morfologia vegetal das fanerógamas.pdf
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PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Si lva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad
GOVERNADOR DO ESTADO Well ington Dias
REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Luiz de Sousa Santos Júnior
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PIAUÍ Antonio José Medeiros
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC Carlos Eduardo Bielschowsky
DIRETOR DE POLITICAS PUBLICAS PARA EaD Hélio Chaves
COORDENADORIA GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Celso Costa
COORDENADOR GERAL DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA A DISTÂNCIA DA UFPI Gildásio Guedes Fernandes SUPERITENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NO ESTADO Eliane Mendonça
CENTRO DE CIENCIAS DA NATUREZA - DIRETOR
Helder Nunes da Cunha
COORDENADOR DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NA MODALIADE DE EAD Maria da Conceição Prado de Oliveira
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA- CHEFE DO DEPARTAMENTO Romildo Ribeiro Soares
DIAGRAMAÇÃO Samuel Falcão Silva REVISÃO Beatriz Gama Rodrigues
Ficha catalográfica Palavras chaves: raiz, caule, folha, flor, iflorescencia e frutos
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As angiospermas compreendem a divisão Anthophyta,
que inclui cerca de 235.000 espécies. Nas suas características
vegetativas, as angiospermas são enormemente diversificadas.
Seus representantes variam em tamanho, desde espécies de
Eucalyptus L’Her (Myrtaceae) com mais de 100m de altura e
troncos de quase 20m de circunferência, até representantes de
Lemna L. (Lemnaceae) aquáticas com menos de 1mm de
comprimento. Alguns dos representantes de angiospermas são
lianas, outros epífitas; alguns estão adaptados para crescer em
regiões áridas, outros crescem em regiões extremamente frias.
As angiospermas são um grupo de plantas com
características especiais como a presença de flores, frutos e
sementes e com um ciclo de vida que as distingue de todas as
outras plantas.
Este livro é destinado aos estudantes do curso de
Graduação em Ciências Biológicas, disciplina Morfologia
Vegetal das Fanerógamas, que participam do programa de
Educação a Distância da Universidade Federal do Piauí.
Neste livro serão apresentadas as características da
morfologia externa dos órgãos vegetativos e reprodutivos das
angiospermas. Está composto de cinco unidades, contendo
itens e subitens, que discorrem sobre as características
morfológicas das angiospermas, bem como as síndromes de
polinização das flores e dispersão dos frutos e sementes.
As Unidades 1, 2, 3 contemplam a morfologia dos
órgãos vegetativos (raiz, caule e folha), ressaltando
respectivamente: morfologia e conceitos dos tipos de raízes
encontrados nas angiospermas, suas adaptações e listando
alguns exemplos que ressaltam sua importância como órgão de
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reserva; morfologia e conceito dos tipos de caules, adaptações,
formas de vida de cada tipo; para as folhas serão contempladas
as formas encontradas, variações morfológicas de ápice, base e
margem, além de diferentes colorações.
Nas Unidades 4 e 5, abordamos a morfologia dos órgãos
reprodutivos (flores e frutos), contemplando: morfologia floral,
tipos de inflorescências e as adaptações das flores em relação
aos seus polinizadores (síndromes de polinização); os diferentes
tipos de frutos e a forma de dispersão dos frutos e sementes
(síndrome de dispersão).
O objetivo deste livro é reunir e apresentar de forma
didática, e em uma única fonte, as estruturas vegetativas e
reprodutivas das angiospermas, como também as terminologias
utilizadas. Espera-se ao final do curso que os alunos possam
reconhecer e identificar com maior facilidade as variações
encontradas nesse vasto universo morfológico das plantas.
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UNIDADE 1. MORFOLOGIA DA RAIZ
1.1 Introdução ................................................................................ 10
1.2 Características morfológicas e fisiológicas da raiz ................... 12
1.3. Tipos fundamentais de sistemas radiculares .......................... 12
1.4. Associações encontradas em raízes ....................................... 19
1.5 Atividades ................................................................................. 20
UNIDADE 2. MORFOLOGIA DO CAULE
2.1. Introdução ............................................................................... 23
2.2. Características morfológicas e fisiológicas do caule ............... 24
2.3. Classificação do caule............................................................. 25
2.4. Forma de vida das plantas vasculares .................................... 36
2.5. Atividades ................................................................................ 38
UNIDADE 3. MORFOLOGIA DA FOLHA
3.1. Introdução ............................................................................... 41
3.2. Classificação das folhas .......................................................... 45
3.3. Modificações estruturais da folha ............................................ 65
3.4. Atividades ................................................................................ 67
UNIDADE 4. MORFOLOGIA FLORAL, INFLORESCÊNCIAS E
SÍNDROME DE POLINIZAÇÃO
4.1. Introdução ............................................................................... 71
4.2. Classificação da flor quanto à presença dos verticilos florais . 73
4.3. Cálice ...................................................................................... 74
4.4. Corola ...................................................................................... 76
4.5. Androceu ................................................................................. 86
4.6. Gineceu ................................................................................... 97
4.7. Inflorescências ........................................................................ 105
4.8. Síndrome de polinização ......................................................... 121
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4.9 Atividades .........................................................134
UNIDADE 5. MORFOLOGIA DO FRUTO E
DISPERSÃO
5.1. Introdução ........................................................137
5.2. Partes constituintes ..........................................138
5.3. Classificação dos frutos ...................................139
5.4. Semente ...........................................................150
5.5. Dispersão .........................................................151
5.6. Atividades ........................................................153
6. BIBLIOGRAFIA ..................................................154
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UNIDADE 1. MORFOLOGIA DA RAIZ
1.1 Introdução ................................................................... 10
1.2 Características morfológicas e fisiológicas da raiz ...... 12
1.3. Tipos fundamentais de sistemas radiculares ............. 12
1.4. Associações encontradas em raízes .......................... 19
1.5 Atividades ................................................................... 20
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1. MORFOLOGIA DA RAIZ
1.1 INTRODUÇÃO
Origem
As raízes têm sua origem na radícula do embrião da
semente a partir de tecidos profundos (raiz principal-endógena)
ou brotam de órgãos aéreos como ramos e folhas (raízes
adventícias). O principal fenômeno da origem da raiz no
embrião é a organização do meristema apical na extremidade
inferior do hipocótilo.
Funções
As principais funções das raízes são fixação do vegetal
ao substrato, absorção e condução de água e sais minerais,
podendo também reservar água e carboidratos.
Algumas raízes são especializadas para outras funções,
como a de fotossíntese (algumas Orchidaceae epífitas).
Regiões da raiz
As raízes apresentam as regiões abaixorrelacionadas
com suas respectivas funções:
1. COIFA - Reveste o cone vegetativo e dá proteção ao ápice
da raiz. Além de proteger o meristema apical e ajudar a raiz
a penetrar no solo, a coifa tem função de controlar as
respostas da raiz à gravidade.
2. ZONA LISA OU DE CRESCIMENTO – região da raiz sem
pelos absorventes, onde as células recém-produzidas estão
HIPOCÓTILO: Termo que designa o eixo embrionário que se estende da inserção do(s) cotilédone(s) até a radícula. Pode ramificar-se e crescer, até originar o eixo principal da planta. )
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em rápido processo de crescimento (multiplicação) em
comprimento.
3. ZONA PILÍFERA (MATURAÇÃO) – região da raiz onde os
pelos absorventes já estão se diferenciando. Promove a
absorção de água e íons orgânicos.
4. ZONA DE RAMIFICAÇÃO – apresenta células com paredes
impregnadas de suberina. Origina raízes laterais.
5. COLO OU COLETO - região de transição entre caule e raiz.
Fig. 1. Regiões da raiz (Fonte wikipédia)
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1.2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E FISIOLÓGICAS
DA RAIZ
Geralmente as raízes são subterrâneas, mas podem
também ocorrer raízes aéreas e aquáticas; não possuem corpo
segmentado em nós e entrenós; não possuem folhas ou gemas e
são geralmente aclorofiladas. Fisiologicamente, as raízes são
responsáveis pela absorção e condução da seiva bruta (água e
sais minerais); geralmente apresentam geotropismo positivo e
fototropismo negativo. Apresentam também crescimento
subterminal, devido à atividade meristemática da região de
crescimento que renova as células da coifa. Raramente as raízes
realizam fotossíntese, com exceção de algumas Orchidaceae
epífitas.
1.3. TIPOS FUNDAMENTAIS DE SISTEMAS RADICULARES
• Sistema radicular axial ou pivotante – Nesse sistema, a
radícula origina uma raiz principal extremamente
desenvolvida com raízes mais finas e secundárias. Ocorre
em eudicotiledôneas e gimnospermas.
Sistema radicular axial ou pivotante (Fonte: Autoras)
GEOTROPISMO: respostas de sistemas radiculares ou caulinares à força da gravidade da terra. FOTOTROPISMO: crescimento no qual a direção da luz é o fator determinante, como o crescimento de uma planta em direção à fonte luminosa.
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Sistema radicular fasciculado ou em cabeleira –
Nesse sistema, a raiz primária geralmente tem vida
curta. Assim, o sistema radicular da planta é formado por
raízes adventícias (que se formam a partir do caule).
Ocorre nas monocotiledôneas.
Sistema radicular fasciculado ou em cabeleira (Fonte: Autoras)
Sistema adventíceo – Pode surgir em qualquer parte do
sistema caulinar da planta e eventualmente também de folhas,
servindo às mais diversas finalidades, mas geralmente muito
frágil para dar sustentação.
Sistema adventício caulinar (Fonte: Autoras)
Sistema adventício foliar (Fonte: Autoras)
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As raízes são bastante uniformes em sua aparência e,
por isso, uma planta dificilmente pode ser identificada
utilizando-se seus caracteres morfológicos. Todavia, as raízes
são úteis para determinar se uma planta é anual ou perene, e
variações no sistema radicular podem ter uma importância
taxonômica. Classificamos as raízes quanto ao habitat em que
vivem em:
Raízes aéreas – Quando expostas ao ar;
Raízes aquáticas – De ambientes aquáticos, com duas
denominações: lodosas, quando ocorrem em macrófitas fixas
ao substrato; e natantes, quando ocorrem em macrófitas
flutuantes, ou seja, que flutuam livremente na água;
Subterrâneas – quando se fixam ao solo.
Planta aquática lodosa (Victoria amazonica (Poepp.) Sowerby -
Vitória-régia (Fonte: Autoras)
ANUAL: planta que vive por apenas uma estação de crescimento durante um ano PERENE: planta que vive por três ou mais anos e usualmente floresce e frutifica
repetidamente.
Planta aquática natante (Eichornia crassipes (Mart.) Solms. – aguapé; (Fonte: Autoras).
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Podemos encontrar alguns termos de uso comum relacionados
às raízes. Esses termos estão diretamente ligados às
adaptações ou modificações que algumas raízes apresentam,
devido às funções que exercem ou por influência do meio:
Raízes tuberosas - Contêm grande reserva de substância
nutritiva, sendo bastante utilizadas na alimentação humana
(cenoura - Daucus carota L.; batata-doce - Ipomoea batatas (L.)
Lam); beterraba - Beta vulgaris L.; nabo - Brassica rapa L.;
rabanete - Raphanus sativus L.; mandioca - Manihot esculenta
Crantz).
Raízes estranguladoras – São adventícias que se
desenvolvem “abraçando” o outro vegetal, muitas vezes
chegando a matar o suporte.
Raízes tuberosas laterais da batata-doce. (Fonte: Autoras)
Raiz tuberosa axial da cenoura (Fonte: Autoras)
Raiz estranguladora (Fonte: Autoras)
Raiz estranguladora (Fonte: Autoras)
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Raízes sugadoras ou haustórios – Especializadas em
penetrar no sistema de condução de outras plantas e absorver
seiva bruta ou elaborada. Apresentam órgão de contato
(apressórios/apresso-aperto), de onde partem as raízes
absorventes. Quando absorvem a seiva elaborada, os vegetais
que as possuem são chamados de holoparasitas (Figuras 8 e
9), como o cipó-chumbo (Cuscuta sp-Cuscutaceae). Quando
absorvem apenas a seiva bruta, os vegetais que as possuem
são denominados hemiparasitas (Figuras 9 e 10), como as
ervas-de-passarinho (Psitacanthus sp e Struthanthus sp –
Loranthaceae).
Cuscuta sp,: hábito (Fonte: Autoras)
Cuscuta sp: detalhe do ramo e flores
(Fonte: Autoras)
Psitacanthus sp: hábito (Fonte: Autoras)
Struthanthus sp: detalhe da ramificação no ramo
suporte (Fonte: Autoras)
HEMIPARASITAS: Planta que cresce sobre outra e nela penetra raízes alimentadoras e haustórios. Entretanto, ao contrário das parasitas, as raízes só retiram água e sais do xilema, não subtraindo seiva do floema.
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Raízes grampiformes – São adventícias encontradas em
vários representantes epífitas e trepadores, que ajudam na
fixação da planta a um suporte, nesses casos, a absorção de
nutrientes é feita por raízes alimentadoras.
Raízes respiratórias ou pneumatóforos – Ocorrem em
algumas plantas que se desenvolvem em locais alagadiços.
