monografia final - jocelio menezes
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO, ATURIA, CONTABILIDADE
E SECRETARIADO EXECUTIVO (FEAACS)
DEPARTAMENTO DE TEORIA ECONMICA
CURSO DE CINCIAS ECONMICAS
JOS JOCELIO MENEZES FILHO
OS EXEMPLOS DE LONDRES E SO PAULO COMO EVIDNCIA PARA
UMA POLTICA DE RESTRIO VEICULAR EM FORTALEZA
FORTALEZA
2013
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JOS JOCELIO MENEZES FILHO
OS EXEMPLOS DE LONDRES E SO PAULO COMO EVIDNCIA PARA UMA
POLTICA DE RESTRIO VEICULAR EM FORTALEZA
Monografia apresentada Faculdade de
Economia, Administrao, Aturia,
Contabilidade e Secretariado Executivo, como
requisito parcial para a obteno do Ttulo de
Bacharel em Cincias Econmicas.
Orientador: Prof. Marcelo de Castro Callado
FORTALEZA - CE
2013
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao
Universidade Federal do Cear
Biblioteca da Faculdade de Economia, Administrao, Aturia e Contabilidade
M511e Menezes Filho, Jos Jocelio.
Os exemplos de Londres e So Paulo como evidncia para uma poltica de restrio veicular
em Fortaleza / Jos Jocelio Menezes Filho 2013. 87 f.; il.; enc.; 30 cm.
Monografia (graduao) Universidade Federal do Cear, Faculdade de Economia, Administrao, Aturia e Contabilidade, Curso de Cincias Econmicas, Fortaleza, 2013.
Orientao: Prof. Dr. Marcelo de Castro Callado.
1.Trnsito urbano - Fortaleza 2.Trnsito - legislao 3.Polticas pblicas I. Ttulo
CDD 330
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JOS JOCELIO MENEZES FILHO
OS EXEMPLOS DE LONDRES E SO PAULO COMO EVIDNCIA PARA UMA
POLTICA DE RESTRIO VEICULAR EM FORTALEZA
Esta monografia foi submetida Coordenao do Curso de Cincias Econmicas,
como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Bacharel em Cincias
Econmicas, outorgado pela Universidade Federal do Cear UFC, e encontra-se
disposio dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.
A citao de qualquer trecho desta monografia permitida, desde que feita de acordo
com as normas de tica cientfica.
Monografia apresentada Faculdade de
Economia, Administrao, Aturia,
Contabilidade e Secretariado Executivo, como
requisito parcial para a obteno do Ttulo de
Bacharel em Cincias Econmicas.
Aprovada em: ____/____/______.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Marcelo de Castro Callado (Orientador)
Universidade Federal do Cear (UFC)
________________________________________________
Prof. Ricardo Antnio de Castro Pereira
Universidade Federal do Cear (UFC)
________________________________________________
Prof. Sandra Maria dos Santos
Universidade Federal do Cear (UFC)
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AGRADECIMENTOS
Agradeo, em primeiro lugar, a Deus, por ter me concebido fora de vontade,
coragem e dedicao, na concluso deste e de muitos outros desafios que esto por vir.
Aos meus pais, Solange e Joclio, que mesmo morando em outra cidade,
motivaram-me sempre e tiveram toda a pacincia necessria para comigo. Sem o apoio
financeiro e, claro, o amor e a confiana demonstrados, nada disso seria possvel.
Ao meu orientador, Professor Marcelo Callado, por ter cultivado a ideia deste
trabalho e incentivado a sua realizao. Grande parte de nosso bom relacionamento se deve
sua pacincia e disposio em ajudar seus alunos. Seu acompanhamento e suas orientaes
foram fundamentais.
Aos Professores Ricardo Pereira e Sandra, por aceitarem fazer parte da banca
examinadora deste trabalho de concluso de curso.
minha irm, Joana Darc, a quem sempre espero servir de espelho para a vida.
O seu interesse pelos estudos muito me felicita. Espero v-la em breve ingressando no Ensino
Superior e, se possvel, em uma universidade pblica.
Aos meus avs, tios e primos, por sempre acreditarem em meu potencial.
Agradecimento especial minha prima Eugnia, por sua preocupao e envolvimento direto
com os resultados deste trabalho.
minha namorada, Germana, por seu companheirismo e interesse demonstrados,
discutindo quase que diariamente comigo sobre o andamento deste trabalho. Voc uma das
pessoas que mais incentivou a conclui-lo, pode ter certeza disso.
Aos meus amigos, em especial ao Daniel Lustosa pelas colaboraes. Tambm
aos colegas de faculdade, especialmente Ariston e Edson Barreto, por compartilharem comigo
vrios momentos, desde os bons aos mais difceis.
Universidade Federal do Cear, por servir de refgio para aqueles que prezam
por uma educao de qualidade e acreditam que as instituies pblicas de ensino do pas
ainda so o melhor lugar para isso.
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Uma boa cidade no aquela onde os
cidados pobres tambm tm carro, e sim
aquela onde, inclusive, os cidados ricos usam
o transporte coletivo. (Enrique Pealosa)
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RESUMO
O trabalho em questo apresenta algumas iniciativas relacionadas busca de solues para o
problema dos congestionamentos, por meio de restrio do uso veicular, citando como
exemplos o pedgio urbano, aplicado na cidade de Londres, e o rodzio veicular, na cidade de
So Paulo. Os dados fornecidos neste estudo constam em publicaes de rgos responsveis
por gesto de trfego e de controle do transporte coletivo. Diante das experincias observadas,
realizou-se uma anlise aprofundada e desta foram retiradas informaes quanto eficincia e
viabilidade dos programas de gerenciamento de trfego exemplificados. Para isso, foram
realizados estudos de viabilidade tcnica e financeira para a implantao de um programa de
restrio circulao, assim como a anlise custo-benefcio deste. O intuito era verificar sua
eficcia, na reduo das externalidades negativas geradas pelo trnsito intenso, e propor a
implantao do mesmo como medida de gesto do trfego e planejamento urbano na cidade
de Fortaleza. O resultado revela que a adoo de tais medidas capaz de reduzir as
externalidades geradas pelo trfego nesta cidade e colaborar com a melhoria da qualidade de
vida de seus habitantes, inclusive proporcionando a gerao de investimentos para os modais
coletivos de transporte e os no motorizados. sugerida, portanto, a implantao de um
pedgio urbano como instrumento de poltica pblica a favor da mobilidade.
Palavras-chave: Restrio veicular. Externalidades. Mobilidade urbana.
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ABSTRACT
The work in question has some initiatives related to the search for solutions to the problem of
congestion by restricting vehicular use, citing as examples the congestion charge, applied to
the City of London, and vehicle rotation in the city of So Paulo. The data provided in this
study appear in publications of agencies responsible for traffic management and control of
public transport. Given the observed experiences, carried out a thorough analysis and were
removed this information on the efficiency and feasibility of traffic management programs
exemplified. For this reason, studies were carried out technical and financial feasibility for the
implementation of a program of restriction on the movement, as well as cost-benefit analysis
of this. The aim was to verify their effectiveness in reducing negative externalities generated
by heavy traffic, and propose the establishment of it as a measure of traffic management and
urban planning in the city of Fortaleza. The result shows that the adoption of such measures
can reduce the externalities generated by traffic in this city and contribute to the improvement
of the quality of life of its inhabitants, including providing investment generation for
collective modes of transport and non-motorized. Its suggested, therefore, the
implementation of a congestion pricing as an instrument of public policy for mobility.
