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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS VALTER RIBEIRO JUNIOR GOVERNANÇA SOCIAL E A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROGRAMA DE SANEAMENTO DA BACIA DA ESTRADA NOVA (PROMABEN): UMA ANÁLISE SOCIAL

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIACENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO

CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

VALTER RIBEIRO JUNIOR

GOVERNANÇA SOCIAL E A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROGRAMA DE SANEAMENTO DA BACIA DA ESTRADA NOVA (PROMABEN):

UMA ANÁLISE SOCIAL

BELÉM - PA

Ivone, 15/05/13,
Walter, o título deve ser modificado. Precisa s voltar para antropologia. Última coisa a ser feita
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2013VALTER RIBEIRO JUNIOR

GOVERNANÇA SOCIAL E A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROGRAMA DE SANEAMENTO DA BACIA DA ESTRADA NOVA (PROMABEN):

UMA ANÁLISE SOCIAL

Monografia apresentada ao Centro de Ciências Humanas e Educação da Universidade da Amazônia, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais.Orientadora: Profa. Dra. Ivone Maria Xavier de Amorim Almeida

BELÉM - PA

2013

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VALTER RIBEIRO JUNIOR

GOVERNANÇA SOCIAL E A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROGRAMA DE SANEAMENTO DA BACIA DA ESTRADA NOVA (PROMABEN):

UMA ANÁLISE SOCIAL

Monografia apresentada ao Centro de Ciências Humanas e Educação da Universidade da Amazônia, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais.

Banca Examinadora

_________________________________________________Profa. Dra.Ivone Maria Xavier de Amorim Almeida - UNAMA

Orientadora

_________________________________________________Prof.Ms Rúbia Monteiro Pimentel Lavoura- UNAMA

Examinador

Apresentado em: _____/______/______

Conceito: ______________________

BELÉM - PA2013

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Este trabalho é dedicado primeiramente, a Deus, por sua luz constante. Aos meus familiares, pela dedicação e apoio incondicionáveis. E, a todos que lutam por uma sociedade justa e comprometida com seus sujeitos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por sua força e luz constante já que sem

Ele nada teria sido possível;

À minha família pelo apoio e dedicação incondicional que me deu forças de

seguir firme até aqui e ajudaram-me na realização deste sonho que é a Graduação;

Aos amigos de curso pela amizade desprendida e pelo apoio nos momentos

difíceis já que chegar até aqui representou um esforço coletivo;

A todos que fazem da UNAMA este centro de excelência que pode me

fornecer às ferramentas necessárias para o bom desempenho da função e por me

fazer acreditar que daqui pra frente tudo vai ser diferente;

À professora orientadora desta monografia, por sempre ter buscado me

estimular e oferecer-me as melhores condições de diálogo, reflexão e

aprendizagem, estimulando meu lado crítico e meu papel ativo, incentivando-me, dia

após dia na construção deste trabalho e, sendo, para mim, uma verdadeira amiga,

por suas instruções e contribuições.

A todos que, de alguma forma, contribuíram para o sucesso deste trabalho.

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A cidadania não é atitude passiva, mas ação permanente, em favor da comunidade.

Tancredo NevesRESUMO

O presente trabalho apresenta uma análise social sobre a questão da governança social e a influência dos stakeholders no Programa de Saneamento da bacia da Estrada Nova, denominado de PROMABEN. O referido programa busca implantar ações de desenvolvimento para a melhoria das condições de infraestrutura e saneamento básico, realizando interesse de qualidade urbana daqueles que moram ou transitam no entorno do empreendimento. O referido programa trará soluções para o mau uso e ocupação do solo urbano e tem como motivação o desenvolvimento urbano ambiental da BHEN, pois o Programa de Recuperação desta bacia (PROMABEN), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), tem por objetivo a promoção da melhoria da qualidade de vida da população do município de Belém, em especial da BHEN, através de abordagem sócio-ambiental, da valorização do meio ambiente urbano, mobilização social e redução da pobreza. Esta pesquisa interessa-se pelas possibilidades da consolidação de novas formas de governança urbana, baseadas no princípio da organização em rede, pela identificação e caracterização dos indivíduos e de suas relações e percepções sócias sobre a ação. A pesquisa foi baseada no método de estudo de caso e utilizou-se da observação participante e de entrevistas semiestruturadas como forma de coleta de dados. O estudo revelou que embora o planejamento do projeto se proponha a realizar uma gestão social, os resultados demonstram que, na prática, a parceria existente entre stakeholders, governo e sociedade civil no PROMABEN ainda carece de melhor aplicação das principais características da gestão social: dialogicidade, transparência, democracia deliberativa e cidadania. Assim, é importante pensar em uma Governança Social com o objetivo de buscar a eficiência, que estimulem e agreguem o conhecimento local.

Palavras-chaves: PROMABEN; Stakeholders; Governança Social.

Ivone, 15/05/13,
Devem ser alteradas
Ivone, 15/05/13,
Deve dar conta agora da pesquisa etnográfica – centrar a discussão da etnografia como método de investigação à luz da abordagem ggertziana. Esse dado deve ser aprofundado na introdução
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ABSTRACT

This paper presents an analysis on the issue of social governance and social influence of stakeholders in the basin Sanitation Program of the New Road, named PROMABEN. The program seeks to implement development actions for the improvement of infrastructure and sanitation, carrying interest of urban quality of those who live or travel in the vicinity of the project. This program will bring solutions to the misuse and occupation of urban land and is motivated by the development of urban environmental Bhen because the Recovery Program of the basin (PROMABEN), funded by the Inter American Development Bank (IDB), aims to further improving the quality of life of the population of the city of Belém, in particular Bhen through socio-environmental approach, enhancing the urban environment, social mobilization and poverty reduction. This research is interested in the possibilities of consolidation of new forms of urban governance, based on the principle of networking, the identification and characterization of individuals and their relationships and perceptions members about the action. The research was based on the method of case study and we used participant observation and semi-structured interviews as a means of data collection. The study revealed that while planning the project proposes to conduct a social management, the results demonstrate that in practice, the partnership between stakeholders, government and civil society in PROMABEN still needs better implementation of the main features of social management: dialogicity transparency, deliberative democracy and citizenship. Thus, it is important to think in a Social Governance in order to maximize efficiency, to stimulate and aggregate local knowledge.

Keywords: PROMABEN; Stakeholders; Social Governance.

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LISTA DE SIGLAS

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................

2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................

2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.........................................................................

2.1.1 Empoderamento................................................................................................

2.1.2 A Governança Social........................................................................................

2.2 A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DE REDES......................................

2.2 OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL......................................

2.3 OS STAKEHOLDERS....................................................................................

3 METODOLOGIA...............................................................................................

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA.............................................................

3.2 O PROJETO PROMABEN.............................................................................

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................

4.1 AS INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS NO PROJETO........................................

4.2 OS STAKEHOLDERS ENVOLVIDOS NO PROJETO...................................

4.3 AS ANÁLISES DA SOCIEDADE....................................................................

4.4 O PROCESSO DE GOVERNANÇA ENTRE OS STAKEHOLDERS E

SUAS AÇÕES DE INTERAÇÃO. ........................................................................

5 CONCLUSÃO...................................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................

ANEXOS..............................................................................................................

APÊNDICES.........................................................................................................

