monografia de leila de lima oliveira

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS XIV CONCEIÇÃO DO COITÉ BA LEILA DE LIMA OLIVEIRA A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF Conceição do Coité 2013

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Page 1: Monografia de Leila de Lima Oliveira

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ – BA

LEILA DE LIMA OLIVEIRA

A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF

Conceição do Coité

2013

Page 2: Monografia de Leila de Lima Oliveira

LEILA DE LIMA OLIVEIRA

A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF

Monografia apresentada à Coordenação do Colegiado de Letras,

como requisito parcial para conclusão do Curso de Licenciatura

em Letras com Inglês, da Universidade do Estado da Bahia.

Orientador: Profº Me Kleber José F. Simões

Conceição do Coité

2013

Page 3: Monografia de Leila de Lima Oliveira

LEILA DE LIMA OLIVEIRA

A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF

Monografia apresentada à Coordenação do Colegiado de

Letras, como requisito final para conclusão do Curso de

Licenciatura em Letras com Inglês, da Universidade do

Estado da Bahia.

Aprovada em: ___/___/___

Banca examinadora

_____________________________________

Kleber José F. Simões– Orientador

Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV

_________________________________________

Neila Maria Oliveira Santana

Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV

_________________________________________

Rita de Cássia Sacramento

Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV

Conceição do Coité

2013

Page 4: Monografia de Leila de Lima Oliveira

Dedico este trabalho à Maestrina Chiquinha Gonzaga, uma inspiração

em minha vida. Em especial, à ex-colega Rita de Cássia Matheus,

cúmplice da amizade e do saber na adolescência; hoje, uma dama da

lei.

Page 5: Monografia de Leila de Lima Oliveira

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Universidade do Estado da Bahia, em primeira fé, instituição de ensino a qual

galguei passos fortuitos para a minha ambição.

Ao professor Kleber José F. Simões, auxiliar do Colegiado de História deste departamento de

educação, por sua contribuição e inspiração em todo o processo nesse trabalho.

Ao professor de Literatura Brasileira e Portuguesa do Departamento de Educação do Campus

XXII Adriano Eysen Rego, por seu exemplo de dedicação e por encorajar-me a seguir os

passos acadêmicos.

À professora de Literatura em Língua Inglesa Rita de Cássia Sacramento, auxiliar deste

Campus, por promover meu encontro com a escritora Virginia Woolf em momento

privilegiado em sala de aula.

Aos professores que efetivamente foram coparticipes no construto do conhecimento em minha

formação, bem como aos colegas que corajosamente engajaram-se em alcançar essa

graduação e me dedicaram apoio.

Page 6: Monografia de Leila de Lima Oliveira

A mulher não é uma realidade imóvel, e sim um vir a ser; é no

seu vir a ser que se deveria confrontá-la com o homem, isto é,

que se deveriam definir suas possibilidades.

Simone de Beauvoir

Page 7: Monografia de Leila de Lima Oliveira

RESUMO

Este trabalho versa acerca das conjecturas da escritora e crítica Virginia Woolf e o universo

feminino, sob o viés da obra ensaística A Room of One´s Own (1929). Virginia Woolf foi

pensadora da condição da mulher enquanto signo feminino na sociedade ocidental,

questionado posições misóginas e atentando para o direcionamento da mulher também no

campo da ficção. E produziu o referido livro de ensaios onde aborda estas atenuantes

questões. O contexto cultural, no qual a obra estava inserida, passara por relevantes

transformações a partir da introjeção do pensamento pós-colonialista e da teoria feminista

emergente. O cânone europeu e o sistema de valores na cultura e literatura patriarcais

passaram a ser arguidos e subjugados. Virginia Woolf ousou discutir e incutir a expressão

feminina na defesa de sua idoneidade, enquanto escritora de ficção e também crítica literária

ao longo de sua trajetória, e, mais especialmente, através da obra A Room of One´s Own.

Ainda no século XXI suas palavras ecoam vitoriosamente contra o preconceito às mulheres,

onde quer que haja o alcance de sua escrita.

Palavras-chave: Feminismo. Literatura. Patriarcalismo. Pós-colonialismo.

Page 8: Monografia de Leila de Lima Oliveira

ABSTRACT

This paper deals with the conjectures of the writer and critic Virginia Woolf and the feminine

universe, under the bias of the essays A Room of One's Own (1929). Virginia Woolf was a

thinker of the condition of women as feminine sign in Western society, questioned

misogynistic positions and paying attention to the direction of the woman also in the field of

fiction. The book of essays talks about these mitigating issues. The cultural context, in which

the work was entered, had undergone significant changes from the introjection of thought

postcolonial and feminist theory emerging. The European Canon and the system of values in

patriarchal culture and literature became questioned and subdued. Virginia Woolf dared to

discuss and instill feminine expression in defense of their capacitance, as a writer of fiction

and literary criticism also throughout her career and most especially, through the work A

Room of One's Own. Still in the 21st century her words echo victoriously against the prejudice

to women, wherever there is the scope of her writing.

Key Words: Feminism. Literature. Patriarchy. Postcolonialism.

Page 9: Monografia de Leila de Lima Oliveira

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10

1 O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DA INGLATERRA ENTRE OS

SÉCULOS XIX E XX ............................................................................................................12

1.1 O CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL INGLÊS..............................................................12

1.2 O FEMINISMO E O PÓS-COLONIALISMO ..................................................................15

1.3 A PRODUÇÃO LITERÁRIA.............................................................................................17

2 O STATUS QUO DA MULHER ....................................................................................21

2.1 O FEMINISMO DE WOOLF.............................................................................................21

2.2 A ESCRITA FICCIONISTA FEMININA..........................................................................23

2.3 GÊNERO, SEXISMO E ANDROGINIA...........................................................................28

3 O LÓCUS FEMININO EM SOCIEDADE.....................................................................32

3.1 A EDUCAÇÃO DA MULHER BRITÂNICA ..................................................................32

3.2 A EMANCIPAÇÃO FEMININA.......................................................................................35

3.3 A ANTEVISÃO CRÍTICA DE WOOLF...........................................................................38

CONCLUSÃO.........................................................................................................................40

REFERÊNCIAS......................................................................................................................42

Page 10: Monografia de Leila de Lima Oliveira

10

INTRODUÇÃO

Virginia Woolf é objeto constante em estudos literários e culturais na

contemporaneidade, primeiramente como escritora de ficção modernista e, por conseguinte,

no campo de pesquisas sobre a mulher ocidental. Anotações de seu diário íntimo e outros

escritos pessoais constituem-se em importantes fontes de referência para pesquisadores de sua

obra. A autora de origem britânica escreveu ao longo de sua trajetória diversos ensaios cuja

temática voltava-se para a compreensão e prospecção do ego feminil: ela mesma, artista e

mulher , viveu, reinventou e reluziu o símbolo feminino dentro de sua prosa imaginativa e no

arquétipo vivo de sua conduta.

A produção em ensaios contida no livro A Room of One´s Own (1929), de Virginia

Woolf, importante publicação da autora e crítica, compõe-se de uma série de questionamentos

e altercações sobre o sexo feminino, que , segundo a autora, é um assunto “altamente

desenvolvido” e “infinitamente intrincado.” As deliberações de Virginia Woolf, a partir de

seu discurso proferido em 1928 no Newnham College e Girton College, conduziram-na a

produzir essa obra escrita como um registro no tempo porquanto almejava que suas palavras

se projetassem na história.

Ao falar diretamente e em tom de admoestação ao público feminino, Virginia incita e

chama a atenção para o fato de que naquele momento, em 1928, quando proferiu esse

discurso, muitas mulheres sequer tinham conquistado um diploma em uma universidade, ou

alcançado postos privilegiados como profissionais liberais; e, em tempo hábil, não

encontravam lugar no comércio, na política, muito menos nas forças armadas. A visão desse

fato dessemelhante não está distante dos dias atuais, em alguns contextos as mulheres têm

desempenhado efetivamente cargos e ocupações equiparáveis aos do sexo oposto, porém não

têm encontrado respaldo financeiro ou o devido reconhecimento de suas faculdades.

Virginia Woolf, resolutamente, buscou elucidar o porquê de tão poucas mulheres

alcançarem ao longo da existência legitimidade e reconhecimento enquanto representantes da

literatura no mundo. E, ao fazer esta obra ensaística, revela com demasiada astúcia uma visão

intelectual e humanística que anteviu e consagrou a emancipação feminina não apenas através

de seu imaginário poético.

É notória a importância de seus escritos sobre a mulher, que trazem em sua essência a

visão de uma crítica cultural afinada com as questões ligadas ao gênero e que se pôs na

militância de defender a emancipação da mulher e sua atuação enquanto ser social.

Page 11: Monografia de Leila de Lima Oliveira

11

O intuito dessa pesquisa de caráter bibliográfico deteve-se em projetar as conjecturas

da autora Virginia Woolf acerca do universo feminino, e de que maneira o seu discurso

refletiu para a emancipação feminina sob o viés da obra A Room of One´s Own. A monografia

está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo trata do contexto histórico-cultural da

Inglaterra entre os séculos XIX e XX, onde profundas mudanças eclodiram no construto da

sociedade, bem como a produção literária no referido período. O segundo capítulo atém-se à

crítica ao feminismo de Woolf, aspectos de sua estética literária e sua visão acerca da

produção escrita feminil. O terceiro capítulo se detém ao discurso articulado da autora em prol

das mulheres britânicas, sua crítica à educação, o anseio pela emancipação feminina e o apelo

às sociedades vindouras.

Page 12: Monografia de Leila de Lima Oliveira

12

1 O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DA INGLATERRA ENTRE OS

SÉCULOS XIX E XX

O capítulo contém uma breve descrição do contexto histórico-cultural inglês, as

mudanças sociais e políticas que antecederam, provocaram e permearam a dialética da autora

Virgínia Woolf em seu livro ensaístico. O capítulo apresenta um conluio de acontecimentos

de ordem social, histórica, cultural e também político-ideológica que perpassaram as notórias

transformações do mundo, notadamente da Europa, e especialmente no território inglês, de

onde a fala da autora britânica reproduz sua retórica.

O capítulo reportou também o surgimento do feminismo, enquanto projeto de

conscientização política e social, que unido ao pensamento pós-colonialista interrogaram o

sistema de valores na cultura e literatura patriarcais. Como construto desse tópico ainda fez-se

necessário apresentar o retrato da literatura escrita nesse período, para uma visão crítica e

acertada da ficção produzida na época.

1.1 O CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL INGLÊS

No século XIX as chamadas potências da Europa ocidental, através de sua política

imperialista, expandem seus domínios sobre a África, Ásia e Oceania. Há uma intensa

expansão capitalista na segunda metade deste mesmo século que viria afetar não só a

economia mundial, mas estabelecer uma revolução de ordem tecnológica e industrial nunca

antes empreendida. Os lucros fabulosos das chamadas holdings concediam na época para os

ditos países ricos: Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos, o total de 80% do capital

mundial. O historiador Eric Hobsbawm1 assim definiu a economia a partir de 1870:

Primeiro, iniciou-se uma nova era tecnológica, caracterizada pela utilização

de novas fontes de energia (eletricidade e petróleo, turbinas e motor a

explosão), de nova maquinaria baseada em novos materiais (ferro, ligas,

metais não ferrosos), de indústrias baseadas em novos avanços científicos,

tais como a indústria da química orgânica. (HOBSBAWM, 1982, p.312)

Entre os principais adventos das novas tecnologias constavam: a invenção do motor a

gasolina (1885), do automóvel (1886) e do motor a diesel (1897). Outras significantes

descobertas que transformaram sobremaneira a vida nas sociedades constam da invenção do

telefone (1876), do fonógrafo (1877), do rádio (1887) e do cinema (1895). Ocorreram

1 Eric Hobsbawm (1917-2012) foi um historiador marxista internacionalmente reconhecido e membro do partido

comunista britânico. Ele, dentre outros historiadores marxistas de sua época, estudaram as organizações das

classes populares, suas lutas e ideologias (tradições), através da chamada "História Social".

