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OS BRASILEIROS NO JAPÃO
MOSTRA FOTOGRÁFICA - 110 ANOS DE VÍNCULOS HUMANOS
Departamento Consulare de Brasileiros no Exterior
Departamento Consulare de Brasileiros no Exterior
Mensagem inicial A exposição permanente deste museu conta em detalhe a história dos japoneses que migraram para o Brasil a partir de 1908, em busca de me-lhores condições de vida. Esses japoneses criaram raízes no Brasil, e seus descendentes estão hoje perfeitamente integrados à cultura local. São bra-sileiros que carregam consigo uma valiosa herança cultural nipônica.
Essa história, porém, ainda não acabou. Ela continua por meio dos 200.000 brasileiros, em sua maioria descendentes daqueles primeiros mi-grantes japoneses, que há cerca de três décadas começaram a vir para a terra de seus ancestrais e hoje formam uma das maiores comunidades de estrangeiros no país.
A presente exibição conta um outro capítulo da história desses 110 anos de vínculos humanos entre Brasil e Japão, por meio de documentos e ma-teriais de época, alocados nas mesas ao centro. À esquerda, as fotos do “Projeto Dekasségui” recriam o cotidiano e as dificuldades enfrentadas pe-los brasileiros no começo do processo de imigração. Ao fundo, um mural de fotos mostra os rostos da atual comunidade brasileira no Japão.
Na galeria à direita, encontram-se alguns representantes do futuro que desejamos para todos os brasileiros: pessoas que conseguiram superar as adversidades, integrar-se plenamente à sociedade japonesa e alcançar êxito em suas áreas, em processo similar ao vivido por seus ancestrais no Brasil. Esperamos que os diversos casos de sucesso sirvam de inspiração para os visitantes do museu, em especial para nossos jovens.
O Consulado-Geral do Brasil em Tóquio agradece à JICA pela parceria na produção da mostra. Sua realização neste nobre espaço tem caráter simbólico, ao destacar que a presença brasileira no Japão é, literalmen-te, parte da história da migração japonesa ao exterior. Estendemos nossos agradecimentos aos diversos colaboradores que cederam material para a exibição, em especial ao fotógrafo Junior Maeda e ao Professor Angelo Ishi, e aos patrocinadores Caixa Econômica Federal e Brastel.
João de Mendonça Lima NetoCônsul-Geral do Brasil em Tóquio
Departamento Consulare de Brasileiros no Exterior
Mostra fotográficaCotidiano
Brasileirosem Destaque
Habitat
Fronteira
Logística
A expectativa
Altar dos sonhos
Amiga ressaca
Incansável espera
Mesa da verdade
Fim de semana
Doze horas Cadência da solidão
Amanda - modelo
Mailyn Costa - universitária
Mari Hirata - chef
Michie Afuso - assistente social
Leonardo Kaetsu - universitário
Paulo Junior e Sergio Lisboa - empresários
Walter Saito - empresárioRicardo Sugano - lutador de sumô
Noemia Hinata - escritora Arthur Muranaga - empresário
Adilson Tadocoro - empresário Lisa Ono - cantora
Nesta galeria, o fotógrafo Junior Maeda reconstrói o cotidiano dos “decasséguis” brasileiros que vieram ao Japão a partir de 1990, retratando o ambiente que permeava o processo de imigração.
Nesta série fotográfica, Maeda retrata alguns dos muitos brasileiros que conseguiram alcançar êxito em suas áreas de atuação, incluindo dois estudantes brasileiros em universidades japonesas.
O fotógrafo brasileiro Junior Maeda mora no Japão há 25 anos. É formado em fotografia
pelo “The Photography Institute Japan” e tem vasta experiência em fotojornalismo.
Recebeu o prêmio Destaque em Fotografia do Press Awards Japan 2017.
Departamento Consulare de Brasileiros no Exterior
Nos anos 1990, o Japão buscava soluções para a escassez de mão de obra, enquanto o Brasil atravessava um momento de crise econômica. A mudança da lei ofereceu uma solução tanto para as indústrias japonesas, que demandavam trabalhadores, quanto para os brasileiros, que buscavam oportunidades de emprego e desejavam conhecer sua cultura ancestral.
No início do século XX, muitos japoneses embarcaram pela primeira vez em um navio a fim de imigrar para o Brasil. No fim do século, eram muitos os brasileiros que embarcavam pela primeira vez em um avião rumo ao Japão.
