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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA JERUZA MARIA SANTOS LIMA ESTUDO DAS PRESCRIÇÕES DE PSICOFÁRMACOS EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO MUNICÍPIO DE OCARA – CE

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Page 1: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁCURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

JERUZA MARIA SANTOS LIMA

ESTUDO DAS PRESCRIÇÕES DE PSICOFÁRMACOS EM UMCENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO

MUNICÍPIO DE OCARA – CE

FORTALEZA2010

do

do

Page 2: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

2

JERUZA MARIA SANTOS LIMA

ESTUDO DAS PRESCRIÇÕES DE PSICOFÁRMACOS EM UMCENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO

MUNICÍPIO DE OCARA – CE

Orientadora:

Eudiana Vale Francelino

FORTALEZA2010

Monografia submetida à Escola de Saúde Pública, como parte dos requisitos para a conclusão da Especialização em Gestão da Assistência Farmacêutica.

Page 3: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

3

JERUZA MARIA SANTOS LIMA

ESTUDO DAS PRESCRIÇÕES DE PSICOFÁRMACOS EM UMCENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO

MUNICÍPIO DE OCARA – CE

Especialização em Gestão da Assistência FarmacêuticaEscola de Saúde Pública do Ceará

Aprovado em: _______/________/_________

Banca Examinadora:

________________________________________Msc. Eudiana Vale Francelino

Orientador

________________________________________Msc. Ana Claúdia de Brito Passos

1 º Examinadora

________________________________________Msc. Solange Cecília Cavalcante Dantas

2º Examinadora

do

Page 4: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

4

AGRADECIMENTOS

A professora e mestra Eudiana Francilino, orientadora dessa monografia, por todo

exemplo, sabedoria, compreensão e acima de tudo, exigência

em busca do melhor.

A professora e mestra Solange Cecília, professora e mestra Ana Claudia Passos, por

aceitarem participar da banca de defesa desta monografia, proporcionando

discussões e sugestões que servirão para o crescimento, aprendizado e incentivo a pesquisa.

A minha amiga e colega de trabalho Haryella Jucá de Alencar, pela colaboração e

estimulo na realização desta pesquisa, auxílio na coleta de dados e por

todas as sugestões, discussões, busca de resultados e acima de tudo por sua amizade.

Aos gestores do município de Ocara, em especial a secretária da saúde Dra. Fatima

Viana, pelo estímulo, colaboração e compreensão nos momentos de ausência no trabalho para

a elaboração dessa monografia.

As minhas colegas de trabalho da Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF) que

me ajudaram na coleta de dados para a pesquisa.

Aos meus familiares que sempre me deram amor e força, valorizando meus potenciais.

Em especial aos meus filhos: Lucas Emanuel, Flavio Neto e Gabriele Louise, por quem me

dedico e tento alcançar novos voos para dar a eles o melhor de mim.

Ao meu esposo Flaviano pelo amor e compreensão nos momentos de ausência que

estive me dedicando a essa monografia.

A todos os meus amigos e amigas que sempre estiveram me aconselhando e

incentivando com carinho e dedicação.

A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a execução dessa

monografia.

Page 5: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

5

RESUMO

OBJETIVO: Os erros de medicação são atualmente um problema mundial de saúde pública,

sendo os mais sérios os de prescrição. O objetivo do estudo foi analisar a prática da prescrição

de medicamentos de controle especial e sua relação com a prevalência de erros de medicação

para pacientes de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e a importância da inserção do

profissional farmacêutico. MÉTODOS: Estudo descritivo, transversal, prospectivo

abrangendo 600 prescrições com medicamentos de controle especial. Durante os meses de

agosto a setembro de 2010, foram analisadas todas as prescrições recebidas no CAPS. As

prescrições foram analisadas quanto a: legibilidade, nome do paciente, data, caligrafia ou

grafia, identificação do prescritor, análise do medicamento e uso de abreviaturas. Os erros de

prescrição foram avaliados por dois farmacêuticos e também foi analisado o perfil sócio-

demográfico dos pacientes. RESULTADOS: Houve predomínio do sexo feminino (68,3%),

pacientes casados (45,9%), com renda de até um salário mínimo (58,30%). Houve

dificuldades na identificação do paciente em 11,2% e 88,5% estavam legíveis. No total de 600

prescrições, foram observados 42 não apresentaram concentração, 488 não apresentaram via

de administração. Os medicamentos mais prescritos foram Haloperidol, Carbamazepina e

Fenobarbital. Observou-se o uso intensivo e sem padronização de abreviaturas.

CONCLUSÕES: No atual estudo observou-se que no município de Ocara a maioria dos

receituários eram legíveis, possuíam a dose, a forma farmacêutica e a posologia, em

contrapartida notou-se uma carência expressiva da via de administração e o predomínio de

abreviaturas, fatos que podem comprometer o receituário médico e a vida do paciente.

Descritores: Erros de Medicação. Prescrição de Medicamentos. Medicamentos com

Prescrição. Medicamentos de Controle Especial. Estudos Transversais.

Page 6: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

6

ABSTRACT

OBJECTIVE: Medication errors are currently a public health problem worldwide, being the

most serious limitation. The objective of this study was to examine the practice of prescribing

controlled drugs and their relationship to the prevalence of medication errors for patients of a

Psychosocial Care Center and the importance of inclusion of the pharmacist. METHODS:

Cross-sectional study, prospective study involving 600 prescriptions with controlled drugs.

During the months of August and September 2010 were analyzed all prescriptions received at

the Center for Psychosocial Ocara. The prescriptions were checked for readability, patient

name, date, spelling or handwriting, the prescriber's identification, analysis and use of drug

abbreviations. Prescription errors were assessed by two pharmacists and also analyzed the

socio-demographic profile of patients. RESULTS: There were more females (68.3%), married

patients (45.9%), with income below the poverty level (58.30%). There were difficulties in

identifying the patient in 11.2% and 88.5% were legible. A total of 600 prescriptions, 42 were

observed showed no concentration, 488 showed no route of administration. The drugs most

frequently prescribed were haloperidol, carbamazepine and phenobarbital. There are the

intensive use of abbreviations and not standardized. CONCLUSIONS: In the current study

showed that the city of Ocara most prescriptions were legible, had the dose, dosage form and

dosage, however there has been a significant lack of route of administration and the

predominance of abbreviations, facts that may compromise the medical prescription and the

patient's life.

Key words: Medication Errors. Prescription. Prescription Drugs with. Drugs of Special

Control. Sectional Studies.

Page 7: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

7

À Deus por me permitir a vida e que através dela eu

buscasse o conhecimento. Aos meus pais, meus filhos e meu

esposo que me impulsionaram a buscar a cada dia novos

horizontes.

Page 8: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

8

SUMÁRIO1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................12

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA EM ESTUDO...............................................12

1.2. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA..........................................................................12

2. OBJETIVOS......................................................................................................................14

2.1. Objetivo Geral............................................................................................................14

2.2. Objetivos Específicos.................................................................................................14

3. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................15

3.1. Saúde Mental..............................................................................................................15

3.2. Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)....................................................................16

3.3. Objetivos Específicos do CAPS.................................................................................16

3.4. O CAPS no município de Ocara................................................................................16

3.5. Assistência Farmacêutica (AF)..................................................................................19

3.6. Prescrição médica.......................................................................................................20

3.7. Legislação...................................................................................................................20

3.8. Centro de Atenção Psicossocial..................................................................................21

3.9. Prescrição Médica......................................................................................................23

4. METODOLOGIA..............................................................................................................24

4.1. Desenho do estudo.....................................................................................................24

4.2. Local de estudo...........................................................................................................24

4.3. Amostragem...............................................................................................................25

4.4. Critérios de inclusão...................................................................................................25

4.5. Critérios de exclusão..................................................................................................25

4.6. Instrumento para a coleta do perfil sócio-econômico e demográfico........................26

4.7. Análise dos Dados......................................................................................................26

4.8. Aspectos éticos...........................................................................................................26

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................28

6. CONCLUSÃO...................................................................................................................38

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES....................................................39

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................40

9. APÊNDICES.....................................................................................................................43

APÊNDICE I........................................................................................................................43

APÊNDICE II.......................................................................................................................45

APÊNDICE III......................................................................................................................46

APÊNDICE IV......................................................................................................................47

Page 9: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

9

Page 10: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

10

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Demonstrativo percentual dos tipos de transtornos acometidos

pelos usuários do CAPS. Ocara-CE, 2010.17

GRÁFICO 2 Demonstrativo percentual dos pacientes do CAPS por UBASF.

