monografia jeane pedagogia 2010

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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS VII - SENHOR DO BONFIM – BA PEDAGOGIA: DOCÊNCIA E GESTÃO NOS PROCESSOS EDUCATIVOS RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR Por JEANE FERREIRA LOULA SENHOR DO BONFIM - BA 2010

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Pedagogia 2010

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Page 1: Monografia Jeane Pedagogia 2010

1

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CAMPUS VII - SENHOR DO BONFIM – BA PEDAGOGIA: DOCÊNCIA E GESTÃO NOS PROCESSOS

EDUCATIVOS

RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR

Por

JEANE FERREIRA LOULA

SENHOR DO BONFIM - BA 2010

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JEANE FERREIRA LOULA

RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR

Trabalho Monográfico apresentado à Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus VII como pré-requisito para a conclusão do Curso de Pedagogia: Docência e Gestão dos Processos Educativos. Orientadora: Profª. Msc. Maria Elizabeth Souza Gonçalves.

SENHOR DO BONFIM - BA 2010

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3

JEANE FERREIRA LOULA

RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR

Aprovada em: ____/____/_____

__________________________________ Orientadora

__________________________________ Avaliador(a)

__________________________________ Avaliador(a)

Page 4: Monografia Jeane Pedagogia 2010

4

A Deus, meu melhor amigo em todos

os momentos.

À minha mãe Helena, meu exemplo de

coragem, luta e amor à vida.

Ao meu pai Delson, pela sua fé,

serenidade, e orações por mim.

Ao meu avô Ademar Loula (em

memória) pelo exemplo de caráter e

uma rica história de vida.

Aos meus irmãos Jorge, Juçara,

Jacira, e meu sobrinho George por

todo apoio e incentivo.

Ao meu namorado Wagner, pelo

companheirismo e paciência nesse

período de elaboração da monografia.

E a todos os amigos pelo carinho e

atenção.

Page 5: Monografia Jeane Pedagogia 2010

5

AGRADECIMENTOS

À Universidade do Estado da Bahia – UNEB - Departamento de Educação -

Campus VII – Senhor do Bonfim – Ba, direção, funcionários e aos professores por

nos proporcionarem momentos de interação, aprendizado, contribuindo para o nosso

crescimento acadêmico.

À professora, orientadora, Maria Elizabeth Souza Gonçalves, pelo exemplo de

profissionalismo, empenho, amizade, e ensinamentos compartilhados durante o

desenvolvimento dessa pesquisa.

As professoras e direção do Centro Estudantil Fundame, pela colaboração, e

espaço cedido durante a elaboração deste trabalho.

À minha turma de curso, pelo tempo que Deus nos concedeu de convívio, e

pelas amizades, aprendizado que permanecerão vivas em nossa mente e coração.

A minha irmã e colega de turma Jacira Lôla, pelo compartilhar das angústias e

alegrias durante todo o curso.

Minhas amigas e colegas: Amanda, Aurelina, Eliciene, Valci, Viviane, Maisa,

Célia, Jane, e Cristiane Pinto, entre outros pelo apoio e torcida.

A todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão desse trabalho.

Page 6: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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RESUMO

Essa pesquisa tem como objetivo identificar os significados que os professores da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil Fundame dão a Cultura Popular. Esse estudo teve como suporte teórico: Freire (1997), Fávero (1983), Aplle (1997), Gadotti (2007), Minayo (1994), Nidelcoff (2004), dentre muitos outros que nos auxiliaram a fundamentar nosso estudo. O paradigma metodológico foi qualitativo, por nos possibilitar compreender melhor o espaço e a chegar mais próximos aos sujeitos. Os instrumentos de coleta de dados foram: questionário fechado, observação participante, e a entrevista semi-estruturada. A partir da utilização desses instrumentos foi possível obter algumas considerações que indicam que a cultura popular ainda não tem espaço no currículo da escola, e sim um modelo de cultura hegemônico legitimado pelos meios de comunicação de massa e pelas políticas neoliberais distante da cultura vivenciada pelos educandos.

Palavras-chave: Cultura Popular. Significados. Professores.

Page 7: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 4.1.1. Percentual quanto ao gênero.

Gráfico 4.1.2. Percentual quanto à formação acadêmica.

Gráfico 4.1.3. Percentual quanto à carga-horária de trabalho.

Gráfico 4.1.4. Percentual quanto à renda familiar.

Gráfico 4.1.5. Percentual quanto aos meios de comunicação.

Gráfico 4.1.6. Percentual quanto à definição de cultura popular.

Gráfico 4.1.7. Percentual quanto o trabalho com a cultura popular na escola.

Gráfico 4.1.8. Percentual quanto aos contos populares na escola.

Gráfico 4.1.9. Percentual quanto à utilização dos contos populares.

Gráfico 4.2.1. Percentual sobre os significados da cultura popular.

Gráfico 4.2.2. Percentual sobre a cultura popular na escola.

Gráfico 4.2.3. Percentual sobre os contos populares na escola.

Gráfico 4.2.4. Percentual sobre os significados atribuídos ao folclore.

Page 8: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10

CAPÍTULO I...............................................................................................................12

CAPÍTULO II..............................................................................................................18

CULTURA POPULAR........................................................................................18

2.1. Semelhanças e diferenças da Cultura Popular e Folclore.............21

2.2. Contos Populares..........................................................................24

2.3. Interpretando Significados.............................................................26

2.4. Professor: Formação e Prática......................................................29

2.5. Escola e Currículo..........................................................................31

CAPÍTULO III.............................................................................................................34

METODOLOGIA...............................................................................................34

3.1. Tipo de Pesquisa...........................................................................34

3.2. Locus da Pesquisa........................................................................35

3.3. Sujeito de Pesquisa ......................................................................36

3.4. Instrumentos de Coleta de Dados................................................36

3.4.1. Observação Participante.........................................36

3.4.2. Questionário Fechado..............................................37

3.4.3. Entrevista Semi-estruturada....................................37

CAPÍTULO IV.............................................................................................................39

ANALISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS....................................................39

4.1. Perfil dos Sujeitos.........................................................................39

4.1.1. Gênero..........................................................................39

4.1. 2. Formação Acadêmica...................................................40

4.1. 3. Carga-horária de trabalho.............................................41

4.1. 4. Renda familiar..............................................................41

4.1. 5. Acesso aos meios de comunicação.............................42

4.1. 6. Definição de Cultura Popular........................................43

4.1. 7. O trabalho com a cultura popular na escola.................44

4.1. 8. Trabalho com os contos populares na escola..............44

4.1. 9. A utilização dos contos populares pelos professores..45

4. 2. Analise da entrevista semi-estrutura............................................45

Page 9: Monografia Jeane Pedagogia 2010

9

4.2. 1. Significados de cultura popular....................................46

4.2. 2. Cultura popular na escola............................................48

4.2. 3. Contos populares na escola..........................................51

4.2. 4. Significados do folclore..................................................54

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................56

REFERÊNCIAS..........................................................................................................57

ANEXOS..................................................................................................................61

Page 10: Monografia Jeane Pedagogia 2010

10

INTRODUÇÃO

Quando falamos de cultura popular, primeiramente nos recordamos dos anos

60, onde se acentuou no Brasil um movimento ideológico contra uma classe

dominante. Nesse movimento, buscava-se o reconhecimento e o espaço para os

movimentos educacionais, sociais, políticos e culturais das classes menos

favorecidas do país. Toda herança cultural proveniente dos vários grupos como

negros, índios e portugueses, formaram assim um país multicultural, porém, ainda

permanece na sociedade um modelo hegemônico de cultura.

A cultura popular dentro do contexto educacional visa integrar os

conhecimento e realidade dos alunos, sua vivencia local, valorizando as diferenças

tanto de raça, cor, gênero, como também as ações produzidas pelos grupos

culturais em diferentes épocas, buscando assim uma cultura onde o povo seja

protagonista de sua história.

Dessa forma, no primeiro capítulo deste trabalho, abordamos sobre os

conceitos de cultura e cultura popular e a relação da mesma com os sujeitos das

instituições escolares.

No segundo capítulo, apresentamos um referencial teórico enfocando a

cultura popular dentro da sociedade e do sistema educacional, como também as

disparidades entre cultura popular e folclore. Dando seqüência, discorremos sobre o

professor e sua prática e a escola e o currículo nela inserido, bem como a sua

relação com a cultura popular.

O paradigma metodológico foi à discussão travada no terceiro capítulo, bem

como uma descrição dos sujeitos e do locus a serem pesquisados. Abordamos

também sobre os instrumentos de coleta de dados que foram utilizados e que

auxiliou a presente pesquisa.

No quarto capitulo, apresentamos a analise e interpretação dos resultados,

refletindo sobre os significados que os professores atribuem à cultura popular, frente

Page 11: Monografia Jeane Pedagogia 2010

11

aos discursos dos autores que nos deram suporte para chegarmos às considerações

apresentadas.

Por fim, destacamos que é relevante se pensar a formação e a prática dos

professores, associado aos elementos da cultura popular, visto que a compreensão

e a significação dos mesmos sobre a cultura popular ainda se apresenta limitada.

Page 12: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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CAPITULO I

Estamos inseridos numa aldeia global, numa época pós-moderna, que inventa

desejos, dita regras de comportamento, muitas vezes de forma mascarada utilizando

como alguns dos recursos os meios de comunicação de massa, impondo uma

cultura imperialista, de elite. Conforme a abordagem de Sevcenko (1999)

acompanhar o progresso significa somente uma coisa: Alinhar-se com os padrões e

o ritmo de desdobramento da economia européia. O autor ainda traz uma reflexão

sobre o modelo europeu de sociedade, sua economia capitalista que busca a

massificação e auxilia na dinâmica incontrolável do capitalismo e da hegemonia

cultural.

Comungando com a abordagem de Sevcenko, Silva (1997) destaca:

Estamos impregnados no cotidiano contemporâneo pela maravilhosa comunicação e pela perigosa massificação, referente à globalização que toma todo nosso planeta, impondo aos mais “frágeis” a cultura dos mais “fortes”. (p.36)

Apesar da palavra “globalização” ser aparentemente nova e moderna, já

vivíamos essa mesma globalização há séculos, as relações de dominação em que

nos colonizaram e nos mantiveram cativos durante décadas. O que se difere é a

maneira como essa nova “globalização” tem se apresentado, de forma atrativa, com

linguagens simbólicas e instrumentais, objetivado nos adestrar, impondo uma

“cultura” de conformidade e adequação aos padrões selecionados por este sistema

capitalista, em todas as esferas da sociedade desde as mais comuns até as mais

elevadas áreas.