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Introdução; questões teóricas e metodológicas da pesquisa

Esta pesquisa propõe uma análise social sobre a questão da governança

social e a influência dos stakeholders no Programa de Saneamento da bacia da

Estrada Nova, denominado de PROMABEN, desenvolvido pela prefeitura de Belém

no estado do Pará, que desde 2005 conta com o financiamento do Governo Federal

e outros órgãos da iniciativa privada.

As diretrizes nacionais para o saneamento básico foi promulgada, em 2007,

por meio da LEI Nº 11.445/2007. Para os efeitos desta Lei, considera-se

saneamento básico um conjunto de serviços, infraestruturas e instalações

operacionais de: a) abastecimento de água potável, b) esgotamento sanitário, c)

limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, d) drenagem e manejo das águas

pluviais urbanas. Em 2011 o Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística

publicou o Atlas de saneamento básico, importante instrumento para aferir a eficácia

da Política Nacional de Saneamento Básico, e as ações governamentais, através de

programas de saneamento, em escala estadual e municipal. Baseado no que

estabelece a lei 11.445/2007, e as informações do Atlas de saneando básico

(IBGE/200011) focaremos o PROMABEN, no estado do Pará, município de Belém.

A Bacia da Estrada Nova é uma das mais populosas bacias hidrográficas que

compõem o tecido urbano do Município de Belém, localizado às margens do Rio

Guamá e Baía do Guajará, cuja superfície é recortada por inúmeros igarapés, muitos

dos quais já canalizados.

O projeto, também chamado de “Portal da Amazônia”, tem o intuito de

melhorar a frente da cidade, abrindo um verdadeiro “janelão” para o rio. Tal

empreendimento, objetiva, também, o saneamento da área e o incremento turístico.

Todavia, problematizar o PRONBEM implica em estabelecer diálogos com as

perspectivas atuais de administração pública – empoderamento; governança social-

e a organização social através de redes – os projetos de desenvolvimento social e

os Stakeholders.

Na contemporaneidade, a administração pública brasileira e mundial vem

passando por transformações estruturais e funcionais, motivadas pelas sucessões

Ivone, 15/05/13,
Precisa puxar nota de rodapé para esclarecer termo, mesmo que vá aprofundar sobre temática em capítulos posteriores
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de crises fiscais e pela perda da capacidade do Estado de ser o provedor único do

bem-estar social. Além disso, a própria complexidade dos problemas modernos,

aliada a maiores pressões da sociedade, trouxe à tona a necessidade da reforma da

maneira do Estado existir e operar, para que ele pudesse enfrentar os desafios

lançados pelos novos tempos (Guberman & Knopp, 2009).

No esteio dessas problemáticas, o mundo assistiu, principalmente a partir do

final da década de 1970, nos Estados Unidos, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália,

à emergência de movimentos reformistas no âmbito público estatal, pautados em um

conjunto de princípios, técnicas e procedimentos, visando aumentar a eficiência e a

competitividade do Estado e que ficaram conhecidas como New Public Management

ou, traduzindo para a língua portuguesa, Nova Gestão Pública (NGP).

Sob o viés excessivamente fiscalista, a proposta implementada naqueles

países, embora tenha sido relevante do ponto de vista da redução das despesas

públicas, foi precária para a garantia do atendimento das demandas e direitos dos

cidadãos, o que provocou muitas críticas e levou a uma consequente revisão

conceitual e rediscussão da NGP ao longo da década 80 e 90, do século passado.

No Brasil, a NGP exerceu influência na reforma estatal iniciada em 1995,

tendo sido remodelada ao longo dos anos. A reforma gerencial do setor público

brasileiro surgiu da necessidade de transformar o modelo e o estilo de gestão da

administração pública, para orientá-la em direção a uma maior flexibilidade, à

descentralização, à individualização das responsabilidades e à busca da eficiência

na gestão pública.

Passadas três décadas do surgimento da onda reformista pautada na NGP, e

quase quinze anos do início de sua implementação no Brasil, tem-se discutido, na

agenda política e acadêmica, os seus êxitos logrados e os limites de suas

intervenções até aqui realizadas. São notórias, no Brasil, as suas contribuições para

a melhoria do funcionamento da burocracia pública e para a institucionalização de

alguns mecanismos de controle, como o de resultados (Quirós, 2006), a competição

administrada (Abrucio, 2006) e, em menor grau, o controle social (cunill Grau, 2006).

Anterior à reforma inspirada na NGP, no Brasil já se constatava a existência

de movimentos sociais organizados, que lutavam por maior abertura, transparência

e participação da sociedade civil na gestão pública, ou seja, a cidadania ativa na

formulação, implementação e no controle das políticas públicas.

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As mudanças almejadas e provocadas na forma de condução e atuação

pública por esses dois movimentos (NGP e societal) traduzem-se na práxis, na

evolução de um government para uma governance ou da substituição, ainda que

parcial, do governance by hierarchies prevalente na burocracia estatal para novos

padrões de governança (governance) (Firmino, 2008).

Impende elucidar que a emergência da governance não implica na proscrição

do government, visto que o Estado possui legitimidade jurídico-normativa para o

exercício da autoridade que lhe foi outorgada em questões fundamentais como a

fiscalização, a regulação, a legislação, a tributação e arrecadação fiscal e a garantia

de direitos e bem-estar social.

Entretanto, na perspectiva da governance, o Estado passa a compartilhar

responsabilidades, riscos, recompensas e poder com outros atores, e isso implica a

adição de novas formas de uso de sua autoridade (Bourgon, 2010).

Robert Putnam (1993) tornou-se autor referencial nos estudos sobre a

sociedade civil, ao final do século XX e início deste. Ele desenvolveu vários

conceitos que são básicos para entender a questão do empoderamento, tais como

comunidades cívicas e capital social. O conceito de comunidades cívicas foi

caracterizado como "cidadãos atuantes e imbuídos de espírito público, por relações

políticas igualitárias, por uma estrutura social firmada na confiança e na

colaboração" (Putnam, 1993, p. 31).

Putnam (1993) diz que os hábitos democráticos derivam de relações

horizontais, espírito de reciprocidade e cooperação. Entretanto, a sua grande

contribuição foi articular estas formulações com um outro conceito, que ganhou nova

significação nos anos 1990: o de "capital social". Para ele, o conceito de comunidade

é impregnado de individualismo e o de capital social firmou-se nos círculos

intelectuais americanos para substituí-lo.

Para Putman,

capital social deve ser analisado por analogia com as noções de capital físico e capital humano, ferramentas e treinamento para intensificar a produtividade individual o cerne da idéia da teoria do capital social é que as redes têm valor...[..] Enquanto capital físico refere-se a objetos físicos e capital humano refere-se a propriedades dos indivíduos, capital social refere-se à conexão entre indivíduos, redes sociais e às normas de reciprocidade e lealdade que nascem deles. Neste sentido, capital social é claramente relatado como algo chamado "virtude cívica". A diferença é que "capital social" chama atenção para o fato de que a virtude cívica é mais poderosa quando imersa numa densa rede de relações sociais recíprocas. Uma sociedade de muitos indivíduos virtuosos, mas isolados, não é necessariamente rica em capital social " (Putnam, 2000, p. 18-19).