Page 13: Monografia de Leila de Lima Oliveira

13

igualmente invenções no campo científico que modificaram a organização das cidades, com o

avanço da ciência e da medicina houve uma melhora na saúde pública e aumento da

expectativa de vida.

Essas diversas mudanças que se refletiram em seus muitos aspectos na ordem social,

provocaram o aparecimento da urbanização nas cidades. Até 1850 ainda não existia uma

população predominantemente urbana, a Inglaterra seria a pioneira nesse processo. De 1870 a

1910 a população europeia cresceu de 290 para 435 milhões de habitantes. No início do

século (1801) existiam em torno de 23 cidades na Europa, um século depois esse número

passou a ser de 135, cada uma dessas cidades com 100 mil habitantes2.

O processo de urbanização fez nascer um aumento populacional que, embora a um só

tempo ocorresse de modo global, se deu excessivamente nas áreas de maior industrialização.

Esse fluxo migratório é justificado pelo fato de as grandes populações se dirigiam para as

indústrias em busca de trabalho.

A Inglaterra atingiu seu apogeu industrial e colonialista nesse período, quando se tornou

conhecida como a “oficina do mundo” segundo analistas da época, e foi a responsável por

abastecer os centros dos mercados mundiais com seus produtos industrializados. Esse

afamado período de prosperidade industrial e comercial incide no reinado da rainha Vitória,

que ocupara o trono da Inglaterra de 1837 a 1901.

A Era Vitoriana, período em que governou a rainha Vitória, marcado pela estabilidade

política e o puritanismo moral, influenciou a moda de seu tempo. A riqueza vivenciada nesse

período estendeu-se até o reinado de Eduardo VII, com proliferação das artes e da cultura em

território inglês. A Belle Époque (1890-1911), momento de grande efervescência cultural

ocorrido na França, influenciou os costumes e a moda europeia e ocidental. A França e a

Inglaterra eram os países europeus que ditavam a moda da época. O estilo vitoriano era

copiado pelos burgueses, enquanto a grande população cultuava a moda romântica. A Belle

Époque se estendeu até o século XX, sendo ainda contemporânea da moda Eduardiana (até

1907). Os trajes das senhoras burguesas deveriam ostentar seu status social com opulência.

Eram muitos os atavios, as plumas, os tecidos finos, de fato uma extravagância que marcou

era.

Assim como os demais países ricos da Europa, na Inglaterra o acúmulo de capitais e o

aumento da produção industrial — ditames da própria política capitalista, — não beneficiaram

2 RÉMOND, René. Introdução à história do nosso tempo: do Antigo Regime aos nossos dias. Lisboa, Gradiva,

1994.p.226.

Page 14: Monografia de Leila de Lima Oliveira

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todos os setores da sociedade. Os lucros detiveram-se nas mãos dos donos dos cartéis da

indústria e do comércio.

A forma como o trabalho seria visto a partir de então modificaria a estrutura das

sociedades. Assim como na Inglaterra, o trabalho passaria a ser visto como uma ferramenta de

enriquecimento e acúmulo de dinheiro nas mãos de uma minoria: a classe burguesa. A

sociedade passaria a ter duas classes distintas: a classe do operariado e da burguesia, esta

última, cada vez mais abastada e poderosa. Uma terceira classe intermediária quase

extinguível era a classe média composta de pequenos comerciantes, fabricantes, artesãos e

camponeses que, também como o operariado, se opunha à exploração burguesa. Assim era o

retrato das grandes cidades da época:

De um lado, ficam os excluídos: despreparados para a rude competição do

mercado, angustiados pela permanência das necessidades básicas

insatisfeitas, acuados e levados ao desespero, muitas vezes deformados por

uma assimilação doentia das “regras do jogo” capitalista. Do outro, os

privilegiados, que, por serem bem-sucedidos, vivem em estado de apreensão,

apavorados, cercados de subalternos nos quais não podem confiar

inteiramente, empenhados em proteger suas vidas e seu patrimônio de

perigos crescentes, encastelados atrás de grades e muralhas. (KONDER,

2000, p.63)

Karl Marx e Friedrich Engels, que escreveram o Manifesto Comunista3 em defesa da

classe do proletariado, como outros pensadores de seu tempo acataram com a causa do

semelhante, nesse evento, a classe operária. As teorias comunistas que marcaram o mundo

nos séculos XIX e XX encabeçam uma nova era cuja ideologia daria forma a conceitos como

cooperação e revolução. Um trecho do manifesto comunista diz:

De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma

classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes degeneram e

perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado, pelo

contrário, é o seu produto mais autêntico (MARX e ENGELS, 1980, p.23).

Os marxistas Marx e Engels, assim como as demais teorias que ganharam força no

século XIX, acreditavam numa luta pacífica para alcançar uma sociedade idealizada. Os

marxistas acreditavam que a emancipação da mulher, ao ocupar um lugar nas fábricas, não se

constituía numa causa para “libertação” àquele tempo, mas somente um modo natural de

atuação. O Feminismo, assim, ainda não existia enquanto discurso político. Engels escrevera:

“A primeira oposição de classe que se manifesta na história, coincide com o desenvolvimento

3 O Manifesto Comunista ou Manifesto do Partido Comunista (Manifest der Kommunistischen Partei) foi

publicado pela primeira vez em 21 de Fevereiro de 1848, e é historicamente um dos tratados políticos de maior

influência mundial.

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do antagonismo entre o homem e a mulher no casamento conjugal; e a primeira opressão de

classe, coincide com a opressão do sexo feminino pelo masculino.” (ENGELS apud

JAPIASSU, 1984, p.29).

O historiador inglês E.P.Thompson, um dos principais historiadores do século XX e

principalmente dos movimentos do operariado, ao contrário da historiografia mais recente,

declara que as organizações militantes operárias teriam sido geradas desde o século XVIII

tanto na Inglaterra quanto na França, e não através dos sindicatos instituídos a partir do século

XIX.

Entre os séculos XIX e XX, a realidade era mesmo essa: homens e mulheres

indistintamente escravos de seus patrões. Pouco se comenta a respeito da situação das

mulheres que operavam nas fábricas, mas é fato que muitas delas morreram acometidas por

tuberculose, morriam mais que a população natural. Muitas delas chegaram a trabalhar até

mesmo em minas de carvão, carregando pesos de sessenta quilos nos poleiros subterrâneos. E

recebiam pagamento muito inferior ao dos homens.

As ocupações femininas na época vitoriana se restringiam, no caso da classe

baixa, ao trabalho árduo das fábricas, com nenhum tempo para o lazer; como

domésticas e babás, no caso da classe média empobrecida; ao lazer e ao ócio,

considerado símbolo do seu status aristocrático, no caso das mulheres da

classe alta e classe média rica (BONNICI, 2007, p.219).

1.2 O FEMINISMO E O PÓS-COLONIALISMO

As lutas do Movimento Feminista originaram-se nos Estados Unidos e na Inglaterra. O

Feminismo na força de sua propulsão promove a emancipação da mulher e sua ascensão

sócio-política ao longo da história. No século XVIII a exclusão do direito de cidadania às

mulheres tinha sido contestado em textos como Declaration des Droits de la Femme e La

Citoyene, de Olympia de Gouges, publicado na França em 1791, e Vindication of the Rights of

Woman, de Mary Wollstonecraft, publicado em Londres em 1792. Nos Estados Unidos o

feminismo nasce com a Declaração de Séneca Falls em 1848, e surgem nomes importantes

como Lucretia Mott e Lucy Stone, que, a exemplo, reivindicavam direitos políticos e

partidários para as mulheres.

Apregoa-se que o discurso pós-colonialista4 teria sido o agente direto e provocador que

suscitou o espírito feminista. No século XIX as teorias pós-colonialistas incidiam fortemente

4 Pós-colonialismo enquanto efeito que as nações imperialistas provocaram na cultura dos países colonizados.

Segundo Ashcroft, Griffiths e Tiffin (1991), o termo “pós-colonialismo” refere-se a toda e qualquer cultura

advinda da possessão imperial desde a colonização até a contemporaneidade.

Page 16: Monografia de Leila de Lima Oliveira

16

sobre a literatura canônica europeia. No momento em que o imperialismo alcança seu apogeu,

a mobilização de mulheres buscando direito civis e, já no início do século XX, escrevendo

ficção, dão ao feminismo corpo e consistência favoráveis à construção de uma teoria

feminista. Do marxismo instala-se a ideia de emancipação econômica da mulher e a cata à

igualdade dos direitos trabalhistas.

Ao tomar consciência que a cultura e literatura haviam sido constituídas até então sob os

ditames do patriarcalismo5, o feminismo encabeça o seu plano de descolonização ao contestar

a hegemonia patriarcal, e passa a estabelecer um domínio liderado pela linguagem e uso do

pensamento, muito especialmente através da escrita. Como defendia Audre Lorde, ao relatar o

insucesso de algumas escritoras pós-colonialistas6: “Sobreviver não é uma habilidade

acadêmica... É aprender como assumir nossas diferenças e transformá-las em poder. Porque as

ferramentas do amo jamais derrubarão a casa dele” (LORDE, 1983, p.93). O objetivo traçado

pelo feminismo a partir desse momento é a inversão de toda a estrutura social, e a

consequente inserção da mulher no lugar de comando exclusivamente masculino. A teoria

feminista vai mais além: propõe a reconstrução do cânone literário europeu.

Importante teórico-feminista que incorpora aos seus estudos questões ligadas a gênero e

raça, Spivak (1985) defende a política de conscientização do feminino opondo-se rigidamente

ao sexismo e à ideia da mulher biologicamente oprimida. Julia Kristeva (1986), também

crítica literária e feminista, considera que a diferença entre os gêneros e a natureza

experimental de cada um está nas relações psicológicas construídas dentro de um contexto

social, negando o determinismo biológico.

O feminismo e o pós-colonialismo destacaram-se em produções literárias de Alice

Walker e Doris Lessing, por exemplo, e também através da crítica literária, a exemplo de

Spivak.

It should not be possible to read nineteenth-century British literature without

remembering that imperialism, understood as England's social mission, was

a crucial part of the cultural representation of England to the English. The

role of literature in the production of cultural representation should not be

ignored. These two obvious "facts" continue to be disregarded in the reading

5 Patriarcalismo: definido como ideologia da supremacia do homem nas relações sociais. O termo “Patriarcado”

tem origem na palavra pater e significa “pai da família”. Bonnici (2007) aponta que “Na teoria feminista, o

patriarcalismo é definido como o controle e a repressão da mulher pela sociedade masculina e parece constituir a

forma histórica mais importante da divisão e opressão social” (p.198).

