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0 UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE - CCBS CAMPUS AVANÇADA DE IGUATU – CAI CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM A PERCEPÇÃO DO CUIDADOR ACERCA DO TRANSTRONO AFETIVO BIPOLAR MEIRILÂNDIA DA SILVA DOMINGOS

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Page 1: Monografia - Correta

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE - CCBS

CAMPUS AVANÇADA DE IGUATU – CAI CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

A PERCEPÇÃO DO CUIDADOR ACERCA DO TRANSTRONO AFETIVO BIPOLAR

MEIRILÂNDIA DA SILVA DOMINGOS

IGUATU-CE

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2010

MEIRILÂNDIA DA SILVA DOMINGOS

A PERCEPÇÃO DO CUIDADOR ACERCA DO TRANSTRONO AFETIVO BIPOLAR

Projeto de pesquisa apresentado ao curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri – URCA, Campus Avançado de Iguatu como requisito parcial para a disciplina Monografia I.

Orientadora: Profª Especialista Milena Silva Costa.

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IGUATU – CE

2010

MEIRILÂNDIA DA SILVA DOMINGOS

A PERCEPÇÃO DO CUIDADOR ACERCA DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

Projeto de Monografia apresentado ao Curso de Graduação em Enfermagem da

Universidade Regional do Cariri – URCA do Campus Avançado de Iguatu como

requisito para aprovação na disciplina monografia I.

Data da aprovação: 24/11/2010

Banca Examinadora:

_____________________________________

Profª. Esp. Milena Silva Costa

Orientador

_____________________________________

Profª. Ms. Adriana Alves da Silva

Examinador I

________________________________________

Profª. Esp. Ylânia de Moura Souza

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3

Examinador II

DEDICATÓRIA

Page 5: Monografia - Correta

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Aos meus pais, Jose Jucinval Domingos e Maira de Lourdes da Silva Domingos que além de me incentivarem, nunca mediram esforços para me ajudar na vida acadêmica, ao meu namorado, Luis do Ó de Lima, um ser iluminado que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais importante da minha vida.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por sempre está presente em minha vida,

e por ter me concedido a graça do dom da vida e me amparar em todos os

momentos.

Aos meus pais, seres iluminados a quem devo tudo, os quais me educaram

com toda dignidade apesar das dificuldades, me fizeram vencer todos os obstáculos e

alcançar sempre os meus objetivos, pessoas impares que têm amor incondicional, e

não medem esforços para ajudar-me a ser uma vitoriosa, bem como a minha irmã,

Meiriane da Silva Domingos por me auxiliar nessa jornada.

A Maria Aparecida Pereira de Albuquerque, pessoa a qual esteve presente

nas principais fases da minha vida, que contribuiu de forma decisiva para minha

formação e torceu sempre por meu crescimento pessoal.

Ao meu namorado Luis o qual tenho imenso amor e gratidão por está ao

meu lado nas horas mais difíceis e me apoiar em todas as decisões.

Aos meus grandes amigos que me acompanharam de perto ao longo da

trajetória acadêmica, compartilhando alegrias, tristezas, algumas brigas, mas

principalmente boas risadas, Dominique Araújo de Freitas, Aline Sampaio de Sousa, e

em especial Hogna Dayany de Carvalho Monte e Irenylle Alves Patrício por me

ajudarem na realização dos trabalhos científicos ao longo da vida acadêmica.

Agradeço a cada um de vocês pela amizade e pelo ombro amigo nos momentos

difíceis, pessoas estas que estarão para sempre em minha vida.

A minha orientadora, a Professora Especialista Milena Silva Costa, por ter

contribuído para a construção e desenvolvimento desse projeto, com toda sua

experiência, competência, sabedoria, paciência e por todo apoio e dedicação.

Aos professores e colegas da Graduação que contribuíram com toda sua

experiência, repassando seu conhecimento.

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Page 7: Monografia - Correta

6

Não há ensino sem pesquisae pesquisa sem ensino.

Paulo FreireLISTA DE ABREVIATURAS E/OU SIGLAS

AFDM: Associação de Familiares de Doentes Mentais.

am: Americana.

Bras: Brasileira.

CAPS: Centro de Atenção Psicossocial.

CAPS ad: Centro de Assistência Psicossocial Álcool e Drogas.

CAPSi: Centro de Assistência Psicossocial Infantil.

CE: Ceará.

CCBS: Centro de Ciências Biológicas e da Saúde.

CID: Classificação Internacional de Doenças.

Cuid: Cuidado.

Clin: Clínica.

DSM: Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

ed: Edição.

Enf: Enfermagem.

ENSP: Escola Nacional de Saúde Pública.

Esc Escola.

ESF: Estratégia Saúde da Família.

Fls: Folhas.

gov: Governo.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

MS: Ministério da Saúde.

NAPS: Núcleos de Atenção Psicossocial.

n: Número.

OMS: Organização Mundial da Saúde.

Org: Organização.

Paul: Paulista.

p: Página.

Page 8: Monografia - Correta

7

Profª: Professora.

PSF: Programa Saúde da Família.

PMD: Psicose Maníaco-Depressiva.

Rev: Revista.

SC: Santa Catarina.

SDE: Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

SP: São Paulo.

Sr: Senhor.

Sr (a): Senhor ou Senhora.

Suppl: Suplemento.

TAB: Transtorno Afetivo Bipolar.

UBASF: Unidade Básica de Saúde da Família.

URCA : Universidade Regional do Cariri.

USP: Universidade de São Paulo.

v: Volume.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................09

2 OBJETIVOS.......................................................................................................13

2.1 Objetivo Geral.................................................................................................13

2.2 Objetivos Específicos......................................................................................13

3 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................14

3.1 História do Transtorno Afetivo Bipolar.............................................................15

3.2 Contextualizando o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB).....................................17

3.3 Aspectos Clínicos do TAB...............................................................................20

3.4 Diagnóstico do TAB.........................................................................................21

3.5 Tratamento do TAB.........................................................................................22

3.6 Medicamentos Utilizados no Tratamento do TAB...........................................24

3.7 Reforma Psiquiátrica e o TAB.........................................................................26

3.8 Estratégia Saúde da Família (ESF) e Centro de Atenção Psicossocial

(CAPS) na Atenção ao TAB..................................................................................30

3.9 O Papel da Família na Atenção ao paciente com TAB...................................34

3.10 Assistência Prestada ao Cuidador do Paciente com TAB.............................38

4 METODOLOGIA................................................................................................41

4.1 Tipo de Estudo................................................................................................41

4.2 Cenário da Pesquisa.......................................................................................41

4.3 Sujeito do Estudo............................................................................................42

4.4 Instrumento de Coleta de Dados.....................................................................43

4.5 Análise de Dados............................................................................................43

4.6 Aspectos Éticos e Legais da Pesquisa............................................................44

CRONOGRAMA...................................................................................................45

REFERÊNCIAS.....................................................................................................46

APÊNDICES........................................................................................................ 51

ANEXOS.................................................................................................................58

Page 10: Monografia - Correta

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1 INTRODUÇÃO

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é um transtorno do humor de longa

duração, que pode vir acompanhado com sintomas psicóticos potencialmente graves

e episódicos. É uma condição médica contínua, ou seja, para toda a vida, com

episódios recorrentes que trazem grande impacto na vida do paciente reduzindo seu

funcionamento e sua qualidade de vida (MORENO; MORENO; LAFER, 1999).

Aproximadamente 450 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais

propiciados por uma complexa relação entre os fatores genéticos e ambientais. Os

transtornos mentais e comportamentais estão entre os cincos na lista de causas de

morbidade em todo o mundo e é responsável por cerca de 5 a 15% das admissões

em hospitais (MIASSO, 2006).

Os transtornos de humor são os mais prevalentes, sendo o TAB, uma

doença crônica e grave que afeta cerca de 1,3% da população e apresenta grandes

taxas de morbidade. O curso dos transtornos de humor é considerado flutuante,

possuindo, uma característica de intervalos mais longos entre os episódios iniciais,

com intervalos menores posteriores, à medida que a doença progride. Os fatores de

risco para o desenvolvimento de transtornos de humor incluem a vulnerabilidade

genética e os estressores psicossociais globais, que podem deflagrar conjuntamente

a ocorrência de episódios completos (VIEIRA E SOARES, 2007).

É considerável que os transtornos mentais já sofreram e sofrem até hoje

preconceitos da sociedade, que estabelece um conceito de normalidade e acaba com

isso, excluído do convívio social toda e qualquer pessoa que não se enquadram

nesses termos.

O TAB está associado a elevadas taxas de morbidade, em relação ao seu

curso, prejuízo funcional e custo. Estima-se que o tratamento inadequado seja o

responsável pelos índices nos custos do transtorno. Contudo, as taxas de mortalidade

do TAB são de duas a três vezes maiores que o da população que não apresentam a

doença. (MORENO; MORENO; LAFER, 1999).

Page 11: Monografia - Correta

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A maioria dos transtornos tende a ser recorrentes e o início dos episódios

individuais é frequentemente relacionado com eventos ou situações estressantes,

essa recorrência é considerada a forma mais grave do transtorno do humor. Estima-

se que o número de episódios ao longo da vida é de aproximadamente nove, sendo

que 84% dos pacientes apresentam mais de cinco episódios, 69% mais de sete e

42%, mais de 11 episódios. Portanto, o paciente com TAB perde mais tempo doente e

com menos períodos de remissão relativa que em outras formas de transtorno do

humor por conta da alta taxa de recorrência de episódios na doença bipolar, podendo

permanecer doente por períodos consideráveis durante a vida (SOARES, 1999).

As limitações que o TAB impõe aos seus pacientes acabam restringindo os

mesmos ao tentar realizar algumas atividades, fazendo com que os pacientes se

sintam excluídos.

Moreno, Moreno e Lafer (1999), falam ainda que há uma classificação para

o TAB em I e II, sendo que o TAB I geralmente acomete homens e mulheres na

mesma proporção, contudo no TAB II a prevalência seja maior em mulheres. Já

existem diferenças entre os sexos na apresentação do primeiro episódio, em que os

sintomas maníacos são mais freqüentes em homens e os depressivos, em mulheres.

Porém não há diferença, na prevalência entre grupos raciais. O TAB tem início

precoce, com aparecimento dos sintomas entre os 15 e 19 anos e entre 20 e 24 anos.

Ressaltam ainda os autores que o primeiro episódio acontece na maioria

dos casos (provavelmente em 90%) antes dos 30 anos de idade. Mas os primeiros

sinais podem ser detectados por volta dos 16 anos e evidências da síndrome

completa aparecem por volta dos 19 anos. O primeiro tratamento não acontece antes

dos 22 anos, e a primeira internação se dá em média aos 26 anos. Vários episódios

depressivos tendem a ocorrer antes do aparecimento do primeiro episódio de mania.

Se diagnosticado de início tardio por volta dos 60 anos, o transtorno tende a seguir

com características menos típicas.

O TAB está categorizado nas duas principais classificações das doenças

mentais disponíveis no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais

(DSM IV) e no CID-10 onde o mesmo refere o TAB como F31 (FARIAS; BUCHALLA,

2005).

Segundo Portela (2001), a família é constituída por um sistema

interpessoal composta por pessoas que interagem por diversos motivos, como, uniões

de afeto e amizade. É compreendida como uma relação social ativa que durante o

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11

seu processo de crescimento, assume distintas posições em função de crenças,

valores e normas. Contudo, a família é o primeiro e principal ambiente de crescimento

e desenvolvimento, no qual o ser humano tem o alicerce para a formação de sua

personalidade assim como de seus modelos de relacionamentos.

Portanto a relação entre a família e o portador de transtorno mental é um

processo de extrema importância nas relações de convívio familiar, bem como com

diferentes pessoas, sendo assim a família ocupa papel principal para que aconteça

esse processo.

