciplinares que na maioridade do CEC -

Centro de Estudos da Criança assume o que

Manuel Sérgio há vinte e cinco anos atrás

visualizou mas que não fomos revolucionários o

suficiente para impor e assumir em nossas

práticas educacionais e de saúde as

evidências científicas que estavam germinando.

Em 2017, o CEC - Centro de Estudos da

Criança assume sua produção científica

independente da Universidade, fato que no

Brasil perdeu o seu sentido de formação

humana. De forma livre, cuidadosa, ética e

empreendedora assume quatro linhas de

pesquisas e inaugura uma Revista Internacional

- a TRISKEL, onde o professor Manuel Sérgio

autorizou a publicação de seus textos. A

referida revista tem como objetivo máximo a

discussão das pesquisas em Motricidade

Humana e em Psicomotricidade. No Brasil a

Psicomotricidade Sistêmica é a única

metodologia que rediscute conceitualmente e

em suas bases o cartesianismo existente em

unir o que já é completo nas diversas

dimensões - o Homem. “Mesmo sendo

epistemologicamente redundante a

terminologia” Psico" "motricidade" e

"sistêmica", ainda é preciso dar um nome

naquilo que pode ser contemplado como

Motricidade Humana para que ao ganhar

espaços sociais possamos ampliar os estudos

que permitam a diminuição na procura de

metodologias para uma verdadeira revolução

paradigmática - Considerar o Homem um ser

axiotrópico e proporcionar espaços e

mediações em educação e saúde que nutram

esta riqueza que lentamente vem sendo

empobrecida por práticas condicionantes e

produtivas na dimensão do Ter.

* Gestora Científica do CEC - Centro de Estudos da Criança, conselheira presidente do CEPTESE - Centro de Estudos e Pesquisas

Transdisciplinares em Educação, Saúde e Esporte. Diretora Científica CEC/RJ

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Primeiro congresso em Almada/Portugal - Dra Rosa Prista e Dr. Manuel Sérgio .

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

MANUEL SÉRGIO: UM HOMEM EM MOVIMENTO

Rosa M. Prista*

Vivo um corpo de mudança Mas sou eu

O centro e a periferia de mim mesmo

Deus o invisível evidente me valha Se me enraízo na certeza

De que não vale a pena ser poroso A tudo o que me dizem e me sufocam

Premeditadamente

É que as palavras dos outros (quase todos) Fazem-me equimoses

Que não são músculos

Do corpo renascido Porque são

O crescimento temporal e limitado Da mudez das asas do meu sonho alado...

Manuel Sérgio (2004)

Mergulho em meu mundo interior e visualizo

a trajetória de vida nestes anos de convivência

e como fui me apropriando de um campo de

conhecimento que seria decisivo em minha

trajetória profissional. Há um furacão dentro

de mim pois Manuel Sérgio a partir de 1990

foi uma pessoa que acompanhou o meu

próprio processo de amadurecimento

profissional. Não há um dia sequer que a

construção cientifica de Manuel Sérgio não

fosse utilizada em minhas reflexões, pelas

metodologias criadas em minha instituição ou

nas aulas que ministrei. Sua obra é intensa,

profunda, riquíssima em autores que de forma

inteligente se sintetizam em novas

configurações.

Vou à estante de minha biblioteca

particular e uma prateleira denominada Motri-

cidade Humana é o meu alvo. Uma pasta azul

* Rosa M. Prista, neuropsicóloga, psicóloga escolar,

psicopedagoga, CRP 05/7610, Mestre em Psicologia Escolar,

Doutora em Psicologia e Qualidade de Vida. Autora de oito

obras científicas e quatro poéticas. Dirige o Centro de Estudos

da Criança onde a motricidade humana se estabeleceu

constituindo o CEPTESE - Centro de Estudos e Pesquisas

Transdisciplinares em Educação, Saúde e Esporte e os

Programas de Desenvolvimento desenvolvidos a partir do eixo

epistemológico da CMH.

bem antiga é aberta e um maço de cartas

assinadas por este grande homem é

visualizada. São as correspondências que

troquei com Manuel Sérgio ao longo de vinte e

quatro anos repleto de poesias, de anseios e

de conhecimento científico.

Este artigo vai acompanhar a trajetória

destas cartas que falam do Homem, do

profissional e falam do desenvolvimento do

campo da Motricidade Humana e o grande

anseio de Manuel Sérgio na constituição da

Sociedade Internacional de Motricidade

Humana.

Em 1990 foi o primeiro encontro com

Manuel Sérgio na cidade de Lisboa. O

encontro foi organizado a partir da

intervenção do professor Sidirley de Jesus

Barreto, amigo, irmão de ideias e práticas

psicomotoras.

Em nossas conversas dizia que eu deveria

dialogar com a Psicologia e a Motricidade

Humana:

A tese de Manuel Sérgio defende não só a existência da motricidade humana, que integra, no meu entender, o desporto, a dança, a ergometria, a reabilitação, etc.

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

como fundamentou a criação da Faculdade de Motricidade Humana. Sua tese oferece fundamento para muitas áreas do conhecimento além da Educação Física. (1986) *

A constatação de que o diálogo entre os campos científicos era necessário foi fundamental para mim, pois estava inquieta

em meu trabalho sentindo que algo faltava em meu embasamento teórico. Tinha uma prática com ótimos resultados, mas eu queria

compreender com mais profundidade as raízes do desenvolvimento humano. Conhecê-lo foi inevitável. A sincronicidade nos projetos de

vida aconteceu e a vivência do arquétipo do mestre-aprendiz se estabeleceu em nosso primeiro encontro. Tinha recebido de suas mãos

o livro: “Para uma Epistemologia da Motricidade Humana”, sua tese doutoral. Decidi que aproveitaria a viagem de Portugal

para a Holanda para ler sua obra. Fico decepcionada...comigo! Fecho o livro e percebo o que falta. Apesar de ter estudado

em Escola Normal tradicional do Rio de Janeiro onde a Filosofia fazia parte de nossos estudos eu me senti iniciante neste aspecto. Em

algum momento de minha formação pessoal e escolar a Filosofia se perdeu no cotidiano mas não em meu interior. O encontro com Manuel

Sérgio, sua forma de estar no mundo, sua vivacidade e encantamento reacendeu a Filosofia em mim.

Só se vive uma vez

Mas (a alma cheia de cicatrizes) Somos sempre

Banais aprendizes Na arte de viver

Quem menos sabe

Mas julga saber Manuel Sérgio (2003)

Esta alegria de estar vivo, de estar com as

pessoas, de estar de um lado a outro do mundo oferecendo outra forma de vivenciar a vida foi contagiante. Muitas das vezes nossas

escolhas nos empobrecem em nossos sonhos, na correria cotidiana perdemos nossas metas. A viagem com rápida estadia em Lisboa

aconteceu quando me dirigia a Amsterdã para o Congresso Internacional de pessoas superdotadas. O contato com este filósofo

mudou todo o meu percurso de vida. Tive o prazer de ser premiada pela Fundação Mensa com o trabalho de maior criatividade no tema

superdotados e tinha a intenção, a alegria e a

energia de retornar a Lisboa para continuar trocando com Manuel Sérgio. No cotidiano universitário muitas das vezes somos

desestimulados a criar e eu estava tendo a oportunidade de vivenciar duas experiências muito significativas para mim. Estar com

Manuel Sérgio e ver sua criatividade e a premiação pela minha criatividade. Para uma jovem rebelde, era a certeza do caminho que

estava trilhando. Sabia praticar o resgate de crianças, adolescentes e adultos em diversas modalidades do fenômeno saúde-doença, mas

não era suficiente. A carência detectada me fez optar por não reencontrar Manuel Sérgio durante um tempo para que pudesse

equiparar informações filosóficas. Desta vez foi ele que se decepcionou. Não foi por muito tempo, pois dali para frente busquei estudar,

reatualizar leituras de alguns autores e a oportunidade de (re)ver conceitos, discursos, práticas em um movimento incessante de

construir e desconstruir. Este movimento fez Manuel Sérgio em determinado momento dizer: “me congratulo por vê-la a caminho da

Filosofia. A sua inteligência e a sua personalidade faz de Rosa Maria uma filósofa mesmo.” Nunca me imaginei ouvindo isso de um

verdadeiro filósofo e educador que sabe de forma intensa resgatar a capacidade que todo ser humano possui de mudar paradigmas.

...Verdade bandeira ao vento

Mais visível do que um estigma Grito de arrependimento

Verdade tão natural

Que muda de paradigma Sem que ninguém dê por tal

Manuel Sérgio ( 2004)

Fico muito feliz com sua observação, afinal, para mim Manuel Sérgio, filósofo, educador, poeta, acima de tudo era um Homem em

Movimento! Gostei muito de suas palavras pois sempre muito revolucionária nunca me adaptei a uma ciência fria, cartesiana, onde o desejo,

a afetividade e o movimento expressivo eram considerados inúteis pois não podiam ser controlados. Nesta época afirmei em minhas

aulas:

A Motricidade Humana é a base para toda e qualquer ciência que volta-se ao desenvolvimento humano. Sua fundamentação em estudo por seleto grupo de estudiosos

Motricidade Humana no Rio de janeiro

mostra a grandeza de seus princípios. Em sua história de vida a Motricidade Humana foi o elo encontrado para retornar a sua unidade e ajudar ao outro – alunos, clientes, amigos, filhos – a reencontrar o seu ponto de reorganização.

Nestes iniciais anos fiquei deslumbrada com

a “honestidade intelectual” de Manuel Sérgio,

termo que usava em suas cartas para dirigir-se

a mim. Mas como terapeuta junguiana afirmo

que só posso ver no outro o que me pertence.

Sim...procuro ser honesta em minhas reflexões

sendo inteira e fundamentada em minhas

colocações, mas eu tive grandes professores e

Manuel Sérgio foi um dos fundantes desta

característica porque fala com alma, olha com

o coração e transforma-se em amigo

independente do momento que passa. Felismar

Manoel (1986) ao falar da motricidade

humana me faz visualizar o próprio Manuel

Sérgio: “A Motricidade Humana viabiliza a

manifestação do ser humano (epifânia) no

mundo e possibilita a introjeção do mundo

nesse mesmo ser humano.“

O período de 1986 a 1992 foi um período

intenso e transformador. No Rio de Janeiro

lutei pelos direitos das crianças e adolescentes

em passeatas pelas ruas do Rio de Janeiro. Em

Portugal Manuel Sérgio dedicava-se a uma

política humanizadora. Em uma de suas

correspondências envia o Jornal “Portugal

Solidário”e diz: “ Para nós, pós-modernidade

significa pós-autoritarismo, em que a razão

não está sempre ao lado do poder, ou dos

partidos que mais convivem com o poder e

que, por isso, se transforma em autênticas

ditaduras de meia dúzia de pessoas. ”

Rompendo com a fragmentação de um sistema

propõe: “Ora, nós advogamos uma razão

ecológica para estar atenta a um profundo

respeito pela Natureza e a inserção de todos

os homens na ordem geral dos seres;

responsável, para que a liberdade e a justiça

do Homem e de cada homem em particular

sejam os seus objetivos primeiros. ”

Em junho de 1992 relata a vida agitada

de político. No Brasil eu torcia para que fosse

presidente da República e constantemente

brincava com meu amigo de que eu queria ter

um amigo presidente “Apesar da vida agitada

de político, não posso esquecer os amigos

brasileiros” afirmava Manuel Sérgio (1992)

Manuel Sérgio personifica a

intencionalidade operante. O reconheço como

um Homem aberto a todas as possibilidades,

consciente, empreendedor e que expressa a

liberdade existencial de um Homem em

Movimento. Quando afirma: “Respeitar todos

os ciclos da vida humana sem privilegiar

discriminatoriamente o chamado ciclo produtivo

em prejuízo do período da reforma,

reconhecendo no mais velho o depositário da

consciência da nação. ” (1991) marca a

grandiosidade de um homem comprometido

com a ontologia.

Mas tudo isto só é possível a partir de um

histórico de vida que é anunciado no “Jornal

Solidário“ de 1991: “Homem e cidadão que

assume com frontalidade, dignidade e

coragem a sua impressão digital própria, única

e intransmissível”. Em seu percurso ontológico,

um rio de emoções gera a sua singularidade.

Um Homem-bom, Homem-culto, Homem dos

dias de hoje – já no século XXI – homem

genuinamente da pós-modernidade. E tudo

com letra grande!” relata o jornalista. Mas

também indaga: Teria ele defeitos? Claro que

sim e até, provavelmente não serão poucos.

Mas nenhum no coração! Finaliza.

Foi com este espírito que recebemos o Dr.

Manuel Sérgio para comemorar os dez anos

do Centro de Estudos da Criança na Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro. Era o

ano de 1993. Neste ano escrevi o primeiro

artigo: “Motricidade Humana, o lugar de o

corpo no aprender”. Na abertura do evento

comuniquei: “Em primeiro lugar cabe expor a

responsabilidade que sinto de falar de assunto

tão importante quanto o proposto,

principalmente por falar em Motricidade

Humana, área tão profunda e complexa como

o ser humano, evitando o grande mal das

teorias não praticadas que é o da

fragmentação.”