Keywords: Traffic restriction. Externalities. Urban mobility.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 Classificao dos bens quanto rivalidade e exclusividade...................... 20
Grfico 1 A Tragdia do Uso Comum relacionada ao trfego................................... 22
Quadro 1 Principais caractersticas dos tipos de pedgio urbano.............................. 27
Figura 2 Posto de identificao eletrnica de pedgio urbano em
Singapura.................................................................................................... 29
Tabela 1 Quadro comparativo entre trs pedgios noruegueses (Dados de
2006)........................................................................................................... 30
Figura 3 Placas informando a insero na rea de cobrana do Ecopass, em
Milo.......................................................................................................... 31
Figura 4 Posto de identificao eletrnica de pedgio urbano em
Estocolmo................................................................................................... 31
Figura 5 Sinalizao referente rea do pedgio urbano de Londres...................... 33
Figura 6 rea de cobertura inicial do Congestion Charging em Londres................ 34
Figura 7 rea mxima de cobertura do Congestion Charging em Londres,
removida em 2011...................................................................................... 35
Figura 8 Trnsito em Bogot no Da sin carro em 2012....................................... 41
Quadro 2 Vantagens x desvantagens do rodzio veicular.......................................... 42
Figura 9 Mapa do centro expandido da cidade de So Paulo................................... 44
Figura 10 Placa referente ao rodzio municipal em So Paulo................................... 45
Quadro 3 Objetivos e aspectos ambientais dos pedgios urbanos............................. 47
Quadro 4 Objetivos e aspectos ambientais dos rodzios............................................ 47
Figura 11 Mapa do metr de So Paulo...................................................................... 50
Grfico 2 Avaliao dos usurios de nibus municipais na capital paulista.............. 51
Grfico 3 Evoluo da frota veicular paulistana (2008-2012)................................... 52
Grfico 4 Distribuio percentual por modais de transporte utilizados RMSP....... 53
Figura 12 Mapa do metr de Londres......................................................................... 54
Figura 13 Medida moderadora de trfego.................................................................. 56
Quadro 5 Relao habitante por automvel das capitais e de Distrito Federal
(2008)......................................................................................................... 59
Grfico 5 Histrico de evoluo da frota veicular de Fortaleza................................. 60
Quadro 6 Comparativo dos veculos registrados pelo Detran (Fortaleza)................. 61
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Figura 14 A dinmica da perda de competitividade do transporte pblico urbano
(TPU).......................................................................................................... 63
Grfico 6 IPK do transporte pblico em Fortaleza (2000-2010)................................ 65
Figura 15 Mapa do metr de Fortaleza....................................................................... 66
Grfico 7 Proporo de pessoas ocupadas de acordo com o tempo deslocamento
dirio (trajeto de ida para o trabalho)......................................................... 68
Figura 16 Elementos bsicos que compem o SINIAV............................................. 74
Quadro 7 Estimativa de arrecadao anual bruta do pedgio urbano........................ 76
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALS Area Licensing Scheme
ANTP Agncia Nacional de Transportes Pblicos
BHTRANS Belo Horizonte Transportes
BRS Bus Rapid System
BRT Bus Rapid Transit
CET Companhia de Engenharia de Trfego
CPTM Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
DENATRAN Departamento Nacional de Trnsito
DETRAN Departamento Estadual de Trnsito
EMTU/SP Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de So Paulo
ERP Eletronic Road Pricing
ETUFOR Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza
FENABRAVE Federao Nacional da Distribuio de Veculos Automotores
FGV Fundao Getlio de Vargas
Ipea Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
IPECE Instituto de Pesquisa e Estratgia Econmica do Cear
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
IPK ndice de passageiros por quilmetro
IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veculos Automotores
METROFOR Metr de Fortaleza
NTU Associao Nacional das Empresas de Transportes Urbanos
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RFID Radio-Frequency Identification
RMSP Regio Metropolitana de So Paulo
Seinfra Secretaria da Infraestrutura do Estado do Cear
SINIAV Sistema Nacional de Identificao Automtica de Veculos
SITFOR Sistema Integrado de Transportes de Fortaleza
SPTrans So Paulo Transportes
SRA Swedish Road Administration
STPC Sistema de Transporte Pblico Complementar
STTP Sistema de Transporte Pblico de Passageiros do Municpio
TfL Transport for London
TPU Transporte pblico urbano
TRANSFOR Programa de Transporte Urbano de Fortaleza
VLT Veculo leve sobre trilhos
VTPI Victoria Transport Policy Institute
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SUMRIO
1 INTRODUO........................................................................................... 14
2 A TEORIA ECONMICA SOBRE AS EXTERNALIDADES
NEGATIVAS PROVENIENTES DO TRNSITO................................. 17
2.1 O conceito de externalidades..................................................................... 18
2.2 Correo das falhas de mercado geradas pelo trfego............................ 21
2.3 Solues encontradas para A Tragdia do Uso Comum..................... 21
3 A EXPERINCIA DOS PROGRAMAS DE RESTRIO
VEICULAR PELO MUNDO.................................................................... 24
3.1 Polticas de desestmulo ao uso de automveis......................................... 24
3.1.1 Medidas fsicas............................................................................................. 24
3.1.2 Medidas regulamentares.............................................................................. 25
3.1.3 Medidas fiscais............................................................................................. 25
3.2 Pedgio urbano........................................................................................... 26
3.2.1 Caracterizao e classificao dos pedgios urbanos................................ 26
3.2.2 Contextualizao.......................................................................................... 27
3.2.3 London Congestion Charging O caso de Londres.................................. 32
3.2.3.1 Introduo.................................................................................................... 32
3.2.3.2 Objetivos....................................................................................................... 32
3.2.3.3 Caractersticas.............................................................................................. 33
3.2.3.4 Resultados..................................................................................................... 35
3.2.3.5 Lies............................................................................................................ 37
3.3 Rodzio de Veculos..................................................................................... 38
3.3.1 Operao Horrio de Pico (Rodzio) O caso de So Paulo................. 42
3.3.1.1 Introduo..................................................................................................... 42
3.3.1.2 Objetivos....................................................................................................... 44
3.3.1.3 Caractersticas.............................................................................................. 45
3.3.1.4 Resultados..................................................................................................... 46
3.4 Aspectos ambientais dos programas de restrio veicular..................... 46
3.5 Reflexes contextuais sobre So Paulo e Londres................................... 48
4 ANLISE ECONMICA DO CENRIO OBSERVADO E DOS
RESULTADOS OBTIDOS: O CASO DE FORTALEZA...................... 58
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4.1 Mercado consumidor automotivo............................................................. 58
4.1.1 Motivos para a preferncia pelo transporte individual.............................. 61
4.2 Transporte pblico coletivo....................................................................... 62
4.3 Mobilidade urbana..................................................................................... 67
4.3.1 Poltica Nacional de Mobilidade Urbana Lei n 12.587/2012................. 69
4.4 Anlises de viabilidade para um programa de restrio ao uso
veicular em Fortaleza................................................................................. 71
4.4.1 Anlise custo-benefcio................................................................................ 71
4.4.2 Viabilidade tcnica....................................................................................... 73
4.4.3 Viabilidade financeira................................................................................. 74
4.5 Consideraes finais................................................................................... 75
5 CONCLUSO............................................................................................ 78
REFERNCIAS......................................................................................... 80
ANEXO A MAPA DA REDE DO TRANSPORTE
METROPOLITANO DE SO PAULO................................................... 85
ANEXO B MAPA DE FORTALEZA POR SECRETARIAS
REGIONAIS............................................................................................... 86
ANEXO C MAPA DO PROJETO DE LINHAS PARA O METR
DE FORTALEZA AT 2025..................................................................... 87
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1 INTRODUO
O crescimento populacional registrado no perodo ps-guerra e o fenmeno da
urbanizao foram responsveis por desenvolver mais rapidamente as grandes cidades j
existentes em todo o mundo. A infraestrutura destas cidades acompanhou, com alguma
distncia, o movimento iniciado pelo crescimento populacional e construiu seus sistemas
rodovirios que se conhece hoje. A tendncia urbanizao foi um dos fatos marcantes no
conjunto das modificaes econmicas e sociais ocorridas no sculo passado, inclusive o
incremento da frota veicular, com a popularizao dos automveis e o melhoramento da
qualidade das vias pblicas.
As pessoas no esto interessadas em pagar mais taxas, dada a relativa alta carga
tributria j existente no Brasil. Porm, muitas delas concordam que o estresse causado pelo
trnsito das grandes metrpoles brasileiras tambm gera inmeros prejuzos, como um maior
desperdcio de combustvel, maior nmero de acidentes, aumento da poluio sonora e
atmosfrica, e aquele que talvez seja o pior de todos eles: o tempo desperdiado.
Se tudo o que foi falado a respeito do tema no atingisse as pessoas, no haveria
discusso, o assunto dar-se-ia por encerrado e todos ficariam felizes por no terem que pagar
mais um tributo ao governo. Acontece que essa a realidade vivenciada diariamente pela
maioria das pessoas e envolve questes que esto ligadas aos valores defendidos por cada um,
entre eles, ter um pouco mais de tempo de lazer ao invs de horas e horas desperdiadas em
engarrafamentos semanalmente.
Solues comeam a ser propostas, a fim de resolver ou pelo menos amenizar a
situao das metrpoles. A inteno a de que sejam criadas formas de desestimular o uso
excessivo dos automveis particulares, optando-se pelo sistema de transporte pblico coletivo
ou outros meios alternativos, como a bicicleta.
O exemplo mais significativo de como solucionar problemas relativos ao trnsito
das grandes metrpoles o da cidade-estado de Singapura, no sudeste asitico, que j em
1975, implantou um pedgio urbano conhecido por Area Licensing Scheme ALS (Regime
de Licenciamento de rea), cujo intuito era aumentar em 40% a frota de nibus, introduzir 70
km de faixas seletivas e estabelecer um novo sistema de transporte de massa (CMARA E
MACEDO, 2004), a fim de se evitar que os congestionamentos continuassem interrompendo
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o fluxo normal do trfego. O pedgio urbano de Singapura funciona at os dias de hoje e j
sofreu modificaes, de forma a adaptar-se s novas necessidades e realidade local.
O objetivo do presente trabalho analisar a eficcia dos programas de
gerenciamento do trfego urbano, testando a viabilidade daquele que se mostrar mais eficiente
na reduo dos congestionamentos, de modo a sugeri-lo como instrumento de poltica pblica
para a cidade de Fortaleza. Seguindo o exemplo de outras grandes cidades do mundo, como
Singapura, Oslo, Estocolmo, Milo, Jacarta, entre outras, Londres e So Paulo tambm
interferiram no direito de ir e vir de seus moradores, aplicando-lhes metodologias restritivas, a
fim de se evitar o agravamento da situao, devido ao intenso trfego de veculos. chegada
a vez de a capital cearense participar deste tipo de experincia que, pode-se afirmar, mais
cedo ou mais tarde iria tornar-se necessria. O fato da aplicao, pelas autoridades
responsveis, deste tipo de medida ocorrer independe das anlises obtidas, mas de interesse
conseguir chegar a um resultado coerente e que possua aplicabilidade para o caso em questo.
A experincia de Fortaleza, em relao s elevadas taxas do fluxo de veculos,
proporciona aos cidados uma sensao de incmodo e a dvida se haver ou no solues
daqui a alguns anos. A cidade, assim como outras tantas metrpoles brasileiras, tem
apresentado alteraes em sua configurao urbana no decorrer dos anos e, mesmo assim, os
problemas s parecem agravar-se. no sentido de mostrar que existem solues passveis de
serem aplicadas que o presente trabalho est sendo desenvolvido.
A justificativa deste trabalho baseia-se, portanto, na quase inexistncia de estudos
e iniciativas de desestmulo ao uso do transporte individual em Fortaleza, na tentativa de
reduzir os nveis de trfego atuais. Alm das cidades de Londres e So Paulo, considerar-se-
o para o estudo outros exemplos de grandes metrpoles mundiais, como poder ser
verificado na terceira seo, que viram em tais programas a nica sada vivel para seus
problemas relativos ao trnsito.
Alm do mtodo de pesquisa bibliogrfica, o trabalho em questo se utilizar da
metodologia da anlise de custo-benefcio, atravs da relao benefcio-custo, no intuito de
testar a viabilidade do projeto de implantao de um modelo de gesto do trfego, com carter
restritivo circulao veicular, em Fortaleza. Na obteno das estimativas dos nveis de
arrecadao e de capacidade de implantao e manuteno do programa, realizar-se-o as
avaliaes de viabilidade tcnica e financeira do mesmo.
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Por questes tcnicas, no ser adentrado o assunto no tocante de como ocorrer a
implantao das estruturas tecnolgicas que integraro o sistema proposto a ser adotado em
Fortaleza. Todavia, buscar-se- analisar os detalhes mais pertinentes, principalmente os de
cunho econmico, exprimindo as solues encontradas nas cidades exemplificadas, de modo a
propor as mais eficazes e que possuam adequabilidade realidade cearense.
