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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE DIREITO LUCAS ALVES LEITE ENTRE MONTECCHIOS, CAPULETOS, PETISTAS E RURALISTAS: AS AÇÕES POSSESSÓRIAS NO NOVO CPC. NITERÓI 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE DIREITO

LUCAS ALVES LEITE

ENTRE MONTECCHIOS, CAPULETOS, PETISTAS E RURALISTAS:

AS AÇÕES POSSESSÓRIAS NO NOVO CPC.

NITERÓI

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE DIREITO

LUCAS ALVES LEITE

ENTRE MONTECCHIOS, CAPULETOS, PETISTAS E RURALISTAS:

AS AÇÕES POSSESSÓRIAS NO NOVO CPC.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Federal Fluminense como requisito

parcial para a obtenção de título de Bacharel em

Direito.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Delton Ricardo Soares Meirelles

NITERÓI

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

L533e Leite, Lucas Alves.

Entre Montecchios, Capuletos, Petistas e Ruralistas: as ações

possessórias no novo CPC / Lucas Alves Leite – Niterói, 2016.

80f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) –

Universidade Federal Fluminense, 2016.

1. Ações Possessórias. 2. Novo Código de Processo Civil

3.Litigios Coletivos sobre a posse. 4.Medida Liminar I. Título.

UFF. Faculdade de Direito CDD – 341.46

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LUCAS ALVES LEITE

ENTRE MONTECCHIOS, CAPULETOS, PETISTAS E RURALISTAS: as ações

possessórias no Novo CPC.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Federal Fluminense como requisito

parcial para a obtenção de título de Bacharel em

Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Delton Ricardo Soares Meirelles (Orientador)

UFF- Universidade Federal Fluminense

Profª. Dra. Fernanda Pontes Pimentel

UFF- Universidade Federal Fluminense

Francis de Faria Noblat de Oliveira

UFF- Universidade Federal Fluminense

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por todas as graças concedidas em minha vida,

principalmente por me permitir realizar o sonho da graduação em uma Universidade Federal,

mesmo com todas as adversidades que o ensino público nos impõe.

Pai e mãe, seria insuficiente qualquer frase que aqui utiliza-se para agradecer cada

gota do suor de vocês, que foram derramadas com o objetivo de me proporcionar um ensino

de qualidade. Porém, mais importante que isso foi os ensinamentos desde a infância, que

pretendo carregar por toda a minha vida, pois ser um homem de bem, honesto e preocupado

com o próximo, sobrepuja-se a qualquer qualificação acadêmica ou profissional.

Agradeço aos meus avós por todo o apoio e carinho, fico muito feliz em saber que

estão orgulhosos por algo que eu tenha feito, agradeço ao meu irmão Luan por me ensinar o

exercício diário da paciência e lhe desejo sorte em sua trajetória acadêmica que já se iniciou

nesta mesma Universidade, que possas passar incólume pelas greves.

Aos meus amigos, o meu mais sincero agradecimento por todo incentivo e pelas

vezes que acreditaram mais em mim, do que eu mesmo, a companhia, as festas, as

apresentações em grupo, as simulações de júri, tudo, absolutamente tudo valeu a pena!

Não poderia deixar de agradecer a todos os professores que passaram em minha

vida, em especial: Ronaldo Côrrea, Michelle Falcassa e Bárbara Martins, vocês foram

extremamente importantes e fundamentais, pois sempre me estimularam a sair do senso

comum e enxergar as coisas de um modo mais criativo.

Por fim, agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Delton Ricardo Soares Meirelles, por

ter despertado o meu senso crítico que por algum bom tempo, esteve adormecido entre

esquemas e quadro sinóticos, o meu muito obrigado!

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RESUMO

Esta monografia possui como objetivo precípuo analisar a regulamentação dada às ações

possessórias no Novo Código de Processo Civil, abordando de modo crítico o processo

legislativo e os interesses políticos, até então, ocultos nas propostas de modificação, valendo-

se para tanto da rivalidade literária Shakespeariana, na tragédia romântica Romeu e Julieta,

entre os Montecchios e os Capuletos que disputavam o controle da cidade de Verona na Itália,

para assim, metaforicamente, denotar a cisão provocada na Câmara dos Deputados, quando da

discussão do procedimento das ações possessórias, no seio da Comissão Especial responsável

por analisar o PL 8046/2010. De um lado, alguns dos deputados coligados ao Partido dos

Trabalhadores, lutando pela supressão da medida liminar nos conflitos sobre a posse, além de

buscarem uma regulamentação especifica para os litígios coletivos, objetivando assim atender

os anseios dos movimentos organizados que clamavam pela reforma agrária. De outro, alguns

dos deputados integrantes da bancada ruralista, defendo os interesses dos grandes

proprietários de terras e do agronegócio, lutando pela permanência da medida liminar e

freando os avanços progressistas. Como resultado de tal análise percebeu-se que alguns

institutos ou procedimentos do direito processual, por vezes não são elaborados tão somente

para um melhor aperfeiçoamento da técnica ou para se coadunar com a tão prestigiada

celeridade processual, mas sim para atender os interesses de determinados grupos específicos,

sendo imprescindível que o operador do direito tenha conhecimento do que determinou a sua

prática.

PALAVRAS-CHAVE: posse, ações possessórias, novo código de processo civil, medida

liminar, litígios coletivos, processo legislativo.

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RESUMEN

Este trabajo tiene como objetivo principal analizar las regulaciones dadas a las acciones

posesorias en el Nuevo Código de Procesal Civil, abordar críticamente el proceso legislativo y

los intereses políticos hasta entonces ocultos en las modificaciones propuestas, aprovechando

tanto la rivalidad literaria de Shakespeare en la tragedia romántica de Romeo y Julieta, entre

los Montesco y los Capuleto que compiten por el control de la ciudad de Verona en Italia, tal

lucha fue utilizada metafóricamente para referirse a la división causada en la Cámara, cuando

se discute el procedimiento de las acciones posesorias en la Comisión Especial encargada de

analizar el PL 8046/2010. Por un lado, los miembros relacionados a el Partido de los

Trabajadores lucharon por la abolición de la medida cautelar en conflictos por la propiedad, y

buscaron una legislación específica para los conflictos colectivos, con el objetivo de satisfacer

las preocupaciones de los movimientos organizados que claman por la reforma agraria. Por

otro lado, los miembros de la ‘bancada ruralista’ que defienden los intereses de los grandes

propietarios y la agroindustria luchando por la suspensión de la orden y frenando progresivos

avances. Como resultado de este análisis se observó que algunas instituciones o

procedimientos de derecho procesal, en ocasiones no se prepararon para un mejor desarrollo

de la técnica o que sean consistentes con un juicio rápido tan prestigioso, sino para servir a los

intereses de ciertos grupos, y es imperativo que operador del derecho sepa de lo que

determinó su práctica.

PALABRAS CLAVE: propiedad, acciones posesorias, nuevo código de procesal civil, de

amparo, litigios colectivos, proceso legislativo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................................10

CAPÍTULO 1: Sobre salsichas, leis e lobbies: Um Panorama sobre o Processo

Legislativo Federal. ................................................................................................................12

CAPÍTULO 2: Dos conflitos de terra no Brasil e da regulamentação da posse no Código

Civil de 2002. ..........................................................................................................................18

2.1 Os conflitos possessórios em números................................................................................18

2.2 A conceituação da Posse.................................................................................................... 19

2.3 Da Natureza jurídica da posse e dos efeitos que dela emanam......................................... 22

2.4 Das ações possessórias em espécie................................................................................... 26

2.4.1 Da turbação e da ação de Manutenção de posse.................................................... 26

2.4.2 Do esbulho e da Ação de Reintegração de posse................................................... 27

2.4.3 Da ameaça e do Interdito Proibitório..................................................................... 29

CAPÍTULO 3: Do procedimento das ações possessórias no Código de Processo Civil de

1973. ....................................................................................................................................... 31

3.1- Das disposições gerais e das características das ações possessórias............................... 31

3.2 A protagonista: da medida liminar e do procedimento para a sua concessão.................. 34

3.3 Das propostas infrutíferas de modificação do procedimento........................................... 38

CAPÍTULO 4: A busca incessante por um novo Código de Processo Civil

Democrático............................................................................................................................ 41

4.1 – Da Instituição da Comissão de Juristas........................................................................... 42

4.2 – Das Reuniões da Comissão e das Audiências Públicas.................................................. 43

4.3- Da apresentação do Anteprojeto ao Senado Federal ........................................................44

4.4 Da rivalidade shakespeariana na Câmara dos Deputados ................................................. 46

4.5 – O Relatório Barradas .......................................................................................................50

4.6 O Relatório Teixeira e o Substitutivo Preliminar .............................................................. 53

4.7 Do retorno ao Senado Federal ............................................................................................61

CAPÍTULO 5: Entre Vencedores e Vencidos .................................................................... 63

5.1 Da regulamentação das ações possessórias no Novo Código de Processo Civil .............. 65

5.1.1 Das disposições gerais.................................................................................................... 65

5.1.2 Dos Conflitos Individuais sobre a posse......................................................................... 69

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5.1.3 Dos conflitos coletivos sobre a posse............................................................................ 70

5.1.4 Do Interdito Proibitório................................................................................................. 73

CONCLUSÕES .................................................................................................................... 74

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 77

Fontes bibliográficas .............................................................................................................. 77

Fontes normativas ................................................................................................................... 78

Fontes eletrônicas ................................................................................................................... 79

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10

INTRODUÇÃO

Esta monografia é um desdobramento de um trabalho realizado para a disciplina

“Reformas Processuais Cíveis”, ministrada pelo Prof. Delton Meirelles com o auxílio de seu

orientando Francis Noblat, cuja proposta era analisar os deslindes do processo legislativo do

Novo Código de Processo Civil, que a época acabara de ser aprovado no plenário da Câmara

dos Deputados. O tema das ações possessórias foi alvo de diversas propostas de modificação,

fruto de intensas negociações politicas, o que resultou que a tramitação do até então PL

8046/2010, fosse marcada pela morosidade.

As novas regulamentações, no campo do Direito, na sua grande maioria, vêm

acompanhadas pelo pretexto de dar conta das novas configurações sociais e justamente foi

este o argumento utilizado pelo presidente da Comissão de Juristas, Luiz Fux, ao apresentar o

anteprojeto do “Novo Código de Processo Civil” ao Senado Federal, afirmando que o Direito

não podia se isolar do ambiente em que vigora sob pena de tornar-se ineficaz, citando o

dramaturgo inglês William Shakespeare para elucidar “que o tempo é muito lento para os que

esperam e muito rápido para os que têm medo”, garantindo que foram essas as lições que 37

anos depois inspiraram a criação de um novo ordenamento processual que fosse compatível

com as exigências da sociedade moderna.

Assim como o Ministro Luiz Fux fez uso de William Shakespeare, também tomei a

liberdade de assim o fazer, como na estória de Romeu e Julieta em que existiam duas famílias

rivais que disputavam o controle da cidade de Verona na Itália: os Montecchios e os

Capuletos, também foi possível identificar no trâmite legislativo do novo Código de Processo

dois grupos com interesses opostos são eles: os “Petistas” e os “Ruralistas”, que disputavam

quais interesses iriam prevalecer no procedimento das ações possessórias, mas por óbvio que

essa disputa ao contrário da fictícia já citada, não tinha como pano de fundo uma estória de

amor.

De um lado, alguns dos deputados filiados ao Partido dos Trabalhadores

articulando-se pela supressão da medida liminar inaudita altera parte nas ações de

reintegração e manutenção de posse, além de pleitearem uma regulamentação especifica para

os litígios coletivos sobre a posse visando facilitar a tão citada reforma agrária e de outro,

alguns dos deputados integrantes da bancada ruralista, que buscavam proteger o interesse dos

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11

grandes proprietários de terra, lutando pela permanência da medida liminar sem a oitiva da

parte contrária das ações possessórias, no Novo Código de Processo Civil.

A fixação de dois tipos antagônicos para se analisar os desdobramentos

legislativos, sobre a manutenção e reintegração de posse no novo Código de Processo Civil

facilita, de certo, a compreensão do jogo político e evidencia as duas maiores linhas

argumentativas que foram “postas a mesa”. No entanto, deve-se atentar para o fato de que,

independentemente do partido ou da bancada que integrem cada parlamentar possui interesses

próprios e por mais que não se queira cair em generalidades, a análise em grupos e a

denominação “petistas” e “ruralistas” foi utilizada para evidenciar a oposição de ideias

relativas ao tema das ações possessórias.

A presente monografia possui como objetivos: a) realizar um estudo sobre a posse e

a proteção possessória concedida no Código Civil de 2002, b) abordar o procedimento das

ações possessórias no Código de Processo de 1973; c) destrinchar criticamente o processo

legislativo do Novo Código de Processo Civil, no que concerne ao tema e d) verificar a nova

regulamentação dada as ações possessórias, salientando as mudanças.

O presente texto foi organizado em cinco momentos, utilizando literatura jurídica,

jurisprudência, atas das reuniões da comissão e documentos legislativos. No capítulo 1,

estabeleço a importância de se conhecer a criação das leis, traçando um breve panorama sobre

o processo legislativo federal. No capítulo 2, trato sobre os conflitos possessórios em números

no Brasil, além de abordar a posse e a proteção possessória no Código Civil de 2002. No

capítulo 3, com uma abordagem linear dos artigos, trato sobre o procedimento das ações

possessórias no Código de Processo de 1973. No capítulo 4, abordo os deslindes do processo

legislativo do Novo Código de Processo Civil, frisando os interesses políticos e as propostas

sobre o tema. No capítulo 5, menciono as mudanças efetuadas no procedimento das ações

possessórias no Novo CPC. Para ao fim, estabelecer as conclusões.

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12

CAPÍTULO 1: Sobre salsichas, leis e lobbies: Um Panorama sobre o

Processo Legislativo Federal.

Muitas frases são atribuídas ao principie austríaco Otto Von Bismark, mas sem

dúvidas aquela mais citada ao se falar de processo legislativo, é a que o mesmo assemelhou

leis a salsichas: 1“leis são como salsichas, é melhor não saber como são feitas”, comparando

assim os misteriosos ingredientes que são utilizados na preparação de tal embutido aos

interesses ocultos e todas as negociações que estão por de trás da criação das leis.

No entanto, se me permite Von Bismark, a grande diferença entre leis e salsichas

é que estas não são de consumo obrigatório, ao contrário daquelas que possuem efeito “erga

omnes”. O princípio da legalidade presente na Constituição Federal, no art.5°, inciso II, ao

prenunciar “que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei”, evidencia a grande importância de se conhecer o processo legislativo, para

entender como são criados esses enunciados linguísticos que determinam as condutas sociais.

Sendo a lei a base do sistema jurídico românico-germânico, certamente o seu

processo de criação deve ser envolto por formalidades, estas descritas no documento de maior

importância do sistema jurídico brasileiro: A Constituição Federal, que em seu art. 592 inicia a

matéria do processo legislativo, enumerando as espécies normativas e em seus artigos

seguintes estabelece os procedimentos necessários para a criação das leis.

Não obstante a teoria da 3Tripartição de Poderes não ser estática, já que

notadamente o Executivo, o Legislativo e o Judiciário podem desenvolver funções típicas e

atípicas, é importante salientar que compete ao poder Legislativo a função típica da criação

das leis, embora o mesmo também exerça as funções de administração e julgamento além de,

nos moldes do art. 70 da CF, fiscalizar financeira e orçamentariamente o poder Executivo.

1 Há quem diga que na verdade a frase é construída da seguinte forma: “Leis, como salsichas, deixarão de

inspirar respeito na proporção em que sabemos como elas são feitas.” (Laws, like sausages, cease to inspire

respect in proportion as we know how they are made.)

2 Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:

I - emendas à Constituição; II - leis complementares; II - leis complementares; III - leis ordinárias; IV - leis

delegadas; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; V - medidas provisórias; VI - decretos legislativos; VI -

decretos legislativos; VII - resoluções. VII - resoluções.

3 Pensador francês Barão de Montesquieu, em sua obra o “Espírito das Leis” (1748)

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13

Por possuir o Novo Código de Processo Civil status de lei ordinária, faz-se

primordial o conhecimento da organização do poder Legislativo no âmbito Federal, já que

neste cenário que transcorreu todo o processo legislativo, desde a formação da Comissão de

Juristas para a elaboração de um anteprojeto, até a aprovação do texto pelo plenário do

Senado Federal. Isso porque embora o Senado tenha sido a casa iniciadora, incumbindo então

a Câmara dos Deputados à revisão, esta realizou emendas ao projeto original, o que culminou

na reapreciação pelo Senado das mudanças realizadas, pois desta forma preleciona o

parágrafo único de art.65 da Constituição4.

Nos projetos de lei de competência da União, cabe ao Congresso Nacional

deliberar sobre os mesmos, o Congresso é formado por duas casas, uma delas a Câmara dos

deputados, composta por representantes do povo, eleitos através do voto pelo sistema da

proporcionalidade. Tal sistema caracteriza-se por levar em conta o número de habitantes

daquela região (Estados e Distrito Federal) para calcular o número de deputados a serem

eleitos para um mandato de 4 anos, admitindo-se a reeleição.

A segunda casa que compõe o Congresso é o Senado Federal5, que se diferencia

da Câmara, pois adota o princípio majoritário6, já que cada unidade da federação poderá

eleger três senadores, tendo dois suplentes cada um, para um mandato que terá duração de 8

anos. É importante salientar que diferentemente da Câmara a renovação do Senado dar-se-á,

nos termos do art. 46, parágrafo 2° da CF7, ou seja, de quatro em quatro anos, alternadamente,

por um e dois terços.

Superada essas definições, importante é abordar as principais etapas do

processo legislativo, salienta-se que aqui se aborda o processo legislativo ordinário, a primeira

das etapas é a que inicia o processo legislativo e por isso é denominada por “etapa de

iniciativa”, já que de acordo com o discriminado na Constituição, um projeto de lei será

apresentado ao Poder Legislativo, para que o mesmo delibere e vote, essa apresentação é feita

8por pessoas legitimadas no texto constitucional, e excetuando os casos de iniciativa privativa,

4 Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação,

e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar. Parágrafo único.

Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora. 5 O Senado por vezes é adjetivado de ser uma casa mais experiente, em razão do requisito da idade mínima de 35

anos para se candidatar a senador. 6 A passagem do Estado absolutista para o Estado liberal abriga o surgimento da proporcionalidade

7 Art. 46 § 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos,

alternadamente, por um e dois terços. 8 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 548.

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14

não se restringe apenas aos parlamentares, já que o art. 61 também elenca o Presidente da

República, o Supremo Tribunal Federal, os cidadãos, os Tribunais Superiores e o Procurador-

Geral da República.

Sendo o projeto de lei iniciado por um parlamentar, será a casa a qual ele pertence

(Senado ou Câmara) a casa iniciadora, 9incumbindo a outra o papel de revisar, ou seja,

deliberar posteriormente sobre o mesmo, fato que este justifica o porquê de o Senado Federal

ter sido a casa iniciadora na elaboração do PLS 166/2010, o até então pretenso Código de

Processo Civil, já que a comissão de juristas responsável por elaborar o Anteprojeto do

Código, foi instituída pelo então presidente do Senado Federal José Sarney.

A análise que será feita a partir de agora, para esmiuçar o processo legislativo

toma com base o Regimento Interno da Câmara dos Deputados, por ser mais inteligível do

que o Regimento do Senado e em razão da grande maioria dos projetos terem como casa

iniciadora a Câmara.

Depois de serem propostos, os projetos de leis serão enviados às Comissões

permanentes, assim determinado pelo Presidente da Casa, sendo submetido em primeiro lugar

à Comissão de Constituição e Justiça, que tem como função precípua analisar a sua

constitucionalidade, o que é denominado por boa parte da literatura como controle prévio de

constitucionalidade.

Após a análise de sua constitucionalidade formal e material, o Projeto de Lei é

encaminhado a uma Comissão Temática, também denominada por Comissão Especial, onde o

presidente desta nomeará um relator-geral que terá como função precípua a elaboração de um

parecer sobre o mesmo, mas frisa-se que até os parlamentares que não integrarem a Comissão

podem elaborar emendas aos projetos de lei, 10

conforme preleciona o art. 119 da RICD, com o

parecer finalizado, este deverá ser apreciado pela Comissão.

Importante atenção deve ser dada ao inciso II do art.24 do Regimento Interno da

Câmara, já que preleciona que é indispensável o exame do plenário dos projetos de código,

bem como aqueles oriundos do Senado, não podendo os mesmos serem votados diretamente

9 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 31. ed. rev. ampl.atual. São Paulo:

Saraiva, 2005. p. 190-91. 10

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Regimento Interno, estabelecido pela Resolução n. 17,

de 1989.

Page 15: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

15

nas Comissão, caso este que se aplica ao Novo Código de Processo, por ser oriundo do

Senado PL166/2010 e por ser um projeto de código.

