monografia: ana assunção - fotografia e moda: suas correlaÇÕes atravÉs do tempo

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UNIVERSIDADE POSITIVO ANA PAULA DE ASSUNÇÃO FOTOGRAFIA E MODA: SUAS CORRELAÇÕES ATRAVÉS DO TEMPO CURITIBA 2013

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Esta monografia teve por objetivo promover reflexões acerca da fotografia de moda. A pesquisa foi baseada no estudo da história da fotografia de moda, suas linguagens e a importância que a mesma apresenta atualmente, século XXI, seja comercialmente, como forma de expressão ou como documento histórico. Também possibilitou a análise sobre os aspectos que a fotografia de moda induz, tais como o consumismo, o desejo e o impulso de compra. Através da análise de editoriais fotográficos de moda pode-se observar a sua influência na moda usada. A pesquisa em revistas de moda contribuiu para a reflexão sobre o ciclo existente entre estas fotografias e a moda utilizada no cotidiano das ruas. Buscou-se em referenciais teóricos, para a fundamentação da pesquisa, autores como Kossoy, Marra, Lacan, Präkel, entre outros.

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UNIVERSIDADE POSITIVO

ANA PAULA DE ASSUNÇÃO

FOTOGRAFIA E MODA: SUAS CORRELAÇÕES ATRAVÉS DO TEMPO

CURITIBA

2013

2

ANA PAULA DE ASSUNÇÃO

FOTOGRAFIA E MODA: SUAS CORRELAÇÕES ATRAVÉS DO TEMPO Monografia apresentada como requisito para a obtenção do título de Especialista em fotografia, do curso de Pós Graduação Fotografia e Imagem em Movimento da Universidade Positivo. Orientador: Re-nato Bertão

CURITIBA 2013

3

ANA PAULA DE ASSUNÇÃO

FOTOGRAFIA E MODA: SUAS CORRELAÇÕES ATRAVÉS DO TEMPO

Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em

Fotografia, no curso de Pós graduação em Fotografia e Imagem em Movimento, da

Universidade Positivo, pela seguinte banca examinadora:

Orientador: Prof. MSc Re-Nato Bertão

Universidade Positivo

Prof. MSc Josiane Daher

Universidade Positivo

Curitiba, ___ de ____________ de 2013.

4

UP – UNIVERSIDADE POSITIVO

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Curso: FOTOGRAFIA E IMAGEM EM MOVIMENTO

AVALIAÇÃO DE PROJETO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Tema: FOTOGRAFIA E MODA: SUAS CORRELAÇÕES ATRAVES DO TEMPO

Equipe: ANA PAULA ASSUNÇÃO

CRITÉRIOS PESOS NOTA DO

ORIENTADOR

1. Introdução 1,0 1,0

2. Fundamentos Teóricos 1,0 1,0

3. Desenvolvimento 1,0 1,0

4. Conclusão 1,0 1,0

5. Referências Bibliográficas 0,5 0,5

6. Clareza e Objetividade da Redação 1,0 1,0

7. Cumprimento dos Objetivos Propostos 1,5 1,5

8. Relevância do Tema Proposto 1,0 1,0

9. Organização e Cumprimento dos Prazos 1,0 1,0

10. Normas ABNT 1,0 1,0

TOTAL 10,0 10,0

MÉDIA

COMENTÁRIOS: Teve dificuldades iniciais quanto ao caminho a percorrer, mas buscou ajuda e pesquisou muito.

O resultado foi bem satisfatório.

Conclusão – Aprovada.

__________________________ PROFESSOR ORIENTADOR

Nome: RE-NATO BERTÃO ( co-orientadora: JOSEANE ZANCHI DAHER)

Data: 20/09/2013

5

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os estudiosos de fotografia

e de moda, que desejam aprender cada vez mais sobre estas

artes, as quais tanto me atraem. Que estes se sintam

encorajados a continuar a pesquisar e descobrir mais e mais

sobre essas paixões.

6

AGRADECIMENTO

Aos meus pais, que estiveram sempre cem por cento ao meu lado, me

apoiando em cada escolha e dando força para seguir em frente. Ambos sempre me

incentivaram e deram o exemplo de como uma vida acadêmica é importante e

também satisfatória.

Agradeço a todos que contribuíram para a execução e finalização deste

projeto. Ao meu orientador Re-nato Bertão e a coordenadora Joseane Daher, que

iluminaram os meus pensamentos em direção aos meus objetivos.

7

RESUMO

Esta monografia teve por objetivo promover reflexões acerca da fotografia de

moda. A pesquisa foi baseada no estudo da história da fotografia de moda, suas

linguagens e a importância que a mesma apresenta atualmente, século XXI, seja

comercialmente, como forma de expressão ou como documento histórico. Também

possibilitou a análise sobre os aspectos que a fotografia de moda induz, tais como o

consumismo, o desejo e o impulso de compra. Através da análise de editoriais

fotográficos de moda pode-se observar a sua influência na moda usada. A pesquisa

em revistas de moda contribuiu para a reflexão sobre o ciclo existente entre estas

fotografias e a moda utilizada no cotidiano das ruas. Buscou-se em referenciais

teóricos, para a fundamentação da pesquisa, autores como Kossoy, Marra, Lacan,

Präkel, entre outros.

Palavras-chave: Fotografia de Moda. Moda. Consumo. Editorial.

8

ABTRACT

This monographic work aimed to promote reflections over fashion photography. The

research was based on a study of the history of fashion photography, its languages

and the importance that it holds nowadays, in the 21st Century, be it commercially,

as an expression vehicle or as historic document. It has also made possible the

analysis of aspects induced by fashion photography, such as consumism, desire and

purchasing impulses. Through the study of fashion photographic editorials, its

influence is observable on the current fashion. Through research in fashion

magazines, the reflection about the existing cycle of fashion on the streets and its

photography was enrichened. The theoretical references researched for basing the

study lists authors such as Kossoy, Marra, Lacan, Präkel et al.

