monografia silvana pedagogia 2011

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS VII SENHOR DO BONFIM SILVANA DOS SANTOS COSTA CULTURA DE MASSA E LUDICIDADE: A influência dos meios de comunicação de massa no brincar das crianças da Escola Municipal Floriano Peixoto SENHOR DO BONFIM BA 2011

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Pedagogia 2011

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Page 1: Monografia Silvana Pedagogia 2011

1

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

SILVANA DOS SANTOS COSTA

CULTURA DE MASSA E LUDICIDADE:

A influência dos meios de comunicação de massa no

brincar das crianças da Escola Municipal Floriano Peixoto

SENHOR DO BONFIM – BA

2011

Page 2: Monografia Silvana Pedagogia 2011

2

SILVANA DOS SANTOS COSTA

CULTURA DE MASSA E LUDICIDADE:

A influência dos meios de comunicação de massa no

brincar das crianças da Escola Municipal Floriano Peixoto

Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do curso de Pedagogia: Docência e Gestão de Processos Educativos, pelo Departamento de Educação – Campus VII da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Orientadora: Profª. Rita de Cássia Oliveira Carneiro

SENHOR DO BONFIM – BA

2011

Page 3: Monografia Silvana Pedagogia 2011

3

SILVANA DOS SANTOS COSTA

CULTURA DE MASSA E LUDICIDADE:

A influência dos meios de comunicação de massa no

brincar das crianças da Escola Municipal Floriano Peixoto

Aprovada em ______de ______________ 2011.

_________________________________________________

Profª.Rita de Cássia Oliveira Carneiro

_________________________________________________

Avaliador(a)

_________________________________________________

Avaliador(a)

Page 4: Monografia Silvana Pedagogia 2011

4

Dedico este trabalho aos meus filhos

Lucas e Isabelly Vitória e meu esposo

Loilton, pela força e inspiração, em todos

os momentos difíceis, me impulsionando

a buscar vida nova a cada dia, meus

eternos agradecimentos. A Deus, pai todo

poderoso, que incomparável na sua

infinita bondade compreendeu os meus

anseios transmitindo o dom da sabedoria

e a necessária coragem para atingir o

objetivo em todos os momentos da minha

vida, te agradeço infinitamente por mais

essa conquista.

Page 5: Monografia Silvana Pedagogia 2011

5

AGRADECIMENTOS

À Universidade do Estado da Bahia – Campus VII, representada pelos professores

direção e funcionários, pelo carinho, dedicação e entusiasmo demonstrado ao longo

do curso.

À professora Rita Carneiro pelo incentivo, simpatia e presteza no auxílio às

atividades e discussões sobre o andamento desta monografia.

Aos professores em especial, que souberam além de transmitir seus conhecimentos,

transmitiu-nos suas expectativas e ajudaram a tornar visíveis as nossas dificuldades.

Aos colegas da turma 2007.1, pelo incentivo e pelo apoio constante na troca de

informações e materiais demonstrando amizade e solidariedade.

A toda a minha família e amigos, que com muito amor e compreensão contribuíram

dando coragem e perseverança.

E a todos que direta e indiretamente contribuíram para a conclusão deste curso

Page 6: Monografia Silvana Pedagogia 2011

6

“Nada lhe posso dar que não exista em

você mesmo. Não posso abrir-lhe outro

mundo de imagens além daquele que há

em sua própria alma. Nada lhe posso dar

a não ser a oportunidade, o impulso, a

chave. Eu o ajudarei a tornar visível seu

próprio mundo, e isso é tudo”.

Herman Hesse

Page 7: Monografia Silvana Pedagogia 2011

7

RESUMO

O presente trabalho de conclusão do curso de licenciatura em Pedagogia Gestão e Docência em Espaços Educativos têm como objetivo, compreender como a cultura de massa tem interferido a relação da criança com o lúdico e modificado as formas de brincar das crianças, sob a influência dos meios de comunicação de massa elemento tão presente na sociedade contemporânea. A pesquisa teve como lócus a Escola Municipal Floriano Peixoto, no município de Jaguarari. Os sujeitos escolhidos foram 20 estudantes do 3° ao 5º ano, do Ensino Fundamental, sendo que destes 10 são do sexo feminino e 10 do sexo masculino. A escolha da faixa etária se deu ao percebermos que nessa idade eles sofrem uma influência maior da cultura de massa, o que pode incidir no conteúdo das brincadeiras, pois os mesmos estão mais vulneráveis a influência da mídia principalmente a televisiva. Para coletarmos os dados necessários utilizamos a observação sistemática e a entrevista semiestruturada. A pesquisa realizada foi de cunho qualitativo, onde procurou-se analisar as formas de brincar das crianças e o que elas pensam sobre os meios de comunicação de massa e de que forma estes influenciam em sua relação com o lúdico, chegando a conclusão diante do objetivo da nossa pesquisa. Para a realização da pesquisa utilizou-se como base teórica a leitura e abordagens dos seguintes autores: Giroux (2001), Santos ( 2001,), Kishimoto (2001),Negrine (1994,), Baccega (2000), Levin (2001), Borba (2005), Viana (2002), Postman (1999), entre outros que serviram de base para a escrita e discussão do presente trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Ludicidade - Cultura de Massa - Brincadeiras Infantis - Escola

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

CAPÍTULO I: PROBLEMÁTICA: A SOCIEDADE NO ATUAL CONTEXTO

GLOBALIZADO ....................................................................................................... 12

CAPÍTULO II: QUADRO TÉORICO: EXPLORANDO CONCEITOS CHAVE .......... 19

2.1 O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE .................................................. 19

2.2 O PROFESSOR,A CULTURA DE MASSA E A LUDICIDADE ............................................. 22

2.3 AS INFLUÊNCIAS DA CULTURA DE MASSA NAS BRINCADEIRAS INFANTIS ........................ 24

2.3.1 ESCOLA E CULTURA ....................................................................................... 26

CAPÍTULO III: TRILHA METODOLÓGICA: APONTANDO O CAMINHO ............... 28

3.1 PESQUISA QUALITATIVA......................................................................................... 28

3.2 O AMBIENTE DA REALIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................. 30

3.3 SUJEITOS PESQUISADOS ....................................................................................... 30

3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .................................................................... 31

3.4.1 A OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA ......................................................................... 32

3.4.2 ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ..................................................................... 33

CAPÍTULO IV: DE QUÊ E COMO BRINCAM AS CRIANÇAS: O QUE NOS

REVELAM OS DADOS ............................................................................................ 35

4.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS ................................................................................ 35

4.1.1 OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA ............................................................................ 35

4.2. O QUE NOS CONTAM AS CRIANÇAS SOBRE O BRINCAR: OS RESULTADOS DA ENTREVISTA40

4.2.1 OS PROFESSORES DINAMIZAM AS AULAS ATRAVÉS DE ATIVIDADE LÚDICAS? O QUE

OS ALUNOS DIZEM A RESPEITO DISSO ........................................................................ 41

4. 2. 2BRINCAR DE QUE? O QUE ELES MAIS GOSTAM? ................................................ 43

4.2.3. BRINQUEDOS CONSTRUÍDOS OU COMPRADOS. O QUE É MAIS INTERESSANTE? ..... 45

4.2.4 BRINCADEIRAS INFANTIS: DO QUE MAIS GOSTO DE BRINCAR?.............................. 48

4.2.5 TELEVISÃO: O QUE E QUANDO ASSISTIR? .......................................................... 50

Page 9: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 52

REFERÊNCIAS..........................................................................................................55

ANEXOS

Page 10: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico, requisito necessário para a conclusão do Curso de

Pedagogia, tem por finalidade consolidar o aprofundamento teórico em torno do

tema cultura de massa e ludicidade, resultante dos estudos realizados ao longo do

curso e que suscitou o objeto desta pesquisa.

O nosso objeto de estudo surgiu da inquietação e do anseio de aprofundar os

conhecimentos sobre a temática pesquisada, buscando compreender a influência

que a sociedade de consumo exerce na relação dos sujeitos como lúdico e, em

especial, das crianças. Desta forma nasceu o desejo de compreender como a

cultura de massa tem interferido e modificado a relação da criança com o lúdico e

suas formas de brincar. Partindo da nossa experiência anterior com o estágio

definimos como lócus da pesquisa uma escola para, naquele lugar observarmos o

brincar das crianças e as interações que elas estabeleciam com as brincadeiras

infantis. Além disso, seria mais fácil entrevistá-las saber do que brincavam e das

brincadeiras e brinquedos que gostavam.

Portanto, procuramos direcionar teoria e prática com o objetivo de melhor

compreender a finalidade proposta da pesquisa através dos métodos utilizados para

coletar dados.

O referido trabalho é composto de quatro capítulos, a saber:

Capítulo 1: Problematização. Nesse capítulo trouxemos um breve histórico sobre o

processo de globalização no mundo contemporâneo sob a ordem do capitalismo,

problematizando a temática pesquisada e apresentando nossa questão e o objetivo

de nossa pesquisa.

Capítulo 2: Fundamentação. Nesse capitulo, foi apresentada a fundamentação

teórica com base em alguns autores que subsidiaram essa pesquisa de uma

maneira contextualizada; e ainda apresentamos alguns subtítulos a fim de melhor

fundamentar o trabalho, a exemplo de: A importância da educação na

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contemporaneidade, a influência da cultura de massa nas brincadeiras infantis,

ludicidade e cultura de massa e o professor, a cultura e a ludicidade.

No terceiro capítulo, apresentamos a metodologia empregada, assim como os

instrumentos de coleta de dados utilizados dando sustentação ao enfoque qualitativo

adotado no presente estudo.

No quarto capítulo, foi apresentado a análise e interpretação dos resultados da

pesquisa, obtidos através dos instrumentos de coleta de dados, em que procuramos

responder ao nosso questionamento e atender aos objetivos desta pesquisa.

Finalizamos, apresentando as considerações finais, onde expomos os resultados

alcançados através da presente pesquisa resultantes da análise e interpretação dos

dados.

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CAPITULO I

PROBLEMÁTICA: A SOCIEDADE NO ATUAL CONTEXTO GLOBALIZADO

A sociedade contemporânea é marcada pelo processo de globalização ou de

unificação do mundo sob a ordem do capitalismo e tem como um dos seus

pressupostos a incorporação dos vários segmentos da população à lógica do

consumo. Estas mudanças impactam na organização da vida em sociedade, das

famílias e das relações comunitárias.

A sociedade de consumo tem como objetivo primordial tornar a todos consumidores,

e para isso se faz necessário produzir objetos, criar necessidades e desejos de

possuir esses produtos. E neste contexto, os meios de comunicação têm um papel

importante na produção da necessidade de consumo e na construção dessa

necessidade, numa velocidade vertiginosa, buscando massificar o acesso a

determinados bens.

Esse fenômeno fez surgir uma grande quantidade de consumidores formados e

padronizados pela propaganda. Desta forma, não se usa mais determinado produto

ou coisa pelo fato de gostar, ou pela necessidade real que se tem, mas pelo

marketing na qualidade da marca e por outros aspectos, muitas vezes irrelevantes,

com o intuito de vender o produto.

Na contemporaneidade não se vende apenas bens de consumo, mas também

cultura, que se tornou um produto, tal qual um sapato ou comida, nas prateleiras do

mercado. Nesse sentido, as crianças constituem hoje uma importante fatia do

mercado, o que tem provocado um incremento da produção cultural voltada para a

infância, sobretudo daquela da ordem da cultura de massa.