Distúrbios no convívio podem atuar como fator desencadeante da doença

mental e ao mesmo tempo a presença do doente no seio familiar pode induzir um

comportamento patológico. Frequentemente, as dificuldades encontradas pelas

famílias são conseqüências da vivência de situações estressoras para ambos, ou

seja, tanto para o familiar/cuidador que atua diretamente no seu cuidado como para o

doente mental. O cuidador é aquele que defende a função principal e quem sabe até

singular da família na decisão do aparecimento da doença mental em um dos seus

familiares (SOUZA et al, 2001).

Os autores supracitados falam ainda que, quando há uma pessoa

portadora de transtorno mental na família, certamente ocorrem alterações, tanto na

sua rotina como nos planos de vida, o dia a dia com o doente mental é uma tarefa

árdua, onde seus familiares apresentam algum tipo de sobrecarga, quer seja ela

financeira, na rotina, emocional e na doença física.

A partir da problemática encontrada surgiram os seguintes

questionamentos: Quais os significados da doença mental para a família? Quais as

vivências do cuidador frente aos cuidados dispensados ao adulto com TAB? Como

acontece a assistência ofertada na atenção à saúde desses cuidadores?.

O presente estudo tem como justificativa, trabalhar o tema família e doença

mental decorrente do interesse de compreender como se dá a vida cotidiana do

familiar de portadores de transtorno mental, sua convivência com a doença e/ou

doente mental e identificar as representações por eles construídas a respeito do

fenômeno saúde doença mental, face às transformações paradigmáticas que estão a

orientar este campo da saúde mental.

A motivação de realizar um trabalho acadêmico com esse tema foi o fato de

conviver diretamente com uma pessoa portadora de TAB, e também por ser um tema

interessante e ao mesmo tempo com poucos estudos realizados. Pretende-se

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12

investigar e socializar o conhecimento de como esses familiares se sentem no papel

de cuidador de uma pessoa portadora desse transtorno.

O estudo torna-se relevante por se propor apresentar a importância da

participação da família no processo de reabilitação do portador de TAB, e facilitar a

compreensão do cuidador na realização de suas atividades frente a essa clientela. O

mesmo tem como finalidade mostrar a atuação do profissional da saúde no

acompanhamento do paciente/família na visão do cuidador.

Espera-se com os resultados desse estudo facilitar a procura de novas

alternativas que propiciem um melhor cuidado para esses familiares que atuam

diretamente no cuidado dos pacientes com transtornos mentais, e também

proporcionar uma assistência humanizada no campo da saúde mental que seja

voltada para os mesmos, além de disseminar novos conhecimentos sobre a temática

e estimular a continuidade de estudos sobre o TAB.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral:

Conhecer os significados de ser cuidador do adulto com Transtorno Afetivo

Bipolar

2.2 Objetivos Específicos:

Descrever o perfil social e econômico do cuidador

Investigar as vivências do cuidador frente aos cuidados dispensados ao

adulto com Transtorno Afetivo Bipolar

Averiguar a assistência ofertada na atenção à saúde do cuidador

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 História do Transtorno Afetivo Bipolar

Para podermos iniciar uma reflexão sobre o transtorno afetivo bipolar (TAB)

é preciso voltar até a antiguidade através das literaturas, onde inicialmente

desenharei um panorama histórico sobre esse transtorno.

A cerca de dois mil anos já se tinha descrições sobre transtorno mental,

durante o século IV a. C., Hipocrates acreditava que as doenças mentais eram

derivadas de um distúrbio no humor e foi ele quem classificou mania e depressão

como duas das seis possíveis formas de loucura. Ele relatava melancolia como um

estado de tristeza associada a vários sentimentos contraditórios, como irritabilidade,

inquietude, medo, entre outros. (ALCÂNTARA et al ,2003).

A história da loucura ou doença mental é referida desde a origem da

civilização, onde o individuo que fosse considerado anormal era abandonado para

acabar morrendo de fome ou até ser atacado por animais (SPADINI; SOUZA, 2006).

Com relação à literatura de Souza et al (2001), durante o passar dos

tempos, a loucura foi compreendida sob diferentes pontos de vista e tratada de

diversas formas, considerando-se o acordo de mundo pelo homem, o entendimento

pela sociedade e as relações de negócio que marcam cada época. O primeiro

exemplo de loucura foi mitológico, onde as alterações de conduta e de consciência

eram delimitadas por deuses da antiguidade. Contudo por volta dos séculos XVI e

XVII, a loucura passou a ser considerada um problema social e era justificada pela

culpa e pecado do homem.

A psiquiatria brasileira vivenciou quatro momentos distintos no decorrer da

sua história. O primeiro está compreendido entre os anos de 1500 a 1817, e é

caracterizado pela descoberta do Brasil, onde a loucura não era vista como uma

enfermidade. O segundo vivenciado entre 1817 e 1852, marcado pela vinda da família

real ao Brasil, contudo é durante esse período que a loucura começou a ser notada e

passou a receber tratamento. O terceiro período é apontado pela significativa

Page 16: Monografia - Correta

15

transformação no tratamento aos portadores de transtorno mental, onde os mesmos

eram recolhidos de locais públicos e encaminhados para hospícios. Em 1890 da inicio

ao quarto período que se estende até 1941, é caracterizado pela criação de asilos e

da assistência médica legal aos alienados (TAYLOR, 1992).

Os indivíduos desocupados que vagavam pelas ruas, passaram a

representar um problema para a sociedade em relação ao seu desenvolvimento.

Esses sujeitos eram considerados improdutivos, incapazes e periculosos, portanto

eles deviam ser extraídos do convívio social fornecendo-lhes um tratamento moral.

Diante dessa situação passaram a existir as casas de correção, ou seja, locais onde

os indivíduos que apresentassem algum tipo de transtorno mental, eram isolados do

convívio social (SOUZA, 2001).

As santas casas passaram a abrigar em seus porões, as pessoas

consideradas “anormais” sob condições muitos precárias de sobrevivência. Contudo

foi no final do século XVIII e início do século XIX, que a loucura passou a ser

designada como doença mental e, portanto passível de intervenções médicas. Diante

desse contexto, nasce a psiquiatria enquanto especialidade médica, a qual é baseada

no positivismo como as demais ciências, onde o doente mental não era visto como

ser biopsicossocial acreditava-se que a origem dos transtornos psiquiátricos estava

no corpo dos pacientes, no qual o mesmo era submetido a qualquer tipo de

tratamento. (SPADINI; SOUZA, 2006).

Ressalta ainda os autores que foi a partir dessa situação, que a assistência

ao paciente com transtorno mental nos hospitais gerais passou a ser vista como

insuficiente e imprópria. Conseqüentemente deu início o debate para a criação de um

local exclusivo para o tratamento do doente mental. Nesse contexto foi criado o

primeiro hospício em 1852, como conseqüência de várias acusações de

precariedade.

No inicio do século XIX surge na França Philipe Pinel, médico psiquiatra

que mudou totalmente a história da assistência prestada aos doentes mentais dando

inicio a humanização da assistência. Toda via essa mudança na assistência

permanece no modelo custodial, ou seja, conduzida com precaução, restrição e

contenção (TEIXEIRA, 2001).

Segundo Miasso (2006), durante a metade do século XIX surgiram os

primeiros conceitos sobre transtorno de humor referido pelos franceses Jules Falret e

J. F. Baillarger cujos mesmos descreveram formas alternantes de mania e depressão

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16

que representariam diferentes manifestações de uma única doença. Essa

corresponderia às primeiras concepções explícitas da doença maníaca- depressiva

como uma entidade nosológica.

Foi no mesmo século que Emil Kraeplin apresentou o seu conceito sobre

as depressões, tal qual a forma como elas são explicadas nos tempos atuais, ele

introduziu o termo Psicose Maníaco-Depressiva (PMD), atualmente denominada de

Transtorno Afetivo Bipolar (TAB). As idéias de Kraepelin trouxeram para a psiquiatria

um modelo médico firmemente enraizado em observações clínicas, quanto à

sintomatologia e evolução ao longo do tempo, foram de extremo valor e continuam

férteis até hoje (ALMEIDA; DRATCU; LARANJEIRA, 1996).

Com relação à literatura de Alcântara et al (2003), Kraepelin colocou

especial ênfase nas características da doença que claramente a diferenciava da

demência precoce, o curso periódico ou episódico, o prognóstico benigno e a história

familiar de quadros homólogos (maníaco-depressivos). Seu trabalho nosológico foi

decisivo para sintetizar os pensamentos de sua época.

O autor supracitado ressalta ainda que foi no final do século XIX, que se

fortaleceu a idéia de que os estados depressivos não tinham apenas causas

endógenas, surgindo assim diferentes classificações, como por exemplo, depressão

reativa, depressão neurótica, depressão de esgotamento, entre outras. E foi com este

panorama que se concretizou a hipótese de que a depressão tem causa multifatorial.

No inicio do século XX Sigmund Freud, médico neuropsiquiatra trouxe

significativas mudanças na assistência psiquiátrica com a introdução da psicanálise,

surgindo então uma nova visão do ser humano como um todo quer dizer um ser

biopsicossocial, considerando ainda sua história de vida como um fator dominante

para os transtornos mentais (TEIXEIRA, 2001).

Os episódios maníacos têm inicio repentino e sua duração pode ser de

duas semanas, podendo durar de quatro a cinco meses. A depressão geralmente dura

mais tempo por volta de seis meses e raramente por mais de um ano com exceção os

idosos. Os dois tipos de episódios podem ser resultado de eventos de vidas

estressantes ou traumas mentais, porém a presença desses estresses não é

suficiente para o diagnostico. O autor fala ainda que o termo psicose maníaco-

depressiva inclua o pacientes que sofrem apenas de depressão, já o termo transtorno

ou psicose maníaco-depressiva é usado como um sinônimo para o TAB (PORTO,

1999).

Page 18: Monografia - Correta

17

O autor fala ainda que o CID-10 representa um instrumento útil para os

dados de saúde, fazendo com que haja uma monitoração das diferentes causa de

morbidade e mortalidade havendo a necessidade de conhecer o que acontece com os

pacientes após o seu diagnóstico, e com o passar do tempo principalmente em

relação às doenças crônicas e aos acidentes tornando-se essencial para a área de

saúde.

De acordo com Brasil (2006), foi durante a III Conferência Nacional de

Saúde Mental, realizada no ano final do ano de 2001, que foi reafirmada a saúde

como um direito de todo cidadão e dever do estado e, além disso, a obrigação de

garantir que as políticas de saúde mental sejam dirigidas pelos princípios de

integralidade, universalidade, equidade, conhecimento e controle social de todas as

esferas de governo com base nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O

autor diz que esse redirecionamento do modelo assistencial é fundamentado numa

concepção de saúde como um método na perspectiva de aumento na qualidade de

vida, focalizando ações integrais e promocionais de saúde.

3.2 Contextualizando o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB)

O TAB é caracterizado por alterações no humor, com recorrência de

episódios depressivos e maníacos e também episódios mistos de mania e de

depressão, podendo assim ser denominado de transtorno maníaco-depressivo

(MIASSO; CASSIANI; PEDRÃO, 2008).

De acordo com Braga, Kunzler, Hua (2008) o TAB é descrito há muitos

anos, mas só agora recebeu um enfoque especial. O transtorno pode surgir por volta

dos 20 anos, embora alguns casos se iniciem durante a adolescência e outros

possam aparecer mais tarde após os 50 anos.

Os autores relatam que a forma clínica do transtorno durante a infância e a

adolescência se apresenta de maneiras diferentes na vida adulta. A criança pode se

apresentar de maneira hiperativa, com insônia, distratibilidade, delírios de grandeza,

promiscuidade sexual, uso de substâncias ilícitas e comportamentos de risco. Durante

a fase da adolescência, os sintomas mais freqüentes são uma alternância entre o

estado depressivo e maníaco, seguido de irritabilidade, ansiedade, instabilidade

afetiva, entre outros. Os autores acreditam que comportamentos atribuídos

inicialmente as alterações de personalidade podem dever-se a uma grave

Page 19: Monografia - Correta

18

desregulação do afeto, em que a labilidade do humor e sensibilidade interpessoal

ocupa posição central.

