motivações vivenciais

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A TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E HISTÓRICA DA DIFUSÃO DO PSICODRAMA PEDAGÓGICO EM CAMPINAS: RELATOS ORAIS SOBRE MOTIVAÇÕES VIVENCIAIS, CONTRADIÇÕES INSTITUCIONAIS E PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS, Roseli Coutinho dos Santos. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, 2004.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAO DISSERTAO DE MESTRADO

A TRAJETRIA INSTITUCIONAL E HISTRICA DA DIFUSO DO PSICODRAMA PEDAGGICO EM CAMPINAS: RELATOS ORAIS SOBRE MOTIVAES VIVENCIAIS, CONTRADIES INSTITUCIONAIS E PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS

Autora: Roseli Coutinho dos Santos Orientador: Prof. Dr. Valrio Jos Arantes

Este exemplar corresponde redao final da dissertao defendida por Roseli Coutinho dos Santos e aprovada pela Comisso Julgadora. Data: ____/_____/_______ Assinatura: _______________________ (orientador) Comisso Julgadora:

2004

by Roseli Coutinho Santos, 2004.

Catalogao na Publicao elaborada pela biblioteca da Faculdade de Educao/UNICAMPBibliotecria: Rosemary Passos - CRB-8/5751

Santos, Roseli Coutinho. Sa59t A trajetria institucional e histrica da difuso do psicodrama pedaggico em Campinas : relatos orais sobre motivaes vivenciais, contradies institucionais e perspectivas educacionais / Roseli Coutinho Santos. -- Campinas, SP: [s.n.], 2004. Orientador : Valrio Jos Arantes. Dissertao (mestrado) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educao. 1. Psicodrama pedaggico. 2. Psicodrama. 3. Educao. 4. Motivao na

educao. 5. Contradio. I. Arantes, Valrio Jos. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educao. III. Ttulo. 04-092-BFE

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RESUMOEsta pesquisa pretende contar como foi a implantao, o desenvolvimento e algumas experincias do Psicodrama Pedaggico na cidade de Campinas, pertencente ao Estado de So Paulo, atravs do levantamento de fontes primrias: relatos orais de psicodramatistas dirigentes de associaes ao longo de sua implantao, de publicaes das entidades (boletins e cartilhas), alm de livros sobre a histria do Psicodrama no Brasil. A idia foi pesquisar os arquivos organizados da extinta ACPS (Associao Campineira de Psicodrama e Sociodrama), do IPPGC (Instituto de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de Campinas) e do GEPA (Grupo de Estudos de Psicodrama Aplicado), alm de tambm recolher entrevistas orais de oito pessoas cuja participao marcou a trajetria do Psicodrama Pedaggico na cidade. A histria contada e circunstanciada, primeiramente, pela voz do pesquisador. Alm disso, cada entrevistado contar, um a um, como foi seu envolvimento no processo de desenvolvimento no Psicodrama, tendo como referncia aes e interlocues proporcionadas pelas experincias nesse espao de trabalho.

ABSTRACTThe process of implementation and development of pedagogic psychodrama activities in Campinas is presented in this research along with the description of some experiments on the subject. The psychodramatic primary sources are identified by means of oral reports from the personnel who directed the associations during the implementation of the psychodrama processes. Some specialized books relating the story of psychodrama in Brazil were also used as a basis for the study. Organized files of one extinct association, like ACPS (Associao Campineira de Psicodrama e Sociodrama), and the others IPPGC (Instituto de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de Campinas) and GEPA (Grupo de Estudos de Psicodrama Aplicado) were searched for relevant facts related to the implementation process of pedagogic psychodrama activities in Campinas. Oral interviews with eight persons who had a leading participation in the process are also included in this text. At first, the psychodrama implementation process in Campinas and its circumstances are told by the view and voice of the researcher. Next, each person who was interviewed could give a personal view of the implementation process and their specific participation in it.

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Dedico este trabalho aos meus pais, Odete e Joo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus que torna os sonhos possveis. minha famlia, sempre presente. Ao Fabinho, pelo apoio e companheirismo. Maria, irm de corao, pelo carinho e por estar presente em todas as horas. Ao professor Chefinho (Carlos Rodrigues de Souza), pela preciosa ajuda na traduo e por estar sempre disposto a ajudar. s diretorias da Adunicamp e aos meus colegas de trabalho pela compreenso e colaborao. Aos entrevistados, pelo conhecimento que me proporcionaram e que tornaram possvel esse trabalho. Aos professores Carlos Frana e Csar Nunes, pelas sugestes apresentadas no Exame de Qualificao e por aceitarem participar do processo de defesa. Agradeo de forma especial ao professor Valrio Jos Arantes, pela amizade e generosidade que me possibilitou a realizao deste trabalho. E a todos aqueles que, direta ou indiretamente, participaram deste estudo e que talvez no tenham sido citados.

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SUMRIOIntroduo Captulo 1: FUNDAMENTOS HISTRICOS E TERICOS DO PSICODRAMA 1. Noes Histricas Dados Histricos no Brasil 2. Noes Tericas Espontaneidade 3. Psicodrama e Educao Psicodrama Pedaggico Aplicaes do Psicodrama Pedaggico Captulo 2: ASPECTOS METODOLGICOS Captulo 3: RELATOS ORAIS SOBRE MOTIVAES VIVENCIAIS, CONTRADIES INSTITUCIONAIS E PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS 1. Motivaes vivenciais 2. Contradies institucionais 3. Perspectivas educacionais 4. Experincias e vivncias pessoais Captulo 4: A HISTRIA DO PSICODRAMA EM CAMPINAS: DAS FONTES PRIMRIAS S PERSPECTIVAS CLNICAS, SOCIAIS E EDUCACIONAIS Perspectivas clnicas Perspectivas sociais Perspectivas educacionais 01

07 07 12 23 30 33 35 40

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57 63 68 75

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81 83 85

Consideraes finais Bibliografia Anexos

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DOCUMENTOS E FOTOGRAFIAS

Foto da primeira turma da disciplina Psicodrama Pedaggico na Faculdade de Educao da Unicamp, em 1982 .........................

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Foto de Jacob Levy Moreno .......................................................... 12 Edital de fundao da ACPS ..................................................... Capas da Revista da FEBRAP .................................................... Foto do jornal da regio de Campinas noticiando a chegada do Psicodrama na cidade ............................................................... Foto da ltima turma da disciplina Psicodrama Pedaggico na Faculdade de Educao da Unicamp, em 2001......................... Fotos dos entrevistados ................................................................. 18 19 82 90 97

ANEXOS

Anexo I Relao dos entrevistados .......................................... Anexo II Entrevistas ................................................................ Anexo III Resumos das entrevistas da FEBRAP .................... Anexo IV Certificado de concluso de Psicodrama ACPS ..... Anexo IV Certificado de concluso de Psicodrama GEPA .....

97 98 134 139 141

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ABREVIATURAS

ABPS Associao Brasileira de Psicodrama e Sociodrama ACPS Associao Campineira de Psicodrama e Sociodrama DA Diretrio Acadmico DCE Diretrio Central dos Estudantes FEBRAP Federao Brasileira de Psicodrama GEPA Grupo de Estudos de Psicodrama Aplicado GEPSP Grupo de Estudos de Psicodrama de So Paulo IPPGC Instituto de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de Campinas MEC Ministrio da Educao e Cultura PUCC Pontifcia Universidade Catlica de Campinas PUC-SP Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo SENAC Servio Nacional de Aprendizagem Comercial SOP Sociedade de Psicodrama SOPSP Sociedade de Psicodrama de So Paulo SOPERJ Sociedade de Psicodrama do Rio de Janeiro UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura UNICAMP Universidade Estadual de Campinas UNISAL Universidade Salesiana

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Primeira turma da disciplina Psicodrama Pedaggico na Faculdade de Educao da Unicamp, em 1982.

INTRODUOEmbora seja significativo o nmero de educadores que fazem uso da metodologia psicodramtica em sala de aula, as publicaes sobre o Psicodrama Pedaggico tm sido menos divulgadas. Geralmente quando se fala em Psicodrama, principalmente para quem no conhece o assunto, imediatamente o relaciona com a psicoterapia, na Psicologia, em decorrncia do fato que, em sua grande maioria, as publicaes existentes so escritas por psiquiatras e psiclogos, da rea clnica. Outro fato relevante a ser mencionado que o Brasil o pas que tem o maior nmero de psicodramatistas em atividades nessa rea. O pai do Psicodrama, o1

psiquiatra Jacob Levy Moreno, citou que o Brasil o pas onde vive um povo que se pode considerar um dos mais espontneos entre as naes do nosso planeta. Por isso, a metodologia psicodramtica pedaggica vem ocupando um lugar cada vez mais importante, tanto no ensino acadmico como no tcnico especializado. Sua utilizao dinmica e prtica e, possivelmente por isso, pouca coisa tem sido feita numa linha de levantamento histrico e de reflexo sistemtica sobre o assunto. Com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento humano, atualmente, o Psicodrama Pedaggico utilizado, no somente na educao, mas por diversas reas de trabalho, entre elas: pessoas que trabalham em empresas, em diversas organizaes, em Recursos Humanos, treinamento e seleo, acompanhamento, recrutamento; Psiclogos, das reas clinica, educacional e empresarial, vivenciando tcnicas aplicadas aos pacientes; nas Organizaes No Governamentais; na orientao profissional. Cada pessoa trabalhando conforme sua habilidade. Em geral, os educadores tm como meta o objetivo de formar um aluno consciente e crtico, privilegiando apenas o aspecto cognitivo em detrimento dos aspectos afetivo e social. O fato de que o ensino muitas vezes exclusivamente cognitivo, utilizando-se aulas formais, expositivas, em uma relao vertical entre professor-aluno, ignorando o ser humano no ato de aprender, faz com que o Psicodrama Pedaggico venha preencher esta lacuna, pois uma metodologia que possibilita a interao desses aspectos atravs da aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento do ser humano como um todo. O Psicodrama Pedaggico uma metodologia constituda de atividades integradas por trabalhos em grupo, jogos e dramatizaes e que pode ser um instrumento em quaisquer nveis de ensino, alm da possibilidade de ser combinado com outros mtodos e atividades de ensino, como avaliao, trabalho em equipe, favorecendo a aquisio do conhecimento e o aperfeioamento das relaes.