A mídia, principalmente a televisiva, tem exercido forte poder sobre a formação

cultural da infância, quando se associa com as tendências da TV, para fragmentar e

descontextualizar a realidade. “Nesse sentido é preciso ficar atento, pois, a “mídia” é

capaz de influenciar das formas mais diversificadas, a vida cotidiana e a atuação

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política dos indivíduos a maneira como agem, sentem, desejam, lembram, convivem

e resistem” (IRACI SANEMATSI, 2007, p.120).

Como um dos veículos mais importantes do mundo capitalista, a televisão tem como

fio condutor a ideia de que os interesses comerciais ditam a cultura infantil, está

pautada em transformar os pequenos em consumidores, pois à mídia o que importa

é o lucro, não interessando o bem estar das crianças. Não há dúvida de que a

infância e a cultura infantil estão mudando, muitas vezes como resultado de seu

contato com outras manifestações mais adultas da cultura de massa e da cultura

que é produzida para a infância. E é no interior dos lares que ela está inserida, como

observa Baccega (2000) visto que:

(...) a televisão, com meio século de presença entre nós, compartilha com a escola e a família o processo educacional, tendo se tornado um importante agente de formação. Ela até mesmo leva vantagem em relação aos demais agentes: sua linguagem é mais ágil e está muito mais integrada ao cotidiano: o tempo de exposição das pessoas à televisão costuma ser maior do que o destinado à escola ou à convivência com os pais (p. 95).

Os valores familiares, que sempre se pautaram no respeito e no bom

relacionamento entre pais e filhos, observamos que na atualidade essa estrutura

está em desequilíbrio, e os que mais sofrem com isso são as crianças. Com o

esfacelamento da estrutura familiar, resultante do divórcio e de lares onde os pais

trabalham fora e ficam pouco tempo com os filhos, vive-se, hoje, a era das gerações

de “esquecidos em casa”, e na sua maioria entregues à babá eletrônica: a televisão.

Crianças que, em grande parte, têm sido obrigadas a se desenvolverem por si

mesmas.Levin (2001), ao discorrer sobre a criança diante da informática científica-

tecnológica, enfatiza a sua posição alienante diante da imagem:

O fascínio da imagem coloca a criança em posição geral passiva e basicamente alienante; entregue à televisão, ao computador ou aos jogos eletrônicos, o pequenino chega a tornar-se anônimo perante o imaginário tecnológico que o cativa a todo momento, num imobilismo obscenamente indiferente. (...) A criança fica “privatizada” pelo imaginário atual como objeto de mercado, de consumo sem artifício, sem criação, sem invenção; e nessa situação de objeto de consumo ela cumpre a sua função de consumir banalmente essas mesmas imagens que a aprisionam, privando-a de seu corpo, banalizando seu desenvolvimento (p.49).

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A criança, portanto, desde pequena entra nesse mundo de fantasia e quando não

acompanhada e orientada se torna alvo fácil de manipulação. A ausência e a falta de

acompanhamento dos pais nessa fase fazem com que a televisão acabe cumprindo

o papel de agente modelador dessas crianças que podem se tornar jovens e adultos

alienados. Segundo Prestes (2005),é justamente as mudanças ocorridas na família

que permite a liberdade dos filhos e “a participação dos pais na escola influencia

para uma melhor aprendizagem, apoio e educação” (p.35).

Para Borba (2005), a cultura de massa, principalmente a televisiva, faz com que a

criança ignore as desigualdades que marcam a sociedade, e quando representadas

na televisão quase sempre estão descontextualizadas e deslocadas da realidade da

criança. Um exemplo disso são os papéis destinados aos negros ou pardos na

televisão. Percebe-se, nitidamente que os papéis que os brancos fazem são de

heróis, de ricos, de uma classe superior ao papel que é destinado ao negro. Essa

divisão é vista e não passa despercebida nem pelos pequenos, e mesmo às vezes

disfarçada, esses papéis refletem na vida cotidiana das pessoas, principalmente se

não há uma mediação do adulto para fazer as crianças pensarem sobre estas

questões.

Ao fazer uma análise dos filmes e brinquedos destinados às crianças Giroux (2001,

apud, BORBA, 2005, p. 5), aponta que até existe “os heróis não-americanos –como

Aladim cujos traços, entretanto, não retratam o árabe, e sim o americano branco –

ou bonecas como a Barbie Jamaicana e de outras etnias”, mas estas têm como

modelo a “Barbie americana e loura, apenas vestindo trajes típicos”. Desta forma, a

indústria encontra novas maneiras de produzir em grande escala o mesmo produto,

mudando apenas alguns elementos para atrair o interesse do consumidor. Nesse

sentido Viana (2002), afirma que:

Todo esse processo reproduz interesses da classe dominante. A indústria cultural produz uma padronização e manipulação da cultura reproduzindo a dinâmica de qualquer outra indústria capitalista, a busca do lucro, mas também reproduzindo as ideias que servem para sua própria perpetuação e legitimação e, por extensão, a sociedade capitalista como um todo (p.13).

Page 15: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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Vale ressaltar, que nos últimos anos tem-se assistido a uma progressão assustadora

da indústria cultural destinada às crianças permitindo o que para alguns autores

significa “a existência de uma pedagogia cultural baseada na TV, no cinema, nas

revistas, nos jornais, nos brinquedos, nas propagandas, nos videogames, nos livros,

nos esportes, etc.” (STEINBERG &KINCHELOE, 2001, CASTRO, 1998, apud,

BORBA, 2005).

É evidente que nos dias atuais a centralização do poder está cada vez mais nas

mãos de poucos, tendo assim total liberdade para produzir qualquer tipo de cultura

infantil lucrativa já que cada vez mais, formam-se maiores corporações que

funcionam como grupos dominantes. Neste sentido, percebe-se o interesse de

grandes corporações (seguradoras, bancos, o comércio em geral), em apresentar-se

nas propagandas como os melhores interesses da família, e para isso usam

frequentemente a criança como foco de suas campanhas de mídia, com o

significado de promessa de segurança e felicidade. Segundo Postman (1999), a

televisão na nossa sociedade não faz distinção entre crianças e adultos, denotando

que:

[...] aproximadamente 3 milhões de crianças (com idades de dois a onze anos) assistem à televisão todas as noites do ano entre 11 e 11:30; 2 milhões e 100 mil assistem à TV entre 11:30 e meia-noite; 1 milhão e 100 mil entre meia-noite e meia e uma da manhã; e quase 750 mil entre 1:00 e 1:30 da manhã. Isso acontece não só porque a forma simbólica da televisão não propõe mistérios cognitivos, mas também porque um aparelho de televisão não pode ser escondido numa gaveta ou colocado numa prateleira alta, longe do alcance das crianças (p.94).

A criança tem sido vista pela indústria como mais um consumidor em potencial e

para isso tem investido na divulgação de seus produtos através da grande mídia

com o objetivo de ressaltar a importância de a criança possuir um determinado

brinquedo ou jogo, não ocorrendo uma preocupação com valores, riscos e demais

problemas que o mesmo venha causar em um futuro próximo, cabendo a pais e

professores atentarem-se para a necessidade de orientaras crianças sobre como

agir diante das investidas da propaganda televisiva.

Page 16: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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Tornou-se comum, na maioria das famílias contemporâneas, trocarem o tempo de

conversa entre pais e filhos pela convivência silenciosa em torno de uma tela de TV,

este “fenômeno típico dos tempos modernos”, atinge, principalmente, crianças e

jovens, em todas as classes sociais, quer dentro da própria família, quer nas ruas

(JOBIM & SOUZA, 1998, apud, BORBA, 2005).

Ressalta-se ainda, que a mídia televisiva tem enorme papel na relação entre infância

e cultura, não apenas por ser o veículo de circulação de modelos, mas por ser um

centro elaborador de mensagens que modelam os comportamentos humanos,

constituindo suas principais redes de referências, e tendo as crianças como foco,

pois elas são vista como consumidoras atuais e futuras. Para Feilitzen (2002):

[...] há uma exceção, em que as crianças são representadas com maior frequência no contexto da mídia – nos comerciais. O fato de as crianças serem mais comuns nos comerciais do que no contexto da mídia em geral é um sinal de seu alto valor de consumo econômico na sociedade – como consumidores atuais e futuros e como conceitos de venda e estratégias de propaganda para produtos, valores e estilos de vida (p.23).

Nessa sociedade da informação e do consumo, as Instituições de Educação têm um

imenso desafio de tentar, na contramão da cultura de massa, educar as crianças

pequenas para um mundo mais solidário, levando em conta as crianças como

produtoras de cultura. Nesta perspectiva a escola deve ser entendida como um

espaço de produção de cultura e os sujeitos desse processo devem cotidianamente

vivenciar um ensino que respeite a diversidade cultural e ao mesmo tempo

trabalhando para que a sala de aula seja um espaço de vivência dessa diversidade.

Para Durkheim (1973), “a educação não é um elemento para mudança social, e sim

pelo contrário, é um elemento fundamental para a conservação e funcionamento do

sistema social” (p.52). Portanto, a escola deve relacionar os saberes do passado e

do presente, e principalmente articular o conhecimento que é adquirido dentro e fora

deste espaço educacional. É indispensável que a escola reconheça o papel de cada

sujeito inserido em seu contexto, priorizando o seu desenvolvimento, o seu

conhecimento e indispensavelmente a sua cultura.

Page 17: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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Desde a Educação Infantil, esse ensino deve estar presente, pois a criança nesse

processo vai tendo a oportunidade de experimentar, inferir, levantar hipóteses,

produções, conquistas, fazendo com que se concretize a vivência da diversidade no

dia a dia da criança.

Para tanto, pensar sobre a Educação e sobre o currículo desse ensino é um desafio

que vem percorrendo caminhos muitas vezes paradoxais ao longo de sua história,

cabendo assim ao profissional da educação criar, na sala de aula, espaço de troca

de saberes, onde os educandos possam, nessa etapa educativa, viver a experiência

de um ensino rico em afetividade e descobertas, oportunizando-os a adquirir novas

aprendizagens, que não deve ser resumida a repetição e/ou transferência dos

conteúdos.

Neste contexto, tanto a Instituição de Educação Infantil quanto as escolas do Ensino

Fundamental e os professores não podem esquecer que a mudança na realidade

econômica, associada ao acesso das crianças às informações sobre o mundo

adulto, transformou drasticamente a infância. Desta forma, a Instituição e seus

profissionais têm um grande desafio na educação das crianças, pois a tendência

destas, em copiar modismos implantados e divulgados pela cultura de massa, faz

surgir uma preocupação entre toda sociedade, a de que as antigas brincadeiras,

jogos e outras atividades fiquem esquecidos na oralidade dos pais.

Entretanto, este é um desafio que as Instituições de Educação e os professores

precisam enfrentar tentar entender como as crianças brincam, hoje, como estão

elaborando a cultura e ao mesmo tempo disponibilizar às crianças o acesso aos

bens culturais, historicamente produzidos, e o acervo de jogos e brincadeiras

tradicionais para ampliar o desenvolvimento e a compreensão da sua história

enquanto ser humano.

Diante da problemática apontada a nossa questão de pesquisa, no presente estudo,

é compreender como a cultura de massa tem interferido e modificado a relação da

criança com o lúdico e as formas de brincar das crianças na escola. Acreditamos

que o nosso estudo possa servir como reflexão sobre a temática, suscitando um

Page 18: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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olhar mais acurado sobre a influência da cultura de massa nas formas de brincar das

crianças, além de aprofundar os conhecimentos sobre a temática pesquisada, e as

possibilidades de intervenção pedagógica.