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

E foi neste cenário que Manuel Sérgio ao

visitar o Centro de Estudos da Criança o

denominou “Comunidade de Estudos

Científicos” por viver, experimentar e conviver

com uma prática transdisciplinar, alimentada

pela contribuição significativa da Motricidade

Humana. Em discurso diz que o CEC tem uma

capacidade rica de significações, pois ao

dialogar com as várias áreas de atuação

evita-se a esclerose do processo. Esta análise

nunca foi esquecida em nossa instituição. Pelo

contrário, cada vez mais nos aprofundamos na

busca de sempre estar reatualizando as

formas que íamos construindo. Neste

movimento foi criado o grupo de estudos em

Motricidade Humana que viria a formar a

Associação Carioca de Motricidade Humana

formado por profissionais de Psicologia,

Fisioterapia, Educação Física, Pedagogia,

Psicomotricidade liderada pelo fisioterapeuta

Felismar Manuel e equipe do Centro de

Estudos da Criança. Sentíamos indo além,

transcendendo. Nas palavras de Manuel

Sérgio: “Quem transcende é sujeito de sua

própria história, não objeto” Manuel Sérgio

(1992)

Viaja para seu país e tão logo chega a

território português Manuel Sérgio escreve

agradecendo a recepção que fizemos: ”Foi

encantadora a recepção que você me fez e

levo – ( à Rosa e colegas) no coração.” Este é

um aspecto admirável neste grande professor:

a capacidade de ser gentil, de não esquecer

os agradecimentos e de sempre acrescentar

uma qualidade a mais em todas as pessoas

que constroem com ele.

Em 1994 delineava uma questão. Quais as

raízes epistemológicas da Psicomotricidade e

da Motricidade Humana? Esta era uma grande

questão e alvo de grandes orgias

epistemológicas que foram gradativamente

sendo diferenciadas, mas também

dialogizadas. Em minha prática de

psicomotricista compreendia que a própria

palavra Psicomotricidade era redundante, pois

a motricidade já é fundada nas dimensões

psíquicas. No Brasil o campo de trabalho da

Psicomotricidade é muito grande e numa

tentativa de preservar os meus novos estudos

em Motricidade Humana criei uma área

metodológica onde os fundamentos filosóficos

estavam sintonizados com os estudos de

Manuel Sérgio. Logo depois vários discentes

passaram a produzir por esta vertente. A

educadora Flavia Faissal trabalhou sobre a

vida e obra de Manuel Sérgio e Marina Miers

sobre a construção da corporeidade no

trabalho do fisioterapeuta. Em uma de suas

cartas afirmou: “Também me emocionei,

quando me vi citado tantas vezes, nos seus

trabalhos. Valeu a pena visitar o Brasil. Vamos

manter um diálogo constante?” é importante

registrar o seu amor pelo Brasil, sua culinária e

sua gente.

Manuel Sérgio se encantava com o avanço da

Motricidade Humana em outros campos de

graduação, indo além da Educação Física. Em

1997 escreveu: ”Ora, chegou o momento de

terminar, de vez, com uma anarquia

epistemológica vigente ( não me refiro à que

Feyeranbend propugna) e tentar o ato de

legitimação epistemológica, não só através da

ciência da Motricidade humana ou da

investigação nesta área do conhecimento, mas

do ensino da Motricidade Humana em versão

universitária.” Além da Universidade Castelo

Branco que inaugura uma disciplina

denominada “Epistemologia da Motricidade

Humana” desenvolvida na Escola de Saúde, as

atividades clínicas desenvolvidas no Centro de

Estudos da Criança passam a ser denominados

de “Programas de Desenvolvimento”. Os

programas de desenvolvimento tomam força a

partir da observação de Manuel Sérgio que

sinaliza o diálogo entre os diversos

profissionais com vistas ao desenvolvimento

humano.

Os programas começaram com

discussões epistemológicas e

passaram a fomentar uma

prática a partir das reflexões

da Motricidade Humana. O

centro de referência definiu-se

como o ser humano e seu

desenvolvimento. Inicialmente

os programas tinham a

intenção de desmitificar o

conceito de incapacidade, de

segregação, de imobilidade,

de rotineiro que permeia o

olhar da sociedade sobre as

pessoas excluídas.Os

Motricidade Humana no Rio de janeiro

programas de desenvolvimento

refutam atividades pré-

estabelecidas e baseiam-se no

movimento mundial de busca

de um paradigma que centre

sua atenção na inteireza do

fenômeno humano. Isto quer

dizer que todas as expressões

do sujeito são retratos de sua

história pessoal e estão

interligadas dialeticamente

com a história de sua família e

da humanidade.

Quando Manuel Sérgio afirmou: “Deixei a

política para uma dedicação inteiramente à

política... uma política universitária” em outubro

de 1997 mais um elo era criado com minha

pessoa. Também não aceitei entrar na vida

política por me dedicar a ser educadora,

ofício que exerço com o maior prazer e

convicta que ali está o meu papel político.

Em novembro de 1997 estive em um

congresso em Madrid defendendo os

Programas de Desenvolvimento que possuem a

Motricidade Humana como área fundante.

Neste congresso afirmei: “Os programas de

desenvolvimento articulam várias dimensões na

busca de uma prática transdisciplinar, ou seja,

as dimensões sensorial, intuitiva, emocional e

racional existente em cada ser humanos,

portanto necessárias para a construção de

conhecimento.” Enviei a Manuel Sérgio um

postal contando as novidades, afinal, ele era

responsável por tanta transformação. E ele

indagava: “Esteve ou não em Portugal? ...O seu

afeto era para todos nós do Centro de Estudos

da Criança um grande presente que

recebemos.

Em dezembro de 1997 Manuel Sérgio

comunica o nascimento da Sociedade

Internacional de Motricidade Humana. Sua

felicidade era enorme com um brilho no futuro-

esperança.

Estou a organizar o I Encontro

sobre Motricidade Humana.

Nos dias 14 e 15 de maio

próximo, vou organizar o I

Encontro sobre Motricidade

Humana. Nele, deve participar

o Sidirley. Gostaria muito de

contar com o Centro de Estudos

da Criança, e com o nome de

Rosa Maria para os corpos

ferventes da Sociedade.

Escreva-me, na volta do

correio, adiantando um SIM.(

Manuel Sérgio, 1998)

Ainda em 1998, informou que começou a

funcionar um curso em Ponte de Lima sobre

Motricidade Humana. Deseja ainda que eu

participe ativamente da Sociedade

Internacional de Motricidade Humana, o que é

recebido com muita grandeza. Em suas

palavras: “É evidente que conto consigo para

ser a representante da Sociedade

Internacional de Motricidade Humana no Rio

de Janeiro”. Em outra carta afirma: “Parabéns

pelo seminário: Novos paradigmas em

educação especial. É digno de maior

admiração vosso trabalho, no domínio da

motricidade infantil. Não conheço, em todo o

Brasil, qualquer instituição que se assemelhe ao

CEC, em ciência e consciência, neste domínio

evidentemente.” Com toda esta significação a

equipe CEC prossegue com a maior

responsabilidade a representação deste autor

tão amado. Em maio de 1998 informa que: “O

prof. Tojal é o presidente da comissão

instaladora da Sociedade Internacional de

Motricidade Humana, vai entrar em contato

consigo, pois precisamos da Rosa Maria para

espalhar, no BRASIL, a mensagem daquela

sociedade.”

Este pedido foi um chamamento. A equipe

do Rio de Janeiro expandiu em vários locais a

mensagem da Motricidade Humana como um

campo aberto a reflexões e contribuições.Com

esta caminhada começamos a preparar um

painel sobre os diferentes locais onde a

Motricidade Humana vinha sendo fecundada: I

Nucle RIO – instituição social de apoio a

crianças e adolescentes em risco social e

referência do pensamento de Célestin Freinet;

CEC – Centro de desenvolvimento da

aprendizagem e desenvolvimento do bebê ao

idoso; SEFLU- faculdade que por vinte e cinco

anos dediquei a propagar as informações

sobre Motricidade Humana e várias

secretarias de educação e saúde. Este painel

iria representar o grupo que daria origem,

após o I Congresso, a Associação Carioca de

Motricidade Humana. Um eterno aprendiz,

livre e cidadão do mundo foi o sentido que

reconheci em Manuel Sérgio nesta época.

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Meu amor é marinheiro Anda nas ondas do

mar Quem nasceu para ser

livre Não se deixa acorrentar....

Manuel Sérgio

Encaminha uma publicidade da

Motricidade Humana, saída do Jornal Diário

de Lisboa, o “Diário de Notícias” e afirma: “

O curso de Motricidade Humana já existe na

Faculdade de Motricidade Humana da

Universidade Técnica de Lisboa; no Instituto

Piaget e na Universidade Fernando Pessoa que

se situa no Porto. A idéia de fato, avança!”

No I Congresso de Motricidade Humana

realizado em setembro de 1999, conheci

pessoas que passaram a ser companheiros nos

anos seguintes: Carol Kolyniaky, presidente na

época da Sociedade Brasileira de Motricidade

Humana, Katya Godoy que vinha

desenvolvendo trabalhos articulados entre

Dança e Motricidade Humana além de Eugênia

Trigo e José Pazos. Foi um grande congresso e

todos os participantes saíram deste evento com

a tarefa de aprofundar conceitos utilizados

para o II Congresso participando de uma

pesquisa internacional que constituísse um

glossário da Motricidade Humana.

Em agosto de 1999 o professor Manuel

Sérgio veio ao Brasil a convite do I NucleRIO

para o evento: II Encontro Regional de

Educadores Freinet que aconteceu no Centro

Universitário Celso Lisboa. Além de sua

contribuição sobre a proposta filosófica da

Motricidade Humana às idéias e propostas

pedagógicas do educador francês Célestin

Freinet, pode compartilhar com os trezentos

educadores presentes a mudança de

paradigma necessária a construção de um

novo homem no século XXI.O tema

apresentado por Manuel Sérgio : “ As

contribuições de um repensar transdisciplinar

no processo de construção do aprender” pôde

valorizar a matriz teórica da Motricidade

Humana no entender e no ver o novo sujeito

em sua complexidade. Ainda neste período o

professor Manuel Sérgio ministrou um curso

particular para a equipe transdisciplinar do

Centro de Estudos da Criança que terminou

com uma grande feijoada à moda carioca.

A convivência com meu amigo, a leitura de

seus livros, a declamação de suas poesias me

permite afirmar que Manuel Sérgio é um

Homem em Movimento, um Homem com a

capacidade de adaptarem-se às mais

variadas circunstâncias, Homem criativo, com

grande capacidade de fluir e elaborar idéias

constituindo um Homem original. Sua

capacidade sensorial é imensa, captando o

todo e as partes. Marca hologramaticamente a

sua existência. Apesar do alto grau de

racionalidade, possui um campo sentimental e

emotivo imenso que o transforma em um ser

mutante admirável. Um ser humano consciente

que se move intencionalmente em um mar de

sentidos e significados.

Em julho de 2000 as idéias de Manuel

Sérgio foram discutidas na Áustria quando

participei do evento: Encontro Internacional de

Educadores Freinet através da equipe CEC.O

mesmo se repetiu em 2014 na Itália. Toda e

qualquer apresentação de meu trabalho tem

bases fundantes em suas informações que

coloco em prática em minhas atividades de

educação e saúde. Ainda neste ano Carol

Kolyniak convidado pela Associação Carioca

defende as origens epistemológicas da

Motricidade Humana no I Encontro Cientifico

da Psicomotricidade na Universidade Estácio

de Sá do Rio de Janeiro.

As atividades da Associação Carioca de

Motricidade Humana foram efetivadas com

reuniões mensais aos domingos onde a obra de

Manuel Sérgio era lida e discutida aplicando-

se às necessidades do Rio de Janeiro.

Levantamos o desejo de realizar o II Congresso

internacional de Motricidade Humana. Manuel

Sérgio colabora na construção do projeto.

Informa: “A ciência da Motricidade Humana

que eu investigo, não produz verdades, mas

conhecimento. Muitos falíveis... como tudo o que

é humano! Manuel Sérgio (1997).As

dificuldades no campo da comunicação

impediu que o evento fosse no Rio de Janeiro.

Em novembro de 2001 estivemos em

Muzambinho, Minas Gerais, para o II Encontro

Motricidade Humana no Rio de janeiro

Internacional de Motricidade Humana, mas

infelizmente Manuel Sérgio não pode

comparecer, pois realizou uma cirurgia de

emergência. Neste congresso ficou evidente a

fragmentação dos saberes e a ausência dos

estudos em Motricidade Humana nos trabalhos

apresentados.

Os informativos da Associação Carioca de

Motricidade Humana começaram a ser

espalhados e um grande grupo de estudantes

e profissionais se reúne para o

desenvolvimento da Motricidade Humana. Na

abertura do I Informativo lemos: “Criar é

aventurar-se no desconhecido”. É ir além do

ato de criar e ousar criar o ato. É ir além dos

movimentos do Homem e ser um “Homem em

Movimento”. Prista (1986)

Em 2002 a Motricidade Humana estava

sendo ampliada para as Vilas Olímpicas. Na

Vila Olímpica da Maré um projeto de resgate

da potencialidade da motricidade Humana

lembrava Manuel Sérgio através de Eugênia

Trigo,de FelismarManoel, deKatya Godoy e

Ivo de Sá. Os interesses dos professores de

Educação Física viabilizaram a vinda de

Manuel Sérgio ao Rio de Janeiro. Em julho de

2002 Manuel Sérgio é homenageado pelo

Centro de Estudos da Criança através de um

sarau poético e de um curso ofertado a equipe

do Centro de Estudos da Criança.

Em 2003 em Santa Catarina, Rosa Prista e

Sidirley de Jesus Barreto discutem a

Motricidade Humana com professores da

Argentina, Uruguai e Paraguai.

É na América Latina que a Motricidade Humana tem chão para vicejar...A ciência da Motricidade Humana há de transformar-se num “ideal” de emancipação” já que ela nasce como uma luta contra todos os dualismos homem-mulher, senhor-servo, corpo-alma, branco-negro, etc. A nossa teoria é a mais politizada que eu conheço na área das ciências humanas porque desmascara uma ciência que fundamentava o colonialismo, uma filosofia que roubava razão ao colonizado, uma filosofia que roubava razão ao colonizado e a dava toda ao colonizador e ainda uma

política hegemônica que humilha o sul e enriquece o norte. Nós havemos de ter consciência da violência civilizadora que se exerce sobre os “selvagens” (violência civilizadora de que o desporto e a educação física são aspectos, ao lado de outros) e fazer da CMH um apelo à democratização dos saberes, num diálogo onde entrarão aqueles a quem foi roubada a voz e um apelo a uma epistemologia sem marginalizados, subalternos e excluídos.