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Conhecido como o pas em que o Psicodrama deu certo, nos ltimos 30 anos, o Brasil formou aproximadamente trs mil psicodramatistas entre mdicos (psiquiatras e no psiquiatras), psiclogos e educadores de diversas formaes. Alguns desses psicodramatistas produziram 99 livros sobre o tema e, aproximadamente, mil artigos, alm de inmeras monografias de credenciamento como psicodramatistas; diversas dissertaes de mestrado e teses de doutorado em universidades. Alm do que h tambm organizaes no-governamentais, escolas, instituies comunitrias e empresas utilizando essa teoria em nossa realidade. No que se refere ao Psicodrama Teraputico, vrios psicodramatistas brasileiros j se dedicaram ao seu levantamento histrico e a sua conceituao terica, entre eles pode-se citar Pierre Weil, Ceclia Coimbra, Srgio Perazzo e Ronaldo Pamplona da Costa. O projeto Memrias do Psicodrama da FEBRAP (Federao Brasileira de Psicodrama) teve o objetivo de resgatar a histria do Psicodrama no Brasil de 1960 a 2000. A realidade do Psicodrama Pedaggico tambm j foi objeto de estudo da pesquisadora da USP, Julianna Emma Florez, em 1986. Divulgar o Psicodrama Pedaggico ou Psicodrama Aplicado Educao, na cidade de Campinas, um dos objetivos deste trabalho. Faz parte do ser humano buscar suas origens e o fato de saber de onde e como viemos possibilita entender e aprender com o passado. Pode-se imaginar o mundo surgindo exatamente como hoje? Uma das diferenas bsicas seria a de que ningum teria conscincia de onde viria. Haveria curiosidade para saber quem foram os pais, irmos, saber como foram quando crianas. Saber como o surgiu o pas, o bairro, a universidade. claro que isso impossvel de ocorrer, mas mostra a importncia de conhecermos nossas origens. Quando se olha para trs que se percebe as mudanas, como a sociedade mudou. Em geral, quando se observa algo que mudou e no agrada, tenta-se impedir que o processo em curso continue. Se agradar, procura-se facilitar que o processo continue e at se tenta refor-lo. Somente quando se volta ao passado que se pode ter a expectativa de entender o3

que somos e por que somos de tal forma. S assim identifica-se o que necessrio mudar e o que preciso ser reforado. Quem nunca escutou, em certas situaes, uma frase clebre do jargo popular que diz, aproximadamente, assim Isso assim, sempre foi assim, desde que o mundo mundo. E vai continuar assim, nunca vai mudar! Entretanto, o tempo histrico diferente do tempo cronolgico da nossa vida diria. Se as coisas no mudassem, estaramos em uma fase exatamente igual ao do primeiro dia do primeiro homem. Nada teria mudado desde ento. O tempo histrico o desenvolvimento do percurso que a humanidade fez at o presente momento. Pode-se exemplificar da seguinte forma. Se voc vai estudar a Histria do Brasil, em princpio pode-se pensar que os estudos devam comear pelo dia da independncia, mas o Brasil est ligado ao desenvolvimento da histria de Portugal e Espanha, no contexto histrico de fins de sculo XV, do momento vivido pelas pessoas daquela poca, das conseqncias do modo de viver da sociedade daquele perodo. Isso tudo possibilita ao estudioso daquele perodo histrico compreender o passado e as causas para a construo da futura sociedade e cultura brasileira. dessa maneira que esta pesquisa pretende contar a histria do Psicodrama Pedaggico em Campinas. A memria do Psicodrama Pedaggico em Campinas foi construda a partir de relatos orais e documentos escritos. Para isso, a proposta caminhar pelos anos 60, 70 e 80 mostrando como foi o engajamento poltico, social e educacional que fizeram com que o Psicodrama Pedaggico fosse bem recebido, no s pelo Brasil, mas, principalmente, por esta cidade. A importncia do Psicodrama para a educao ser apresentada desde de sua chegada no pas at a atualidade. A curiosidade foi o motivo para se buscar encontrar e conhecer a histria do Psicodrama Pedaggico em Campinas. Foram encontrados apenas relatos fragmentados que despertaram o desejo de encontrar essa histria. Este o motivo4

deste trabalho que pretende ser um levantamento de como foi a implantao, o desenvolvimento e algumas experincias do Psicodrama Pedaggico na cidade de Campinas, pertencente ao Estado de So Paulo. Esta pesquisa conta essa histria a partir de fontes primrias: relatos orais de psicodramatistas dirigentes de associaes ao longo de sua implantao, de publicaes das entidades (boletins e cartilhas), alm de livros sobre a histria do Psicodrama no Brasil. A idia foi pesquisar os arquivos organizados da extinta ACPS (Associao Campineira de Psicodrama e Sociodrama), do IPPGC (Instituto de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de Campinas) e do GEPA (Grupo de Estudos de Psicodrama Aplicado), alm de tambm recolher entrevistas orais de oito pessoas cuja participao marcou a trajetria do Psicodrama Pedaggico na cidade. A histria ser contada e circunstanciada, primeiramente, pela voz do pesquisador. Em seguida, cada entrevistado contar, um a um, como foi seu processo de desenvolvimento no Psicodrama, tendo como referncia aes e interlocues proporcionadas pelas experincias nesse espao de trabalho. As entrevistas exploraram temas recorrentes na vida das entidades que representavam seu papel na construo do Psicodrama e sua viso sobre a importncia para a cidade. Para captar a perspectiva dos entrevistados, utilizou-se como mtodo de investigao a histria oral. Oito entrevistados contaro, individualmente, histrias de sua trajetria no Psicodrama. Eles atuaram em perodos e pocas diferentes e, por isso, contam a histria do seu prprio ponto de vista. Esta dissertao descrita em quatro captulos. O primeiro captulo ser dedicado descrio da teoria do Psicodrama, um resumo de sua histria, apresentando o criador do Psicodrama, Jacob Levy Moreno, o pai da teoria, alm da

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descrio do Psicodrama Pedaggico e seu envolvimento com a educao e suas aplicaes na rea educacional. O segundo captulo apresentar uma anlise das entrevistas sobre o Psicodrama em Campinas, suas origens, contradies e experincias. A metodologia e os procedimentos utilizados para alcanar os objetivos desta pesquisa podero ser encontrados no terceiro captulo. O quarto captulo apresentar a voz do autor com suas interpretaes. E para concluir, apresentaremos as consideraes finais e as entrevistas anexadas aps a bibliografia. Jacob Levy Moreno, o pai do Psicodrama, por meio do seu trabalho e ao longo de sua vida inutiliza claramente o dito popular Isso assim, sempre foi assim, desde que o mundo mundo. E vai continuar assim, nunca vai mudar!, pois o Psicodrama demonstra que tudo se transforma e tudo pode mudar, seja no plano pessoal ou coletivo.

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CAPTULO 1: FUNDAMENTOS HISTRICOS E TERICOS DO PSICODRAMA

Pretendemos descrever e abordar a fundamentao terica do Psicodrama, relatando brevemente sua histria, apresentando seu criador, Jacob Levy Moreno, e descrevendo tambm o Psicodrama Pedaggico, seu envolvimento com a educao e suas aplicaes na rea educacional.

1. NOES HISTRICAS De origem judaica, o criador do Psicodrama, o psiquiatra Jacob Levy Moreno, nascido em 1889, na cidade de Bucareste, na Romnia, apresentou propostas inovadoras para aplicao em pequenos grupos humanos, visando transio para o terceiro milnio, com a finalidade de amenizar as dificuldades entre os homens, melhorando-lhes a capacidade de se relacionar e buscando a harmonia dos grupos de convivncia, numa amplitude universal. Durante sua preparao na rea mdica, teve o empenho por um mtodo renovado de tratamento, pois no tinha modelos fixos profissionais, mas um interesse especial em filosofia, teatro e arte. As obras de Moreno foram marcadas por uma profunda influncia religiosa derivada do hassidismo, que tem suas origens no sufismo e na parte da cabala.1

No hassidismo, a relao vertical com Deus era substituda por uma relao horizontal, assim como a relao estabelecida por Moreno no contexto teraputico psicodramtico. O sufismo uma doutrina filosfica secreta que existe desde o sculo VIII. A cabala uma teosofia mstica judaica, cuja origem remonta ao ano 538 a.C.

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Aos quatro anos e meio de idade, Moreno e outras crianas improvisaram uma brincadeira de ser Deus. Este fato marca o incio do que se tornaria, mais tarde, a teoria socionmica. Em suas obras, seria relatado como sendo a primeira sesso psicodramtica particular que conduziu, como diretor e sujeito ao mesmo tempo. Crendo que era Deus, saltou em um vo do alto das cadeiras que tinham sido empilhadas para se chegar at ao cu. Ao lanar-se no espao, caiu e quebrou o brao direito na queda. A idia de espontaneidade deu o primeiro passo. Um fato interessante e que deve ser ressaltado justamente ser pedaggica a primeira experincia de Moreno, envolvendo o Psicodrama com a educao. Em sua adolescncia, Moreno deu aulas particulares a algumas crianas com dificuldade de aprendizagem. Enquanto era estudante de medicina, passou a realizar dramatizaes com crianas nos jardins de Viena, com o objetivo de ajud-las a desenvolver a espontaneidade, a criatividade e orient-las a respeito da aquisio do conhecimento. Entre os anos 1910 e 1914, nos jardim de Viena, formou grupos de crianas que improvisaram representaes, plantando com isso as sementes da psicoterapia de grupo e do Psicodrama (MORENO, 1974, p. 28). Entre 1915 e 1917, desenvolveu atividades num campo de refugiados tiroleses, onde observou as interaes grupais e suas caractersticas psicolgicas. Moreno alugou um espao, no ano de 1922, em Viena, que pertencia a um grupo de mulheres, usado para exposio de trabalhos de arte e artesanato. Neste lugar instalou o novo teatro, o Teatro da Espontaneidade, experincia que serviu de base para suas idias sobre Psicoterapia de Grupo. Percebendo o valor teraputico das dramatizaes, o Teatro da Espontaneidade transformou-se em Teatro Teraputico e este em Psicodrama. No se pode contar a histria do Psicodrama sem relatar o caso Brbara, como ficou conhecido. Moreno, aps esse caso, tomou conscincia das possibilidades teraputicas existentes na representao, na vivncia ativa. O que8

contribuiu para essa conscincia foi uma jovem atriz, terna, romntica, que representava uma herona. Ela se casou com um jovem escritor e, com o passar do tempo, este rapaz, bastante deprimido, procurou Moreno, revelando que seu casamento estava insuportvel. No palco, sua mulher era admirvel, e em casa, discutia, usava expresses vulgares, sem controle e, quando ele reagia, tornava-se violenta. Moreno convidou-o para vir com Brbara ao teatro e props que naquela noite ela deveria oferecer ao pblico algo de novo, no se limitando a representar somente papis de mulheres corretas. Brbara acolheu, entusiasmada, e improvisou uma cena em que representava uma mulher de rua, a partir de uma notcia de jornal. Desempenhou o papel com tanta autenticidade que ficou irreconhecvel. Voltou, muito feliz, para casa com seu marido. Depois disso, ela passou a dar preferncia por tais papis. O marido, novamente procurou Moreno, informando-o sobre a transformao que ocorrera. Contou que sua esposa ainda tinha alguns acessos de clera, mas com pouca intensidade. O tratamento continuou e os papis de Brbara adaptavam-se cuidadosamente aos seus conflitos pessoais. Uma noite, foi sugerido ao casal que representasse junto, e, assim, comear uma terapia interpessoal. Com a concordncia do casal, os dilogos improvisados foram-se tornando cada vez mais semelhantes s cenas caseiras, retratando cenas de infncia, seus sonhos e planos para o futuro. Aps cada representao, Moreno era visitado por espectadores que relatavam como as representaes do casal tinham impressionado mais profundamente que as outras. Era uma catarse do pblico. Algum tempo depois, Moreno encontrou-se a ss com o casal. Analisou a evoluo de seu Psicodrama e, baseado nas cenas que tinham representado, explicou-lhes porque foram superados seus conflitos. Estas mudanas significativas,

