monografia - os vocalises na preparaÇÃo da tÉcnica vocal

61
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES HABILITAÇÃO EM MÚSICA André Matos Rabelo OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL: Um estudo dos principais exercícios utilizados no curso Técnico em Canto do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez Montes Claros MG Dezembro / 2009

Upload: freneck-oliver

Post on 01-Jul-2015

8.502 views

Category:

Documents


39 download

TRANSCRIPT

Page 1: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES – HABILITAÇÃO EM MÚSICA

André Matos Rabelo

OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL:

Um estudo dos principais exercícios utilizados no curso Técnico

em Canto do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez

Montes Claros – MG

Dezembro / 2009

Page 2: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

2

André Matos Rabelo

OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL:

Um estudo dos principais exercícios utilizados no curso Técnico

em Canto do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez

Monografia apresentada ao Curso de

Licenciatura em Artes – Habilitação em

Música da Universidade Estadual de

Montes Claros, como exigência para

obtenção do grau de Licenciado em Artes

– Habilitação em Música.

Orientador: Profª Ms. PATRÍCIA INÊS

ROHLFS PERES

Montes Claros – MG

Dezembro / 2009

Page 3: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

3

André Matos Rabelo

OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL:

Um estudo dos principais exercícios utilizados no curso Técnico

em Canto do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez

Monografia apresentada ao Curso de

Licenciatura em Artes – Habilitação

em Música da Universidade Estadual

de Montes Claros como exigência para

obtenção do grau de Licenciado em

Artes – Habilitação em Música.

Membros:

____________________________________________________

Orientadora: Profª. Ms. PATRÍCIA INÊS ROHLFS PERES

____________________________________________________

Prof. Ms. Waldir Pereira da Silva

_____________________________________________________

Profª. Esp. Maria Amélia C. Feitosa Callado

Montes Claros - MG

Dezembro / 2009

Page 4: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

4

Dedico este trabalho a todos os professores

que contribuíram para a minha

formação como músico!

Page 5: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e a todos que de alguma forma me ajudaram a

concluir este trabalho.

Obrigado a todos os colegas da turma, principalmente à Cássia Cotrim e Débora

Borburema pela força!

Ao meu grande amigo Fábio Carvalho, que esteve ao meu lado quando precisei,

me ajudando com as transcrições dos vocalises... enfim, muito obrigado!

Não posso deixar de agradecer à minha mãe, pela paciência e compreensão.

Muito obrigado a todos!

Page 6: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

6

“Renuncie a uma coisa somente quando desejar

tanto alguma outra que a coisa renunciada

nenhuma atração mais exerça ou quando parecer

que ela está interferindo no que é mais

intensamente desejado”.

Gandhi

Page 7: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

7

RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo sobre a utilização dos vocalises na preparação da técnica

vocal pelos professores do curso técnico em canto do Conservatório Estadual de Música

Lorenzo Fernândez. Um panorama com os principais termos e informações relevantes à

compreensão das informações aqui apresentadas é descrito com grande objetividade e clareza,

não restringindo esta pesquisa apenas aos profissionais da área de canto, mas também tendo o

cuidado de alcançar diversos níveis de interesses ou conhecimento prévio sobre o assunto.

Considerando as especificidades da natureza do estudo do canto lírico, no que se refere a um

processo de desenvolvimento técnico e descobrimento das potencialidades e fisiologia

individual, é fundamental atentarmos para um dos principais exercícios que contribuem para o

desenvolvimento técnico de um cantor – o vocalise. É sabido que as escolas de canto e as

técnicas por elas defendidas se divergem significativamente. Procuramos, então, compreender

a linha de trabalho utilizada, bem como a coerência de metodologia pelos professores,

baseando em uma pesquisa bibliográfica de apoio e na aplicação de entrevistas, tornando

possível descrever e analisar a metodologia do ensino de 75% dos professores do curso, o que

caracterizou uma expressiva fidelidade na representação do universo pesquisado. Coletamos

diversos vocalises, comumente trabalhados pelos professores, sendo por eles selecionados de

acordo com suas experiências da prática do canto ou simplesmente da prática docente e,

assim, os classificamos quanto a seus objetivos e funções nas seguintes categorias:

aquecimento, vocalises iniciais, ressonância, articulação, extensão vocal, notas sustentadas,

agilidade e staccato. Relatamos ainda explicações sobre as suas variações e justificativas de

seu uso, além de reunir exemplos escritos para facilitar a compreensão e disponibilizar

material de referência para estudos posteriores.

Palavras-chave: Vocalise. Técnica vocal. Ensino de Canto.

Page 8: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

8

ABSTRACT

This work presents a study about of the use of vocalizes in the preparation of vocal technique

by teachers of singing technical course of the State Conservatory of Music Lorenzo

Fernandez. An overview of the key terms and relevant information to understand the

information presented here is described in greater objectivity and clarity, not confining the

search solely to professionals in the singing area, but also taking care to achieve different

levels of interest or prior knowledge about the subject. Considering the specific nature of the

study of the opera singing, with respect to a process of technical improvement and discovery

of potentiality and individual physiology, it is vital we look to one of the main exercises that

contribute to the technical development of a singer - the vocalize. It is known that the singing

schools and the techniques advocated by them differ themselves significantly. So we tried to

understand the line of work used and also the correlation of methodology of the educator

teachers, basing on a literature research of support implementation of interviews, making it

possible to describe and analyze the methodology of teaching of 75% of the course professors

which featured an impressive fidelity on the representation of the universe studied. We collect

several vocalizes, usually worked by teachers, been selected by them according to their

experiences of the practice of singing or simply teaching practice and thus we have classified

them according to their objectives and functions in the following categories: heating, initial

vocalize, resonance, articulation, vocal extension, sustained notes, agility and staccato. We’ve

also related explanations about its changes and justifications of its use, and gather written

examples to facilitate understanding and provide reference material for further studies.

Keywords: Vocalize. Vocal technique. Teaching of singing.

Page 9: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Capítulo 1 Quadro 1 – Classificação e extensão das vozes................................................................. 15 Figura 1 – O aparelho fonador......................................................................................... 17

Figura 2 – Os sistemas respiratório, fonatório e articulatório.......................................... 17

Figura 3 – Caminho do som aos ressoadores faciais........................................................ 21

Figura 4 – Ressoadores da face (Máscara)....................................................................... 21

Figura 5 – A cavidade bucal............................................................................................. 22

Figura 6 – Principais posições articulatórias.................................................................... 23

Figura 7 – Posição articulatória das consoantes............................................................... 24

Capítulo 3 Figura 8 – Exercício com a fonética do “j”...................................................................... 35

Figura 9 – Exercício de vibração: “brrr” ou “trrr”........................................................... 36

Figura 10 – Variação com intervalos de terças.................................................................. 37

Figura 11 – Variação com pentacorde............................................................................... 37

Figura 12 – Bocca Chiusa cromático................................................................................. 37

Figura 13 – Variação melódica do Bocca Chiusa.............................................................. 38

Figura 14 – Variação melódica do Bocca Chiusa.............................................................. 38

Figura 15 – Exercício com vogal....................................................................................... 39

Figura 16 – U-i................................................................................................................... 39

Figura 17 – U-i-u................................................................................................................ 39

Figura 18 – Piuí.................................................................................................................. 40

Figura 19 – Mi.................................................................................................................... 40

Figura 20 – U..................................................................................................................... 40

Figura 21 – Vi-a-i............................................................................................................... 41

Figura 22 – Mu................................................................................................................... 41

Figura 23 – Vi-a-é-ó-u........................................................................................................ 41

Figura 24 – Ru.................................................................................................................... 42

Figura 25 – Exercício com ressonância nasal.................................................................... 42

Figura 26 – Ni-no-ni-no-ni................................................................................................. 43

Figura 27 – Exercício de ressonância com escala.............................................................. 43

Figura 28 – Ibi.................................................................................................................... 44

Figura 29 – Nau (pentacorde)............................................................................................ 44

Figura 30 – Vi-vi-vi............................................................................................................ 44

Figura 31 – Brim-brim-brim............................................................................................... 45

Figura 32 – Zi-ri-bi-ri......................................................................................................... 45

Figura 33 – Voi-nhá........................................................................................................... 46

Figura 34 – Nhie................................................................................................................ 46

Figura 35 – Nhin................................................................................................................ 47

Figura 36 – Mo-mi-mo....................................................................................................... 47

Figura 37 – Articulação de vogais...................................................................................... 47

Figura 38 – Ah! T’amo!...................................................................................................... 48

Figura 39 – Ah! T’emo....................................................................................................... 48

Figura 40 – Nau (pentacorde)............................................................................................. 48

Figura 41 – Nau (escala com 9ª)......................................................................................... 49

Figura 42 – Escala com 9ª................................................................................................... 49

Figura 43 – Variação da escala com 9ª............................................................................... 49

Page 10: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

10

Figura 44 – Variação da escala com 9ª............................................................................... 50

Figura 45 – Variação da escala com 9ª............................................................................... 50

Figura 46 – Arpejo de 12ª................................................................................................... 50

Figura 47 – Mi-ó................................................................................................................. 51

Figura 48 – Va.................................................................................................................... 51

Figura 49 – Vivi Perte......................................................................................................... 51

Figura 50 – Zi-on................................................................................................................ 52

Figura 51 – Vi-a-i-a............................................................................................................ 52

Figura 52 – Vi-a-i-a – staccato........................................................................................... 53

Figura 53 – Lia................................................................................................................... 53

Figura 54 – Vôi................................................................................................................... 53

Figura 55 – Piú (trilo)......................................................................................................... 54

Figura 56 – Escala com 11ª................................................................................................. 54

Figura 57 – Exercício de agilidade..................................................................................... 55

Figura 58 – A (staccato)..................................................................................................... 55

Figura 59 – Ma (staccato)................................................................................................... 55

Page 11: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13

CAPÍTULO 1

1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO CANTO .................................. 15

1.1. Classificação vocal .................................................................................... 15

1.2. O aparelho fonador .................................................................................... 16

1.3. Respiração ................................................................................................. 18

1.4. Noções de apoio ........................................................................................ 20

1.5. Ressonância ............................................................................................... 20

1.6. Articulação ................................................................................................ 22

1.7. Passagens e registros vocais ...................................................................... 24

1.8. Vibrato ....................................................................................................... 25

1.9. Aquecimento vocal.................................................................................... 26

1.10. A vocalização ............................................................................................ 26

CAPÍTULO 2

2. EXPOSIÇÃO DO ESTUDO .................................................................. 28

2.1. Metodologia aplicada ................................................................................ 28

2.2. Panorama geral do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez

............................................................................................................................. 29

2.3. A aplicação de vocalises no curso Técnico em Canto .............................. 32

CAPÍTULO 3

3. VOCALISES UTILIZADOS ................................................................. 35

3.1. Aquecimento vocal.................................................................................... 35

3.2. Vocalises iniciais ....................................................................................... 39

3.3. Ressonância ............................................................................................... 42

Page 12: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

12

3.4. Articulação ................................................................................................ 47

3.5. Extensão vocal .......................................................................................... 48

3.6. Notas sustentadas ...................................................................................... 52

3.7. Agilidade ................................................................................................... 54

3.8. Staccato ..................................................................................................... 55

CONCLUSÃO ................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 59

ANEXOS ............................................................................................................ 61

Roteiro das entrevistas ........................................................................................ 61

Page 13: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

13

INTRODUÇÃO

O número de pesquisas abordando diferentes temas da Educação Musical tem se

ampliado significativamente no Brasil, contribuindo assim para revelar a diversidade de suas

formas de ensino e aprendizagem que são tão dinâmicas e ricas quanto a própria musicalidade

brasileira, bem como, aspectos de fragilidade e como conseqüência, propostas e intervenções

necessárias para sua organização e aprimoramento, cumprindo o seu papel na ampliação da

literatura específica da área. Dessa forma, a pesquisa em música assume cada vez mais espaço

e reconhecimento no meio científico. Este trabalho vem somar a esse índice, apresentando

características metodológicas relacionadas à aplicação de vocalises em busca de melhor

conhecimento dos processos utilizados na técnica vocal.

