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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Maria Izabel Ribeiro Feitosa JURADOS E TRIBUNAL DO JÚRI CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Maria Izabel Ribeiro Feitosa

JURADOS E TRIBUNAL DO JÚRI

CURITIBA

2010

JURADOS E TRIBUNAL DO JÚRI

Curitiba

2010

Maria Izabel Ribeiro Feitosa

JURADOS E TRIBUNAL DO JÚRI

Monografia apresentada no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Daniel Ribeiro Surdi Avelar

CURITIBA

2010

TERMO DE APROVAÇÃO

Maria Izabel Ribeiro Feitosa

JURADOS E TRIBUNAL DO JÚRI

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de _____________ de 2.010.

_____________________________________

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: ___________________________________

Prof. Dr. Daniel Ribeiro Surdi Avelar

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

____________________________________

Prof. Dr.

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

___________________________________

Prof. Dr.

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, se tenho a agradecer a alguém é a Deus, este ser perfeito

que me ampara em todos os momentos, permitindo que eu possa superar todos os

obstáculos que acontecem em minha vida, onde a força Dele é fundamental para

quem almeja realizações, e com Ele, eu consegui finalizar este trabalho.

Aos meus familiares, iniciando pela minha amada mãe Luzia, que mesmo

não sabendo ler e escrever é de uma sabedoria infinita, exemplo de vida, de garra e

coragem, que só me causa orgulho, e meu pai, que mesmo ausente em toda minha

infância, soube ensinar como ser um bom avô, minha irmã Valdinéia que irá

percorrer os mesmos caminhos que o meu, sabendo que não será fácil.

Aos meus três amados filhos, Luana Izabel, Rodrigo Henrique e Marcelo

Eduardo, que são tudo em minha vida.

Ao melhor esposo, amigo e homem que eu conheci na vida, meu marido

Marcelo que tenho profundo respeito e admiração.

Agradeço aos meus saudosos avós: Maria Aparecida, Zulmira, Altino e

Pedro, que me ensinaram que sabedoria se adquire com a idade, que Deus lhes dê

o melhor lugar do céu.

Aos meus quatro irmãos de coração, Heitor, Heber, Domingos e Bárbara,

que sempre me incentivaram a continuar esta faculdade, contrariando as

dificuldades financeiras que se apresentavam durante o curso. Principalmente você

Bárbara que muitas vezes ajudou-me com trabalhos e xerox, pois sabia que às

vezes eu não tinha dinheiro nem pra comprar o pão para o café da manhã, sempre

te serei grata, minha querida amiga.

À todos meus amigos, em especial Ernani, professor Felipe, Silvani,

Rosimar, Dâmaris, Victícia, cada qual do seu jeito, me ensinou algo de bom, vocês

são maravilhosos.

Ao adorado professor e honrado Advogado Felipe Alcure, à você minha

dívida de gratidão eterna, sua paz e tranqüilidade em todos os momentos em que

trabalhamos juntos, me fez ver que mesmo trabalhando sob stress podemos “ficar

em paz”. Muito obrigada!

Ao querido professor e renomado Advogado Dálio Zippin, que me fez

despertar para este tema, onde fiz meu primeiro Tribunal do Júri. Você é demais!

Ao amável professor e juiz Daniel Ribeiro Avelar, que me permitiu fazer parte

da defesa de um julgamento e ainda aceitando ser meu orientador. Deus te

abençoe!

Ao excelente professor e Juiz Dr Roberto Negrão que com sua calmaria,

conseguiu me ensinar sobre Direito Penal. Que Deus te acompanhe sempre!

Ao meu filósofo preferido, professor e Advogado André Peixoto, que em

suas aulas expositivas me fez entender que o melhor professor é aquele que se

preocupa em ensinar e não em fazer com que o aluno tenha notas boas para passar

na faculdade. Você é muito especial!

À minha querida e amada professora e Dra Regina Bacelar, que me obrigou

a perder o medo do público, me incentivando em suas aulas de Direito Civil a fazer

oratória para expor perante todos os alunos aquilo que havia aprendido em aula,

mesmo sabendo que eu tinha medo, ela acreditou em meu potencial para chegar até

aqui. Você sempre estará em meu coração!

Dedico também à três grandes estudiosos que admiro muito:

Desembargador Francisco Rabelo, ao Procurador Silvio Brambila e a Doutora Silvia

Fraguás, vocês são exemplos de vida!

Ao meu querido chefe Evandro Portugal, como juiz ensinou-me que ainda

existem juízes que primam pela justiça. Que os anjos te protejam por toda sua vida!

A todos os anjos que Deus enviou em meu caminho, como não tenho

espaço suficiente, agradeço a todos vocês e todos estarão em meu coração até o

último dia de minha vida.

A quem interessar, deixo minha frase que usei durante as dificuldades

percorridas em uma vida cheia atribulações: “Ser pobre não é o problema, o difícil é

superar as barreiras”!

Amigos, mesmo aqueles que não citei, saibam que nossa luta diária não

acabou, mas por onde quer que eu vá não esquecerei de nenhum de vocês e a

todos o meu, MUITO OBRIGADA!

“Que o Direito sirva à pessoa humana, à construção de uma sociedade mais justa,

ao resgate do humanismo num mundo que, sem a nossa consciência e a nossa

vigilância, seria cada dia mais insípido, frio e desumano.”

(João Batista Herkenhoff)

RESUMO

O presente estudo visa demonstrar como há divergências doutrinárias acerca do tema dos jurados, onde tornam-se juízes em que muitas vezes não tem o menor preparo jurídico para absolver ou condenar alguém, enfatizando que mesmo assim, acredita-se que é o melhor meio para julgar os seus iguais. Abordará fatos históricos, citando alguns países para que se possa fazer um comparativo entre as diferenças da forma em que se utiliza o jurado como o determinador do veredicto. Demonstrará as diferenças entre votar incomunicavelmente entre os jurados, usando apenas sua consciência e por outro viés a forma em que todos deverão chegar a um mesmo veredicto, ou seja, uma decisão unânime em que alguns afirmam que a melhor forma de democracia é este em que todos os jurados discutam acerca dos fatos e sentenciam com um mesmo pensamento, qual seja, todos condenam ou todos absolvem o acusado, não podendo ninguém discordar desta decisão. Também incide na questão histórica da punição até os dias atuais. Demonstrará o quão difícil é para o juiz togado angariar cidadãos que preencham os requisitos estipulados para o alistamento e manter um número de jurados dentro de cada Comarca em não podendo transformar o cidadão em jurado profissional. Indicará quais as vantagens e desvantagens em ser um jurado, e ainda da forma de sorteios e exclusão após sua participação. Através de entendimentos doutrinários teremos as várias posições e ensinamentos para que possamos verificar o que melhor é para nosso país, desta feita também nós possamos fazer parte desta tão seleta continuação da democracia em que somente pessoas idôneas farão parte desta respeitável instituição.

Palavras-chave : tribunal do júri. Juiz. Jurados.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................10

2 TRIBUNAL DO JÚRI............................ .............................................................11

2.1 DEFINIÇÃO DE TRIBUNAL DO JÚRI...............................................................11

2.2 ORIGEM DO INSTITUTO DO JÚRI..................................................................13

2.3 PUNIÇÃO..........................................................................................................15

2.3.1 Punição no Brasil para os crimes julgados no Tribunal....................................18

2.4 DIREITO COMPARADO...................................................................................18

2.4.1 Estados Unidos.................................................................................................18

2.4.2 Inglaterra..........................................................................................................20

2.4.3 Escócia.............................................................................................................21

3 JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI............... ................................................23

3.1 DO ALISTAMENTO DOS JURADOS...............................................................23

3.2 FORMA DE ESCOLHA DOS JURADOS.........................................................27

3.3 A INCOMUNICABILIDADE...............................................................................28

3.4 DOS REQUISITOS PARA DISPENSA............................................................30

3.5 JURADO PROFISSIONAL..............................................................................31

3.6 EXERCÍCIO EFETIVO DA FUNÇÃO DE JURADO........................................31

3.7 VANTAGEM E GARANTIA DE SER UM JURADO........................................33

3.8 DA EXCLUSÃO DO JURADO APÓS SUA PARTICIPAÇÃO.........................35

3.9 DA INSTRUÇÃO EM PLENÁRIO...................................................................35

3.10 QUESTIONÁRIO E SUA VOTAÇÃO..............................................................37

CONCLUSÃO.......................................... ..................................................................37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................ ................................................42

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo visa demonstrar como o cidadão pode participar da vida

em sociedade, sendo um jurado, enfatizando os fatos principais de como alistar-se,

bem como, o fim dos trabalhos ensejados a um jurado.