Os transtornos mentais são consequências de fenômenos de natureza

biopsicossocial, ou seja, há sempre uma necessidade de entender as diversas

dimensões da vida ainda que seja só no desejo de se construir modelos temporários.

Para o autor os avanços relacionados à área de saúde mental fizeram com que se

tornasse imprescindível uma atitude de esperança, visando possibilitar novos

benefícios na terapêutica, e também de cautela, com o intuito de analisar de forma

crítica as mudanças empíricas e conceituais iniciadas por eles, e o transtorno bipolar

é um exemplo disso (BERNARDI, 2007).

O TAB é uma doença crônica e grave caracterizada pelas recorrentes

alterações patológicas de humor, chegando a afetar em média 1,3% da população,

seu trajeto é considerado flutuante, possuindo uma característica de intervalos

menores de acordo com a progressão da doença. Considerando o comprometimento

medido por meio de vários parâmetros, incluindo funcionamento físico e dias de

cama, o TAB é responsável por cerca de 15% das novas admissões psiquiátricas

hospitalares mais prolongadas, consumindo recursos consideráveis dos sistemas de

saúde (VIEIRA; SOARES, 2007).

De acordo com os autores Kapczinski, Freyi, Zannatto (2004), nos últimos

30 anos, a neuroquímica é a área que vem recebendo maior destaque nas pesquisas

sobre a fisiopatologia da depressão. Esse acontecimento teve início a partir do

descobrimento do mecanismo de ação dos antidepressivos. Além disso, estudos

farmacológicos evidenciaram atividade neuroprotetora dos estabilizadores de humor

frente a uma série de modelos de neurotoxicidade e pesquisas recentes identificaram

que a ação terapêutica destes fármacos envolve a regulação de inúmeros sistemas

de sinalização intracelulares, segundos mensageiros e regulação da expressão

gênica.

Os fatores de risco para o desenvolvimento do transtorno incluem a

vulnerabilidade genética associada a influências psicossociais, que em conjunto

podem aumentar a frequência de episódios completos. Frequentemente os primeiros

episódios ocorrem associados a estressores psicossociais, mas não exerce influência

significativa nos episódios subseqüentes (VIEIRA; SOARES, 2007).

Com relação à literatura de Keila (1999), quando o paciente com TAB é

submetido a estressores psicológicos, social ou físico, pode vir a desenvolver um

Page 20: Monografia - Correta

19

problema no funcionamento de seus neurotransmissores decorrentes a distúrbios

bioquímicos, instabilidade na transmissão dos impulsos nervosos no cérebro. É

sabido, que alterações no ciclo circadiano (sono-vigília) podem interferir no adoecer,

produzindo manifestações comportamentais ou sintomas.

O TAB é caracterizado por dois ou mais episódios onde o humor e os

níveis de atividade do sujeito estão notoriamente perturbados, visto que este distúrbio

está relacionado a alterações de humor, aumento da energia e da atividade

(hipomania e mania), também pode ser observado uma diminuição do humor, redução

da energia e consequentemente da atividade (depressão). A recuperação entre os

episódios é frequentemente completa e a prevalência em ambos os sexos tem a

mesma proporção. Pacientes que apresentam apenas episódios repetidos de mania

ou hipomania são classificados como bipolares. (OMS/CID-10, 1993).

De acordo com Sanches e Jorge (2004) a partir de 1993, a Organização

Mundial de Saúde (OMS), através da Classificação Internacional de Doenças (CID-

10), começou a adotar critérios para classificar os transtornos mentais são eles:

F31 - Transtorno afetivo bipolar (TAB): pode ser classificado, de acordo

com o tipo do episódio atual, em hipomaníaco, maníaco ou depressivo. Portanto os

episódios maníacos são subdivididos conforme a presença ou ausência de sintomas

psicóticos.

F31. 0 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual hipomaníaco:

correspondente à ocorrência de um episódio hipomaníaco tendo ocorrido, no

passado, pelo menos outro episódio afetivo (hipomaníaco, maníaco, depressivo ou

misto).

F31. 1- Transtorno afetivo bipolar episódio atual maníaco sem sintomas

psicóticos: correspondente à descrição de um episódio maníaco sem sintomas

psicóticos, tendo ocorrido, no passado, ao menos outro episódio afetivo

(hipomaníaco, maníaco, depressivo ou misto).

F31. 2 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos: é a ocorrência de um episódio maníaco com sintomas psicóticos ocorrendo

pelo menos um episódio afetivo (hipomaníaco, maníaco, depressivo ou misto).

F31. 3 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo leve ou

moderado: é a ocorrência de um episódio depressivo de intensidade leve ou

moderado, havendo a ocorrência de pelo menos um episódio afetivo hipomaníaco,

maníaco ou misto bem comprovado no passado.

Page 21: Monografia - Correta

20

F31. 4 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo grave sem

sintomas psicóticos: é caracterizado pela ocorrência de um episódio depressivo grave

sem sintomas psicóticos, tendo ocorrido, ao menos um episódio afetivo hipomaníaco,

maníaco ou misto bem documentado no passado.

F31. 5 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo grave com

sintomas psicóticos: é caracterizado pela ocorrência de um episódio depressivo grave

com sintomas psicóticos, devendo haver ocorrido, no passado, ao menos um episódio

afetivo hipomaníaco, maníaco ou misto bem comprovado.

F31. 6 - Transtorno afetivo bipolar, episódio atual misto: corresponde a pelo

menos um episódio afetivo maníaco, hipomaníaco ou misto bem documentado, e

episódio atual caracterizado pela presença conjunta de sintomas maníacos e

depressivos ou por uma alternância rápida de sintomas maníacos e depressivos.

F31. 7 - Transtorno afetivo bipolar, atualmente em remissão: corresponde a

pelo menos um episódio afetivo maníaco, hipomaníaco ou misto comprovados, e de

ao menos outro episódio afetivo hipomaníaco, maníaco, depressivo ou misto, porém

sem nenhuma perturbação significativa do humor, nem atualmente nem no curso dos

últimos meses.

F31. 8 - Outros transtornos afetivos bipolares: são observados a presença

de transtorno bipolar II, e episódios maníacos recorrentes.

F31. 9 - Transtorno afetivo bipolar não especificado.

3.3 Aspectos Clínicos do TAB

Existem dois tipos de TAB classificados de acordo com critérios

diagnósticos. O transtorno afetivo bipolar tipo I (TAB I) é caracterizado pelos episódios

maníacos recém-descritos, com ou sem crises de depressão. O transtorno afetivo

bipolar tipo II (TAB II) é caracterizado por hipomania, uma forma mais leve de mania

que não está associada com a ocorrência de julgamentos inadequados, visto que em

alguns casos como aumento na eficiência, na criatividade e nas realizações

(MIASSO, 2006).

Ressaltam Alcântara et al (2003), que o TAB I inclui a ocorrência de

episódio maníaco único, mais especificamente, episódios hipomaníaco, maníaco,

depressivo, misto ou inespecífico. O TAB II, hipomania associada à pelo menos um

episódio depressivo com duração de mais ou menos quatro dias. Especifica o

Page 22: Monografia - Correta

21

episódio atual como hipomaníaco ou depressivo. Estudos sobre as diferentes formas

do transtorno bipolar incluem as formas típicas da doença bipolar (bipolar I, com pelo

menos uma fase maníaca), passando pelas depressões associadas à hipomania

(bipolar II) até as depressões recorrentes, sem hipomania espontânea, mas

freqüentemente associadas ao temperamento hipertímico e/ou à história de transtorno

bipolar na família. Estes últimos casos são chamados de "bipolar III" ou de "pseudo

unipolares”.

As modificações no humor dos pacientes bipolares II e III, avaliados fora

das crises, são frequentemente ciclotímico, ou seja, uma alternância entre leves

depressões e hipomania. Nos pacientes bipolares III, não é observada uma mudança

para a hipomania espontaneamente. Contudo frequentemente ocorre fases de

hipomania, ou maníacas associadas ao uso de medicações antidepressivas ou

eletroconvulsoterapia. É necessário atentar-se que vários pacientes têm história

familiar de transtorno afetivo bipolar levando em conta que é muito difícil estabelecer

história fidedigna com relação a antecedentes familiares de bipolaridade (PORTO,

1999).

O autor fala ainda que a origem das crises, com relação à vida profissional,

familiar e no relacionamento social, está frequentemente associada às flutuações do

humor apresentadas nos pacientes bipolares II e III. Esses pacientes quando

expostos a períodos de alteração no humor e liberação de impulsos tanto sexuais,

quanto agressivos, são classificados de maneira incorreta como tendo um transtorno

de personalidade. Geralmente o excesso e a dependência da adição de álcool e

drogas ocorrem como complicações das doenças do espectro bipolar, devido à

freqüência com que essas substâncias são usadas.

3.4 Diagnóstico do TAB

Segundo Keila (1999), é importante ressaltar que quando se faz o

diagnóstico de TAB, além dos sintomas, do curso e da história da doença, devem ser

levados em conta o mundo interno, o grau de sofrimento do paciente e a interpretação

subjetiva que ele dá ao seu problema. Nesse sentido, é que durante o atendimento ao

paciente temos que valorizar a escuta e a compreensão do sentido que ele atribui ao

seu sofrimento e à sua doença, dando ênfase à sua experiência subjetiva.

Page 23: Monografia - Correta

22

De acordo com Braga, Kunzler, Hua (2008), se o TAB for diagnosticado

precocemente permite realizar intervenções terapêuticas, com o propósito de diminuir

os sintomas e proporcionar uma melhora na vida dos pacientes com esse transtorno.

Os autores ainda falam que se diagnosticado incorretamente, o paciente é exposto à

utilização desnecessária de psicoestimulantes e/ou antidepressivos. E se

diagnosticado tardiamente pode tornar o paciente resistente a medicação.

O diagnóstico dos estados depressivos deve levar em conta, antes de

qualquer coisa, se os sintomas depressivos são primários ou secundários a doenças

físicas e/ou ao uso de drogas e medicamentos. Para eles o abuso de substâncias

ilícitas impacta de maneira negativa no desfecho a curto e longo prazo, através

modificação tanto da aderência como da resposta ao tratamento. Destacam também a

importância de um diagnostico precoce e correto para se prevenir os efeitos deletérios

em longo prazo. Eles falam que a demora no começo do tratamento, assim como um

tratamento incorreto contribui para um desfecho ruim do transtorno (VIEIRA;

SOARES, 2007).

3.5 Tratamento do TAB

Nos últimos anos houve aumento significativo em relação ao número de

estudos publicados sobre o tratamento do TAB. A maior parte destes descreve a

respeito das fases de mania e da profilaxia, sendo que, o tratamento dos episódios

depressivos tem recebido menor atenção. O TAB é considerado uma condição

complexa e não existe um tratamento único comprovadamente eficaz no controle de

todos os seus aspectos (TAMADA; LAFER, 2003).

O tratamento dos transtornos mentais tem por objetivo controlar de forma

eficaz a sintomatologia do paciente e é constituído por duas modalidades, a

farmacológica e a não farmacológica. A partir da década de 50, iniciou-se o

desenvolvimento da psicofarmacologia inclusive o uso generalizado de medicamentos

antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos. A psicofarmacoterapia consiste no

tratamento do TAB com psicofármacos que são denominados de medicamentos

psicotrópicos, psicoativos ou ainda de psicoterapêutico. A escolha da abordagem para

o paciente com TAB, não depende exclusivamente do conhecimento sobre a eficácia

dos tratamentos já existentes, mas também em relação aos riscos associados. Como

o TAB é crônico, a adesão ao tratamento é fundamental importância para aumentar a

Page 24: Monografia - Correta

23

chance de melhorar o prognóstico, e sua eficácia está diretamente relacionada à

adesão (STAHL, 2002).