A prática do Canto Lírico se desenvolve com estudos que buscam sempre uma

técnica mais saudável e eficaz para o cantor. Os exercícios de canto devem ser feitos

regularmente para que o cantor desenvolva a musculatura do seu aparelho fonador, identifique

os procedimentos necessários para obter uma boa colocação de voz, busque uma boa

projeção, saiba utilizar as caixas de ressonância, o controle de ar, obtenha uma articulação

eficiente, etc.

Diante de tal situação, é importante uma compreensão dos exercícios mais

utilizados pelos professores de canto lírico, visando aspectos como consoantes e vogais,

linhas melódicas e intervalos utilizados; através de uma pesquisa bibliográfica específica,

além da necessidade de um amplo conhecimento prático do ato de cantar. Este trabalho foi

realizado no Curso Técnico em Canto do Conservatório Estadual de Música Lorenzo

Fernândez, apontando os exercícios vocais mais utilizados pelos professores da área.

A metodologia deste trabalho constitui de pesquisa bibliográfica e pesquisa de

campo com abordagens do tipo qualitativa e quantitativa. Foram realizadas entrevistas do tipo

estruturadas e semi-estruturadas com amostragem de 75% do corpo docente do curso técnico.

Estas entrevistas foram transcritas e organizadas por categorias, a fim de facilitar a análise do

conteúdo e a compreensão do leitor.

No primeiro capítulo, abordamos conceitos do canto que não poderíamos deixar

de citar neste trabalho, sendo necessários para a compreensão dos próximos capítulos. Nele

conceituamos termos como: classificação vocal, aparelho fonador, respiração, noções de

apoio, ressonância, articulação, passagem e registros, vibrato, aquecimento vocal e por fim, a

vocalização.

Page 14: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

14

Como roteiro do nosso estudo, apresentamos no segundo capítulo, a metodologia

aplicada neste trabalho, o seu universo de pesquisa, um breve histórico do Conservatório, e

uma parte dos dados colhidos nas entrevistas, visando aspectos sobre a aplicação dos

vocalises utilizados pelos docentes. Já no terceiro capítulo, fizemos a análise dos vocalises

mais utilizados pelos professores, ilustrando de forma detalhada suas formas, variações,

objetivos e também as diversas metodologias relatadas. Por fim, apresentamos a conclusão

sintetizando a análise dos dados coletados e observados, expondo, portanto, o resultado obtido

com este estudo.

Page 15: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

15

Capítulo 1

1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO CANTO

O estudo do canto compreende um vasto universo de informações e seus

principais conceitos técnicos não poderiam deixar de serem citados neste trabalho. Neste

capítulo trataremos destes aspectos para assim, auxiliar no entendimento das próximas

abordagens desta pesquisa.

Nos tópicos a seguir, faremos um breve resumo de alguns conceitos que

permeiam o canto, entre eles, citaremos: aparelho fonador, respiração, articulação,

ressonância, entre outros. Trataremos ainda de alguns aspectos fisiológicos referentes ao

trabalho técnico vocal.

1.1. Classificação vocal

O termo classificação vocal é utilizado para classificar as vozes com

características semelhantes em grupos. A voz humana divide-se classicamente em três

categorias vocais para os homens e três para as mulheres, e cada divisão apresenta várias

subdivisões. Abaixo podemos conferir no quadro 1 as classificações básicas e suas diferenças

de extensão, que variam de acordo com as particularidades de cada cantor.

EXTENSÃO DAS VOZES

Voz Feminina Voz Masculina

Soprano dó3 – fá5

Mezzo-soprano lá2 – si4

Contralto mi2 – lá4

Tenor dó2 – ré4

Barítono Sol1 – lá3

Baixo dó1 – fá3

QUADRO 1– Classificação e extensão das vozes

Fonte: DINVILLE, 1993, P. 15.

Page 16: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

16

A classificação vocal não é necessária no canto popular, uma vez que a tessitura1

explorada não é ampla, e as tonalidades das músicas podem ser modificadas se adequando a

voz de cada cantor, porém é extremamente necessária para o canto lírico, visto que

principalmente nas óperas, as arias e os personagens são estabelecidos pelas classificações,

explorando assim, as características de cada voz e impossibilitando a mudança de tonalidade.

Quanto ao modo de classificação, as vozes não devem ser classificadas pelo seu

timbre de fala, visto que a voz falada está frequentemente mal impostada2 (MANSION, 1947,

p. 72). Também não deve ser classificada na primeira aula, pois com o trabalho de técnica

vocal, a voz sofre modificações. Deve-se assim, levar em consideração vários fatores, neste

contexto, a professora Bezzi explica:

Só podemos definir com segurança o registro do aluno, depois de algum tempo de

estudo; tempo que varia, de acordo com a idade e a qualidade da voz. Numa voz

branca, sem timbre só podemos ter idéia do registro quando o timbre começa a

aparecer (BEZZI, 1984, p. 37).

De acordo com Bezzi (1984), a voz deve ser classificada pelo timbre e nunca pela

extensão vocal3. Em concordância, Mansion (1947) também acredita que a voz não deve ser

classificada por sua extensão, mas sim pelo timbre e tessitura, acrescenta.

1.2. O Aparelho fonador

Diferentemente de outros órgãos ou aparelhos do corpo humano, que mostram em

sua fisiologia o objetivo específico de seu funcionamento, nosso corpo não veio com um

aparelho especializado na fala ou canto, mas sim para exercer funções primárias como

mastigar, engolir, respirar ou cheirar e foi a partir da necessidade da comunicação que o

homem “descobriu” primeiramente a possibilidade de produzir sons com significado e logo

depois o canto, adaptando assim partes do seu corpo para o que hoje denominamos de

aparelho fonador.

1 “É o conjunto de notas que o cantor pode emitir facilmente” (DINVILLE, 1993, p. 11).

2 Impostação é a emissão correta da voz (BEUTTENMÜLLER; LAPORT, 1992, p.57).

3 “Abrange a totalidade dos sons que a voz pode realizar” (DINVILLE, 1993, p. 11).

Page 17: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

17

FIGURA 1 – O aparelho fonador

Fonte: <http://www.cefala.org/fonologia/>. Acesso em 09 nov. 2009.

O aparelho fonador abarca os principais órgãos da produção vocal. De acordo com

Silva (1999), o aparelho fonador é formado pelo sistema respiratório, o sistema fonatório e o

sistema articulatório sendo responsável pela produção dos sons da fala ou canto.

FIGURA 2 – Os sistemas respiratório, fonatório e articulatório

Fonte: SILVA, 1999, p.24.

Page 18: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

18

O sistema respiratório consiste dos pulmões, dos músculos pulmonares, dos tubos

brônquios e da traquéia. Sua função primária é a respiração.

O sistema fonatório se constitui pela laringe, cuja função primária é atuar como

uma válvula que obstrui a entrada de comida nos pulmões (SILVA, 1999, p. 25). Nela se

localizam os músculos estriados denominados pregas vocais que são semelhantes a dois

pequenos lábios que abrem e fecham de acordo com a respiração ou intenção de proferir um

som. Quando fechadas, a pressão do ar força sua passagem por elas, produzindo o movimento

vibratório que origina a voz.

O sistema articulatório é composto pela faringe, língua, nariz, dentes e lábios.

Todos situados acima da glote (SILVA, 1999, p. 24-25).

1.3. Respiração

A respiração é o alicerce de toda a técnica vocal (BEZZI, 1984, p. 44). Neste

contexto, MANSION ainda compara:

A respiração é para o cantor o que o arco é para o violinista. É impossível ser um

bom violinista sem ter um bom golpe de arco. Do mesmo modo, não se é bom cantor

se não possuir um perfeito controle da respiração. A respiração pode ser em efeito,

comparado ao arco, que sustenta o som e lhe dá amplitude, força, suavidade e

flexibilidade4 (MANSION, 1947, p. 35, tradução nossa).

Segundo Dinville (1993), a voz só é produzida quando acontece uma pressão no

ato de expirar, assim, criando e mantendo o som laríngeo.

Apesar da respiração ser um ato inconsciente, o aluno de canto deve ter

consciência e disciplina ao respirar, para que após um longo treinamento, a respiração esteja

ativa e eficaz em função do canto (DINVILLE, 1993, p. 51). Entendemos que o processo de

controle do ar acontece à medida em que o trabalho vocal se desenvolve, bem como a

conscientização e assimilação da respiração correta para o canto.

De acordo com Bezzi (1984), costuma-se considerar três tipos básicos de

respiração, sendo estas identificadas de acordo com os músculos utilizados durante o ato. Elas

são:

4 “La respiración es al cantante lo que el arco al violinista. Es imposible ser buen violinista sin tener um buen

golpe de arco. De igual modo, no se es buen cantante si no se posee un perfecto control de la respiración. El

aliento puede ser, em efecto, comparado al arco, que sostiene el sonido y le da su amplitud, su fuerza, su

suavidad y su flexibilidad”.

Page 19: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

19

Clavicular: Nesta respiração, menos de 1/3 da capacidade pulmonar é aproveitada.

O abdômen se mantém encolhido e o diafragma5 em posição alta. Esta respiração

não é indicada, pois o espaço preenchido pelo ar é mínimo, utilizando-se

praticamente só o lóbulo6 superior do pulmão.

Intercostal: Utiliza-se todo o pulmão, apesar de não expandir completamente a sua

base. O abdômen mantém-se encolhido e o diafragma desce ligeiramente,

expandindo assim o tórax. Não é indicada por Bezzi, pois segundo ela a expansão

do tórax não se dá por completa, o transverso (músculo do abdômen) é contraído

desnecessariamente e o indivíduo tende-se com mais facilidade mudar a

respiração realizada para a clavicular sem que perceba.

Costo-Abdominal: O pulmão se enche de ar da base para cima, o diafragma desce,

o abdômen cresce para frente e para baixo gerando uma maior expansão de todo o

corpo. É a respiração natural, usada pelas crianças, animais e quando dormimos.

Na expiração, os músculos abdominais atuam junto ao diafragma promovendo

assim o apoio à coluna de ar necessária na emissão dos sons (BEZZI, 1984, p. 50-

53). Para Dinville: “a firmeza costo-abdominal e dorsal constitui o que chamamos

de manutenção do sopro” (DINVILLE, 1993, p. 55).

Constatamos então pela pesquisa bibliográfica bem como por nossa própria

vivência, que a utilização correta e controle da respiração é de extrema relevância, seja ela do

tipo intercostal ou costo-abdominal, uma vez que deve estar a serviço do canto,

proporcionando maior capacidade respiratória e de apoio.

5 Diafragma é um “músculo fino, (...) que separa a área torácica da abdominal. Seu movimento vertical é o

“apoio” e auxilia o controle e saída do ar” (BABAYA, 2007, p. 4). 6 O pulmão apresenta três lóbulos, sendo o superior menor e o inferior maior (BEZZI, 1984, p. 50).