Abordará fatos históricos, citando alguns países, fazendo também um

comparativo entre esses lugares de como funciona o júri.

Demonstrará as dificuldades encontradas pelo juiz togado para preencher os

requisitos exigidos em lei para selecionar os futuros alistados.

Abordará a questão democrática que divergem doutrinadores a respeito do

juiz leigo e a questão voltada para as vantagens e desvantagens sendo um jurado.

Traz também o conceito de Tribunal do Júri, ressaltando a origem do instituto.

A punição será outro fator de estudo que serão demonstrados através de

entendimentos históricos.

As doutrinas apresentadas demonstrarão o posicionamento de pessoas

ligadas ao júri, v.g., magistrados, advogados, pessoas da sociedade e ainda que

para formar o Conselho de Sentença, não se verifica grau de escolaridade.

A forma dos julgamentos realizados em nosso país aplicando o cidadão como

juiz, demonstrará as diversas formas de críticas envolvendo a democratização no

que concernem os jurados.

A pesquisa feita para este trabalho encontrou grau de dificuldade enorme,

haja vista que o Rito do Tribunal do Júri foi alterado recentemente com isso

delimitando a quantidade de autores que escreveram a respeito do tema, mas não

desanimando a procura para as questões impostas.

2 TRIBUNAL DO JÚRI

2.1 DEFINIÇÃO DE TRIBUNAL DO JÚRI

Como ponto de partida do presente trabalho, é importante a definição da

palavra Tribunal do Júri, como veremos no texto a seguir.

O TRIBUNAL DO JÚRI como inúmeras palavras têm sua etimologia advinda

do latim.

A definição de tribunal segundo Torrinha, “Lugar onde se sentavam os

tribunos”, ainda assim continua em sua definição “Lugar elevado, tribuna onde se

sentavam os magistrados; lugar onde se sentavam os juízes.” (1997, p.888).

Nem sempre o tribunal foi dentro de uma sala como acontecem os

julgamentos na atualidade. Houve épocas em que aconteciam em praça pública,

isso quando não se reuniam em locais como suas casas ou em salas secretas, no

qual julgavam, condenavam e apenas expediam decretos para capturar e executar o

acusado, ora condenado. Contudo, desde os primórdios aquele que se sentava junto

aos jurados, era revestido de glória e muita respeitabilidade, pois somente aqueles

cidadãos considerados os melhores da sociedade eram convocados para este fim,

eram conhecidos como os homens mais inteligentes daquela localidade.

Conforme entendimento de Paulo Roberto Leite Ventura,

O Tribunal do Júri, cuja palavra Jury deriva da língua inglesa, com origem

etimológica no latim – Jurare, juramento que outrora se fazia, é conhecido,

entre nós, como um tribunal denominado popular, composto por um Juiz de Direito que o preside, sem direito de voto, sete jurados que integram o

Conselho de Sentença, sorteados entre 21, podendo ser leigos em Direito, tanto que denominados Juízes de Fato, com competência restrita para julgar os crimes dolosos contra a vida (homicídio – 121; induzimento, instigação ou auxílio ao suicido – art. 122; infanticídio – art. 123 e aborto – arts. 124, 126 e 127), bem como qualquer delito a eles conexo. (1990, p. 1).

A vista do infracitado, não será qualquer crime que poderá ser de

competência do Tribunal do Júri e sim, um conjunto de cidadãos que gozam de

direitos políticos e civis que preencham determinados requisitos, com ou sem

conhecimento jurídico que irão decidir sobre crimes cometidos, tentados, induzidos,

instigados ou auxiliados por outro cidadão na tentativa de puní-lo ou ainda, libertá-lo

da acusação dos crimes imputados ao acusado.

Maria Helena Diniz conceitua Tribunal Popular como sendo:

[...] composto por juízes leigos (jurados) e presidido por um juiz de carreira, com competência para julgar crimes consumados ou tentados de: homicídio simples e qualificados; induzimento, instigação ou auxílio a suicídio; infanticídio e aborto.

É colegiado que compreende vinte e um jurados, dos quais este serão sorteados para compor o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento, e o juiz-presidente, que irão decidir com base no fato apresentado pela absolvição ou condenação do acusado de ter praticado crime doloso contra a vida. (1998, p. 23).

Quanto à definição de Tribunal:

Tribunal – 1) Órgão coletivo pertencente ao Poder Judiciário que tem a incumbência de apreciar em grau de recurso, as decisões dos juízes. Esse órgão é composto de número variável de magistrados, que exercem suas funções agrupadas em câmaras ou turmas.

2) Local onde os processos são apreciados e julgados.

3) Jurisdição. (1998, p. 630).

Conforme entendimento da autora Maria Helena Diniz o Júri tem a seguinte

definição:

(Júri – 1) Direito Processual Penal, a) Tribunal presidido por um juiz de direito, composto por vinte e um cidadãos moralmente idôneos, convocados para julgar crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados, entre os quais sete serão sorteados para compor o conselho de sentença em cada sessão de julgamento; b) conjunto de cidadãos que podem ser jurados, com o dever de apreciar fatos levados ao seu conhecimento, afirmando ou negando a existência do crime imputado ao réu, ao responderem os quesitos formulados pelo magistrado, que com base nas respostas dadas dará a decisão e aplicará a pena cabível.

2) “Na linguagem comum e jurídica em geral, é a comissão que tem a incumbência de avaliar o mérito de alguma coisa ou pessoa.” (1998, p. 626).

2.2 ORIGEM DO INSTITUTO DO JÚRI

A evolução histórica é fator predominante para um melhor entendimento de

como chegamos a esta forma de democracia que divergem opiniões até a

atualidade.

O Instituto do Tribunal do Júri não tem uma data específica em se possa

afirmar que daquele momento em diante é que estaria sendo criado, todavia

divergências múltiplas de doutrinadores afirmam que descobriu o seu nascedouro,

criando assim diversas hipóteses no mundo histórico.

A autora Lise Anne de Borba, ensina em seu site, com o tema Aspectos

relevantes do histórico do Tribunal do Júri, que “o Júri é uma instituição de origem

incerta, mas sem dúvida muito antiga e debatida, cujo formato vem sendo moldado

desde os povos primitivos: chineses, indús, judeus e hebreus.” (site:

www.jusnavigandi.com.br http://www.jusnavigandi.com.br/, 06/03/2010).

A versão apresentada por Lise Anne de Borba é que:

[...] as leis de Moysés, ainda que subordinando o magistrado ao sacerdote, foram, na antiguidade oriental, as primeiras que interessaram os cidadãos nos julgamentos dos tribunais. Na velha legislação hebraica encontramos nós, o fundamento e a origem da instituição do Júri, o seu princípios básico. Na tradição oral, como nas leis escritas do povo hebreu, se encontram o princípio fundamental da instituição, os seus característicos e a sua processualística. (site: www.jusnavigandi.com.br, 06/03/2010).

Também chamado de tribunal popular como preleciona Paulo Rangel:

O tribunal popular, diferente do que muitos pensam, não nasce, propriamente dito, na Inglaterra, pois já existia, no mundo, outros tribunais com as suas características. Alguns buscam sua origem nos heliastas gregos, nas quaestiones perpetuae romanas, no tribunal de assises de Luis, o Gordo, Na França (ano de 1137). (2009, p. 41).

Ainda assim, há entendimento diverso, como preconiza Rogério Lauria

Tucci, vejamos:

[...] há quem afirme, com respeitáveis argumentos, que os mais remotos antecedentes do Tribunal do Júri se encontram na lei mosaica, nos dikastas, na Hiliéia (Tribunal dito popular) ou no Areópago gregos; nos centeni comites dos primitivos germanos; ou ainda, em solo britânico, de onde passou para os Estados Unidos e depois, de ambos para os continentes europeus e americanos. (TUCCI, 1999, p.51 citado por RANGEL, 2009, p. 41).