❷ Grande parte dos brasileiros que vieram para o Japão a partir dos anos 1990 pertencia à classe média brasileira. Muitos tinham ensino superior completo e exerciam profissões como advogados e engenheiros. No entanto, sem ter seus diplomas universitários reconhecidos e sem dominar o idioma local, buscavam emprego como operários na indústria ou em outros setores que exigiam menor qualificação.
Missô com Farinha, mangá para brasileiros no Japão, de 1994.
Matéria sobre o “caso Herculano”
❶ Embora cerca de 14 mil brasileiros já vivessem no Japão desde os anos 1980, considera-se como grande marco do movimento migratório a reforma da lei japonesa de Controle de Imigração, promulgada em 1º de junho de 1990. A reforma legislativa autorizou a emissão de visto de residência, sem restrição de atividades, aos filhos e netos de japoneses. Após a entrada em vigor das novas regras, 41.901 brasileiros migraram para o Japão já no primeiro ano.
Passaportes com vistos concedidos após a promulgação da lei.
Modelo de avião da Varig
❸ Outra característica marcante da nova vida no Japão era a precariedade do contratode trabalho. À absoluta maioria dos trabalhadores brasileiros eram oferecidos contratos indiretos e a prazo determinado, intermediados por agências de emprego que nem sempre garantiam condições dignas de trabalho e moradia.
❹ Muitos dos trabalhadores migrantes, por terem aparência física e ascendência nipônica, identificavam-se no Brasil como japoneses. Ao chegarem no Japão, constatavam aqui sua condição de “gaijin”: e eis que, ao cruzarem o mundo em busca de suas raízes, perceberam que elas haviam ficado no Brasil.Contratos
de trabalho de 1993
Reforma do texto da Lei de Controle de Imigração do Japão
Departamento Consulare de Brasileiros no Exterior
❽ Na vida cotidiana, a maioria dos brasileiros tem um estilo de vida multicultural, que mescla os hábitos japoneses com os do seu país de origem. Por exemplo, celebram tanto os festivais brasileiros, como o Carnaval, quanto os tradicionais matsuris japoneses. A cultura do migrante funciona
como uma soma, não como uma eliminação de uma cultura para favorecer a outra.
❻ A manutenção dos laços com o Brasil se revelava também nos hábitos alimentares. A partir dos anos 1990, surgiram inúmeros empreendimentos para atender à demanda por culinária típica e outros produtos brasileiros.
❺ Os brasileiros no Japão buscaram manter os laços com seu país de origem e o contato com a cultura brasileira. A comunidade viu nascer grupos de música brasileira e vem organizando eventos como bailes e mostras de cinema brasileiro desde os anos 1990.
Fotos de apresentação no restaurante brasileiro “Praça XI”, em 1990
A: Folheto de inauguração do supermercado Takara, em 1996, e guia da cidade de Oizumi/Gunma, conhecida como “Brazil Town”
🅐 O estilo de vida dos brasileiros no Japão mudou muito em comparação com os anos 90. Antes, eles chegavam com as malas abarrotadas de alimentos e outros produtos brasileiros. Hoje, há uma farta cartela de opções de produtos brasileiros fabricados no Japão.
Catálogos de produtos brasileiros “made in Japan”.
❼ O mais forte elemento de ligação dos brasileiros no Japão com o Brasil, no entanto, são os laços pessoais entre os que foram e os que ficaram. A comunicação com os familiares no Brasil, no entanto, nem sempre foi fácil. Nos anos 1990, pagava-se uma fortuna em ligações internacionais de telefones públicos. Hoje, o Skype e outras ferramentas gratuitas de videoconferência permitem uma comunicação mais frequente.
Cartões utilizados para fazer ligações para o Brasil a partir de telefones públicos
Matéria de capa de revista da comunidade brasileira sobre “hanami”.
Matéria de capa de revista brasileira no Japão sobre regras de conduta que devem ser observadas na cultura japonesa.
❾ A integração dos brasileiros à sociedade local nem sempre foi fácil ou livre de obstáculos. Como seria natural, muitos ao chegarem desconheciam as normas sociais japonesas. O trabalho pesado e as longas jornadas dificultavam o estudo do idioma e cultura locais, ou a obtenção de maior qualificação profissional.