6 A denominação de “escritores pós-colonialistas” está atrelada ao tipo de literatura, com ênfase na crítica

literária, e que vem a contestar a literatura hegemônica dita historicamente escrita sob domínio patriarcal. Para

Bonicci (2009) os Estudos Pós-coloniais “constituem uma práxis social, política, econômica e cultural

objetivando a resposta e a resistência ao colonialismo, tomado no sentido mais abrangente possível”.

Page 17: Monografia de Leila de Lima Oliveira

17

of nineteenth-century British literature. This itself attests to the continuing

success of the imperialist project, displaced and dispersed into more modern

forms (SPIVAK, 1985, p.243).7

Os países que passaram pela experiência do pós-colonialismo e, consequentemente a

descolonização da cultura, viveram contextos experienciados distintos; a preocupação da

política feminista pós-colonial no ocidente estava atrelada à questão da igualdade e

emancipação feminina. Contudo, pode-se afirmar que a maior estratégia de libertação

feminina nos países pós-coloniais foi a luta pela descolonização da cultura; e essa luta, por

conseguinte, contribuiu para a autonomia da teoria feminista.

O feminismo assim se delineia, a partir da importância da alteridade e encontra relação

com o pós-colonialismo no auge do imperialismo britânico, intercalando uma crucial lacuna

na história. O cenário social modifica-se: a mulher começa a ocupar um lugar determinante na

esfera social.

Nos anos que antecederam o nascimento de Virginia Woolf (1882-1941), a mulher

inglesa era oprimida e limitada em suas funções, na educação dos filhos e até mesmo no

direito a herança. Quando a autora faz dezoito anos, as mulheres britânicas haviam

conquistado como cidadãs o direito à propriedade (em 1880 só as mulheres casadas

possuíam). Porém, no final do século XIX e início do século XX a total liberdade feminina

ainda não existia, o direito de voto seria alcançado em 1919 (para mulheres com mais de 30

anos) e estendido em sua totalidade em 1928 na Inglaterra.

Entre fins do século XVIII e as primeiras décadas do século XX, período em que se

predomina a “primeira onda feminista” — e onde está inserida a obra de Woolf — o

feminismo intencionará uma mudança de paradigma para a visão da mulher em sociedade.

Proclama-se nesse momento uma luta feminina contra o patriarcado, que ao considerar a

“instituição universal” família constituindo papéis distintos e indissociáveis para os sexos,

delimitava a mulher como ser naturalmente doméstico na divisão do trabalho.

1.3 A PRODUÇÃO LITERÁRIA

Na segunda metade do século XIX, com o avanço da ciência e da tecnologia, a

sociedade burguesa torna-se um complexo de valores culturais de variados domínios

7 “Não deve ser possível ler literatura britânica do século XIX sem se lembrar de que o imperialismo, entendido

como missão social da Inglaterra, era uma parte crucial da representação cultural da Inglaterra para o Inglês. O

papel da literatura para a produção de representação cultural não deve ser ignorada. Estes dois "fatos" evidentes

continuam a ser desconsiderados na leitura da literatura britânica do século XIX. Isso por si só atesta o sucesso

contínuo do projeto imperialista, deslocado e disperso em formas mais modernas” (tradução nossa).

Page 18: Monografia de Leila de Lima Oliveira

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impregnados pelo materialismo. A origem de diversos “ismos” como: o Positivismo, o

Determinismo, o Cientificismo, o Evolucionismo, dentre outros, compuseram a chamada

“sociolatria”. O termo refere-se às aspirações atreladas às mudanças concorrentes, nas quais

os indivíduos passaram a imolar seus próprios interesses em prol do progresso coletivo.

O desenvolvimento marcadamente intelectual e científico influenciou ainda as diversas

manifestações artísticas do início do século XX, tanto a literatura, como o teatro, o cinema, a

pintura, a música, dentre outras expressões culturais arregimentadas pelo universo da

mecanização e as vivências nas sociedades modernas. A literatura ocidental sofreria enorme

influência de Sigmund Freud e de seus estudos sobre a psique humana, também de Karl Marx,

ao debater o duelo entre o capital e a força de trabalho.

Harold Bloom, ensaísta americano, em sua obra The Western Canon (1994), assim fala

do cânone ocidental: “Um dos sinais de originalidade que pode conquistar status canônico

para uma obra literária é aquela estranheza que jamais assimilamos inteiramente, ou que se

torna um tal fato que nos deixa cegos para suas idiossincrasias” (BLOOM,1994, p.14).

O Cânone, inicialmente, relacionava-se à seleção de livros em uma determinada

instituição de ensino. Tradicionalmente continua sendo uma apurada eleição de grandes

autores que compunham o quadro geral de escritores que o mundo imortalizara — inclusas

também as artes clássicas europeias influentes e a música como modelos de representação

artística ocidental. A escolha da chamada “tradição” pode ser ditada por um grupo

hegemônico específico, por instituições educacionais, ou pela crítica clássica. A norma que se

assenta na afirmação de Bloom diz: “Toda originalidade literária forte se torna canônica”

(p.33). 8

No período vitoriano, o romance consagrou-se como a escrita literária influente da

época. Surgem grandes poetas e escritores de língua inglesa, a exemplo de Alfred Tennyson e

Matthew Arnold, e escritores da escola Realista como Walter Scott e Charles Dickens. No

varal de escritoras femininas estão Jane Austen, George Eliot e as irmãs Charlotte, Emily e

Anne Brontë.

Com o crescimento do mercado literário no século XIX, as mulheres passam a

buscar a escolarização, e instigadas a escreverem engajam-se em profissões como o

jornalismo e a editoração. Até então era possível para algumas mulheres dedicarem-se à

pintura, ao piano e ao canto, realidade essa que no mesmo século encontraria novos ensejos.

Em síntese, essa era a condição feminina em transição:

8 Harold Bloom (1994) analisa a tradição literária ocidental, concentrando-se nos trabalhos de vinte e seis autores

centrais para o Cânone, entre estes está a escritora britânica Virginia Woolf.

Page 19: Monografia de Leila de Lima Oliveira

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as normas enunciadas no início do século eram normas coletivas definindo

uma função social — a de esposa e mãe —, estabelecendo os direitos da

mulher como uma função de suas obrigações e definindo as mulheres como

um grupo social cuja função e comportamento seriam estabelecidos de

maneira standard e portanto idealizada. Mas essa formulação totalizadora

gradualmente se desintegrou, e identidades femininas começaram a

proliferar: mãe, trabalhadora, solteirona, mulher emancipada, etc.

(BRIDENTHAL, KOONZ e STUART, 1978, p. 4).

Um tipo caracteristicamente peculiar de literatura feminina surge nesse período: os

textos de viagens. As mulheres que escreviam esses relatos compunham-se de senhoras de

classe media e alta, muitas delas esposas de diplomatas e oficiais que acompanhavam seus

conjugues em viagens. Não se poderia atribuir a esses textos um caráter confessional e

introspectivo de apelo feminista, nem mesmo era uma escrita que propunha uma subjetividade

feminina, as mulheres cultivavam a resiliência e a liberdade para elas se alargava com o

passar do tempo.

Os romances vitorianos apenas raramente retratam os problemas referentes

ao status legal das mulheres. Quando isso acontece, mostram mulheres

domesticadas, companheiras educadas dos homens, pessoas-boneca,

enfeitadas e submissas (BONNICI, 2007, p.220).

O estilo dos relatos de viagens escritos por mulheres, por sua vez, alcançou notoriedade

e o distanciamento do lar oportunizou uma ampliação para novos conceitos. Em muitos casos,

uma emancipação proeminente, como apresenta Maria H. Frawley (1994, p. 29): “a viagem

para longe da Inglaterra facilitou a transformação no front doméstico, pois conferiu às

mulheres o “capital simbólico” com o qual passaram a competir no mercado cultural da

sociedade vitoriana”.

Já no início do século XX, aparecem muitos jovens escritores ingleses como E. M.

Forster e D. H. Lawrence que registraram uma literatura crítica sobre a sociedade ocidental. A

arte modernista manteve uma relação íntima com as cidades, e na literatura compuseram o

cenário de uma sociedade tecnologicamente moderna. Londres entre 1880 a 1920

experimentou intenso intercâmbio cultural, e idealizava essencialmente esse cenário

modernista de novas formas e contrastes sociais.

Inserida nesse contexto encontra-se a escritora britânica Virginia Woolf, que compunha

a linha de narrativa de introspecção psicológica, uma característica presente na obra de alguns

autores modernistas do período como James Joyce, escritor de língua inglesa nascido na

Irlanda. Sobre essa transformação cultural e moderna, Virginia Woolf declara em 1910:

“Todas as relações humanas se modificaram — entre patrões e empregados, maridos e

Page 20: Monografia de Leila de Lima Oliveira

20

mulheres, pais e filhos. E, quando as relações humanas mudam, há ao mesmo tempo uma

mudança na religião, no comportamento, na política e na literatura” (WOOLF, 1966, p.321).

Os romances assim inscritos entre fins do século XIX e ao longo do século XX

revolucionaram esteticamente as formas convencionais da escrita, na ânsia de libertar a

criação artística; além da necessidade de interpretar um mundo de contingências modernas

para as quais novas tendências e novas consciências se aglutinavam. Desse modo, com o

surgimento do feminismo e o fato de mulheres passarem a escrever romance, até mesmos

alguns textos em prosa constituirão representações que questionem o papel da mulher em

sociedade. A busca por uma identidade e espaço legítimos estará interligada à literatura

feminina escrita a partir de então.

Entre as gerações literárias que se destacaram no período romântico e vitoriano inicial,

os principais nomes criteriosamente assinalados foram: Thomas Hardy, Samuel Butler,

George Gissing, Ernest Dowson, Arthur Symons, Ford Madox Hueffer, Arnold Bennet, H.G.

Wells, T.E. Hulme, Lytton Strachey, Dorothy Richardson; além dos já citados E. M. Forster,

D. H. Lawrence e a escritora Virginia Woolf.

Page 21: Monografia de Leila de Lima Oliveira

21

2 O STATUS QUO DA MULHER

O capítulo em questão abordará a temática feminina nos escritos literários, apresentando

trechos da biografia da autora britânica Virginia Woolf, aspectos de sua importância como

escritora de ficção e ensaísta, destacando marcas do feminismo em seu discurso universal.

Serão ainda apresentadas características da estética woolfiniana e sua androginia.

Num plano introspectivo, serão explanados — a guisa de se compreender questões

pujantes salientadas pela autora — revelações acerca da escrita feminina e seu valor para a

história. Nesse enlace, o capítulo também reproduzirá o sexismo assinalado na obra quanto à

narrativização de alguns fatos apresentados pela escritora.

2.1 O FEMINISMO DE WOOLF

Nascida Adeline Virginia Stephen (1882-1941), Woolf foi uma notável escritora

modernista em sua época, uma aristocrata e intelectual que influenciou a crítica e a teoria

feminista muito especialmente nos estudos literários das décadas de 1960 e 1970. As obras

New Feminist Essays on Virginia Woolf (1981), de Jane Marcus, e Virginia Woolf and Post

Modernism (1991), de Pamela Caughie, são destaques nos estudos contemporâneos dessas

críticas feministas que se ocuparam em examinar a arte e crítica literárias da autora britânica.

