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MONOGRAFIA DE INVESTIGAÇÃO
MESTRADO INTEGRADO DE MEDICINA DENTÁRIA
FRACTURAS VERTICAIS DA RAÍZ – DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM
TERAPÊUTICA
Ana Rita de Freitas Ribeiro Baptista Pacheco
PORTO, 2012
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
3
MONOGRAFIA DE INVESTIGAÇÃO
MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA
FRACTURAS VERTICAIS – MEIOS DE DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM
TERAPÊUTICA
Ana Rita de Freitas Ribeiro Baptista Pacheco
Número de aluna: 081301123
Orientador
Manuel José Fontes de Carvalho
Co-Orientador
Irene Graça Azevedo Pina Vaz
PORTO, 2012
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
4
Aos meus pais,
Maria Odete Freitas Ribeiro e Manuel Alberto Baptista Pacheco
À minha irmã,
Joana Pacheco
Aos meus colegas e amigos
Ao Miguel
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
5
AGRADECIMENTOS
Durante a realização da monografia, contei com a colaboração, dedicação e incentivo de várias
pessoas a quem não posso deixar de agradecer.
Ao Prof. Fontes de Carvalho e à Prof.ª Irene Graça, meus orientadores científicos e docentes de
Endodontia, que me guiaram na realização desta monografia, partilhando comigo o seu trabalho,
experiência e sabedoria.
Aos meus pais, que sempre me valorizaram, acreditaram no meu trabalho e dedicação, e nunca
pararam de me incentivar a dar o melhor, sempre com todo o apoio, toda a ajuda, disponibilidade
incondicional e ainda com a maior compreensão pelo tempo que não lhes dediquei.
Aos meus colegas e amigos, pela entre-ajuda, companheirismo, partilha de conhecimentos e
discussão de ideias, que enriqueceram este projecto.
Ao Miguel, pela ajuda, pelo apoio nos dias menos bons, pelo entusiasmo nos dias bons, e pela
companhia, que tornou este percurso menos exaustivo.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
6
ÍNDICE
Resumo…………………………………………………….…………………..……………….8
Abstract………………………………………………………………………..………………..9
Introdução……………………………………………………………………………….……10
- Incidência/Prevalência………………………………………………………….…....11
- Etiologia…………………………………………………………………………..….11
- Sinais e sintomas……………………………………………………………….….....13
Materias e Métodos…………………………………………………………….……………...14
Resultados………………………………………………………………………………….….15
Discussão………………………………………………………………………………………19
- Meios de diagnóstico………………………………………………………………....19
- Opções terapêuticas……………………………………………………………….…..22
Conclusão………………………………………………………………………………………28
Referências Bibliográficas………………………………………………………………….….29
Anexos…………………………………………………………………………………………34
- Imagens……………………………………………………………………………….34
- Tabelas………………………………………………………………………………...36
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
7
PREÂMBULO
FVR – Fracturas Verticais da Raíz
TAC – Tomografia Computorizada
T.E.R. – Tratamento Endodôntico Radical
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
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RESUMO
As fracturas verticais da raíz (FVR) são fracturas longitudinais do dente que se estendem
do canal radicular ao periodonto. Foi referida uma prevalência compreendida entre 11 e 20% de
dentes extraídos com tratamento endodôntico que apresentavam FVR. Estas apresentam um
desafio ao clínico na medida em que o diagnóstico é frequentemente difícil e é baseado em
parâmetros subjectivos. Assim, procurou conhecer-se a atitude dos médicos dentistas perante
estes casos clínicos e avaliar se a sua abordagem está de acordo com a literatura.
Foi realizado um inquérito a 50 médicos dentistas colaboradores na Faculdade de
Medicina Dentária da Universidade do Porto, constando de 12 perguntas. Foi efectuada uma
análise descritiva dos dados estatísticos em SPSS, obtendo-se as frequências pretendidas.
Relativamente aos meios de diagnóstico, 50% dos inquiridos seleccionou “Outros”,
referindo múltiplas opções. Das chaves escolhidas, a opção B – “Exame radiográfico” esteve
presente em 100% dos casos, a opção A – “Visão directa” em 67% dos casos, a opção D -
“Testes de percussão” em 60%, a opção C - “Testes de vitalidade” em 30% e a opção E -
“Métodos de coloração” em 6% das respostas. 52% dos inquiridos consideram que a extracção
só deve ser realizada quando o prognóstico destes dentes é mau e 48% considera que esta é a
melhor opção terapêutica.
Estas fracturas são frequentemente mal diagnosticadas com consequente perda óssea e
aparecimento de fístulas, muitas vezes conduzindo à sua extracção. Assim, parece importante
investigar um meio de diagnóstico eficaz e, relativamente às abordagens terapêuticas, a
realização de estudos com amostras maiores e que apresentem “follow ups” mais alargados para
que possam ser utilizadas com maior segurança e previsibilidade de resultados.
Palavras-chave: fracturas verticais da raíz, fracturas longitudinais da raíz, tratamento, diagnóstico
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
9
ABSTRACT
Vertical root fractures (VRF) are longitudinally oriented fractures of the root extending from
the root canal to the periodontium. A prevalence of extracted teeth with root canal treatment
presenting VRF has been described to be between 11 and 20%. Diagnosis is sometimes difficult
as there is often no single clinical feature which indicates that root fracture is present. Therefore,
the aim of this study was to assess the dentists´ approach to VRF and to determine whether it´s
consistent with the literature.
A survey with 12 questions was performed to 50 dentists who were members of “Faculdade
de Medicina Dentária da Universidade do Porto”. A descriptive analysis of the statistical data
was performed with SPSS, obtaining the aimed frequencies.