Page 19: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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CAPÍTULO II

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: EXPLORANDO CONCEITOS CHAVE

De acordo com a problemática apontada no capítulo anterior e com os objetivos

propostos para esta pesquisa que é compreender como a cultura de massa tem

interferido e modificado a relação da criança com o lúdico e as formas de brincar das

crianças na escola, percebemos a necessidade de explicitar de forma mais

aprofundada a discussão teórica dos conceitos norteadores da pesquisa que

orientam a leitura e interpretação dos dados, dando sustentação à análise que

realizamos. Desta forma, situamos o papel da educação na contemporaneidade, as

influências da cultura de massa nas brincadeiras infantis, O professor, a cultura de

massa e a ludicidade.

2.1O papel da educação na contemporaneidade

Atualmente as informações chegam ao público com certa facilidade, pelos mais

diferentes meios. Tais informações transmitidas pela mídia têm como objetivo

influenciar a formação da opinião do telespectador, mas também vender diversos

produtos. Embora os meios de comunicação não tenham nenhuma preocupação

educativa, eles estão presentes no cotidiano dos alunos e influenciam na educação

e na construção de costumes e valores. Desse modo os meios de comunicação,

como a televisão, a internet, o rádio, o jornal, têm a capacidade de incentivar e

mudar os padrões culturais de uma determinada sociedade.

Para Gonçalves (1990), o rádio, os jornais e em especial a televisão são

unanimemente reconhecidos, como fatores de influência determinante no campo

social. A televisão em especial, combina palavras, imagens e música que interferem

na própria linguagem usada por crianças e jovens que adotam o uso de gestos

corporais, onomatopéias, gírias, palavras e expressões que ela veicula.

Na contemporaneidade estes meios de comunicação de massa têm ganhado um

lugar de destaque nas famílias brasileiras, sendo que a prática de assistir TV, e o

Page 20: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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uso rotineiro de alguns instrumentos das novas tecnologias já se configuram, para

muitos, como um vício. As crianças já não utilizam as férias escolares para correr,

pular, usar a imaginação, etc., e nos finais de semana não participam, por exemplo,

de atividades lúdicas que fizeram parte da infância de seus pais. Um grande número

de crianças tem passado muito tempo em frente à televisão e, muitas vezes, as

brincadeiras e atividades são reproduções da influência que a cultura de massa

exerce sobre elas.

A sociedade contemporânea tem modificado constantemente a concepção de

criança e de infância em função dos interesses comerciais. Assim, ao refletir sobre o

papel da criança na sociedade moderna, Levin (2001),afirma que

O reinado da criança-filho como objeto de consumo e consumidor cresce e se acelera. O tempo da criança fica cada vez mais cheio de atividades, instruções e propostas. O império do consumo e da imagem faz suas vítimas e seus vitimários consumindo esse irrecuperável período da infância (p.45).

No entanto, é preciso refletir, no mundo contemporâneo, sobre o papel da educação

na vida das crianças e adolescentes visto que a escola parece um pouco distante da

rapidez com que a mídia trata as informações. Há algumas décadas o professor

tinha, no espaço da sala de aula, a autoridade e domínio sobre o conteúdo, sendo o

aluno apenas um reprodutor destes conteúdos. Hoje esses alunos têm acesso a

todo tipo de informações que provocam uma transformação no modo de pensar e

agir, tanto dos educandos, que antes não questionavam nada, quanto nos

educadores que pensavam serem os donos da verdade. Desta forma, não dá para a

escola ignorar o poder que a televisão e outros meios eletrônicos exercem sobre as

crianças, é preciso levar em consideração e utilizar essa influência em favor da

educação das crianças e por isto é indispensável que o fazer pedagógico considere

tudo aquilo que a criança traz consigo, suas experiências e vivências cotidianas.

É evidente que sendo a escola espaço de construção de uma das dimensões do ser

humano, ela deve ser agente determinante, crítico, capaz de oferecer instruções aos

educandos, cabendo a esta instituição educacional formar seres humanos

questionadores capazes de não serem manipulados no atual contexto globalizado.

Page 21: Monografia Silvana Pedagogia 2011

21

Assim, a educação na contemporaneidade deve ser vista como elemento

fundamental no desenvolvimento do individuo, tanto na sua personalidade social,

ética e moral quanto na sua capacidade física, psicológica, e cognitiva.

Vale ressaltar que o docente ao ensinar, deve levar o aluno para o novo para a

descoberta, buscando no aluno um ser questionador, levando-o construir a

autonomia. O professor, os pais, a comunidade, a sociedade civil, entidades civis e

governamentais precisam considerar o que realmente importa para o aluno, o

conteúdo é importante desde que este não seja trabalhado numa perspectiva da

educação bancária, onde o aluno é visto de maneira passiva. Assim, a escola não

pode ser vista como um local de treinamento, onde o professor fala e o aluno repete.

Ela precisa ser um espaço de construção do conhecimento, onde o aluno tenha

oportunidade de tomar iniciativa diante das situações, proporcionando ao mesmo o

desenvolvimento de sua autonomia, base de alicerce para o exercício da cidadania e

da construção de um ser crítico.

Considerando o modo que se busca aproximar o saber cultural do aluno para

estimular o aprendizado e conseguir resultados promissores, é desejável que se

gere no educando a autoconfiança, buscando motivá-lo internamente para a

aprendizagem.Embora o que se observa em muitas unidades escolares é ainda uma

visão limitada sobre quais conteúdos devem ser trabalhados ao longo do ano letivo,

esquecendo que o aluno tem que ser motivado para a aprendizagem, através de

atividades motivadoras e atraentes que desperte na curiosidade do mesmo.

Sendo assim, uma das maneiras de chegar-se a esta determinada motivação em

sala de aula encontra-se na iniciativa lúdica. Pensando neste aspecto, o educador

tem importante papel na mediação pedagógica, por isso se faz necessário que ele,

saiba escolher os jogos e brincadeiras, de acordo com a faixa etária das crianças e

com os objetivos a serem alcançados. Sobre essa temática Negrine (1994, p. 13)

pontua que “O professor deve estar preparado não apenas para atuar como

animador, mas também como observador e investigador das relações e

acontecimentos que ocorrem na escola”.

Page 22: Monografia Silvana Pedagogia 2011

22

2.2 O Professor, a cultura de massa e a ludicidade

Dentro da relação cultura e ludicidade faz-se necessário observar que desde muito

cedo a criança sofre grande influência da cultura de massa, no que se refere à

transmissão de valores e ideias formuladas pelo complexo capitalista que, no

processo de globalização, se utiliza dos meios de comunicação de massa para

divulgar a ideia de uma nova dinâmica lúdica.

Assim, por meio da massificação da propaganda, a criança passa a cultuar novos

jogos e brinquedos que apenas vêem a criança como mera consumidora e

reprodutora de valores, e desta forma contribui para a eliminação de elementos que

fazem parte da cultura em que o aluno está inserido.

Vale salientar que em qualquer prática lúdica a criança desenvolve um determinado

conhecimento, contudo, a partir do momento em que ela entra no ambiente escolar o

lúdico pode assumir uma função pedagógica, e o jogo, a brincadeira passam a ser

usados como conteúdo a ser estudado. Segundo Kishimoto (2001), há uma

diferença do brinquedo para o material pedagógico, que se baseia na natureza dos

objetivos da ação educativa, apresentando seu interesse sobre o jogo pedagógico,

quando afirma:

Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos dispostos intencionalmente, à função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da criança. Neste sentido, qualquer jogo empregado na escola, desde que respeite a natureza do ato lúdico, apresenta caráter educativo e pode receber também a denominação geral de jogo educativo (p.83).

Assim, é importante ressaltar que não se pode brincar simplesmente para passar o

tempo da aula, é preciso fazer essa relação do brincar e do aprender, despertando

no estudante o desejo de entender e interpretar aquilo que está sendo ensinado.

Para Teixeira (1995, p. 23), “O ser que brinca e joga é, também, o ser que age,

sente, pensa, aprende e se desenvolve”. Desta forma, por meio da brincadeira, a

criança se envolve na atividade e sente a vontade de partilhar com o outro. Esta

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23

relação divulga as potencialidades dos participantes, afeta as emoções e coloca em

cheque as aptidões, testando limites e propondo desafios.

A atividade lúdica tem como papel fornecer à criança um espaço agradável,

motivador, planejado e enriquecido que leva a aprendizagem de várias habilidades,

além de trabalhar estas aptidões na criança, tende ajudar no desenvolvimento da

criatividade, coordenação motora, dentre outras.

Vale salientar que, não só o espaço deve ser planejado, todos que estão inseridos

na prática lúdica têm papel de relevância, podendo elaborar um planejamento

acerca do que necessitará para fazer um trabalho diferenciado, apresentando

diversas formas de como se trabalhar com o lúdico numa perspectiva que vai além

da brincadeira.

Portanto, a ludicidade deve ser entendida como entidade que conduz a criança,

estando ela inserida no ambiente escolar ou em espaços informais de educação, um

veículo vivo que contribui para a formação do ser humano. Como podem ser

observadas atualmente, várias empresas contratam educadores para desenvolver

atividades lúdicas, sendo essas usadas para evitar o estresse dos profissionais, e de

certa forma essa dinâmica vem a todo o momento conduzindo essas empresas a

uma melhoria no desenvolvimento do trabalho, sendo concretizado por um aumento

da produção. Almeida (1990) diz que:

A educação lúdica além de contribuir e influenciar na formação da criança e do adolescente possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integra-se mais alto espírito de uma prática democrática, enquanto investe em uma produção séria de conhecimento. Sua prática exige a participação franca, criativa, livre, critica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação com o meio (p.57).

A partir dessa atividade a escola como ambiente, onde a criança fica a maior parte

de sua infância e onde vários profissionais estão ali capacitados para atender as

reais necessidades dos estudantes, deve ter uma preocupação com o planejamento

das atividades lúdicas, levando também em conta a cultura dos educandos. É

importante ressaltar também, que os professores devem mostrar-se atentos à

Page 24: Monografia Silvana Pedagogia 2011

24

relação entre cultura de massa e ludicidade, buscando entender de que maneira

essa relação influencia no comportamento das crianças e suas formas de brincar,

não esquecendo a riqueza cultural da ludicidade vivenciada pela criança ao longo de

sua existência, na sua relação com os brinquedos, com os jogos e brincadeiras, na

convivência com as outras crianças e também com os adultos.

2.3 As influências da cultura de massa nas brincadeiras infantis

Ao abordarmos a influência da cultura de massa na forma como as crianças brincam

e se divertem, hoje, na sociedade contemporânea, não podemos nos esquecer do

papel importante da televisão. Este meio de comunicação de massa tornou-se o

porta-voz da cultura de massa e tem contribuído na definição dos padrões culturais

criados pela indústria cultural. A TV funciona como componente importante no que

se refere a influenciar tanto a criança na escolha de uma determinada brincadeira,

como no próprio adulto quando deseja comprar determinado produto destinado às

crianças, seja um brinquedo ou peças de vestuário.

Nos dias atuais, observa-se uma tendência em cultuar aquilo que não é seu, pois em

outros tempos quando se perguntava sobre o seu ídolo para uma criança ela logo

respondia: meu pai e minha mãe. Hoje, os ídolos são construídos pelos meios de

comunicação de massa, em especial a televisão, criando modelos e referências para

as crianças que, em sua maioria, não são bons para elas.

Diante disso, podemos dizer que a cultura de massa tem forte influência nas

diferentes formas do lúdico, visto que muitas vezes a brincadeira é realizada de

forma solitária, tendo como companhia a TV, o vídeo game ou o computador. Desta

forma, os momentos de recreação, no espaço escolar e extra-escolar, sofrem com a

manifestação orientada a todo o momento pela influência da mídia. Portanto, se faz

necessário que os educadores utilizem, em alguns momentos, elementos que

conduzam os estudantes a fazer reflexões sobre algumas formas de brincar, além

de possibilitar o resgate de jogos e brincadeiras tradicionais resultantes da cultura

popular, que fizeram parte da infância de muitas outras gerações.Para Gomes,

(apud, AGUIAR, 2004, p.20): ”O termo atividade recreativa corresponde a toda ação,

Page 25: Monografia Silvana Pedagogia 2011

25

motora ou não, que causa prazer, espontaneidade a ludicidade em quem a pratica”.