Vale ainda salientar que este estudo no visa encerrar as discusses sobre o tema,
mas sim estimular a existncia de novos trabalhos, de modo a contribuir para uma melhor
soluo para a questo do trnsito na cidade de Fortaleza.
De forma a colaborar com o entendimento daqueles que o venham a fazer uso,
este trabalho est dividido em cinco sees, sendo esta a primeira delas, referente sua
introduo ao tema.
A segunda seo apresenta o arcabouo terico que rodeia alguns conceitos
econmicos, com destaque para o conceito de externalidade, tornando-se personagem
principal em certos momentos do trabalho. Termina-se com a discusso sobre a natureza das
vias pblicas e a existncia de A Tragdia do Uso Comum, ocasionada pelo uso
indiscriminado destas.
A terceira seo, por sua vez, responsvel por realizar uma abordagem sobre os
principais programas de gerenciamento de trfego urbano implantados pelo mundo at os dias
atuais e como se comportaram os agentes, de modo a adaptar-se a tais mudanas. Evidenciam-
se as cidades de Londres e So Paulo e suas experincias quanto existncia de programas de
restrio ao uso veicular e seus impactos. realizado um comparativo entre as duas cidades,
de modo a verificar a situao do trfego em momentos pr e ps-aplicao de seus
respectivos programas.
Na quarta seo realizado um panorama sobre a situao do trnsito na cidade
de Fortaleza. Alm disso, aplicada a metodologia de viabilidade tcnica e econmica, aps a
definio do programa de restrio veicular mais indicado para esta cidade, de modo a sugerir
sua implantao.
E, por fim, a quinta seo apresenta a concluso do trabalho, com base na
demonstrao dos resultados obtidos e a proposta de implantao de um modelo de restrio
veicular mais adequado realidade do trnsito na cidade de Fortaleza.
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2 A TEORIA ECONMICA SOBRE AS EXTERNALIDADES NEGATIVAS PROVENIENTES DO TRNSITO
A definio exata daquilo que, por natureza, possui classificao exclusiva de bem
pblico ou bem privado, vem sofrendo certas modificaes nos manuais de microeconomia.
As novas caractersticas incorporadas por alguns desses bens, advm da evoluo das
interaes entre os agentes econmicos, algumas antes mesmo inexistentes. Exemplo tpico e
que vem tomando forma na teoria econmica o caso das vias pblicas. O que, por definio,
deveria ser essencialmente um bem pblico, de certo tempo tem apresentado caractersticas
diferenciadas. Tais caractersticas so decorrentes de modificaes sofridas pelo bem, no que
diz respeito ao tratamento de solues para novos problemas que o atingem diretamente.
A restrio veicular, em vias pblicas de grandes metrpoles mundiais, uma
delas e vem se tornando uma prtica comum e quase que necessria, a fim de solucionar
problemas relacionados s externalidades negativas geradas como: a poluio atmosfrica, os
acidentes de trnsito, o uso sem precedentes dessas vias e, principalmente, as muitas horas
perdidas semanalmente em congestionamentos, pelos usurios constantes destas.
Em horrios de pico, em que o trfego de veculos nas ruas normalmente
intenso, as filas de congestionamento chegam a dezenas de quilmetros facilmente em alguns
centros urbanos. Na realizao deste trabalho, dois bons exemplos sero constantemente
citados e tero suas possveis solues como base para futuras comparaes: o pedgio urbano
utilizado na cidade de Londres e o sistema de rodzio, este aplicado na cidade de So Paulo.
Apesar de possurem objetivos iniciais distintos e adotarem, na sua realizao,
vrios mtodos no tratamento e na gesto da questo do trfego, ambas as cidades usufruem
de seus sistemas at hoje, podendo trocar experincias com outros grandes centros e servirem
de modelo para novas investidas. Os resultados acarretados obtiveram impactos sobre os
hbitos das pessoas diretamente afetadas e a maneira como elas passaram a tratar as propostas
e a adoo das medidas para se reduzir o fluxo de automveis em situaes especficas.
No menos interessante buscar compreender a ligao existente entre o
crescimento econmico e o agravamento de problemas relacionados s externalidades
negativas geradas pelo trfego, como vem acontecendo ultimamente em alguns pases a
exemplo do Brasil. Adquirir automveis visto, em algumas sociedades, o primeiro
indicativo ou mesmo o sinnimo de elevao do status social. No caso brasileiro, a recente
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expanso das classes C e D revelou no s um aumento de riqueza no pas, mas um maior
nmero de veculos circulando nas ruas e, consequentemente, o surgimento de mais
problemas, resultados destes incrementos na frota.
O crescimento econmico, por sua vez, compreendido apenas pelos indicadores
quantitativos da economia, os quais no buscam criar relaes com o bem-estar populacional.
Taylor (2002 apud TORRES, 2007, p. 1) considera os congestionamentos como um dos
principais problemas gerados pelo trfego, ao afirmar que [...] como se os
congestionamentos fossem considerados uma doena do crescimento um mal inevitvel,
um indicador da vitalidade econmica. Os seus transtornos fazem parte dos problemas da
vida na cidade grande.
2.1 O conceito de externalidades
Inicialmente, o problema parte do princpio das externalidades negativas geradas
pela utilizao indiscriminada das vias pblicas, devido falta de gesto necessria,
responsvel pelo uso desse bem.
Para uma melhor abordagem, faz-se necessrio, primeiramente, uma compreenso
do que seriam as externalidades. interessante a definio de Hunt (1981, p. 412), quando
este afirma:
Sempre que a utilidade para um indivduo no seja uma questo puramente pessoal,
individual, quer dizer, sempre que a utilidade para uma pessoa seja afetada pelo
consumo de outras pessoas (ou pela produo das firmas), estes efeitos interpessoais
so chamados de externalidades.
Tem-se, portanto, o entendimento de que uma ao privada possa gerar efeitos
colaterais que afetem outros indivduos de alguma maneira, seja gerando benefcios ou custos
aos demais.
O conceito de externalidade est atrelado a efeitos que no so repassados de
forma coerente ao mercado, ocasionando as falhas de mercado que se refletiro, muitas vezes,
em questes de interesse pblico, principalmente quando envolvem bens essencialmente
pblicos.
Para Varian (2002, p. 671), uma externalidade de consumo ocorre:
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[...] se um consumidor se preocupar diretamente com a produo ou consumo de
outro agente. Por exemplo, tenho preferncias definidas sobre meu vizinho tocar
msica alta s trs da madrugada, ou sobre a pessoa sentada a meu lado num
restaurante fumar um charuto barato ou sobre a quantidade de poluio produzida
pelos automveis de minha cidade.
O autor refere-se externalidades de consumo negativas. Elas so responsveis
por restringir ou, de alguma forma, perturbar o bem-estar dos demais agentes envolvidos.
Estes, por sua vez, estariam dispostos a pagar um preo pela no reduo de seu bem-estar,
caso este bem (poluio sonora ou atmosfrica) estivesse disponvel no mercado.
Para o caso em especfico, o que interessa principalmente demonstrar que este
tipo de externalidade gerada, por exemplo, pode estar levando as pessoas que enfrentam
congestionamentos nas grandes cidades a estarem dispostas a aceitar medidas para a reduo
dos impactos ocasionados pelo fluxo intenso de automveis nas vias pblicas. Mesmo que tais
medidas incluam o pagamento de uma taxa para dirigir em determinado permetro ou ainda
no poder utilizar seu carro por alguns dias da semana.
As vias pblicas, originalmente, possuem classificao de bem pblico. Ou seja,
so bens no rivais (o uso de um consumidor adicional no impede os demais de usufrurem o
bem) e no exclusivos (as pessoas no podem ser impedidas de utiliz-lo). Pindyck e
Rubinfeld (2010, p. 546) definem este tipo de bem como sendo [...] uma mercadoria que
pode ser disponibilizada a baixo custo para muitos consumidores, mas, assim que ela
ofertada para alguns, torna-se muito difcil evitar que outros tambm a consumam.
Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 602) mostram ainda como ocorre o uso de tais
bens. Continuam, afirmando que:
[...] para alguns bens, os consumidores adicionais no ocasionam custos.
Consideremos a utilizao de uma estrada durante um perodo de pouco trnsito.
Como a estrada j existe e no h congestionamento, o custo adicional de sua
utilizao igual a zero. Ou ento consideremos a utilizao de um farol por um
navio. Desde que o farol esteja construdo e em funcionamento, seu uso por uma
embarcao adicional no acrescentaria nada a seu custo operacional.
O diagrama abaixo responsvel por esclarecer o movimento que vem ocorrendo
na definio do conceito de vias pblicas e que motivou a presente pesquisa. O modelo que
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segue apresentado na Figura 1 apenas uma adaptao do que pode ser encontrado em alguns
manuais de microeconomia.
Figura 1 Classificao dos bens quanto rivalidade e exclusividade
RIVALIDADE
SIM NO
SIM
EXCLUSIVIDADE
NO
Fonte: Elaborada pelo prprio autor.
O que vem ocorrendo nos grandes centros urbanos o apelo para a soluo do
problema do trfego que, alm de piorar a situao do ar, tem ocasionado grandes
desperdcios de tempo com os congestionamentos, principalmente nos horrios de rush,
gerando um grande aumento nos custos sociais.
A aplicao de um programa de restrio veicular como o rodzio, por exemplo,
tende a transformar as vias pblicas, com caractersticas de recursos em comum, novamente
em bens pblicos. O pedgio urbano, com objetivos diferenciados do rodzio, tende a
transform-las em monoplios naturais, a partir do momento em que passa a cobrar pelo seu
uso. Porm, o que se visa realmente obter o resultado dessas transformaes e se estas esto
conseguindo cumprir com suas intenes inicialmente propostas, que a de reduzir um ou
mais dos tipos de externalidades que possam ser provenientes do trnsito.
A literatura afirma que os monoplios tendem a ser ineficientes, dado o fato de a
produo sempre ser inferior a quantidade tima, cobrando inclusive preos mais altos, acima
do custo marginal. Devido a perda de excedentes por parte do consumidor e do produtor,
gerado um peso morto, representado pelos custos sociais (PINDICK e RUBINFELD, 2010).