Departamento Consulare de Brasileiros no Exterior
❿ No auge do movimento migratório, havia no Japão 316.967 brasileiros. Para apoiar esse grande contingente de pessoas a superar as dificuldades que naturalmente surgem de todo processo de emigração, foram criadas inúmeras entidades governamentais e não governamentais. O Brasil também inaugurou consulados para atender a seus nacionais: Tóquio, em 1992, Nagoia, em 1994, e Hamamatsu, em 2009. Fotografia de 1995 do Consulado-Geral do Brasil em Tóquio
⓫ Os próprios brasileiros emigrados criaram inúmeras associações e organizações de apoio à comunidade brasileira no Japão. Hoje existem diversas organizações que oferecerem serviços como tradução, apoio psicológico e atendimento médico em português de forma inteiramente gratuita.
Mapa com algumas entidades de apoio à comunidade brasileira no Japão
⓬ Nos anos 1990, surgem as “escolas brasileiras”, instituições criadas pela própria comunidade para oferecer serviços educacionais em português, seguindo o currículo escolar brasileiro. Embora a maioria dos estudantes frequente escolas japonesas, alguns vão para os estabelecimentos brasileiros, seja porque desejam manter vínculos com o Brasil e o sistema educacional brasileiro (e assim poder estudar em universidade brasileira), seja porque não se adaptaram ao sistema escolar japonês.
Fotos diversas de escolas brasileiras no Japão.
Jornais, revistas, fitas de vídeo e de àudio em português que estiveram em circulação no Japão
⓭ Os anos 2000 são marcados por uma mudança de prioridades entre a comunidade brasileira, que passa a adotar uma perspectiva de permanência de longo prazo no Japão. Há uma maior diversificação das ocupações exercidas pela comunidade. A questão da educação e futuro das crianças brasileiras no Japão também se projeta como um dos temas centrais de preocupação da comunidade.
Edição de 2010 da Revista “Educando”, especializada em educação de brasileiros no Japão.
🅑 Por desconhecimento da língua japonesa, os nipo-brasileiros no Japão enfrentavam dificuldade em se manter informados, sobretudo nos anos 1990, quando o acesso à internet era pouco disseminado. Para suprir a demanda por informação, a partir de 1991 surgiram diversas publicações em português, editadas no Japão, que traziam notícias sobre o Brasil e sobre a vida no novo país.A história da mídia brasileira no Japão está contada no livro “1991”, do jornalista Ewerthon Tobace, disponível gratuitamente na entrada desta exibição.
Departamento Consulare de Brasileiros no Exterior
⓮ Entre 2008 e 2012, a comunidade passou por momentos difíceis. A crise financeira global, desencadeada pelo colapso do banco de investimento Lehman Brothers, causou desemprego no Japão, inclusive de trabalhadores brasileiros. O governo japonês apoiou financeiramente aqueles que desejavam retornar ao Brasil, no marco do “programa de apoio ao retorno voluntário”.
Matéria sobre passeatas realizadas em Nagoia, em 2009, demandando moradia, trabalho e educação para os trabalhadores brasileiros no Japão.
⓯ A despeito da crise financeira de 2008 e da ótima situação da economia brasileira no período, a maior parte dos trabalhadores brasileiros decidiu permanecer no Japão. Vieram os desastres naturais de 2011 e a ameaça nuclear de Fukushima e, ainda assim, a maioria dos brasileiros escolheu ficar.
Foto do público no Festival Brasil 2009
Matéria de capa com informações para brasileiros que estão à procura de casa própria no Japão.
⓰ Os brasileiros que vinham para o Japão eram considerados “decasséguis”, pois tinham o intuito de retornar ao Brasil após alguns anos. Quase três décadas após o início do movimento de migração, muitos criaram raízes: estão no país há mais de 20 anos, compraram casa própria e não têm data para voltar ao Brasil, apesar da saudade. Sem perceber, tornaram-se de fato imigrantes.
⓱ Em 2015, os Conselhos de Cidadãos de Tóquio e de Hamamatsu aprovaram carta aberta à sociedade japonesa, a “Declaração de Yokohama”, em que declaram o fim da “era decasségui” e o desejo da comunidade brasileira de permanecer no Japão, integrar-se à sociedade japonesa e contribuir para o futuro do país onde escolheram viver.