Ocara-CE, 2010.24

GRÁFICO 3 Frequência quanto a presença da concentração nas prescrições.

Ocara-CE, 2010.34

GRÁFICO 4 Frequência quanto a presença da via de administração nas

prescrições. Ocara-CE, 2010.35

GRÁFICO 5 Frequência de abreviatura nas prescrições. Ocara-CE, 2010 36

GRÁFICO 6 Frequência dos psicotrópicos predominantes entre as prescrições

estudadas. Ocara-CE, 20137

Page 11: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

11

LISTA DE TABELAS

TABELA I Demonstrativo percentual dos tipos de atendimentos realizados

pela equipe multiprofissional do CAPS . Ocara-CE, 2010.17

TABELA II Demonstrativo percentual sobre os medicamentos dispensados na

ESF SEDE. Ocara-CE, 2010.18

TABELA III Frequência do Perfil sócio-econômico dos pacientes. Ocara-CE,

2010.28

TABELA IV Frequência da História Psiquiátrica nas famílias. Ocara-CE, 2010. 29

TABELA V Frequência da Renda individual dos entrevistados. Ocara-CE,

2010.30

TABELA VI Frequência do uso de medicamentos controlados pelos

entrevistados. Ocara-CE, 2010.31

TABELA VII Frequência dos medicamentos mais utilizados controlados pelos

entrevistados. Ocara-CE, 2010.31

TABELA VIII Frequência quanto ao à presença do nome do paciente nas

prescrições. Ocara-CE, 2010.32

TABELA IX Frequência quanto à legibilidade das prescrições. Ocara-CE, 2010. 32

do

Page 12: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

12

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Assistência Farmacêutica

ATC Classificação Anatomic Therapeutic Chemistry

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

ESF Estratégia da Saúde da Família

HD Hipótese Diagnóstica

OMS Organização Mundial de Saúde

UBASF Unidade Básica de Saúde da Família

URM Uso Racional de Medicamentos

do

Page 13: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

13

1. INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA EM ESTUDO

Como farmacêutica trabalhando na Central de Abastecimento Farmacêutica do

município de Ocara desde 2005, observou-se o aumento da demanda de consumo de

psicofármacos desse município.

Em 2010, realizou-se uma pesquisa para verificar o perfil das prescrições de

psicofármacos e o perfil socioeconômico e demográfico dos usuários e os resultados

mostraram que o medicamento mais utilizado foi o Haloperidol com 14,53%.

A população consumidora deste medicamento foi delineada como: mulheres, casadas

ou com união estável e buscavam no CAPS solução para seus problemas depressivos.

Reconhecendo que o uso de psicofármacos é crescente nos municípios cearenses,

surgiu a necessidade de investigar esse problema, entendendo que o farmacêutico pode

contribuir de forma relevante, promovendo o uso racional desses medicamentos.

1.2. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1985), diz que o Uso Racional de

Medicamentos (URM) acontece quando os “pacientes recebem medicamentos apropriados a

sua condição clínica, em doses adequadas as suas necessidades individuais, por um período de

tempo adequado e ao menor custo possível para eles e sua comunidade”.

Para promoção do uso racional a Política Nacional de Medicamentos (PNM)

recomenda atenção especial ao receituário médico, principalmente em nível ambulatorial no

tratamento de doenças prevalentes. Além de educação dos usuários frente aos riscos de

automedicação, da interrupção e troca de medicamentos prescritos, bem como a necessidade

da receita para dispensação de medicamentos tarjados (BRASIL, 1998).

A prescrição inadequada acarreta dificuldades no entendimento da terapêutica

prescrita, favorece retornos precoces aos consultórios médicos, realização de novos exames,

agravamento de quadros e possíveis seqüelas (NAVES, 2002). E se a informação não é feita

Page 14: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

14

corretamente no consultório e reforçada pelo farmacêutico, ainda incentiva a automedicação

pelo raciocínio inadequado de que a similaridade de manifestações condiciona igual terapia.

A profissão farmacêutica passa por transformações com a finalidade de atender novas

demandas sociais de forma interdisciplinar e intersetorial. Considerando a conjuntura da

atuação do profissional farmacêutico e do desempenho da ação educativa prevista pela

Organização Mundial de Saúde (OMS), é relevante enfocar todos os níveis por onde transitam

os medicamentos, bem como os procedimentos do Uso Racional de Medicamentos.

A implantação de um sistema de atenção farmacêutica na área de problemas

relacionados ao sistema nervoso central se faz necessário, uma vez que, as dúvidas nessa área

são muitas, além disso, a terapia utilizada é repleta de efeitos indesejados que levam grande

parte dos pacientes a abandonar o tratamento ou reduzir a adesão. O farmacêutico pode criar

uma aliança terapêutica com o paciente e sua família. Em qualquer caso, deve contribuir para

a educação dos pacientes e de sua família, adaptando-se ao nível de compreensão de todos

(CASTRO,1998).

A ausência do farmacêutico no CAPS de Ocara, além de aumentar a sobrecarga de

trabalho da sua equipe de profissionais, deixa uma lacuna na atenção especial a esses

receituários médicos e aos pacientes.

Page 15: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

15

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Verificar o uso de psicofármacos através da análise das prescrições médicas de

usuários atendidos no Centro de Atenção Psicossocial no município de Ocara – CE.

2.2. Objetivos Específicos

Descrever o perfil sócio-demográfico dos pacientes atendidos no CAPS;

Descrever o perfil das prescrições de psicofármacos no CAPS;

Avaliar as prescrições médicas quanto aos indicadores de qualidade;

Desenvolver instrumentos para a inserção da atuação do farmacêutico no

CAPS.

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16

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Saúde Mental

A avaliação de serviços em Saúde Mental ainda é um campo de estudos bastante

recente no Brasil. Os estudos desenvolvidos (Pitta et al. 1995; ) procuraram criar “novos

instrumentos e indicadores de avaliação” capazes de superar os tradicionalmente utilizados

pela clínica psiquiátrica como número de consultas, internações ou procedimentos

laboratoriais, remissão de sintomas, número de altas, diagnóstico, entre outros, considerados

insuficientes para avaliar os serviços criados a partir do processo da Reforma Psiquiátrica.

Para Pitta et al. (1995) a avaliação no campo da atenção psicossocial introduz algumas

especificidades ao campo da avaliação de serviços de saúde em geral. Segundo a autora, todos

os aspectos objetivos e materiais, mais que em outras áreas, estão atravessados pela

intersubjetividade das relações entre usuários, trabalhadores e instituições de saúde,

aumentando as dificuldades já presumíveis nos processos de avaliar qualidade em serviços de

saúde (Pitta, 1995: 448)

A Saúde Mental é normatizada pela Lei N°10.216, 06 de abril de 2001, a qual dispõe

sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o

modelo assistencial em saúde mental. Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de

transtorno mental, de que trata essa Lei, são assegurados sem qualquer forma de

discriminação quanto a raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política,

nacionalidade, idade, família, recursos econômico e ao grau de gravidade ou tempo de

evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

De acordo com o Artigo 3° dessa Lei, é responsabilidade do Estado o desenvolvimento

da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de

transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada

em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que

ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.