Torres (2007, p. 14) cita Vasconcelos (2001) ao afirmar que este chama a
ateno para a distino que se deve fazer entre as externalidades provocadas pelos indivduos
congestionamentos, acidentes, poluio, sobretudo e aquelas de responsabilidade do poder
pblico a organizao do ambiente construdo e os correspondentes conflitos de trfego.
BENS PRIVADOS
Vias pblicas congestionadas e com
pedgio.
MONOPLIO NATURAL
Vias pblicas no congestionadas
e com pedgio.
RECURSOS EM COMUM
Vias pblicas congestionadas e sem
pedgio.
BENS PBLICOS
Vias pblicas no congestionadas
e sem pedgio.
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21
Remete-se s falhas de mercado que, por muitas vezes, necessitam da interveno do Estado,
o qual seria o nico ator interessado em intermediar operaes desta natureza.
Do ponto de vista do trfego urbano, a sobreutilizao das modalidades de
transporte individual, e a consequente subutilizao do transporte coletivo, podem
ser caracterizadas como falha de mercado. Se, por um lado, o uso do transporte
individual gerador de externalidades negativas (poluio do ar e
congestionamento), por outro, o uso do transporte coletivo redutor destas
(GOMIDE E MORATO, 2012, p. 17).
2.2 Correo das falhas de mercado geradas pelo trfego
No intuito de corrigir as falhas de mercado, geradas pelo uso indiscriminado dos
automveis nas vias pblicas urbanas, o poder pblico dever agir objetivando a melhor
alocao dos recursos. Segundo Gomide e Morato (2011, p. 17), existem duas formas mais
usuais para se chegar a uma alocao mais eficiente dos recursos disponveis.
A primeira delas por comando e controle. Segundo os autores, este modelo de
regulao caracteriza-se por envolver o monitoramento constante do comportamento dos
agentes atingidos e consequente aplicao de punies, caso ocorra desobedincia s normas.
Equivaleria, portanto, proibio de circulao veicular, assim como a aplicada nos sistemas
de rodzio.
A segunda forma por incentivos. Novamente, segundo os autores, essa forma de
regulao almeja a mudana de comportamento dos agentes regulados para um nvel mais
prximo do desejado. Para isso, o regulador deve montar uma estrutura de incentivos de modo
que o regulado informe suas preferncias. Os pedgios urbanos funcionam desta forma
quando impem um custo financeiro adicional utilizao dos veculos. De alguma forma, o
governo est incentivando a populao ao uso do transporte coletivo ou outros menos
poluentes, como bicicletas, por exemplo. No final das contas, essa induo comportamental
gera uma mudana nas preferncias dos usurios, sem a necessidade de proibies.
2.3 Solues encontradas para A Tragdia do Uso Comum
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22
A utilizao sem precedentes dos bens pblicos leva a um caso conhecido na
teoria econmica como A Tragdia do Uso Comum. Ela se refere ao fato de que o resultado
das interaes econmicas ser ineficiente quando os direitos de propriedade no forem bem
definidos. Varian (2002) cita o exemplo de um vilarejo agrcola onde os habitantes podem
criar seu gado em um pasto comunitrio. Depois de analisar o caso em que o pasto de
propriedade privada e algum estabelece o nmero de vacas que podem ser criadas no espao
delimitado, o autor parte para o caso em que o acesso livre e irrestrito, e chega seguinte
concluso: [...] mas o que ele (habitante) deixa de considerar em seu clculo o fato de que
sua vaca reduzir a produo de leite de todas as outras. Como ele ignora o custo social de sua
compra, haver vacas em excesso no pasto comum (VARIAN, 2002, p. 689).
Adaptando para o caso em voga, as vias pblicas urbanas tambm devero
apresentar uma superlotao, isso se no houver a presena de um mecanismo que restrinja
sua utilizao. No Grfico 1, pode-se observar como se d ilustrativamente a situao em
questo.
Grfico 1 A Tragdia do Uso Comum relacionada ao trfego
Fonte: Nash (2007, p. 12)
A linha APC representa o custo mdio privado, percebido por cada um dos
usurios que decidirem trafegar pela via. A linha MC, por sua vez, representa o custo
marginal dos usurios em conjunto. A diferena existente entre as duas linhas, ou seja, c* e co,
exatamente o custo das externalidades geradas, os quais se diferenciam aps o ponto de
congestionamento fc ser atingido.
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As solues possveis para o problema A Tragdia do Uso Comum seriam duas:
ou que a propriedade passe a ser privada, afim de que algum formule as regras para o uso
eficiente da mesma; ou que se crie um sistema de leis que realizem essa funo, desde que
seja bem definido e no apresente ambiguidades (VARIAN, 2002).
Alm do que, para ser eficiente, a tarifa de congestionamento deve corresponder
ao custo externo do trfego, significando a internalizao1 da externalidade, o que eliminaria
a falha de mercado e permitiria o alcance da condio de mximo bem-estar social, conhecido
na teoria econmica pelo conceito de Eficincia ou timo de Pareto2. Mas no segundo
ponto observado por Varian (2002) em que a figura do Estado, presente nas sociedades
democrticas atuais, incorporada, com a funo de criar leis que levem a uma utilizao
racional das vias pblicas.
1 Com a aplicao da tarifa, objetiva-se garantir que o motorista assuma o custo total por suas aes.
2 Desenvolvido pelo economista italiano Vilfredo Pareto, afirma que uma situao tima no sentido de Pareto
se no for possvel melhorar a utilidade de um agente sem reduzir a utilidade dos demais agentes envolvidos
(VARIAN, 2002).
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3 A EXPERINCIA DOS PROGRAMAS DE RESTRIO VEICULAR PELO
MUNDO
A presente seo objetiva verificar as caractersticas dos principais programas de
restrio veicular existentes pelo mundo. Os modelos de gerenciamento de controle do trfego
considerados para o estudo, ou seja, os pedgios urbanos e os rodzios, so analisados
pormenorizadamente, englobando os casos das cidades de Londres e So Paulo e suas
medidas para conter as externalidades negativas geradas pelo intenso fluxo de automveis.
Aps analisar seus resultados separadamente, faz-se necessrio realizar algumas
comparaes, a fim de demonstrar a real situao em que se encaixam os centros urbanos
escolhidos como exemplo e as concluses que se podem retirar, teis criao de novos
programas de gerenciamento de trfego.
3.1 Polticas de desestmulo ao uso de automveis
Entre as polticas de desestmulo ao uso de automveis nos grandes centros
urbanos, o poder executivo pode-se utilizar de medidas formuladas em trs nveis. So eles:
medidas fsicas, regulamentares e fiscais. Vale ressaltar que tais medidas atuam
essencialmente sobre restries de circulao veicular e estacionamento (CRUZ, 2006, p. 23).
3.1.1 Medidas fsicas
Objetivam restringir circulao e estacionamento em algumas reas, com o auxlio
de barreiras fsicas ou mudanas na infraestrutura (CRUZ, 2006). Entre elas, pode-se citar:
Moderao de trfego Dar-se- conforme alteraes geomtricas realizadas na
via, atravs da construo de lombadas, sinuosidades ou mesmo de rotatrias especiais, em
alguns casos. Tais medidas reduzem a velocidade do trfego imposto na via, o que acaba por
desestimular a utilizao desta pelos motoristas.
Sinalizao Visam limitar ou restringir determinadas manobras de parada ou
estacionamento. A sinalizao pode ocorrer pelo uso de placas (vertical) ou pinturas na
prpria via (horizontal). Como exemplo, pode-se citar o fato de no poder estacionar em
determinadas ruas, visto a presena de sinalizao indicativa.
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Clulas de trfego Barreiras fsicas impedem a existncia de mais de uma
entrada em determinada rea. Tal passagem tambm servir como sada para quem adentrar
no espao delimitado. A reduo dos fluxos de passagem serve como forma de controle,
evitando o uso indiscriminado pelos motoristas.
3.1.2 Medidas regulamentares
Coexistem mediante legislao especfica. O controle e a fiscalizao ocorrem
conforme as restries previstas em tal legislao (CRUZ, 2006). So elas:
Limitao de vagas Corresponde a obrigatoriedade de existncia de vagas
especiais, destinadas a idosos ou pessoas com mobilidade reduzida (deficientes fsicos).
Restrio de horrio ou limitao de estacionamento Equivale a placas
especiais de permisso de estacionamento. Alm de simbolizarem a permisso de estacionar,
informam logo abaixo quais as condies a serem respeitadas para que seja permitido
estacionar.
Restrio de circulao Caracteriza os rodzios municipais, como os aplicados
em Cidade do Mxico, So Paulo e Bogot. Algumas imposies caractersticas so utilizadas
como, por exemplo, a definio dos dias de rodagem com base nos finais das placas dos
veculos particulares.
3.1.3 Medidas fiscais
A cobrana pela utilizao da infraestrutura viria se d atravs de taxao sobre a
circulao e o estacionamento de veculos, em determinados permetros (CRUZ, 2006).
Elevao de carga tributria sobre estacionamentos particulares O aumento
dos impostos cobrados aos estabelecimentos que funcionam como estacionamentos
particulares devero ser repassados indiretamente aos motoristas, mediante elevao dos
preos por utilizao destes. Serve como desestmulo ao uso de automveis particulares,
conforme o encarecimento dos custos transacionais finais.
Cobrana de estacionamento em vias pblicas Determinadas vias podem
fazer parte de uma nova modalidade de cobrana: pagar para estacionar, na prpria via
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pblica, est tornando-se algo comum nos grandes centros urbanos. Equivale dizer que, para
poder deixar o carro em algumas ruas da cidade, necessrio realizar pagamento antecipado,
o que d o direito de estacionar. O exemplo mais comum conhecido por estacionamento em
Zona Azul, aplicado em algumas cidades brasileiras.
Pedgio urbano Para poder ter acesso a determinados limites urbanos, o
usurio de veculo particular, que decidir realizar a viagem utilizando-se deste, dever
desembolsar uma quantia referente a utilizao do espao pblico. Possibilita diversas formas
de efetuar o pagamento: antecipado, presencial, transferncia eletrnica ou mediante registro
de cobrana, com pagamento posterior.