Apesar de todos os apelos e modismos referentes a essa cultura elitizada,

existem também criticas a esse modelo massificador. Desde os séculos XVII e inicio

do século XX, os discursos e debates buscando definições e compreensões sobre a

cultura foram bem acentuados em alguns países da Europa, principalmente na

França. Mesmo não existindo um conceito totalmente definido, o que conhecemos

Page 13: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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em nossos dias foi apresentado pela primeira vez pelo francês Tylor (LARRAIA,

2000).

[...] No vocábulo inglês culture que tomando em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. (LARRAIA, 2000 p. 25)

Até se chegar a este primeiro conceito, Larraia (2000) discute que Tylor

sistematizou as questões que já vinham sendo discutidas por outros pesquisadores

e ganhando legitimidade durante suas pesquisas. Neste sentido, a cultura se

apresenta como sendo a capacidade de cada individuo se expressar, criar, recriar,

aprender e interagir uns com os outros.

Sobre isso Brandão (1980) diz:

Cultura é um conjunto diverso, múltiplo de maneiras de produzir sentido, uma infinidade de formas de ser, de viver, de pensar, de sentir, de falar, de produzir e expressar saberes, não existindo, por conta disso, uma só cultura, ou culturas mais ricas ou evoluídas que outras tão pouco, gente ou povos sem cultura. (p.36)

Assim, entende-se cultura como tudo aquilo que é feito pelo homem, ou seja,

há uma transformação do meio social, por cada ser humano, pois este se difere dos

demais animais pelo conhecimento e entendimento mental, capaz de modificar seu

ambiente.

Para Fávero (1983) cultura é um:

[...] processo histórico (e, portanto de natureza dialética) pelo qual o homem em relação ativa (conhecimento e ação) com o mundo e com os outros homens, transforma a natureza e se transforma a si mesmo, construindo um mundo qualitativamente novo de significações, valores e obras humanas e realizando-se como homem neste mundo humano. (p.16)

Nesse sentido, o homem vive neste processo de desenvolvimento onde

transforma a sua comunidade, meio social, seu mundo. Por sua vez, Morin (1999)

Page 14: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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aborda cultura como um conjunto de regras, normas, proibições, estratégias, idéias,

que se transmite de geração em geração, e em diferentes épocas e sociedades,

onde o homem é o responsável pela propagação de sua cultura.

Compactuando com essa mesma opinião Arantes (1982):

Todas as ações humanas sejam na esfera do trabalho, das relações conjugais, da produção econômica ou artística, do sexo, da religião, das formas de dominação e de solidariedade, estão constituídas segundo os códigos, as convenções simbólicas que denominamos cultura. (p.34)

Com isso, a cultura legitima todos os códigos, valores e regras produzidos em

uma sociedade, tornado-a conhecida e reconhecida pelos indivíduos de outras

culturas. Segundo Burke (1989), cultura é “um sistema de significados, atitudes e

valores compartilhados, e as formas simbólicas (apresentações e artefatos) nas

quais eles se expressam ou se incorporam” (p.21).

Mesmo diante das várias concepções atribuídas a cultura, ela ainda é uma

questão bem complexa em nossos dias atuais. Mais de quinhentos anos após o

descobrimento do Brasil, ainda vivemos sob o julgo e os ranços das relações de

dominação, de poder, herdados da colonização; e atualmente estamos subordinados

ao “mundo” da tecnologia, pois ao passo que nos faz avançar enquanto povos

“modernos”, também nos mantêm presos e dependentes desse sistema dominante.

Vivemos em constante deslocamento enquanto identidade nacional, enquanto

cidadãos, sujeitos e criadores de expressões e manifestações culturais, em meio a

uma pluralidade de diferenças, de toda ordem, que constituem o dissenso

característico da pós-modernidade. Não basta apenas ser receptores de uma

Indústria Cultural, e sim agentes que participam e produzem diuturnamente cultura,

se firmando como construtores de cultura popular.

Para Arantes (1982):

[...] “cultura popular” surge como uma “outra” cultura que, por

contraste ao saber culto dominante, apresenta-se como “totalidade”

Page 15: Monografia Jeane Pedagogia 2010

15

embora sendo, na verdade, construído através da justaposição de elementos residuais e fragmentários, considerados resistentes a um processo “natural” de deteriorização. (p18)

Buscando entender a cultura popular, quase sempre atrelada a questões

políticas e de dominação, estudiosos discutiram, divergiram e trouxeram reflexões

sobre a cultura popular; porém, apesar de todos os estudos realizados com o

objetivo de conceituá-la, ela ainda está distante de ser um conceito bem definido

pelas ciências humanas e sociais. Alguns autores atribuem à cultura popular

também como sendo religiosidade ou folclore, porém ela é muito mais que isso, é a

vivencia, significado, atitudes e valores do povo. Entendemos, pois, cultura popular

como aquela produzida pelos vários sujeitos que compõem os tantos arranjos

sociais desse imenso Brasil, confrontando-se especialmente com aquele modelo de

cultura generalizante que caracteriza a cultura de massa.

Os movimentos relacionados à cultura popular foram bem evidenciados em

países da América Latina, e veio ganhando força até chegar aqui em nosso país,

onde as primeiras reflexões e expressões sobre essa cultura, surgiram na década de

60. Este período foi marcado pelos questionamentos, pela criatividade, pela

inquietação de se entender como cidadão brasileiro, buscando compreender a

relação da cultura popular com os acontecimentos até então realizados, como a

revolução brasileira e outros movimentos que estavam surgindo nesse contexto.

Fávero (1983) definiu a cultura popular neste período como:

[...] o que se denominou cultura popular, que se definiu e que se defendeu ora como um instrumento de luta política em favor das classes populares, surgiu fazendo a critica não apenas da maneira como se pensava “folclórica”, “ingênua” a cultura do povo brasileiro, mas também e principalmente os usos políticos de dominação e alienação da consciência das classes populares, através de símbolos e dos aparelhos de produção de “uma cultura brasileira”, ela mesma colonizada, depois internamente colonialista. (p.9)

Neste período, houve um despertar em prol do fortalecimento das lutas

populares, através da conscientização e participação do povo, no sentido de ter um

olhar, mais minucioso e questionador com relação às questões de organização das

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classes populares. Aliado a isso, aconteceu denuncias quanto à elitização da

educação. A mesma ganhou apoio e força através das idéias de Paulo Freire e sua

busca por uma educação contextualizada. Fávero (1983) destaca o que se pretendia

com a cultura popular, “Transformar a cultura brasileira e, através dela, pelas mãos

do povo, transformar a ordem das relações de poder e a própria vida do país”. (p.9).

Assim, buscava-se um governo de fato democrático, onde todos pudessem

participar, de forma atuante, das ações em prol do reconhecimento dos movimentos

sociais realizados pelas classes menos favorecidas, denominada assim como

cultura popular. Como ressalta Gullar (1965):

A expressão “cultura popular” surge como uma denuncia dos

conceitos culturais em voga que buscam esconder o seu caráter de classe. Quando se fala em cultura popular acentua-se a necessidade de pôr a cultura a serviço do povo, isto é, dos interesses efetivos do país. (p.1)

Apesar de todas as investidas no sentido de transformar a cultura brasileira

nos anos 60, ainda vivemos hoje, numa busca constante de reconhecimento da

cultura popular. Percebemos que ela já tem se apresentado na sociedade de várias

formas, porém, a mesma ainda permanece em muitos ambientes educacionais e em

outras esferas da sociedade, camuflada por questões cientificas, sociais e políticas.

Ainda assim, é pertinente ressaltar que esta cultura se mantém rica, diversificada e

viva nas diferentes formas de saber e viver de cada indivíduo.

Atualmente, vivemos nesse contexto cheio de todos os tipos de informações,

onde a cultura precisa ser bem compreendida, assumida, no sentido de estar a favor

do povo, e feita pelo povo. Deste modo, é pertinente pensar na escola enquanto

espaço privilegiado de pluralidade de saberes, de histórias, sentidos, capazes de

tornarem o aprendizado mais dinâmico, reforçando os instrumentos de valores para

se viver em grupo. Conforme Freire (1984):

[...] a educação ou ação cultural para a libertação, em lugar de ser

aquela alienante transferência de conhecimento, é o autentico ato de conhecer, em que os educados – também educadores – como consciências “intencionadas” ao mundo, ou como corpos conscientes, se inserem com os educadores – educando também –

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na busca de novos conhecimentos, como conseqüência do ato de reconhecer o conhecimento existente. (p.99)

Nesse contexto, a escola é esse ambiente onde existe uma infinidade de

linguagens, e a ação de educar deverá ser um instrumento sustentador de valores,

de forma humanizante e significativa, contribuindo para o fortalecimento das

relações sociais, onde a cultura popular pode se constitui esse veículo relevante na

construção de identidade nacional.

A cidade de Senhor do Bonfim é um cenário rico da cultura popular. Aqui há

um patrimônio cultural diverso que caracteriza sua origem e história. Neste sentido,

as escolas deverão ser aliadas nesta busca significativa das manifestações

populares da nossa cidade, a partir das relações de convivência em grupos, nas

danças, contos populares, artes, músicas, enfim, nos modos de resistência em que

surgiram as relações em sociedade.

Diante disso, procurou-se fazer uma reflexão sobre a cultura popular, através

dos discursos dos professores e os significados que os mesmos atribuem a ela.

Surge, portanto, a questão de pesquisa: Quais os significados que os professores da

Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil

Fundame dão à cultura popular?

Tendo como objetivo identificar os significados que os professores da

Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil

Fundame dão à cultura popular.

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18

CAPITULO II

CULTURA POPULAR

A cultura popular surge no Brasil como um movimento ideológico contra uma

classe dominante, buscando espaço para os movimentos sociais, políticos,

educacionais e culturais das classes menos favorecidas da sociedade brasileira.

Como pontua Gullar (1965) “A cultura popular é, em suma, a tomada de consciência

da realidade brasileira”.

Essa cultura “prega”, de certo modo, a libertação do sistema opressor,

buscando espaço e respeito pelas manifestações e pelas reivindicações do povo,

enquanto cidadão, que deve gozar dos mesmos direitos e deveres referentes ao

convívio em comunidade.

Conforme Fávero (1983):

Todos os tipos de comunidade que o homem possa construir serão considerados comunidades naturais, num sentido amplo, dado que o homem também é um ser de natureza. Mas, não é enquanto comunidade de seres da natureza que uma comunidade torna-se realmente uma comunidade humana, formada por pessoas, e não simplesmente uma associação natural forçada pelas necessidades exclusivamente vitais. Uma comunidade humana só se faz sentir em razão da capacidade que o homem tem, através do conhecimento e da ação, de transformar o mundo natural em mundo de cultura. (p15)

Neste sentido, percebem-se como os humanos são capazes de modificar o

ambiente. Essa capacidade é possível pelo conhecimento, e pela ação de

mobilização em favor dos interesses.