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No contexto de sucessivas crises de endividamento e da incapacidade do

estado de promover o bem estar social a partir da década de 80, a gestão pública

passou e vem passando por transformações funcionais e estruturais visando se

adequar dentro dos padrões do regime neoliberal de ajustes econômicos e de

políticas sociais compensatórias (PINHO, 2010). Essa série de reformas que

perpassaram por gerações de experiências e que ficou conhecida como A New

Public Management ou a Nova Gestão Pública (NGP) visava uma maior eficiência,

efetividade e competitividade do estado, onde, no Brasil essas reformas se

direcionaram para uma maior flexibilidade, descentralização, individualização das

responsabilidades e á aplicação de princípios éticos na redefinição do papel do

estado (ALCOFORADO E KNOPP, 2010).

Reforçando essa postura da sociedade civil, Denhardt e Denhardt (2003)

ressaltam que o

“ser humano é, antes de mais nada, um ser político que age na comunidade; que a comunidade politicamente articulada requer a participação do cidadão para a construção do bem comum; e que o bem comum precede a busca do interesse privado”.

Nesse contexto segundo Firmino (2011),

a atividade pública passando pelas medidas da NGP, vai experiênciar o surgimento de uma administração fragmentada, desarticulada, decorrente da tendência para a criação das agências, da privatização, da contratação externa e cita como exemplo as parcerias público-privado (PPP) na adoção de formas híbridas de organização como medidas para compensar a falta de integração e cooperação dos agentes sociais, não só essa como também existindo as organizações sociais (OS), as relações tri-setoriais, a intersetorialidade, ações locais de desenvolvimento e outras como modelos de gestão social.

Nesse sentido então é notório falar de governança pública como a relação

que se expande, saindo do isolamento intraorganizacional e buscando se inter-

relacionar-se com outros atores da sociedade partindo-se da antiga governança

pública – a governancebyhierarchies – onde predomina uma teia de relações

verticais pautada nas hierarquias (FIRMINO, 2011), para uma nova governança, que

para Martins (1998), seria o inverso da publicgovernance considerada pelo mesmo

como sendo estadocêntrica.

Neste sentido, governança é um conceito-chave para explicar estruturas e

processos relacionais complexos em diversas instâncias e níveis, tanto no seio da

sociedade civil quanto das organizações do Estado e da iniciativa privada – e entre

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todos eles. O conceito é demarcador de relações sociais e organizacionais

alternativas àquelas baseadas no centralismo decisório unidirecional, propondo a

transição de uma gestão monológica para uma gestão mais dialógica. Falar em

governança é falar em distribuição de poder entre os atores, transparência e controle

(mútuo) sobre decisões e ações.

Adjetivar a governança em função do contexto no qual ela é praticada é

exercício básico para que se possa delimitá-la no plano teórico. Quando a

governança ocorre no âmbito das organizações de mercado, denominamos

governança corporativa. Quando se operacionaliza no âmbito das organizações ou

interorganizações da sociedade civil (terceiro setor) atribuímos o nome de

governança comunitária.

Quando esse processo se dá no âmbito das organizações públicas estatais,

em um ou mais níveis federativos (multi-level public governance), atribuímos, aqui, o

nome de governança pública. Já quando é praticada em arranjos organizacionais de

composição plural, envolvendo agentes estatais e não estatais, públicos e privados

com ou sem fins lucrativos, para a co-gestão da coisa pública (defesa de interesses

públicos, co-produção de bens e serviços para a promoção do bem-estar social),

denominamos governança social. É social porque se considera a sociedade como

um todo, composta por três esferas de poder institucionalizadas: Estado (nos níveis

federal, estadual e municipal), terceiro setor, iniciativa privada.

Nessa totalidade social o Estado é apenas parte constituinte – e não por isso

menos relevante. É social porque envolve a participação de outros atores sociais –

do mercado e do terceiro setor – na feitura, na implementação, no monitoramento e

avaliação de políticas, programas e projetos públicos, junto ao Estado.

Na perspectiva da governança social existem três dimensões ou finalidades

de interação público-privado-sociedade civil, ou seja, a atuação conjunta dos três

setores para: (i) a construção coletiva da agenda estratégica pública – assegurando

maior legitimidade; (ii) a implementação de políticas e/ou a produção de bens

públicos e privados; e (iii) o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação da

política, programa, projeto, ação ou omissão pública através de diversos

mecanismos e canais democráticos de prestação de contas – assegurando

transparência, accountability e o efetivo controle social (adaptado de MARINI, 2008).

Próximo ou correlato ao conceito de governança social aqui proposto está o conceito

de intersetorialidade (FISCHER et. al., 2003) – ou parcerias, alianças e redes tri-

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setoriais (TEODOSIO, 2009), os diálogos, as conexões e intercâmbios que se

estabelecem entre os agentes dos três setores sociais para a solução de problemas

complexos.

Nesse modelo, constituir-se-ia uma economia mista, com o compartilhamento

de bens e serviços públicos e privados pelos atores dos três setores. Para a

promoção mais efetiva do desenvolvimento pelas políticas, projetos ou ações

públicas é de extrema importância a prática da governança social intersetorial em

consonância com a realidade e a dinâmica (territorialidade) dos territórios sobre os

quais elas incidem.

A territorialidade refere-se às relações que se processam nos territórios,

remetendo ao cotidiano da população; às relações entre o Estado, a sociedade civil

organizada e cidadãos, que com interações políticas, econômicas, sociais e

simbólico-culturais transformam o território em um ente vivo (SANTOS, 2006).

Segundo Fontes Filho e Louzada (2009)

a governança social é construída a partir do descentramento de tomada de decisões sobre as necessidades e demandas de determinado grupo de interesses exigindo o compartilhamento de responsabilidades dos atores envolvidos, onde o estado junto com o setor privado e com as organizações da sociedade civil passam a agir de maneira articulada em rede na formulação, implementação, execução e avaliação das politicas e programas sociais.

Dessa forma as fronteiras entre os três setores tornam-se menos rígidas,

havendo maior permeabilidade entre o estatal e o não estatal onde estado e

sociedade tornam-se um todo indivisível estabelecendo-se um encadeamento lógico

de atribuições e compromissos de cada parte. (BRESSER-PEREIRA, 1998).

Já a definição de Governança utilizada vem de Bresser-Pereira (1998), está

ligada à forma com que se utilizam os recursos e a capacidade para

transformar em realidade, de modo eficiente, as políticas públicas formuladas pelos

governos no regime democrático. Governança e governabilidade são conceitos que,

muitas vezes, se confundem, pois não estão consolidados na sociedade. Enquanto

governabilidade se refere á capacidade política de um governo de agir conforme os

seus apoios representativos e da sociedade, “governança é a capacidade financeira

e administrativa, em sentido amplo, de um governo implementar políticas.” Por esse

conceito de governança adotado, é importante distinguir, também, para fins

didáticos e de aplicação aos trabalhos, a governança pública da governança social.

A governança pública refere-se à estrutura organizacional e de meios que um

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determinado ente federativo disponha para exercer sua função de Estado e que

viabilize a realização dos seus programas e projetos sociais. Enquanto que a

governança social é a estrutura social existente numa determinada localidade,

também para viabilizar a ação social e o desenvolvimento, só que nesse caso não

só do Governo do ente federado, mas também das demais instituições que

compõem a sociedade, como o mercado e a sociedade civil.