O Conselho Nacional de Saúde Mental é o órgão de consulta do Governo em matéria

de política de saúde mental, nele estando representadas as entidades interessadas no

funcionamento do sistema de saúde mental, designadamente as associações de familiares e de

utentes, os subsistemas de saúde, os profissionais de saúde mental e os departamentos

Page 17: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

17

governamentais com áreas de atuação conexas.

3.2. Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

O CAPS é uma instituição brasileira que visa a substituição de hospitais psiquiátricos

– antigos hospícios ou manicômios – e de seus métodos para cuidar de afecções psiquiátricas.

O CAPS, instituído juntamente com os Núcleos de Assistência Psicossocial, através da

Portaria SNAS Nº 224 – 29 de janeiro de 1992, é uma unidade de saúde local que conta com

população definida pelo nível local e que oferece atendimento de cuidados intermediários

entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de 4 horas, por

equipe multiprofissional, constituindo-se também em porta de entrada da rede de serviços

para as ações relativas a saúde mental (FREITAS, 2005).

3.3. Objetivos Específicos do CAPS

Prestar atendimento em regime de atenção diária;

Gerenciar os projetos terapêuticos, oferecendo cuidado clínico eficiente e

personalizado;

Promover a inserção social dos usuários de ações intersetoriais que envolvam

educação, trabalho, esporte, cultura e lazer;

Dar suporte e supervisionar a atenção a saúde mental na rede básica, ESF

(Estratégia de Saúde da Família), PACS (Programa de Agentes Comunitários

de Saúde);

Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua área

(Portaria GM 336/ 02 de 19 Fev/2002).

3.4. O CAPS no município de Ocara

O município de Ocara possui em torno de 24.371 habitantes, segundo o IBGE, 2008.

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18

O CAPS tem 01 ano e 08 meses de atuação, encontram-se cadastrados 489 usuários, o que

representa 1.64% da população total. Estima-se que a proporção de pessoas acometidas por

transtorno mental em dado território seja de 5% da população local.

No gráfico 1 são descritos os tipos de transtornos que acometem os pacientes do CAPS

segundo o CID – 10.

0%

10%

20%

30% ESQUIZOFRENIA (16%)

TRANSTORNO AFETIVOBIPOLAR (10%)TRANSTORNOSESQUIZOAFETIVOS (3%)TRANSTORNOSDEPRESSIVOS (26%)TRANSTORNOSANSIOSOS (25%)RETARDO MENTAL (10%)

OUTROS (10%)

GRÁFICO 1- Demonstrativo percentual dos tipos de transtornos afetivos acometidos pelos usuários do CAPS. Ocara-CE, 2010.

O CAPS possui na sua equipe de profissionais: Enfermeira, Terapeuta Ocupacional,

Psicóloga, Assistente Social e uma Psiquiatra. Na tabela 1 são descritos os atendimentos

realizados pela equipe multiprofissional no CAPS:

TABELA I - Demonstrativo percentual dos tipos de atendimentos realizados pela equipe

multiprofissional do CAPS. Ocara-CE, 2010.

ATENDIMENTOS N° DE PACIENTES PORCENTAGEMAtendimento Psicológico 18 3,68%

Só com anamnese 88 18%Em tratamento, mas ainda sem HD

definida19 3,88%

Em tratamento e com HD definida 364 74,43%Total 489 100%

Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

Devido a ausência do farmacêutico na equipe do CAPS, a dispensação dos

Page 19: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

19

medicamentos da Portaria 344/98, a qual aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e

medicamentos sujeitos a controle especial, é feita na UBASF da ESF Sede.

Dentre os grupos de psicofármacos dispensados, os antidepressivos são os mais

utilizados entre os usuários do CAPS de Ocara. Os grupos terapêuticos foram classificados

segundo o WHO-ATC (Anatomic Therapeutic Chemistry). (TABELA II)

TABELA II - Demonstrativo percentual sobre os medicamentos dispensados na ESF SEDE. Ocara-CE, 2010.

GRUPO TERAPÊUTICO N° DE PACIENTES PORCENTAGEMHipnóticos e Ansiolíticos 38 8,10%

Anticonvulsivante 40 8,58%Antipsicótico e Neuroléptico 72 15,50%

Antidepressivo 154 33,33%Antiparkisoniano 24 5,11%

Ansiolítico, Anticonvulsivante e Hiposedativo 28 5,93%Antipsicótico 3 0,70%Neuroléptico 107 23,10%

Total 998 100% Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

As atividades desenvolvidas pela equipe multiprofissional se dividem em:

Atendimento Individual:

Acolhimento (atendimento inicial/triagem, que pode culminar ou não

com a abertura do prontuário no serviço, efetuada pela realização da

anamnese);

Escuta terapêutica;

Orientação (conversa e assessoramento sobre algum tema específico);

Demais atendimentos específicos de cada área de atuação (prescrição

de medicamentos, psicoterapia etc).

Atendimento em grupo: estão sendo realizados periodicamente grupos

terapêuticos e oficinas terapêuticas, conforme descrito abaixo:

Grupo Existir;

Grupo da Terapia Ocupacional;

Grupo de Educação e Saúde;

Page 20: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

20

Grupo Renascer.

Atendimento para a família:

Atendimento nuclear e a grupos de familiares;

Atendimento individualizado a familiares;

Visitas domiciliares;

Grupo Terapêutico para Familiares.

Atividades comunitárias: desenvolvidas em conjunto com as diversas

instituições existentes na comunidade, têm como objetivo as trocas sociais, a

integração do serviço e do usuário com a família, a comunidade e a sociedade

em geral. São exemplos as atividades sócio-culturais.

3.5. Assistência Farmacêutica (AF)

Assistência Farmacêutica é um grupo de atividades relacionadas com o medicamento,

destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade. Envolve o

abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas, a

conservação e controle de qualidade, a segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos, o

acompanhamento e a avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de informação sobre

medicamentos e a educação permanente dos profissionais de saúde, do paciente e da

comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos (Brasil GM n° 3916/98-Política

Nacional de Medicamentos).

Para a efetiva implementação da AF é fundamental ter como princípio básico

norteador o CICLO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA, que é um sistema constituído

pelas etapas de seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação,

com suas interfaces nas ações à saúde.

Pensar em um serviço de Assistência Farmacêutica de qualidade seria imaginar um

serviço que contemplasse todos os critérios referentes aos componentes do ciclo da AF, como:

medicamentos bem selecionados conforme as necessidades gerais da população do município;

quantitativos de medicamentos bem programados suficientes a demanda do município;

aquisição de medicamentos de acordo com os requisitos legais indispensáveis garantindo o

Page 21: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

21

abastecimento contínuo dos mesmos; armazenamento adequado obedecendo as Boas Práticas

de Armazenamento; distribuição eficaz e em tempo adequado para evitar o desabastecimento

das unidades; ações referentes a dispensação e utilização de medicamentos; desenvolvimento

de campanhas educativas para o uso racional de medicamentos; avaliação e acompanhamento

das ações da AF; desenvolvimento de ações de farmacovigilância; profissionais capacitados

para o desenvolvimento de suas atividades, entre outros. De fato, falar de qualidade em AF

representa um universo amplo e, para que se possa avaliar o nível de qualidade de um serviço,

diversas condições devem ser cumpridas (Correia, 2009).

Dentro do contexto da Assistência Farmacêutica existem pacientes que fazem uso de

medicamentos, cronicamente, para diferentes patologias e, dentre desses os pacientes

assistidos pelos programas de tratamento do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Ocara

que contempla inúmeros profissionais de saúde, destacando-se aí a necessidade de

acompanhamento farmacêutico.

