monografia - claudio bitencourt versão final 12042011

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CLÁUDIO BITTENCOURT LEMES DA SILVA AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ATUANTES EM TERRAS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA E A SOBERANIA NACIONAL

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Page 1: MONOGRAFIA - CLAUDIO BITENCOURT Versão Final 12042011

CLÁUDIO BITTENCOURT LEMES DA SILVA

AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ATUANTES EM TERRAS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA E A SOBERANIA NACIONAL

Taguatinga, DF2011

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CLÁUDIO BITTENCOURT LEMES DA SILVA

AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ATUANTES EM TERRAS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA E A SOBERANIA NACIONAL

Monografia a ser apresentada à Banca Examinadora da Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC, como exigência parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Público, sob a orientação do Prof. MsC. René Dellagnezze.

Taguatinga, DF2011

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CLÁUDIO BITTENCOURT LEMES DA SILVA

AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ATUANTES EM TERRAS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA E A SOBERANIA NACIONAL

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Público pela Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC, pela seguinte Banca Examinadora:

Taguatinga – DF, 21/03/2011.

Professor MsC. René Dellagnezze (Orientador)Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC

Presidente

Professor Dr. Marco Antônio Veiga Pinto Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC

1º Examinador

Professor Dr. Alexandre Silvino Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC

2º Examinador

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Este trabalho de conclusão de curso é dedicado a Deus, que sempre está comigo, aos meus filhos, razão máxima do meu viver. Aos meus pais, Lúcia, minha mãe e advogada e Goiazim, pai e incentivador. Aos meus avós, principalmente ao Vovô Bittencourt e a Vovó Veneranda, que, aos meus dezesseis anos, meu aconselharam a cursar Direito e sempre dedicaram especial deferência à formação do meu caráter e conhecimento. Também dedico este a Herica Rodrigues, que incentivou o prosseguimento dos estudos na especialização.

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Agradeço todos os professores da especialização que com paciência, dedicação e carinho, apresentaram o conhecimento e incentivaram minhas pesquisas e aprofundamentos, levantando dúvidas que instigaram respostas. Meu especial agradecimento ao Professor Marco Veiga que desde a primeira aula mostrou a beleza do Direito e ao Professor Fernando Rocha, profundo conhecedor e estudioso do assunto abordado, que me guiou e despertou o interesse pelo tema. Não posso deixar de agradecer profundamente aos Professores René Dellagnezze e Alexandre Silvino, que demonstraram dedicação e calma na orientação deste trabalho. Fica registrada minha gratidão aos funcionários da FACITEC, pois sem sua colaboração este trabalho não seria possível.

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“Devemos aperfeiçoar os instrumentos que nos permitam viver como Estado, como instituições políticas adequadas ao sistema democrático e não copiadas de povos com culturas e experiências diferentes. O que é artificial se esboroa. A perfeição não existe, mas sejamos autênticos para que tenhamos uma vida democrática como o Brasil cristão e defensor da paz sempre reclamou ao longo de sua história de nação amante da liberdade, da ordem, da justiça, do direito e da lei.”

BITTENCOURT (1976, p. 13)

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RESUMO

Esta monografia busca descrever como as Organizações Não Governamentais em atuação junto às comunidades indígenas ferem a Soberania Nacional e descrever os possíveis benefícios e malefícios que estas organizações podem causar nesses grupos populacionais na região Amazônica. Através desta pesquisa, pode-se deduzir que há fortes indícios de que Organizações Não Governamentais estão se instalando na Amazônia Legal com objetivos outros que não a finalidade a que se destinam e ainda recebem recursos públicos nacionais para isso, confrontando diretamente com a Soberania Nacional.

Palavras-chave: Soberania Nacional. Índios. ONGs. OSCIP. Amazônia. Comunidades Indígenas.

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ABSTRACT

This monograph attempts to describe how non-governmental organizations with activities in indigenous communities and violate national sovereignty describe the benefits and harms that they can cause these population groups in the Amazon region. Through this research, we can deduce that there is strong evidence that NGOs are being installed in the Amazon for purposes other than their intended purpose and also receive national public resources for this, comparing directly with national sovereignty.

Keywords: National Sovereignty. Indians. OSCIP NGOs. Amazon. Indigenous communities.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................

1.1 Objetivo Geral............................................................................................................

1.2 Objetivos Específicos.................................................................................................

1.3 Hipóteses.....................................................................................................................

2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................

2.1 A Amazônia Legal............................................................................................

2.1.1 Definição de Amazônia Legal.................................................................................

2.1.2 Recursos Naturais...................................................................................................

2.1.3 Recursos Minerais...................................................................................................

2.2 ONGs...........................................................................................................................

2.2.1 Definição de Organização Não Governamental (ONG)......................................

2.2.2 Finalidade das ONGs..............................................................................................

2.2.3 Recursos Destinados às ONGs...............................................................................

3 MÉTODO.......................................................................................................................

3.1 Tipo de Pesquisa.........................................................................................................

3.2 Participantes...............................................................................................................

3.3 Procedimentos e Instrumentos..................................................................................

3.3.1 Referências da Internet...........................................................................................

3.3.2 Análise......................................................................................................................

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................

4.1 ONGs Atuantes em Terras Indígenas na Amazônia...............................................

4.1.1 O Índio na Amazônia..............................................................................................

4.1.2 ONGs na Amazônia.................................................................................................

4.1.3 Ação das ONGs nas Comunidades Indígenas.......................................................

4.1.4 Possíveis Benefícios Para a Comunidade Indígena..............................................

4.1.5 Possíveis Malefícios Para a Comunidade Indígena..............................................

4.2 Soberania Nacional.....................................................................................................

4.2.1 Conceito de Soberania Nacional.............................................................................

4.2.2 Definição Legal na Constituição Federal de 1988................................................

4.3 ONGs e Soberania Nacional......................................................................................

4.4 Resultado das Entrevistas..........................................................................................

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................

REFERÊNCIAS...............................................................................................................

ANEXOS...........................................................................................................................

ANEXO A – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

DE 5 DE OUTUBRO DE 1988.(ARTS. 1º AO 4º).........................................................

ANEXO B - Nº 6.001, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1973. ESTATUTO DO ÍNDIO.

(ARTS. 17 AO 46)............................................................................................................

ANEXO C – SIAFI - TRANSFERÊNCIAS A INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

SEM FINS LUCRATIVOS- EXERCÍCIO DO ANO DE

2010....................................................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

Os registros da história mundial relatam invasões territoriais motivadas por fatores

diversos, indo da expansão geográfica às disputas religiosas, segundo Huberman (1986). Em

tempos de modernidade, invadir outros países e explorar suas riquezas constitui uma

alternativa politicamente incorreta, mas existem necessidades não supridas dos países

desenvolvidos. Fontes de energia barata e cura para doenças são exemplos de problemas cujas

elucidações podem estar em lugares ainda não totalmente explorados. O mundo capitalista

exige cada vez mais novidades, mas a discussão reside em como explorar sem invadir

belicamente ou com a desaprovação da comunidade internacional.

A política, através da diplomacia, de oferta de auxílio internacional, pode ser um meio

eficaz para entrar em territórios estrangeiros. Políticos locais produzem leis e necessitam de

apoio financeiro e prestígio para se elegerem e as Organizações não Governamentais (ONGs),

pela finalidade assistencial, podem fornecer ambos. O ciclo se fecha com políticos fazendo

leis que, além de facilitar a entrada, beneficiam financeiramente estas entidades sem exigência

de uma fiscalização acirrada de suas atividades, proporcionando desvios de finalidade.

Desta forma justifica-se a deficiência na legislação brasileira e na fiscalização das

ONGs. O descaso intencional que preocupa, principalmente na área da Amazônia brasileira,

por ser uma região que, além de grandes proporções, detém uma vasta quantidade de

matérias-primas úteis à indústria farmacêutica e à fontes de energia menos caras (OLIVEIRA

e HADDAD, 2001).

Sobre a causa indígena, a legislação brasileira carrega um paradoxo, pois os índios

devem ser respeitados quanto às suas terras, autogoverno e costumes, sem influência estatal

em seus domínios. Por outro lado fazem parte do território do Brasil e estão sujeitos à

vigilância constante do Estado.

Como o Governo não consegue fiscalizar e prestar a assistência devida ao indígena,

permite a ação das ONGs, as mesmas que, se desviarem de sua finalidade, podem estar

afrontando a Soberania Nacional.

Soberania Nacional é o poder de mando do Estado dentro de seu território, como

entende Ribeiro (2009, p. 21), detendo pesquisas, extração, exploração, uso, de tudo neste

contido, e a precariedade da assistência devida ao indígena, permite a ação das ONGs, que, ao

se desviarem de sua finalidade, podem representar uma afronta a esse poder. A falta de ação

efetiva do Governo, principalmente na questão indígena, pode, nos moldes atuais, representar

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uma violação mínima. Sob uma ótica mais vultosa significaria desmembramento de uma área

significativa do país ou ainda o surgimento de patentes com matérias primas brasileiras, como

foi o caso do açaí, patenteado pelo Japão.

Indispensável afirmar que não se pode aventar que todas as organizações não

governamentais presentes na região estão praticando ilícitos ou ferindo a Soberania Nacional,

mas sim, há a possibilidade de uma significativa quantidade delas fazê-lo.

O presente trabalho buscou-se investigar como a interferência das ONGs em terras

indígenas pode afrontar a Soberania Nacional.

1.1 Objetivo Geral:

Descrever como as ONGs ferem a Soberania Nacional ao influenciar as comunidades

indígenas.

1.2 Objetivos Específicos:

a. Descrever o papel das ONGs em terras indígenas;

b. Descrever os possíveis benefícios e malefícios das ONGs para as comunidades

silvícolas e o Estado brasileiro;

c. Identificar instituições de apoio e sua relação com as ONGs;

d. Descrever a percepção de políticos, militares, advogados e representantes de ONGs

sobre a relação, demarcação e Soberania Nacional.

1.3 Hipóteses:

a. As ONGs atuam fazendo o papel de Estado junto às comunidades indígenas,

afrontando a Soberania Nacional;

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b. A Soberania Nacional é comprometida quando as ONGs, sob a égide do

assistencialismo, favorecem interesses militares e estratégicos alienígenas, assim como

a pesquisa científica tem fins economicamente voltados para os interesses dos países

de origem.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A Amazônia Legal

2.1.1 Definição de Amazônia Legal

O termo Amazônia Legal teve origem na necessidade do Estado brasileiro de integrar

regiões do território nacional que se encontravam, na década de 50, em menor grau de

desenvolvimento (MARTINS, 2008). Essa necessidade levou à promulgação da Lei nº 1.806,

de 06/01/1953, introduzindo legalmente a definição, através de seu artigo 2º, in verbis:

Art.2º A Amazônia brasileira, para efeito de planejamento econômico e execução do plano definido nesta lei, abrange a região compreendida pelos Estados do Pará e do Amazonas, pelos territórios federais do Acre, Amapá, Guaporé e Rio Branco, e ainda, a parte do Estado de Mato Grosso a norte do paralelo 16º, a do Estado de Goiás a norte do paralelo 13º e do Maranhão a oeste do meridiano de 44º. (BRASIL, 1953)

Posteriormente surgiram leis, como a de nº 5.173 de 1966; a Lei Complementar n º 31

de 11/10/1997, que abrangeu também a área do estado de Mato Grosso; a Constituição

Federal de 1988, através do Ato das Disposições Transitórias, artigos 13 e 14, que criou o

Estado do Tocantins, divisão do Estado de Goiás e transformou os Territórios Federais de

Roraima e Amapá, em estados da Federação; permanecendo com a área delimitada pela Lei

de 1953, somado o Estado de Mato Grosso.