Preconiza Paulo Rangel que John Gilissen corrobora com seu entendimento

qual seja:

[...] assevera com acerto que a origem do júri remonta à mesma época do common law, segunda metade do século XII, não obstante procurarem suas origens na prática do inquérito carolíngio e no direito dos primeiros reis anglo-normandos, o júri em matéria judiciária aparece com Henrique II, em 1166.

O júri em matéria criminal só se consolidou muito depois do júri civil, pois, inicialmente, os jurados julgavam apenas as causas cíveis, surgindo depois a necessidade de submete-los também às matérias criminais [...] (GILISSEN, 2001, p. 214 citado por RANGEL, 2009, p. 41).

Guilherme de Souza Nucci relata que o início do Tribunal do Júri com suas

características atuais originaram-se:

[...] na Magna Carta, da Inglaterra, de 1215. Sabe-se, por certo, que o mundo já conhecia o júri antes disso. Na Palestina, havia o Tribunal dos Vinte e Três nas vilas em que a população fosse superior a 120 famílias. Tais Cortes conheciam a julgavam processos criminais relacionados a crimes puníveis com a pena de morte. Os membros eram escolhidos dentre os padres, levitas e principais chefes de famílias de Israel (2008, pg. 41).

Pérsia, Roma, Grécia, França, Índia, China, e tantos outros países citados

por autores, onde se afirmam que foi o berço do histórico nascimento do Tribunal do

Júri.

Paulo Roberto Leite Ventura acerca do tema na antiguidade:

A instituição do Júri existe desde os primórdios da humanidade e, se pesquisarmos na história, iremos encontrar na Grécia os heliastas que presididos por um magistrado, decidiam de fato e de direito, pois em Atenas, a Justiça se administrava por meio dos tribunais populares. Ao Tribunal dos Heliastas competia julgar todos os crimes, com exceção daqueles cuja apreciação devesse ser feita pelo Areópago ou Efetas.

Em Roma existiram os tribunais populares, sendo que o processo se distinguia em duas formas: a cognitio e a accusatio.

O título de glória dos heliastas, como antepassados dos jurados, é o de haverem exilado Aristides, e condenado Sócrates a beber cicuta. (1990, p. 4).

Há de destacar que o Tribunal Popular como também é chamado, teve sua

origem histórico antes de Cristo, mas para alguns doutrinadores somente teve os

moldes atuais a partir da Carta Magna, através do Rei João Sem Terra, e para o

Mestre em Direito Penal André Estefam assim escreveu:

Segundo boa parte da doutrina a origem do Tribunal do Júri remonta à Antiguidade quando na Grécia e, posteriormente, em Roma, foram criados Tribunais Populares, em que cidadãos tomavam parte na administração da Justiça. Essas, sem dúvida, são as origens remotas do instituto, que ganhou suas feições modernas com a Charta Magna Libertatum de 1215, imposta pelos lordes ingleses ao Rei João Sem Terra. A Carta Magna constitui documento histórico na evolução do Direito representando verdadeiro marco e inequívoco berço de muitas das garantias até hoje consagradas nas legislações dos diversos países do Mundo, como o

princípio do devido processo legal do contraditório do juiz natural etc. (2009, p. 9)

Em suma, os crimes cometidos na antiguidade tinham como jurados

pessoas da alta sociedade, padres, chefes de família aqueles que tinham destaque

na sociedade. Mulheres, pobres, ou mesmo aquele que não soubessem ler e

escrever de forma alguma faria parte neste tão seletivo meio de julgamento.

2.3 PUNIÇÃO

A pena imposta a um cidadão acusado nem sempre condizia com a verdade

ou ao crime que indagava no seu cometimento.

Nesta versão, é o entendimento de Marcio Alves da Fonseca,

Inicialmente, a forma do suplício permite incluí-lo no interior de um cerimonial judiciário que deve descobrir a verdade de um crime. Em vez de ser entendido como o mero efeito de uma infração cuja verdade já se encontra demonstrado, o suplício constitui-se em um momento no interior de um procedimento mais geral de descoberta da verdade de uma infração penal. Ele era parte de uma estrutura judiciária que realizava a pesquisa da verdade de um crime, normalmente segundo uma forma secreta, em que as acusações, as imputações, as provas e os depoimentos não eram necessariamente conhecidos pelo acusado. (2002, p. 125/126).

Como exemplo toma-se o período teocrático, onde a justificativa plausível

que se davam as penas que poderiam ocasionar a morte do acusado, quase sempre

se fazia em nome de Deus. O medo imposto a todos os cidadãos era o meio mais

eficiente de controlar a sociedade, criando mitos, deuses rigorosos no intuito de

manter o povo sob as rédeas de um poder dominador.

As discussões quando chegavam aos órgãos competentes para que se

aplicasse uma punição, quase sempre obtinha uma obscuridade para que se

punisse de forma a satisfação de uma sociedade marginalizada onde os crimes de

assassinato seriam puníveis com a pena de morte na maioria das vezes ou ainda

mutilações para que o acusado ficasse marcado e toda sociedade o excluísse.

Marcio Alves da Fonseca, acerca da punição,

[...] deve ser entendida no contexto de um jogo múltiplo de interesses e forças, em que muitas vezes legalidade e ilegalidade não se opõem no plano efetivo das práticas sociais aceitas. (2002, p. 133)

“Aí da mulher adúltera!” A Bíblia menciona que na época de Jesus Cristo uma

mulher foi pega em adultério e foram até Jesus para que ele a condenasse, todavia

Jesus em sua infinita sabedoria foi um verdadeiro advogado.

Enquanto faziam as acusações e explicam que naquele país o adultério era

punido com a morte, ele manteve o mais absoluto silêncio, em nada questionando,

mas os “julgadores” queriam ouvir uma condenação à morte como assim o faziam na

época.

No entanto a sabedoria de um advogado prevalece sobre a mediocridade

daqueles que anseiam por vingança e Jesus em sua mansidão apenas responde

“que aquele que não tiver pecados que atire a primeira pedra,“ um a um desistiram

da acusação.

Denota-se que muitas vezes a sentença era premiada àqueles que não

tivessem um bom advogado.

Porém ter um advogado não era para todos, tornando assim penalizado

duplamente, pois se o réu não tivesse conhecimento de lei, a probabilidade de uma

punição seria maior.

Hoje em nosso ordenamento aquele que não tiver possibilidades o Estado

indicará o advogado dativo, justamente para que não obtenha uma sentença sem ao

menos o acusado ter chance de defesa.

Os Ordálios, na época em que os crimes tiveram as punições mais severas,

eram praticados de forma que toda sociedade participava assistindo fazendo um

espetáculo na praça pública exemplos clássicos dessas sentenças eram colocar o

réu com a cabeça submersa em água, se sobrevivesse era considerado inocente, da

mesma feita, passar por brasas ardentes, amarrar o condenado pelos pulsos e

tornozelos em cavalos onde iriam arrancar em partes, outros meios ainda, como

forma de punição eram jogar óleo fervendo onde o mais interessante nestes shows

de horrores era que se o condenado não gritasse e não morresse ele seria

considerado realmente inocente, caso contrário dizia-se que o acusado realmente

era culpado.

Muitas vezes aqueles que deveriam defender eram os primeiros a punir,

exemplo da Igreja Católica que condenava aqueles que tivessem idéias que

divergissem a opinião dos padres.

Caça as bruxas, como eram denominadas mulheres que tinham voz entre a

sociedade, eram condenadas por um grupo de interessados e ali executadas muitas

vezes queimadas ou crucificadas de cabeça para baixo ou ainda decapitadas, um

verdadeiro modo de condenar sem direito a defesa, bastava apenas contrariar

aqueles que detinham o poder.

2.3.1 Punição no Brasil, para os crimes julgados no Tribunal

No Brasil não permite a pena de morte e a pena máxima aplicável é a

Restritiva de Liberdade, variando o tempo de reclusão.

Questiona-se se é a pena mais favorável ou deveríamos adotar o sistema

como de países que tem a pena de morte como punição máxima ou a pena de

prisão perpétua.