Em 2004 é lançado o primeiro livro que

dialoga a Fisioterapia e a Motricidade

Humana organizado por Rosa M. Prista e

Felismar Manoel. Sobre este livro, Manuel

Sérgio afirma: “Fiquei encantado com o livro

“Motricidade Humana e Fisioterapia” onde a

sua cultura é bem evidente”. E nesta carta

Manuel Sérgio declara sua paixão pela

poesia. No entanto, não é verdade que não há

ciência, sem poesia? Como sabe, a poesia é

uma das minhas leituras preferidas.

Em 2005 realiza-se o IV Congresso

Internacional de Motricidade Humana em Porto

do Son, Espanha. Apresentei o trabalho:

“Deficiência mental. Um estudo a partir da

Motricidade Humana”. Este trabalho foi

orientado pelo prof. Manuel Sérgio que

anuncia outro olhar para a verdadeira inclusão

das pessoas com deficiência a partir do

conceito “Homem em Movimento. ” É também

organizado um livro documental denominado:

“Manuel Sérgio: registros do Rio de Janeiro”

que foi distribuído para as sociedades de

Motricidade Humana.

Nos anos que convivemos Manuel Sérgio

encaminhou seus livros sempre com uma

especial dedicatória. Passamos um tempo com

contatos rápidos por e-mail, canal que passou

a usar. Por problemas de saúde em minha

família precisei me afastar do grupo por um

tempo, sem, contudo, deixar de estar

sintonizada com os vídeos, os artigos

publicados e em rápidas palestras e

capacitações que participei. Há uma frase de

Manuel Sérgio (1997) que me acompanhou

durante todo este tempo: “E sabe-se, hoje, que

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

são os proprietários da verdade que estão

equivocados, não é a ciência”. Esta mensagem

me manteve focada em muitos momentos de

minha vida.

Em 2010 arrisquei um novo campo onde a

teoria praticada fosse efetivada. Utilizei os

conceitos da Motricidade Humana para

organizar a “Escola de Autistas” que coordeno

no Rio de Janeiro. A partir da compreensão da

filogenia e da ontogenia tem sido possível

permitir que estas pessoas sejam pessoas,

constituídas de desejos e limites, vontades e

contextos, isolamento e relação social.

Em 2011 fui convidada a assumir a "Escola

de Atletas do Club Vasco da Gama" e por seis

meses vivemos as contradições entre educar

físicos ou Homens. As discussões sobre o

período vivenciado foram publicadas em 2016

no artigo: "Uma ação da Psicomotricidade

Sistêmica em Clubes de Esportes frente às

necessidades humanas do século XXI". A

Psicomotricidade Sistêmica, metodologia

aprovada no Brasil possui em suas bases

epistemológicas a Motricidade Humana com a

ampliação a Psicologia Analítica

reconfigurando alguns conceitos.

Em 2015 foi fundado o CEPTESE - Centro

de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares em

Educação, Saúde e Esporte onde finalmente é

um local de militância espontânea de pessoas

voltadas aos estudos da complexidade. Quatro

linhas de pesquisas foram estruturadas:

motricidade humana e neurociências;

superdotados/altas habilidades e motricidade

humana; autismo sob novas configurações: a

aprendizagem e o desenvolvimento humano e

a pesquisa conjunta aos Laboratórios Healings

sobre o processo de reorganização interna de

autistas no uso de Florais de Bach.

Em 2016 a Revista Internacional TRISKEL é

lançada com a intenção de ampliar os estudos

da Motricidade Humana e Psicomotricidade a

partir de pesquisas significativas. O Dr. Manuel

Sérgio autoriza neste lançamento a

reprodução de seus artigos.

Em 2017 é lançado um novo desafio. Como

aprendem os autistas? Depois de anos de

pesquisas tendo a visão de Homem da

Motricidade Humana à metodologia sistêmica

encontra o aceite da comunidade científica e

popular mostrando resultados de alta

qualificação científica.

Meu grande amigo Manuel Sérgio, um

obrigado é pouco, mas talvez muito, pois você

me ensinou que está na simplicidade a

grandeza de nossos atos. A sua generosidade

afetiva, intelectual, relacional é um legado

inesquecível!

O Homem é um ser que comunica Como um rasto de fumo a águas preso O homem mal se dá por ele, mas fica

Cristal dos dias rosto nu aceso...

Na alma carne e ossos da paisagem No fogo-de-artifício da distância

No presépio de sonhos da ramagem Da árvore que o for na circunstância

E tudo porque o homem de passagem

Só como via ad alium tem sentido Só com ser-para-os-outros vê a imagem

Da promessa que foi ao ter nascido

E tudo porque o Homem céu ou lodo Barro articulado ou resolvido

Ao conhecer-se irmão sabe-se todo Num destino perfeito e resolvido.

Manuel Sérgio (2002)

Motricidade Humana no Rio de janeiro

MOTRICIDADE HUMANA. QUAL O FUTURO? *

Manuel Sérgio*

Se bem interpreto o mundo que me rodeia,no qual me movimento e sou, poderei fixar (com muito atrevimento) em dez as

principais características do nosso tempo: a globalização, ou seja, através da tecnociência, designadamente através das tecnologias da

informação (não é a informação a diferença que Faz a diferença?), o mundo resume-se a uma aldeia (McLuhan), a uma telépolis (J.

Echeverria), aberta, vulnerável e em constante mutação; progressiva des-socialização e precariedade do carácter social do trabalho,

Fomentadas pelo neoliberalismo vencedor e mundializado, o qual, embora as novas tecnologias, não reduz o número dos

desempregados; alta competição como “modus vivendi” habitual do “homo oeconomicus” que observa toda a sua vida à luz única dos seus

interesses e ainda, devido ao economicismo ambiente,avaliação das pessoas pelo que têm e não pelo que são; criação empenhada,

através do contra-poder antagónico e correspondente ao poder do ideal metafísico platónico, presente no discurso político, de

valores decorrentes do reconhecimento da humanidade como um todo e com iguais direitos, na diversidade dos povos, das raças, das culturas e de uma revolução científica, que

habita o universo dos sistemas abertos e das estruturas dissipativas; inversão do platonismo, como queria Nietzsche, e, portanto rejeição de

uma ideia de Outro como a repetição, em linguagem diferente, do mesmo, o que signifca que o princípio de tudo é um paradigma

complexo e que o simples não passa de mera aparência (é preciso passar da identidade à diferença, como a pós-modernidade, ou o pós-

estruturalismo de Derrida e Deleuze, o aconselham); na ciência hodierna, o desequilíbrio, o caos, o indeterminado resultam

da complexidade e apelam ao surgimento de um novo Logos, de um novo Método; os progressos na segunda revolução da saúde,

que se centram na saúde e não na doença, que preconizam o retorno a uma perspectiva ecológica e as reflexões no campo da “ética

*Este artigo foi escolhido por ser extremamente

esclarecer aos princípios de mudança e atende a grande pergunta: Qual o futuro da Motricidade

Humana?

para a saúde”; a certeza que o estado adulto de uma área do conhecimento se mede

também pela consciência da sua responsabilidade social; é no modo de agir e movimentar-se que o ser humano corporiza

uma segunda criação e, portanto, é na transcendência típica da motricidade humana, onde não se encontra qualquer metalinguagem

despótica, que o homem se aproxima de Absoluto (ou de Deus); a secularização da moral e da política, de acordo com a

precedência da existência sobre a essência, anunciada em Rousseau e em Sartre; crise evidente das religiões, bem expressa, tanto no

terrorismo em nome de Alá, como no espírito de cruzada de G. Bush e na eleição, para Papa, do Cardeal Ratzinger, braço direito de

João Paulo II, em tudo o que neste papado signifcou reacção e conservantismo. A ciência da motricidade humana (CMH), que

apresenta como sub-sistemas mais visíveis o desporto (onde também cabe o jogo desportivo), a dança, a ergonomia e a

reabilitação psicomotora, nasce, no mundo cultural e social que acima sintetizei, como problema ontológico, como problema

epistemológico, como problema político.Como problema ontológico, pela ausência de um paradigma organizador que norteasse a

prática e a investigação sobre o ser humano, no movimento intencional da transcendência, onde o que José Gil chama “consciência do

corpo” está presente ,pois que a intencionalidade, para além do que a Fenomenologia estudou, dirige-se ao corpo,

sem o reduzir a objecto. “A consciência do corpo abre-se em direcção a um mundo primitivo, selvagem ou originário, para

empregarmos (...) a terminologia fenomenológica (...). No entanto, este mundo não comporta abismos psicológicos, nem se

limita apenas ao campo dos movimentos corporais. A consciência do corpo não acaba no corpo. Mergulhando no corpo, a consciência

abre-se ao mundo; já não como consciência de alguma coisa, já não segundo uma intencionalidade que faria dela a doadora de

sentido, não pondo um objeto diante de si, mas como adesão imediata ao mundo, como contato e contágio com as Forças do mundo”

(Movimento Total – o corpo e a dança, Relógio d’Água, Lisboa, 2001, p. 176). Assim, a Educação Física e o seu conteúdo são

declaradamente insuficientes para comporem uma ciência. Ela deverá apresentar-se,

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

unicamente, como o ramo pedagógico de qualquer ciência. Mas...que ciência? E uma ciência formal, empírico-formal, ou

hermenêutica? Neste assunto se tocou, em breves e lúcidas palavras de Cagigal, Le Boulch, Parlebas, Manoel Tubino, Eugenia Trigo,

João Tojal e poucos mais. Permitam-me que intercale esta nótula, no meu discurso: se a morte o não levasse, Cagigal, por certo,

estaria, hoje, ao nosso lado. A sua atitude eminentemente crítica e a sua inteligência aguda não o deixariam com uma linguagem

que não é reflexo da realidade. De facto, o que conhecemos conhecemo-lo pela mediação da linguagem. Como Heidegger o assinala, na

Carta sobre o Humanismo (Guimarães Editores, Lisboa, p.50),“há um pertencer originário da palavra ao ser”. O ser pensa-se, dizendo-se.

Mas o ser também se diz, agindo. No entender de Hannah Arendt, o ser humano é um iniciador (Condição Humana, Relógio d’Água, Lisboa,

2001, p. 227). Só que“nenhuma outra actividade humana precisa tanto do discurso como a acção” (idem, ibidem, p.227).Por isso,

me parece lícito perguntar, se é possível, na área do conhecimento que estudamos um vocabulário científico com a palavra física, no

lugar de pessoa. As expressões cultura física,atividade física e educação física resultam de uma linguagem que o racionalismo

popularizou e universalizou e o senso comum dos políticos decretou e oficializou. Nunca será demais repetir que a Educação Física, depois

da Ginástica que a República de Platão já refere, nasce na Europa, nos séculos XVII e XVIII e precisou do capitalismo colonizador

para globalizar-se. Em 1569, em Veneza, ainda Hieronymus Mercurialis publicava o De Arte Gymnastica, obra em seis volumes, onde

se distingue três tipos de ginástica: médica, militar e atlética. De referir, no entanto, que a repercussão deste livro foi tal que, além das

numerosas reedições, era frequentemente citada, no século XIX, nos textos de Gutsmuths, Anton Vieth e Friedrich Jahn. No Brasil,

segundo Inezil Pena Marinho, na sua História da Educação Física no Brasil, “em 1828, aparece em Pernambuco o primeiro livro

editado no Brasil, sobre Educação Física e essa glória cabe a Joaquim Jerônimo Serpa. É um Tratado de Educação Física - Moral dos

Meninos”(p. 33). ACMH é inseparável da linguagem e do tempo: da linguagem típica da produção de novas formas do conhecimento,

da passagem de uma razão una a uma razão

plural e da revolução hermenêutica de Heidegger e Gadamer e proveniente de um tempo em que todo o real é complexo e, por

isso, em que se procura um pensamento “que compreenda que o conhecimento das partes depende do conhecimento do todo e em que o

conhecimento do todo depende do conhecimento das partes”(Edgar Morin, Reformar o Pensamento, Instituto Piaget, Lisboa,

p.94). A CMH torna-se ontologia porque é através dela que o ser humano, no acto da transcendência (que há-de resultar em

consciência da unidade relacional entre as pessoas),é verdadeiramente. Por isso, esta transcendência não promove a desigualdade,

pois que se faz em relação e comunhão com um “tu” fraterno. Muitas das controvérsias científicas podem exemplificar o que vem de

escrever-se. No entanto, “o valor simbólico das disciplinas não provém das suas propriedades intrínsecas, mas, isso sim, da representação

social(ou das representações sociais) do seu conteúdo, do seu lugar na hierarquia disciplinar e do seu grau, suposto, de

cientificidade e de eficiência” (B. Bonfils-Mabilon e B. Étienne). Será a ciência política uma ciência? Instituto Piaget, Lisboa, 2002,

pp.65/66). Por seu turno, o racionalismo assumiu-se como razão forte (só que tão forte que olhou para a importância do corpo, com

um olhar vagaroso e claudicante). Ao invés, a razão hermenêutica e pós-moderna afirma-se como pensamento débil,porque tudo é

temporal, conjectural e histórico.A CMH, destituída de qualquer presunção metafísica (designadamente a metafísica do “pensamento

arqueológico”), encontra na transcendência (ou superação),mormente nos aspectos sociais e políticos, o sentido da vida humana. De facto,

a transcendência funciona como potenciadora de uma dimensão sapiencial, tanto no desporto, como no lazer, na saúde, na

educação, no trabalho. Porque só quem quer ser-mais, lutando por um mundo de maior justiça social e de convivência com todas as

diversidades, vive verdadeiramente. Para dar mais anos à vida e mais vida aos anos, importa que se implemente uma saúde pública

que ultrapasse, sem dispensar,o modelo biomédico, fundamentado na Biologia molecular como disciplina básica, dando ao

olvido o contexto social, o papel do médico, o sistema de cuidados de saúde, etc.Numa ciência humana, como a Medicina, a Psicologia,

a CMH e outras, há que ter em conta a pessoa,

Motricidade Humana no Rio de janeiro

elemento de um todo social e comunitário e capaz de uma "poética do devaneio

(Bachelard) e não só o indivíduo, afivelado em si mesmo. Daqui nasceu uma ciência concebida como

teoria para o domínio da razão sobre o mundo material, limitado a extensão e movimento, natureza passiva, à disposição do

ser humano e que acentuou a ruptura entre a natureza e a cultura, entre o corpo e o espírito, entre o natural e o artificial, entre o

observador e o observado,entre o subjectivo e o objectivo, entre o desporto e a vida política. Se bem que a voz de S. Paulo saia de

rompante dos arcanos da cultura ocidental,relembrando que todos os que foram baptizados são membros do corpo do filho de