Nesses ambientes, como os mangues, o solo é geralmente
muito pobre em oxigênio. Essas raízes partem de outras
existentes no solo e crescem verticalmente, emergindo da água
(geotropismo negativo); possuem orifícios (pneumatódios) que
permitem a absorção de oxigênio atmosférico.
Raiz grampiforme de Araceae
(Fonte: Autoras)
Raiz grampiforme de Araceae
(Fonte: Autoras)
Pneumatóforo (Fonte: Autoras)
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Raízes suporte ou escora –
Adventícias que brotam do caule em
direção ao solo. Servem como escora,
dando maior suporte e estabilidade à
planta. Quando elas entram em contato
com o solo, ramificam-se e também
participam da absorção de água e
minerais. São produzidas a partir do
caule e ramos de muitas árvores.
Raízes tabulares – atingem grande desenvolvimento e
apresentam o aspecto de tábua perpendicular ao solo,
ampliando a base da planta, dando-lhe maior estabilidade.
Ocorrem geralmente em plantas de grande porte e são
vulgarmente conhecidas como sapopemas.
Raiz suporte (Fonte: Autoras)
Raiz suporte no milho (Fonte: Autoras)
Raízes tabulares (Fonte: Autoras)
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Raízes assimiladoras, alimentadoras ou velame - São
aéreas, clorofiladas e, portanto, podem realizar a fotossíntese.
Sua função primordial é a de absorção de água da atmosfera.
Presentes nas Orchidaceae.
1.4. ASSOCIAÇÕES ENCONTRADAS EM RAÍZES
As raízes podem apresentar modificações causadas por
associações com fungos ou bactérias:
Micorrizas – São associações íntimas, simbióticas, mutualístas
e benéficas entre fungos e raízes, e ocorrem na grande maioria
das plantas vasculares, tanto selvagens, como cultivadas.
Os fungos beneficiam as plantas hospedeiras pelo
aumento da habilidade da planta na absorção da água e dos
elementos essenciais, principalmente o fósforo. Os fungos
micorrízicos também fornecem proteção contra ataques por
fungos patogênicos e nematóides. Em troca desses benefícios,
o fungo recebe da planta hospedeira carboidratos e vitaminas
essenciais para seu crescimento.
Há dois tipos principais de micorrizas:
Endomicorrizas - suas hifas penetram nas células
facilitando a absorção de nutrientes minerais. Ocorrem
principalmente em espécies tropicais, em locais de solos
pobres, onde há uma maior dificuldade na absorção de
fosfatos pelas raízes.
Ectomicorrizas - as hifas formam um invólucro em torno
das células das raízes, nunca as penetrando, mas
aumentando grandemente a área de absorção, o que,
aparentemente, as torna mais resistentes às rigorosas
condições de seca e baixas temperaturas, e prolonga a
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vida das raízes. São comuns em árvores ou arbustos de
regiões temperadas.
Bactérias fixadoras de nitrogênio – As mais comuns são
Rhizobium e Bradyrhizobium, que invadem raízes de
leguminosas como ervilha (Pisum sativum L.), soja (Glycine
max (L.) Merr.) e feijões (Phaseolus spp). Nessa associação
simbiótica, as bactérias suprem a planta com uma forma de
nitrogênio que pode ser usada na síntese das proteínas, a
planta, por sua vez, supre a bactéria com uma fonte de energia
para sua atividade de fixação de nitrogênio e com moléculas
que contêm carbono, as quais são necessárias para a produção
de compostos nitrogenados.
1.5 Teórico-práticas
1. Coletar raízes de plantas herbáceas representantes de
eudicotiledôneas e monocotiledôneas, e fazer desenhos
esquemáticos identificando suas partes.
2. Coletar e ilustrar ou desenhar, através de observação direta,
exemplos das várias adaptações que as raízes apresentam,
tais como: tuberosas, aquáticas, haustório, suporte,
grampiformes, estranguladoras, respiratórias e tabulares.
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UNIDADE 2. MORFOLOGIA DO CAULE
2.1. Introdução .................................................................. 23
2.2. Características morfológicas e fisiológicas do caule .. 24
2.3. Classificação do caule ............................................... 25
2.4. Forma de vida das plantas vasculares ....................... 36
2.5. Atividades .................................................................. 38
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2. MORFOLOGIA DO CAULE
2.1. INTRODUÇÃO
O caule desenvolve-se a partir do epicótilo (região acima
dos cotilédones), embora a parte superior do eixo hipocótilo-
radicula (abaixo dos cotilédones) possa também constituí-lo.
Funções
Sustentação de folhas, flores e frutos; distribuição das seivas
bruta e elaborada; reserva de substâncias nutritivas e princípios
ativos medicinais. Promove conexão entre todos os órgãos do
vegetal. Alguns caules são os principais órgãos
fotossintetizantes como os cactos que estocam água ou
carboidratos, outros são trepadores como as lianas e alguns
promovem a proteção da planta pela presença de acúleos e
espinhos.
Regiões do caule
Nó – Região de produção e emissão de folhas e gemas
caulinares;
ACÚLEOS
Processo epidérmico
usualmente
pontiagudo, que se
destaca com relativa
facilidade. São
confundidos com
espinhos, mas
diferem destes por
não serem
vascularizados.
Ocorrem em vários
órgãos da planta
Rosa sp).
ESPINHOS
É um órgão axial ou
apendicular, duro e
pontiagudo,
constituído por um
tecido lignificado e
que, se for arrancado,
destrói os tecidos
subjacentes. O
espinho não pode ser
retirado com
facilidade porque
nasce no cerne, isto
é, na parte interna do
tronco ou dos ramos
das árvores (Citrus
sp).
Acúleo (Fonte: O. Pereira) Espinho (Fonte Autoras)
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Entrenó ou meritalo - Região que separa dois nós
consecutivos;
Gema Terminal – Situada no ápice ou ponto vegetativo,
constituída por escamas e primórdios foliares, promove
crescimento vertical da planta;
Gemas laterais (ou axilares) – Encontram-se na axila das
folhas, podendo produzir novos ramos, folhas ou flores.
2.2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E FISIOLÓGICAS
DO CAULE
Geralmente os caules são aclorofilados e aéreos, mas
podem também ocorrer caules subterrâneos e aquáticos;
possuem o corpo segmentado em nós e entrenós e portam
folhas, flores, frutos e botões vegetativos. Fisiologicamente os
Esquema representativo da divisão do
caule (Apezzato-da-Glória et al., 2006)
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caules são responsáveis pela distribuição das seivas;
geralmente apresentam fototropismo positivo e geotropismo
negativo e crescimento terminal, podendo realizar fotossíntese
ou não.
2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS CAULES
Os caules podem ser classificados de acordo com a
forma, a consistência, o desenvolvimento, a ramificação e tipos.
Quanto à forma:
• Caules cilíndricos – São aqueles que se apresentam
aproximadamente circulares em secção transversal, como os
estipes do babaçu (Orbignia phalerata Mart.) e do buriti
(Mauritia flexuosa L. f.);
• Caules cônicos - Apresentam-se em secção transversal
com contorno obtuso-poligonal, como os da mangueira
(Mangifera indica L.) e do piquizeiro (Caryocar coriaceum Witt.);
• Caules achatados – Apresentam-se achatados, como
exemplo o caule de alguns cactos como a palma-forrageira
(Opuntia ficus-indica (L.) Mill.);
• Caules angulosos - Formam ângulos em secção
transversal, encontramos em alguns cactos, como os da coroa-
de-frade (Melocactus sp) e bamburral (Hyptis suaveolens (L.)
Poit.) ;
• Caules sulcados – Formam sulcos, muitas vezes os
sulcos chegam a dividir o caule como no caneleiro (Cenostigma
spp);
• Caules bojudos ou barrigudos – Apresentam uma parte
bastante dilatada, pelo acúmulo de água ou substâncias
nutritivas, como ocorre na barriguda (Chorisia sp) e na
macaúba (Acrocomia intumescens Drude).
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Quanto à consistência:
• Caules herbáceos - Geralmente são caules finos, com
pouca lignificação e fotossintetizantes; presentes nas
ervas;
• Caules sublenhosos – São caules que apresentam a
base lignificada e são tenros nas extremidades;
presentes nos subarbustos;
• Caules lenhosos – São caules rígidos, consistentes, devido à grande lignificação; presentes em arbustos e árvores.
Quanto ao desenvolvimento:
• Ervas – Possuem caule fino, pouco lignificado e
usualmente verde ou esverdeado;
• Subarbusto – Apresenta uma base lenhosa, mas o dos
ramos tem consistência herbácea;
• Arbusto – Possui caule lenhoso e ramificado desde a
base, não formando um fuste definido;
• Árvore – Desenvolve-se comumente em plantas
terrestres lenhosas, onde inicialmente a planta
apresenta um tronco não ramificado (fuste) e depois
desenvolve a copa.
Fuste em uma angiosperma (Fonte: Autoras)
FUSTE Porção caulinar lenhosa não-ramificada na base das árvores, podendo ser reta ou bastante contorcida. Pode ser fino ou intumescido. É o mesmo que tronco.
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Quanto à ramificação:
Indivisos – Caules que não apresentam ramificações,
como os da família Arecaceae (p.ex: carnaúba –
Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore).
Ramificados – Caules que apresentam ramificações
laterais:
Monopodial – O eixo principal mantém a hegemonia
(atividade de uma só gema), gerando um único eixo,
normalmente apresentam tronco retilíneo e único, como
o das Gimnospermas (p. ex: pinheiros - Pinus spp e da
araucária Araucaria angustifolia (Bertol) Kuntze).
Simpodial – Neste tipo de ramificação, a gema terminal
tem vida efêmera e a gema lateral, que se encontra
logo abaixo, entra em franca atividade. Nesse
sistema, o eixo principal tem crescimento limitado e o
eixo que o continua é constituído pelos ramos laterais
colocados, em geral, na mesma direção em ordem
gradual do desenvolvimento das gemas laterais.
Ramificação monopodial em Gimnospermas (Fonte: Autoras)
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Quanto aos tipos:
Caules aéreos erguidos:
Haste – Herbáceos, não lignificados, geralmente verdes, que
ocorrem em vegetais de pequeno porte.
Tronco – Lenhoso, ramificado, bem desenvolvido, robusto,
ocorrendo geralmente em vegetais de médio a grande porte,
comum entre árvores e arbustos das eudicotiledôneas.
Ramificação simpodial em eudicotiledôneas (Fonte: Autoras)
Caule tipo haste (Fonte: Autoras)
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Estipe – Cilíndrico, geralmente não ramificado, com entrenós
curtos e folhas localizadas no ápice, comum nas
monocotiledôneas, caule típico das palmeiras.
Colmo - Cilíndrico, apresentando nós e entrenós bem
evidenciados. Pode se apresentar cheio (cálamo) ou oco
(fistuloso). Possui folhas desde a base, característico da cana-
de-açúcar (Saccharum officinarum L.) e dos bambus (Bambusa
spp).
Caule tipo tronco (Fonte: Autoras)
Caule tipo estipe Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore) (Fonte: Autoras)
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Cladódio - Caule modificado, clorofilado, áfilo ou com folhas
rudimentares ou, ainda, transformadas em espinhos. Pode
apresentar-se suculento e dilatado. Quando achatado e
laminar, é denominado de filocládio. Característico de algumas
plantas de climas áridos, como as Cactaceae e Euphorbiaceae.
Saccharum officinarum L. (Fonte: Autoras)
Bambusa sp (Fonte: Autoras)
Cladódios em Cactaceae (Fonte: Autoras)
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Caules rasteiros:
Radicantes, estolho ou estolão – Apresentam entrenós
alongados e desenvolvem-se paralelamente à superfície do
solo, emitindo raízes adventícias e uma nova parte aérea a
espaços regulares, gerando uma nova planta como no
morangueiro (Fragaria spp).
Prostrados ou rastejantes – crescem paralelamente à
superfície do solo, mas não emitem raízes adventícias.
Cladódios em Euphorbiaceae (Fonte: Autoras)
Estolão (Fonte: Autoras)
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Prendem-se ao solo por um único ponto de fixação como na
aboboreira (Cucurbita pepo L.).
Caules trepadores:
Volúveis – Caules que não apresentam órgão de fixação e
apenas enrolam-se no suporte. Podem ser de dois tipos:
dextrorsos: quando se enrolam da esquerda para a direita; ou
sinistrorsos: quando se enrolam da direita para a esquerda.
Caule rastejante em abóbora – Cucarbita pepo L.
Caule volúvel em Asdepiadaceae (Fonte: Autoras)
Caule volúvel em Leguminosae (Fonte: Autoras)
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Sarmentosos – Quando a planta possui uma adaptação que
lhe permite subir em um suporte com o auxílio de gavinhas ou
de outras estruturas de fixação, como no maracujazeiro
(Passiflora spp) e na videira (Vitis vinifera L.).
Lianas ou cipós – Lenhosas que crescem apoiando-se no
substrato, emaranhando-se com ele, e não possuem órgão de
fixação.