Page 20: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

20

1.4. Noções de apoio

Devemos a Mansion (1947) o conceito de apoio, se tratando da sensação de

solidificação e controle do som. Para Bezzi: “a voz deve estar sobre o fôlego, apoiada na

coluna de ar” (BEZZI, 1984, p. 62). Neste contexto, coluna de ar se refere à condução do

sopro, sendo por sua vez, constante, firme e controlada pelo diafragma.

A cinta abdominal é composta pelo transverso no abdômen, o grande oblíquo, o

pequeno oblíquo e o grande reto. Estes músculos garantem estática, dinâmica respiratória e

sustentação da voz (DINVILLE, 1993, p. 24-25). Para a autora:

O trabalho desta musculatura poderosa é indispensável à firmeza das costelas

durante o canto. A atividade deste conjunto de músculos permite modular, regular a

pressão respiratória, segundo as exigências da música, por um controle consciente e

permanente (DINVILLE, 1993, p. 25).

Para Dinville, buscar a sensação na máscara, ou seja, buscar uma emissão para

frente não é indicado, pois requer movimentos musculares mais intensos, contrações

abdominais muito rígidas que interferem na qualidade e prontidão da voz. Neste caso, é

indicado que o indivíduo relaxe os músculos da respiração e prepare a forma ideal para a

condução do sopro em direção ao véu palatino (DINVILLE, 1993, p. 70-71). Já Martinez et.

al. discorda da posição de Dinville e afirma que o som deve ser direcionado para a máscara,

tornando assim a emissão não cansativa e danosa. Neste contexto ele declara: “Quanto melhor

estiver direcionada uma voz para os ressoadores da máscara, melhor será o resultado de

intensidade e projeção vocal” (MARTINEZ et. al., 2000, p. 186).

Diante do conteúdo acima, podemos perceber que existem divergências na técnica

vocal, podendo o professor de canto ou o cantor acreditar em uma técnica, que muitas vezes

não é indicada por outros professores ou cantores.

1.5. Ressonância

O ar, ao fazer vibrar as pregas vocais produz um som insignificante até encontrar

um local que o faça amplificar. Este local é chamado de caixa de ressonância. Como exemplo,

podemos observar o violão, que ao ser tocado, produz o som que ressoa em sua caixa de

Page 21: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

21

ressonância. Se não houvesse a caixa de ressonância, o som produzido pelas cordas não seria

amplificado.

No canto lírico, os ressoadores são múltiplos e quase que todos os ossos do corpo

entram em vibração, sendo a região principal chamada de “máscara”, que significa cantar

utilizando os ressoadores da face, conforme mostra a FIG. 3 (MANSION, 1947, p. 46).

FIGURA 3 - Caminho do som aos ressoadores faciais

Fonte: MANSION, 1947, p. 46

1) Crânio. 2) Cérebro. 3) Seio frontal. 4) Seio esfenoidal. 5) Cavidade nasal. 6) Palato.

7) Véu palatino. 8) Língua. 9) Pregas Vocais (laringe).

A) Ponto que se deve ter a impressão de enviar o som.

FIGURA 4 – Ressoadores da face (Máscara)

Fonte: MARTINEZ, et. al, 2000, p. 176.

Page 22: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

22

Em contestação, Bezzi afirma: “A famosa “voz na máscara” é um caminho

perigoso para recuar a voz, que perde em brilho, qualidade e projeção”. Para ela, os dois

ressoadores mais importantes são a faringe e a boca. (BEZZI, 1984, p. 90). Na FIG 5,

podemos observar a cavidade bucal de outro ângulo para melhor compreensão do órgão.

FIGURA 5 – A cavidade bucal

Fonte: DINVILLE, 1993, p.37.

1) Véu palatino. 2) Úvula. 3) Pilar anterior. 4) Pilar posterior. 5) Amígdala.

6) Língua. 7) Parede faríngea.

Diante dessas controvérsias, podemos observar que o canto não é uma prática

singular, ocorrendo assim, diversas opiniões ao seu respeito. Contudo, sendo a máscara ou a

faringe o principal ressoador, percebe-se que as caixas de ressonância são extremamente

importantes para o canto, portanto, um bom cantor deve obrigatoriamente saber utilizá-las.

1.6. Articulação

O privilégio do canto em relação aos outros instrumentos é poder unir palavras à

melodia. Sendo assim, o cantor deve possuir uma boa articulação para explorar melhor essa

propriedade. No canto lírico, cantam-se peças de diferentes idiomas, especialmente italianas,

alemãs e francesas, conseqüência da tradição da música européia, que exerce grande

Page 23: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

23

influência nas escolas de canto no Brasil. Desta forma, o canto em outra língua, necessita

ainda mais atenção quanto à articulação e dicção das palavras, pela compreensão que o

público deve ter do texto. Entende-se por dicção a maneira correta e clara de pronunciar

palavras.

A articulação deve ser realizada com elasticidade e delicadeza, sem movimentos

bruscos ou forçados e não se pode relaxar a tonicidade muscular necessária para a pronúncia

das palavras. O queixo e a musculatura da face devem estar relaxados, a boca aberta

internamente para que a língua assuma a posição necessária de cada consoante e vogal. O

cantor deve se preocupar em articular as consoantes com movimentos rápidos e elásticos, da

língua e do lábio, para não prejudicar o fluxo do som (BEZZI, 1984, p. 98-100).

Quando se produz sons agudíssimos, o véu palatino se eleva e alarga ao máximo,

a tensão resultante exige que a boca esteja mais aberta do que em regiões mais graves. Por tal

motivo, a articulação na região aguda é limitada sendo melhor articuladas as vogais abertas

“a”, “é” e “e” (DINVILLE, 1993, p. 65).

Para cada vogal ou consoante falada, o sistema articulatório se posiciona de forma

diferente. Na FIG. 6 segue a posição do sistema articulatório conforme a execução das vogais,

e na FIG. 7 segue a posição das consoantes.

FIGURA 6 – Principais posições articulatórias

Fonte: DINVILLE, 1993, p.68.

Page 24: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

24

FIGURA 7 – Posição articulatória das consoantes

Fonte: BEZZI, 1984, p. 106.

1.7. Passagens e registros vocais

Quando cantamos, a voz pode ser direcionada para vários ressoadores do corpo.

Há muitos anos classificaram essas sensações de ressonância em três registros, sendo eles: a

voz de peito, voz mista e voz de cabeça.

Na voz de peito ocorre o abaixamento da laringe e as cordas vocais vibram

lentamente ressoando o som no esqueleto ósseo torácico. Isso acontece quando se emite som

grave. Na voz de cabeça, a laringe sobe, as pregas vocais se alongam e vibram ligeiramente

produzindo um som agudo que ressoa no crânio. Já o registro misto ocorre com a produção de

sons medianos, mesclando as sensações vibratórias de ressonância no tórax e no crânio

(DINVILLE, 1993, p. 71).

O professor de canto experiente apresenta capacidade para perceber onde o som

produzido pelo aluno está ressoando, assim, consegue identificar em que registro o mesmo

está cantando.

Para Bezzi (1984), a voz masculina tem apenas dois registros, obtendo assim

apenas uma nota de passagem de um registro para o outro:

Page 25: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

25

Baixo: dó3 ou dó#3;

Barítono: ré3 ou mib3;

Tenor: mi3 a fá3 ou fá#3.

Já as mulheres possuem os três registros, assim, possuindo duas notas de

passagem. A mudança do registro de peito para o registro misto se dá no mi3 ou fá3, já a nota

de passagem da região mista para voz de cabeça acontece entre ré4 e fá4 (BEZZI, 1984, p. 81-

83).

É importante destacar que a maioria dos alunos iniciantes apresentam problemas

com as notas de passagem, portanto essa dificuldade deve ser bem trabalhada pelo professor,

para assim, homogeneizar a voz do cantor em toda sua extensão.

1.8. Vibrato

O vibrato é considerado como artifício estético, pois dá à voz riqueza,

flexibilidade e doçura ao som (BABAYA, 2007, p. 7). Os alunos de canto iniciantes, na sua

maioria, não possuem vibrato. Os que possuem vibrato natural, na maioria dos casos não

sabem como é realizado e não tem nenhum controle sobre ele.

De acordo com Dinville (1993), ele se caracteriza por modulações de freqüência

(5 a 7 vibrações por segundo), vibrações sincrônicas de intensidade (2 a 3 decibéis) e de altura

(¼ de tom e ½ tom).

O vibrato é adquirido pelo controle técnico sendo necessário tremular a

musculatura respiratória e laríngea (DINVILLE, 1993, p. 8). Neste contexto, Babaya ainda

afirma: “É provocado pela contração de todos os músculos do órgão fonador. Todo o

vestíbulo laríngeo sofre uma ligeira “sacudida” (BABAYA, 2007, p. 7).

Percebemos que a voz com vibrato pode apresentar melhor qualidade do que uma

voz sem vibrato, portanto o cantor lírico deve buscar o aperfeiçoamento técnico para adquirir

o vibrato, considerado uma forte característica neste estilo de canto.

Page 26: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

26

1.9. Aquecimento vocal

Antes de realizar qualquer atividade que exija um esforço muscular, todo

indivíduo deve aquecer a sua musculatura para não sofrer danos. O mesmo ocorre com o

cantor, que antes da prática do canto, deve realizar exercícios de aquecimento vocal, pois

estará utilizando as pregas vocais (músculos que produzem a voz). De acordo com Babaya: “é

preciso ter conhecimento de que as pregas vocais precisam ser aquecidas antes de uma

atividade mais intensa para evitar sobrecarga, uso inadequado ou um quadro de fadiga vocal”

(BABAYA, 2007, p. 9).

Os principais objetivos do aquecimento de acordo com a autora e professora de canto

citada acima são:

Permitir as pregas vocais maior flexibilidade para alongar e encurtar durante as

variações de freqüência.

Dar maior intensidade e projeção à voz.

Proporcionar uma melhor articulação dos sons.

Reunir melhores condições de produção vocal (BABAYA, 2007, p. 9).

Diante dos objetivos, percebemos que o aquecimento vocal é uma prática que

deve estar na rotina dos profissionais que utilizam muito a voz, principalmente os cantores,

que acima de tudo, necessitam também de saúde e qualidade vocal.

1.10. A vocalização

O ato de cantar sobre uma ou mais vogais, com linhas melódicas diversas, é

chamado de Vocalise. Normalmente as notas melódicas são arranjadas como prática didática,

sendo executadas como exercícios que oferecem aperfeiçoamento técnico específico.

Também uma música que não contém texto e é cantada somente com vogal pode ser chamada

de vocalise. Como exemplo, temos parte da música “Bachiana nº. 5” de Villa Lobos.

Sobre vocalise, Babaya (2007) afirma:

Sua finalidade é colocar o aparelho fonador na máxima condição de flexibilidade,

obtendo assim uma perfeita emissão vocal, um timbre agradável, extensão

apropriada às condições físicas de cada indivíduo. Deve ser executado em todas as

vogais, em todas as velocidades, em todos os registros, em todas intensidades e em

toda extensão vocal (BABAYA, 2007, p. 5).

Page 27: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

27

Os vocalises devem ser feitos de pé ou sentados, porém com uma postura ideal

para que as vias respiratórias não sejam obstruídas e não impeçam o bom funcionamento da

coluna de ar (ORTEGA; RAMÍREZ, 1982, p. 95).

Utiliza-se nesses exercícios escalas ascendentes e descendentes que promovem

melhor alongamento das pregas vocais e dos músculos auxiliadores. Normalmente são

iniciados por cromatismo, grau conjunto ou terças, para que o alongamento ocorra de forma

gradativa.