Deus, a metáfora do corpo místico de Cristo não fez ancorar, no mundo material, qualquer assomo de igualdade, no velho dualismo alma-

corpo. Ao contrário, a CMHé contemporânea do legado hegelo-marxista de sociedade, onde a evolução histórica se processa em

direcção a maior justiça e liberdade; da perspectiva foucaultiana do corpo historicamente dependente;da perspectiva

construtivista de Elias, a qual realça a ligação entre os factores biológicos e os sociais;da dicotomia entre corpo-objecto e corpo-

vivido,que Merleau-Ponty esclarece e distingue; do corpo na abordagem psicanalítica (de Freud a Lacan); da imagem

consumista do corpo, o qual, segundo Baudrillard, é “o mais belo, precioso e resplandecente de todos os objectos” (A

Sociedade de Consumo Edições 70, Lisboa, p. 212); e enfim de todos aqueles que entraram de questionar “a perspectiva tradicional sobre

a natureza da racionalidade”(António Damásio,O Erro de Descartes, Europa-América,Lisboa, p.13). É precisamente contra a

perspectiva tradicional que Damásio defende a tese seguinte:“a emoção é uma componente integral da maquinaria da razão”(p.14). E

mais adiante: “Não me parece sensato excluir as emoções e os sentimentos de qualquer concepção geral da mente”(p.172). E ainda:

”enquanto os acontecimentos mentais são o resultado da actividade dos neurónios, no cérebro,a história prévia e imprescindível que

os neurônios do cérebro têm de contar é a do esquema e do funcionamento do corpo”(p.236). Por sua vez,B. S. Turner refere

que é, hoje, lícito substituir o“penso logo existo” pelo “consumo logo existo”(cfr.Regulating

Bodies – Essays in Medical Sociology, Routledge, London, 1992). Daí, que a origem não seja

ologos,mas a publicidade, o exterior, o epidérmico, o superficial. “É de facto a superfície do corpo o que se vê, que está

patente,em todas as campanhas de publicidade, tornando-se o corpo, por um lado objeto de idealização, mas por outro potencial

alvo de estigmatização, caso não corresponda aos padrões expressos na própria publicidade” (Maria João Cunha,A Imagem

Corporal, Autonomia 27, Azeitão, 2004, p.83). O normal é sempre o normalizado, por efeito da publicidade. E o que mais se publicita? A

saúde,evidentemente! E através de que meios? Os mais espectaculares e centrados na ciência/ideologia bio-médica: a dieta e o

exercício chamado físico,como se a saúde fosse possível com o físico como significante exclusivo, esquecendo-se que a saúde é um

fenómeno social. Em todas as definições de saúde está presente a multidisciplinaridade, pois que ser saudável pressupõe também uma

“saúde social”, decorrente de uma educação em direitos humanos, da luta contra a iniquidade e a injustiça.“É verdade que o

poder médico está no centro da normalização social. Os seus efeitos estão por todo o lado: na família, na escola, nas fábricas, nos

tribunais, etc.” (Foucault Live; (Foucault Live;Collected Inter-views, 1961-1984,org. por Sylvere Lotringer,Nova Iorque, 1996,

Semiotexte). No entanto, as doenças não têm sempre o seu radical primeiro, na biologia. A CMH irroga-se o direito de pretender construir

um diálogo entre todos os “homens de boa vontade” – diálogo que seja mais do que um método, porque, nele, quem ensina aprende e

quem aprende ensina, de modo que todos sejamos aprendizes (através da motricidade, da vida, dos afetos) da responsabilização

social diante da exclusão e do desemprego. O corpo não é natureza tão-só, trata-se de uma instituição política. O corpo em ato, ou a

motricidade humana, pensa-se e pratica-se como construção de sujeitos históricos, onde o possível é bem mais do que o real. A CMH é

um problema epistemológico porque, através de uma inequívoca mudança de paradigma, cria um discurso novo; é um problema

ontológico, pois concede prioridade à pessoa no ato da transcendência e não ao físico ou ao corpo-objecto; e é um problema político

porque, nesta ciência, se tem em conta a incorporação do poder, como algo

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

determinante na constituição de práticas estruturalmente situadas (sigo aqui o Anthony Giddens de Dualidade da Estrutura – agência

e estrutura, Celta Editora, Oeiras, 2000). Não esqueço o Marcel Mauss da Sociologie et Antropologie, ao referir que “o corpo é o

primeiro instrumento e o mais natural instrumento do homem. Ou mais exatamente, sem falar de instrumento, o primeiro e o mais

natural objeto técnico e, ao mesmo tempo, o meio técnico do homem é o seu corpo” (PUF, Paris, 1997,p. 372). Daí o não dever

estranhar-se que a construção científica do corpo se realize “em primeiro lugar, pelo sistema de relações entre o conjunto de

comportamentos corporais dos membros de um mesmo grupo e, em segundo lugar, pelo sistema de relações que unem aqueles

comportamentos corporais e as condições objetivas de existência próprias desse mesmo grupo”(Luc Boltanski, “Lesusages sociaux du

corps”,Annales – Économies, Sociétés, Civilisations, volume 26, nº 1,pp. 205-233, 1971). E porque, embora o tropear de velhos

positivistas, o corpo não é um exterior sem interior, a construção científica do corpo não se faz sem a motricidade humana, sem o estudo

do movimento intencional que visa,verdadeiramente,o desenvolvimento humano.

Na introdução do livro Epistemologia, Mario Bunge escrevia, no começo da década de oitentado século XX, que a epistemologia,

ou filosofia da ciência, se tinha tornado no domínio mais importante da filosofia, nos últimos cinquenta anos (...).A ligação às ciências,

no entanto, tem constituído sempre um veículo de revigoramento da própria filosofia, desde que Platão se empenhou em estabelecer a via

em que o conhecimento científico se libertava das incertezas transportadas pelas informações sensíveis, para dar lugar ao

conhecimento verdadeiro” (José Luís Brandão da Luz,Introdução à Epistemologia, Imprensa Nacional-Casada Moeda, Lisboa, 2002, pp.

25/26). A “matematização galilaica da natureza” (título do parágrafo nono do livro A Crise das Ciências Européias e a Filosofia

Transcendental, em que Husserl refere os ganhos e perdas da idealização matemática da natureza), ou a mathesis universalis, que

Leibniz forcejou por desenvolver, como sustentáculo da construção do sistema das ciências – ganharam em coerência operativa o

que perderam em realidade, pois que as

coisas e os homens não são matemática tão-só. A ordem da lógica não integra sempre a ordem real da existência. No caso específico

da CMH, que estuda o corpo em acto, é no campo das ciências hermenêuticas, ou humanas, que é possível (e lógico) enquadrá-la.

Assinalo,neste passo, que distingo três grandes categorias de ciências, na esteira de Jean Ladrière: as formais, as empírico-formais, ou da

natureza, e as hermenêuticas, ou humanas. Uma epistemologia da Motricidade Humana, não pode esquecer que esta não é uma área de

físicos, mas de pessoas no movimento intencional da transcendência (ou superação).Aqui, o físico está integral,mas

superado. Portanto, as expressões “Ciência da Actividade Física” e “Ciência da Educação Física”pecam por defeito. O mesmo acontece

com a(s)“Ciência(s) do Desporto”, já que o “corpo em ato” não se circunscreve à prática desportiva. O Desporto é o fenómeno cultural

de maior magia no mundo contemporâneo.Desconhecê-lo é estultícia de tomo. Mas não resume toda a motricidade.

Constitui um desafio permanente para a epistemologia a clarificação progressiva do sentido da ação humana e, para tanto, a

linguagem não pode ser arbitrária, mas portadora de rigor e de fundamentação. A “Cinesiologia” quase sempre foi

percepcionada como uma disciplina de uma licenciatura e poucas vezes se constituiu como ramo autónomo do saber. Demais, não nos

limitamos à área do “movimento”, mas do “movimento intencional”, ou seja, da “motricidade”, de acordo com a definição da

escola fenomenológica, da tradição hegelo-marxista e ainda da junção animus-anima, proposta por Bachelard. Parece-nos,

indubitavelmente, ser a Motricidade Humana o nosso objeto de estudo e o espaço em que se concretiza uma prática profissional. O

Desporto, a Dança, a Ergonomia, a Reabilitação Psicomotora e enfim os vários aspectos da motricidade, do jogo ao trabalho,

passando pela saúde, o lazer e a educação, são as especialidades que despontam da CMH. Será preciso acrescentar que nos

situamos, aqui, em pleno campo das ciências humanas e (no meu caso pessoal) da consciência crítica por um neo-socialismo e

ainda de “um pensamento que não quer encerrar-se nas definições” e por isso multiplica as significações e as palavras, usando o

conceito de imaginação, em Bachelard? O

Motricidade Humana no Rio de janeiro

Desporto (um exemplo,entre outros) só à luz das ciências humanas é possível estudá-lo. Ele

beneficia também da aplicação de formulações matemáticas (como a economia, a psicologia, a sociologia, etc.), mas seria

redutor fazer da matemática o seu radical fundante. Os cursos universitários de Desporto, após larga e porfiada reflexão, deverão

questionar os seus habituais “currículo” e aproximarem-se, sem equívocos, do corpo, dentro de quatro grandes níveis: o físico-

biológico, o corpo psicológico, o sócio-político, o cultural e o no ético e o corpo artístico.Deverão questionar os “currículos” e os conteúdos da

investigação (expressos, por exemplo, nas revistas que editam) que repetem, muitas vezes, o que os médicos já esqueceram. Cito a

propósito David Le Breton: “La sociologia aplicada al cuerpo toma distancia de las aserciones médicas que desconocen la

dimensión personal, social, cultural en sus percepciones del cuerpo. Porque parecería que la representación anatomo fisiológica

quisiera escaparde la historia para volverse absoluta” (La sociologia del cuerpo, Ediciones Nueva Visión, Buenos Aires, 2002, p. 36).Embora

se saiba que, no mundo gnóstico de afivelado rictus de desprezo pelo corpo, que alguma pós-modernidade prefigura, um mundo sem

corpo, preenchido de circuitos electrónicos e de modificações genéticas ou morfológicas, parece ser o ideal que se procura. No entanto,

os avanços hodiernos das neurociências já insculpiram, na ciência e na filosofia, a especificidade da consciência humana. António

Damásio, na sua obra, apresenta fartas razões científicas, em prol da tríade “cérebro-mente-corpo”. O cérebro e o corpo são inseparáveis,

pois que se encontram relacionados, dialeticamente, por circuitos de ordem bioquímica e neural. De facto, o corpo remete

ao cérebro sinais, por intermédio da corrente sanguínea ou dos nervos periféricos. Por sua vez, o cérebro também condiciona o corpo, por

meio do sistema nervoso autónomo e musculo esquelético ou da libertação de substâncias químicas no sangue.Aliás, é da relação

cérebro-corpo que desponta a mente. E esta se fundamenta na incorporação.António Damásio sugere que relembremos o caso dos “cérebros

numa cuba”, composto por Hilary Putnam, em Razão, Verdade e História(Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1992, pp. 28-30).Imagine-se

que um cérebro foi excisado do corpo e arrumado numa cuba que o mantém vivo, por

terminais nervosos ligados a um supercomputador.E põe-se a questão: um

cérebro separado do corpo,se bem que estimulado artificialmente numa cuba,possui uma mente? De facto, diz António Damásio,

não possui umamente normal, pois que o funcionamento perfeito da mente decorre da interacção cérebro-corpo, isto é, dos estímulos

cerebrais enviados para o corpo e dos sinais de resposta que este, uma vez alterado, remete para o cérebro. “A relação triádica e

indissociável entre cérebro, mente e corpo, proposta por António Damásio, permite,a nosso ver, o afastamento e a superação da forma

clássica de pensar a natureza humana em termos duais, de cisão entre espírito e corpo”. O autor propõe-nos um modelo de

compreensão do Homem que implica a referência à corporeidade, não como uma contingência, mas como algo essencial à sua

constituição. “A subjetividade damasiana é, na verdadeira acepção da palavra, uma subjectividade unificada, uma totalidade

concreta” (Sara Fernandes, “A Identidade Pessoal - reflexões torno da neurociência e da religião”, in A Mente, a Religião e a Ciência,

Centro de filosofa da Universidade de Lisboa, 2003,pp. 219-220). Não ficaria mal acrescentar, aqui, o que Paul Ricoeur nos ensina

em Soi-même comme un autre (Éditions du Seuil, Paris, 1990, p.14), adiantando que o Si supõe a alteridade, “em grau tão íntimo” que

um não pode pensar-se sem o outro. Mesmo que se conserve a expressão “Educação Física”, por interesses vários (um

deles, o desinteresse pela constituição de um vocabulário científico e pela incapacidade de fazer ciência, longe de um positivismo

petrificado) que não discuto, neste passo, julgo que será de manter a “Motricidade Humana”, como o objeto de estudo desta área.