Para os fins deste trabalho, considerar-se-á Amazônia Legal como a Amazônia, pois as

reservas indígenas em foco estão nessa área, além de ser esta a descrição encontrada no

Tratado de Cooperação Amazônica, gerido pela Organização do Tratado de Cooperação

Amazônica (OTCA), com sede em Brasília-DF, Brasil. (OTCA, 2010)

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2.1.2 Recursos Naturais

Diversas publicações dão conta da grande quantidade de recursos naturais existentes

na Amazônia, dentre elas textos da ONG World Wildlife Fund (WWF), que informa:

Conhecida em âmbito mundial como a maior floresta tropical do mundo - são 4,1 milhões de km2 de florestas somente em território brasileiro - e pelo Rio Amazonas (o maior do mundo em volume de água, com uma bacia de 7.3 milhões de km2 e 1.100 afluentes), a Amazônia é uma região vasta e rica em recursos naturais: possui grandes estoques de madeira, borracha, castanha, peixes, minérios e plantas, das quais se extraem óleos e essências para uso medicinal, cosmético e alimentício, entre outros. (WWF)

A Agência Nacional de Águas (ANA) dá mais informações sobre aspectos

relacionados aos recursos hídricos da região amazônica, como a seguir:

A floresta, apesar de ser a característica mais marcante da Amazônia (um dos principais biomas do país), não esconde a grande variedade de ecossistemas, dentre os quais se destacam: matas de terra firme, florestas inundadas, várzeas, igapós, campos abertos e cerrados. A Amazônia abriga uma infinidade de espécies vegetais e animais: 1,5 milhão de espécies vegetais catalogadas; três mil espécies de peixes; 950 tipos de pássaros; e ainda insetos, répteis, anfíbios e mamíferos e se constitui num dos principais biomas do Brasil (IBAMA, 2002 apud ANA, 2003)

No mesmo texto, são mencionadas características da floresta Amazônica:

A floresta Amazônica é um ecossistema auto-sustentável (sic), mantendo-se com seus próprios nutrientes num ciclo permanente. Os ecossistemas amazônicos são sorvedouros de carbono, contribuindo para o equilíbrio climático global. (ANA, 2003)

E continua, fazendo referência ao potencial energético na região, como abaixo:

Geração de energia: Existem atualmente 32 usinas hidrelétricas na região hidrográfica, e uma potência instalada de 597.606 kW que corresponde à cerca de 1% da capacidade instalada de geração de energia elétrica nacional (ANEEL, 2002). As principais usinas hidroelétricas em operação na região hidrográfica são as de Samuel (RO), Balbina (AM) e Curuá-Uma (PA). Apesar do grande potencial hidrelétrico, aspectos como a grande dispersão entre os poucos centros urbanos da região hidrográfica, as grandes distâncias entre os potenciais e os principais centros consumidores nas demais regiões do País, além do passivo ambiental resultante de áreas alagadas, fazem com que a região tenha até o presente a predominância da geração térmica em sua matriz energética. (ANA, 2003)

Cabe ressaltar, conforme anuncia o sítio do Instituto Socioambiental (2010), que a

hidrelétrica de Belo Monte encontra em fase preliminar de construção, ou seja, foi concedida

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a licença ambiental prévia para sua construção, e que representará um incremento de 11 mil

megawatts. Soma-se à capacidade hidroenergética da região as hidrelétricas construídas no

Rio Tocantins, como noticiado em 09/02/2009, no jornal Diário do Norte, abaixo transcrito:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inaugurou na quinta-feira (5) a Usina Hidrelétrica São Salvador, entre os municípios de São Salvador e Paranã, no Rio Tocantins, no Estado do Tocantins. O empreendimento (...) tem capacidade instalada de 243,2 megawatts, suficiente para atender uma população de 1 milhão de habitantes.(...) As outras duas usinas instaladas no Rio Tocantins são a UHE Lajeado, concluída em 2001 e com capacidade para gerar 902,5 MW de energia, e a UHE Peixe Angical, que entrou em funcionamento em 2006 e tem capacidade para produzir 452 MW. Também estão em andamento as obras da Usina Hidrelétrica de Estreito, entre os municípios tocantinenses de Aguiarnópolis e Palmeiras do Tocantins e o município de Estreito, no Maranhão, que juntas produzirão quase 1.100 MW. (BUENO, 2009)

Outra riqueza natural apontada pela agência reguladora governamental é a pesca, pela

sua abundância:

Pesca: A pesca representa a segunda atividade geradora de empregos da região, e tende a aumentar com o crescimento populacional, visto que os peixes representam a principal fonte de suprimento protéico. Atualmente cerca de duzentas mil toneladas anuais de pescado são retiradas dos rios amazônicos. Dessa produção, 30% destina-se a outros mercados (cerca de 60% para os EUA e Japão), concentrando-se em poucas espécies de peixes como o pirarucu, o tucunaré, o curimatá, o matrinchã, o tambaqui e o jaraqui. (ANA, 2003)

Elenca ainda o turismo e lazer como uma das riquezas naturais da região, destacando a

flora e a fauna como elementos da paisagem, como abaixo transcrito:

Turismo e lazer: A intensa rede hidrográfica e a exuberância dos recursos de flora e fauna da região compõem quadros paisagísticos diversificados de inegável beleza. O ecoturismo surge com uma potencialidade evidente, capaz de representar uma atividade econômica importante para a região e colaborar para a preservação deste rico patrimônio ambiental. (ANA, 2003)

Como se observa, a Amazônia não é somente uma potência econômica em recursos

inexplorados. Suas características naturais por si próprias já proporcionam uma fonte

econômica reconhecida nacional e internacionalmente.

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2.1.3 Recursos Minerais

No tocante aos recursos minerais da região da Amazônia, Santos (2002) indica uma

riqueza bastante relevante ao menos em termos potenciais, já que a região não possui estudos

exploratórios mais aprofundados. Todavia existem outras formas de considerar a possibilidade

da presença de minérios, como se segue:

Na Amazônia, as áreas de pré-cambriano correspondem a cerca de 40% do seu território [Fig. 3]. As suas seqüências vulcano-sedimentares (do tipo greenstone belt ou não), intrusões graníticas, derrames vulcânicos ácidos e intermediários, complexos alcalino-ultrabásicos e básico-ultrabásicos, e coberturas sendimentares (sic) apresentam potencialidade para uma grande variedade de depósitos minerais, tais como ferro, manganês, alumínio, cobre, zinco, níquel, cromo, titânio, fosfato, ouro, prata, platina, paládio, ródio, estanho, tungstênio, nióbio, tântalo, zircônio, terras-raras, urânio e diamante. Deve ser salientado que boa parte dos depósitos minerais, embora relacionados a rochas pré-cambrianas, foram formados através de processos de enriquecimento – laterização, erosão e concentração – em tempos mais recentes, do Terciário ao Quaternário. (SANTOS, 2002)

Pode-se notar que a grande potencialidade dos recursos se baseia em levantamentos

geológicos, levando-se em consideração a formação histórica da região.

Mais dados sobre a riqueza mineral amazônica são fornecidos pelo sítio Comciência

(2000), que tem como diretor de redação, o Sr. Carlos Vogt, na reportagem “Amazônia:

Interesses e Conflitos”, com texto transcrito abaixo:

Garimpo e extração mineral na Amazônia A Amazônia possui ainda uma série de riquezas minerais mal exploradas economicamente. Metais como ferro, zinco, alumínio, nióbio e ouro estão presentes no subsolo amazônico em quantidades variáveis. A maior mina de nióbio do planeta está em São Gabriel da Cachoeira, estado do Amazonas. Em Nova Olinda, também no Amazonas, há uma reserva de Cloreto de Potássio (KCl, importante fertilizante de solos) estimada em 340 milhões de toneladas, que até o começo da década de 90 estava sendo estudada pela Petromisa, com colaboração do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). O governo Collor extinguiu a Petromisa, deixando esta importante reserva abandonada. Cabe salientar que os custos que o Brasil tem com a importação de fertilizantes agrícolas só são superados pelos custos de compra de petróleo. (COMCIENCIA, 2000)

Por não haver necessidade de aprofundamento maior no tópico ora abordado, foram

utilizados dados estimativos, levantando-se a riqueza mineral da região em termos potenciais.

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2.2 ONGs

2.2.1 Definição de Organização Não Governamental (ONG)

O ordenamento jurídico não define ONG, sendo necessário recorrer às obras literárias

que tratam do assunto e, narram como surgiu o termo:

Provindo da denominação em inglês Non-Governmental Organizations (NGO), o termo ONG tem sua origem nas Nações Unidas, onde foi pela primeira vez utilizado” como referência a organizações supranacionais e internacionais. “Na resolução 288 (X), de 1950, do Conselho Econômico e Social, ONG foi definida no âmbito das Nações Unidas como sendo uma organização internacional a qual não foi estabelecida por acordos governamentais. (MENESCAL apud CAMPOS, 1999, p. 2).

O surgimento da definição no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), em

1950, portanto, pós Segunda Grande Guerra Mundial, quando os Estados buscavam

harmonizar suas relações e a ajuda mútua em busca da paz, ficou bastante relevante dentro do

contexto mundial, conforme Câmara (2003). Originou-se na necessidade da diferenciação

entre instituições geradas de acordos entre governos internacionais, como a ONU e suas

Agências, e organizações privadas com as mesmas finalidades, contudo, sem a participação

governamental. O termo ganha destaque no Brasil na década de 80, como se segue:

Na literatura brasileira, a expressão “ONG” teria surgido em meados dos anos 80, nos termos do que Rubem César Fernandes chamara na época de “micro-organizações não governamentais sem fins lucrativos”, para definir as organizações que realizavam projetos junto aos movimentos populares com objetivos de promoção social. Já na Alemanha, por exemplo, o termo teria nascido “mais dentro do governo que fora dele” quando, na década de 60, o Ministério da Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) daquele país começou a repassar subsídios da chamada “ajuda para o desenvolvimento” para organizações não estatais, em geral ligadas às igrejas católicas e evangélicas. (MENESCAL apud CAMPOS, 1996, p. 2).

Note-se que a expressão ONG, trata da iniciativa privada, popular ou eclesiástica, no

sentido de auxiliar no desenvolvimento dos povos, todavia já surgia paradoxalmente, como

visto acima, uma participação estatal nestes movimentos não governamentais.