As far as diagnosis is concerned, 50% of the respondents selected “Others” referring multiple
options. Among the chosen options, option B – “X-ray” was present in 100% of cases, option A
– “Direct visualization” in 67% of cases, option D “Percussion test” in 60%, option C “Vitality
tests” in 30% and option E “Coloration methods” in 6% of the answers. 52% of the respondents
consider that extraction should only be performed when there is a bad prognosis while 48%
considers this to be the best treatment option.
These fractures are often misdiagnosed with consequent bone loss and presence of sinus
tracts, frequently leading to extraction. Therefore, it seems important to investigate an accurate
tool for diagnosis and treatment wise, the conception of studies with larger samples and longer
follow ups, so that dentists can use them with greater safety and predictability.
Key-words: vertical root fractures, longitudinal root fractures, diagnosis, treatment
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
10
INTRODUÇÃO
As fracturas longitudinais da raíz foram classificadas em 5 tipos para permitir definições
globais desde a menos à mais severa, cada uma requerendo diferentes modalidades de
tratamento: fissuras, “craze lines”, fracturas de cúspide, “cracked teeth”, “split teeth” e fracturas
verticais da raíz. As fissuras, que são assintomáticas, têm origem na superfície oclusal, afectam
apenas o esmalte e geralmente não precisam de ser restauradas. As fracturas da cúspide podem
provocar dor à mastigação com sensibilidade ao frio, ocorrendo nas cúspides e nas margens
cervicais da raíz e neste dentes geralmente é colocada uma restauração (uma coroa ou um onlay)
para unir os segmentos e impedir contaminação bacteriana. Um “cracked tooth”, definido como
uma fractura incompleta, ocorre na coroa e pode estender-se até à raíz com sintomas variáveis.
Geralmente uma restauração coronária representa um tratamento adequado. Nos casos em que a
fractura continua a crescer, forma-se um “split tooth” e pode verificar-se a separação dos
fragmentos visível a olho nu, havendo dor à mastigação.
A fractura vertical da raíz é o tipo mais grave de afecção longitudinal da raíz. Geralmente
origina-se na região apical do dente e estende-se coronalmente. Estas fracturas atingem o
ligamento periodontal e os tecidos moles migram para o interior dos fragmentos fracturados.
Estas fracturas podem ser completas ou incompletas, sendo a maioria completas.
Geralmente ocorrem em dentes com tratamento endodôntico radical (T.E.R). mas também
podem ocorrer em dentes sem restaurações.(1)
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
11
- Incidência/ Prevalência
A incidência de dentes com fracturas verticais não está descrita na literatura. Contudo, foi
referida uma prevalência compreendida entre 11 e 20% de dentes extraídos com tratamento
endodôntico que apresentavam fracturas verticais.(2)
As observações de vários autores indicam que o segundo pré-molar superior e o primeiro
molar inferior são estatisticamente os dentes mais afectados.(3) (4) (5)
Estudos indicam ainda que as
fracturas verticais tendem a ocorrer numa direcção vestibulo-lingual, zona onde a dentina é mais
espessa.(4)
A direcção mesio-distal é menos comum.(6)
- Etiologia
As causas descritas por alguns autores para o aparecimento de fracturas verticais têm sido
trauma, prematuridades oclusais, movimentos mastigatórios intensos, dentes enfraquecidos e
com reabsorções e tratamentos dentários iatrogénicos(3)
, enquanto que para a grande parte dos
autores as fracturas verticais da raíz são atribuídas ao stress gerado dentro do canal durante a
obturação (especialmente a condensação lateral) ou à colocação de um espigão no canal.(4)
Segundo Hagay Shemesh et. al(7),
há dois factores que podem contribuir para o
desenvolvimento de fracturas verticais da raíz (FVR) durante o tratamento endodôntico: em
primeiro lugar, demasiada preparação do canal especialmente em dentes com raízes curvas, ou
canais ovais, e remoção excessiva de estrutura dentária contribuindo para um enfraquecimento
geral do dente; em segundo lugar, exercer pressão excessiva durante a condensação lateral e
vertical sobre o material obturador.
Tal como os autores anteriores, Malhotra et al(8)
consideram como factores etiológicos o
tratamento restaurador e o T.E.R. Adicionalmente, estes autores incluem os hábitos
parafuncionais. A seu ver, dentes sem cáries e sem T.E.R. e dentes posteriores sem restaurações
podem fracturar ocasionalmente devido a forças oclusais excessivas, levando a fracturas da raíz
por fadiga. Na perspectiva destes autores, tal facto pode ser observado em indivíduos com
músculos da mastigação muito desenvolvidos, com hábitos de mascar gelo ou consumir
alimentos abrasivos e com hábitos parafuncionais. Estes factores, quando presentes em
simultâneo, aumentam a possibilidade e o risco de aparecimento de uma FVR.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
12
Madarit et al(9)
estudaram a resistência às FVR de dentes de onde se fez a remoção de
instrumentos fracturados de diferentes locais do canal radicular com pontas ultrassónicas. Estes
concluíram que, enquanto a remoção de instrumentos fracturados do 1/3 coronal pode ser
considerado um procedimento seguro, a remoção de instrumentos em locais mais profundos do
canal diminui a resistência para FVR.