3.6. Prescrição médica

Katzung (2003) afirma que “a prescrição é uma ordem médica para preparar ou

fornecer um tratamento específico, geralmente medicação, para determinado paciente” ou

ainda, “uma ordem escrita dirigida ao farmacêutico, definindo como o fármaco deve ser

fornecido ao paciente, e a este, determinando as condições em que o fármaco deve ser

utilizado”.

A necessidade da prescrição para a obtenção do medicamento representa limitação da

liberdade pessoal de busca imediata do alívio da sintomatologia, o que impede que o

indivíduo faça preponderar sua própria experiência e vontade (BLENKINSOPPA, 1996).

É possível observar que a prescrição funciona como um elo que une o prescritor, o

farmacêutico e o paciente. Isto porque durante a avaliação e diagnóstico de um problema

clínico, a abordagem terapêutica frequentemente tomada consiste em uma terapia

farmacológica exigindo a presença da prescrição (LOPES, 2008).

3.7. Legislação

A Lei de Saúde Mental tem como objetivo estabelecer os princípios gerais da política

de saúde mental e regula o internamento compulsivo dos portadores de anomalia psíquica,

Page 22: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

22

designadamente das pessoas com doença mental (Art. 1° da Lei N°10.216, 06 de abril de

2001).

A proteção da saúde mental efetiva-se através de medidas que contribuam para

assegurar ou restabelecer o equilíbrio psíquico dos indivíduos para favorecer o

desenvolvimento das capacidades envolvidas na construção da personalidade e para promover

a sua integração crítica no meio social em que vive (§ 1, Art. 2° da Lei N°10.216, 06 de abril

de 2001).

As medidas referidas no número anterior incluem ações de prevenção primária,

secundária e terciária da doença mental, bem como as que contribuam para a promoção da

saúde mental das populações (§ 2, Art. 2° da Lei N°10.216, 06 de abril de 2001).

Os princípios gerais da Lei de Saúde Mental são:

A prestação de cuidados de saúde mental é promovida prioritariamente em

nível de comunidade, ou forma a evitar o afastamento dos doentes de seu meio

habitual e a facilitar a sua reabilitação e inserção social;

Os cuidados de saúde mental são prestados no meio menos restritivo possível;

O tratamento de doentes mentais em regime de internamento ocorre,

tendencialmente, em hospitais gerais;

No caso de doentes que fundamentalmente careçam de reabilitação

psicossocial, a prestação de cuidados é assegurada, de preferência, em

estruturas residenciais, centros de dia e unidades d treino e reinserção

profissional, inseridos na comunidade e adaptados ao grau específico de

autonomia dos doentes.

A prestação de cuidados de saúde mental é assegurada por equipes multidisciplinares

habilitadas a responder, de forma coordenada, aos aspectos médicos, psicológicos, sociais, de

enfermagem e de reabilitação (§ 3, Art. 3° da Lei N°10.216, 06 de abril de 2001).

3.8. Centro de Atenção Psicossocial

Page 23: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

23

O CAPS estrutura-se como novo espaço da terapia psiquiátrica, lócus extra-hospitalar,

que presta assistência multiprofissional e busca a reinserção social de seu usuário, prevenindo

internações psiquiátricas desnecessárias e compulsivas, combatendo o preconceito e a

discriminação (CUNHA, 2003).

A Portaria 224/92 do Ministério da Saúde cria oficialmente os CAPS e os define

como:

Unidades de Saúde locais/regionalizadas que contam com uma

população definida pelo nível local e que oferecem atendimento de

cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação

hospitalar, em um ou dois turnos de quatro horas, por equipe

multiprofissional (BRASIL, 2005ª, p. 12).

A instituição do CAPS como suporte especializado da saúde mental junto as Equipes

de Estratégia da Saúde da Família (ESF’s) requer a estruturação de uma política de saúde

mental composta de atividades e ações voltadas a constituição de ambientes favoráveis a

saúde, procurando desenvolver junto ao ESF atividades direcionadas a uma promoção da

saúde mental, além de implementar programas que viabilizem a ressocialização dos pacientes

acometidos de transtornos mentais por meio do Saúde da Família (Souza, 2007).

Essas práticas devem ultrapassar o mais rápido possível os espaços internos dos CAPS

e constituir rompedores dos (pré) conceitos, práticas e relações que impedem a promoção da

saúde mental. Todos precisam estar envolvidos nessa estratégia, questionando e avaliando

permanentemente os rumos da clínica e do serviço (BRASIL, 2004).

Com isso o CAPS tem como objetivo oferecer um espaço de tratamento, reabilitação,

acolhimento, relações interpessoais e produção de novas subjetividades as pessoas portadoras

de transtornos mentais (OLIVEIRA, 2002).

Muitos trabalhos publicados na área de Assistência Farmacêutica no Brasil têm

avaliado o perfil de utilização de medicamentos pela população ou por um grupo restrito de

pacientes e o uso dos medicamentos através de indicadores preconizados pela Organização

Mundial de Saúde (OMS). (Correia, Coelho, 2009).

Os Indicadores são: Indicadores de Prescrição (número médio de medicamentos por

Page 24: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

24

consulta, porcentagem de medicamentos prescritos por nome genérico, porcentagem de

consultas nas quais psicotrópicos e porcentagem de medicamentos prescritos que figuram na

Lista de Medicamentos Essenciais), Indicadores da Assistência ao Paciente (tempo médio de

dispensação, conhecimento de dose correta pelo paciente) e Indicadores de Serviço

(disponibilidade da lista de medicamentos essenciais e disponibilidade de medicamentos-

chave) ficando restrito a alguns aspectos. Eles mostram as práticas gerais de prescrição com

independência dos diagnósticos específicos (Correia, Coelho, 2009).

3.9. Prescrição Médica

A prescrição é reconhecida como importante fonte de problemas relacionados aos

medicamentos, pois se realizada de maneira incorreta pode trazer consequências graves para a

saúde da população, tais como eventos adversos que podem vir a ser letais e dificuldade na

diferenciação entre manifestações de doenças e efeitos adversos da terapêutica, eficácia

ilimitada, resistência a antibióticos, fármaco-dependência, riscos de infecção, não adesão ao

tratamento, entre outros (MARIN et al., 2003; FUCHS, 2006; BRASIL, 2007, v.7).

O Guia de Boa Prescrição (2001) ainda reforça que uma maneira de se saber se

existem problemas relacionados a prescrição em determinado lugar é fazer um simples

inquérito sobre o uso de medicamentos, utilizando os indicadores padronizados pela OMS

para investigar o uso de medicamentos em unidades de saúde (LOPES, 2008).

A literatura científica mostra que vários estudos foram realizados com o objetivo de

identificar indicadores da qualidade da prescrição, dentre eles: Bateman et al., (1996);

Campbell et al. 9200); Gómez-Catro et al. (2003) e Parra et al. (2006). Estes indicadores em

geral são resultado de consenso envolvendo médicos e/ou farmacêuticos.(LOPES, 2008)

Como é difícil descrever um cenário com um único indicador, é importante utilizar um

conjunto de indicadores durante a prática da avaliação (BRASIL,2005).

Page 25: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

25

4. METODOLOGIA

4.1. Desenho do estudo

Trata-se de um estudo descritivo, transversal, prospectivo, para avaliação de

prescrições médicas com psicofármacos em um Centro de Atenção Psicossocial no município

de Ocara – CE.

A pesquisa foi realizada em 3 fases:

FASE 1: Apresentação do projeto aos prescritores enfatizando a importância de sua

participação na elaboração de indicadores de avaliação das prescrições adaptáveis com a

realidade local.

FASE 2: Entrevista com os pacientes cadastrados no CAPS para descrição do seu

perfil sócio-demográfico.

FASE 3: Seleção das prescrições médicas por amostragem dividida em estudo piloto e

estudo definitivo.

4.2. Local de estudo

O estudo foi realizado em Ocara – Ceará. O município possui em torno de 24.371

habitantes, 10 Unidades Básicas de Saúde da Família (UBASF) e um CAPS. A seguir tem-se

o percentual de pacientes por cada UBASF.