Keywords: Fashion Photography. Fashion. Consumism. Editoring

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - DEUS ABUL E ESTÁTUA FEMININA DE TELL ASMAR............. 12 FIGURA 2 - AURIGA DE DELFOS, 475 A.C.................................................... 13 FIGURA 3 - IMPERATRIZ TEODORA. Séc. VI................................................ 14 FIGURA 4 - A PRIMAVERA, DE SANDRO BOTTICELLI................................ 15 FIGURA 5 - A NOIVA JUDIA............................................................................ 16 FIGURA 6 - MARIA ANTONIETA, POR MARTIN VAN MEYTENS.................. 17 FIGURA 7 - VESTIDOS DE KENSINGTON GARDEN PARA JUNHO, IN LE

BEAU MONDE, 1808.................................................................... 18

FIGURA 8 - RETRATO EDGAR ALLAN POE, DAGUERREÓTIPO, 1848....... 19 FIGURA 9 - CAPA DA PRIMEIRA HARPER’S BAZAAR, 1867........................ 21 FIGURA 10 - RAINHA VITÓRIA.......................................................................... 21 FIGURA 11 - MÃE E FILHO EM KINGSTON, 1941............................................ 23 FIGURA 12 - NEW LOOK, DIOR........................................................................ 24 FIGURA 13 - DOVIMA E OS ELEFANTES......................................................... 25 FIGURA 14 - MINISSAIA.................................................................................... 26 FIGURA 15 - TWIGGY POR JUSTIN DE VILLENEUVE.................................... 26 FIGURA 16 - AUDREY HEPBURN..................................................................... 27 FIGURA 17 - DONA DE CASA........................................................................... 28 FIGURA 18 - VOGUE RUSSIA 1........................................................................ 28 FIGURA 19 - VOGUE RUSSIA 2........................................................................ 29 FIGURA 20 - DONA DE CASA 2........................................................................ 29 FIGURA 21 - HOMEM SENDO VELADO NO JAPÃO........................................ 33 FIGURA 22 - KIMONO FÚNEBRE FEMININO................................................... 34 FIGURA 23 - EDITORIAL 1................................................................................. 38 FIGURA 24 - EDITORIAL 2................................................................................. 39 FIGURA 25 - EDITORIAL 3................................................................................. 40 FIGURA 26 - MODA DE RUA............................................................................. 42

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

2 CONTEXTO HISTÓRICO................................................................................... 11

2.1 HISTÓRIA DA MODA E FOTOGRAFIA: A DOCUMENTAÇÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS.......................................................................................................

11

3 O USO DA FOTOGRAFIA NA INDUÇÃO DE DESEJOS.................................. 30

3.1. DESEJO E CONSUMO .................................................................................. 30

3.2 A FOTOGRAFIA DE MODA............................................................................. 34

4 ANÁLISE DE EDITORIAIS FOTOGRÁFICOS E SUA INFLUÊNCIA NA MODA USADA NA RUA........................................................................................

37

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 45

11

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho visa estudar a forma em que a Moda e a Fotografia se

relacionam e como ambas as artes podem trabalhar em conjunto.

No primeiro capítulo será apresentada a história da moda e como a

indumentária era representada através da arte por pinturas, esculturas ou outros

meios artísticos. A partir do surgimento da fotografia, serão apresentadas as

mudanças na representação das roupas e também na moda. As histórias da

fotografia e da fotografia de moda também serão discutidas a fim de se entender

como essa relação surgiu e como se estende até os dias de hoje, sendo

indispensável em revistas de moda.

No segundo capítulo serão abordados aspectos sobre o desejo e o impulso

de compra e como a fotografia na moda influencia nesse processo de consumo.

No subcapítulo um será estudado como esses desejos e impulsos podem ser

influenciados por uma fotografia de moda montada a partir de estudos de público e

também de tendências. Também como este é importante para delinear o conteúdo

dos editoriais de moda, pois o mesmo pode ser interpretado de formas diferentes em

países e culturas distintas.

No subcapítulo dois será explanado sobre a fotografia de moda e mais

especificamente do Editorial de Moda. Como o editorial se configura, quais os

profissionais envolvidos e como ele pode influenciar no imaginário e também nos

gostos de uma pessoa, levando ao desejo e, por fim, o consumo.

No capítulo terceiro serão analisados três editoriais de moda de países

diferentes, porém do mesmo mês e ano, dezembro de 2012. As revistas escolhidas

são: Vogue Austrália, Vogue Índia e Vogue Inglaterra. Uma análise será feita em

cada um e serão destacadas as semelhanças entre as mesmas. Por fim, os

editoriais de moda serão comparados com a moda de rua, com a intenção de

perceber se os mesmos a influenciam.

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2 CONTEXTO HISTÓRICO

Pretende-se com esse capítulo contar a história e desenvolvimento da

indumentária através das civilizações, introduzindo juntamente a ela a história da

fotografia e da fotografia de moda, mantendo assim uma linearidade de

acontecimentos e dos fatos, uma vez que todos estão interligados.

Iremos abordar a forma como a indumentária era representada através do

tempo em pinturas, esculturas e outras formas de representação na arte.

2.1 HISTÓRIA DA MODA E FOTOGRAFIA: A DOCUMENTAÇÃO ATRAVÉS DOS

TEMPOS

Desde os primórdios da civilização, por volta de 100.000 a.C., o uso de roupas

ou de peles para cobrir o corpo, possuía os mais diversos motivos tais como, adorno

(para se destacar dos demais), proteção (contra o frio, calor intenso, chuva) e por fim

o pudor (para cobrir-se).