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2.2.2 Finalidade das ONGs

Depreende-se do próprio histórico abordado acima que a necessidade de ajuda mútua

entre os povos, fez com que a sociedade civil buscasse agir em prol da paz e harmonia, assim

surgiram as ONGs como sociedades civis com a finalidade assistencial e sem fins lucrativos.

No Brasil, objetivo inicial das ONGs era a assistência social, mas foi acrescido a este, dentre

outros, a fiscalização dos atos governamentais, conforme disposto no Projeto de Lei nº 2.312,

de 2003, de autoria da Comissão de Participação Legislativa da Câmara dos Deputados:

No Brasil, a expressão ONG é relacionada às entidades que surgiram para apoiar movimentos sociais e organizações populares de base comunitária, com objetivos de promoção da cidadania em geral; defesa e proteção de direitos; luta pela democracia política e social; proteção a segmentos sociais excluídos e marginalizados; fortalecimento da sociedade civil, com ênfase nos trabalhos de educação popular; elaboração e monitoramento de políticas públicas, com forte atuação junto ao Estado, à sociedade e à imprensa. Enfim, são aquelas instituídas com o objetivo de contribuir para a construção de um mundo mais justo, solidário e sustentável. São assim consideradas, especialmente, aquelas entidades que se associam à Associação Brasileira de ONGs (ABONG), instituída em 1991. (CÂMARA, 2003)

Cumpre colocar a autodefinição extraída do sítio da Associação Brasileira de

Organizações Não Governamentais (ABONG), por sua importância dentro do contexto:

A Associação Brasileira de Organizações não Governamentais - ABONG, fundada em 10 de agosto de 1991, é uma sociedade civil sem fins lucrativos, democrática, pluralista, antirracista e anti-sexista (sic), que congrega organizações que lutam contra todas as formas de discriminação, de desigualdades, pela construção de modos sustentáveis de vida e pela radicalização da democracia.A ABONG tem sua origem em organizações com perfil político caracterizado pela resistência ao autoritarismo; consolidação de novos sujeitos políticos e movimentos sociais; busca de alternativas de desenvolvimento ambientalmente sustentáveis e socialmente justas; luta contra as desigualdades sociais, econômicas, políticas e civis; a universalização e construção de novos direitos e a consolidação de espaços democráticos de poder. (ABONG, 2011)

A ABONG é a organização não governamental que constitui uma grande fonte de

informação sobre as ONGs existentes no país, justamente por representar uma reunião delas,

razão pela qual será usada como embasamento para colocações futuras.

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2.2.3 Recursos Destinados às ONGs

No tocante aos recursos destinados às ONGs, cabe citar publicação da ABONG neste

sentido:

São diversas as fontes de recursos: podem ser internacionais, por meio de parcerias realizadas com agências de cooperação, ou nacionais, por intermédio do acesso a fundos públicos, doações de indivíduos ou empresas e da utilização de mecanismos de auto-sustentabilidade (sic). (ABONGb)

Como se pode notar, existe a captação de recursos das mais variadas formas, inclusive

estatais. As ONGs utilizam esses fundos para financiar toda a parte operacional necessária,

incluindo-se aí os salários de seus participantes mesmo sendo a maioria de trabalho

voluntário, segundo a própria ABONG. Dentre os recursos elencados, encontram se parcerias

com laboratórios farmacêuticos internacionais e Estados estrangeiros, como é o caso de uma

associada da ABONG, a Associação Saúde Sem Limites (SAUDESEMLIMITES, 2011),

atuante junto às comunidades indígenas, que mantém parceria com a Health Unlimited, a Pan

American Health and Education Foundation, PAHEF e a Fundação Pfizer, esta mantida pela

grande indústria farmacêutica multinacional Pfizer.

O tratamento dispensado às ONGs no âmbito internacional, conduz suas atividades

coibindo articulações e possíveis desvios de finalidade, como nos relata Barbosa (2010):

Nos países de tradição anglo-saxônica, há restrições às atividades políticas das ONGs de fim público. O apoio financeiro do Estado impede que as organizações beneficiadas apóiem candidato a cargo político ou algum partido político. No entanto, atividades políticas de caráter educativo são admitidas, desde que observem certas condições: devem concorrer para a consecução dos objetivos da entidade, divulgando informação comprovada e a opinião de especialistas, consistindo de iniciativa claramente destinada a capacitar o público e as autoridades governamentais para que compreendam e discirnam, com melhor juízo, sobre determinados assuntos. No Canadá, as infrações são punidas drasticamente com a perda de incentivos. (BARBOSA, 2010)

Na mesma direção, a legislação norte-americana prevê proibição relativa ao assunto:

Nos Estados Unidos, desde 1954 as ONGs que recebem privilégios fiscais são proibidas de participar de campanha política para o preenchimento de cargos públicos. A proibição justifica-se pela tese da “neutralidade”, a saber: o contribuinte do imposto não deve ser compelido a subsidiar, direta ou indiretamente, a ação política de grupos ou correntes com as quais não concorda. (BARBOSA, 2010)

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Configura-se aí uma imposição da neutralidade dos agentes de ONGs na política local,

caso não houvesse tal preocupação, a participação da ONGs poderia se estender às leis que as

regem.

No tocante aos recursos federais destinados às entidades privadas sem fins lucrativos,

a ONG Contas Abertas indica o valor de R$ 36.334.507,74, como o total de recursos

financeiros federais destinados aos estados do Amazonas e Pará em 2010. Cumpre explicar,

que, segundo o Diretor-Executivo, o Sr. Gil Castelo Branco, as entidades relacionadas não são

exclusivamente ONGs, podendo estar no rol inseridos outros tipos de instituições sem fins

lucrativos. (ANEXO C)

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3 MÉTODO

3.1 Tipo de pesquisa

A pesquisa é básica por não ter aplicação imediata; de caráter exploratório; com dados

originados em campo, ou seja, obtidos de sujeitos humanos e não humanos; sendo levantados

também em campo, isto é, em situação natural e sem controle; tendo natureza tanto qualitativa

como quantitativa; temporalmente definida como longitudinal e seu delineamento por

levantamento.

3.2 Participantes

Participaram da pesquisa, os seguintes profissionais: um advogado, com

especialização em Direito Público, um professor universitário, com atuação e conhecimento

na área constitucional há mais de três anos; dois militares dos quais um é capitão da

Aeronáutica da reserva que atuou na Amazônia há vinte anos na Assessoria de Imprensa e

Comunicação da Aeronáutica, hoje atuando como coordenador do curso de Comunicação

Social de uma instituição de ensino superior no DF. O segundo militar é um tenente da

Aeronáutica na ativa, que ainda atua na área amazônica como jornalista do Centro de

Comunicação Social da Aeronáutica. Ainda, participaram um dirigente de ONG atuante nos

assuntos referentes ao tema em questão e uma ex-assessora parlamentar que colaborou nos

levantamentos necessários à elaboração de projetos de lei sobre ONGs.

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3.3 Procedimentos e instrumentos

3.3.1 Referências da Internet

Em primeiro lugar fez-se mister acessar a Internet, em sites como www.scielo.br e

governamentais como www.planalto.gov.br, www.ibge.gov.br, www.camara.gov.br,

www.funai.gov.br, www.al.ma.gov.br, dentre outros como www.bibliotecadigital.ufba.br,

pois foi por meio desses repositórios, que se pôde encontrar sites, páginas e artigos, material

necessário ao trabalho.

Uma vez obtidas informações recentes, tanto as referentes à literatura hodierna, quanto

às relativas às reportagens, foi realizada uma consulta em bibliotecas (Senado Federal,

Instituto Nacional do Livro - INL) a fim de analisar livros doutrinários que embasam os

conceitos necessários, considerados referências magnas. Dessa forma, foram consultados

livros na área destinada ao Direito Constitucional, Direito Ambiental e Ecologia.

De posse do material obtido na Internet e por meio da análise da literatura

especializada, foi construído um protocolo de estudo que permitiu o cotejamento de conceitos

e opiniões sobre o tema. Com base no protocolo foi construída a síntese que ensejou o fio

condutor do trabalho.

Ainda, foi construído um roteiro de entrevista semi-estruturado com a ajuda do Prof.

Dr. Alexandre Silvino, Professor Titular da Pós-Graduação e Coordenador do Núcleo de

Produção Científica da Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas (FACITEC), composto

de quatro seções. A primeira seção refere-se a um conjunto de dados demográficos (ex.:

idade, formação, ocupação funcional). A segunda seção abordará o assunto Soberania

Nacional, seu conceito, sua força dentro do cenário político-econômico nacional e

internacional. A terceira seção dedicar-se-á aos conhecimentos sobre ONGs, como atuam,

quais as origens de seus recursos, qual o posicionamento do entrevistado ante os benefícios e

malefícios que podem trazer em seu bojo. Alfim, na quarta seção, confrontaram-se as ideias

explicitadas na segunda e terceira seção, buscando um posicionamento do entrevistado frente

às ONGs na Amazônia e a Soberania Nacional.

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3.3.2 Análise

Primeiramente foi realizada uma análise aprofundada buscando corroborar ou negar as

hipóteses elencadas. Em seguida, com as informações depreendidas das entrevistas e da

literatura, buscou-se um delineamento das ações das ONGs na Amazônia.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A presente seção tem por objetivo apresentar e discutir os resultados obtidos por meio

das análises documentais, da análise da doutrina e das entrevistas.

Para tanto está organizada da seguinte forma:

Primeiramente é discutido sobre as ONGs atuantes em terras indígenas na Amazônia,

abordando o índio na Amazônia, sua população, distribuição, etnias, características e as

ONGs na Amazônia.

Posteriormente é tratada a ação das ONGs nas comunidades indígenas e os possíveis

benefícios e malefícios que podem causar para essas comunidades.

Logo após, discorre-se sobre a Soberania Nacional, sua conceituação, definição legal

na Constituição Federal de 1988 e em seguida são confrontadas as ONGs e a Soberania

Nacional.

Por fim, é apresentado o resultado das entrevistas efetuadas com pessoas relacionadas

com o assunto.

4.1 ONGs Atuantes em Terras Indígenas na Amazônia

4.1.1 O Índio na Amazônia

A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) traz estatísticas sobre a quantidade de índios

no Brasil:

Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,25% da população brasileira. Cabe esclarecer que este dado populacional considera tão-somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há também 63 referências de índios ainda não-contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista. (FUNAIa, 2010)

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Desse total, aproximadamente 60% vive na Amazônia, como relata o sítio Povos

Indígenas no Brasil, mantido e organizado pelo Instituto Socioambiental (ISA):

Na Amazônia Legal - que é composta pelos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte oeste do Maranhão - vive 60% da população indígena. (PIBISA, 2010)

Apesar de representarem estimativas, estes dados mostram a população indígena e sua

localização dentro da Amazônia.