Os brasileiros que ficaram no Japão contribuem não apenas com seu trabalho, consumo e impostos. Prova disso é que, diante da tragédia de março de 2011, os brasileiros não ficaram de braços cruzados e contribuíram ao “Gambaro Nippon!”. Foram para as regiões afetadas prestar ajuda e solidariedade em atividades voluntárias. O sentimento que uniu as pessoas foi este: “Escolhemos ficar aqui, somos parte desta sociedade.”
Pôster de brasileiros trabalhando na limpeza de Fukushima, iniciativa da ONG brasileira ABC Japan.
Muitos brasileiros passaram de empregados a empregadores, superando adversidades e obtendo qualificação para exercer as mais variadas profissões. Hoje há inclusive associações que reúnem empreendedores da comunidade brasileira, como o Brazilian Business Group – Asia (BBG-Asia), com dezenas de integrantes.
Material informativo sobre os empresários brasileiros no Japão
Acabou a era decasségui - Escolhemos �car no Japão”
Completaram-se, em junho deste ano, exatos 25 anos desde a implementação da reforma na Lei de Imigração Japonesa, que entrou em vigor em 1990.
Como se sabe, esta Lei permitiu que os estrangeiros “nikkeis”(descendentes de japoneses) entrassem no Japão com vistos que não previam limitações no tipo de atividade exercida. Essas atividades poderiam incluir a visita aos parentes e, eventualmente, exercer trabalhos sem quali�cação para custear a estadia no país.
Embora haja controvérsias sobre a intenção ou não do governo japonês em usar esta reforma legal para atrair nikkeis estrangeiros como mão-de-obra dos setores automobilístico e de eletroeletrônicos, entre outros, não há margem para dúvidas de que isso desencadeou uma onda migratória de sul-americanos – especialmente de brasileiros – para o Japão. E este fenômeno – assim como cada pessoa que aderiu a este movimento migratório – passou a ser denominado de “dekassegui” (e mais tarde, grafado como “decasségui” nos dicionários de língua portuguesa).
Como se sabe, a palavra “dekassegui” signi�ca literalmente “sair para ganhar dinheiro” e costuma ser usada para denominar os trabalhadores temporários e sazonais, seja no âmbito doméstico ou transnacional. Além disso, este termo carrega uma conotação negativa, associando o indivíduo e/ou grupo a uma imagem de pobreza e falta de compromisso com o local onde foi trabalhar – no caso de migrante transnacional, o seu país de origem.
Decididamente, este não é o caso dos migrantes da rota Brasil-Japão.
Hoje, seis em cada dez brasileiros no Japão têm visto permanente. Muitos deles já compraram casa no Japão. Um número signi�cativo de brasileiros passou da posição de empregado para empregador de mão-de-obra, e outros tantos já exercem pro�ssões que exigem quali�cação. Empresas, lojas, serviços, escolas, organizações não-governamentais e veículos de comunicação ou administrados por brasileiros �oresceram nas mais diversas regiões do Japão.
A crise �nanceira global de 2008, seguida de uma demissão em massa dos brasileiros, poderá ter provocado o desmantelamento da comunidade brasileira no Japão. Não foi o que aconteceu. A maioria dos brasileiros escolheu �car. O terremoto, tsunami e pânico nuclear de Tohoku de 2011 também poderiam ter provocado um retorno em massa dos brasileiros.
Mais uma vez, a maioria dos brasileiros decidiu �car. Ficar no Japão. Ser membro ativo desta sociedade. Contribuir para o desenvolvimento deste país. Foi esta a decisão consciente dos 175.410 brasileiros registrados pelo Ministério da Justiça (conforme as estatísticas de dezembro de 2014), sem contar outros tantos que não aparecem nas estatísticas por terem cidadania japonesa.
Os brasileiros que �caram no Japão contribuem não apenas trabalhando, consumindo e pagando impostos. Querem fazer parte da corrente do がんばろう日本! “Gambaroo Nippon!”. Prova disso é que, diante da tragédia de março de 2011, os brasileiros não �caram de braços cruzados.
Texto da “Declaração de Yokohama”, emitida pelo Conselho de Cidadãos de Tóquio, em 2015.
Departamento Consulare de Brasileiros no Exterior
BRASIL-JAPÃO: 110 ANOS DE VÍNCULOS HUMANOS – OS BRASILEIROS NO JAPÃO
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TraduçãoTakayoshi Harada
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