Caule sarmentoso com gavinhas (Fonte: Autoras)
Detalhe do cipó-escada. Bauhinia sp (Fonte: Autoras)
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Caules subterrâneos
Rizoma – Desenvolvem-se paralelamente à superfície do solo,
produzem folhas e/ou ramos laterais e emitem raízes
adventícias, como na bananeira (Musa paradisíaca L.) e na
espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain.);
Tubérculo – Hipertrofiados pelo acúmulo de substâncias
nutritivas. Têm porção terminal dilatada e cheia de reservas,
formando uma “batata”, com cicatrizes e gemas, como na
batata-inglesa (Solanum tuberosum L.);
Bulbos – Caule extremamente comprimido, usualmente
discóide, cujo ápice encontra-se protegido por numerosos
catáfilos (folhas) suculentos e usualmente amilíferos, que se
fixam a um receptáculo que recebe o nome de disco ou prato.
Dependendo do arranjo dos catáfilos, os bulbos são
denominados de tunicados, escamosos e sólidos;
Bulbo tunicado – Os catáfilos mais externos recobrem
totalmente os mais internos, são densamente sobrepostos, e o
prato é pequeno, como na cebola (Allium cepa L.);
Bulbos tunicados (Fonte: Autoras)
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Bulbo escamoso – Os catáfilos mais externos recobrem
parcialmente os mais internos, com disposição imbricada. As
escamas (folhas) se desenvolvem mais que o prato, como nos
lírios (Lilium spp);
Bulbo sólido – Caracteriza-se por apresentar o prato bem
desenvolvido, com reservas nutritivas, constituindo a quase
totalidade do bulbo, revestido de túnicas reduzidíssimas, em
pequeno número dispostas em várias camadas à semelhança
de casca, como no açafrão (Crocus sativus L.);
Bulbo composto - Possui a mesma organização da cebola
(Allium cepa L.), todavia cada dente ou bulbilho equivale a um
bulbo completo de cebola e o conjunto forma a conhecida
cabeça-de-alho (Allium sativum L.);
Pseudobulbo – Estrutura caulinar de reserva encontrada nas
orquídeas; pode ser formada por um único entrenó ou por uma
sucessão de vários nós e entrenós, com ou sem as folhas;
Xilopódios – Estrutura subterrânea, intumescida, rica em
substâncias de reserva, inclusive água e de elementos
mecânicos lignificados, algumas vezes de origem anatômica
mista (raiz e caule), e que é especialmente comum em
formações savanosas, garantindo a sobrevivência da planta,
quando, por causa do frio e da seca, as partes aéreas não
podem sobreviver. Após uma seca ou queimada, rebrotam dos
xilopódios ramos com folhas e flores;
Caules aquáticos – Presentes em plantas que habitam o
ambiente aquático (macrófitas aquáticas).
- 36 -
2.4. FORMAS DE VIDA DAS PLANTAS VASCULARES
Holoparasitas – Plantas que crescem sobre autótrofas vivas,
com dependência fisiológica (ex. cipó-chumbo – Cuscuta sp).
Saprófitas – Plantas que crescem sobre matéria orgânica
morta e dependem dela para sua nutrição (ex. Burmaniaceae).
Hemiparasitas – Plantas providas de função fotossintetizante,
mas com dependência fisiológica de plantas holoautótrofas
vivas (providas de função fotossintetizantes autônomas), pois
sugam sua seiva bruta, como as ervas-de-passarinho
(Psitacanthus sp e Struthanthus sp).
Hidrófita errante – Plantas que vivem sobre a superfície da
água, mas não estão fixas, como o aguapé (Eichornia spp) e a
alface-d’água (Pistia stratioides L.).
Fanerófito – Plantas lenhosas ou herbáceas perenes, com
mais de 50cm de altura, cujos ramos não morrem
periodicamente e suas gemas elevam-se a mais ou menos
Detalhe do caule de Neptunia sp (Fonte: Autoras)
Detalhe da flor de Neptunia sp (Fonte: Autoras)
- 37 -
25cm acima do solo. A proteção da gema de brotamento pode
ser feita através da presença de pelos, escamas e catáfilos.
Caméfito – Plantas com gemas de brotamento no sistema
aéreo a cerca de 20 a 50cm acima da superfície do solo.
Podem ou não enraizar, apesar de viverem sobre o solo; neste
grupo incluem-se as lenhosas e herbáceas perenes, com
menos de 50cm de altura.
Geófitos – Plantas que apresentam gemas de brotamento no
sistema subterrâneo radiculares ou caulinares (tubérculos ou
rizomas). Possuem um sistema aéreo totalmente herbáceo,
morrendo periodicamente na estação desfavorável.
Criptófitos – Plantas que apresentam gemas perenes que se
encontram a certa profundidade do solo (geófitos) ou na água
(hidrófitos). Possuem órgãos subterrâneos que acumulam
reservas, devido a essa característica são capazes de
sobreviver a longos períodos de seca, crescendo em todas as
regiões áridas.
Hemicriptófitos – Plantas perenes, herbáceas, com redução
periódica do sistema caulinar a um órgão com as gemas ao
nível da superfície do solo, podendo ser um rizoma ou
xilopódio. Apresentam gemas de brotamento também no
sistema subterrâneo, mas no nível do solo e não abaixo dele
como os geófitos. As gemas são protegidas por escamas,
folhas ou bainhas foliares.
Terófitos – Ervas anuais com seu ciclo de vida dentro de um
ano, morrendo após a frutificação e passando a estação
desfavorável sob a forma de semente. O brotamento está
representado pela gema apical (ex. invasoras).
- 38 -
Trepadeiras – Plantas que germinam no solo, sobem num
suporte, contudo mantêm sempre o contato com o solo, sem
caule lenhoso (ex. flor-de-são-joão, Pyrostegia).
Epífitas - Plantas que germinam e enraízam sobre outras
plantas vivas ou mortas, ou eventualmente sobre outros
suportes (ex. orquídeas e bromélias).
Devido a essas diferentes estratégias de sobrevivência, certas
zonas climáticas são mais apropriadas a determinadas formas
de vida. Por exemplo, nas regiões tropicais úmidas cerca de
61% das espécies ocorrentes são fanerófitas, havendo muita
incidência de epífitas e lianas; já nas regiões áridas, como os
desertos, entre 42 e 92% das espécies são terófitas.
2.5 Teórico-práticas
1. Coletar caules jovens (herbáceos), desenhar e caracterizar o
caule quanto a sua consistência e ramificações.
2. Coletar e ilustrar ou desenhar, através de observação direta,
exemplos dos vários tipos de caules:
Aéreos
Erguidos: Haste, tronco, colmo, estipe e cladódio
Rasteiros: radicantes e prostados
Trepadores: sarmentosos, volúveis e lianas
Subterrâneos
- 39 -
Rizoma, tubérculos, bulbo (tunicado, escamoso, solido e
- 40 -
composto), Pseudobulbos, Xilopódios.
- 41 -
UNIDADE 3. MORFOLOGIA DA FOLHA
3.1. Introdução ................................................................ 41
3.2. Classificação das folhas ........................................... 45
3.3. Modificações estruturais da folha ............................. 65
3.4. Atividades ................................................................ 67
- 42 -
3. MORFOLOGIA DA FOLHA
3.1. INTRODUÇÃO
As folhas têm sua origem na região dos nós caulinares,
geralmente abaixo de uma gema. Comumente não apresentam
crescimento contínuo, ano a ano. A maioria das folhas possui
simetria bilateral, possuindo uma superfície adaxial (superior ou
ventral) e abaxial (inferior ou dorsal), mas às vezes podem ser
unifaciais não apresentando esta diferenciação entre as
superfícies.
Superfície abaxial - Melastomataceae (Fonte: Autoras)
Superfície adaxial – Melastomataceae (Fonte: Autoras)
- 43 -
Funções
São as principais partes fotossintetizantes da maioria
das plantas (nutrição). Realizam a respiração (captação de CO2
atmosférico e liberação de O2), transpiração (perda de água
sob a forma gasosa) e gutação (perda de água sob a forma
líquida). Conduzem e distribuem as seivas. Também podem ser
modificadas para a proteção, formando espinhos; para
estocagem de água, como em plantas suculentas; para escalar
outras plantas como as trepadeiras e aquelas que possuem
gavinhas; para a captura de insetos como nas plantas
carnívoras ou para fornecer abrigo a formigas ou pequenos
insetos. Podem, ainda, ser usadas na alimentação, para fins
medicinais, para ornamentação e fins comerciais.
Regiões da folha
As partes principais de uma folha completa das
fanerógamas são: pecíolo, bainha e limbo, que podem ser
visualizadas na figura abaixo:
Representação das principais partes de uma folha de angiosperma (JUDD et al., 2009).
- 44 -
Limbo: porção achatada da folha, geralmente responsável pela
maior parte da área foliar fotossintética.
Pecíolo: estrutura usualmente filiforme que faz a ligação entre
a porção laminar da folha e o caule, permitindo maior
mobilidade.
Bainha: encontra-se na base de algumas folhas (comum em
algumas monocotiledôneas), diferenciada em uma estrutura
mais ou menos laminar que pode envolver completamente o
caule e guarnecer a gema apical, axilares ou outras estruturas
florais em desenvolvimento.
Estípulas: estruturas geralmente presentes em pares na base
das folhas, na forma de pequenas lâminas, frequentemente
caducas. Também podem ser solitárias e, neste caso, originam-
se entre o pecíolo e o caule. Possuem a função primordial de
proteção das folhas jovens.
Pulvinos: é a porção engrossada e morfologicamente distinta
do pecíolo, é comum e está envolvida no movimento foliar,
pode ser encontrada na base da folha, no ápice do pecíolo, no
meio do pecíolo, ou nos peciólulos dos folíolos de folhas
compostas
De acordo com a ocorrência das suas partes componentes,
podem ser classificadas como:
Folha peciolada – Quando o pecíolo encontra-se presente;
PECIÓLULO Termo que designa o pequeno pecíolo que se forma na base de cada folíolo de uma folha composta.
- 45 -
Folha séssil – Quando o pecíolo está ausente e a lâmina
funde-se diretamente ao caule;
Folha invaginante – Quando a base da folha está diferenciada
em uma estrutura laminar que envolve parcial ou
completamente o caule e guarnece a gema apical, gemas
axilares ou outras estruturas florais em desenvolvimento.
Folha peciolada (RADFORD et al.,1974)
Folha séssil (RADFORD et al.,1974)
Folha com bainha (RADFORD et al.,1974)
- 46 -
3.2. CLASSIFICAÇÃO DAS FOLHAS
1. Quanto à disposição da folha no caule – FILOTAXIA
As folhas encontram-se arranjadas ao longo do eixo
caulinar. Podem estar organizadas em três padrões diferentes,
como mostra o esquema abaixo:
Alternas – Desenvolvem-se isoladas entre si e estão
geralmente dispostas em uma espiral ao longo do caule.
Podem, também, estar dispostas em uma forma não
espiralada,organizadas sequencialmente ao longo dos dois
lados do caule (dísticas) ou ao longo de três lados do mesmo
(trísticas). Folhas dísticas achatadas no mesmo plano e com
ambas as superfícies idênticas são chamadas equitantes,
ocorrendo em espécies de Iridaceae.
Opostas – Desenvolvem-se aos pares e ficam posicionadas
em lados opostos do caule. Também podem apresentar a
disposição dística ou cruzada.
Padrões principais de filotaxia (JUDD et al., 2009)
- 47 -
Verticiladas – Desenvolvem-se em número de três ou mais,
partindo de diferentes pontos de um mesmo nó.
Fasciculadas – Desenvolvem-se em número de duas ou mais,
partindo de um mesmo ponto em um nó.
Rosuladas – Desenvolvem-se formando uma roseta.
Filotaxia fasciculada (Fonte: Autoras)
- 48 -
CLASSIFICAÇÃO DO LIMBO
1. Quanto à superfície, as folhas podem apresentar-se:
Glabra – superfície sem pelos.
Pilosa – superfície coberta por pelos curtos, frágeis e finos.
Folha rosulada (Fonte: Autoras)
Folhas evidenciando superfície pilosa (Fonte: Autoras)
- 49 -
Lisa – superfície sem a ocorrência de elevações.
Rugosa – superfície coberta com elevações côncavas
limitadas e individualizada por uma rede de sulcos.
Folha com superfície lisa (Fonte: Autoras)
Folha rugosa (Fonte: Autoras)
- 50 -
2. Quanto à consistência, podemos encontrar:
Membranácea – folha em que o limbo apresenta consistência
de membrana (bastante fina).
Coriácea - folha em que o limbo apresenta consistência dura,
quebradiça.
Crassa ou suculenta – folha em que o limbo contém reserva
de água.
3. Quanto à coloração, as folhas geralmente são verdes nas
duas faces (concolores), mas podemos encontrar
variações entre os diferentes tipos de folhas.
Folha maculada (Fonte: Autoras)
Folha variegada (Fonte: Autoras)
- 51 -
4. Quanto à subdivisão do limbo
Uma folha com lâmina única (inteira) é chamada de
simples; uma folha com duas ou mais lâminas, ou folíolos, é
chamada de composta. Quando a nervura central forma um
eixo alongado onde se inserem os folíolos, é chamada de folha
pinada ou penada.