Enquanto a governança pública está relacionada ao aspecto interno da

administração pública, à sua máquina administrativa, a governança social está

ligada às relações formadas entre as instituições do Estado, mercado e

terceiro setor em uma determinada localidade, que se manifesta, especialmente,

pelas inter-relações estabelecidas entre elas e pela complementaridade de suas

ações, tendo sempre o Estado como coordenador desse processo.

O modelo de governança pública prevê uma nova organização da

máquina administrativa do Estado para atuar segundo suas novas funções e papéis,

especialmente no momento de reformas do final do século XX e após a Constituição

Federal de 1988, em que o Estado se torna o organismo central da sociedade, que

articula o mercado e a sociedade civil, além de suas próprias organizações,

para atuarem segundo seus papéis. Paraisso, esse mesmo Estado necessita

ter instituições fortes e ágeis.

Conforme Bresser-Pereira (2007):

Além de ser capazes de construir democraticamente uma estrutura legal adequada à consecução dos objetivos da sociedade, a organização do Estado ou a administração pública deve ser eficaz e eficiente no fornecimento dos serviços exigidos pelos eleitores.

Segundo Bresser-Pereira (2007),

o modelo estrutural de governança pública, proposto pela reforma da gestão pública de 1995 é importante para o Estado, independente da ideologia do governante, pois possibilita que o Estado possa atuar como articulador das instituições da sociedade, junto ao mercado – promotor do desenvolvimento – e as entidades da sociedade civil, para promover o desenvolvimento econômico e a justiça social.

O reconhecimento de que as organizações não contemplam em si mesmas

todos os recursos e competências necessárias para uma oferta compatível com a

demanda é um dos fatores que remete as organizações a afirmarem suas ações

articuladas de complementaridade em redes. Segundo Rodrigues (2006), a palavra

rede vem do latim retis, que significa teia, tratando-se de um entrelaçamento de fios

que formam uma espécie de tecido de malha aberto. O termo vem ganhando novos

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significados, entre eles, a relação de pessoas e organizações que mantêm contato

entre si com um objetivo comum.

O conceito de redes aparece como chave cognitiva privilegiada na compreensão das mudanças de grande magnitude que ocorrem nas esferas políticas, econômicas e sociais. Alguns pré-requisitos para a formação de redes são apresentados a seguir: 1) No plano social, a preexistência de um conjunto de organizações e/ou associações criadas para a consecução de propósitos específicos; 2) No plano estatal, a preexistência de um conjunto de órgãos instituídos para a consecução de propósitos específicos, distribuídos por esferas e setores de governo relativamente estanques; 3) Situações-problema complexas identificadas; cujo enfrentamento requer intervenção por agente intersetorial ou interorganizacional; 4) Formação de uma articulação visando formas de atuação conjunta e à cooperação de diversos esforços voltados ao enfrentamento da situação-problema, sem prejuízo da autonomia de cada uma das unidades integrantes da rede; 5) Manutenção da identidade e prosseguimento das atividades específicas de cada unidade integrante da rede. (MINHOTO; MARTINS, 2001, p. 92).

Ainda segundo Minhoto e Martins (2001)

as mudanças no modelo organizacional de hierarquia para o de estado-rede vai se constituir como uma das marcas significativas das reformas implementada através de novos arranjos institucionais permeada por uma alta performance estratégica tendo como características principais a horizontalidade dos saberes, autonomia dos participantes e compartilhamento de informações.

Marshall (1982) destaca que a aglomeração das organizações em estruturas

de redes resulta em maior competitividade em relação a outras organizações

dispersas no sistema econômico, tendendo a desenvolver formas de ações

conjuntas, que possibilitem ganhos de eficiência e de competitividade.

As observações anteriores ganham força por meio de estudos de vários

autores, que colocam a capacidade de geração de vantagens competitivas como

uma das principais características dessa forma de cooperação em redes, dentre

eles: Garcia (2001), Porter (1998), Schmitz (1992) e Scott (1994).

Há várias razões para as empresas cooperarem em redes horizontais. Essas

razões observam as diferenças de objetivos estratégicos, de posições de mercado,

ações atuais e passíveis de outras empresas e o status corrente da própria

empresa. Observando-se a teoria da dependência de recursos, pode-se afirmar que

as empresas cooperam em redes pela busca de recursos valiosos que elas não

possuem. (KASA, 1999 apud PEREIRA; PEDROZO, 2003).

A estrutura de redes está diretamente relacionada à cooperação entre

diferentes atores. Segundo Casarotto e Pires (2001), a sistemática de redes se

apresenta de duas formas. A primeira é a rede do tipo topdown, na qual uma

organização pequena pode tornar-se fornecedora ou sub-fornecedora de uma

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empresa mãe, sendo uma rede na qual as pequenas organizações dependem

diretamente das estratégias da empresa-mãe, tendo pouca ou nenhuma flexibilidade

e influência nos destinos do grupo.

O segundo tipo de rede, ainda segundo Casarotto e Pires (2001), é um

sistema flexível de organizações considerado o sustentáculo de sociedades

altamente desenvolvidas. Nesse caso, as empresas se unem por consórcio com

objetivos amplos ou mais restritos, sua relação cultural é altamente relevante e sua

concretização está fortemente ligada aos modelos de desenvolvimento regional.

Esse tipo de relação está chamando a atenção de vários pesquisadores do mundo

pela possibilidade de geração de empregos e de assegurar desenvolvimento

sustentado.

Algumas possibilidades de abrangência são observadas no sistema de

consórcios: fabricação do produto, valorização do produto, valorização da marca,

desenvolvimento de produtos, comercialização, exportação, padrões de qualidade,

obtenção de créditos, capacitação, entre outras.

A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico- OCDE -

define “local” como um espaço que detém uma identidade, uma dinâmica própria e

especificidades que mantêm as relações de interdependência com áreas mais

vastas. No Brasil, o que se denomina “local” remete à esfera municipal, que é um

ambiente que não oferece uma grande variedade de atores, nem as condições

de informações e facilidades de comunicação suficientes para garantir os laços

entre as diferentes redes sociais, que são fatores importantes para as ações de

desenvolvimento.

Para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES,

o desenvolvimento local é uma estratégia que atravessa os âmbitos empresariais, institucionais e da sociedade civil e busca construir o “sentido de comunidade local”, inicialmente a partir da construção de uma identidade territorial, evoluindo em seguida para a sustentabilidade dos projetos de ações desenvolvimentistas. Isto aponta para diferentes caminhos segundo as características e capacidade de cada economia, recursos e capital social da comunidade.

Segundo Arns et al (2004),

a inserção econômica e social das populações carentes é um grande desafio para os governos e sociedade. No entanto, os meios e instrumentos para viabilizar essa inserção são de difícil implementação.

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Em nível conceitual, estão surgindo alguns consensos quanto às estratégias

que levem nessa direção, como participação, autonomia, descentralização,

integração de ações e controle social. No entanto, o desafio maior é

transformar em prática estas proposições nas quais se confundem aspectos técnicos

e ideológicos.

De acordo com Ávila (2001),

os governos têm sido pressionados pela comunidade nacional e internacional, pela sociedade civil organizada e por usuários dos serviços públicos a apresentarem maior eficiência na aplicação dos recursos orçamentários e efetividade nos resultados esperados das políticas e programas sociais.