O tratamento do TAB é dividido em três fases: aguda, continuação e

manutenção. A fase aguda tem como finalidade, tratar a fase maníaca sem causar

depressão e/ou aperfeiçoar a depressão sem ocasionar mania. A fase de continuação

tem como objetivo estabilizar os benefícios, diminuir os efeitos colaterais, tratar,

reduzir probabilidade de recaídas e ampliar o funcionamento global. Já a fase de

manutenção tem como meta a prevenção da fase maníaca e/ou depressiva e

aumentar a recuperação funcional (SOUZA, 2005a).

O autor ressalta ainda que o aparecimento de sintomas durante a fase de

continuação consiste em uma recaída enquanto que, se esses mesmos sintomas

ocorressem na fase de manutenção, seria uma recorrência. Ainda que o tratamento

clínico do TAB aconteça durante a fase de manutenção, há poucas evidências de

caráter científico para orientar que drogas deveriam ser utilizadas para manter a

eutimia, ou seja, período em que o paciente esta assintomático.

O TAB apresenta altos índices de comorbidade psiquiátrica, chegando a

duas ou mais condições associadas. Dentre elas, a dependência química é a mais

freqüente, sendo três vezes mais elevada que na depressão unipolar, podendo vir a

confundir o diagnóstico e dificultar sua aderência ao tratamento em longo prazo; há

também diferentes transtornos de ansiedade, transtorno do déficit de atenção e

hiperatividade são entidades clínicas frequentes do TAB. Podemos concluir que o TAB

é uma doença médica crônica que ameaça a vida, é potencialmente progressiva e

deteriorante. O tratamento precoce pode alterar seu curso, e deve ser mantida a vida

toda (MORENO; MORENO; LAFER, 1999).

De acordo com Keila (1999), faz-se necessária a utilização de uma

aproximação psicossocial e psicológica diante do tratamento do TAB, para aceitação

de que o distúrbio tem uma determinação neurobiológica e genética, mas também

que é fortemente lesada pelo contexto ambiental e psicológico. Há muitas evidências

que mostram os eventos estressantes da vida e os relacionamentos familiares afetam

diretamente o funcionamento dos pacientes. Contudo a introdução do lítio, que teve

início durante os anos 70, trouxe esperança a pacientes e familiares, pois o mesmo

tornou os pacientes com transtornos capazes de trabalhar, socializar-se e estabelecer

um convívio familiar adequado.

Page 25: Monografia - Correta

24

Os resultados obtidos com o tratamento medicamentoso acarretaram uma

implicação importante, de que devemos fornecer aos pacientes com transtornos, mais

do que só medicação, podem ajudar a minimizar o intervalo entre as crises, reduzir a

severidade dos episódios, melhorando assim o funcionamento social entre uma crise

e outra, e ajudar o paciente na aderência ao tratamento, enfatizando a importância do

uso da medicação (MIKLOWITZ; GOLDSTEIN, 1997).

Portanto o tratamento medicamentoso, apesar de proporcionar uma grande

melhora na vida dos pacientes e de seus familiares, sozinho ele não é suficiente para

acabar com os efeitos desastrosos dessa doença. O trabalho de orientação e de

psicoterapia com a família pode contribuir no tratamento, pois a família ajuda o

paciente a aceitar a realidade da doença e a necessidade de tomar medicação por

longo tempo, garantindo de forma eficaz a adesão ao tratamento.

Há relatos evidenciados em estudos que os medicamentos antidepressivos

podem causar mania nos pacientes com TAB baseando-se na porcentagem de 0 a

94,5% dos casos, dependendo de alguns critérios como a história prévia do paciente,

do uso concomitante de estabilizadores do humor e do antidepressivo em utilização.

Contudo o uso de antidepressivo pode alterar a freqüência dos episódios, levando a

ciclagem rápida. Sendo assim a escolha de terapêutica adequada ao paciente com

TAB, não depende exclusivamente do conhecimento sobre a eficácia dos tratamentos

em uso, mas também dos riscos associados (TAMADA; LAFER, 2003).

Com relação à literatura de Miasso (2006), durante o tratamento do TAB é

necessário o envolvimento do manejo durante as fases agudas e de manutenção. Na

fase aguda procura-se conter de maneira imediata os sintomas através da

farmacologia ou por meio de internação para proteção do paciente. Esses episódios

são tratados com antidepressivos inibidores da serotonina por apresentar menor

indução dos episódios maníacos (euforia) ou hipomaníaco.

A autora fala ainda que as fases maníacas possam ser controladas por

antidepressivos tricíclicos como, carbonato de lítio, ácido valpróico, carbamazepina,

lamotrigina, gabapentina e topiramato. Contudo pode haver a necessidade de

combinar alguns medicamentos como estabilizadores de humor e antidepressivos,

durante a fase de manutenção, e antipsicóticos e/ou benzodiazepínicos caso tenha

presença de sintomas psicóticos.

Page 26: Monografia - Correta

25

3.6 Medicamentos Utilizados no Tratamento do TAB

De acordo com Kaplan, Sadock e Grebb (2003), os grupos de

medicamentos utilizados na existência do TAB são os estabilizadores de humor,

antidepressivos, ansiolíticos, sedativos-hipinóticos e antipsicóticos. O lítio e os

anticonvulsivantes (carbamazepina, valproato de sódio), são frequentemente efetivos

na prevenção da recorrência do TAB. Contudo o lítio é um agente que possui maior

evidencia como tratamento de manutenção do TAB, prevenindo recaídas, contudo o

lítio é também um antidepressivo, reduzindo assim as chances do paciente cometer

suicídio. A introdução de lítio no arsenal terapêutico para a contenção do TAB

significou um alívio para os pacientes, porém se usado isoladamente não apresenta

uma solução eficaz para aproximadamente 50% dos pacientes, mesmo assim é o

estabilizador de humor que garante a profilaxia durante cinco anos ou mais.

A carbamazepina é eficiente no tratamento de mania aguda e na prevenção

de episódios maníacos de longa duração. A eficácia da mesma é apresentada cerca

de 50 a 70% nas duas a três semanas após o seu inicio. Carbamazepina é indicada

como tratamento no início da doença e com um padrão alternativo do humor. Quando

comparados a carbamazepina e o lítio ambos mostrarão uma eficácia semelhante. A

carbamazepina tem potencial de interação importante com outras drogas, por isso ela

vem sendo substituída pela oxcarbamazepina. Esta última apresenta uma série de

vantagens sobre a carbamazepina: não há necessidade de monitorar os níveis

plasmáticos, bem como realizar testes de funções hepáticas nem testes sanguíneos,

e causa menos indução do citocromo P450 (SOUZA, 2005).

O ácido valproato é eficiente no controle dos sintomas maníacos em torno

de dois terços de pacientes que apresentam mania aguda. No TAB I esse

medicamento torna os episódios maníacos mais raros, menos rigorosos e mais

rápidos. Os anticonvulsivantes lamotrigina, gabapentina e topiramato vêm sendo

utilizados como medicações coadjuvantes, geralmente são adicionados quando não

há resposta satisfatória aos medicamentos de primeira linha (lítio, carbamazepina e

ácido valpróico) Os ansiolíticos e sedativos-hipinóticos se dividem em duas classes os

benzodiazepínicos e os não-benzodiazepínicos e ambos são calmantes e sedativos.

Contudo os benzodiazepínicos são eficientes no tratamento imediato de transtorno do

pânico, TAB e fobias. O uso prolongado pode ocasionar dependência psicológica, seu

Page 27: Monografia - Correta

26

uso nessa forma deve ser exclusivo para pacientes que não se adéquam as outras

classes (STUART; LARAIA, 2001).

Os autores falam ainda que os não-benzodiazepínicos apresentam várias

desvantagens como desenvolvimento de resistência para os efeitos de antiansiedade,

reações adversa e até mesmos letais de abstinência ao paciente. A sua

superdosagem pode levar há uma depressão no sistema nervoso central e inúmeras

interações farmacológicas nocivas.

Os antipsicóticos estão divididos em dois grupos os típicos e os atípicos e

são indicados na fase maníaca do TAB, na esquizofrenia, e na síndrome cerebral

orgânica com psicose. Os antipsicóticos atípicos são utilizados como estabilizadores

de humor em casos resistentes (STAHL, 2002).

3.7 Reforma Psiquiátrica e o TAB

Ressalto a necessidade de compreendermos o processo histórico de

organização da assistência psiquiátrica a partir de suas determinações gerais e

específicas no cenário nacional.

Com relação à literatura de Angelini (2007), de acordo com a história que

abrange as décadas de 1930 a 1970 as táticas de saúde no Brasil não envolviam o

atendimento médico individual, a sua finalidade era a manutenção de projeto

econômico vigorante na perspectiva dos interesses das classes influentes. Dessa

forma a saúde era subdividida, onde um lado trata da saúde publica atuando no

controle de doenças e no cuidado sanitário, havendo um interesse político e

econômico, e o outro aborda a medicina curativa e previdenciária que visa apenas à

cura e não a prevenção das enfermidades sem falar que a mesma era referida como

uma forma de desigualdade social, sendo assim esse período nos leva a crê que a

saúde era tratada com descaso.

Ao longo de duas décadas a saúde mental foi bastante evidenciada em

muitos países. No Brasil, teve grande ênfase o movimento da Reforma Psiquiátrica,

onde o mesmo teve início na década de 1980, com a publicação do trabalho de

Franco Basaglia e do êxito de sua experiência na Itália, com sua censura aos efeitos

do tratamento asilar do paciente portador de transtornos mentais. A critica de Franco

era direcionada para a humanização bem como para a suposta neutralização da

ciência, que por vezes legalizava o domínio do estado na organização da sociedade e

Page 28: Monografia - Correta

27

utilizava o manicômio como local de exclusão e asilamento (VECCHIA ; MARTINS,

2009).

Os autores falam ainda que a experiência da reforma italiana serviu como

modelo de inspiração para o Brasil, que usou a mesma durante muitos anos como

dispositivo de exclusão social. A década de 1960 foi marcada como a indústria da

loucura, onde se obtinha lucro através dos longos períodos de hospitalização e

consequentemente da cronificação da doença.

A reforma psiquiátrica pode ser classificada como um processo histórico de

preparação critica e prática que apresenta como finalidade e estratégia o

questionamento e a elaboração de novas propostas de modificação do modelo antigo

e do padrão da psiquiatria. Foi então que em meados dos anos 70, que surgiu uma

repressão ao modelo de saúde em atividade, com oscilação de oposição e combate

ao autoritarismo, fazendo com que surgissem fortes críticas a ineficiência do serviço

público de saúde. Contudo foi nesse panorama de crise e indigência que surgiram os

primeiros embriões da reforma sanitária brasileira (AMARANTE, 1995).

As políticas de assistência psiquiátrica brasileira foram empregadas em

resposta a fatores econômicos, políticos e ideológicos e apresentavam como linha de

referência as necessidades de criação e representação da vida social. Contudo a

Reforma Psiquiátrica no Brasil teve inicio na década de 70 com acusações de maus

tratos e constrangimento físico e moral aos pacientes. Esse movimento é considerado

histórico, de caráter, econômico, social e político influenciado por um conjunto de

ideais de grupos influentes. A assistência psiquiátrica no Brasil sugere a

hospitalização e o asilamento do paciente com transtorno mental, objetivando atender,

principalmente a segurança da ordem e da moral publica. Esse movimento aponta as

desvantagens do modelo que firmou os modelos da psiquiatria clássica e transformou

o hospital psiquiátrico na única alternativa de tratamento, facilitando a cronicidade e a

exclusão dos doentes mentais em todo o país (GONÇALVES; SENA, 2001).