Folha bicolor (ou discolor) (Fonte: Autoras)
Folha listrada (Fonte: Autoras)
Folha de limbo simples (Fonte: Autoras)
Folha de limbo composto (Fonte: Autoras)
- 52 -
4.1. Tipos de folhas compostas
As folhas compostas podem apresentar variações na forma e
número de folíolos encontrados. Destacaremos aqui os mais
comuns.
Paripinada - Neste tipo, os folíolos se inserem ao longo da
ráquis foliar e o ápice termina em um número par de folíolos.
Imparipinada – Os folíolos se inserem ao longo da ráquis foliar
e o ápice foliar termina em um só folíolo.
Bipinado – Quando cada um dos folíolos também é composto
pinado, gerando um padrão recorrente, ou seja, o folíolo se
divide duas vezes.
Folha composta imparipinada (Fonte: Autoras)
Folha composta bipinada (Fonte: Autoras)
- 53 -
Palmada ou digitada – Quando, nas folhas compostas, as
nervuras principais irradiam de um mesmo ponto na base,
formando uma estrutura que lembra a palma da mão.
Trifoliolada – Quando a folha é composta por três folíolos.
Unifoliolada – Quando a folha apresenta apenas um folíolo.
Organização dos folíolos (JUDD et al., 2009)
- 54 -
5. Forma do limbo:
Em geral, considera-se que uma folha pode apresentar
quatro formas básicas (ovada, obovada, elíptica, oblonga),
dependendo da porção onde a folha se apresenta mais larga.
Outros formatos também podem ser encontrados. A lâmina
ainda pode se apresentar simétrica e assimétrica.
Outras formas encontradas:
Falciforme – Lâmina em forma de foice;
Formas básicas da lâmina foliar (JUDD et al., 2009)
Folha falciforme (RADFORD et al.,1974)
- 55 -
Hastiforme – Lâmina com forma triangular com dois lobos
basais;
Reniforme – Lâmina em forma de rim;
Runcinada – Lâmina com margens partidas e laceradas
Folha hastiforme (RADFORD et al.,1974)
Folha reniforme (Radford et al.,1974)
Folha runcinada (RADFORD et al.,1974)
- 56 -
Sagitiforme – Forma de seta; triangular com dois lobos basais
retos ou ligeiramente encurvados;
Espatulada – Lâmina em forma de espata; oblonga ou
obovada no ápice com base atenuada.
Cordiforme – Lâmina em forma de coração;
Folha sagitiforme (RADFORD et al.,1974)
Folha espatulada (RADFORD et al.,1974)
Folha cordiforme (RADFORD et al.,1974)
- 57 -
Peltiforme – Lâmina arredondada onde o pecíolo se insere no
centro do limbo.
6. Formas do ápice
Vários são os termos descritivos para a forma do ápice da
lâmina foliar, a seguir veremos os principais:
Agudo – Quando os bordos da lâmina formam no ápice um
ângulo agudo, menor que 90°.
Obtuso – Quando os bordos da lâmina formam no ápice um
ângulo obtuso, ou seja, maior que 90°.
Folha peltiforme (RADFORD et al.,1974)
Diferentes formas do ápice foliar (JUDD et al., 2009)
- 58 -
Acuminado – Quando os bordos da lâmina formam no ápice
uma ponta aguda e comprida.
Retuso – Quando os bordos da lâmina formam no ápice uma
pequena reentrância.
Emarginado – Quando os bordos da lâmina formam
gradualmente no ápice uma reentrância.
Truncado – Quando o ápice da lâmina acaba abruptamente,
parecendo ter sido cortado.
Mucronado – Quando o ápice da lâmina termina por uma
ponta aguda e rígida, como se fosse um espinho.
Arredondado – Quando o ápice da lâmina apresenta uma
forma arredondada, formando um arco.
Atenuado – Quando o ápice da lâmina vai afinando
gradativamente, formando uma ponta aguda.
7. Formas da base
Vários são os termos descritivos para a forma da base da
lâmina foliar, a seguir veremos os principais:
Diferentes formas da base foliar (JUDD et al., 2009).
- 59 -
Aguda – Quando na base da lâmina, na inserção do pecíolo,
as margens formam um ângulo agudo, menor que 90°.
Obtusa – Quando na base da lâmina, na inserção do pecíolo,
as margens formam um ângulo obtuso, maior que 90°.
Cuneada – Quando na base da lâmina, na inserção do peciolo,
as margens juntam-se em um ângulo de 45°.
Arredondada - Quando as margens, na inserção do pecíolo,
apresentam uma forma arredondada.
Decurrente (decorrente) – Quando a lâmina prolonga-se
abaixo do ponto de inserção, ficando mais estreita em direção
à base.
Truncada – Quando a lâmina, no ponto de inserção com o
pecíolo, parece ter sido cortada, ou seja, acaba abruptamente.
Cordada – Quando na base do pecíolo, as margens recurvam-
se, dando à base uma forma de coração.
Lobada – Quando na base do pecíolo, as margens encontram-
se divididas em dois segmentos iguais entre si.
Sagitada ou sagitiforme – Quando na base do pecíolo, as
margens se mostram mais alargadas, formando dois lobos.
Outros formatos também podem ser encontrados:
Amplexicaule – Quando na base das folhas (bainha), as
margens da lâmina envolvem totalmente o caule. São
- 60 -
normalmente encontradas em folhas sésseis, mas podem
ocorrer com plantas de pecíolo alongado.
Perfoliada (conada) – Quando a base da folha acaba
fundindo-se, dando a impressão de que o caule trespassa a
folha.
Peltada – Quando o pecíolo se insere no centro do limbo.
Base amplexicaule (RADFORD et al.,1974)
Base perfoliada (RADFORD et al.,1974)
Base peltada (RADFORD et al.,1974)
- 61 -
Auriculada – Quando na margem da lâmina, na base, forma
uma aba ou orelha;
8. Formas da margem
A lâmina foliar pode apresentar diversos tipos de
margens, a seguir apresentaremos alguns mais encontrados:
Inteira – margens que não apresentam nenhum tipo de incisão
ou lobos.
Serreada – margens com lobos agudos e ascendentes.
Base auriculada (RADFORD et al.,1974)
Margem inteira (RADFORD et al.,1974)
- 62 -
Crenada – margem com lobos arredondados, ascendentes.
Ciliada – margem com pelos finos.
Aculeada – margem espinescente, porém não rígidos.
Margem serreada (RADFORD et al.,1974)
Margem crenada (RADFORD et al.,1974)
Margem ciliada (RADFORD et al.,1974)
Margem aculeada (RADFORD et al.,1974)
- 63 -
Crispada – margem dividida, ondulada, torcida e irregular.
Palmatífida – margem com incisão palmada, semelhante à
palma da mão.
Lacerada – margem cortada irregularmente.
Revoluta – margem curvada para baixo.
Margem crispada (RADFORD et al.,1974)
Margem palmatífida (RADFORD et al.,1974)
Margem lacerada (RADFORD et al.,1974)
Margem revoluta (RADFORD et al.,1974)
- 64 -
Ondulada – margem que apresenta onda em plano vertical.
9.Tipos de venação ou nervação
É o arranjo das nervuras na lâmina foliar. Sempre que
houver uma nervura mais proeminente em uma folha, esta é
chamada de nervura principal ou central; ramificações dessa
nervura são chamadas de nervuras secundárias. As nervuras
terciárias, por sua vez, geralmente conectam as nervuras
secundárias, formando um padrão escalariforme ou reticulado.
Há três padrões principais de organização de nervuras:
pinado, palmado e paralelo.
Pinado ou peninérvea – Quando a folha apresenta uma
nervura primária única e as nervuras secundárias divergindo ao
Margem ondulada (RADFORD et al.,1974)
Padrão de organização das nervuras terciárias (JUDD et al., 2009)
- 65 -
longo de seu comprimento. É predominante em
eudicotiledôneas;
Palmado – Quando a folha apresenta nervuras primárias
divergindo da base ou próximo dela, como os dedos da mão;
Paralelo – Quando a folha apresenta diversas nervuras que
são ou tendem a ser paralelas, uma ao lado da outra, partem
da base do limbo até o ápice onde convergem. É predominante
em monocotiledôneas.
Tipos de organização peninérvea (JUDD et al., 2009)
Tipos de venação: A) Padrão palmado; B) padrão paralelo (JUDD et al., 2009)
- 66 -
3.3. Modificações estruturais da folhas
Ascídia ou ascídio – Estrutura existente em algumas plantas
insetívoras. Apresentam-se em forma de vaso ou copo, onde
acumulam água e são liberadas enzimas digestivas para
assimilar insetos que ali caem.
Espinho – Estrutura fortemente endurecida, lenhosa e
pontiaguda. Diferentemente do acúleo, os espinhos são
vascularizados. Em geral é uma folha modificada ou parte de
uma folha.
Ascídia em Nepenthes sp
(Fonte: Autoras)
Espinhos em cactos (Fonte: Autoras)
- 67 -
Gavinha – Modificações de folhas ou partes desta ou ainda do
caule, em uma estrutura alongada que se enrola, auxiliando na
sustentação dos caules.
Bráctea – Folha usualmente modificada, que ocorre no eixo
floral, muitas vezes com forma, cor ou textura diferentes das
folhas fotossintetizantes. Podem ser bastante vistosas e
chamativas para o polinizador.
Gavinhas (Fonte: Autoras)
Gavinhas (Fonte: Autoras)
- 68 -
3.4 Teórico-práticas
1. Coletar uma folha e fazer desenho esquemático
indicando suas regiões, tais como: bainha, pecíolo,
limbo, superfície adaxial e abaxial.
2. Coletar e ilustrar ou desenhar, através de
observação direta, exemplos de folhas pecioladas,
invaginantes e sésseis.
3. Colete e desenhe cinco tipos diferentes de folhas
simples, dando sua classificação quanto:
a. Forma do limbo;
b. Forma do ápice;
c. Forma da base;
d. Nervação;
e. Superfície;
f. Margem;
Bráctea floral em Vriesea sp (Fonte: Autoras)
- 69 -
g. Coloração;
h. Consistência.
4. Colete e desenhe diferentes tipos de folhas compostas
a. composta (paripenada ou imparipenada);
b. bicomposta (paripenada ou imparipenada);
c. trifoliolada;
d. digitada.
5. Esquematize, através de desenho, os vários tipos de filotaxia
encontrados nas plantas estudadas.
- 70 -
- 71 -
UNIDADE 4. MORFOLOGIA FLORAL, INFLORESCÊNCIAS E
SÍNDROME DE POLINIZAÇÃO
4.1. Introdução ..................................................................... 71
4.2. Classificação da flor quanto à presença dos verticilos
florais ................................................................................... 73
4.3. Cálice ............................................................................ 74
4.4. Corola ........................................................................... 76
4.5. Androceu ....................................................................... 86
4.6. Gineceu ......................................................................... 97
4.7. Inflorescências .............................................................. 105
4.8. Síndrome de polinização ............................................... 121
4.9 Atividades ...................................................................... 134
- 72 -
4. MORFOLOGIA FLORAL, INFLORESCÊNCIAS E SÍNDROME
DE POLINIZAÇÃO
4.1. INTRODUÇÃO
Órgão de reprodução sexuada das Angiospermas e
Gimnospermas, constituío pelos ontófilos (folhas modificadas),
que formam os verticilos de proteção (cálice e corola) e os de
reprodução (androceu e gineceu). Um ou mais destes verticilos
podem estar ausentes. Sua morfologia é bastante variável entre
as plantas, refletindo a especialização no uso de diferentes
polinizadores.
Origem
Origina-se nas gemas terminais e axilares.
Partes constituintes
Uma flor completa é constituída pelos seguintes
elementos: o pedúnculo floral, chamado de pedicelo; o ramo
modificado (eixo floral), chamado de receptáculo; o perianto,
que são as estruturas mais externas, protetoras e/ou coloridas
(sépalas e pétalas); o androceu, estrutura produtora de pólen; e
o gineceu, estrutura produtora de óvulos.
Corte longitudinal de uma flor evidenciando corola, androceu e gineceu.
- 73 -
Pedicelo – Eixo que liga cada flor a uma inflorescência ou ao
caule. O pedicelo pode ter comprimento variável e estar ou não
guarnecido por uma bráctea. Tem forma geralmente cilíndrica.
Às vezes, pode estar ausente e a flor é classificada como
séssil; nesse caso, a flor está ligada diretamente ao ramo ou
eixo da inflorescência ou ao caule.
Receptáculo – Porção apical e usualmente alargada do
pedicelo, onde estão inseridos os verticilos florais. Pode se
apresentar achatado, numa forma mais ou menos aplanada ou
alongado quando se apresenta prolongado de forma mais ou
menos cônica.
Perianto – É constituído pelos elementos vegetativos da flor,
cálice e corola e tem a função de proteger os órgãos
reprodutores e atrair polinizadores.
Esquema de uma flor com suas partes constituintes (Fonte: MORANDINI, 1970)
- 74 -
4.2. CLASSIFICAÇÃO DA FLOR QUANTO À PRESENÇA
DOS VERTICILOS DE PROTEÇÃO
Periantada: Flor que apresenta cálice e corola, o mesmo que
flor diclamídea. Quando cálice e corola são diferenciados em
forma e em cor, esta é denominada heteroclamídea.