Na antiguidade oriental, a partir de 5.000 a.C., os povos que habitaram a região

da Suméria modificaram a produção das vestimentas quando a agricultura e a

pecuária começaram a ser praticadas. Lã de carneiro, linho, cânhamo e algodão

compunham as vestes, inclusive com peles. Aos poucos essas técnicas foram

aperfeiçoadas e as peles não mais utilizadas.

Por meio das esculturas e pinturas de época, as vestimentas eram desta forma,

retratadas. Consideradas como documentação da cultura as mesmas fornecem até

os dias de hoje, subsídios para o conhecimento da história do vestuário.

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FIGURA 1 - DEUS ABUL E ESTÁTUA FEMININA DE TELL ASMAR FONTE: Laver (1989)

Dentre as várias informações a respeito do que se utilizava de vestimenta,

(FIGURA 1) pode-se perceber que os trajes eram compostos com tufos de lã presos

a uma base de tecido ou pele. Este “tecido franjado” era chamado kaunakès.

A antiguidade clássica (meados de 3.400 a.C.) é o período em que o povo

grego e o romano tiveram destaque e foram ícones de cultura e arte. Tempo do

inicio das civilizações e base da cultura ocidental atual, homens e mulheres se

diferenciavam no vestir.

14

FIGURA 2 - AURIGA DE DELFOS, 475 A.C. FONTE: Laver (1989)

A indumentária se tornou uma forma de diferenciação hierárquica, as cores,

formas e tecidos eram diferentes para cada classe, o quíton 1 era a principal

vestimenta usada pelos gregos (FIGURA 2). Quanto mais drapeados no traje, maior

o status.

Na Alta Idade Média (476 d.C.) os trajes marcavam as classes sociais. Muitas

das características são de influência oriental, como o uso de seda, bordados, cores

fortes, estampas e outros elementos que indicavam a riqueza.

1 Quíton era uma espécie de tecido drapeado jogado pelo corpo com pouca ou nenhuma costura,

preso por presilhas ou cintos.

15

FIGURA 3 - IMPERATRIZ TEODORA. Séc VI.

FONTE: Laver (1989)

A indumentária feminina (FIGURA 3) é composta por uma túnica comprida e

larga, um manto também preso no ombro por um broche e sapatos de seda.

Usavam jóias e adornos nos cabelos longos presos em coques, mas o uso da

maquiagem deixou de ser uma prática comum.

Na Baixa Idade Média, séculos XI a XIII os quais abrangem os períodos

românico e gótico, os trajes tinham a arquitetura como uma principal influência.

Com o comércio, muitos tecidos, aviamentos e peças prontas começaram a

ser trazidas do oriente fazendo com que houvesse uma mistura de estilos e as

peças começassem a ficar uniformes. Somente neste período, houve liberdade

maior na criação de trajes para a nobreza. E eram retratadas nas artes da época.

No Renascimento, há um estudo maior de iluminação, sombras, perspectiva,

onde alguns artistas famosos da época tais como Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio,

Michelangelo Simoni, Sandro Botticelli (FIGURA 4), demonstram com detalhes a

moda da época.

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FIGURA 4 – A PRIMAVERA, DE SANDRO BOTTICELLI FONTE: http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/01/

12/904291/conheca-primavera-sandro-botticelli.html

Em relação aos trajes, eles começam a variar bastante de acordo com as

regiões e períodos, uma vez que as pessoas começam a viajar mais e os

casamentos políticos forçam as pessoas a transpor sua cultura de um país ao outro.

Mas existem algumas semelhanças entre estes trajes, como os tecidos em tafetá,

brocado, veludo, seda e cetim. O uso de bordados dourados, cores fortes e muito

vestuário preto, eram comum.

A rainha Elizabeth teve uma grande participação na moda do Renascimento,

ela trouxe algumas características novas ao vestuário, como a volta do uso da

maquiagem (blush), de forma suave, uso de perucas e a testa alta.

O Barroco é um período que sucede o Renascimento, de 1600 à 1750, onde a

arte ganha grande destaque através das intenções do Papa de fazer de Roma a

cidade mais bonita do mundo cristão. As pinturas e esculturas ganham grande

realismo e caráter emocional, assim como as peças de roupa também transmitem

mais informações.

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Durante a Guerra dos Trinta Anos2, a moda e os costumes não tinham uma

forma específica, os trajes perderam a rigidez que tinham no Renascimento, porém

eram mais exuberantes do que os anteriores (FIGURA 5).

Com o início do reinado de Luis XIV a França tomou a frente comercialmente

na Europa e passou a ser vista como um modelo de cidade. As roupas do rei

também eram um ícone para ser seguido, até mesmo em outros países.

FIGURA 5 – A NOIVA JUDIA FONTE: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/09/25/pintura-noiva-judia-1667-226110.asp

O Rococó, período mais famoso do século XVIII é conhecido pelos exageros,

exuberâncias, excesso de luxo e muitos detalhes no vestuário e na arquitetura.

Entre 1730 e 1789, a França foi um centro de modos, costumes e moda. E

esse nome3 foi dado a partir do movimento artístico do período, o qual se destacava

pelos tons pastéis, muitos elementos decorativos e o uso do dourado nos trajes e na

decoração.

2 Guerra religiosa entre católicos e protestantes que aconteceu de 1618 e 1648, na Holanda, Suécia,

Dinamarca e França. 3Rococó, Rocaille em francês, significa concha, forma muito usada na decoração.

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FIGURA 6 – MARIA ANTONIETA, POR MARTIN VAN MEYTENS FONTE: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/10/07/pintura-maria-antonieta-1767-

68-229879.asp

Para um segundo momento, de 1770 a 1780, a rainha Maria Antonieta,

esposa do rei Luis XVI, passa a ser o ícone de estilo e costumes quando se muda

para a França.