De acordo com Babaya, “o vocalise auxilia no condicionamento muscular

laríngeo e favorece maior resistência vocal”, além de vários outros objetivos trabalhados. Para

Bezzi (1984), a sequência de vocalises é muito importante, pois de acordo com o grau de

dificuldade de certos exercícios, é necessário que outros sejam realizados previamente.

Nos próximos capítulos poderemos observar e compreender a prática dos

vocalises, sendo este o objetivo principal deste trabalho.

Page 28: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

28

Capítulo 2

2. EXPOSIÇÃO DO ESTUDO

2.1. Metodologia aplicada

A metodologia aplicada para a realização deste trabalho foi constituída de

pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Optamos pela abordagem do tipo qualitativa

devido às análises interpretativas do objeto investigado; e quantitativo que se justifica pela

seleção de amostragem do universo estudado e apresentação dos resultados da coleta de

dados.

O trabalho de campo realizado nesta pesquisa se deu através de entrevistas

estruturadas e semi-estruturadas. Esta última se caracteriza por um contato com o

entrevistado, no qual ocorre uma conversa a partir de um guia pré-elaborado, podendo gerar

assim, novos questionamentos não estruturados previamente no roteiro.

Estas entrevistas foram realizadas com uma amostragem de 75% do corpo docente

do Curso Técnico em Canto do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez. Não

entrevistamos o universo total (100%) devido à constante indisponibilidade de horários dos

25% não entrevistados. Para a coleta de dados utilizamos a áudio-gravação, permitindo assim,

um registro na íntegra de todas as perguntas, respostas e conversas realizadas.

Questionamos a aplicabilidade dos vocalises utilizados por estes professores em

sua prática docente, abordando aspectos como: identificação e objetivos dos vocalises

utilizados; composição de novos vocalises; trabalho técnico realizado com esses exercícios e

aplicação dos mesmos com alunos iniciantes e veteranos. Estas entrevistas foram transcritas e

organizadas por categorias, a fim de facilitar a análise do conteúdo.

Com base nos dados coletados analisamos as respostas com o objetivo de

identificar e compreender a aplicabilidade dos vocalises no trabalho vocal com os alunos do

curso Técnico em Canto do Conservatório.

É importante destacar que, por motivos éticos, não citaremos os nomes dos

professores e os mesmos serão identificados por letras.

Page 29: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

29

2.2. Panorama geral do Conservatório Estadual de Música Lorenzo

Fernândez

Esta pesquisa teve como universo o Curso Técnico em Canto do Conservatório

Estadual de Música Lorenzo Fernândez, localizado em Montes Claros - MG, respeitada

instituição de ensino formal de música.

Em 1841 foram institucionalizadas e oficializadas as escolas de música no Brasil,

com a criação do primeiro conservatório brasileiro, fundado por Manuel da Silva, no Rio de

Janeiro. Em Minas Gerais, por decreto do então Governador do Estado, Juscelino Kubitschek,

cria-se inicialmente cinco Conservatórios Estaduais de Música. Com a Lei nº 811, de 14 de

dezembro de 1951, foram criadas essas instituições, regulamentando seus objetivos, cursos e

parâmetros curriculares obrigatórios (VIEGAS, 2006, p. 85).

Só em 14 de março de 1961 que foi instalado o Conservatório Municipal

“Lorenzo Fernândez”, conforme Lei Municipal n.º 771. Foi estadualizado e autorizado o seu

funcionamento em 29 de março de 1962 e a inauguração oficial se deu a 14 de abril deste

mesmo ano. Sua idealizadora e fundadora foi D. Marina Helena Lorenzo Fernândez, filha do

renomado compositor Oscar Lorenzo Fernândez, que por sua vez é o patrono da escola.

O Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez tem como objetivo a

formação prioritária de crianças e jovens segundo o Projeto Político Pedagógico da escola.

Neste contexto, ainda encontramos:

O Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez – CENTERARTES tem

como função precípua a democratização do acesso à arte e à cultura, ampliando seus

serviços a comunidade em geral, resgatando e valorizando ainda, todas as

manifestações culturais e artísticas, populares e eruditas (CONSERVATÓRIO

ESTADUAL DE MÚSICA LORENZO FERNÂNDEZ, 2009, p. 7).

No que se refere ao ensino de música, atualmente o Conservatório se divide em

dois níveis de formação: Educação Musical e Curso Técnico. A Educação Musical é

constituída de Ciclo Inicial (alunos a partir de 6 anos de idade), Ciclo Intermediário (a partir

de 9 anos) e Ciclo Complementar (a partir de 12 anos), assim, totalizando 9 anos de duração.

O curso de nível profissionalizante chamado de Curso Técnico, tem duração de 3

anos e são oferecidos os cursos de: Flauta Doce, Flauta Transversa, Saxofone, Clarinete,

Trompete, Piano, Teclado, Violão, Violino, Violoncelo, Canto e Decoração.

No Curso Técnico em Canto, foco do nosso trabalho, cada aluno realiza duas

aulas semanais de canto, além das outras disciplinas obrigatórias como Percepção, História da

Page 30: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

30

Música e Apreciação Musical, Folclore e Música Popular, Técnica Vocal e Dicção, Prática de

Conjunto, etc.

O curso Técnico em Canto possui 12 professores nos turnos matutino, vespertino

e noturno. Para delimitação do universo desta pesquisa, 9 deles foram entrevistados e todos

possuem Licenciatura Plena em Música ou Bacharelado em Canto com complementação

pedagógica. Destes, 75% são graduados pela Universidade Estadual de Montes Claros –

UNIMONTES e os outros 25% graduados pelo Conservatório Brasileiro de Música – CBM,

no Rio de Janeiro.

Além da sua formação acadêmica, estes professores se baseiam na linha

metodológica de diversos cantores que contribuíram para a sua formação, por meio de cursos

de pequena, média ou longa duração, aplicando-as assim, na sua prática docente.

Professor A:

Leciona no Conservatório há 17 anos, é graduado desde 2002 e se espelha em

Regina Coelho, Maristela Cardoso, Marcos Thadeu Miranda e Antônio Salgado.

Professor B:

Leciona no curso de Canto há 10 anos, graduou-se em 1997 e sofre influência de

Regina Coelho, Marcos Thadeu Miranda e Antônio Salgado.

Professor C:

Leciona no Conservatório há 5 anos e concluiu sua licenciatura em 2004. Sofre

influência das professoras de canto Regina Coelho, Neyde Thomaz e Eliane

Sampaio.

Professor D:

Leciona no Conservatório há 11 anos tendo concluído sua graduação em 2001.

Baseia sua metodologia nas professoras Regina Coelho e Patrícia Peres.

Professor E:

Leciona no Conservatório há 29 anos com alguns intervalos. É graduado desde

1986 e sofre influência de Eládio Perez Gonzales, Tito Olivares, Maria Helena

Bezzi, Antônio Salgado, Fernanda Correia, Patrícia Morandini e Ileana Cotrubas.

Page 31: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

31

Professor F:

Leciona há 18 anos no Conservatório, graduou-se em 2003 e sofre influência de

Regina Coelho, Antônio Salgado e Celine Imbert.

Professor G:

Leciona no Conservatório há 28 anos e graduou-se em 1990. Sofre influência de

Regina Coelho e Marcos Thadeu Miranda.

Professor H:

Há 12 anos leciona no Conservatório, é graduado desde 2003 e baseia sua

metodologia em Patrícia Morandini e Antônio Adami.

Professor I:

Leciona há 20 anos no Conservatório, é graduado desde 1990 e sua linha de canto

sofre influência da professora Patrícia Peres.

Podemos perceber acima que os entrevistados atribuem seu referencial didático

em diversos professores, alguns estrangeiros e de renome internacional, e outros de sua

própria formação acadêmica. Também constatamos que 89% dos entrevistados possuem mais

de 10 anos de prática docente, portanto podemos concluir que eles possuem uma ampla

experiência na área.

Page 32: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

32

2.3. A aplicação de vocalises no curso Técnico em Canto

De acordo com os dados colhidos nas entrevistas é possível observar de que

maneira se dá a aplicação de vocalises no Curso Técnico em Canto do Conservatório. Os

professores “A” e “D” (2009) afirmam que todas as necessidades técnicas do canto podem ser

trabalhadas através de vocalises; os demais professores acreditam que a maioria, mas não

todas as necessidades podem ser supridas. Para o professor “C”, o canto é uma atividade que

demanda preparo físico, portanto torna-se necessário um treinamento adequado para se

adquirir controle e equilíbrio corporal. Este professor sugere aos alunos que pratiquem

exercícios físicos e façam diariamente exercícios abdominais. Ele ainda afirma juntamente

com os professores “F” e “I” que a respiração não precisa ser trabalhada necessariamente

através de vocalises. Já o professor “E” (2009) cita que trabalhar a performance do aluno se

faz necessário e que essa prática de trabalho não se dá somente através desses exercícios. É

importante citar que entendemos por performance a prática interpretativa do canto.

Todos os professores entrevistados trabalham a técnica vocal através de vocalises

e de repertório. Para o profissional “B”, quando o aluno é iniciante, deve ser realizado um

trabalho somente com vocalises para que o mesmo aprenda a respiração correta e apoio, e

assim, futuramente ser aplicado um trabalho com peças. Os professores “A” e “F” (2009)

citam que o aluno pode não compreender a técnica no vocalise e já ter mais facilidade para

assimilar a técnica na peça estudada. Já o docente “G” (2009) acredita que o aluno deve ser

trabalhado tecnicamente em todas as suas necessidades, não se limitando a um trabalho

relacionado às dificuldades técnicas da peça que ele esteja cantando. Ele ainda expõe: “a

gente tem que trabalhar a técnica independente das peças, (...) o aluno tem que ser trabalhado

tecnicamente” e acrescenta, juntamente com os professores “C”, “D” e “E”, que a técnica

trabalhada inicialmente nos vocalises deve ser aplicada nas peças. O professor “I” (2009)

ainda ressalta a importância do trabalho inicial com vocalises para desenvolver o potencial

vocal do aluno e afirma que o seu rendimento no canto após este trabalho será muito mais

satisfatório.

Entendemos que a prática de vocalises contribui significativamente para a

aplicação da técnica vocal, bem como sua construção. Sabemos da relevância do estudo do

repertório para desenvolvimento vocal do estudante, entretanto entendemos a contribuição dos

exercícios para tal.

Page 33: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

33

Quanto à execução dos vocalises em busca da técnica, o entrevistado “A” (2009)

ressalta a importância de estar atento à forma como o aluno executa o vocalise, no qual refere:

“fazer o vocalise de qualquer maneira não é legal”. Neste contexto, para Mansion, pouco

importa o estudo da técnica vocal com uma variedade de exercícios. O importante é como

devem ser feitos, e declara:

Um exercício perfeitamente realizado é muito mais proveitoso que toda uma série de

escalas e trinados cantados de qualquer modo. Ou seja: é melhor não fazer nenhum

exercício que fazê-lo mal, já que só se conseguiria deste modo fadigar inutilmente a

voz7 (MANSION, 1947, p. 127).

O profissional “B” inicialmente trabalha a respiração, juntamente com o apoio e

demais músculos abdominais e posteriormente trabalha o vocalise em busca de colocação,

ressonância e demais aspectos técnicos. Já os professores “C” e “F” têm como objetivo

primário trabalhar a ressonância através dos vocalises. O profissional “C” (2009) prefere

buscar a ressonância nos seios da face mesmo que o aluno ainda não consiga abaixar o palato

e direcionar o sopro de ar para a cavidade nasal. Ele declara: “acredito que às vezes é melhor

cantar com a voz na máscara, ainda sem muito peso, do que cantar buscando cobertura e tá

tudo na garganta”. Os professores “D” e “H” visam também o condicionamento físico e

resistência vocal, além dos demais parâmetros técnicos, como todos os outros entrevistados.