Perigoniada: Flor que apresenta os verticilos vegetativos não
diferenciados tanto na forma, quanto na coloração
(cálice=corola). Neste caso, o perianto é constituído por tépalas
(é o mesmo que flor homoclamídea).
Flor periantada, heteroclamídea (Fonte: Autoras)
Flores perigoniadas (Fonte: Autoras)
- 75 -
Monoclamídea – Flor que apresenta somente um dos verticilos
vegetativos indistintamente, geralmente cálice.
Aclamídea – Flor desprovida de cálice e corola. É geralmente
pequena e normalmente agrupada em uma espiga, amentilho
ou espádice.
Espádice em Araceae
(Fonte: Autoras)
Flor de Bougainvillea (Fonte: Autoras)
- 76 -
4.3. CÁLICE
Verticilo floral vegetativo. Cada unidade é chamada de
sépala, que é geralmente verde e usualmente envolve o botão
floral em desenvolvimento.
Classificação do cálice
a) Quanto à cor:
A sépala pode apresentar-se geralmente verde ou
petalóide (da cor da pétala).
b) Quanto à concrescência (união) das sépalas:
A sépala pode apresentar-se gamossépala (todas unidas
desde a base total ou parcial) ou dialissépala (todas separadas
desde a base).
c) Quanto ao número de sépalas:
Trímera (três sépalas), tetrâmera (quatro) ou pentâmera
(cinco).
d) Quanto à duração:
Caduco – Quando o cálice cai antes da flor ser fecundada;
Persistente – Quando o cálice persiste no fruto;
Decíduo – Quando o cálice cai após a corola;
Acrescente – Quando, após a fertilização da flor, o cálice
aumenta de tamanho, desenvolve-se e cerca o fruto.
- 77 -
4.4. COROLA
Verticilo floral vegetativo, onde cada unidade é chamada
de pétala. São geralmente coloridas e apresentam a função de
atrair polinizadores.
Classificação da corola
a) Quanto à cor:
A corola pode apresentar-se de várias cores como
branca, colorida ou sepalóide (da cor da sépala).
b) Quanto à concrescência (união) das pétalas:
A corola pode apresentar-se gamopétala ou simpétala
(todas unidas desde a base total ou parcial) ou dialipétala
(todas separadas desde a base).
Corola colorida (Fonte: Autoras)
Corola gamopétala (Fonte: Autoras)
Corola dialipétala (Fonte Autoras)
- 78 -
c) Quanto ao número de pétalas:
Trímera (três pétalas), tetrâmera (quatro), pentâmera
(cinco ) ou múltiplo desses.
d) Quanto à simetria:
É a possibilidade de a flor poder ser ou não dividida em
planos imaginários, que passam no seu eixo central, resultando
em partes similares. Pode ser classificada em três tipos:
Actinomorfa – Diz-se da flor onde podem ser traçados dois ou
mais planos imaginários, que resultam em lados iguais.
Flor trímera (Fonte: Autoras)
Flor tetrâmera (Fonte: Autoras)
Flor pentâmera (Fonte: Autoras)
Esquema de flor actinomorfa
(Fonte: JUDD et al., 2009) Flor actinomorfa (Fonte: Autoras)
- 79 -
Flor zigomorfa - Diz-se da flor onde pode ser traçado apenas
um plano imaginário, que resulta em dois lados iguais.
Flor assimétrica – Diz-se da flor que não pode ser dividida em
planos iguais.
e) Quanto ao tipo ou forma da corola:
A corola pode apresentar tipos ou formas variadas:
Corola dialipétala e actinomorfa
Esquema de flor zigomorfa (Fonte: JUDD et al., 2009)
Flor zigomorfa (Fonte: Autoras)
Esquema de flor assimétrica
(Fonte: JUDD et al;. 2009)
Flor assimétrica (Fonte: Autoras)
- 80 -
Corola dialipétala e zigomorfa
Corola gamopétala e actinomorfa
Flor actinomorfa (Fonte: Autoras)
(Fonte: Autoras)
(Fonte: Autoras)
- 81 -
Corolas gamopétalas e zigomorfas
Algumas formas de corola simpétala (gamopétala) e
dialipétala:
Campanulada: Corola em forma de sino.
Infundibuliforme: Apresenta pétalas fundidas em um tubo
estreito na base e alargando-se para o ápice, em forma de
funil.
(Fonte: Autoras)
Corola campanulada (Fonte: Autoras)
- 82 -
Hipocrateriforme: Tubo comprido, alargando-se no ápice,
com lobos livres e expandidos.
Ligulada: Corola assimétrica, gamopétala, com 1-5 lobos
fundidos em uma estrutura alongada e fina na base e que se
expande no ápice.
Corola infundibuliforme (Fonte: Autoras)
Corola hipocrateriforme (Fonte: Autoras)
Corola ligulada em Asteraceae (Fonte:Autoras)
- 83 -
Labiada: Corola unida na base e com a parte apical livre,
apresentando duas divisões desiguais, simulando uma boca.
Digitaliforme: Corola tubulosa em forma de um dedo de luva,
com tubo não muito estreito que se alarga suavemente em
direção ao ápice, mas estreita-se na base.
Unguiculada: Pétala estreita na porção basal e uma porção
apical expandida, em forma de unha.
Corola labiada (Fonte: Autoras)
Corola digitaliforme (Fonte: Autoras)
Corola unguiculada (Fonte: Autoras)
- 84 -
Orquidácea: Corola que apresenta duas pétalas laterais
(asas) e uma pétala altamente modificada (labelo).
Papilionácea: Corola que apresenta uma pétala superior
grande (estandarte), duas pétalas laterais (asas) e duas pétalas
inferiores conadas (carenas).
PREFLORAÇÃO
É a maneira como os elementos protetores arranjam-se no
botão floral. A prefloração é observada através de um corte
transversal na região mediana do botão floral. Podem
apresentar-se principalmente em quatro tipos:
Orchidaceae (Fonte: Autoras)
Leguminosae - Papilionoideae (Fonte: Autoras)
- 85 -
Valvar – Quando os verticilos encontram-se unidos apenas
pelos bordos de cada um deles, apenas se tocando pela
margem.
Contorcida – Quando cada um dos verticilos sobrepõe o outro.
Quincuncial – Quando o verticilo apresenta cinco peças: duas
mais internas, duas externas e uma quinta que cobre parte de
uma peça interna e parte de uma peça externa.
Imbricada – Quando o verticilo apresenta uma peça floral
totalmente externa, uma totalmente interna e duas ou três
intermediárias.
Tipo especial de flor
Flor calcarada – Calcar é uma estrutura em forma de um chifre
oco, originado das pétalas ou das sépalas, dentro da qual o
néctar é produzido e armazenado. O néctar não fica acessível
para organismos sem prosbóscide.
Valvar Contorcida
Quincuncial
Imbricada
Flor calcarada (Fonte: Autoras)
(GONÇALVES; LORENZI, 2007)
- 86 -
Algumas flores apresentam pedicelo floral provido de uma
bráctea modificada em nectários, semelhantes a uma jarra,
como em Marcgraviaceae.
Classificação da flor quanto à presença do aparelho
reprodutivo
Flor monóclina, hermafrodita ou andrógina – Possui androceu
e gineceu na mesma flor.
Flor díclina ou unissexual – Possui apenas androceu
(estaminadas) ou gineceu (carpeladas).
Flor estéril – Sem a presença do aparelho reprodutor.
Classificação das plantas quanto ao sexo das flores
Planta monóica – Apresenta flores unissexuais masculinas e
femininas no mesmo indivíduo. Ex: mamona (Ricinus communis
L.).
Detalhe da flor de Marcgraviaceae
(Fonte: SMITH et al. 2004)
Nectários em Marcgraviaceae
(Fonte: SMITH et al. 2004)
- 87 -
Planta dióica – São aquelas onde as flores masculinas
ocorrem em um indivíduo e as flores femininas ocorrem em
outro indivíduo. Ex: pitomba (Talisia esculenta Radlk.).
Planta hermafrodita – São aquelas onde todas as flores do
indivíduo são hermafoditas. Ex: acerola (Malpighia emarginata
DC.).
Planta poligâmica – São aquelas que possuem flores
hermafroditas, unissexuais masculinas e unissexuais femininas
no mesmo indivíduo. Ex: manga (Mangifera indica L.).
4.5. ANDROCEU
Parte da flor que desempenha o papel masculino na
reprodução sexuada (produtora de pólen), cada uma de suas
unidades é chamada de estame, a qual pode variar em número
em diferentes flores.
Detalhe dos estames em
Velloziaceae (Fonte: Autoras).
- 88 -
Estrutura do androceu
Cada estame é constituído por filete, conectivo e antera.
Filete – Geralmente é cilíndrico e suporta as anteras em um
estame, pode variar de tamanho.
Conectivo – Parte que une as tecas de uma antera. Em
algumas plantas pode ser maior que o filete e as anteras
(=conectivo rostrado).
Antera – Região apical dos estames, onde os grãos de pólen
são produzidos. Geralmente a antera possui duas tecas, que
possuem aberturas diferenciadas para a liberação dos grãos de
pólen.
Classificação do androceu
1. Quanto à concrescência (união) dos estames
Dialistêmone – Os estames são individualizados desde a base.
Detalhe do estame em Melastomataceae (Fonte: Autoras)
- 89 -
Gamostêmone – Os estames são fundidos entre si pelos filetes
(adelfia) ou pelas anteras (sinanteria), podendo ser:
Monodelfo: filetes soldados desde a base em um único feixe,
formando um tubo estaminal.
Diadelfo: filetes soldados desde a base em dois feixes
Triadelfo: filetes soldados desde a base em três feixes
Poliadelfo: filetes soldados desde a base em mais de
três feixes, formando vários grupos
Sinanteria: Estames unidos pelas anteras, como em
alguns representantes de Asteraceae.
Estames monadelfos (Fonte: Autoras)
Sinanteria em flores de Asteraceae (Fonte: Autoras)
- 90 -
Outras estruturas ocorrem em alguns grupos de
angiospermas que são característicos em algumas famílias:
Andróforo - Quando os estames estão unidos pelos filetes,
formando um tubo.
Ginóforo - Tubo que eleva o gineceu acima do receptáculo.
Andróginóforo – Tubo que eleva o gineceu e o androceu
acima do receptáculo.
Andróforo em Hibiscus rosa-sinensis L. (Fonte: Autoras)
Androginóforo em Passiflora sp (Fonte: Smith et al., 2009)
- 91 -
2. Quanto à posição em relação à corola:
Inclusos – Os estames se localizam dentro do tubo da
corola.
Exclusos ou exsertos – Os estames projetam-se para
fora do tubo da corola.
3. Quanto à inserção na flor:
Epipétalos – Estames inseridos nas pétalas.
Estames inclusos em Salsa (Fonte: Autoras)
Estames exclusos em Vriesea sp (Fonte: Autoras)
- 92 -
Hipóginos – Estames inseridos abaixo do receptáculo.
Epissépalos – Estames inseridos nas sépalas.
Alternipétalos – Estames inseridos de forma alternada com as
pétalas.
4. Quanto à relação de diferentes tamanhos exibidos pelos
estames:
Isodínamos – Todos os estames se apresentam do mesmo
tamanho.
Estames epipétalos em Velloziaceae (Fonte: Autoras).
Estames hipóginos em Marcgraviaceae (Fonte: SMITH et al. 2004)
- 93 -
Heterodínamos – Estames com filetes de diferentes
tamanhos.
Didínamos – Estames iguais dois a dois.
Estames isodínamos
Estames heterodínamos em Leguminosae (Fonte: Autoras)
Estames didínamos em Bignoniaceae
(Fonte: JUDD et al., 2009)
- 94 -
Tetradínamo – seis estames, quatro de um tamanho e dois
de outro.
5. Quanto à relação entre o número de estames e número
de pétalas:
Isostêmone: Quando o número de estames é igual ao
número de pétalas (5P e 5E).
Oligostêmone: Quando o número de estames é menor que o
das pétalas (4E e 5P ).
Diplostêmone: Quando o número de estames é o dobro do
número de pétalas (4Pe 8E).
Polistêmone: Quando o número de estames é maior que o
número de pétalas (5P e 6E, 7, 8, 9, 11 E, etc.).
Flor diplostêmone em Melastomataceae (Fonte: Autoras)
- 95 -
Antera
Região apical dos estames onde os grãos de pólen são
produzidos. Geralmente a antera possui duas tecas, que
apresentam diferentes tipos de aberturas por onde são
liberados os grãos de pólen.
Grãos de pólen: esporos masculinos formados no interior dos
sacos polínicos que são liberados na maturação das anteras.
São recobertos por duas camadas protetoras, a exina, mais
externa e não contínua e a intina, camada delgada de celulose,
delimitando o conteúdo citoplasmático.
Podem ser classificados quanto ao agrupamento em:
mônades: grãos de pólen livres entre si.
tétrades: grãos de pólen unidos formando grupos de 4.
políades: grãos de pólen formando grupos de mais de 4.
políneas: grãos de pólen reunidos em massas únicas.