3.2 Pedgio urbano
Entre as medidas fiscais de desestmulo ao uso de automveis supracitadas,
encontra-se o pedgio urbano. Esta medida possui extrema importncia para o
desenvolvimento da atual pesquisa, especialmente quando classificada como programa de
gerenciamento de trfego urbano.
3.2.1 Caracterizao e classificao dos pedgios urbanos
Os pedgios urbanos, aps serem caracterizados, podem ser classificados quanto
forma ou ao tipo. No que se refere forma de aplicao das tarifas, ou seja, seu objetivo, os
pedgios podem ser de financiamento, de regulao ou ambiental (CETUR, 1994 apud
Torres, 2007, p. 50).
O pedgio de financiamento tem por finalidade gerar receitas a serem utilizadas
na expanso, manuteno ou construo de vias. No possuem o intuito de restringir o
trfego, visto que isso acarretaria reduo em suas receitas. No caso do pedgio de regulao,
sua finalidade maximizar o bem-estar social, atravs da reduo ou eliminao das
externalidades oriundas do trfego intenso. Seu foco no est voltado para a gerao de
receitas e, desse modo, poder utilizar-se de tarifas variveis (TORRES, 2007).
O pedgio ambiental, por sua vez, equivale a uma extenso do de regulao, visto
que considera no apenas a questo dos congestionamentos, mas principalmente os danos
causados por estes ao meio ambiente, seja em relao poluio atmosfrica e/ou sonora
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(TORRES, 2007). Mesmo assim, o pedgio poder ter carter estritamente ambiental, como
o caso de Milo, que ser apresentado mais adiante.
No que se refere ao tipo, os pedgios urbanos podem classificados em trs, desde
que levados em considerao na anlise, conjuntamente, sua abrangncia e forma de
aplicao. So eles: pedgio de eixo ou de concesso, pedgio de corda (cordon toll) e
pedgio de zona. Como pode ser observado abaixo, o Quadro 1 resume suas principais
caratersticas:
Quadro 1 Principais caractersticas dos tipos de pedgio urbano
Pedgio de eixo ou de
concesso
Pedgio de corda ou
cordo (Cordon toll) Pedgio de zona
Finalidade Financiamento de
infraestruturas
Controle do trfego
em uma rea
delimitada
Controle do trfego em
uma rea delimitada
Abrangncia Uma nica via expressa,
ponte ou tnel
Todas as vias no
interior do cordo
Todas as vias no interior
da zona delimitada
Fato gerador da
cobrana
Passar pelo posto de
coleta (praa de pedgio)
Cruzar o permetro
do cordo de acesso
rea restrita
Entrar, circular ou
estacionar no interior da
zona restrita
Formas de
fiscalizao e
cobrana
Manual ou automtica na
praa de pedgio
Fiscalizao
eletrnica e cobrana
automtica
Fiscalizao eletrnica e
cobrana automtica
Perodo de cobrana Todos os dias (24 h) Dias teis (manh e
tarde)
Dias teis (manh e
tarde)
Flexibilidade da
tarifa Fixa Varivel Fixa ou varivel
Eficcia na
arrecadao Alta Baixa Baixa
Eficcia na
eliminao de
congestionamentos
Baixa Alta Alta
Exemplos Ponte Rio-Niteri Singapura Londres
Fonte: Adaptado de Gomide e Morato (2011).
3.2.2 Contextualizao
A expresso pedgio urbano, apesar de no definir com exatido os objetivos dos
programas desse cunho, atualmente a mais utilizada e aceita, inclusive no meio acadmico
dos cursos de Engenharia de Trfego e Urbanismo. Tambm conhecido por congestion
charging, urban toll ou ainda congestion pricing, o pedgio urbano no uma ideia nova,
como muitas pessoas podem suspeitar, devido sua recente notoriedade na mdia.
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Segundo Lucas Junior (2009), o economista canadense William Vickrey,
considerado o pai do pedgio urbano, j propunha medidas de restrio veicular em 1952, a
fim de colaborar para uma maior fluidez do trnsito em New York. Seus esforos foram
reconhecidos e ele foi o vencedor do Prmio Nobel de Economia em 1996.
Tarifar os congestionamentos, nada mais do que uma forma de realizar a
regulao por meio de incentivos. No indica exatamente uma proibio, mas sim um
incentivo a comportar-se da forma que se desejada. Logo, mediante a taxao pela utilizao
das vias pblicas congestionadas, a contrapartida do pedgio urbano seria uma via mais livre,
que levaria o seu usurio a realizar um deslocamento mais rpido (GOMIDE E MORATO,
2011).
Na dcada de 70, duas cidades elaboraram projetos at ento inovadores, no que
diz respeito ao gerenciamento do trfego urbano, a fim de limitar o intenso fluxo de veculos
automotores, com a implantao de pedgios urbanos. Foram elas Londres, que acabou por
arquivar o projeto por aproximadamente 30 anos, e Singapura, que o implantou em pouco
tempo e obteve sucesso em relao aos seus objetivos inicialmente propostos (CMARA E
MACEDO, 2004).
A cidade-estado de Singapura foi a primeira cidade a experimentar um sistema de
gesto de trfego baseado em restrio veicular. Estima-se que cerca 45.000 veculos
trafegavam no permetro do centro urbano, no horrio matutino de pico. O projeto inicial
abrangia uma rea 7,2 km2 e com um horrio reduzido, apenas de 7:30 s 9:30, de segunda a
sbado. Logo estendeu-se s 10:15 e posteriormente passou a compreender um intervalo no
perodo do rush da tarde, conforme cita Lucas Junior (2009). Os resultados foram positivos,
com o aumento do uso do transporte pblico e consequente reduo do uso de automveis.
Segundo Cmara e Macedo (2004), o governo local registrou uma reduo de 45% do trfego
e de 25% dos acidentes de trnsito, logo aps a implementao do pedgio.
Entre as mudanas mais significativas, o pedgio passou a ser automatizado3 e
atualmente cmeras registram a entrada do veculo na rea pedagiada, que cobrar ou no a
tarifa graas a um equipamento que dever ser instalado no para-brisa dos carros. Os portais
que registram a passagem dos automveis, como o mostrado na Figura 2, ainda utilizam
radiofrequncia para identificar o uso do equipamento, inclusive um carto com crditos
3 O sistema conhecido por Eletronic Road Pricing (ERP) possibilita, inclusive, criar taxas especficas para cada
tipo de veculo, de acordo com cada situao de trfego (GOMIDE E MORATO, 2011).
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recarregvel. O horrio de cobrana, que agora compreendido de 7:30 s 19:00, tem a
determinao dos valores a serem pagos mediante vrios fatores, incluindo tipo de veculo,
local, horrio e ndices de congestionamento na regio. Com base nos dados disponibilizados
pela VTPI em 2005, Lucas Junior (2009, p. 25) discorre sobre as mudanas realizadas no
pedgio e conclui que, com o novo sistema:
[...] houve uma reduo de 24.700 carros no perodo de pico e um aumento na
velocidade em 22%. Houve tambm uma reduo de 13% no trfego total da zona
pedagiada, passando de 270.000 para 235.100 veculos/dia. Tambm foi reduzido o
nmero de carros com um nico ocupante, alm da mudana do horrio de viagens,
que passaram a ser feitas em perodos menos congestionados.
Singapura obteve sucesso com a implantao de seu sistema de restrio veicular,
visto que conseguiu uma maior conscientizao da populao em relao aos custos gerados
pelos congestionamentos, assim como alterou os hbitos de boa parte de seus usurios, o
suficiente para comprovar a eficincia do esquema, mediante as pontuais intervenes
realizadas pelas autoridades responsveis.
Figura 2 Posto de identificao eletrnica de pedgio urbano em Singapura
Fonte: http://vejasp.abril.com.br/
Assim como Singapura, outras cidades implantaram sistemas de pedgio urbano,
entre elas algumas cidades norueguesas. A primeira delas foi Bergen, j no ano de 1986.
Depois dela vieram Oslo (1990), Trondheim (1991), Kristiansand (1997), Stavanger (2001),
Namsos (2003) e Tnsberg (2004). A medida foi bem aceita pela populao e, por este
motivo, obteve sucesso em sua propagao. Porm, vale ressaltar que, alm de servir para
conter os primeiros congestionamentos, os esquemas de restrio veicular na Noruega tinham
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como principal objetivo a gerao de receitas para serem reinvestidas nos sistemas de
transporte, como a construo de novas vias. Suas funes, portanto, diferem dos demais
pedgios, visto que no objetivam inibir o trfego. Por este motivo, os pedgios noruegueses
so justificados por cobrarem taxas bem inferiores s cobradas em Londres ou Singapura, por
exemplo.
O exemplo da capital Oslo tambm interessante: a cobrana feita 24 horas
desde sua inaugurao, em qualquer dia da semana, com tarifa nica para qualquer horrio
(LUCAS JUNIOR, 2009, p. 29). Isso ocorre desde o incio devido a promessa de instalao
do pedgio para arrecadao exclusiva para as obras do sistema virio e infraestrutura dos
transportes coletivos. difundido o uso de tags nos veculos: equipamentos eletrnicos por
meio dos quais possvel identificar automaticamente o pagamento antecipado do pedgio,
evitando assim a necessidade de utilizar do pagamento manual. Em Bergen, por exemplo, a
Swedish Road Administration (SRA), agncia governamental responsvel pela administrao
e manuteno dos pedgios no pas, disponibiliza planos que equivalem a pagamentos anuais
do pedgio e que acaba por gerar um desconto no valor final desembolsado.
Tabela 1 Quadro comparativo entre trs pedgios noruegueses (Dados de 2006)
Fonte: LUCAS JUNIOR (2009).
Outros pedgios urbanos conhecidos e importantes por agregarem valor
restrio veicular imposta so os de Estocolmo e Milo. Possuem implantaes recentes (2006
e 2008, respectivamente), mas j apresentam resultados positivos. O esquema de Milo,
conhecido por Ecopass, tem o propsito de reduzir os nveis de poluio do ar no centro da
cidade e investir o valor da arrecadao no financiamento de projetos de transporte pblico e
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de outros meios no poluentes. O de Estocolmo, por sua vez, passou por votao, por meio de
um plebiscito, aps uma fase de testes com durao de 7 meses. O funcionamento definitivo
veio no incio de 2007, com a aprovao pela implantao do projeto, por parte da populao.