Os gastos com as hospitalizações eram considerados absurdos, porém não

havia nenhum investimento na promoção e prevenção de saúde dessas pessoas e os

resultados desse descaso foram condições de saúde precárias. Então foram

colocados em questão a eficiência do sistema, a precariedade da assistência

terapêutica e os seus altos custos (ANGELINI, 2007).

O que se espera da reforma psiquiátrica não é simplesmente a

transferência do doente mental para fora dos muros do hospital, “confinando-o” à vida

Page 29: Monografia - Correta

28

dos mesmos em casa, aos cuidados de quem puder assisti-lo ou entregue à própria

sorte. Espera-se, muito mais, o resgate ou o estabelecimento da cidadania do doente

mental, o respeito a sua singularidade e subjetividade, tornando-o sujeito de seu

próprio tratamento sem a idéia de cura como o único horizonte. Acreditando que

possa haver, assim, a autonomia e a reintegração do sujeito à família e à sociedade.

O processo de reforma psiquiátrica no Brasil obteve a aprovação de leis

juntamente com as portarias onde é estabelecido o fechamento dos hospitais

psiquiátricos e asilos e também feita o acordo de criar redes de atendimentos

psiquiátricos inovadores. Contudo a reforma psiquiátrica tomou como desafio a

desinstitucionalização, onde a mesma não se restringe apenas à substituição do

hospital por um aparato de cuidados externos, de caráter técnico, administrativo e

assistencial abrange questões do campo jurídico, político e sociocultural, resultando

num deslocamento das práticas psiquiátricas para os exercícios de cuidados

realizados na comunidade (SANT’ANA, 2007).

A autora fala ainda que a reforma psiquiátrica é considerada falida e sua

ideologia desmentificada. A reforma vem sofrendo modificações há varias décadas,

hoje protegida, é fruto de maior maturidade teórica e política, alcançada ao longo das

últimas décadas, com maior conscientização da sociedade civil organizada. A versão

atual dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos

psíquicos e redireciona o modelo assistencial de saúde mental.

Gonçalves e Sena (2001), falam ainda que os vários trajetos da reforma

psiquiátrica brasileira têm demonstrado a fragilidade do sistema de saúde brasileiro

para a oferta de outro modo de atendimento que não seja aquele voltado para leitos

hospitalares. Contudo a reforma psiquiátrica não pode ser restringida a restituição dos

pacientes aos seus familiares como se eles fossem capazes de resolver os problemas

da vida diária em meio às dificuldades causadas pelo convívio, custeamento e

também pelo cuidado com o paciente com transtorno mental.

Ressaltam os autores que tudo isso sugere uma progressiva transformação

na mentalidade e comportamento da sociedade para com o paciente com transtorno

mental, pois não é mais admissível a estigmatização, exclusão e reclusão desses

pacientes.

Durante muito tempo o atendimento a pessoas com transtorno mental

estava ligado a grandes hospitais psiquiátricos, locais da prática e do saber médico,

cujo modelo de atenção restringia-se às internações prolongadas e o afastamento do

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29

ambiente familiar. Era alegado que a família por não ter conhecimento médico e

cientifico, acabaria piorando o quadro do paciente. Portanto, a família foi

primeiramente afastada do cuidado de seu familiar, depois foi excluída por ser

considerada agravante ao tratamento, ou seja, causadora da doença, pois a mesma

atrapalhava o percurso do tratamento proposto. Outras vezes ela abria mão do

cuidado por não suportar a sobrecarga física e emocional que o portador de

transtorno mental acarreta aos familiares, ou então por não saber agir frente às

manifestações da doença mental (COLVERO; IDE; ROLIM, 2004).

Os hospitais psiquiátricos eram vistos como ambientes de incurabilidade,

locais de isolamento, privação de direitos humanos, violência e morte. Ambiente onde

era para haver a promoção e recuperação dos pacientes com transtornos mentais

servia apenas de prisão. Esse isolamento era justificado pelo fato que os pacientes

tinham um alto grau de periculosidade, sendo assim incapaz de convívio social, esse

conceito fez surgir à revolta tanto do doente quanto de sua família, a ultima por ser

responsável pelo doente mental (SOUZA et al, 2001).

Os autores falam ainda que, os séculos, XIX e XX, foram marcados por

movimentos totalmente opostos. O primeiro foi marcado pelo movimento

institucionalização das praticas terapêuticas e pela medicalização, ou seja, o portador

de transtorno mental deixava seu ambiente familiar para ser internado em grandes

hospitais psiquiátricos ou asilos. Já o segundo movimento foi marcado pela queda da

desinstitucionalização, isto é o portador de transtorno mental deixa os hospitais e

retorna ao ambiente familiar.

A partir dos anos 80 no Brasil, esse modelo recebeu fortes criticas no ponto

de visto político, técnico e ético, entre os profissionais da área de saúde mental.

Contudo os médicos foram afastados dos planos terapêuticos assistências para o

cuidado da doença mental. Todavia os profissionais se esforçavam para que a doença

mental ficasse sob o cuidado da medicina, para que tal coisa acontecesse os médicos

faziam fortes críticas e acusações de maus tratos, superlotação, desqualificação da

assistência e abuso. Todo esse movimento tinha o objetivo de assumir a direção do

hospício para torná-lo ambiente de produção e conhecimento, oferecendo de tal modo

cientificidade as instituições especializadas e afirmação do poder sobre os assuntos

de saúde mental (MIASSO, 2006).

Segundo Colvero, Ide e Rolim (2004), durante a década de 1990 a

assistência psiquiátrica brasileira descobriu espaço privilegiado nas modificações no

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30

modo de organização a partir dos desenvolvimentos do Sistema Único de Saúde

(SUS) e seu aparato legislativo. Contudo os princípios de universalidade,

integralidade e participação social, eram coerentes com a definição de cidadania

desejados pela reforma psiquiátrica.

O modelo de atenção atual, a política assistencial vigente preconiza a

diminuição da oferta de leitos hospitalares e a criação de serviços substitutivos de

atenção à saúde mental deslocando, assim, o seguimento e evolução dos tratamentos

para o interstício das dinâmicas familiares mobilizadas pela inclusão dos portadores

de transtorno mental. Esse processo de transformação teve uma significativa

mudança na perspectiva de ver o indivíduo com doença mental, como um ser que tem

aptidão e potencial de convívio com a diversidade (MIASSO, 2006).

3.8 Estratégia Saúde da Família (ESF) e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

na Atenção ao TAB

Quando mencionamos a concepção de novos modelos de assistência

prestada aos pacientes com transtornos mentais, lembramos do primeiro Centro de

Atenção Psicossocial (CAPS), qual foi construído em 1987 na cidade de São Paulo.

Mesmo longe de ser considerado um modelo de tratamento ideal, a criação do CAPS

como eixo na rede de atenção a saúde mental tem ganhado amplos elogios por sua

ação junto ao doente mental (ANGELINI, 2007).

A reforma psiquiátrica apóia o processo de desinstitucionalização com

procedente transferência dos manicômios por novos dispositivos de acolhimento e

tratamento, passando a existir assim: os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), os

CAPS, o Hospital Dia, o Programa de Residência Terapêutica, e os leitos psiquiátricos

em Hospital Geral (BORBA; SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).

Com relação a Brasil (2002), assim como em outras áreas do SUS, a

administração da política de saúde mental é uma tarefa complicada, descentralizada

que requer vários níveis de decisão e domínio social. Fala ainda que foi durante a III

Conferência Nacional de Saúde Mental que proporcionaram melhores fundamentos

políticos e teóricos para a política de saúde mental no país.

A articulação de uma rede de atenção a saúde mental de base comunitária foi um dos principais desafios dessa gestão. Somente uma rede, com seu potencial de construção coletiva de soluções, é capaz de fazer face à

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31

complexidade das demandas e de garantir a resolutividade e a promoção de autonomia e cidadania às pessoas com transtornos mentais. A rede de saúde mental é complexa, diversificada, de base territorial, e deve constituir-se como um conjunto vivo e concreto de referências para o usuário dos serviços. (BRASIL, 2002, p. 13).

A rede de serviços públicos de saúde mental no Brasil é abrangida por três

áreas de atendimento: atenção básica, onde atuam as equipes do Programa Saúde

da Família (PSF), os serviços de saúde mental municipal a rede ambulatorial

especializada em saúde mental compostas pelos CAPS e residências terapêuticas,

voltadas para a reabilitação e inserção do paciente crônico na sociedade, o

atendimento hospitalar, desempenhado tanto em hospitais gerais como em hospitais

especializados em psiquiatria (BORBA; SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).

Os autores falam ainda que o CAPS configura-se como serviços

comunitários ambulatoriais e regionalizados em que os pacientes deverão dispor de

consultas médicas, atendimentos terapêuticos individuais e/ou grupais, podendo

compartilhar de ateliês abertos, de atividades relativas e recreativas organizadas por

profissionais do serviço, de modo mais ou menos, ativo e articulado em volta de um

projeto terapêutico particularizado voltado para o tratamento e reabilitação

psicossocial, podendo também existir iniciativas extensivas aos familiares e aos

assuntos de ordem social inseridos no cotidiano dos usuários.

Os CAPS adotam especiais importâncias no panorama das novas práticas

em saúde mental no país, representando como dispositivo tornado-se estratégico

para a reversão do modelo hospitalar. É indicado pelo Ministério da Saúde (MS), a

função de conexão com as unidades de cuidados básicos como o PSF, os

ambulatórios, leitos hospitalares e ações de apoio e reabilitação psicossocial, serviços

residenciais, terapêuticos e de trabalho protegido (CAMPOS; FURTADO, 2006).

De acordo com Mielke et al (2009), os CAPS são serviços de atenção

diária em saúde mental, substitutivos ao modelo hospitalocêntrico, tendo como

responsabilidade atender pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, o

mesmo trabalha com uma equipe multiprofissional, neste ambiente as atividades

desenvolvidas são diversificadas, proporcionar atendimentos em grupos e individuais,

oficinas terapêuticas e de criação, atividades físicas, além da medicação. Neste

serviço, a família é considerada como parte fundamental do tratamento, tendo

atendimento específico (grupal ou individual) e livre acesso ao serviço, sempre que se

fizer necessário.

Page 33: Monografia - Correta

32

Há muito tempo, vem sendo atribuída importante atenção, no setor das

políticas públicas de saúde no Brasil, dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), para

a junção de serviços que dispensem cuidados com as pessoas portadoras de

transtornos mentais, substituindo de tal modo os hospitais psiquiátricos, onde é

intensificada constantemente a busca de espaço para dar cumprimento aos

processos de mudanças no sentido de vencer a lógica manicomial, são eles os

centros de atenção integral à saúde, centros regionais de saúde mental, centros de

atenção psicossocial, centros de convivência, serviços residenciais terapêuticos e etc

(VECCHIA; MARTINS, 2009).

Ressalta Angelini (2007), que somente a criação do CAPS e de outros

recursos que beneficiem a descentralização do cuidado no hospital psiquiátrico não

corresponde a idéia de construção de uma organização na aplicação em saúde

mental, no entanto responde somente a necessidade de um padrão alternativo de

assistência ao portador de transtorno mental. Nesse formato existem riscos de que as

transformações almejadas possa não acontecer, pois qualquer padrão de atenção

centralizado quer seja o hospital ou o CAPS diminui a probabilidade de cuidados em

saúde mental. A mudança do aspecto doença mental, para saúde mental requer a

construção de unidades globais que olhem a promoção da doença mental a

prevenção de agravos e a assistência da mesma, se não existir a construção dessas

unidades não haverá novas restrições de cuidados e o processo de descentralização

não se concretizará.