As mulheres usavam vestidos longos em tons pastéis que poderiam ter uma

fenda na frente, mostrando a saia que ia por baixo, com mangas até o cotovelo e

decote quadrado (FIGURA 6). A camisa branca usada por baixo aparecia no decote

e nas mangas do vestido, espartilho, panier4, um bolso sob o vestido. O uso de

leques, luvas, jóias e arranjos no pescoço, juntamente a um capuz preto sobre os

cabelos presos em cachos empoados, ornamentado com flores e pérolas. A

maquiagem era leve, mulheres usavam apenas o pó branco e o rouge.

4Armação usada por baixo da saia, com formato de cesta.

19

O traje masculino também segue as características dos trajes femininos.

Na moda o Neoclassicismo, abrange de 1780 à 1830 em toda a Europa e é a

retomada dos valores clássicos, a partir da descoberta das cidades de Pompéia e

Herculano, em 1748. Napoleão tomou algumas decisões que mudariam o setor têxtil

francês, como proibir a importação de tecidos indianos para alavancar a produção

nacional e também proibiu as mulheres da corte de repetir vestidos em público.

Os tecidos dos vestidos sofreram uma alteração, tornando-se mais leves,

como a seda, musselina, cambraia, em tons claros.

Essa nova forma de vestir deu origem não só a uma nova moda, mas criou-se

também um estilo de vida, conhecido como dandismo. O Dândi era um homem que

ao contrário dos operários ocupados, dispunham de tempo para configurar seu

vestuário elegante, mostrando-se como homens intelectuais e impecáveis. Os

maiores representantes desse estilo foram: Oscar Wilde, George Brummel e Lord

Byron.

FIGURA 7 - VESTIDOS DE KENSINGTON GARDEN PARA JUNHO, IN LE BEAU MONDE, 1808.

FONTE:Laver (1989)

No período da Restauração, de 1815 a 1830, surge a máquina de costura e

os moldes de papel. Usavam-se tecidos mais baratos por conta da industrialização.

Esse fator fez com que o traje masculino se uniformizasse, utilizando-se de poucas

cores como o branco, cinza e preto, cores que remetem à indústria.

20

Já o traje feminino não teve grandes alterações, a cintura desceu e a saia

evasê5 tornou-se a mais usada e os tecidos mais comuns eram o algodão e o tafetá.

As cores voltaram à moda assim como as estampas, agora que a mulher bem

vestida também é um sinônimo de status para os maridos. As mangas ficaram mais

compridas e o decote canoa subiu, porém a altura do vestido permaneceu no

tornozelo.

Se até 1826, havia a arte na qual era recurso de memória para retratar os

aspectos culturais de cada época, neste ano surge a fotografia. Porém, em seus

primórdios não era possível ainda registrar pessoas. O processo era muito lento,

levava cerca de 8 horas para ser gravado.

Cerca de dez anos depois, diminuiu para um minuto o tempo de exposição,

inclusive com maior nitidez. Os primeiros retratos foram feitos a partir desta época.

FIGURA 8 - RETRATO EDGAR ALLAN POE, DAGUERREÓTIPO, 1848 FONTE: http://fotografeumaideia.com.br/site/index.php?option=

com_content&task=view&id=2337&Itemid=138

Quando a fotografia evoluiu o suficiente para que fosse possível retratar

pessoas esta se tornou a sua principal forma de uso. Porém também surgiram fotos

de lugares como natureza, cidades e muitas experimentações.

5 Saia mais larga na barra.

21

Nesta mesma época houve o surgimento de feiras e galerias de exposição,

onde inventos eram expostos e pessoas de toda a Europa podiam saber das últimas

modas. Há também escolas de formação de especialistas técnicos e também

estéticos.

A fotografia em 1851 deu um grande passo, pois Frederick Scott Archer,

escultor inglês, inventa um novo tipo de negativo em vidro chamado de Colódio

Úmido. Este processo era mais sensível a luz e muito mais rápido do que os

processos anteriores, reduzindo o tempo de exposição à luz para 3 segundos. Esse

negativo permitia muito mais nitidez e riqueza em detalhes, tornando o

Daguerreótipo e outros processos obsoletos.

Como a fotografia ainda não é um recurso viável e de fácil acesso, apesar dos

avanços, o desenho é utilizado na moda. Em 1858 Charles Frederick Worth,

costureiro e alfaiate inglês, abre uma loja de aviamentos em Paris e lá passa a

confeccionar vestidos exclusivos à mão, em uma época em que havia uma

democratização da moda. Dentre seus clientes está a Imperatriz Eugênia, esposa de

Napoleão III e outros clientes seletos. Ele cria coleções sazonais e também uma

etiqueta com o seu nome, a primeira marca de roupas e também os primeiros

desfiles.

Em 1867 é publicada pela primeira vez uma revista com o conteúdo voltado

para a Moda e costumes, a Harper’s Bazaar (FIGURA 9). A revista contava com

ilustrações de trajes, dicas de como se vestir, como manter a casa e também dicas

de etiqueta. A revista foi publicada semanalmente até 1901, quando passou a ser

mensal e hoje é lançada em mais de 90 países, com 27 edições diferentes.

A revista Vogue foi lançada somente em 1892, em Nova Iorque, destinada

também a mulheres da alta sociedade, hoje lançada em 21 países e é uma das

revistas de moda mais famosas.

A primeira fotografia só foi introduzida nas revistas de moda na década de

1920, quando houve um avanço não só da fotografia, mas também na reprodução

de jornais e revistas.

22

FIGURA 9 - CAPA DA PRIMEIRA HARPER’S BAZAAR, 1867. FONTE: <http://www.harpersbazaar.com/magazine/140-years/bazaar-140-lookbook#slide-1

Nesta década de 1880, o branco torna-se ainda mais comum ao ser usado

em vestidos de noiva, moda que começou com o vestido de casamento da Rainha

Vitória. Antes disso os vestidos matrimoniais eram feitos com as mais variadas cores,

o que diferenciava era o tecido, preferencialmente nobre. O branco passa a ser

símbolo de pureza e inocência.