São estruturas muito ricas em ornamentação e padrões de
aberturas, sendo a palinologia a ciência que estuda não só os
grãos de pólen, mas também os esporos, sejam eles recentes
ou fósseis.
Flor polistêmone em Caryocar coriaceum Wittm. (Fonte: Autoras)
- 96 -
1. Classificação da antera quanto à deiscência das tecas:
Poricida - A liberação dos grãos de pólen é feita através de
poros que usualmente localizam-se no ápice da antera. Para
liberar os grãos de pólen é necessária alguma agitação
mecânica.
Antera poricida em Melastomataceae (Fonte: Autoras)
Antera poricida em Leguminosae (Fonte: Autoras)
- 97 -
Rimosa (longitudinal) – A liberação dos grãos de pólen se
dá por meio de uma fenda longitudinal em cada teca.
Antera rimosa em Vochysiaceae (Fonte: Autoras)
Valvar – A liberação dos grãos de pólen se dá através de
valvas ou janelas. Raro nas famílias botânicas, sendo
observado na família Lauraceae. Ex: abacate (Persea
americana Mill.).
2. Classificação das anteras quanto à posição de acordo
com a deiscência:
Introrsa – Antera em que a deiscência está voltada para o
centro da flor (gineceu).
Extrorsa - Antera em que a deiscência está voltada para fora
da flor, para as pétalas.
3. Classificação da antera quanto à inserção do filete:
Basal – Quando o filete se liga à antera pela base
- 98 -
Dorsal – Quando o filete se liga à antera pelo dorso
4.6. GINECEU
É o órgão que desempenha o papel feminino na reprodução
sexuada, sendo constituído pela(s) folha(s) carpelar(es).
Inserção basal do filete em Cassia sp (Fonte: Autoras)
Filete com inserção dorsal (Fonte: Autoras)
- 99 -
Morfologicamente, o gineceu é composto pelo(s) pistilo(s):
ovário, estilete e estigma.
Ovário – Região basal ou sub-basal do pistilo, usualmente
dilatada, na qual se desenvolvem os óvulos.
Estilete – Porção mediana do carpelo entre o ovário e
estigma. Pode ser reduzido ou estar ausente em alguns grupos.
Estigma – Porção distal de um pistilo que tem como principal
função receber os grãos de pólen trazidos pelos agentes
polinizadores.
Classificação do gineceu
1. Quanto à posição do ovário na flor:
O ovário pode se apresentar em três posições na flor.
Sendo que esta poderá ser classificada como flor hipógina,
perígina e epígina:
(Fonte: JUDD et al., 2009)
- 100 -
Ovário súpero (Flor hipógina) – Flor com as peças florais
inseridas abaixo do ovário, sem a presença de um hipanto.
Ovário semi-ínfero (Flor perígina) - Flor com as peças florais
inseridas em um receptáculo côncavo (hipanto), que pode
deixar o ovário livre ou estar concrescido a ele, até a metade de
seu comprimento
Ovário ínfero (Flor epígina) – Flor com as peças florais
inseridas em um receptáculo côncavo, concrescido com o
ovário em todo o seu comprimento.
2. Quanto à concrescência dos carpelos:
Dialicarpelar ou apocárpico – Os carpelos estão livres entre si.
(Fonte: JUDD et al, 2009)
HIPANTO Estrutura em formato de cálice que reveste o ovário de uma flor perígina, geralmente é originário do receptáculo. Se o hipanto englobar completamente o ovário, transforma-o em uma flor epígina.
- 101 -
(Fonte: JUDD et al., 2009)
Gamocarpelar ou sincárpico – Os carpelos estão unidos
entre si.
Carpelos unidos no bacuri (Platonia insignis Mart.).
(Fonte: Autoras)
3. Quanto ao número de carpelos e lóculos:
O número de carpelos e lóculos pode ser observado
através do corte transversal de um gineceu sincárpico. Em
geral, o número de carpelos e lóculos é igual; entretanto,
podem ocorrer variações. Podemos encontrar ovários com a
seguinte classificação:
- 102 -
Unicarpelar/Unilocular
Bicarpelar/Unilocular
Bicarpelar/Bilocular
Tricarpelar/Unilocular
Tricarpelar/Trilocular
Tetracarpelar/Unilocular
Pentacarpelar/Pentalocular
Esquema de cortes transversais de ovários evidenciando
carpelos e lóculos. (Fonte: RUDFORD et al 1974)
4. Quanto à placentação:
Os óvulos estão organizados em diferentes padrões dentro do
ovário, o que permite o reconhecimento de vários tipos de
placentação. A placenta é a parte do ovário na qual os óvulos
estão ligados. Os principais tipos de placentação são ilustrados
acima e descritos abaixo:
Axial: Os óvulos estão presos ao eixo central (ovário
septado).
Central: Os óvulos estão presos ao eixo central (ovário
unilocular).
- 103 -
Parietal: Os óvulos estão presos à parede do ovário.
Apical: Os óvulos estão presos no ápice do ovário.
Basal: Os óvulos estão presos na base do ovário.
5. Quanto ao número e à inserção do estilete no ovário:
O número de estilete pode variar em diferentes flores e
pode estar associado ao número de carpelos.
Estilete indiviso – O gineceu apresenta um só estilete, sem
divisões.
Estilete bífido – O gineceu apresenta o estilete unido na base
e dividido no ápice em duas partes.
Estilete trífido – O gineceu apresenta o estilete unido na base
e dividido no ápice em três partes.
Dois estiletes – O gineceu apresenta dois estiletes.
Três estiletes – O gineceu apresenta três estiletes.
Inserção terminal – O estilete se insere na porção apical do
ovário.
Inserção lateral - O estilete se insere na porção lateral do
ovário.
Inserção ginobásica ou basal - O estilete se insere na base
do ovário, em uma depressão basal.
Inserção terminal do estilete no ovário (Fonte: O. Pereira)
- 104 -
O fenômeno da heterostilia é pouco frequente, conformando-se
como um sistema de autoincompatibilidade esporofítica que
envolve diferenças estruturais nas flores. É a ocorrência de
flores com estilete de diferentes tamanhos no mesmo indivíduo
ou em indivíduos diferentes na mesma espécie. Pode ser
expresso na forma de dois (distilia), a forma mais comum, ou
três (tristilia).
(Fonte: JUDD et al., 2009).
6. Quanto à forma do estigma:
O estigma pode apresentar formas variadas, tais como:
Globoso – estigma apresenta estrutura esférica.
Capitado – estigma bem desenvolvido e intumescido,
formando uma estrutura hemisférica, esférica ou cilíndrica em
forma de cabeça.
Plumoso – estigma em forma de pluma.
- 105 -
Foliáceo – estigma laminar em forma de folha .
Estigma globoso (Fonte: JUDD et al., 2009)
Estigma capitado em Tiliaceae (Fonte: Autoras)
7. Quanto à divisão do estigma:
Indiviso – o estigma é único, sem ramificações.
Estigma indiviso (Fonte: Autoras)
- 106 -
Ramificado - o estigma apresenta subdivisões em números
variados.
Estigma ramificado (três estigmas) (Fonte: Autoras)
4.7 INFLORESCÊNCIA
Na grande maioria das angiospermas as flores são
produzidas em agrupamentos denominados inflorescências,
embora ocorram também flores isoladas.
Morfologicamente, uma inflorescência é um ramo ou um
sistema de ramos caulinares que portam flores. Para Troll
(1964) uma inflorescência pode ser definida como “um sistema
caulinar que atua na formação de flores e que é modificado
apropriadamente para esta função”.
Funcionalmente, o meristema apical do eixo caulinar que
está formando uma inflorescência produz primórdios foliares
que se diferenciam em brácteas, e na axila de cada bráctea
nasce uma flor ou uma gema que formará um ramo lateral com
flores.
As inflorescências apresentam frequentemente folhas de
proteção, denominadas de brácteas, que possuem aspecto
bastante diversificado:
- 107 -
Espata: grande bráctea que envolve a inflorescência
(ex. a inflorescência feminina do milho está envolvida
por várias espatas).
Glumas: brácteas escariosas das inflorescências das
gramíneas e ciperáceas. Nas gramíneas, cada espigueta
está envolvida geralmente por duas glumas.
Glumelas: bractéolas que envolvem cada flor da
inflorescência das gramíneas. A glumela de inserção
inferior é designada lema e a outra, de inserção superior,
pálea.
Cúpula: tipo de invólucro de brácteas, em forma de
taça, que inclui ainda a parte terminal e dilatada do
pedúnculo, como acontece nas flores femininas dos
carvalhos.
Ouriço: tipo de cúpula, coberta de espinhos, que cobre
totalmente os frutos e abre pelo cimo na maturação,
como acontece no castanheiro.
Dois tipos principais de inflorescências ocorrem nas
angiospermas: determinadas e indeterminadas.
Nas inflorescências determinadas ou monotélicas, o eixo
principal da inflorescência apresenta uma flor terminal. A
sequência de florescimento geralmente se inicia com a flor
terminal. São geralmente ancestrais em relação às
indeterminadas.
- 108 -
Nas inflorescências indeterminadas ou politélicas, a zona
de crescimento produz apenas flores laterais. A sequência de
florescimento começa fora do agrupamento, geralmente na
base.
Esquema de inflorescência determinada e indeterminada
(Fonte: JUDD et al., 2009).
Diversos tipos de inflorescência determinadas e
indeterminadas já foram descritos com base nos seus padrões
de ramificação.
- 109 -
(Fonte: JUDD et al., 2009)
- 110 -
De acordo com o número de ramos presentes (1ª, 2ª, 3ª,
4º ordem), a inflorescência pode ser classificada em dois tipos:
Inflorescência simples – Na qual os ramos não ultrapassam
aos de 1ª ordem (Racemo, Espiga, Espádice, Umbela,
Corimbo, Amento, Pleiocásio, Capítulo, etc.).
Inflorescência composta – Na qual os ramos ultrapassam aos
de 1ª ordem (Duplo racemo, Dupla espiga, Dupla umbela,
Panícula, Tirso, etc.).
Tipos comuns de inflorescência simples
Racemo – Composto de um eixo simples alongado, portando
flores laterais, pediceladas, subtendidas por brácteas e
localizadas em diferentes posições do eixo principal.
Inflorescência racemosa (Fonte: JUDD et al., 1999)
- 111 -
Espiga – Eixo simples, alongado, portando flores sésseis na
axila das brácteas.
Espiga em Bromeliaceae (Fonte: Autoras)
Amento – Tipo de espiga, geralmente pendente, onde as
flores, unissexuais e aclamídeas encontram-se em pequenos
grupos.
- 112 -
Espádice – Semelhantes às espigas, com eixo floral bastante
espessado e flores parcialmente “afundadas” no eixo. É
tipicamente protegido na base por uma grande e vistosa
bráctea denominada de espata.
Espádice em Araceae (Fonte: Autoras)
Espádice em Asplundia sp (Fonte: Autoras)
- 113 -
Umbela – Apresenta eixo muito curto, com várias flores
pediceladas inseridas praticamente num mesmo nível.
Umbela em Bomarea sp (Fonte: Autoras)
- 114 -
Capítulo – Apresenta eixo floral espessado, curto, amplamente
cônico, côncavo ou em disco plano. Pode apresentar-se como
homógamos (todas as flores iguais, liguladas ou tubulosas no
mesmo capítulo) ou heterógamos (flores liguladas e tubulosas).
Capítulos heterógamos em Asteraceae (Fonte: Autoras)
Capítulo homógamo - Flores tubulosas ( Fonte: Autoras).
Capítulo homógamo - Flores liguladas ( Fonte: Autoras)
- 115 -
Glomérulo – Inflorescência do tipo cimeira onde a inserção das
flores é fortemente congesta e a inflorescência assume a forma
globular.
Glomérulos em Leguminosae (Fonte: Autoras)
Corimbo – é um tipo especial de racemo no qual as flores
pediceladas estão inseridas em diferentes alturas no eixo
principal, mas que atingem todas a mesma altura.
- 116 -
Inflorescência corimbosa
Monocásio – Após a formação da flor terminal do eixo, apenas
uma gema lateral se desenvolve em flor, e assim por diante.
Ocorrem dois tipos distintos:
Cima helicóide (monocásio helicoidal) – Onde as flores
desenvolvem-se consecutivamente em lados alternados do eixo
floral (zig-zag).
.
Cima escorpióide (monocásio escorpióide) – onde as flores
se desenvolvem sempre de um mesmo lado do eixo floral.
Heliconia rostrata Ruiz & Pav (Fonte: autoras)
Esquema: helicoide (Fonte:Wikipédia)
- 117 -
Espigueta – Unidade básica das inflorescências de Graminae
(= Poaceae), consistindo de uma espiga reduzida, envolvida
por várias brácteas modificadas e densamente dispostas.
Espigueta Antécio
Flor
(Fonte: Wikipédia)
Escorpioides (Fonte: autoras)
Escorpioides (Fonte:Wikipédia)
- 118 -
Espigueta da aveia (Fonte: C.M.G. Reis)
Ciátio – Consiste de uma inflorescência formada por um
invólucro de brácteas, que envolve um conjunto de pequenas
flores aclamídeas (= nuas) estaminadas, que envolvem uma flor
aclamídea pistilada central. É característico de alguns gêneros
da família Euphorbiaceae.