A mesma pressão se faz sobre as organizações não -governamentais

que, subvencionadas com recursos estatais, de agências multilaterais e da

iniciativa privada transitam entre o campo privado e o público, muitas vezes com

pouca clareza sobre sua atuação.

Evidenciando a reflexão sobre o turismo sustentável, coloca-se em questão O

Programa de Reabilitação Urbana e Ambiental da Bacia da Estrada Nova

(PROMABEN), mais conhecido como “Portal da Amazônia”, uma proposta de

intervenção na orla sul da cidade de Belém, com a pretensão de revitalizar a orla

para fins de lazer e turismo. O PROMABEN na sua essência, trata-se de um

programa que engloba vários projetos; prevê a abertura da orla de Belém até a

Universidade Federal do Pará, com seis pistas, de 70 metros de largura, com área

de passeio, estacionamento e ciclovia. Parte do espaço deverá ser reservada para

área de lazer, incluindo quadras de esporte, áreas com equipamentos de ginástica,

restaurantes e quiosques, nos moldes das orlas construídas nos grandes centros,

como Recife e Rio de Janeiro.

O uso do termo stakeholder começou a se generalizar recentemente, no final

da década de 80, cujo marco foi o trabalho de R. Edward Freeman em Strategic

Management: a Stakeholder Approach, publicado em 1984.

O objetivo principal desta teoria era oferecer aos empresários e executivos

uma ferramenta para compreenderem os interesses e os desejos do “outro”

(isto é, dos stakeholders, definidos como os indíviduos afetados e/ou

interessados, direta ou indiretamente, pelos empreendimentos econômicos) e

aprender a lidar, estrategicamente, com eles e a gerenciar as diferentes

percepções e interesses.

Page 21: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

Para desenvolver tais estratégias, segundo ele, seria necessário responder

a três perguntas básicas sobre seus stakeholders: 1. Quem são eles? (seu perfil,

atributos e características de comportamento)2. O que eles querem? (refere-se aos

seus interesses e metas) 3. Como eles tentarão atingir suas metas e satisfazer seus

interesses? (esta questão é relativa aos meios para se alcançar os fins)

Como uma figura de retórica, o “capitalismo de stakeholder” fornece uma

visão mais amplae inclusiva do papel e das responsabilidades das empresas

na sociedade, além de apenas remunerar seus acionistas. O termo apenas

recentemente foi incorporado ao contexto legal, enquanto que o termo shareholder

(acionista) já é utilizado há muito tempo.

Os stakeholders de uma companhia têm poder porque carregam um

“stake” (um bastão, de madeira ou metal), simbolicamente entendido como uma

poderosa arma capaz de destruir a empresa quando seus interesses não são

satisfeitos. Os chamados stakeholders voluntários são aqueles que suportam

alguma forma de risco em antecipação a alguma forma de ganho, ou incremento de

valor. São eles: os acionistas, os empregados, os fornecedores, e os consumidores.

E os stakeholders involuntários estão expostos ao risco sem conhecimento prévio e

sem garantia de benefício: o governo, as comunidades e o meio ambiente.

O diálogo com grupos de interesse é uma metodologia participativa, de

consulta social, que mapeia e caracteriza o perfil de cada stakeholder e capta sua

percepção e as suas expectativas sobre uma determinada empresa e sua atividade.

A coleta de dados é feita de forma sistemática, executada por uma

equipe multidisciplinar, orientada para obter, no menor tempo possível, e

evitando-se gastos excessivos, novas informações e hipóteses. Foi desenvolvido

como uma alternativa às tradicionais análises sobre a situação social nos países

em desenvolvimento, que envolvem coleta exaustiva de dados e um grande

número de pesquisadores, durante um longo período de tempo, acarretando num

aumento substancial dos custos de pesquisa.

Além disso, ao incorporar a consulta direta a indivíduos representativos dos

grupos e técnicas de dinâmica de grupo, faz emergir uma série de demandas,

expectativas e problemas não captados através dos canais fixos e formais de

comunicação.

Durante as dinâmicas coletivas, criam-se oportunidades para a população

local colaborar ativamente não só no levantamento dos dados, mas, também,

Page 22: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

na construção da análise, aportando, a esta, particularidades do sistema e

“insights” pessoais suscitados pela dinâmica coletiva.

O programa de consulta sistemática aos stakeholders fornece,

fundamentalmente, um quadro das tendências comportamentais e das possíveis

estratégias a serem adotadas pelos diferentes grupos de interesse face a uma

determinada situação. Neste sentido, é um instrumento apropriado para captar a

dimensão de subjetividade existente em todo e qualquer processo de escolhas e de

decisão estratégica dos atores sociais.

As técnicas de Diálogo com os Stakeholders passaram a ser cruciais, não

apenas na comunicação interna dos órgãos responsável de um projeto, mas

também, na formulação da estratégia que visem expressar o compromisso com a

sociedade.

Assim, o objetivo geral desta pesquisa é investigar as possibilidades da

consolidação de novas formas de governança urbana, baseadas no princípio da

organização em rede, identificando e caracterizando os envolvidos.

De forma específica, quer-se verificar os interesses dos diferentes

stakeholders, a partir de suas metas, interesses e meios de ação; identificar o nível

de interação entre os satakeholders; caracterizar as instituições envolvidas; analisar

a percepção da sociedade e de todos os envolvidos quanto aos reais objetivos e

alcances da ação; analisar o processo de governança entre os stakeholders e suas

ações de interação.

A pesquisa busca salientar diferenças no que diz respeito aos motivos

ideológicos que estimularam a ampliação da participação pública ao processo de

concretização das práticas interativas e, finalmente, aos atores sociais a cujo

fortalecimento se visa por meio de novos arranjos políticos, bem como também

busca enfatizar as diferentes percepções da sociedade civil sobre a ação envolvida.

Partindo de uma reflexão teórico-conceitual sobre a concepção da

governança urbana, este trabalho pretende discutir a experiência do Portal da

Amazônia, envolvendo a participação pública na cidades de Belém, no que diz

respeito à sua possível contribuição para consolidar novo modo de governança

urbana, alinhado com as potencialidades da emergente sociedade em rede e capaz

de lidar com as crescentes tensões e contradições que caracterizam as cidades

contemporâneas.

Page 23: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

Desta forma, metodologicamente, propõe-se o método qualitativo para servir

de base a pesquisa. Uma pesquisa de abordagem qualitativa se faz necessária, pois

segundo Minayo (2007), essa abordagem trabalha com o universo dos significados,

dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Os

fenômenos humanos passam a ser entendido como parte da realidade social, pois o

que distingue o ser humano não é só o agir, mas o pensar sobre o que produziu e

por interpretar suas ações a partir da realidade vivida.

A pesquisa de campo, segundo Duarte (2002, p. 152) “implica incorporar

referências teórico-metodológicas de tal maneira que se tornem lentes a ferramentas

invisíveis a captar sinais, recolher indícios, descrever práticas, atribuir sentido a

gestos e palavras”. Corresponde à coleta de informações no local onde o fenômeno

ocorre. A confiabilidade e legitimidade de uma pesquisa empírica dependem,

fundamentalmente, da capacidade de o pesquisador articular teoria e empiria em

torno de um objeto, questão ou problema de pesquisa, demanda esforço, leitura e

experiência.