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obtidas com esse procedimento, somadas s experincias anteriores, deram origem ao Psicodrama como tcnica teraputica. Ao final da Primeira Grande Guerra e com sua entrada para o teatro, em Viena, Moreno comeou a vislumbrar a possibilidade de o homem ser um ator no teatro de sua prpria vida e, a partir da, reconhecer e resolver alguns de seus conflitos. No Psicodrama e na Sociometria, Moreno encontrou canais para sua grande energia criadora e para ambas as inovaes, ou seja, a arte do Psicodrama e a cincia quantitativa da Sociometria, contribuies eminentes para a psicoterapia e a psicologia social. O Teatro da Espontaneidade encontrou resistncia no pblico e na imprensa. Quando a verdadeira espontaneidade se apresentava, suspeitava-se que existia um bom ensaio quando as cenas eram bem trabalhadas; enquanto que quando as cenas eram mal trabalhadas, a suspeita era de que a espontaneidade no funcionava. Diante desse quadro, desesperanado, Moreno seguiu para os Estados Unidos, em 1925. Nesse perodo, suas idias ganharam credibilidade e respeito, tornando inadivel a tarefa de sistematizar seus conhecimentos, estruturando-os melhor, em direo a uma verdadeira cincia do psiquismo humano. Em 1931, abriu uma clnica psiquitrica realizando a primeira apresentao psicodramtica pblica na Amrica. Em 1942, criou a Sociedade de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo que foi incorporada Sociedade Americana de Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. A partir de 1946, Moreno passou a ter a contribuio significativa, em seus trabalhos, da esposa Zerka Moreno que foi sua parceira em todas as publicaes, conferncias e outros empreendimentos. A realizao de congressos internacionais de Psicodrama foi uma das grandes preocupaes de Moreno. Em 1950, Moreno participou, como o pai do Psicodrama, do I Congresso Mundial de Psiquiatria em Paris. O congresso teve a participao de mil pessoas que representavam 35 pases. Entre os anos de 1964 a 1974, eles foram10

realizados em Milo, Barcelona, Buenos Aires, So Paulo, Amsterd, Tquio e Zurique. Os ltimos 20 anos da vida de Moreno foram anos de expanso e consolidao do Psicodrama. Durante esse perodo trabalhou para estabelecer duas importantes associaes: a Associao Internacional de Psicoterapia de Grupo e a Associao Internacional de Psicodrama. Em 14 de maio de 1974, Jacob Levy Moreno faleceu em Beacon, Nova York, aos 85 anos de idade e pediu que fossem gravadas em sua sepultura essas palavras: Aqui jaz aquele que abriu as portas da Psiquiatria alegria. As implicaes de algumas das idias de Moreno eram desafiadoras e prematuras para sua poca. Para ns que estamos em incio de milnio, muito das intuies e conceitos esto sendo aceitos e compreendidos, e pode se dizer que os conceitos e tcnicas que elaborou esto realmente ganhando terreno enquanto outros precisam ainda ser comprovados e aplicados (MARINEAU, 1992, p.7). Moreno no chegou a presenciar a amplitude que os seus mtodos de tratamento tomariam nesse final e incio de milnio, mas ele criou uma fundamentao consistente, uma nova cincia, original, com novo vocabulrio e mtodos inovadores, cada vez mais aplicados por todos os profissionais envolvidos com seres humanos em suas atividades. J existe uma expectativa entre os psicodramatistas de que o Psicodrama seja a base da Psicologia do sculo XXI, assim como a Psicanlise foi no sculo XX. Por isso tudo, pode-se considerar que Moreno foi um homem frente do seu tempo, pois previu a necessidade dos seus mtodos no milnio que ora se inicia.

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Dados histricos no Brasil O Psicodrama chegou ao Brasil como mtodo de Psicoterapia e como recurso educacional. Nesse movimento os psiclogos Pierre Weil, Anne Ancelin Schtzenberger e Helena Antipoff (SCHTZENBERGER, 1970, prefcio) foram pioneiros e fizeram parte de sua histria no pas.

Jacob Levy Moreno 1889-1974

Embora seja considerado, pelos psicodramatistas brasileiros, como o pioneiro do Psicodrama no Brasil, o professor Pierre Weil (1978, p.11) transferiu este ttulo professora Helena Antipoff que, segundo ele, introduziu o Psicodrama de Fantoches no pas, em 1930, na Escola de Aperfeioamento Pedaggico de Belo Horizonte, visando reeducar as professoras atravs do teatro de bonecos.

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Semelhantemente a

primeira experincia do Psicodrama, a experincia

brasileira registrada tambm foi pedaggica. Por isso, pode-se afirmar como til como instrumento na educao. Em 1949, o socilogo Alberto Guerreiro Raos conheceu Moreno em Nova Iorque e coordenou um seminrio sobre Psicodrama no Brasil, no Rio de Janeiro (FLOREZ, 1986, p.2). Seguindo o exemplo de Helena Antipoff, em 1950, Helosa Marinho, professora do Colgio Bennet, no Rio de Janeiro, tentou ajudar suas alunas a se livrarem de seus defeitos e manias atravs do teatro de Fantoches. Nesse mesmo ano, a professora Oflia Boisson Cardoso usou o teatro de Bonecos, no Rio de Janeiro, para tratamento de distrbios de comportamento infantil (WEIL, 1978, p.11). O doutor Blay Neto, em 1953, realizou uma pea teatral sobre a prpria histria dos pacientes do Hospital Franco da Rocha, em So Paulo, com resultados teraputicos bastante interessantes (WEIL, 1978, p.11). O professor Pierre Weil, em 1955, realizou suas primeiras experincias de Psicodrama Aplicado ao Treinamento de Pessoal, no Departamento Nacional do SENAC, no Rio de Janeiro (FLOREZ, 1986, p.2). Em 1960, a doutora Norma Jatob iniciou o trabalho clnico em Psicodrama, em seu consultrio, na cidade de So Paulo (COIMBRA, 1995, p.210). Em 1961, Clio Garcia, no Centro Mdico Pedaggico de Minas Gerais, faz tentativas de se levar, de forma aleatria a alguns estabelecimentos, a proposta psicodramtica (COIMBRA, 1995, p.210). de 1963 a publicao do primeiro artigo sobre Sociometria no Brasil, com o ttulo Experincia na aplicao do teste sociomtrico numa comunidade escolar, de autoria do psiquiatra Flavio DAndrea, com a colaborao de Srgio Radomile e Nivaldo Salomene, na revista Sociologia n 25 (FLORES, 198, p.2). Tambm nesse13

mesmo ano, a professora Maria Alicia Romaa inicia a primeira tentativa de aplicao do Psicodrama Educao, numa avaliao final de uma matria de pedagogia, com o objetivo de verificar a possibilidade de traduo simblica de qualquer conhecimento (ROMAA, 198, p.18). No prximo ano, em 1964, a professora Maria Alicia Romaa continuou a fazer tentativas de utilizar o Psicodrama em ensino superior e em grupos de crianas com problemas de aprendizagem. Em 1965, os doutores Alfredo Correia Soeiro e Maria Rosrio, em So Paulo, iniciaram o Psicodrama em Psiquiatria, convidando mais tarde o doutor Jaime Rojas Bermudez, de Buenos Aires, para iniciar a sua formao. Desse movimento nasceu o Congresso Internacional de Psicodrama, realizado em So Paulo. Nesse mesmo ano, o doutor Luiz Cerqueira publicou um trabalho em que assina uma experincia de Psicodrama no Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil, com os doutores Manoel Lopes Pontes e Solange Luz (WEIL, 1978, p.12). A doutora Anne Ancelin Schtzenberger e o professor Pierre Weil, em 1966, realizaram seminrios de Psicodrama Tridico2 na Fazenda do Rosrio, em Belo Horizonte, Minas Gerais (WEIL, 1978, p.12). Anne Schtzenberger pode ser considerada como uma das maiores autoridades mundiais no assunto e recebeu em 1964 o prmio do Instituto Moreno por servios excepcionais prestados ao Psicodrama (SCHTZENBERGER, 1970, prefcio de Pierre Weil). O primeiro livro em portugus sobre a metodologia moreniana foi publicado em 1967. Seu ttulo Psicodrama de autoria de Pierre Weil, com prefcio de Jacob Levy Moreno (COSTA, 2001, p.26). E, ainda neste ano, Pierre Weil introduziu o movimento psicodramtico nos meios universitrios e educacionais deEm 1963, no Congresso Internacional de Psicoterapia de Grupo, em Milano, Moreno qualificou de tridico o Psicodrama que vinha sendo praticado por Robert Haas, por James Ennies e por Anne Ancelin Schtzenberger. A trade a que Moreno se referia era: o Psicodrama, a Psicoterapia de Grupo e a Sociometria, em outras palavras, Freud + Moreno + Lewin (SCHTZENBERGER, 1977, p.11).2

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Belo Horizonte (FLOREZ, 1986, p.2). Tambm por ocasio do V Congresso LatinoAmericano de Psicoterapia de Grupo, realizado em So Paulo, alguns psiquiatras assistem no TUCA a um Psicodrama pblico, dirigido pelo doutor Jaime Rojas Bermudez, o primeiro latino-americano a ter o ttulo de Diretor de Psicodrama concedido, em 1963, por Jacob Levy Moreno, em Beacon (COIMBRA, 1995, p. 211). a partir de 1968, em So Paulo, no auge dos movimentos estudantil e contracultural no Brasil, que o Psicodrama comear, gradativamente, a ser implantado de modo mais efetivo. Ainda em 1968, Lea de Arajo Porto reuniu um grupo de estudos em formao de novos tcnicos no Instituto Psicopedaggico de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Tambm nesse mesmo ano, Flavio DAndrea defendeu a primeira tese de doutoramento em Sociometria no Brasil, intitulada Estudo sociomtrico de uma classe de estudantes de medicina, junto Faculdade de Medicina da USP (FLOREZ, 1986, p.2). O Psicodrama Pedaggico foi apresentado oficialmente em 1969, pela professora Maria Alicia Romaa, responsvel pela criao e adaptao do Psicodrama Pedaggico, no IV Congresso Internacional de Psicodrama, em Buenos Aires. Um grupo de seis psicoterapeutas paulistas, formado por ris de Azevedo, Jos Manuel DAlessandro, Antonio Carlos Cesarino, Larcio Lopes, Alfredo

Correia Soeiro e Pedro Paulo Uzeda e Moreira, convidou o doutor Jaime Rojas Bermudez e sua equipe, ento radicados na Argentina, para treinamento e outros subsdios para a utilizao do Psicodrama. Seus fundadores foram os alunos da primeira turma. Para a formao das turmas seguintes, a equipe argentina vinha a So Paulo a cada dois meses e realizava sesses de Psicodrama diariamente durante uma semana (FLOREZ, 1986, p.17). Nesse mesmo ano, a professora Romaa iniciou a formao de educadores no Grupo de Estudos de Psicodrama em So Paulo. O grupo era formado por 6015

pessoas, dividido em quatro turmas, com currculo prprio, e funcionava em local diferente do curso do Psicodrama Teraputico (FLOREZ, 1986, p.3). Em 1970 aconteceu o I Congresso Nacional e o V Congresso Internacional de Psicodrama, no Museu de Arte de So Paulo, sob a presidncia de Alfredo Correia Soeiro, do Grupo de Estudos de Psicodrama de So Paulo (GEPSP). Durante o Congresso, os seis coordenadores do GEPSP, os primeiros formados no Brasil, receberam seus diplomas de psicodramatistas, expedidos pela Sociedade Argentina de Psicodrama. Nenhum dos 143 egos-auxiliares pertencia s turmas do Psicodrama Pedaggico. Aps o Congresso, o GEPSP foi desarticulado devido s divergncias entre seus integrantes. A separao d origem a duas novas entidades, a ABPS e SOPSP que, durante os primeiros anos da dcada de 70 deram origem a 14 outras entidades de Psicodrama Teraputico e que, em 1977, fundaram a Federao Brasileira de Psicodrama (COSTA, 2001, p.34). A Associao Brasileira de Psicodrama e Sociodrama (ABPS), presidida por Alfredo Correia Soeiro, que se expandiu por algumas cidades do interior de So Paulo e por vrios estados brasileiros (Campinas, Campo Grande, Manaus, Fortaleza, Curitiba e Ribeiro Preto) a formao psicodramtica. Alguns anos depois Soeiro em conjunto com outros psicodramatistas fundaria a Associao Campineira de Psicodrama e Sociodrama (ACPS). Inicialmente foi organizado apenas o curso de Psicodrama Teraputico, mas no ano seguinte foi formado o curso de Psicodrama Pedaggico, coordenado por Maria Lcia DAlessandro. Nesse ano tambm, foi fundada a Sociedade de Psicodrama de So Paulo (SOPSP), presidida por Antonio Carlos Eva, que tambm ampliou a formao psicodramtica para Curitiba, Porto Alegre, Florianpolis, Bahia e Rio de Janeiro (COIMBRA, 1995, p.221). No princpio foi oferecido o curso de Psicodrama Teraputico, mas seguindo o curso das outras entidades psicodramticas, em 1972, foi iniciado o curso de Psicodrama Pedaggico para assistentes sociais (FLOREZ, 1986, p.3).