A escritora inglesa é apontada atualmente por feministas como sendo criadora da

“crítica literária feminista”, isto, considerando as profícuas publicações A Room of One´s Own

(1929) e Three Guineas (1938). Sobre esse argumento, Harold Bloom considerou

impraticável atribuir às obras supracitadas um caráter eminentemente político ou academicista

aos escritos de Woolf, e expôs:

Seu feminismo (para chamá-lo assim) é poderoso e permanente precisamente

por ser menos uma ideia ou compósito de ideias e mais um formidável

apanhado de percepções e sensações. Discutir com elas é sofrer derrota: o

que ela percebe e experimenta com sua sensibilidade é mais sutilmente

organizado que qualquer resposta que eu possa invocar (BLOOM, 1995,

p.417).

Na conceituada biografia da autora Virginia Woolf: A Biography (1974), escrita por seu

sobrinho Quentin Bell, este revelara que Woolf não era marxista nem mesmo feminista, o que

defendia Bloom ao considerar o processo de criação da autora: “A realidade para ela tremula e

oscila a cada nova percepção e sensação, e as ideias são sombras que ladeiam seus momentos

privilegiados” (p.417).

Page 22: Monografia de Leila de Lima Oliveira

22

A escritora se opunha ao ativismo político organizado pelas militantes feministas, de

forma que, as personagens Evelyn Murgatroyd, em The Voyage Out (1915), Mary Datchet em

Night and Day (1919), Julia Hedge em Jacob’s Room (1922), e Peggy em The Years (1937),

representariam uma caricatura dessas militantes, para Woolf, inoportunas. Preconiza-se

inclusive uma rejeição por parte da autora para com os textos ditos “feministas” os quais

Woolf recriminava alguns preceitos, demostrando assim certa aversão a essas militantes.

No livro de ensaios, no entanto, Woolf faz referência ao feminismo. Ao externar certo

inconformismo, ela exalta sua importância quando diz: “Doubtless Elizabethan literature

would have been very different from what it is if the women’s movement had begun in the

sixteenth century and not in the nineteenth.”9 Ela relatava nesse interim a posição de

superioridade que o homem defendia de forma constrangedora sobre as mulheres no século

XVI e que, de maneira alguma, concebia a ideia de ascensão do sexo oposto.

John Burt (1982) defendeu que Virginia Woolf centralizara a construção de seu livro no

ideário feminista, uma vez que combateu os preceitos de opressão e domínio patriarcalistas. E

mais além, atentou para a constituição da alteridade feminina. Assim escreveu Burt: “(...) A

Room of One´s Own, contudo, não é uma argumentação, mas, como proclama Virginia nas

páginas de abertura, um retrato de como uma mente tenta chegar a termos com o seu mundo”

(BURT apud BLOOM, 1995, p.418-419).

A crítica feminista nasceu da necessidade conceitual de se estabelecer uma análise na

esfera da produção de autoria feminina, bem como para combater o establishment cultural

dominante que predominava na constituição androcêntrica de textos canônicos. Nesse

aspecto, é demasiado relevante a escrita feminista que se propôs a (re)significar a

historiografia concebendo o desencadear da mulher como símbolo. Bonnici (2007, p.230)

ressalta que “A literatura e a representação da mulher na literatura e a linguagem são

interdependentes, sendo esta última moldadora da literatura”.

Na visão crítico-teórica de Kristeva (1986), cujos estudos influenciaram principalmente

a crítica literária feminista, a literatura feminina precisava resistir aos códigos linguísticos

patriarcais, pois a rigidez em suas estruturas procurava dominar a mente e linguagem

femininas. Era um grande desafio para as mulheres expressarem-se livremente, e a poesia e a

criatividade enquanto escritura não deveriam ser contidas, nem os impulsos mais profundos

do ego feminino, nesse caso.

9 “Sem dúvida, a literatura elisabetana teria sido muito diferente do que é se o movimento feminista tivesse

começado no século XVI e não no XIX.” (p.123-124).

Page 23: Monografia de Leila de Lima Oliveira

23

A produção cultural feminina e pensada pela crítica feminista — em vistas de um apelo

linguístico simbólico — encontra em A Room of One´s Own, de Virginia Woolf, qualificação

enquanto representação para o discurso feminista. A frase a qual Woolf centralizou a atenção

para a condição das escritoras emergentes “A woman must have money and a room of her own

if she is to write fiction” 10

pontua os diálogos da autora ao longo de suas observações

proferidas nas universidade inglesas.

Sendo alheio ou não conceber a Virginia Woolf o status de feminista, o fato é que ao

interceder pelas mulheres, sua militância se dá no terreno da estética e por intermédio de uma

crítica empedernida de humanismo. Uma vez que se expõe e subjuga a condição de

inferioridade e prostração a que muitas mulheres eram submetidas, o fez para incitá-las a um

enfrentamento de suas fatalidades e para conceberem uma nova visão do feminino. Virginia

Woolf ao pronunciar-se às mulheres britânicas, verdadeiramente ansiava por uma revolução

social que distinguisse o papel preponderante da mulher na civilização.

2.2 A ESCRITA FICCIONISTA FEMININA

A escritora britânica Virginia Woolf cedo descobriu o universo da leitura. Seu pai Leslie

Stephen, que era escritor, dedicava-lhe tempo e atenção, posto que não veio ela a cursar uma

universidade. Esse fato a teria tornado uma leitora compulsiva desde então.

Harold Bloom (1995), ao elogiar a dedicada inclinação para a leitura e a cultura

livresca da escritora modernista, exalta sua sensibilidade e pessoalidade estética afirmando ter

sido Woolf “a mais completa pessoa-das-letras da Inglaterra no nosso século” (p.415).

Virginia Woolf esteve ligada em sua juventude a um recluso grupo de intelectuais

chamado Bloomsbury, responsável em parte por sua formação cultural. Também se

encontrava ligada às questões estéticas modernistas do grupo por grau de parentesco com

Clive Bell e por sua amizade com Roger Fry, mas até então ainda não escrevia ficção.

Sua atividade como crítica antecedeu a de romancista, em 1905 passa a publicar artigos

para o The Times Literary Suplement, tendo escrito ao longo de sua trajetória mais de

quinhentos ensaios e artigos, veiculados também em outros periódicos, onde prevalecia a

especialidade dialógica da autora ao dirigir-se ao público leitor.

10

“Uma mulher deve antes possuir dinheiro e casa própria se quiser escrever ficção” (p.8). A frase surgiu de um

polêmico ensaio intitulado Woman in Fiction escrito por Virginia Woolf.

Page 24: Monografia de Leila de Lima Oliveira

24

A escritora casa-se com Leonardo Woolf em 1912, e juntos fundam uma editora em

1917, a Hogarth Press, que revelara nomes importantes para a literatura como Katherine

Mansfield e T.S. Eliot e publicara escritos psicanalíticos de Sigmund Freud.

O primeiro romance escrito de Virginia Woolf foi The Voyage Out (1915) representava

o anseio de uma geração, pois revelava o desejo de emancipação de uma mulher que deixa o

lar comum, o seio familiar, em busca de outra vida que acreditava ser plena para si. A

consagrada autora é um exemplo de consorte intelectiva que veio a transgredir o universo

equidistante entre o ser mulher usufruto da natureza, rendida ao lar e ao marido, para um

contexto de classe sublime capaz de tornar-se incandescente e elevar-se na esfera social.

A criação literária, uma vez que absorve um mundo de possibilidades do real, tem o

poder enquanto representação de incutir ideias, comportamentos, ditar valores, propor

saberes, interferir no social. Woolf declarou sobre a criação: “If one shuts one’s eyes and

thinks of the novel as a whole, it would seem to be a creation owning a certain looking-glass

likeness to life, though of course with simplifications and distortions innumerable.” 11

A ficção literária em certa medida está intercalada na cultura vigente, no construto

histórico, político ou ideológico, mesmo que essa cultura não aponte um modelo de

representação para o fato social, nesse evento, a condição feminina. O que ocorrera

especialmente na situação das mulheres é que elas não eram reconhecidas pela cultura,

percebidas pela doxa patriarcal como seres naturalmente invariáveis.

Woolf inicia a discussão sobre “Mulher e Ficção” em resposta às estudantes fazendo sua

defesa pessoal diante da impossibilidade de um desfecho para suas próprias indagações ao

dizer: “One can only give one’s audience the chance of drawing their own conclusions as

they observe the limitations, the prejudices, the idiosyncrasies of the speaker”.12

Porém,

munida de argumentos, propôs provar sua tese de que as mulheres precisam de um teto e

dinheiro próprios para tornarem-se escritoras.

Virginia Woolf usou de intuição e mesura em sua argumentação, e constatou que o

número de mulheres que escreviam ficção era inferior ao dos homens porém não devido a um

demérito, mas por conta de um silenciamento histórico intimamente ligado à pobreza das

mulheres.

11

“Quando se fecham os olhos e se pensa no romance como um todo, ele se afigura como uma criação dotada de

certa semelhança especular com a vida, embora, é claro, com inumeráveis simplificações e distorções” (p.88-89).

12

“Pode-se apenas dar à plateia a oportunidade de tirar as próprias conclusões, enquanto observa as limitações,

os preconceitos e as idiossincrasias do orador” (p.8).

Page 25: Monografia de Leila de Lima Oliveira

25

Engels aponta em sua obra A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado

(1884),13

que com o surgimento do patriarcado dá-se início também ao processo de produção

que admitiria a derrota das mulheres enquanto classe justamente porque as atribuições do

homem, gerador de produção, eram enaltecidas e ao trabalho caseiro da mulher não se

ajuizava valor algum. Com isso, para que a libertação feminina ocorresse a mulher teria de

prosperar economicamente:

A emancipação da mulher e sua equiparação ao homem são e continuarão

sendo impossíveis, enquanto ela permanecer excluída do trabalho produtivo

social e confinada ao trabalho doméstico, que é um trabalho privado. A

emancipação da mulher só se torna possível quando ela pode participar em

grande escala, em escala social, da produção, e quando o trabalho doméstico

lhe toma apenas um tempo insignificante (ENGELS, 1884, p.58).

No intuito de construir uma argumentação para o fato das mulheres e a ficção escrita

por elas e sobre as mesmas, Virginia Woolf vai a Oxbridge 14

visitar o Museu Britânico.

Munida de lápis e um bloco de notas, escolhe aleatoriamente alguns livros. Há nesse instante

uma profunda consternação por parte da mesma ao perceber o quanto a historiografia

silenciou muitas mulheres, negando-lhes a oportunidade de serem incluídas no cânone

literário, e esboçando indignação constata: “Have you any notion of how many books are

written about women in the course of one year? Have you any notion how many are written

by men? Are you aware that you are, perhaps, the most discussed animal in the universe?” 15

Virginia Woolf não fez valer a sua pena placidamente e os seus louros, segundo ela , se

deviam ao talento único que lhe negaria a própria existência, caso não o tivesse perseguido.

Com certa intrepidez, ela traduz um belo exemplo de constância ao revelar como sustentou o

seu labor. Antes de 1918 algumas das atividades que eram atribuídas às mulheres lhe rendiam

pouco dinheiro e eram penosas, sendo que ela mesma teve de sacrificar-se. Woolf além de

escrever para jornais realizou alguns serviços, como enviar cartas, produzir flores artificiais e

ler para anciãs.