No processo de coleta de dados, foram realizadas entrevistas com 20

sujeitos- moradores de áreas do entorno do projeto PRONABEM e Portal da

Amazônia. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, cuja estrutura

investigativa pretendeu traçar um perfil desses sujeitos – STAKEHOLDERS – quem

são? O que almejam? quais expectativas possuem em relação a essas obras?

Desta forma, este trabalho visa chamar atenção para os impactos

socioculturais e econômicos do Programa Portal da Amazônia para a comunidade

do bairro do Jurunas na capital paraense, bem como verificar de que forma a

comunidade está sendo beneficiada e incluída socialmente no Programa.

1- O que é o projeto PRONABEM?

O Programa PROMABEN contempla um conjunto de obras nos canais

principais das sub-bacias da Bacia da Estrada Nova. As obras envolvidas são de

caráter repetitivo e por este motivo o programa se estrutura a partir de uma amostra

representativa de investimentos composta de intervenções nos canais Caripunas,

Timbiras e Bernardo Sayão.

As obras da Bacia da Estrada Nova fazem parte de um extenso projeto da

Prefeitura Municipal de Belém (PMB), com recursos próprios e financiamento do

Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por meio de empréstimo contraído

Page 24: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

pela PMB. As obras vão começar na Rua Veiga Cabral, no bairro da Cidade Velha, e

seguirão até a Avenida Fernando Guilhon, na Cremação. Depois chegarão aos

bairros de Nazaré, Cremação, Jurunas, Batista Campos, Condor, São Brás e

Guamá. Em todo percurso serão promovidas ações de recuperação de canais e

urbanização completa das áreas, entre outros serviços como capacitação

profissionalizante, formação de empreendedores e educação ambiental. Pois, o

PROMABEN é um programa cujo objetivo é a recuperação da bacia da estrada

nova, um ambiente tomado completamente pela ocupação desordenada, área com

indicadores sanitários e epidemiológicos altíssimos, devido a precárias condições de

vida dos mais de 300 mil habitantes que ocupam esta área.

Figura 01 – Imagem aérea do Portal da Amazônia

Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazônia

O Banco Interamericano de Desenvolvimento está financiando este projeto

para o município de Belém, com o a finalidade de conservar o meio ambiente

equilibrado, promovendo a sustentabilidade ambiental do uso e ocupação do solo.

O projeto Portal da Amazônia é composto por dois grandes projetos: a

Macrodrenagem da Estrada Nova e a Orla de Belém, seguido pela abertura da orla

até a Universidade Federal do Pará, e este projeto é formado por parcerias entre o

Governo Federal e órgãos de iniciativa privada.

Page 25: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

O Projeto tem como alvo beneficiar a vida de mais de 200 mil pessoas

melhorando o saneamento da área e incrementando o turismo. Para execução

completa de toda a obra, a prefeitura tem buscado parcerias com os governos

Federal e Estadual, além de recursos, através de financiamento do BID (Banco

Interamericano de Desenvolvimento), e apoio da iniciativa privada. O projeto prevê a

abertura da orla até a Universidade Federal do Pará, com seis pistas, de 70 metros

de largura, com área de passeio, estacionamento e ciclovia.

O projeto foi desenvolvido pela prefeitura de Belém que tem por objetivo torna

o PORTAL da AMAZÔNIA uma iniciativa de desenvolvimento à cidade de Belém,

tanto na parte de infra-estrutura, visando à proteção do Rio Guamá para controlar a

entrada da água quando coincide o período de chuvas com a cheia da maré, o

saneamento da área em que constitui o projeto, quanto na parte estética da cidade,

que em meio à implantação deste empreendimento se formaria um “janelão” na

frente da cidade de Belém, ampliando o seu campo de turismo gerando emprego e

renda em meio à entrada e saída de turistas à cidade.

A formação do turismo através do PORTAL da AMAZÔNIA gera o

desenvolvimento local, progredindo a integridade cultural através da conservação e

uso dos recursos naturais ligados as necessidades econômicas, sociais e estéticas,

visando contribuir para as oportunidades sociais com a geração de emprego e

viabilidade competitiva da economia. Outro fator de grande ênfase no programa do

PORTAL da AMAZÔNIA seria a Reabilitação Urbana e Ambiental da Bacia da

Estrada Nova, devido ao fato de existir a proposta de intervenção na orla da cidade

visando para fins de lazer e turismo. A ilustração abaixo apresenta o projeto em sua

versão original:

Figura 02 : Projeto Portal da Amazônia

Page 26: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazonia

2- O discurso oficial

O Portal da Amazônia tem a missão de “mudar a cara da cidade” sem

esquecer as características ribeirinhas da área envolvida no bairro do Jurunas, com

habitações ainda sem saneamento básico, água encanada e algumas sob o rio

extravasando seus dejetos no mesmo.

Figura 03 – Vista aérea do Portal da Amazônia – Maquete eletrônica

Page 27: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazonia

O projeto urbanístico do Portal da Amazônia, pelo menos em sua versão

original, privilegia a paisagem do lugar. Toda estrutura do complexo permite “olhar o

rio” em toda sua extensão. A pouca arborização do espaço sinaliza para a vasta

dimensão de água que se estende para além da dimensão da cidade, com

visibilidade que alcança a região das ilhas, pelo menos aquelas que ficam de frente

para a cidade de Belém.

Porém, o próprio discurso afirma que o Programa seguirá os moldes das orlas

construídas nos grandes centros brasileiros, como Rio de Janeiro e Recife, que têm

realidades sócio-espaciais bem diferentes da realidade belenense.

A intervenção urbana está dividida em quatro eixos, o primeiro visa à melhoria

da drenagem urbana, o qual inclui a micro e a macrodrenagem, no sentido da

construção de sistemas de drenagem de águas pluviais, proteção de cabeceiras,

construção e adequação de canais, implantação de galerias e coletores pluviais,

responsabilizando-se também pelo reordenamento e reassentamento de famílias

através do desenvolvimento de soluções habitacionais para as pessoas que vivem

nestes locais. O segundo eixo visa à infra-estrutura viária, que inclui a construção de

vias ao longo dos canais de drenagem e a via do rio Guamá que receberá o

tratamento urbano-paisagístico e será interligada a parques lineares.

Na sequência, o terceiro eixo é o de infra-estrutura de saneamento, o qual

financiará as inversões em serviços de água potável e esgotamento sanitário das

comunidades reassentadas. O último visa à sustentabilidade social e institucional,

que inclui três programas: participação comunitária, comunicação social e educação

ambiental (BELÉM, 2007).

No discurso oficial, o projeto da Macrodrenagem pretende beneficiar

diretamente 200 mil famílias que moram próximas do canal que se estende ao longo

da Av. Bernardo Sayão. Uma área que apresenta altos índices de pobreza e

insalubridade e que, pelo projeto, será transformada com limpeza e recuperação do

canal, com instalação de drenagem e esgoto, além da construção de ruas e

calçadas urbanizadas com áreas de lazer. O projeto ainda prevê a construção de

novas moradias e indenizações para as famílias que deverão ser realocadas em

função das obras.

