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INTERAÇÃO ONLINE ENTRE ALUNOS DAS PRIMEIRAS E SEGUNDAS SÉRIES DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA MATER CHRISTI MOSSORÓ/RN 12 Matheus Vinícius Gonçalves de Góis 3 Maria Cristina Rocha Barreto 4 RESUMO O estudo da amizade, como uma relação social, variou no curso da história de inúmeras maneiras, modificando-se de acordo com a cultura em que uma determinada geração estava inserida. Nos tempos contemporâneos, a geração Y utiliza uma ferramenta fundamental para estabelecer seus laços de amizade e de socialização. O Facebook, Instagram e WhatsApp são, respectivamente, as plataformas mais usadas por esta geração para conversar sobre coisas de seu universo, como por exemplo, o cotidiano escolar, baladas e “azarações”, encontros com amigos, assuntos triviais, fofocas e até alguns problemas sérios que lhes dizem particularmente respeito. Assim, nos propomos por discutir a amizade na contemporaneidade, com enfoque na amizade na era da informática, a amizade virtual. O presente trabalho corresponde a parte prática das abordagens iniciais do projeto de pesquisa QUEM SÃO MEUS AMIGOS VIRTUAIS? PRÁTICAS COTIDIANAS DE AMIZADE NA INTERNET DE ALUNOS DE UMA ESCOLA PARTICULAR DO ENSINO MÉDIO EM MOSSORÓ/RN, coordenado pela professora Maria Cristina Rocha Barreto do departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN. Inicialmente, foram aplicados 89 questionários semiestruturados, com 22 perguntas (8 delas subjetivas), como forma de primeiro contato com os alunos. Fazendo um total de 8 turmas, sendo 4 turmas da 1ª série e 4 da 2ª série do Ensino Médio. Nosso universo pesquisado contou com um total de 170 adolescentes, sendo 64 meninos (38%) e 106 meninas (62%) entre 14 e 17 anos. Após as análises destes questionários, foram realizadas entrevistas informais com um roteiro prévio com adolescentes escolhidos em cada turma previamente pesquisada através do questionário. Com base nisto, ensejamos nossa pesquisa na tentativa de compreender como tais sujeitos desenvolvem relações sociais de amizade, mais precisamente, como estabelecem suas relações virtuais e como a internet interfere no ser de tais indivíduos. PALAVRAS-CHAVE: AMIZADE; JUVENTUDE; INTERNET; REDES SOCIAIS. 1 Trabalho aprovado para apresentação na XIV ABANNE Reunião de Antropólogos do Norte e Nordeste, nos dias 19 a 22 de julho de 2015, Maceió/Alagoas. 2 Este trabalho conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a quem somos gratos pela realização da pesquisa. Cabe aqui também o agradecimento a colaboração do professor de filosofia Francisco Alexsandro da Silva. 3 Aluno de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) e Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UERN). 4 Professora do Departamento de Ciências Sociais e Política da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Humanas (PPGCISH/UERN).

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INTERAÇÃO ONLINE ENTRE ALUNOS DAS PRIMEIRAS E SEGUNDAS

SÉRIES DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA MATER CHRISTI –

MOSSORÓ/RN12

Matheus Vinícius Gonçalves de Góis3

Maria Cristina Rocha Barreto4

RESUMO

O estudo da amizade, como uma relação social, variou no curso da história de inúmeras

maneiras, modificando-se de acordo com a cultura em que uma determinada geração

estava inserida. Nos tempos contemporâneos, a geração Y utiliza uma ferramenta

fundamental para estabelecer seus laços de amizade e de socialização. O Facebook,

Instagram e WhatsApp são, respectivamente, as plataformas mais usadas por esta

geração para conversar sobre coisas de seu universo, como por exemplo, o cotidiano

escolar, baladas e “azarações”, encontros com amigos, assuntos triviais, fofocas e até

alguns problemas sérios que lhes dizem particularmente respeito. Assim, nos propomos

por discutir a amizade na contemporaneidade, com enfoque na amizade na era da

informática, a amizade virtual. O presente trabalho corresponde a parte prática das

abordagens iniciais do projeto de pesquisa QUEM SÃO MEUS AMIGOS VIRTUAIS?