O fato de ter ela angariado de sua tia Mary Bethon a quantia de quinhentas libras ao ano

como herança e, por toda vida, trazia-lhe amparo, como evidencia: “No force in the world can

take from me my five hundred pounds. Food, house and clothing are mine forever. Therefore

13

Título original em alemão: Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staats. A obra escrita por

Engels aponta a crescente materialidade da civilização e o momento em que se estabelece o Estado.

14

Nome fictício de uma universidade, que seria uma fusão das Universidades de Oxford e Cambridge.

15

“Têm vocês alguma noção de quantos livros são escritos sobre as mulheres em um ano? Têm alguma noção de

quantos são escritos por homens? Estão cientes de ser, talvez, o animal mais discutido do universo?” (p.34).

Page 26: Monografia de Leila de Lima Oliveira

26

not merely do effort and labour cease, but also hatred and bitterness.” 16 Ela reconhecia,

assim, a necessidade dos esforços de muitas mulheres de classe média e trabalhadoras em

obter dinheiro para escrever romances.

Ao constatar a inexistência de escritoras ficcionistas no século XVI na historiografia de

Londres, Virginia Woolf meditava na ideia de que uma mulher nesse período, que certamente

vivera um contexto traumático, quer uma poetisa ou dramaturga, somente conseguiria

escrever textos impregnados de um caráter desvirtuado. A escritora britânica revela ainda que

no século XIX a “castidade” relacionada à autoria de mulheres fez com que escritoras como

Charlotte Brontë e George Eliot e tantas outras usassem de pseudônimos masculinos para

assim terem os seus textos apreciados, como supôs Woolf:

Talvez não tenha sido apenas na intenção de receber críticas imparciais que

George Eliot e Miss Brontë adotaram pseudônimos masculinos: talvez

quisessem libertar a própria consciência, enquanto escreviam, das

expectativas tirânicas em relação ao seu sexo (WOOLF, 2013,p.28).

Em fins do século XVIII é que se origina uma escrita de mulheres de classe média

inclinadas a produzir literatura, episódio esse que teria significado para Virginia Woolf um

fato histórico mais esplendoroso que As Cruzadas ou A Guerra das Rosas. Ela consagra,

através de suas conjecturas, a acuidade de obras femininas como Pride and Prejudice (1813),

de Jane Austen e Wuthering Heights (1850), da autora Emily Brontë 17

. Woolf atribuiu à Jane

Austen e às irmãs Brontë e ainda a George Eliot o título de predecessoras, que anonimamente

ou não desbravaram um terreno homérico até então masculino.

The extreme activity of mind which showed itself in the later eighteenth

century among women — the talking, and the meeting, the writing of essays

on Shakespeare, the translating of the classics — was founded on the solid

fact that women could make money by writing (WOOLF, 1928).18

Virginia Woolf acreditava numa conjuração que forjava a ideia de que a mulher

determinada a escrever se expunha ao grotesco ou ao infortúnio. Aphra Behn, escritora

inglesa, é lembrada por Woolf como lendária: “(...) it was she who earned them the right to

16

“Nenhuma força no mundo pode arrancar-me minhas quinhentas libras. Comida, casa e roupas são minhas

para sempre. Assim, cessam não apenas o esforço e o trabalho árduo, mas também o ódio e a amargura” (p.48).

17

Wuthering Heights, versão consagrada em português como “O Morro dos Ventos Uivantes”, é um clássico da

literatura universal. Emily Brontë, escritora britânica, adotou o pseudônimo masculino Ellis Bell ao escrever a

referida obra. Charlotte Brontë usara o pseudônimo Currer Bell. O nome verdadeiro de George Eliot era Marian

Evans.

18

“A extrema atividade mental que se revelou entre as mulheres no final do século XVIII — as conversas, as

reuniões, a redação de ensaios sobre Shakespeare, a tradução dos clássicos — baseou-se no sólido fato de que as

mulheres podiam ganhar dinheiro escrevendo” (p.81-82).

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27

speak their minds. It is she — shady and amorous as she was. — who makes it not quite

fantastic for me to say to you tonight: Earn five hundred a year by your wits”.19

Behn fora

uma senhora de classe média que, acometida de circunstâncias aterradoras, precisou competir

igualitariamente com homens e, através de sua escrita, custeou a própria existência.

Woolf apregoava a ideia de que a liberdade intelectual está ligada ao material, e que

escrever poesia, por exemplo, ou ficção — como mostra do intelecto de muitas mulheres — se

tornaria impossível sem que angariassem dinheiro. As “quinhentas libras” que menciona

certamente faz ligação com a quantia que lhe foi assegurada por sua tia Mary Bethon, esse

valor expresso se concilia ao tema da obra. São as duas condições propostas por Woolf para

as mulheres tornarem-se literatas: ter “dinheiro” e “um teto próprios”.

Fica evidenciada a materialidade imperiosa a que Woolf pré-estabelecia para que

mulheres escrevessem ao revelar em certos momentos a substanciosa valia das quinhentas

libras: “(...) five hundred a year stands for the power to contemplate, that a lock on the door

means the power to think for oneself. ” 20

Ao referir-se à romancista Mary Carmichael : “(…)

if she has a room to herself, of which I am not quite sure; if she has five hundred a year of her

own — but that remains to be proved — then I think that something of great importance has

happened” 21 .

Virginia Woolf encontra no século XIX prateleiras com obras escritas exclusivamente

por mulheres. Ela prossegue a apreciar livros de algumas autoras, e exortar a respeito delas,

de suas grafias e o percurso que empreenderam para tornarem-se romancistas. No início do

século a chamada “sala de estar” ou “sala de visita” era o lugar comum das famílias de classe

média, onde se estabeleciam as relações, cunhando assim a sensibilidade para com a qual

mulheres passaram a escrever. A escrita feminina se estabelecia ao nível das relações íntimas,

da observância do caráter, no quotidiano ainda corriqueiro de muitas mulheres limitadas às

regras do lar e das aparências.

Woolf apontara que Jane Austen (1775-1817) quando começara a escrever, temia que

seus escritos fossem descobertos, logo, este ofício. Sendo assim, a falta de liberdade para

19

“(...), pois foi ela quem lhes assegurou o direito de dizerem o que pensam”. É ela — por mais suspeita e

sensual que tenha sido — que me faz parecer não muito fantástico o que vou dizer-lhes esta noite: "Ganhem

quinhentas libras anuais com sua inteligência” (p.82-83).

20

“(...) quinhentas libras por ano representam o poder de contemplar, e de que a fechadura da porta significa o

poder de pensar por si mesma” (p.130).

21

“(...) se ela tiver um quarto próprio, coisa de que não estou bem certa; se tiver suas próprias quinhentas libras

anuais — mas isso ainda fica por comprovar —, penso, então, que algo de grande importância aconteceu” (p.

104).

Page 28: Monografia de Leila de Lima Oliveira

28

expressar-se — e a exclusividade de um quarto próprio — certamente deveria lhe ter imposto

algum constrangimento. O ato de compor se assemelhava a ideia de uma infração, devia ser

sigiloso. Woolf meditara:

Indeed, since freedom and fullness of expression are of the essence of the

art, such a lack of tradition, such a scarcity and inadequacy of tools, must

have told enormously upon the writing of women (…) And this shape too

has been made by men out of their own needs for their own uses (WOOLF

1928).22

Mesmo tendo encontrado — já nas primeiras décadas do século XX — escritores vivos

entre homens e mulheres com um número de publicações equiparáveis, fica evidente a

insatisfação da autora para com a contemplação do seu próprio sexo. Para além das

perspectivas apontadas, a ensaísta ponderava principalmente na falta de liberdade que

transgrediu muito da falácia feminina, atingindo a integridade de muitas literatas ou aspirantes

em potencial.

2.3 GÊNERO, SEXISMO E ANDROGINIA

O conceito que se estabelece entre os gêneros masculino e feminino nas sociedades

patriarcais, além de conceber o valor que os repartem, revela uma hierarquia de submissão do

“sexo frágil”: a mulher em posição inferior ao homem. Sendo assim, é possível compreender

a construção da “natureza” da mulher ao longo do tempo sendo alheia à cultura e às relações

de poder, que de modo discrepantes forjaram o triunfo do sexo masculino. Até mesmo a

sexualidade é comprometida em detrimento do patriarcalismo, que legitimou “o controle da

sexualidade, dos corpos”, a autonomia do homem sobre a mulher na relação conjugal

(MILLET, 1970; SCOTT, 1995).

Woolf declarara : “Hence the enormous importance to a patriarch who has to conquer,

who has to rule, of feeling that great numbers of people, half the human race indeed, are by

nature inferior to himself. It must indeed be one of the chief sources of his power.” 23

Ela

discutia assim que a liberdade conferida aos homens permitira a muitos destes um exercício

inalienável de seu poder.

22

“De fato, uma vez que a liberdade e a plenitude de expressão são da essência da arte, essa falta de tradição,

essa escassez e inadequação dos instrumentos devem ter afetado enormemente os escritos das mulheres (...). E

também essa forma foi feita pelos homens a partir das próprias necessidades e para as próprias aplicações”

(p.95).

23

“Daí a enorme importância para um patriarca que tem que conquistar, que tem que dominar, de sentir que um

grande número de pessoas, a rigor, metade da raça humana lhe é por natureza inferior. De fato, essa deve ser

uma das principais fontes de seu poder” (p.44).

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29

Virginia Woolf em seu livro ensaístico reconhece o papel centralizador da figura

masculina, porém sua repulsa ao sexismo se devia muito mais a conceitos de ordem

humanística e reformadora que um apelo puramente feminista. Ao expor a opinião de homens

sobre mulheres, Woolf mostra o despropósito de suas convicções misantrópicas em certos

momentos, a ignomínia com que ultrajaram a imagem feminina causada por especulações

pérfidas dirigidas às mulheres em todas as épocas.

Napoleon thought them incapable. Dr. Johnson thought the opposite. Have

they souls or have they not souls? Some savages say they have none. Others,

on the contrary, maintain that women are half divine and worship them on

that account. Some sages hold that they are shallower in the brain; others

that they are deeper in the consciousness. Goethe honoured them; Mussolini

despises them. Wherever one looked men thought about women and thought

differently (WOOLF, 1928).24

Woolf faz referência ao Sr. Oscar Browning, uma imponente figura da Universidade de

Cambridge, cujo tirocínio era proferir a supremacia do macho. A autora britânica ressaltara

que no século XIX a visão misógina que se opunha às mulheres no culto ao saber ainda

prevalecia nos idos de 1928. Sob a forma de um preconceito que persistia na lógica da

inferioridade intelectual das mulheres, a autora calculara desse modo o agravo com que se

configurou “a essência de ser mulher”.