Para melhor entendimento sobre as etnias presentes, o site oficial do Governo

brasileiro noticia, ipsis literis:

Essa população (indígena) está distribuída em cerca de 215 etnias, que falam cerca de 170 línguas distintas. A classificação lingüística reconhece a existência de dois troncos principais (tupi e macro-jê) e de outras seis famílias lingüísticas de importância significativa (aruak, arawá, karib, maku, tukano e yanomami), além de muitas línguas sem filiação definida.Cerca de 60% da população indígena brasileira vive na região designada como Amazônia Legal, mas registra-se a presença de grupos indígenas em praticamente todas as unidades da Federação. Somente no Rio Grande do Norte, no Piauí e no Distrito Federal não se encontram grupos indígenas. (BRASIL)

Divulga ainda, oficialmente, características sobre as comunidades indígenas e

explicitam que independentemente do grau de integração com a sociedade, são identificados

como índios, como se observa no texto abaixo reproduzido:

A característica principal da população indígena do Brasil é a sua grande heterogeneidade cultural. Vivem no Brasil desde grupos que ainda não foram contatados e permanecem inteiramente isolados da civilização ocidental, até grupos indígenas semi-urbanos e plenamente integrados às economias regionais. Independentemente do grau de integração que mantenham com a sociedade nacional, esses grupos aculturados preservam sua identidade étnica, se auto-identificam e são identificados como índios.Atualmente os principais grupos indígenas brasileiros em expressão demográfica são: Tikuna, Tukano, Macuxi, Yanomami, Guajajara, Terena, Pankaruru, Kayapó, Kaingang, Guarani, Xavante, Xerente, Nambikwara, Munduruku, Mura, Sateré-Maué, dentre outros. (BRASIL)

O direito dessa população à terra está elencado no artigo 231, da Constituição Federal

de 1988, infra trasladado:

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. § 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis

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à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. § 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º. (BRASIL, 1988)

Nesta mesma seara, o Estatuto do Índio, Lei nº 6.001/73, de 19 de dezembro de 1973,

recepcionado pela Carta Magna de 1988, define os procedimentos quanto à posse e suas

atividades permissíveis na área, in verbis:

Art. 18. As terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade indígena ou pelos silvícolas. § 1º Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutos, assim como de atividade agropecuária ou extrativa. (BRASIL, 1973)

O Estatuto do Índio ainda dá mais detalhamentos sobre a posse de suas terras.

Observa-se que não só delimita os direitos indígenas à posse e usufruto, como também exclui

o domínio da terra. Este, consoante com a Constituição Federal, é da União, como se nota nos

artigos do Estatuto em comento, abaixo transcritos:

Art. 22. Cabe aos índios ou silvícolas a posse permanente das terras que habitam e o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes. Parágrafo único. As terras ocupadas pelos índios, nos termos deste artigo, serão bens inalienáveis da União (artigo 4º, IV, e 198, da Constituição Federal). Art. 23. Considera-se posse do índio ou silvícola a ocupação efetiva da terra que, de acordo com os usos, costumes e tradições tribais, detém e onde habita ou exerce atividade indispensável à sua subsistência ou economicamente útil. Art. 24. O usufruto assegurado aos índios ou silvícolas compreende o direito à posse, uso e percepção das riquezas naturais e de todas as utilidades existentes nas

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terras ocupadas, bem assim ao produto da exploração econômica de tais riquezas naturais e utilidades. § 1° Incluem-se, no usufruto, que se estende aos acessórios e seus acrescidos, o uso dos mananciais e das águas dos trechos das vias fluviais compreendidos nas terras ocupadas. § 2° É garantido ao índio o exclusivo exercício da caça e pesca nas áreas por ele ocupadas, devendo ser executadas por forma suasória as medidas de polícia que em relação a ele eventualmente tiverem de ser aplicadas. (BRASIL, 1973)

No artigo 25 do Estatuto do Índio, verifica-se uma das fundamentações do Supremo

Tribunal Federal (STF) sobre o caso da Reserva Raposa Serra do Sol, mais adiante explicado:

Art. 25. O reconhecimento do direito dos índios e grupos tribais à posse permanente das terras por eles habitadas, nos termos do artigo 198, da Constituição Federal, independerá de sua demarcação, e será assegurado pelo órgão federal de assistência aos silvícolas, atendendo à situação atual e ao consenso histórico sobre a antigüidade da ocupação, sem prejuízo das medidas cabíveis que, na omissão ou erro do referido órgão, tomar qualquer dos Poderes da República. (BRASIL, 1973)

Como o artigo faz remissão ao artigo 198, da Constituição Federal, mister se faz

explicar que trata-se da Constituição Federal de 1967, após a Emenda Constitucional nº 1, de

17 de outubro de 1969. Isto posto, verifica-se que o artigo menciona “independente de

demarcação” e “atendendo à situação atual e ao consenso histórico sobre a antiguidade da

ocupação”. Esses destaques serão relevantes ao caso da reserva supra-assinalada.

4.1.2 ONGs na Amazônia

Existe uma grande quantidade de ONGs atuantes na Amazônia, segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como a seguir:

Em 2005 estavam registradas 338 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, que empregavam 1,7 milhão de pessoas em todo o País, com salários médios mensais de R$ 1.094,44. O tempo médio de existência dessas instituições era de 12,3 anos e o Sudeste abrigava 42,4% delas. Essas instituições são, em geral, de pequeno porte, e 79,5% (268,9 mil) delas não possuem sequer um empregado formalizado.Estudo do IBGE em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG) e o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), feito a partir do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) mostra que, em 2005, existiam 338 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil) em todo o País. Entre elas, 35,2% atuavam na defesa dos direitos e interesses dos cidadãos, 24,8% eram instituições religiosas e 7,2% desenvolviam ações de Saúde e Educação e pesquisa. A distribuição das Fasfil no território nacional tende a acompanhar a distribuição da

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população. Contudo, na Região Norte foram encontradas 4,8% das organizações contra 8,0% da população. (IBGEb, 2008)

Segundo o estudo feito em parceria com a ABONG, verifica-se que mais de 16.200

organizações atuam na região norte. Dados colhidos por esta última, explicam melhor esses

números:

A pesquisa demonstra a heterogeneidade do associativismo brasileiro, explicitando o quanto esse universo é amplo e complexo. Assim, podemos ver que não existem 338 mil ONGs, na acepção destas como entidades de defesa de direitos e nem do terceiro setor, como são referidas as do campo da filantropia empresarial. Esses conceitos são políticos, sem rebatimento jurídico e esse universo amplo engloba também essas organizações, mas não se limita as mesmas. (ABONGa, 2011)

Os números apresentados pelo IBGE podem ser, portanto, não condizentes com a

realidade, já que a ABONG informa que foram incluídas entidades que não pertencem ao

terceiro setor e as relacionadas com a defesa de direitos.

4.1.3 Ação das ONGs nas Comunidades Indígenas

Registra o Programa Povos Indígenas no Brasil (PIBISA), a ação das ONGs junto às

comunidades indígenas no Brasil, como a seguir:

A precariedade do trabalho desenvolvido pelo Estado, somada ao processo de democratização da sociedade brasileira pós-ditadura militar, foram dois importantes fatores a contribuir para que muitos outros agentes da sociedade civil se envolvessem gradativamente nos processos de formulação e execução das políticas voltadas para os povos indígenas.Resumir o leque de atividades desenvolvidas por esses agentes da sociedade civil é uma tarefa difícil. Estas organizações, principalmente as ONGs, desenvolvem uma complexa rede de atividades e políticas públicas que atuam nas mais diferentes direções. Há desde projetos de auto-sustentação (sic) econômica até programas de capacitação técnica, formação de professores indígenas, recuperação e proteção de características sócio-culturais (sic), demarcação e vigilância de terras, para citar apenas alguns. (PIBISA, 2010)

No texto, o Programa Povos Indígenas do Brasil explica o papel das organizações não

governamentais junto à causa indígena assim como informa a existência de projetos visando

promover meios para a autossustentabilidade econômica, fortalecimento da cultura e da

proteção da área destinada aos índios.

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O Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, ONG fundada por um grupo de discípulos do

deputado constituinte de 1934, aponta no sentido de haverem ONGs que alegam direcionar

seus esforços às causas ambientalistas e indígenas, mas que se desviam da finalidade. Consta,

no artigo “Algumas ONGs Ambientalistas Mais Ativas - e Mais Perigosas - Para o Brasil”,

assinado por Luis Dufaur, que ONGs como WWF, Greenpeace, Instituto Socioambiental,

Centro de Apoio Socioambiental, Movimento dos Atingidos pelas Barragens, Via Campesina

MST, Conservation International e Amigos da Terra, teriam outras finalidades que não são as

declaradas, “lutando por uma substancial redução da soberania nacional”. Todavia não

apresenta fontes para suas alegações. (IPCO, 2010)

4.1.4 Possíveis Benefícios Para a Comunidade Indígena

A Constituição Federal de 1988 traz em seu artigo 231 a proteção aos índios,

reconhecendo sua cultura e costumes, indicando sobre sua área e exploração de seus recursos,

dando-lhes proteção jurídica especial.

Pode-se observar que a intenção do legislador originário é a preservação da cultura

indígena e de seu espaço físico. O protecionismo e a tutela verificados na Constituição

anterior são substituídos pelo reconhecimento e respeito aos direitos indígenas, frisando o

direito originário, ou seja, os índios são proprietários das terras brasileiras anteriormente a

qualquer outro que aqui chegou.

Igualmente importante é a mudança promovida pela Constituição de 1988, quando

passou a considerar o índio não mais como um incapaz, mas como pessoa digna de respeito e

merecedor de especial deferência. Inclusive a denominação adotada anteriormente, silvícola,

ou seja, selvagem (AURÉLIO, 1986), passou a indígena, isto é, originário de um país ou

localidade onde habita, segundo a mesma referência, demonstrando claramente essa intenção.

Relevante se faz mencionar o caso Raposa Serra do Sol, quando O Supremo Tribunal

Federal, autodenominado “o guardião da Constituição”, proferiu sentença sobrelevando o

direito constitucional indígena. Entretanto faz-se necessário um breve relato preliminar do

caso, extraído da Folha de São Paulo:

Homologada em 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Raposa/Serra do Sol, no extremo norte de Roraima, nas fronteiras com a Venezuela e a Guiana, é habitada por cerca de 18 mil índios de cinco diferentes etnias.