Em dentes sem tratamento endodôntico, as fracturas longitudinais da raíz são geralmente
associadas com “cracked teeth” ou “split teeth” e resultam geralmente de hábitos nocivos, de
forças em cunha sobre restaurações coronárias ou da colocação de espigões. Há poucas
referências a verdadeiras FVR em dentes sem tratamento endodôntico. Os relatos de dentes sem
T.E.R. com FVR são maioritariamente de populações chinesas e de indivíduos mais velhos. Não
se sabe qual a razão para esta frequência ser mais elevada neste grupo do que em outros grupos
étnicos. Vários factores foram sugeridos, tais como a dieta, que é diferente da dieta europeia, e
os hábitos parafuncionais. Os autores consideram ainda outros factores de risco para o
desenvolvimento de FVR em dentes sem T.E.R. tais como uma superfície oclusal desgastada,
alguns tipos de morfologia radicular (raízes finas, por exemplo) ou um aumento da densidade
óssea.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
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- Sinais e Sintomas
As FVR apresentam um desafio ao clínico na medida em que o diagnóstico é
frequentemente difícil e é baseado em parâmetros subjectivos.(6)
De facto, este pode ser
problemático e usualmente é uma previsão em lugar de uma identificação definitiva.(10)
A sua
apresentação clínica é muito variável. Não se conhece nenhum sinal ou sintoma patognomónico
ou característica radiográfica que torne o diagnóstico simples e definitivo.(2)
Os sinais e sintomas variam de acordo com a posição da fractura, tipo de dente, tempo
decorrido após a fractura, estado periodontal do dente e arquitectura do osso adjacente. Estes
dentes apresentam frequentemente uma longa história de desconforto ou dor, geralmente
associada a infecção crónica. A severidade da dor é habitualmente entre leve a moderada.
Raramente se verifica dor aguda. Estes dentes podem também apresentar história de dor à
mastigação.(6)
Em dentes sem T.E.R., na fase inicial os sintomas são mínimos ou estão
ausentes.(11)
Os sinais e sintomas mais comuns descritos na literatura são defeitos ósseos profundos e
fístulas. Os defeitos ósseos profundos (valores elevados de profundidade de sondagem),
especialmente na face vestibular dos dentes e raízes mais susceptíveis (pré-molares maxilares e
mandibulares e raízes mesiais dos molares mandibulares), foram encontrados em elevada
percentagem e com relevância estatística em vários estudos retrospectivos. Os autores
consideram que uma fístula na gengiva, especialmente se localizada coronalmente junto à
margem gengival (ao contrário das fístulas em casos de insucesso do T.E.R.) é também um sinal
típico para o diagnóstico das FVR.(2)
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
14
MATERIAIS E MÉTODOS
A revisão bibliográfica foi realizada na Pubmed para publicações dos últimos 10 anos,
utilizando as palavras-chave “Vertical root fractures”. Esta busca resultou em 144 artigos, dos
quais 93 foram seleccionados pelo título e idioma. Destes, 6 foram excluídos pelo índice de
relevância das revistas e 46 foram excluídos após leitura do resumo/abstract. Foram incluídos
artigos de revisão e séries de casos. Paralelamente, foi realizado um inquérito a médicos
dentistas e/ou estomatologistas colaboradores na Faculdade de Medicina Dentária da
Universidade do Porto, constando de 12 perguntas. Foi efectuada uma análise descritiva dos
dados estatísticos em SPSS, obtendo-se as frequências pretendidas.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
15
RESULTADOS
Foi obtido um total de 50 inquéritos realizado a médicos dentistas e/ou estomatologistas.
Segundo o inquérito realizado a médicos dentistas e estomatologistas, 52% destes tem
contacto com FVR entre 0 a 1 vez por mês.
Dos 50 médicos dentistas e estomatologistas que responderam ao inquérito, 28 considera
que as FVR são as mais comuns.
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Fracturas verticais
0-1/Mês
1-3/Mês
3-6/Mês
Mais de 6/Mês
Outro
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Considera mais frequente?
Fractura completa
Fractura incompleta
Outro
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25% dos médicos dentistas e estomatologistas inquiridos sobre a frequência das FVR,
consideram que estas são mais frequentes em dentes com T.E.R. e 24% dos mesmos consideram
que estas são mais frequentes em dentes com T.E.R. e em dentes com T.E.R. de indivíduos
bruxómanos.
Relativamente aos meios de diagnóstico utilizados para detectar uma FVR, 50% dos
inquiridos seleccionou “Outros” onde indicou as opções que considera úteis na resolução destes
casos. Das chaves escolhidas, a opção B – “Exame radiográfico” esteve presente em 100% dos
casos, a opção A – “Visão directa” em 67% dos casos, a opção D - “Testes de percussão” em
60%, a opção C - “Testes de vitalidade” em 30% e a opção E - “Métodos de coloração” foi
apenas utilizada em 6% das respostas.
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Considera mais frequente:
Mais frequente em dentescom TER
Sempre em dentes comTER
Mais frequente em dentesíntegros de pacientesbruxómanosMais frequente em dentescom TER de pacientesbruxómanosMais frequente em dentesreconstruídos com espigão
A+D
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Quais os meios de diagnóstico que utiliza?
Visão directa
Exame radiográfico
Testes de vitalidade
Teste de percussão
Métodos de coloração
Todos os anteriores
Outros
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
17
Relativamente à abordagem terapêutica em FVR incompletas, 52% dos inquiridos realiza
a extracção do fragmento fracturado,14% acompanha o dente sem efectuar qualquer intervenção,
12% faz a adesão dos fragmentos, 12% escolhe a opção “Outros” e 10% faz a extracção do
dente.
No caso das FVR completas, a grande maioria dos inquiridos, 88%, realiza a extracção do
dente, enquanto 6% faz a adesão dos fragmentos e outros 6% opta pela opção “Outros”.
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Qual o tratamento que utiliza no caso defracturas incompletas?
Acompanhamento semintervenção
Adesão dos fragmentos
Extracção do fragmentofracturado
Extracção do dente
Outros
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Qual o tratamento que utiliza em caso defracturas completas?
Acompanhamento semintervenção
Adesão dos fragmentos
Extracção do dente
Outros
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
18
Relativamente ao material de escolha para restaurar um dente com uma FVR incompleta
em caso de extracção de um fragmento, as respostas dos médicos dentistas foram muito díspares,
22% selecciona a opção “Outros”, 18% optava por compósito, 18% indica outro material, 18%
realizaria prótese fixa, 18% restaurava apenas após um período de observação e nenhum dos
inquiridos usaria amálgama.