A pena máxima imputada ao condenado é de 30 anos para o cumprimento,

porém muitas vezes escutamos o Juiz de Direito sentenciando o réu com uma pena

superior.

Nos Estados Unidos, houve um caso em que o réu acusado de dezoito

estupros foi condenado a onze mil anos de prisão, no Brasil por mais que

alcançasse essa pena como mencionado acima, não será superior a 30 anos,

portanto, independente da quantidade de crimes cometido o acusado depois do

trânsito em julgado, será beneficiado pela nossa lei, cumprindo a pena estabelecida

pelo nosso ordenamento jurídico.

2.4 DIREITO COMPARADO

Para termos uma noção se a lei aplicável em nosso país corresponde a

nossas expectativas, o ideal é fazer a comparação.

Desta forma, ter-se-á uma base concreta para aprofundar o assunto

futuramente.

2.4.1 Estados Unidos

Cada país tem suas peculiaridades, a exemplo dos EUA, o corpo de jurados,

tomam suas decisões de forma que todos terão o mesmo veredicto, não existe

empate ou três votos a quatro, é obrigatório que todos tenham a mesma intenção,

ou seja, a unanimidade dos votos para obtenção de uma absolvição ou condenação

do acusado.

Há doutrinadores que afirmam que este é o melhor método de democracia,

pois se apenas um dos jurados não se convencer e for contra a decisão dos outros

jurados ficaram na sala discutindo até o seu convencimento ou o convencimento do

restante dos jurados mudando assim de opinião.

Paulo Rangel define de forma perspicaz como veremos a seguir:

A decisão, no júri americano, portanto, em regra, não só é unânime, assim como, principalmente, deve ser discutida entre os integrantes do corpo de jurados, pois é fruto do exercício da cidadania que simboliza e encarna a participação popular nas decisões judiciais. Não há como exercer cidadania e direito ao voto (no sentido de condenar ou absolver o indivíduo) senão por meio do debate, do diálogo, sem descuidar a ética no exercício do poder. (2009, p.49).

As críticas são para todos os lados, como inframencionado, indaga-se se há

mais democracia neste tipo de Tribunal do Júri em que usa-se de política para que o

candidato que for mais votado será o juiz e julgará os casos do tribunal ou aquele

que instituído de forma em que há a incomunicabilidade total dos jurados é que

realmente tem predominância, onde o juiz togado precisa ser concursado para

cumprir sua função de magistrado.

Guilherme de Souza Nucci preleciona da seguinte forma, vejamos:

[...] os Estados Unidos, o júri é, de fato, uma garantia individual material. A razão é simples: muitos magistrados são eleitos pelo povo. Ora, como ser, verdadeiramente, imparcial, quando há uma campanha eleitoral por trás? Como pode o juiz Fulano julgar o réu Beltrano sabendo que este apoiou seu oponente na eleição para ocupar o cargo de magistrado daquela Comarca? Por isso, Beltrano não será julgado por Fulano, mas invocará o tribunal imparcial para tanto: o Tribunal do Júri. Adquire a instituição o status de garantia fundamental material. Sem ela, não haveria justiça imparcial e esta, sim, é exigência internacionalmente reclamada por nações

democráticas. (2008, p. 39).

Vislumbra-se uma versão democrática fatidicamente em nosso planeta, onde

acostumados a obter decisões de todas as formas e meios de adquiri-los,

inegavelmente observou-se que criaram e recriaram modelos, porém cada país o

torna e demonstra a diversidade de sua democracia em relação à justiça que se

busca através da sentença proferida pelo juiz decorrente da decisão dos jurados

fazendo sua própria trajetória no tempo e no espaço.

2.4.2 Inglaterra

A Inglaterra, considerada por muitos o berço do início do Tribunal do Júri,

vem sofrendo inúmeras modificações decorrentes de uma modernidade jurídica, em

que os crimes que antes julgados pelo júri, toma novos rumos em que não há

espaço para que os jurados decidam pequenos delitos.

Todavia crimes como homicídio e estupro entre outros, ainda são de

responsabilidade do Tribunal do Júri, cabendo ao Juiz de Direito o encaminhamento

desses crimes ao júri.

Guilherme de Souza Nucci, assim colaciona:

Na Inglaterra, o júri ainda é figura central de justiça, porque sempre foi o sustentáculo da liberdade e dos direitos individuais, embora, efetivamente, o seu uso atual restrinja-se a 3% de todos os julgamentos criminais. A diminuição gradual teve início em 1967, quando o veredicto unânime para a condenação deixou de ser exigido e, através de uma lei de 1977, várias infrações penais foram reclassificadas, de modo a impedir que os acusados exigissem, para casos, o julgamento pelo júri. (1999, p. 64).

Outra mudança significativa é que o voto antes unânime hoje pode ser por

maioria, exemplo, veredicto de dez votos contra dois ou dez votos contra um, serão

aceitos.

Há uma demora para realização dos trabalhos no tribunal, causando

prejuízos para uns e favorecendo para outros. Salienta-se que criminosos

profissionais conseguem a absolvição decorrente do jurado ser influenciado.

O cidadão para compor a tribuna precisa preencher os requisitos tais como:

residir ao menos em cinco anos após a idade de 13 anos e ser maior que 18 e

menor que 70 anos.

Guilherme de Souza Nucci dispõe sobre o procedimento dos debates e

votação:

O procedimento dos debates e votação ocorre em sala secreta e uma das razões pelas quais o julgamento é reservado é evitar que irregularidades nesse processo possam ser usadas pelas partes para da sustentação a um recurso. A partir da edição de uma lei de 1981, os jurados estão proibidos de revelar o que ocorreu na sala secreta, após o julgamento, nem podendo nem mesmo dar declarações a imprensa. Infringir essa norma é considerado crime de desobediência, com pesadas multas. (1999, p. 65/66).

Conquanto, a incomunicabilidade na sala secreta é causa de recurso utilizado

por advogados que favorece o réu, para outros é de forma negativa, criando também

neste país divergências entre se os doutrinadores.

2.4.3 Escócia

Na Escócia, o veredicto é por maioria e não unânime.

Um dos benefícios ou malefícios como alguns argumentam, é que o réu não

pode exigir ser julgado pelo júri.

Assim preconiza Guilherme de Souza Nucci:

[...] réu não tem direito de exigir um julgamento pelo júri. A decisão de encaminhá-lo ao tribunal popular é sempre da acusação e depende da gravidade do delito, dos antecedentes do acusado e do interesse público. O sistema judiciário escocês possui acusações produzidas por órgãos públicos, de modo que é muito raro o particular chamar a si esse ônus. O júri, quando em funcionamento, apresenta algumas diferenças básicas do sistema anglo-americano: o Conselho de Sentença é formado por 15 jurados, ao invés de 12; não há discurso de abertura, formulando pelas partes, expondo aos julgadores as suas pretensões; o primeiro momento processual é destinado à colheita da prova acusatória; não existem o

procedimento denominado voir dire, para a escolha dos jurados. Há, também, três situações particulares, concernentes aos direitos humanos: a) deve haver a chamada “confirmação da prova”; b) existe um terceiro tipo de veredicto, que é o “não provado”, além dos tradicionais “culpado” e “não culpado”; c) há possibilidade de ser proferido um veredicto por maioria e não por unanimidade. (1999, p. 66/67).

Os votos dos jurados precisam ser por maioria e não por unanimidade,

também é vedado à publicidade para que não se influencie os jurados em suas

decisões.

Na Escócia há divergências na questão de “confirmação da prova”, em que,

por exemplo, para a oitiva de testemunha ter validade é obrigatório que pelo menos

duas testemunhas tenham visto o mesmo crime tornando difícil a comprovação do

crime por testemunhas, sendo que nem sempre, tem-se duas pessoas presenciando

o crime, ocorrendo tal fato, o réu será absolvido por falta de provas.

Guilherme de Souza Nucci comenta a respeito:

Quanto ao veredicto “não provado”, é uma decisão absolutória e o acusado não pode ser julgado novamente pelo mesmo fato. Significa que a acusação falhou ao tentar provar a culpa do réu; logo, não há provas para afirmar que o acusado é culpado, mas também inexistem evidências de que é inocente. É o equivalente à “absolvição por falta de provas” do sistema brasileiro. (1999, p. 67).