PRÁTICAS COTIDIANAS DE AMIZADE NA INTERNET DE ALUNOS DE UMA

ESCOLA PARTICULAR DO ENSINO MÉDIO EM MOSSORÓ/RN, coordenado pela

professora Maria Cristina Rocha Barreto do departamento de Ciências Sociais da

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Inicialmente, foram

aplicados 89 questionários semiestruturados, com 22 perguntas (8 delas subjetivas),

como forma de primeiro contato com os alunos. Fazendo um total de 8 turmas, sendo 4

turmas da 1ª série e 4 da 2ª série do Ensino Médio. Nosso universo pesquisado contou

com um total de 170 adolescentes, sendo 64 meninos (38%) e 106 meninas (62%) entre

14 e 17 anos. Após as análises destes questionários, foram realizadas entrevistas

informais com um roteiro prévio com adolescentes escolhidos em cada turma

previamente pesquisada através do questionário. Com base nisto, ensejamos nossa

pesquisa na tentativa de compreender como tais sujeitos desenvolvem relações sociais

de amizade, mais precisamente, como estabelecem suas relações virtuais e como a

internet interfere no ser de tais indivíduos.

PALAVRAS-CHAVE: AMIZADE; JUVENTUDE; INTERNET; REDES SOCIAIS.

1 Trabalho aprovado para apresentação na XIV ABANNE – Reunião de Antropólogos do Norte e

Nordeste, nos dias 19 a 22 de julho de 2015, Maceió/Alagoas. 2 Este trabalho conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), a quem somos gratos pela realização da pesquisa. Cabe aqui também o agradecimento a

colaboração do professor de filosofia Francisco Alexsandro da Silva. 3 Aluno de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) e Bolsista do

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UERN). 4 Professora do Departamento de Ciências Sociais e Política da Universidade do Estado do Rio Grande do

Norte e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Humanas (PPGCISH/UERN).

INTRODUÇÃO

O advento e a expansão da internet no Brasil, a partir dos anos 1990,

possibilitaram maior facilidade na obtenção e uso de vários tipos de tecnologias e

dispositivos eletrônicos por inúmeras pessoas, principalmente entre a juventude que

sente a necessidade de estar conectada. Este trabalho é o resultado do projeto de

pesquisa “Quem são meus amigos virtuais? Práticas cotidianas de amizade na internet

de alunos de uma escola particular do ensino médio em Mossoró/RN” e tem o objetivo

de analisar comportamentos e práticas interativas desses jovens na internet para

compreender como as relações de amizades se constroem no mundo online entre

adolescentes (de 14 a 17 anos) nas mais diversas plataformas virtuais e em que medida a

amizade virtual pode passar por um controle de segurança por parte da família, haja

vista que a pesquisa tem como público-alvo adolescentes.

O conceito simples que encontramos nos dicionários comuns da língua

portuguesa nos apresenta as seguintes palavras: afeição recíproca entre dois entes; boas

relações. Em termos filosóficos, existe a partir de Aristóteles, a seguinte ideia de

amizade:

[…] a amizade é uma virtude ou está estreitamente unida à

virtude: de qualquer forma, é o que há de mais necessário à

vida, já que os bens que a vida oferece, como riqueza, poder,

etc., não podem ser conservados nem usados sem os amigos

(VIII, 1, 1.155 a 1). (ABBAGNANO, 2000, p. 37).