Gráfico 2 - Demonstrativo percentual dos pacientes do CAPS por UBASF. Ocara- CE,

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%ARISCO DOS MARIANOS

BOLAS

CROATÁ

CURUPIRA

JUREMA DOS VIEIRAS

N. HORIZONTE

SEDE

SERENO

SERRAGEM

VILA SÃO MARCOS

Page 26: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

26

2010.

Todas as fases foram realizadas na sala de atividades do CAPS.

4.3. Amostragem

1ª FASE : Apresentação do projeto aos prescritores, enfatizando a sua importância.

2ª FASE (PACIENTES) : Foram entrevistados, em média, 10 pacientes por dia, em

dias alternados, no mês de junho de 2010, totalizando em média 120 pacientes/mês.

3ª FASE (PRESCRIÇÕES): Foram estudadas todas as prescrições do período de

outubro a dezembro de 2009. As amostras foram estudadas em dias alternados, escolhidas 50

prescrições, nos meses de agosto e setembro de 2010, totalizando 600 prescrições/mês.

OBS: O número de prescrições não é necessariamente igual ao número de pacientes.

A amostra de pacientes foi calculada da seguinte forma:

N° DE DIAS ALTERNADOS NO MÊS = 3 DIAS NA SEMANA X 4 SEMANAS NO MÊS

N° DE DIAS ALTERNADOS NO MÊS = 3 X 4 = 12 DIASN° DE PACIENTES X N° DEDIAS ALTERNADOS NO MÊS = 10 X 12 = 120 PACIENTES / MÊS

A amostra de prescrições foi calculada da seguinte maneira:

N° DE DIAS ALTERNADOS NO MÊS = 3 DIAS NA SEMANA X 4 SEMANAS NO MÊS

N° DE DIAS ALTERNADOS NO MÊS = 3 X 4 = 12 DIAS

N° DE PRESCRIÇÕES X N° DE DIAS ALTERNADOS NO MÊS = 50 X 12 = 600

PRESCRIÇOES / MÊS

4.4. Critérios de inclusão

Prescrições contendo dois ou mais psicofármacos foram aceitas, estas que foram

realizadas no período do estudo. Todos os grupos de psicofármacos foram aceitos. Pacientes

de ambos os sexos e com idade acima de 10 anos foram inclusos no estudo.

Page 27: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

27

4.5. Critérios de exclusão

Prescrições de pacientes usuários do serviço que não receberam uma prescrição

médica contendo psicofármacos no final da consulta e prescrições de usuários de outro

município.

4.6. Instrumento para a coleta do perfil sócio-econômico e demográfico

Foram elaborados dois questionários para a coleta de dados para delinear o

perfil sócio-econômico e demográfico, problemas de saúde e dados sobre o tratamento

farmacológico dos usuários do CAPS.

O primeiro questionário foi adaptado de Passos (2008) para coletar dados

socioeconômicos dos pacientes: idade, sexo, escolaridade, raça, profissão, estado civil, renda

familiar, tipo de moradia e, ainda, informações sobre os problemas de saúde. A entrevista com

os pacientes foi realizada às 9:00 da manhã no CAPS em dias alternados. O paciente foi

abordado e entrevistado individualmente em uma sala reservada. Foi entregue o Termo de

Consentimento e Esclarecimento Livre para o paciente ser informado sobre o projeto e seus

fins (Apêndice IV). Ao termino da leitura, havendo concordância por parte do paciente, foi

realizada a entrevista através do questionário do perfil socioeconômico. Cada entrevista teve

em média 30 minutos, podendo ter esse tempo ultrapassado.

O segundo questionário, por sua vez, investigou os principais dados referentes ao

tratamento farmacológico, a partir das prescrições médicas. A avaliação da legibilidade das

prescrições foi feita por dois farmacêuticos, levando-se em conta a dificuldade em realizar a

leitura das prescrições médicas.

4.7. Análise dos Dados

Os dados foram armazenados e analisados por meio do programa Epi Info, versão

3.5.1 (Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, Estados Unidos).

4.8. Aspectos éticos

Page 28: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

28

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade

Federal do Ceará sob o nº de protocolo 114/10 (Anexo 1) e autorização da Secretaria da Saúde

de Ocara (Apêndice III).

Os pacientes foram submetidos ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(Apêndice IV). A pesquisa manteve em todas as etapas do processo, o anonimato dos usuários

do CAPS, garantindo a não divulgação dos nomes de tais sujeitos.

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29

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizadas 120 entrevistas com 82 pacientes do sexo feminino e 38 do sexo

masculino. A média da idade foi de 39,9 anos, variando de 11 a 86 anos. A maioria dos

pacientes (n= 54) é natural de Ocara, sendo o restante (n= 66) de Aracoiaba. Os dados acerca

da situação conjugal dos participantes demonstraram que 50 são solteiros, 55 vivem em união

estável/casados, 9 são viúvos e 6 separados. A média, para quem tinha filhos, foi de 3,8 filhos

por entrevistado. Quanto a escolaridade, a maior parte dos entrevistados possui o ensino

fundamental incompleto (n= 50). Em relação a religião, 91 são católicos. Dos que apresentam

outra patologia, além de diabetes e cardiopatias, 23 tem hipertensão. Na tabela I, são

demonstrados esses dados.

Tabela III - Frequência do perfil sócio-econômico dos pacientes.

Sexo Masculino 38 (31,7%) Feminino 82 (68,3%)Naturalidade Ocara 54 (45%) Aracoiaba 66 (55%)Estado civil Solteiro 50 (41,7%) Casado/união estável 55 (45,9%) Viúvo 9 (7,5%) Separado 6 (5,0%)Filhos Sim 78 (65%) Não 42 (35%)Escolaridade Analfabeto 29 (24,2%) Ensino fundamental incompleto 50 (41,7%) Ensino fundamental completo 14 (11,7%) Ensino médio incompleto 13 (10,8%) Ensino médio completo 9 (7,5%) Ensino superior incompleto 3 (2,5%) Ensino superior completo 2 (1,7%)Religião Católica 91 (75,8%) Evangélica 22 (18,3%) Sem religião 7 (5,8%)Patologias Diabetes 2 (1,7%) Hipertensão 23 (19,2%) Cardiopatias Outras

3 (2,5%)6 (5,0%)

Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

Page 30: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

30

O perfil sócio-econômico e demográfico da população mostra semelhança com o perfil

dos usuários da ESF de outros municípios cearenses (JORGE et al, 2007): predomínio do

sexo feminino, baixa escolaridade e com baixa renda. Portanto verifica-se nessa população o

retrato da desigualdade social ainda vigente no país, o que interfere na saúde mental das

pessoas, aumentando a demanda dos serviços de saúde (PASSOS, 2008).

Autores como Fonseca (1999) e Oliveira (2000) mostram que os serviços de saúde

geralmente se organizam para atender a mulher no seu ciclo gravídicopuerperal, como no

acompanhamento pré-natal, assistência ao parto e puerpério,e mesmo assim de forma

deficiente. Verificamos, então, que o sistema de saúde, daforma como funciona, não atende as

especificidades da mulher, na medida em que está voltado somente para os aspectos físicos e

biológicos, sem levar em conta sua subjetividade. Não se percebe que as queixas recebidas –

na maioria das vezes expressas por sintomas físicos ou psíquicos – são decorrentes de

problemas econômicos e sociais, de desajustes familiares, dentre outros, e devem ser

entendidas de uma maneira mais abrangente. Sem saber lidar com esses problemas, lança-se

mão da medicação como único recurso disponível e de fácil acesso (CARVALHO, 2003).

No nosso estudo, a maioria dos entrevistados (n= 118) registrou a existência de casos

de transtorno mental na família, fato esse demonstrado na tabela II.