Pode-se afirmar que a criança também aprende enquanto brinca e não é necessário

fazer separação entre o brincar e o aprender. Enquanto ela brinca, o aprender não

fica tão repetitivo, ao contrário, estimula a criatividade como também mostra as

dificuldades dos educandos.

É muito comum ouvirmos depoimentos errôneos referentes à ludicidade na prática

pedagógica; “A aceitação da ludicidade, por parte dos professores, não garante uma

postura lúdico-pedagógica na sua atuação” (SANTOS, 2001, p.14). É preciso fazer

com que estudantes, professores, pais e toda a comunidade escolar e extra-escolar

compreendam a importância dessas brincadeiras infantis para a formação social,

intelectual e psicológica da criança. Segundo Vygotsky (1992):

É na brincadeira que a criança se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário. A criança vivencia uma experiência no brinquedo como se fosse maior do que a realidade, o brinquedo fornece estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência da criança (p.117).

O ambiente escolar também pode tornar-se um espaço lúdico para a criança desde

que a instituição educativa promova atividades lúdicas, pois através das brincadeiras

a criança aprende a se relacionar com outras crianças, discutem possíveis dúvidas,

e com perspicácia assume um papel de investigador e profundo pesquisador do

modo de viver em sociedade. O jogo educativo também pode constituir-se num

poderoso recurso didático que potencializa as condições de aprendizagem das

crianças se a escola e seus profissionais souberem utilizar.

É necessário entender a cultura de massa como veículo de transmissão da dinâmica

lúdica, mas não como o único, tendo em vista que a escola como entidade de

caráter formador e transmissor de um conhecimento sistematizado, pode funcionar

como mecanismo fundamental de problematização desse conteúdo veiculado pelos

meios de comunicação de massa junto às crianças.

Page 26: Monografia Silvana Pedagogia 2011

26

2.3.1 Escola e cultura

Durante muito tempo a relação entre escola e cultura deu-se a partir da apropriação

de fragmentos culturais dentro do cotidiano, observando-se uma constante de

apresentações teatrais, danças, sempre ocasionada em datas comemorativas como

São João, Carnaval, Folclore, etc. Estas apresentações aconteciam sem que as

crianças, na maioria das vezes, compreendessem a real importância do referido

evento. Embora ainda se perceba essa situação em muitas escolas, essa

compreensão sobre a cultura e sua apropriação via escola começa a modificar-se

em consequência também do referencial curricular nacional para o ensino

fundamental que aponta a importância do trabalho com artes e a valorização da

cultura, contribuindo assim, para o resgate de elementos culturais do passado, mas

também com um olhar no futuro que se modifica a todo instante. Segundo Gimeno

Sacristán (2001):

A educação contribuiu consideravelmente para fundamentar e para manter a ideia de progresso como processo de marcha ascendente na História; assim, ajudou a sustentar a esperança em alguns indivíduos, em uma sociedade, em um mundo e em um porvir melhores. A fé na educação nutre-se da crença de que esta possa melhorar a qualidade de vida, a racionalidade, o desenvolvimento da sensibilidade, a compreensão entre os seres humanos, o decréscimo da agressividade, o desenvolvimento econômico, ou o domínio da fatalidade e da natureza hostil pelo progresso das ciências e da tecnologia propagadas e incrementadas pela educação (p.21).

Neste sentido, a escola é de fundamental importância, pois através dela os

indivíduos podem apropriar-se da cultura universal na perspectiva da diversidade e

desenvolver uma reflexão crítica sobre o mundo e a cultura, percebendo-se também

como produtores de cultura. Sendo assim a escola não é simplesmente reprodutora

de conhecimento ela deve ser entendida e compreendida como instrumento de

formação social e socialização da cultura. Pérez Gómez (2001), afirma que a:

[...] Cultura como o conjunto de significados, expectativas e comportamentos compartilhados por um determinado grupo social, o qual facilita e ordena, limita e potenciam os intercâmbios sociais, as produções simbólicas e materiais e as realizações individuais e coletivas dentro de um marco espacial e temporal determinado. A cultura, portanto, é o resultado da construção social, contingente às

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condições materiais, sociais e espirituais que dominam um espaço e um tempo (p.17).

Em relação a essa temática, a educação escolar ao contrário do que observamos

atualmente, não pode se limitar a transmitir os conhecimentos disponíveis da

ideologia dominante em detrimento das classes populares e grupos marginalizados.

Por isso, a necessidade da educação transformar-se e se efetivar numa perspectiva

multicultural.

Educação e cultura são questões a serem discutidas e resignificadas no espaço

escolar, levando em conta que, com a incorporação de um currículo monocultural,

transmitindo/impondo valores de uma cultura hegemônica, os alunos estão perdendo

sua criatividade e criticidade, além de sua identidade cultural.

Diante disso, faz-se necessário um planejamento e uma reestruturação das formas

de agir da educação escolar, onde os conteúdos estejam adequados a realidade

vivida pelos alunos e os objetivos de formação estejam conectados com a

disponibilidade de formar sujeitos capazes de entender e viver num mundo marcado

pela diversidade.

A perpetuação e reprodução da cultura são efetivadas através da relação dos

membros em contato com o grupo. E é na escola onde essa relação se torna

constante se tornando um espaço culturalmente diversificado. Nesse espaço cada

um participa com sua especificidade, podendo assim, o professor desenvolver uma

prática pedagógica onde todos possam participar de maneira que se conheça e

respeite a cultura de cada um.

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28

CAPÍTULOIII

TRILHA METODOLÓGICA: APONTANDO O CAMINHO

Entendemos que a pesquisa implica em uma série de etapas a serem adotadas em

busca de subsídios e respostas a um determinado contexto e é na metodologia que

são indicados os elementos de se coletar os dados relevantes para pesquisa. Desta

forma, entende-se por metodologia o processo pelo qual se alcança um determinado

fim. A metodologia significa etimologicamente o estudo dos caminhos, dos

instrumentos usados para se fazer pesquisa científica, os quais respondem como

fazê-la de forma eficiente. Segundo Houaiss (2004,p.494), “a metodologia é um

conjunto de métodos, princípios e regras empregados por uma atividade ou

disciplina”. Entendemos que um estudo acerca de um determinado tema, se faz

necessário definir a metodologia, o caminho, que conduzirá a investigação para o

conhecimento e o aprofundamento de uma determinada realidade.

A escolha de qual metodologia utilizar é sempre uma dúvida que surge no

pesquisador no momento em que ele participa de um projeto de pesquisa,

monografia ou qualquer outro trabalho que envolva a utilização dos critérios e

instrumentos científicos. Neste capítulo, apresentamos os recursos metodológicos

adotados para a realização desse estudo, além da descrição dos caminhos

percorridos no decorrer do processo investigativo, ou seja, os pressupostos

metodológicos que orientaram este trabalho. Em primeiro lugar apresentamos as

fontes, os autores do estudo. Em seguida os motivos da opção por uma pesquisa

qualitativa, por fim explicamos a metodologia de coleta e análise de dados.

3.1 Pesquisa qualitativa

Em se tratando da pesquisa em educação, acredita-se que a metodologia mais

adequada é a abordagem qualitativa. A esse respeito, Macedo (2004) afirma “que

para o olhar qualitativo é necessário conviver com o desejo, a curiosidade e

criatividade humana; com as utopias e esperanças; com a desordem e o conflito;

com a precariedade e a pretensão; com as incertezas e o imprevisto” (p.69).

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A pesquisa qualitativa consente ao pesquisador examinar atentamente os indivíduos

envolvidos no processo educacional. Além do mais, este método é muito usado nas

pesquisas educacionais nas últimas décadas, tendo como uma das características

investigar os significados que os envolvidos dão ao assunto pesquisado.

Segundo Ludke& André (1986), ”a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e

prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo

investigada, via de regra, através do trabalho intensivo de campo” (p.11). Isso

significa que o pesquisador deverá vivenciar o cotidiano dos sujeitos pesquisados

para que possa visualizar em quais condições ele se manifesta.

A escolha pela pesquisa qualitativa se deu levando em consideração a questão em

estudo que busca compreender como a cultura de massa tem interferido e

modificado a relação da criança com o lúdico e as formas de brincar das crianças na

escola, tendo como locus a Escola Municipal Floriano Peixoto. Para Rúdio (1999) a

pesquisa tenta determinar pontos de vista, opiniões e preferências que pessoas ou

determinados grupos possuem em relação aos assuntos propostos, com o objetivo

de tomada de decisões. Desse modo, sabemos o quanto à pesquisa qualitativa se

torna importante diante das situações que aparecem na pesquisa, explicando assim,

a preferência dos pesquisadores pela pesquisa qualitativa, pois esta engloba todo

contexto social e humano que existe no objeto em estudo.

Andrade (2002) define de forma interessante e destaca que “a pesquisa descritiva

preocupa-se em observar os fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e

interpretá-los”, sem que o pesquisador interfira neles. A importância desse conceito

para essa pesquisa demonstra que os fenômenos do mundo físico e humano são

estudados, mas não são manipulados pelo pesquisador. Percebe-se a relevância

dada à escolha por essa abordagem na perspectiva de melhor compreender como a

cultura de massa tem interferido e modificado a relação da criança com o lúdico e as

formas de brincar das crianças na escola em especial na Escola Floriano Peixoto,

possibilitando desta forma colher as informações necessárias, indispensáveis para

obtenção dos resultados da pesquisa.

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30

3.2 O ambiente de realização da pesquisa

A pesquisa foi realizada na Escola Municipal Floriano Peixoto, instituição municipal,

que se encontra na sede do município de Jaguarari-Ba. A opção por essa

determinada instituição se deu pelo fato da mesma receber crianças da sede e da

zona rural, formando um complexo multicultural, pois cada povoado, comunidade,

distrito acaba assumindo costumes, crenças e ideias divergentes. Em sua maioria

essas crianças estão em processo de formação de sua identidade, e pelos conflitos

que são estabelecidos pelo choque cultural do mundo em que vivem com o mundo

globalizado atual.

A Escola Municipal Floriano Peixoto, fica localizada na Praça Alfredo Viana, nº 142,

na cidade de Jaguarari – Bahia. É uma escola de médio porte, atendendo uma

clientela de 474 alunos do Ensino Fundamental I, sendo distribuídos nos turnos

matutino, vespertino e noturno. No turno noturno o público atendido é da Educação

de Jovens e Adultos (EJA).

Quanto a sua estrutura física, a escola é composta de 06 salas de aula e 06

funcionam na extensão, 01 sala para os professores junto à secretária, 03 banheiros

(feminino e masculino), diretoria, cantina, sala de leitura, almoxarifado, etc. Seu

corpo docente é formado por 23 professores em sua grande maioria com nível

superior. Em relação aos equipamentos nessa instituição há 03 TVs, 04 sons de

cd, 02 computadores, 12 ventiladores, 01 impressora matricial, 03 aparelhos de

DVD, 08 filtros, 02 mimeógrafos, 10 armários, 07 quadros de pincel e data show.

Sabemos da importância de conhecer o lócus da pesquisa e também os sujeitos,

pois através dos mesmos é que alcançaremos os objetivos propostos na pesquisa.

Desta forma, foram adotadas maneiras críticas diante do caso em análise.