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Durante os anos de 1970 a 1973, segundo Maria Alicia Romaa (1996, p.27), aconteceu a etapa que se poderia chamar de Estruturao da Teoria do Psicodrama Pedaggico. A principal caracterstica dessa etapa, na viso de Romaa, era a de interao em grande escala, pois tentava naquele momento dar respostas s mais diversas solicitaes, com o objetivo do confronto com realidades educativas diferentes, fato que enriqueceu a pesquisa e propiciou um caminho prtico que permitiu realizar experincias e verificaes. A criao da Sociedade Brasileira de Psicoterapia, Dinmica de Grupo e Psicodrama aconteceu em 1971 (WEIl, 1978, p.12). Nesse mesmo ano, as professoras Maria Alicia Romaa e Marisa Greeb fundam a primeira escola de Psicodrama Pedaggico, denominada Role-Playing Pesquisa e Aplicao (FLOREZ, 1986, p.3). E ainda em 1971 organiza-se uma associao dos psicodramatistas pedaggicos paulistas (COIMBRA, 1995, p.240). Devido grande procura pelo curso, em 1972 j existem cinco grupos de formao em Psicodrama Pedaggico na escola Role-Playing Pesquisa e Aplicao. Procurava-se, atravs de tcnicas psicodramticas, um trabalho mais questionador na educao, uma implicao poltica que as prticas psicodramticas teraputicas no Brasil estavam perdendo (COIMBRA, 1995, p. 241). Em 1973 foi criada a Sntese (Sociedade de Integrao Transpessoal, Energtica, Social e Estrutural) (WEIL, 1978, p.12). Foi fundado tambm, o Grupo de Estudos de Tcnicas Psicodramticas (GETEP) para formao de Psicodrama Pedaggico (FLOREZ, 1986, p.3). Dalmiro Bustos, em 1974, proferiu conferncias na 2 Jornada do Hospital de Clnicas e mostrou seu trabalho com Psicodrama. Neste mesmo ano, Pierre Weil organizou um grupo de terapia psicodramtica em uma seo, no Rio de Janeiro, da Sociedade Brasileira de Psicoterapia Dinmica de Grupo e Psicodrama (COIMBRA, 1995, p.231).17

A fundao da Associao Campineira de Psicodrama e Sociodrama (ACPS) aconteceu em 1975 com o curso de Psicodrama Teraputico. A assemblia de fundao, em 10 de maro, foi presidida pelo doutor Jos Carlos Salzani e secretariada pelo doutor Joo Bosco Assis De Luca, com os seguintes presentes: Alfredo Correia Soeiro, Vera Lcia Pessagno, Maria Olmpia Gomes

Coelho, Carlos Gilberto Paulino, Joel Salles Giglio, Nair Aparecida Rocha, Miriam Bragotto Barros, Valrio Jos Arantes e Paulo Barbosa Lima de Barros. Tambm nesse mesmo ano, o Instituto Sedes Sapientae, em So Paulo, iniciou o curso de Formao Psicodramtica no qual participaram professores das duas sociedades

paulistas (COIMBRA, 1995, p. 221). Em 1976 foi fundado o Instituto de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de Campinas. A assemblia de

fundao, em 11 de setembro, com a presena de 22 pessoas. O primeiro conselho diretor provisrio: doutor Jos Carlos Landini, presidente, doutor Lus Falivene Roberto Alves, vice-

presidente, doutora Cludia Maria Ferreira Elizeu, secretria-geral, doutor Marcelo Anatte, tesoureiro, doutora Linei Guilhermina Savoia Landini, suplente. Radicada em So Paulo, ainda no ano de 1976, a professora Maria Alicia Romaa difundiu o Psicodrama Pedaggico por meio de cursos de formao e18

introduo, destinados aos educadores e profissionais da rea de recursos humanos. Na cidade de Campinas, um grupo separou-se da ACPS, fundando o Grupo de Estudos de Psicodrama Aplicado (GEPA), com a participao de Valrio Jos Arantes, Joo Francisco Duarte Jnior, Joel Salles Giglio, Vincius Vieira, Newton Aquiles Von Zuben, Anita Ceclia Lofrano, Agenor Moraes, Bernadete Castro e Mrio Rodrigues. O GEPA ainda oferece cursos espordicos de Introduo ao Psicodrama, sob a coordenao de Valrio Jos Arantes. Ainda nesse ano, o curso de Tcnicas Psicodramticas Aplicadas ao Ensino foi iniciado, integrando o curso de ps-graduao da Escola de Comunicaes e Artes da USP, sob a responsabilidade do professor doutor Clovis Garcia (Diniz, 1995: prefcio). Esse ano marca tambm a fundao do Instituto de Psicodrama de Ribeiro Preto, sob a presidncia de Iedo Roberto Borges, com cursos para formao de Psicodrama Pedaggico e Teraputico (FLOREZ, 1986, p.5).

Em 23 de julho de 1976 foi criada a FEBRAP (Federao Brasileira de Psicodrama) com o objetivo de congregar e mediar o intercmbio entre as federadas; organizar um congresso nacional de Psicodrama a cada dois anos e publicar uma revista cientfica para divulgar as produes brasileiras, alm de normatizar os cursos de formao do Psicodrama. Quando a FEBRAP foi fundada, os grupos19

ligados ao Psicodrama Pedaggico foram excludos, pois eram compreendidos como um Psicodrama de segunda categoria (COIMBRA, 1995, p.241), motivo que levou os psicodramatistas envolvidos com a educao a fortalecerem a associao dos psicodramatistas pedaggicos paulistas. Data tambm desse ano a introduo da videoterapia no Brasil pela doutora Anne Ancelin Schtzenberger, em seminrio realizado no Retiro das Pedras, em Belo Horizonte (WEIL, 1978, p.12). Tambm fundado o Eu-Tu Ncleo Psicopedaggico, sob a responsabilidade de Herialde Silva Fonseca, com cursos de Psicodrama Pedaggico e Teraputico. Foi ainda nesse mesmo ano criada a Sociedade de Psicodrama da Bahia, presidida por Romlia Santos, com cursos de Psicodrama Pedaggico e Teraputico (FLOREZ, 1986, p.5). O I Congresso Brasileiro de Psicodrama, presidido por Iami Tiba, aconteceu em Serra Negra, no ano de 1978. O Psicodrama Pedaggico foi representado por vrios trabalhos. Nesse ano tambm foi organizada a Sociedade Goiana de Psicodrama, presidida por Geraldo F. do Amaral, com cursos de Psicodrama Pedaggico e Teraputico (FLOREZ, 1986, p.5). Em 1979, Dalmiro Bustos fundou o Instituto Moreno, o seu prprio Instituto de formao psicodramtica, em So Paulo (COIMBRA, 1995, p. 224). No final dos anos 70 e incio dos 80, Pierre Weil inaugurou outras sees da Sociedade Brasileira de Psicoterapia, Dinmica de Grupo e Psicodrama, nas cidades de Braslia, Juiz de Fora e Uberaba. A sede permaneceu em Belo Horizonte (COIMBRA, 1995, p.231). A partir dos anos 80, a produo na rea das prticas psicodramticas cresce. Uma srie de livros sobre o assunto lanada por psicodramatistas paulistas, entre outros. At 1991, segundo dados levantados pelo psicodramatista Srgio Perazzo, cerca de 34 livros de Psicodrama foram apresentados ao Brasil (alguns com traduo

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no exterior) e cerca de 501 artigos foram divulgados nos diferentes Congressos Nacionais de Psicodrama (COIMBRA, 1995, p.224). Em 1980, Ronald de Carvalho, que teve formao com Pierre Weil, e esteve presente na Sociedade Brasileira de Psicoterapia, Dinmica de Grupo e Psicodrama desde sua fundao, tendo sido presidente em dois mandatos, aparentemente por discordncias tericas, afastou-se desta Sociedade com um grupo em formao e fundou a Sociedade de Psicodrama do Rio de Janeiro (SOPERJ), de orientao moreniana (COIMBRA, 1995, p.232). Ainda nesse ano, aconteceu o II Congresso Brasileiro de Psicodrama, em Canela, Rio Grande do Sul, presidido por Flvio S. Pinto. O III Congresso foi realizado em Caiob, Paran, em 1982, presidido por Ismael Fabrcio Zanardini (FLOREZ, 1986, p.6). Ainda em 1982, foi fundado o Centro de Psicodrama do Rio de Janeiro, com a proposta de seguir as normas da Sociedade Brasileira de Psicoterapia, Dinmica de Grupo e Psicodrama (COIMBRA, 1995, p.232). Em 1983, aconteceu a oficializao da Associao Brasileira de Psicodrama Pedaggico, que se originou da realizao de uma mesaredonda sobre Psicodrama Pedaggico no III Congresso (FLOREZ, 1986, p.6). Em 1984, a Associao Campineira de Psicodrama e Sociodrama iniciou o curso de Psicodrama Pedaggico, sob a orientao de Cely Wagner, auxiliada pela professora Maria Alicia Romaa. Nesse ano tambm aconteceu o IV Congresso Brasileiro de Psicodrama, em guas de Lindia, So Paulo, presidido por Luiz Falivene R. Alves e organizado pelo Instituto de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de Campinas. Em 1985 o Centro de Psicodrama do Rio de Janeiro procurou estabelecer uma metodologia psicodramtica para o ensino de Psicodrama. Para isso chamou, de So Paulo, Maria Antnia Kouri Darci, que possua um Centro de Formao em

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Psicodrama Pedaggico, para formar um grupo de professores e alunos no sentido de construir uma nova forma de ensinar e de aprender (COIMBRA, 1995, p.233). O V Congresso Brasileiro de Psicodrama aconteceu em Caldas Novas, Gois, em 1986, presidido por Geraldo Amaral. Ainda nesse ano, houve uma ciso na SOPERJ, provocando a formao da Sociedade Moreniana de Psicodrama. Em 1987 foi implantada a formao em Psicodrama Pedaggico no Centro de Psicodrama do Rio de Janeiro, chamado de psicodrama aplicado. Em 1995, o Centro de Psicodrama era um dos estabelecimentos mais fortes na formao psicodramtica, pois alm de ter o maior nmero de membros formados e em formao, no teve grandes crises ao longo dos anos (COIMBRA, 1995, p.233). Em 1988, aconteceu o VI Congresso Brasileiro de Psicodrama, em Salvador, Bahia. E em 1990, aconteceu o VII Congresso Brasileiro de Psicodrama, no Rio de Janeiro, que elimina a exclusividade de somente psicodramatistas participarem do congresso. Em 1992, aconteceu o VIII Congresso Brasileiro de Psicodrama, em So Paulo. Em 1994, aconteceu o IX Congresso Brasileiro de Psicodrama, em guas de So Pedro, So Paulo. Em 1996, aconteceu o X Congresso Brasileiro de Psicodrama, em Rio Quente, Gois. Em 1998, aconteceu o XI Congresso Brasileiro de Psicodrama, em Campos do Jordo, So Paulo. Tambm nesse ano foi iniciado o curso lato sensu e mestrado profissionalizante em Psicodrama em um convnio entre a ABPS e a Universidade So Marcos, em So Paulo (Informativo FEBRAP, 2001). Em 2000, aconteceu o XII Congresso Brasileiro de Psicodrama, em guas de So Pedro, organizado pelo IPPGC.