O Brasil é um país marcado pela diversidade cultural, herdada dos africanos,

índios e portugueses, que contribuíram para fazer desse país uma terra de culturas

variadas, onde cada grupo ou raça deixou suas marcas, nas diversas áreas, tanto

com seus costumes, manifestações artísticas, culturais, na culinária, religiosidade e

crendices que nos fizeram ser um povo plural e heterogêneo.

Page 19: Monografia Jeane Pedagogia 2010

19

Como afirma Freire (2003):

Somos no plural, temos várias culturas populares, um universo tão rico que, mesmo submetido ao mundo globalizado que impõe uma cultura de massa, como uma colonização cultural, podemos observar que estamos vivendo um re-viver de nossas raízes.(p.65)

Essa mistura de raça e cultura, que faz parte da sociedade, enriquecida

enquanto nação “plural” foi durante muito tempo à causa de muitas injustiças, como

a escravidão dos negros e exploração dos índios pelos brancos, pois alguns povos

se achavam superiores a outros, usando como critério a cor da pele e outros

artifícios sem justificativas plausíveis e desumanos. Por serem produtores das

narrativas, o grupo que fazia parte da cultura que domina, escreveu a história pelos

olhos colonizadores de dominação, passando a versão da história como verdade

absoluta. Nesse aspecto, Novaes (1984), faz uma crítica a essa cultura e os meios

de comunicação que sempre buscaram impor sua ideologia.

[...] a ideologia dominante – mesmo não sendo a única em, um sistema capitalista – é a que se impõe, através dos mecanismos de dominação (educação, religião, costumes, meios de comunicação). Assim, a maneira como a classe dominante age será a maneira como todos os membros da sociedade irão agir e pensar. (NOVAES, 1984, p. 183)

Com isso, percebemos que ainda existe uma tradição, onde se seleciona o

conhecimento específico apenas de pequenos grupos, tornando-se assim, o

conhecimento oficial, característico das relações de poder, que envolvem as

políticas de controle do conhecimento público de maneira simbólica.

Contrapondo todas as formas de dominação imposta pela ideologia da cultura

dominante, a cultura popular provocou mudanças em várias áreas, fazendo surgir

discussões e reflexões, objetivando reconhecer essa cultura, até então

desvalorizada pelos que detinham o poder e pelas elites. A mesma não se moldava

a “cultura de elite”, mas sim, propagava-se como cultura popular, a que nasce do

modo de vida do povo, dos seus costumes, dos princípios e das tradições.

Page 20: Monografia Jeane Pedagogia 2010

20

Buscando compreender a cultura popular, Brandão (2002) destaca que:

Cultura popular, como cultura dinâmica, presente no meio rural e urbano, que junta tradição e atualidade sempre em transformação, um encontro entre tempos e espaços, com essência de brasilidade, juntando o local com o global, o velho e o novo, completando um com o poder do outro. (p.29)

Assim, precisa compreender que a cultura popular se faz presente nas ações

diárias, no modo como lidamos com os semelhantes, os códigos e regras que regem

o sistema de conduta, das mais simples ações, como correr, andar, expressar,

enfim, nas várias formas de ser e agir. Ainda, explicando sobre a cultura popular,

Fávero (1983) diz:

É popular a cultura quando é comunicável ao povo, isto é, quando suas significações, valores, idéias, obras, são destinadas efetivamente ao povo e respondem às exigências de realização humana em determinada época; em suma, à sua consciência histórica real. (p.23)

Contudo, a cultura será popular, a partir do momento que o sujeito se

entender como autor da sua própria criação cultural e da sua história, de forma que

traga significado pra sua vida, através das ações produzidas pelos indivíduos. Isso

favorece recursos para o reconhecimento da identidade, enquanto etnia, língua e

grupo social.

A cultura, e em especial a cultura popular, dá sentido à vida, na medida em

que o homem é capaz de se comunicar e interagir com o seu grupo, pela própria

maneira de ser, de forma que venha reconhecer sua origem e valorizar a noção de

pertencimento. Por conseguinte, muitos discursos surgiram em defesa da cultura

popular, ou contra ela, porém é pertinente salientar que ela não veio substituir a

cultura já existente, mas ressignificá-la.

Estevam (1963) pontua que:

A cultura popular não é mais que uma reforma, mas uma reforma de sentido revolucionário porque sabe unir dialeticamente a possibilidade imediata ao objetivo final e porque assume como

Page 21: Monografia Jeane Pedagogia 2010

21

objetivo final a transformação material da sociedade. Ela não é o que será a nossa cultura, não é a solução ideal da questão cultural brasileira, mais um encaminhamento de resolução mais estratégico que qualquer outro. (p. 37)

O autor, ainda defende a cultura popular, ressaltando o seu valor por saber

unir vários elementos que podem encaminhar um processo de amadurecimento e

fortalecimento das relações em sociedade. Como esclarece Canclini (1983) “Cultura

popular são práticas e formas de pensamento que os setores populares criam por

sim próprios, mediante as quais concebem e expressam sua realidade”. (p.41).

Era fácil reconhecer a cultura popular, antes da revolução urbanística, pois

representava todas as formas espontâneas mantidas pelo povo, em consonância

com a tradição oral, livre e participativa. Porém, depois do novo modelo de

sociedade, esses tipos de manifestações acabaram entrando no esquecimento por

alguns setores e também passou a ser descriminada pela cultura de massa.

Surgiram assim, novos discursos em defesa dessa cultura. Todavia, mesmo com

essas ações em prol da cultura popular, ela ainda se apresentou e permaneceu

fragilizada durante muito tempo, e ainda em nossos dias, alguns a atribuem somente

ao folclore e manifestações admiráveis, expectantes, limitando o seu real significado.

Assim, muitos debates têm acontecido em vários setores da sociedade em

favor do reconhecimento da cultura popular, sobre o seu papel na educação e

formação dos alunos.

2.1. Semelhanças e diferenças da Cultura Popular e Folclore

O folclore é um dos instrumentos da cultura popular, talvez um dos mais

aceitos no espaço escolar, porém com algumas ressalvas, haja vista, que alguns

acabam atribuindo a cultura popular somente ao folclore. Os estudos e discussões

sobre o folclore surgiram dos movimentos em todos os países da Europa, reunido

pensadores, desde o século XVII, onde eram observados os costumes, a oralidade

do povo, se colecionavam objetos e outras fontes de história para que se pudesse

compreender o significado do folclore. Como pontua Romero (1954), um dos

grandes folcloristas brasileiro, a palavra folclore é de origem inglesa, folk-lore que

Page 22: Monografia Jeane Pedagogia 2010

22

significa (saber do povo), ou seja, é o conjunto de tradições e crenças dos indivíduos

que vivem em cultura.

Com isso, o folclore representa as formas de conhecimento do povo, suas

expressões e as manifestações artísticas, obras confeccionadas pelo povo em uma

sociedade e comunidade e que faz parte e enriquece a cultura popular.

Nesse sentido, a cultura popular é por alguns, confundida com o folclore,

como reforça Arantes (1982), um grande número de autores pensa a “cultura

popular” como “folclore”, ou seja, como um conjunto de objetos, práticas e

concepções (sobretudo religiosas e estéticas) consideradas “tradicionais”. Essa

visão é compartilhada por muitos, por estar muita vezes, presentes em livros

didáticos e nos discursos de muitos intelectuais dessa área. É necessário, portanto,

a revisão desse olhar fragmentário e generalizante, porém não neutro.

Cavalcanti (1978) compreender o folclore como:

[...] a idéia de folclore designa muito simplesmente as formas de conhecimento expressas nas criações culturais dos diversos grupos da sociedade. Difícil dizer onde começa e onde termina o folclore, e muita tinta já correu na busca de definir os limites de uma idéia tão extensa. (p.21)

Por conseguinte, a trajetória de estudos sobre o folclore no Brasil, teve, além

de Sílvio Romero (1851-1914), outro grande nome como: Mario de Andrade (1893-

1945) que atribuía ao folclore, à expressão da nossa brasilidade, ocupando um lugar

decisivo na formação de um ideal de cultura popular. Na década de 50, intensificou o

movimento do folclore, com outros grandes nomes como: Gilberto Freire (1900 –

1987), Cecília Meireles (1901-1964) Câmara Cascudo (1898 - 1986), que

contribuíram com uma nova perspectiva em torno dos estudos sobre o folclore.

Cascudo (2002) dividiu seu estudo sobre o folclore em três fases: Colheita,

confronto e pesquisa de origem. Com o objetivo de reunir e registrar as fontes do

folclore tanto nas cidades quanto na zona rural. O próprio ator pontua o que mais lhe

chamou atenção no folclore: “Apaixonou, maiormente o folclore musical, a literatura

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23

oral. Usos, costumes, gestos, modismos, indumentárias, os complexos sociais, têm

despertado atenção muito pobre”. (p.11).

Cavalcanti (1978) contribui dizendo que:

[...] a noção de folclore não está dada na realidade das coisas. Ela é construída historicamente e, portanto, a compreensão do que é ou não folclore varia ao longo do tempo... No Brasil, os estudos de folclore incidiam basicamente sobre a literatura oral, depois veio o interesse pela música, e mais tarde ainda... O campo se amplia com a abordagem dos folguedos populares. (p.21)

Houve no período pós-guerra, uma movimentação em torno do folclore.

Existia assim, uma comissão nacional do folclore que tinha total apoio da UNESCO

(Organização das Nações Unidas), pois entendia o folclore como sendo um veiculo

em favor da paz mundial, por promover e incentivar o respeito às diferenças entre as

nações.

Percebe-se, o quanto o folclore é importante, e o quanto muitos autores

assemelha o entendimento de cultura popular a folclore. Pontuamos, no entanto, que

os aspectos do folclore são relevantes para a construção da identidade, enquanto

indivíduos e cidadãos brasileiros, quando vivenciados neste universo colorido que é

a cultura popular, onde a mesma conta com este rico recurso que é o folclore, para

abrilhantar ainda mais esse espetáculo de cor e beleza, que fazem parte do grande

cenário da cultura popular brasileira e por não dizer mundial. No entanto, o mesmo

não pode ser confundido com cultura popular, mas como elemento integrante desta,

uma vez que, essa “confusão” de significados, acaba por legitimar os interesses

hegemônicos que apresentam a cultura de massa como algo sempre novo, vivo e

dinâmico, em contrapartida à cultura popular como saberes ultrapassados, a ser

lembrados superficialmente pelos setores da sociedade em datas comemorativas.

Page 24: Monografia Jeane Pedagogia 2010

24

2.2. Contos Populares

Percebemos o quanto à cultura popular é diversificada em seus estilos e

dimensões, que está presente tanto no campo como nas cidades, juntando o

tradicional e o atual, sempre se modificando. Somando assim, o local e o global, a

escrita e a oralidade. Neste aspecto, a tradição oral está bem presente com seu

encanto e a criatividade do povo, que tem chagado até os nossos dias através da

tradução em livros de muitos contos e também pela forma de contar os contos

populares.