Para Bezzi, o seu principal objetivo com o trabalho de vocalises é corrigir as falhas que

possam prejudicar o órgão vocal, e somente depois se atenta aos aspectos de ordem estética

que atrapalham na beleza do timbre e rendimento da voz (BEZZI, 1984, p. 131).

Diante de tal abrangência da aplicação de vocalises, consequentemente das

possibilidades de variação dos mesmos, abordamos um questionamento referente à execução

de vocalises iguais com alunos novatos e alunos que já estudam canto há algum tempo. Os

entrevistados “A”, “C”, “E”, “F”, e “I” não utilizam os mesmos para todos os alunos. “A” e

“F” diferem na aplicação dos mesmos, de acordo com as dificuldades técnicas de cada aluno.

O professor “I” (2009) ainda leva em consideração a extensão limitada dos alunos iniciantes e

expressa: “o aluno iniciante não tem condições técnicas, ele não tem resistência muscular e

não tem maturidade vocal pra fazer um vocalise que abrange, por exemplo, mais de uma

oitava, que o aluno já experiente com três, quatro anos de estudo consegue”. Já os professores

“B”, “D”, “G” e “H” (2009) preferem não responder objetivamente e declaram que utilizam

alguns vocalises iguais com os dois tipos de alunos. Neste último caso, os aspectos explorados

7 “Un solo ejercicio perfectamente realizado es mucho más provechoso que toda una serie de escalas y trinos

cantados de cualquier modo. Es decir: es mejor no hacer ningún ejercicio que hacerlo mal, ya que solo se

conseguiria de este modo fatigar inútilmente la voz”.

Page 34: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

34

pelos professores são diferenciados. O entrevistado “H” ainda afirma que utiliza o mesmo

vocalise com alunos iniciantes e experientes para avaliar e comparar o nível técnico do aluno

novato com o aproveitamento que o aluno veterano já adquiriu.

Questionamos também na entrevista se o profissional trabalhava com vocalises de

autor específico. Todas as respostas foram semelhantes, sendo que 100% não trabalham com

vocalises específicos de um autor e sempre criam vocalises de acordo com as necessidades do

aluno. “D” (2009) ainda declara que quando começou a lecionar, trabalhava com bibliografia

específica, porém, com o tempo, adquirindo experiência, passou a criar e modificar vocalises

de acordo com as necessidades técnicas dos alunos. O entrevistado “E” cita que busca vários

autores e acabou criando a sua própria linha de trabalho. “C” (2009) ainda afirma: “eu busco

vários autores, tanto para a parte teórica quanto para a parte prática, vai tudo da necessidade

dos alunos. (...) Eu acredito que cada caso do canto é isolado. (...) Cada um tem uma

fisiologia”. Em concordância, Bezzi ainda cita: “Sabemos que cada aluno é um caso à parte, a

ser estudado com toda atenção. Quando identificamos as falhas do aluno, devemos procurar

exercícios específicos para a correção das mesmas” (BEZZI, 1984, p. 130). O professor “B”

(2009) costuma improvisar de acordo com a necessidade do aluno, e declara: “Dependendo da

melodia da música, dos intervalos que tem na música, eu faço de uma parte da melodia um

vocalise.”

Por meio deste estudo, observamos a aplicabilidade deste tipo de exercício vocal

no curso técnico podendo concluir que a maioria dos entrevistados não se limitam em

trabalhar a técnica somente nos vocalises. Apenas 22% acreditam que toda a técnica pode ser

trabalhada com esses exercícios. Podemos também notar o quanto todos os professores criam

ou modificam exercícios, sendo uma prática constante e comum. E assim, 100% não utilizam

exercícios de autor específico.

Percebemos como se dá a aplicação dos exercícios diante de alunos de diferentes

níveis e quais são os objetivos primários dos docentes na aplicação dos mesmos, existindo

uma grande preocupação no trabalho de respiração e ressonância. No próximo capítulo

abordaremos esses vocalises e seus objetivos.

Page 35: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

35

Capítulo 3

3. VOCALISES UTILIZADOS

Neste capítulo expomos alguns exercícios de aquecimento, os vocalises mais

utilizados pelos professores e análises comparativas referente a alguns exercícios. É

importante destacar que as análises foram baseadas em bibliografias específicas diversas, no

âmbito da fonoaudiologia e técnica vocal.

Apesar do foco dessa pesquisa ser os vocalises, resolvemos também citar alguns

exercícios de aquecimento que não trabalham com vogais, logo, não são considerados

vocalises, porém, são muito utilizados pelos professores.

Buscamos expor os dados da forma mais clara e objetiva, portanto, fez-se

necessário a transcrição de todos os exercícios colhidos, sendo realizada em programa de

notação musical.

Foram transcritos somente um trecho dos exercícios, sendo assim, é importante

destacar que eles possuem uma continuidade que se dá por modulação em movimento

cromático8. Esta característica não se aplica apenas no Exercício 1, pois este modula em

movimento diatônico (de acordo com a escala da tonalidade).

Abaixo seguem os vocalises colhidos nas entrevistas conforme suas propriedades.

3.1. Aquecimento vocal

Exercício 1 – Fonética do “j”

FIGURA 8 – Exercício com o fonema do “j”

Este é o primeiro exercício utilizado pelo professor “A” com o objetivo de

aquecer as pregas vocais e retirar possíveis mucos residuais através da vibração das mesmas.

8 Movimento cromático se caracteriza por sequência de semitons.

Page 36: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

36

Ele deve ser realizado com o fonema da consoante “j”, não devendo ultrapassar o limite de

uma oitava.

De acordo com a partitura acima, percebe-se que o exercício não segue em

modulação por movimento cromático, podendo-se concluir que é diatônico. Também

podemos observar que é realizado por grau conjunto dentro de intervalo de terça. Diante desta

simples escrita musical, percebemos o porquê deste exercício ser primeiro realizado, pois com

um pequeno movimento melódico, o aquecimento das pregas vocais se dará de forma

gradativa.

Exercício 2 – Vibração de lábios ou língua

FIGURA 9 – Exercício de vibração: “brrr” ou “trrr”

Os exercícios de vibração são utilizados por todos os entrevistados, podendo ser

realizados por vibração de lábio ou de língua. Associamos a vibração de lábios com o “brrr” e

a vibração de língua com o “trrr”.

De acordo com os professores, este exercício tem o objetivo de aquecer as pregas

vocais. O docente “B” (2009) também visa trabalhar os músculos ativos na respiração, e

prefere realizar o exercício lentamente para que o aquecimento ocorra de forma gradativa.

Neste contexto ele cita: “o aquecimento deve começar lento porque o músculo tá relaxado. É

um processo de aquecimento (...) corporal”. O professor “C” trabalha a vibração de lábios

pensando na vogal “u” para relaxamento da musculatura e posteriormente reinicia o exercício

pensando em “i”, buscando colocar a voz na máscara. Já o professor “A” executa o exercício

com intervalos de terças (FIG. 10) e também o utiliza para retirar o muco residual. Ele ressalta

que o aluno deve sempre estar atento ao apoio.

O professor “D” utiliza a vibração de lábio associando às vogais “u”, “i”, “ó”, “é”,

“a” e assim, afirma já trabalhar a posição articulatória interna das mesmas. Normalmente ele

utiliza o exercício através de pentacordes (FIG. 11). A extensão deste exercício foi comum a

todos os professores, limitando-se a região média da voz. “H” já prefere não iniciar suas aulas

com este exercício, pois ressalta que o aluno iniciante tem muita dificuldade em conseguir

vibrar os lábios ou a língua. O entrevistado “I” utiliza este exercício da forma que o aluno

tenha mais facilidade em realizá-lo, seja com vibração de língua ou lábio. Já o professor “E”

ressalta que a dificuldade do aluno deve ser sanada, portanto trabalha das duas formas.

Page 37: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

37

De acordo com Behlau et. al. (1999), o uso de vibração de lábios tem efeito

laríngeo e auditivo, trabalhando mais com a musculatura extrínseca da laringe. Já a vibração

de língua trabalha com a musculatura intrínseca da laringe. O exercício de vibração tem como

objetivos mobilizar a mucosa, aquecimento vocal e reduzir o esforço fonatório (BEHLAU et.

al., 1999, p. 39). Babaya acrescenta que estes exercícios devem ser executados com suavidade

para evitar fadiga vocal (BABAYA, 2007, p. 3).

FIGURA 10 – Variação com intervalos de terças

FIGURA 11 – Variação com pentacorde

Exercício 3 – Bocca Chiusa

FIGURA 12 – Bocca Chiusa cromático

O termo Bocca Chiusa é italiano e significa boca fechada. Ele é realizado com um

som nasal como “an” ou “um”. De acordo com as entrevistas realizadas, todos os professores

o utilizam, diferenciando-se em alguns casos na sequencia melódica e na sua aplicação. Os

professores de forma geral utilizam-no para o aquecimento vocal, sendo realizado na região

média da voz, ainda não explorando as extremidades (grave e agudo). O professor “G” (2009)

afirma que este exercício não deve ultrapassar as notas de passagem. A língua deve estar bem

relaxada, os lábios fechados e a boca aberta internamente, promovendo assim sensação de

bocejo. Desta forma a laringe se abaixa e o véu palatino se eleva. Ele também acrescenta que

este exercício deve ser realizado com ressonância mais baixa, não sendo direcionado para o

“nariz”, estando a boca com o formato de sorriso. Já os professores “A”, “B”, “D”, “E” e “I”

em controvérsia, utilizam-no para trabalhar a ressonância direcionando o som para a máscara.

A respeito deste exercício Dinville (1993) afirma: “Quando bem aplicado é muito eficaz,

desde que não se procure o tremor vibratório muito à frente, e de que não haja esforço

laríngeo. É com leveza e usando a pressão que se pode subir sem esforço” (DINVILLE, 1993,

Page 38: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

38

p. 82). A autora o utiliza com a mesma sequência melódica da FIG. 14, igualmente ao

professor “D”. O entrevistado “C” o utiliza movimentando os lábios como uma mastigação.

Para Babaya (2007), esse acréscimo da mastigação tem o objetivo de relaxar os músculos que

movimentam a articulação (BABAYA, 2007, p. 3).

Os professores “C” e “H” também utilizam este exercício para trabalhar a

afinação. O professor “H” modifica a linha melódica do exercício para treinar o ouvido

musical do aluno iniciante (FIG. 13).

FIGURA 13 – Variação melódica do Bocca Chiusa

O professor “E” ressalta a importância da abertura interna do “tubo”, ou seja, da

musculatura fonatória e articulatória. Também se atenta, juntamente com o professor “A”,

para que o exercício não seja realizado na garganta, assim, buscando a ressonância nos seios

da face. O entrevistado “A” não realiza o Bocca Chiusa com o objetivo de aquecimento vocal,

trabalhando-o somente em busca da ressonância associada à projeção, utilizando linha

melódica diferenciada (FIG. 14).

FIGURA 14 – Variação melódica do Bocca Chiusa

O entrevistado “I” pratica o exercício iniciando no fá3 com todas as vozes,

principalmente com as mulheres, pois como descrito no capítulo 1, elas já iniciariam o

exercício no segundo registro, facilitando assim a execução, pois não necessitariam fazer a

mudança da voz de peito para a voz mista. Este também ressalta que o Bocca Chiusa feito por

muito tempo causa tensão na mandíbula, portanto, utiliza também o exercício 13 (FIG. 25,

pág. 40).