Para a execução da Macrodrenagem, a Prefeitura de Belém conta com um

financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no valor de

Page 28: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

U$135 milhões. Sob a coordenação do Programa de Saneamento da Bacia da

Estrada Nova (PRONABEM), a construtora Andrade Gutierrez é responsável pelas

obras previstas para o trecho entre a Rua Av. Veiga Cabral à Av. Fernando Guilhon

e adjacências, com contrato no valor de R$149.533.106,38. Já a Orla de Belém vem

para complementar o projeto da Macrodrenagem, ampliando os benefícios para os

moradores da área e de toda a capital paraense. De acordo com dados do projeto,

serão 6 km de orla entre o Mangal das Garças e a Universidade Federal do Pará:

uma verdadeira janela voltada para o Rio Guamá, equipada de infraestrutura

adequada para a prática de esportes ao ar livre, realização de eventos, turismo e

lazer. A Andrade Gutierrez também é responsável pelas obras da Orla de Belém,

sob a coordenação da Secretaria Municipal de Urbanismo. Abaixo, algumas imagens

do Portal da Amazônia, com seus espaços voltados para a prática de esportes,

turismo e lazer:

Figura 04 – imagem de uma das quadras polivalentes

Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazonia

Figura 05 – Vista da orla do Portal da Amazônia

Page 29: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

Fonte: www.prefeituradebelemqportaldaamazonia

Figura 05 – Vista de um dos quiosques do Portal da Amazônia

Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazonia

À primeira vista, podemos pensar o Portal da Amazônia e todo projeto da

Macrodrenagem como derivada de hábitos democráticos (PUTNAM,1993),

derivados de relações horizontais, espírito de reciprocidade e cooperação. E, por

conseguinte, seu projeto – desde a fase de planejamento à execução – contou com

a participação efetiva do “capital social” (PUTNAM, 1993) diretamente envolvidos –

os Stakeholders.

Na mesma proporção, o projeto PRONABEM pode ser pensado como fruto de

uma gestão social, cujo eixo pauta-se na garantia de participação, autonomia,

descentralização e integração de ações e controle social por parte das comunidades

envolvidas. Já que os governos, pressionados por setores nacionais e

internacionais, assim como pela sociedade civil organizada, tendem a apresentar

maior eficiência no planejamento e aplicação de recursos voltados para programas

de políticas sociais.

Page 30: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

Todavia, quando se investiga o outro lado do projeto, ou seja, os

Stakeholders, a visão desses sujeitos se contrapõe ao discurso oficial e seus

discursos revelam a visão unilateral da ideia de progresso e desenvolvimento social

legitimada nos documentos e falas oficiais. Eis o que vamos tratar no próximo tópico.

3- O outro discurso: a visão dos Stakeholders

Como já foi ventilada na introdução deste texto, a categoria Stakeholder foi

utilizada foi utilizada nos estudos sobre gestão social por R. E. Freeman (1984). Tal

categoria passou a se constituir em ferramenta utilizada por empresários e

executivos na busca da compreensão sobre interesses e desejos do “outro” –

indivíduos afetados e/ou interessados, direta ou indiretamente, pelos

empreendimentos econômicos. De acordo com o autor, antes de desenvolver

qualquer estratégia de desenvolvimento econômico, seria necessário responder a

três perguntas sobre os Stakeholders: quem são? O que querem? Como irão atingir

suas metas e satisfazer seus interesses?

No processo de realização da pesquisa de campo mantivemos contato com

vinte sujeitos, moradores em áreas diretamente afetadas pelo projeto PRONABEM e

Portal da Amazônia. Neste estudo tais sujeitos são considerados stakeholders. Na

esteira de Freeman (1984), procuramos direcionar as entrevistas, tentando traçar um

perfil destes sujeitos, indagando sobre as perguntas –chave e, para além, tentando

sobretudo compreender qual a visão que possuem sobre o projeto PRONABEM e

Portal da Amazônia.

Os vinte sujeitos entrevistados são homens e mulheres que residem na Av

Bernardo Sayão - em travessas, ruas e passagens que margeiam esta avenida - ,

inseridos na faixa etária de 29 a 75 anos. Deste universo investigado, 45%

desenvolvem atividades informais – são vendedores ambulantes, biscateiros,

lavadores de carro. Já 55% estão inseridos no mercado formal de trabalho –

vendedores de lojas no Centro Comercial de Belém, empregadas domésticas e

agentes de saúde. Uma parcela significativa, 63% advém da região das ilhas –

Combu, Cotijuba, Acará. Apenas 37% diz ter nascido em Belém, no mesmo espaço

que estão até hoje, como ilustra a fala de D. Maria:

[...] eu nasci aqui. Meu pai e minha mãe vieram de Abaetetuba para

trabalhar aqui. Viemos todos, eu e meus irmãos. Essa casa é minha. Meu

pai construiu a dele ai na frente e aqui atrás é de todos os filhos. Quando

Page 31: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

chegamos, aqui era um alagado só. Não tinha rua, era estiva. Quando

chovia, isso alagava tudo. (D. Maria do Perpétuo Socorro. Moradora da

Pass. União. Vendedora ambulante. Entrevista concedida em 03 de maio de

2013)

O nível de escolaridade dos entrevistados oscila entre 1º grau incompleto –

58% e 2º grau completo – 42%. Deste universo, as mulheres se destacam. 83%

concluíram o 2º grau. Este dado permite compreender porque as mulheres

investigadas possuem maiores remunerações – em média 1 salário mínimo e meio –

em se comparando com os homens, que possuem média de remuneração entre

meio a um salário mínimo.

Das unidades domésticas, apenas 23% possuem sanitário próprio. O

restante, ou seja, 77% não possuem, fazendo uso de espaços coletivos – banheiros

e sanitários existentes nas vilas.

Estes sujeitos, quando começaram a ter conhecimento a respeito do projeto

PRONABEM e Portal da Amazônia, criaram expectativas positivas. Acreditaram que

suas vidas iriam mudar para melhor, principalmente em relação à moradia. Sobre

este fato, Seu Domingos diz:

Quando os funcionários da prefeitura vieram fazer a inscrição da gente,

pegar os dados, ver as casas, eles informaram que ia acontecer esse

projeto, que a gente ia se cadastrar para o programa de moradia, que as

casas iam ser de alvenaria e que a gente ia ser indenizado. Todo mundo da

rua começou a ficar feliz, né? A gente ia finalmente ter uma vida melhor[...]

como era muita gente, o pessoal da prefeitura disseram que ia primeiro os

moradores mais antigos, mais velhos, né? Mas até hoje eu não sei lhe dizer

como estão fazendo essas coisas. A gente não tem informação. O pessoal

da associação de moradores já foi na prefeitura, mas não informam direito,

só dizem que estão estudando[...] e a gente continua desse jeito (Seu

Domingos da Costa. Vendedor ambulante. Morador da passagem Feliz.

Entrevista concedida em 08 de setembro de 2012)

Dona Conceição tem visão semelhante a de seu Domingos e diz que:

[...] depois que a prefeitura reunião com a gente, todo mundo ficou cheio de

esperança. Na conversa os funcionários ficaram perguntando da gente o

que a gente achava do projeto, o que a gente queira, se ia melhorar a vida

da gente, essas coisas. O pessoal ficou feliz, achando que ia mudar, que os

nossos filhos iam ter espaço pra brincar, que a gente ia sair da lama, mas

ainda está tudo do mesmo jeito. (D. Conceição Silva. Comerciária. Moradora

da Passagem Coração de Jesus. Entrevista concedida em 08 de setembro

de 2012).