Refletindo com Freire (2003):

Quando falamos de cultura popular estamos nos referindo não apenas às manifestações festivas e as tradições orais e religiosas do povo brasileiro, mas ao conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se expressa aos significados e valores que atribui ao que faz. (p.53)

Para Freire, somos agentes de cultura. Ouvimos, contamos nossas histórias,

saberes, versos, expressões, criações artísticas, e isso não nos foram ensinado

especialmente pela TV, internet ou outro tipo de tecnologia. Esse conhecimento nos

foi possível pela vivencia com diferentes saberes, durante os anos de nossas vidas e

que são passados de geração a geração, através da tradição oral, presente nos

contos populares e em todas as formas e recursos presentes na cultura popular.

Conforme Sousa e Souza (2008):

A tradição oral pode ser vista como uma cacimba de ensinamentos, saberes que veiculam e auxiliam homens e mulheres, crianças, adultos, / velhos/ a se integrarem no campo e nas tradições. Sem poder ser esquecida ou desconsiderada, a oralidade é uma forma encarnada de registro, tão complexa quanto à escrita, que se utiliza de gestos, da retórica, de improvisações, de canções épicas e líricas e de danças como modos de expressão. (p.155)

Os contos populares são cercados de todo um encantamento capaz de

provocar nos seus ouvintes um momento de prazer e envolvimento, onde a sua

mente será um palco de personagens com seus vários significados.

Page 25: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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Conforme Sousa e Souza (2008):

As narrativas orais expressam hábitos e valores cujo compartilhamento se dá no ambiente familiar, religioso, comunitário, escolar. Todo este patrimônio está no corpo e na mente das pessoas, onde quer que elas estejam. (p.156)

A tradição de contar história vem desde os nossos antepassados, e nos

acompanha até os dias atuais. Mesmo com todos os recursos áudios visuais, as

crianças ainda são estimuladas por alguns adultos, a quererem ouvir e viajar através

da beleza das narrativas, se identificando aos diferentes tipos de personagens, e

despertando para vários sentimentos.

Como afirma Abramovich (1995) “É ouvindo histórias que se pode sentir

emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a

alegria a insegurança, a tranqüilidade e tantas outras mais”. (p.42). Assim, os

ouvintes se identificam com os personagens, e buscam interpretar as ações

ocorridas nas histórias, dando vida aos mesmos, através da imaginação.

Já para Cascudo (2002):

Conto popular é a estória de trancoso, conto de fadas, da carochinha, etc. É de importância capital como expressão de psicologia coletiva no quadro da literatura oral de um país. As várias modalidades do conto, os processos de transmissão, adaptação, narração, os auxílios da mímica, entonação, o nível intelectual do auditório, sua recepção, reação e projeção determinam o valor supremo como um dos mais expressivos índices intelectuais populares. (p.303)

As narrativas orais vêm desde muito antes das narrativas escritas, e

permanecem vivas em nossos dias, principalmente em algumas tribos indígenas,

que perpetuam essa forma de transmissão oral, onde a história de seus

antepassados e outras histórias criadas com personagens de bichos, como formas

de entreter os membros de suas comunidades são transmitidas às novas gerações.

Page 26: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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Conforme Sousa e Souza (2008):

[...] Os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garantiram a conservação e continuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou, através da tradição oral. (p.90)

As histórias, oriundas da tradição oral indígena, africanas e européias, e

também das manifestações culturais, estão presentes nas músicas, danças,

brincadeiras, festas populares. O Brasil tornou-se um país cultural, rico e criativo

artisticamente, onde muitas dessas manifestações se mantiveram firmes mesmo em

meio à desvalorização e descrédito por alguns integrantes da elite.

2.3. Interpretando os Significados

Através dos estudos e aprendizagem sobre a cultura popular, o homem se

percebe como sujeito crítico e ativo da própria criação cultural, através da

conscientização sobre os valores éticos e morais da sociedade, de forma

significativa. Conforme Bueno (1985), Significado ou significar tem a seguinte

tradução “significação, equivalente de uma palavra, sinônimo, ter o sentido de,

exprimir, querer dizer, ser sinal de, denotar, dar a entender, mostrar, se constituir,

traduzir-se, notificar, expressar, participar” (p.1052)

Saussure (2006, apud JAPIASSÚ e MARCONDES, 1990) conceitua

significado como sinônimo de conceito. Com efeito, o signo lingüístico, tal como ele

o concebe é o resultado da combinação de um significante e significado, ou numa

outra formulação de uma imagem acústica de um conceito. Para ele signo é o

mesmo que conceito e significado.

Em filosofia da linguagem, a teoria do significado examina os vários aspectos

de compreensão das palavras e expressões lingüísticas e dos signos, em geral

essas compreensões estão expressas em Japiassú e Marcondes (1990): “um

desses aspectos centrais é a relação de referencia, que é um dos elementos

constitutivos do significado”. (p.37).

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Outros autores, como Quine (1996), ressaltou sobre a relevância do

significado não só a partir de uma sentença ou expressão lingüística de forma solta

ou isolada, mas de significação da linguagem de forma total.

Burke (2003) Pontua:

O significado de alguma coisa para o individuo é sempre a assimilação dessa coisa, às estruturas que formam seu universo mental. A rigor, portanto, há tantos significados para um mesmo objeto quanto são os indivíduos que tiveram tido contato com ele, e os significados serão, também, sempre mais ou menos móveis para cada individuo. (p.31)

Assim, cada educador e cada educando, tem seu significado, de forma

singular. Todos têm sua própria compreensão sobre diferentes realidades. Deste

modo, a cultura popular se apresenta através da contextualização desses saberes

em sala de aula, que surgirão então, conhecimentos significativos para a vida de

cada aluno e da sua comunidade, respeitando a diversidade e promovendo um

respeito pelas diferenças, enriquecendo as relações sociais.

Como destaca Silva (1995):

[...] É através dos significados contidos nos diferentes discursos, que o mundo social é representado e conhecido de certa forma, de uma bastante particular, é que o eu é produzido. E essa ‘forma particular’ é determinada precisamente por relação de poder [...] Os significados carregam a marca do poder que os produziu. (p.199)

Deste modo, percebemos o quanto é importante que o professor se perceba

enquanto sujeito responsável em transmitir e vivenciar valores culturais, de forma

que venha contribuir para formação crítica e reflexiva de seus alunos, por

conseguinte, possa atribuir significado a todas as ações e discursos que venham a

ocorrer em sua sociedade.

Sacristan e Gomes (1990) abordam o tipo de aprendizagem que é

fundamentalmente significativa, ou seja, não é algo por acaso. Tem um propósito,

uma finalidade que é despertar nos discentes a descoberta do novo, de forma

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28

consciente, criativa e crítica, buscando novos significados ou sentidos de valores

para a vida em sociedade. Conforme os mesmos autores:

A essência da aprendizagem significativa reside em que às idéias expressas simbolicamente são relacionadas de modo não-arbitrário, mas substancial com que o aluno já sabe. O material que aprende é potencialmente significativo para ele. (SACRISTAN E GOMES,1990, p.57).

Desta forma, para que o professor possa desenvolver em seus discentes uma

aprendizagem significativa, é necessária uma vinculação de novas idéias, formas,

conceitos, troca de conhecimentos, dinamismo, onde o mesmo possa promover um

intercambio de saberes com a turma, sobre a cultura popular e seus reais

significados, de maneira que cada um se perceba enquanto agente e participante de

sua cultura, através do respeito entre esses sujeitos. “Somente uma relação que

respeite a pessoa, ou seja, uma relação de pessoa a pessoa, pode salvar dois dos

extremos opostos” (GADOTTI, 2007, p.66). Neste aspecto, o professor é o mediador

dessa relação. Cabe, pois, a ele provocar a construção de uma educação mais

participativa e transformadora, onde os alunos se vejam como protagonistas de suas

histórias, através das produções e saberes vivenciados em seu dia-a-dia.

Como afirma Vygotsky (1985):

É no significado que se encontra a unidade das suas funções básicas da linguagem: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. São os significados que vão propiciar a medição simbólica entre o individuo e o mundo real, constituindo-se no “filtro” através do qual o individuo é capaz de compreender o mundo e agir sobre ele. (p.81)

Percebemos que os significados são estabelecidos pelo uso, pelos costumes

e assimilações, e neste sentido se faz necessário que o professor se perceba

enquanto individuo que compreenda seu papel em face à diversidade cultural

existente na escola e nos demais seguimentos da sociedade.

Page 29: Monografia Jeane Pedagogia 2010

29

2.4. O professor: Formação e Prática

A função do professor vai além de sua formação acadêmica. Não se limita

apenas a formar seus alunos nas séries exigidas no currículo, mas perpassa por

uma ação que vai além das disciplinas. Busca provocar em cada individuo um

despertar para a escola da vida, através de uma prática crítica e reflexiva. Como

pontua Alves (1989) sobre a função do professor, “É aquele que educa que realiza

seu trabalho com intuito de mudar a sociedade, pois possui ideologia e se torna

insubstituível, fazendo diferença na sociedade” (p.54). Com isso, é necessário que o

professor perceba seu papel em meio à diversidade cultural, presente no contexto

escolar, buscando realizar um aprendizado, através dos saberes e vivência de cada

aluno, num intercâmbio de conhecimento, num ensino - aprender.

Como destaca Freire (1997)

É preciso que, desde o começo do processo, vá ficando bem claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É nesse sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é a ação pela qual um sujeito criador dar forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (p.25)

Neste sentido, para que a prática do professor em sala de aula promova esse

intercâmbio de ensinar e aprender, é preciso que o mesmo busque investir em sua

formação, no sentido de estar sempre refletindo sobre as suas ações. Conforme

Freire (1997, p.47) “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se

pode melhorar a próxima prática”. Deste modo, o professor deve sempre melhorar e

aprimorar sua prática, uma vez que, a educação e a sociedade estão em constante

transformação. Comungando com este mesmo pensamento Nóvoa (1999) afirma:

Há uma diferença fundamental entre se formar e formar-se. Até hoje os professores tem sido formados por grupos profissionais diversos, sem que as suas próprias experiências tenham alguma vez sido valorizadas. É tempo de os professores pensarem em formar-se,

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assinalando-se as dimensões pessoais (o eu individuo) e as dimensões profissionais (o eu coletivo) nos quais este processo deve alicerçar-se. (p.39)

O autor, busca despertar no professor uma reflexão sobre sua real formação,

sua profissão, sua cultura, suas experiências tanto individuais, quanto coletiva, seus

valores de solidariedade, ética, enfim, todas as áreas da sensibilidade, uma vez que,

este profissional está lidando com seres humanos, com sentimentos, tão reais

quanto os seus. Para que haja uma transformação em sua prática pedagógica, é

preciso trabalhar com seus alunos, despertando para a valorização das diferenças e

manifestações presente na sua comunidade, através do reconhecimento da cultura

popular.