No que toca à abordagem terapêutica, 52% dos inquiridos consideram que a extracção só
deve ser realizada quando o prognóstico destes dentes é mau, enquanto 48% considera que esta é
a melhor opção terapêutica.
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No caso de extracção do fragmento, restaura odente:
Imediatamente comcompósito
Imediatamente comamálgama
Imediatamente com outromaterial
Prótese fixa
Após período deobservação
Outros
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Considera a opção cirúrgica
A melhor opçãoterapêutica
Apenas utilizada quando oprognóstico destes dentesé mau
Outro
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
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DISCUSSÃO
Dos profissionais inquiridos, 52% tem contacto com FVR 0 a 1 vez por mês, contudo,
parecem conhecer os factores etiológicos que estão na sua origem, já que 30% refere que estas
fracturas são mais comuns em dentes com T.E.R. e outros 28% que as FVR são mais comuns em
dentes com T.E.R. e em dentes com T.E.R. de indivíduos bruxómanos, estando de acordo com a
literatura. Por outro lado, existe a concepção errada de que as FVR incompletas são mais comuns
com 48% dos inquiridos a seleccionar esta opção, quando na verdade todos os estudos de
incidência/prevalência realizados nesta área indicam o contrário.
- Meios de diagnóstico
O diagnóstico destas fracturas geralmente não é feito durante o tratamento endodôntico e
é obtido apenas anos mais tarde, levando a perda óssea, mau funcionamento do dente ou área
envolvente e dor.(7)
De facto, estima-se que o tempo médio entre a realização do T.E.R. e o
aparecimento de uma fractura vertical se situe entre os 39 e os 52 meses, com um intervalo de
entre 3 a 14 dias.(6)
Os meios de diagnóstico actualmente disponíveis para detectar a presença de uma FVR
incluem: transiluminação, radiografia, sondagem periodontal, aplicação de corantes, exploração
cirúrgica, teste de percussão, visualização directa e exame microscópico. Todos estes apresentam
sucesso limitado.(7)
As imagens radiográficos apenas podem revelar uma fractura se o cone de raio-x estiver
paralelo à linha da fractura, pelo que geralmente o diagnóstico radiográfico baseia-se noutros
achados como o tamanho, localização e forma de uma lesão perirradicular.(7)
Como a fractura
pode passar despercebida se o cone de raio-x não estiver paralelo à sua linha, recomenda-se que
sejam efectuadas 2 ou mais radiografias num ângulo de 4º para cada lado. Contudo, a
interpretação é difícil especialmente se a separação dos fragmentos ainda não tiver ocorrido
devido à presença de edema e tecido de granulação.(12)
Recentemente, a radiografia digital directa tem vindo a tornar-se um substituto da
radiografia em películas. A análise estatística mostrou que não existe diferença entre os dois
métodos.(13), (14)
A tecnologia digital oferece várias opções para melhorar a qualidade visual das
imagens de diagnóstico. Kamburoglu et al(15)
procuraram determinar os efeitos de melhoramento
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
20
da imagem digital na capacidade de detectar experimentalmente FVR induzidas, não tendo
encontrado diferenças na obtenção do diagnóstico utilizando diferentes técnicas. Tofangchiha et
al.(14)
realizaram um estudo semelhante onde comparavam a eficácia de diagnóstico de dois tipos
de efeitos de imagem: contraste de imagem e coloração – com radiografias digitais originais na
detecção de FVR. Os seus resultados indicaram que a exactidão da imagem original é maior que
a das imagens editadas. Na perspectiva dos autores, estas ferramentas devem ser encaradas como
um complemento para outros métodos de diagnóstico e não como um auxiliar altamente útil.
Os sinais radiográficos mais comuns são a aparência em “halo”, que é uma radiolucência
periapical e perilateral combinada num ou nos dois lados da raíz, radiolucência periodontal
lateral ao longo da raíz ou uma radiolucência angular desde a crista óssea até à raíz. Nos molares
mandibulares, pode observar-se com frequência uma radiolucência na área da furca, associado
aos outros tipos de radiolucência descritos em cima.(2), (16)
Os sistemas intraorais de radiografias 2D não permitem obter informação em 3D
relativamente aos dentes e estruturas adjacentes e a sobreposição de outras estruturas limita mais
ainda a sua sensibilidade. Assim, vários autores consideram que é necessário um sistema que
obtenha informação a três dimensões para avaliar o tratamento para os sistemas de raízes.(17)
A
incapacidade das técnicas de imagem convencionais para visualizar correctamente FVR cria a
necessidade do desenvolvimento de sistemas de imagem alternativos como a tomografia
computorizada (TC) por cone beam ou tomografia de volume digital.(12)
A revisão da literatura
demonstra que a TC é eficaz no diagnóstico de FVR.(18-25)..
Os casos clínicos documentados
relatam uma superioridade da TC na detecção de FVR relativamente às radiografias
convencionais, sendo que nestes artigos a TC revela FVR em dentes sem achados radiológicos
e/ou clínicos.(18, 20)
Da mesma forma, FVR recriadas em dentes extraídos(18, 20)
foram
identificadas por TC com sucesso. Os resultados de Khedmat et al(23)
indicaram que a presença
de guta-percha no canal reduz a eficácia, sensibilidade e especificidade da TC por cone beam.
Por outro lado, Zou et al(18)
relataram 3 casos de molares com FVR onde a TC contribuiu com
dados úteis para o diagnóstico tanto nos dentes com T.E.R. como nos dentes sem T.E.R., com
especial utilidade nos casos que não reuniam dados clínicos ou radiográficos para efectuar o
diagnóstico.