Inicialmente, percorremos uma trajetória histórica para entendermos melhor

como o homem construiu e ainda constrói as mais diversas relações interpessoais. Desta

feita, buscamos entender o significado de philia para a Grécia Antiga, a noção de

amicitia para os romanos, e assim fazer um recorte teórico intercalado aos novos

conceitos de amizade a partir do “boom tecnológico” pós anos 1970; do mesmo modo

que buscamos ainda analisar como a sociologia atual discute essas relações

contemporânea.

I. A INTERNET E AS NOVAS FORMAS DE INTERAÇÕES SOCIAIS ENTRE

OS JOVENS

A fala e a comunicação permitem a relação do ser humano com o mundo que o

rodeia como uma ponte que o liga à realidade. A linguagem permite essa experiência de

forma compartilhável e coletiva. Podemos dizer que a comunicação é imprescindível à

vida social e perfaz a construção da identidade pessoal. O estudo das diversas

linguagens e forma de expressão, bem como os meios tecnológicos com os quais se

narram as experiências cotidianas ganharam um novo enfoque com o "boom" da

linguagem midiática das redes sociais conectadas a Internet. Entender como a

tecnologia constrói signos e significantes e como ela atua nas mais variadas formas de

comunicação e relação social tem se apresentado como um desafio instigante para a

sociologia contemporânea.

Vivemos em um tempo que tantas outras formas de comunicação tais como

fotografia, cinema e vídeo, jornais e textos, e músicas se disseminam num fluxo

ininterrupto aprisionado em um mesmo espaço, publicado, curtido, compartilhado,

comentado, criticado através de cabos de fibra óptica e armazenados "em nuvens", a

saber, o espaço virtual.

Podemos dizer que a mudança mais emblemática para o mundo nos últimos 30

anos, foi sem dúvida o advento do uso do computador pessoal e a internet. Este período

compreende os anos em que as pessoas, principalmente nos países desenvolvidos,

passaram a usar as mais variadas formas de parafernálias tecnológicas no seu dia a dia.

Esta ascensão transformou singularmente a linguagem e a comunicação. Entendendo

que o mundo desdobra sua história da forma como o homem produz sua existência

material, e que essa produção afeta diretamente a construção de suas subjetividades,

dizemos que não foi diferente a relação homem/máquina/internet para as novas formas

de interações sociais.

O espírito volátil da juventude, dado as mudanças e tendências do momento

sempre foi uma marca dos processos sociais de interação dos mais novos. Assim, é

compreensível que o crescimento da Internet afetou muito mais os adolescentes e jovens

do que outras faixas-etárias da sociedade.

Um dos objetivos deste trabalho é procurar questionar algumas modificações

sofridas pela relação de amizade em um momento histórico em que as relações estão

muito intermediadas pelos meios de comunicação e, em particular, pela internet. A

amizade sempre foi considerada, em nossa sociedade, como uma relação privada e

pessoal. Muitas vezes é também encarada como oposta a uma relação pública e de

grupo. Nessa relação personalista, o indivíduo define sua relação com o outro tendo

como base a experiência que tem com ele. Esta é a complicação de se entender a

amizade nesses tempos em que os indivíduos não mantêm contato diário, constante e

físico com seus amigos, já que muitos desses contatos são realizados via computador.

Foi com o intuito de investigar como essa geração, denominada geração digital,

entende as relações de amizade, a partir do momento em que boa parte das interações no

dia a dia são realizadas com o auxílio de computadores e smartphones. O universo de

pesquisa escolhido foram os alunos das 1ªs. e 2ªs. séries do ensino médio da Mater

Christi, escola da rede privada da cidade de Mossoró/RN.