O CAPS constitui-se em modalidades de serviços diferentes que os

qualifica de acordo com seu porte, abrangência e complexidade, de um lado

assistência voltada para a grande maioria, os adultos e do outro voltado para a

população infanto-juvenil. Os CAPS I, II e III e também o CAPS ad, no qual presta

atendimento a pacientes adultos usuários de substâncias psicoativas (álcool e drogas)

que desenvolverão algum tipo de transtorno mental em decorrência desses vicio. Há

também o CAPSi, o qual atende crianças e adolescentes com transtorno mental

(NAGAOKA, 2009).

De acordo com Campos e Furtado (2006), conforme as Reformas

Psiquiátricas e Sanitárias, avançam, nascem novos serviços assistências a saúde

mental como é o caso do PSF que recentemente passou a ser chamado de Estratégia

Saúde da Família (ESF) que surge como uma estratégia e também como uma

novidade na reorganização da assistência a saúde mental. Contudo não se trata

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33

apenas de um redirecionamento da assistência, mas sim de uma revolução na

atenção básica, cuja mesma não teve êxito anteriormente.

A ESF é referenciada por ser um ambiente de produção de sentimento em

relação à família, e também por ter como finalidade a tentativa uma nova prática

sanitária e promoção a saúde das famílias. Existe também uma vasta rede

assistencial de atenção básica, cujas atuações estruturam-se em unidades básicas de

saúde (UBASF), que disponham ou não de equipes de saúde da família, e que

igualmente vêm encararando um processo de reorganização na direção da ESF. É

sabido que há uma extensão produtiva, na mencionada junção dos serviços, sendo

delimitados, por um lado, os princípios da reforma psiquiátrica brasileira e, por outro,

os princípios do movimento da reforma sanitária (SOUZA; SCATENA, 2005).

Os autores falam que as ações de saúde mental desenvolvidas nas UBASF

são caracterizadas por prevenção e promoção dentro dos limites de atuação e

complexidade de cada unidade de saúde. As equipes de saúde mental devem buscar

continuamente a melhora da assistência prestada a população, desenvolvendo ações

de recuperação no tratamento dos pacientes. É identificado como princípios de

orientação para a saúde mental dentro da atenção básica o diagnostico e intervenção

precoce, a participação de seus usuários, parceria com a família bem como a inclusão

da comunidade.

Durante o último século o padrão de atenção em saúde mental

transformou-se de institucionalização de indivíduos portadores de transtornos

mentais, para um enfoque baseado na atenção comunitárias amparada na

disponibilidade de leitos em hospitais para pacientes que apresentem casos agudos.

Essas transformações são fundamentadas tanto em respeito aos direitos humanos

das pessoas com transtorno mental como no emprego de intervenções e técnicas

atualizadas (RIBAS, 2004).

A organização de atenção integral ao paciente com transtorno mental deve

compreender um conjunto de princípios sanitários e sócio-culturais que partam de

uma visão das diferentes dimensões da vida do indivíduo em distintos e múltiplos

campos de intervenção tais como: assistencial, social, educativo e de reabilitação.

Contudo solicita a concepção de um conhecimento e de cuidados em saúde mental

que ultrapassem os reducionismos estritamente médicos e psicológicos na direção de

uma atenção psicossocial interdisciplinar vasta que aborde todos os campos da

vivência humana (SANT’ANA, 2007).

Page 35: Monografia - Correta

34

A autora ressalta ainda que na sequência, repercutem os princípios nas

propostas de desinstitucionalização dos cuidados a pessoas com transtornos mentais

são eles: atenção à saúde em equipe multiprofissional; integralidade dos profissionais,

das disciplinaridades e do cuidado; responsabilidade da equipe conectada a um

território de base comunitária; intersetorialidade e integração em um sistema que vai

do nível primário ao especializado com enfoque interinstitucional. No entanto, a

função de unir e de organizar a rede local de saúde mental solicitada pelos CAPS é

ainda um horizonte a ser alcançado.

Borba, Schwartz e Kantorski (2008), formas estas de tratamento que

desfazem com os padrões do modelo asilar. Os serviços de atenção comunitária em

saúde mental devem incluir ações dirigidas aos familiares e comprometerem-se com a

construção de projetos de inserção social, respeitando as possibilidades individuais e

os princípios de cidadania que minimizem o estigma e promova a qualidade de vida

dos portadores de sofrimento psíquico, tendo em vista a reformulação da assistência

psiquiátrica, a unidade familiar adota um importante papel no cuidado e reintrodução

na sociedade os sujeitos que sofrem de doença mental. Portanto, é imprescindível

conhecer o universo familiar e como seus integrantes reagem e convivem com a

aflição psíquica vivenciada diariamente.

Do ponto de vista conceitual, a ESF é seguida como uma tática privilegiada

para a reorganização da atenção básica em saúde que leve em conta a necessidade

de adequação as ações e serviços, à realidade da população em cada unidade

territorial, definida em função das características sociais, epidemiológicas e sanitárias

reafirmando os princípios do SUS. Busca constantemente um exercício de saúde que

proporcione promoção à saúde; prosseguimento do cuidado; integralidade da

atenção; prevenção e especialmente a responsabilização pela saúde da população,

com ações constantes de vigilância em saúde (BRASIL, 2006).

3.9 O Papel da Família na Atenção do Paciente com TAB

A família é um sistema interpessoal constituído por pessoas que interagem

por diversos motivos tais como: ligações de afeto e amizade, no interior de cada

história de vida, ainda sem habitar o mesmo espaço físico. É entendida como uma

relação social dinâmica que ao longo do seu processo de desenvolvimento, adota

diferentes estados em função de crenças, valores e normas (PORTELA, 2006).

Page 36: Monografia - Correta

35

Contudo foi inserido nesse processo um novo olhar sobre a família dos

pacientes com transtornos mentais, onde é reconhecido o seu valor no cuidado

proporcionado a eles, visando inseri-la no projeto terapêutico, com a finalidade de

melhorar a qualidade de vida tanto de quem é cuidado quanto de quem cuida

(TAYLOR, 1992).

De acordo com Koga e Furegato (2002), a família do paciente com

transtorno mental enfrenta grandes dificuldades na convivência com os mesmos onde

se enfatizam as sobrecargas financeiras e emocionais. Contudo as autoras

classificam essa sobrecarga em quatro tipos: a sobrecarga financeira é expressa pela

dificuldade do paciente em manter-se empregado ou até em entrar no mercado de

trabalho após a descoberta do transtorno mental. Alterações de saúde em forma de

doença física ou emocional são evidenciadas pela mudança na dinâmica familiar,

consequentemente a família passa a viver em situações desgastantes que gera a

manifestações de doenças de um ou mais integrante da família. Alterações nas

rotinas são expressas nas ações cotidianas como ir e vir do trabalho e cuidados

pessoais. E por fim as atividades de lazer e relações familiares.

O apoio da família é a base fundamental para a vida de qualquer pessoa,

no entanto para os pacientes que apresentam algum tipo de transtorno mental ela

possui especial importância, pelo fato desses sujeitos, na maioria das vezes,

necessitarem de cuidados e acompanhamento dos membros do grupo familiar.

Segundo Wernet (2001, p.14) “família é uma entidade presente na vida humana, seja

ela representada pelos clássicos membros progenitores e toda a linhagem genética

ou por pessoas acolhidas como família para outras pessoas”.

A família que possui em seu seio um sujeito acometido por uma doença

mental frequentemente tende a se adaptar com a presença da patologia, até mesmo,

em alguns casos, chegando a se restringir da participação em determinados eventos

sociais pelo preconceito existente na sociedade. Todavia, podem mudar determinados

hábitos acerca do relacionamento familiar, intensificando a atenção ao paciente com

transtorno mental  (NASI; STUMM; HILDEBRANDT, 2004).

Durante muitos anos o modelo de assistência psiquiátrica no Brasil estava

associado a hospitais psiquiátricos, onde os mesmos tinham como finalidades

internações por longos períodos de tempo e, sobretudo o afastamento da família. A

exclusão da família era justificada pelo fato da mesma não compreender como se

dava o tratamento poderia agravar o estado do paciente (SOARES; MUNARI, 2007).

Page 37: Monografia - Correta

36

Ressaltam ainda, Colvero, Ide e Rolim (2004), que antigamente pertencia

ao hospício legalizar suas atuações sobre a loucura, afastando o portador de

transtorno mental da família na confiança de que este tipo de tratamento melhoraria o

contato entre o doente, a família e a sociedade. A doença mental deve ser entendida

como um fato complexo e histórico, atravessado pelas dimensões psicossociais que

determinam o processo saúde-doença mental. Diante disso a família desempenha

papel fundamental o sucesso do tratamento, pois ela auxílio o paciente na aceitação

do mesmo e posteriormente a enfrentar o uso da medicação por longos períodos de

tempo, garantindo assim a sua adesão.

Os autores falam ainda que como existia a promessa de curabilidade do

transtorno mental, a família era então colocada em segundo plano, ou seja, em

situação de espera passiva dos efeitos das internações dirigidas pelos profissionais

possuidores do saber. Dentro dos hospitais psiquiátricos, a família, apresenta-se aos

serviços simplesmente como “informantes” das alterações apresentadas pelo doente

mental, e deve, por conseguinte, seguir passivamente as prescrições dadas pelo

tratamento oferecido e principalmente como visitas. O que os cuidadores

subentendiam e que o cuidado do seu familiar era atribuído exclusivamente aos

profissionais da saúde mental e aos serviços de assistência.

A inclusão da família como protagonista no processo da reforma

psiquiátrica tem sido um grande desafio. Primeiramente alguns grupos de familiares,

por meio de associações, inseriram-se na luta pela cidadania do portador de

transtorno mental e sua reinserção na sociedade. Porém outros grupos, sobretudo

através da Associação de Familiares de Doentes Mentais (AFDM), têm lutado contra

esse processo, por temer a desassistência, pelo fato de compreender a reforma

psiquiátrica como abandono de seus familiares. Em resumo, a família ganhou

visibilidade teórica quer seja como vilã ou vítima de transtorno mental; assistencial

(como recurso, visita ou agente assistida) e, de modo recente, como ser político que

se prepara e luta por seus direitos; causa ações no campo público, ou como

fornecedora de cuidados, necessitando ser incluída nos projetos terapêuticos dos

serviços de saúde (ROSA, 2005).

A autora ressalta que notoriamente, a respeito do familiar/cuidador podem-

se estabelecer opiniões variadas, como no panorama de sua atuação

multidimensional e de sua analogia plural; demonstrada através de sua condição de

Page 38: Monografia - Correta

37

classe; do seu contexto assistencial; de suas maneiras; de seu preparo político e

instrumental como cuidador; e ainda da posição de quem avalia o seu lugar.

A família desempenha um papel fundamental, especialmente na fase inicial

do transtorno mental, na construção de um novo curso para seu ente doente, porém

seus recursos emocionais, temporais e econômicos assim como o seu conhecimento

devem ser bem direcionados, competindo aí um subsídio importante dos profissionais

e dos serviços psiquiátricos. Contudo, no surgimento das primeiras crises

psiquiátricas, a família seja mais compreensiva nas orientações dos profissionais da

saúde mental e aceite o tratamento com facilidade embora não tenha conhecimento, e

apresente receio em relação aos psicofármacos, pelo fato de causarem dependência

é importante ressaltar que, em geral a família só procura o serviço de saúde porque

seu familiar se encontra em crise (MIASSO, 2006).

A autora diz ainda que o familiar/cuidador desenvolve táticas e tem uma

maneira característica de prestar cuidado ao seu familiar que, nem sempre, é

estabelecido da melhor maneira, no entanto é o modo como ela consegui viver, uma

vez que cuidar de um portador de transtorno mental não é tarefa fácil, especialmente

quando ele se encontra no quadro avançado de cronificação. No estágio agudo da

sintomatologia clínica, a família vive diariamente um processo de intenso sofrimento

e, por vezes, de desesperança, tornando-se pior com o aparecimento de problemas

no decorrer do seu curso, em conseqüência da doença, tais como: o sentimento de

impotência e a prorrogação de planos e perspectivas indicativa à vida particular o que

abala e afeta, fortemente, a vida familiar. Desse modo, o familiar/cuidador é o

responsável pelo cuidado direto, com o portador de transtorno mental passando a

administrar sua vida em volta da patologia, deixando suas necessidades pessoais em

segundo plano.