Têm também sido testados aparelhos de detecção de ápices para detectar fracturas
radiculares em alguns estudos devido aos princípios físicos em que se baseiam. Eles devem
detectar uma fractura radicular que atinja a câmara pulpar e devem detectá-la como um “ápice”,
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
21
desde o início da conexão periodontal até ao local da fractura.(26)
Os resultados destes estudos
são contraditórios. Topuz et al(26)
compararam a eficácia de dois aparelhos diferentes – TCM
Endo V e Tru Auto ZX e concluíram que ambos detectam fracturas radiculares com uma
quantificação razoável. Por sua vez, Kadi et al(27)
estudaram in vitro a eficácia de dois detectores
de ápices – Raypex-4 e Propex no diagnóstico de FVR, verificando que ambos produziam
resultados semelhantes e eram muito eficazes. Estes autores consideraram assim que estes
detectores podem ser um auxiliar útil, não apenas a determinar a existência de uma fractura, mas
também a sua localização exacta, que a seu ver irá ajudar o clínico a tomar a melhor opção
terapêutica. Pelo contrário, Aqeel K. Ebrahim et al(28)
compararam três aparelhos diferentes –
Root ZX, Foramatron D10 e Apex NRG e concluíram que nenhum dos três era fiável a detectar a
presença de fracturas verticais da raíz, ainda que fossem úteis no diagnóstico de fracturas
horizontais. Azabal et al(29)
avaliaram a eficácia do localizador de ápices Justy II concluindo que
este aparelho não era fidedigno para medir FVR.
Outro artigo relata o estudo do efeito de três detergentes na detecção de FVR pelo
DIAGNOdent com uma solução de azul de metileno. Os resultados indicam que 0.1 – 1% de éter
de octilfenil polioxietileno pode evidenciar a presença de uma FVR usando o DIAGNOdent com
uma solução de azul de metileno.(30)
Enquanto os sinais clínicos e radiográficos dão uma indicação razoavelmente certa de que
uma FVR está presente, a visualização directa é a única forma definitiva de confirmar a sua
presença em muitos casos.(6)
Os resultados do inquérito indicam que os médicos dentistas utilizam em grande parte o
exame radiográfico para diagnosticar FVR, ainda que a literatura indique que este método
apresenta muitas limitações na detecção destes casos. Apenas um inquirido referiu que utilizaria
a TAC, sendo que este é um dos meios que demonstra maior evidência científica no diagnóstico
eficaz das FVR. Nenhum dos inquiridos referiu a sondagem periodontal, método que é referido
por vários autores como sendo útil no diagnóstico das FVR uma vez que valores de sondagem
elevados associados a defeitos ósseos localizados são uma característica comum nestes dentes.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
22
- Opções terapêuticas
Os dentes com fracturas da raíz geralmente têm um mau prognóstico levando à extracção.
Várias abordagens têm sido testadas, contudo os resultados têm sido pouco conclusivos.(31)
Em 1984, Luebek et al cit in Malhotra et al(8)
propuseram 4 categorias básicas de
tratamento:
- Plano de Tratamento 1A - para FVR incompletas e supra-ósseas com polpa vital e sem
alterações radiográficas ou defeitos periodontais. Neste caso, Restauravam o dente com uma
coroa provisória e avaliaram após 3 meses. Se o paciente permanecesse assintomático,
cimentavam a coroa definitiva com ionómero de vidro. Se a polpa necrosasse, prosseguiriam
para o Plano de Tratamento 1B ou 2;
- Plano de Tratamento 1B - para FVR incompletas supra-ósseas com polpa não vital mas sem
alterações radiográficas ou defeitos periodontais. Restauravam com uma coroa metálica e
iniciavam terapia canalar com hidróxido de cálcio. Avaliavam o paciente de 3 em 3 meses. Após
9 a 12 meses de terapia com hidróxido de cálcio, se o nível ósseo permanecesse inalterado,
concluíam o T.E.R. e colocavam uma coroa permanente. Se uma bolsa periodontal se
desenvolvesse ao longo da linha de fractura, passavam para o Plano de Tratamento 2;
- Plano de Tratamento 2 - para FVR incompletas supra-ósseas com polpa necrosada e uma bolsa
periodontal ao longo da linha de fractura. A exploração cirúrgica estava indicada para visualizar
o defeito ósseo e a linha de fractura. Se a linha terminasse antes do defeito ósseo, o procedimento
de cirurgia periodontal poderia ser levado a cabo para restaurar o defeito. Dependendo do estado
pulpar, poderia ser iniciado o Plano de Tratamento 1A ou 1B. Nos casos em que a linha se
estendesse para além do defeito ósseo, poderia ser iniciado o Plano de Tratamento 3.
- Plano de Tratamento 3 - para FVR completas intra-ósseas com polpa necrosada, perda óssea e
bolsa periodontal. Para dentes mono-radiculares, a extracção estaria indicada. Para multi-
radiculares onde a fractura estivesse confinada a uma das raízes ou se evidenciasse na zona da
furca, estaria indicada amputação radicular, hemissecção ou extracção.
Sugaya, T. et al(32)
avaliaram clinicamente a cicatrização periodontal de uma fractura
vertical após fazer a adesão dos fragmentos da raíz com um cimento de resina adesiva 4-
META/MMMA-TBB. Fizeram dois grupos – no grupo A, composto por 11 raízes fracturadas,
fez-se a adesão intra oral das mesmas; no grupo B 12 raízes fracturadas foram aderidas extra
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
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oralmente e reimplantadas. Os dentes de ambos os grupos foram depois restaurados com coroas.
A hemorragia após sondagem, nos dois grupos, melhorou bastante 6 meses após o tratamento.