Participantes

Para ter acesso aos alunos, contamos com a colaboração da coordenadoria peda-

gógica do Colégio Mater Christi (Mossoró/RN), bem como dos alunos das 1ªs e 2ªs sé-

ries do Ensino Médio (2014). Foram contatados, então, os alunos de 8 turmas, sendo 4

turmas de 1ª Série e 4 turmas de segunda série, num total de 170 alunos, com idades

entre 14 a 17 anos, de ambos os sexos, conforme especifica o Quadro a seguir:

Quadro 1:

Perfil dos participantes desta pesquisa

Turma Sexo Quantidade TOTAL

1ª Série “A” Masculino 12

28 Feminino 16

1ª Série “B” Masculino 9

18 Feminino 9

1ª Série “C” Masculino 5

17 Feminino 12

1ª Série “ÓRION” Masculino 6

18 Feminino 12

2ª Série “A” Masculino 14

27 Feminino 13

2ª Série “B” Masculino 7

19 Feminino 12

2 Série “C” Masculino 4

15 Feminino 11

2ª Série “ÓRION” Masculino 7

28 Feminino 21

8 TURMAS Masculino 64 (37,65%)

170 Feminino 106 (62,35%)

FONTE: Pesquisa realizada pelo autor.

Instrumento e procedimento

O primeiro contato com os sujeitos da pesquisa foi realizado através de um sur-

vey abarcado em um questionário com 22 perguntas (sendo 8 destas de caráter subjeti-

vo), que serviu para um embasamento sobre assuntos e práticas pertinentes de sociabili-

dade virtual, além de um levantamento quantitativo que buscou saber quais os dispositi-

vos eletrônicos são os mais usados como forma de comunicação e ainda quais as princi-

pais plataformas para esta intercomunicação.

Em um segundo momento foi feita uma interação dialogada com as turmas de

cada série, onde durante 45 minutou foi possível haver um instante de conversa aberta

seguindo um roteiro de questionamentos sobre o conceito de amizade, a priori, amizade

física, contatual; diferenciação de gênero, etc.; para assim termos uma base associada

aos questionários anteriores, a saber, do que os alunos entendem de tais ideias para pos-

teriormente dialogarmos sobre amizade virtual. Em vista disso, o terceiro momento foi

feito com alunos escolhidos fundamentados nas duas etapas anteriores, para uma especi-

ficação das suas interações online tal como as relações na rede.

Todas as três etapas foram feitas no próprio Colégio Mater Christi, no qual as

duas primeiras etapas em conjunto foram realizadas na sala de aula, e a terceira etapa

mais peculiar foi feita em salas individualizadas para estudo em grupo na biblioteca da

escola. O questionário foi feito de forma impressa e entregues, respondidos e recolhidos

no mesmo dia. As entrevistas por sua vez foram gravadas na íntegra e, posteriormente,

transcritas. Interpretamos os dados coletados e configuramos através de resumo verbal e

numérico, construímos gráficos e tabelas que facilitaram a descrição característica da

pesquisa. Um método conveniente para análise destes dados dependerá de suas

características, que por sua vez podem aparecer de forma quantitativa e/ou qualitativa.

Nesta perspectiva, esses dados foram coletados de ambas as formas, na qual podemos

ver que a diferenciação para análise dos mesmos, observando a diferença de cada

procedimento metodológico, como nos apresenta Alves-Mazzotti e Gewandsznajder

(1999): “ao contrário do que ocorre com as pesquisas quantitativas, as investigações

qualitativas, por sua diversidade e flexibilidade, não admitem regras precisas,

aplicáveis a uma ampla gama de casos. Além disso, as pesquisas qualitativas diferem

bastante quanto ao grau de estruturação prévia...”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apresentaremos os resultados e a discussão de acordo com a linearidade dos

momentos da pesquisa, sendo esses: questionário – diálogo com as turmas – entrevistas.

Para o entendimento mais adequado sobre os relacionamentos virtuais dos pesquisados,

foi necessário saber quais dispositivos de acesso na internet, tal como sua permanência

online. E assim foi constatado os dados que seguem nos gráficos abaixo:

Gráfico 1

Dispositivos de acesso à Internet

FONTE: Pesquisa in loco (abril de 2014)

Todos os dispositivos

2 dispositivo

Tablet

Computador (Notebook e PC)

Celular

0 10

20 30

40 50

14

35

0

1

14

33

49

1

4

23

FEMININO MASCULINO

Gráfico 2

Tempo de permanência online

FONTE: Pesquisa in loco (abril de 2014)

O dispositivo mais utilizado para comunicação é, majoritariamente, o celular.