A apreciação do parecer do relator pela Comissão como um todo, torna o processo

mais complexo, já que os parlamentares podem aprovar integralmente o parecer, situação em

que se adotará o parecer como o da comissão; emendá-lo (emenda é uma proposição acessória

de outra), sendo esta uma prerrogativa reservada exclusivamente aos parlamentares; ou

rejeitá-lo, nesta situação poderá ser escolhido um relator no intuito de substituir o anterior,

para elaborar um novo parecer com as modificações cabíveis, para que seja novamente

apresentado à Comissão para nova deliberação, dessa forma acontecerá em todas as

Comissões que o Projeto de Lei tiver que ser apreciado.

Após isso, o Projeto será encaminhado ao plenário da casa para votação

iniciando assim uma nova fase, chamada pela literatura de: fase de deliberação parlamentar, o

projeto de lei após um intervalo de três dias úteis, será colocado na Ordem do dia, sendo

sujeito a apreciação dos parlamentares, que terão a prerrogativa de externar argumentos

contrários ou favoráveis à aprovação daquele projeto e é aqui que começa de fato as

articulações politicas, onde os parlamentares formam grupos em prol dos interesses de seu

partido ou de seu eleitorado, para que seja aprovado ou rejeitado um projeto de lei, esta

prática de formar grupos de pressão é denominada por “lobby”.

Se não houver emenda ao projeto, ele poderá ser votado, sendo de extrema

importância enfatizar que conforme determinação constitucional expressa, em regra, a

aprovação de uma lei (ordinária) será com a maioria simples dos votos dos membros da

respectiva casa legislativa, mas frisa-se desde que presente a maioria absoluta de seus

membros, desta forma dispõe o 11

art.47 da CF.

Tendo sido rejeitado, o projeto de lei deverá ser arquivado, sendo vedado que seja

reapresentado na mesma sessão legislativa, a menos que haja uma proposta da maioria

absoluta dos membros da Câmara ou do Senado, conforme preleciona o 12

art.67 da CF. Já na

hipótese de ser o projeto de lei aprovado ele deverá ser enviado novamente para a Comissão

11

Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão

tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. 12

Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na

mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do

Congresso Nacional.

Page 16: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

16

de Constituição, que lhe dará uma redação final, para enfim ser encaminhado para a Casa

incumbida da revisão.

Chegando à Casa revisora, o projeto de lei passará pelo mesmo percurso

legislativo que transcorreu na casa que lhe deu origem, ou seja, pela apreciação prévia das

Comissões para posteriormente ir a votação no plenário, na hipótese de ser rejeitado o PL será

arquivado, já se aprovado integralmente será encaminhado à sanção do chefe do poder

executivo. 13

No entanto, se a casa revisora tiver realizado modificações no projeto de lei, o

mesmo terá que passar novamente pelo crivo da casa iniciadora, sendo aprovadas ou

rejeitadas as modificações14

o projeto será encaminhado ao Presidente da República.

Para tal projeto ser transformado em lei, é necessário que seja sancionado pelo

Chefe do Poder Executivo e por isso afirma-se que a lei é um ato complexo, já que precisa

para a sua existência e vigência a atuação de dois poderes, no entanto nota-se que o termo

aqui utilizado para salientar a importância da sanção, foi necessário e não imprescindível, pois

existe a possibilidade constitucional de derrubada do veto do presidente, pela maioria absoluta

pelos parlamentares nos termos do parágrafo 4° do art. 66 CF.

Com a sanção a lei está pronta, ou melhor, finalizada, no entanto é o ato da

promulgação, que também compete ao Presidente da República, que fará com que a mesma

comece a produzir efeitos jurídicos, após isso, a última etapa para que a lei tenha eficácia é a

sua publicação 15

que consiste na publicização daquele conteúdo normativo, para que todos os

quais ela se direciona tenham conhecimento de sua existência.

O prazo entre a publicação e a vigência da lei é denominado por “vacatio legis”, e

se não previsto expressamente será de 45 dias a ser contado da data da publicação oficial,

conforme determina o art.1° da Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro. No caso

do novo Código de Processo Civil, o art.1045 dispõe claramente que o código só entrará em

vigor após 1 ano da data de sua publicação oficial, esta ocorreu em 17 de março de 2015.

Tal prazo é justificável, pois um novo código implica numa mudança em um grande

número de artigos, bem como na construção de uma nova base principiológica para a sua

interpretação, para que se possa ter uma leitura sistemática e contextual dos dispositivos.

13

SILVA, José Afonso da. Processo Constitucional de Formação das Leis. 2. ed. São Paulo:Malheiros, 2006. p.

288. 14

CHIMENTI, Ricardo Cunha et al. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2004. p.244. 15

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 31. ed. rev. ampl.atual. São Paulo:

Saraiva, 2005. p. 201.

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17

Em regra, o Novo Código de Processo Civil passaria a vigorar em 17 de março de

201616

, no entanto o Superior Tribunal de Justiça decidiu que a data da sua vigência será o dia

18 de março, para os processos internos da corte, com base na Lei 810/1949, que define o ano

civil, e o artigo 8º, parágrafo 1º, da Lei Complementar 95/1998, que trata da elaboração,

redação, alteração e consolidação de leis, pretendendo editar uma súmula neste sentido, para

orientar os demais tribunais.

“De acordo com a LC 95, o prazo para leis que têm período de espera para entrar em

vigor começa a contar da data da publicação até o último dia do prazo, e o texto

começa a valer “no dia subsequente à sua consumação integral”. E o artigo 1.045 do

novo CPC diz que ele entrará em vigor depois de um ano da data de sua publicação

oficial..”17

O Conselho Nacional de Justiça decidiu de igual forma e deste modo o novo Código

de Processo Civil passará a vigorar no dia 18 de março de 2016, não obstante todas as

discussões que se instalaram sobre o tema, isso por que embora a LC 95 recomende que seja

em dias a contagem do prazo para a vigência de uma lei, o art. 1045 do Novo Código de

Processo Civil estipulou o prazo para vigência em 1 ano.

“Portanto, como o novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) – publicado no

dia 17 de março de 2015 –, pela Lei do ano civil e pela previsão constante do

Código Civil o período de um ano encerra-se no mesmo dia e ano correspondentes

do ano seguinte, ou seja, no dia 17 de março de 2016. Dessa forma, considerando-se

a conjugação dos normativos, a contagem leva em consideração a inclusão da data

da publicação (17/03/2015) e do último dia do prazo (17/03/2016), entrando em

vigor no dia subsequente, qual seja, o dia 18 de março de 2016”18

Esta é a forma desenhada, na qual se desenvolve o processo legislativo no âmbito

federal, de certo que os interesses políticos o tornam às vezes mais moroso ou mais célere do

que o usualmente previsto, já que às sombras destes procedimentos encontram-se as

articulações realizadas pelos parlamentares, as quais demonstram o claro jogo politico

envolvido, jogo este que apesar de não estar descrito na Constituição Federal ou nos

Regimentos Internos, já se tornou uma “praxe” na politica brasileira e esteve claramente

presente na tramitação do Novo Código de Processo, principalmente no que tange ao tema da

presente monografia.

16

Verbo utilizado no futuro , pois tal monografia foi concluída antes da vigência do no novo CPC 17

“NOVO CPC: entrará em vigor no dia 18 de março, define Plenário do STJ, Conjur março 2016.” Disponível

em: http://www.conjur.com.br/2016-mar-02/cpc-entrara-vigor-dia-18-marco-define-stj Acesso em: 02/03/2016,

às 23:00. 18

“CNJ RESPONDE A OAB: e decide que a vigência do novo CPC começa em 18 de março. Conselho

Nacional de Justiça março 2016.”Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/81698-cnj-responde-a-oab-e-

decide-que-vigencia-do-novo-cpc-comeca-em-18-de-marco. Acesso em 20/03/2016 às 18:50.

Page 18: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

18

CAPÍTULO 2: Dos conflitos de terra no Brasil e da regulamentação da posse no

Código Civil de 2002.

2.1 Os conflitos possessórios em números

Em razão da má distribuição de renda e da demora na efetivação da tão comentada

Reforma Agrária, que almeja uma nova organização da estrutura fundiária no Brasil para que

se promova uma distribuição mais igualitária de terras, os conflitos possessórios são cada vez

mais recorrentes na atualidade e entraram em uma notável crescente a partir do ano de 2003.

Um dos grandes personagens e responsáveis por esse aumento considerável foi o

Movimento organizado dos Sem Terra, mais conhecido por MST, que se encontra presente

nos 24 estados brasileiros e promove ocupações, reagindo a essa injusta e histórica

acumulação de terras que assola o país. Segundo estudo veiculado no Atlas da Terra Brasil,

realizada pelo CNPq/USP, 175 milhões de hectares são improdutivos no Brasil19

, ao passo

que inúmeras famílias do campo, ainda não têm efetivado o seu direito constitucional à

moradia.

Conforme, aponta pesquisa realizada pela Comissão Pastoral da Terra20

, o MST foi

responsável, durante os três primeiros anos do governo Lula, por quase 60% das ações de

ocupações de terra no país, ao todo, segundo a Comissão Pastoral da Terra foram 1.708

ocupações no primeiro governo Lula e 1.379 nos últimos quatro anos do governo Fernando

Henrique Cardoso, ou seja, houve um aumento de 24% se compararmos tais gestões. Entre os

anos de 2003 e 2007, no primeiro mandato do Presidente Luiz Inácio da Silva, 790 cidades

registraram ocupações, já nos últimos quatro anos do mandato FHC, foram registradas

ocupações em 638 cidades.

Os dados acimam demonstram que a atuação do MST durante a gestão petista,

aumentou consideravelmente já que foi tal movimento responsável por uma grande parte das

ocupações registradas no país, tal fato pode ser relacionado a uma relação histórica entre o

19

FARAH, Tatiana. Concentração de terras cresce e latifúndios equivalem a quase três estados de Sergipe. O

Globo. 2015. Disponível em: http://oglobo.globo.com/brasil/concentracao-de-terra-cresce-latifundios-equivalem-

quase-tres-estados-de-sergipe-15004053. Acesso em 20/01/2016, às 20:30. 20

MAGALHÃES, João Carlos; REIS, Thiago. Sob Lula, invasões de terra se espalham e aumentam 24%.

Agência Folha. 2007. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0705200702.htm Acesso em:

02/06/2014, às 21:40

Page 19: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

19

Partido dos Trabalhadores e o Movimento dos Sem Terra, pois conforme aponta Andréa

Santos, o primeiro teve relação direta com o nascimento do segundo:

O PT teve relação direta com o nascimento do MST em 1984 que, por sua vez, foi

gestado no interior da Comissão Pastoral da Terra (CPT), mantida pelas igrejas

cristãs, especialmente a Católica. Essa ligação existiu também em razão de que a

mais significativa adesão ao PT em sua fundação foi a dos grupos católicos

progressistas que, durante a ditadura criaram uma rede de organizações populares

por todo o país21

Para além dessa ligação histórica, o Tribunal de Contas da União comprovou que

foram repassados ilegalmente 7,3 milhões do orçamento da educação destinados à Associação

Nacional de Cooperação Agrícola para as secretarias regionais do MST em 23 estados, nos

anos de 2003 e 2004, durante a gestão petista.22

Não é o objetivo da presente monografia, estipular um juízo de valor sobre tal

ligação, no entanto esse aumento considerável no número de ocupações nos fornece um

motivo para que o tema das ações possessórias integrasse a pauta dos assuntos a serem

discutidos na elaboração de um Novo Código de Processo Civil, principalmente no que tange

a medida liminar sem a oitiva da parte contrária para a reintegração ou manutenção de posse,

já prevista no CPC de 1973.

Antes, porém, de destrinchar os interesses políticos e as propostas referentes ao tema,

na tramitação do novo CPC é imprescindível tratar sobre a posse e a proteção possessória

concedida pelo Código Civil de 2002, bem como sobre as ações possessórias em espécie e o

procedimento descrito para a concessão da medida liminar "inaudita altera parte" prevista no,

agora "velho", Código de Processo Civil.

2.2 A conceituação da Posse

O sistema jurídico civil brasileiro confere proteção não somente ao direito de

propriedade, mas também a posse, é verdade que tal proteção já é concedida desde o Código

Civil de 1916, mas foi aperfeiçoada e ampliada no Código Civil de 2002.

21

SANTOS, Andrea Paula dos. Reforma Agrária entre a polarização, a negociação e o conflito: resistência e

participação do MST nos governos do PT do Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul (1999-2002). Tese de

Doutorado em História Econômica. FFLCH/USP,2003. 22

"TCU comprova repasse ilegal de recursos públicos de associação para o MST". Folha Online, março, 2009,

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0603200914.htm Acesso em: 10/12/2015, às 10:30

Page 20: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

20

A posse é classificada, por muitos, como uma situação de fato protegida pelo

legislador, com o objetivo de preservar e defender a paz social, a sua origem histórica é

bastante controvertida e não existe um consenso doutrinário sobre tal tema, no entanto é

inevitável abordar as duas teorias amplamente conhecidas que buscam explicá-las com base

nos elementos que a integram.

A primeira teoria, conhecida por "Teoria Subjetiva da Posse" foi desenvolvida por

Friedrich Von Savigny23

e apregoa que ela é formada por dois elementos, um deles um

elemento objetivo, que pode ser definido como o contato físico com a coisa, chamado pelo tal

escritor de "corpus" e o outro um elemento subjetivo chamado de "animus", que pode ser

conceituado como a vontade de ter a coisa para si e consequentemente protegê-la da invasão

de outrem, nota-se que esses dois elementos devem ser cumulativos e para Savigny a falta de

um deles implicaria no não reconhecimento da posse.

O doutrinador Caio Mário da Silva Pereira elucida que seguindo a lógica da teoria

supracitada, não teríamos relações possessórias naquelas relações em que a pessoa tem a

coisa: " em seu poder, ainda que juridicamente fundada (como na locação, no comodato, no

penhor etc.) por lhe faltar a intenção de tê-la como dono (animus domini), o que dificulta

sobremodo a defesa da situação jurídica"24

A segunda Teoria sobre a posse, contrapondo à primeira, foi desenvolvida por Rudolf

Von Ihering e foi denominada por Teoria Objetiva da posse, justamente por deixar de lado o

animus, desenvolvido por Savigny, que se repita foi conceituado como a intenção de ter a

coisa para si. Na verdade, não é que Ihering tenha ignorado o "animus", mas o considerava

como se já estivesse subentendido no "corpus", pois para o mesmo bastava à presença do

elemento objetivo: "corpus" para que a posse existisse.

Mas há de se frisar, que o conceito desenvolvido por Ihering em relação ao corpus

diverge do apresentado por Savigny, devendo esse ser entendido como a conduta de dono,

sendo a exteriorização da propriedade, ainda que independente desta e não apenas um mero

contato corporal com a coisa como desenvolveu o primeiro autor. Para Ihering o corpus

é suficiente para a configuração da posse, isso porque ele pode ser comprovado com

facilidade e é visível.

23

A obra clássica desenvolvida por Savigny chama-se "Tratado da posse", em que apregoa que a posse por si só

gera direitos e proteções específicas. 24

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil.19.ed. Rio de Janeiro: Forense,2001, v.II; 19 . Ed,

2002, v.I; e18 . Ed.; 2004, v IV.

Page 21: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

21

Se pudéssemos apontar uma distinção entre as duas teorias, a melhor análise seria

aquela elaborada por Caio Mário da Silva Pereira, que dispôs:

“para a primeira, o corpus aliado à afeectio tenendi gera detenção que somente se

converte em posse quando se lhes adiciona o animus domini (Savigny); para a

segunda, o corpus mais a affectio geram posse, que se desfigura em mera detenção

apenas na hipótese de um impedimento legal”.

Feita tal distinção, podemos afirmar que o Código Civil de 2002 aderiu à teoria

objetiva desenvolvida por Ihering, cumpre salientar, no entanto que não constitui ineditismo

tal adoção, pois o Código Civil de 1916 também já adotava o prelecionado por tal autor.

Pela redação do art.1196 do Código Civil é possível ratificar a adoção da teoria

objetiva, in verbis:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou

não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Importante frisar que foi estabelecido pelo legislador a diferença entre posse e

detenção, pois o detentor, por vezes chamado pela doutrina como “fâmulo da posse”, é aquele

que sob as instruções ou cumprimento de ordens conserva a posse em nome de outrem, tal

distinção foi delimitada no art.1198 CC, in verbis:

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência

para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou

instruções suas.

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este

artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o

contrário.

Sobre os fâmulos da posse, o civilista Silvio Venosa afirma que os detentores não

usufruem no sentido econômico da posse, justamente por essa posse pertencer a outrem,

conforme se demonstra a seguir:

“O detentor, ou fâmulo, nesse caso não usufrui no sentido econômico da posse, que

pertence a outrem. Nesta situação colocam-se os administradores da propriedade

imóvel; os empregados em relação às ferramentas e equipamentos de trabalho

fornecidos pelo empregador; o bibliotecário com relação aos livros; o almoxarife em

relação ao estoque etc. Desse modo o conceito amplo de posse, descrito no art. 1.196

(antigo art. 485), deve ser examinado não somente em consonância com a descrição

Page 22: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

22

do art. 1.198 ss (antigo arts. 487 ss), como também com a ressalva do art. 1.208

(antigo art. 497): “Não induzem posse atos de mera permissão ou tolerância”25

Especial importância também deve ser dada ao paragrafo único do artigo

mencionado, pois para que o detentor passe para o status de possuidor, terá o mesmo que

comprovar efetivamente, ou seja, de forma inequívoca que não cumpre mais as ordens ou

instruções para a conservação da posse em nome de outro.

Ademais, outro dispositivo previsto no Código Civil de suma importância para o

conceito de posse é o art. 1.208 CC, o qual enfatiza que os atos de mera permissão não dão

ensejo à caracterização da posse, bem como os atos marcados pela violência ou

clandestinidade não são suficientes para a sua aquisição, in verbis:

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como

não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de

cessar a violência ou a clandestinidade.

Em síntese pode-se afirmar que a posse existirá sempre que tivermos a

manifestação, ou melhor dizendo, o exercício dos poderes inerentes a propriedade (uso, gozo,

fruição e disposição), a menos que esteja expressamente previsto em lei que tal exercício

enquadra-se no caso de detenção e não no de posse.

O civilista Joel Dias Figueira Júnior ao discorrer sobre o interesse do titular em

proteger a sua posse afirmou que: “[...] o titular da posse tem o interesse potencial em

conservá-la e protegê-la de qualquer tipo de moléstia que porventura venha ser praticada por

outrem, mantendo consigo o bem numa relação de normalidade”26

, essa proteção decorre de

um dos efeitos decorrentes da posse e para tanto agora se passa para a análise dos mesmos.

2.3 Da Natureza jurídica da posse e dos efeitos que dela emanam.

Para se falar dos efeitos da posse é importante abordar a sua natureza jurídica, que

também apresenta algumas divergências, já que a doutrina diverge sobre ser a posse um fato

ou um direito, ou se admitida como um direito se seria um direito pessoal ou real. Para

Ihering a posse seria um direito, já para Savigny é ao mesmo tempo um fato e um direito,

originando a chamada teoria eclética da natureza jurídica da posse, pois se analisada em si

25

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direitos reais. São Paulo: Editora Atlas, 3ª Edição, 2003, p.52. 26

Novo Código Civil Comentado, p. 1062-1063, e Posse, cit. V. I, p 95-97.

Page 23: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

23

mesma ela é um fato, mas se analisada quanto aos efeitos que dela decorrem é um direito, dois

desses efeitos para ele seriam: os interditos27

e a usucapião.

A colocação da posse fora do rol dos direitos reais previstos no art.1225 do Código

Civil acentua a discussão sobre a mesma ser um direito, principalmente quanto a ser um

direito real, já que ali não foi mencionada pelo legislador, mas frisa-se que essa omissão não é

o suficiente para encerrar tal discussão, isso porque majoritariamente a doutrina sobre o tema

entende que existem outros direitos reais ainda que ali não encartados, seriam o caso do

pacto de retrovenda e do direito de retenção.

Se admitida a posse como um direito real, seria necessária a observância do que

dispõe o art. 10 do Código de Processo Civil (1973) no que tange as ações possessórias, já

que preleciona a necessidade da participação processual do cônjuge para propor ações que

versem sobre direitos reais imobiliários, in verbis:

Art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor ações

que versem sobre direitos reais imobiliários.