Conhecimento, ação, vontade, afetividade interpenetram-se e realizam-se de tal modo, na motricidade humana, que é ilusório, para os

“professores de Educação Física”, admitir problemas puramente físicos, na sua profissão. O que se proclamou, no passado, como

verdade, merece questionamento,atualmente. Kant definiu, de modo exemplar,no seu pequeno tratado sobre educação, o que o

senso comum entendia por Ginástica: “é a educação daquilo que é natureza, no homem”. Ele não conhecia a existência de sistemas

autopoiéticos. Se do século XVIII até hoje, nada tivesse florescido de original, de inovador,

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

então deixaria de ser uma realidade indesmentível o processo histórico.Uma teoria sobre o ser humano não pode senão assentar

basicamente no ser humano de que é a teoria. Como se poderia contribuir, doutro modo,à sua transformação? Ora, ao dizer-se que a

transcendência é o sentido da Motricidade Humana confere-se ao “corpo em acto” uma expressão profética, pois o que é não pode

ser. Mas a extensão da transcendência não se limita aos aspectos físicos do ser humano. A sua constituição e diferença qualitativa, em relação

à Educação Física, alarga a Motricidade Humana às dimensões intelectuais,morais, sociais e políticas e poéticas da

existência.Todavia, o conceito de “transcendência”, ou superação, pode aplicar-se também à própria matéria.Ilya Prigogine

enunciou o conceito de estrutura dissipativa, que associa as idéias de ordem e desperdício de energia e matéria, ou seja, de ordem e

desordem, signifIcando, com este conceito, a aptidão que um sistema aberto possui, para adquirir novas propriedades, em consequência

de flutuações provenientes das suas interacções com o meio ambiente. A matéria revela-se, deste modo, capaz de auto-organizar-se. A

entropia mostra-se não só produtora de desordem, mas de uma ordem coma coerência suficiente para dela emergirem novas

propriedades dotadas de crescente autonomia, em relação ao meio ambiente. Segundo Prigogine, na irreversibilidade pode estar o

segredo da organização biológica. Cito, a propósito, este autor, no seu livro O Nascimento do Tempo: "O livro de Schrodinger fez-me

intuir, em 1945, que os Fenómenos irreversíveis podiam ser a Fonte da organização biológica e, a partir de então, esta ideia nunca mais me

abandonou” (p. 27 da tradução portuguesa das Edições 70). Prigogine propõe-nos uma visão optimista da realidade, onde ao tempo-

degradação da entropia sucede um tempo-criador que, à semelhança da durée bergsoniana, informa a evolução do universo.

Nos mais diversos ramos das ciências da natureza desenha-se, além disso, neste último quartel de século, o estertor definitivo do

paradigma mecanicista, que vigorou na modernidade e tão grandes malefícios trouxe à ontologia, obrigando-a a um mais ou menos

confesso dualismo substancial. Na verdade, como poderia comportar uma matéria, determinada por leis necessárias, a

possibilidade e o acontecimento, em que se inscreve a aventura escalonante da vida?” (Mafalda de Faria Blanc, Introdução à

Ontologia, Instituto Piaget, Lisboa, 1997, p. 125). Poderíamos ainda referir a geometria fractal, bem como a teoria do caos e a das

catástrofes. Enfim, de uma forma ou de outra, a natureza surge como uma potência de organização e desenvolvimento, mais

estruturada por processos e dinâmicas imparáveis do que por estados de ordem e de equilíbrio. Todas as criaturas, desde as estrelas

aos macro e micro-organismos,encontram-se em permanente processo de reorganização. De facto, a própria matéria inerte é energia e

não um conjunto de átomos rígidos, sujeitos a leis mecânicas de atração e repulsão. Tudo se movimenta para onde? Um dia, Antero de

Quental exclamou: “Abrem-se as portas de oiro com fragor/Mas dentro encontro só, cheio de dor,/ Silêncio e escuridão – e nada mais!”.

Um ponto nos parece indiscutível: o movimento mais autenticamente humano é o que pretende acercar-se do desenvolvimento... Ou do

Absoluto, se assim se quiser!Poderíamos recordar o Santo Agostinho das Confissões: “Fizestes-nos para Vós, Senhor, e o nosso

coração não descansa, enquanto não repousa em Vós”. Este apelo ao mais-ser é um facto universal.Seria um decadente, um mutilado

aquele homem(ou aquela mulher) que não sentisse a necessidade imperiosa de movimentar-se para transformar e transformar-

se. A motricidade humana é assim uma tomada de posição, diminui o campo do indeterminado, afirma-se como orientação e sentido. Pois não

é verdade que todo o movimento intencional encerra necessariamente uma determinada concepção de vida? Retorno a José Gil,

quando assinala,no livro que citámos, que a fenomenologia jamais considerou a consciência fora da intencionalidade.Ora, a “consciência

do corpo” transforma-se em pensamento e abre o corpo a múltiplas conexões com o mundo. O “bailarino apreende o sentido geral

da sua dança, a situação do seu corpo, no espaço e frente ao público, o jogo dos olhares e das energias na atmosfera, antecipa o

sentido dos movimentos a executar. Está consciente de tudo isto, num grau muito superior ao de uma consciência normal” (idem,

ibidem, p.179).“Desde Descartes que pensamos contra a natureza, certos de que a nossa missão é dominá-la,conquistá-la” (Edgar

Morin, O Paradigma Perdido, Publicações

Motricidade Humana no Rio de janeiro

Europa-América, Lisboa, 1975,p. 15). Ora, em qualquer acção, há que reconhecer “que as...)

a existência de um sentido de différance que, mais do que duplo, tem um carácter triplo (...). A atividade social surge-nos sempre

constituída, através de três momentos de diferença, entrecruzados temporalmente, paradigmaticamente (...) e espacialmente.Em

todos estes sentidos, as práticas sociais são sempre atividades situadas, ou modos de atividade historicamente localizados” (Anthony

Giddens, op. cit., pp. 12 e 15). Em Heidegger, tudo o que existe é um ente, é devir, é tempo. Ora, o tempo donde nasceu a Educação Física

não é o mesmo de hoje. Por isso, quando se fala em Educação Física, é preciso reflectir e provocar a reflexão,precisamente num tempo

em que a reflexão é difícil e bem fácil à informação. E de uma informação,sem reflexão, a banalização pode ser o seu risco e

o seu resultado. Discernir, procurar a significação e o sentido, agir intencionalmente na construção de uma nova ética cívica parece

mais árduo e menos cómodo do que estudar e promover as qualidades físicas, estender o império da técnica a toda a complexidade

humana, esquecer a dimensão política de qualquer conduta intencional. A operacionalização da CMH depende da

cultura, da competência e da liderança do professor, do técnico, do instrutor; da compreensão e receptividade do aluno, do

atleta, do paciente; e das condições sociais, que os condicionam, ou melhor, da estrutura, do sistema e da estruturação. Não se aprende

tão-só, através de regras e preceitos. A práxis é insubstituível: quem não pratica não sabe! Só que a práxis supõe uma formação, uma

pedagogia. Assim, a CMH não põe em causa o progresso científico, em todas as suas formas, mas rejeita o Homem Máquina de Galileu e

Descartes e Newton e Kant e da “mathesis universalis” e do positivismo e ainda dos liberais“laissez-faire” e laissez-passer”, ou do

monolitismo de qualquer ditadura. A CMH só existe na medida em que assume o ser humano, na integralidade das suas funções e das suas

potencialidades. E, porque assume, zela pela salvaguarda da dignidade humana. O profissional, em qualquer uma das

especialidades da CMH, deverá ser, simultaneamente, um, digamos assim, eticista (sirvo-me de expressão de raiz anglo-saxónica

que traduz o profissional com formação superior, na área da ética e da biologia). No

campo da educação, o profissional do desporto, ou o da dança, ou o da ergonomia,

ou o da reabilitação psicomotora poderão ter em conta a educação bancária e a educação problematizadora, tematizadas, como se sabe,

por Paulo Freire. Segundo este notável escritor e pedagogo brasileiro, aquela pretende aprisionar os

alunos numa situação de “imersão”; esta possibilita a “emersão das consciências” e, assim, uma inserção autónoma e crítica na

sociedade. Ora, há demasiada educação bancária,no desporto, incluindo os seus aspectos pedagógicos. Em Paulo Freire, a

práxis articula a ação e a reflexão. Para ser práxis, a educação desportiva não pode ser nem verbalismo, nem ativismo. Manuel Ferreira

Patrício escreve, a propósito: “Uma prática cega é talvez agitação, ou redunda inevitavelmente em agitação. Só se foge a isso

com a prática pensada. Ao nível das sociedades, a prática pensada é prática metódica, planificada – define finalidade se

objetivos, mobiliza meios” (Lições de Axiologia Educacional, Universidade Aberta, Lisboa, p.103). Que o mesmo é dizer: implica valores,

comportamentos e relação dialógica, já que, na educação problematizada, professor e aluno são ambos educandos. E supõe

igualmente a problemática do perguntar. É em função do perguntar que o educando não se limita ao que o professor lhe ensina e que a

cultura é o horizonte da educação e esta se converte no desenvolvimento da autonomia. A que se resume a Filosofia de Derrida, com a

sua proposta de desconstrução do continuísmo fundamentador e Habermas, com a defesa da razão comunicacional e Edgar Morin, com o

paradigma da complexidade e Maturana e Varela, com a teoria da autopoiesis senão a uma questão: como é possível uma “Filosofia

da diferença”, já que se torna impossível interpretar o mundo, a partir de um lugar arquimédico,de um ponto de vista absoluto?

A Educação Física, conforme Kant a entendia nas suas Réflexions sur l’Éducation, “comum aos homens e aos animais,consiste no

adestramento” (J. Vrin, Paris, 1989, p.89). Não se esquece, neste passo, que a Educação Física, em Kant, também a cultura da alma, pois que,

neste filósofo, alma e corpo não são duas substâncias diferentes. No entanto, “esta cultura física do espírito distingue-se da cultura

moral, já que esta última se relaciona apenas

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

com a liberdade, enquanto aquela se relaciona unicamente com a natureza. Fisicamente, um homem pode

ser muito cultivado, o seu espírito pode encontrar-se muito adornado e entretanto ele pode encontrar-se moralmente mal cultivado e

mais não ser do que um homem mau” (Idem, ibidem, p.109). Uma aula, ou um treino, à luz da CMH,

deve principiar, com esta pergunta, feita pelos que a compõem: “Que tipo de pessoa quero eu que nasça desta aula (ou deste treino)?”. E,

depois, procurar-se-á unir e não separar os vários métodos pedagógicos (ou de treino) e a filosofia que os deve acompanhar, para que se

passe do conhecimento daquilo que é ao conhecimento daquilo que deve ser. O ser humano não tem, unicamente, uma existência

biológica (onde são visíveis também as complementaridades indivíduo/grupo, indivíduo/espécie, indivíduo/sociedade,

indivíduo/cultura),mas também uma existência, usando as palavras de Edgar Morin, antropossociológica, condicionada e construída

pela sociedade, pela economia, pela cultura. Ora tudo isto deve estar presente, na educação, no desporto, na dança, na

ergonomia e na reabilitação psicomotora. “Hoje, a teoria dos sistemas substituiu a visão epistémica dos objectos pelados sistemas, ou

dos sistemas-objecto, entre os quais se encontra o sistema-objecto-sujeito-observador”(José Rozo Gauta, Sistémica y Pensamiento Complejo

II. Sujeto, Educación,Transdisciplinaridad, Biogénesis, Colombia, 2004, p. 133).De referir ainda que a noção de sistema evoluiu de uma

simplicidade estática, encerrada e fechada em si mesma, para uma complexidade aberta, dinâmica, autopoiética, autorreferente e

autorreflexiva, composta por elementos heterogéneos, que conformam e mantêm uma unidade sistémica, na qual as qualidades

emergentes são maiores do que a soma das qualidades de cada um dos elementos.Estas ideias surgiram à margem da

hiperespecialização que invadiu as várias disciplinas científicas, ao mesmo tempo em que entraram de acentuara necessidade para o

conhecimento de sistemas-objectos, abertos, dinâmicos, autopoiéticos, auto-eco-organizadores reflexivos – ao mesmo tempo

em que entraram de acentuar a necessidade, dizia, da inter, da trans, da multidisciplinaridade,

enraizando(e não reduzindo) o físico-biológico

no cultural e o cultural no físico-biológico. Com isto, não se violentam despoticamente as disciplinas, pois que elas mesmas se fortalecem

no diálogo e convívio,com os outros ramos do saber. A operacionalização da CMH é praticar a unidade bio-antropo-sócio-cultural e

política., dado que, em cada sistema, há elementos doutros níveis e sistemas. Cabe aos professores e aos técnicos trabalharem a

complexidade,nos exercícios e nas acções, que os seus alunos e atletas assumem, visando vários objectivos, tais como:a saúde, a

educação, o lazer, o trabalho, a competição desportiva (que há-de ser uma competição-diálogo, sem qualquer assomo de hostilidade).