Sua utilização é muito maior do que os outros dispositivos quando comparados

isoladamente. É evidente que o uso de dois dispositivos é predominante entre os jovens,

porém o uso do tablete em particular é desprezível quando relacionado a todos os outros

aparelhos eletrônicos. O uso de todos os equipamentos simultâneos é, de fato,

apreciável pelos alunos. Isso acontece porque as suas conectividades se dão o tempo

todo pela facilidade com que os novos aparelhos podem acessar a Internet, por rede sem

fio (wi-fi), tanto em casa quanto na escola. Como bem observa Barreto, quando diz:

O fácil acesso e a flexibilidade do uso do celular podem ter

intensificado as trocas entre os adolescentes, principalmente

devido ao elemento lúdico advindo da troca de mensagens com

efeitos gráficos, figuras, imagens e sons e na própria utilização

do dispositivo. É interessante notar que a troca de e-mails

sequer é mencionada como forma de compartilhar informações

ou mesmo de links, fotografias, etc. (BARRETO, 2014, p. 6).

No momento em que foram questionados sobre as suas disposições online

medidas em tempo, a maioria estão conectados mais de duas horas por dia, alcançando

até o dia todo conectados. Os meninos, por sua vez, se conectam mais de 4 horas por

dia, mas não durante o tempo todo transcorrido no dia. As meninas parecem estar mais

conectadas do que os meninos. Mesmo observando que o público pesquisado é

Tempo todo

Mais de 4h

De 2 a 4h

Menos de 2h

0 5 10 15 20

25 30

35

17

26

17

5

31

29

26

13

FEMININO MASCULINO

composto de 37,65% de meninos e 62,35% de meninas, e levando em consideração que

de certa forma todos os resultados obtidos constarão a predominância das mulheres,

ainda assim a porcentagem de meninas conectadas durante o dia todo ultrapassa a dos

meninos. Sendo 29,24% delas, contra 26,50% deles. Quando o limite de tempo atinge

aproximadamente 4 horas por dia, a porcentagem masculina sobrepuja em muito a

porcentagem feminina, sendo os resultados obtidos, respectivamente 45,30% e 24,50%.

Essas trocas se intensificam quando usadas plataformas de comunicação

cibernética, tendo como forma de intercomunicação mensagens e fotos instantâneas, e

as plataformas mais recorrentes são o Facebook, o WhatsApp e o Instagram (Gráfico 3).

Gráfico 3

Plataformas de acesso para comunicação

FONTE: Pesquisa in loco (abril de 2014)

Sabe-se que a era digital se constitui como uma era de flexibilidade e inovação

constante que se dá em um ritmo frenético. As novidades virtuais tornam-se obsoletas

em menos tempo do que se espera. Mesmo existindo inúmeras plataformas de

comunicação virtual, a cada dia surgem outras novas formas, outros novos aplicativos

que algumas vezes tornam obsoletas ferramentas utilizadas pela geração anterior.

Exemplo disso foi a falência do Orkut ante a popularização do Facebook. A juventude

sempre busca o novo. Tanto que, no decorrer da pesquisa, outro aplicativo já ganhava

espaço nas interações sociais dos alunos, a saber o Snapchat.