Com relação à literatura de Borba, Schwartz e Kantorski (2008), o

familiar/cuidador é responsável pelo cuidado do doente mental evidenciando

preocupação e cuidado em relação à administração certa dos psicofármacos, sendo

responsável pelos os horários e a dosagem dos mesmos, pois tem receio do uso

indevido, podendo assim colocar sua vida em risco. O cuidado prestado pela família

objetiva resguardar a vida de seus familiares, permitindo que os mesmos consigam

viver normalmente na sociedade. A família é o núcleo onde se irradia o cuidado, lugar

onde o cuidar é aprendido diariamente.

Page 39: Monografia - Correta

38

A família do portador de transtorno mental tem função principal de

cuidadora, mas com apoio e parceria para a reinstituição do seu familiar na

sociedade, e não ser responsabilizada pelo processo de sofrimento psíquico. Apesar

de sua importância no acompanhamento, tratamento e reabilitação, a família, não tem

recebido a devida atenção pelas políticas públicas de saúde mental, em conseqüência

disso, a família acaba sobrecarregado- se com inúmeras tarefas para as quais não se

encontra preparada, em meio a elas, está o cuidado do portador de transtorno mental

e também a econômica (VECCHIA; MARTINS 2009).

3.10 Assistência Prestada ao Cuidador do Paciente com TAB

O sentimento de culpa é destacado como uma das dificuldades mais

nítidas encontrada na família do paciente com transtorno mental, o mesmo provoca

uma procura contínua de explicações que a auxiliem no entendimento da patologia.

Diante dessa complexidade, é imprescindível auxiliar a família a ter um entendimento

da doença, o curso do seu tratamento, as dificuldades e potencialidades do membro

da família que se encontra doente. Contudo há ainda outra situação encarada pela

família, que é o estigma por conter em seu seio familiar um paciente com transtorno

mental, tal estigma, diversas vezes, diminui as oportunidades dos familiares de

conquistarem espaço na sociedade, um exemplo dessa situação é a dificuldade de

ingressar no mercado de trabalho (ROSA, 2005).

Ressalta a autora que o aparecimento de um portador de transtorno mental

no seio de uma família acontece um período de crise, uma ruptura de rotinas, uma

confusão de papéis, pois cuidar de uma pessoa adulta com transtorno mental,

dependente, em geral está fora do previsto na história do grupo e de seu repertório de

respostas. A família tem que renovar sua integração, aprender a se relacionar com o

paciente mental, com os serviços de saúde mental e com a linguagem dos

profissionais, que nem sempre estão preparados para conversar com a população

que não tem conhecimento cientifico.

Os programas de apoio ao familiar de um doente mental no pais são

insuficientes, cujo os mesmo tem como finalidade ajudar o familiar/cuidador no

enfrentamento da sobrecarga originários da convivência. Contudo tal fato pode estar

relacionado à displicência dos profissionais da saúde em não identificar a família

como um aliado disposto a encarar todas as barreiras para manter o seu familiar

Page 40: Monografia - Correta

39

desinstitucionalizado. Diante de tal situação podemos concluir que se não há

assistência familiar adequada, não pode haver reinserção, a aproximação da família é

uma responsabilidade de toda a equipe dos serviços de assistência psiquiátrica.

Nenhum profissional pode deter privilégio ou exclusividade. Tem-se observado que

cada serviço ou equipe se organiza de maneira própria para abordar a família

(SOUZA et al, 2001).

Os autores supracitados falam ainda que já existem programas de

acompanhamento aos familiares de pacientes com transtorno mental são eles:

desenvolvimento de grupos de auto-ajuda, criação de associações de familiares e

também programas psico-educativos. Há ainda o desenvolvimento de relacionamento

terapêutico que se dá através de visitas domiciliares, cuja mesma abrangem os

Programas de Saúde da Família (PSF) na procura de uma aproximação e

atendimento as suas reais necessidades e por fim a terapia familiar.

A finalidade desses programas é estabelecer relações, que envolvam

projetos de ressocialização; proporcionar apoio emocional; falar a respeito do

distúrbio mental e sua terapêutica; debater probabilidades do tratamento para prevenir

decepções; ajudar a encarar os problemas; minimizar a ansiedade e o sentimento de

culpa; estabelecer vínculos afetivos; incentivar a luta pelos direitos das pessoas

portadoras de transtornos mentais; orientar e ajudar na promoção da independência

do paciente. Para que tais objetivos sejam alcançados é necessária a atenção dos

profissionais da saúde envolvidos para a percepção de que cada família é única, e

possui características próprias e complicadas, que passa por conflitos devido à

modificação no ambiente familiar. Os profissionais devem atentar também para o

conjunto sócio-cultural onde a família deve ser inserida a fim de evitar confusão com

relação a instruções e descrições culturais da doença (SANT’ ANA, 2007).

A assistência votada para a família de pessoas portadoras de transtorno

mental deve ser sistematizada de modo a favorecer e aumentar a relação

família/profissional/serviço de saúde, sempre abrangendo o familiar como um

companheiro único e fundamental para o desenvolvimento do cuidado para com o

doente mental. O objetivo dessa parceria está apontado para ações de cuidado com

este familiar/cuidador. Toda via que se adiciona o cuidador como uma pessoa que tem

muito a oferecer, principalmente em relação ao seu sofrimento psíquico diário e

também o quanto este mexe com sua vida. Por isso, é necessário, considerar sua

ação, para além da objetividade demonstrada em suas queixas, comumente

Page 41: Monografia - Correta

40

centralizada nos sintomas, do seu familiar portador de transtorno mental (COLVERO;

IDE; ROLIM, 2004).

As propostas sucedidas da reforma psiquiátrica têm causado falta de

assistência, ou seja, reintroduz o portador de transtorno mental no seio família sem

que haja nenhum tipo de assistência e informação sobre a situação e condições da

mesma. A família e a assistência precisam ser refletidas em suas múltiplas

dimensões, a fim de encontrar possibilidades de intervenção e de ajuda. Portanto faz-

se necessário rever os cuidados prestados a essas famílias, não em relação a si

mesmo, mas sim dentro de um modelo que beneficie a diferença de diálogos, deste

modo, estabelecendo conhecimentos e ações dentre os profissionais e também entre

eles e as famílias (SOUZA; SCATENA, 2005).

Os autores falam que é fundamentam o preparo dos profissionais e a ação

conjunta dos mesmos que irão dar suporte tanto ao familiar quanto ao paciente, todos

devem apresentar conhecimento e maturidade para saber discernir conflitos do

convívio familiar. Contudo é comum no serviço de saúde a família sentir-se mal

atendida, só pelo fato de não passar pelo psiquiatra, mesmo sendo assistidas por

outros profissionais da equipe. Há ocasiões em que, o desempenho desses

profissionais é mais intenso com os cuidadores domésticos, entretanto é comum, em

reuniões ou assembléias, estes elogiarem e/ou reconhecerem publicamente apenas a

ação médica. Portanto na urgência de mudanças e de um novo modelo de

assistência, nasce o ponto de vista construcionista social, ou seja, a construção e

reconstrução dos acontecimentos e das pessoas, a partir da trocar entre elas.

O familiar/cuidador, em geral, apresenta para os profissionais e serviços de

saúde, além da crise psiquiátrica, todas as suas dificuldades existenciais. Neste

aspecto, é sabido que estes familiares têm um grande conhecimento, no qual este é

estabelecido através da relação com o doente mental e com os profissionais, que

suporta todas as suas queixas e pedidos de ajuda. Este conhecimento é construído

na sabedoria banal, que incide em uma intervenção que dá algum sentido às

translações e imagens que lhes são proporcionadas pela história social de seu tempo

sobre o processo saúde doença mental e convívio familiar, e, por conseguinte, precisa

ser identificado (COLVERO; IDE; ROLIM, 2004).

Page 42: Monografia - Correta

41

4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de Estudo

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa do

tipo exploratória-decritiva, pois objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o

avanço da ciência sem aplicação prática prevista, envolvendo verdade e interesses

universais.

O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2010, p. 57).

O autor fala ainda que a pesquisa exploratória é realizada a respeito de um

problema ou questão de pesquisa que na maioria das vezes são assuntos com pouco

ou nenhum estudo anterior a seu respeito. Esse método destina-se, assim a explorar

os processos sociais tais como os padrões, idéias ou hipóteses presentes nas

interações humanas.

Com base nas palavras de Rudio (2001), descrever é narrar

acontecimentos, desta forma, a pesquisa descritiva está interessada em descobrir e

observar fenômenos, procurando interpretá-lo, e descrevê-lo. Todavia a junção

dessas pesquisas tem como finalidade a descrição das peculiaridades de uma

determinada população ou então o estabelecimento de relações entre variáveis

alcançadas através de coletas, como questionários e a observação sistemática.

4.2 Cenário da Pesquisa

O estudo será realizado no CAPS III, localizado na Rua 27 de novembro, nº

26/03, bairro Prado, no município de Iguatu – CE. A escolha do lócus do estudo deve-

se por ser o espaço onde os clientes com TAB recebem assistência no município,

bem como seus cuidadores. Dessa forma, viabilizando o contato entre pesquisador e

participantes.

Page 43: Monografia - Correta

42

Ao todo, a unidade possui mais de 10.000 prontuários e diariamente atende

cerca de 50 pessoas de acordo com cada especialidade. O CAPS III é uma unidade

multiprofissional composta por um enfermeiro, um médico, três psicólogos, dois

psiquiatras, um terapeuta ocupacional, um pedagogo, e uma assistente social. Os

pacientes são encaminhados pelo PSF, onde a atendente realiza o agendamento para

a triagem com a enfermeira que irá avaliar o paciente e encaminhá-lo para a

avaliação com o psicólogo e psiquiatra. O paciente com TAB percorre esse mesmo

trajeto com seu cuidador. Dessa forma, justificando a escolha do local para o referido

estudo.

O município de Iguatu localiza-se no Centro-Sul do Ceará, que fica distante

385 km² de Fortaleza, tem uma população de 97.203 habitantes, numa área quadrada

de 1.029,00Km². Sua economia é baseada na agricultura (plantio de arroz e algodão),

na pecuária e no comércio. A rede municipal de serviços de saúde é constituída pelas

esferas municipal, estadual e privadas. Para a presente pesquisa, é relevante

destacar o campo municipal que dispõe em sua rede, três tipos de CAPS, sendo o

CAPSi (Casa Azul) instituição destinada para o tratamento de crianças e

adolescentes, CAPS ad, para o tratamento de alcoólicos e drogados e por fim o CAPS

III destinado para o tratamento de pacientes adultos que apresentem qualquer

transtorno mental independente do tipos e intensidade.

4.3 Sujeitos do Estudo

Participarão desse estudo os cuidadores de pacientes com TAB que

realizam acompanhamento no CAPS III do município de Iguatu, e que seja um familiar

que convive diretamente com a pessoa com TAB, residindo em qualquer um dos

municípios da 18º Microrregional de Saúde e que no momento da coleta de dados

compareça ao serviço acompanhando o paciente, durante a consulta médica e/ou

para realização de atividades em grupos e que aceite participar da pesquisa

voluntariamente.

Como critério de exclusão será estabelecido para aqueles cuidadores que

estiverem impossibilitados de responder ao roteiro de entrevista no momento em que

o paciente estiver em crise.

Page 44: Monografia - Correta

43

4.4 Instrumento de coleta de dados

Para a coleta de dados será utilizado uma roteiro de entrevista (Apêndice

D), que contemplará perguntas sobre o perfil social e econômico do cuidador, os

significados da doença mental para a família, as vivências do cuidador frente aos

cuidados dispensados ao adulto com TAB e a assistência ofertada na atenção à

saúde do cuidador. Na entrevista semi-estruturada, o investigador tem uma lista de

questões ou tópicos para serem preenchidos ou respondidos, como se fosse um guia.