For here again we come within range of that very interesting and obscure

masculine complex which has had so much influence upon the woman’s

movement; that deep seated desire, not so much that she shall be inferior as

that he shall be superior, which plants him wherever one looks, not only in

front of the arts, but barring the way to politics too (...) (WOOLF, 1928).25

Outro ponto categórico — dessa vez envolvendo o ato de criação e a pessoa de um

bispo — Woolf rememorara sua colocação machista de que a mulher não poderia escrever

uma obra de ficção proeminente. O dito bispo afirmara que uma dona jamais seria concebida

com um gênio igualável ao de Shakespeare.26

Virginia Woolf corroborava com o de fato de

24

“Napoleão as considerava incapazes. O Dr. Johnson pensava o oposto. Elas têm ou não têm alma? Alguns

selvagens afirmam que não. Outros, ao contrário, sustentam que as mulheres são semidivinas e adoram-nas em

função disso. Alguns sábios asseguram que elas são mais vazias de cabeça; outros, que têm uma consciência

mais profunda. Goethe exaltou-as; Mussolini despreza-as. Para onde quer que se olhasse, os homens pensavam

nas mulheres, e pensavam diferentemente” (p.38-39).

25

“Pois aí, mais uma vez, entramos no âmbito daquele complexo masculino muito interessante e obscuro que

teve tanta influência no movimento feminista, daquele desejo arraigado não tanto de que ela seja inferior, mas de

que ele seja superior, o que o coloca, para onde quer que se olhe, não apenas na dianteira das artes, mas barrando

também o caminho da política, (...)” (p.68-69).

26

William Shakespeare (1564-1616) foi um poeta, escritor e dramaturgo inglês, cuja obra é constantemente

revisitada pelo teatro, televisão, cinema e literatura. Em seu livro Western Canon (1994), Harold Bloom declara:

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30

que mulher alguma atingiria o talento de William Shakespeare, mas explicara: àquela época e

contexto. Ficou conhecido um ditado inglês que apregoou a superioridade intelectual do

homem, ao comparar o cérebro masculino de 1,60 kg ao da mulher, que sistematicamente

seria de 1,22 kg.

Em contraponto, crendo na possibilidade de uma mente feminina proativa para as artes,

Woolf dá vida a uma personagem de nome Judith que ela projetara como sendo uma fictícia

irmã de Shakespeare. Judith intuitivamente teria sido tomada pelo crescente desejo de compor

ou atuar, mas nem mesmo frequentara uma escola como o irmão, porque caberia a ela

aprender as regras do lar, as providências de uma casa, atributos de uma fêmea que desde

cedo cultivara sua designação. A personagem suicidara-se, como induziu, diante da

impossibilidade realizável de sua aspiração: “(...) who shall measure the heat and violence of

the poet’s heart when caught and tangled in a woman’s body? (…)” 27

.Woolf, com a

metáfora construída com Judith alertava às mulheres que nunca desistissem de suas

pretensões na vida, por mais arbitrárias que fossem as circunstâncias.

Virginia Woolf ao assimilar a projeção da mulher com o dobro do perfil masculino,

associada à imagem refletida no espelho, apregoava a necessidade vital da existência das

mulheres, com a qual justificava o próprio sucesso do homem. Ela ilustrara assim a razão de

homens poderosos declararem-se autossuficientes e ignorarem as críticas femininas. Ela disse

de modo inflamado: “I need not hate any man; he cannot hurt me. I need not flatter any man;

he has nothing to give me” 28

, como se confessasse a si própria que sua dignidade não

dependia das atribuições do sexo oposto.

A relação entre gêneros, para Virginia Woolf, no que concerne à natureza de cada ser

não lhe sugeria uma divisão peremptória, pelo contrário, ela os qualificara em certo momento

como “criaturas da ilusão” (2004, p.41), ao compreender o aspecto do humano como dotado

de ardores e anseios, sem distinção. Em sua visão: “It would be a thousand pities if women

wrote like men, or lived like men, or looked like men, for if two sexes are quite inadequate,

“Ele é o cânone secular, ou mesmo a escritura secular; para fins canônicos, antepassados e herdeiros igualmente

são definidos apenas por ele” (p.32).

27

“(...) quem pode medir o fogo e a violência do coração do poeta quando capturado e enredado num corpo de

mulher? (...)” (p.61).

28

“Não preciso odiar homem algum: ele não pode ferir-me. Não preciso bajular homem algum: ele nada tem a

dar-me.” (p.48).

Page 31: Monografia de Leila de Lima Oliveira

31

considering the vastness and variety of the world, how should we manage with one only?”29

Fica subentendida a ideia de conciliação entre as partes pela autora, ao fazer um juízo de valor

à condição humana.

O que se deve considerar ainda é que, ao escrever, as mulheres o faziam não

necessariamente diferente dos homens, mas o universo que compunha o seu discurso pré-

estabelecia inevitavelmente uma correspondência à ideologia feminina na constituição de

gender.

Como artista, defendia a visão da androginia da mente cujo espírito criativo não faz

distinção de gênero, senão do teor artístico nato ao ser humano. Bonicci (2007, p.268) fala a

esse respeito: “O conceito de androginia de Woolf (a rejeição da dicotomia essencialista entre

o masculino e o feminino) não é uma fuga de identidades fixas do gênero, mas a percepção da

enganadora natureza essencialista das identidades”.

A autora concordava com Coleridge de que a mente criativa estaria em um homem

mais feminino e uma mulher mais masculina, como interpretara: “He meant, perhaps, that the

androgynous mind is resonant and porous; that it transmits emotion without impediment; that

it is naturally creative, incandescent and undivided”.30

Virginia Woolf fez ainda referência a

outros autores que demonstrara serem andróginos, a exemplo de Shakespeare.

Woolf é considerada pioneira na vertente que estabelece o conceito de “descentramento

do sujeito autoral” (MOI, 1988) 31

. A postura dualista de Virginia Woolf — e que se fez

presente em sua palestra proferida em Cambridge — aclamou o seu discurso frente à

constituição da metafísica ocidental anos mais tarde. Esse dualismo se dá na abordagem que a

autora faz sobre o próprio sexo e por permitir que as “verdades” ali expostas passem pelo

crivo do público, ou seja, este se torna coparticipe de uma análise na qual cada um faz sua

própria leitura.

Moi (2002, p.9) assim destacou: “Através da exploração consciente da natureza sensual

e lúdica da linguagem, Woolf rejeita o essencialismo matafísico subjacente à ideologia

patriarcal, que apela a Deus, o pai ou o falo como o significado transcendental”. Por volta da

década de 70, esse tipo de discurso seria chamado de “desconstrucionista”.

29

“Seria mil vezes lastimável se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como os homens, ou se

parecessem com os homens, pois se dois sexos são bem insuficientes, considerando-se a vastidão e a variedade

do mundo, como nos arranjaríamos com apenas um?” (p.109).

30

“Ele quis dizer, quem sabe, que a mente andrógina é ressoante e porosa; que transmite emoções sem

empecilhos; que é naturalmente criativa, incandescente e indivisa” (p. 121).

31

MOI, Toril. Sexual/Textual politics: feminist literary theory. Trad. Amaia Bárcena. Madri: Cátedra, 1988, p.

15-32.

Page 32: Monografia de Leila de Lima Oliveira

32

3 O LÓCUS FEMININO EM SOCIEDADE

O capítulo que segue trará alguns aspectos da educação da mulher inglesa e sua

compleição em sociedade, interacionando o pensamento crítico de Virginia Woolf com

respeito à presença das mulheres nas universidades e o próprio sistema educacional inglês.

Esse recorte ainda apresentará a postura da autora inglesa concernente ao discurso de

1928 e o lugar da mulher enquanto gender numa projeção futura. Também serão observadas

meditações acerca de sua visão analítica que, já fazia repercutir naquele século a emancipação

das sociedades, abrangendo as artes, a cultura e o próprio ser humano.

3.1 A EDUCAÇÃO DA MULHER BRITÂNICA

A necessidade de se manter a moralidade acentuada na observância do lar, da família

enquanto “instituição universal”, em vista de uma sociedade tecnologizada no século XIX —

o elo progresso e moral, trunfos do governo da rainha Vitória — fez notória uma reflexão

sobre a educação da mulher britânica.

Segue-se que a mulher que ousava cultivar sua inteligência e escolaridade

além do desempenho da sala de estar estava violando a natureza e a tradição

religiosa. As mulheres eram avaliadas conforme as características

“inerentes” a seu sexo, ou seja, a ternura, a inocência, o amor ao lar e a

submissão (BONICCI, 2007, p.219).

Para assegurar a harmonia e a contenção dos valores no ambiente doméstico das

famílias de classe média e alta, surge uma especial função para algumas mulheres inspiradas

em virtudes especiais, sendo estas denominadas “anjos do lar”. A “preceptora” ou “anjo do

lar” seria desse modo diretamente responsável pela formação da mulher inglesa, tanto moral

quanto cultural.

Em vistas de paginar e cultuar valores de uma lady, uma senhorita vitoriana deveria

esforçar-se por alcançar afirmação na vitrine social, e isto incluía ser educada

convencionalmente em seu próprio lar.

Uma lady deveria ostentar determinados accomplishments, que incluiriam:

falar francês (e, se possível, italiano), tocar piano, dançar e mostrar

proficiência no trabalho com a agulha. O problema seria como e onde a

mulher adquiriria tais accomplishments. As mulheres da alta classe media já

não queriam ou não podiam ensinar seus próprios filhos, pois isto poderia

comprometer o status de que gozavam e, além disso, nem sempre estavam

suficientemente preparadas para fazer um syllabus elaborado. A solução

imediatamente encontrada foi recorrer aos pensionatos de moda, cuja tarefa

precípua era revestir a mulher de certo verniz cultural. (MONTEIRO, 1999,

p.157)

Page 33: Monografia de Leila de Lima Oliveira

33

A preceptora era escolhida quase sempre por ser membro da família em certo grau ou

indicada por alguém ligado ao clérigo. Sua função vital era educar os filhos da aristocracia no

trato aos valares morais e sociais. Com referência aos cuidados com as jovens pupilas,

precisava fazer-lhes a observância de itens tais quais “sentimentos mais finos, em vez de

tópicos viris das disciplinas acadêmicas” (EAGLETON, 1989, p.28).

Embora recebendo uma remuneração que para a época não condizia com o alto preço

de seus atributos, a realidade para uma jovem solteira e sem instrução era ainda pior, se se

estabelecesse como operária, tarefa ainda mais rígida. Uma vez que a legislação inglesa não

reconhecia a profissão de preceptora com litígio — tendo a sua dedicação estimável valor

social, — configurava uma expropriação do trabalho dessas senhoritas.

A preceptora particular não tem existência, não é considerada ser vivo e

racional, exceto em relação aos deveres enfadonhos e cansativos que tem

que cumprir. Enquanto está ensinando, trabalhando e divertindo as crianças,

tudo bem, mas se rouba momentos para ela, torna-se incômoda (BRONTË

apud GLASKELL, 1975, p. 187-188).

A escola St. Mary´s Hall, fundada pelo reverendo Henry Elliot em 1836, visava preparar

preceptoras para atuarem nas casas de família da alta e média burguesia. Existia uma

preocupação excessiva com os hábitos das preceptoras, pois quando as filhas de comerciantes

começam a engessar a função, os moralistas temiam essa influência e o risco de desvirtuação

do papel do anjo do lar.

Já por volta de 1890, muitas mulheres dentre estas ex-preceptoras, estavam

enquadrando a atividade docente nas escolas onde moças em torno dos 15 anos podiam

frequentar aulas. Na fase seguinte, estariam aos cuidados de uma preceptora. Com isso, os

atributos para a preceptora tornaram-se ainda mais rigorosos e, para a formação de uma lady

as perspectivas deveriam ser ampliadas para além de um ornamento ou manual. As

preceptoras cada dia mais precisavam demonstrar capacidade, e em alguns casos era exigida

certificação do Queen´s College ou do Junior e Senior Local University, escolas de prestígio

na época.