3.3Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa foram 20 estudantes do 3° ao 5º ano, do Ensino

Fundamental de nove anos. Sendo que estes são 10 do sexo feminino e 10 do sexo

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masculino. Na escolha pelos sujeitos buscou-se compreender como a cultura de

massa tem interferido e modificado a relação da criança com as brincadeiras infantis

e as formas de brincar das crianças na escola. Dessa maneira, fizeram parte da

pesquisa alunos do turno matutino da referida escola. A escolha pelos sujeitos nessa

faixa etária se deu, porque percebermos que nessa idade há uma maior influência

da cultura de massa no conteúdo das brincadeiras, e, diante do atual contexto

globalizado, percebe-se que os mesmos estão mais vulneráveis à influencia da

mídia.

Os sujeitos da pesquisa forneceram as informações necessárias para que

pudéssemos realizar esta pesquisa, possibilitando-nos na obtenção dos dados.

Segundo Bogdan &Biklen (1992, apud,LUDKE 1986, p.13):

A pesquisa qualitativa ou naturalista envolve a obtenção dos dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes.

3.4 Instrumentos de coleta de dados

Para melhor atender o objetivo deste estudo, foram utilizados instrumentos

diversificados como a observação sistemática e a entrevista semi-estruturada no

intuito de compreender a influência dos meios de comunicação de massa no brincar

das crianças da Escola Municipal Floriano Peixoto, concluindo o desenvolvimento da

pesquisa.

A observação e as visitas permitiram maior contato com os sujeitos, em uma

experiência direta de envolvimento entre pesquisador e pesquisado. A entrevista por

sua vez, possibilitou alcançar respostas que permitiram avançar e conquistar o

objetivo, desta pesquisa.

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32

3.4.1 A observação sistemática

O trabalho de observação é de suma importância para o pesquisador, tendo em

vista que através dela o pesquisador tende a conhecer os diversos setores do locus

pesquisado. A observação possibilitou perceber também as mutações e

transformações causadas pela influência da cultura de massa, colaborando para a

mudança de hábitos, costumes e brincadeiras que antes faziam parte do cotidiano

infantil de diversas crianças e hoje ficaram esquecidos no vasto acervo de

informações que a mídia televisiva implanta.

A observação pode tornar-se um instrumento importante de coleta de dados, pois

permite ao pesquisador maior contato com os sujeitos pesquisados, proporcionando

uma experiência direta de envolvimento entre pesquisador e pesquisado. Neste

sentido, Marconi &Lakatos (1996), afirmam que:

A observação ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. Desempenha papel importante nos processos observacionais, no contexto da descoberta, e obriga o investigador a um contato mais direto com a realidade. É o ponto de partida da investigação social (p.79).

O olhar feito através de uma observação simples pode ser falha por não dar uma

certeza ao observador. Daí a necessidade de uma observação sistemática a fim de

identificar todas as particularidades do campo pesquisado. Foi pensando nesse

aspecto que optamos pela escolha dessa metodologia, entendendo a sua

importância para o desenvolvimento da pesquisa e, consequentemente, a coleta de

dados.

O período de observação ocorreu nos meses de abril a maio de 2011, com total

apoio de todos que fazem parte de forma direta ou indiretamente da Unidade

Escolar, período este fundamental para o investigador poder aprofundar e tentar

solucionar e responder o problema que norteou a pesquisa.

Page 33: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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Nos primeiros contatos na escola foi feita uma breve conversa com a diretora da

Unidade escolar a fim de estabelecer uma relação de confiança e colaboração, em

seguida iniciou-se a tarefa de observação das brincadeiras infantis no horário da

recreação, buscando desta forma, compreender como a cultura de massa tem

interferido e modificada a relação da criança com o lúdico e as formas de brincar das

crianças na escola.

Foram feitas diversas anotações acerca das observações realizadas, sendo

utilizados tanto cadernos de anotações diárias, quanto a utilização de um rádio

gravador, tendo em vista que o investigador para não correr o risco de esquecer ou

perder as informações precisas deve a todo instante usar o maior número de

instrumentos de coleta dos dados e informações.

Daí a necessidade de uma observação sistemática. Sobre isso Marconi e Lakatos

(1996), definem que “na observação sistemática o observador tem uma

característica, sabe o que procura e o carece de importância em determinada

situação”, além disso, possibilita um entendimento, sobre o assunto pesquisado,

considerando o que se vê e ouve, contribuindo para uma análise mais completa no

estudo.

3.4.2 Entrevista semi-estruturada

A importância da entrevista semi-estruturada diante de nosso estudo consistiu em

podermos alcançar dados não possíveis por outros instrumentos de coleta de dados.

É por meio da entrevista que o pesquisador percebe com mais exatidão a fala e o

comportamento do pesquisado diante do assunto investigado.Foram feitas

entrevistas em dois momentos. Foram entrevistadas 20 crianças sendo 10 do sexo

masculino e 10 do sexo feminino com a faixa etaria dos 07 aos 12 anos de idade. As

entrevistas tiveram o auxílio de um rádio gravador e depois foram transcritas para

que pudéssemos trabalhar com a textualização das mesmas.

Page 34: Monografia Silvana Pedagogia 2011

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Segundo Haguette (1992), a entrevista “pode ser definida como um processo de

interação social entre as duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por

objetivo a obtenção de informação por parte do outro, o entrevistado” (p.86).

A entrevista semi-estruturada é um dos meios utilizado pelo pesquisador para se

obter dados e assim se fazer uma pesquisa qualitativa. A entrevista não se torna

uma conversa neutra, pois a mesma tem como objetivo coletar dados, onde são

relatados pelos sujeitos, focalizando a realidade que está sendo pesquisada.

Triviños (1987), define entrevista semi-estruturada como sendo:

[...] em geral aquelas que partem de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessa a pesquisa, e que, em seguida, oferece amplo campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses, que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante, seguindo espontaneamente a linha do seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa(p.146).

Sobre esse aspecto Trivinos (1987), afirma que por possibilitar um amplo leque de

percepções e representações os resultados que se obtem através da entrevista

semiestruturada são melhores, pois trabalhamos com diferentes grupos de pessoas.

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35

CAPÍTULO IV

DE QUÊ E COMO BRINCAM AS CRIANÇAS: O QUE NOS REVELAM OS DADOS

O estudo realizado permitiu-nos uma reflexão a cerca das compreensões de como a

cultura de massa tem interferido e modificado a relação da criança com o lúdico e as

formas de brincar das crianças na escola. Neste capitulo, portanto, faremos a

análise dos dados a partir dos instrumentos que utilizamos para tal fim: a

observação sistemática e a entrevista semiestruturada que permitiram alcançarmos

o objetivo da pesquisa de forma satisfatória. Faremos a seguir a análise dos pontos

relevantes na nossa pesquisa.

4.1 Perfil dos entrevistados

Levando em consideração o instrumento de coleta de dados escolhido, na

observação e na entrevista semiestruturada, buscou-se conhecer o perfil dos

estudantes, pensando nos aspectos de gênero e a relação com as formas de brincar

de meninos e meninas e como a mesma se entrelaça com a influência que a cultura

de massa exerce para definir suas formas de brincar.

Foram escolhidos 20 estudantes do ensino fundamental de nove anos, do 3º ao 5°

ano, na faixa etária de 07 aos 12 anos de idade. A escolha por estes sujeitos se deu

ao percebermos que nessa idade eles sofrem uma influência maior da cultura de

massa podendo incidir no conteúdo das brincadeiras, pois os mesmos estão mais

vulneráveis a influência da mídia, principalmente a televisiva. Dos 20 estudantes

entrevistados, 10 foram do sexo masculino, correspondendo a 50% e 10 do sexo

feminino correspondendo aos outros 50%.

4.1.1 Observação sistemática

Diante do objetivo apontado neste trabalho monográfico que foi compreender como

a cultura de massa tem interferido e modificado as relações da criança com o lúdico

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36

e as formas de brincar das crianças na escola, buscamos primeiramente, observar

as crianças a fim de melhor entender de quê e como elas brincam.

As pesquisas sobre jogos e brincadeiras infantis apontaram alguns destes que eram

mais comuns entre as crianças tais como: Cabra-cega, esconde-esconde, jogos de

cartas e de salão, dados, cara ou coroa, mímica, bola, peão, arco, cavalo-de-pau

entre outras. Os meninos e meninas na maioria das vezes confeccionavam seus

brinquedos e por muitas vezes inventamos brinquedos a partir do material que

tinham em mãos.

No entanto, nota-se que na atualidade e principalmente com o processo de

industrialização, estes brinquedos e as brincadeiras que antes eram praticadas com

tanta alegria e entusiasmo tem perdido o sentido chegando a ficar no esquecimento,

visto que a mídia tem influenciado as crianças a consumir um mundo de fantasias e

de sonhos transformados em produtos que precisam ser comprados e consumidos.

Para Caldas (1986), a cultura de massa consiste em “um número muito grande de

eventos e produtos que influenciam e caracterizam o atual estilo de vida do homem

contemporâneo no meio urbano-industrial”(p.16).

Durante as observações que ocorreram nos meses de abril a maio de 2011, pôde-se

notar em todos os momentos das brincadeiras infantis que as crianças se

interessavam mais pelos brinquedos eletrônicos como, por exemplo, o celular, seja

para atender uma ligação, para jogar, para ouvir música, assistir algum programa de

TV do interesse deles e até mesmo para acessar a internet, do que outros tipos de

brincadeiras.

Em uma atividade de recreação realizada fora do ambiente escolar, na quadra no

centro da cidade, observada uma turma do 5º ano do Ensino Fundamental, durante

cerca de 60 minutos. O professor conduziu a turma para a quadra poliesportiva,

dividiu o grupo por sexo e ordenou que meninas pegassem o bambolê e fossem

brincar no espaço fora da quadra e os meninos brincassem dentro da quadra, de

futsal. Demonstrando dessa maneira que o professor tem uma concepção de gênero

que determina o tipo de brincadeira que meninos e meninas devem brincar, e isso

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37

acaba reforçando uma separação de gênero, quando o mesmo entrega uma bola de

futebol para os garotos e o bambolê para as meninas.

A partir do momento em que o educando é levado a brincar de futebol no caso dos

meninos e de bambolê as meninas, um problema pode ocorrer, pois nem todos

gostam apenas de praticar a atividade recreativa imposta pelo educador. Nesse

sentido, é importante mencionar que essas atividades têm que despertar prazer no

educando para que este venha se interessar e interagir pelas atividades do seu dia-

a-dia, seja na escola ou no espaço extraclasse.

Durante a observação no recreio, percebemos, que a maioria dos estudantes da 4ª

serie corriam de um lado para outro, não se preocupando com as regras ou

exigências rotineiras, apenas se divertiam. Outras 05 crianças brincavam de pega-

pega, onde um corre e a outra tenta pegar. Esta brincadeira tem relação com a

infância dos seus pais.Meninos e meninas participavam desta brincadeira, mas o

que se observou é que raramente isso acontecia, pois em quase todos os momentos

estavam grupinhos de meninas e grupos de meninos brincando separados, sempre

com sujeitos do mesmo sexo. Ao observar a sala, havia um grupo de 04 meninas

dessa mesma classe, ouvindo músicas no celular.

Podemos perceber que na maioria das vezes, para determinados educandos,

tornou-se mais interessante usar um instrumento tecnológico nos momentos de

intervalo das aulas do que participar de atividades em grupos,onde havia a

necessidade de interação e participação. Isto mostra o forte apelo da tecnologia e da

propaganda, influenciando e formando novos comportamentos nas crianças e

adolescentes.