Tabela IV - Frequência da História Psiquiátrica nas famílias

H. PSIQUIÁTRICA FREQUÊNCIA PORCENTAGEMSIM 118 98,30%NÃO 2 1,70%

TOTAL 120 100,0% Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

Kaplan e Sadock (1998) afirmam que é elevada a incidência dos transtornos de humor

e ansiedade na população. Estudos conduzidos em populações ocidentais demonstram que

cerca de 90% da morbidade psiquiátrica encontradas eram caracterizadas por distúrbios não

psicóticos, principalmente depressão e ansiedade (CHENG, 1998; GOLDBERG, HUXLEY,

1992).

Dos participantes, 5 relataram morar sozinhos, 55 moram com cônjuge e filhos, 52

vivem com os pais, 6 vivem com familiares, que incorporam parentes e amigos. Dos

entrevistados, 103 tem moradia própria, 4 moram em imóveis alugados e 13 moram em

Page 31: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

31

residências cedidas por outros. Dessas moradias, 38 as consideram boa, 60 como regular e 22

como precária. A maioria apresenta um bom relacionamento familiar (n =72).

Em relação ao recebimento de benefícios, 63 participantes afirmaram têlos e 57 não. O

número de dependentes variou entre 1 a 10, com média de dependente igual a 3,9. Dos

participantes, 86 trabalham e 34 não. Dentre os que estão trabalhando, a maioria era agricultor

(n =46), seguido de autônomos (n= 23) e doméstica (n= 17). Esse é o perfil da maioria da

população de Ocara, a maioria são agricultores que vivem da própria produção familiar, o

restante faz trabalhos temporários sem renda fixa.

A renda pessoal ou individual dos entrevistados se concentra na faixa de até um salário

mínimo mensal (n= 70). Entre os participantes, 35 não possuem renda. Poucos entrevistados

têm renda superior a essa faixa: 9 declararam receber entre 700,00 e 1.050,00 reais. Na renda

familiar, a maioria (n= 62) é até um salário mínimo. O número de dependentes variou entre 1

a 10, com média de dependente igual a 3,9.

TABELA V- Frequência da Renda Individual dos entrevistados

RENDA INDIVIDUAL FREQUÊNCIA PORCENTAGEMATÉ R$ 510,00 70 58,30%

SEM RENDIMENTO 35 29,2%DE R$ 501,00 A R$ 700,00 9 7,50%DE R$ 701,00 A R$ 1050,00 6 5,00%DE R$ 1051,00 A R$ 1750,00 0 0,00%

TOTAL 120 100,0% Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

Em relação aos hábitos, 109 não consomem bebida alcoólica, e a maioria (n= 81) não

fumam. Na literatura, há relatos de associação entre depressão e o convívio diário em

ambientes de violência, pobreza, uso de drogas, álcool e poluição. Por outro lado, condições

sócio-econômicas desfavoráveis tais como:condições inadequadas de moradia, ausência ou

baixa escolaridade, desemprego estão associados a violência (MARÍN-LEÓN et AL., 2003).

A maioria (n= 95) não praticam atividade física. Dos que praticam (n=25), a principal

atividade física foi a caminhada (n=6), seguida de futebol (n=5) e alongamento (n=2).

Quanto ao histórico medicamentoso, observou-se que a maioria dos entrevistados (n=

107) usava psicotrópicos e três entrevistados não usavam.

Page 32: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

32

Tabela VI - Frequência do uso de medicamentos controlados pelos entrevistados

USOU MEDICAMENTOS CONTROLADOS

FREQUÊNCIA PORCENTAGEM

SIM 107 97,50%NÃO 3 2,50%

TOTAL 120 100,0% Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

Os medicamentos psicotrópicos mais utilizados pelos participantes são: Fluoxetina,

Diazepam, Haloperidol, Clonazepam e Amitriptilina.

Tabela VII - Frequência dos medicamentos mais utilizados pelos entrevistados

USOU MEDICAMENTOS CONTROLADOS

FREQUÊNCIA PORCENTAGEM

HALOPERIDOL 26 14,53%FLUOXETINA 22 12,29%

DIAZEPAM 20 11,17%CLONAZEPAM 16 8,94%

AMITRIPTILINA 14 7,82%OUTROS* 81 45,25%

TOTAL 179 100,0%*Outros: Carbonato de Lítio comp(n=10); Valproato de sódio (n=10); Imipramina comp (n=15);

Levomepromazina (n=15), Biperideno (n=15), Clorpromazina (n=16) Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

A fluoxetina tem ação anorexígena, além de antidepressiva, o que constitui em

possível explicação para o consumo elevado em relação aos outros antidepressivos.

Acrescente-se a esta, o fato de que este fármaco assumiu importante papel no imaginário da

população, em razão de que a fluoxetina poderia resolver todos os problemas emocionais do

indivíduo. Esta concepção é bastante estimulada pelo marketing das indústrias produtoras,

com possível reflexo sobre o prescritor (ANDRADE, 2004).

Devido a ação antidepressiva da fluoxetina, vem a tona a realidade da maioria dos

pacientes entrevistados, já que os mesmos quando eram questionados sobre sua história

psiquiátrica, a maioria referia buscar no CAPS solução para seus problemas depressivos, a

maioria de cunho depressivo com diagnóstico confirmado pelos médicos do CAPS.

Com relação ao que sentem quando tomam o medicamento, 73 sentem alívio, 17

dependência, 14 não sentem efeito nenhum, 11 sentem que estão curados e dois tomam por

Page 33: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

33

obrigação. Nos últimos 15 dias, a maioria dos participantes (n= 84) não tomou nenhum outro

tipo de medicamento. O mesmo ocorre ao período anterior aos últimos 15 dias, 111 não

tomaram outro tipo de medicamento.

Quanto à avaliação das prescrições, das 600 analisadas, a maioria (n=529) possuía o

nome do paciente, sendo que 2 não possuíam e 67 estavam ilegíveis (11,8%). A maioria tinha

a data (n=572) e a assinatura (n=588).

Segundo Luiza (2004), a prescrição médica constitui o documento que firma o acordo

estabelecido entre o médico e o paciente ou seu cuidador. Assim, a assinatura e o carimbo,

além de serem exigências legais, constituem uma possibilidade concreta de responsabilizar o

prescritor e identificá-lo em caso de dúvidas ou problemas. Por outro lado, a ausência de

informações quanto a posologia, dosagem e duração do tratamento nas receitas não só

dificulta possíveis orientações feitas pelos dispensadores, como também aumenta o risco

potencial de utilização inadequada (GUIMARÃES,2008).

Tabela VIII- Frequência quanto à presença do nome do paciente nas prescrições

PRESENÇA DO NOME DO PACIENTE FREQUÊNCIA PORCENTAGEMSIM 531 88,5%NÃO 2 0,3%

ILEGÍVEL 67 11,2%

TOTAL 600 100,0% Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

Quanto à legibilidade, 529 estavam legíveis e 71 não estavam. Dentre os que estavam

ilegíveis, a maioria estava confusa (n=69) e dois de forma ambígua.

Tabela IX - Frequência quanto à legibilidade das prescrições

NOME MEDICAMENTO FREQUÊNCIA PORCENTAGEM

SIM 529 88,2%

NÃO 71 11,8%

TOTAL 600 100,0% Fonte: Pesquisa direta. Ocara, 2010

Os dados apresentados quanto à legibilidade das receitas apontam importante

credibilidade das prescrições de controle especial, facilitando o momento da dispensação pelo

profissional farmacêutico. A dificuldade da letra do prescritor tem sido responsável por relatos

Page 34: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

34

de graves problemas de saúde, sendo, inclusive, classificada como falta ética pelo Art. 39 do

Código de Ética Médica (CFM, 2003). O aviamento de prescrições nestas condições pode

levar a erros de manipulação com a possibilidade de não atingir o efeito terapêutico desejado

ou o aparecimento de reações não desejadas e inclusive fatais (ANDRADE, 2004).