Foi observado que as atividades mais realizadas pelos adolescentes na Internet

Outros

Tumblr

Snapchat

Skype

Twitter

Instagram

WhatsApp

Facebook

0 20

40 60

80 100

8

3

5

4

9

48

37

53

7

11

25

2

14

92

77

80

FEMININO MASCULINO

são aquelas que se dão pela interação entre eles mesmos. Sendo assim o acesso as redes

sociais e a utilização do bate-papo são as principais atividades que esses jovens

realizam, como mostra o Gráfico 4:

Gráfico 4

Principais atividades desenvolvidas na Internet

FONTE: Pesquisa in loco (abril de 2014)

Diante das discussões trabalhadas nos diálogos em sala de aula e nas entrevistas,

o roteiro de nossas conversas foi montado a partir das perguntas a seguir:

Quadro 2

Roteiro de perguntas para entrevista

O que é amizade para você? O que você procura em um amigo?

Quem são seus melhores amigos? São amigos da Internet ou pessoais? O que levou

vocês a se tornarem amigos?

Você acha que o gênero pode influenciar nas relações de amizade? Seus amigos são

predominantemente mais homens ou mulheres? Existe dificuldades na amizade entre

gêneros diferentes?

O que é preciso para manter uma amizade duradoura? Você acha que a amizade

baseada na Internet pode durar?

Existe diferença entre o seu “eu” pessoal e virtual? Por quê?

Outros

Jogos

Vê vídeos

Download de músicas e filmes

Estudo/pesquisa

Bate-papo

Acesso as redes sociais

0 20

40 60

80 100

6

7

26

34

24

25

42

3

3

33

37

33

59

86

FEMININO MASCULINO

O diálogo com os alunos foi bastante proveitoso. Podemos extrair observações

interessantes levantadas por eles no processo de socialização real e virtual. Quando

perguntado sobre o significado de amizade, a maioria concebeu a ideia de ser amigo

com adjetivos positivos como confiança, companheirismo e lealdade. Leonardo (16

anos) conceituou a amizade como sendo a relação em que o amigo pode ser

compreendido como “uma pessoa que não é da família, mas podemos confiar”. Por sua

vez, Pedro (16 anos) complementa dizendo: “é estar ao lado de uma pessoa e sentir-se

agradável, sentir bem com isso”. Uma observação interessante sobre a fala deste último

aluno diz respeito ao lugar de construção dos laços afetivos. Pois o mesmo não se sentia

confortável em sua antiga escola para abrir-se em relação aos outros alunos. Ele diz:

“Quando eu não estudava no Mater Christi ela [a noção de amizade] não significava

nada pra mim, porque eu não tinha amigo. Mas não porque ninguém queria fazer ami-

zade comigo, é porque eu não queria fazer amizade mesmo com ninguém, eu era só, na

minha. Mas depois que eu entrei aqui eu vi como as pessoas são legais e como eu que-

ria passar mais tempo perto delas. E eu passei a valorizar as amizades daí então, as-

sim... significou muito pra mim”. A pergunta principal que serviu de mote para

comparação entre amizade física e amizade virtual nos rendeu os dados do gráfico

abaixo:

Gráfico 5

Existe diferença entre a amizade física e a amizade virtual?

FONTE: Pesquisa in loco (abril de 2014)

SIM

NÃO

0 10 20 30 40 50

60 70

43

18

68

25

FEMININO MASCULINO

Desta pergunta nos chamou atenção o quanto os adolescentes se sentem mais

seguros ou pelo menos mais desinibidos em compartilhar momentos particulares de suas

vidas pessoais aos amigos virtuais. Segundo alguns, esta abertura é construída pelo fato

de não se ver face a face o quanto da aprovação ou reprovação do amigo diante do que

se fala. Assim, Navarro (15 anos) diz que “por você não está vendo a pessoa, você

acaba falando as coisas que você pensa”. Vitória (15 anos) por outro lado utiliza as

ferramentas da Internet para dialogar seus momentos de dificuldades com os próprios

amigos reais “porque pessoalmente é aquilo, você vai contar uma situação difícil e co-

meça a chorar e não consegue completar o que você estava dizendo [...] e muitas vezes

na internet eu to chorando e falando, aí do nada eu paro de chorar porque eu já desa-

bafei tudo que eu tinha [...] na internet você fala tudo de uma vez, aí não olha mais a

conversa e tipo, passou”.