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Um dos primeiros atos da prefeita de So Paulo, Marta Suplicy, em maro de 2001, foi a realizao de 98 sesses de Psicodramas Pblicos, nos quais moradores representaram e discutiram dramas sociais. Esse projeto foi intitulado tica e Cidadania, com a participao voluntria de 223 psicodramatistas. Ainda nesse ano, houve a iniciativa de um grupo da Faculdade de Educao da USP, sob a coordenao da professora Heloisa Penteado, tentando levar o Psicodrama para a televiso. Em associao com especialistas em comunicao, da Faculdade Csper Lbero, o grupo da USP produziu um programa-piloto de educao sexual, com o objetivo de exibir o programa aos professores e alunos de escolas da rede pblica. Em 2002 o programa Comunidade Solidria, coordenado pela sociloga Ruth Cardoso, utilizou o Psicodrama com adolescentes de comunidades pobres do Nordeste para disseminar noes de sexo seguro e prevenir a aids e a gravidez precoce. Em So Paulo, o governo usou tcnicas psicodramticas para formar ouvidores pblicos, funcionrios da Receita Federal e de outras reas administrativas. O XIII Congresso Brasileiro de Psicodrama aconteceu na Bahia, no perodo de 29 de maio a 1 de junho de 2002, com o tema Razes, transformaes, perspectivas, com a proposta de apresentar o psicodrama a partir da retrospectiva de seu movimento, desde seu nascimento at os dias atuais, discutindo suas mudanas e perspectivas. No perodo de 9 a 12 de junho de 2004, acontecer em Belo Horizonte, Minas Gerais, o XIV Congresso Brasileiro de Psicodrama, com o tema A Sociedade Brasileira em cena: a ao transformadora do Psicodrama. 2. NOES TERICAS Moreno propunha tratar toda a sociedade em uma cincia denominada Socionomia, com trs grandes ramificaes: a Sociometria que a cincia da23

medida do relacionamento humano; Sociatria a cincia do tratamento dos sistemas sociais, do qual o Psicodrama faz parte e a Sociodinmica estuda a estrutura dos grupos sociais, dos grupos isolados e das associaes de grupos. Desenvolveu um mtodo diferente de Freud, do qual foi contemporneo. No mtodo freudiano, o paciente deveria deitar-se em um div, apresentando ao analista um discurso verbal de seus problemas, enquanto que no mtodo psicodramtico, o paciente era colocado juntamente com outros, em grupo, atravs do teatro improvisado, submetido s tcnicas de teatro e dramatizaes sob a denominao de Psicodrama. Reivindicava ter sido o criador do termo psicoterapia de grupo, conforme o relato de Marineau (1992, p.7), no entanto foi um dos co-fundadores da psicoterapia de grupo. O inovador Moreno props a Teoria Socionmica, a Socionomia, como uma nova sociologia, que se preocupa em estudar as formaes e tenses sociais no aquie-agora. A Socionomia pesquisa o comportamento humano em seus aspectos intra e interindividuais, possibilitando o estudo, anlise, medida e tratamento, no apenas do grupo, mas do indivduo e suas relaes interpessoais no grupo. Socio vem do latim socio que significa companheiro e nomia vem do grego que significa regra e lei que regula. Dentro da Socionomia, Moreno estabeleceu trs grandes ramificaes: Sociometria, Sociatria e Sociodinmica.

SOCIOMETRIA SOCIONOMIA3 SOCIATRIA SOCIODINMICA

Teste sociomtrico Teste sociomtrico de percepo Psicoterapia de Grupo Psicodrama Sociodrama Interpretao de papis Teatro espontneo e Role-Playing

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Tabela extrada de Kaufman, A. Teatro Pedaggico. Pg.58

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Sociometria Sociometria a cincia da medida do relacionamento humano que descreve e mede a dinmica dos grupos, das relaes sociais, a dinmica inter e intragrupal (KAUFMAN, 1992, p.52). O mtodo principal utilizado o Teste Sociomtrico com o respectivo Sociograma do grupo que foi aplicado. O objetivo do Teste Sociomtrico esclarecer os vnculos que esto constitudos nos grupos. O Sociograma a representao grfica que demonstra a rede de relaes do grupo. Sociatria A Sociatria (socio=sociedade; iatria=tratamento) a cincia do tratamento dos sistemas sociais. Para tratar as relaes e os vnculos utilizam-se trs instrumentos: o Psicodrama (o sujeito da ao o indivduo), o Sociodrama (o sujeito da ao o grupo) e a Psicoterapia de Grupo (trata tanto o grupo como um todo, como cada um de seus membros atravs da vivncia do grupo). Embora a obra de Moreno seja extensa, o termo Psicodrama tem sido utilizado e entendido como o sinnimo de toda sua obra. Kaufman (1992: p.58) explica que isto foi consagrado pelo hbito.

Sociodinmica A Sociodinmica estuda a interpretao de papis e a estrutura dos grupos sociais, dos grupos isolados e das associaes de grupos. Utiliza-se o Role-Playing (um mtodo de interao humana em um comportamento realista em situaes imaginrias) e o Teatro da Espontaneidade (teatro sem espectadores, todos participam e so atores).

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Psicodrama O Psicodrama (psyche=alma; drama=ao) essencialmente um mtodo ativo de explorao daquilo que foi vivido por um indivduo, adulto ou criana, normal, com problemas de personalidade (neurose ou psicose). feito no, pelo e com o grupo, utilizando-se os ecos da vivncia, contada e representada no grupo. Existem trs principais escolas de Psicodrama utilizando um certo nmero de tcnicas (SCHTZENBERGER, 1977, p.12): Psicodrama Clssico: criado e praticado por Jacob Levy Moreno, utiliza-se essencialmente a ao dramtica e a representao. O psicodramatista cria, no grupo e para o indivduo que vai representar, um clima relaxado, dirige a encenao, com a ajuda de uma equipe especializada de assistentes (ego-auxiliares) e faz, para terminar, uma volta ao grupo. Os participantes do, s vezes, conselhos e comunicam-lhe as suas experincias. Psicodrama analtico francs: trata-se do Psicodrama individual ou grupal, com um grupo de terapeutas assistentes (que representam), utilizando as concepes psicanalticas freudianas, a transferncia e a interpretao pela encenao. Muitas vezes um casal de psicodramatistas (que representam as cenas propostas pela criana ou encenam juntamente com a criana) e um grupo de terapeutas estagirios em formao (SCHTZENBERGER, 1977, p.13). Psicodrama Tridico ou centrado no grupo: Moreno qualificou de tridico o Psicodrama que vinha sendo praticado por Robert Haas, por James Ennies e por Anne Ancelin Schtzenberger. A trade a que Moreno se referia era: o Psicodrama,a Psicoterapia de Grupo e a Sociometria, em outras palavras, Freud + Moreno + Lewin (SCHTZENBERGER, 1977, p.11).

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Nessa pesquisa estudaremos o Psicodrama ou Psicodrama Clssico de Moreno como fundamentao terica. O professor Pierre Weil, relatou em seu livro, o primeiro publicado no Brasil sobre o assunto, a importncia do Psicodrama:De todas as tcnicas e mtodos de reduo de tenses, talvez seja ainda o Psicodrama o mais interessante e eficaz, para atingir ao mesmo tempo tenses individuais e de grupo, e lidar com elas, combinando num s mtodo a realidade biolgica e sociolgica, a psicologia individual e a psicologia social, a sociologia e mesmo a antropologia. (WEIL, 1978, p.15)

A dramatizao o ncleo do Psicodrama que tem suas origens no Teatro, na Psicologia e Sociologia. Por isso que a terminologia utilizada no Psicodrama adaptada do Teatro. A espontaneidade e a criatividade significam valores da maior importncia. Moreno prope ao ser humano um espao cnico flexvel, favorvel ao desenvolvimento pessoal e a integrao do grupo, fundamental para que a improvisao dramtica seja conjunta, envolvendo mesmo quem no estiver participando ativamente, fazendo parte dos que assistem a dramatizao no auditrio. Segundo a definio de seu criador, o Psicodrama tem como princpios bsicos a espontaneidade e a criatividade, o trabalho do grupo e a expresso pelo teatro da espontaneidade. O Psicodrama permite uma vivncia ampla com o objetivo de prover o ser humano de uma riqueza de experincias que lhe possibilite ampliar constantemente sua produo total de vida. Para Shtzenberger (1970, p.35), o Psicodrama o teatro do homem liberado, fora de si, fora de seus eixos, no meio de um auditrio de pessoas tambm fora de si, participando juntas do fato de que uma delas sai de si para reviver sua vida e reencontr-la no palco. Outro aspecto muito importante, proposto por Moreno (1974, p.38), que o fundamento do Psicodrama o princpio da espontaneidade criadora, a participao desinibida de todos os membros do grupo na produo dramtica e a catarse ativa.27

Pierre Weil (1978, p.26) tambm concorda que a funo do Psicodrama devolver ao indivduo a sua espontaneidade, desconservaro papel, tirar-lhe a rigidez. Como a funo do papel de penetrar o inconsciente a partir do mundo social e de lhe trazer forma e ordem. Moreno utiliza, principalmente, cinco instrumentos no mtodo

psicodramtico: o palco, o protagonista ou paciente, o diretor, os egos auxiliares e o auditrio ou pblico. 1. Palco: espao cnico, com ou sem cenrio, o local onde se realiza a dramatizao. 2. Protagonista: participante ou paciente, incluindo tambm os coadjuvantes que atuam em cena. 3. Diretor: coordenador do grupo, o Psicodramatista que pode ser mdico, psiclogo, professor, educador ou profissional especialmente formado para esta tarefa. 4. Ego-auxiliar: assistente que colabora com o diretor, desempenhando os papis necessrios para a ao. 5. Auditrio: pblico, formado por todos os presentes.

So consideradas quatro fases (ARANTES, 1993, p. 22): 1) Aquecimento: primeira fase. Consiste em favorecer o ambiente de trabalho proporcionar uma acomodao psicofsica, considerada

importante para Moreno. Acompanhado do aquecimento especfico para o papel, quando necessrio.

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2) Dramatizao: fase em que representada a cena com base na improvisao ou por jogos e discusses especficas sobre o protagonista ou tema emergente. 3) Comentrios: o momento, aps a dramatizao, em que h a participao reflexiva do grupo, opinies dos elementos que atuaram em cena e dos que assistiram. 4) Comentrios complementares: o momento de avaliao da dramatizao, discutido pelo diretor e egos-auxiliares. O criador do Psicodrama (MORENO, 1974, p.118) afirma que o mtodo psicodramtico praticamente ilimitado em sua utilizao. O ncleo do mtodo permanece, entretanto, sem mudanas. Zerka Moreno, que trabalhou em parceira com Moreno, ressalta alguns aspectos importantes a serem considerados. Entre eles, a importncia do papel do diretor de Psicodrama, no que se refere construo das cenas e escolha das pessoas ou objetos necessrios para o processo de aquecimento:O indivduo que no consegue ser espontneo por si mesmo, ou nos seus prprios papis, pode tornar-se extremamente espontneo em uma inverso de papis (...). Sua fora de expresso ir aumentando na medida em que tambm for aumentando a sua espontaneidade. (MORENO, Z., 1975, p.16)

Gleidemar Diniz tambm ressalta a importncia do grupo ter a mesma viso:(...) importante que ocorra no grupo uma atmosfera flexvel, de confiana e segurana psicolgica, em que cada elemento perceba que faz parte de uma construo coletiva, em que sua presena, participao e criatividade sejam valorizadas. (DINIZ, 2001, p. 21)

Atravs dos anos, vrias formas de utilizao foram desenvolvidas, entre elas, o Psicodrama teraputico, o Psicodrama Educacional, Psicodanas, Psicomsicas. Sobre a utilizao do Psicodrama no desenvolvimento da espontaneidade e criatividade, Arantes (1993, p. 19) escreveu que Moreno defendia a introduo do29

Psicodrama na sala de aula desde o jardim da infncia (pr-escola), continuando nos demais nveis de escolaridade, graduado conforme a maturidade dos alunos. Tanto para a prtica do Psicodrama Teraputico como em suas outras aplicaes, necessrio um profissional especializado em psicoterapia e com conhecimentos mais profundos no assunto.