FIGURA 10 – RAINHA VITÓRIA FONTE: http://www.angelpig.net/victorian/victoria_wedding.html

23

Em 1880, aos 25 anos, o bancário George Eastman criou o primeiro filme em

rolo feito na história, onde ele poderia fazer várias chapas em um só rolo. Ele

também construiu a primeira câmera que utilizava esse processo, a qual ele nomeou

de KODAK. Porém somente em 1888 foi comercializado em grande escala, com um

slogan que atraiu a todos, até mesmo quem não sabia nada sobre fotografia: “You

press de button, we do the rest 6 ”. Quando o rolo terminava, você mandaria

novamente para Eastman e ele devolvia a câmera com mais 100 poses e as copias

positivas.

A partir do século XX a moda passa a ter mudanças mais freqüentes,

mudando de década em década e acompanhando a evolução artística de cada

momento. Algumas ferramentas como as revistas de moda ganharam mais força e

também, mais tarde, a televisão impulsionou a disseminação das modas.

Deve-se citar que uma das maiores evoluções na fotografia também se deu

no inicio do século XX. Em 1913 um funcionário da empresa Leitz, fabricante óptica,

chamado Oscar Barnack criou uma câmera mais portátil que tinha um sistema de

bobina no seu interior.

Em 1925 foi apresentada a primeira Leica7 na Feira de Leipzig, na Alemanha.

Três anos mais tarde ela era pequena, portátil e se tornou a câmera mais usada

pelos fotojornalistas do século como Henri Cartier-Bresson e André Kertész.

Em 1917 é criada a revista De Stijl8, para divulgar as obras desse movimento

e seus adeptos. Os artistas mais conhecidos da época são: Piet Mondrian, Gerrit

Rietvelt, Theo Von Doesburg e Eileen Gray. A revista também influencia na

fundação de uma escola em a arte pudesse se fundir com a parte industrial, criando

assim a Bauhaus9. A mesma não possui ligação direta com a moda, mas suas

criações são fonte de inspiração para outros artistas.

Um dos professores mais conhecidos, com contribuições para a moda na

Bauhaus é o figurinista Oskar Schlemmer, que usa dos seus conhecimentos dos

movimentos artísticos para a criação de peças para balés e teatros.

6“Você aperta o botão, nós fazemos o resto” em inglês.

7Combinação das palavras Leitz e Camera; câmera portátil e de fácil utilização.

8“O estilo” na língua holandesa.

9A Bauhaus funciona de 1917 a 1933, fechada pelo movimento nazista.

24

Na Rússia é fundada a escola Vkhutemas, a qual tinha um objetivo

semelhante à Bauhaus, porém a mesma produzia peças de vestuário que

englobassem a arte e a funcionalidade da indústria.

A década de 1920 é conhecida por uma grande evolução na moda, pois

muitos elementos são alterados. Um exemplo é o uso de peças com formas mais

retas, sem marcação no corpo, um modelo mais chapado, com saias mais curtas e

cortes assimétricos. É criada a meia na cor de pele para as mulheres, a camisa pólo

para os homens e o fraque. Existe uma grande influência oriental nos trajes, onde

casacos imitavam kimonos. O uso de cabelo curto para as mulheres e maquiagem

forte era indispensável.

Nesta década Coco Chanel inicia a fabricação de roupas para mulheres

visando o conforto e a praticidade, como as calças de verão10 e as jóias-fantasia,

réplicas de jóias para serem usadas na rua com mais tranqüilidade.

Em 1928 foi lançada a câmera Rolleiflex por Reinhold Heidecke.

Na década de 1940, as revistas de Moda ajudam as mulheres com dicas de

como agir em ataques (FIGURA 11) e como manter a casa e trabalhar para ganhar

dinheiro.

FIGURA 11 – MÃE E FILHO EM KINGSTON, 1941

FONTE - Keystone/GettyImages

10

Calças feitas para mulheres, as quais nunca antes foram usadas.

25

Em 1947 a Dior lança a linha 8, a qual mais tarde se transforma no New

Look(FIGURA 12), inspirado na Belle Époque.

FIGURA 12 – NEW LOOK, DIOR FONTE: http://www.vogue.com/voguepedia/New_Look

Um ano mais tarde seria lançada a câmera Polaroid, a primeira câmera

instantânea do mundo. Ela fotografa e imprime as fotografias na hora, não exigindo

a revelação laboratorial como era feito até então.

Na década de 1950, no pós guerra, as fotografias de moda são mais usadas

nas revistas, agora que a tecnologia permite que sejam feitas copias de forma mais

rápida e mais barata.

Alguns fotógrafos famosos da época são: Irving Penn, Richard Avedon e Paul

Horst. As revistas também contavam com as editoras de moda, para selecionar o

conteúdo que seria divulgado nas edições. Diana Vreeland e Carmel Snow são

exemplos de editoras em revistas como a Vogue e a Harper’s Bazaar.

Surge o vestido cocktaile também o salto stiletto, salto fino inventado por

Roger Rivier.

O estilista francês Yves Saint Laurent assume a Dior, criando trajes

inovadores e com novos cortes (FIGURA 13). Cristóbal Balenciaga, estilista francês

abre uma marca nova que leva seu nome e ficou conhecido pelo seu amplo

conhecimento de costura e modelagem, ele fazia desde os moldes até o vestido final.

26

FIGURA 13 – DOVIMA E OS ELEFANTES

FONTE: http://partnouveau.com/?p=536

As maisons criam uma segunda linha para roupas de dia a dia, chamada de

pret-a-porte, porém Chanel e Balenciaga não aderem ao movimento.

Outros nomes importantes desse período são: Givenchy, Pierre Balmain e

Marcel Rochas.