Para uma aproximação inicial tanto na Internet quanto pessoalmente, semelhante

ao pensamento aristotélico, os jovens acreditam ter uma empatia maior por aqueles que

se lhes mostram semelhantes. Como por exemplo, gosto musical, atividades esportivas,

princípios e valores, crenças, bem como estudos, gostos por séries de TV, filmes e

livros. Leonardo (16 anos) acredita que a influência do meio interfere no processo de

construção das relações amigáveis dizendo “uma coisa que a gente faça muitas vezes,

tipo vir para a aula. Sou amigo dela porque vim estudar no Mater Christi”. Alguns

afirmam ainda que as diferenças podem e unem desconhecidos, além do que aquilo que

era desconhecido para um passa a se tornar um universo dos dois, uma vez que “a

amizade surgia como uma relação capaz de triunfar sobre todas as diferenças sociais”

(REZENDE, 2002, p. 35). Tais adjetivos e práticas relacionadas a amizade presencial,

os alunos remetem da mesma maneira para as suas amizades virtuais, explorando

semelhanças e gostos em comum. Dessa forma, Barreto (2014) afirma: “é possível uma

amizade entre duas pessoas que não têm entre si outro tipo de vínculo a não ser ela

mesma”.

Os jovens afirmam para existir uma relação de amizade duradoura tem que haver

um certo nível de companheirismo, sinceridade e reciprocidade. Mesmo assim Vitória

(15 anos) afirma que “o dia a dia contribui muito. Eu tenho amizades que eram muito

presentes em minha vida e que com o passar do tempo foi se afastando, a convivência

mesmo. Tem amizades que são muito fortes, a gente nunca esquece de certa forma, mas

a convivência contribui muito”. De forma análoga pode-se remeter a amizade virtual,

uma vez que é necessário que haja um contato contínuo entre os seres para a duração

deste relacionamento, como diz Félix (15 anos): “as amizades virtuais que eu tenho

quase todo dia a gente se fala, então o que mantém é o contato direto com a internet e

as redes sociais que mantém você àquela pessoa todos os dias, aí vai durando até...” Na

análise quantitativa, mais da metade dos alunos acreditam que a amizade, tendo em

vista o contato apenas pela Internet, pode durar; como podemos ver no gráfico a seguir:

Gráfico 6

Amizade na internet pode durar?

FONTE: Pesquisa in loco (abril de 2014)

Os participantes, em sua grande maioria, afirmam que não existe grande

diferença entre o seu eu mesmo (self) na internet e na vida pessoal, além de questões de

sentir-se mais à vontade. Tal desinibição leva a um contato intenso de trocas de

informações que pode ser ligado ao fato de não está vendo a pessoa face a face, como

justifica Navarro (15 anos): “por você não está vendo a pessoa você acaba falando as

coisas que você pensa”. Apesar da distância e do fato de não se conhecerem

pessoalmente, os estudantes denominam ser uma relação de amizade virtual pelas

circunstâncias que retém o contato, pois “as amizades não dependem de algo físico, já

que consistem na consideração e afeição de um indivíduo pelo outro, e se esses

sentimentos duram, a amizade também dura” (BARRETO, 2014, p. 12). Apesar desta

troca de dados pessoais frenéticos, os jovens são conscientes dos riscos que podem – e

têm – nas redes cibernética. Quando perguntado em conclusão sobre o que acham da

SIM

NÃO

0 20

40 60

80 100

53

8

83

12

FEMININO MASCULINO

amizade virtual, Pedro (15 anos) certifica-se: “só ter cuidado, porque muitas vezes você

pode abrir sua vida para muitas pessoas ou pelo menos conversar por mais simples que

seja o assunto com pessoas que você não conhece e que podem te passar segurança,

mas na verdade são maníacos e tal. Nunca aconteceu comigo, mas é um cuidado que eu

sempre tomo”. De certa forma, “cada um deveria falar de si mesmo em função do que o

outro dizia sobre si, revelar emoções em função do comportamento do outro, criando

assim um mesmo nível de intimidade” (REZENDE, 2002, p.41). Isto faz então como a

relação de sociabilidade virtual tem um paradoxo sobre questões de confiança,

intimidade e até mesmo revelação de si próprio.