Espontaneidade O ponto central da teoria moreniana a Espontaneidade, entendida como a capacidade de dar respostas adequadas e originais s situaes e problemas que a vida apresenta. Para Moreno (1975, p.58) a Espontaneidade produz Espon-taneidade e incentiva a Criatividade. A Espontaneidade constitui-se como uma caracterstica que possibilita ao ser humano responder com Criatividade e sucesso aos desafios do seu meio (PUTTINI, 1997, p.15). Manifesta-se no momento, no aqui e agora, e a capacidade que a pessoa tem de agir e reagir com coerncia e sem rigidez aos acontecimentos. Tem tendncia a ser experimentada como sendo seu prprio estado autnomo. a manifestao da vontade livre. Moreno (1974, p.38) diz que o fundamento do Psicodrama o princpio da Espontaneidade criadora, a participao desinibida de todos os membros do grupo na produo dramtica e catarse ativa. Est presente desde o nascimento na natureza humana e uma caracterstica prpria da criana pequena, enquanto ainda no est direcionada a copiar modelos conservados de comportamentos da sociedade. O indivduo espontneo flexvel, sabe avaliar, est atento s alternativas e representa o papel com desembarao. Rojas-Bermudez define que(...) espontaneidade no sentido moreniano a capacidade de um organismo adaptar-se adequadamente a novas situaes (...). A espontaneidade funciona somente no momento em que surge; pode ser

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comparada, metaforicamente, com a lmpada que se acende e graas a qual tudo fica claro na casa. (Rojas-Bermudez,1980, p.50)

O indivduo criativo busca sempre caminhos que possam superar dificuldades e encontrar meios para suas realizaes. Para Moreno (1975), a Espontaneidade na sua evoluo (...) provavelmente, mais antiga que a sexualidade, a memria e a inteligncia. Embora seja a mais antiga em termos universais e na evoluo, a fora menos desenvolvida nas pessoas e, freqentemente, inibida e desencorajada pelas instituies culturais. (MORENO, 1975)

No Teatro da Espontaneidade a cena construda no momento. No h ensaios prvios, o que difere do teatro formal, denominado por Moreno como teatro legtimo, em que toda preparao teatral elaborada antecipadamente. Marineau (1992, p.117), escrevendo sobre a vida de Moreno, cita que a base da filosofia de Moreno foi sempre a importncia dada a cada indivduo para se expressar atravs de seus recursos espontneos e criativos, num mundo em que cada um parte de um grupo ou de uma entidade social. Assim, a Espontaneidade se destaca como a base para qualquer ao criativa. Dando liberdade para a Espontaneidade e suas capacidades intelectuais, afetivas, sociais, o aluno se coloca inteiramente no ato de aprender estabelecendo suas prprias relaes com o conhecimento e atribuindo-lhe significados. Esse exerccio de ao e reflexo permeado pela liberdade que caracteriza as realizaes psicodramticas. Liberdade para expressar idias e sentimentos pessoais a respeito dos diferentes temas de estudo, sem inibies, num ambiente ldico e democrtico, para permitir-se a recuperar o prazer de aprender (PUTTINI, 1997, p.20). Atualmente h um crescente interesse pela criatividade, pois manifestada nas atividades de cada indivduo produzindo energia de vida. Segundo Gledimar Diniz (2001, p.48) a criatividade proporciona a manifestao do potencial interior e possibilidades de renovao constante.

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Pessoas criativas inventaram uma infinidade de objetos que facilitaram a nossa vida: a inveno da roda, do computador, da eletricidade e outros. Uma comparao simplria seria uma pessoa inteligente v estrelas e sabe dizer o nome delas, enquanto que a pessoa criativa consegue enxergar os desenhos que as constelaes formam. Embora parea ser atributo de cientistas e artistas, a criatividade inerente ao ser humano. Algumas pessoas desenvolvem o seu potencial criativo, pois tm prazer em pensar. Para algum criativo, ter uma boa idia , antes de tudo, agradvel e gratificante. Os criativos podem no mudar o mundo, mas mudam e melhoram sua vida. Diante de desafios, os criativos tendem a ter pensamentos transformadores com maior freqncia. Quais as caractersticas de uma pessoa criativa? dotada de curiosidade. O porqu faz parte de sua vida. dotada de inquietude. No faz somente o esperado. dotada de realismo, confronta-se com a realidade e levanta vrias alternativas diferentes para o mesmo problema. At mesmo nas horas de lazer. O professor tambm, ao exercitar a Espontaneidade e a Criatividade, abre espao para sua ao na sala de aula, promovendo e estimulando a participao e cooperao entre os alunos. Preocupa-se com o grupo, dos lderes aos solitrios, observando suas caractersticas e suas relaes. Sua relao com os alunos d-se numa perspectiva horizontal, est sempre com eles e nunca acima deles. Valoriza o potencial interno de cada um. Muitas vezes esse potencial est armazenado e, em condies favorveis, h a manifestao dessas capacidades encobertas. Por isso, o Psicodrama na Educao um instrumento extremamente til, com recursos de inestimvel valor.

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3. PSICODRAMA E EDUCAO A educao deveria ter a funo de ensinar, no apenas o currculo com disciplinas bsicas para o desenvolvimento intelectual, mas preparar pessoas para viver em grupo, em sociedade, criando vnculos entre os seres humanos, incentivando o desenvolvimento social e afetivo. Mesmo sendo tratada sem grande importncia, a educao primordial no desenvolvimento da humanidade. Em nosso meio educacional h quase um consenso de que a aprendizagem um processo que envolve exclusivamente o aspecto cognitivo. Muitos professores que so bem preparados, que tm o objetivo de formar um aluno consciente e crtico, privilegiam o aspecto cognitivo em detrimento aos aspectos sensorial, afetivo e social, e, por isso, no atingem o indivduo como um todo. Promover o homem significa torn-lo capaz de conhecer os elementos de sua situao para intervir nela, transformando-a atravs de uma ampliao da liberdade, da comunicao e relao entre os homens. O sentido da educao o de promover a humanidade. Sobre isso Saviani comenta:(...) se promover o homem significa libert-lo de toda e qualquer forma de dominao; se, nas sociedades em que vigora o modo de produo capitalista, a dominao se manifesta concretamente como dominao de classe, ento educar, isto , promover o homem, significa libert-lo da dominao de classe, vale dizer, superar a diviso da sociedade em classes antagnicas e atingir um estgio de sociedade regulada. (SAVIANI, 1989)

O cotidiano de grande parte das escolas e universidades ainda baseado em aulas formais, expositivas, em uma relao vertical entre professores e alunos, traduzida em professor fala e aluno escuta. Por isso a rotina cansativa e desagradvel para os alunos e pouco gratificante para o professor. Carlos Brando, criticando o que se chama educao, cita que33

Em nome de quem os constitui educadores, estes especialistas do ensino aos poucos tomam a seu cargo a tarefa de assumir, controlar e recodificar domnios, sistemas, modos e usos do saber e das situaes coletivas de distribuies do saber. Onde quer que aparea e em nome de quem venha, todo o corpo profissional de especialistas do ensino tende a dividir e a legitimar divises do conhecimento comunitrio, reservando para o seu prprio domnio tanto alguns tipos e graus do saber da cultura, quanto algumas formas e recursos prprios de sua difuso. Assim, aos poucos acontece com a educao o que acontece com todas as outras prticas sociais (a medicina, a religio, o bem-estar, o lazer) sobre as quais um dia surge um interesse poltico de controle. (BRANDO, 1981, p. 26)

De certa forma Brando chama ateno para que essa educao contra o aluno pois no leva em conta o que ele , mas para o que deveria ser para manter as divises de poder e controle entre alunos e professores. nesse momento que o Psicodrama pretende colaborar com a educao no sentido de desenvolver o aluno levando em conta o que ele e transformando-o para viver em grupos, em sociedade. A relao do Psicodrama com a educao uma relao estreita e amigvel. Logo em seu nascimento h uma ao educativa quando Moreno trabalha com adolescentes com dificuldades de aprendizagem. Semelhantemente a experincia de Helena Antipoff brasileira tambm pedaggica. Isso tudo refora a capacidade e instrumentalidade do Psicodrama na rea educacional. Ressaltando a importncia do papel de educador, a educadora argentina Maria Alicia Romaa assim o define:(...) acreditamos que o educador aquele mestre, professor, assistente, orientador, instrutor, que, em qualquer tarefa educativa, procura conciliar a transmisso de conhecimentos sistemticos para uma melhor compreenso do mundo e das possibilidades e limitaes do homem com a necessidade de facilitar ao aluno o reconhecimento dessa sua realidade imediata e concreta, de modo que ele possa desenvolver tanto a sua compreenso crtica e ativa, como sua vontade transformadora. (Romaa, 1985, p.15)

Alm de ter-se estruturado como terapia que visa compreenso e desenvolvimento do ser humano, o Psicodrama tambm se estruturou como34

metodologia educacional. A produo do conhecimento se d por meio da ao. Moreno (1975, p.105) diz que os contedos imprimem-se na mente quando o sujeito encontra-se em comportamento ativo.

Psicodrama Pedaggico O Psicodrama Pedaggico um mtodo que possibilita a coordenao desses fatores porque a aprendizagem se d atravs da ao e interao. Ao aluno permitido expressar o que sabe com o saber do grupo e, compartilhando com o grupo, construir e reconstruir o conhecimento adquirido. Visa levar o aluno reflexo, ao questionamento, ao entendimento dos conceitos transmitidos e permitir o desenvolvimento da Espontaneidade e Criatividade. Alm disso, o Psicodrama faz com que o indivduo aprenda a se aceitar ou modificar seus padres de conduta, para ser aceito por si e pelos outros, aprimorando assim as relaes interpessoais (FLOREZ, 1986, p.14). Maria Alicia Romaa, pioneira do Psicodrama Pedaggico na Amrica Latina, formou os primeiros educadores psicodramatistas brasileiros. Romaa (1985, p. 26) mantm a idia da possibilidade da utilizao das tcnicas psicodramticas, promovendo o desenvolvimento de vrios aspectos da vida e garante a aquisio do conhecimento em nvel intuitivo e intelectual, mas tambm leva a uma participao maior do aluno e utilizao do seu corpo, permitindo ao professor, ao mesmo tempo, o manejo do grupo como unidade. O que ensinado pelos educadores pode ser esquecido pelos alunos, tornando o ensino uma transmisso de informao apenas. O diferencial da aquisio do conhecimento no desaparecer se esse processo acontecer de forma reiterada.