Page 39: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

39

3.2. Vocalises iniciais

Neste subitem apresentaremos os vocalises iniciais utilizados pelos professores

em suas sequências de exercícios.

Exercício 4 – Exercício com vogal

FIGURA 15 – Exercício com vogal

Este vocalise é utilizado pelo professor “B” e tem como objetivo trabalhar a

respiração, apoio e projeção. Normalmente ele utiliza as vogais “i” ou “u”, porém, se o aluno

apresentar mais facilidade com outra vogal, inicia o exercício a partir desta para que trabalhe

melhor a voz. Quando o aluno tem dificuldade para iniciar o exercício com vogal, auxiliam-se

com as consoantes “v” (quando utiliza o “i”), “n” ou “l” (para a vogal “u”). A extensão deste

exercício é determinada pelas notas que o aluno alcança sem realizar esforço.

Exercício 5 – U-i

FIGURA 16 – U-i

Este exercício com vogais é utilizado pelo professor “D” após ter feito os

exercícios de vibração e Bocca Chiusa. Ele prefere começar com as vogais “u” e “i” para

todas as vozes e faz algumas variações como na FIG. 17. Utiliza-se este exercício buscando

projeção, voz na máscara, colocação das vogais e ainda dando continuidade ao aquecimento

vocal. Este exercício é feito na região média da voz, não visando ainda o trabalho de extensão

vocal.

FIGURA 17 – U-i-u

Page 40: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

40

Exercício 6 – Piuí

FIGURA 18 – Piuí

Este exercício é utilizado pelos professores “E” e “F” com o objetivo de aquecer a

voz e trabalhar a colocação das vogais “u” e “i”. O professor “E” ressalta que o “u” é

importantíssimo para a maioria dos alunos por ajudar na abertura interna da boca e a

consoante “p” ajuda na colocação. A extensão deste exercício não deve ultrapassar de uma

oitava.

Exercício 7 - Mi

FIGURA 19 – Mi

Este vocalise é utilizado pelo entrevistado “F” e deve ser executado direcionando

a vogal para a máscara. Posteriormente o professor utiliza o mesmo exercício, porém com

todas as vogais direcionadas para o foco. A extensão deste exercício é de uma oitava. O

professor ressalta que não ultrapassa esse limite até que a voz do aluno esteja aquecida. Ele

ainda afirma que a vogal “i” é a melhor vogal para as mulheres aquecerem a voz e buscarem

uma boa projeção vocal.

Exercício 8 – U

FIGURA 20 – U

O professor “H” utiliza este exercício com a vogal “u” para as mulheres e com o

“e” ou “o” para os homens. Com as mulheres, o professor inicia no fá3, evitando assim que se

inicie com voz de peito. Já com os homens, inicia-se no dó3. O professor conscientiza o aluno

para suavizar a emissão e não empurrar a voz.

Page 41: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

41

Exercício 9 – Vi-a-i

FIGURA 21 – Vi-a-i

Este vocalise é utilizado para trabalhar a articulação das vogais e a colocação das

mesmas, sendo executado pelo professor “H”. A extensão deste exercício é mediana não

explorando os extremos. Ele trabalha a articulação alternando as vogais e adicionando uma

consoante, ajudando assim na projeção do som. Com as mulheres, ele preferencialmente

executa a mesma linha melódica com “vi-vi-u-vi-u”, pois acredita que a vogal “u” para as

mulheres é geralmente melhor colocada se comparada com o “a”. Na opinião de Bezzi: “O

exercício com “i-a” alternados, serve para relaxar a língua no “i” e evitar que a boca se feche

demais; contribui também para arredondar o som do “a” e colocá-lo mais a frente,

concentrando as vibrações no ponto de ressonância.

Exercício 10 - Mu

FIGURA 22 – Mu

Este vocalise é realizado com a consoante “m” e a vogal “u” unidas, sendo

utilizado pelo professor “G” com o objetivo de colocar a vogal “u”. De acordo com este

professor, o exercício através de pentacorde descendente ajuda a manter o som alto,

impedindo assim, que a voz ressoe baixo.

Exercício 11 – Vi-a-é-ó-u

FIGURA 23 – Vi-a-é-ó-u

Este vocalise é utilizado pelos professores “F” e “G” com o objetivo de colocar as

vogais no mesmo lugar. Neste contexto Dinville (1993) ainda cita: “No momento da mudança

Page 42: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

42

de vogais, se tivermos encontrado um bom lugar de ressonância, é preciso guardá-la. É uma

imagem irreal mas que incita a firmeza do som” (DINVILLE, 1993, p. 86). O exercício é

conduzido por terças, assim trabalhando também a afinação. Ele não explora os agudos, sendo

este realizado na região media.

Exercício 12 – Ru

FIGURA 24 - Ru

Este exercício e utilizado pelo professor “B” e tem por finalidade trabalhar a

projeção. Ele utiliza a vogal “u” por acreditar ser uma vogal que tende a ser mais colocada.

Sendo assim, aproveita-se também para realizar este exercício em staccato9, trabalhando-se a

colocação da voz.

3.3. Ressonância

Exercício 13 – Ressonância nasal

FIGURA 25 – Exercício com ressonância nasal

Este exercício é utilizado pelos professores “E” e “I” se assemelhando com o

Bocca Chiusa, utilizando som nasal, porém mantendo a boca aberta. O objetivo é trabalhar

somente a ressonância nasal. O professor “I” cita que o aluno ao inspirar deve fechar a boca,

assim não causando tensão na musculatura da face. Desta forma conduz a voz para a máscara

e diminui a tensão na mandíbula. O professor “E” (2009) executa o vocalise diferentemente

do professor “I”, afirmando ter modificado o exercício e instrui da seguinte forma: o aluno

deve tampar o nariz para que o véu palatino se eleve naturalmente, colocar a ponta da língua

9 Staccato é uma indicação de articulação para que as notas sejam executadas de forma destacadas, diminuindo

assim a duração real do seu valor.

Page 43: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

43

no céu da boca, ou seja, na região alveolar para relaxar a laringe, e deve-se cantar com a boca

aberta. Ele ainda declara que o exercício tem ajudado os alunos a fazerem os agudos sem

esforço fonatório.

Exercício 14 – Ni-no-ni-no-ni

FIGURA 26 – Ni-no-ni-no-ni

Este vocalise é utilizado pelo professor “A” com o objetivo de trabalhar a

ressonância e articulação. Ele utiliza a consoante “n” para ajudar na ressonância, direcionando

o som para a máscara e cita: “eu não gosto de começar o exercício fazendo “i-o-i-o-i” para

evitar o golpe de glote10

”. Este exercício é utilizado pelo professor na região média da voz não

ultrapassando a nota da passagem de cada aluno.

Na opinião de Bezzi (1984), as consoantes nasais “m” e “n” não devem ser usadas

em vocalises, pois anasalam e recuam a voz. Em discordância, Behlau et. al. (1999) afirma

que o uso de consoantes nasais não tem o objetivo de criar uma nasalidade na voz, e sim

reduzir a ressonância baixa e somar a ressonância nasal com a oral. Neste contexto, ela ainda

afirma: “Os sons nasais auxiliam a deslocar o foco de ressonância de inferior para superior,

reduzindo assim a tensão da laringe e da faringe, funcionando como um trampolim de

projeção da voz no espaço quando coarticulados com vogais” (BEHLAU et. al., 1999, p, 37-

38).

Exercício 15 – Escala

FIGURA 27 – Exercício de ressonância com escala

Este exercício é utilizado pelo professor “A” para trabalhar a ressonância

(principalmente), notas de passagem e controle de ar (respiração). Ele deve ser realizado

lentamente com apenas um fôlego, mantendo a projeção e voz na máscara. A extensão se dá

10

Golpe de glote significa cantar com ataques vocais bruscos, golpeando uma prega vocal contra a outra.

Page 44: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

44

pela região média até a nota da passagem do aluno. A consoante nasal “m” ajuda a dissipar a

energia sonora no trato vocal, pois o ar sonorizado será dirigido para a cavidade oral e nasal

(BEHLAU et. al., 1999, p.37). Segundo Bezzi (1984), o “i” é a melhor vogal para colocação

da voz, porém não deixa de ressaltar que alguns indivíduos o pronunciam mal, não sendo

adequado para estes.

Do ponto de vista de Lehmann, a escala é um exercício que todo cantor deve fazer

diariamente. Ela ainda afirma que este exercício não deve ser praticado com muito esforço,

porém também não deve ser realizado destituído de força. (LEHMANN, 1984, p. 146).

Exercício 16 - Ibi

FIGURA 28 – Ibi

Este exercício é utilizado pelo professor “B” com o objetivo de trabalhar a

ressonância da voz. Diante deste exercício, o professor declara que a consoante “b” é

explosiva, e assim, ajuda na projeção, como também a vogal “i”, porém não são todos os

alunos que tem facilidade com esta vogal, sendo assim, coloca-se o aluno em frente ao

espelho para que o mesmo perceba se está ou não recuando a língua, pois assim, estaria

obstruindo a passagem do sopro de ar, o que não seria ideal. De acordo com a necessidade do

aluno, o professor também faz o exercício em forma de arpejo como na figura abaixo.

FIGURA 29 – Ibi, arpejado

Exercício 17 – Vi-vi-vi

FIGURA 30 – Vi-vi-vi

Page 45: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

45

Este exercício é utilizado pelo professor “C” e tem como objetivo colocar a voz na

máscara. O professor adverte que o exercício deve ser realizado com a voz bem leve, sem

colocar peso. Ele geralmente inicia o exercício no fá3, desce até o dó3 (dó central) e sobe até

a nota de passagem de cada aluno. Inicia-se este exercício no fá3 principalmente com as

mulheres, pois muitas têm dificuldade para realizar a mudança do registro de peito para voz

de cabeça, e sendo assim, normalmente já iniciarão o exercício com voz de cabeça.

Martinez et. al. (2000) utiliza também este exercício e descreve: “Este exercício

deverá ser executado de maneira leve e ligeira. Usa-se a vogal “i” pura, explodindo a

sonoridade a partir da consoante “v”, com o objetivo de buscar, na vogal “i”, o foco para a

voz, sempre imaginando um ponto entre os olhos” (MARTINEZ et. al., 2000, p. 186). Diante

de tal afirmação, podemos perceber que a técnica usada por Martinez se assemelha com a

técnica de Mansion, se diferenciando da técnica de Bezzi, que busca o foco na região do

alvéolo e dos incisivos centrais superiores (BEZZI, 1984, p. 117).

Exercício 18 – Brim-brim-brim

FIGURA 31 – Brim-brim-brim

Para o professor “C”, este vocalise é utilizado com o objetivo de trabalhar a

ressonância. A extensão do exercício se dá na região mediana, não explorando os agudos.

Martinez (2000) também utiliza este exercício, porém com uma pequena diferença no texto,

no qual seria brim-brei-brim. Para ele, o exercício deverá ser executado lentamente e o som

“br” deve ser explosivo, porém leve e bem articulado (MARTINEZ et. al., 2000, p. 187).

Exercício 19 – Zi-ri-bi-ri

FIGURA 32 – Zi-ri-bi-ri

Este exercício é utilizado pelos professores “C” e “D” em busca de ressonância e

boa articulação. O entrevistado “C” ressalta a importância das consoantes “z” e “b” para a

colocação da voz na máscara. Quanto a sua extensão, este vocalise se assemelha com o

Page 46: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

46

anterior, ainda não explorando as regiões extremas. Segundo Babaya, a consoante “z”

favorece o fechamento e alongamento das pregas vocais, assim, possibilitando uma boa

projeção nos registros agudos (BABAYA, 2007, p. 3).