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A reserva, de 1,7 milhão de hectares, tem superfície suficiente para agrupar 11 cidades de São Paulo. A decisão sobre a demarcação tornou a reserva um foco de conflito e tensão envolvendo governo federal, governo estadual, igreja, indígenas e ONGs (organizações não governamentais). Os cinco produtores de arroz que possuem propriedades dentro da terra indígena reivindicam reparação econômica de cerca de R$ 80 milhões para deixar o local. (FOLHA, 2009)

Consta a seguinte informação sobre o caso no sítio do STF, pelo seu canal de notícias:

Notícias STFSegunda-feira, 11 de janeiro de 2010 Raposa Serra do Sol: reveja o final do julgamento do STF sobre desocupação da terra indígenaO canal do Supremo Tribunal Federal (STF) no YouTube (http://www.youtube.com/stf) exibe o final do julgamento do processo envolvendo a desocupação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) por não índios, ocorrido no dia 19 de março de 2009. O julgamento inteiro está disponibilizado no canal em listas de reprodução organizadas de acordo com os dias das sessões plenárias realizadas para analisar a matéria: 27/08/08, 10/12/08, 18/03/09 e 19/03/09.Por meio da análise da Petição (PET) 3388, ajuizada pelo senador Augusto Botelho (PT-RR) e relatada pelo ministro do STF Carlos Ayres Britto, a Corte confirmou a demarcação integral da área, com 1.747.464 hectares. A decisão implicou a saída de todos os não índios do local, confirmando o reconhecimento, pelo Estado brasileiro, dos direitos territoriais históricos dos povos indígenas que habitam a área.A demarcação da área foi definida pela Portaria 534/2005, do Ministério da Justiça, e homologada por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assinado no mesmo ano. Além de definir de forma contínua a área, ocupada por cerca de 20 mil índios, o decreto presidencial determinou que, em até um ano após a publicação da norma, todos os não índios deveriam deixar a área. (STF, 2010) [grifo do autor]

Traduzindo de forma simplificada e leiga, Yamada (2010), expõe o caso sucintamente:

O caso da Raposa-Serra do Sol Em resumo, o julgamento do caso da TI Raposa-Serra do Sol reconhece o direito dos povos indígenas sobre seus territórios tradicionais como manda o artigo 231 da Constituição Federal de 1988; afasta a possibilidade da demarcação de TIs em ilhas; declara a nulidade de títulos sobre áreas insertas dentro dos limites da Terra Indígena em questão; e ressalta a especial proteção constitucional das TIs nos casos em que os índios não ocupavam suas áreas tradicionais à época da promulgação da Constituição de 1988 por causa de esbulho provocado por terceiros. (YAMADA, 2010)

A demarcação das Terras Indígenas (TIs) em ilhas, cuja possibilidade foi afastada pelo

STF, significa que as terras demarcadas deverão ser contíguas, sem intervalos territoriais.

Ainda, devido ao fato de não serem constituídas, mas reconhecidas as terras tradicionalmente

indígenas, declara a nulidade de títulos de propriedades que se encontram dentro destas.

O entendimento prolatado pelo STF para o caso, é que o direito indígena à terra é

anterior a qualquer direito que possa ser alegado. É o direito primário, pois antes mesmo do

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Estado, o índio já aqui habitava e exercia esse direito. Portanto o direito à terra pelos índios é

anterior, é o direito originário, conforme nos remete Marco Antônio, abaixo:

Visou o legislador constituinte deixar claro que o Estado brasileiro reconhece aos índios direitos territoriais preexistentes ao próprio Estado brasileiro, por isso a utilização das expressões: reconhecidos e direitos originários.E isso tem importância jurídica porque a nova Constituição brasileira admitiu que não é ela que veio atribuir esse direito, mas que ela simplesmente reconhece que tal direito já existia e que se trata de um direito originário, isto é, um direito anterior à própria formação do Estado brasileiro. (BARBOSA apud SANTOS FILHO, 2001)

Todavia o Caso da TI Serra Raposa do Sol não é súmula vinculante e em sentido

contrário encontra-se ainda, segundo relata Yamada (2010), o caso da TI Ñande ru marangatu,

abaixo:

Por decisão também liminar do então presidente do STF, Nelson Jobim, em 2005, o STF suspendeu o decreto presidencial de homologação da terra indígena. O principal argumento usado pelo Ministro Jobim contra a demarcação da TI Ñande ru marangatu também era um precedente frágil: a liminar do STF, no caso da TI Jacaré de São Domingos, na Paraíba. (MS 21.869-PB, Relator Min. Joaquim Barbosa). Em 2007, a liminar concedida no caso Jacaré de São Domingos foi revogada, apesar da liminar de 2005 continuar em vigor até hoje. Em Ñande ru marangatu, a decisão liminar resultou na expulsão de cerca de 700 pessoas indígenas, a maioria mulheres e crianças, que ficaram por mais de um ano acampadas na beira da estrada. Uma liderança foi morta. O caso ainda aguarda decisão de mérito. STF – Med. Caut. em MS 25.463-7. (YAMADA, 2010)

São as inconsistências judiciais que levantam polêmicas no assunto e que causam

contrariedades sociais, havendo necessidade de uma uniformização dos entendimentos.

Apesar desses paradoxos jurídicos, o que se nota é uma grande preocupação com a

causa indígena, na manutenção de suas características, fato evidente na Constituição Federal

de 1988 quando atenção especial foi dada pelo legislador originário.

Todavia, a regulamentação da diretriz preconizada pela Carta Constitucional não

atingiu a contento a proteção elencada pelos seus constituintes, conforme se depreende do

texto abaixo:

O reconhecimento das Terras Indígenas (TIs) por parte do Estado (processo de demarcação) é um capítulo ainda não encerrado da história brasileira. Muitas delas estão demarcadas e contam com registros em cartórios, outras estão em fase de reconhecimento; há, também, áreas indígenas sem nenhuma regularização. Além disso, diversas TIs estão envolvidas em conflitos e polêmicas. (PIBISA, 2010).

Corroborando, o IBGE aponta sua visão sobre o assunto:

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A Constituição Brasileira de 1988 foi a primeira a trazer um capítulo sobre os indígenas e com isso alterou a filosofia e a postura que se tinha em relação aos índios e aos seus direitos. Reconheceu oficialmente os índios como povos culturalmente diferenciados e que essa diversidade deveria ser respeitada, sem exigir que eles se adequassem aos hábitos dos homens brancos. Uma vitória para os índios que hoje têm assegurado por lei o direito de manterem seus costumes, culturas, religiões, língua e tradições. Os benefícios da nova Constituição, entretanto, não se fizeram sentir na prática. Por falta de adequação aos novos conceitos e da regulamentação do próprio texto Constitucional, as mudanças administrativas verificadas na FUNAI, a partir de 1988, não obtiveram o êxito esperado. (IBGEa)

Nesta mesma linha, Freitas (2007) entende que a FUNAI, depois de quarenta anos na

defesa dos índios como incapazes, portanto, necessitados de tutela governamental, tivesse

suas atribuições extintas, já que o texto constitucional segue na direção do respeito e

preservação dos índios e não sua adequação aos “brancos”. O artigo 231 da Constituição

impõe visão contrária ao Estatuto do Índio de 1973, que era a norma regulamentadora da

questão indígena no Brasil. Desta feita, uma alteração drástica nos trabalhos já desenvolvidos

e na própria diretriz básica do órgão é necessária para a adequação e implementação da nova

política.

Ainda, a falta de regulamentação clara provoca situações judiciais que não observam

os preceitos constitucionais, como se segue:

Em uma ação possessória que se iniciou na justiça federal de Alagoas, o juiz considerou provada a posse mansa e pacífica do autor e a existência de esbulho violento pelos índios Xucuru-Kariri, uma vez que aquela se encontrava lastreada em títulos aquisitivos legalmente constituídos. A sentença e o acórdão que a confirmaram consignavam, todavia, a existência de laudo da Funai, indicando os limites da área indígena, onde também se situava a suposta posse do autor. Concluíam, ainda, não ser cabível perícia antropológica, porque a posse indígena já estava evidenciada por meio daquele estudo. Contrariando assim expressa disposição constitucional (art. 231, § 6º), foi conferida validade a títulos incidentes sobre área indígena, cujo laudo produzido pela Funai não foi contestado. Esse caso é de especial gravidade, porque passa ao largo de um dos postulados mais evidentes do texto constitucional, no trato dessa matéria, e da jurisprudência que foi consolidada ao longo do tempo. (PIBISAc, 2010)

O caso acima apresentado está publicado em uma seção do sítio do Instituto

Socioambiental denominada “Decisões que causam perplexidade”, juntamente as muitas

outras, dada ao elevado número de decisões judiciais errôneas acerca deste assunto.

O que se pode deduzir é que os entendimentos no assunto divergem quanto à sua

evolução. Magistrados mal preparados e desatualizados tendem a produzir sentenças que

causam perplexidade aos operadores de direitos de vanguarda. Relembrando as aulas de

Introdução ao Direito e História do Direito nas faculdades: “a sociedade não se adéqua ao

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Direito, mas o Direito deve evoluir para se adequar à sociedade” (MAXIMILLIANO apud

CARVALHOa, 2010).

4.1.5 Possíveis Malefícios Para a Comunidade Indígena

O contato com o “branco” tem inevitável efeito sobre a cultura e costumes indígenas,

segundo Faulhaber, como a seguir:

Segundo Priscila Faulhaber, antropóloga do Museu Paraense Emílio Goeldi, é a visão do pesquisador, com toda a sua bagagem cultural e pessoal, sobre o povo estudado, que determina a concepção do material etnográfico. A ideia é que a relação totalmente imparcial com o objeto de estudos não é possível. O observador interage, interfere com o observado. (FAULHABER apud PANCETTI; ASSAD, 2010)

Tal observação provém dos ensinamentos do antropólogo Claude Lévi-Strauss, citado

no mesmo texto, onde dizia: “na pesquisa antropológica, não é possível o pesquisador ter um

‘distanciamento do objeto’, como ocorre nas ciências naturais; ou seja, o observador interfere

naquele que é observado”.

Assim sendo, tem-se a aculturação indígena. Por mais que a intenção se revele bem

direcionada, como a pesquisa, haverá uma consequência não desejada pelo legislador

constitucional.

Noutro giro, o IBGE aponta mais problemas na questão indígena, como exposto:

Mas as dificuldades enfrentadas pelos índios vão além do âmbito cultural. Os interesses econômicos nacionais e estrangeiros também podem ser inimigos das sociedades indígenas. Os índios brasileiros e suas terras muitas vezes são alvo de garimpeiros, madeireiros e fazendeiros que cobiçam essas terras e as riquezas naturais delas, sem se importar com os males e prejuízos causados aos índios e o meio ambiente. Um exemplo são os garimpeiros que exploram ouro, diamante e cassiterita em terras indígenas e que, além de agir com violência e transmitir todo o tipo de doenças contagiosas aos índios, provocam danos poluindo os rios com mercúrio e outros produtos químicos. (IBGEa)

Os problemas ambientais atingem diretamente os índios que vivem dos frutos da terra

e dos rios. A poluição causada pela exploração desordenada como o desmatamento e o

garimpo age diretamente na vida dos índios e contamina seus alimentos. Os garimpeiros

trazem, além do mercúrio necessário para a extração do ouro, doenças que encontram índios

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não vacinados, causando sintomas agravados pela falta de imunização. Devido a esta situação,

a Fundação Nacional da Saúde (FUNASA) vem trabalhando no sentido de vacinar os

indígenas, como informa a Folha de Boa Vista, em 21/05/2010:

Segundo o coordenador da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Marcelo Lopes, as equipes de saúde vêm trabalhando intensamente para conseguir a cobertura vacinal de forma satisfatória no Estado. “Nós sabemos que a cobertura de modo geral na população não é o ideal, então nós temos reforçado a campanha nas áreas indígenas para que possamos alcançar a nossa meta”, informou. Conforme Marcelo Lopes, entre os Yanomami, já foram vacinados 81,3% da população. Já no Distrito Leste, 66,5% dos índios tomaram a vacina. “Já ministramos mais 34 mil doses de vacina nas comunidades indígenas do Estado”, ressaltou. (FOLHA DE BOA VISTA, 2010)

Importante ressaltar que a reportagem relata a ação da FUNASA junto às comunidades

indígenas no Estado de Roraima, não se estendendo aos outros estados componentes da

Amazônia.