Page 32: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

A conclusão da primeira parte do Portal da Amazônia não é vista da mesma

maneira pelos entrevistados. 25% considera uma obra importante para a cidade e

75% acredita que a obra não trouxe nenhuma melhoria para os moradores da área.

No grupo dos que consideram a obra importante para Belém está D. Orlandina que

diz:

Eu achei maravilhoso. É tudo muito bonito, né? Eu consegui montar minha

banca de bombons e vendo lá. Bem perto do quiosque. É dessa venda que

eu tiro meu sustento e sustento meus filhos. Então, eu posso dizer que pra

mim melhorou, né? (D. Orlandina Pereira. Moradora da Av. Bernardo Sayão.

Entrevista concedida em 08 de setemro de 2012)

Já no grupo dos que não observam nenhuma melhoria para os moradores da

área, a fala de D. Maria é significativa, quando diz que:

[...] eu não vejo melhorias nenhuma pra gente daqui. A gente

continua sem saneamento. O aterramento só ficou lá no início, aqui continua

tudo desse jeito [...] Fui nesse portal só uma vez. É bonito. Mas a gente não

come boniteza. Cadê que esse projeto trouxe emprego pros moradores

daqui? Quem tá empregado? A gente nem pode passear por lá. Final de

semana é só gente de carrão que anda de bicicleta, de patins [...] outro dia

meu neto me pediu um patim pra andar na orla, e eu disse pra ele, com que

dinheiro que ia comprar? Só se deixasse de comprar comida. Meu neto

ficou chorando...( D. Maria do Perpétuo Socorro. Moradora da Pass. União.

Vendedora ambulante. Entrevista concedida em 03 de maio de 2013)

Ao analisar as falas dos sujeitos investigados, percebe-se uma série de

contradições cuja integração prevista pelo programa entre os stakeholders

envolvidos é insuficiente, há planos diferenciados de ações, falta de comunicação

entre os mesmos tornando o projeto sombrio, confuso e de difícil entendimento até

mesmo aos seus técnicos.

A dificuldade de acesso do próprio autor desta pesquisa aos projetos de cada

órgão participante do planejamento desta obra foram grandes, como através da

Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo, onde alguns documentos sobre o

andamento do projeto não puderam ser analisados com a justificativa de que, devido

a reestruturação das secretarias, com a troca de secretários e assessores, as

autorizações para visualizar os documentos requeridos levariam tempo para serem

adquiridas, ou seja, se para pesquisas acadêmicas as barreiras são várias, como

Page 33: Monografia - Valter Ribeiro - Stakeholders do Promaben.doc

seria para um morador local, com pouco entendimento sobre projetos urbanísticos

verificar a situação da obra?

As contradições no PROMABEN são grandes e perceptíveis aos mais atentos

sobre o andamento das obras, existe uma batalha judicial em torno da realização

dos Estudos de Impacto Ambiental previsto na legislação urbana atuante

(EIA/RIMA), estudo este que só foi aplicado após as denuncias feitas a OAB (Ordem

dos Advogados do Brasil) e mídia local por parte dos moradores do bairro e que foi

concluído em setembro de 2007 por empresa de Engenharia contratada da

prefeitura. Há ainda a discussão sobre o aterro utilizado na obra (aterro normal que

é retirado de qualquer área) sendo que no projeto original constava que seria

utilizado aterro hídrico, retirado do fundo do próprio rio, que não afetaria o meio

ambiente e ainda ajudaria na continuidade da economia local, tornando a orla mais

navegável em nível de profundidade, posto que no bairro do Jurunas utiliza-se

bastante o rio como meio de transporte.

Essas são apenas algumas das lutas encaradas para a execução do

programa. Mas há destaque principalmente ao fato da Prefeitura ter desconsiderado

que qualquer grande intervenção urbana exige o levantamento de Estudo de

Impacto de Vizinhança (EIV).

Baseados no Estatuto da Cidade é que seriam obtidas as licenças ou

autorizações de construções. O EIV tem a função de levantar os elementos positivos

e negativos de qualquer empreendimento ou atividade pública visando à qualidade

de vida da comunidade local e de áreas próximas.

Fundamentadas na ideia de sustentabilidade e da apresentação da atividade

turística como uma conciliadora do processo de desenvolvimento regional e local, é

possível desvelar os princípios básicos para que haja integração entre comunidades

e seus agentes do progresso.

No Turismo sustentável as características naturais e culturais de uma região,

bem como, na maioria dos casos, as suas características sociais e comunitárias

representam a oferta potencial do território que o desenvolvimento turístico procura.

Assim sendo, a atividade turística só pode ser eficiente e viável num médio e longo

prazo se garantir que os recursos de que depende vão ser mantidos e mesmo

melhorados. Como refere R. Butler,

"turismo sustentável é o turismo que se desenvolve e mantém uma área (ambiente, comunidade) de tal forma e a uma tal escala que garante a sua viabilidade por um período indefinido de tempo sem degradar ou alterar o

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ambiente (humano ou físico) em que existe e sem pôr em causa o desenvolvimento e bem-estar de outras atividades e processos" (Butler, 1993).

Ao excluir a escuta do morador no processo de implantação de um Projeto

nega-se categoricamente um dos príncipios fundamentais da sustentabilidade, que é

o de inserção da comunidade no seu local de origem. É preciso apresentar formas

de atrelar o progresso que será trazido pelo Portal da Amazônia a comunidade já ali

existente.

4- Considerações finais

Ao fim da pesquisa, com base no referencial teórico, é oportuno sugestionar

algumas estratégias que propiciem a inserção da comunidade no Portal da

Amazônia, como, por exemplo: a criação de postos de informações ao morador; a

integração entre a comunidade e os técnicos da prefeitura por meios de reuniões

periódicas, explicando de forma objetiva como acontecerá o processo de

remanejamento e reassentamento das famílias dando a oportunidade de voz aos

autóctones; o atrelamento entre ONG’s, consultores ou instituições especializadas a

fim de mostrar à população seus direitos e responsabilidades na construção da obra.

Conclui-se que o “Portal da Amazônia” é muito mais que um programa de

intervenção urbanística e apresenta a possibilidade de mudar a realidade de uma

parcela da população que não cresceu “de costas para o rio”, desenvolvendo de

maneira diferenciada modos de produção e de sociabilidade. É notório que essa

população está as margens das discussões e tomadas de decisões sobre as

alterações em seu local de moradia, que o poder público ao elaborar o programa

não ouviu seu principal contribuinte, fiscalizador e supervisor, o povo.

O PROMABEN quando lançou mão das práticas discursivas acabou por

abdicar da sua legitimação.

Através das práticas observadas, em se tratando de planejamento voltado

para o setor do turismo, é bastante difícil estabelecer ações que priorizem a

população local, já que há uma tendência em tomar como primeira meta o aumento

do número de turistas bem como da qualidade na prestação dos serviços. No

entanto, as lacunas observadas através deste estudo no planejamento do “Portal da

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Amazônia” devem ajudar próximas pesquisas a compreender as falhas e a mostrar

que é possível gerar o desenvolvimento local com inclusão social.

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