No grupo B, os locais de sangramento quase desapareceram. A profundidade de sondagem
também diminuiu bastante após 6 meses nos dois grupos. No grupo B, não foi detectada
anquilose após um período de 22 meses. Contudo, a anquilose pode ser diagnosticada após 5 a
10 anos em casos raros, pelo que os dentes neste grupo têm que continuar a ser acompanhados
mais prolongadamente. Estes autores concluíram que são necessários mais estudos para
estabelecer um método de tratamento para FVR com destruição periodontal avançada, já que a
regeneração óssea e a frequência de bolsas periodontais profundas permaneceram elevadas nos
dois grupos. Contudo, os resultados sugeriram que o tratamento de dentes com FVR usando esta
resina apresentava a possibilidade de um bom prognóstico.
S. Unver et al(33)
, Kawai K et al(34)
e Mine Ozturk et al(35)
relatam casos de dentes com
FVR onde se fez a adesão extra oral dos fragmentos destes dentes seguida de reimplantação com
sucesso, apresentando follow ups de 36meses, 3 anos e 4 anos, respectivamente.
Também Hayashi et al(36)
avaliaram o prognóstico a longo prazo da reimplantação de 26
dentes com FVR após adesão dos fragmentos com a resina 4-META/MMA-TBB. Destes 26
dentes, 18 permaneceram em boca, sendo que 6 tiveram sucesso, enquanto os restantes
necessitam de uma observação mais prolongada. 8 casos falharam a resposta ao tratamento
devido ao aparecimento de uma nova fractura e/ou devido a inflamação gengival recorrente. A
longevidade foi calculada por estes autores como sendo de 88.5% após 12 meses da
reimplantação, 69.2% após 36 meses e 59.3% após 60 meses. Todos os fracassos ocorreram em
pré-molares e molares. Os autores atribuíram este resultado às forças oclusais a que os dentes
posteriores são sujeitos e ainda ao facto de os incisivos, devido à sua localização e morfologia,
apresentarem maior facilidade de higienização do sulco gengival do que os molares. Neste
estudo, as fracturas longitudinais que se estendiam mais do que 2/3 desde a porção cervical até
ao ápice apresentaram uma longevidade muito mais reduzida quando comparadas com as
fracturas dentro da área dos 2/3. Estes autores concluíram que a reimplantação dos dentes com
FVR reconstruídas com resina adesiva pode ser considerada para os incisivos como uma
alternativa à extracção, ainda que o sucesso a longo prazo não seja o ideal, nem previsível com
exactidão.
Para garantir o sucesso do tratamento, S. Unver et al. e Mine Ozturket et al. relatam que
envolveram o dente fracturado numa solução de soro fisiológico após a extracção e durante a
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
24
reimplantação mantiveram os seus fragmentos do dente húmidos. Para ambos, o tempo em que
permaneceu fora do alvéolo foi inferior a 30min. Após a reimplantação as peças fracturadas
foram ferulizadas temporariamente aos dentes adjacentes com uma banda ortodôntica e/ou uma
resina adesiva. O contacto oclusal foi suprimido. Três semanas depois. S.Unver et al. removeram
a férula temporária e 3 meses após efectuaram a restauração com uma coroa. Mine Ozturk et al.
removeram a férula um mês depois para avaliar a mobilidade. Como esta se mantinha,
mantiveram a férula por mais um mês. Após este período, a mobilidade diminui pelo que a
retiraram de forma definitiva.
Kawai K. et al consideram que a selecção dos casos é o aspecto crucial desta técnica e
que as suas indicações são praticamente as mesmas que as da reimplantação. Para estes autores,
as chaves para o sucesso deste tratamento são as seguintes: os fragmentos separados devem ser
extraídos de forma atraumática e firmemente aderidos com uma resina adesiva; os tecidos
aderidos à superfície radicular tais como tecidos de granulação devem ser removidos, o mais
completamente possível e, por fim, quando os fragmentos do dente são aderidos com a resina
adesiva, deve-se fazer pressão entre si para que esta camada de cimento seja o mais fina possível.
Estes autores procederam à reimplantação com uma rotação de 180º por esta permitir que a linha
de fractura do dente fique em contacto com uma superfície óssea e um ligamento periodontal
saudável. Da mesma forma, Hayashi et al24
consideram que a reimplantação com rotação pode
ser uma opção para promover a formação de tecido periodontal à volta da fractura. Contudo, para
estes autores, a técnica apresenta limitações tais como curvaturas da raíz e a existência de
estruturas anatómicas tais como o seio maxilar ou o canal mandibular.
Spyros G. Floratos et al(37)
apresentaram 4 casos clínicos nos quais um molar maxilar, ou
mandibular, com T.E.R. apresentava um FVR incompleta com envolvimento de uma das raízes.
Sobre cada dente fez-se um retalho para visualizar o padrão de perda óssea e determinar a
extensão da fractura radicular. As superfícies radiculares foram coradas com azul de metileno e
inspeccionadas com uma ampliação de 12x através de um microscópio. Nos casos em que não
foi identificada nenhuma fractura na superfície radicular exposta, foi realizada uma apicectomia
de 3mm com o auxílio do microscópio. A porção de raíz extraída foi novamente corada com azul
de metileno e examinada com uma ampliação de 16x. Sempre que uma linha de fractura foi
identificada, a porção foi removida com uma broca de Lindermann, mantendo a superfície do
dente o mais lisa possível (o corte foi feito com um bisel de 0 a 10º). Num dos casos, a área
fracturada não foi completamente eliminada porque foi necessário preservar uma espessura
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
25
mínima de osso marginal - “ponte óssea” para se dar a união do periósseo e dos tecidos moles ao
dente e ao osso. De seguida, em todos os casos menos num, foi levada a cabo a obturação
retrógrada com MTA. A área sujeita a osteotomia foi coberta por uma membrana de colagénio
reabsorvível, que se estendia pelo menos 2mm em direcção a osso intacto para além das suas
margens. Posicionou-se a membrana cuidadosamente por baixo do periósseo e do retalho,
reposicionando este. Suturou-se o retalho na posição mais coronal. Estes autores consideraram
que a implementação de técnicas microcirúrgicas e de procedimentos, assistidos por
microscópio, podem ser o tratamento de eleição para FVR em dentes multirradiculares. A seu
ver, a elevada ampliação do microscópio permite aos clínicos examinar minuciosamente a linha
de fractura e preservar a parte intacta da raíz, permitindo assim a regeneração óssea completa à
volta da superfície radicular remanescente, e ainda a união dos tecidos moles da região. Assim
sendo, parece-lhes que a modalidade de tratamento que descreveram pode permitir a sobrevida e
função prolongada dos dentes com FVR.