Conforme Vasconcelos (2002):

Uma educação mobilizadora deve ter em conta as condições concretas de existências. O primeiro passo, portanto, do educador, enquanto articulador do processo de ensino-aprendizagem deverá ser no sentido de conhecer a realidade com a qual vai trabalhar (alunos, escola, comunidade), além, é claro, do imprescindível conhecimento do objeto de estudo e da realidade mais ampla que todo educador deve ter. Para isso, de início o professor tem que aprender com seus alunos. (p.56)

O professor que, busca melhorar sua prática trabalha com o conhecimento do

aluno, objetivando uma melhor compreensão dos seus anseios, limitações e sua

realidade. É estudar com os alunos, a sua cultura, o que Nidelcoff (2004), se refere à

totalidade daquilo que os indivíduos aprendem, enquanto membros de uma

sociedade; é um modo de vida, de pensamento, de ação e de sentimento. É interagir

e utilizar os recursos do meio social desses indivíduos, suas manifestações culturais,

sua linguagem, seus costumes, fortalecendo a cultura local presente na cultura

popular.

Nascimento (1997) debate que:

A formação de professores deve ser compreendida como um processo global e precisa assegurar a formação integral da pessoa, do cidadão e do profissional. No entanto, é possível verificar que as

Page 31: Monografia Jeane Pedagogia 2010

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estratégias de formação, que tem sido utilizada com mais freqüências em nosso país, tem estado voltadas preferencialmente, de uma forma praticamente amputada da formação da pessoa e do cidadão. (p.76)

É preciso, questionar o tipo de “formação” que não ver o todo, o ser

profissional e principalmente o ser humano, sua afetividade, seus questionamentos,

suas crenças, seus paradigmas, enfim, valorizar o professor e seu ofício como ser

importante que influenciará na formação de outros indivíduos.

2.4.1. Escola e Currículo

A escola é entendida como um dos grandes setores responsáveis pela

formação da identidade. É necessário, que os alunos sejam entendidos numa

perspectiva que “permita a construção de um olhar mais alargado sobre a educação,

como processo de humanização, que inclua e incorpore os processos educativos

não-escolares” (GOMES, 2000 p.1).

Neste sentido, a escola deve sair para a comunidade, à rua, a zona rural, e

estes, devem entrar ou mesmo “invadir” esse espaço escolar, para que o saber

popular, sua fala, seus contos, ritmos, sejam compartilhados, deixando de ser de

certa forma, um lugar de exclusão, para ser um lugar de promoção do conhecimento

popular. Pois, a escola, como esse espaço de difusão do conhecimento sistemático,

não tem reconhecido esses saberes e sim, tem os negado dentro do seu espaço,

vez, que está perdendo a oportunidade de contextualizar conhecimentos

significativos pra a vida do aluno, como também para a sociedade como um todo.

Como afirma Apple (1997) “A educação torna-se um conjunto de instituições

através da qual o estado tenta ‘produzir, reproduzir, distribuir e mudar’ os recursos

simbólicos, a própria consciência da sociedade”. (p.102) Com isso, é preciso rever o

currículo que rege as ações educativas.

A discussão em torno do currículo não é nova. Desde muito tempo, sugiram

críticas a este modelo, porém, muitos grupos se levantaram em defesa, para que o

estado apoiasse apenas o saber da cultura dominante. Se opondo a este

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32

pensamento, Apple (1997) continua afirmando que “O conteúdo do currículo e o

processo de tomada de decisões que o cerca, não podem ser simplesmente

resultados de um ato de dominação”. (p.104)

A escola não pode mais fechar os olhos para a cultura popular, seus

instrumentos, linguagens, conflitos, preconceitos, artes, ensinamentos, leitura e

releitura da história da colonização dos povos, a outra versão, o outro olhar, menos

fragmentado, mais vivido, mais sentido. Através desse leque de possibilidades que a

cultura popular se apresenta, cabe, portanto, a escola, conceber esse espaço onde

viceje essa multiplicidade de linguagens, para que floresça também, uma pluralidade

de sentido, de novos sentidos para o ser “humano”.

Como afirma Gentilli (2005):

A escola deve contribuir para tornar visível o seu olhar normalizador oculto... Deve ajudar a interrogar, a questionar, a compreender os fatos que historicamente contribuíram na produção da barbárie que supõe negar os maiores elementos dos direitos humanos e sociais, às grandes maiorias. (p.42)

Precisamos de uma escola que prive pela solidariedade e respeito às

diferenças, tanto locais, culturais e sociais. Que contribua para que os seus alunos

se reconheçam enquanto indivíduos, participantes de sua cultura. Conforme Silva

(2008, p.86), “Uma escola apta pra fazer do ensino um instrumento sustentador de

valores e não mais pura e simplesmente reprodutora de um ensino técnico”. Dessa

forma a escola poderá levar os discentes a despertarem para ações que promovam

transformação, através de suas atitudes, consolidadas no seu contexto escolar,

familiar e social.

Nidelcoff (2004) discorre que:

[...] Não se pode fazer uma mudança profunda na escola enquanto não se faça uma mudança social também profunda, que proponha novos ideais comunitários e pessoais com uma nova maneira de ver a realidade e a História e que valorize de forma diferente a educação do povo e a cultura popular. (p.19)

Page 33: Monografia Jeane Pedagogia 2010

33

Sabemos que a escola sozinha não mudará a sociedade. Mas, ela pode ser

um veículo muito rico para propagação de novas atitudes e valores, desde que, não

venha a se adequar ou se acomodar com esta realidade excludente presente na

sociedade. Gentilli (2005) pressupõe que “Em nossas sociedades fragmentadas, os

excluídos devem se acostumar à exclusão. Os não excluídos também”. (p.30). Neste

sentido, a situação de exclusão cai no esquecimento e no silêncio, fazendo com que

as partes envolvidas neste processo permaneçam na mesma situação.

A partir do momento que a escola, se inserir no contexto de sua clientela e

começar a dialogar com outros saberes e outras culturas, se tornará mais

democrática e justa. As escolas, e principalmente as públicas, estão lotadas de uma

diversidade cultural. Elas só precisam avançar em prol de uma sociedade mais

humana, sem ignorar as diferenças e o potencial dos alunos como produtores de

diversos saberes populares.

Page 34: Monografia Jeane Pedagogia 2010

34

CAPITULO III

METODOLOGIA

Com consonância com Minayo (1994), Compreendemos que “a metodologia

inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilita a

construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do investigador”.

(p.16). Tendo em vista o nosso objetivo nesta pesquisa, que é identificar os

significados que os professores da Educação Infantil e Ensino Fundamental do

Centro Estudantil Fundame, dão à cultura popular, escolhemos para tanto, aporte

teórico na pesquisa qualitativa, por considerar que a mesma propicia um contato

mais direto do pesquisador com os sujeitos pesquisados.

3.1. Tipo de Pesquisa

Optamos por este paradigma qualitativo, por entender que é através das

respostas dos indivíduos que se pode perceber a subjetividade, o universo de

significados, de motivações, de valores que fazem parte da pesquisa de cunho

social, que não pode ser quantificados, e que, portanto, merecem atenção da

pesquisa qualitativa.

Neste aspecto Barbosa (2002) contribui sobre a pesquisa qualitativa, por

entenderem que a mesma possibilita ao pesquisador:

[...] compreender o comportamento e a experiência humana. Eles procuram entender os processos pelos quais as pessoas constroem significados e descrevem o que são aqueles significados. Usam observações empíricas, porque é com os eventos concretos do comportamento humano que os investigadores podem pensar mais claro e aprofundarem sobre a condição humana. (p.18)

Essa abordagem possibilita o contato mais próximo com os sujeitos e com o

ambiente no qual se dará à pesquisa, promovendo ao pesquisador o conhecimento

da aprendizagem produzida nesses espaços. Buscando perceber as compreensões

Page 35: Monografia Jeane Pedagogia 2010

35

que estes indivíduos têm quanto às questões levantadas, como forma de possibilitar

e favorecer respostas mais claras e significativas.

Para Minayo (1994):

A pesquisa qualitativa responde a questões particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que correspondem a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (p.22) .

A pesquisa qualitativa permite ao pesquisador um contato mais próximo com

os sujeitos, permitindo perceber ações, sentimentos, reações, e todos os tipos de

mudança que possa ocorrer, sendo analisadas de forma significativa, buscando se

chegar ao objetivo da pesquisa.

3.2 Locus da Pesquisa

O Locus onde se desenvolveu a pesquisa foi o Centro Estudantil Fundame,

localizado no Bairro Casas Populares, na cidade de Senhor do Bonfim – BA. Seu

espaço físico é composto de 5 salas, 1 secretaria, 1 diretoria, 1 brinquedoteca, 1

refeitório, 3 banheiros, parque infantil e um espaço amplo e arborizado onde as

professoras realizam várias atividades com as crianças ao ar livre. A escola tem

uma clientela de 120 alunos, distribuídos entre maternal, educação infantil I e II e

uma turma de ensino fundamental, funcionando no turno matutino, no turno

vespertino acontece o trabalho com os adolescentes no projeto chamado MQV1

(Mais que Vencedores), que tem como objetivo acompanhar os adolescentes em

situação de risco, através de oficinas de arte, brincadeiras, jogos, que já deixaram à

escola nas séries normais de ensino. Acontecem também, as terças e quintas

oficinas de artesanato com as mães.

O fator relevante, para a escolha por este locus de pesquisa foi por já ter

trabalhado nesta escola e ter tido a oportunidade de conhecer um pouco do trabalho

1 MQV – Mais que Vencedores é um projeto social da escola, que busca integrar os alunos que não pertencem

mais a referida instituição. São desenvolvidas oficinas de arte e atividades lúdicas.

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36

que vem sendo desenvolvido com as crianças e adolescentes de bairros periféricos

da cidade de Senhor do Bonfim-Ba, porém dotados de uma vasta cultura popular.

3.3. Sujeitos da Pesquisa

A amostra foi constituída por cinco professores, sendo três da educação

infantil, e dois do ensino fundamental, que lecionam no turno matutino do Centro

Estudantil Fundame, no município de Senhor do Bonfim – Bahia. Dessas

professoras três possuem graduação completa em pedagogia e as outras duas

também estão cursando pedagogia. A escolha pelas professoras se deu de forma

aleatória dentre aquelas que trabalham no universo pesquisado. Vale destacar, a

contribuição das mesmas para o levantamento de dados necessários ao

desenvolvimento da pesquisa.