Segundo Domingues (2010), atualmente, 20% dos carros parou de circular pelo centro da
cidade e as emisses de gases poluentes reduziram em 14%.
Figura 3 Placas informando a insero na rea de cobrana do Ecopass, em Milo
Fonte: http://milano.corriere.it/
Figura 4 Posto de identificao eletrnica de pedgio urbano em Estocolmo
Fonte: http://agenciat1.com.br/
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3.2.3 London Congestion Charging O caso de Londres
3.2.3.1 Introduo
Segundo dados divulgados do ltimo censo realizado, em 2011, a capital do Reino
Unido contava com uma populao de 8.173.900 residentes. Atualmente, a terceira cidade
mais populosa da Unio Europeia e tambm uma das maiores densidades demogrficas do
continente. Consequentemente, o trnsito de Londres tem de tudo para ser um dos mais
caticos do mundo, mas no . Mesmo com toda sua complexidade, graas ao pedgio urbano
implantado em fevereiro 2003, Londres possui hoje um trnsito mais rpido, se comparado ao
de 10 ou 11 anos atrs. Londres hoje o melhor exemplo no que diz respeito a modelos de
restrio de uso veicular, dadas suas propores relativas demografia e importncia de seu
comrcio mundialmente conhecido. Segundo Guimares (2007), estimativas mostravam que
os veculos gastavam cerca de 4,2 minutos para percorrer a distncia de 1 km na rea que viria
a ser pedagiada, enquanto o tempo ideal deveria ser de 1,9 minutos.
Conforme observado por Cmara e Macedo (2004), o pedgio urbano de Londres
foi o primeiro entre os programas existentes a considerar a gesto de trfego como forma de
reduzir os congestionamentos e arrecadar recursos simultaneamente. Singapura, por exemplo,
intencionava reduzir os congestionamentos, porm a arrecadao era consequncia, e no um
objetivo plenamente definido. Historicamente, as taxas cobradas em Singapura sempre
apresentaram valores inferiores s de Londres.
3.2.3.2 Objetivos
Inicialmente, o pedgio urbano londrino objetivava reduzir os nveis de trfego,
na regio do centro da cidade, de algo entre 10% e 15%, assim como arrecadar recursos que
deveriam ser investidos na rede de transportes, principalmente nas modalidades nibus e
outras no motorizadas. O plano ainda inclua a reduo dos congestionamentos na rea
pedagiada entre 20% e 30%, a melhora nos servios de nibus urbano, um aumento
substancial nos nveis de confiana nas viagens realizadas com o uso de automvel e uma
distribuio de cargas e servios mais eficiente, conforme observado por Lucas Junior (2009).
Chegou-se a esse consenso aps a realizao de pesquisas de opinio pblica, para assim
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33
direcionar da melhor forma as polticas pblicas, de modo a se obter um resultado mais
adequado aos ensejos da populao.
Figura 5 Sinalizao referente rea do pedgio urbano de Londres
Fonte: http://noticias.uol.com.br/
3.2.3.3 Caractersticas
Na poca de sua implantao, os motoristas que decidissem entrar na rea coberta
pelo pedgio, no intervalo entre 7:30 e 18:30 nos dias teis, eram obrigados a pagar 5 (R$
27,00). Segundo Cmara e Macedo (2004), o permetro de 21 km, conforme pode ser
visualizado na Figura 5, equivale ao centro expandido de Londres. Desde o incio, o
monitoramento feito por meio de cmeras, entre fixas e mveis, que identificam o veculo
atravs da captao das imagens de suas placas, ocorrendo tanto na entrada, no trfego interno
e em sua sada. Um sistema retroalimentado responsvel por verificar se o pagamento foi
realizado ou no.
Novamente, Cmara e Macedo (2004) afirmam que, caso o motorista no
realizasse o pagamento entre a 0:00 do dia da viagem e a 0:00 do dia subsequente, deveria
desembolsar 10 ao invs de 5. A multa, para quem pagasse aps o prazo estipulado acima,
subiria para 80, com o envio da notificao e do boleto a ser realizado para a residncia do
infrator. Aps 28 dias, o valor passaria a ser de para 120. Em julho de 2005, o valor dirio
da taxa do pedgio foi reajustado para 8.
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Figura 6 rea de cobertura inicial do Congestion Charging em Londres
Fonte: TfL (2003).
Em 2007, novas alteraes foram feitas e a rea de cobertura foi expandida.
Atualmente o pagamento pode ser realizado via internet, bancas de jornais, estabelecimentos
comerciais, centrais de atendimento telefnico, mensagens de texto do celular, entre outros. O
horrio e os dias de cobrana tambm foram alterados e agora ocorrem entre 7:00 e 18:00,
todos os dias da semana. As multas por atraso tambm foram reajustadas e passaram a custar
100 para o dia seguinte e 150 para atraso superior a quatro semanas. Caso o pagamento
seja realizado no prazo de 14 dias, o valor de 100 da multa cai pela metade. Essa regra, por
sinal, era vlida para os valores anteriores (LUCAS JUNIOR, 2009).
Bicicletas, motocicletas, nibus, txis e servios de socorro so, por natureza,
isentos da taxao. Adicionalmente, portadores de deficincia fsica e motoristas de veculos
com nmero de lugares igual ou superiores a nove, podem conseguir registro especial que os
autorize a utilizar a rea pedagiada, sem registrarem a cobrana. E, por ltimo, veculos que
utilizem combustveis alternativos, bem menos poluentes e que se enquadrem no padro Euro
IV mximo de 0,5 g/Km de monxido de carbono emitidos tambm esto isentos. Para as
pessoas que residem na rea, um desconto de 90% no valor da taxa do pedgio concedido.
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35
As alteraes continuaram ocorrendo, devido a necessidade de novas adaptaes
ao programa. Conforme dados mais recentes foram sendo divulgados, BHTRANS (2010)
citou que, atualmente, os motoristas gastam cerca de R$ 35,00 para poderem circular no
permetro do centro expandido de Londres, no perodo que vai de 7:00 s 18:00. A entrada
livre noite e, agora, tambm nos feriados e finais de semana.
Em 2011, a zona de pedgio retornou aos seus limites originalmente propostos e o
valor do pedgio foi novamente reajustado, passando a custar 10. Isso ocorreu aps a
avaliao dos resultados e de consultorias realizadas.
Figura 7 rea mxima de cobertura do Congestion Charging em Londres, removida em
2011
Fonte: http://i-likeitalot.blogspot.com/ (2011).
3.2.3.4 Resultados
Conforme o relatrio da TfL de 2004, os resultados foram bastante positivos em
relao aos que eram esperados. Os nveis de congestionamento reduziram em torno de 30%.
Logo, com cerca de 60 a 70 mil carros a menos nas ruas de Londres, o trnsito pde fluir de
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36
forma melhor, o que elevou as velocidades mdias em 17%, passando de 14,3 km/h, antes da
existncia do pedgio, para 16,7 km/h em poucos meses aps sua implantao.
As pessoas alteraram seus hbitos de deslocamento, visto que houve um
acrscimo de 20% no nmero de viagens realizadas com bicicletas e 30%4 com o uso de
motocicletas, conforme observao de Lucas Junior (2009). Tais alteraes citadas
impactaram em uma melhor qualidade do ar, dada a reduo na emisso de poluentes, tanto na
rea pedagiada como em suas adjacncias. Acompanharam o mesmo movimento de queda, a
poluio sonora e a violncia no trnsito.
A maior demanda pelos transportes coletivos foi acompanhada pelas melhorias no
servio prestado. Ainda em 2003, observou-se um aumento de 20% na demanda pelas viagens
de nibus. Os passageiros tambm puderam usufruir de um servio mais confivel, havendo
um aumento na oferta de veculos em 23%, dados os investimentos realizados como retorno
implantao do modelo de restrio veicular. O tempo de espera foi reduzido em 30% e o
ndice de atrasos devido aos congestionamentos foi derrubado em 60%. O metr tambm
recebeu investimentos provenientes dos recursos do pedgio, assim como a criao de novas
ciclovias e ampliao das j existentes foi possibilitada (CMARA E MACEDO, 2004).
Os impactos nas externalidades geradas pelos congestionamentos foram sentidos
pela populao. Uma sensvel melhoria na qualidade de vida das pessoas que necessitavam se
deslocar ao centro de Londres, antes e depois da implantao do pedgio, foi responsvel por
uma maior aprovao por parte da populao ao programa. Muitos dos que criticaram o
sistema antes mesmo de ele existir, possivelmente, mudaram de opinio e passaram a apoi-
lo, conforme anunciado pelo ento prefeito de Londres, Ken Livingstone.
A taxa de congestionamento foi uma soluo radical para um problema de longa
data. Antes da introduo do encargo, as estradas de Londres eram obstrudas por
trfego lento e congestionamento e estavam custando 2 milhes de libras (esterlinas)
aos negcios por semana. O esquema tem feito uma grande diferena na obteno de
mobilidade em Londres novamente. Menos veculos na zona (pedagiada),
juntamente com servios de nibus melhores e mais rpidos e percursos mais
confiveis, fazem de Londres um lugar muito melhor para se trabalhar, viver e
visitar. Apesar das terrveis previses antes do lanamento do sistema, a taxa de
congestionamento revelou-se um sucesso e por isso que quase trs quartos dos
londrinos agora apoiam o programa - porque ele funciona.
Fonte: TfL (2004a, traduo nossa).
O comrcio de Londres apresentou certa reduo nas vendas, logo nos primeiros
meses da implantao do pedgio urbano. Porm, segundo especialistas, isso se deu devido a
4 Segundo Domingues (2010), esse valor j apresenta 43% de aumento.
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interdio de uma das linhas do metr que d acesso ao centro da capital inglesa. Estudos
mostram que o nmero de viagens rea pedagiada foi reduzido em apenas 6%, e que,
portanto, no haveria motivos para ocasionar perdas significativas ao comrcio da regio.