Quando se deseja estudar/avaliar prescrições, o recomendado pela Organização

Mundial de Saúde (OMS, 1985) é que “pacientes recebem medicamentos apropriados a sua

condição clínica, em doses adequadas as suas necessidades individuais, por um período de

tempo adequado e ao menor custo possível para eles e sua comunidade”.

Uma prescrição incorreta pode acarretar um aumento no índice de automedicação. O

farmacêutico é responsável pela orientação dos pacientes quanto a tomada do medicamento,

explicando as alterações, dosagem certa, como também tirar eventuais dúvidas do usuário/ou

acompanhante de maneira simplificada sobre os efeitos adversos, colaterais e o número de

doses que o usuário deve tomar ao dia (DENISE,2009)

A maioria das prescrições (n=558) apresentou a concentração do medicamento e 42

não apresentou. Dos que apresentaram a concentração, 494 estavam corretas e 64 Incorretas,

sendo isso uma limitação relevante para a avaliação das prescriçrições.

A prescrição dos psicofármacos com a omissão da concentração ou concentração

duvidosa é importante nesse tipo de tratamento. É fundamental a administração da dose

correta evitando reações adversas ou não alcançando os objetivos farmacoterapêuticos.

CORRETA

INCORRETA

0 100 200 300 400 500 600

494

64

Page 35: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

35

Gráfico 3 - Frequência quanto à presença da concentração nas prescrições

Quanto à forma farmacêutica, 529 das prescrições apresentam. Destes, 458 tiveram a

forma escrita corretamente. Segundo a ANVISA (Brasil, 2008) medicamento é todo "produto

farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa

ou para fins de diagnóstico. É uma forma farmacêutica terminada que contém o fármaco,

geralmente em associação com adjuvantes farmacotécnicos". Ou seja, quando falamos em

"medicamento certo", nos referimos ao fármaco apresentado em determinada forma

farmacêutica, para utilização por uma via específica. Este ponto do princípio de Galeno que

estamos utilizando como norteador nesta discussão não pode ser contemplado quando é

impossível identificar a forma farmacêutica ou a via de administração a ser utilizada para um

medicamento. Assim, os pacientes podem receber um medicamento numa forma farmacêutica

ou por uma via que não seja a mais adequada no seu caso. O problema poderá se tornar ainda

mais crítico se,além deste dado, não pudermos identificar o prescritor (CRUCIOL-SOUZA,

2008).

A ausência de informações quanto a posologia, dosagem e duração do tratamento nas

receitas não só dificulta possíveis orientações feitas pelos dispensadores, como também

aumenta o risco potencial de utilização inadequada, uma vez que os medicamentos ali

dispensados não são acompanhados de bulas (GUIMARÃES, 2008).

Quanto a via de administração, 488 das prescrições não apresentaram. Estes números

podem ser muito significativos, pois a presença desta informação é de fundamental

importância para a redução dos riscos de medicação. O medicamento poderá ser administrado

em uma via inadequada, podendo gerar graves danos ao paciente.

Na literatura, estudos relatam a ocorrência de morte como resultado de erro de via de

administração, cuja escolha é dependente do efeito desejado pelo médico e, assim, dependente

da prescrição (SILVA, 2007).

Page 36: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

36

Presente19%

Ausente81%

Gráfico 4 - Frequência quanto à presença da via de administração nas prescrições.

A maioria (n=524) apresentaram a posologia, dentre elas 477 estavam corretas.

Quinhentos e uma prescrições analisadas apresentaram abreviaturas, destas a maioria se

concentra na posologia e forma farmacêutica.

Estudos afirmam que as prescrições médicas não devem conter abreviações, uma vez

que podem causar dúvidas nos outros profissionais, e consequentemente conduzir ao erro

(GUIMARÂES, 2008).

0

100

200

300298

159

44

Abreviaturas

Page 37: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

37

Gráfico 5 - Frequência quanto à presença de abreviatura nas prescrições.

A falta de padronização e o frequente uso de abreviaturas mostram falhas latentes que

podem contribuir para a ocorrência de erros de medicação. A utilização de abreviaturas em

prescrições médicas está entre as causas mais citadas de erros de medicação por seu potencial

de confusão e falhas de comunicação, sendo já antiga a idéia de eliminar o seu uso (ROSA,

2009).

Dos entrevistados, 546 (91%) utilizavam apenas um tipo de medicamento e 54( 9%)

mais de um, destes a maioria utilizava dois medicamentos. Todos esses tipos de erros de

prescrição relatados anteriormente são preocupantes do ponto de vista de segurança do

paciente. Podendo levar a disponibilidade de quantidades equivocadas, formas inadequadas,

doses e posologias incorretas e principalmente, troca de medicamentos, sendo este último

mais agravante para a saúde do paciente (LUIZA, 2004).

A falta de informação na prescrição pode interferir com a comunicação

interprofissional, prejudicando-a, e pode levar a erros de medicação ao paciente. Prescrições

incompletas impedem a eficiência do trabalho de dispensação dos medicamentos, colocando

em risco a qualidade da assistência farmacêutica ao paciente (CRUCIOL ,2008).

Das 600 prescrições analisadas, 54 (9,0%) possuíam mais de um medicamento. Dentre

os medicamentos mais prescritos, o Haloperidol aparece em 21,8% das prescrições, seguido

da Carbamazepina (20,9%), Fenobarbital(17,3%) e a Prometazina (9,1%).

Page 38: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

38

HALOPERIDOLCARBAMAZEPINA

FENOBARBITALPROMETAZINA

FENITOINABIPERIDENO

CLORPROMAZINANEOZINE

AMITRIPTILINACARBONATO DE LITIO

FLUOXETINAIMIPRAMINA

VALPROATO DE SODIO

0 5 10 15 20 25 30

2423

1910

7666

322

11

Gráfico 6 - Frequência dos psicotrópicos predominantes entre as prescrições

estudadas.

Page 39: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

39

6. CONCLUSÃO

O presente estudo evidenciou que mulheres, casadas, com filhos, com baixo índice de

escolaridade e com renda inferior a um salário mínimo podem ser fatores determinantes para

uma maior utilização de psicofármacos. Vale ressaltar que o uso prolongado e indiscriminado

destes medicamentos podem levar a complicações como Reações Adversas, risco de

dependência e custos sócio-econômicos.

Neste contexto, se faz necessário a Promoção do Uso Racional de Psicofármacos no

intuito de garantir a segurança do paciente, eficácia terapêutica e adesão ao tratamento. Um

aspecto importante para o uso racional desses fármacos seriam prescrições adequadas e com

qualidade. No atual estudo observou-se que no município de Ocara a maioria dos receituários

eram legíveis, possuíam a dose, a forma farmacêutica e a posologia, em contrapartida notou-

se uma carência expressiva da via de administração e o predomínio de abreviaturas, fatos que

podem comprometer o receituário médico e a vida do paciente.

Page 40: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

40

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Tendo em vista que os Transtornos Mentais Comuns (TMC) são altamente prevalentes

e têm sido consistentemente associados a piores condições socioeconômicas em diferentes

países, torna-se cada vez mais relevante estudos que enfoquem o perfil da população que

utiliza os psicofármacos, bem como a qualidade das prescrições destes medicamentos.

A informação a respeito do medicamento é essencial e pode ser decisiva no sucesso

terapêutico. Neste sentido, torna-se importante aprimorar meios de fornecer informações ao

paciente. Isso envolve a organização de programas de educação continuada para os

profissionais da instituição, formação de equipe multiprofissional qualificada, reorganização

do tempo dedicado à orientação quanto à prescrição no consultório médico, atuação direta do

farmacêutico no que se refere à orientação e dispensação dos medicamentos, bem como a

conscientização dos profissionais e dos pacientes no que concerne ao Uso Racional do

Medicamento.