Exercício 20 – Voi-nhá

FIGURA 33 – Voi-nhá

De acordo com o professor “C”, este exercício é indicado para alunos com

dificuldade de projeção e que recuam a voz, ou seja, não relaxam a musculatura e assim,

obstruem o caminho do sopro de ar. Este vocalise deve ser feito na região média da voz. Para

Bezzi, a consoante “v” é articulada muito próxima do ponto de colocação da voz (região do

alvéolo e dos incisivos centrais superiores), sendo apropriada para a sua projeção (BEZZI,

1984, p.132). O som “nh” ressoa na cavidade nasal, portanto direciona a voz para a máscara.

Exercício 21 – Nhie

FIGURA 34 – Nhie

Este vocalise é utilizado pelo professor “F”, também com o objetivo de trabalhar a

ressonância direcionando a voz para a máscara. Para facilitar a compreensão do aluno e

alcançar os objetivos do exercício, ele pede que o mesmo imite uma voz de bruxa, ou imagine

que tenha um balão na frente do nariz e afirma que essas situações têm dado resultado. Já o

professor “I” também utiliza este vocalise modificando o seu texto (FIG. 35). Podemos

observar na bibliografia que Dinville trabalha com um vocalise semelhante ao da FIG. 34,

porém com pentacorde descendente, visando trabalhar a articulação das consoantes. A autora

ainda afirma: “a utilização de consoantes nasais permite manter vogais e consoantes sobre o

mesmo plano de ressonância, portanto, une bem os sons entre si e facilita a colocação em

posição fonatória” (DINVILLE, 1993, p. 88).

Page 47: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

47

FIGURA 35 – Nhin

3.4. Articulação

Exercício 22 – Mo-mi-mo

FIGURA 36 – Mo-mi-mo

Este vocalise é utilizado pelo professor “C” para trabalhar a articulação. Ele

ressalta que só utiliza este exercício quando o aluno apresenta problemas com articulação.

Neste contexto, Ortega e Ramírez (1986) utilizam um exercício muito próximo a este,

diferenciando apenas nas vogais, que se alteram: “ma-me-mi-mo-mu-mo-mi-me-ma”

(ORTEGA; RAMÍREZ, 1986, p. 101).

Podemos perceber que Ortega e Ramírez também utilizam a consoante nasal “m”

em seus vocalises, sendo esta também muito utilizada por Mansion, Martinez et. al., Melba e

Babaya.

Exercício 23 – Articulação de vogais

FIGURA 37 – Articulação de vogais

Este exercício é utilizado pelos professores “E” e “G” no intuito de trabalhar a

articulação interna da boca e igualar o som. Deve ser realizado mantendo todas as vogais no

mesmo ponto de ressonância. No ponto de vista de Lehmman (1984) ela declara: “A cada

mudança de vogal ou de qualquer outra letra, ocorrem mudanças de posição dos órgãos, pois a

Page 48: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

48

língua, o palato e a laringe devem assumir posições diferentes para sons diferentes”

(LEHMMAN, 1984, p. 122).

3.5. Extensão vocal

Exercício 24 – Ah! T’amo!

FIGURA 38 – Ah! T’amo!

Este vocalise é empregado pelo professor “A” com o objetivo de trabalhar o

agudo e legato. Ele preferencialmente usa a vogal “a” para as mulheres e “e” para os homens,

pois são vogais que oferecem maior espaço interno na boca e assim, melhor ressonância e

projeção. A extensão deste exercício se dá pela região média e aguda da voz. Na FIG. 39

ilustramos o mesmo exercício, direcionado para as vozes masculinas.

De acordo com Dinville (1993), a nota mais importante nos exercícios

ascendentes é a que precede a nota mais aguda, devendo ela ser colocada em uma boa zona de

ressonância. Sendo assim, só é preciso aumentar a pressão e arredondar a sonoridade

executando assim com mais facilidade a nota aguda (DINVILLE, 1993, p. 91).

FIGURA 39 – Ah! T’emo

Exercício 25 – Nau

FIGURA 40 – Nau (pentacorde)

Este exercício deve ser utilizado para trabalhar a extensão do aluno, podendo

explorar as notas mais agudas, de acordo com o limite de cada um. O professor “C” o utiliza

Page 49: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

49

com alunos iniciantes. Para Martinez et. al. (2000), este vocalise propicia maleabilidade do

palato mole, funcionando como uma massagem no interior da cavidade bucal (MARTINEZ

et. al., 2000, p. 188).

Para os alunos veteranos, o mesmo professor executa o vocalise abaixo (FIG. 41)

com escala de 9ª, pois explora mais a afinação, agilidade e agudo, devendo este ser realizado

com mais velocidade. De acordo novamente com Martinez et. al. (2000):

O mecanismo de apoio deste exercício deve receber uma atenção especial. As notas

agudas serão produzidas com maior dificuldade enquanto a laringe não estiver

relaxada e os focos da voz e da ressonância de máscara não estiverem corretamente

posicionados (MARTINEZ et. al., 2000, p.188).

FIGURA 41 – Nau (escala com 9ª)

Exercício 26 – Escala com 9ª

FIGURA 42 – Escala com 9ª

Os vocalises de escala com 9ª são utilizados no trabalho de extensão e agilidade.

O professor “D” ressalta que não gosta de realizar o exercício muito no grave para evitar que

o aluno pese a voz, o que poderia acarretar a perda da colocação, atrapalhando assim os

objetivos do vocalise. Este exercício também é empregado pelo professor “A” e deve ser feito

com bastante agilidade para trabalhar a nota de passagem de um registro vocal para o outro.

Ele utiliza a consoante “m” unida às vogais “i” ou “e” para os homens e “i” ou “u” para as

mulheres, diferindo assim da FIG. 42.

Abaixo seguem algumas variações do vocalise de escala com 9ª.

FIGURA 43 – Variação da escala com 9ª

Page 50: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

50

Esta variação do vocalise é executada pelo professor “H” sendo utilizado “vi-u”

para as mulheres e “ve-ô” para os homens. Ele recorre ao pentacorde descendente no início do

exercício, pois acredita que começar com pentacorde ascendente propiciaria ao aluno maior

possibilidade de pesar a voz na descida, sendo assim, quando o aluno fosse cantar o agudo, a

voz já estaria mal colocada.

De acordo com Dinville (1993), quando se canta uma escala ascendente deve-se:

“aumentar a pressão, alargar as cavidades de ressonância, dirigir o sopro para cima e para trás,

acima do véu palatino, tanto no grave como no agudo, de modo que a sensação de tremor

vibratório esteja sempre “localizada no alto””. Ao cantar uma escala descendente, deve-se:

“controlar a descida da laringe, mas sem deixar cair a zona de ressonância, nem a pressão e

sem fechar as cavidades de ressonância” (DINVILLE, 1993, p. 96).

O vocalise ilustrado na FIG. 44 é utilizado pelo professor “F” e o ilustrado na

FIG. 45 é utilizado pelo professor “I”.

FIGURA 44 – Variação da escala com 9ª

FIGURA 45 – Variação da escala com 9ª

Exercício 27 – Arpejo de 12ª

FIGURA 46 – Arpejo de 12ª

Este exercício é utilizado pelo professor “D” e “I” com o objetivo de trabalhar o

agudo. O entrevistado “D” preferencialmente utiliza a vogal “i” no início do vocalise e

posteriormente muda para a vogal “a” quando alcança as notas agudas. Já o professor “I”

Page 51: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

51

utiliza exatamente como ilustrado na figura. Este exercício também é utilizado por Madeleine

Mansion (MANSION, 1947, p. 153) e Toti dal Monte (MONTE, 1970, p. 7).

Exercício 28 – Mi-ó

FIGURA 47 – Mi-ó

Este vocalise é utilizado pelo professor “D” com o objetivo de trabalhar o grave.

De acordo com Bezzi, os vocalises mais usados são com “i-ó”. Neste contexto ela se refere:

“são de fato os mais eficazes para desenvolver a voz, desde que não haja nenhum vício de

emissão mais evidente, que exija um exercício especial para corrigi-lo” (BEZZI, 1984, p. 11).

Podemos observar novamente neste exercício a consoante “m” auxiliando na ressonância e

projeção da vogal “i”.

Exercício 29 - Va

FIGURA 48 – Va

Este vocalise é utilizado pelo entrevistado “F” no trabalho de graves e deve ser

trabalhado ate o limite da extensão do aluno. Para Mansion, os graves devem estar nos

ressoadores da face para enriquecer de harmônicos e garantir a homogeneidade da voz, não

sendo necessário buscar a ressonância de peito, já que os sons graves devem ser apoiados no

mesmo lugar dos outros sons (MANSION, 1947, p. 144).

Exercício 30 – Vivi Perte

FIGURA 49 – Vivi Perte

Este vocalise é utilizado pelo professor “C” com o objetivo de trabalhar a região

grave. Percebemos pela escrita melódica do exercício que ele não só trabalha o grave, como

Page 52: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

52

também a respiração relacionada ao apoio, a articulação, ataque de notas agudas, o legato11

,

dinâmica, etc. As consoantes utilizadas no exercício ajudam na colocação da voz. A extensão

deste exercício varia de acordo com as limitações de cada aluno.

3.6. Notas Sustentadas

Exercício 31 – Zi-on

FIGURA 50 – Zi-on

Este exercício é utilizado para trabalhar as notas sustentadas, apoio, extensão

vocal, colocação, dinâmica, respiração. É utilizado pelos professores “B” e “C” devendo ser

realizado com a voz na máscara. Na nota que possui a fermata, o aluno deve crescer e

diminuir o som, buscando amplitude e cobertura. O vocalise deve ser realizado por toda a

extensão do aluno. O professor “B” ressalta que controlar a saída de ar é necessário para a

realização da dinâmica. A consoante “z” e a vogal “i” ajudam na projeção e colocação,

enquanto o “on” ajuda na abertura do “tubo”.

Exercício 32 – Vi-a-i-a

FIGURA 51 – Vi-a-i-a

Este exercício é utilizado pelo professor “D” com o objetivo de trabalhar fermatas,

legato, dinâmica, agilidade, apoio. A consoante “v” e a vogal “i” que possibilitam maior

projeção do som. A extensão deste vocalise é a região média e aguda. Na FIG. 52 segue o

exercício com variação, adicionando apenas o staccato.

11

Legato é modo de executar as notas o mais possível ligadas entre si e sem qualquer interrupção.

Page 53: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

53

FIGURA 52 – Vi-a-i-a - staccato

Exercício 33 – Lia

FIGURA 53 – Lia

Este exercício é utilizado pelo professor “C” com o mesmo objetivo do exercício

anterior (trabalhar notas sustentadas, apoio, extensão vocal, colocação, dinâmica, respiração),

sendo realizado por toda a extensão do aluno. De acordo com Bezzi (1984), a consoante “l” e

a vogal “i” ajudam na projeção e colocação da voz, portanto, também direcionam a vogal “a”,

possibilitando esta, maior abertura interna na boca.

Exercício 34 - Vôi

FIGURA 54 – Vôi

Este exercício é utilizado pelo professor “C” em busca do giro vocálico. Ele

afirma que o vocalise deve ser realizado com uma única respiração, porém, quando o aluno

não conseguir realizá-lo assim, pode-se respirar entre as notas.

A vogal “i” deve ser colocada no mesmo lugar do “ô”. A extensão deste exercício

é do fá3 ao dó3, podendo variar meio tom acima ou abaixo, de acordo com cada voz.