3.4. Instrumentos de Coletas de Dados

Procurando conhecer e interpretar a problemática apresentada, foi utilizado

como instrumento de coleta de dados: Observação participante, questionário

fechado e entrevista semi-estruturada.

3.4.1. Observação Participante

O uso da observação participante na pesquisa é relevante, pois valoriza a

experiência, percebe de perto o trabalho desenvolvido pelos sujeitos, permitindo

assim, um melhor direcionamento do trabalho. Sobre esse instrumento de coleta de

dados Cruz Neto (1994) pontua:

A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seu próprio contexto. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os obstáculos. (p.29)

O contato com estes sujeitos, se deu de forma harmoniosa e dinâmica, haja

vista ter trabalhado nesta unidade escolar, em anos anteriores e conhecer o trabalho

de perto.

Page 37: Monografia Jeane Pedagogia 2010

37

3.4.2. Questionário Fechado

Sobre a importância do questionário fechado como instrumento de coleta de

dados. Barros (2000) contribui dizendo:

Questionário é um dos principais instrumentos de trabalho utilizado em quase todos os tipos de pesquisa. Ele é constituído de uma série de perguntas organizadas, com o objetivo de levantar dados para uma pesquisa. (p.58)

A escolha, deste instrumento se deu pela necessidade de se obter os dados

que possibilitem chegar aos objetivos da pesquisa, além, de traçar o perfil dos

sujeitos pesquisados de forma objetiva, organizada.

3.4.3. Entrevista semi-estruturada

A entrevista é um recurso que nos permite reforçar os elementos pontuados

no questionário, pois permite que os sujeitos se expressem oralmente, permitindo ao

entrevistador aprofundar, questionar e recolher uma diversidade de informações.

Como pontuam Good e Hatt (1968):

[...] a entrevista permite correções, esclarecimentos, e adaptações que a tornem sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas. Enquanto outros instrumentos têm seu destino selado no momento em que saem das mãos do pesquisador que os elaborou, a entrevista ganha vida ao se iniciar o diálogo entre o entrevistador e o entrevistado. (p.137)

O uso da entrevista, além das muitas vantagens, também possibilita

informações claras por parte do entrevistado, possibilitando um dialogo e interação

entre entrevistador e entrevistado.

Compactuando com essa mesma opinião Trivinos (1995) destaca:

Entende-se por entrevista semi-estruturada de uma maneira geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em

Page 38: Monografia Jeane Pedagogia 2010

38

teorias e hipóteses que, interessam à pesquisa e que, em seguida, oferece amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. (p.146)

Acreditamos que através desse instrumento de pesquisa, será possível obter

maior aquisição de informações, de maneira que o entrevistado tenha liberdade para

se expressar sobre o tema proposto e expor sua compreensão sobre a temática

desenvolvida, além de, fornecer mais subsídios para responder a questão que

norteou este trabalho de conclusão de curso.

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39

CAPÍTULO IV

ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Neste capitulo, apresentaremos analise e interpretação de dados, a fim de

alcançar o objetivo da presente pesquisa que é identificar os significados que os

professores da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro

Estudantil Fundame dão à cultura popular.

Conforme Gil (1991):

Está é a última fase de um levantamento. Logicamente coletados e analisados. Entretanto, é de toda conveniência durante o planejamento definir-se a cerca da forma como serão apresentados os dados. (p.103)

Iniciamos, traçando o perfil dos nossos sujeitos, tendo como suporte as

informações contidas no questionário fechado. E, conseguinte discutiremos e

apresentaremos as respostas coletadas dos professores sobre a cultura popular,

através da observação participante e da entrevista semi-estruturada.

4.1 Perfil dos Sujeitos

Tivemos como sujeitos da pesquisa cinco professoras, sendo três de

educação infantil e duas do ensino fundamental. Com o objetivo de traçar o perfil

dos entrevistados utilizaremos gráficos com porcentagens

4.1.1 Gênero

100%

0% FEMININO

MASCULINO

Gráfico 4.1.1. Percentual quanto ao gênero dos sujeitos.

Page 40: Monografia Jeane Pedagogia 2010

40

Conforme o gráfico 4.1.1, observamos que 100% dos educadores

entrevistados são do sexo feminino. Conforme Kramer (1992) a grande quantidade

de mulheres na educação, vem de um processo histórico, onde traz alguns ranços

que de certa forma desqualifica essa atividade, por caracterizá-la a uma ação

apenas materna, por outro lado, percebemos que a mulher vem alcançando o seu

espaço na área educacional e também em vários setores da sociedade.

4.1.2. Formação Acadêmica

60%

40%

Graduação completa

Graduação incompleta

Gráfico 4.1.2. Percentual quanto à formação acadêmica.

Sobre a formação acadêmica percebemos que 60% das professoras,

possuem nível superior completo em Pedagogia e 40% tem nível superior

incompleto na mesma área de estudo. Nota-se um interesse na formação

acadêmica, impulsionada por alguns incentivos, como melhoria salarial, e mais

conhecimento para o trabalho pedagógico. Conforme Freire (1997) a formação dos

professores deve ser permanente e o momento fundamental da reflexão crítica

sobre a prática.

Page 41: Monografia Jeane Pedagogia 2010

41

4.1.3 Carga-horária de trabalho

40%

40%

20%20 horas

40 horas

60 horas

Gráfico 4.1.3. Percentual quanto carga-horária de trabalho.

A partir da análise deste gráfico, percebemos que a jornada de trabalho das

professoras variam entre 20 e 60 horas. Compreendemos que uma menor carga

horária de trabalho possibilita um melhor desempenho deste profissional, já que o

mesmo tem mais tempo para planejar e aprimorar suas atividades. No entanto, a

precarização do trabalho docente empurra o/a professor/a a ocupar seu tempo livre

na realização de outras atividades que complemente sua remuneração. Vale

destacar que com uma carga-horária mais extensa poderão ter que se desdobrar

para atender todas as demandas do processo ensino-aprendizagem.

4.1.4 Renda Familiar

40%

40%

20% 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

3 SALÁRIOS MÍNIMOS

MAIS DE 3 SALÁRIOSMÍNIMOS

Gráfico 4.1.4. Percentual quanto à renda familiar dos sujeitos.

Page 42: Monografia Jeane Pedagogia 2010

42

Segundo as informações obtidas e representadas no gráfico, 40% das

professoras têm uma renda familiar de mais três salários mínimos, 20% recebem

dois salários mínimos e 40% da renda familiar das outras professoras é de mais de

três salários mínimos. A questão salarial, ainda é um forte entrave na questão

educacional do nosso país. O professor não é bem remunerado, isso traz outras

conseqüências, como a falta de estimulo desses profissionais para atuarem com

maior vigor e empenho no desenvolvimento educacional e cultural dos seus alunos,

como também o desejo de migrarem para outras profissões mais bem remuneradas

e valorizadas pelo sistema político e social.

4.1.5. Acesso aos meios de comunicação

80%

20%RÁDIO, TV, JORNAL,REVISTA E INTERNET

RÁDIO, TV, JORNAL EREVISTA

Gráfico 4.1.5. Percentual ao acesso aos meios de comunicação.

Quanto ao acesso aos meios de comunicação, notou-se que 80% das

professoras utilizam como meio de comunicação: rádio, TV, jornal, revistas e

internet, no entanto, observa-se que 20% das professoras optam por rádio, TV,

jornal, e revistas, o que denota que as mesmas ainda estão apegadas, apenas aos

livros didáticos.

Page 43: Monografia Jeane Pedagogia 2010

43

4.1.6. Definições de Cultura Popular

A questão da cultura popular é hoje definida e empregada por uma grande

quantidade de pessoas, tanto nos setores governamentais como na educação.

60%20%

20%

MANIFESTAÇÕESARTÍSTICAS E CULTURADO POVO

FESTAS RURAIS

FOLCLORE

Gráfico 4.1.6. Percentual sobre a definição de cultura popular.

Visualizamos no gráfico que 60% atribuem o significado de cultura popular, a

manifestações artistas, cultura de um povo, 20% atribuem a festas rurais, e 20%

atribuem à cultura popular ao folclore. Isto denota a distorção que ainda há quanto à

compreensão da cultura popular e seus significados na vida social e cultura dos

entrevistados.

É importante salientar sobre os 20% que atribui a cultura popular a festas

rurais, isso demonstra uma visão ainda influenciada pelo modelo de cultura

dominante que despreza ignora as classes menos favorecidas da sociedade.

A cultura popular é vista por muitos autores como uma cultura subalterna,

diferenciando a cultura popular da cultura hegemônica, ou de elite onde a popular

estava sujeita a de elite. (MELLO 1988).

Pontuamos também, que a cultura popular tem sido atribuída ao folclore,

como vimos no gráfico 20% acreditam ser a cultura popular o mesmo que o folclore.

Quando na verdade ele é um rico instrumento da cultura popular.

Page 44: Monografia Jeane Pedagogia 2010

44

Cavalcanti (1978) compreende o folclore como a idéia que designa muito

simplesmente a formas de conhecimento, expressas nas criações culturais dos

diversos grupos da sociedade.

4.1.7. O trabalho com a cultura popular na escola

60%20%

20%TRABALHA

RARAMENTE

NÃO TRABALHA

Gráfico 4.1.7. Percentual sobre trabalho com a cultura popular na escola.

Observamos que 60% das professoras consideram trabalhar com a cultura

popular na escola, 20% responderam que não trabalharam e mais 20%

responderam trabalhar raramente.

4.1.8. O trabalho com os contos populares na escola.

60%20%

20%

TRABALHA

RARAMENTE

NÃO TRABALHA

Gráfico 4.1.8. Percentual sobre os contos populares em sala de aula.

O gráfico apresenta o mesmo percentual que o gráfico anterior, os sujeitos

responderam da mesma forma, ou seja, a utilização dos contos populares em sala

Page 45: Monografia Jeane Pedagogia 2010

45

de aula, segundo as respostas do questionário, tem acontecido de forma

significativa.

4.1.9. A utilização dos contos populares pelos professores

40%

40%

20%

LITERATURA DE CORDEL

CONTOS REGIONAIS

NENHUM

Gráfico 4.1.9. Percentual sobre os contos populares que são utilizados pelas professoras.

Segundo o gráfico, 40% das professoras trabalham com a literatura de cordel,

40% com os contos, e 20% reconhecem que não utilizam os contos populares na

escola. Salientamos ainda, que o mesmo percentual de 20% que demonstra não

trabalhar com os contos populares, permanecem em consonância desde os gráficos

anteriores.

4.2. Analise da Entrevista Semi-Estruturada

Alguns dos dados coletados pela entrevista semi-estruturada, associadas a

observação participante, serão também representados por gráficos, onde

observaremos algumas contradições que por ventura possam aparecer no discurso

dos sujeitos. Utilizamos nesta entrevista o gravador, e em seguida transcrevemos

as falas dos entrevistados na íntegra. O discurso de cada professora será

representado pela letra P seguida de algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5) para manter

o anonimato e a identidade dos sujeitos.