No segundo dia de observação a uma turma de meninos da 3ª serie do ensino

fundamental, viu-se o instante em que os estudantes numa faixa etária de 7 a 8 anos

estavam jogando uma partida de “gude”, jogavam meninos contra meninos. Este

jogo desperta o interesse dos garotos de ganhar do outro. O mesmo consiste em

vários buracos feitos na terra ou na areia, onde os jogadores devem, com um

impulso do polegar, jogar a bolinha chamada de “gude”. Os jogadores devem fazer

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com que a “gude” entre no buraco, conseguindo assim retirar a do adversário de

dentro fazendo com que, elas se tornem suas. Vence aquele que ficar com as

bolinhas de “gudes” de seus companheiros.

Começado o jogo, num certo momento o celular de um dos participantes tocou e o

jogo parou.Todos ficaram dispersos, tendo em vista que o menino atendeu e em

seguida colocou uma música para tocar, tirando a atenção dos demais. Os meninos

deixaram de brincar com as bolinhas de gude para ouvir a música ao celular, o que

mostra a influência, hoje, dos objetos eletrônicos do mundo moderno, na vida dessa

geração que é fruto da contemporaneidade e que, portanto, vão produzindo

interferências nas suas formas de brincar.

É interessante mencionar que as brincadeiras são muito importantes para o

desenvolvimento do ser humano. Alves (1984), afirma que:“O lúdico proporciona

alegria nos espaços em que se faz presente, ao mesmo tempo em que possibilita a

esperança de liberdade para o mundo todo, sugerindo que há outras possibilidades

para a vida humana” (p. 104).

Ao realizarmos a observação de algumas meninas do5° ano do ensino fundamental,

que estão inseridas numa faixa de idade entre 08 aos 12 anos, percebemos o

interesse que foi momentâneo de brincarem com algumas bonecas, entre elas a

Barbie. Pois tudo estava tranquilo, até o momento em que duas colegas das

meninas apareceram com um MP3, que tocava uma música que está no auge, ela é

tocada em rádios, novelas da atualidade, e seu cantor e compositor é recordista de

shows e público, principalmente na faixa etária pesquisada. A partir daí todas

deixaram de forma repentina as bonecas e começaram a prestar atenção na música

e cantar ao mesmo tempo com as colegas:"Eu to apaixonado,eu tô contando tudo e

não tô nem ligando pro que vão dizer. Amar não é pecado e se eu tiver errado que

se dane o mundo eu só quero você".Luan Santana1

1 Música do Cantor Luan Santana: Amar não é pecado, composição de Fred / Gustavo / Marco Aurélio / Márcia Araújo.

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39

Ao serem questionadas sobre a música todas disseram que gostam muito por

que não perdem a novela "Morde e Assopra" (da rede globo de televisão) e torcem

para que o casal Abner e Júlia fique junto. "Essa é a música que toca toda vez que

um pensa no outro ou que eles se beijam" relata uma aluna. Outra aluna diz "O Luan

Santana é lindo e eu sei cantar todas as músicas dele". De repente todas começam

a cantar: "Te dei o sol, te dei o mar pra ganhar teu coração você é raio de saudade

meteoro da paixão, explosão de sentimento que eu não pude acreditar Ah! Ah! como

é bom poder te amar".

Percebemos em nossas observações na Escola Municipal Floriano Peixoto, o

quanto a mídia tem influenciado o comportamento das crianças e modificado o

conteúdo de suas brincadeiras e interesses, o que nos faz ver mais claramente que

“o acesso das crianças a informações sobre o mundo adulto, transformou

drasticamente a infância” (KINCHELOE, 2001, p.13). Portanto, a música cantada

pelas crianças é resultado de uma massificação da indústria fonográfica e televisiva,

que não tem compromisso com a educação e o desenvolvimento das crianças, visto

que os interesses dos meios de comunicação de massa é vender um produto e criar

tendências e novos consumidores para alimentar o mercado. Desta forma o

conteúdo televisivo reproduzido pelas crianças representa os valores e interesses

que devem atender aos interesses consumistas.

Segundo (Eco, 2004, p. 330) “A televisão associando cores e sons, é um

instrumento capaz de ensinar gostos e tendências”. Assim, por meio da

massificação da propaganda, a criança passa a cultuar novos jogos e brincadeiras

que surgem fazendo com que elas sejam meras consumidoras e reprodutoras de

valores, contribuindo assim para a eliminação de elementos que fazem parte da

cultura do aluno, fazendo com que crianças e adolescentes passem a agregar novos

hábitos tornando-os consumidoras muitas vezes excessivas chegando a impor aos

pais os produtos que fazem parte de uma cultura que, apesar de se expandir

rapidamente, é extremamente momentânea.

Pelo que foi observado nas brincadeiras das crianças e adolescentes da Escola

Municipal Floriano Peixoto,podemos dizer que a maioria dos brinquedos, jogos,

Page 40: Monografia Silvana Pedagogia 2011

40

brincadeiras e demais atividades recreativas, atualmente foram sucumbidas pela

gama de avanços tecnológicos produzidos pela mídia. Sendo que este elemento

busca formas individuais que priorizam o ter em oposição ao ser. Segundo

Marcellino, (1996):

Uma série de fatores que contribuíram para o desaparecimento gradativo de jogos e brinquedos tradicionais, em todo o Brasil, e principalmente nos centros urbanos. Entre eles podemos destacar: o crescimento das cidades brasileiras, que acarretam uma redução de áreas livres para o lazer; a influência crescente dos meios de comunicação de massas, em especial sobre as crianças, transformando-as em espectadoras e isolando-as entre si; o grande número de brinquedos industrializados, sofisticados e atraentes; as mensagens veiculadas pela indústria cultural, retratando realidades muito diferentes da nossa; os avanços da informática e a popularização desse setor, notadamente no campo dos jogos, além da cobertura de um grande número de possibilidades e etc.(p. 41).

Diante do exposto, nota-se que as crianças procuram espaços e formas de se

expressarem e descobrirem o mundo a sua volta e o brincar é a expressão mais viva

das crianças na sua relação com o mundo. Nessa relação de descoberta, elas

constroem significados e se transformam através do ato de brincar.

No entanto, na sociedade em que vivemos, onde as informações são processadas

rapidamente exigindo acima de tudo um novo perfil de indivíduos que devem estar

sempre acompanhando as mudanças que ocorrem de maneira quase simultânea.Os

professores devem estar sempre em busca do novo, se qualificando e levando

sempre em consideração os interesses dos alunos, para que os mesmos possam

estar interessados pelos os objetivos da escola e obter resultados satisfatórios.

4.2 O que nos contam as crianças sobre o brincar: Os resultados da entrevista

Optamos por aplicar a entrevista semiestruturada aos educandos da referida escola

em dois momentos distintos. No primeiro momento os meninos foram entrevistados

e no segundo momento as meninas, a fim de identificar os resultados de ambos os

gêneros de forma que um não influenciasse na resposta do outro.

Page 41: Monografia Silvana Pedagogia 2011

41

Esse instrumento de coleta de dados é pertinente, pois é diante de uma entrevista

semi-estruturada que o entrevistador pode interferir e até mesmo mudar a pergunta

elaborada antecipadamente de acordo com as respostas que foram sendo dadas.

Para Lakatos (1991, p.197), “o entrevistador seguindo um roteiro de tópicos relativos

ao problema, tem a liberdade de fazer as perguntas que quiser: sonda razões e

motivos, dar esclarecimentos, não obedece a rigor, a forma formal”.

Portanto, nosso estudo voltou-se para a busca de elementos possíveis para o

alcance do objetivo proposto neste trabalho monográfico, sendo que as falas nas

entrevistas foram fundamentais para que os resultados apresentados pudessem ser

confrontados com os da observação, assim a entrevista e os questionamentos foram

feitos diretamente com os sujeitos da pesquisa.

Apresentamos a seguir, através das categorias surgidas na entrevistas, os

resultados dos dados coletados com os alunos que serão identificados com nomes

fictícios.

4.2.1 Os professores dinamizam as aulas através de atividade lúdicas? O que

os alunos dizem a respeito disso

Nesta categoria, trazemos os resultados indicativos à questão das dinâmicas em

sala de aula trazidas pelos professores. Diante da questão em análise foi possível

chegar ao seguinte resultado.

Gráfico correspondente as atividades lúdicas propostas pelos professores em sala de aula, segundo as perspectivas dos alunos.

69%

24%

7%

Respostas dos Alunos

Sempre

Ás vezes

Nunca

Page 42: Monografia Silvana Pedagogia 2011

42

Nas respostas dos alunos, podemos perceber que a grande maioria afirma que os

professores costumam trazer dinâmicas, jogos e brincadeiras para a sala de aula,

contudo, as práticas lúdicas só acontecem em sala de aula, quando estão

relacionadas com o conteúdo apresentado aos alunos, tendo em vista que no recreio

não há um acompanhamento das atividades realizadas pelos alunos. Os brinquedos

mais utilizados na sala de aula são boliche, telefone sem fio, escravo de Jó, dominó,

relaxamento, entre outros.

Vale salientar que no horário do recreio, como não há acompanhamento as crianças

acabam brincando sozinhas, sem uma preocupação com regras e normas. Diante o

exposto,acaba surgindo vários problemas de violência,exigindo assim por parte dos

professores, coordenação e direção uma atenção e cuidado.

Segundo os docentes a elaboração de um projeto que tenha por finalidade mudar a

realidade do momento seria de extrema importância, ao mesmo tempo eles têm

dificuldades para adaptar os conteúdos ao jogo. Sobre isso Campos (1993, p.28)

afirma que: “A ludicidade poderia ser a ponte facilitadora de aprendizagem se o

professor pudesse pensar e questionar-se sobre uma forma de ensinar,

relacionando a utilização do lúdico como fator motivante de qualquer tipo de aula”.

A partir desse incentivo os educandos poderão se interessar mais, tanto pelas aulas,

como no intervalo continuarem a participar de atividades que tragam algum

aprendizado, e não ficarem bitolados aos aparelhos eletrônicos como fazem

habitualmente. As brincadeiras e o aprendizado devem trazer noções e normas

importantes para a formação de um cidadão capaz de atuar como agente de

transformação de realidades, a começar da sua própria realidade.Tentando assim,

desenvolver competências a fim de transformar e ir de encontro com aquilo que

afirma Moysés (1997), o aluno não consegue perceber a relação existente entre o

que se aprende na escola e o conhecimento encontrado fora dela. E que os saberes

produzidos no convívio social são muito pouco aproveitados para subsidiar a

contextualização da aprendizagem escolar.

Page 43: Monografia Silvana Pedagogia 2011

43

É importante mencionar que nos discursos, a maioria dos educandos afirmaram que

as atividades lúdicas, ou seja, as dinâmicas realizadas com a participação dos

educadores só acontecem em sala de aula, o que seria interessante que fosse

também ao ambiente da recreação. Vejamos algumas respostas referentes a esta

categoria.

-Sim, nas aulas sim, mas no recreio não. No recreio é só conversa mesmo, as brincadeiras são as que gostamos e as que escolhemos os professores nos deixam livres. (Ana)

-Sim, mas na hora do recreio a gente quem inventa a dinâmica. As dinâmicas que elas fazem nas aulas são: relaxamento, seleção de animais, às vezes elas fazem de acordo com a aula. E na hora do recreio a gente às vezes faz brincadeiras, mais outras vezes a gente fica conversando sobre vários babados e até mesmo da prova que a gente fez antes do recreio. (Carina)

-Nas aulas meus professores trazem dominó, cartas, xadrez. No recreio nós brincamos de correr, esconde-esconde, e vampiro. (Antônio)

-Os professores trazem dama, xadrez, dado de montar. No recreio nós brincarmos de policia e ladrão, gude e no joguinho no celular, estas são as brincadeiras que mais gosto e também brinco em casa, não só aqui na escola, dessas brincadeiras. (Kauâ)

Nos discursos, percebemos as semelhanças em suas falas quando abordam que as

dinâmicas e brincadeiras por parte dos professores só acontecem em sala de aula, e

muitas vezes não tendo relação com os conteúdos dados. No recreio escolar eles

que inventam, pois ficam livres, e é nesse momento que são motivados pelos

instrumentos eletrônicos que estão presentes no seu dia a dia.