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Apoiando-se no uso da Espontaneidade, o Psicodrama Pedaggico produz, paralelamente, uma adequada aquisio de conhecimento (ROMAA, 1985, p. 45). Desde seu nascimento, o Psicodrama foi uma atividade pedaggica. As suas possibilidades teraputicas so descobertas no caso Brbara4, que transforma o Teatro da Espontaneidade em Teatro Teraputico (DINIZ, 1995, prefcio). Moreno utilizava o Psicodrama Pedaggico na formao de Psicodramatistas, porm, a psicoterapia passa a caracterizar as tcnicas psicodramticas prejudicando o desenvolvimento das aplicaes pedaggicas. Somente na segunda metade do sculo, o Psicodrama aplicado rea educacional ou pedaggico, como tambm conhecido, volta a se desenvolver. Psicodramatistas argentinos comeam a firmar uma linha pedaggica no Psicodrama. Romaa iniciou seu trabalho com o Psicodrama Aplicado Educao em 1963, denominando-o como Psicodrama Pedaggico:Quando criamos o termo Psicodrama Pedaggico no foi nossa inteno estabelecer somente entre a aplicao didtica e teraputica da dramatizao, mas sim reconhecermos uma unidade bsica, relativa filosofia e fundamento de uma mesma tcnica, procurando identificar, atravs do pedaggico, fundamentalmente o marco referencial e o campo de ao do educador. (ROMAA, 1985, p.14)

Essa denominao deu-se por ocasio do incio da formao de educadores, em 1969, junto ao GEPSP. A denominao Metodologia Psicodramtica surgiu quando a autora percebeu queQuando chegou a hora de explicar em So Paulo as possibilidades didticas do Psicodrama, foi que percebi com clareza, tambm pela primeira vez, a correlao entre o que denominei de nveis de realizao psicodramtica (realidade, simbolismo, fantasia) e os mecanismos comprometidos no processo de aprendizagem. Essa correlao chegou a constituir depois o fundamento que passei a denominar Metodologia Psicodramtica, que hoje chamo de Mtodo Educacional Psicodramtico. (1996: p.26).

No decorrer do desenvolvimento do Psicodrama Pedaggico, muitos termos foram utilizados para descrev-lo: Psicodrama vinculado Educao, Psicodrama4

O caso Brbara relatado no captulo 1.

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Educacional, Psicodrama Aplicado Educao, Metodologia Psicodramtica e Mtodo Educacional Psicodramtico so os nomes mais conhecidos para descrever o Psicodrama de Moreno utilizado como metodologia de ensino. Neste trabalho ser priorizado o termo Psicodrama Pedaggico. Psicodrama Pedaggico se diferencia do Teraputico nos seus objetivos (educao e no terapia), pela formao do diretor (professor e no terapeuta) e pelo contato com os participantes (alunos e no pacientes). A importncia do Psicodrama Pedaggico tambm relatada pelo professor Clvis Rossi, em prefcio ao livro de Diniz:O Psicodrama Pedaggico tem uma posio definida e importante no Teatro e Educao. Nos 16 anos em que ministramos, no Curso de PsGraduao da ECA/USP, a disciplina Tcnicas Psicodramticas Aplicadas ao Ensino, de trs meses de durao, pudemos verificar a extraordinria eficcia do Psicodrama como tcnica educativa. Professores das mais diferentes reas, como Artes, Pedagogia, Letras, Histria, Geografia, Fsica, Matemtica, Psicologia, Filosofia, aprenderam a aplicar, nas suas aulas, a tcnica psicodramtica, tornando o ensino vivenciado, ativo, participante, dentro das modernas propostas pedaggicas. Sempre mantendo o limite entre o teraputico e o pedaggico, os docentes descobriram a extraordinria eficincia do Psicodrama na sua funo didtica. (DINIZ, 1995, prefcio)

O Psicodrama Pedaggico no se aprofunda em problemas pessoais, no vai remexer o passado secreto e as feridas de cada um. No lida com patologias, o trabalho clnico tarefa especfica do Psicodrama Teraputico. Por isso, o educador deve estar atento e vigilante para saber at que ponto pode permitir aos participantes prosseguirem em sua busca. s vezes, pode haver dificuldades em suportar o peso de um drama demasiado pessoal, muito ntimo, sem correr risco. Alm dos resultados pedaggicos h benefcios teraputicos, como ressalta Diniz:(...) mesmo sendo pedaggico, o Psicodrama acaba proporcionando benefcios teraputicos. Nos cursos de Psicodrama Pedaggico realizados com grupos de professores, nos encontros com mes e alunos, muito comum recebermos a informao, por parte deles, de que se sentiram beneficiados com as tcnicas psicodramticas, o que nos faz crer que, mesmo no aprofundando problemas pessoais, isto , ficando

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apenas no mbito pedaggico, o Psicodrama portador de efeitos teraputicos em si mesmo. (DINIZ, 1995, p.52)

Windyz Ferreira, tambm em defesa da importncia do Psicodrama Pedaggico, cita que(...) o Psicodrama Pedaggico coloca o aluno inteiro, incluindo (e principalmente) sua histria pessoal experincias e caractersticas pessoais como ponto de partida do processo educacional. Na escola, o Psicodrama traz a realidade existencial do aluno para dentro da sala de aula e estabelece que todo e qualquer processo de aprendizagem deve ter como princpio orientador o ser humano representado pelo aluno. Assim, a prioridade no se revela s na capacidade de aprender contedos (conhecimentos) mas centra-se na possibilidade de desenvolvimento do aluno, de forma que este desenvolvimento pessoal d ao processo ensino-aprendizagem, desperte interesse, curiosidade e criatividade, que aqui poderia ser entendida como confiana na sua prpria capacidade de deciso, escolha e criao. (FERREIRA, 1993, p.121)

O Psicodrama Pedaggico, segundo Diniz (1995, p. 53), utilizado nas seguintes situaes: a. Para compreender um conhecimento j adquirido mediante mtodos tradicionais; b. Para melhor compreenso de um tema; c. Para repassar conceitos j esquecidos; d. Para o treinamento da espontaneidade; e. Para melhoria das relaes sociais; f. Para transmitir conhecimentos novos. Os mesmos instrumentos utilizados no Psicodrama Teraputico, citados anteriormente, so utilizados no Psicodrama Pedaggico: 1. Diretor: o professor; 2. Ego-auxiliar: pode ser um professor auxiliar treinado; 3. Protagonista: prprio aluno ou tema escolhido;38

4. Coadjuvantes: alunos que atuam com o protagonista; 5. Espao cnico: o local onde se dar a dramatizao; 6. Auditrio: formado por todos os presentes; As etapas so as seguintes: 1. Aquecimento: primordial para o processo, para que as energias sejam canalizadas para a ao. O objetivo aliviar as tenses e centralizar as atenes, facilitar a emergncia de boas relaes e criar laos entre as diferentes pessoas participantes do grupo. 2. Dramatizao: a ao propriamente dita, o ncleo do Psicodrama, segue logo aps o aquecimento. 3. Comentrios: a etapa logo aps a dramatizao, quando os participantes, alunos e professores, conversam sobre o trabalho realizado. 4. Comentrios complementares: discusso da aula que foi ministrada e preparao do prximo encontro. O diretor do Psicodrama Pedaggico coordena as idias, distribui os papis, define a durao e os limites entre Psicodrama Teraputico e Pedaggico, considerando sempre que o essencial do mtodo garantir a improvisao dramtica. Ressaltando a importncia da formao especial no uso do Psicodrama, Romaa afirma que(...) no h duvida de que necessria uma formao especial para que seja possvel uma utilizao responsvel e feliz das tcnicas dramticas; por outro lado, poucos so os elementos didticos que podero, como elas, fazer o professor sentir-se to realizado e to enriquecido. (ROMAA, 1996)

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Aplicaes do Psicodrama Pedaggico Para utilizar o Psicodrama Pedaggico importante que o profissional participe de algum programa de formao psicodramtica, de forma a desenvolver o seu papel de Psicodramatista com maior habilidade e conhecimento do mtodo. Arantes ressalta esta importncia em seu trabalho mais recente:Na metodologia psicodramtica, alm dos Instrumentos, Etapas, Contextos, Jogos e Dramatizaes; temos uma infinidade de Tcnicas, cuja aplicao indevida, por profissionais inexperientes, pode causar danos irreversveis no trabalho com grupos. Essas tcnicas devem ser empregadas exclusivamente por Psico-dramatistas experientes, informados teoricamente e formados na prtica: experientes no Papel de Ego-Auxiliar e Diretor, e supervisionados at que estejam em condies de dirigir um grupo, com seus prprios Ego-Auxiliares. (ARANTES, 2002 p.105)

Ao promover a criatividade, o Psicodrama Pedaggico estimula a capacidade criativa dos alunos. Com o desenvolvimento da espontaneidade, a personalidade do aluno enriquecida proporcionando o surgimento de manifestaes criativas. Por meio da interpretao do resultado de um Teste Sociomtrico ou dos Jogos Psicodramticos, pode-se detectar os problemas de dificuldades de aprendizagem. Aps ser diagnosticado, o problema pode ser eliminado ou amenizado e, assim resultando em um melhor aproveitamento do processo de ensino. Na seleo e treinamento profissional, as tcnicas psicodramticas podem permitir uma viso mais integral dos seres humanos, auxiliando o trabalho dos psiclogos que pode ser complementado com a aplicao de testes. Com o mtodo de ensino, o Psicodrama Pedaggico desenvolve o ser humano como um todo, no apenas seu lado intelectual, respeitando sua capacidade de sentir, agir e pensar. A pesquisa educacional com o Psicodrama deixa vontade a criatividade do pesquisador na utilizao das infinitas possibilidades de aplicao das tcnicas psicodramticas, de acordo com seu objetivo. As dramatizaes e os jogos dramticos podem enriquecer a orientao profissional, tanto para o orientando, quanto para o orientador.40

Arantes (2002) cita as principais aplicaes do Psicodrama Pedaggico nas seguintes situaes: promover a criatividade, dificuldades de aprendizagem, seleo e treinamento profissional, mtodo de ensino, pesquisa educacional, aconselhamento de problemas cotidianos, jogos dramticos, orientao profissional e queao empregarmos os Jogos Dramticos na Orientao Profissional, alm do objetivo de facilitar as manifestaes Espontneas, pretendemos tambm participar na construo da Identidade Pessoal de Adolescentes, influenciando, como conseqncia, a construo da Identidade Profissional. (ARANTES, 2002, p. 93)

Os recursos do Psicodrama tambm capacitam o educador no aconselhamento de problemas cotidianos. Devido carncia de profissionais dentro da escola capacitados para o aconselhamento, os educadores geralmente so solicitados a exercer a orientao psicolgica. Alm do aspecto ldico-educativo, nos desafios oferecidos pelos jogos psicodramticos h um incentivo liberdade do aluno. No trabalho de orientao profissional, o Psicodrama pode ser aplicado por meio de jogos dramticos relacionados faixa etria que estiver sendo orientada, o que poder ser desde a infncia at a idade adulta. Sobre este assunto, Arantes defendeu a tese de que a escolha profissional pode ser facilitada atravs da utilizao de Jogos Dramticos fundamentados na teoria do Psicodrama e descreve:O Psicodrama pode ser aplicado no trabalho de Orientao Profissional, desde a infncia at a idade adulta, atravs de Jogos e Dramatizaes adaptados a faixa etria que estiver sendo orientada. As preocupaes com as escolha de uma profisso podem ser observadas, mesmo em crianas pequenas, comeando pela imitao ou identificao com os Papis Profissionais de adultos que representam significativa importncia em suas vidas, reais ou imaginrios. (Arantes, 2002: p. 96)

Os Jogos Dramticos criam um clima favorvel ao desenvolvimento da imaginao criativa, possibilitando que as personalidades sejam construdas espontaneamente, livres das presses sociais e esteretipos que limitam o processo de desenvolvimento. Alm dessas aplicaes, o Psicodrama tambm pode ser til na questo da avaliao da aprendizagem. O avaliador pode empregar instrumentos capazes de avaliar o ser humano em sua plenitude, como um ser que sente, pena e age, ou41

melhor, os princpios da teoria psicodramtica. A avaliao um processo e as ferramentas podem ser mltiplas. Pode ser uma de cunho psicodramtico e outra avaliao com outra metodologia. A avaliao da aprendizagem, sob a fundamentao psicodramtica, parafraseando o artigo de Muneiro e Arantes (2004) pode ser utilizado: Jogos dramticos: jogos que envolvem a interpretao de papis, contendo ou no regras, denominados sensoriais quando centralizados no corpo; afetivos ao lidarem com sentimentos; sociais quando direcionados aos inter-relacionamentos; cognitivos ao facilitarem o desenvolvimento da reflexo e espirituais quando transcendem os limites da realidade terrena. Teste sociomtrico: til para investigao, mensurao e interveno nas relaes interpessoais. Jornal vivo: dramatizaes curtas envolvendo artigos de livros didticos, jornais ou outro tipo de comunicao. Role-Playing: til para ensinar, avaliar e aprimorar procedimentos pessoais, sociais, profissionais e espirituais atravs do desempenho e treinamento de diferentes papis. Teatro espontneo: dramatizaes mais complexas que exigem uma formao em Psicodrama, pois transcendem os limites de tempo e espao, alcanando dimenses estticas e espirituais. A metodologia psicodramtica tambm pode ser til nas relaes entre educadores e pais, estreitando as prticas educacionais e familiares resultando em uma convivncia mais produtiva. Nas reunies pedaggicas com os professores possibilita a melhor atuao e qualificao desses profissionais, por meio do treino de papis e pela maior compreenso dos processos relacionais, pela melhor42

percepo do outro incluindo, especialmente, o aluno, em seus aspectos emocional, afetivo, relacional, intelectual, corporal e cognitivo. importante ressaltar que o Psicodrama Pedaggico um instrumento extremamente til que pode facilitar as tarefas do educador, com recursos de inestimvel valor, que resgata elementos humanizadores que, em tempos atuais, tanto carece a humanidade.