No entanto, como bem salienta o professor Carlos Roberto Gonçalves, a Lei n°

8.952, de 13 de dezembro de 1994, ao incluir o parágrafo 2° no art. 10, para que a

participação do cônjuge nas ações possessórias fosse resumida aos casos de composse28

ou

quando os atos fossem praticados por ambos os cônjuges, enfraqueceu a teoria de que a posse

é puramente um direito real e deste modo também entendeu o Superior Tribunal de Justiça.29

Portanto, o melhor posicionamento a ser adotado quanto à natureza jurídica da posse,

seria aquele que apregoa que a posse é um direito “sui generis”, possuindo assim uma

natureza especial30

e por isso não pode ser enquadrada na dicotomia entre direito pessoal

versus direito real, pois não se coaduna com perfeição em nenhum deles. O civilista Joel Dias

Figueira Júnior corrobora de tal entendimento quando diz que a posse “ é pertencente a uma

categoria especial, típica e autônoma, cuja base é o fato, a potestade e a ingerência

socioeconômica.”31

27

Nome que também se dá as ações possessórias 28

Composse é o nome que se dá quando há mais de um possuidor. 29

Quando do julgamento do RSTJ, 74/229 30

A expressão “ natureza” especial foi utilizada por Clóvis Beviláqua em sua obra Dos vícios da posse, cit., p.6 31

Posse, cit, p.127

Page 24: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

24

Quanto aos efeitos da posse, parte da doutrina acredita que o único efeito da posse é

a propriedade, pois para esses todos os efeitos na verdade decorrem desta, em contraponto há

quem acredite32

que a posse por si mesma produz efeitos e seriam eles: a faculdade de invocar

os interditos, ou seja, as ações possessórias e a usucapião.

Já Carlos Roberto Gonçalves33

fazendo uma análise sistemática do Código Civil,

no que tange ao tema, conseguiu elencar cinco efeitos decorrentes da posse, são eles: a

proteção possessória, incluindo-se o desforço imediato e a faculdade de invocar os interditos;

a percepção dos frutos; a responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa; a indenização

pelas benfeitorias e o direito de retenção e por fim a usucapião.

Em razão do tema proposto pela presente monografia, que se limita a estudar as

mudanças relativas ao procedimento das ações possessórias bem como desvendar os

interesses políticos no processo legislativo que culminaram nas modificações, nos ateremos a

dois dos efeitos mais importantes da posse, quais sejam: a faculdade de invocar os interditos

possessórios34

, em melhores palavras, a possibilidade de proteção da posse através das ações

possessórias e o desforço imediato.

O art. 1210 do Código Civil discorre sobre os efeitos da posse, sendo seu caput o

fundamento para a propositura das ações possessórias e o parágrafo 1 ° o fundamento para o

exercício do desforço imediato, conforme se depreende:

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação,

restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de

ser molestado.

§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua

própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não

podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. (grifos meus)

É importante salientar, que existe uma distinção entre os institutos do desforço

imediato e da legitima defesa, pois quando o possuidor está, naquele exato momento, na sua

posse e sofre uma turbação poderá fazer uso da legitima defesa, já quando for a hipótese de

esbulho e houver perda da posse, poderá se valer do desforço imediato. Importante salientar

que o desforço imediato deve ser praticado no “calor dos acontecimentos”. O civilista Carlos

Roberto Gonçalves aponta uma clara distinção entres os dois institutos:

32

Podemos citar entre estes: Cornil e Edmundo Lins 33

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Direito das coisas.São Paulo: Saraiva. V. V. 34

Segundo o Professor Washington de Barros Monteiro, a palavra interdito tem a sua origem na expressão

“interim dicuntur”, a qual expressa a efemeridade da decisão proferida no juízo possessório e em razão de que

tão somente no juízo petitório é em que se finaliza.

Page 25: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

25

“A legitima defesa não se confunde com o desforço imediato, Este ocorre quando o

possuidor, já tendo perdido a posse (esbulho), consegue reagir, em seguida retomar a

coisa. A primeira somente tem lugar enquanto a turbação perdurar, estando o

possuidor na posse da coisa. O desforço imediato é praticado diante do atentado já

consumado, mas ainda no calor dos acontecimentos. O possuidor tem de agir com

suas próprias forças, embora possa ser auxiliado por amigos e empregados,

permitindo-lhe ainda, se necessário, o emprego de armas”.

Nota-se que não raramente é noticiado na mídia, os conflitos entre os proprietários e

os invasores, por vezes o desforço imediato é utilizado pelo proprietário com o emprego de

armas o que agrava a situação e provoca uma situação de intenso conflito, cujo os

desdobramentos podem ser catastróficos, tal situação também ocorre durante a reintegração

por determinação judicial, e podemos citar o exemplo da Terra indígena Buriti, localizada no

Mato Grosso do Sul, em que houve a morte de um terena, já que por determinação da Justiça

Federal a terra pertencia aos produtores rurais e houve uso de força de policial na sua

retomada.35

Porém, nem sempre o desforço imediato vem acompanhado dessa faceta agressiva,

colaciona-se a seguir jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, em que

uma Construtora exerceu ato de desforço imediato, trocando a fechadura de um apartamento,

para impedir a entrada de um futuro comprador que pretendia clandestinamente cometer

esbulho possessório, veja-se:

AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DIREITO DO CIVIL. DEFESA DA

POSSE POR DESFORÇO IMEDIATO. POSSIBILIDADE. 1.É possível, dentro dos

limites consagrados na legislação, o desforço pessoal, que implica na retomada da

posse no instante em que está sendo esbulhada. 2.No caso, realmente a posse era da

Construtora e clandestinamente o futuro comprador cometeu o esbulho. 3.A

Construtora restaurou o status quo ante, trocando apenas a fechadura, num

ato de desforço pessoal, dentro dos limites legais. 4.Recurso de Agravo de

Instrumento Provido. (grifos meus)

35

O cacique terena Argeu Reginaldo afirmou, durante conflito com policiais na reintegração de posse da fazenda

Buriti, em Sidrolândia (MS), que a reivindicação dos indígenas é a terra. Ferido durante a operação, ele reclamou

da violência. Um terena morreu durante o conflito. Durante a tarde, a área foi desocupada. "Não somos

cachorros, não somos animais selvagens. Nós temos dignidade", disse o cacique. "Eu faço um apelo, nós somos

povo, nós somos nação. Pelo amor de Deus, a reivindicação nossa é a terra. Não façam mais dessa forma",

declarou. A Terra Indígena Buriti foi reconhecida em 2010 pelo Ministério da Justiça como de posse permanente

dos índios da etnia terena. A área, localizada entre Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia, foi delimitada em

portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU) e abrange 17.200 hectares. Após a declaração, o processo

segue para a Casa Civil, para a homologação da presidência da República, o que ainda não foi feito. Durante

nove anos, as comunidades indígenas aguardaram a expedição da portaria declaratória. O relatório de

identificação da área foi aprovado em 2001 pela presidência da Funai, mas decisões judiciais suspenderam o

curso do procedimento demarcatório. Em 2004, a Justiça Federal declarou, em primeira instância, que as terras

pertenciam aos produtores rurais.

A Funai e o Ministério Público Federal recorreram e, em 2006, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-

3) modificou a primeira decisão e declarou a área como de ocupação tradicional indígena. No entanto, os

produtores rurais entraram com recurso de embargos de infringentes e conseguiram decisão favorável em junho

de 2012. (NÃO, 2013)

Page 26: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

26

(TJ-PE - AG: 177945 PE 001200800361804, Relator: Francisco Manoel Tenorio

dos Santos, Data de Julgamento: 12/03/2009, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação:

182)

Frisa-se ainda que, embora a proteção possessória compreenda o exercício da

legitima defesa no caso da turbação e do desforço imediato no caso do esbulho, os seus atos

sofrem limitação, pois não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da

posse. Tais atos devem ser exercidos com imediatismo, ou seja, subsequentes ao esbulho ou a

turbação praticada por outrem, nota-se que esse imediatismo sofre alguma flexibilidade no seu

entendimento, se o possuidor não puder reagir imediatamente, deve fazer logo que lhe seja

possível.36

2.4 Das ações possessórias em espécie37

2.4.1 Da turbação e da ação de Manutenção de posse

Como dito anteriormente, um dos efeitos da posse é a possibilidade de invocar os

interditos possessórios, ou seja, as ações possessórias, são elas: ação de manutenção de posse,

ação de reintegração de posse e interdito proibitório. Faz-se necessário mencionar que existe

uma classificação doutrinária no sentido de dividir as ações possessórias em típicas, categoria

esta que se enquadrariam as três citadas, e não típicas, que seriam aquelas que não versam

especificamente sobre a posse, o professor Luiz Rodrigues Wambier faz apontamentos nesse

sentido:

“as ações possessórias mencionadas nos artigos 926 a 933 são típicas, quais sejam:

reintegração, manutenção e interdito proibitório. Já as ações que não versam

propriamente sobre a posse, como a nunciação de obra nova, não são ações

possessórias típicas, pois não possuem o objetivo de tutelar a posse.”38

Enfatiza-se que como a 39

presente monografia, tem como cerne de estudo o

procedimento para a concessão da medida liminar “initio litis”, nas ações de manutenção e

36

Carvalho Santos em sua obra Código Civil brasileiro Interpretado, v. VII, p.137 elabora tal argumento. 37

Muito embora boa parte da literatura jurídica utilize o termo “ações possessórias”, na melhor técnica a

denominação correta seria por “procedimento possessório”, tendo em vista que são atos praticados dentro do

processo para se alcançar a proteção possessória. 38

WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil: Procedimento

Cautelar e Procedimentos Especiais. 11. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 269 e 270. 39

Bem como analisar a modificação concernente ao tema no estudo do Novo Código de Processo Civil.

Page 27: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

27

reintegração de posse, trataremos apenas das ações possessórias próprias, e todas as vezes que

a expressão “ações possessórias” for aqui utilizada estará se referindo a essas ações.

A ação de manutenção de posse, decorrente da proteção possessória, é a ação a ser

manejada pelo possuidor que sofra turbação, e tem o exercício de sua posse mitigado, para

que assim possa recuperá-la em sua integridade, ou seja, retornar ao status quo antes. Alguns

defendem que a palavra turbação possui uma relação semântica com o vocábulo perturbação

e, portanto, torna-se fácil a compreensão de tal instituto, pois em poucas palavras o possuidor

estaria sendo perturbado em sua posse.

O caput do art. 1210 do Códex Civil, garante tal proteção ao mencionar que o

possuidor tem o direito de ser mantido em sua posse no caso de turbação, isso porque na

turbação não há uma perda da posse em sua integralidade ou uma privação absoluta da

mesma, mas apenas um embaraço ao seu livre exercício.

Nas palavras do professor Carlos Roberto Gonçalves a turbação pode ser definida

juridicamente como “todo ato que embaraça o livre exercício da posse.”40

e aqui reside a

diferença substancial entre a turbação e o esbulho, pois naquela não há privação absoluta da

posse, o possuidor não a perde, mas sofre uma redução de seu exercício em razão de uma

conduta de outrem, segundo Wambier a turbação pode ser entendida como um esbulho

parcial:

“Turbação é o esbulho parcial, ou seja, é a perda de algum dos poderes fáticos sobre

a coisa, mas não a totalidade da posse. O possuidor continua possuindo, mas não

mais pode exercer, em sua plenitude, a posse. Por exemplo, ocorre turbação quanto

alguém adentra no imóvel e passa a cortar árvores, seguidamente, mas não impede o

acesso do possuidor à área.”41

Por fim, resta evidente que para ação de manutenção de posse o fundamento

necessário é a vontade do possuidor em fazer com que a sua posse seja respeitada, não sendo

necessário para isso que da turbação resulte danos.

2.4 Do esbulho e da Ação de Reintegração de posse

Quando o possuidor se vê privado de sua posse, a esse ato dar-se á o nome de

esbulho, essa privação pode ser em decorrência da violência, da clandestinidade ou do abuso

40

Carlos Roberto Gonçalves elaborou tal definição em sua obra : Direito das coisas (2011, p. 151). 41

WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil: Procedimento

Cautelar e Procedimentos Especiais. 11. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 269 e 270.

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28

de confiança. A principal diferença entre o esbulho e a turbação, é que no esbulho a perda da

posse é efetiva, estando o possuidor completamente privado da mesma.42

Nas palavras do

Professor Adroaldo Texeira a ação de Reintegração de posse “objetiva restaurar o

desapossado na situação fática anterior, desfeita pelo esbulho.”43

A privação da posse pela violência é um dos vícios mais graves e caracteriza-se pelo

uso da força, fatidicamente ocorre quando o invasor comete esbulho empregando meios

violentos para privar o possuidor de sua posse, tal violência pode ser física ou moral. Frisa-se

aqui que a violência não pode ser confundida com o já abordado desforço imediato, pois este

deriva da proteção possessória e o possuidor ao fazer uso do mesmo, não está cometendo

violência e a sua posse não é considerada injusta, pois está no legitimo exercício de seu

direito, isso é desde que o desforço imediato seja exercido de modo proporcional a agressão.

Diferentemente, o esbulho por clandestinidade se caracteriza por ser as ocultas do

possuidor e envolto pela sutileza, para efeitos da medida liminar que será tratada mais adiante,

o termo inicial para contagem do prazo de ano e dia nessa modalidade de esbulho, dar-se-á a

partir do momento em que o possuidor teve conhecimento do esbulho praticado.

Já em relação ao abuso de confiança, deste deriva a precariedade, isto porque o

agente inicialmente recebeu do proprietário (ou possuidor) a coisa e agora se nega a devolvê-

la, já estando no findo do prazo estabelecido, ou se não havia um prazo determinado, após ser

interpelado para que procedesse a devolução, enquanto não chegar o termo final o agente tem

posse justa podendo inclusive valer-se da proteção possessória.

A precariedade difere-se da violência e da clandestinidade, pois essas se dão no

momento da aquisição da posse, já aquela só surge posteriormente quando, repita-se, o

possuidor direto não devolve a coisa. Precioso esclarecimento é aquele realizado por Carlos

Roberto Gonçalves, em relação ao cessar da violência e da clandestinidade:

“Cessadas a violência e a clandestinidade, a mera detenção, que então estava

caracterizada, transforma-se em posse injusta em relação ao esbulhado, que

permite ao novo possuidor ser mantido provisoriamente, contra os que não

tiverem melhor posse. Na posse de mais de ano e dia, o possuidor será mantido

provisoriamente, contra os que não tiverem melhor posse. Na posse de mais de ano e

dia, o possuidor será mantido provisoriamente, inclusive contra o proprietário, até

ser convencido pelos meios ordinários (CC, art. 1210 E 1211; CPC, art.924).

Cessadas a violência e a clandestinidade, a posse passa a ser útil, surtindo todos os

42

Importante destacar que parte da doutrina acredita que a turbação seria um esbulho parcial, e por isso nesse

caso estaria a escolha do possuidor ingressar com ação de manutenção ou de reintegração de posse. 43

Adroaldo Fabrício Furtado, Comentários, cit. V. VIII, t.III, p.379 – 380.

Page 29: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

29

efeitos, nomeadamente para a usucapião e para a utilização dos interditos.”44

(grifos

meus)

Essa proteção é permitida em relação a terceiros, pois a posse só é violenta,

clandestina ou precária em relação ao legitimo possuidor, contra os demais ela é digna da

proteção possessória. As posses que apresentam a violência e a clandestinidade na sua

aquisição, ou derivaram do abuso de confiança, são chamadas de posse injusta, isso porque o

art. 1202 traz o conceito de posse justa e pelas vias contrárias, assim podemos deduzir:

Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

Críticas se insurgem quanto à redação de tal dispositivo, pois o mesmo estaria

limitando os vícios da posse aos enumerados ali, como se só houvesse posse viciosa naquelas

situações. Nas palavras de Marcus Vinicius Rios Gonçalves, 45

quem invade ainda que em céu

aberto e sem incorrer em nenhuma das hipóteses de tal artigo, ainda assim estaria praticando

esbulho possessório e seria tal posse injusta em relação ao anterior proprietário ou possuidor.

2.4.3 Da ameaça e do Interdito Proibitório

Uma das características mais marcantes da ação de interdito proibitório é o seu viés

preventivo, ou seja, o possuidor ainda não está sendo turbado ou esbulhado, mas acredita que

está na iminência de ser privado da posse ou de ter o seu exercício embaraçado.

O civilista João Batista Monteiro destaca que não é qualquer tipo de ameaça que

pode ser utilizada para o manejo da ação de interdito proibitório, mas sim aquela ameaça que

seja capaz de provocar receio no homem médio46

. O possuidor ingressa com tal ação visando

proteger a sua posse, com base na ameaça que vem sofrendo, solicitando ao Estado-juiz que

expeça mandado proibitório que estipule pena pecuniária, caso o agente transgrida tal

preceito, ou seja, na hipótese de vir a praticar o esbulho ou a turbação.

44

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Direito das coisas. São Paulo: Saraiva. V. 2013., pág

93 45

Marcus Vinicius Rios Gonçalves, Dos vícios da posse, p.50. 46

João Batista Monteiro, Ação de reintegração de posse, p119 e p.121

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30

A ação de interdito proibitório está prevista nos arts. 932 e 933 do Código de

Processo Civil de 1973, o último salienta que se aplica ao interdito o mesmo previsto na seção

anterior no que concerne às ações de manutenção e reintegração de posse e o primeiro define

tal ação, abordando os legitimados para a sua propositura, in verbis:

Art. 932. O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser molestado na

posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente,

mediante mandado proibitório, em que se comine ao réu determinada pena

pecuniária, caso transgrida o preceito. (grifos meus)

Deve-se frisar que não é somente o interdito proibitório, que permite ao possuidor

indireto o seu manejo, já que todas as ações possessórias aqui mencionadas podem ser

propostas tanto pelo possuidor indireto quando pelo direito, inclusive do possuidor indireto

em desfavor do direto para proteção de sua posse.

Nas palavras de João Batista Monteiro, 47

esse desdobramento da posse em direta e

indireta, ocorre quando o proprietário ou possuidor transfere a outra pessoa, por negócio

jurídico, o direito de usar a coisa e por isso quem a recebe tem a posse direta, já o primeiro

guarda para si a posse indireta.

O Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que na hipótese de o possuidor

ingressar com a ação de interdito proibitório e a posse vier a ser de fato molestada, pelo o

esbulho ou pela turbação, bastará a comunicação de tal fato para o juiz que a ação será

convolada para manutenção ou reintegração de posse, veja-se: “Verificada a moléstia à posse,

transmuda-se automaticamente o interdito proibitório em ação de manutenção ou de

reintegração, bastando apenas que a parte comunique o fato ao juiz”.48

47

Ação de reintegração de posse, p.33 48

JTACSP, 98/186, julgado colacionado da obra “Direito das Coisas” do professor Carlos Roberto Gonçalves.

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31

CAPÍTULO 3: Do procedimento das ações possessórias no Código de Processo Civil de

1973.

3.1- Das disposições gerais e das características das ações possessórias

Como dito, não obstante a classificação das ações possessórias em próprias e

impróprias, no presente trabalho são analisadas, somente, as ações de reintegração de posse,

manutenção de posse e interdito proibitório, isso em razão da pertinência do tema da medida

liminar “initio litis” no Novo Código de Processo Civil.

As ações possessórias encontram-se reguladas no Código de Processo Civil de 1973,

dentro do Livro IV, o qual trata sobre os procedimentos especiais, no Capítulo V, entre os

arts. 920 a 933, sendo dividido da seguinte forma: disposições gerais (920 a 925), da

manutenção e da reintegração de posse ( 926 a 931) e do interdito proibitório (932 a 933).

No que tange as normais gerais das ações possessórias, o princípio basilar é o da

fungibilidade, previsto no art. 920, isto significa dizer que se por algum motivo o autor

ingressar como uma ação que não seja adequada à proteção possessória que é cabível a sua

situação dos fatos, o juiz ainda assim analisará o pedido e expedirá o respectivo mandado,

caso os requisitos estejam presentes, in verbis:

Art. 920. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o

juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos

requisitos estejam provados.

Exemplo claro, é a situação, citada no capítulo anterior, em que o autor depois de

ajuizar o interdito proibitório sofre uma turbação ou esbulho, neste caso comunicará ao juiz

para que a ação seja convertida na de manutenção ou reintegração. Há quem defenda49

que o

principio da fungibilidade somente é aplicado a tal exemplo, pois não seria possível a

conversão de uma ação de manutenção de posse em interdito proibitório, isso porque não teria

mais interesse de agir, pois a ameaça já foi de fato concretizada.

Também é permitido ao autor cumular pedidos ao ingressar com uma ação das ações

possessórias, o próprio art. 921 elenca quais as cumulações permitidas para que ainda assim, a

ação siga pelo rito especial, tais pedidos tem como objetivo buscar uma proteção possessória

mais completa e efetiva. Todavia, deve-se salientar que a cumulação de outro pedido fora os

49

O professor Carlos Roberto Gonçalves em sua obra direito das coisas defende que o princípio da fungibilidade,

somente é aplicado na via do interdito proibitório para a ação de manutenção ou reintegração.

Page 32: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

32

dos expressamente previsto, implica que a ação tramite pelas vias ordinárias, isso porque a

liminar só cabe na ação possessória pura, conforme depreende-se da leitura de tal dispositivo:

Art. 921. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:

I - condenação em perdas e danos;

Il - cominação de pena para caso de nova turbação ou esbulho;

III - desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua posse.