4.2.2 Brincar de quê? O que eles mais gostam?

Em relação às brincadeiras favoritas, 70% dos educandos afirmaram brincar de

jogos e realizar demais atividades pela internet, 20% afirmaram brincar de cartas, de

bonecas e 10% afirmaram não ter brincadeiras favoritas. Com base nessas

respostas, percebemos que a Internet, tem representado um importante elemento

usado pelas crianças o que significa, às vezes isolá-las em casa, no contato apenas

Page 44: Monografia Silvana Pedagogia 2011

44

virtual com outros jogadores, fazendo com que os brinquedos e brincadeiras antes

utilizadas sejam deixados de lado. Alguns alunos que não tem computador em casa

revelaram que chegam a ficar horas em uma “Lan House” brincando e apostando

com os outros amigos. Foi percebido também, que dos 10% dos educandos que

afirmaram não terem brincadeiras favoritas muitas vezes aproveitam o horário do

recreio para estudar.

Maluf (2003), diz que é através do jogo que a criança aprende de forma natural e

agradável. O brincar desperta o interesse e eleva a auto-estima. Acrescenta ainda,

que o lúdico é um excelente motivador, pois prepara o indivíduo para aprender

novos conceitos e ajuda a construir novos conhecimentos. Além disso, a ludicidade

possibilita situações, na qual, a criança possa experimentar experiências que

contribuem para o seu amadurecimento cognitivo.

No que se referem às brincadeiras que os estudantes mais gostam de brincar na

hora do recreio, 10% gostam de brincar de futebol, 30% gostam de falar sobre

“REBELDES” dizendo que é a novela preferida delas e 60% brincam de pega-pega e

esconde-esconde. Dessa maneira, pode-se interpretar que algumas brincadeiras,

apesar da modernidade e dos avanços tecnológicos, tem ainda um papel importante

na vivência dos educandos, principalmente no horário do recreio. Eis algumas falas:

- No recreio não brinco nós ficamos conversando sobre a novela “rebelde” e em casa gosto muito de brincar com meus primos de “pisa pé” e também nos jogos na internet nos divertimos muito com a brincadeira “pisa pé”. (Clara, 10 anos)

- As minhas brincadeiras favoritas são: jogos na internet, escolinha, brincar de manicure, assistir novelas, jogar uno, jogar dominó, na escola são: conversar, e às vezes brincar de escravos de jó. E com meus amigos é as mesmas brincadeiras que eu brinco na escola, e mais jogar os joguinhos da internet. (Bruna, 8 anos)

- Eu não tenho nenhuma brincadeira preferida. Na hora do recreio eu e minhas amigas ficamos conversando sobre varias novelas. Em minha casa eu gosto de jogar na net, de conversar no Orkut, de assistir novelas e brincar com o meu primo e com a minha irmã. (Tatiana, 11 anos)

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45

- Brinco de pega-pega, esconde-esconde, amarelinha, estas brincadeiras também brinco em casa com meus amigos. (Laura, 7 anos)

Eu brinco de jogos de correr, esconde-esconde...e outros que meus colegas gostam de brincar... eu me divirto muito. (Breno, 10 anos)

No percentual dos depoimentos acima mencionado percebemos que a maioria das

crianças gosta de brincadeiras tradicionais, no entanto foi observado no recreio que

mesmo que elas estejam brincando quando outra criança se aproxima com um MP3

ouvindo músicas ou assistindo jogos no celular ou com um mini game, elas

automaticamente deixam as brincadeiras e se rendem aos aparelhos eletrônicos

modernos.

Quando questionadas em relação às brincadeiras mais utilizadas em casa, ou com

os amigos na rua,enfim, brincadeiras fora do contexto escolar, pode se compreender

que 80% preferem usar o computador para assistir filmes, acessar sites de

relacionamentos como MSN, Orkut, face book para jogar,além de utilizarem também

vídeo game.Apenas os demais 20% declararam usar brinquedos e brincadeiras

comuns, como esconde-esconde, pega gelinho,pega-pega entre outros.

Percebe-se assim que os educandos afirmam usar a internet como principal

elemento de entretenimento. Muitos deles afirmaram que muitas vezes utilizam esse

meio de comunicação na rua, “Lan Houses”e/ou na casa de algum amigo, sendo

assim fruto de uma sociedade marcada pela influência da tecnologia.

4.2.3 Brinquedos construídos ou comprados. O que é mais interessante?

No que diz respeito à opinião dos alunos acerca desta questão, a maioria afirma que

comprar é bem mais fácil e que os brinquedos são mais bonitos, eles revelaram que

quando um amigo compra ou ganha algum brinquedo o outro automaticamente já

quer possuir também um parecido, igual ou até mesmo melhor. Notamos a partir da

análise das respostas, que os meios de comunicação exercem grande influência

sobre as crianças, pois fazem com que as mesmas acreditem que os brinquedos

mostrados, principalmente pela mídia televisiva, sejam considerados os mais

Page 46: Monografia Silvana Pedagogia 2011

46

bonitos, atraentes e que eles devem obter a qualquer custo aquele produto. A

propaganda, especialmente no que se refere aos produtos para crianças e

adolescentes são muito envolventes, pois ao assistir elas fazem de tudo para que os

pais comprem aqueles produtos que para elas são os melhores e que elas devem

possuir.

Vale salientar que todos afirmaram ter brinquedos, contudo,quando se partiu para a

questão se eles preferem construir ou comprar determinado jogo ou brinquedo, 90%

dos educandos deixam claro o gosto por produtos industrializados, sendo que

apenas 10% responderam gostar de brinquedos e jogos produzidos e criados por

eles ou pelos pais. Isso nos leva a entender que as crianças utilizam mais

brinquedos industrializados, e apenas uma minoria utilizam produtos produzidos por

eles mesmos. No entanto, devemos nos atentar que a tecnologia em si não é uma

coisa ruim, mas a forma como ela é usada e que esse comportamento é um reflexo

da realidade dos tempos contemporâneos, de uma geração que nasceu convivendo

com a tecnologia e com os produtos industrializados, e que se forem também

explorados podem possibilitar a criatividade e a imaginação.

Dessa forma tanto os pais como os professores têm papel importante no que se

refere a instigar os alunos a fazerem bom uso de tudo o que dispõem tanto dos

elementos tecnológicos e industrializados, quanto de elementos presentes no seu

cotidiano como, por exemplo, um professor de artes pode na sua aula confeccionar

brinquedos, flores e aparelhos musicais a partir de sucata. Fazendo com que os

alunos, além de reciclagem passem a se interessar pelo que produzem. É nessa

perspectiva que Freire (1987), afirma que:

O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processo de busca (p. 58).

Essa afirmação nos fez entender que o ensino de qualquer disciplina com

brincadeiras e com jogos, além de fazer diferente, o jogo em sala de aula, estimula e

desenvolve o aspecto cognitivo da criança, jovem e adulto. “Educar ludicamente tem

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47

um significado muito profundo e está presente em todos os segmentos da vida”

(ALMEIDA, 2000, p. 14).

Portanto, em resposta a essa temática, um dos argumentos mais utilizados, pela

maioria, que corresponde a 90%, dando preferência por brinquedos ou jogos

industrializados, afirmam que estes são mais práticos e possibilitam maior agilidade

na hora de utilizá-los,não exigindo deles tempo. Parece-nos que desde cedo as

crianças vão sendo enquadradas nos padrões da sociedade capitalista, onde as

relações sociais estão pautadas quase sempre na agilidade e objetividade das

ações, tornando o homem fruto e refém da máquina, além da ideia de posse do

objeto que todos têm. Nesse sentido a fala da aluna Carina parece ratificar essa

ideia: “Sim, bonecas, ursos, mas eles são todos comprados, porque é mais fácil,

apesar de que gasta dinheiro, mas... é mais prático, sem falar que minhas amigas

tem bonecas bonitas não posso brincar com uma feia tenho que ter uma igual ou

mais bonita do que as delas”.

Diante da fala de Carina, percebemos o quanto os produtos industrializados estão

presentes no cotidiano das crianças e adolescentes e que eles querem sempre mais

e melhores que os outros, demonstrando superioridade em relação à aquisição de

produtos e na influencia dos meios de comunicação principalmente a mídia televisiva

que tem programas e propagandas direcionadas para esse público.

Portanto, hoje, um grande desafio dos educadores tem sido encontrar uma proposta

pedagógica eficaz, capaz de envolver os estudantes e que possibilite um processo

de ensino e aprendizagem, promovendo assim uma aquisição de conhecimento sem

“estresse” e sofrimento para todos os envolvidos. Neste sentido, os dados

apresentados mostram que a ludicidade tem um campo imensamente promissor,

considerando que esta faz parte da vida e das necessidades do ser humano. Faz-se

necessário, todavia, que as escolas e os educadores se dêem conta que as crianças

e adolescentes de hoje são frutos do avanço tecnológico e sofrem a influência dos

meios de comunicação de massa, por isso é preciso pensar as intervenções

pedagógicas levando em consideração a realidade, o tempo presente. Planejar

buscando dinamizar as atividades propostas em sala de aula, desde o aspecto da

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48

confecção de materiais até a mudança de alguns processos metodológicos pode ser

um caminho para que esse aluno possa interessar-se de maneira positiva e

aprender utilizando todos os recursos disponíveis. Além disso, o/a professor/apode

proporcionar outras experiências com o lúdico que possam levar essas crianças a

refletirem sobre essa influência da cultura de massa nas brincadeiras infantis, além

de proporcionar ao educando uma orientação acerca da importância de se preservar

brincadeiras que fizeram parte do acervo cultural daquela comunidade.

Estas informações são reforçadas por Almeida (2000), quando diz que o lúdico pode

contribuir decisivamente para a melhoria da qualidade de ensino, possibilitando ao

educando uma formação crítica e rica, além de ajudar a diminuir os índices de

repetência e evasão. Salienta ainda, que toda criança sonha encontrar na escola um

ambiente de alegria e prazer, onde possa viver a melhor fase de sua vida, contudo,

muitos acabam tendo seus sonhos transformados em pesadelos. Almeida (2000)

afirma que “é preciso sem dúvida, reencontrar caminhos novos para a prática

pedagógica escolar, uma espécie de libertação, de desafio, uma luz na escuridão

(...) e educação lúdica pode ser uma boa alternativa” (p. 62).

Nesta direção, faz-se necessário a existência de um professor que tenha e busque o

conhecimento que promove a compreensão do real valor dos jogos, brincadeiras e

dinâmicas e assim possa traçar as diretrizes condutoras do aprendiz á fonte do

saber e com o toque delicado que só a ludicidade possui, convencê-lo a

experimentar um mergulho no profundo mundo da aprendizagem.

4.2.4 Brincadeiras infantis: do que mais gosto de brincar?

Para Teixeira (1995, p.23) “O ser que brinca e joga é também o ser que age, sente,

pensa, aprende e se desenvolve”. Desta forma, através das brincadeiras, a criança

se envolve na atividade e sente a vontade de partilhar com o outro. Esta relação

divulga as potencialidades dos participantes, afeta as emoções e coloca em cheque

as aptidões, testando limites e propondo desafios.