Page 54: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

54

3.7. Agilidade

Exercício 35 - Piú

FIGURA 55 – Piú (trilo)

Este exercício é executado pelo professor “F” sendo iniciado lentamente e

acelerado de forma gradativa, conforme o aluno adquire consciência do movimento continuo

das duas notas, fazendo com que a voz ganhe agilidade. Este exercício deve ser feito para que

o aluno entenda o mecanismo de trilo. O professor ainda declara (2009): “Um longo e árduo

trabalho que deve ser feito com muito cuidado”. Este vocalise deve ser realizado na região

média da voz para evitar cansaço vocal, como exemplo, do mi3 ao si3 para mezzo-sopranos.

Quando o mecanismo já estiver sido entendido pelo aluno, ele poderá fazer o trilo na região

aguda, cita o professor entrevistado.

Para Mansion (1947), o trilo é o único exercício vocal que é realizado realmente

na garganta, por meio de uma sacudida da laringe (MANSION, 1947, p. 148).

O entrevistado “F” também utiliza este exercício para trabalhar o vibrato vocal,

porém com a sílaba “nhie”. Ele ainda declara: “Alguns alunos já nascem com o vibrato e em

outros deve ser fabricado”. Este vocalise com o objetivo de trabalhar o vibrato é uma junção

do exercício de trilo com o de ressonância (FIG. 34, pág. 46). Deve ser realizado na região

média da voz, não devendo ser executado em suas extremidades.

Exercício 36 – Escala com 11ª

FIGURA 56 – Escala com 11ª

Este vocalise é utilizado pelo professor “I” com o objetivo de trabalhar a agilidade

vocal. Deve ser realizado com as vogais “i” e “a”. Ele ressalta que este exercício só é

realizado por alunos com nível técnico mais avançado, sendo mais complexa a sua execução,

tanto por necessitar manter a colocação com agilidade quanto pela afinação.

Page 55: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

55

Mansion utiliza este exercício acrescentando outra escala ascendente e

descendente, como na figura abaixo (FIG. 57) (MANSION, 1947, p. 153).

FIGURA 57 – Exercício de agilidade

3.8. Staccato

Exercicio 37 – A (staccato)

FIGURA 58 – A (staccato)

Este vocalise é utilizado pelo professor “I” para trabalho de staccato. De acordo

com ele (2009): “a vogal “a” por excelência tem a maior abertura interna entre a glote e o

palato (...) pode-se usar o “v” ou “sp”. (...) Quando se utiliza duas consoantes, a projeção,

ressonância e a colocação são mais claras do que quando usamos somente uma”. O

entrevistado deixa claro que esses dados foram observados a partir de sua experiência.

Exercício 38 - Ma

FIGURA 59 – Ma (staccato)

Este exercício é utilizado pelo professor “A” para explorar os agudos trabalhando

staccato e legato. Utiliza-se a vogal “a” para as mulheres e “e” para os homens. A extensão

deste exercício é determinada por cada aluno, sendo realizado até a região que o aluno

alcance.

Page 56: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

56

Diante deste capítulo, podemos observar como os professores utilizam diversos

vocalises para trabalhar aspectos específicos do canto como ressonância, agilidade, staccato,

legato, extensão vocal, articulação, respiração e apoio, dentre outros. Constata-se uma grande

flexibilidade na escolha e aplicação destes exercícios, e sobretudo, a dinâmica metodológica

por eles utilizada.

Page 57: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

57

CONCLUSÃO

De acordo com os dados colhidos nas entrevistas, foi possível compreender como

a prática de vocalises é desenvolvida no curso Técnico em Canto do Conservatório Estadual

de Música Lorenzo Fernândez, abrangendo aspectos como: identificação e objetivos dos

vocalises utilizados; composição de novos vocalises; trabalho técnico realizado com esses

exercícios e aplicação dos mesmos com alunos iniciantes e veteranos.

Diante das observações que fizemos neste estudo, podemos concluir que, alguns

professores se assemelham quanto a sua metodologia de ensino, porém, outros possuem linhas

de canto bem diferenciadas, mas convergem em suas práticas metodológicas.

Percebemos que o uso de vocalises no curso pode ser caracterizado por uma

prática individual, pois acontece em torno das necessidades de cada aluno, visando sanar seus

problemas técnicos vocais.

Foi constatado que todos os docentes criam e modificam vocalises de acordo com

as necessidades dos alunos, ou de acordo com as peças que eles estão executando, buscando

aplicar no repertório a técnica trabalhada no vocalise, portanto, entendemos que a prática de

vocalises contribui significativamente para o desenvolvimento da técnica vocal, bem como

sua construção. Um aspecto relevante é o pouco uso, ou ausência de bibliografia específica

para fundamentar a metodologia utilizada, percebemos uma valorização empírica no trabalho,

e observamos que na maioria dos casos, os profissionais não utilizam os exercícios dos

autores descritos como referência literária, sendo assim, influenciados pelos seus mestres e

principalmente por suas experiências na prática do ensino-aprendizagem do canto.

Nesta pesquisa também apontamos o uso de vocalises com alunos iniciantes e

alunos experientes, o que acarretou certa divergência de ações entre os professores. Todos

compreendem a diferença técnica dos dois tipos de alunos, porém, alguns ainda usam os

mesmos exercícios entre eles, exigindo assim, resposta diferenciada dos alunos, visto que

alguns já possuem maior maturidade vocal e musical, se comparados com outros.

Quanto aos vocalises utilizados, estão presentes os que trabalham: ressonância,

articulação, extensão vocal, notas sustentadas, agilidade e staccato. Percebemos o uso de

exercícios de aquecimento pela totalidade dos professores entrevistados, o que demonstra

extremo cuidado na condução dos exercícios técnicos e a preparação para o uso intenso da

voz. Um dos aspectos técnicos que os profissionais de forma geral mais tem se preocupado

em trabalhar com seus alunos, é a respiração e ressonância. No capítulo 3 desta pesquisa,

Page 58: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

58

podemos observar o alto índice de vocalises iniciados com a consoante “m” que, para muitos

autores, é a melhor, pois direciona a voz para os seios da face, ou seja, para a máscara.

Observamos que todos os docentes ao realizarem os vocalises com seus alunos,

preocupam-se em manter uma sequência de exercícios progressivos, e se atentam para a

delimitação da extensão vocal no início desta prática. Também utilizam variações melódicas,

dependendo das necessidades dos alunos e dos objetivos que buscam. Essas variações vão

desde o cromatismo até arpejos de 12ª.

A técnica da agilidade não é trabalhada de forma expressiva pelo universo

pesquisado, podendo ser justificado pelo pequeno número de alunos com maturidade vocal

para este tipo de exercício. Apenas um docente trabalha o trilo e também o utiliza como

exercício para adquirir o vibrato vocal, que para alguns, não se trabalha, pois ele é uma

conseqüência natural da técnica vocal adquirida. Os staccatos também são trabalhados em

vocalises.

Diante de todas as informações pesquisadas, observamos que a utilização dos

vocalises pelos professores de canto do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez

é considerada uma condição primordial na preparação da técnica vocal do aluno, sendo

aplicado intensamente por todos. Desta forma, conclui-se que apesar das linhas de trabalho e

metodologias distintas, há uma convergência dos pensamentos, ações e objetivos que visam o

aprimoramento da técnica vocal de seus alunos através do uso dos exercícios de vocalise.

Page 59: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

59

REFERÊNCIAS

BEAUTTENMÜLLER, Glorinha; LAPORT, Nelly. Expressão vocal e expressão corporal.

Rio de Janeiro: Enelivros, 1992.

BEHLAU, Mara et. al. Reabilitação vocal. São Paulo: Centro de Estudos da Voz, 1999.

BEZZI, Maria Helena. A técnica vocal. Dissertação apresentada ao Conservatório Brasileiro

de Música, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Rio de Janeiro, 1984.

CONSERVATÓRIO ESTADUAL DE MÚSICA LORENZO FERNÂNDEZ. Projeto político

pedagógico. Montes Claros, 2009.

DINVILLE, Claire. A técnica da voz cantada: tradução e prefácio da edição brasileira

Marjorie B. Couvoisier Hasson. Rio de Janeiro: Enelivros, 1993.

BABAYA. A voz e o instrumento: apostila 2007. Belo Horizonte: Babaya Escola de Canto,

2007.

_________. Exercícios de técnica vocal e seus fundamentos: apostila 2007. Belo Horizonte:

Babaya Escola de Canto, 2007.

FRANÇA, Júnia Lessa; VASCONCELLOS, Ana Cristina de. Manual para normalização de

publicações técnico-científicas. 8. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

GOULART, Diana; COOPER, Malu. Por todo canto: coletânea de exercícios de técnica

vocal. Rio de Janeiro: s. e, 2000.

LEHMANN, Lilli. Aprenda a cantar. Tradução de Roberto Raposo. Editora Tecnoprint S. A.,

1984.

MANSION, Madelaine. El estudio del canto. Traducción de Francine Debenedetti. Buenos

Aires: Ricordi Americana, 1947.

MARTINEZ, Emanuel et. al. Regência Coral: princípios básicos. Curitiba: Dom Bosco,

2000.

MELBA, Dame Nellie. Melba method. New York: Chappell: [s.d.]. 63 p.

MONTE, Toti Dal. Vocalizzi. Milão: Riccordi, 1970.

ORTEGA, Paula Sánchez; RAMÍREZ, Digna Guerra. Canto. Habana: Pueblo y Educación,

1982.

SILVA, Thaís Cristófaro. Fonética e fonologia do português. São Paulo: Contexto, 1999.

Page 60: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

60

VIEGAS, Maria Amélia de Resende. Repensando o ensino-aprendizagem de piano do Curso

Técnico em Instrumento do Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier de

São João Del-Rei (MG): uma reflexão baseada em Foucault. Revista da ABEM, n. 15,

setembro 2006. Porto Alegre: Associação Brasileira de Educação Musical, 2000

PROFESSOR “A”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 14:56 minutos, 03 de set. 2009.

PROFESSOR “B”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 26:05 minutos, 04 de set. 2009.

PROFESSOR “C”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 19:29 minutos, 04 de set. 2009.

PROFESSOR “D”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 13:46 minutos, 08 de set. 2009.

PROFESSOR “E”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 15:31 minutos, 05 de set. 2009.

PROFESSOR “F”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 13:55 minutos, 08 de set. 2009.

PROFESSOR “G”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 37:05 minutos, 11 de set. 2009.

PROFESSOR “H”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 23:28 minutos, 18 de set. 2009.

PROFESSOR “I”. Entrevista concedida a André Matos Rabelo gravada por meio de celular

LG Shyne - ME 970, 556mb, 39:43 minutos, 25 de set. 2009.

Page 61: Monografia -  OS VOCALISES NA PREPARAÇÃO DA TÉCNICA VOCAL

61

ANEXOS

Roteiro das entrevistas

1) Em qual instituição cursou a graduação? Em que ano se formou?

2) Há quanto tempo é professor no Conservatório?

3) Segue a linha de canto de outro(s) professor(es)? De quem?

4) Todas as necessidades técnicas do canto podem ser trabalhadas através de vocalises?

5) Prefere trabalhar a técnica com vocalises ou através de peças?

6) Quais os objetivos de se trabalhar o vocalise?

7) Utiliza os mesmos vocalises com alunos iniciantes ou experientes? Qual a diferença?

8) Trabalha com vocalises de algum autor? De quem?

9) Constrói vocalises de acordo com suas necessidades metodológicas?

10) Quais os vocalises que mais utiliza? Explique seu objetivo e sua extensão.