A entrevista é um grande recurso utilizado. A mesma ganha sentido e

significado. Como diz Ludke e André (1986) “Enquanto outros instrumentos têm seu

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46

destino selado no momento em que saem das mãos do pesquisador que os

elaborou, a entrevista ganha vida ao se iniciar o dialoga entre o entrevistador e o

entrevistado” (p.34).

A partir do conceito de Ludke e André (1986), ao qual reafirmamos a

importância da entrevista, dividimos os discursos das professoras em categorias a

fim de delimitar nosso objeto de estudo.

4.2.1. Significados de cultura popular.

60%20%

20%MANIFESTAÇÕES

CULTURA DO POVO

CULTURA TRAZIDA

Gráfico 4.21. Percentual sobre os significados da cultura popular

Pelas respostas obtidas na entrevista semi-estruturada e representadas neste

gráfico, percebemos algumas contradições quanto às respostas obtidas no

questionário fechado representado também em gráfico.

Pra mim, cultura popular, são manifestações culturais, festas rurais, folclore, cultura de um povo, dança. Tudo que de certa forma, é... Retrata a história da nossa cultura popular e de um povo. (P1)

São manifestações, é... Que vem diretamente do povo, passando de pessoa para pessoa, que faz parte da cultura local. (P2) Manifestações artísticas, cultura de um povo. Costumes. (P4) Manifestações do povo. Tudo que o pessoal traz. (P5)

Ao analisarmos a fala dos professores, percebemos que 60% das professoras

entrevistados atribuem a cultura popular a manifestações. Isso nos chamou a

atenção por perceber um discurso um tanto quanto automático, ou seja, a palavra

Page 47: Monografia Jeane Pedagogia 2010

47

toma um lugar comum, já incorporada, sem que dimensionasse o verdadeiro

significado da mesma. O que de fato a palavra representa não foi demonstrado no

discurso.

Sobre manifestações Aurélio (1975) define como: Ato ou efeito de manifesta-

se; expressão. Revelação, esclarecimentos, demonstração. (p.88).

Destacamos ainda, que das professoras que atribuem à cultura popular a

manifestações, apenas a P1 dilata um pouco mais a discussão, tendo uma visão

mais ampla, conseguindo demonstrar de certa forma como a cultura popular se

apresenta. As demais, falam de forma vaga, sem explicitar, não interpretam de fato o

que a cultura popular é ou representa. Como na fala do P5 que explica de forma

superficial, não explorando a questão. Fávero (1983) destaca que “a significação da

cultura popular é precisamente entrar em tensão ideológica contra uma cultura de

dominação.” (p.34)

Fávero ainda (1983) descreve que cultura popular é a cultura do povo, isto é,

quando seus significados, idéias, são destinadas ao povo, respondem as exigências

humanas em determinado tempo e contexto, levando o homem a se assumir como

sujeito de sua própria criação cultural de forma reflexiva e consciente.

Acreditamos que ainda não é compreendido pelos que estão de certo modo

“responsáveis” pela ação de educar, o significado da cultura popular, suas

manifestações e seu papel de reconhecimento de uma educação, que venha

responder de fato a necessidade do povo, onde estes devem ser ouvidos, onde sua

cultura respeitada e valorizada na escola, de modo a contribuir para a formação da

identidade dos alunos.

Page 48: Monografia Jeane Pedagogia 2010

48

4.2.2. Cultura popular na escola

20%

60%

20%

TRABALHA

RARAMENTE

NÃO TRABALHA

Gráfico 4.2.2. Percentual sobre o trabalho com a cultura popular na escola.

Notamos uma contradição, quanto às respostas do questionário fechado com

as respostas dadas pelas professoras na entrevista. Se voltarmos nos gráficos

anteriores, veremos uma troca nas porcentagens, pois, 60% diziam trabalhar com a

cultura popular, porém, na entrevista, apenas 20% confessam realmente trabalhar,

60% dizem trabalhar raramente e os 20% continuam confirmando que não trabalham

a cultura popular na escola.

Na maioria das vezes acontecem como contos populares, festas e danças e algumas brincadeiras, peças teatrais nem sempre são feitas e quando são feitas, na maioria das vezes é feita pelos professores e esporadicamente. (P1)

Não trabalho com a cultura popular na escola. (P3)

A depender do projeto, trabalho brincadeiras, músicas, festas, ás vezes trazendo até algo da comunidade pra cá. Como o samba de lata, por exemplo, que é uma manifestação aqui da região de Bonfim. Não conseguimos, mas mostramos pra crianças de alguma forma. (P2)

Trabalho com brincadeiras, contos e também..., assim... Danças, coreografias, mas assim, não é constantemente não. É raro. É raro a gente trabalhar com a cultura popular. (P4)

Analisando a segunda categoria, notamos que a professora P1 reconhece a

importância de trabalhar com a cultura popular na escola. Porém, ela já exclui

Page 49: Monografia Jeane Pedagogia 2010

49

quando diz que é feito “esporadicamente”. Percebe-se então, uma distorção do que

se pretende pra o que se propõe a fazer. Discurso e prática não estão acentuados.

A professora P3, por sua vez, assume claramente que não trabalha com a

cultura popular na escola. De certa forma, admiramos a coragem da professora em

admitir, porém, lamentamos profundamente por perceber que a escola, as

professoras e os alunos estão perdendo por não utilizarem o universo tão rico da

cultura popular. Isso denota que ainda estamos impregnados num contexto de

cultura hegemônico, onde o saber elitizado, herdado do modelo europeu ainda

permanece em evidência em nossos dias e na prática de muitos professores,

quando estes devem responder de forma crítica esse modelo.

Conforme Gadotti (2007): O professor pode fazer:

[...] de seu discurso, que é a sua arma, dê respostas ou tente responder aos problemas que a sociedade lhe coloca, que se posicione e se pronuncie, não seja omisso. É isso que seus alunos querem ver nele e é nisso que eles podem reconhecer um mestre. (p.75)

É isso que se pretende do professor, uma atitude que dê atenção às

necessidades, diferenças dos seus alunos e que a cultura local destes, seja levada

em consideração, pois, até então, não se percebe uma contextualização dos

saberes regionais presente no cenário da cidade de Senhor do Bonfim.

O discurso da professora P4 é enfático quando diz que é raro o trabalho com

a cultura popular. Ela também se exclui dessa “culpa” atribuindo a responsabilidade

para a escola, quando diz: é raro a gente trabalhar.

Na fala da professora P2, demonstra-se que não tem espaço no currículo pra

se trabalhar com a cultura popular na escola, quando a mesma diz que “a depender

do projeto”. O discurso em prol de uma educação que leve em conta a realidade

local e cultural dos alunos, ainda é utopia em muitas escolas. O currículo não tem

sido voltado para a realidade dos discentes, ainda é algo que vem imposto como

regra, que vem sendo perpassado por uma visão tradicional, instrumentalista onde o

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50

conhecimento promovido na escola, está sujeito às relações de poder, pois desde

muito tempo se discute sobre o currículo, visto que o mesmo tem favorecido apenas

a cultura dos grupos dominantes.

Trazendo a discussão sobre o currículo, Apple (1997) traz a visão de muitas

pessoas que se posicionaram a favor do estado, em que o mesmo deveria legitimar

o conhecimento dos grupos dominantes. “Numa economia capitalista, apenas o

conhecimento demandado pelos grupos economicamente poderosos deveria ser

legitimado nas escolas sustentadas pelo poder público.” (p103).

Diante dessa discussão, nos surge então a seguinte pergunta: Como

trabalhar com a cultura popular na escola, uma vez que este modelo de currículo só

favorece a legitimação da cultura dominante?

O mesmo autor nos ajuda a responder esta questão quando afirma: “O

conteúdo do currículo e o processo de tomada de decisões que o cerca não podem

ser simplesmente resultados de um ato de dominação”. Apple (1997, p104)

Através dos dados analisados nessa pesquisa, vê-se que a escola não tem

em seu projeto político pedagógico e na própria estrutura curricular, espaço para a

cultura popular, e que não há alusão desse tema. Porém, ela se faz presente na

escola, através das relações entre os alunos, mas se torna algo distante do

processo de ensino-aprendizagem. Ela não está incluída nas metodologias utilizadas

na transmissão do conhecimento aos alunos. Há uma dicotomia entre discurso e

prática educativa.

É preciso destacar que, a passos lentos, algumas escolas e professores, já

têm procurado se posicionar contra este modelo hegemônico, buscando através das

suas ações, mudar a sua prática e, através dela, a escola. Não conservá - la como

ela se encontra, ou seja, revê o currículo. E não só isso. É necessário ousar,

trabalhar com a cultura popular de forma humanizante com o objetivo e missão de

educar pessoas.

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51

4.2.3. Contos populares

40%

40%

20%

SIM

RARAMENTE

NÃO

Gráfico 4.2.3. Percentual sobre os contos populares na escola.

Os contos populares são alguns dos instrumentos da cultura popular.

Conforme o gráfico da entrevista semi-estrutura, já podemos perceber algumas

diferenças com relação ao mesmo gráfico no questionário fechado. Houve

mudanças nas porcentagens. Agora, o que se demonstra é que 40% trabalham 40%

raramente e os 20% continuam afirmando não trabalhar com os contos populares.

Compreendemos, porém, que o trabalho desenvolvido com os contos na escola,

pode possibilitar um aprendizado mais dinâmico, além de desenvolver várias

habilidades, desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental. Algumas dessas

habilidades são: poetizar, narrar, cantar, enfim, vários tipos de manifestações

culturais que podem ser estimuladas na escola.

Neste aspecto, Andrade (apud COELHO, 1999) defende as manifestações

artísticas, culturais e populares tendo como base:

O principio da utilidade e não só como arte com “preocupação exclusiva com beleza”, baseada de modo mecânico e servil na estética universal, e sim uma arte que reconheça o contexto histórico como elemento de produção. Uma arte comprometida com seu tempo, servindo-se de tudo que lhe pudesse ser útil como “instrumento de afirmação cultural. (p.45, 46).

O autor nos direciona a assumir uma postura crítica, ou seja, que se perceba

e analise as dimensões e contexto histórico onde se deu aquela obra ou

manifestação artística, favorecendo aos alunos momentos de prazer, de cultura,

Page 52: Monografia Jeane Pedagogia 2010

52

além de favorecer um aprendizado rico, onde se trabalhe com o contexto social e

cultural desses discentes.

Através dos discursos das professoras, poderemos compreender sobre os

trabalhos desenvolvidos com os contos no espaço escolar.