CONCLUSÃO

Comprovamos então que uma relação de amizade virtual pode criar um vínculo

afetivo entre pessoas desconhecidas no qual são ligadas apenas por meio das redes

digitais de telecomunicação interativa, principalmente a internet, mas também composta

pela telefonia celular (NICOLACI-DA-COSTA, 2005). Porém, para que haja um

contato inicial é necessário que tenham afinidades, semelhanças entre os gostos, os

pensamentos e as ações dos indivíduos envolvidos nessa relação. Dornelles percebeu

algo semelhante em sua pesquisa/dissertação Planeta Terra, Cidade Porto Alegre: uma

etnografia entre internautas, quando diz que “a sociabilidade é cultivada entre ‘iguais’.

Entre pessoas que compartilham um mínimo de características semelhantes. O perfil

precisa ser parecido para haver conversa” (DORNELLES, 2003, p. 102).

Percebemos que as relações estabelecidas pelos mais diversos dispositivos

eletrônicos não limitam a construção da sociabilidade dos jovens do Colégio Mater

Christi. Mesmo sabendo que essas ferramentas virtuais permitem uma interação

diferente entre as mais diversas pessoas em tempo real, os alunos não compreendem que

a amizade possa ser exercida apenas de uma única maneira, ou seja, somente virtual, ou

somente real; eles percebem que vivem em uma sociedade conectada e dinâmica, e que

as redes virtuais fortificam os laços estabelecidos pelas redes sociais físicas. Mas que,

embora a Internet possa propiciar uma amizade tangível, eles acreditam que se faz

necessário o convívio, seja na escola, na igreja, na família, ou demais instituições

sociais e grupos.

Para eles, é necessário que haja um convívio constante para que a relação

baseada na internet dure o máximo possível, da mesma forma que para isso acontecer

deve-se manter as suas semelhanças, caso contrário a frequência de trocas de

informações será cada vez mais ínfimo. Podendo assim cortar os laços afetivos que

envolvem os amigos. Havendo esse contato direto, levamos em consideração o que

Dornelles interpreta de Pierre Lévyn e Alfred Schutz, quando diz:

Não esqueçamos que, segundo Pierre Lévy, a interação no

ciberespaço é "palpável". Nesse mundo comum é possível

perceber o Outro. Além de compartilharem um mesmo espaço

(ciberespaço), os frequentadores de chat compartilham da

mesma evolução temporal. O que, para Alfred Schutz, significa

"envelhecer juntos" somente atingido pela concretização do Nós

na relação entre um Eu e um Outro. É o que se refere como

sendo um "presente vivido". (DORNELLES, 2003, p. 199)

A Internet, por sua vez, se faz como o apetrecho fundamental para demonstrar e

expressar seus sentimentos por seus amigos, bem como seus sentimentos íntimos e

pessoais. Além do mais serve para conservação dos laços já existentes, da mesma

maneira que desempenha a função para manter o contato sobre assuntos cotidianos,

marcar encontros e saídas, e formar grupos de debates para estudo. A utilização da

internet, pode ser ainda um meio que estreita as relações de vivências off-line. Embora

se pense que a sociabilidade virtual substituía a vivência off-line por uma vivência

online, nossa pesquisa percebeu muito mais como um intercâmbio entre os dois modos

de interação na chamada geração Y. Para os jovens entrevistados seus comportamentos

estreitam as dimensões online e off-line de suas vidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABAGGANO, Nichola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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