Ainda, conforme o IBGE há a violência e contendas no âmbito fundiário entre índios e

não índios, in verbis:

Há também problemas com relação aos projetos de colonização de terras. Os latifundiários que compram a terra, formam grandes propriedades e os índios são obrigados a aceitar a viver em áreas espaçadas umas das outras, cortadas por fazendas e estradas. Da mesma forma os posseiros, sem terras onde trabalhar, invadem terras indígenas, sobretudo aquelas ainda não demarcadas, gerando conflitos e impactos que afetam profundamente as sociedades indígenas. (IBGEa)

Outro ponto, é que a história mostra a aculturação linguística, no documento arquivado

na Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Salvador (SECULT), donde

se extrai:

Até 1.500, marco histórico da colonização, eram faladas no Brasil aproximadamente 1.300 línguas indígenas. Epidemias e doenças contagiosas, guerras, caça aos escravos, campanhas de extermínios, destruição dos meios de subsistência, redução dos territórios de caça, coleta e pesca, imposição dos costumes estrangeiros, obrigando a uma assimilação forçada, entre outros, levaram muitos povos indígenas à morte física e cultural. Atualmente, 180 línguas são encontradas pelo território brasileiro, o que significa a destruição de cerca de 85% dessa diversidade. Apesar dessa violência histórica, ainda hoje há grupos inteiros que só falam a sua língua indígena materna. Há alguns grupos bilíngües, que falam o português e a sua língua indígena. Hoje existem aproximadamente 216 povos indígenas e alguns destes não possuem mais sua língua materna e falam apenas o português (cerca de 46 povos falam apenas o português). As línguas indígenas brasileiras possuem grande importância cultural e científica. Quando falamos da língua de um povo, estamos também falando da sua cultura, história, percurso geográfico, cosmovisão. (FREIRE, 2008)

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A importância do índio em termos culturais e científicos é patrimônio valioso. Seus

hábitos e remédios podem indicar curas para doenças que hoje são consideradas incuráveis.

Sabe-se que os índios encontram os remédios para seus males na natureza, daí o interesse de

indústrias farmacêuticas nesses conhecimentos, assim como também é a descoberta de novos

princípios ativos de origem vegetal ou animal (ISA, 2004).

4.2 Soberania Nacional

4.2.1 Conceito de Soberania Nacional

Soberania Nacional pode ser conceituada com o poder interno e externo que Estado

exerce perante seus governados e perante outros Estados, em conformidade com a visão do

constitucionalista português José Joaquim Gomes Canotilho:

A soberania, em termos gerais e no sentido moderno, traduz-se num poder supremo no plano interno e num poder independente no plano internacional. Se articularmos a dimensão constitucional interna com a dimensão internacional do Estado poderemos recortar os elementos constitutivos deste: (1) poder político de comando; (2) que tem como destinatários os cidadãos nacionais (povo = sujeitos do soberano e destinatários da soberania); (3) reunidos num determinado território. A soberania no plano interno (soberania interna) traduzir-se-ia no monopólio de edição do direito positivo pelo Estado e no monopólio da coação física legítima para impor a efectividade das suas regulações e dos seus comandos. Neste contexto se afirma também o caráter originário da soberania, pois o Estado não precisa recolher o fundamento das suas normas noutras normas jurídicas. A soberania internacional (termo que muitos internacionalistas afastam preferindo o conceito de independência) é, por natureza, relativa (existe sempre o alter ego soberano de outro Estado), mas significa, ainda assim, a igualdade soberana dos Estados que não reconhecem qualquer poder superior acima deles (superiorem non recognoscem) (CANOTILHO, 2002, p. 90).

No âmbito interno tem-se o poder de mando do Estado, por meio de elaboração e

execução de leis, mantendo a ordem e paz social, sendo, portanto, absoluta por tratar-se de

monopólio estatal. No âmbito externo a soberania é relativa, ensejando o respeito mútuo entre

os Estados nacionais, imperando neste nível a diplomacia e as relações exteriores.

Canotilho (2002) observa a correlação de ambas, no sentido que uma soberania interna

fortalecida impõe respeito no ambiente internacional. Consequentemente uma soberania

interna mitigada favorece o mesmo da soberania externa.

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A Soberania, segundo Ribeiro (2009, p.19) era definida por Jean Bodin pela frase

“soberania refere-se à entidade que não conhece superior na ordem externa nem igual na

ordem interna”. Logo abaixo, tem-se a evolução do conceito na Roma Antiga até a atualidade

francesa:

Denominava-se o poder de soberania, entre os romanos, suprema potestas. Era o poder supremo do Estado na ordem política e administrativa. Posteriormente, passaram a denominá-lo poder de imperium, com amplitude internacional. Etimologicamente, a origem do termo soberania provém de superanus, supremias, ou super omnia, configurando-se definitivamente pela formação francesa souveraineté, que expressava para Bodin "o poder absoluto e perpétuo de uma República”. (RIBEIRO, 2009)

Assim, pode-se deduzir que Soberania é o poder total do Estado dentro do seu

território e o poder deste mesmo Estado de ser respeitado como igual de Estados

internacionais.

4.2.2 Definição Legal na Constituição Federal de 1988

A Carta Magna traz diversas menções à Soberania Nacional, tamanha sua importância

no âmbito interno e externo ao País. Logo em seu início traz como fundamento, em seu artigo

primeiro, inciso I, a Soberania, como abaixo transcrito:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:I - a soberania;(BRASIL, 1988)

Mais adiante, no seu artigo 4º traz os princípios a serem observados nas suas relações

internacionais, dentre eles a independência nacional e não intervenção, ou seja, proteção de

sua soberania e respeito à soberania dos outros Estados internacionais, como se observa:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:I - independência nacional;II - prevalência dos direitos humanos;III - autodeterminação dos povos;IV - não intervenção;V - igualdade entre os Estados;VI - defesa da paz;VII - solução pacífica dos conflitos;

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VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;X - concessão de asilo político.Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. (BRASIL, 1988)

A Constituição Federal complementa, trazendo, ainda em seu capítulo I, o rol de bens

sujeitos a Soberania:

Art. 20. São bens da União: I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005)V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;VI - o mar territorial; VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;VIII - os potenciais de energia hidráulica;IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios....§ 2º - A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei. (BRASIL, 1988).

De fundamental relevância constitucional, o assunto mereceu destaque dos

constituintes quanto aos legitimados quando o assunto é Soberania Nacional:

Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como membros natos: I - o Vice-Presidente da República;II - o Presidente da Câmara dos Deputados;III - o Presidente do Senado Federal;IV - o Ministro da Justiça;V - o Ministro de Estado da Defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)VI - o Ministro das Relações Exteriores;VII - o Ministro do Planejamento.VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)§ 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional:I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos desta Constituição;

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II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal;III - propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo;IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático. (BRASIL, 1988)

Conveniente ressaltar, pela sua localização em áreas de fronteira, o que indica a

Constituição Federal sobre a causa indígena. O artigo 20, incisos I, II e XI, da Carta

Constitucional, preconiza, ipsis literis:

Art. 20. São bens da União: I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; ...XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. (BRASIL, 1988).

Esse artigo acresceu as terras indígenas como bens da União, proporcionando maior

segurança aos índios.

4.3 ONGs e Soberania Nacional

O Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) não vê com bons olhos as ONGs

presentes na Amazônia e demonstra preocupação em suas ações junto aos índios, conforme

trecho do artigo publicado no jornal O Globo, em 06/04/2009, abaixo transcrito:

A reserva de grandes áreas para usufruto exclusivo de índios em zonas de fronteira gera duas preocupações. De um lado, potencializa a vulnerabilidade da soberania nacional, de vez que abre caminho para que as tribos isoladas sejam usadas como massa de manobra por ONGs e organismos estrangeiros interessados em internacionalizar, se não toda, larga parte da faixa fronteiriça da Amazônia brasileira. De outro, se é imperativo respeitar os direitos históricos dos índios, o poder público tem tratado o problema de forma particularista, com viés étnico e abordagem unilateral, capazes de reintroduzir na sociedade uma intolerância aos índios que não interessa à unidade da nação. (REBELO, 2009)

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E ainda alerta para a importância da soberania, dada que é una, enfatizando a

igualdade e o respeito às diferenças do povo brasileiro:

Séculos depois desses episódios, a nação é uma só. Não podemos correr o risco de abrigar um Estado multinacional e uma nação balcanizada. Ao contrário: conjugando isonomia e respeito às diferenças, podemos comemorar o saldo amalgamado de índios, brancos e negros que forjaram o povo brasileiro. (REBELO, 2009)

Ao se deparar com uma possível afronta das ONGs à Soberania Nacional, a revista

Isto É, em sua edição nº 2012, publicou uma matéria bastante relevante sobre o assunto, na

qual o jornalista Octávio Costa, constatou in loco a situação em que se encontravam as ações

daquelas entidades na Amazônia, como abaixo transcrito um trecho da matéria “Amazônia, a

soberania está em cheque”:

O melhor meio de enfrentar ameaças à soberania nacional é se fazer presente na região. Isso significa, em primeiro lugar, adotar uma política menos complacente em relação às inúmeras ONGs que atuam na Amazônia. Misturam- se ali raras organizações internacionais de mérito reconhecido em defesa da ecologia e dos direitos humanos com inúmeras entidades inidôneas e de finalidade incerta e não sabida. Na verdade, estão atrás das riquezas e da biodiversidade. Há que impedir essa invasão camuflada de objetivos ecológicos e humanitários. Basta lembrar que 96% das reservas mundiais de nióbio encontram-se na Amazônia e a região também é alvo da chamada biopirataria por parte de laboratórios que buscam patentes inéditas para seus medicamentos. (COSTA, 2008).

Prossegue o repórter, indicando as ações das ONGS nas comunidades indígenas e suas

possíveis repercussões:

Em sua explosiva reportagem, o The New York Times comete o exagero de comparar as novas exigências que serão feitas às ONGs aos tempos da Guerra Fria, quando determinadas áreas da ex-União Soviética eram vedadas a estrangeiros. Diz o jornal que, assim, o Brasil pode terminar como ela. A comparação é tão estapafúrdia quanto a proposta de internacionalizar a Amazônia por se tratar de “um patrimônio da Humanidade”. Só encontra paralelo nas versões que correm em círculos intelectuais europeus e americanos de que o Brasil estaria patrocinando um “pavoroso extermínio de seus índios”. Sob essa alegação, muitas ONGs de fachada defendem com unhas e dentes a política indigenista em vigor, que premiou algumas tribos com territórios maiores do que o de países europeus. A essas ONGs interessa que o Estado brasileiro não tenha domínio político sobre as extensas áreas ocupadas pelos indígenas, sobretudo porque são territórios de riqueza desconhecida – e é mais fácil aos estrangeiros que nos cobiçam tecer nebulosos negócios com os índios. É também por isso que é urgente modificar a atual política de demarcação de terras, uma vez que, se ela continuar como está, índios e ONGs ocuparão cada vez mais o território nacional. Assim, lamentavelmente, muito antes de enfrentar invasores externos, o Brasil terá de invadir uma porção do próprio Brasil para reaver a integridade de seu chão. (COSTA, 2008).