Em 1960, garotos saem com jaquetas de couro topete e jeans e as meninas

trocam as saias rodadas pela calça cigarrete. É a primeira vez na história que os

jovens têm sua própria moda, que não é derivada dos mais velhos. Porém mais e

mais movimentos culturais foram surgindo, fazendo com que os jovens se

diferenciassem através da moda de cada grupo.

A maior criação da década é a minissaia (FIGURA 14), pela inglesa Mary

Quant e o francês André Courrèges, apesar de se dizer que foi algo que surgiu na

rua e ambos apenas comercializaram. Isto se torna mais freqüente, estilistas olham

para a moda de rua para criar suas novas coleções.

27

FIGURA 14 - MINISSAIA

FONTE:Getty

Também temos um novo biotipo para as modelos fotográficas que até então

eram mulheres mais velhas, maduras e com curvas, como a modelo Marilyn Monroe.

Mas a modelo Twiggy (FIGURA 15) traz um novo estilo de beleza, mais jovem,

magra e pequena. Esta foto foi feita por seu empresário Justin de Villeneuve, para a

edição de abril de 1970 da Vogue.

FIGURA 15 – TWIGGY POR JUSTIN DE VILLENEUVE

FONTE: http://www.vogue.com/voguepedia/Twiggy

A atriz Audrey Hepburn (FIGURA 16) também faz sucesso com seu filme A

Bonequinha de Luxo, onde seu figurino Givenchy é copiado até hoje por muitos.

Esta icônica foto, conhecida por muitos até os dias de hoje, foi feita pelo fotógrafo

Bud Fraker, que também fotografou outros artistas de Hollywood na época. Apesar

de não existirem muitas informações e relatos sobre ele, sabe-se que trabalhou nos

28

estúdios da Paramount e em muitos outros estúdios nas décadas de 1950 e 1960 e

que se aposentou em 1979.

FIGURA 16 – AUDREY HEPBURN

FONTE: http://www.vogue.co.uk/spy/celebrity-photos/2011/11/16/audrey-hepburn-style-file/gallery/699226

A década de 1970 foi marcada pelo estilo hippie e punk.

A televisão, que passa a ser mais comum nas casas da população, exibe uma

série que não somente fica famosa, como também dita uma forma de se vestir,

Charlie’s Angels, As Panteras em português.

A principal moda dos anos 1980 é a moda disco a qual utilizava de cores

fortes, mistura de tons, ombreiras, estampas variadas e brilho. Alguns artistas

adeptos ao estilo foram: Madonna, Michael Jackson, David Bowie, Prince e o

estilista Jean Paul Gaultier.

A década também propiciou o surgimento dos yuppies 11 , jovens recém

formados na universidade que encontraram no mercado de trabalho um lugar para

exercer sua profissão. Esses jovens têm uma forma de se vestir mais discreta do

que os jovens do disco. Eles fazem o uso de ternos, camisas, calças sociais e outras

roupas mais formais. Juntamente ao movimento yuppie surgiu o Power woman,

mulheres trabalhadoras e bem sucedidas. O estilista italiano Giorgio Armani tinha

uma linha especial para essas mulheres.

11

Da sigla YUP, Young Urban Professional. Jovem profissional urbano em inglês.

29

Christian Lacroix é o primeiro estilista a fazer releituras em sua coleção,

utilizando o barroco. Ele fez uso de babados, balonè12 e laços. Esta coleção se torna

possível, a partir da pesquisa dos registros (pinturas, esculturas, entre outros) que

detalhavam aspectos dos vestuários da época.

Surgem as Top Models, modelos famosas que passam a ser ícones de estilo

e a agregar mais valor as marcas que vestem.

Os anos 1990 são conhecidos pela moda grunge, lançada pelo estilista Marc

Jacobs em 1992. A moda foi aderida por algumas bandas de rock da época, um

exemplo é o Nirvana.

No Japão são criados os bairros de moda, Harajuku e Shibuya, onde os

jovens se reúnem para exibir seus trajes nos finais de semana. Lá não há regras,

cada um usa o que mais gosta.

No século XXI, a moda passa a mudar com mais frequência, com releituras

nas modas já passadas, buscando em diferentes épocas elementos para serem

incorporados nas peças atuais.

Podemos exemplificar com o editorial de moda a seguir, da revista Vogue

Rússia, edição de junho de 2010 com imagens da década de 1950.

IMAGEM 17 - DONA DE CASA FONTE:http://blogs.dickinson.edu/ ecofeminism/2012/02/25/gendered- bodies/50s-housewife-all-mod-cons/

12

Também conhecida como saia balão; saia ampla, mas com a barra mais justa ao corpo.

IMAGEM 18 - VOGUE RUSSIA 1 FONTE: Suplemento – Vogue Russia, junho de 2010

30

IMAGEM 20 - DONA DE CASA 2 FONTE: http://apopofpretty.com/category/ 31-days-of-vintage-decor-ads/

IMAGEM 19 - VOGUE RUSSIA 2 FONTE: Suplemento – Vogue Russia, Junho de 2010

Nessas imagens podem-se comparar fotos atuais com ilustrações veiculadas

na década de 1950. Caso não existisse essas documentações através de imagens

não seriam possíveis as releituras.

As fontes iconográficas - produzidas através de diferentes formas de

expressão gráfica, como os desenhos, pinturas, gravuras, litografias e

fotografias – carregam em si informações sobre certos fatos e sobre a

mentalidade de uma época. (KOSSOY, 2007 pg. 103)

Segundo Kossoy, as imagens em geral compõem uma das várias bases da

memória. Ressalta também que essas mesmas imagens podem se constituir em

elementos de manipulação política e ideológica. Essas fontes iconográficas

transmitem conhecimentos que complementam as informações transmitidas por

fontes escritas, bem como induzem a pensamentos e desejos.