Esquema de um ciátio em
Euphorbiaceae
(Fonte: JUDD et al., 2009)
Ciátio em Euphorbia sp (Fonte: Autoras)
- 119 -
Sicônio – É uma inflorescência carnosa e côncava, com
numerosas e pequenas flores encerradas na concavidade,
havendo apenas uma estreita abertura no ápice. Típico de
Ficus (Moraceae).
Sicônio em Ficus sp Detalhe
Tipos comuns de inflorescências compostas
Nas inflorescências compostas, o padrão de ramificação
segue o mesmo padrão de ramificação das inflorescências
simples.
Panícula – Inflorescência ramificada, composta por racemos
menores. Os eixos principais e laterais terminam por uma flor.
- 120 -
Panículas em Graminae (Fonte: Wikipédia)
(Fonte: Autoras)
Tirso – Inflorescência com eixo central indeterminado, cujas
ramificações laterais são cimeiras na porção intermediária e
flores simples nas extremidades inferior e superior.
(Fonte: Wikipédia)
Dicásio – Inflorescência onde o eixo principal produz uma flor
terminal após ter produzido os ramos laterais. Cada um dos
eixos laterais também produz uma única flor terminal e mais
dois ramos, e assim sucessivamente.
- 121 -
Dicásio (Fonte: O. Pereira)
Pleiocásio – Inflorescência cimosa, a qual na região abaixo da
flor terminal sugere mais de três ramos laterais que, por sua
vez, também produzem uma flor apical e o mesmo número de
ramos laterais.
Pleiocásio (Fonte: O. Pereira)
- 122 -
Dupla espiga – A ráquis se ramifica em ráquides que portam
flores sésseis.
Dupla espiga: (Fonte: Autoras)
4.8 SINDROME DE POLINIZAÇÃO
Em qualquer ecossistema florestal, a diversidade de
espécies é acompanhada por uma grande diversidade de
sistemas de polinização. Definida por Faegri e Pijl (1979) como
estudo da vida da flor (desde a abertura até a fertilização), a
biologia floral investiga os aspectos morfológicos das flores e as
interações ecológicas entre estas e seus polinizadores,
incluindo aspectos fisiológicos envolvidos na polinização e
fertilização.
A metodologia aplicada nestes estudos varia de acordo
com as características das espécies e com as abordagens
consideradas relevantes. Podem ser desenvolvidos estudos de
casos isolados ou estudos em nível de comunidade e,
dependendo do enfoque, podem ser aplicados no sentido de:
- 123 -
- horário;
- duração e sequência de antese;
- sexualidade das flores;
- receptividade do estigma;
- deiscência das anteras;
- quantidade, variabilidade e apresentação do pólen;
- recurso floral oferecido aos visitantes;
- sistema reprodutivo da espécie;
- estratégia de floração;
- comportamento e frequência dos visitantes, etc.
Polinização
A transferência do pólen do local onde foi formado para
uma superfície receptora é denominada polinização. Podem ser
reconhecidos dois grupos de processos de polinização:
Polinização abiótica – Realizada através de dois agentes:
água (hidrofilia) ou vento (anemofilia).
Polinização biótica – Realizada por diferentes tipos de
animais (zoofilia): insetos, aves e mamíferos. Esses animais
desenvolveram estruturas eficientes para a extração e
utilização das recompensas oferecidas pelas flores (recursos
florais).
Recursos florais
Recursos ou recompensas florais são quaisquer
componentes de uma flor ou de uma inflorescência utilizados
por animais, para garantir visitas repetidas destes (que podem
- 124 -
ou não ser polinizadores) a estas mesmas flores. As
recompensas florais podem ser consideradas como nutritivas e,
dentre as nutritivas, o pólen e o néctar são considerados os
mais comuns, havendo também óleos e resinas, entre outros
recursos.
Néctar
O néctar é basicamente uma secreção adocicada,
formada por água, diferentes açúcares (sucrose, glucose e
frutose) e outros componentes em menores quantidades
(aminoácidos, proteínas, ácidos orgânicos, fosfatos, enzimas e
vitaminas). É excretado por células glandulares ativas, que
formam os nectários, podendo ser encontrados nas sépalas,
pétalas, estames, pistilos, eixo floral ou em estruturas
especializadas como esporões.
Os nectários podem ser chamados de florais ou
extraflorais, de acordo com sua localização e de nupciais ou
extra-nupciais, se, respectivamente, têm ou não participação na
polinização.
A concentração de açúcares no néctar varia nas
diferentes espécies e pode estar associada aos diferentes
vetores de polinização. O néctar mais concentrado geralmente
está relacionado com abelhas e vespas.
- 125 -
Nectários florais em Marcgraviaceae (Fonte: SMITH et al. 2004)
Pólen
Além de ser responsável pelo transporte da informação
genética masculina, o grão de pólen, em várias flores, é
elemento de atração para muitos insetos, principalmente
abelhas. O pólen contem proteínas, gorduras, amido e
vitaminas.
As “flores de pólen” não oferecem outro recurso floral
aos polinizadores. São de fácil identificação pelo elevado
número de estames e grande tamanho das anteras, muitas
vezes com deiscência poricida, geralmente com colorido
contrastante com as pétalas. As flores de pólen em geral
produzem pólen em grande quantidade para garantir as duas
funções: reprodução e alimento. Em alguns casos há uma
separação espacial e morfológica dos estames – heteranteria
(estames diferentes para cada função na mesma flor).
- 126 -
(Fonte: JUDD et al., 2009)
Óleos
Os óleos florais são lipídeos, consistindo geralmente de
ácidos graxos. São recompensas florais muito energéticas,
encontradas em plantas. Nas “flores de óleo”, esta recompensa,
coletada exclusivamente por abelhas fêmeas, através de
estruturas especiais localizadas nas pernas anteriores e/ou
medianas, é utilizada mais comumente para a alimentação das
larvas ou com menor frequência para a construção de ninhos
ou para a alimentação das próprias fêmeas coletoras.
Os óleos florais são secretados em estruturas
glandulares denominadas elaióforos, que podem ser epiteliais -
áreas de células epidérmicas secretoras cobertas por uma
cutícula, ou tricomáticos – tricomas glandulares localizados em
diferentes regiões das pétalas, sépalas, androceu ou parte do
ovário.
Resinas
Resinas florais são recompensas não nutritivas
derivadas de misturas de triterpenos. Assim como os óleos
- 127 -
florais, são coletados apenas por abelhas fêmeas que, nesse
caso, utilizam esta recompensa para construção de seus
ninhos. São poucas as espécies que oferecem resina como
recompensa floral observada em dois gêneros de
angiospermas: Clusia e Clusiela (Clusiaceae) e Dalechampia
(Euphorbiaceae).
As abelhas coletoras de resinas florais pertencem
principalmente às famílias Megachilidae e Apidae (tribos
Euglossini, Trigonini e Meliponini).
Flores de Clusia sp, produtoras de resina
(Fonte: SMITH et al., 2004)
Outros recursos
Além dos recursos relatados, existem flores que
oferecem, como recompensa aos possíveis polinizadores:
perfumes (Orchidaceae, Gesneriaceae, Araceae,
Bignoniaceae, Solanaceae, etc.), que são utilizados como
precursores na síntese de feromônios sexuais para atração de
fêmeas e determinados locais de acasalamento; gomas locais
- 128 -
para acasalamento e/ou deposição de larvas (Ficus-
MORACEAE), poucas oferecem este recurso; abrigo para
repouso; secreções estigmáticas ou mesmo partes florais
utilizadas como alimento. Há ainda flores que não oferecem
nenhuma recompensa, atraindo os visitantes por mecanismos
de mimetismo e engano (Orchidaceae).
Polinização abiótica
É realizada através de dois agentes: vento e água.
Polinização pelo vento – anemofilia
É o tipo dominante de polinização abiótica, ocorrendo em
praticamente todas as Gimnospermas e várias famílias de
Angiospermas, especialmente em Monocotiledôneas como
Graminae, Cyperaceae e nas Hammamellidae (Dicotiledôneas).
As flores apresentam as seguintes características:
• Flores geralmente unissexuais;
• Perianto insignificante ou ausente;
• Brácteas e perianto, quando presentes são
geralmente verdes ou castanho-escuros a
avermelhados;
• Odor ausente;
• Anteras expostas, geralmente portando longos
filetes;
• Estigmas expostos, geralmente com superfície
receptiva ampla;
• Grãos de pólen muito pequenos, lisos, secos;
• Redução do número de óvulos.
- 129 -
Polinização pela água – hidrofilia
É uma condição derivada nas angiospermas e está
ligada ao habitat aquático. Ocorre na superfície da água ou
dentro desta.
Na polinização que ocorre na superfície, geralmente o
pólen é liberado na água e flutua até atingir o estigma que está
exposto (P.ex. Elodea sp- planta de aquário).
Elodea sp: hábito (Fonte: Wikipédia)
Detalhe de inflorescências com polinização anemófila (Fonte: O. Pereira)
- 130 -
A ocorrência de polinização dentro da água é registrada
para poucas plantas. Nesse caso, geralmente os grãos de
pólen são longos, com parede celulósica e se enroscam nos
estigmas, havendo um rápido crescimento do tubo polínico.
Os animais como polinizadores
Polinização biótica
É costume referir-se às flores relacionando-as com os
polinizadores, isto dá uma idéia de harmonia existente entre as
flores e os visitantes. Esta harmonia, ao longo da evolução,
propiciou diversas síndromes – reunião de características que
se desenvolvem em conjunto, provocadas por um mesmo
mecanismo - e que caracterizam as flores e os animais que as
polinizam.
Síndrome de cantarofilia (polinização por besouros)
Cor preferida – geralmente verde ou
branca;
Odor – Forte, podendo ser variado;
Horário de antese – diurno ou
noturno;
Características da corola – fechada
ou aberta;
Recompensa floral – Néctar ou
pólen.
Polinização por besouros
(Fonte: A. Lopes)
- 131 -
Síndrome de melitofilia (polinização por abelhas)
Cores preferidas – azul, amarelo, púrpura;
Odor – forte, fragrante;
Horário de antese – diurno;
Características da corola – plataforma de pouso bilateral;
Recompensa floral – néctar e/ou pólen.
Polinização por abelhas
(Fonte: Autoras)
- 132 -
Síndrome de psicofilia (polinização por borboletas)
Cor preferida – brilhante, frequentemente vermelha;
Odor – delicado e fraco;
Horário de antese – diurno;
Características da corola – Plataforma de pouso, às vezes com
esporão de néctar;
Recompensa floral – somente néctar.
Polinização por borboleta (Fonte: A. Lopes)
Síndrome de falenofilia (polinização por mariposas)
Cor preferida – branca ou pálida;
Odor – forte e adocicado;
Horário de antese – noturno ou crepuscular;
Características da corola – segmentada, às vezes com esporão
de néctar;
Recompensa floral – somente néctar.
- 133 -
Síndrome de quiropterofilia (polinização por morcegos)
Cor preferida – esbranquiçada;
Odor – forte e almiscarado;
Horário de antese – noturno;
Características da corola – flores ou inflorescências vistosas;
Recompensa floral – néctar e/ou pólen.
Polinização por morcegos (Fonte: A. Lopes)
Síndrome de ornitofilia (polinização por aves)
Cor preferida – brilhante, geralmente vermelha;
Odor – ausente;
Horário de antese – diurno;
Características da corola – tubular ou pendente, ovário
geralmente ínfero;
Recompensa floral – somente néctar.
- 134 -
Polinização por beija-flor (Fonte: Autoras)
Síndrome de miofilia (polinização por moscas)
Moscas antófilas
Cor preferida – clara;
Odor – fraco;
Horário de antese – diurno;
Características da corola – radial, aberta;
Recompensa floral – néctar e/ou pólen.
Moscas necrófagas
Cor preferida – marrom ou púrpura;
Odor – similar ao de matéria em decomposição;
Horário de antese – diurno ou noturno;
Características da corola – fechada ou aberta;
- 135 -
Recompensa floral – ausente.
4.9 Teórico-Práticas
1. Colete várias flores no campo e classifique-as quanto:
Cálice: cor, número de peças e concrescência;
Corola: cor, número de peças, simetria, prefloração,
concrescência;
Androceu: número, tamanho, inserção na flor, posição na flor
em relação à corola, número de estames em relação ao
número de pétalas, concrescência dos filetes, inserção do filete
na antera, deiscência das anteras;
Gineceu: posição do ovário, inserção do estilete no ovário,
concrescência dos carpelos, número de carpelos, número de
lóculos, numero de óvulos, placentação, número e forma do
estigma.
2. Colete no mínimo cinco inflorescências e classifique-as
quanto aos vários tipos estudados.
3. Observe no campo os vários visitantes florais em
angiospermas. Caso seja possível, observe que tipo de
material é coletado por eles.