Desta feita, o criminoso de certa forma acaba beneficiando-se.

2.5 HISTÓRICO NO BRASIL

Tribunal do Júri teve diversas alterações na lei referente ao nosso país.

Seu início no Brasil foi com a Lei datada em 18 de junho de 1822, pelo seu

surgimento que julgava os crimes de imprensa no início e após alguns crimes na

área cível e criminal até chegar ao nosso atual rito do tribunal.

Somente os grandes pensadores, pessoas inteligentes eram escolhidas para

participar no júri.

Em 2008, a lei 11.689/2008, entrou em vigor e até a presente data não houve

alterações.

André Estefam retrata o histórico do tribunal no Brasil:

O primeiro diploma brasileiro a tratar do Tribunal do Júri foi a Lei de 18 de junho de 1822, a qual determinou sua competência para o julgamento dos crimes de imprensa. Dois anos depois, nossa primeira Constituição o previu em seus arts. 151 e 152: foram previstos em nossa Constituição Federal. Art. 151. O Poder Judicial é independente e será composto de juízes e jurados os quais terão lugar assim no cível como no crime nos casos e pelo modo que os Códigos determinarem. Art. 152. Os jurados pronunciam sobre o fato e os juízes aplicam a lei. A Constituição Republicana de 1891 também dedicou dispositivo a respeito do assunto dispondo que era “mantida a instituição do Júri”. O singelo dispositivo constitucional inserido no capítulo dos direito e garantias individuais do cidadão deu ensejo a uma série de discussões doutrinárias pois muitos defendiam que a lei tinha liberdade para dar ao Tribunal Popular feições que pretendesse, ao passo que outros afirmavam que “manter” a instituição significava incorporar todas as suas principais regras então existentes. A Constituição de 1934 previu, nos termos da anterior, o Júri, porém voltando a tratá-la no capítulo destinado ao Poder Judiciário. Em 1937, a instituição sofreu duro golpe, pois foi suprimida em nível constitucional. No ano seguinte, por força do Dec.-lei n. 167/38, tornou-se possível que o Tribunal que “não encontrasse nenhum apoio nos autos”. Surgia o chamado período negro do Tribunal do Júri, em virtude da supressão da soberania dos veredictos. Tal decreto-lei vigorou somente até a Constitucional de 1946, que conferiu novamente status de garantia individual à instituição, assegurando-lhe a soberania dos veredictos. O mesmo se viu no Texto Constitucional de 1967 (exceção feita à soberania dos veredictos, não prevista no Texto Maior), com relação da EC n. 1/69, que assegurou ao Tribunal Popular, outros princípios, mantidos pela Constituição vigente [...]. (2009, p. 9/11)

Além dessas modificações, temos mais um projeto de lei que está tramitando,

onde aparentemente haverá novas modificações.

3 JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI

3.1 DO ALISTAMENTO DOS JURADOS

O magistrado terá a difícil missão de angariar cidadãos para compor a lista

de jurados onde não é fácil descobrir a fundo quem é pessoa idônea.

Para Francisco Fernandes, Celso Pedro Luft, F. Marques Guimarães, tem a

palavra idôneo com o seguinte significado: “Apto; capaz; que tem condições para

bem desempenhar a certos cargos” e ainda idoneidade: “Qualidade do que é idôneo;

competência, capacidade”. (FERNANDES Francisco, LUFT Celso Pedro,

GUIMARÃES Marques, p. s/ nº).

Há quem diga que qualquer pessoa do povo com ilibada reputação, ou seja,

com notória idoneidade pode e deve alistar-se na lista de jurados. Desta feita, é bem

verdade que deveria haver uma conscientização de cada cidadão em relação a

participar de nossa sociedade, contribuindo com sua boa vontade, pois a deficiência

no número de jurados causa ao juiz uma difícil missão, a de não repetir jurados,

mesmo porque nossa lei assim o exige.

Guilherme de Souza Nucci se refere da seguinte forma:

A apuração da notória idoneidade (aptidão manifesta ou competência publicamente reconhecida) não deixa de ser, na prática e como regra uma utopia. Especialmente em grandes centros urbanos, torna-se humanamente impossível que o juiz atuante no Tribunal do Júri, necessitando do alistamento de inúmeros jurados, consiga ter conhecimento pessoal suficiente de cada um dos que chamados. Aliás, nem mesmo em Comarcas do interior, salvo em pequenas comunidades, é viável provocar o alistamento de pessoas notoriamente capacitadas para servir o júri. Por isso, tem-se disseminado o método aleatório, com busca em cartórios eleitorais e listas formuladas de maneira fortuita, como já mencionado anteriormente. A única cautela que se exige é a checagem do nome do jurado junto aos órgãos competente, ao menos para se apurar se não antecedentes criminais. (2008, p. 124).

Consoante a democracia albergada em nosso país, para ser um jurado faz

com que qualquer pessoa interessada possa candidatar-se/alistar-se para o cargo

proposto de jurado, não há obrigatoriedade em ter conhecimento jurídico, não há

preocupação se o cidadão tem profissão, se trabalha ou se está desempregado, se

é homem ou mulher, se mora na favela ou no centro das metrópoles, se é

evangélico, católico ou ateu, não existe discriminação para com o alistado, precisa

apenas preencher os requisitos.

Como preleciona James Tubenchlack:

Analogicamente, a lista ideal de jurados será aquela construída com observância desses aspectos, conglobando de forma eqüitativa, homens e mulheres, brancos e negros, jovens e idosos, católicos, judeus, protestantes, espíritas e ateus, ricos e pobres, cultos e incultos, metropolitanos, insubordinados e camponeses e assim por diante. (1997, p. 107).

Divergem doutrinadores quando dos requisitos para ser jurado, haja vista que

não se exige escolaridade, pois o candidato pode ser universitário ou apenas saber

ler e escrever. Desta feita, questiona-se se os jurados não deveriam ser somente

pessoas com conhecimento jurídico, tais como estudantes de direito, professores da

área, ou somente pessoas que passaram pela escola de Direito, ou ter grau de

instrução que faça referências a tal conhecimento.

Argumenta-se em como poderia um cidadão semi-analfabeto ler o processo e

começar entender o que está nos autos.

Desta forma comenta Guilherme de Souza Nucci:

Não é possível que o jurado analfabeto consulte os autos do processo e tome conhecimento das provas nele encartadas, por sua própria conta, sem quebrar a incomunicabilidade. Por isso, é preciso interpretar com cautela a proibição feita pelo art.436, §1º, do CPP, no sentido de que não podem ser excluídos os cidadãos em razão de grau de instrução. É evidente que podem ser afastados do serviço do júri os analfabetos, pois nenhum grau de instrução possuem. (2008, p. 124).

Todavia a lei é bem específica: “todos são iguais perante a lei,” conforme

preceitua o art. 5º, da Constituição Federal.

Contudo entende-se a crítica destes doutrinadores, resiste justamente na

preocupação de que os crimes que serão julgados por esses jurados que

geralmente não tem nenhum conhecimento jurídico e serão os juízes de crimes que

causa revolta e comoção humana ou até muitas vezes o repúdio moral de cada

julgador e cidadão presente ao julgamento, tornando o jurado um “condenador” sem

querer ouvir a defesa do réu, formando antecipadamente uma convicção de que o

acusado é culpado, onde os jurados muitas vezes pensam em fazer justiça com as

próprias mãos.

Em suma, indaga-se se essa falta de conhecimento não cria uma

insegurança jurídica capaz de prejudicar a paz social.

Guilherme de Souza Nucci pensa da seguinte forma:

Por experiência pessoal, verificamos que os jurados mais preparados intelectualmente sempre tiveram maior disposição em captar a essência das teses jurídicas, embora fossem leigos, realizando julgamentos mais próximos à letra da lei. Os jurados incultos tinham a tendência de abstrair as teses e julgar o ser humano, tal como ele se apresentava. Ilustrando, o jurado de melhor nível intelectual esforçava-se a entender o significado de princípios constitucionais fundamentais, como a presunção de inocência ou o direito ao silêncio. Outro, mais limitado, com menor instrução, apresentava a tendência de levar em consideração os antecedentes do acusado, além de se filiar ao entendimento de que quem cala consente, desprezando, pois, o direito constitucional, que todos possuem, de não produzir prova contra si mesmo. (2008, p. 127).