31

3 O USO DA FOTOGRAFIA NA INDUÇÃO DE DESEJOS

A fotografia – por definição, uma forma de representação, recordação de

uma falta, fetiche – poderia ao contrário servir para postular a existência e o

desejo do outro? Será que a imagem – normalmente tida como o lugar em

que se instaura a diferença entre essência e aparência, o objeto e seu duplo,

o próximo e o distante – poderia ser uma forma de evocar a presença das

coisas. (PEIXOTO, 1990, p.471).

A imagem que compõem editoriais de moda tem por objetivo levar os leitores

a formar opinião sobre o conteúdo do mesmo. Esta capacidade de ser formadora de

opinião interfere nos costumes e no comportamento e leva ao desejo do que é visto

e ausente para quem vê.

As imagens são pontos primordiais nas propagandas de moda, inclusive

compondo páginas inteiras em editoriais. Segundo Aldrighi (1995, p.54), “a

propaganda trabalha com arte, criatividade, raciocínio, moda, cultura, psicologia,

tecnologia, enfim, um complicado conjunto de valores e manifestações da

capacidade humana”.

Diante desta afirmação, percebe-se que a publicidade se detém aos

imaginários culturais, ao princípio de valores sociais, aos estereótipos consagrados,

aos desejos inconscientes.

3.1. DESEJO E CONSUMO

Busca-se na psicanálise explanar sobre a carência, no que diz respeito ao

desejo. Sabe-se que este se inicia no nascimento do indivíduo com a quebra da

situação ideal, adequada e prazerosa no útero de sua mãe. No decorrer da vida,

este sujeito procurará, quer nas relações pessoais como nas de consumo, prover as

suas carências, ocorridas a partir quebra do ideal, de forma inconsciente, na busca

de um estado de contentamento, de prazer e comodidade. Porém o conflito

permanecerá.

A realização de desejos, baseado na insatisfação permanente, como citado

anteriormente, poderá ocorrer por meio do consumo aceitável ou descomedido.

Neste último caso, no consumo desenfreado, o desejo realizado transforma-

se em outro, numa incessante busca. Neste sentido, o indivíduo nunca estará pleno

de suas vontades e desejos, pois os conflitos interiores gerados se revelam através

do consumismo.

32

Jacques Lacan (1901-1981) observa que o desejo é a revelação de um vazio

que quer consumir os objetos nomeados pela linguagem e nunca se basta. Segundo

ele, este vazio é originado da necessidade biológica e a designa como a falta. Não

exatamente de um objeto determinado, mas o sentimento de incompletude.

Nas pesquisas de Lacan, entre desejo e gozo haviam diferenças, assim

como, a ilusão de ter e ser ou perder e não-ser.

Essas diferentes posições subjetivas sejam elas de frustração (imaginária),

privação (real) e castração (simbólica) em relação ao objeto, entende-se que a

castração gera a falta que institui o desejo ou a lei, nesse caso refere-se ao sujeito

mais do que ao objeto, e o gozo como o seu ponto de vista real, mais relacionado ao

objeto faltante que ao sujeito.

Ainda na perspectiva psicanalítica, o desejo é o que movimenta e impulsiona

o homem. Esse desejo o estimula inconscientemente para o consumo, no sentido da

busca da completude. Isso não significa que todos sejam consumistas e

compulsivos, na verdade há pessoas que consomem conscientemente, de modo a

sanar suas necessidades materiais ou desejo comedido. “O sujeito do inconsciente é

permanentemente desejoso, faltante e singular” (LIMA, 2002, p.64).

E é o desejo que impulsiona o consumo.

Com base em estudos da filosofia e sociologia, o homem está imerso na

“sociedade de consumo”. As relações de consumo transformam-se num fato efetivo

da sociedade e passam a ser apreendidas não mais em sua dimensão individual e

puramente econômica: o consumo se governa no domínio de uma sociedade de

consumidores, da qual ele é uma das características centrais.

Nas sociedades contemporâneas ocidentais, as atividades de consumo

tornaram-se um modelo pelo qual os indivíduos encaram suas atividades, o que os

leva a dizer que “é justificável afirmar não só que vivemos numa sociedade de

consumo, ou somos socializados numa cultura de consumo, mas que a nossa, num

sentido bem fundamental, é uma civilização de consumo” (CAMPBELL, 2006, p. 64).

Isto significa que os hábitos culturais da sociedade tradicional passam a ser

direcionados pelas relações mediadas pelo mercado, onde o consumo impõe um

modelo de cultura.

A imagem se sobrepõe a tudo na atualidade, de acordo com Michael de

Certeau (1980), ela cria uma cultura em que os indivíduos espectadores das

33

imagens deixam de ser protagonistas e todo o imaginário social se constitui por meio

do ver.

As imagens vistas se transformam em desejos para as coisas, modificando a

compra e os objetos de consumo em sujeito de toda a ação. A sociedade do

trabalho é anulada em favor da imagem.

Como o desejo, o consumo não se atém à racionalidade; envereda-se pela emoção e dispensa as justificativas causais, torna autogerada e autopropelida, a sua realização. Como desejo, o consumo tem a si mesmo como objeto e, sendo antropofágico, permanece insaciável eternamente. (SANT’ANNA, 2009, p 55.)

Segundo a autora, a sociedade reclama, desconsidera o repertório já visto e

volta-se para o novo, o mesmo, porém atualizado. O mercado visa o aumento da

produção de modo crescente, sendo que desta forma, os consumidores satisfazem

seus desejos criados a partir do apelo do imaterial, imagens publicitárias,

transformados em objetos de consumo, os produtos.

Mesmo considerando a produção em série dos produtos, seus significados

não deixam de existir. “Apresenta a completude de sua forma, de sua expressão

estética, como unidade de síntese simbólica, o que o torna único, mesmo que seja

produzido em centenas.” (SANT’ANNA, 2009 p. 64).