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Notamos através da entrevista que 50% relataram brincar com os amigos e irmãos,

de videogame e jogos pela Internet, 30% afirmaram brincar de amarelinha e boneca

e 20% afirmaram brincar de pega-pega, amarelinha, xadrez e de bola. Podemos

observar na fala de Jeferson o quanto o computador é muito importante para a sua

vida: “As brincadeiras que mais gosto de brincar são os jogos do computador,

sempre que posso estou lá acessando e me divertindo muito e até mesmo com

meus colegas”.

Vale salientar que pais e professores, de certa forma tem contribuído nesse

interesse repentino e avassalador do educando pelos elementos da cultura de

massa, tais como os brinquedos eletrônicos e objetos da informática, e nesse

sentido o computador, quando a escola determina que a pesquisa deva ser feita pela

internet. Às vezes, os pais numa tentativa de suprir a sua ausência na vida dos filhos

ou com objetivo de que as crianças não fiquem nas ruas, acabam comprando um

computador e colocam no quarto, podendo isso representar um risco, pois nem

sempre os pais têm o tempo esperado para acompanhar os filhos no uso desse

veículo de informação.

Portanto, tanto no ambiente familiar quanto na escola é preciso uma orientação que

tenha como finalidade formar educandos preparados e conscientes dentro da

sociedade, e que transmita para esses alunos conceitos a fim de desenvolver

estratégias para dinamizar o processo de ensino e aprendizagem. Segundo

Schwaetz (1985):

O papel do professor deveria incluir e ensinar as crianças como estruturar e classificar informações que elas já possuem e estão constantemente recebendo. Muitos poucos professores adotam essa abordagem e as crianças pagam o preço dessa falha dos mestres desinteressados pela escola (p.30)

Dessa maneira, os alunos se tornam apenas meros reprodutores de conceitos e

ideias prontas, não sendo formados para questionar ou enfrentar as dificuldades,

que surgem diariamente, pois a tarefa principal da escola é formar cidadãos para

atuar como agentes de transformação de realidades, a começar da sua.

Page 50: Monografia Silvana Pedagogia 2011

50

4.2.5 Televisão: O que e quando assistir?

No que tange esta questão, 70% relataram assistir novelas e minisséries, a exemplo

de “Morde e Assopra”, “Rebelde”, “malhação e demais novelas”. Já 20% relataram

assistir desenhos e 10% assistem a jogos de futebol. Com isso, percebeu-se que o

gosto das crianças tem mudado de forma considerável,sendo que as novelas e

demais programas impróprios para a idade deles,ganharam a preferência desse

público,denotando também a falta de controle dos pais nos horários e programas

que estas crianças estão assistindo e na quantidade de tempo que elas estão

expostas à televisão, podendo este fato ser marcado pela influência massiva da

mídia televisiva. Observou-se assim que os desenhos, apesar de ter um lugar na

agenda dos meninos, vêm cada vez mais perdendo espaço. Nota-se isso em

algumas falas, principalmente entre as meninas:

- Adoro assistir as novelas. De tarde e a noite e ainda meus programas favoritos são rebeldes, se ele dança eu danço tudo a ver, morde e assopra e outros. (Ana)

- Sim, novelas, 05h00min, 07h00min horas. Rebelde malhação, cordel encantado e morde assopra, Lara com z, zorra total. Grande família e insensato coração. Assisto tudo isso e se pudesse assistia mais. (Kaline)

- Assisto rebeldes, insensato coração, cordel encantado, malhação, morde e assopra, filmes na seção da tarde... gosto demais. (Maria)

- Eu assisto futebol, desenho da globo, novelas mas a preferida é a “rebeldes” (Luiz).

Dizer que a apropriação das mensagens da mídia se tornou um meio de auto

formação no mundo moderno não é dizer que ele é o único meio: Claramente não é.

Há muitas outras formas de interação social, como as existentes entre pais e filhos,

entre professores e alunos, entre pares, que continuarão a desempenhar um papel

fundamental na formação pessoal e social. Os primeiros processos de socialização

na família e na escola são de muitas maneiras, decisivos para o subsequente

desenvolvimento do individuo e de sua autoconsciência. Mas não devemos perder

de vista o fato de que, num mundo cada vez mais bombardeado por produtos da

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indústria cultural e da grande mídia, uma nova e maior arena foi criada para o

processo de auto formação, essa “É uma arena livre das limitações espaços

temporais da interação face a face e; dado o alcance da televisão em sua expansão

global, se torna cada vez mais acessível aos indivíduos em todo o mundo”.

(THOMPSON, 1998, p.46)

Page 52: Monografia Silvana Pedagogia 2011

52

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade contemporânea, principalmente no que tange aos meios de

comunicação de massa, entre eles a mídia televisiva, tem utilizado diversas técnicas

de convencimento sobre os seres humanos e consequentemente as crianças são o

alvo desta indústria no que se referem à cultura infantil, envolvendo os brinquedos e

as brincadeiras. Nesse sentido, a sociedade exige um novo perfil de indivíduos,

preparados para enfrentar os vários desafios implantados pelas políticas neoliberais

resultantes da globalização.

Nesta perspectiva, buscou-se a partir desta pesquisa investigar “a influência da

cultura de massa nas brincadeiras infantis”, tendo em vista que na maioria das vezes

as crianças estão, a quase todo momento, brincando com brinquedos e brincadeiras

resultantes da industrialização de massa e das novas tecnologias, muito distantes

daquela que fizeram parte do acervo cultural dos seus antecessores. O brincar das

crianças de hoje, envolve uma gama de brinquedos influenciados pela mídia

principalmente a televisiva.

Os instrumentos de coleta de dados escolhidos contribuíram consideravelmente

para que o objetivo deste trabalho fosse alcançado. A partir da observação e da

entrevista semiestruturada foi possível confrontar a teoria e a prática, e pudemos

discutir como a cultura de massa tem influenciado nas brincadeiras infantis na

sociedade contemporânea. Vale ressaltar ainda, a importância da aplicação do

questionário com os alunos, sendo que a utilização deste instrumento possibilitou o

confronto das concepções dos mesmos e a observação a respeito da influência da

cultura de massa nas brincadeiras infantis. Pode-se conhecer a afinidade dos

educandos por esta proposta pedagógica e mostrou as dificuldades que os

educadores apresentam ao adotar uma metodologia pautada no uso de brinquedos

e jogos pedagógicos que tenham como finalidade o entretenimento e o despertar

para a importância desses para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem.

Outro ponto, considerado relevante diz respeito às construções obtidas através das

entrevistas. Com este instrumento foi possível confirmar o que já havia sido

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salientado no quadro teórico, nas observações e nos questionários que a infância

encontra-se sob forte influência da mídia que contribui nas mudanças e nas formas

de brincar das crianças. Percebemos também, que a escola e os professores

parecem não se dar conta dessas questões, visto que não há nenhuma ação por

parte da escola que oportunize as crianças a refletirem sobre isso. Esta realidade

aponta para a necessidade de intervenção do Município, Estado e União, investirem

mais na formação acadêmica de seus professores, tendo em vista que as mudanças

nas ações docentes são observadas quando os educadores se apropriam

criticamente do conhecimento produzido nas universidades.

Observando as atividades de recreação, percebemos que quando estas ocorriam

sem a coordenação e orientação do professor, os educandos utilizavam na maioria

das vezes instrumentos tecnológicos como: celular, MP3, MP4, rádios e outros,

apenas algumas vezes os professores direcionavam as brincadeiras. Entendemos

que brincadeiras e jogos dinâmicos, são de suma importância para o

desenvolvimento das crianças, porém estas acabam sendo sucumbidas pelos

avanços tecnológicos e influência da globalização e por falta de quem as ensine as

brincadeiras tradicionais deixam de fazer parte do cotidiano dessas crianças dando

lugar a uma aculturação que por vezes tornam essas crianças em adolescentes

alienados por estes instrumentos tecnológicos.

A análise dos dados da entrevista nos permitiu perceber que o lúdico, por meio de

brincadeiras, dinâmicas e jogos, é valorizado pelos educandos, desta forma os

professores devem aproveitar o interesse dos alunos por jogos e brinquedos

eletrônicos em favor da aprendizagem, levando-os a uma reflexão desses jogos e,

brinquedos e brincadeiras. Assim, o educador deve compreendera criança como um

indivíduo que se encontra numa fase delicada do seu desenvolvimento, o qual

necessita ser respeitado e compreendido, sendo que a escola que precisa buscar

métodos adequados para alcançar esta proeza.

É importante mencionar também, que as crianças contemporâneas são fruto da

sociedade da informatização por estarem envolvidos nesse contexto, precisam ser

orientados tanto pela a escola como pela a família sobre as formas de brincar e

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54

também em relação aos brinquedos industrializados para que não tenhamos

crianças alienadas pelos meios de comunicação de massa. E sendo a escola uma

instituição formadora de indivíduos capazes de atuar de forma critica na atual

sociedade contemporânea, deve proporcionar elementos fundamentais para a sua

atuação.

Diante das leituras feitas e dos dados da nossa pesquisa, podemos dizer que a

cultura lúdica envolve o individuo, e como discutido na análise, as crianças se

deixam levar facilmente pela influência dos meios eletrônicos quando se viam diante

deles. Cabe também aqui uma reflexão sobre o papel e a influencia da TV na

formação das crianças, pois estas têm permanecido tempo demais em frente à

televisão, muitas vezes sem o monitoramento do adulto sobre a programação a ser

assistida pela criança. Isto ficou claro nas entrevistas quando crianças de 8,9 e 10

anos diziam que seus programas favoritos eram as novelas. Assistir esses

programas sem uma interlocução com o adulto sobre os conteúdos (valores,

comportamentos) que estes programas transmitem acabam fazendo com que as

crianças sejam despertadas para o mundo adulto cedo demais.

Portanto, a conclusão que se chega é que a cultura de massa tem sido determinante

no que se refere à influência do gosto das crianças e interesse por brincadeiras,

jogos e dinâmicas, tendo em vista, que 90% dos educandos em suas respostas e ao

longo da observação sistemática demonstraram o uso constante de elementos

tecnológicos, como: computador, telefone celular, MP3, televisão, entre outros.

Entendendo dessa maneira que antigos costumes infantis, que faziam parte do

acervo cultural de nossas brincadeiras e de nossos pais, ficaram esquecidos e

sucumbidos pelos avanços dessa sociedade capitalista que prioriza o ter em

oposição ao ser.

Page 55: Monografia Silvana Pedagogia 2011

55

REFERÊNCIAS

AGUIAR, João Serapião de. Educação Inclusiva: Jogos para o ensino de conceitos. Campinas, SP: Papiros, 2004

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ANEXOS

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

Este questionário realizado com os alunos do ensino fundamental I faz parte de uma

atividade de pesquisa monográfica da Universidade do Estado da Bahia, que traz

como temática. A influência da Cultura de massa nas brincadeiras infantis. Sendo, o

mesmo, utilizado como instrumento de investigação, análise e interpretação de

dados sobre a problemática do referido trabalho.

1. Os professores costumam trazer jogos, dinâmicas e brincadeiras para as

aulas? E no horário do recreio escolar? Quais?

2. Quais as suas brincadeiras favoritas? Do que você gosta de brincar na hora do recreio? E em casa, com seus amigos, brinca de quê?

3. Você tem brinquedos? Quais? Você constrói algum brinquedo ou jogo pra brincar? Quais? É melhor construir o brinquedo ou comprar? Por quê?

4. Que jogos e brincadeiras você mais gosta de brincar com seus amigos,

irmãos ou até mesmo sozinho?

5. Você gosta de assistir televisão? O que você assiste, em que horário? Quais os seus programas favoritos?