Dentre as preocupações do juiz também deverá observar o número de

alistados, devendo convocar anualmente cidadãos que estão dentro dos requisitos.

O art. 425 CPP, colaciona o número de cidadão que deve ser alistado em

cada Comarca, “verbis”:

Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor população.

O legislador preocupou-se em não repetir os jurados dando ao juiz da

Comarca que assim o desejar o poder para aumentar o número de cidadãos para

que se faça uma lista de suplentes, conforme art. 425, § 1º, CPP,

§ 1o Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o número de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas mencionadas na parte final do § 3o do art. 426 deste Código.

Para suprir essa deficiência o juiz poderá:

§ 2o O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro, entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as condições para exercer a função de jurado (NR). (Artigo 425 CPP).

No caput do artigo menciona o número mínimo determinado para alistamento

dos jurados, mas o juiz poderá manter um cadastro de suplentes (art. 425, § 1º).

Portanto há de se observar a extrema dificuldade que o juiz togado encontra para

manter os trabalhos com o número de pessoas, exigidos em lei, já que a quantidade

mínima estabelecida é referencial para cada ano.

3.2 FORMA DE ESCOLHA DOS JURADOS

Em suma, o jurado pode ser convocado pelo juiz ou alistar-se, quando houver

interesse, sendo que os nomes de todos alistados estarão juntos no dia do sorteio,

onde o juiz sorteará 25 pessoas para participar da escolha de 7 jurados que serão

escolhidos pelo advogado de defesa e pelo promotor para compor a tribuna,

podendo excluir 3 jurados cada parte, sem motivar a recusa.

André Estefam, assim nos ensina:

Cabe ao Juiz Presidente recrutar cidadãos (só brasileiros, natos ou naturalizados, no gozo dos direitos políticos), maiores de 18 anos (os maiores de 70 são isentos) e de notória idoneidade (art.436, caput). O código de Processo Penal não exige mais que os jurados residam na comarca do julgamento; além disso, reduziu a idade mínima de 21 para 18 anos e aumentou a idade necessária para a isenção (60 para 70 anos). Dizia o CPP, no revogado art.439, que o Juiz Presidente deveria convocar os jurados por meio de conhecimento pessoal ou informação fidedigna, o que pouco ocorria na prática. A lei nº 11.689/2008, adaptada à realidade atual, determina que o Juiz requisitará às autoridades locais, associações de classes e de bairro, entidades associativas e culturais, instituições de ensino geral, universidade, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as condições para exercer a função de jurado,art.425,§2°, [...]. (200 9, p.24).

O Juiz informa que o cidadão que quiser participar do júri, não sendo pessoa

idônea ou não preenchendo os requisitos que a lei determina poderá de ofício

excluí-lo da lista de jurados.

3.3 A INCOMUNICABILIDADE

Uma das obrigações do jurado é a incomunicabilidade.

Diferente do Brasil, outros países têm como interesse que os jurados

conversem e cheguem a uma mesma conclusão, ou seja, que o réu seja

considerado culpado ou inocente, mas convencendo os outros jurados ou se

convencendo através de uma mesma decisão unânime, consequentemente para

alguns usando da verdadeira democracia institucional.

No Brasil, criaram-se diversos debates doutrinários a respeito do tema,

justamente para que o jurado possa usar do livre convencimento onde sua

consciência será o limite, devendo manter-se calado durante todo tempo do

julgamento, poderá conversar somente na hora das refeições, sendo no almoço,

horário do café no jantar, ou lanches que se fizer no dia (ou noite quando os

trabalhos prorrogarem noite adentro), e somente nestes momentos poderá

conversar com os outros jurados sobre qualquer coisa, não podendo em momento

algum fazer menção a respeito do julgamento.

Àqueles favoráveis, indaga que a incomunicabilidade se justifica para que um

jurado não queira induzir o outro, já que o cidadão que ali está muitas vezes (na

maioria das vezes) é leigo, não tendo nenhum conhecimento jurídico, sendo

persuadido pelo mais experto.

Caso haja a comunicação sem a devida ordem, a sentença que for proferida

pelo juiz togado, poderá ser arguida pelo advogado ou promotor sua nulidade, pelo

fato de ter quebrado uma norma.

O Art. 466 CPP, nos seus §s 1º e 2º, assim preconiza:

§ 1º O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do conselho e multa, na forma do §2°do art.436 deste c ódigo.

§ 2º A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial de justiça. (NR).

Paulo Rangel entende a incomunicabilidade da seguinte forma:

Trata-se da medida infraconstitucional que tem como escopo, na voz da doutrina tradicional, resguardar a opinião dos jurados, protegendo-a “à formação e manifestação livres e seguras, do seu convencimento pessoal, pela incomunicabilidade protegidos de eventuais envolvimentos para arregimentação de opiniões favoráveis, ou desfavoráveis, ao réu”. O objetivo, segundo Hermínio Marques Porto, é evitar a interferência de um jurado na formação de convicção de outro.

A incomunicabilidade que a lei quer assegurar diz respeito ao mérito do julgamento e tem como objetivo impedir que o jurado exteriorize sua forma de decidir e venha a influir, que favorecendo, quer prejudicando, qualquer um dos membros. (2009, p.87).

André Estefam, assim preconiza:

[...] destacam-se a incomunicabilidade dos jurados (art.466,§1.º), que impede de manifestar sua opinião sobre o caso, e a sala secreta, agora chamada de sala especial (art.485 CPP, caput), local reservado, onde os jurados se reúnem para prolatar o veredicto. A modificação termológica se justifica, uma vez que a reunião em recinto fechado não é “secreta”, vale dizer, não há supressão da publicidade do ato, mas apenas restrição, pois o defensor e o representante do Ministério Público deverão acompanhar os trabalhos na sala especial, sob pena de nulidade da votação. (2009, p. 15).

Nas regras para que o cidadão pudesse participar do tribunal do júri, em

alguns aspectos foi sendo alterada com o passar das décadas, mas até hoje

prevalece que o menor imputável ou semi-imputável não poderá ser jurado.

A lei até tempos atrás dizia que o maior era aquele com mais de 21 anos,

hoje a maioridade é de 18 anos, portanto somente os maiores de 18 anos, poderão

participar do júri.

Os maiores de 70 anos estão isentos, contudo se estiverem gozando de boa

saúde mental e se o desejarem nada os impedem.

Na função de jurados estrangeiros não poderão participar, mas para aqueles

que se naturalizaram, não há impedimentos, desde que passados cinco anos de sua

naturalização.

Para brasileiros natos precisam estar gozando de seus direitos políticos para

participar na função de jurado, como preceitua o art. 436 CPP.

Não podendo esquecer que o alistado deverá ser pessoa idônea.

Esses são alguns dos requisitos pertinentes ao tema em questão.

3.4 DOS REQUISITOS PARA DISPENSA

A lei impõe que para não participar dos trabalhos realizados no júri, somente

nos casos específicos descritos no art. 437 CPP.

Porém, o doente que trouxer um atestado, a gestante que sentir-se mal,

falecimento de familiar, o surdo que não possuir aparelho auditivo, entre outros

casos que podem ocorrer, comprovando a veracidade dos fatos poderá pedir a

dispensa ao Presidente do tribunal, ou seja, para o juiz togado.

O art. 437 do CPP traz o rol de pessoas que poderão pedir a isenção,

“verbis”:

Art. 437. Estão isentos do serviço do júri: I – o Presidente da República e os Ministros de Estado; II – os Governadores e seus respectivos Secretários; III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais; IV – os Prefeitos Municipais; V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública; VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública; VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública; VIII – os militares em serviço ativo; IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa; X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.”

André Estefam salienta a respeito da jubilação:

Consideram-se jubilados os jurados que participarem de seis sessões consecutivas, contadas em dobro aquelas em que o jurado integre o Conselho de Sentença. A jubilação dá ao jurado o direito de ser excluído do Tribunal do Júri. De ver-se que tal disposição tem como base o Dec. n. 9.008/38 (art. 5º, § 3º), e a jurisprudência já entendia, antes mesmo da reforma do Júri decorrente da Lei n. 11689/2008, que ele era incompatível com o Código de Processo Penal. (2009, p.27).