Fato extremamente curioso e importante sobre as ações possessórias é a sua natureza

dúplice concedida pelo legislador, a natureza dúplice significa que o réu pode contestar a ação

possessória que lhe foi ajuizada, requerendo ao juiz proteção possessória, por ser o legitimo

possuidor e na verdade está sendo ele o único ofendido na sua posse. Para tanto o juiz deverá

averiguar no caso em questão, quem tem melhor posse: o autor ou o réu, para só assim

conceder a proteção, a vantagem da natureza dúplice é a dispensa da reconvenção, bastando o

pedido na contestação e a comprovação dos requisitos específicos, a previsão expressa para a

natureza dúplice encontra-se no art.922, in verbis:

Art. 922. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse,

demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da

turbação ou do esbulho cometido pelo autor.

Importante distinção é entre o juízo petitório e o juízo possessório, no último

discute-se a posse, já no primeiro discute-se a propriedade, o art. 923 estabeleceu vedação

expressa ao autor e ao réu, para que durante o curso de ação possessória não fosse intentada

ação de reconhecimento de domínio, ou seja, em que se reconheça a propriedade, para que

assim esta não fosse utilizada como um “trunfo” no transcorrer da ação possessória.

No entanto, conforme aduz Carlos Roberto Gonçalves50

o entendimento

jurisprudencial aponta que a vedação deve ser aplicada, somente nos casos em que na ação

possessória, a posse esteja sendo calcada com base nos títulos de domínio, mas se ao revés, se

a ação possessória estiver calcada somente em atos concretos de posse, é permitido o

ajuizamento da ação de reconhecimento de domínio, segue a técnica do art. 923:

Art. 923. Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao

réu, intentar a ação de reconhecimento do domínio

50

Em sua obra direito das coisas, foi apresentado os seguintes julgados: RT, 482/273, 605/55; RJTSP, 123/127

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33

O art. 924 é o principal artigo das disposições gerais e o de mais importância para o

desenvolvimento da presente monografia, pois preleciona que as normas da seção seguinte,

relativas à manutenção e reintegração de posse, serão somente aplicáveis naqueles casos, em

que a ação for intentada dentro de ano e dia ( 1 ano e 1 dia)51

da turbação ou do esbulho, pois

nesse caso será possível, se comprovado os requisitos específicos, a concessão da medida

liminar. No entanto, caso se tenha transcorrido o prazo de ano e dia, a ação ainda pode ser

ajuizada e não perderá a sua natureza de ação possessória, mas tramitará pelo rito ordinário,

conforme observa o art.924:

Art. 924. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as

normas da seção seguinte, quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do

esbulho; passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter

possessório. (grifo meu)

Porém, embora não seja possível na ação de força velha; aquela que foi intentada

após ano e dia da data do esbulho ou turbação descrito na inicial, a concessão da medida

liminar “inaudita altera parte” ou após a realização da audiência de justificação, o Superior

Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de ser possível em tais ações a concessão da

antecipação de tutela nos termos do art. 273 do CPC, desde que comprovada a

verossimilhança das alegações e haja o fundado receio de dano irreparável ou de difícil

reparação, veja-se:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DECISÃO.

ANTECIPAÇÃO DETUTELA. CABIMENTO. AÇÃO POSSESSÓRIA. POSSE

VELHA. REQUISITOS. ART273, CPC. POSSIBILIDADE. 1. O art. 527 do CPC

permite a negativa de seguimento do agravo sema audiência da parte contrária

(inciso I), porque tal decisão não altera a situação jurídica do agravado. O

provimento do recurso, todavia, seja ele por decisão singular ou colegiada, não

prescinde da prévia intimação da parte adversária (inciso V). Precedente da Corte

Especial - RESP 1.148.296/SP, submetido ao rito dos recursos repetitivos. 2. Esta

Corte, em sintonia com o disposto na Súmula 735 do STF (Não cabe recurso

extraordinário contra acórdão que defere medida liminar), entende que, via de regra,

não é cabível recurso especial para reexaminar decisão que defere ou indefere

liminar ou antecipação de tutela, em razão da natureza precária da decisão, sujeita à

modificação a qualquer tempo, devendo ser confirmada ou revogada pela sentença

de mérito. 3. Hipótese em que se trata de violação direta ao dispositivo legal que

disciplina o deferimento da medida (CPC, art. 273), razão pela qual é cabível o

recurso especial. 4. É possível a antecipação de tutela em ação de reintegração

de posse em que o esbulho data de mais de ano e dia (posse velha),submetida ao

rito comum, desde que presentes os requisitos que autorizam a sua concessão,

previstos no art. 273 do CPC, a serem aferidos pelas instâncias de origem. 5.

Recurso especial provido. (grifos meus)

51

Não existe um consenso para explicar porque a escolha do prazo em 1 ano e dia, mas acredita-se que seja

relacionado ao tempo de plantio e colheita das plantações.

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34

(STJ - REsp: 1139625 RJ 2009/0089363-7, Relator: Ministra MARIA ISABEL

GALLOTTI, Data de Julgamento: 12/06/2012, T4 - QUARTA TURMA, Data de

Publicação: DJe 01/08/2012)

Por fim, relativo às disposições gerias das ações possessórias, compete falar sobre o

art.925 que prevê a exigência de prestação de caução, em razão do receio do réu de que o

autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse não tenha condições financeiras de

responder por perdas e danos, na hipótese de perder a ação. Desse modo, caso o juiz acolha tal

pretensão, poderá solicitar que o autor no prazo de 5 dias, ofereça a caução ou deposite a coisa

em juízo, como a segunda opção implica necessariamente na perda da posse de quem a havia

conseguido através de medida liminar, surgem criticas doutrinárias sobre a redação de tal

dispositivo, também calcadas na hipótese do autor ser hipossuficiente e não ter condições de

oferecer caução.

Art. 925. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido

ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de decair da

ação, responder por perdas e danos, o juiz assinar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias

para requerer caução sob pena de ser depositada a coisa litigiosa.

No entanto, como salienta o professor Adroaldo Furtado, a redação de tal dispositivo

não tem caráter discriminatório, pois à priori não visa afastar da proteção possessória os

menos favorecidos, pois o juiz terá discricionariedade para conceder ou não tal medida

mediante o caso concreto. Na opinião do mesmo, o objetivo precípuo de tal artigo é

assecuratório e não punitivo.52

3.2 A protagonista: da medida liminar e do procedimento para a sua concessão

Como já dito, os grandes embates legislativos na tramitação do Novo Código de

Processo Civil, que será abordado nos capítulos seguintes, tiveram como protagonista a

medida liminar das ações possessórias e o procedimento para a sua obtenção, que está

previsto entre os arts. 926 a 931 do Código de Processo Civil.

Salienta-se que o procedimento explicado a seguir, é aplicável apenas nas ações

possessórias, que forem intentadas até 1 ano e 1 dia da data em que foi praticado o esbulho ou

52

Comentários, cit,v. VII,t. III, p.435

Page 35: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

35

a turbação. Iniciando o tema, o art. 926 oferece o fundamento para tais ações, ao dispor que o

possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e ser reintegrado no caso de

esbulho.

Por óbvio que a ação possessória, deve obedecer aos requisitos do art.282 do CPC,

que traz os elementos indispensáveis para qualquer petição inicial, como a identificação das

partes, o pedido, os fatos e fundamentos jurídicos do pedido, o valor da causa, o protesto pelas

provas e o requerimento para citação do réu. O valor da causa e a citação dos réus são os

elementos que costumam chamar maior atenção, nos interditos proibitórios, isso porque não

existe disposição expressa para determinar o valor da causa nas ações possessórias, mas

jurisprudencialmente aponta-se que o valor da causa atribuído deve ser o valor venal do

imóvel53

.

Em relação à citação do réu, o tema ganha especial importância quando diante da

pluralidade, fato comum nos litígios coletivos, em que as invasões ocorrem por movimentos

organizados, que são constituídos por uma coletividade de famílias, nesta situação também

existe o entendimento jurisprudencial que seriam citados e indicados na inicial, somente os

líderes de tais movimentos, pois seria desproporcional exigir do autor a qualificação ou a

espera pela citação de todos os ocupantes.54

O art. 927 elenca os elementos específicos que o autor deve provar ao ingressar com

a inicial de reintegração ou manutenção de posse, a fim de que o Estado Juiz possa conceder a

respectiva proteção possessória, in verbis:

Art. 927. Incumbe ao autor provar:

I - a sua posse;

Il - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;

III - a data da turbação ou do esbulho;

IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da

posse, na ação de reintegração.

Como o primeiro requisito é a posse, torna-se óbvio que quem nunca teve posse não

se pode valer das ações possessórias e por isso compete ao autor provar que detém a coisa,

que ela é exercida em seu proveito e ainda se o direito violado é suscetível de posse. Frisa-se

53

RT, 782/285, RT 566/152 54

RT, 744/172

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36

que se admite o manejo das ações possessórias por quem recebeu a posse por transmissão

mortis causa através de seu antecessor. Ao contrário do que possa parecer, a falta da posse

nas ações possessórias não é motivo para a extinção do processo sem resolução de mérito,

mas sim para a improcedência da ação.

No segundo requisito é essencial que o autor prove o esbulho ou a turbação praticada

pelo réu, ou seja, é necessário que haja uma identificação de tais atos como sendo esbulho ou

turbação, na turbação o possuidor continua no exercício de sua posse, mas tal exercício sofre

uma mitigação em razão de um ou muitos atos praticados pelo réu, já no esbulho o possuidor

perde a sua posse, é privado totalmente de seu exercício, no caso da turbação será cabível o

manejo da ação de manutenção de posse, já no caso do esbulho será cabível a ação de

reintegração de posse.

O terceiro requisito é a data da turbação ou do esbulho, o que é fundamental para a

concessão ou não da medida liminar, pois só será admitida a expedição do mandado liminar

nas ações que forem propostas dentro de ano e dia da data da prática da turbação ou do

esbulho. O prazo de ano e dia é decadencial, e será o parâmetro utilizado para classificação

das ações entre força velha e força nova. Isto não significa dizer, que passado o prazo de ano e

dia, o autor não possa ingressar com tais ações, já que ele poderá manejá-las ainda assim, no

entanto tramitarão pelo rito ordinário, não sendo possível a concessão da medida liminar.55

Certa confusão pode ser feita em relação ao prazo de ano e dia, que já dito é

decadencial e o prazo prescricional da ação de manutenção e reintegração de posse. O prazo

de ano e dia é para fins de concessão da medida liminar e tem como termo inicial a data do

esbulho e da turbação praticada, já o prazo prescricional para a propositura de tais ações é 10

anos nos termos do art. 205, por não ter o Código Civil estipulado um prazo especifico para

tais ações, mas, repisa-se se, passado o prazo de ano e dia da data da turbação ou do esbulho

não cabe mais a medida liminar inaudita altera parte ou após a audiência de justificação, pois

ação tramitará pelo rito ordinário.56

O último requisito específico é a comprovação pelo autor da continuação na posse,

embora turbada, na ação de manutenção de posse, e a perda da posse no caso da ação de

reintegração de posse. Tais requisitos aqui elencados podem ser comprovados com fotos,

55

Conforme já demonstrado nas ações de força velha será possível a concessão da tutela antecipada, desde que

provada 56

Ressaltando a hipótese já mostrada de concessão da antecipação de tutela nas ações de força velha, caso

presente os requisitos para a mesma, deste modo decidiu o STJ.

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37

mapas, comunicação escrita entre as partes e o que mais puder ser utilizado.57

Isso porque,

exige-se apenas um começo de prova do requerente, para a concessão da medida liminar.

A medida liminar está prevista no art.928, que dispõe da seguinte forma:

Art. 928. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir

o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração; no

caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se

o réu para comparecer à audiência que for designada. (grifos meus)

Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a

manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos

representantes judiciais.

Assim estando presentes os requisitos do art. 927 e estando a inicial devidamente

instruída, o juiz deferirá a medida liminar “inaudita altera parte”, ou seja, sem ouvir o réu,

agora na hipótese de não estar a inicial devidamente instruída o juiz antes de conceder a

medida liminar, designará uma audiência de justificação, tal audiência assim é chamada pois o

autor deve justificar o que foi inicialmente alegado, mas aqui deve-se atentar para o principio

da adstrição do pedido, ou seja, se o autor não formulou o pedido alternativo de realização de

audiência de justificação, na eventualidade do magistrado não conceder liminar inaudita altera

parte, não cabe ao juiz designar tal audiência.

A audiência de justificação é em beneficio do autor, como se fosse mais uma chance

de pleitear a medida liminar, desde que comprove em tal oportunidade a existência dos

requisitos presentes no art. 927, podendo arrolar testemunhas para tanto, Na audiência de

justificação é necessário à citação do réu, onde o mesmo poderá reinquirir as testemunhas,

mas não apresentará nesta oportunidade nenhum tipo de defesa, frisa-se, também, que apesar

de não estar expressamente previsto nos dispositivos, pode o juiz realizar a inspeção judicial

no local em que a posse está sendo discutida.

Especial atenção deve ser dada ao parágrafo único do art. 928, isso porque contra as

pessoas jurídicas de direito público não pode ser concedida a medida liminar, sem antes ser

realizada a audiência com a presença dos representantes judiciais, segundo Adroaldo Fabricio

enquadram-se nessa vedação as autarquias, no entanto não se aplica a as empresas públicas, as

57

Adroaldo Furtado Fabrício, Comentários, cit., v. VIII, p.444; João Batista Monteiro Ação, cit., p 182

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38

sociedades de economia mista, bem como empresas que atuam através da concessão e

permissão de serviço público.58

Se na audiência o magistrado julgar procedente a justificação, será expedido

mandado liminar de manutenção ou reintegração de posse. Da decisão que concede ou nega a

medida liminar, por ter natureza interlocutória o recurso cabível é o agravo retido ou se

comprovado que a decisão é suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, o

agravo na modalidade de instrumento.59

Na hipótese de ser concedida a medida liminar, o juiz ordenará a expedição de um

mandado, para que o oficial de justiça proceda a reintegração de posse, expulsando o invasor

e reintegrando na posse o esbulhado, isso é se o interdito pleiteado foi o da reintegração,

salienta-se que pode ser utilizada no cumprimento da decisão a força policial, de modo a

facilitar o seu cumprimento e por esse motivo muito comumente a retomada da posse não se

dá de forma pacífica.

Por fim, no que tange ao procedimento, o art. 930 salienta que concedido ou não o

mandado liminar de manutenção ou reintegração, o autor promoverá, nos 5 dias subsequentes,

a citação do réu para contestar a ação, sendo realizada a audiência de justificação o início do

prazo para apresentação de defesa, iniciará do despacho que deferir a medida liminar. No

mais, conforme preleciona o art. 931, aplica-se as ações possessórias as normas do

procedimento ordinário.

3.3 Das propostas infrutíferas de modificação do procedimento

No ano de 2006, foi elaborado o Projeto de Lei n° 7115/200660

pelos Deputados:

João Alfredo (PSOL), Adão Preto (PT), Anselmo (PT), Luci Choinaki (PT) e Jamil Murad

(PCdoB), objetivando realizar alterações no procedimento das ações possessórias. Tal projeto

pretendia incluir um inciso no art.927, para que o cumprimento da função social da

propriedade fosse um dos requisitos, a serem provados pelo autor que pretendesse a concessão

da medida liminar para reintegração ou manutenção de posse, nos conflitos coletivos pela

posse rural ou urbana.

58

Adroaldo Furtado Fabrício, Comentários, cit; v. VIII, t.III, p.450 59

Dessa forma preleciona Carlos Roberto Gonçalves, mas como será visto no momento oportuno na vigência do

novo Código de Processo Civil não existe mais previsão para o agravo retido, portanto o recurso cabível será

somente o agravo na modalidade de instrumento.; 60

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. PL 7115.2006

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39

Pretendia ainda a inclusão de dois parágrafos no artigo 928, para tornar obrigatória,

antes da concessão da medida liminar nos litígios coletivos, a manifestação do Ministério

Público e a oitiva dos órgãos fundiários federais e estaduais correlatos. Bem como, que a

execução da medida liminar fosse regulamentada, posteriormente, pelo poder Executivo e que

a inspeção judicial na área do litígio fosse requisito prévio para a concessão da medida

liminar.

“Art. 927

.

“V – o cumprimento da função social, nas hipóteses em que envolvam conflito

coletivo pela posse da terra rural.” (NR)

“Art. 928

§ 1°. Nas hipóteses de conflito coletivo pela posse da terra rural e urbana a decisão

liminar será precedida de manifestação do Ministério Público e oitiva dos

órgãos fundiários federais e estadual correlatos.

§ 2°. Na hipótese tratada no parágrafo anterior, a execução do mandado de

reintegração de posse obedecerá ao disposto em regulamentação do Poder

Executivo, a ser estabelecida no prazo de trinta dias, contados da vigência do

presente dispositivo.

§ 3°. Antes de conceder a liminar, o juiz deverá fazer-se presente na área do

conflito coletivo pela posse da terra rural e urbana, nos termos do parágrafo

único do art. 126 da Constituição Federal, acompanhado do representante do

Ministério Público. (grifos meus)

Para justificar a necessidade de tais modificações, os deputados afirmaram que

desde 1973 o procedimento das ações possessórias mantém-se inalterado e por isso estava em

dissonância com a Constituição Federal de 1988, por não elencar o cumprimento da função

social da propriedade como um dos requisitos necessários para a concessão da proteção

possessória. Defenderam também a necessidade do juiz em comparecer ao local do litígio,

visto que muitas decisões somente são tomadas com mera análise documental, o que em um

conflito possessório pode acarretar em uma decisão injusta.

Ressaltaram ainda, a necessidade de uma regulamentação especifica sobre a

execução dos mandados de reintegração ou manutenção, em razão das inúmeras denúncias de

despejos noturnos e dos excessos provocados pelas autoridades policiais, que acabam

resultando em feridos e em mortos. O PL n° 7115/2006 não obstante as inúmeras mudanças

progressistas que propôs, não obteve êxito e foi arquivado.

Segundo Marina Lacerda61

, integrante da Rede Nacional de Advogados Populares,

em 2007 organizações de direitos humanos solicitaram formalmente ao Ministério de Justiça

que fosse remetido ao Congresso Nacional proposta de alteração das ações possessórias no

61

LACERDA, Marina. “As ações possessórias coletivas no novo CPC”. Dom Total, março, 2015. Disponível

em: http://www.domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=874361 Acesso em 19/01/2016, às 15:09

Page 40: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

40

Código de Processo Civil, isso em razão da falta de diálogo entre as partes e do intenso

conflito e das mortes provocadas quando do cumprimento da medida liminar, que por vezes é

auxiliada por força policial. No entanto, salienta a mesma que tais solicitações restaram

infrutíferas, diante da inércia do Poder Executivo que não levou tais considerações ao Poder

Legislativo.

Nas discussões referentes à elaboração de um Novo Código de Processo Civil, por

óbvio que o procedimento das ações possessórias seria alvo de propostas de modificação,

diante da ausência de uma regulamentação especifica no que tange aos litígios coletivos e por

estarem em notável crescente no Brasil as ocupações lideradas pelos movimentos

organizados, sobretudo durante a gestão petista62

. Como será visto, as propostas de mudanças

relativas à concessão da medida liminar provocaram um intenso debate e uma cisão evidente

na Câmara dos Deputados.

62

Remete-se para o subcapítulo 2.1 que apresenta em dados os conflitos possessórios no Brasil.

Page 41: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

41

CAPÍTULO 4: A busca incessante por um Novo Código de Processo Civil Democrático

Em 11 de janeiro de 1973, no auge da ditadura militar no Brasil, sob o comando do

General Emílio Garrastazu Médici foi sancionado o Código de Processo Civil, com a

promessa de ter aperfeiçoado a técnica processual do Código de Processo de 1939, além da

afirmação de não ter nenhum tipo de comprometimento ideológico.63

Como salienta os professores Nicola Picardi e Dierle Nunes, a tão vangloriada

técnica exaltada por Alfredo Buzaid na sua exposição de motivos do Código de Processo de

1973, aos poucos “foi se mostrando ineficiente para lidar com os problemas pragmáticos, em

face de diversos déficits operacionais e administrativos do Poder Judiciário Brasileiro”64

, o

que ensejou na realização de mudanças, para adequá-lo a realidade fática.

No entanto, após a Constituição Federal de 1988, a necessidade de uma reforma total

ou mais brusca no Código de Processo Civil tornou-se urgente, os direitos fundamentais

garantidos pela chamada “Constituição Cidadã”, principalmente o de acesso à justiça previsto

no art. 5°, inciso XXXV, fizeram com que o processo deixasse de ser visto como sinônimo de

procedimento para ser enxergado como um meio de efetivação dos direitos e garantias

fundamentais, blindado pela ampla defesa, pelo contraditório, pelo devido processo legal e

pela duração razoável.