Não é ser sensato endurecer na atitude de conservação de métodos que a ciência e a filosofia consideram defuntos, irreversivel e

definitivamente. O futuro da CMH só pode ser o futuro (quatro exemplos,entre outros) de um desporto e de uma dança e de uma ergonomia

e de uma reabilitação que se convertam na expressão corporal do desenvolvimento sócio-económico e mesmo axiológico de um povo. O

treino físico, o treino técnico, o treino táctico, o treino psicológico e o treino teórico, dentro de uma visão dinâmica e integrada (dado que o

treino analítico morreu), devem inscrever-se numa linha de promoção de valores, os quais me parecem intrínsecos à CMH. O estudo e a

vivência do desporto resultam no estudo e na vivência de valores, incluindo os cognoscitivos. “Colocar um problema, onde tudo parece

evidente é essa a essência do pensamento criador, tanto na ciência como nos outros domínios. Levantar uma questão consiste em

perspectivarmos uma realidade sob um novo ângulo. O questionamento é constitutivo da experiência, tanto da percepção como do

saber que dela resulta. “Pouco importa aqui a modelização do processo interrogativo” (Michel Meyer, A Problematologia, Publicações

Dom Quixote, Lis-boa, 1991, p. 61). E escreve, mais adiante, o mesmo autor: “Que tenha cuidado aquele que pretende já ter as

respostas, sem se ter interrogado, sem as ter interrogado” (p.274).“De um ponto de vista conceptual, o poder encontra-se entre duas

noções mais amplas: a de capacidade transformadora, por um lado, e a de dominação, por outro. “O poder é relacional,

mas só opera através da utilização da capacidade transformadora, tal como esta é gerada pelas estruturas de dominação”

(Anthony Giddens, op. cit., p. 89).Poderíamos

Motricidade Humana no Rio de janeiro

relembrar, aqui, que “foi nobiológico, no somático, no corporal que, antes de tudo,

investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade bio-política” (Microfísica do Poder, Edições Graal, Lisboa, 1996, p. 80).

Oxalá o poder, seja ele qual for, com a vibratilidade típica do hermeneuta, se deite a pesquisar: se o que tradicionalmente se

conhece como Educação Física tem, ou não, como objeto de logicamente, como uma ciência humana;e, se a motricidade humana é o “corpo

em ato”,os correspondentes “curriculares” universitários não deverão rever-se, de modo a que se torne visível,no estudo e na pesquisa,

um novo paradigma. De facto, é na busca de um novo paradigma que eu me situo – paradigma que não é objeto, mas sistema.

Com efeito, quem se movimenta intencionalmente,movimenta-se com bem mais do que apenas o seu próprio peso. A

propósito, podemos chamar à colação o Edgar Morin de O Método – 1: “Os objectos dão o seu lugar aos sistemas; no lugar de essências e

substâncias, organização; em vez de unidades simples e elementares, unidades complexas; em vez de agregados que formam corpo, sistemas

de sistemas de sistemas” (p. 148). Daqui resulta que um sistemas e constitui como uma rede de relações e de conexões, que podem

realizar-se, quer em baixa,quer em alta complexidade (e quanto maior é a complexidade, maior é a incerteza). “Para

realizar la descripción de las relaciones intrasistémicas, debemos tener en cuenta que cada elemento a su vez esun sistema con todas

las características de sistema ycuyos elementos constituyentes no son elementosque pudiéramos llamar simples. Según Luhman, ladiferencia

entre sistema y entorno obliga a sustituirla diferenciaentre el todo y las partes por unateoria de la diferenciación de sistemas. La

diferenciación de sistemas es, simplemente, la repeticiónde la formación de sistemas dentro de los sistemas”(José Rozo Gauta,Sistémica y

PensamientoComplejo – paradigmas, sistemas, complejidad, Biogénesis, Colombia, 2003, p. 56).Assim,o que venho pretendendo organizar,

de há quase trinta anos a esta parte, não é um novo objecto, mas uma nova unidade complexa ou sistema, a CMH,onde o movimento se

confunda com a utopia de transformação da realidade. Também no desporto,na dança, na ergonomia, na reabilitação psicomotora, etc., é

preciso assumir em pleno a condição humana! As aulas, nos cursos de Motricidade Humana,

devem repensar-se de forma a permitirem o desenvolvimento doutras qualidades, para

além das físicas, tais como: a razão, a sensibilidade,a percepção, a imaginação. É evidente que necessárias se tornam: “a

aproximação personalizada do professor ao aluno; a estimulação da actividade do aluno, como modo de estar e de fazer, em que ele se

sente significativamente envolvido; a produção do conhecimento, não como prerrogativa do professor, mas comparticipada pelos alunos,

numa dinâmica de pesquisa sempre em aberto que permitirá, não só aprofundar a informação como ampliá-la e diversificá-la”

(Emanuel Medeiros, A Filosofia como centro do currículo, na educação ao longo da vida, Instituto Piaget, Lisboa, 2005, p.58) – mas que

se tenha em conta que, numa Filosofia da educação, as referências e os instrumentos não são unicamente pedagógicos. E a ideologia? E

a classe social? E a subjectividade? E a cultura? E o currículo oculto?... A superação do idealismo, ou até do oportunismo, começa na

“definição de um caminho no qual está o sujeito real, que age, vive e pensa” (idem, ibidem, p. 338). Não há humanismo integral,

nos hiperespecialismos, que aumentam exageradamente certas dimensões do humano e subdesenvolvem outras. O treinador

desportivo,ou o ergonomista, ou o técnico de dança, etc., etc. devem radicar a sua actuação em grandes eixo saxiológicos e políticos, onde

se afirme o primado da ciência sobre a tradição e o primado da sensatez sobre o capricho e o primado da esperança sobre

messianismos exógenos ou endógenos. A CMH é, antes de tudo, movimento intencional e quem se movimenta, mais do que pensar, vive!

Qualquer um dos aspectos da Motricidade Humana é uma forma de vida. E se “todo vivir es convivir con una circunstancia”, como dizia

Ortega, no desporto (por exemplo), as funções cognitivas e afectivas do praticante são mais do que desporto, mesmo em plena

prática desportiva. De salientar, aqui, que o jogo é uma oportunidade única de desenvolvimento da criança que nele aprende

a aprender. A criança (e o adulto) deve jogar como se a vida e a sanidade mental dependessem da actividade lúdica.

Inteirados do que vem de escrever-se até aqui,é-nos lícito fazer a síntese e concluir. A CMH (decorrente de um corte

epistemológico,ou de uma mudança de paradigma, no seio da Educação Física) é uma

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

nova ciência humana, onde portanto o ser humano surge, como ser, consciência e valor. Não há aqui qualquer assomo de positivismo,

ou da criação de fronteiras artificiais (geradoras de claustrofobia) pois que a especificidade histórico-cultural e política da

CMH é de rebeldia contra o que é aceite pela tradição acrítica e pela rotina e pela sua colonização da realidade, através do

desenvolvimento à moda ocidental (são chamados bárbaros os que se opõem a este processo civilizador). De facto, é nas “margens”

(ou entre os marginais que não se confundem com integristas e terroristas) que, muitas vezes, se conservam os valores humanos, contestados

pelo Ter e pelo Poder. Nasce aí, normalmente,a crítica e a subversão da desordem estabelecida.E se o determinismo da ciência

ocidental, cartesiana e positivista,foi superado, por que não há de suceder o mesmo com o desporto excludente- produto do capitalismo

mundializado? O método é o integrativo, ou seja, a síntese de muitos métodos, sem esquecer que o lugar constituinte da relação

eu-tu é a linguagem, é o diálogo. Um outro ponto a considerar: se a profissão do licenciado em Motricidade Humana radica num

curso universitário, é certo que se fundamenta numa área científica (ou numa ciência mesmo), dado que a universidade é o lugar, por

excelência, onde se cria e recria o conhecimento científico e daí procure proporcionar uma ampla cultura científica de

base. Por outro lado, a ciência exclui, tanto o maximalismo dos militantes fervorosos de uma causa, como o imobilismo dos práticos.

Reafirmo a recusa, pela CMH,do positivismo e do cientismo. “Substituir Deus pelo que o sentido possa ser desocultado e perseguido

(...). Em consequência, qualquer cientista prudente dir-vos-á que não deseja responder à questão do porquê das coisas e que o seu

domínio de predilecção se limita à investigação do como” (Adalberto Dias de Carvalho (org.), Problemáticas filosóficas da

Educação, Edições Afrontamento, Porto, 2004,p. 51). Há fenómenos que escapam aos meios de pesquisa (investigação) das ciências.

Uma lágrima,por exemplo, não é só água e cloreto de sódio. E a miséria que grassa pelo mundo não se resume a um fenómeno típico da

economia, porque reveste também a dimensão ético-política. Os cursos de Motricidade Humana hão-de acentuar que o saber não é

um conjunto de conhecimentos puramente

intelectuais, nem simplesmente Físicos, pois que a cultura é a aliança do saber e da vida. Por isso, a universidade há-dereforçar a ligação

ao universo do trabalho, procurando ligações institucionais com empresas, hospitais, ginásios, clubes, etc.Também os cursos de Motricidade

Humana não devem deixar aprisionar-se pelo modelo biomédico tradicional(que decorre das seguintes premissas: ênfase em medidas

numéricas e em dados bioquímicos,dualismo corpo-mente, visão das doenças como entidades, reducionismo, ênfase no doente

individual e não na família ou na comunidade) porque a saúde passou a ser observada doutra forma.

A evolução do conceito de saúde estuda-se, hoje,dentro de um conceito sistémico. Demais, só de dentro de uma visão sistémica pode

emergir uma “utopia motora” que seja a expressão corpórea de uma utopia social. Por isso, o atleta que só faz o que o treinador

ordena é, de certo, um praticante de fraco nível. Depois, os profissionais de Motricidade Humana deverão trabalhar na Saúde, mas

também no Desporto, na Arte, na Educação, no Lazer,no Trabalho. A Motricidade Humana terá futuro se forma reeducadores e técnicos, que

sejam simultaneamente investigadores (criadores e recriadores de condições que humanizem a vida de cada um de nós, como

cidadãos,como profissionais, como pessoas)e não professores, simples técnicos que não passaram ainda à hodierna tecnociência

(meros transmissores de velhos conhecimentos). A problemática dos profissionais de Motricidade Humana -se inscreve-se no círculo

mais amplo da problemática da formação humana e ainda da inovação e da competitividade, tão em voga, mas visando

sempre a saúde e a educação problematizadora... para todos! Os profissionais de Motricidade Humana são,

indubitavelmente, mesmo com a designação profissional de técnicos,formadores, isto é, recebem e dão formação, em vista a um futuro,

no qual a variedade seja unidade também. Definem-se duas grandes possibilidades da CMH: um saber que se estuda e desenvolve, no

círculo restrito dos especialistas;uma prática que vai chegando, nas suas várias formas, ao alcance de todas as pessoas. Há, assim, nesta

acepção, uma dimensão iniludível entre o desporto, a dança, a ergonomia, a reabilitação psicomotora e a democracia e a

própria filosofia. Temas como as liberdades

Motricidade Humana no Rio de janeiro

fundamentais, a generosidade, o companheirismo, a solidariedade, a justiça, o

respeito pelos outros e por nós mesmos, etc., temas eminentemente ético-políticos, devem acompanhar uma práxis que se pretende, em

primeiro do mais, saudável e promotora de uma boa condição física (physycal Ftness). Mas, as variáveis associadas a um estilo de vida

saudável são também políticas. Na linha da prática política, a CMH aceita e admira os espectáculos de Desporto e Dança, praticados

por superdotados e super treinados. Mas que não se promova o espectáculo desportivo, para conformizar e anestesiar multidões, para

adormecê-las enfim à recusa da sociedade injusta estabelecida. Em tudo o mais, o atleta superdotado assemelha-se ao artista e ao

literato e ao cientista e ao técnico, superdotados, isto é, merece apoio, admiração e aplauso. Qual o futuro da CMH? Depois da

ginástica (aGymnasia, entre os gregos, integrava a Athletiké, como sua sub-classe) e da educação física, oxalá ela seja

considerada (e construa para tanto as linguagens e as ferramentas teóricas) uma ciência fundamental, como fundamental é,

para o ser humano, o movimento intencional,

visando a transcendência, a qual é, para a CMH, o sentido da vida. Que não se esqueça,

por fim, que é imperioso inovar. Mas será a inovação um valor absoluto em si? Se a ciência e a cultura são universos necessariamente

axiológicos, importa acompanhara inovação de um questionamento permanente, de uma busca incessante de sentido e de sabedoria. É

normal, em nome da inovação, descambar no mais puro cientismo ou colectivismo. Na linha Filosofica da CMH, afinal uma Filosofia

humanista e personalizante, nem toda a mudança é inovação. Só o é verdadeiramente se houver nela um acréscimo de humanidade,

na sua prática e na sua teoria. Manuel Ferreira Patrício, um dos expoentes da filosofia da Educação, em Portugal, escreve a propósito da

Educação: “O que vem de novo em Educação não é necessariamente bom. “A genuína inovação educativa exige a envolvência

axiológica” (in Emanuel Oliveira Medeiros, coordenador,Utopia e Pragmatismo em Educação: Desafios e Perspectivas,

Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 2002,p. 58).Mutatis mutandis, ao referir-me à CMH,que não é só Educação, faria minhas as

palavras do insigne pedagogo.

Manuel Sérgio nos anos 90 junto ao Grupo"Poesia em Movimento" criado a partir de suas idéias.

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Dra Eugenia Trigo ( grande incentivadora da Motricidade Humana) e Dr. Manuel Sérgio Vieira e

Cunha

A Contribuição da Motricidade Humana frente os desafios do Século XXI

Rosa M. Prista

Em 2017 é fato inalterado que a

constituição da Ciência da Motricidade

Humana é real, necessária e continua

transformando pessoas, instituições e processos

científicos.

O surgimento da Motricidade Humana

altera consistentemente a forma de ver os

fenômenos. Do corpo máquina ao corpo-

existência, a corporeidade surge para edificar

um homem-sentido, um homem-intenção que

contextualizado analisa , reflete, constrói em

processo dialógico com a cultura. A ênfase

unilateral no físico se despede em direção ao

sócio-cultural mas esta passagem só pode ser

executada a partir de um sujeito

intencionalizado que se manifesta na

passagem do "penso, logo existo" para "movo-

me, logo existo."