3.5 JURADO PROFISSIONAL

O cidadão que preencher os requerimentos poderá alistar-se, ou ser

convocado para fazer parte do sorteio para compor a tribuna (se caso sorteado).

Todavia com a crescente demanda de crimes que são de ordem do tribunal

do júri, muitas comarcas não conseguem preencher o número de vagas suficiente

para cobrir esse déficit de cidadão, para compor a banca, tendo assim o Presidente

do Tribunal do Júri, socorre-se com os jurados que fizeram parte de anos anteriores.

Mas há também aqueles jurados chamados de profissionais que em todos os anos

está ali presente na lista, ou ainda fazendo parte do conselho de sentença.

James Tubenchlak bem ressaltou em sua obra que:

Conhecemos cidadãos Jurados que já celebraram “Bodas de Prata” com a instituição do júri, e, ao revés inúmeras pessoas ansiosas por serem convocadas, meio desiludidas, porém, em sua idéia de que somente com um daqueles “pistolões” poderiam ver seu sonho fazer-se realidade”. (1997, p. 107).

Guilherme de Souza Nucci, assim preconiza:

Menciona que a lei, anualmente, serão alistados vários jurados-Variando o número de jurados conforme a parte da comarca- para servirem durante o período de sessões do ano. Em tese, pois, o corpo de jurados deve ser substituído todo ano, pois contrário, não haverá sentido existir o art.425 do CPP, bastando que o magistrado fizesse a seleção uma única vez, prorrogando-a indefinidamente. Entretanto, na prática, muitos juizes preferiam reeditar a lista de jurados, ano após ano, terminando de estabelecer a figura do jurado profissional. Atualmente, tal prática fica vedada, pois o jurado que estiver integrando o conselho de sentença nos12 (doze) meses que antecederem a publicação da lista fica dela excluído”.(art.426, paragrafo4°,CPP), completando-s e obrigatoriamente, a lista geral (art.426, parágrafo 5°,CPP). (2008, p. 118/119).

3.6 EXERCÍCIO EFETIVO DA FUNÇÃO DE JURADO

Até tempos atrás, muitos cidadãos não queriam ser jurado de forma alguma,

muitos acreditavam que se o réu/acusado fosse condenado, poderia ele mesmo ou a

seu mando prosseguir matar ou mandar matar aquele jurado que havia participado

do Conselho de Sentença caso o condenassem.

A Máfia dominava a Itália e qualquer cidadão que julgasse e condenasse o

réu teria sua vida ceifada, fazendo com que o medo imperasse até limites ulteriores

a uma geração inteira.

Este medo começou a mudar com o auxilio da mídia, onde nas reportagens

começaram demonstrar que isso era irreal, pois o réu/acusado não teria como fazer

mal ao Conselho de Sentença ou a qualquer cidadão que dele participasse, com

isso deixando os jurados mais a vontade para decidir sobre aquele crime cometido

pelo acusado.

Ser jurado para alguns é sinônimo de “status”, de “poder” e para participar do

júri fazem qualquer coisa.

Paulo Roberto Leite Ventura define sobre o que se entende por exercício

efetivo da função de jurado, ou seja :

Exerce efetivamente a função de jurado o cidadão que, sorteado para formar o corpo de jurados de uma sessão periódica, não se isenta de servir, comparece regularmente às sessões de julgamento, embora não tenho funcionado no Conselho de Sentença, ou por não ser sorteado, ou porque as partes o recusem. (1990, p. 32).

Exercício efetivo da função de jurado, nada mais é do que o cidadão honrar

com seu compromisso com o tribunal. O respeito para com tal cidadão é

enaltecedor, devendo sempre que possível elogiá-lo perante a sociedade, pois de

todo é o seu mérito.

3.7 VANTAGEM E GARANTIA DE SER UM JURADO

Àquele que manifestar seu desejo por ser um jurado, alistando-se e

participando do Conselho de Sentença, terá algumas benesses a mais que qualquer

outro cidadão comum.

Guilherme de Souza Nucci, assim esclarece:

O efetivo exercício da função de jurado, consistente na composição do Conselho de Sentença, ao menos uma vez, constitui serviço público relevante, estabelecendo presunção de idoneidade moral, bem como assegurando prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo. Além disso, quando estiver em igualdade de condições, o jurado tem preferência nas licitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como no caso de promoção funcional ou remoção voluntária (arts. 439 e 440, CPP). (2008, p. 125).

Uma discussão entre doutrinares é para ter direito a tais benefícios

argumentasse que é necessário fazer parte do Conselho de Sentença, para outros

como, por exemplo, André Estefam, “basta fazer parte dos vinte e 25 jurados

sorteados que compõem o Tribunal do Júri; não é preciso, portanto, estar entre os

sete integrantes do Conselho de Sentença e julgar a causa.” (2008, p.30).

Pela visão de André Estefam:

Os cidadãos que exercerem efetivamente a função de jurados terão as seguintes vantagens: a) proibição do desconto dos dias de convocação nos vencimentos (art. 441); b) prisão especial por crime comum (art. 439, caput); c) presunção de idoneidade moral (art. 439, caput); d) preferência, havendo igualdade de condições nas licitações públicas e em concursos para cargos ou funções públicas e em concursos de promoção funcional ou remoção voluntária (art. 440).

Fala-se que muito dos que se alistam é funcionário público, que procura

outros meios para não ter que ir para seu trabalho habitual.

Entretanto se este é o único motivo pelo qual o servidor está alistando-se,

demonstra que este indivíduo não é pessoa de boa idoneidade, portanto, não

devendo participar do Tribunal do Júri.

3.8 DESVANTAGEM ÀQUELE QUE DESCUMPRIR AS NORMAS

Muitas pessoas acreditam que não há punição para aqueles que

descumprem com seu dever de jurado, mas Nucci deixa evidente onde os jurados

são “equiparados que são aos magistrados togados, em relação ao exercício

funcional, podem os jurados responder por concussão, corrupção, prevaricação,

além de outros delitos pertinentes aos funcionários públicos. (art. 445, CPP).”

(NUCCI, 2008, p. 125).

Outra desvantagem no caso de descumprimento é que conforme artigo 442

da Lei 11.689/2008, assim estabelece.

Ao jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer no dia marcado para a sessão ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente será aplicada multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a sua condição econômica. (NR)”

Paulo Roberto Leite Ventura preconiza a respeito dos deveres fundamentais

do jurado, quais sejam:

• Obedecer às intimações, só apresentando escusa por justa causa; • Comparecer às sessões para as quais for sorteado, não se retirando antes da formação e do compromisso do Conselho; • Declarar-se impedido, nos casos legais e de consciência; • Conservar-se incomunicável desde o momento em que se constitui Juiz, já com os assistentes, já com os funcionários do tribunal, podendo dirigir-se somente ao Presidente; • Prestar o compromisso legal com sinceridade e firmeza, mostrando compreender a alta responsabilidade que assume; • Assistir atentamente aos trabalhos do plenário e requerer o que for necessário para a elucidação do processo; • Responder, conscientemente, mediante as formalidades legais, aos quesitos propostos; • Proceder com circunspecção e critério, não deixando transparecer as impressões que sua consciência for adquirindo, nem revelar o sigilo do voto. (1990, p. 33/34)

Portanto, sabe-se o quão importante é ser um jurado do Tribunal do Júri,

onde aquele cidadão que compor a tribuna, terá benefícios, mas também obrigações

à cumprir.

3.8 DA EXCLUSÃO DO JURADO APÓS SUA PARTICIPAÇÃO

Todo aquele cidadão que cumpriu com seu dever de jurado, terminando os

trabalhos em plenário, receberá sua recompensa, qual seja o de que fez justiça em

nome da sociedade como um todo.

Guilherme de Souza Nucci expõe da seguinte forma:

A solução adotada pela reforma não nos parece positiva. Será excluído da lista geral o jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos doze meses antecedentes à publicação da mencionada lista (art. 426, § 4º, CPP). Anualmente, pois, a lista dos jurados será completada (art.426, § 5º, CPP). (2008, p. 128).