E como poderia um Código de Processo Civil calcado no não comprometimento

ideológico, adequar-se as novas configurações sociais e prestar- se a ser um meio de

efetivação de direitos fundamentais. Para promover a adequação do mesmo a nova ordem

constitucional, mudanças parciais durante esses anos foram realizadas, principalmente na

década de 199065

, mas como toda mudança parcial implica em uma mudança no todo, existem

63

“Depois de demorada reflexão, verificamos que o problema era muito mais amplo, grave e profundo, atingindo

a substância das instituições, a disposição ordenada das matérias e a íntima correlação entre a função do processo

civil e a estrutura orgânica do Poder Judiciário. Justamente por isso a nossa tarefa não se limitou à mera revisão.

Impunha-se refazer o Código em suas linhas fundamentais, dando-lhe novo plano de acordo com as conquistas

modernas e as experiências dos povos cultos. Nossa preocupação foi a de realizar um trabalho unitário, assim no

plano dos princípios, como no de suas aplicações práticas.” Exposição de Motivos do CPC de 1913, pg. 1.

Alfredo Buzaid. 64

O código de processo civil brasileiro: Origem, formação e projeto de reforma; Nicola Picardi e Dierle Nunes;

pg 8. DIERLE, Nunes; PICARDI, Nicola. O Código de Processo Civil Brasileiro: origem, formação e projeto de

reforma. Revista de informação Legislativa. Brasília ano 48 n.190 abr./jun.2011. 65

Dierle e Nunes citam que os Ministros Sálvio Texeira e Athos Carneiro, com auxílio do Instituto Brasileiro de

Direito Processual realizaram diversas propostas de modificação ao CPC de 1973 que foram aprovadas no

Page 42: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

42

os que acusam o Código de Processo de ter se tornado um texto desconexo, em alguns pontos,

pelos remendos efetuados.

No ano de 2009 a criação de um novo Código de Processo deixava de ser uma

utopia para se tornar uma realidade e como seria o primeiro Código de Processo Civil

Brasileiro elaborado sob as bases da democracia, surgiu uma imperiosa necessidade de se

buscar uma legitimidade popular, bem como ouvir a comunidade jurídica sobre as principais

mudanças a serem efetuadas.

4.1 – Da Instituição da comissão de Juristas

Em 30 de setembro de 2009, correspondendo às expectativas da sociedade civil e

jurídica, mas principalmente dos processualistas, após anos de espera o então presidente do

Senado Federal José Sarney, através do Ato n° 379, instituiu a Comissão de Juristas

responsável por elaborar o Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil. A comissão

mostrou-se eclética na sua formação, sendo composta por grandes nomes do direito

processual, do direito material e por operadores do direito.

Tal comissão foi presidida por Luiz Fux, que posteriormente em 1° de fevereiro de

2011, veio a ser nomeado pela presidente Dilma Rousseff, filiada ao Partido dos

Trabalhadores, para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, ademais a comissão foi

composta por: Dra. Teresa Arruda Alvim Wambier (Na posição de Relatora), Dr. Adroaldo

Furtado Fabrício66

, Dr. Benedito Cerezzo Pereira Filho, Dr. Bruno Dantas, Dr. Elpídio

Donizetti Nunes, Dr. Humberto Theodoro Júnior, Dr. Jansen Fialho de Almeida, Dr. José

Miguel Garcia Medina, Dr. José Roberto dos Santos Bedaque, Dr. Marcus Vinicius Furtado

Coelho e Dr. Paulo Cesar Pinheiro Carneiro.

A comissão deveria realizar audiências públicas em vários Estados do País, bem

como reuniões, devendo entregar o Anteprojeto ao Senado Federal em um prazo de 180

Congresso Nacional, como: tutela antecipada, tutela específica, audiência preliminar, ação monitória entre

outras. 66

Na presente monografia foi utilizada no capítulo 2, diversas citações do civilista Adroaldo Fabricio Texeira

foram usadas no que concerne ao estudo da posse e da proteção possessória, deste modo pode-se ter um certo

direcionamento do seu posicionamento no que concerne ao tema das ações possessórias.

Page 43: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

43

dias67

, o principal motivo para tal prazo seria para que houvesse o aproveitamento daquela

legislatura68

, e aqui poderíamos despertar a atenção para uma primeira análise critica: o

objetivo do Novo CPC na elaboração do seu anteprojeto seria de fato ouvir as reivindicações

sociais, para adequar-se as necessidades da sociedade ou buscava apenas uma legitimação

democrática formal? Parece-me que o trabalho desenvolvido pela comissão de juristas

buscava sim valer-se das bases democráticas, mas através do aqui chamo de “democracia

célere”, ou seja, buscava-se o exercício da democracia, mas através de um procedimento

célere.

Foram realizadas pela Comissão de Juristas ao total de 13 reuniões e 8 audiências

públicas em: Belo Horizonte, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Porto

Alegre e Curitiba, no que tange as audiências os pronunciamentos eram abertos ao público,

mas condicionado a inscrição prévia e limitação de tempo para a manifestação, o que foi

constatado é que massivamente os espaços de fala eram protagonizados por Juízes,

Desembargadores, advogados e professores de direito, ou seja, por pessoas diretamente

ligadas à ciência jurídica.

4.2 – Das Reuniões da Comissão e das Audiências Públicas

No que tange ao tema das ações possessórias, objeto da presente monografia, deve-se

atentar para a 1ª reunião da Comissão de Jurista, realizada em 30 de Novembro de 2009 que

sugeriu a retirada das ações possessórias do rol dos procedimentos especiais, deste modo não

haveria então mais a possibilidade de concessão da medida liminar. Na verdade a intenção da

comissão não era especifica em relação às possessórias, mas sim uma exclusão total de um

grupo de ações que estão alocadas no rol dos procedimentos especiais:

Ata da 1ª Reunião

“Decisões acerca das proposições temáticas:

- Fase anterior à elaboração da redação dos dispositivos -

2 – Procedimentos Especiais:

67

Art. 1º Instituir Comissão de Juristas com a finalidade de apresentar, no prazo de cento e oitenta dias,

anteprojeto de Código de Processo Civil. 68

Corresponde a um período de 4 anos que coincide exatamente com a duração do mandato dos deputados

(Constituição Federal, art. 44). Tem início em 1º de fevereiro do ano seguinte ao da eleição, quando se dá a

posse dos deputados eleitos, e termina em 31 de janeiro do ano seguinte à eleição subsequente.

Page 44: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

44

b) Exclusão dos seguintes procedimentos especiais: ação de depósito, ações de

anulação de substituição de títulos ao portador, ações possessórias, ação de

nunciação de obra nova, ação de usucapião e ação de oferecer contas,

compreendidos no processo de conhecimento. (grifos meus)”69

Já em relação às audiências públicas realizadas, somente na 8ª audiência, que ocorreu

na cidade de Curitiba em 16 de abril de 2010, que o tema das ações possessórias foi

“debatido” 70

, o responsável por tocar no assunto foi o Desembargador Mário Jorge Helton,

que apontou certo receio na exclusão das ações possessórias de “força nova” dos

procedimentos especiais, como pretendia a Comissão, tendo em vista as grandes invasões de

terra que assolam o país:

Ata da 8ª Audiência Pública

Des. Mário Jorge Helton, sugeriu: Consolidação das normas extravagantes dentro do

CPC, no que compatível com o processo legislativo. Contrário à eliminação da

previsão de liminares nas ações possessórias de “posse nova”, especialmente

com as grandes invasões de terra atualmente em voga. (grifos meus)71

A Comissão de Juristas já prevendo o intenso debate que iria gerar o tema das ações

possessórias no Congresso Nacional, na sua 13 ª reunião realizada em 10 de maio de 2010,

optou por não excluí-las do rol dos procedimentos especiais. O civilista Adroaldo Fabricio

ficou responsável pelo subgrupo do processo de conhecimento e dos procedimentos especiais,

não realizando nenhuma alteração na redação dos dispositivos concernentes ao tema, já

previstos no Código de Processo de 1973.72

4.3- Da apresentação do Anteprojeto ao Senado Federal

No dia 08 de junho de 2010 a Comissão de Juristas apresentou ao Senado Federal, o

resultado de um trabalho de 9 meses, que como já dito compreendeu a realização de reuniões

e audiências publicas em várias partes do Brasil, destaca-se que houve um atraso de 3 meses

na apresentação do Anteprojeto, já que o ato n ª 379 de 2009, que instituiu a comissão, previa

que o mesmo deveria ser entregue em 180 dias.

69

BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Ata da 1ª reunião da Comissão de Juristas. 2009 70

Usa-se aqui as aspas tendo em vista, que na verdade não existia um debate com exposições de ideias, já que a

comissão apenas consignava as sugestões do que estavam presentes em ata. Ao total foram 260 propostas

realizadas ao final da realização de 8 audiências públicas. 71

BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Ata da 8ª Audiência Pública. 2010 72

BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Ata da 13ª reunião da Comissão de Juristas. 2010

Page 45: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

45

Conforme salienta Nunes e Dierle, após a redação dos dispositivos pela comissão os

mesmos não foram submetidos novamente ao “crivo popular”, ademais não foi realizado um

diagnóstico prévio que justificasse a mudança de vários dispositivos do Código de Processo

de 1973, no entanto o que mais provocou espanto foi a rapidez em que todo o processo foi

iniciado e concluído, nos parecendo que a tão aclamada celeridade processual, que veio como

o principal argumento para justificar a mudança do código de processo, também foi observada

nesse deslinde do processo legislativo:

“(...) no campo processual civil, além do descumprimento das etapas prévias à

elaboração do Anteprojeto, em especial a ausência de um diagnóstico prévio,

fator assustador é a exigência pelo Senado (com finalidade de aproveitamento

da legislatura) de entrega deste texto em 180 dias.

No entanto, após algum atraso, a comissão em 8 de junho de 2010, entregou ao

Congresso o anteprojeto, antes de qualquer debate público de seu conteúdo

(dispositivos legais projetados), que foi convertido no Projeto de Lei do Senado no

166, de 2010.

Na elaboração do anteprojeto, a Comissão não explicitou os objetivos

estruturantes da proposta, apesar da afirmação recorrente da busca de celeridade

alardeada nas inúmeras audiências públicas.”.73

(grifos meus)

A exposição de motivos de tal anteprojeto foi assinada pela Comissão como um

todo, antes, porém, o presidente Luiz Fux redigiu um texto falando sobre a importância do

trabalho da comissão na redação de mudanças ao Código de Processo, enfatizando o anseio da

sociedade pela justiça, mas principalmente por uma necessidade de respostas mais rápidas do

Poder Judiciário para os seus litígios. Mais uma vez o princípio da celeridade processual

esteve presente, o que ratifica a ideia de que tal princípio funcionou como força motriz para a

elaboração de um Novo Código de Processo Civil:

“William Shakespeare, dramaturgo inglês, legou-nos a lição de que o tempo é

muito lento para os que esperam e muito rápido para os que têm medo. [...]

Os antigos juristas romanos, por sua vez, porfiavam a impossibilidade de o direito

isolar-se do ambiente em que vigora, proclamando, por todos, que o método

imobilizador do direito desaparecera nas trevas do passado. [...]

Essas lições antigas, tão atuais inspiraram a criação de uma Comissão de Juristas

para que, 37 anos depois do Código de 1973, se incumbisse de erigir um novel

ordenamento, compatível com as necessidades e exigências da vida hodierna.”

(grifos meus)74

(grifos meus)

73

(2010, DIERLE; NUNES, p. 40) 74

(BRASIL, 2010b, p.7)

Page 46: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

46

Ao citar William Shakespeare, um dos maiores e mais famosos escritores da

história da humanidade, Luiz Fux demonstrou a preocupação de que o direito deve

acompanhar os avanços sociais, bem como as novas configurações formadas, sob pena de

tornar-se distante e ineficaz, por isso a importância de um Código de Processo Civil atual e

condizente com a realidade fática, que deixasse para trás institutos não mais aplicáveis ou

procedimentos que dialogavam com a morosidade. Repisa-se que em relação às ações

possessórias, não houve modificações até este momento, estando o procedimento previsto no

Código de Processo de 1973, até aqui inalterado.

Com a apresentação do Anteprojeto ao Senado Federal, o mesmo foi convolado no

PLS (Projeto de Lei do Senado) n° 166/2010, sendo criada uma Comissão especial, cuja

relatoria foi designada para o Senador Valter Pereira filiado ao PMDB (MS) para que assim

pudesse conduzir os trabalhos para a análise do Novo Código de Processo Civil.

O relatório final da Comissão Especial foi apresentado ao plenário do Senado em 24

de novembro de 2010, tendo sido aprovado pelo mesmo em 1 ° de dezembro de 2010, nota-se

que também não foram realizadas nenhum tipo de modificação no que concerne ao tema da

presente monografia, ou seja, o procedimento das ações possessórias manteve-se incólume

até o presente momento. Como já explicado no Capítulo 1, que dispõe sobre o processo

legislativo no âmbito federal, os projetos de lei que se iniciam em uma casa, devem ser

submetidos à outra casa do Congresso Nacional para revisão75

, deste modo o PLS 166/2010

foi enviado a Câmara dos Deputados para deliberação.

4.4 Da rivalidade shakespeariana na Câmara dos Deputados

Com a chegada do PLS 166/2010 a Câmara dos Deputados, o mesmo foi convolado

no PL (Projeto de Lei) n° 8.046 de 2010 e foi nesta casa que ocorreram os mais profundos

debates, as discussões, as recusas em comparecer as votações, os adiamentos, as negociações,

as formações das alianças, as quebras de alianças e tudo mais que se possa imaginar que esteja

por de trás do processo legislativo, ressalta-se que aqui será abordado somente os

desdobramentos desses fatos em relação as ações possessórias, pois caso se pretendesse

75

Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e

votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeita.

Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.

Page 47: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

47

abordar essa conjuntura politica em relação a todas as modificações no Novo Código de

Processo Civil, seria necessário uma obra parecida, em extensão, com 76

“Os Lusíadas” de

Camões.

A cisão instaurada na Câmara dos Deputados, em relação ao tema das ações

possessórias foi evidente, principalmente, em relação à supressão ou não da medida liminar

para reintegração ou manutenção de posse, visto que no anteprojeto apresentado e na

tramitação do projeto de lei no Senado Federal não houve mudanças no procedimento já

previsto no Código de Processo Civil de 1973.

Tendo em vista, que o presidente da Comissão de Juristas, Luiz Fux, utilizou-se de

William Shakespeare na apresentação do anteprojeto ao Senado Federal, para afirmar “que o

tempo é muito lento para os que esperam e muito rápido para os que têm medo”, justificando

assim a necessidade de um Código de Processo atual e condizente com a sociedade moderna,

também tomei a liberdade de assim o fazer.

Uma das obras mais famosas de Shakespeare é a sua tragédia romântica “Romeu e

Julieta”, escrita por volta de 1591 que retrata o amor impossível de dois jovens que pertencem

a famílias rivais, Romeu filho único dos Montecchios e Julieta filha única dos Capuletos, se

apaixonam e lutam contra a forte oposição de suas famílias, que sempre estiveram em pé de

guerra disputando o controle da cidade de Verona na Itália. Os Montecchios e os Capuletos

representam a antítese, a oposição, o maniqueísmo, a dualidade, e aqui os uso

metaforicamente para ilustrar a cisão na Câmara dos Deputados quando da discussão do

procedimento das ações possessórias no Novo Código de Processo Civil.

Na aprovação das leis na Câmara, muito comumente grupos de deputados ainda que

não pertençam ao mesmo partido político, juntam-se nas chamadas frentes parlamentares ou

bancadas com o objetivo de terem os seus interesses pessoais ou os interesses do seu

eleitorado atendidos, através do chamado, no popularesco, voto combinado. Por vezes a

atuação das bancadas acontece de maneira sorrateira, porém quando o assunto em debate é

capaz de provocar grandes prejuízos ou ganhos, é possível observar com mais lucidez tal

configuração.

Como a regulamentação das ações possessórias no novo Código de Processo, poderia

provocar influência direta sobre os interesses de determinados grupos políticos, a já citada

76

Os Lusíadas é considerado o maior poema épico da língua portuguesa com 1102 estrofes.

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48

cisão foi flagrante. De um lado, alguns dos deputados que formavam a bancada ruralista

defendendo os interesses dos grandes proprietários de terra e do agronegócio, lutando para

que o procedimento das ações possessórias se mantivesse inalterado, pois desse modo

garantia-se a concessão da medida liminar para reintegração ou manutenção de posse77

. De

outro lado, alguns dos deputados coligados ao partido dos trabalhadores (PT), lutando pela

mudança no procedimento previsto, visando à exclusão da medida liminar e uma

regulamentação especifica para os litígios coletivos, mas por óbvio que essa rivalidade, ao

contrário da fictícia, não teve como pano de fundo uma estória de amor.78

A dualidade “Capuletos-ruralistas” e “Montecchios-petistas”79

provocou debates

apaixonados, intensas negociações, mas principalmente uma morosidade excessiva para

aprovação do Projeto de Lei na Câmara dos Deputados. A observância desse viés politico é

fundamental para os operadores do Direito, para que se tenha noção e compreensão do que

determinou ou influenciou certos procedimentos processuais, pois nem sempre eles são

elaborados apenas com o intuito precípuo de garantir a tão aclamada celeridade processual.

Em 2011, segundo informação divulgada no site da Câmara80

, 88 deputados

declaravam-se abertamente “ruralistas” em seus currículos, tal número pode não corresponder

à realidade, visto que nem todos expõem abertamente tal condição, já estimativamente

acreditava-se que a época o poder de voto de tal bancada variava entre 120 e 200 votos dos

513 possíveis, um percentual considerável.

A bancada ruralista é conhecida por ser uma frente parlamentar mais conservadora e

por votar contra pautas progressivas, não sendo diferente em relação ao tema das ações

possessórias, visto o seu claro comprometimento com os grandes proprietários de terra.81

Já em relação aos deputados filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT), em 2011

eram no número de 8882

, no entanto em razão dos flertes partidários, estimava-se que o poder

77

Tal medida como abordado no capítulo 3, relativo ao procedimento das ações possessórias no CPC de 1973,

pode ser inaudita altera parte, ou seja, sem a oitiva da parte contrária ou após a realização da audiência de

justificação. 78

Por ter o Partido dos Trabalhadores uma origem comum com o Movimentos dos Sem Terra, já que ambos

eclodiram no âmbito da Comissão Pastoral da Terra, tal interesse estaria justificado. 79

Neologismos metafóricos criados por mim, para denotar a contrariedade dos posicionamentos. 80

“CONHEÇA a nova Câmara dos deputados”. Câmara Noticias, janeiro, 2011. Disponível em :

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/192878-CONHECA-A-NOVA-CAMARA.html

. Acesso em 10/11/2015 às 09:34 81

Tal bancada atualmente votou a favor da redução da maioridade penal; sendo notadamente contra a

criminalização da homofobia e descriminalização do aborto.

Page 49: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

49

de voto à época, se somados todos os partidos aliados ao governo, resultavam na expressiva

quantia de 307 votos, número este que apresentava uma variável em relação ao tema em

discussão, já que apesar da aliança com o governo, cada partido possui o seu interesse

próprio. Há quem afirme que a proposta oficial petista em relação ao tema da “terra”, pode

ser resumida como uma divisão do campo entre o agronegócio e a agricultura familiar e por

isso teriam um comprometimento com a efetivação da reforma agrária.

Embora o Partido dos Trabalhadores, na sua origem tenha a já citada ligação

histórica com o Movimento dos sem Terra, a afirmação de que o partido como um todo apoia

a causa e busca facilitar a efetivação da reforma agrária, seria provocar um reducionismo da

discussão, já que o PT também dialoga fortemente com o agronegócio83

. No entanto, como

será visto, a grande maioria dos deputados84

que propuseram as modificações no

procedimento das ações possessórias, objetivando que fosse dado um tratamento especial aos

litígios coletivos, eram filiados ao Partido dos Trabalhadores e por isso aqui se fez essa

análise em grupo (petistas versus ruralistas) para metaforicamente estabelecer um paralelo

com a obra shakespeariana.

É importante salientar, que ainda que integrem determinada bancada ou partido, os

parlamentares possuem posições individuais e por isso não se pode pender para a

generalidade, afirmando que a posição de um ou outro deputado corresponde ao defendido

pelo partido, deste modo quando o termo “Petistas” é aqui utilizado, estou me referindo

especificamente aos deputados: Padre João (PT), Sérgio Barradas (PT) e Paulo Teixeira (PT) ,

já que além de defenderem a regulamentação do litigio coletivo, pelas suas trajetórias

politicas individuais mostram-se comprometidos, ou ao menos interessados, com a causa da

reforma agrária.