A grande questão é que o mundo atual

invadido pelo avanço das tecnologias de

informação, pela globalização da economia e

das relações internacionais dominou também a

subjetividade humanas de tal forma que o

desequilíbrio se instalou desestabilizando a

capacidade de refletir os fenômenos sub-bases

profundas.

O ser humano não está preparado para o

enfrentamento adaptativo necessário aos

desafios do século XXI, pois as instituições

básicas e edificantes da personalidade - a

família, a escola e as instituições de saúde não

estão mediando processos significantes à

humanização do Ser.

Quando me refiro ao Ser banho-me nas

idéias de Heidegger: "o Homem é 'atirado

‘pelo próprio ser na verdade do ser, para que,

"existindo", desta maneira, guarde a verdade

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

do ser para que na luz do ser o ente se

manifeste como o ente que efetivamente é. "

As mudanças do século XXI criam novas

ondulações no movimento físico, psíquico,

relacional e cultural. O Homem tem se

apropriado de cenas sem a devida reflexão

que gera escolhas intencionalizadas. Mas ao

mesmo tempo em que o deslocamento nos

coloca frente a novas cenas é também

provocativa de:

• 1- Violência urbana, bullying e outras

manifestações;

• 2- Economia instável que gera

instabilidade emocional e relacional;

• 3- O fim das certezas e a flutuação dos

fenômenos;

• 4- Empobrecimento do sistema cognitivo

– memória, percepção, inteligência,

análise e síntese;

• 5- Racionalização em detrimento do

pensamento reflexivo;

• 6- Baixa produção criativa;

• 7- Perda de autonomia e independência

existencial;

• 8- Instabilidade Emocional – Aumento

das síndromes e baixa frustração;

• 9- Ausência da Educação Financeira,

instabilidade familiar, perda dos limites;

• 10-Aumento significativo de patologias

psíquicas em função da ausência do

exercício da paternagem e dos limites

espaciais;

• 11- Famílias Disfuncionais;

• 12- Aprendizagem descontextualizada e

desinteresse pelo verdadeiro processo

de aprender;

Então o século XXI vem repleto de

necessidades que urgem por mudanças. Estas

mudanças não são metodológicas, mas

paradigmáticas onde as ciências da Educação e

Saúde precisam partir da complexidade

constitutiva humana. Só podemos avançar no

conhecimento da pessoa que intencionalmente

age e constitui-se corporeidade e esta só pode

ocorrer na motricidade anunciada por Manuel

Sérgio, pois muito além de contrações musculares

somos seres desejosos, pensantes, criativos e

construtores. Somos motricidade enquanto

potência adaptativa, rica de possibilidades e

praxidades desde que desde pequenos sejamos

mediados por pessoas que signifiquem os seres

humanos.

Este é um ponto chave: é preciso redefinir as

necessidades humanas. E quais as necessidades

humanas que permitem o acesso a dimensão rica

e colorida da subjetividade? Nas palavras de

Manuel Sergio; " é preciso passar do mundo das

necessidades, artificialmente criadas, às

verdadeiras necessidades do Homem" e nesta

reflexão criamos ponte com o ser político pois é

preciso" Passar de uma sociedade ao serviço do

Ter e do Poder a uma sociedade do ser onde se

distribua equitativamente o Ter e o Poder.

Neste mundo velado em falsas necessidades

calcadas no TER o homem não tem construído um

sentimento sobre si que o convide a aprofundar

e descobrir sua potência, a partir do sentir o que

falta e que o coloca em movimento na busca de

transcendência. Sem parar não há auto escuta e

sem esta não há como definir padrões de

integridade, padrões internos capazes de lidar

com as urgências do século XXI. Se o corpo não

possui apenas a dimensão anátomo-fisiológica,

mas é síntese do processo vivido em todas as

suas dimensões internas e dialogizadas com o

sociocultural nossas instituições educacionais e de

saúde estão muito distantes do processo da

complexidade humana. Pelo contrário estão

doentes porque há falta de vida!

Se pensarmos o conceito de saúde nos

reportamos automaticamente a ausência de

doença ou ao clássico bem estar físico,

psicológico, social. Quando se pensa na

introdução na Motricidade Humana como ciência

é precioso pensar nas terminologias e em

conectar conceitos a um sujeito intencionalizado.

Motricidade Humana no Rio de janeiro

Portanto, saúde só tem sentido a partir da busca

por caminhos saudáveis se compreendermos que

para haver saúde é preciso existir um sujeito

intencionalizado. Saúde não é aspecto físico, é

fenômeno social e se enraiza em vários aspectos

políticos que somente um sujeito axiotrópico é

capaz de construir. Sim, saúde é processo

construído a partir de nossas intenções na

apropriação do sócio-cultural.

Depois se precisa pensar nas instituições que

estão organizadas de forma cartesiana onde

cada área de conhecimento não dialoga com as

outras, pelo contrário, ainda possuímos uma

hierarquia perigosa onde os aspectos físicos e

biológicos ganham supremacia em detrimento

das demais. Marcadamente os aspectos

psicológicos são distorcidos em discursos do tipo:

" não é nada, é psicológico"; " é stress, passa".

Não! A Psicologia possui diversos caminhos

metodológicos mas neste espaço vou além e

proponho o estudo da Psicologia Analítica,

campo de estudos fundado por Jung, exímio

aluno de Freud, mas que chegou muito mais

próximo da visão sistêmica de vida e que

levantou caminhos terapêuticos (re)construtores

da consciência e capazes de mobilizar a

bioquímica cerebral através das emoções. Jung

deixou um grande legado para aqueles que

conseguem unir seus estudos aos da motricidade

humana. Como o grande Manuel Sérgio registrou

em Porto do Son por ocasião do IV Congresso

Internacional de Motricidade Humana: "O

inconsciente é parte da complexidade humana!"

Para ter saúde é preciso mobilizar os recursos

auto-organizativos do homem e isto só é possível

a partir da expressão livre do homem que

permite o fluir de conteúdos emocionais e

liberação energética tão descrita nos estudos da

medicina auricular, acupuntura sistêmica, Florais

de Bach, Moxabustão e outros. Mas as

instituições de saúde seguem protocolos rígidos,

continuam a fazer anamneses direcionando o

pensar das pessoas e a conduzir o tratamento do

sujeito colocando-os como pacientes e sob a

tutela dos profissionais de saúde. Este é o

grande ponto. Somente há saúde quando há

participação ativa da unidade somatopsíquica

do Homem, com exceção apenas dos casos

clínicos onde a pessoa não está consciente. Mas

mesmo nestes casos se não houver uma

contextualização histórica do binômio saúde-

doença do sujeito minimizamos as possiblidades

de cura.

Imaginemos então que na correria do dia a

dia, com a agenda lotada de compromissos

familiares e profissionais poderem imaginar que

é possível ter um tempo só para si, cuidar de si,

da saúde que é você. E se fossemos a uma

instituição séria, ética onde você é recebido

como se fosse a sua casa. Tomasse um cafezinho,

pudesse ler obras poéticas ou simplesmente

pensar na riqueza de sua vida. Sem contar que

as crianças também tivessem um espaço

adequado a elas... E indo além, imagine que

você será atendido por profissionais

especializados em diversas áreas com rigorosos

padrões de ética, técnica e tecnologia? E se estes

profissionais primassem pela ecologia e com o

desenvolvimento social e te convidasse a doar, a

participar, a refletir e a participar de ações

verdadeiramente sociais que pudesse ajudar ao

outro menos favorecido. Parece um sonho, mas

não é. Precisamos repensar uma saúde

contextualizada, amorosa, eficiente e respeitosa.

Aprendi com Manuel Sérgio, com os estudos

ofertados por ele e aprendi a construir um

trabalho com excelência onde o ser humano é

incentivado a empreender, a conquistar, a se

valorizar e a receber o melhor que possuímos.

E quanto à instituição escolar? A instituição

escolar perdeu o seu sentido de vida. A escola é

local de aprender sobre a vida e não sobre

conteúdos vazios e descontextualizados. Muito

me preocupa o que a mídia posta sobre as

crianças. Hiperativas? Depressão Infantil? O que

estamos fazendo com nossas alegres, ricas e

empreendedoras crianças? Acredito que a escola

focada nos valores do TER tem anulado todas as

teorias sobre desenvolvimento e aprendizagem

disponibilizadas por Piaget, Wallon, Luria e

Vygotsky, pois não se apressa desenvolvimento,

se media, acompanha, enriquece. Mas como

estão os adultos? Felizes? Preparados para

transmitir a sua riqueza de vida? De informação?

Sabemos que a situação da educação é caótica

e tudo começa pelos adultos. Temos

empobrecido simbolicamente as crianças,

minimizado a sua capacidade reorganizativa,

temos enfraquecido o sistema bioquímico

principalmente na questão da serotonina e,

portanto alterado os sistemas imunológicos e

endócrinos. A conclusão é o crescimento de

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

doenças, uso de antibióticos e remédios para

concentrar a criança. Nossa! Temos que mudar os

paradigmas! O sistema neurológico de uma

criança é ágil, elaborado, reorganizativo desde

que possamos ofertar a criança afeto - entenda

afeto como dar valor aos atos da criança que

passa pelo SIM e pelo Não; comunicação -

entenda comunicação sob o princípio dialógico -

eu falo, eu escuto, nós elaboramos juntos e

apresentamos ao mundo nossa construção; pela

oferta de espaços adequados ao seu

desenvolvimento - entenda aqui a escolha da

creche , da escola que não pode passar pelo

preço mas pela qualidade de um projeto

pedagógico ou ainda da busca por políticas

públicas que permitam acesso a todas as

crianças. Infelizmente a realidade não tem sido

pela busca de qualidade. Os pais cada vez mais

desinformados se perdem entre tantas

divulgações e não aprofundam o que buscam.

Perguntam aos pais o que acham perdendo a

sua capacidade familiar de decidirem enquanto

família os valores diferenciados que desejam

para seus filhos. Escolhem escolas para concursos

fazendo a criança perder o tempo presente. que

futuro é este? Em terapia não é diferente. Os

pais buscam respostas no terapeuta e esquecem

que trazem uma bagagem, uma história familiar

que deve ser analisada, refletida e recriada.

E os adolescentes morrendo enforcados a

partir de um jogo disponibilizado na internet? E o

aumento de uso de drogas pesadas? O aumento

de álcool pelos jovens? Parece-me que além da

família já sinalizada acima que vem perdendo a

sua circulação energética, de conhecimento, de

afeto e, portanto está levando a escola pessoas

sem base neuropsicológica necessária para a

passagem a segunda instância que deve

aprimorar enriquecer, informar e abrir o mundo

a criança. A escola na busca por clientes tem

assumido aspectos que não podem assumir. Cabe

a família os primeiros valores. Cabe à escola

conhecer estes valores em sua diversidade e

enriquecer com informações, com imagens, com

jogos, brincadeiras e mais importante ainda,

mediar ações psicomotoras básicas para que a

criança constitua sua corporeidade.

Sim, eu acredito nesta escola pois vivi durante

anos a proposta da Pedagogia Freinet nas

escolas do Brasil e a nível internacional, onde

ainda faço parte. Não podemos mais admitir a

perda das valiosas experiências de Freinet e de

Freire que se banhou no amigo francês. Ambos

estavam antenados com a visão de Homem

proposta pela Motricidade Humana. Sua prática

permitia o tempo lento e rápido em ricas

experiências pedagógicas que já tinham em sua

raiz a transdisciplinaridade. Mediavam ações no

coletivo, em propostas democráticas, ricas e

necessárias as necessidades dos alunos e do

coletivo. Olhavam em torno, pensavam

problemas e soluções. As aulas usavam os

recursos artísticos nas várias manifestações,

provocavam encontros e ampliavam a

intersubjetividade. A ludicidade não era

momento a parte, era característica de todo os

momentos, pois para estes grandes educadores o

processo mestre-aprendiz era interminável. A

Escola de Freinet era uma escola sintonizada com

as necessidades humanas!

Bem, este artigo propõe e afirma. A

Motricidade Humana foi apresentada ao mundo,

possui seu próprio glossário, possui profissionais

importantes atuando, pesquisas no campo da

saúde e educação que mostram os resultados. O

que falta? Mover-nos, mover estruturas e

apresentar novas possibilidades de atuação.

Falta romper com a especialização, com a

simplificação e fragmentação de saberes para

uma atuação na complexidade humana.Provocar

a Universidade a assumir o seu lugar de

excelência e de postura frente as necessidades

do Século XXI, sem discriminação de propostas

mas buscar as evidências cientificas presentes na

Motricidade Humana! Base de todo e qualquer

conhecimento!

Motricidade Humana no Rio de janeiro

MANUEL SERGIO - PASSAGENS PELO RIO DE

JANEIRO

1990 - 2017

1990 - Encontro em Lisboa com Dr. Manuel

Sérgio Vieira e Cunha articulado pelo professor

Sidirley de Jesus Barreto;

1991 - Premiação do trabalho: Superdotados e

Psicomotricidade pela Fundação Mensa na

Holanda e nesta passagem por Portugal as

relações entre o Dr. Manuel Sérgio e a Dra Rosa

Prista se estabeleceram;

1992- O CEC- Centro de Estudos da Criança

recebe o Dr. Manuel Sérgio Vieira e Cunha para

comemoração dos dez anos de fundação. O

evento ocorreu na PUC -Pontificia Universidade

Católica do Rio de Janeiro. Nos anais surge o

artigo: “Motricidade Humana, o lugar de o corpo

no aprender organizado por Rosa M.”. Prista;

Criam-se grupos de estudos que vão dar base

para o surgimento da Associação Carioca de

Motricidade Humana junto com o professor

Felismar Manoel;

1993 - O CEC - Centro de Estudos da Criança

passa a utilizar o nome CEC - Comunidade de

Estudos Científicos conforme anunciado pelo Dr.