- 136 -
- 137 -
UNIDADE 5. MORFOLOGIA DO FRUTO E
DISPERSÃO
5.1. Introdução ................................................................ 137
5.2. Partes constituintes .................................................. 138
5.3. Classificação dos frutos ........................................... 139
5.4. Semente ................................................................... 150
5.5. Dispersão ................................................................. 151
5.6. Atividades ................................................................ 153
- 138 -
5. MORFOLOGIA DO FRUTO E DISPERSÃO
5.1. INTRODUÇÃO
O fruto, no sentido morfológico, é o ovário amadurecido
de uma flor. Assim, o fruto representa a continuação de uma
estrutura da flor, o ovário, que persiste após a antese e a
polinização, transformando-se numa estrutura auxiliar de
proteção e dispersão das sementes, as quais aparecem a partir
dos óvulos fecundados. O fruto é uma estrutura exclusiva das
angiospermas.
Origem
Com a fecundação, inicia-se uma série de
transformações no saco embrionário e outros tecidos do óvulo
que levam ao desenvolvimento da semente. Paralelamente, a
parede do ovário (carpelos), transforma-se no PERICARPO, a
parede do fruto, na qual se distinguem três camadas: epicarpo
ou exocarpo (ep), mesocarpo (me) e endocarpo (en).
Corte longitudinal do fruto do abacateiro (Fonte: adaptado de
JUDD et al., 2009)
- 139 -
5.2. PARTES CONSTITUINTES DOS FRUTOS
Epicarpo – Estrutura originária da epiderme do ovário. É a
camada mais externa de um fruto e pode, em alguns casos, ser
a parte comestível deste. Pode adquirir cores e texturas
distintas como epiderme lisa, rugosa, cerosa, pilosa e com
ganchos.
Epicarpo piloso em Asclepias-Apocynaceae (Fonte: Autoras)
Mesocarpo – Estrutura originária da proliferação do tecido
fundamental da parede do ovário, posicionando-se entre o
epicarpo e o endocarpo. Pode tornar-se seco, carnoso, fibroso
ou esclereficado na maturação.
Mesocarpo seco em Leguminosae (Fonte: Autoras)
- 140 -
Endocarpo – Estrutura originária da proliferação da parede
interna do ovário, incluindo tricomas. Em alguns frutos, o
endocarpo é a principal parte comestível, mas pode se tornar
lenhoso ou pétreo, impedindo a digestão da semente.
Endocarpo com tricomas em limão (Fonte: Autoras)
5.3. CLASSIFICAÇÃO DOS FRUTOS
Para essa classificação, seguem-se os critérios básicos
seguintes: número de ovários envolvidos, natureza do pericarpo
maduro, deiscência ou indeiscência do pericarpo e modo de
deiscência, número de lóculos e sementes.
Frutos agregados
Frutos derivados de muitos ovários de uma única flor
(GINECEU APOCÁRPICO MULTICARPELAR). Na ata (Annona
squamosa), muitos ovários amadurecidos de uma única flor
estão unidos a um receptáculo comum.
- 141 -
FRUTOS MÚLTIPLOS
É originado do desenvolvimento de ovários de várias flores de
uma inflorescência que concrescem mais ou menos juntos,
formando uma infrutescência, como o abacaxi (Ananas
comosus) e o figo (Ficus pumila)
Esquema de carpelo apocárpico
Fonte: wikipedia
Fruto agregado de Annona squamosa (Fonte: Autoras)
Infrutescência em abacaxi
(Fonte: Autoras)
- 142 -
Frutos simples
São todos derivados de um único ovário de uma flor. São
originados do desenvolvimento do gineceu sincárpico. Podem
ser secos ou carnosos, uni ou multicarpelar, deiscentes ou
indeiscentes na maturidade.
Fruto simples - murici - Byrsonima sp (Fonte: Autoras).
Os principais tipos de frutos simples são classificados em dois
grandes grupos: frutos deiscentes e frutos indeiscentes.
Frutos deiscentes
São aqueles que se abrem de forma espontânea na
maturidade, geralmente são cápsulas, entretanto, bagas são
conhecidas.
Folículo em Asclepias sp -Apocynaceae (Fonte: Autoras)
- 143 -
Folículo – Fruto seco que se origina de um gineceu
monocarpelar, que se abre na soldadura dos carpelos por uma
só fenda.
Legume – Fruto seco, originado de um gineceu monocarpelar
com ovário súpero, que geralmente se abre tanto na soldadura
dos carpelos, quanto ao longo da nervura. Característico da
maioria das Leguminosae como feijão (Phaseolus sp), ervilha
(Pisum sp) e soja (Glycine sp).
Craspédio – Fruto seco derivado de um carpelo,
fragmentando-se transversalmente em seguimentos, mas, após
a queda destes, permanece presa ao receptáculo uma
armação formada pela nervura e sutura dos carpelos.
Legume fechado (Fonte: Autoras)
Legume aberto (Fonte: Autoras)
- 144 -
Craspédio em Leguminosae (JUDD et al., 2009).
Síliqua – Fruto bilocular que se abre em duas valvas, deixando
intacto o septo mediano e o chamado replo ou replum, que é
uma estrutura em forma de moldura onde se prendem as
sementes.
Esquizocarpo – Fruto originado de um ovário sincárpico cujos
carpelos separam-se na maturidade, dispersando os próprios
carpelos como mericarpos-frutículos (cada um dos carpelos é
disperso isoladamente, geralmente é deiscente). Ocorre em
algumas Euphorbiaceae, Malvaceae e Umbeliferae
Esquizocarpo em Sterculia sp (Fonte: Autoras)
- 145 -
Cápsula - Fruto derivado de gineceu sincárpico com dois ou
muitos carpelos, ficando seco (raro carnoso) na maturidade e
sempre abrindo de vários modos:
Cápsula denticida - abertura ocorre apenas no ápice;
Cápsula poricida - abertura em poros ou cavidades no
ápice do fruto;
Cápsula loculicida - abertura ao longo do lóculo
(nervura principal de cada carpelo).
Cápsula loculicida em Velloziaceae (Fonte: Autoras)
Cápsula septicida - abertura ocorre ao longo dos
septos;
- 146 -
Cápsula septicida em Bromeliaceae (Fonte: Autoras)
Cápsula septifraga - abertura ao longo do lóculo deixando
parte dos septos presos no centro do receptáculo;
Cápsula septifraga em Clusiaceae
(Fonte: JUDD et al., 2009)
Cápsula pixidiária (pixídio) - ocorre uma separação
transversal da parte apical da parede do fruto afetando
todos os carpelos e liberando as sementes.
- 147 -
Frutos indeiscentes
São aqueles que não são capazes de abrir-se
espontaneamente na maturidade, sendo as sementes
geralmente expostas pela deterioração do pericarpo ou pela
intervenção de animais.
Aquênio – Fruto de pericarpo seco oriundo de ovário
normalmente unilocular (um ou dois carpelos), raro bicarpelar.
De ovário súpero ou ínfero, contendo uma só semente que fixa-
se ao pericarpo por um pequeno ponto (ex. Asteraceae –
girassol);
Cariopse (grâo) – Fruto seco, com pericarpo completamente
unido à testa da única semente em toda sua superfície. Típico
de Gramineas;
Noz – Fruto com pericarpo seco e muito duro, contendo uma só
semente livre do pericarpo;
Cápsula pixidiária em Sapucaia (Fonte: Autoras) Cápsula pixidiária em Sapucaia
(Fonte: JUDD et al., 2009)
- 148 -
Sâmara – O fruto é originado de um ovário monocarpelar. O
fruto apresenta pericarpo seco, com uma ou mais expansões
laterais (ala), que capacita o fruto a planar a curtas distâncias.
Sâmara (Fonte: JUDD et al., 2009)
Drupa – Fruto com pericarpo carnoso, e com endocarpo
formando um único pirênio (semente recoberta por um
endocarpo coriáceo ou lenhoso e uma semente). Exs: pêssego,
ameixa, azeitona, manga e abacate.
Drupa - abacate (Fonte: Autoras)
Baga – Ovário sincárpico. Apresenta pericarpo carnoso,
geralmente com várias sementes (Ex: tomate, maracujá)
- 149 -
Baga-Passifloraceae (Fonte: Autoras)
Podem ser encontrados dois tipos especiais de bagas:
Pepônio – Tipo especial de baga, originado de um
ovário ínfero, onde o pericarpo é carnoso e as sementes
encontram-se embebidas em uma polpa suculenta, a
placenta cresce preenchendo totalmente o lóculo (Típico
das Curcubitaceae-abóbora);
Hesperídio – Tipo especial de baga, onde o epicarpo é
coriáceo com numerosas glândulas oleíferas, mesocarpo
esponjoso e o endocarpo membranáceo, formando
Pepônio – Melancia (Fonte: Autoras)
Pepônio – Abóbora (Fonte: Autoras)
- 150 -
bolsas cheias de sucos que preenchem os lóculos típicos das
frutas cítricas (Rutaceae – laranja, limão).
Hesperídio – limão (Fonte: Autoras)
Pseudofrutos
É quando, além do ovário, desenvolvem-se outras partes
da flor como, por exemplo, o pedicelo no caju e o receptáculo
na pêra e maça.
Pseudofruto – Pedicelo Cajú (Fonte: Autoras)
Pseudofruto – Receptáculo maçã (Fonte: Autoras)
- 151 -
Frutos partenocárpicos
Normalmente o desenvolvimento do fruto depende da
polinização e da fecundação e de certos hormônios de
crescimento como o ácido indolil acético (AIA). Entretanto,
alguns frutos como a banana (Musa) e o abacaxí (Ananas),
formam-se sem fecundação prévia (reprodução
assexuada/vegetativa – brotamento) e são destituídos de
sementes.
5.4. SEMENTE
A semente é o óvulo maduro, fecundado. Consta
basicamente de três partes: embrião, endosperma (às vezes
ausente) e tegumento seminal (a casca). Embrião e
endosperma são produtos da dupla fecundação, enquanto o
tegumento da semente se desenvolve a partir do(s)
tegumento(s) do óvulo.
Tanto em angiospermas como em gimnospermas, a
semente constitui a unidade reprodutiva e o início da outra
geração. A semente protege o embrião contra o ataque de
microorganismos, insetos, danos mecânicos, dessecação,
Pseudofruto – Banana (Fonte: Autoras)
Pseudofruto – Abacaxi (Fonte: Autoras)
- 152 -
tendo sido uma estrutura crucial na evolução das plantas
terrestres.
Quando madura, a semente é o meio pelo qual o novo
indivíduo é disperso. Apresenta grande diversidade estrutural,
existindo desde sementes minúsculas como as das orquídeas
até grandes como a da palmeira, a qual chega a pesar 20kg.
Após a dispersão, as sementes, caindo em meio
favorável, úmido, passam a absorver água e germinar. Entre a
dispersão e a germinação, pode decorrer muito tempo, algumas
resistem de 80-100 anos.
5.5. DISPERSÃO
O estudo da dispersão nas fanerógamas é a análise dos
mecanismos e meios utilizados pelas plantas para atingir os
locais onde as novas gerações podem ser estabelecidas.
A dispersão é feita através das unidades de dispersão
ou diásporos que podem ser as sementes, os frutos, a planta
inteira ou partes dela, ou a combinação desses.
A maioria dos tipos de frutos pode ser dispersa por uma
variedade de agentes ou pela própria planta. Partes diferentes
do fruto, sementes ou estruturas associadas (pedicelo,
perianto) podem ser modificadas e facilitar o processo de
dispersão.
Agentes de dispersão
ZOOCORIA – Quando a dispersão é realizada por
animais. Pode ainda ser classificada de acordo com o animal
- 153 -
dispersor em: Peixes (Ictiocoria); Répteis (Saurocoria),
Pássaros (Ornitocoria); Mamíferos (Mamaliocoria);
Morcegos (Quiropterocoria) e Formigas (Mirmecocoria)
ANEMOCORIA – Quando a dispersão é realizada pelo
vento, auxiliada por estruturas como alas em frutos ou
pluma formada pelo estilete persistente, por apêndices
longos e pilosos, por um perianto modificado(como
papus em Asteraceae). A distância percorrida pelos
diásporos variam muito.
HIDROCORIA – Quando a dispersão é realizada pela
água. A hidrocória pode ser realizada por chuva ou por
corrente de água.
Alguns frutos ou sementes pesados desprendem-se
da planta-mãe, caem no solo e lá permanecem. Esse
tipo de dispersão não é comum e parece ocorrer apenas
em espécies que perderam seus agentes dispersores
primários.
A dispersão pela própria planta-mãe geralmente
ocorre pela ação de mecanismos explosivos de
Sâmaras (Fonte: JUDD et al., 2009) Dispersão anemocórica de
sementes de Asclepias sp (Fonte: Autoras).
- 154 -
liberação de sementes, frutos ou porções dos frutos pela
intumescência da mucilagem da semente, por mudanças na
pressão de turgor, ou por tecidos higroscópicos.
5.6 Teórico-Práticas
1. Andando pelo campo ou visitando uma feira,
escolha vários frutos, desenhe e classifique-os quanto:
a) Consistência do pericarpo: seco ou carnoso;
b) Deiscência: deiscente ou indeiscente;
c) Classifique o fruto em: simples, agregados,
compostos e pseudofruto;
d) Tipo de fruto encontrado.
2. Escolha no mínimo cinco espécies diferentes de
plantas em frutificação e observe qual é o tipo de
agente dispersor.
- 155 -
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