De igual modo, quando o termo “Ruralistas” for utilizado estará se referindo aos

deputados: Jerônimo Goergen (PP), Esperidião Amin (PP) e Onyx Lorenzoni (DEM), que

integravam a bancada ruralista e mostraram-se contrários as propostas realizadas pelos

petistas, em razão do comprometimento com os interesses dos grandes proprietários de terra,

82

“CONHEÇA a nova Câmara dos deputados”. Câmara Noticias, janeiro, 2011. Disponível em :

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/192878-CONHECA-A-NOVA-CAMARA.html

. Acesso em 10/11/2015 às 09:34 83

A nomeação da pecuarista Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura pela Presidenta Dilma (PT), deixa

claro o apoio petista ao agronegócio, insta salientar que Kátia em 2002 quando assumia o cargo de deputada

federal liderava na Câmara a bancada dos ruralistas. 84

O deputado Padre João (PT) foi o deputado petista que apresentou atuação mais ativa nas propostas de

emendas.

Page 50: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

50

afastando-se assim a possível generalidade que poderia se instalar sobre o presente texto, por

propor um visão antitética de posicionamentos.

Portanto, com interesses totalmente contrários era óbvio que as emendas

parlamentares elaboradas pelos deputados que compunham os “dois grupos”, no que tange ao

tema das ações possessórias, seriam totalmente divergentes entre si.

4.5 – O Relatório Barradas

Em 16 de junho de 2011 foi criada uma Comissão Especial na Câmara dos

deputados85

, para elaborar um parecer sobre o PL 8.046/2010, ou seja, o até então pretenso

Novo Código de Processo Civil, a presidência de tal comissão coube ao Deputado Fabio Trad

filiado ao PMDB (MS), e a relatoria geral ao Deputado Sérgio Barradas filiado ao Partido dos

Trabalhadores (PT). Na Câmara também foram realizadas audiências públicas, seminários,

com o intuito de aprofundar as discussões sobres os temas passíveis da mudança, foi criado

também um site denominado por “e-democracia” onde poderiam ser registradas as propostas

feitas pela sociedade.

Tendo a comissão como relator geral um deputado “petista”, ainda que não se possa

afirmar, tudo indica que o posicionamento de Sérgio Barradas, era no sentido de que houvesse

uma regulamentação para os litígios coletivos nas ações possessórias, bem como pela

exclusão da medida liminar inaudita altera parte, já que o seu papel foi fundamental na

negociação entre os partidos para que houvesse uma previsão expressa no Novo Código sobre

o tema. Porém, para adiantar os trabalhos da Comissão, foram designados sub-relatores e um

deles foi o deputado Jerônimo Goergen (PP – RS), assumidamente ruralista e contrário ao

pretendido pelo relator geral, o que acirrou a oposição entre os grupos.

No que concerne às ações possessórias, durante o trabalho da Comissão algumas

emendas parlamentares foram propostas, no entanto merece destaque as emendas formuladas

primordialmente pelo Deputado Padre João86

, filiado ao Partido dos Trabalhadores e

presidente do Núcleo Agrário e de Meio ambiente e Desenvolvimento social de tal partido.

85

Nos termos do disposto no art. 205, § 1o , do Regimento Interno da Câmara dos Deputados 86

O deputado Padre João também propôs (322/2011) que a comprovação da efetivação da função social da

propriedade, fosse um dos requisitos para a concessão da medida liminar nas ações possessórias, o que me

parece extremamente razoável, já que se trata da função a social da propriedade de um comando constitucional.

No entanto, tal proposta foi recusada.

Page 51: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

51

Propôs o deputado petista, através da Emenda nº 321/11, que o prazo de ano e dia da

data da turbação ou do esbulho praticado, para a propositura da ação de manutenção e

reintegração de posse objetivando a concessão da medida liminar, fosse diminuído para 30

(trinta) dias, por óbvio que tal emenda não foi aprovada, primeiro pela pressão da bancada

ruralista e segundo por ser 30 dias um prazo extremamente curto, que levaria a cabo a

finalidade da proteção possessória:

Emenda n.º 321/11 (Deputado Padre João e outros)

A emenda em apreço busca reduzir o prazo para que a ação de manutenção ou

reintegração de posse seja regida pelo procedimento especial prescrito nos arts. 546

a 551 do projeto, de um ano e um dia para trinta dias. Entendemos que o prazo

proposto, de trinta dias, é por demais exíguo. Apenas exemplificando, seria um

contra-senso que uma pessoa saísse de férias e quando retornasse encontrasse

sua propriedade ou residência turbada, sem que pudesse buscar retomá-la pelo

rito especial. Entendemos que o prazo atual, acolhido pelo projeto, é adequado

para os fins propostos. (grifos meus)

Assim, votamos pela rejeição da emenda.87

A outra emenda realizada pelo Deputado Padre João, com mais razoabilidade, foi

para que fosse criado um dispositivo no Novo CPC que regulasse especificamente os litígios

coletivos, que envolvessem a posse de imóvel urbano o rural, com a realização anterior de

audiências de conciliação, participação do Ministério Público e averiguação da função social

da propriedade:

“Emenda n.º 323/11 (Deputado Padre João e outros).

A emenda busca incluir artigo criando um procedimento especial em caso de

litígio coletivo pela posse de imóvel urbano ou rural, prevendo audiências

prévias de conciliação, participação do Ministério Público e averiguação da

função social da propriedade. (grifos meus)

A regulação específica dos conflitos coletivos imobiliários é imprescindível no novo

CPC. O § 2º é a reprodução do que determina o parágrafo único do art. 126 da

Constituição Federal.

Assim, votamos pela aprovação da emenda.”88

Acolhe-se a n. 323/2011, de autoria do deputado Padre João. A regulação específica

dos conflitos coletivos imobiliários é imprescindível no novo CPC. O §2º é a

reprodução do que determina o parágrafo único do art. 126 da Constituição.

87

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Relatório PL 8046 Parcial. 2011 88

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Relatório PL 8046 Parcial. 2011

Page 52: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

52

Tal emenda foi aprovada e no 1° Relatório da Comissão Barradas que foi

apresentado em 19 de setembro de 2012, passou a constar o art.580 que estava de acordo com

o proposto pelo Deputado petista Padre João, regulamentando especificamente os litígios

coletivos nas ações possessórias, o que constituiu uma inovação ao Código de Processo Civil

de 1973 que se omitiu sobre o tema, que era regido do mesmo modo que os litígios

individuais:

Redação da norma:

Art. 580. Nos casos de litígio coletivo pela posse ou propriedade de imóvel urbano

ou rural, antes do exame do requerimento de concessão da medida liminar, o juiz

deverá designar audiência de justificação prévia e conciliação entre as partes e

seus representantes legais. (grifos meus)

§1º. O Ministério Público e os entes da administração responsáveis pela condução

das políticas públicas agrária ou rural deverão ser intimados para comparecer à

audiência prevista no caput. A Defensoria Pública será intimada caso os envolvidos

não tenham condições financeiras de constituir advogado.

§2º Sempre que necessário à efetivação da tutela jurisdicional, o juiz deverá fazer-se

presente na área do conflito.” 89

Com essa redação, tratando-se de litigio coletivo não seria possível a concessão de

uma medida liminar, de plano, para reintegração ou manutenção de posse, pois o juiz estaria

vinculado à realização de uma audiência de justificação, onde o autor deveria justificar o

alegado, bem como a realização de uma audiência de conciliação, para que se pudesse tentar

chegar a um acordo através da atuação e do oferecimento de propostas de um conciliador.

Tal redação veio então, como uma tentativa de acabar com o ímpeto da medida

liminar para que a “invasão” pudesse ser melhor analisada e as partes talvez chegassem a um

consenso com o auxílio do magistrado, previu tal dispositivo ainda, a intimação do Ministério

Público, dos entes da administração responsáveis pela condução das politicas públicas

agrárias e da Defensoria Pública, se houvesse em tal demanda hipossuficientes. Em suma, tal

artigo propôs um tratamento dos conflitos possessórios diferente do já previsto para os

individuais, retirando-os de uma discussão na esfera privada, para alocá-los na esfera pública.

O parágrafo 2° ao dispor sobre a presença do juiz no local do litigio, sempre que

necessário, nada mais fez do que repetir o comando constitucional do parágrafo único do

art.126, o qual preleciona que “sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o

89

(BRASIL, 2012, p. 423)

Page 53: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

53

juiz far-se-á presente no local do litígio”, e em se tratando de ações possessórias esse já era

um comportamento, relativamente, comum em relação aos magistrados, visto que o conflito

possessório em razão de sua particularidade, em regra, não pode ser decido apenas com base

em análise de prova documental.

A bancada ruralista, descontente com a emenda aprovada, iniciou um intenso

processo de pressão e até mesmo de boicote às votações no âmbito da Comissão Especial,

descontentamento explicado pelo fato do artigo suprimir a medida liminar inaudita altera

parte, tão valorizada pela mesma, nos litígios coletivos. Em outras palavras, a inclusão dessa

emenda representou, para os mesmos, uma ameaça ao direito de propriedade, uma vez que a

tentativa de conciliação seria pressuposto para a concessão de medida liminar.

O opositor mais enérgico foi o sub-relator Jerônimo Goergen (PP), que em diversas

entrevistas para a imprensa afirmou que iria promover junto com os demais membros da

bancada ruralista um boicote a comissão, afirmando: “Não votaremos o Novo Código de

Processo Civil enquanto esse artigo não for retirado!”90

, pois segundo o mesmo tal

dispositivo legalizaria as invasões já que a audiência de conciliação poderia levar meses para

ser realizada, Goergen prometeu um contra- ataque a esse primeiro êxito petista: “Vamos

tratar de reverter essa afronta ao estado democrático de direito e mostrar ao relator geral os

perigos jurídicos que ela oferece à proposta”.91

4.6 O Relatório Teixeira e o Substitutivo Preliminar

O deputado Sérgio Barradas que até então assumia a relatoria-geral da Comissão

Especial responsável por analisar o PL. 8.046/2010, ou seja, o Novo Código de Processo de

Civil, em novembro de 2012 deixou o cargo, pois era suplente do Deputado Nelson Pelegrino

(PT- Bahia), e, portanto, com a volta do mesmo não poderia permanecer em tal função.

Após intensas negociações, a relatoria-geral foi entregue no final de 2012 ao

Deputado Paulo Teixeira, também filiado ao Partido dos Trabalhadores, que já havia exercido

90

“DEPUTADO na voz do Brasil”. Entrevista Jerônimo Goergen. Rádio Câmara, outubro, 2012. Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/DEPUTADO-NA-VOZ-DO-BRASIL/430735-

JERONIMO-GOERGEN---SERGIO-BARRADAS-CARNEIRO---PAULO-TEIXEIRA-%20ARNALDO-

FARIA-DE-SA--HUGO-LEAL-BLOCO-8.html Acesso em 18/12/2015, às 20:30 91

“CPC: artigo joga reintegração de posse para depois de audiência de conciliação”. Partido Progressista”,

novembro, 2012. Disponível em: http://www.pp-rs.org.br/noticias/cpc-artigo-joga-reintegracao-de-posse-para-

depois-de-audiencia-50917be6ef725 Acesso em: 18/12/2015, às 21:10

Page 54: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

54

antes do mandato, o cargo de Secretário Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano

no Município de São Paulo e após ser eleito como deputado mostrou-se contrário à proposta

de emenda à Constituição, que pretendia tonar possível a posse indireta de terras indígenas à

produtores rurais, na forma de concessão.92

Fato é, que embora pertencentes ao mesmo partido (PT) o poder de articulação e de

formar alianças de Sérgio Barradas, ao que parece, era mais efetivo do que o de Paulo

Teixeira, pois a partir desse momento que verificaremos que os interesses petistas,

começaram a sucumbir, em razão de uma forte oposição da bancada ruralista, que através de

boicotes a votações e formação de novas alianças, conseguiram a mudança de redação do

art.579 para torná-lo mais benéfico aos seus interesses.

Podemos destacar a influência marcante do Deputado Esperidião Amin filiado ao

Partido Progressista, membro da bancada ruralista, que foi o responsável por conduzir as

negociações e formar os chamados lobbies93

, para que assim a medida liminar nos litígios

coletivos não fosse condicionada a prévia realização de audiência de conciliação. E, portanto

em Março de 2013 na apresentação do substitutivo preliminar94

, pela “Comissão Teixeira” a

redação de tal artigo ficou da seguinte forma:

Art. 579. Nos casos de litígio coletivo pela posse ou propriedade de imóvel urbano

ou rural, antes do exame do requerimento de concessão da medida liminar, o juiz

deverá designar audiência de justificação prévia e conciliação entre as partes e seus

representantes legais.

§1º. O Ministério Público e os entes da administração responsáveis pela condução

das políticas públicas agrária ou urbana deverão ser intimados para comparecer à

audiência prevista no caput. A Defensoria Pública será intimada caso os envolvidos

não tenham condições financeiras de constituir advogado.

§2º Sempre que necessário à efetivação da tutela jurisdicional, o juiz deverá fazer-se

presente na área do conflito.

§ 3º A União, o Estado ou Distrito Federal e o Município deverão ser intimados para

manifestarem-se, no prazo de quinze dias, sobre eventual interesse na área ocupada e

sobre a existência de alternativa habitacional destinada aos ocupantes.

§4º O juiz requisitará aos órgãos da administração direta ou indireta da União,

Estado ou Distrito Federal e Município informações fiscais, previdenciárias,

ambientais, fundiárias e trabalhistas referentes ao imóvel.

§5º O procedimento previsto neste artigo aplica-se às ações possessórias ajuizadas

seis meses após a data do esbulho ou da turbação afirmado na petição inicial

(Grifos meus)

92

PEC n° 237 de 2013 que pretendia incluir o artigo 176-A, no entanto a mesma foi rejeitada. 93

Os lobbies são os grupos de pressão atuam através de conluios de votos. 94

“Substitutivos são elementos chaves no processo de apreciação da proposição, são espécies de emendas que

geram alterações formais ou materiais no todo do projeto e não em algum dispositivo especifico, introduz várias

modificações ao mesmo tempo.” ( Francis Noblat)

Page 55: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

55

Do novo texto, infere-se que a audiência de conciliação só seria exigida para a

concessão da liminar, nos litígios coletivos, na hipótese da ação possessória ser ajuizada seis

meses após a data do esbulho ou da turbação, caso a ação fosse ajuizada antes, seria cabível a

concessão de medida liminar inaudita altera parte, sem a realização de audiência prévia de

conciliação e de audiência de justificação.

O que representou um ganho para os ruralistas, já que a redação anterior não

estabelecia nenhuma ressalva quanto ao prazo, pois segundo a técnica do mesmo sendo litigio

coletivo, independentemente da data do esbulho ou da turbação em relação à propositura da

demanda, a realização da audiência de conciliação pelo juiz era obrigatória. Tal concessão

ocorreu, pois se não houvesse mudança na redação do dispositivo, os deputados ligados ao

agronegócio não votariam o projeto.

Ademais, foram incluídos em tal artigo, os parágrafos 3º e 4º que previam,

respectivamente, a intimação dos entes da federação para que se manifestassem sobre

eventual interesse na área da ocupação, bem como sobre a alternativa de área habitacional

destinadas aos ocupantes e a necessidade do juiz em requisitar os órgãos da administração

direta ou indireta para que prestassem todas as informações referentes ao imóvel ocupado.

Por óbvio, que a inclusão de tais parágrafos veio para fornecer um tratamento mais

“humano” ao conflito possessório, já que incumbiu ao poder publico a tutela dos interesses

dos ocupantes, que com essa redação não é mais tratado com o status de invasor, percebemos

assim uma tentativa de facilitar ou ao menos abrir os caminhos, através da regulamentação de

um procedimento processual, para efetivação da tão sonhada reforma agrária no Brasil.

Em abril de 2013, a Associação de juízes pela Democracia (AJD) enviou um ofício

para a Câmara dos Deputados, em relação às ações possessórias no Novo Código de Processo

Civil, declarando apoio à realização da prévia audiência de justificação e de conciliação nos

litígios coletivos sobre a posse, prevista no art. 579, sob o argumento de que o novo Código

não poderia incorrer no mesmo erro praticado pelo Código de Processo de 1973, que pela via

da omissão, regulamentou os litígios coletivos do mesmo modo que os individuais, ignorando

assim as suas particularidades.

Afirmando que a falta dessa regulamentação específica provocou uma insegurança

jurídica para os autores das ações possessórias, em razão de nos litígios coletivos o processo

Page 56: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

56

ser mais complexo e para os réus gerou a insegurança e o medo, em virtude da violência no

cumprimento dos mandados liminares de manutenção e reintegração de posse.

Tal associação argumentou, ainda, que a obrigatoriedade de designação da audiência

preliminar em que se busque a conciliação em ações possessórias coletivas revela-se medida

imprescindível para o alcance do processo justo, o princípio básico que informa todo o projeto

do novo Código de Processo Civil:

“O vigente Código de Processo Civil, promulgado em 1973, ano em que o país

encontrava-se submetido à ditadura militar, que tratava demandas sociais como

casos de polícia, incorreu em tal erro, por motivação ideológica. As ações

possessórias coletivas foram regidas como se fossem conflitos individuais, em

detrimento dos interesses de todas as partes das relações processuais: para os

autores, que alegam a legítima posse, restou a insegurança jurídica decorrente

da incerteza do resultado de um processo mais complexo do que aqueles que

discutem casos individuais; e para os réus, participantes de movimentos

coletivos de ocupação, restou o temor (na maior das vezes concretizado) de

terem sua integridade física violada pela ação violenta do Estado no

cumprimento de mandados de reintegração de posse. (grifos meus)

Torna-se, pois, imperioso que o novo Código de Processo Civil não incida no

mesmo erro e, diferentemente da legislação atual, proporcione tratamento

diferenciado a situações distintas. Por isso, a importância do artigo 579 do

respectivo projeto, o qual introduz a obrigatoriedade da designação de audiência

preliminar em ações possessórias coletivas.”95

No entanto, a bancada ruralista ainda não estava satisfeita com a concessão

realizada para que em se tratando de litigio coletivo, caso a ação possessória fosse ajuizada

dentro do prazo de 6 meses data do esbulho ou da turbação descrito na inicial, fosse possível

pelo juiz a concessão da medida liminar para reintegração ou manutenção de posse, sem a

realização prévia da audiência de justificação e mediação. Começaram então mais uma vez as

negociações para que houvesse mudança efetiva no texto, visando um aumento desse prazo de

6 meses e consequentemente a possibilidade de concessão da medida liminar para além deste

tempo.

O relator-geral Paulo Teixeira, tentou negociar mas não obteve êxito, desde a

primeira concessão, a bancada ruralista foi ganhando força e angariando cada vez mais

deputados ao seu favor, a demora ao levar o projeto do Novo Código de Processo Civil a

votação no plenário da Câmara, já chamava a atenção da mídia e de toda comunidade jurídica,

não restava opção ao relator-geral, que não fosse ceder as pressões exercidas, sob pena do

trabalho da comissão se estender por mais alguns bons meses.

95

“OFÍCIO para Deputados Federais ref. Projeto Novo CPC”. Juízes para a Democracia, abril, 2013. Disponível

em: http://www.ajd.org.br/documentos_ver.php?idConteudo=129 . Acesso em 18/01/2016 às 12:45.

Page 57: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

57

Então, em 8 de maio de 2013 foi apresentado o relatório final por Paulo Teixeira,

com uma grande mudança em relação a redação do art. 579, o qual dispunha sobre os litígios

coletivos, mais uma vez, uma grande concessão tinha sido feita a bancada ruralista, o prazo de

ano e dia, já presente na regulamentação dos litígios individuais no Código de Processo de

1973, passou a figurar também na regulamentação das litígios coletivos, levando a cabo a

ideia de que tais litígios deveriam ser regulamentados de uma forma diferente, pelas

especificidades que apresentam:

Art. 579. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação

afirmado na petição inicial houver ocorrido:

I – há menos de ano e dia, o juiz poderá, antes de apreciar o pedido de concessão

da medida liminar, designar audiência de mediação, que observará o disposto nos §§

2.º a 4.º deste artigo; uma vez designada, a audiência deve realizar-se em até sete

dias, contados da data da propositura da ação;

II – há mais de ano e dia, o juiz deverá, antes de apreciar o pedido de concessão da

medida liminar, designar a audiência de mediação,que observará o disposto nos §§

2.º a 4.º deste artigo.

§ 1.º Depois de concedida a liminar, se esta não for executada no prazo de um ano, a

contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos

termos dos §§ 2.º a 4.º deste artigo.

§ 2.º O Ministério Público será intimado para comparecer

à audiência; a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte

beneficiária da gratuidade de justiça.

§ 3.º O juiz deverá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer

necessária à efetivação da tutela jurisdicional.

§ 4.º A União, o Estado ou Distrito Federal, e o Município onde se situa a área

objeto do litígio serão intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre

seu interesse na causa e a existência de possibilidade de solução para o conflito

possessório.