Page 41: Monografia Jeruza IMPRESSÃO

41

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, M. F.; ANDRADE, R. C. G.; SANTOS, V. Prescrição de psicotrópicos:

avaliação das informações contidas em receitas e notificações. Rev. Bras. Cienc. Farm.

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Saúde do Estado do Ceará, p.10, 2003.

BLENKINSOPPA, BRADLEY C. Over the cocenter drugs. The future for slf

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45

9. APÊNDICES

APÊNDICE I

QUESTONÁRIO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO

DADOS PESSOAIS1.Data de Nascimento:2. Sexo: 1.Masculino 2.Feminino3. Naturalidade:4. Estado Civil: 1.Solteiro 2.Casado/União Consensual 3.Separado 4.Viúvo5. Filhos: 1.Sim 2.NãoSe sim, quantos:6. Bairro /Município:7. Escolaridade:1.Analfabeto 5.Ensino médio completo2.Ensino fundamental incompleto 6. Ensino superior incompleto3.Ensino fundamental completo 7.Ensino superior completo4.Ensino médio incompleto 8.Informação inexistente8. Religião:9.Histórico de outras patologias:

Diabetes 1. Sim 2. NãoHipertensão 1. Sim 2. NãoCardiopatias 1. Sim 2. NãoOutras (especificar):

10. História psiquiátrica:1. Sim 2.Não 3. NS/NRDADOS FAMILIARES1.Com quem mora:

1.Sozinho 4.Parentes/ amigos2.Família de origem 5.Sem residência fixa3.Família conjugal 6.Outros (especificar):__________________________

2.Relacionamento familiar: 1.Ótimo 2.Bom 3.Regular 4.RuimDADOS SOCIO-ECONÔMICOS1. Profissão:2.Trabalha atualmente: 1. Sim 2.Não

Se sim, que profissão:3.Renda Individual: 4.Renda Familiar: (1) Até 510,00 (m1) (2) 501,00 – 700,00 (2) (3) 701,00 – 1.050,00 (3) (4) 1.051,00 – 1.750,00 (4) (5) 1.751,00 – 3.500,00 (5) (6) SEM RENDIMENTO (6)4. Recebe benefício: 1. Sim 2.Não5.Número de dependentes da renda familiar (incluindo paciente):6. Status da moradia: 1.Própria 2. Alugada 3.Outros:____________7. Condições de moradia: 1. Boa 2. Regular 3.PrecáriaDADOS SOBRE HÁBITOS1. Ingestão de bebida alcoólica:

1. Não bebe 4. 2 ou 3 dias da semana2. Ocasionalmente 5. 4 ou mais dias na semana3. 1 dia da semana

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2.Tabagismo: 1.Nunca fumou 2.Ex-fumante 3.Fumante3.Atividade Física: 1.Pratica 2.Não pratica Se pratica, qual: ____________________________DADOS SOBRE USO DE MEDICAMENTO1. Já fez uso de medicamento controlado:1. Sim 2.Não 3.NS/NRSE SIM, RESPONDA A QUADRO 1OBS: SE NS/NR, SABER SE O PACIENTE LEMBRA DAS INFORMAÇÕES PARA RESPONDER O QUADRO 1; SE SIM, RESPONDER QUADRO 1.2. O que você sente ao usar o medicamento controlado?

1. Alívio 4. Obrigação2. Cura 5. Inúti/Sem efeito3. Dependência 6. Outros: _______________________________________

2.Usou algum outro medicamento nos últimos 15 dias: 1.Sim 2.Não 3.NS/NRSE SIM, RESPONDA A QUADRO 23.Usou algum outro medicamento em período anterior à última quinzena: 1.Sim 2.Não 3.NS/NRSe sim, quais: ______________________________________________________________

Questionário adaptado Passos, A.C.B, 2008

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APÊNDICE II

FORMULÁRIO: TRATAMENTO FRMACOLÓGICO

NOME COMPLETO DO PACIENTE:1. SIM 2. NÃO 3. ILEGÍVEL

DATA:1. SIM 2. NÃO

ASSINATURA:1. SIM 2. NÃO

O NOME DO MEDICAMENTO ESTÁ LEGÍVEL:1. SIM 2. NÃO

SE NÃO, É AMBÍGUO OU CONFUSO?

PODE CONFUNDIR COM?

CONCENTRAÇÃO DO MEDICAMENTO?1. SIM 2. NÃO

SE SIM, A CONCENTRAÇÃO ESTÁ CORRETA?

FORMA FARMACÊUTICA1. SIM 2. NÃO

SE SIM, A FORMA FARMACÊUTICA ESTÁ CORRETA?

VIA DE ADMINISTRAÇÃO1. SIM 2. NÃO

POSOLOGIA1. SIM 2. NÃO

SE SIM, A POSOLOGIA ESTÁ CORRETA?

UTILIZA ABREVIATURA?1. SIM 2. NÃOONDE:

UTILIZA MAIS DE UM MEDICMENTO:1. SIM 2. NÃOSE SIM, QUANTOS?QUAIS MEDICAMENTOS?

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48

APÊNDICE III

Solicitação de Anuência da Secretaria Municipal de Saúde

Eu, Maria de Fátima Viana Góis, Secretária de Saúde do município de Ocara, declaro

que fui informada dos objetivos da pesquisa, e concordo em autorizar a execução da mesma

neste município na ESF Sede e no CAPS. Sei que a qualquer momento posso revogar esta

autorização sem a necessidade de prestar informação adicional.

Declaro também que não recebi ou receberei qualquer tipo de pagamento por esta

autorização.

Fortaleza, ____de _____________ de 2010.

___________________________

Maria de Fátima Viana Góis

Secretária de Saúde

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APÊNDICE IV

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (T.C.L.E)

Você está sendo convidado a participar como voluntário de uma pesquisa. Você não

deve participar contra a sua vontade. Leia atentamente as informações abaixo e faça qualquer pergunta

que desejar, para que todos os procedimentos desta pesquisa sejam esclarecidos. Esclareço também

que a entrevista terá um tempo médio de 30 minutos.

O presente estudo tem como objetivo avaliar o uso de psicofármacos através do estudo de

prescrições médicas de usuários atendidos no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) no município de

Ocara – CE.

Através desse estudo, podemos conhecer melhor os pacientes atendidos no CAPS e suas

necessidades. E avaliar a importância do profissional farmacêutico no acompanhamento desses

pacientes. A entrevista será individual, evitando assim possíveis constrangimentos ao paciente.

Declaro que fui orientado (a) sobre os objetivos e finalidades deste estudo, não havendo

nenhuma dúvida a respeito. Compreendo que não sou (paciente) obrigado a participar deste estudo, e

estou ciente de que posso desistir de participar a qualquer momento. O nome do paciente não será

utilizado nos documentos pertencentes a esse estudo e a confidencialidade dos registros médicos será

garantida.

JERUZA MARIA SANTOS LIMAESCOLA DE SÁUDE PÚBLICAAV. ANTONIO JUSTA, 3161 – MEIRELES85 92021933

O abaixo assinado _______________________________, ____, RG nº

______________ declara que é de livre e espontânea vontade que está participando como voluntário

da pesquisa. Eu declaro que li cuidadosamente este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e

que, após sua leitura tive oportunidade de fazer perguntas sobre o consentimento do mesmo, como

também sobre a pesquisa e recebi explicações que responderam por completo minhas dúvidas. E

declaro ainda estar recebendo uma cópia assinada deste Termo.

Ocara, ____/___/____

Nome do Voluntário: _____________________________ DATA:____/____/_____

Assinatura: _____________________________________

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Nome do Pesquisador: ____________________________ DATA:____/____/_____

Assinatura: _____________________________________

Nome da Testemunha (se o paciente não souber ler): _____________________________

DATA:____/____/______

Assinatura: _____________________________________