De fato a missão para uma senhora inglesa era aperfeiçoar os seus talentos enquanto

“anjo do lar”, e resignadamente cultivar qualidades intrínsecas para uma dama. Esse episódio

era repugnante para escritora britânica, pois: “Escrever constituía uma rebeldia que exigia

subterfúgios e bajulações. Portanto, a morte do “anjo do lar” é necessária e, para que isso

aconteça, Woolf insiste na educação das mulheres e dos homens” (BONNICI, 2007, p.269).

A escritora Virginia Woolf lamentara o fato de não ter cursado uma faculdade. Por sua

vez, fez críticas severas ao tratamento dado à educação de mulheres nas universidades

Page 34: Monografia de Leila de Lima Oliveira

34

britânicas, e mesmo apontou o fato de uma universidade masculina como Oxbridge ser de alto

padrão, enquanto Fernham, uma faculdade essencialmente para mulheres, ser tão carente. O

descaso com que era vista a educação feminina e até o tratamento dado às mulheres em uma

universidade como Oxbridge, fez a autora inglesa indignar-se, pois, dentre outras razões

apontadas, estava o fato de uma senhorita somente ser admitida ali com uma carta de

apresentação ou na companhia de um fellow32

se, como fez a autora, desejasse visitar a

biblioteca. Não poderiam inclusive, como observou Woolf, pisar no gramado onde somente

os rapazes que lá estudavam possuíam acesso.

Em momentos em que a autora britânica fala diretamente às estudantes e aspirantes

escritoras, ela procura adverti-las de colocações misóginas tais quais a do Sr. Browning que

admitia a inferioridade intelectual das mulheres como algo fatídico, e ressalva a colocação do

Sr. John Langdon Davies quanto ao fato de as mulheres em um dado instante serem

“desnecessárias” 33

.

Com temperada liderança, exortou a respeito da condição das mulheres e os privilégios

que se lhe apresentavam a partir de então, os quais muitas ainda não acordavam ou

despretensiosamente atentavam. Woolf revelou que já em 1866 algumas universidades

estavam abertas para as mulheres na Inglaterra.

May I also remind you that most of the professions have been open to you

for close on ten years now? When you reflect upon these immense privileges

and the length of time during which they have been enjoyed, and the fact that

there must be at this moment some two thousand women capable of earning

over five hundred a year in one way or another, you will agree that the

excuse of lack of opportunity, training, encouragement, leisure and money

no longer holds good (WOOLF, 1928). 34

Além de também alertar as jovens no discurso de seu tempo até mesmo sobre a

condição de terem filhos — cuja incidência não deveria superar o número três — Woolf

refletira intelectualmente sobre a condição social e educacional da Inglaterra através de sua

conjuntura histórica. Ela trouxe uma consistente arguição na qual dizia que os povos foram

compelidos pelo destino de forma que não seriam responsáveis por falhas construídas na

32

Fellows são estudantes de cursos de pós-graduação admitidos pela Fellowships, fundação que os ancoram à

universidade onde estes, por vezes, costumam residir.

33

John Langdon Davies, que era um repórter, escrevera: "(...) quando as crianças deixam de ser inteiramente

desejáveis, as mulheres deixam de ser inteiramente necessárias (...)” (p.136)

34

“Será que posso também lembrar-lhes que a maioria das profissões está aberta a vocês há quase dez anos?

Quando refletirem sobre esses imensos privilégios, a extensão de tempo em que eles vêm sendo desfrutados e o

fato de que deve haver, neste momento, umas duas mil mulheres capazes de ganhar mais de quinhentas libras por

ano de um modo ou de outro, vocês hão de concordar em que a desculpa da falta de oportunidade, formação,

incentivo, lazer e dinheiro já não se aplica” (p.137).

Page 35: Monografia de Leila de Lima Oliveira

35

arregimentação dos líderes, e defende a estes dizendo: “They too, the patriarchs, the

professors, had endless difficulties, terrible drawbacks to contend with” 35

justificando o

próprio ensino e o de muitos como consequência de uma carência pré-existente.

3.2 A EMANCIPAÇÃO FEMININA

O discurso é um ato enunciativo que tem na fala do locutor a finalidade de impactar um

público específico, embora não tendo a primazia de elucidar constatações em seu direito de

apresentar-se como tal 36

. O livro de Virginia Woolf se baseia em duas aulas proferidas pela

autora em Newham e em Girton College (duas faculdades para mulheres na Universidade de

Cambridge). Trata-se de um longo ensaio escrito dois dias antes de sua audição. A escritora e

crítica literária, através de seu “discurso feminista” em A Room of a One´s Own (1929),

direcionava-se às leitoras, escritoras e ouvintes senhoras da Universidade de Cambridge,

posicionando-se, dessa forma, como porta voz das mulheres ocidentais.

A construção da categoria “mulher” inclui discursos de diferentes origens

sociais, como o literário, o científico, o religioso, os diversos discursos de

senso comum e também discursos de diferentes orientações ideológicas,

desde os mais conservadores aos mais progressistas, incluídos aqueles

produzidos pelo feminismo (TEXEIRA, 2009, p.90).

A ensaísta ressaltara que, em se tratando do tema mulher e literatura não chegaria um

consenso, pois ao exaltar que a própria condição do gênero é um assunto “altamente

desenvolvido” e “infinitamente intrincado”, dada a complexidade e ao tratamento necessário

aos assuntos do sexo, contraria a própria verbalização a não chegar a exposições resolutas.

Virginia Woolf, usando de certa ironia com a sutil constatação “The history of men’s

opposition to women’s emancipation is more interesting perhaps than the story of that

emancipation itself” 37

, referia-se à faceta de alguns homens que tentaram estrategicamente

estagnar a emancipação feminina. E, desse modo, sugeria que as alunas das faculdades em

Cambridge pudessem comprovar essa teoria.

There would always have been that assertion — you cannot do this, you are

incapable of doing that — to protest against, to overcome. Probably for a

novelist this germ is no longer of much effect; for there have been women

novelists of merit. But for painters it must still have some sting in it; and for

35

“Também eles, os patriarcas, os professores, tiveram dificuldades infindáveis, terríveis obstáculos contra o que

lutar” (p.48).

36

MAINGUENEAU, Dominique. Discurso Literário. São Paulo: Contexto, 2006, p.35-45.

37

“A história da oposição dos homens à emancipação das mulheres talvez seja mais interessante do que a

história da própria emancipação” (p.69).

Page 36: Monografia de Leila de Lima Oliveira

36

musicians, I imagine, is even now active and poisonous in the extreme

(WOOLF, 1928) 38

.

Ao passo que discute a condição feminina, já em 1928, a autora observa que em amplos

setores da sociedade: educação, política, comércio, dentre outros, as mulheres não se

encontravam. Poucas alcançaram como status uma graduação na universidade. Para Virginia

Woolf, por sua vez, as mulheres haviam chegado a um impasse para a sua categoria:

necessitavam dar um salto decisivo e estabelecer o seu espaço na sociedade, em outras

palavras, estavam direcionadas ao sucesso.

For women have sat indoors all these millions of years, so that by this time

the very walls are permeated by their creative force, which has, indeed, so

overcharged the capacity of bricks and mortar that it must needs harness

itself to pens and brushes and business and politics (WOOLF,1928). 39

A escritora britânica avaliou que a luta pelo sufrágio fez nascer nos homens um

instinto de autodefesa implacável que os fizera atentar para uma investida ainda mais acirrada

em contraponto às mulheres, cujos romances as descreviam sempre através de estereótipos.

Ao afirmar que “No age can ever have been as stridently sex-conscious as our own; those

innumerable books by men about women in the British Museum are a proof of it” 40

,

demonstrara clareza em sua convicção de que as mulheres romperam barreiras e se

posicionaram em uma linha de confronto na qual a constituição de sua alteridade passou a

exercer domínios e prerrogativas.

Politicamente as mulheres eram consideradas cidadãs de segunda categoria.

Elas não podiam votar, assumir cargos administrativos (exceção feita à

rainha Vitória, a qual era antifeminista), trabalhar como advogadas ou

médicas, nem sequer como secretárias nos escritórios. Desde a década de

1840 o parlamento britânico era assediado por pedidos de sufrágio feminino

considerado “uma tolice louca” pela rainha Vitória (BONNICI, 2007, p.219).

Virginia Woolf, ao longo de seu ensaio, demonstrou com veemência a crença em um

descortinamento e ascensão da mulher na sociedade, e, como prova, sequer subestimou ou

38

“Haveria sempre aquela afirmativa — você não pode fazer isto, você é incapaz de fazer aquilo — contra a qual

protestar e a ser superada. Provavelmente, para uma romancista, esse germe já não surte grande efeito, pois tem

havido mulheres romancistas de mérito. Mas, para as pintoras, isso deve trazer ainda algum tormento; e para as

musicistas, imagino, é ainda hoje ativo e venenoso ao extremo” (p.67-68).

39

“Pois as mulheres têm permanecido dentro de casa por todos esses milhões de anos, de modo que a essa altura

as próprias paredes estão impregnadas por sua força criadora, que, de fato, sobrecarregou de tal maneira a

capacidade dos tijolos e da argamassa que deve precisar atrelar-se a caneta e pincéis e negócios e política” (p.

108).

40

“Nenhuma era jamais conseguirá ser tão ruidosamente consciente do sexo quanto a nossa; esses incontáveis

livros escritos por homens acerca de mulheres no Museu Britânico são prova disso” (p.121).

Page 37: Monografia de Leila de Lima Oliveira

37

limitou a capacidade feminina, ao ponto de imaginar mulheres chefiando cargos de alto

escalão para uma era que ela própria não alcançaria.

Moreover, in a hundred years, I thought, reaching my own doorstep, women

will have ceased to be the protected sex (…) all assumptions founded on the

facts observed when women were the protected sex will have disappeared

(...) anything may happen when womanhood has ceased to be a protected

occupation (…) (WOOLF,1928).41

Atentando para o futuro da ficção, Woolf se satisfazia com a ideia de as mulheres

assimilarem a arte como expressividade, ao invés de um postulado que exercesse a ideia de

uma “literatura escrita por mulheres.” Até mesmo porque, como reiterou a autora, não caberia

um julgamento que avaliasse o teor dos textos femininos comparado aos masculinos no

contexto de seu tempo. Isto, porque julgara cedo, já que mulheres precisariam ganhar mais

dinheiro e terem, assim, mais obras escritas. Além disso, justificara que “(...) even if the time

had come I do not believe that gifts, whether of mind or character, can be weighed like sugar

and butter (…)” 42

Virginia Woolf lembrara refletidamente das figuras de Jane Austen e Emily Brontë.

Apreciadora do talento que possuíam, destacou também o fato de terem elas resistido

bravamente ao sistema patriarcalista em seus liames. Woolf as aclamara como sendo as únicas

mulheres de suas épocas que alcançaram sucesso “escrevendo como mulheres e não como

homens”. E acrescera: “(...) they alone entirely ignored the perpetual admonitions of the

eternal pedagogue — write this, think that.” 43 Elas conseguiram contrariar a máxima de Sir

Egerton Brydges, que dissera em 1928: “… Female novelists should only aspire to excellence

by courageously acknowledging the limitations of their sex.” 44

.