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À realidade verificada na época pelo autor da reportagem, colaciona-se aos

pensamentos estrangeiros expressos na mídia internacional. Assim, a resposta dada pelo então

senador Cristóvão Buarque, em uma de suas palestras, às indagações de um aluno norte-

americano sobre a internacionalização da Amazônia, merece destaque:

Como humanista, sentindo o risco de degradação ambiental que a Amazônia sofre, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazônia, sob a ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Também gostaria de ver a internacionalização de todos os museus do mundo. O Louvre não deveria pertencer somente à França, mas a toda a humanidade. Acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada, assim como Paris, Londres, Veneza, Roma, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, a sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. (BUARQUE apud GOMES, 2006)

Indicando uma grande preocupação com as notícias internacionais e os

posicionamentos adotados pelos dirigentes de países desenvolvidos, Costa (2008) ainda traz

possíveis soluções e adverte sobre as ONGs:

As tarefas do Estado brasileiro, portanto, estão mais do que assinaladas. E são urgentes. O melhor meio de enfrentar ameaças à soberania nacional é se fazer presente na região. Isso significa, em primeiro lugar, adotar uma política menos complacente em relação às inúmeras ONGs que atuam na Amazônia. Misturam- se ali raras organizações internacionais de mérito reconhecido em defesa da ecologia e dos direitos humanos com inúmeras entidades inidôneas e de finalidade incerta e não sabida. Na verdade, estão atrás das riquezas e da biodiversidade. Há que impedir essa invasão camuflada de objetivos ecológicos e humanitários. Basta lembrar que 96% das reservas mundiais de nióbio encontram-se na Amazônia e a região também é alvo da chamada biopirataria por parte de laboratórios que buscam patentes inéditas para seus medicamentos. O governo tem procurado se informar sobre os desvios de rota das ONGs e promete adotar regulamentos mais rígidos nas permissões de acesso à floresta. As autorizações passarão pelo crivo dos órgãos da Defesa. Segundo o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., o objetivo é separar o joio do trigo. “Não serão criados obstáculos para as ONGs respeitadas”, diz ele. (COSTA, 2008)

As ideias estrangeiras demonstradas acima mostram o pensamento internacional sobre

a Amazônia. Cabe agora verificar o que brasileiros de algumas áreas importantes da sociedade

pensam a respeito do assunto.

Os entrevistados, doravante serão denominados advogado, militares: capitão da

reserva e tenente, dirigente da ONG e assessora política, respectivamente.

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4.4 Resultado das Entrevistas

Na abordagem sobre o conceito de Soberania Nacional, o político, o tenente, o

advogado e o capitão da reserva afirmaram ser de suma importância, segundo este último “é

onde o Estado consegue atuar. Segundo o tenente, “é o território legal onde o Estado consegue

impor a lei, a ordem.”, ao passo que o dirigente da ONG a colocou como “relativa”, pois o

que realmente interessa são a efetividade e funcionamento dos órgãos. A assessora política

considerou que dependendo do caso, se há invasão das terras nacionais, a Soberania Nacional

estaria afrontada, mas no caso de entrada de ajuda humanitária, não.

Com relação ao conceito de ONG, os militares informam que as ONGs bem

intencionadas auxiliam o Exército nas ações junto aos índios e que não viram ONGs mal

intencionadas porque elas, na verdade, aparecem esporadicamente, fazem relatórios, tiram

fotografias e não promovem ações junto aos índios. A assessora política e o advogado

consideram importante o papel por elas desenvolvido, dada à ausência do Estado junto às

comunidades carentes como os ribeirinhos, mas principalmente as indígenas. O dirigente da

ONG considera que “uma grande motivação para os investidores que fomentam as ONGs é o

marketing, por agregar valor humanitário aos seus produtos e serviços”.

Quando inserido o tópico das atividades das ONGs na Amazônia, os militares e o

advogado aventaram sobre as teorias conspiratórias constantes nas mais diversas fontes de

informação e que essas não são totalmente desprovidas de fundamentação. Ambos concordam

que existe a possibilidade de real afronta à Soberania Nacional, mas consideram a

probabilidade como sendo remota, pois, segundo os militares “tanto as Forças Armadas como

a Polícia Federal estão investindo pesadamente em proteção das áreas de fronteira, inclusive

com aumento dos efetivos e pela aquisição de naves não tripuladas”, portanto atuando nas

reservas indígenas. O político e o dirigente de ONG consideram que, apesar de possivelmente

haverem poucos casos de desvio de finalidade e desvio de recursos, “a grande maioria das

ONGs atuantes na Amazônia buscam suas finalidades, seu trabalho é visível e produz

resultados”, afirma o dirigente.

Uma consideração é unânime entre os entrevistados: a ausência do Estado, de políticas

públicas seriamente comprometidas com as causas sociais, é que dá ensejo à proliferação de

entidades oportunistas, sintetizada na afirmação do capitão da reserva, como “a cadeira

estando vaga, qualquer um pode sentar”.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os países desenvolvidos vêm buscando novos mercados, exatamente como o ocorrido

na Expansão Marítima do século XV, quando a queda do feudalismo deu origem ao

capitalismo e faltaram mercados. Essa mesma condição se verifica hoje, no século XXI, onde

os países desenvolvidos procuram novas fronteiras, com fontes de energia mais baratas,

riquezas inexploradas e soluções para os problemas que a civilização, com seu crescimento

fez surgir.

Hodiernamente conflitos bélicos são reprovados pela comunidade internacional e

pelos povos. O medo de se repetir os estragos, as perdas humanas, causadas por duas grandes

guerras não caíram no esquecimento. É também por causa desse não esquecimento que

surgiram as ONGs, voltadas para a ajuda entre os povos minimizando suas desigualdades para

alcançar a harmonia mundial.

A distância entre a região amazônica e os grandes centros urbanos, além do ambiente

hostil, desmotiva o povoamento e consequentemente a evolução econômica desta área. Tal

fato proporciona uma falta de investimentos e de políticas públicas voltadas para a área social,

deixando um espaço vazio em termos de obrigações constitucionais.

Nesse cenário, inserem-se as ONGs cujo objetivo precípuo é prestar ajuda humanitária

que os Governos deveriam fornecer. Todavia, estas passaram a representar uma afronta ao que

os Estados têm de mais importante: sua soberania. Por serem naturalmente bem-vindas,

encontram facilidade para se inserir em áreas carentes onde o Estado deveria agir. Atuando

nessas áreas, criam vínculos com os assistidos e podem representar votos para interesses de

políticos que por sua vez podem favorecer e permitir a ação das mesmas ONGs,

estabelecendo assim um círculo vicioso (BARBOSA, 2010). Contudo não foi possível

verificar a existência dessa associação e nem poderia ser pelo caráter sigiloso entre os

envolvidos.

Ocorre que algumas ONGs são financiadas por indústrias farmacêuticas e por

Governos estrangeiros, o que propicia a pesquisa e o contrabando de matérias primas

nacionais, em troca de mais financiamentos. O registro de patente do açaí pelo Japão em 2003

traduz essa distorção. O açaí é um fruto genuinamente brasileiro, nativo da região amazônica

e no Japão sequer existem açaizeiros, e o cancelamento de tal ação só se deu por vias

diplomáticas em 2007 (IPCDIGITAL, 2007).

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Neste trabalho evidenciou-se a atuação pouco efetiva de muitas ONGs junto às

comunidades indígenas, ocorrendo que comitivas outras visitam e documentam por

fotografias e relatórios, a situação da região, não mais.

Entre as comunidades indígenas, as entrevistas mostraram que ONGs auxiliam o

Exército brasileiro, principalmente nas áreas de fronteira onde os índios são de extrema

importância, considerados indispensáveis. São eles que, devido ao seu profundo

conhecimento da área, proporcionam uma vigilância mais atenta, chegando inclusive a fazer

parte do contingente militar.

O mais próximo que se obteve foi a afirmação de que ONGs não identificadas, não

estariam cumprindo as suas finalidades por omissão.

Não foi possível verificar se as “teorias conspiratórias” a respeito de um

desmembramento de uma área do território nacional tem fundamento concreto. Considerando

os depoimentos colhidos junto aos militares que lá estiveram e conviveram com ONGs e

índios, existe a possibilidade, mas probabilidade é remota.

Conforme o material obtido, a atuação de mais de 16.000 ONGs na Amazônia,

segundo o IBGE, implica na violação da Soberania Nacional, por dois motivos: se ONGs

pesquisam e contrabandeiam matérias primas para os seus financiadores, desviando-se de suas

finalidades, configurada está a afronta. Caso contrário, se cumprem à risca suas finalidades,

tomam o lugar constitucional do Governo e consequentemente também afrontam a Soberania

Nacional.

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ANEXO A – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

DE 5 DE OUTUBRO DE 1988 (ARTS. 1º AO 4º)

Presidência da RepúblicaCasa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Emendas Constitucionais Emendas Constitucionais de Revisão

Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

Atos decorrentes do disposto no § 3º do art. 5º

ÍNDICE TEMÁTICO

Índice Temático

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

TÍTULO IDos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

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Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

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ANEXO B – LEI Nº 6.001, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1973. ESTATUTO DO

ÍNDIO. (ARTS. 17 AO 46)

TÍTULO III

Das Terras dos Índios

CAPÍTULO I

Das Disposições Gerais

        Art. 17. Reputam-se terras indígenas:

        I - as terras ocupadas ou habitadas pelos silvícolas, a que se referem os artigos 4º, IV, e 198, da Constituição;

        II - as áreas reservadas de que trata o Capítulo III deste Título;

        III - as terras de domínio das comunidades indígenas ou de silvícolas.

        Art. 18. As terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade indígena ou pelos silvícolas.

        § 1º Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutos, assim como de atividade agropecuária ou extrativa.

        § 2º (Vetado).

        Art. 19. As terras indígenas, por iniciativa e sob orientação do órgão federal de assistência ao índio, serão administrativamente demarcadas, de acordo com o processo estabelecido em decreto do Poder Executivo.

        § 1º A demarcação promovida nos termos deste artigo, homologada pelo Presidente da República, será registrada em livro próprio do Serviço do Patrimônio da União (SPU) e do registro imobiliário da comarca da situação das terras.

        § 2º Contra a demarcação processada nos termos deste artigo não caberá a concessão de interdito possessório, facultado aos interessados contra ela recorrer à ação petitória ou à demarcatória.

        Art. 20. Em caráter excepcional e por qualquer dos motivos adiante enumerados, poderá a União intervir, se não houver solução alternativa, em área indígena, determinada a providência por decreto do Presidente da República.