§ 5.º O juiz poderá requisitar à União, ao Estado ou ao Distrito Federal, e ao

Município onde se situa a área em litígio, e aos seus órgãos da administração direta

ou indireta, as informações de natureza fiscal, previdenciária, ambiental, fundiária

ou trabalhistas que entender necessárias ao julgamento da causa.

§ 6.º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio coletivo sobre propriedade de

imóvel.(grifos meus)96

A redação do dispositivo foi alvo de inúmeras criticas e com razão, pois ficou

extremamente confusa já que tentou aglutinar os interesses de ambos os lados visando assim a

aprovação pela Comissão. Com o dispositivo nestes termos, funcionaria da seguinte forma:

nos litígios coletivos, sendo a ação ajuizada dentro do prazo de ano e dia da data do esbulho

ou da turbação descrita na inicial, poderia o juiz designar, antes de apreciar o pedido de

concessão da medida liminar, a realização de uma audiência de mediação entre autor e réu,

nota-se que o mesmo não estaria obrigado a assim proceder, pois consistiria em uma

96

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Relatório PL8046 Final. 2013

Page 58: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

58

faculdade, sendo possível então a concessão da liminar de plano sem a realização da audiência

de mediação.

Ao revés, se a ação fosse proposta há mais de um ano e um dia da data da turbação

ou do esbulho afirmado na petição inicial, o juiz deveria designar, antes de analisar o pedido

de medida liminar, uma audiência de mediação entre as partes. E aqui, seria um dever do

magistrado agir dessa forma, não restando lhe discricionariedade para agir de modo diferente,

ou se agir, caberia recurso por estar ferindo uma disposição normativa federal.

Importante salientar, que nessa atual redação a previsão expressa é pela realização de

audiência de mediação, ao contrário das redações anteriores que previam a realização de

audiência de conciliação, o que, ao meu ver, possui uma distinção prática fundamental e por

óbvio tal mudança veio para atender os interesses da bancada ruralista. Isso porque, uma vez

que, apesar de tanto a conciliação quanto a mediação serem considerados meios de

autocomposição de conflitos, na conciliação o conciliador exerce papel mais ativo,

formulando propostas, atuando mais como uma espécie de negociador, já na mediação97

, o

mediador apresenta função mais passiva, cabendo a ele instigar as partes a buscarem uma

solução para o conflito, ou seja, a sua função precípua é aproximar autor e réu.98

Ainda que possa ser pouco provável a realização da ideia de um acordo entre o

ocupante e o possuidor, a previsão de um meio de autocomposição de conflitos nos litígios

coletivos sobre a posse foi válida, pois muitos conflitos surgem exatamente da falta de

diálogo e por isso extremamente importante a presença de um facilitador. Ademais, o

parágrafo 1° também estabeleceu uma novidade em relação às propostas anteriores, já que

prelecionou que caso a medida liminar concedida não fosse executada no prazo de 1 ano, a

contar da distribuição da ação, o juiz deverá designar uma audiência de mediação.

O relator- geral Paulo Teixeira, afirmava que essa redação dada ao artigo 579

contemplava “tanto quem reivindicava a realização da audiência desde o primeiro dia da

invasão até quem era contrario á audiência”99

, no entanto o descontentamento dos ruralistas

97

Embora não seja o objetivo do presente trabalho, esta alteração – de conciliação para mediação – suscita

diversos debates, incluindo quanto as diferenças entre os institutos. Assim remeto a estudos específicos quanto a

implantação da mediação e da conciliação no Judiciário Brasileiro, como MEIRELLES, 2007; WATANABE,

2007; e MELLO e BAPTISTA, 2011. 98

Luis Alberto Warat em sua obra “Surfando na Pororoca” defende que o mediador deve fazer as partes

passarem pelo céu e pelo inferno. 99

“NOVO CPC vai a voto na comissão especial em junho, diz relator”. Câmara noticias, maio, 2013. Disponível

em: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITO-E-JUSTICA/442765-NOVO-CPC-VAI-A-

VOTO-NA-COMISSAO-ESPECIAL-EM-JUNHO,-DIZ-RELATOR.html Acesso em: 22/12/2015, às 08:23

Page 59: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

59

era evidente, pois não queriam sequer que, em se tratando de ação de “força nova”, o juiz

tivesse a faculdade de designar audiência de mediação, antes da apreciação do pedido de

medida liminar.

Por mais uma vez, o sub-relator Jeronimo Goergen (PP) demonstrou ser um opositor

enérgico ao proposto pelo relator, afirmando que “faria de tudo para alterar tal dispositivo

através dos destaques”100

. Neste momento, a bancada ruralista mostrou-se mais unida do que

nunca e destaco a atuação dos Deputados Esperedião Amin (PP) e Onyx Lorezoni (DEM),

que após a apresentação do relatório geral, articularam-se para realizar as mudanças

necessárias para que se tornassem convenientes com os interesses da bancada que

representam.

O objetivo dos ruralistas, neste ponto do processo legislativo, já que a cada

concessão realizada e mudança de texto ganhavam força, é que fosse dada aos litígios

coletivos a mesma regulamentação dada aos litígios individuais no Código de Processo Civil

de 1973, ou seja, que fosse possível a concessão da medida liminar nas ações de força nova.

Os destaques utilizados como ameaça por Goergen foram de fatos concretizados e utilizados

como “moedas de troca”, para que mais essa concessão fosse realizada.

Em julho de 2013 foi elaborado um Substitutivo ao Relatório Geral, apresentado por

Paulo Teixeira, havendo novamente uma mudança de redação no artigo 579 e no

procedimento dos litígios coletivos, que ao que parece finalmente aquietou os ânimos da

bancada ruralista, já que a mesma teve o seus interesses satisfeitos. Com a nova

regulamentação, nos litígios coletivos, se o esbulho ou a turbação afirmado na inicial tiver

ocorrido há mais de ano e dia, o juiz antes de apreciar o pedido de concessão da medida

liminar, designará audiência de mediação:

Art. 579. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação

afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de

apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência

de mediação, a realizar-se em até trinta dias, que observará o disposto nos §§ 2º

e 4º.

§ 1º Depois de concedida a liminar, se esta não for executada no prazo de um

ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de

mediação, nos termos dos §§ 2º a 4º deste artigo.

§ 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência; a Defensoria

Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária da gratuidade de justiça.

100

Tal fala foi veiculada a mesma entrevista concedida pelo relator Paulo Teixeira, cujo o link encontra-se

acima; O Destaque é um mecanismo por meio do qual os deputados podem retirar ("destacar") parte da

proposição a ser votada para ir a voto depois da aprovação do texto principal.

Page 60: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

60

§ 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer

necessária à efetivação da tutela jurisdicional.

§ 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de

Estado ou do Distrito Federal, e de Município onde se situe a área objeto do litígio

poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse

na causa e a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.

§ 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel. (grifos

meus)101

Deste modo, a alteração pretendida pela bancada ruralista foi alcançada, pois com

essa redação, se o esbulho ou a turbação, narrados na inicial, tiverem ocorrido há menos de

ano e dia, será possível a concessão da medida liminar sem a oitiva da parte contrária, do

mesmo modo que acontece com os litígios individuais, cujo procedimento manteve-se

inalterado.

Agora, repisa-se, caso a ação seja ajuizada há mais de 1 ano e dia da data da

turbação ou do esbulho ou praticado pelo réu, antes de analisar o pedido de concessão de

medida liminar, deve o juiz designar a realização de audiência de mediação, que deverá ser

realizada, dentro de 30 dias, tal prazo também veio para suprir o “receio ruralista” de que a

demora na realização de tal audiência, poderia legitimar a invasão.

Houve também, uma mudança em relação ao parágrafo 4° que agora conta com o

vocábulo “poderão”, não sendo obrigatório, em tais litígios, proceder à intimação dos órgãos

responsáveis pela politica agrária e urbana, mas somente se o juiz achar necessário a presença

dos mesmos para o caso em questão.

Por mais incrível que pareça, ainda assim, o sub-relator “ruralista” Goergen não

estava totalmente satisfeito com a redação dada, pois realizou um destaque, ou seja, uma

oposição, a necessidade da realização de audiência de mediação nos litígios coletivos, ainda

que somente na hipótese da ação ser ajuizada após o prazo de ano e dia. Porém, em razão de

negociações retirou tal destaque para que o substitutivo fosse levado para votação na

Comissão Especial.

Colaciono aqui uma parte da transcrição de uma das reuniões da Comissão Especial,

em que Goergen salienta a importância do tema das ações possessórias no novo Código de

Processo enfatizando que esse foi o tema mais discutido no âmbito da comissão e opina para

que seja dada aos litígios coletivos a mesma regulamentação dada aos individuais no Código

de 1973:

101

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Substitutivo Relatório PL8046 Final. 2013

Page 61: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

61

SR. DEPUTADO JERÔNIMO

“Eu entendo, Sr. Presidente Fabio Trad, Sras. e Srs. Deputados, que o direito à

propriedade, especialmente neste momento - e lá no Rio Grande do Sul agora, às 18

horas, mais uma propriedade de pequenos agricultores, como em Sananduva e em

Mato Preto, foi invadida por indígenas. Neste tema indígena, o MST lá em São

Borja, de áreas maiores... -, o Brasil tem um conflito muito forte na questão das

invasões. Então, eu deixo claro o porquê, Sr. Presidente, da nossa posição muito

evidente desde dezembro, quando nós já poderíamos ter votado o nosso Código e

não votamos. E hoje fica claro que é um tema de relevância. É o tema que causou

mais debate na Comissão.

Quero deixar claro, portanto, que a minha posição é de manutenção da forma

como é hoje essa questão da reintegração, mas nós precisamos avançar. Eu

deixo claro esse registro, mas, eu retiro, sim, o meu destaque e caminhamos

para a votação. “102

(grifos meus)

Tal Substitutivo foi aprovado pela Comissão Especial, no próprio mês de julho de

2013, porém, antes de ser levado a votação no plenário da Câmara, o Revisor-geral Paulo

Teixeira, elaborou em 08 de outubro de 2013 uma Emenda Aglutinadora Substitutiva Global,

que segundo o mesmo visava apenas um aperfeiçoamento da redação dos artigos, bem como a

correção de possíveis erros gramaticais. E por isso, não foram realizadas modificações

materiais em relação ao conteúdo do Substitutivo aprovado no seio da Comissão Especial.103

Finalmente, depois de aproximadamente 2 anos e 9 meses tramitando na Câmara dos

Deputados, o Substitutivo ao Projeto de Lei 8.046 de 2010, o desejado Novo Código de

Processo Civil, foi aprovado no plenário em 26 de março de 2014. Tal demora, sem dúvidas,

teve como um dos fatores primordiais a aqui citada rivalidade shakespeariana, que se

instaurou quando da discussão sobre a regulamentação das ações possessórias, no que

concerne aos litígios coletivos. Pois, diversos foram os boicotes realizados pela bancada

ruralista, para que tivessem êxito em seus interesses.

4.5 Do retorno ao Senado Federal

O Substitutivo aprovado na Câmara ao Projeto de Lei. 8.046 de 2010 retornou ao

Senado em razão das modificações realizadas pela casa revisora, sendo designada uma

102

“COMISSÃO especial reunião ordinária. Câmara dos Deputados- detaq, julho, 2013. Disponível em:

http://www.camara.leg.br/internet/sitaqweb/textoHTML.asp?etapa=11&nuSessao=0989%2F13&nuQu . Acesso

19/01/2016 às 13:39 103

MANDEL, Gabriel. “Relator adiciona emendas e altera projeto do novo CPC”. Conjur, outubro de 2013.

Disponível em: http://www.conjur.com.br/2013-out-28/relator-codigo-processo-civil-adiciona-emendas-altera-

texto . Acesso em 19/01/2016 às 14:00

Page 62: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

62

Comissão Especial sob a relatoria-geral do Senador Vital do Rêgo (PMDB) para formular um

parecer sobre o mesmo. Cumpre salientar que em relação às ações possessórias, não houve

nenhum tipo de modificação no procedimento, tendo prevalecido a redação aprovada no

plenário da Câmara.

Em 17 de dezembro de 2014, o Substitutivo foi aprovado com algumas emendas

pelo plenário do Senado Federal e o Novo Código de Processo Civil foi enviado para a sanção

da Presidente Dilma Rousseff (PT), sanção esta que ocorreu em 16 de março de 2015, com

alguns vetos, mas nenhum deles que atingisse o tema da presente monografia.

A publicação da Lei 13.105 de 2015, o agora Novo Código de Processo Civil,

ocorreu em 17 de março de 2015 e passará a vigorar após o período de 1 ano de sua

publicação, por disposição expressa prevista no art. 1.045:

Art. 1.045. Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da data de sua

publicação oficial.

O tão esperado Novo Código de Processo Civil, “formulado”, literalmente104

, sob as

bases da celeridade processual e do principio de um processo justo entrará em vigência em 18

de março de 2016105

e por ter as leis processuais aplicabilidade imediata, imprescindível o seu

conhecimento por toda a sociedade e principalmente por aqueles que manejam o direito,

ressalta-se, porém que a interpretação de um Novo Código deve ser feita através das bases

principiológicas do mesmo, e por isso de agora em diante será necessário nos despirmos do

Código de Processo Civil de 1973, para que possamos interpretar e aplicar corretamente o

Novo Código de Processo Civil.

104

Literalmente, pois principalmente no que tange ao trabalho realizado pela Comissão de Juristas responsável

por elaborar o anteprojeto, observei que tinha-se pressa para a conclusão dos trabalhos, não se realizou sequer

um diagnóstico prévio do que precisava ser mudado, buscava-se a legitimação através da democracia, mas do

que aqui chamei de “democracia célere”. 105

O Conselho Nacional de Justiça decidiu que a data de vigência do novo CPC será em 18 de março de 2016.

Page 63: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

63

CAPÍTULO 5: Entre Vencedores e Vencidos

No final da tragédia romântica Shakespeariana, o plano mal sucedido de Julieta, que

consistia em tomar um antídoto para simular o seu óbito, provocou a morte de seu amado

Romeu, que desconhecendo o planejado e em estado de desespero ao ver o corpo da mesma

ingeriu veneno de verdade. Ao despertar de seu coma induzido Julieta constatou que Romeu

estava morto e não sobrará sequer uma gota do veneno que ele tomou e por isso empunhou a

adaga de seu amado e se suicidou, os Montecchios e os Capuletos diante dos corpos dos seus

filhos e vendo a força daquele genuíno amor, deixaram a rivalidade histórica de lado e

acabaram se reconciliando.

Diferentemente do desfecho do maior romance literário da historia da humanidade,

após a redação final dada aos dispositivos que discorrem sobre o procedimento possessório,

não houve um “apertar de mãos” entre os “Petistas” e “Ruralistas”, mas salienta-se que a

metáfora aqui realizada veio para denotar a oposição, a contrariedade que foi exacerbada

quando da discussão do procedimento das ações possessórias no novo CPC, principalmente

no que tange a regulamentação especifica dos litígios coletivos.

No entanto, em regra esse antagonismo por vezes não se faz presente, isso porque

inúmeros são os interesses políticos envolvidos e os posicionamentos podem convergir diante

de um determinado tema, sendo assim a divisão aqui feita foi somente para exacerbar a

contrariedade de propostas.

No melhor dos mundos, o trabalho legislativo principalmente na elaboração de um

novo Código de Processo, deveria ser no sentido de atender os anseios da sociedade como um

todo, realizando para tanto um diagnóstico prévio do que deveria ser mudado, além de

promover discussões com profundidade. No entanto, o que foi observado, que principalmente

na Câmara dos Deputados as mudanças propostas vêm no sentido de beneficiar grupos

específicos ou interesses individuais, sendo utilizado o poder de voto como moeda de

escambo, para a modificação deste ou aquele artigo e talvez essa situação seja a grande

mazela e o ônus da democracia representativa.

Page 64: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

64

Adotando-se a lógica maniqueísta106

e se estabelecermos para tanto a ideia de

vencedores e vencidos, no que tange a redação que prevaleceu das ações possessórias, nos

litígios coletivos, adotada no Novo Código de Processo Civil, poderemos chegar a indícios de

quais interesses prevaleceram e quais sucumbiram.

O interesse de alguns dos deputados ligados ao Partido dos Trabalhadores, era no

sentido de que houvesse uma regulamentação específica para os litígios coletivos, onde o

conflito possessório deixasse de ser tratado no âmbito das relações privadas, para se tornar

algo com o que o poder público se preocupasse e oferece soluções, alterando o status de

“invasor” para o de “ocupante”.

Para tanto, seria necessária a previsão de audiência de conciliação, bem como a

participação do Ministério Público e dos órgãos responsáveis pela politica urbana e rural no

procedimento das ações possessórias e principalmente que não houvesse a previsão de

concessão da medida liminar para reintegração ou manutenção de posse, nos moldes previsto

no CPC de 1973. Isso em razão, da violência notadamente sabida quando do cumprimento

dos mandados liminares e do reducionismo da discussão provocado pela concessão, de plano,

da medida liminar.

Já o interesse de alguns dos deputados, integrantes da bancada ruralista, era para que

os litígios coletivos fossem tratados do mesmo modo que os individuais, ou seja, com a

possibilidade da concessão da medida liminar para reintegração ou manutenção de posse,

visto que desse modo estariam atendidos aos interesses dos grandes proprietários de terra e

por serem os mesmos ligados fortemente ao agronegócio.

Embora, os “deputados petistas” tenham conseguindo um dispositivo no Novo

Código de Processo que trate de maneira especifica sobre os litígios coletivos, ele não veio

nos moldes em que era esperado, em razão do grande poder de articulação dos ruralistas e das

pressões que realizaram no interior da Comissão Especial com os inúmeros boicotes à

votação, então com a redação adotada, será possível a concessão da medida liminar nos

litígios coletivos, se a ação for de força nova107

, nos mesmo molde do que os individuais.

Deste modo, pelo menos no que tange ao tema da presente monografia os interesses

dos “petistas” sucumbiram e os dos “ruralistas” prevaleceram isso depois de uma intensa

106

O maniqueísmo representa a dualidade, o bem e o mal, tal termo está sendo empregado para demarcar a

contrariedade de posição e não para afirmar que um determinado grupo pertence ao bem e outro ao mal. 107

Aquela intentada dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho narrado inicial.

Page 65: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

65

morosidade legislativa e de várias concessões com o objetivo de levar o projeto de lei, do

Novo Código de Processo Civil, à votação no plenário da Câmara.

5.1 Da regulamentação das ações possessórias no Novo Código de Processo Civil

A grande modificação referente ao tema das ações possessórias no Novo Código de

Processo Civil foi sem dúvidas a regulamentação dos litígios coletivos, já que o Código de

Processo de 1973 era silente sobre o tema, sendo aplicável aos litígios coletivos a mesma

regulamentação dada aos litígios individuais, que como já visto, estava encartado no Livro IV,

referente aos Procedimentos Especiais, no Capítulo V que trata sobre as ações possessórias,

entre os arts. 920 a 933.

No novo Código de Processo de Civil (Lei 13.105 de 2015) os procedimentos

especiais foram encartados no Título III, dentro do Livro I da parte especial, referente ao

Processo de Conhecimento e o cumprimento de sentença, sendo as ações possessórias

regulamentadas pelo arts. 554 a 568. Como um dos objetivos da presente monografia foi

destrinchar o processo legislativo referente às ações possessórias, para que assim pudessem

serem analisados os interesses políticos que ali estavam por detrás, no capítulo anterior

destacou-se somente a modificação em relação ao litigio coletivo, por se tratar de um

dispositivo novo e pela oposição de interesses na Câmara em torno do mesmo ter se tornado

latente.

Porém, outras modificações foram realizadas no tema das ações possessórias,

algumas delas apenas para melhorar a redação do já disposto no Código de 1973, ou para

incluir algo que já era consolidado na jurisprudência, no entanto em relação ao procedimento

das ações possessórias nos litígios individuais, para a concessão da medida liminar não

houveram modificações. Objetivando tornar a análise mais fácil, transcrever-se-á adiante os

artigos relativos ao tema, tecendo comentários sobre os mesmos, quando necessário.

5.1.1 Das disposições gerais

O art. 554 caput, inaugurando as disposições gerais, repete a redação do art.920 do

Código de Processo de 1973, consagrando o chamado principio da fungibilidade das ações

possessórias, em que a propositura de uma ação possessória ao invés da outra, não impede o

conhecimento pelo magistrado.

Page 66: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

66

Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que

o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos

pressupostos estejam provados.

§ 1o No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de

pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no

local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do

Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência

econômica, da Defensoria Pública. (grifos meus)

§ 2o Para fim da citação pessoal prevista no § 1o, o oficial de justiça procurará os

ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.

§ 3o O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação

prevista no § 1o e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se

de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do

conflito e de outros meios.

A novidade é a inclusão dos parágrafos que vieram para regulamentar a citação dos

ocupantes nos litígios coletivos, pela redação do parágrafo 1° nos litígios coletivos serão

citados pessoalmente os ocupantes que se encontrarem no local e por edital os demais, deve-

se atentar para o uso da expressão “grande números de pessoas” e aqui pode-se construir uma

crítica, pois foi deixado a cargo do magistrado, em face da indeterminação, o que seria um

grande número de pessoas.