Eu trabalho muito com contos. No geral na minha sala. Eu sou muito apaixonada pela literatura. Agora, com essa entrevista, veio despertar em mim esse lado. Eu parei agora pra pensar que eu não tenho trabalhado muito. Eu trabalho raramente. É mais isolado, na época mais do folclore é que tende a lembrar mais da cultura popular e dos contos populares, pois acho que ela fica esquecida durante todo o ano. P2 Nunca trabalhei com os contos populares. Sinto falta, mas nunca trabalhei. Trabalho com o folclore na data comemorativa. P3 Trabalho com os contos. Mas é pouco. A escola usa mais os contos tradicionais. Os contos populares, não tenho costume de trabalhar não. Trabalho pouco. P4

Percebemos nos discursos algumas contradições. Isso é possível pela

utilização da pesquisa qualitativa, pois através dela é possível perceber a

subjetividade.

Como Afirma Minayo (1994) a pesquisa qualitativa responde a questões

particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade, ou

seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,

valores e atitudes. (p.22)

Analisando a fala da P2, notamos contradições. A mesma fala que trabalha

com os contos e da sua paixão pela literatura, mas no seu discurso percebendo que

ela realmente não trabalha e depois, retoma dizendo que trabalha raramente. A

mesma reconhece que cultura popular fica esquecida.

Assim, mesmo com todas as contradições presentes na fala dessa

professora, percebemos o quanto à cultura popular e seus instrumentos não têm

ocupado espaço no currículo da escola, e o quanto tem sido esquecida, uma vez

que se universaliza a cultura “burguesa” e deixa de lado as tradições, valores,

Page 53: Monografia Jeane Pedagogia 2010

53

costumes e o universo rico dos contos populares. Como confirma Nidelcof (2004), tal

postura vai acompanhada de um desprezo implícito pela cultura que essas crianças

levam à escola e de uma desconsideração pela riqueza que pode existir nela (e

como existe). Como demonstra em sua fala o escritor e historiador Rufino (1994

apud SOUZA, 2008)

[...] que a criança ao chegar na escola tem grande capacidade de fabulação (...) de inventar histórias, de ouvir e contar historias. Isso é anterior à leitura, ao conhecimento do livro. E a escola (...) tem horror à fabulação da criança, (...) quanto mais à criança sobe na carreira escolar, menos gosto ela tem pela literatura, menos ela gosta de ler, ouvir e contar histórias. Então, pode-se dizer, nesse sentido específico, que a escola é o túmulo da literatura. (p.76)

As palavras de Rufino nos deixam um pouco assustados, mas se realmente

refletirmos nelas, perceberemos que a escola, neste sentido específico, tende a

desconstruir e excluir a cultura popular e seus elementos, presentes nos diferentes

saberes trazidos pelas crianças.

Ainda, neste discurso, a paixão da professora P2 vai se revelando pelos

contos, porém, não os populares, mas sim os tradicionais, de origem européia,

distante da realidade cultural, social e regional destes alunos. Mais uma vez,

prevalece o modelo de cultura hegemônico representado de maneira subjetiva na

fala e nas ações da escola e professores.

Essa ação é reflexo da submissão da escola ao sistema político de

dominação. Destaca Grignon (1995):

Pode-se dizer que a escola tende espontaneamente ao monoculturalismo. Por meio da transmissão, que continua sendo socialmente muito desigual, dos saberes de alcance ou pretensão universal, reduz a autonomia das culturas populares e converte a cultura dominante em cultura de referência, em cultura padrão (p.182).

Por sua vez, Silva (2008) ressalta a importância de se trabalhar com a cultura

popular na escola, vez que a mesma, ao ser integrado no interior do sistema e do

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54

processo escolar formal, poderá revolucionar através de uma nova e mais

humanizada ação de educar.

A P3 acaba parecendo irônica, pois ao passo que ela diz nunca ter trabalhado

com os contos, também diz sentir falta. Acaba soando como desculpa e ao mesmo

tempo descaso com a cultura e os contos populares. Pois não fica claro o motivo

pelo qual essa professora não os utiliza.

Já, a P4, diz utilizar os contos tradicionais. Percebemos mais uma vez,

através da fala das professoras, que o modelo de cultura evidenciado e seguido pela

escola como legitimadora de conhecimento, é o modelo europeu, suas histórias,

seus dramas, seus castelos, suas princesas, príncipes, como por exemplo, temos

tão difundidas histórias infantis que mesmo tendo seu valor, no sentido de

desenvolver o pensamento e a imaginação das crianças, os distancia da sua própria

realidade.

4.2.4 Significados atribuídos ao Folclore

60%20%

20%

MANIFESTAÇÕESPOPULARES

COSTUMES DOPOVO

CONTOS

Gráfico 4.2.4. Percentual sobre os significados atribuídos ao Folclore.

Através do discurso das professoras, verificamos que 60% atribuem o folclore

a manifestações, 20% aos contos e 20% a costume do povo. Assim, percebemos

que a compreensão sobre o folclore pelas professoras quanto a manifestações, é a

mesma atribuída à cultura popular. Fica, portanto, claro que a cultura popular é

Page 55: Monografia Jeane Pedagogia 2010

55

ainda confundida com folclore, ou seja, ela ainda é vista apenas como algo

admirável e expectante. Desta forma, nos perguntamos: Como garantir uma prática

Pedagógica voltada à cultura popular, se as compreensões são tão restritas? Vez

que, ainda estão relacionadas com o folclore, quando na verdade o folclore é um dos

elementos dessa rica cultura. Essa visão perpassa pela cultura dominante

impregnada ainda nos guetos, e marcada nos discursos das professoras.

Na verdade, eu vejo que são contos, contos fictícios que foram criados pela... Uma determinada... Pelo povo, e que foram perpassados durante todo esse tempo. P1 Manifestações da cultura do povo. P2 Pra mim, são manifestações, costumes, tudo que aprendemos. Tudo que trabalha da sua região e cultura. P3 É manifestação do povo. Da cultura da cultura local. P4 Folclore é manifestação do povo. P5

Diante dos discursos, percebemos que a cultura local não tem tido espaço no

currículo da escola, sendo lembrada apenas em algumas datas comemorativas, e o

folclore no dia 22 de agosto, onde se trabalha a semana do folclore. Porém o dia a

dia, o contexto social não tem sido trabalhado.

A questão de atribuir cultura popular ao folclore é compartilhada por muitos,

por estar muita vezes, evidenciada nos discursos de muitos intelectuais dessa área

e nos livros didáticos. Como pontua Arantes (1982), um grande número de autores

pensa a “cultura popular” como “folclore”, ou seja, como um conjunto de objetos,

práticas e concepções (sobretudo religiosas e estéticas) consideradas “tradicionais”.

É preciso uma postura crítica por parte dos professores, quanto a esse olhar, que

não é neutro, mas fragmentado.

Mesmo com todos os avanços, e com inúmeras políticas públicas construídas

com a finalidade de aproximar a educação à realidade local, ainda assim, o que tem

prevalecido em alguns discursos e práticas educacionais é o modelo hegemônico,

legitimado pelos meios de comunicação.

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56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo possibilitou entender alguns significados, que as professoras da

Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil

Fundame, atribuem à cultura popular, através de seus discursos e prática vivenciada

no espaço escolar.

Através dos discursos dos sujeitos, foi possível fazer algumas reflexões, entre

estas destacamos que: A cultura popular, com seu leque de possibilidades,

linguagens e pluralidade de saberes populares, não tem tido espaço no currículo da

escola. Legitimado, assim um modelo de cultura padronizado, propagado e

conhecido como “saber único e verdadeiro”, veiculado pelos meios de comunicação

de massa ou pelas políticas neoliberais enraizados nos discursos e prática docente.

Outra reflexão que pontuamos, é que as compreensões dos sujeitos, sobre

cultura popular, ainda se apresenta limitada. A mesma é confundida com o folclore,

uma vez que, essa “confusão” de significados acaba por legitimar os interesses

hegemônicos que apresentam a cultura de massa como algo vivo, dinâmico e atual,

em contrapartida à cultura popular como saberes ultrapassados, peças de museu, a

ser lembrados fragmentada e superficialmente pelos setores da sociedade em datas

planejadas e abarcadas pela Indústria cultural.

Pontuamos também, que não são os movimentos ou modismos, que

melhoram a ação dos professores no espaço escolar, mas sim, uma formação crítica

sobre sua prática, que leve em conta, sentimentos, valores e sabres locais, regionais

e culturais, tanto seus como dos seus discentes.

Este trabalho se apresenta ainda, como uma provocação para estudos

futuros, considerando que refletir e vivenciar cultura popular nos espaços escolares

se apresenta como caminho para a construção de uma aprendizagem significativa e

que contemple os interesses das camadas populares ainda distantes das vivencias

curriculares.

Page 57: Monografia Jeane Pedagogia 2010

57

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ANEXOS

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

Prezado (a) professor (a), estamos realizando esta pesquisa para elaboração do trabalho de conclusão de curso referente ao 9º semestre de curso de Pedagogia da Universidade do estado da Bahia – UNEB. Por esta razão contamos com sua disponibilidade e colaboração para a realização da pesquisa. Lembraremos que sua identidade será mantida em sigilo. Desde já agradecemos sua atenção e colaboração.

QUESTONÁRIO FECHADO

1. SEXO: ( ) Feminino ( ) Masculino 2. ESCOLARIDADE: ( ) Ensino Médio ( ) Graduação Completa ( ) Graduação Incompleta

3. CARGA-HÓRARIA ( ) 20 h ( ) 40 h ( ) 60 h 4. RENDA FAMÍLIAR ( ) Um salário mínimo ( ) Dois salários mínimos ( ) Três salários mínimos ( ) Mais de três salários mínimos 5. VOCÊ TEM ACESSO A QUE MEIOS DE COMUNICAÇÃO? ( ) Rádio ( ) TV ( ) Internet ( ) Jornal ( ) Revistas ( ) Outros 6. PRA VOCÊ O QUE É CULTURA POPULAR? ( ) Danças ( ) Folclore ( ) Manifestações artísticas ( ) Festas rurais

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( ) Cultura do povo ( ) Outros 7. COMO É FEITO O TRABALHO COM A CULTURA POPULAR NA ESCOLA? ( ) Com peças teatrais ( ) Contos populares ( ) Festas e danças ( ) Brincadeiras ( ) Analise textual ( ) Outros 8. VOCÊ UTILIZA OS CONTOS POPULARES EM SALA DE AULA? ( ) Sim ( ) Sempre ( ) Não ( ) Raramente 9. QUE CONTOS UTILIZA? ( ) Contos da vovó ( ) Literatura de cordel ( ) Contos regionais ( ) Outros

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

• O Que você entende por cultura popular?

• Você trabalha com a cultura popular na escola?

• Como é feito esse trabalho?

• Você trabalha com os contos populares?

• Que contos você utiliza?

• Defina folclore.