        1º A intervenção poderá ser decretada:

        a) para pôr termo à luta entre grupos tribais;

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        b) para combater graves surtos epidêmicos, que possam acarretar o extermínio da comunidade indígena, ou qualquer mal que ponha em risco a integridade do silvícola ou do grupo tribal;

        c) por imposição da segurança nacional;

        d) para a realização de obras públicas que interessem ao desenvolvimento nacional;

        e) para reprimir a turbação ou esbulho em larga escala;

        f) para a exploração de riquezas do subsolo de relevante interesse para a segurança e o desenvolvimento nacional.

        2º A intervenção executar-se-á nas condições estipuladas no decreto e sempre por meios suasórios, dela podendo resultar, segundo a gravidade do fato, uma ou algumas das medidas seguintes:

        a) contenção de hostilidades, evitando-se o emprego de força contra os índios;

        b) deslocamento temporário de grupos tribais de uma para outra área;

        c) remoção de grupos tribais de uma para outra área.

        3º Somente caberá a remoção de grupo tribal quando de todo impossível ou desaconselhável a sua permanência na área sob intervenção, destinando-se à comunidade indígena removida área equivalente à anterior, inclusive quanto às condições ecológicas.

        4º A comunidade indígena removida será integralmente ressarcida dos prejuízos decorrentes da remoção.

        5º O ato de intervenção terá a assistência direta do órgão federal que exercita a tutela do índio.

        Art. 21. As terras espontânea e definitivamente abandonadas por comunidade indígena ou grupo tribal reverterão, por proposta do órgão federal de assistência ao índio e mediante ato declaratório do Poder Executivo, à posse e ao domínio pleno da União.

CAPÍTULO II

Das Terras Ocupadas

        Art. 22. Cabe aos índios ou silvícolas a posse permanente das terras que habitam e o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes.

        Parágrafo único. As terras ocupadas pelos índios, nos termos deste artigo, serão bens inalienáveis da União (artigo 4º, IV, e 198, da Constituição Federal).

        Art. 23. Considera-se posse do índio ou silvícola a ocupação efetiva da terra que, de acordo com os usos, costumes e tradições tribais, detém e onde habita ou exerce atividade indispensável à sua subsistência ou economicamente útil.

        Art. 24. O usufruto assegurado aos índios ou silvícolas compreende o direito à posse, uso e percepção das riquezas naturais e de todas as utilidades existentes nas terras ocupadas, bem assim ao produto da exploração econômica de tais riquezas naturais e utilidades.

        § 1° Incluem-se, no usufruto, que se estende aos acessórios e seus acrescidos, o uso dos mananciais e das águas dos trechos das vias fluviais compreendidos nas terras ocupadas.

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        § 2° É garantido ao índio o exclusivo exercício da caça e pesca nas áreas por ele ocupadas, devendo ser executadas por forma suasória as medidas de polícia que em relação a ele eventualmente tiverem de ser aplicadas.

        Art. 25. O reconhecimento do direito dos índios e grupos tribais à posse permanente das terras por eles habitadas, nos termos do artigo 198, da Constituição Federal, independerá de sua demarcação, e será assegurado pelo órgão federal de assistência aos silvícolas, atendendo à situação atual e ao consenso histórico sobre a antigüidade da ocupação, sem prejuízo das medidas cabíveis que, na omissão ou erro do referido órgão, tomar qualquer dos Poderes da República.

CAPÍTULO III

Das Áreas Reservadas

        Art. 26. A União poderá estabelecer, em qualquer parte do território nacional, áreas destinadas à posse e ocupação pelos índios, onde possam viver e obter meios de subsistência, com direito ao usufruto e utilização das riquezas naturais e dos bens nelas existentes, respeitadas as restrições legais.

        Parágrafo único. As áreas reservadas na forma deste artigo não se confundem com as de posse imemorial das tribos indígenas, podendo organizar-se sob uma das seguintes modalidades:

        a) reserva indígena;

        b) parque indígena;

        c) colônia agrícola indígena.

        Art. 27. Reserva indígena é uma área destinada a servidor de habitat a grupo indígena, com os meios suficientes à sua subsistência.

        Art. 28. Parque indígena é a área contida em terra na posse de índios, cujo grau de integração permita assistência econômica, educacional e sanitária dos órgãos da União, em que se preservem as reservas de flora e fauna e as belezas naturais da região.

        § 1º Na administração dos parques serão respeitados a liberdade, usos, costumes e tradições dos índios.

        § 2° As medidas de polícia, necessárias à ordem interna e à preservação das riquezas existentes na área do parque, deverão ser tomadas por meios suasórios e de acordo com o interesse dos índios que nela habitem.

        § 3º O loteamento das terras dos parques indígenas obedecerá ao regime de propriedade, usos e costumes tribais, bem como às normas administrativas nacionais, que deverão ajustar-se aos interesses das comunidades indígenas.

        Art. 29. Colônia agrícola indígena é a área destinada à exploração agropecuária, administrada pelo órgão de assistência ao índio, onde convivam tribos aculturadas e membros da comunidade nacional.

        Art. 30. Território federal indígena é a unidade administrativa subordinada à União, instituída em região na qual pelo menos um terço da população seja formado por índios.

        Art. 31. As disposições deste Capítulo serão aplicadas, no que couber, às áreas em que a posse decorra da aplicação do artigo 198, da Constituição Federal.

CAPÍTULO IV

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Das Terras de Domínio Indígena

        Art. 32. São de propriedade plena do índio ou da comunidade indígena, conforme o caso, as terras havidas por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos da legislação civil.

        Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinqüenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena.

        Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal.

        CAPÍTULO V

        Da Defesa das Terras Indígenas

        Art. 34. O órgão federal de assistência ao índio poderá solicitar a colaboração das Forças Armadas e Auxiliares e da Polícia Federal, para assegurar a proteção das terras ocupadas pelos índios e pelas comunidades indígenas.

        Art. 35. Cabe ao órgão federal de assistência ao índio a defesa judicial ou extrajudicial dos direitos dos silvícolas e das comunidades indígenas.

        Art. 36. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, compete à União adotar as medidas administrativas ou propor, por intermédio do Ministério Público Federal, as medidas judiciais adequadas à proteção da posse dos silvícolas sobre as terras que habitem.

        Parágrafo único. Quando as medidas judiciais previstas neste artigo forem propostas pelo órgão federal de assistência, ou contra ele, a União será litisconsorte ativa ou passiva.

        Art. 37. Os grupos tribais ou comunidades indígenas são partes legítimas para a defesa dos seus direitos em juízo, cabendo-lhes, no caso, a assistência do Ministério Público Federal ou do órgão de proteção ao índio.

        Art. 38. As terras indígenas são inusucapíveis e sobre elas não poderá recair desapropriação, salvo o previsto no artigo 20.

TÍTULO IV

Dos Bens e Renda do Patrimônio Indígena

        Art 39. Constituem bens do Patrimônio Indígena:

        I - as terras pertencentes ao domínio dos grupos tribais ou comunidades indígenas;

        II - o usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades existentes nas terras ocupadas por grupos tribais ou comunidades indígenas e nas áreas a eles reservadas;

        III - os bens móveis ou imóveis, adquiridos a qualquer título.

        Art. 40. São titulares do Patrimônio Indígena:

        I - a população indígena do País, no tocante a bens ou rendas pertencentes ou destinadas aos silvícolas, sem discriminação de pessoas ou grupos tribais;

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        II - o grupo tribal ou comunidade indígena determinada, quanto à posse e usufruto das terras por ele exclusivamente ocupadas, ou a ele reservadas;

        III - a comunidade indígena ou grupo tribal nomeado no título aquisitivo da propriedade, em relação aos respectivos imóveis ou móveis.

        Art. 41. Não integram o Patrimônio Indígena:

        I - as terras de exclusiva posse ou domínio do índio ou silvícola, individualmente considerado, e o usufruto das respectivas riquezas naturais e utilidades;

        II - a habitação, os móveis e utensílios domésticos, os objetos de uso pessoal, os instrumentos de trabalho e os produtos da lavoura, caça, pesca e coleta ou do trabalho em geral dos silvícolas.

        Art. 42. Cabe ao órgão de assistência a gestão do Patrimônio Indígena, propiciando-se, porém, a participação dos silvícolas e dos grupos tribais na administração dos próprios bens, sendo-lhes totalmente confiado o encargo, quando demonstrem capacidade efetiva para o seu exercício.

        Parágrafo único. O arrolamento dos bens do Patrimônio Indígena será permanentemente atualizado, procedendo-se à fiscalização rigorosa de sua gestão, mediante controle interno e externo, a fim de tornar efetiva a responsabilidade dos seus administradores.

        Art. 43. A renda indígena é a resultante da aplicação de bens e utilidades integrantes do Patrimônio Indígena, sob a responsabilidade do órgão de assistência ao índio.

        § 1º A renda indígena será preferencialmente reaplicada em atividades rentáveis ou utilizada em programas de assistência ao índio.

        § 2° A reaplicação prevista no parágrafo anterior reverterá principalmente em benefício da comunidade que produziu os primeiros resultados econômicos.

        Art. 44. As riquezas do solo, nas áreas indígenas, somente pelos silvícolas podem ser exploradas, cabendo-lhes com exclusividade o exercício da garimpagem, faiscação e cata das áreas referidas.

        Art. 45. A exploração das riquezas do subsolo nas áreas pertencentes aos índios, ou do domínio da União, mas na posse de comunidades indígenas, far-se-á nos termos da legislação vigente, observado o disposto nesta Lei.

        § 1º O Ministério do Interior, através do órgão competente de assistência aos índios, representará os interesses da União, como proprietária do solo, mas a participação no resultado da exploração, as indenizações e a renda devida pela ocupação do terreno, reverterão em benefício dos índios e constituirão fontes de renda indígena.

        § 2º Na salvaguarda dos interesses do Patrimônio Indígena e do bem-estar dos silvícolas, a autorização de pesquisa ou lavra, a terceiros, nas posses tribais, estará condicionada a prévio entendimento com o órgão de assistência ao índio.

        Art. 46. O corte de madeira nas florestas indígenas, consideradas em regime de preservação permanente, de acordo com a letra g e § 2º, do artigo 3°, do Código Florestal, está condicionado à existência de programas ou projetos para o aproveitamento das terras respectivas na exploração agropecuária, na indústria ou no reflorestamento.

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ANEXO C – SIAFI - TRANSFERÊNCIAS A INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS SEM

FINS LUCRATIVOS- EXERCÍCIO DO ANO DE 2010

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Ficha Catalográfica

Silva, Cláudio Bittencourt Lemes da. S586o As organizações não governamentais atuantes em terras

indígenas na Amazônia e a soberania nacional / Claúdio Bittencourt Lemes da Silva . – Taguatinga, DF: [s.n.], 2011.

60 f.; 30 cm

Trabalho apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas – FACITEC, para pós-graduação em Direito Público, 2011.

Orientador: MsC. René Dellagnezze

1. Soberania. 2. Índios. 3. ONGs I. Título.

CDU 34:57