O Superior Tribunal de Justiça, tendo como base o Código de Processo de 1973, já

havia se manifestado no sentido de que “no caso da ocupação de terras por milhares de

pessoas, é inviável a citação de todas para compor a ação de reintegração de posse, eis que

essa exigência tornaria impossível qualquer medida judicial”108

. Ainda que a previsão seja na

modalidade de citação por edital, que é uma citação ficta, parece-me desproporcional tal

exigência, em virtude da morosidade deste tipo de citação e por estarmos diante de um

procedimento especial.

O art. 555 assim como fazia o art. 921, trata sobre os pedidos que podem ser

cumulados com as ações possessórias, sem que tenham que tramitar pelo rito ordinário, a

novidade em tal dispositivo consiste no pedido de indenização pelos frutos e na multa para

que seja cumprida a tutela provisória ou final, quanto ao primeiro o objetivo, ao meu ver, é

para evitar o enriquecimento ilícito do ocupante, já quanto a multa foi apenas uma forma de

108

RT, 744/172

Page 67: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

67

incluir o instituto das “astreíntes”109

, que funciona como um meio coercitivo pecuniário para o

cumprimento da obrigação, nas ações possessórias.

Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:

I - condenação em perdas e danos;

II - indenização dos frutos.

Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e

adequada para:

I - evitar nova turbação ou esbulho;

II - cumprir-se a tutela provisória ou final. (grifos meus)

O Art. 556 repetiu a redação do que estava disposto no art.922, consagrando o caráter

dúplice das ações possessórias, que conforme já explicado no capítulo 3, permite ao réu

demandar ao Estado-Juiz a proteção possessória, através de um pedido formulado na sua

contestação, sendo desnecessário o manejo da reconvenção para tanto. Salienta-se, porém que

não é permitido a concessão do mandado liminar em face do réu, devendo o mesmo manejar a

ação própria, caso assim pretenda.

Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse,

demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da

turbação ou do esbulho cometido pelo autor.

A doutrina sobre as ações possessórias é uníssona ao estabelecer uma distinção entre

o juízo possessório e o juízo petitório, o primeiro diz respeito a posse e o segundo a

propriedade, o artigo 923 do CPC de 1973 estabelecia uma proibição ao vedar que na

pendência de uma ação possessória, fosse intentada quer pelo o autor quer pelo réu ação de

reconhecimento de domínio, ou seja, uma ação que reconhecesse a propriedade. Já o art.557

do Novo Código de Processo, estabeleceu uma exceção a tal vedação, permitindo o

ajuizamento de ação de reconhecimento de domínio em face de terceira pessoa, ou seja, que

não esteja integrando a relação possessória, o que é perfeitamente cabível, pois o julgamento

de uma não afetará a outra.

Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu,

propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida

em face de terceira pessoa.(grifos meus)

109

Ressalta-se que as astreíntes devem ser usadas para coercibilidade e não com caráter indenizatório.

Page 68: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

68

Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de

propriedade ou de outro direito sobre a coisa.

Ao art.558 foi dada a mesma redação ao que já era previsto no art. 924, houve apenas

um fracionamento do texto para que uma parte da redação do caput, constasse agora no

parágrafo único, tal dispositivo prevê que as normas da Seção II serão aplicáveis as ações de

ação de manutenção ou reintegração de posse, quando forem intentadas dentro do prazo de

ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na inicial, ou seja, quando a ação for de “força

nova”, a implicância prática é que somente será possível a concessão de medida liminar a se

ação for proposta em tal prazo. Superado o prazo de ano e dia, não será possível a concessão

da liminar e ação tramitará pelo rito ordinário.

Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as

normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia

da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. (grifos meus)

Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento,

não perdendo, contudo, o caráter possessório.

Com relação ao art.559, que encerra as disposições gerais, houve um

aperfeiçoamento na sua redação, o mesmo encontrava correspondência no art.925 que

prelecionava a necessidade de caução, se o réu provasse que o autor reintegrado ou mantido

provisoriamente na posse, não tinha condição de arcar com os prejuízos caso perdesse a ação,

ou seja, caso a medida liminar não fosse confirmada na sentença. Desse modo, poderia o juiz

lhe conceder um prazo de 5 dias para prestar uma garantia ou depositar a coisa em juízo.

Uma crítica forte a tal redação, realizada pela doutrina, era no sentido de que a

mesma tinha cunho discriminatório, pois em muitos casos não tinha como o autor prestar

garantia, com a nova redação tal garantia pode ser dispensada se o autor for hipossuficiente.

Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido

ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de

sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5

(cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a

coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente

hipossuficiente. (grifos meus)

Page 69: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

69

5.1.2 Dos Conflitos Individuais sobre a posse

Como já dito, em relação aos litígios individuais não houve mudança de

regulamentação no novo código, o autor comprovando a sua posse ou a turbação praticada

pelo réu, a data em que tais foram praticados, a continuação na posse, embora turbada, na

ação de manutenção ou a perda da posse, na ação de reintegração, caso proponha ação no

prazo de ano e dia e estando a inicial devidamente instruída, o juiz sem ouvir o réu poderá

conceder a medida liminar para a reintegração ou manutenção de posse.

No entanto, caso não esteja inicial devidamente instruída, ou necessite de algum

esclarecimento pode o magistrado designar uma audiência de justificação, onde o réu deverá

estar presente, após a audiência, se julgada procedente a justificação pode o juiz expedir o

mandado liminar para a reintegração. Salientando-se que contra as pessoas jurídicas de direito

público, não pode ser concedida a medida liminar para reintegração ou manutenção, sem

prévia audiência com a presença de seus respectivos representantes judiciais.

Tal procedimento encontra-se agora regulado entre os arts. 560 a 564 e como no

capítulo 2 o tema já foi tratado com profundidade, transcrevo apenas os dispositivos, para que

se possa ter uma compreensão linear.

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e

reintegrado em caso de esbulho.

Art. 561. Incumbe ao autor provar:

I - a sua posse;

II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;

III - a data da turbação ou do esbulho;

IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da

posse, na ação de reintegração.

Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir

o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso

contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu

para comparecer à audiência que for designada.

Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a

manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos

representantes judiciais.

Page 70: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

70

Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de

manutenção ou de reintegração.

Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração,

o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo,

contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.

Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar

será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.

5.1.3 Dos conflitos coletivos sobre a posse

A grande inovação no novo Código de Processo Civil no que concernem as ações

possessórias vem no artigo 565 que regula especificamente os litígios coletivos,

prelecionando que em tais litígios caso a ação seja proposta há mais de ano e dia da data do

esbulho ou da turbação, o juiz antes de apreciar o pedido de concessão de medida liminar,

deverá designar uma audiência de medicação com a presença do Ministério Público e da

Defensoria, caso alguma das partes seja hipossuficiente.

Tal audiência de mediação deverá ser realizada em até 30 dias e caso o magistrado

ache necessário poderá intimar para comparecimento os órgãos responsáveis pela politica

agrária ou urbana dos entes da federação, para se manifestarem sobre o seu interesse no

processo e sobre a existência de uma possível solução para o conflito possessório. Sendo a

medida liminar concedida caso o autor não execute tal medida no prazo de um ano, o juiz

designará nova audiência de medicação.

Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação

afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de

apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de

mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2o e

4o.(grifos meus)

§ 1o Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a

contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos

termos dos §§ 2o a 4o deste artigo.

§ 2o O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a

Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade

da justiça.

§ 3o O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se

fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional.

§ 4o Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da

União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto

do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre

Page 71: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

71

seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o

conflito possessório.

§ 5o Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.

Embora, o novo Código de Processo Civil tenha regulamentado especificamente os

litígios coletivos, pelas questões politicas abordadas no capítulo anterior, o seu procedimento

ficou muito próximo ao dos litígios individuais, no que tange a concessão da medida liminar,

em razão do empenho dos deputados, quando da tramitação do projeto de lei na Câmara dos

Deputados, ligados à bancada ruralista e infelizmente a questão do cumprimento função social

da propriedade não foi recepcionada expressamente pela nova regulamentação.

A advogada Juliana Sales Barket, em seu artigo: Comentários gerais à sistemática

das ações possessórias no Novo CPC, afirma que diante da redação dada ao art. 565 “a

realização de audiência de mediação passa a ser um ato obrigatório quando se tratar de litígio

coletivo pela posse.”110

Porém, discordo veementemente de tal afirmação, pois pela via contrária de

interpretação do art. 565, é possível aduzir que ainda que se trate de litigio coletivo pela

posse, sendo a ação ajuizada dentro do prazo de 1 ano e 1 dia da data do esbulho ou da

turbação narrados na inicial, a medida liminar poderá ser concedida de plano, ou seja, sem a

oitiva da parte contrária e sem a realização da audiência de mediação.

O que provoca estranhamento, é que com essa redação podemos evidenciar uma

possível antinomia entre o art.565 e o art. 558, isso porque este último dispositivo preleciona

que as normas da seção II, seção esta que se inclui o art.565, serão aplicadas no caso em que a

ação for de força nova, ou seja, quando for ajuizada dentro do prazo de ano e dia da data da

turbação ou do esbulho narrados na inicial, passado esse prazo não será possível a concessão

da medida liminar.

Ocorre, que o art.565 abre espaço para que em se tratando de litigio coletivo, ocorra

a hipótese de que mesmo sendo a ação de força de velha, ou seja, ajuizada após 1 ano e dia da

data da turbação ou do esbulho narrados na inicial, se implementada a condição de prévia

audiência de mediação, poderá o juiz conceder a medida liminar. Portanto, estaria tal

110

BARKET, Juliana Sales. “Comentários gerais à sistemática das ações possessórias no novo CPC”. Migalhas,

junho, 2015. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI222070,11049-

Comentarios+gerais+a+sistematica+das+acoes+possessorias+no+novo+CPC Acesso em: 10/01/2016, às 21:50

Page 72: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

72

dispositivo em conflito com o art. 558, pois está admitindo a possibilidade de concessão de

medida liminar em uma ação de força velha.

Como ainda não existem julgados sobre o tema, tendo em vista que a presente

monografia foi concluída antes da vigência do Novo Código de Processo Civil, nos resta

aguardar pela literatura jurídica e pela jurisprudência para saber se a critica que aqui realizo

possui fundamento e se de fato essa suposta antinomia existe. Se assim for, nos litígios

coletivos a possibilidade de concessão da medida liminar será mais ampla do que nos litígios

individuais, pois estes somente a permitem nos casos das ações de força nova.

A participação do Ministério Público e dos órgãos responsáveis pela politica urbana

e agrária vem para dar um tratamento diferenciado aos conflitos possessórios coletivos,

transmudando-os do âmbito da discussão da esfera privada para a discussão na esfera pública,

para que assim o litigio coletivo deixe de ser um problema entre o autor e réus, para ser um

problema de toda sociedade, mas principalmente do Estado, que deverá manifestar-se sobre

uma possível solução para o conflito possessório. O parquet deverá ser intimado para se

manifestar no prazo de 30 dias e o art.178 do novo CPC, elenca como uma das hipóteses de

sua intervenção os litígios coletivos sobre a posse, ratificando o previsto no art.565, in verbis:

Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias,

intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou

na Constituição Federal e nos processos que envolvam:

I - interesse público ou social;

II - interesse de incapaz;

III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. (grifos meus)

Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só,

hipótese de intervenção do Ministério Público.

Da decisão que concede ou nega a medida a medida liminar para a reintegração ou

manutenção de posse, pela técnica do Código de Processo de 1973, caberia agravo retido ou,

se passível de causar à parte lesão grave ou de difícil reparação, agravo de instrumento. Tendo

em vista, o conteúdo das ações possessórias, já que se discute a posse e a sua privação ou

embaraço de seu exercício, a via mais utilizada era o agravo de instrumento face às lesões

graves que tais decisões poderiam provocar.

No entanto, pela técnica do novo Código de Processo de Civil, não existe mais o

agravo na sua modalidade retida, transformando-se agora em uma preliminar de apelação, por

Page 73: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

73

isso no que tange as ações possessórias a decisão poderá ser atacada por agravo de

instrumento, tal recurso teve o seu prazo ampliado para 15 dias e passou por diversas

modificações111

, encontrando-se regulado entre os artigos 1.015 e 1.020 do novo Código de

Processo Civil.

5.1.4 Do Interdito Proibitório

Por fim, o interdito proibitório que é a ação a ser manejada quando existe a ameaça

de turbação ou esbulho, solicitando ao estado juiz a expedição de um mandado proibitório em

que se comine pena caso a posse seja embaraçada ou esbulhada, foi regulamentado pelos

artigos 567 e 568 do Novo CPC , não havendo nenhuma modificação em relação aos arts. 932

e 933 do Código de Processo de 1973 que tratavam sobre o tema.

Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na

posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente,

mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária

caso transgrida o preceito.

Art. 568. Aplica-se ao interdito proibitório o disposto na Seção II deste Capítulo.

Como visto, a modificação substancial no novo Código de Processo Civil, no que

tange ao tema, foi a regulamentação das ações possessórias em se tratando de litigio coletivo,

as demais mudanças efetuadas foram apenas para aperfeiçoar a técnica de redação ou para se

coadunar com a jurisprudência.

Após intensos debates, acordos políticos, boicotes e conluios o litigio coletivo sobre

a posse foi enfim regulamentado, porém de forma distante ao pretendido, embora os “petistas”

tenham conseguido a inclusão da audiência de mediação, a participação do Ministério Público

e a oitiva dos órgãos responsáveis pela politica publica urbana ou rural, os ruralistas

conseguiram que os seus interesses fossem atendidos, pois sendo a ação proposta dentro do

prazo de ano e dia, há a possibilidade de concessão da medida liminar de plano, bem como

ocorre nos litígios individuais.

111

Por não ser tal recurso objeto de estudo de estudo de tal monografia, as modificações não serão aqui

destrinchadas, remete-se para: http://sanascimentojunior.jusbrasil.com.br/artigos/213174732/o-agravo-de-

instrumento-no-novo-cpc-com-quadro-comparativo

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CONCLUSÕES

Como conclusões, tendo em vista os objetivos dessa monografia, concluo que o

processo legislativo para muito além do previsto na Constituição Federal, envolve

negociações, concessões, formações de alianças que se dissolvem na mesma rapidez em que

se consolidam. Muitas das vezes as modificações realizadas nos procedimentos ou nas leis

não vêm para dar conta apenas dos anseios sociais, mas sim para atender também os

interesses de grupos específicos.

Na elaboração do novo Código de Processo de Civil, a busca pela celeridade

processual e por um processo justo foram utilizados como força-motriz para o trabalho da

Comissão, que além de buscar a opinião da sociedade através da realização das audiências

públicas, buscava-se legitimar democraticamente. Porém, essa busca pela democracia tinha o

prazo marcado de 180 dias para se concretizar, o que me faz refletir se de fato o objetivo era

colher opiniões para que houvesse progressos na regulamentação ou se a legitimação por uma

democracia formal, parece-me que a última opção.

Não que se queira aqui desvalorizar o trabalho da Comissão de Juristas ou criar uma

teoria da conspiração sobre os reais objetivos do novo código, mas apenas saliento que a

ausência de um diagnóstico prévio do que deveria ser mudado no Código de Processo de 1973

e a estipulação do prazo de 6 meses para apresentação do anteprojeto ao senado federal, bem

como a limitação do tempo de fala nas audiências, pode ter provocado um reducionismo nas

discussões.

A metáfora aqui construída com base na rivalidade literária Shakespeariana, entre os

Montecchios e os Capuletos foi realizada com o intuito de denotar a oposição, a cisão, a

contrariedade dos posicionamentos de alguns dos deputados ligados ao Partidos dos

Trabalhadores (PT) e de alguns dos deputados integrantes da bancada ruralista, quando da

tramitação do novo CPC na Câmara dos Deputados, no que tange ao procedimento das ações

possessórias, porém repisa-se que com a utilização de tais termos não se pretende uma

generalização, já que conforme explicado não necessariamente o posicionamento de um

deputado ou de um grupo deles coaduna-se com o defendido pelo Partido como um todo.

A busca pela regulamentação dos litígios coletivos pela posse provocou debates

inflamados e foi um dos principais responsáveis pela morosidade da tramitação do novo CPC

na Câmara dos deputados, os “ruralistas” realizaram inúmeros boicotes as votações e

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articularam-se fortemente para que não lhes fosse furtada a possibilidade da medida liminar

para manutenção ou reintegração de posse.

Os “petistas” por sua vez buscavam um tratamento mais humano do conflito

coletivo possessório, em que o invasor passasse para o status de “ocupante” e que incumbisse

ao poder público a sua tutela, almejando ainda a exclusão da medida liminar e a realização de

audiências de conciliação, bem como a presença do Ministério Público e de órgãos

responsáveis pela politica agrária ou urbana, que propusessem possíveis soluções para os

litígios possessórios. Em suma, pretendiam que o conflito possessório deixasse de ser tratado

no âmbito das relações privadas para se tornar um tema de interesse público.

Em razão, de todos os deslindes apresentados no processo legislativo, ao que me

parece os interesses petistas, começaram a sucumbir com a saída do Deputado Sérgio

Barradas da relatoria-geral da Comissão Especial, pois embora o novo relator Paulo Teixeira

também fosse filiado ao PT, o poder de articulação de Barradas era mais consistente e tinha

uma maior facilidade de formar alianças.

Com isso, embora tenhamos no Novo Código de Processo Civil o dispositivo 565,

que regula especificamente os conflitos coletivos sobre a posse, a redação final do mesmo é

bem distante do inicialmente pretendido, já que somente será necessária a realização prévia

de audiência de mediação, com a presença do parquet e dos já citados órgãos, quando a ação

for ajuizada após 1 ano e dia da data do esbulho ou da turbação afirmados na inicial, sendo

assim caso a ação seja de força nova a medida liminar inaudita altera parte será possível, nos

moldes do previsto para o litígio individual.

Em poucas palavras, os interesses “ruralistas” além de prevalecerem ainda tornaram

mais ampla a possibilidade da concessão da medida liminar nos litígios coletivos, do que nos

individuais, pois pela interpretação de tal artigo, podemos aduzir que ainda que a ação seja de

força velha poderá o juiz conceder a medida liminar, desde que realize previamente a

audiência de mediação. Ou seja, enquanto nos litígios individuais a concessão da liminar só

será possível se a ação for de força nova, nos coletivos será possível à concessão de liminar

nas ações de força nova e nas de força velha, desde que, precedida de audiência de mediação,

um verdadeiro “touchê legislativo” aplicado pelos ruralistas, resta agora aguardar o

posicionamento da doutrina e da jurisprudência, diante dessas modificações, para saber se

será este o entendimento adotado.

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Ao contrário do final épico da tragédia romântica Romeu e Julieta, em que os

Montecchios e os Capuletos fazem as pazes diante da morte de seus filhos, ainda que o

antagonismo não seja tão evidente ou se quer existe diante de outros temas, pelo menos no

que tange ao tema das ações possessórias não houve um “apertar de mãos” entre os dois

grupos diante da extrema contrariedade de suas pautas.

Fui questionado algumas vezes, sobre quem seria Romeu e Julieta, nesse meu

pensamento jurídico-metafórico, confesso que a minha criatividade não alçou voos tão altos a

ponto de chegar a tal definição, mas partindo do pressuposto que Julieta era filha única dos

Capuletos (ruralistas) e Romeu dos Montecchios (petistas), poderia arriscar que Julieta seria a

terra e Romeu os movimentos sociais organizados que pleiteiam a reforma agrária, para

continuarmos no contexto de um “amor impossível”.

Há quem acredite que o direito processual possui menos relevância que o direito

material, alegando que o mesmo se resume a ditar procedimentos e não é dotado de grandes

discussões, porém como visto nessa monografia, tal afirmação é inverídica, pois a

regulamentação de um procedimento pode provocar grandes impactos na realidade fática e

carregar por detrás um objetivo. Já que se tentou com a regulamentação do procedimento dos

litígios coletivos nas ações possessórias, facilitar a efetivação da reforma agrária através de

um Código de Processo e por isso é de inegável importância que o operador do direito tenha

conhecimento do que determinou a sua prática.

Coincidentemente, no mesmo ano em que o novo Código de Processo Civil entra em

vigência, completa-se 400 anos da morte do dramaturgo inglês Willian Shakespeare e talvez

possa se fazer uma analogia de que passado e futuro sempre andam juntos. No entanto, na

interpretação do novo Código de Processo será necessário nos “despirmos” do velho Código

de Processo, pois não basta ao operador do direito se informar apenas sobre as modificações

realizadas, mas sim ter consciência de toda a base principiológica do novo diploma para que

possa aplicá-lo corretamente.

Page 77: Monografia – FD-UFF 2016 (2).pdf

77

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