Manuel Sérgio. Inicia grupos de estudos e

pesquisas sobre Motricidade Humana;

O Conhecimento da Motricidade Humana é

levado para diversos cursos pelo país . A saber:

Amazonas, Ceará, Sergipe, Bahia, Minas Gerais,

são Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso, Goiás,

Rio Grande do sul, Paraná, Pará em diversas

ocasiões.

Criam-se Programas de Qualidade de Vida com

as famílias de pessoas com deficiência

contextualizando os sintomas apresentados;

Realiza-se o evento: Motricidade Humana, a

Revolução Cientifica, na Universidade do Estado

do Rio de Janeiro;

Crianças ( independente dos diagnósticos!) aprendem sobre o paradigma da VIDA!

1994- O Professor Sidirley de Jesus Barreto vem ao Rio apresentar os novos conceitos da CMH ;

Surgimento das discussões sobre as raízes epistemológicas da Motricidade Humana e da Psicomotricidade;

1995 - No Curso de Formação em Psicomotricidade Sistêmica a aluna Flavia Faissal cria uma monografia

sobre a vida de Manuel Sérgio Vieira e Cunha;

1996- São criados os Programas de Desenvolvimento para pessoas superdotadas onde os estudos da

Motricidade Humana constitui bases diferenciadas de atuação;

1997 - Criação da Sociedade Internacional de Motricidade Humana;

O artigo: A Motricidade Humana : Uma Revolução Cientifica é constituído pelo professor Sidirley de Jesus

Barreto;

Início de Produção de monografias sobre o tema com destaque para a professora Flavia Faissal;

Em Congresso em Madrid sobre Síndrome de Down é proposto a interdisciplinaridade da Motricidade

Humana na relação com pessoas com Down;

1998 - Os Programas de Desenvolvimento se expandem para pessoas com deficiência em interseção com

família e escola;

O Centro de Estudos da Criança rompe definitivamente com atendimentos isolados nas áreas do saber. A

busca por caminhos sistêmicos foram gradativamente sendo implantados.

1999 - I Encontro Internacional de Motricidade Humana em Almada/Portugal - Instituto Piaget.

Momento de Inserção na Rede Internacional de Pesquisadores em Motricidade Humana; Tornam-se

companheiros Eugenia Trigo, Katya Godoy e Carol kolyniak;

A Dra. Rosa Prista e Dr. Felismar Manoel lançam projetos na Região da Baixada Fluminense; Acorda

Escola! Saraus Poéticos e a inserção definitiva nos estágios de Psicologia e Fisioterapia;

Em agosto de 1999 o Dr. Manuel Sérgio retorna ao Brasil para a realização do II Encontro Regional de

Educadores Freinet que ocorreu no Centro Universitário Celso Lisboa

Realização do "Encontro com a Motricidade Humana" - jornada de transformação pessoal e profissional

intenso com dois dias de discussões com Manuel Sérgio;

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

2000 - Dra Rosa Prista participa da Reunião Internacional de Educadores Freinet na Austria

Compartilhando as experiências com pessoas com deficiencia e superdotados a partir das ideias

desenvolvidas pelo professor Manuel sérgio Vieira e Cuinha;

É realizado o I Encontro Científico da Psicomotricidade na Universidade Estácio de Sá com Dr. Carol

Kolyniaky e Marta Lovisaro. Ficou firmado neste encontro que Carol Kolyniaky e Rosa Prista efetivariam

parcerias em prol da Motricidade Humana pelo Brasil;

2001 - Participação no II Encontro Internacional de Motricidade Humana - Muzambinho - Minas Gerais .

Dr. Manuel Sérgio foi substituído pelo Dr. Trovão do Rosário, outro companheiro por vários anos. Neste

encontro Dra Rosa Prista e Carol Kolyniaky foram da comissão avaliativa . Percebe-se uma continuidade

da visão cartesiana e fragamentada do Homem nos trabalhos.

Há um corte neste congresso internacional pois foi combinado que daríamos continuidade ao glossário da

Motricidade Humana, o que só viria a ocorrer anos posteriores;

2002 - Surge o Informativo da Motricidade que passou a seremdistribuídas as Universidades e Escolas do

Rio de Janeiro;

O evento: Inclusão Escolar: Pra quê? Para quem? Por quê? Realizado no SESC Engenho de Dentro traz ao

público geral os novos conceitos da Motricidade Humana;

Realiza-se o evento: Motricidade e Desenvolvimento Humano na União Esportiva da Vila Olímpica da

Maré com a presença do Dr. Manuel Sérgio e da Dra. Eugênia Trigo. Este evento foi de valioso valor pois

a maioria dos profissionais das vilas olímpicas são de educação física e não possuem qualquer

conhecimento sobre os estudos da Motricidade Humana;

Realiza-se o evento: Poesia em Movimento com presenças também dos professores Ivo de Sá, Katya

Godoy, Felismar Manoel;

Publicação do artigo: A corporeidade e relacionalidade do ser humano de Felismar Manoel na Revista

Fisioterapia Brasil;

2003- Realiza-se o Vii Encontro Nacional de Educadores e II Encontro Latino-Americano para o progresso

da Pedagogia Freinet onde a equipe do Rio de Janeiro leva a Blumenau com o Mestre Sidirley de Jesus

Barreto a prática teorizada da Motricidade Humana na Educação;

Comemora-se os vinte e um anos do Centro de Estudos da Criança no Teatro da FAETEC/RJ com a

presença do Dr. Felismar Manoel que abre o evento trazendo a mensagem da Motricidade Humana;

Defesa da dissertação de mestrado: A questão relacional em terapia física sob o enfoque da ecologia do

desenvolvimento - Felismar Manoel na Universidade Castelo Branco ;

Apresentação do projeto: Motricidade Humana e Desenvolvimento à Universidade Castelo Branco na

gestão do coordenador do Curso de Fisioterapia: André Menezes, grande incentivador dos estudos da

Motricidade Humana;

Presença da Dra. Eugenia Trigo na Universidade Castelo Branco que durante quinze anos desenvolveu

estudos profundos na área: instalação da disciplina Epistemologia da Motricidade Humana que teve a

Dra Rosa Prista como líder; criação do CEPTESE - Centro de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares em

Educação, Saúde e Esporte; trinta projetos de extensão incentivadores na mudança de paradigmas

Motricidade Humana no Rio de janeiro

.

Participação no I Encontro Internacional de Pesquisadores em Motricidade Humana na Faculdade São

Judas Tadeu com o tema: Inteligência e Motricidade Humana;

Defesa da Tese de Doutoramento pela American World University: A Desumanização do Ser nas Escolas

de Educação especial. Um estudo a partir da Motricidade Humana sendo o Dr. Manuel Sérgio o

orientador temático;

2004- Lançamento do livro: Superdotados e Psicomotricidade. A Complexidade Humana em Questão na

Bienal do Livro pela editora CELD apresentando os enriquecimentos propostos por Manuel Sérgio

2005 - Realiza-se o VI Encontro Regional de Educadores Freinet na Faculdade Gama e Souza quando

dialogamos as propostas de Freinet , Freire e a visão de Homem de Manuel Sérgio Vieira e Cunha;

Realiza-se o IV Congresso Internacional de Motricidade Humana em Porto do Son - Espanha.

Participação com dois trabalhos: Deficiência Mental ao Espelho. Um Estudo a Partir da Motricidade

Humana e o polêmico trabalho : Inconsciente e Motricidade . A equipe do Rio de Janeiro manteve a

continuidade de estudos do inconsciente e motricidade compreendendo que a intencionalidade operante é

a dialética incessante entre consciente e inconsciente;

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Realiza-se o documentário sobre Motricidade Humana para registro da passagem de Manuel Sérgio pelo

Rio de Janeiro;

É lançado o Informativo 2 da Associação Carioca de Motricidade Humana;

O livro: Motricidade Humana e Fisioterapia, primeiro da Associação Carioca de Motricidade Humana é

lançado na Universidade Castelo Branco com apoio operacional do professor André Menezes.

Participação especial de Gustavo Guerra;

2006 - 2010 - Elaboração dos Programas de Desenvolvimento do CEC - Centro de Estudos da Criança

Motricidade Humana no Rio de janeiro

Enriquecimento da disciplina: Para uma Epistemologia da Motricidade Humana na Universidade Castelo

Branco através de 30 projetos de extensão com discentes da Escola de Saúde;

2009 - Lançamento do livro: Deficiência Mental ao Espelho. A Humanização do Ser através da

Psicomotricidade. Intencionalidade, Inteligência e Complexidade pelo CEC - Centro de Estudos da

Criança;

Lançamento do livro: Formações em Psicomotricidade - Edição Histórica. Editora All Print , 2004;

A Associação Carioca de Motricidade Humana passa a se chamar Associação da Motricidade Humana do

Rio de Janeiro;

2010 - Funda-se a Escola de Autistas tendo a motricidade Humana como eixo fundante. Modifica-se a

visão paradigmática sobre autistas;

2011 - Inicia-se o Projeto: Homem em Movimento no Club do Vasco da Gama por solicitação do vice-

presidente Tadeu Corrêa. Esta experiência não concluída marcou abertura para sérias reflexões sobre o

desporto infantil que está publicado em artigo de autoria de Rosa Prista, Felismar Manoel e Sidirley de

Jesus Barreto;

2012 - Lançamento do livro: “Eu aprendo com você”. Você aprende comigo? Aprendizagem e

Desenvolvimento em diversos contextos- programas de desenvolvimento CEC que apresenta a

reconfiguração dos atendimentos na perspectiva da motricidade humana;

2013 - Lancamento do Projeto: "Ser Atleta";

2014 - É criado o CEPTESE - Centro de Estudos e pesquisas Transdisciplinares com o evento:

ECOTRANSFORMAÇÃO. Dr. Manuel Sérgio de forma on line participou trazendo as contribuições dos

professores Rosa Prista, Felismar Manoel, Regina Macedo e Sidirley de Jesus Barreto que também

estiveram presentes;

Funda-se a linha de pesquisa: Motricidade Humana e Neurociências com participação de alunos da Escola

de Saúde da UCB;

Cria-se os Espaços dialógicos com a Motricidade Humana com participação espontânea de alunos da

Escola de Saúde;

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

2015 - Momento de grande produção no CEPTESE - Centro de Estudos Transdisciplinares em Educação,

Saúde e Esporte , centro de pesquisas criado pela Dra. Rosa Prista e fomentado em conjunto por Regina

Macedo na Universidade Castelo Branco. Dr. Manuel Sérgio e Eugenia Trigo foram pesquisadores

internacionais associados até a sua dissolução em final de 2016;

Motricidade Humana no Rio de janeiro

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Lançamento da Mostra: Autismo sob novas configurações na Universidade castelo Branco por ocasião do I

Encontro sobre Autismo e Políticas Públicas com a apresentação da Motricidade Humana como base;

Motricidade Humana no Rio de janeiro

Organização do artigo: . Uma ação da Psicomotricidade Sistêmica" Ser Atleta" . Uma ação da

Psicomotricidade Sistêmica em clubes esportivos frente às necessidades humanas no século XXI

Lançamento do livro: Pensar y Transformar.Un legado de Manuel Sérgio. Organizado por Eugênia

Trigo. Artigo de Rosa Prista e Sidirley de Jesus Barreto;

2016 - Elaborado o Projeto da Pós Graduação em Psicomotricidade Sistêmica com o Mestre Sidirley de

Jesus Barreto,Dr. Felismar Manoel, Especialista José Diniz Feijó e Dr. Alvaro Camilo onde a motricidade

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

humana encontra espaço de expressão e avanço cientifico. A FAPAG - Faculdade de Porto das Aguas

assume o projeto junto ao MEC

Participação no XIII Congresso Brasileiro de Psicomotricidade em Porto Alegre /RS onde a

Psicomotricidade apresentou suas bases epistemológicas em duas conferências e uma vivência corporal;

Apresentação do trabalho do professor Sidirley de Jesus Barreto recentemente falecido pela Dra Rosa M.

Prista;

Apresentação 2 da Mostra: Autismo sob novas configurações - UNIGRANRIO;

Apresentação 3 da Mostra: Autismo sob novas configurações - FAECAD

Lançamento da Revista Internacional On line TRISKEL onde a obra de Manuel Sérgio é recapitulada sob a

sua permissão;

imagem da triskel

Motricidade Humana no Rio de janeiro

Apresentação da obra de Manuel Sérgio no Seminário : Inclusão escolar Na FAECAD - Vila da Penha,

local que inicia a fomentação da motricidade humana na Pedagogia;

Motricidade Humana no Rio de Janeiro

Reorganização do CEPTESE na sede do Centro de Estudos da Criança com nova formatação e

participantes. Quatro linhas de pesquisas são desenvolvidas tendo a Motricidade Humana como base;

Lançamento do livro: Psicomotricidade, que prática é esta? Educação, Saúde , Esporte. Editora All Print de

organização da Dra Rosa M. Prista;

2017 - Lançamento da Pós Graduação e Formação: Motricidade Humana, Saúde e Tratamentos

Milenares;

Publicação do artigo: Autismo sob novas Configurações na editora Mythos onde a Motricidade Humana é

apresentada de forma prática no trabalho com autismo;

Participação no Colóquio Manuel Sérgio por ocasião de homenagem ao Dr. Manuel sérgio Vieira e

Cunha pelo Centro de Estudos da Criança, AMOHURJ e Escola de Formação de Psicomotricistas Sistêmicos;

Realização da I Jornada Internacional de Autoconhecimento e Transformação Profissional em Portugal

tendo como base a visão de Homem de Manuel Sérgio e Anna Feitosa;

Lançamento do E-book: MOTRICIDADE HUMANA:CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS FRENTE AS

NECESSIDADES DO SECULO XXI com apoio de Wilson Monteiro da Optimum Inglês Profissional.