A entrevista tem relativa flexibilidade.

As falas serão gravadas para melhor fidedignidade dos relatos e após

serem transcritas, serão deletadas, pois não terá outra finalidade. Na entrevista semi-

estruturada, o investigador apresentará um questionário para ser preenchidos e/ou

respondidos. As questões não precisam seguir a ordem prevista no guia e poderão

ser formuladas novas questões no decorrer da entrevista (MATTOS; LINCOLN, 2005).

Os dados serão coletados nos mês de abril e maio de 2011.

4.5 Análise dos Dados

A organização dos dados acontecerá através da técnica de análise de

conteúdo segundo recomendações de Laurence Bardin.

A análise de conteúdo pode ser definida como um conjunto de técnicas de análise da comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 1994, p.42).

Os dados serão tratados a partir de uma análise temática, através da qual

os elementos do texto permanecerão classificados num sistema de categorias

definidas, após leitura e releitura dos dados contidos nas respostas dos informantes.

Há também, análise categorial temática, que consiste em uma divisão do texto em

unidades, classes a partir da investigação dos temas. “Entre as diferentes

possibilidades de categorização, a investigação dos temas, ou análise temática, é

rápida e eficaz, à condição de se aplicar a discursos diretos, significações manifestas

e simples” (BARDIN, 1994, p. 153).

Page 45: Monografia - Correta

44

Os dados após serem organizados, serão interpretados e analisados

conforme a literatura pertinente.

4.6 Aspectos Éticos e Legais da Pesquisa

Para devido fins, está pesquisa atenderá ao disposto na Resolução 196/96,

do Conselho Nacional de Saúde, onde a mesma resguarda os sujeitos do estudo

quanto à possibilidade de poderem ficar isentos da pesquisa a qualquer momento

sem que isso lhes traga prejuízos.

Ressalta-se que haverá a solicitação formal para a entrada em campo

(Apêndice B); o projeto será encaminhado para o Comitê de Ética e Pesquisa da

Faculdade Católica Rainha do Sertão e posteriormente aprovado; os participantes

serão convidados a participar da pesquisa e assinarão o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (Apêndice A).

Page 46: Monografia - Correta

45

CRONOGRAMA

Meses

Atividades

2010.2 2011.1

AG

O

SE

T

O

UT

NO

V

DE

Z

JAN

FE

V

MA

R

AB

R

MA

I

JUN

JUL

Escolha do Tema

Levantamento

Bibliográfico

Elaboração do Projeto

Habilitação do Projeto

Envio do Projeto para o

Comitê de Ética e

Pesquisa

Coleta de Dados

Análise e Interpretação

dos Dados

Redação Final da

Monografia

Correção Ortográfica

Defesa da Monografia

Page 47: Monografia - Correta

46

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Page 52: Monografia - Correta

51

APÊNDICES

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Page 53: Monografia - Correta

52

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS

CAMPUS AVANÇADO DE IGUATU- CAI

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Prezado (a) Sr (a):

Meu nome é Milena Silva Costa sou enfermeira e professora do Curso de

Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri – URCA e estou

realizando, neste momento, uma pesquisa A Percepção do Cuidador Acerca do

Transtorno Afetivo Bipolar no município de Iguatu cujos dados serão coletados pela

acadêmica de enfermagem Meirilândia da Silva Domingos.

O TAB caracteriza-se pela ocorrência de episódios de “mania” comumente

alternados com períodos de depressão e de normalidade. Neste estudo, pretendo

conhecer os significados de ser cuidador do adulto com Transtorno Afetivo Bipolar

acompanhado no município de Iguatu, caso aceite a acadêmica Meirilândia da Silva

Domingos, irá fazer uma série de perguntas e realizará a gravação das mesmas para

melhor fidedignidade dos relatos e após a transcrição das falas serão deletados.

Sua autorização será muito importante para contribuição desse estudo,

pois se espera com ele, originar benefícios para o cuidador de paciente com TAB,

contribuir para a disseminação de conhecimentos de toda comunidade acadêmica,

aos profissionais de saúde, bem como gestores que atuam diretamente na saúde

pública por ser uma temática atual e de grande relevância a toda a sociedade.

O Sr (a) terá garantido o sigilo de todas as informações coletadas, bem

como o direito de se desligar da pesquisa a qualquer momento, sem que isso lhe

traga qualquer prejuízo e/ou despesa.

Os dados serão apresentados na disciplina Monografia II do Curso de

Graduação em Enfermagem pela Universidade Regional do Cariri- URCA, Campos

Avançado do Iguatu, respeitando o caráter confidencial das identidades.

Caso precise entrar em contato comigo, informo-lhe meu nome e endereço:

Nome: Meirilândia da Silva Domingos.

Endereço: Rua 12 de outubro, nº 192, Bairro Flores, Iguatu - CE

Fone: (88) 3582- 0604 ou 9916 – 4908.

Page 54: Monografia - Correta

53

E-mail: [email protected].

CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIMENTO

Declaro que após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter

entendido o que me foi explicado, concordo em participar da pesquisa.

Iguatu, _______ de ______________de _______.

______________________________________

Assinatura do responsável pela pesquisa

______________________________________

Assinatura do pesquisador

______________________________________ digital

Assinatura do participante

______________________________________

Assinatura da Testemunha

APÊNDICE B- PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA

Page 55: Monografia - Correta

54

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCACENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS

CAMPUS AVANÇADO DE IGUATU CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

À: ILMO (a) Sra. Maria Marlene Sena Custodio da Costa

ASSUNTO: Pedido de autorização para realização de pesquisa

Iguatu, ___ de __________ de 2010.

Prezado Secretário de Saúde do Município

Solicito de Vossa Senhoria permissão para que Meirilândia da Silva

Domingos, aluna do VIII período do Curso de Graduação em Enfermagem da URCA,

Campus Avançado de Iguatu, possa realizar estudo de campo com familiares de

pacientes portadores de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) atendidos no Centro de

Atenção Psicossocial do Bairro Prado do Município de Iguatu-CE, a fim de coletar

dados para subsidiar seu projeto de pesquisa intitulada A percepção do cuidador

acerca do Transtorno Afetivo Bipolar, tendo como objetivo geral: Conhecer os

significados de ser cuidador do adulto com Transtorno Afetivo Bipolar, sendo orientada

pela Profa. Especialista Milena Silva Costa.

É necessário salientar que a aluna solicitará o consentimento dos

entrevistados, deixando claros os princípios éticos, obedecendo a resolução n° 196/96

que trata de pesquisa envolvendo seres humanos.

Saudações,

__________________________________

Prfa. Eduarda Maria Duarte Rodrigues

Coord. do Curso de Enfermagem

___________________________________

Sra. Maria Marlene Sena Custodio da Costa

APÊNDICE C- PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA

Page 56: Monografia - Correta

55

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCACENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS

CAMPUS AVANÇADO DE IGUATU CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

À: Coordenadora do CAPS III

ASSUNTO: Pedido de autorização para realização de pesquisa

Iguatu, ___ de __________ de 2010.

Solicito de Vossa Senhoria permissão para que Meirilândia da Silva

Domingos, aluna do VIII período do Curso de Graduação em Enfermagem da URCA,

Campus Avançado de Iguatu, possa realizar estudo de campo com familiares de

pacientes portadores de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) atendidos no Centro de

Atenção Psicossocial do Bairro Prado do Município de Iguatu-CE, a fim de coletar

dados para subsidiar seu projeto de pesquisa intitulada A percepção do cuidador

acerca do Transtorno Afetivo Bipolar, tendo como objetivo geral: Conhecer os

significados de ser cuidador do adulto com Transtorno Afetivo Bipolar, sendo orientada

pela Profa. Especialista Milena Silva Costa.

É necessário salientar que a aluna solicitará o consentimento dos

entrevistados, deixando claros os princípios éticos, obedecendo a resolução n° 196/96

que trata de pesquisa envolvendo seres humanos.

Saudações,

__________________________________

Prfa. Milena Silva Costa

Orientadora

___________________________________

Dra. Maria Marlene Sena Custodio da Costa

APÊNDICE D - ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Page 57: Monografia - Correta

56

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCACENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS

CAMPUS AVANÇADO DE IGUATU CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Iniciais: _________________________

Sexo: ___________________________

Idade: ___________________________

Grau de parentesco: _______________

Cidade que Reside: ________________

Estado Civil: ______________________

Escolaridade: _____________________

Profissão: ________________________

Renda Familiar: ___________________

1. O que você conhece sobre a doença do seu familiar?

2. Qual momento mais difícil em relação ao transtorno?

3. Do seu ponto de vista a doença modificou a vida do seu familiar?

4. Quais as dificuldades encontradas em relação ao cuidado com uma pessoa

portadora de transtorno mental?

5. Como é seu cotidiano com uma pessoa portadora de transtorno mental?

6. Você (cuidador) sofre ou sofreu algum tipo de preconceito em relação ao seu

familiar portador de transtorno mental?

7. Você está satisfeito (a) com a atenção ofertada pelos profissionais da saúde

mental? Por quê?

Page 58: Monografia - Correta

57

8. Como o CAPS oferta assistência voltada para você cuidador (a)?

9. Quais as sugestões que você daria para os profissionais do CAPS para ajudar

no seu cuidado?

Page 59: Monografia - Correta

58

ANEXOS

DECLARAÇÃO DE CONCORDÂNCIA

Page 60: Monografia - Correta

59

Declaramos para os devidos fins que, Milena Silva Costa e Meirilândia da Silva

Domingos concordam em participar da realização do estudo intitula ”A percepção

do Cuidador Acerca do Transtorno Afetivo Bipolar”.

___________________________________

Milena Silva CostaAssinatura do Orientador (a).

_____________________________________

Meirilândia da Silva DomingosAssinatura do Orientando (a).

DECLARAÇÃO DE ORÇAMENTO

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60

Declaramos para os devidos fins que, devido ausência de patrocinadores as

despesas do projeto de pesquisa intitulado ”A percepção do Cuidador Acerca do

Transtorno Afetivo Bipolar” serão arcadas pela pesquisadora.

Iguatu, ___ de_________2010.

____________________________________________

Milena Silva CostaAssinatura do Orientador (a).

TERMO DE COMPROMISSO

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61

Milena Silva Costa, Rua Antonio Alves de Morais Junior, 10, Bairro Sossego – Crato-

Ceará, RG: 96029241779, SSP-CE e CPF: 859694943-72, Docente do curso de

graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri responsável pelo

Projeto de Pesquisa Intitulado: “A percepção do Cuidador Acerca do Transtorno

Afetivo Bipolar”, comprometendo-se a desenvolver a pesquisa supracitada de

acordo com a Resolução nº 196 de 10/10/ 1996, do Conselho de Nacional de Saúde.

Iguatu, ____ de __________ 2010.

___________________________________

Milena Silva Costa

Pesquisadora

CARTA DE ENCAMINHAMENTO

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Eu, Milena Silva Costa, portador do RG:96029241779, SSP-CE e CPF: 859694943-

72, docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional

do Cariri, responsável pelo Projeto de Pesquisa: “A Percepção do Cuidador Acerca

do Transtorno Afetivo Bipolar” encaminho o projeto da pesquisa supracitada para

apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Em caso de qualquer dúvida

poderá entrar em contato com a pesquisadora na sala dos professores da referida

instituição de ensino superior acima citada, pelo fone: (88) 35813552 ou no Comitê de

Ética em Pesquisa –CEP/ FCRS –Quixadá-CE, (88)3412-6700 e o ramal 6904.

Iguatu, ___ de ______ de 2010.

_____________________________________

Milena Silva Costa

Assinatura do pesquisador (a).

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