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CAPTULO 2: ASPECTOS METODOLGICOS

O processo de pesquisa, segundo Ivani Fazenda (1994, p.10), apesar de rduo e solitrio, tambm um desafio, pois a paixo pelo desconhecido, pelo novo, pelo inusitado, acaba por invadir o espao do educador, trazendo-lhes alegrias inesperadas. Pode-se compartilhar dessa opinio, pois qualquer pesquisa um grande desafio. Embora a cidade de Campinas tenha realizado um papel importante para o desenvolvimento do movimento psicodramtico no Brasil, no tem seu papel divulgado na histria do Psicodrama brasileiro. Para relatar esta histria foi utilizado como metodologia a histria oral.

Histria Oral Embora sua introduo no Brasil tenha sido nos anos de 70, somente no incio dos anos 90 a histria oral experimentou uma expanso mais significativa. A criao da Associao Brasileira de Histria Oral, em 1994, e a publicao de seu boletim tm estimulado a discusso entre pesquisadores e praticantes da histria oral no pas. Utilizar a histria oral como metodologia consiste em gravar entrevistas e editar os depoimentos tendo em vista um aprofundamento terico-metodolgico. O objeto de estudo recuperado e recriado por intermdio da memria dos informantes, utilizado como mtodo de captao de histrias passadas para reconstruo. Tambm com a utilizao de entrevistas em associao com fontes escritas, como fornecedoras de informaes para a elaborao de teses ou trabalhos45

de pesquisa, sem que isso envolva qualquer discusso acerca da natureza das fontes ou de seus problemas. Ferreira esclarece o uso dessa metodologia:Em nosso entender, a histria oral, como todas as metodologias, apenas estabelece e ordena procedimentos de trabalho tais como os diversos tipos de entrevista e as implicaes de cada um deles para a pesquisa, as vrias possibilidades de transcrio de depoimentos, suas vantagens e desvantagens, as diferentes maneiras de relacionar-se com seus entrevistados e as influncias disso sobre seu trabalho funcionando como ponte entre teoria e prtica. Esse o terreno da histria oral o que, a nosso ver, no permite classific-la unicamente como prtica. Mas, na rea terica, a histria oral capaz apenas de suscitar, jamais de solucionar, questes; formula as perguntas, porm no oferece respostas. (FERREIRA, 1996, p.233)

As divergncias sobre o uso da histria oral so muitas, sejam sobre sua validade como mtodo, tcnica ou disciplina, sejam quanto aos termos prprios caractersticos da rea como histria e fonte oral.

Entrevistas A entrevista oral pode ter como finalidade constituio de um corpus, isto , a coleta de um grande nmero de depoimentos sobre um tema determinado que, no caso desta pesquisa, a construo da histria do Psicodrama Pedaggico em Campinas. A relao entre entrevistador e entrevistado dever ser uma relao de confiana, pois h necessidade de estabelecer vnculos, tornando mais fcil o dilogo. De um modo geral, foi priorizado a escolha de entrevistados experientes e maduros em relao ao seu envolvimento com o Psicodrama. A preocupao foi em limitar o tempo das entrevistas, alm de evitar perguntas excessivamente meticulosas do ponto de vista cronolgico. Nenhuma entrevista foi realizada sem uma preparao minuciosa. Arquivos e livros sobre o assunto foram consultados e aqueles entrevistados que tinham obras46

publicadas tambm foram consultadas, alm das referncias sobre as principais etapas de sua biografia. Cada entrevista foi apreciada quanto a sua coerncia interna e lida como um todo. Se um informante tem uma tendncia a mitificar ou produzir generalizaes estereotipadas, isto se repetir no correr de toda a entrevista. De modo semelhante, a supresso de informaes pode manifestar-se pela relutncia repetida em discorrer sobre determinada rea ou por contradies no solucionadas quanto a algum pormenor. Uma vez que, isoladas, nenhuma das entrevistas seja to rica ou completa como narrativa nica, a coletnea das narrativas um modo melhor de apresentar um material de histria oral. Durante cada entrevista os fatos foram emergindo pela liberdade que o entrevistado encontrou em abordar o que era importante para ele naquele momento. Sobre isso Thompson cita: muito comum que se encontre um conflito entre os valores gerais que se acredita serem verdadeiros no passado e o registro mais preciso sobre a vida do dia-a-dia; essa contradio, porm, ser por si s extremamente reveladora, pois pode representar uma das dinmicas da mudana social. (THOMPSON, 1992, p.306)

Quando houver divergncias entre evidncia escrita e oral, no se segue que um dos relatos seja necessariamente mais fidedigno que o outro, conforme cita Thompson:A entrevista pode revelar a verdade que existe por trs do registro oficial. Ou ento, a divergncia poder representar dois relatos perfeitamente vlidos a partir de dois pontos de vista diferentes, os quais, em conjunto, proporcionam pistas essenciais para a interpretao verdadeira. Na verdade, grande parte da evidncia oral oriunda da experincia pessoal direta como um relato sobre a vida domstica em determinada famlia preciosa exatamente porque no pode provir de nenhuma outra fonte. inerentemente nica. Claro que sua autenticidade pode ser avaliada. No pode ser confirmada, mas pode ser julgada. (THOMPSON, 1992, p. 307)

O outro mtodo pelo qual se pode chegar a um julgamento desse tipo colocar a evidncia dentro de um contexto mais amplo. O pesquisador experiente j47

ter suficiente conhecimento, a partir de fontes contemporneas, sobre a poca, o local e a classe social de onde provm dada entrevista, para saber, mesmo que determinado detalhe no possa ser confirmado, se a entrevista como um todo soa como verdadeira. A falta generalizada de detalhes confiveis, atitudes anacrnicas e construes lingsticas incongruentes, tudo isso ser bastante bvio. Procedimentos para coleta de dados Para esse estudo, a pesquisa qualitativa foi utilizada como instrumento mais eficaz na coleta de informaes, foram utilizadas fontes escritas para um levantamento bibliogrfico de livros e textos sobre as variadas abordagens ou enfoques existentes sobre o Psicodrama. Foram vrios livros nacionais, estrangeiros, revistas da FEBRAP, entrevistas com os profissionais envolvidos no movimento psicodramtico, apostilas elaboradas por cursos de formao em Psicodrama Pedaggico. A pesquisa bibliogrfica e a coleta de dados foram atravs de documentao disponvel no acervo da Federao Brasileira de Psicodrama (FEBRAP) para compor a noo histrica do Psicodrama no Brasil. Para compor a histria do Psicodrama Pedaggico em Campinas foi realizada uma pesquisa em fontes primrias: coleta de dados atravs da documentao disponvel no acervo do Instituto de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de Campinas (IPPGC), do Centro de Memria da UNICAMP, do acervo da extinta Associao Campineira de Psicodrama e Sociodrama (ACPS), documentos em posse de ex-diretores, e do acervo da Federao Brasileira de Psicodrama (FEBRAP). Tudo isso demandou um intenso levantamento. Todos os documentos foram interrogados quanto s datas, profissionais envolvidos no movimento psicodramtico que tiveram um papel importante no desenvolvimento do Psicodrama. A histria oral uma tcnica qualitativa, utilizada por muitos estudiosos, particularmente por jornalistas, socilogos e antroplogos, que trabalham com a48

evidncia oral juntamente com outras fontes, e no sozinha. Por isso, neste trabalho tambm se utilizou o mtodo de histria oral para a coleta de dados nas entrevistas. Paul Thompson (1988, p.20), escrevendo sobre histria oral, cita que Toda histria depende, basicamente, de sua finalidade social. Por isso que, no passado, ela se transmitia de uma gerao a outra pela tradio oral e pela crnica escrita (...) Thompson (1988, p.25) cita que a utilizao de entrevistas como fonte vem de muito longe e perfeitamente compatvel com os padres acadmicos. A histria oral oferece, quanto a sua natureza, uma fonte bastante semelhante autobiografia publicada, mas de muito maior alcance, pois trata de vidas individuais e baseia-se na fala, e no na habilidade escrita, e to antiga quanto prpria histria, pois foi a primeira histria. Maria Isaura Queiroz descrevendo a importncia do relato oral entre as tcnicas de coleta de dados empregadas pelos cientistas sociais com tanto sucesso escreve que a tcnica por excelncia, e at mesmo a nica vlida para se contrapor s quantitativas. Reforando o desenvolvimento da histria oral, Maria Isaura escreve que(...) o relato oral se apresentava como tcnica til para registrar o que ainda no se cristalizara em documentao escrita, o no conservado, o que desapareceria se no fosse anotado; servia, pois para captar o no explcito, quem sabe mesmo o indizvel. (QUEIROZ, 1988, p. 15)

O gravador, o principal equipamento utilizado, no s permite que a histria seja registrada em palavras faladas, mas tambm que seja apresentada por meio delas, demonstrando como rica a capacidade de expresso das pessoas. Por isso, o pesquisador tem que ser bom ouvinte para coletar informaes interessantes. O pesquisador utilizar o relato oral de acordo com suas preocupaes, pois, segundo Maria Isaura Queiroz a narrao oral se transforma em um documento escrito:49

Na verdade, a narrativa oral, uma vez transcrita, se transforma num documento semelhante a qualquer outro texto escrito, diante do qual se encontra um estudioso e que, ao ser fabricado, no seguiu forosamente as injunes do pesquisador; de fato, o cientista social interroga uma enorme srie de escritos, contemporneos ou no, que constituem a fonte de dados em que apia seu trabalho. (QUEIROZ, 1988, p. 18)

Para este trabalho, as entrevistas orais foram realizadas com pessoas ligadas ao Psicodrama e ligadas ao Psicodrama Campineiro. Informaes especficas sobre o Psicodrama Campineiro foram fornecidas pelos entrevistados ligados direo do Instituto de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo de Campinas (IPPGC), direo da extinta Associao Campinense de Psicodrama e Sociodrama (ACPS), coordenao do Grupo de Estudos de Psicodrama Aplicado (GEPA). Estas entrevistas forneceram dados para bsicos para a produo do quarto captulo desta dissertao. Desses depoimentos, procurou-se extrair experincias de vida e de trabalho com o Psicodrama que muito interagiram com sua histria em Campinas. Com exceo da entrevista do pr