Taschieri et al(36)
propuseram uma abordagem cirúrgica ligeiramente diferente. Estes
autores realizaram retalhos em 17 pacientes que apresentavam 1 dente maxilar anterior com uma
FVR incompleta, na face vestibular, para visualizar o padrão de perda óssea e determinar o tipo
de fractura.
Naqueles em que houve confirmação do diagnóstico, realizaram um sulco no seguimento
da linha de fractura com uma ponta de ultrassons e selaram com MTA, após preencher o defeito
ósseo com sulfato de cálcio. Repararam um total de 10 FVR. Após 12 meses, todos os casos
apresentavam sucesso clínico e radiográfico. Depois de 33 meses, 7 pacientes foram avaliados: 5
casos permaneceram com sucesso e 2 (incisivos laterais) falharam.
Selden et al(38)
relatou um tratamento conservador de 6 dentes com FVR incompletas
através do uso de um cimento de ionómero de vidro com um enxerto de osso, mas todos os casos
apresentados falharam a longo prazo.
Yin-Lin Wang et al(39)
testaram o efeito de um laser de CO2 de densidade, com energia
média, para aderir uma pasta de ionómero de vidro DP-bioactivo (DPGP) a uma FVR. A linha de
fractura radicular foi preenchida com DPGP seguida de irradiação com laser de CO2 e o
resultado foi analisado com o auxílio de um microscópio electrónico de varrimento (SEM). Os
resultados do SEM indicam que a fractura foi selada pelo DPGP com eficácia. Estudos anteriores
que utilizavam apenas o laser de CO2 para tratar FVR não tiveram sucesso porque era necessário
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
26
aquecer a dentina saudável na proximidade da fractura até ao seu ponto de fusão. Contudo, a
aplicação de um ponto de fusão mais baixo do DPGP em combinação com a irradiação do laser
de CO2 pode selar, com eficácia, a linha de fractura sem danificar a região não afectada que
envolve a mesma. A elevada temperatura induzida pela irradiação a laser não é uma preocupação
porque os dentes com FVR normalmente não são vitais. Consequentemente, os resultados deste
estudo sugerem que o DPGP em conjunto com o laser de CO2 pode ser uma alternativa para
tratar casos com FVR. Os autores indicam, contudo, que devem ser realizados estudos in vivo
para confirmar estes resultados.
Kurtzman et al(40)
apresentaram um caso clínico de um indivíduo do sexo masculino, com
40 anos, a quem diagnosticaram uma FVR na raíz distal do dente 47. Neste caso consideraram
que a hemissecção era a melhor abordagem terapêutica. Para os autores, a hemissecção é um
tratamento previsível com uma elevada taxa de sucesso se forem levadas a cabo as necessárias
considerações – formato da raíz, morfologia e comprimento clínico, referindo ainda a
divergência das raízes, uma indicação importante. A seu ver, quando uma das raízes está
saudável, a hemisecção pode ser usada para promover uma reanatomização para pré-molar. Por
outro lado, referem as conra-indicações, deste procedimento, como sendo uma arquitectura que
não permite um pós-cirúrgico fisiológico (levando a elevada necessidade de higenização em
casa) e um nível de osso alveolar insuficiente para sustentar a raíz remanescente. Da mesma
forma, se não for possível tratar a polpa da(s) raíz(es) remanescente(s) adequadamente ou se não
for possível restaurar o dente após o procedimento, consideram que a hemissecção não deve ser
realizada.
Tamse et al(16)
relataram dois casos onde consideraram a extracção de dentes com FVR
como inevitável. Apresentaram dois casos de dentes maxilares adjacentes com FVR. Tal como
em muitos destes casos, o primeiro diagnóstico foi de insucesso do T.E.R. O diagnóstico final
das fracturas foi feito radiograficamente no primeiro caso e por exploração cirúrgica no segundo.
Toure et al(41)
realizaram um estudo onde analisaram as razões para extrair dentes com
T.E.R., no qual concluíram que as fracturas verticais constituem 13.4% dos casos. Estes autores
citam ainda outros artigos que obtiveram percentagens semelhantes, como Fuss et al (10.9%) e
Zadik et al (8.8%).
De acordo com os inquéritos realizados, em caso de uma FVR incompleta, 52% dos
inquiridos levaria a cabo a extracção do fragmento fracturado, 14% realizaria acompanhamento
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
27
sem intervenção, 12% faria a adesão dos fragmentos e 10% faria a extracção do dente. Ainda que
52% dos inquiridos refira que considera que a extracção do dente só deve ser realizada quando o
prognóstico é mau, no caso de uma FVR completa, 88% dos inquiridos realizaria a extracção do
dente. Atendendo à revisão bibliográfica realizada, várias abordagens terapêuticas têm sido
testadas de forma a manter os dentes com FVR, tais como a adesão dos fragmentos intra ou
extra-oral, com ou sem reimplantação, ou a abordagem cirúrgica para visualização directa da
linha de fractura. Estes estudos carecem de follow ups longos para que se possa avaliar com mais
clareza o seu sucesso a longo prazo mas indicam que podem constituir uma alternativa à
extracção e podem ser eficazes se for realizada uma correcta selecção dos casos.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
28
CONCLUSÃO
As FVR constituem um desafio ao médico dentista, na medida em que são difíceis de
diagnosticar, já que não existe um método totalmente capaz de as identificar e não há qualquer
sinal patognomónico que permita confirmar a sua presença. Estas fracturas são frequentemente
mal diagnosticadas como insucesso de T.E.R. levando a abordagens terapêuticas erradas com
consequente perda óssea e aparecimento de fístulas associadas a estes dentes, muitas vezes
conduzindo à sua extracção.