O London Congestion Charging caracteriza-se hoje como sendo altamente vivel,
econmica e financeiramente. No relatrio da TfL, referente a 2011/12, a receita lquida, entre
abril de 2011 a maro de 2012, correspondeu a 136,8 milhes, mesmo aps a deciso do
prefeito Boris Johnson em retornar rea originalmente proposta de taxao. A situao
superavitria possibilita que as melhorias no transporte pblico no parem de ser realizadas.
3.2.3.5 Lies
MORATO (2011) cita SANTOS E FRASER (2006) para ressaltar algumas lies,
retiradas da experincia obtida por Londres, e que devem se levar em conta antes de implantar
uma tarifa de congestionamento.
i) Informar e ouvir o pblico de extrema importncia manter o pblico
informado das intenes de implantao, referente a datas e valores estipulados.
Alm da divulgao macia, interessante a realizao de pesquisas de opinio;
ii) No condicionar a deciso a plebiscitos Partir direto para plebiscitos pode no
ser a melhor soluo. Perodos de implantao provisria, como uma fase de
testes, possibilitam as pessoas a analisarem os ganhos e perdas para assim
formarem sua opinio;
iii) Avaliar criteriosamente o custo x benefcio As diversas anlises feitas em
Londres possibilitou a tomada de decises de forma mais coerente, minimizando
possveis erros;
iv) Avaliar efeitos distributivos Levar-se em considerao ganhadores e perdedores,
de forma a dirigir polticas compensatrias a estes, minimizando sua insatisfao;
v) Considerar caractersticas geogrficas locais O fato de o pedgio urbano de
Londres ter obtido sucesso no implica em sua cpia para poder ser aplicado em
outras cidades. Caractersticas prprias de cada lugar devem ser levadas em
considerao;
vi) No projetar as tarifas com base no custo marginal do trfego Assimetrias de
informao existem e podem gerar transtornos, devido a ineficincia atingida.
Aconselha-se experimentar sistemas de fcil compreenso, inclusive.
-
38
3.3 Rodzio de Veculos
Na definio de Lucas Junior (2009, p. 47), o rodzio um modelo de restrio
veicular que divide os veculos da cidade em grupos, de acordo com o nmero de suas placas,
permitindo que trafeguem em determinados dias da semana.
Uma caracterstica marcante dos sistemas de rodzio de veculos que estes se
baseiam apenas na fiscalizao ostensiva, o que torna seus custos de implantao quase nulos.
possvel que seu funcionamento se d sem o uso de tecnologia, ao contrrio de outros
modelos de restrio veicular. Atravs da imposio do poder executivo, em colaborao com
as autoridades de trnsito locais, ocorre a proibio de circulao de determinados veculos
em situaes previamente acordadas por lei.
Em compensao, no h qualquer movimento voltado para a arrecadao de
receitas, o que implica na inexistncia de gerao de melhorias das infraestruturas virias e de
transporte, oriundas das aes do programa. Logo, as vias continuam a dar apenas despesas
(LUCAS JUNIOR, 2009, p. 47).
Os custos de manuteno de um rodzio, basicamente, se resumem no pagamento
dos fiscais que monitoram a circulao da frota viria e, quando for o caso, em sistemas de
cmeras de registro de velocidade5. No entanto, a assimetria de informaes, possibilitada
pela fiscalizao realizada, em grande parte, apenas por agentes de trnsito, poder vir a
tornar-se um problema de ineficincia.
Mas o rodzio possui outra caracterstica intrnseca: apresenta bons resultados no
curto prazo. Dado o simples crescimento da frota, no longo prazo, os nveis de trfego podem,
inclusive, ultrapassar os alcanados na situao anterior ao seu estabelecimento.
Gomide e Morato (2011, p. 38) afirmam que o rodzio uma medida do tipo
comando e controle e, dessa forma, termina por concluir que os incentivos de curto prazo
do rodzio servem para:
[...] a busca de brechas na legislao e tentativa de escapar da proibio, seja por
meio de fraudes, como a clonagem ou adulterao de placas, ou para a fuga da
fiscalizao e outras possveis burlas s regras, como a compra de um segundo
veculo com final de placa diferente, geralmente mais velho e, por conseguinte, mais
poluidor.
5 A cidade de So Paulo utiliza as cmeras implantadas do sistema de radares eletrnicos como outro meio para
monitorar os veculos em circulao. Porm, seu uso bastante limitado.
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39
O que se pode depreender do fragmento acima que, de alguma forma, os
objetivos iniciais de programas deste porte tendem a no mais ser atingidos, perante as
inmeras possibilidades de burlar a lei. A compra do segundo automvel, que est entre elas,
tambm citado por Lucas Junior (2009) como um ponto de ineficincia do modelo. No final
das contas, as ruas continuaro com o mesmo nmero de carros, ou seno, alcanaro nveis
superiores.
A poluio do ar, nos grandes centros urbanos, est entre as principais
externalidades geradas pelos congestionamentos. Est, inclusive, entre as principais
motivaes de implantao dos modelos de rodzio veicular pelo mundo, a reduo dos nveis
de gases poluentes e consequente melhoria da qualidade do ar.
Desde 1989, a Cidade do Mxico utiliza-se de um sistema que limita os
automveis a circularem todos os dias pelas ruas da capital e regio metropolitana. O
programa Hoy no Circula foi originalmente proposto como medida emergencial, devido as
altas taxas de poluentes existentes no ar da cidade, grande parte deles provenientes dos gases
liberados pelos automveis. A proposta inicial do programa era apenas a de reduzir os ndices
de poluio do ar na regio.
O programa expandiu-se e atualmente inclui tambm a prpria gesto do trfego.
O controle se d por meio de adesivos coloridos fixados nos carros, os quais indicaro a
terminao da placa em nmero par ou mpar e a classificao do veculo quanto ao
desempenho ambiental, dado este verificado mediante inspeo veicular. Em dias alternados,
os adesivos indicaro quais automveis estaro habilitados a circularem pelas ruas. Segundo
autoridades mexicanas, a medida contribuiu sensivelmente para a melhoria da qualidade do ar
na regio, mesmo que para isso tenha sido necessrio aplicar o intervalo de restrio por um
perodo dirio de 17 horas, em algumas ocasies.
Outro bom exemplo o da cidade de Bogot. O modelo denominado Pico y Placa
funciona desde 1998, restringindo a circulao de cerca de 40%6 dos automveis por dia til,
na capital colombiana. Os horrios de funcionamento iam de 7:00 s 9:00 pela manh e de
17:30 s 19:30 no perodo da tarde. O esquema obteve sucesso ao apresentar um aumento nas
velocidades mdias de 14 km/h a 25 km/h e uma reduo nos nveis de trfego nos horrios
6 So quatro finais de placas, por dia til, que devem obedecer restrio.
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40
no permitidos, o que garantiu o apoio da populao ao programa, segundo Gomide e Morato
(2011).
Porm, estudos demonstraram que as pessoas no substituram seus hbitos do uso
do automvel pelo transporte coletivo. Nem mesmo a implantao do sistema de Bus Rapid
Transit (BRT) na cidade foi suficiente para alterar as preferncias dos motoristas por realizar
suas viagens em seus carros prprios. Ao invs do uso do transporte pblico, muitos
provavelmente alteraram suas rotinas e passaram a utilizar o carro nos horrios no
abrangidos pela proibio.
Algumas medidas adicionais foram adotadas, como a ampliao dos horrios de
restrio7, ampliao da rea de abrangncia do rodzio, aumento do valor das multas e
sanes a serem aplicadas e o reforo da fiscalizao. Txis e nibus, que no os BRTs,
tambm foram includos no programa, no intuito de restringir a oferta de outros meios,
conforme observao de Gomide e Morato (2011).
Outra medida que a prefeitura da capital colombiana utiliza para desestimular o
uso de automveis privados denominada Da sin carro. Desde 2001, a medida paliativa foi
adotada com o intuito de exercer a cidadania e, inclusive, estimular as pessoas a utilizarem o
transporte pblico da cidade. Ocorre sempre uma vez por ano e no atinge txis e
motocicletas. O sistema de nibus pblico, conhecido por TransMilenio, o responsvel por
realizar a locomoo de milhares de pessoas neste dia. Em 2012, uma fonte vinculada
prefeitura de Bogot informou que 1.090.000 veculos deixaram de ir s ruas, com um
incremento de 870.000 pessoas a utilizarem o transporte coletivo como forma de
deslocamento. Nmeros esses que significaram um aumento de 15% no nmero de usurios,
se comparado a um dia til normal. Desde 2012, a prefeitura est elaborando um plano para
implantar aquele que viria a ser o primeiro pedgio (essencialmente) urbano na Amrica
Latina.
7 Passou a valer de 6:00 s 9:00 e de 16:00 s 19:00.
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41
Figura 8 Trnsito em Bogot no Da sin carro em 2012
Fonte: http://www.econscientes.com/
A capital grega, Atenas, tambm utiliza um sistema de rodzio do tipo mpar/par,
assim como a Cidade do Mxico, desde 1982. Os objetivos eram reduzir o trfego e reverter a
acentuada degradao do meio ambiente. A reduo do trfego observada foi de 22,5%,
quando se esperavam cerca de 50%. O aumento de 26% no nmero de txis sugeriu que
houve a migrao das pessoas para essa modalidade de transporte. Outra corrente de
estudiosos observou o nmero de excees s regras do rodzio estabelecidas e indicou como
sendo a principal causa da menor reduo no trfego. Os nveis de emisso de poluentes
foram reduzidos, conforme Gomide e Morato (2011).
A cidade de Santiago, capital do Chile, possui tambm um sistema de proibio
do uso veicular nos moldes do rodzio. Porm, este s entra em vigor quando a cidade
apresenta nveis crticos de poluio atmosfrica. O esquema possui, portanto, carter
estritamente ambiental.
Com base em suas observaes, Litman (2003) apud Gomide e Morato (2011)
formulou o seguinte quadro, apresentado abaixo como Quadro 2, listando as principais
vantagens e desvantagens dos programas de rodzio veicular. Vale ressaltar que, na
formulao deste quadro, o autor no levou em considerao o custo-benefcio do rodzio em
comparao a outros modelos de restrio veicular, de forma a realizar uma anlise mais
adequada. evidente que existem outras vantagens e desvantagens, inclusive citadas no
decorrer deste trabalho, mas que no foram includas no quadro, dado o motivo apresentado.