A luta feminina ao longo de séculos esteve representada em muitos contextos como uma

forma de resistência e submissão das mulheres — que ainda no final do século XX entoavam

um brado pela liberdade intelectual. As condições para a emancipação feminina, e para as

41

“Além disso, dentro de cem anos, pensei, alcançando a porta de casa, as mulheres terão deixado de ser o sexo

protegido (...) todas as suposições fundamentadas nos fatos observados quando as mulheres eram o sexo

protegido terão desaparecido (...) tudo pode acontecer quando a feminilidade tiver deixado de ser uma ocupação

protegida (...)” (p.50-51).

42

“(...) mesmo que fosse chegada a hora, não creio que os dons, sejam eles da mente ou do caráter, possam ser

pesados como açúcar e manteiga (...)” (p.128-129).

43

“(...) somente elas ignoraram por completo as admoestações perpétuas do eterno pedagogo — escreva isto,

pense aquilo.” (p.93).

44

“... As romancistas só devem aspirar a excelência reconhecendo corajosamente as limitações de seu sexo."

(p.93).

Page 38: Monografia de Leila de Lima Oliveira

38

mulheres não mais tolerarem ser o “sexo protegido”, como afirmou Woolf, exigia uma

mudança de paradigma ousadamente por cada uma delas.

A história do feminismo é a história de mulheres que só tiveram a oferecer

paradoxos não porque — como queriam os críticos misóginos — a capacidade racional da mulher seja deficiente ou a essência de sua natureza

seja fundamentalmente diferente, nem porque o feminismo de algum modo,

não conseguiu alinhar teoria com prática, mas porque o feminismo ocidental

e historicamente moderno é construído por práticas discursivas de política

democrática que igualaram individualidade e masculinidade. (SCOTT, 2002,

p.29)

3.3 A ANTEVISÃO CRÍTICA DE WOOLF

As palavras da escritora Virginia Woolf em A Room of One´s Own marcam com

evidência o posicionamento de uma intelectual que em nenhum momento deixou de situar o

aspecto humano e suas incertezas, dissabores e magnitude. A autora britânica demonstra em

muitos instantes a potencialidade de antever os arroubos do amanhã, considerando sutilmente

sua sabedoria, inteligência e intuição. E, de tal maneira, não anuncia uma visão profética —

antes, revela uma “crença ou instinto” de ordem filosófica — a confiança em um

despojamento de caráter humano.

For my belief is that if we live another century or so — I am talking of the

common life which is the real life and not of the little separate lives which

we live as individuals (…) if we have the habit of freedom and the courage

to write exactly what we think; if we escape a little from the common sitting-

room and see human beings not always in their relation to each other but in

relation to reality;(…) ; if we face the fact, for it is a fact, that there is no arm

to cling to, but that we go alone and that our relation is to the world of reality

and not only to the world of men and women, then the opportunity will come

(…) (WOOLF, 1928).45

As admoestações de Woolf em seu ensaio direcionadas às mulheres assumem em

muitas ocasiões um caráter acidental, onde por vezes o público é cúmplice de suas

deliberações. Em outros instantes a escritora assume a posição de catedrática e precursora;

também aquela que advoga a causa feminina porque entende a sua função enquanto crítica,

artista e mulher.

45

“Pois minha crença é de que, se vivermos aproximadamente mais um século — e estou falando na vida

comum que é a vida real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente; (...); se tivermos o hábito da

liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco da sala de estar e virmos

os seres humanos nem sempre em sua relação uns com os outros, mas em relação à realidade, (...) se encararmos

o fato, porque é um fato, de que não há nenhum braço onde nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que

nossa relação é para com o mundo da realidade e não apenas para com o mundo dos homens e das mulheres,

então a oportunidade surgirá, (...)” (p.138).

Page 39: Monografia de Leila de Lima Oliveira

39

Quando falava de guerra, especialmente a Primeira Guerra Mundial, psicologicamente

sentia-se perturbada com o fato de mulheres perderem os seus maridos e filhos, e colocava-se

à revelia da condição e do opróbrio que os “homens” constituíam com a miséria, a falta de paz

e a perda de suas populações. Muitas mulheres, inclusive, precisaram em períodos de guerra

substituir a mão de obra masculina. Era desse modo, uma mulher que sofrera com os horrores

da guerra e seus perjuros e denotava uma preocupação perene com os rumos da civilização.

A própria Virginia Woolf considera uma missão do artista abstrair da realidade além das

possibilidades de qualquer outra pessoa, e torná-la visível, interpretá-la e comunicá-la ao

mundo. Ajuizava que as aspirantes escrevessem sobre os mais diversos temas: “Thus when I

ask you to write more books I am urging you to do what will be for your good and for the

good of the world at large.” 46

As possiblidades para a ficção assim se multiplicariam, pois

Woolf atribuía mérito em se estudar ciência, filosofia ou história, ou outra disciplina, contanto

que se ampliassem suas visões de mundo, de criação e inventividade.

Virginia Woolf, ao compreender o Museu Britânico e a cidade como “grande oficina” e

um lugar de “fábricas e trabalhadores”, concebeu bases para a fundação do Pós-

Estruturalismo ao situar-se numa visão integrada do mecanicismo e das transformações que

advieram com o capitalismo e o sindicalismo. Ela interpenetrara a condição humana e social

considerando os mais diferentes aspectos: humano, político, cultural e intelectual.

A escritora também é tratada como vanguardista ao conceber, como na mente

andrógina, a união entre os gêneros, não lhes atribuindo, reiteradamente, a condição de

oposição ou dualismo. Antecipara nesse viés a destituição de hierarquias históricas. Quando

afirma que “It is fatal to be a man or woman pure and simple; one must be woman-manly or

man-womanly” 47

, prova a impossibilidade de um sexo viver sem outro. Proclama assim uma

união vindoura, a dinâmica ideal entre o despertar para uma nova realidade e o essencial em

cada ser: a conscientização de si e do outro. Sua antevisão acerca da compleição feminina

contribuiu ainda para a fundamentação de estudos pós-modernos sobre a condição das

mulheres no mundo atual.

46

“Portanto, quando lhes peço que escrevam mais livros, insisto em que façam algo que será para seu bem e para

o bem do mundo em geral.” (p.133).

47

“É fatal ser um homem ou uma mulher, pura e simplesmente; é preciso ser masculinamente feminina ou

femininamente masculino.” (p.127).

Page 40: Monografia de Leila de Lima Oliveira

40

CONCLUSÃO

A importância dos estudos sobre a mulher quer na contemporaneidade, quer em exames

futuros, certamente deverá considerar as contribuições de Virginia Woolf para a compreensão

do retrato da mulher em sociedade, mais especialmente da mulher ocidental. A autora

britânica em seu livro ensaístico expõe ao leitor muito mais que prerrogativas estanques sobre

a condição feminina e sua autenticidade enquanto símbolo. No discurso de seu tempo ela

promoveu um levante, uma iniciativa para a realização de um feito inatingível para muitas

mulheres: a liberdade de contemplar o futuro.

Woolf, no que concerne sua visão de mundo e, ao assumir-se declaradamente provida

de consciência de seu próprio sexo como elemento, faz de A Room of One´s Own uma jornada

de circunstantes declarações e revelações que apresentam ao leitor e pesquisador de sua obra

uma abundante argumentação para o fato feminino. Há que se considerar como afirmou

Bloom (2004, p.420) que “não se pode distinguir seu feminismo de seu esteticismo; talvez

devêssemos aprender a falar de seu “feminismo contemplativo”, na verdade uma posição

metafórica”.

A ensaísta apontou que as mulheres haviam sido pobres não somente nos últimos

duzentos anos, mas desde o início dos tempos. Assim, avançou para os fatos que

evidenciaram a inexistência ou a condição desassistida de escritoras em potencial, porém

reverenciando aquelas que romperam o silêncio e escreveram seus nomes na história.

Virginia Woolf criticamente propôs através da androginia da mente um novo

paradigma para a condição do artista, também a humana. Ao longo de todo o ensaio

demonstrou os seus dotes peculiares como crítica cultural, e julgou o valor estético de obras

literárias femininas assim como elogiara o talento de escritores consagrados do sexo

masculino. Desse modo, marcara o seu discurso com um diálogo aberto e acessível às jovens

estudantes e aspirantes escritoras de seu tempo, evidenciando o seu caráter humano e

intelectualmente engajado para uma causa maior: a união dos gêneros.

Simone de Beauvoir, escritora francesa que pertenceu à segunda onda feminista,

também defendia a união entre homens e mulheres e questionou: “Será suficiente mudar leis,

instituições, costumes, opinião pública e todo o contexto social para que homens e mulheres

se tornem verdadeiramente iguais?” (BEAUVOIR, 1974, p.799). Virginia Woolf acreditava

que as mulheres em cem anos estariam liderando e alcançando espaços privilegiados nas

sociedades.

Page 41: Monografia de Leila de Lima Oliveira

41

Ainda não se completaram os proferidos anos e o episódio está se consumando, mas a

autonomia feminina é ainda controvertida. O que desejam as mulheres no presente século do

alto das torres de suas cidades satélites é o encorajamento dos poderes limítrofes de

assumirem a importância do exercício feminino na medida de suas reais potencialidades.

O patriarcalismo insistente dos dias de hoje, diferentemente do passado, está intercalado

no presente em discursos tais quais o da defesa dos direitos humanos que, em 1993 instituiu

os chamados crimes de “violência de gênero”, que são os preconceitos direcionados às

mulheres e qualquer tipo de violência que se impõe de modo desigual. Ou seja, existem as leis

que protegem e asseguram os diversos direitos, porém estes efetivamente não são

contemplados em muitas circunstâncias.

Quando Virginia Woolf aconselhou as estudantes a escreverem sobre qualquer tema por

mais banal que fosse, julgando que poderia significar por horas ou por séculos, talvez

refletidamente acreditasse que suas palavras se projetariam na vida daquelas jovens ali

presentes. Seu discurso durou uma hora, duas? O que se sabe é que as “verdades” ditas pela

escritora ainda hoje apontam direções e lampejos que penetram a condição feminina.

Virginia Woolf, ao conclamar que distintas mulheres em seus mundos particulares

saiam do acaso petrificado pela história para a conscientização de seus valores no universo, dá

um passo decisivamente hercúleo para a emancipação do feminino. Numa posição atrelada a

valores intrinsicamente pulsantes do eu feminino, a autora e intelectual assumiu a militância e

as aspirações femininas de seu tempo eclodindo como um sol a ofuscar as nuvens sombrias do

patriarcado inglês para a elevação de um novo prisma no horizonte.

Existem muitos desafios no dardejante caminhar feminino rumo à liberdade igualitária.

Mas cabe às mulheres hoje, como no passado, transgredirem o presente e assim inscreverem-

se num futuro almejado e seguramente seu.

Page 42: Monografia de Leila de Lima Oliveira

42

REFERÊNCIAS

ASHCROFT, B; GRIFFITHS, G. e TIFFIN, H. The Empire Writes Back. London:

Routledge, 1991.

BONICCI, Thomas. Teoria e Crítica Literária Feminista: conceitos e tendências.

Maringá: Eduem, 2007.

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