Com essa determinação o jurado profissional que em muitas Comarcas

pequenas participavam de todos os julgamentos possíveis em que eram escolhidos,

passou a ter impedimento para que se dê oportunidade a outros cidadãos alistados

para compor a tribuna.

Desta feita, espera-se que haverá um rodízio de alistados,

conseqüentemente novos jurados com pensamentos diversos, podendo absolver ou

não o réu.

3.9 DA INSTRUÇÃO EM PLENÁRIO

Após escolhidos os sete jurados, estão dispensados o restante.

Aquele que quiser assistir o Tribunal poderá permanecer sem nenhum

problema, mas não fará parte dos jurados que irão absolver ou “condenar” o réu.

Iniciado os trabalhos, farão uma espécie de juramento, onde o Juiz togado

fará perguntas aos sete jurados e eles com o braço estendido responderão.

O artigo 473, assim o estabelece:

Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.

Os jurados conforme art. 474, § 2o “poderão formular perguntas ao ofendido

e às testemunhas, por intermédio do juiz presidente,” e se houver dúvidas poderão

“requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos

peritos, bem como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas

colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis”

(art. 473, § 3º).

O legislador preocupou-se em editar a lei justamente para que o jurado não

tenha nenhuma dúvida e mesmo antes de votar os quesitos o juiz ainda pergunta se

há alguma dúvida, e se os jurados não estiverem convictos, saneará, antes de irem

para as votações na sala secreta conforme expressa o art. 480 CPP:

A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado. § 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos.

A intenção é que, não se paire dúvidas, pois o jurado julga os fatos e poderá

ser influenciado por sua consciência e com isso pode causar grave lesividade ao

réu.

§ 2o Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à vista dos autos. § 3o Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente. (NR)

André Estefam, resumidamente em seu livro colocou as fases da instrução

em plenário da seguinte forma: “a) Declarações do ofendido; b) depoimento das

testemunhas; c) acareações, reconhecimentos ou esclarecimentos dos peritos; d)

leitura de peças; e) interrogatório do réu.” (ESTEFAM, 2009)

3.10 QUESTIONÁRIO E SUA VOTAÇÃO

Encerrada a fase de produção de provas pertinentes em plenário ou ainda a

realização dos debates o Juiz togado explicará aos jurados a forma de votação para

que não paire nenhuma dúvida.

Terminada essa fase, o juiz convidará as seguintes pessoas para que o

acompanhem até a sala secreta, quais sejam: jurados, defensor do acusado,

promotor, assistente de acusação, escrivão, oficial de justiça, (e às vezes o juiz

permite que alguns estudantes de Direito assistam para que tenham a noção de

como funciona).

Todos acomodados, mas somente os jurados sentarão ao redor da mesa

para votação, ou seja, a hora mais esperada chegou à todos, pois ao réu,

dependendo da forma em que o crime foi cometido, terá uma absolvição ou

condenação podendo ser mais branda ou pena máxima à ser cumprida (que é de 30

anos) e dependendo de como defesa e acusação desenvolveram seus trabalhos de

certa forma também serão avaliados, haja vista que o resultado se reflete na

sentença desenvolvida pelos jurados.

O juiz novamente explicará aos jurados o significado legal dos quesitos e à

eles serão entregues duas cédulas dobráveis (isto para que os outros jurados não

possam ver a resposta do colega de tribuna), uma conterá a palavra SIM e outro

com um NÃO.

A cada pergunta, o jurado colocará seu voto válido (sigiloso) na primeira urna

e o voto descartado na segunda urna, onde o juiz abrirá à frente de todos os

presentes e quando completar quatro votos iguais (podendo ser o SIM ou o NÂO)

declarará o resultado.

Os quesitos têm regras a serem obedecidas, como as preconizadas por

André Estefam, quais sejam:

a) os quesitos devem ser elaborados em proposições afirmativas; b) devem ser perguntas simples e claras; c) deve haver uma série de quesitos para cada crime e um questionário para cada réu (art. 483, § 6º). A inobservância dessas regras acarreta nulidade absoluta. (2009, p. 71).

Adel El Tasse, assim preceitua:

Na forma do artigo 483 do CPP, o jurado responderá de forma sigilosa, valendo-se das cédulas contendo as expressões das cédulas contendo as expressões “sim” e “não”, em uma urna própria, aos quesitos sobre a) a materialidade do fato; b) a autoria ou participação; c) se o acusado deve ser absolvido; d) se existe causa de diminuição da pena alegada pela defesa; e) se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento da pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. (2009, p. 23).

Continua Adel El Tasse, da seguinte forma:

Os quesitos sobre as causas de diminuição, as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento da pena só serão objeto de votação caso tenha sido rejeitada a absolvição nos quesitos precedentes.

Na hipótese de haver sido sustentada a desclassificação, será, então, incluído quesito específico, votado após a afirmação da autoria ou da participação, caso seja a desclassificação a tese única. Havendo sustentação de tese de absolvição e alternativamente de desclassificação será inserido após o quesito geral absolutório. (2009, p. 23/24).

O juiz toma de todas as cautelas para que se faça um justo julgamento, em

que usando de toda diplomacia eleva os jurados a status de juízes, como assim o

requer a sociedade.

5 CONCLUSÃO

Observa-se, que quando se trata de Tribunal do Júri, várias questões são

envolvidas. O legislador procurou manter desde os primórdios da humanidade um

meio em que o cidadão idôneo participe da sociedade por meio de julgamentos onde

os crimes mais cruéis, geralmente irão recair nas mãos do jurado, chamado de juiz

leigo, para que possa decidir a vida de seus iguais.

Da presente pesquisa realizada, pode-se observar as divergências

doutrinárias, que pendem ora para que o “júri popular” seja banido de nosso

ordenamento, haja vista por dizerem os dissabores que o acusado poderá passar no

caso de uma condenação por pessoas de nenhum conhecimento jurídico na maior

parte das vezes.

Sendo que este julga com sua consciência acerca dos fatos expostos na

tribuna, sendo utilizado como método principal o sentimento de que o réu é culpado,

onde muitas vezes o bom advogado de defesa/promotor, usa de comoção humana

para condenar o acusado, causando um grau de lesividade para este cidadão em

que poderá ficar recluso durante até trinta anos de sua vida.

Por outro viés, questiona-se que a democracia está sendo feita, pois qual

melhor pessoa a julgar que a própria sociedade.

Salienta-se que o juiz togado apenas aplicaria a lei de forma a causar

prejuízos ao réu, observe-se que o juiz leigo não tem obrigação de ter o

conhecimento jurídico necessário para que se absolva ou condene o acusado, mas

o juiz togado deverá ser imparcial, aplicando estritamente a lei, onde para alguns

advogados seria favorável já que aquele que está sentado na cadeira sendo

acusado, nem sempre cometeu apenas um crime, tornando-se reincidente e com

isso não devendo preocupar-se já que a lei impõe que um crime não pode influenciar

na sentença do outro crime, fazendo com que se aplique a lei racional e não a

consciência moral.

O presente trabalho procurou atender aos requisitos básicos de compreensão

para estudos ensejados por uma monografia, no caso em tela demonstra que as

duas versões para ser um juiz são difíceis e que o jurado não .precisa fundamentar

sua decisão.

No caso do juiz togado além dos trabalhos normais dentro do fórum criminal

deverá preocupar-se em angariar cidadãos da sociedade que preencham os

requisitos impostos por lei. No caso do juiz leigo que muitas vezes tem medo que

sua decisão possa causar perseguição e ou morte no caso de uma condenação de

criminosos perigosos, dificultando assim na hora de responder os quesitos que se

fará na sala secreta.

Pode-se dizer que o tema continuará a ser polêmico, como assim o é desde a

antiguidade verificada nos fatos históricos. Não se pode dizer que o assunto foi

esgotado, pois, trata-se de uma questão muita discutida nos tribunais, e que

dependem muito do entendimento de cada caso.

Desta feita, conclui-se o trabalho de estudos referentes aos “JURADOS E

TRIBUNAL DO JÚRI”.

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