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Quadro 2 Vantagens x desvantagens do rodzio veicular
Vantagens Desvantagens
Aceitao pela populao8, na medida em que observado comprometimento do governo.
Incentivo ao aumento da frota atravs da aquisio do segundo veculo.
Sistema de transporte pblico beneficiado no curto prazo, devido o aumento de velocidade mdia no trfego.
Incentivo a burlas e fraudes.
Criao de um ambiente socialmente propcio adoo de medidas de restrio ao trfego.
Tendncia ao aumento de excees a determinadas categorias ou grupos.
Tendncia ineficcia no longo prazo, devido o crescimento da frota.
Fonte: Adaptado de Litman (2003 apud Gomide e Morato, 2011, p. 40).
Diferentemente do pedgio, o rodzio inclui medidas punitivas, e no apenas a
cobrana de uma taxa pela utilizao das vias. O objetivo deste , portanto, coibir o trfego
dos automveis que no estiverem condizentes com determinadas condies impostas pelas
autoridades competentes. Deste modo, o rodzio pode ser considerado um programa de
restrio veicular mais propriamente dito, dado que no estabelece a opo da utilizao ou
no dos veculos.
3.3.1 Operao Horrio de Pico (Rodzio) O caso de So Paulo
3.3.1.1 Introduo
A cidade de So Paulo tem registrado, nos ltimos anos, engarrafamentos
recordes, principalmente nos feriades. Os moradores da capital e regio metropolitana
costumam viajar para o litoral do estado e quilmetros de filas de carros se formam nas
rodovias de acesso. Para se ter ideia da gravidade, at o incio do 2013, o recorde histrico de
congestionamento em So Paulo foi de 295 km de vias totalmente paralisadas ou de trnsito
lento. Segundo a Companhia de Engenharia de Trfego CET (2013), a marca obtida em
junho de 2012 foi a maior j registrada desde 1991, quando tiveram incio as medies.
Segundo dados da Associao Nacional de Transportes Pblicos (ANTP), em
2010 a cidade de So Paulo contava com uma populao de 10.990.249 habitantes e uma frota
de 3.736.366 automveis. Equivale a uma proporo de 2,94 habitantes para cada carro.
Nmeros como esses comprovam a existncia dos congestionamentos na cidade. Conforme
8 Como exemplo, a Pesquisa Datafolha, divulgada na edio de 06/11/2012 do jornal Folha de So Paulo,
revelou que apenas 2% dos entrevistados se consideradas as duas categorias de resposta preferem o pedgio, contra 7% a favor do rodzio, pela melhor alternativa para o trnsito de So Paulo.
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43
observado por Domingues (2010), atualmente So Paulo possui nveis de motorizao
semelhante ao de pases desenvolvidos.
Segundo dados do DETRAN-SP (2010), a cada dia, em mdia, so colocados 800
novos veculos nas ruas da cidade. Aliado a uma alta utilizao de veculos, isto
acarreta episdios de lentido que chegam a atingir 140 km de extenso mdia
(DOMINGUES, 2010, p. 19).
Em 2010, o metr, que o meio de transporte coletivo mais utilizado na cidade, j
transportava algo em torno de 3,3 milhes de pessoas por dia, segundo dados da Prefeitura de
So Paulo. Mas o crescimento da populao no acompanhado pelo aumento das linhas de
metr, trem e dos nibus. Isso faz com que as pessoas passem a comprar cada vez mais
carros, na inteno de um maior conforto para realizar suas viagens (DOMINGUES, 2010).
A matria publicada pelo site do jornal Estado (So Paulo) em 25/11/2012
afirmou que os prejuzos ocasionados pelos congestionamentos capital paulistana
ultrapassam as cifras dos R$ 50 bilhes por ano. As inmeras horas perdidas com os
deslocamentos realizados dentro da cidade reduzem a produtividade do trabalho e ocasionam
as enormes perdas financeiras. O levantamento foi realizado pela Fundao Getlio Vargas
(FGV).
Os congestionamentos tornaram-se algo do cotidiano dos paulistanos. As pessoas
criam seus prprios hbitos para evitarem perder horas no trnsito, mas isso j quase no
mais possvel. Alm das horas desperdiadas diariamente, existem os acidentes de trnsito, a
poluio e junto com esta os problemas de sade ocasionados pela inalao dos gases
poluentes provenientes da queima dos combustveis fsseis pelos veculos.
A prefeitura de So Paulo h tempos busca solues para tais problemas.
Inspirado no programa supracitado Hoy no Circula, a prefeitura procurou adaptar s suas reais
necessidades um sistema de gesto de trfego, baseado em proibio de circulao veicular.
Criado em 1997, o Programa de Restrio ao Trnsito de Veculos Automotores ou foi
implementado depois de realizadas pesquisas de opinio pblica sobre os congestionamentos
na cidade. J em 1996, dois esquemas foram introduzidos: um de carter estadual9 e outro
municipal10
.
9 Conhecido por Operao Rodzio.
10 Conhecido pela expresso Operao Horrio de Pico. Para todo efeito, ser chamado apenas por rodzio no
presente trabalho.
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3.3.1.2 Objetivos
A Operao Rodzio teve como objetivo minimizar os problemas relativos
poluio atmosfrica gerada pelo uso dos automveis. Era uma medida de emergncia
poca, abrangendo a cidade de So Paulo e outras 9 cidades da Regio Metropolitana de So
Paulo RMSP. Segundo Cmara e Macedo (2004), o programa, que foi voluntrio na fase de
testes, tornou-se compulsrio em 1997 e foi cancelado em 1999. De agora em diante, apenas o
rodzio municipal ser levado em considerao nas anlises.
A Operao Horrio de Pico possua um esquema semelhante ao do rodzio
estadual, visto que foram criados para funcionar em conjunto. Seu principal objetivo era
reduzir os nveis de trfego e congestionamentos, atravs da restrio do uso de veculos na
rea do centro expandido de So Paulo, nos horrios de pico.
Figura 9 Mapa do centro expandido da cidade de So Paulo
Fonte: http://www.ebah.com.br/
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3.3.1.3 Caractersticas
O planejamento da Operao Horrio de Pico inclua sua incidncia durante o ano
todo, com exceo dos meses de janeiro e julho, propositalmente por serem os meses de frias
escolares. Funciona apenas em dias teis e em duas faixas de horrio: de 7:00 s 10:00 e de
17:00 s 20:00. A restrio, assim como no Rodzio estadual, ocorre por meio da numerao
final das placas (CMARA E MACEDO, 2004).
Todos os veculos esto sujeitos s regras do rodzio, exceto os de servios
essenciais, nibus urbanos, atendimento mdico, transporte escolar ou os que realizem
transporte de produtos perecveis. Incluem-se na lista os veculos de pessoas portadoras de
necessidades especiais ou cncer, mediante cadastramento especial realizado. Em junho de
2008, o rodzio tambm foi estendido a caminhes, que antes podiam circular livremente pela
regio.
Figura 10 Placa referente ao rodzio municipal em So Paulo
Fonte: http://noticias.band.uol.com.br/
Outra caracterstica marcante do rodzio a sua suspenso de tempos em tempos.
Algumas semanas no perodo das festas de fim-de-ano j so costumeiramente inclusas nestas
suspenses, assim como em dias teis intercalados por feriados. Tais suspenses so
previamente divulgadas nos meios de comunicao mais abrangentes, a fim de possibilitarem
a programao por parte dos usurios de veculos prprios.
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46
Ocorrendo o flagrante de irregularidade, mediante comprovao pelos fiscais da
CET ou pelas cmeras de fiscalizao de velocidade, o motorista do automvel circulando em
desrespeito s normas ser autuado com multa no valor de R$ 85,13 e quatro pontos em sua
carteira de habilitao.
3.3.1.4 Resultados
A CET responsvel por realizar as avaliaes de resultados do programa e
anualmente emite relatrios referentes a este. Os primeiros resultados divulgados, portanto,
apresentaram uma reduo de 18% nos nveis mdios de congestionamento observados na
rea coberta pelo sistema, durante todo o dia. Durante os horrios de rush, tais redues
corresponderam a 37% pela manh e 24% pela tarde. Nos anos seguintes, porm, os ndices
de lentido voltaram a crescer, chegando inclusive a apresentar valores superiores aos do
perodo anterior ao funcionamento do rodzio (CMARA E MACEDO, 2004).
As velocidades mdias de alguns corredores sofreram um aumento acima dos
20%. O centro, por sua vez, no apresentou grandes variaes. Chama ateno tambm a
reduo do nmero de acidentes de trfego: 10% em 1999. Entre outros resultados, podem ser
includas as economias de tempo, na ordem de 79%, e de combustvel, em 10%, e a reduo
nas emisses de poluentes (CMARA E MACEDO, 2004).
De um modo geral, o rodzio implantado no centro de So Paulo conseguiu
cumprir com seus objetivos, pelo menos temporariamente. Pesquisas de opinio pblica
revelaram uma ampla aceitao da medida. Quando perguntados sobre o rodzio ter atendido
seus objetivos de melhoria do trfego na cidade, os ndices de aprovao registrados foram
superiores a 60%. No entanto, levantamentos realizados em 2007 pela CET apresentaram um
agravamento dos ndices de aprovao, aps registros com maior frequncia dos
congestionamentos, possivelmente ocasionados pelo significativo aumento da frota de
automveis em So Paulo (DOMINGUES, 2010).
Por no efetuar cobrana de taxas pelo uso das vias abrangidas pelo permetro
estabelecido, o rodzio no gerou arrecadao em seus anos de funcionamento, de forma a no
possuir capacidade de autofinanciamento.
3.4 Aspectos ambientais dos programas de restrio veicular
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Os quadros 3 e 4 realizam uma associao entre os principais programas de
gerenciamento de controle do trfego urbano, at ento implantados, e suas preocupaes no
que diz respeito s questes ambientais, com base no que foi observado. O Quadro 3 trata dos
pedgios urbanos, enquanto o Quadro 4 faz o mesmo para os rodzios.
O que se pode depreender que, em relao s externalidades geradas, a
preocupao com a qualidade do ar tem quase sempre estado entre ela