Assim, parece importante investigar um meio de diagnóstico eficaz e relativamente às
abordagens terapêuticas experimentais, a realização de estudos com amostras maiores e que
apresentem “follow ups” mais alargados de forma a que os médicos dentistas as possam utilizar
com maior segurança e previsibilidade de resultados.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
29
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5.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
34
ANEXOS
- IMAGENS
Fig. 1 - Radiografia de dente com uma
FVR, onde não é possível visualizar a
linha de fractura mas se detecta uma
lesão perirradicular.
Fig. 2 – Fotografia de dente com FVR
incompleta
Fig. 2.1 – Fotografia de dente com
FVR incompleta depois da extracção
do fragmento fracturado
Fig. 2.2 – Fragmento do dente extraído
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
35
Fig. 3 – Fotografia de dente com FVR
incompleta, com cunha de madeira na
linha de fractura
Fig. 3.1 – Radiografia de dente
com FVR evidenciada pela
descontinuidade do T.E.R.
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
36
- TABELAS DE FREQUÊNCIA OBTIDAS NO SPSS
Frequency Percent Valid Percent Cumulative
Percent
Valid
1 26 52,0 52,0 52,0
2 9 18,0 18,0 70,0
3 4 8,0 8,0 78,0
4 6 12,0 12,0 90,0
5 5 10,0 10,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
Tabela 1 – Com que frequência tem contacto com FVR?
1 – 0-1 vez/mês; 2 – 1-3vezes/mês; 3 – 3-6/mês; 4 – 4/mês; 5 – Outro
Frequency Percent Valid Percent Cumulative
Percent
Valid
1 15 30,0 30,0 30,0
2 29 58,0 58,0 88,0
3 6 12,0 12,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
Tabela 2 – Qual o tipo de FVR que considera mais comum?
1 – Completa; 2 – Incompleta; 3 - Outro
Frequency Percent Valid Percent Cumulative
Percent
Valid
1,00 15 30,0 30,0 30,0
4,00 6 12,0 12,0 42,0
5,00 10 20,0 20,0 62,0
6,00 14 28,0 28,0 90,0
7,00 5 10,0 10,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
Tabela 3 – Qual considera como factor etiológico para surgimento de FVR?
1 – Mais frequente em dentes com T.E.R.; 2 – Sempre em dentes com T.E.R.; 3 – Mais frequente em dentes
íntegros de pacientes bruxómanos: 4 – Mais frequente em pacientes com T.E.R. de pacientes bruxómanos; 5 – Mais
frequente em dentes reconstruídos com espigões; 6 – (1+4); 7 – Outros
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
37
Frequency Percent Valid Percent Cumulative
Percent
Valid
1 6 12,0 12,0 12,0
2 5 10,0 10,0 22,0
5 3 6,0 6,0 28,0
6 11 22,0 22,0 50,0
7 25 50,0 50,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
Tabela 4 – Quais os meios de diagnóstico que habitualmente utiliza?
1 – Visão directa; 2 – Exame radiográfico; 3 – Testes de vitalidade; 4 – Testes de percussão; 5 – Métodos de
coloração; 6 – Todos os anteriores; 7 - Outros
Frequency Percent Valid Percent Cumulative
Percent
Valid
1 7 14,0 14,0 14,0
2 6 12,0 12,0 26,0
3 26 52,0 52,0 78,0
4 5 10,0 10,0 88,0
5 6 12,0 12,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
Tabela 5 – No caso de uma FVR incompleta, qual a sua abordagem terapêutica?
1 – Acompanhamento sem intervenção; 2 – Adesão dos fragmentos; 3 – Extracção do fragmento fracturado; 4 –
Extracção do dente; 5 - Outros
Frequency Percent Valid Percent Cumulative
Percent
Valid
2 3 6,0 6,0 6,0
3 47 94,0 94,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
Tabela 6 – No caso de uma FVR completa, qual a sua abordagem terapêutica?
1 – Acompanhamento sem intervenção; 2 – Adesão dos fragmentos; 3 – Extracção do dente; 4 - Outros
Fracturas verticais da raíz – diagnóstico e abordagem terapêutica
38
Frequency Percent Valid Percent Cumulative
Percent
Valid
1 9 18,0 18,0 18,0
3 9 18,0 18,0 36,0
4 9 18,0 18,0 54,0
5 9 18,0 18,0 72,0
6 14 28,0 28,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
Tabela 7 – No caso de extracção de fragmento, com que material restaura?
1 – Imediatamente com compósito; 2 – Imediatamente com amálgama; 3 – Imediatamente com outro material; 4 –
Prótese fixa; 5- Após período de observação: 6 - Outros
Frequency Percent Valid Percent Cumulative
Percent
Valid
1 24 48,0 48,0 48,0
2 26 52,0 52,0 100,0
Total 50 100,0 100,0
Tabela 8 – Considera a extracção a melhor opção cirúrgica ou realiza só em casos de
mau prognóstico?
1 – A melhor opção terapêutica; 2 – Apenas utilizada com o prognóstico dos dentes é mau; 3 - Outros