A propaganda age no campo do imaginário. É um elemento fundante de

persuasão e sedução. Como envolve o imaginário, a imagem que representa a

propaganda vende não só o objeto de desejo, mas aquilo que ele significa ou

representa considerando o momento histórico e social do indivíduo. “A mensagem

publicitária é eminentemente, sedutora, não porque assim deva ser para vender

melhor, mas porque expressa confiante que tudo o que foi sonhado um dia pode,

enfim, realizar.” (SANT’ANNA, 2009 p. 68).

As imagens fotográficas são concebidas e idealizadas a partir de propósitos e

conforme as intenções de seus autores, carregando em seu bojo aspectos da cultura

e de conhecimento de mundo de seu autor.

De acordo com Kossoy (2007,p.147), “as imagens revelam seu significado

quando ultrapassamos sua barreira iconográfica; quando recuperamos as histórias

que, em sua forma fragmentária, trazem implícitas”. Isto posto, imagens técnicas e

mentais se fundem em construções de realidades, bem como ficcionais.

Nesse sentido a fotografia nos imprime viagens imagéticas, com as quais

travamos um diálogo entre o olhar e a mente, o sentido e o pensamento.

34

A imagem de uma revista, em um editorial, aparentemente estática, dialoga

de maneira estética, em uma composição harmoniosa entre as páginas, bem como,

com o repertório cultural de quem a lê.

Este repertório refere-se ao nível de conhecimento do leitor, a sua cultura, a

sua educação. Diz respeito a todo conhecimento assimilado, que modifica e

confirma os ideais do sujeito. Assim, o indivíduo pode ser definido por ideologia,

pelas experiências, pelas ações, enfim, por seu repertório individual.

Na fotografia de moda, quando o repertório utilizado pelas revistas, em um

determinado editorial, não condiz com o repertório de seu público leitor, passa a

existir incompatibilidade de níveis de repertório e do entendimento da mensagem.

Desta forma, o olhar do fotógrafo, não gera a necessidade de consumo, o desejo.

Isto posto, o meio em que a pessoa vive define alguns ideais, de forma que as

suas ações e pensamentos são influenciados pelo mesmo.

Um exemplo desta afirmativa seria o uso do branco nos trajes, o qual na

cultura ocidental representa pureza e inocência. Por isso nesta mesma cultura o

branco é usado nos rituais de matrimônio, a noiva. Este aspecto da cultura teve

início a partir do uso do vestido branco usado pela rainha Vitória, na década de 1880.

Em contrapartida, na cultura oriental o branco representa, também, o luto.

(FIGURAS 21 e 22).

FIGURA 21 - HOMEM SENDO VELADO NO JAPÃO FONTE: http://hyakumonogatari.com/author/japanreviewed/page/9/

35

FIGURA 22 - KIMONO FÚNEBRE FEMININO FONTE: http://www.sakura-luna.jp/shopping/?pid=1189578065-088789#

Uma mesma imagem possui significados ilimitados, os quais poderão variar

de acordo com as leituras e vivências de quem as lê. Pode-se transformar em

desejo ou repulsa.

3.2 A FOTOGRAFIA DE MODA

As fotografias utilizadas nas revistas contemporâneas de moda aliam técnicas

de fotografia com conceitos a serem veiculados na mídia. Seu conteúdo é

manipulado de forma a condicionar o leitor e conduzir suas emoções. Isto é

fortemente utilizado para induzir a compra.

“A imagem publicitária constrói, com requinte de artificialidade, a figuração da

cena que será apresentada sedutoramente ao consumidor como condição de

felicidade.” (NEIVA, 1994, p.71).

Ressalta-se que da mesma forma que o consumidor-alvo é influenciado pela

mídia na escolha do que consome, também dissemina novos padrões influenciando

outras pessoas. As construções de novos padrões se fazem através das mudanças

sócio-culturais. Com base nos editoriais de revistas especializadas em moda é que

novos padrões surgem e significativas mudanças ocorrem na sociedade.

O editorial de moda é uma forma encontrada por revistas para divulgar peças

de diferentes marcas juntamente com um conceito ou tendência de forma a

incentivar o desejo de consumo.

36

“A fotografia de moda pertence simultaneamente às categorias de fotografia

comercial e editorial, pois é encomendada e paga tanto por marcas com objetivos

publicitários quanto por revistas.” (PRÄKEL, 2010).

Para isso, se exige um pensar sobre cada aspecto que compõem as imagens

do produto final, sendo necessário o trabalho de vários profissionais, para a

realização deste trabalho, além do fotógrafo, também o maquiador, o cabeleireiro,

stylist13, diretor de arte, entre outros. É a partir do trabalho desenvolvido por todos

eles que se faz o conjunto do editorial, para que além da propaganda dos produtos

conceitos sejam veiculados.

A democratização da alta costura se fez ao utilizar o sistema de licenças em

acessórios e perfumes, na década de 1960. Esse acontecimento ocasionou o

sucesso profissional dos fotógrafos de moda. A profissão passa a ter status. Da

interação do poder da comunicação – fotografia, cinema e televisão – do poder da

moda e o poder do novo se faz a dinâmica da fotografia de moda. O crescimento

profissional da fotografia de moda se deve ao fato de que, comercialmente falando,

ela é um excelente negócio.

A maneira em que a moda se apresenta nos dias de hoje, se construiu

através dos tempos, mas a evolução das tecnologias ligadas à mídia e o fácil acesso

a elas foi fundamental para sua valorização e popularização. Diante disso, pode-se

perceber que a fotografia assume um importante papel de instrumento e veículo da

moda.

As fantasias geradas pelas revistas de moda não se confinam à página. Elas são, na verdade, representadas pelas leitoras com seus próprios corpos. Copiada de revistas, filmes ou vídeos, e usada na vida cotidiana, a moda suprime o limite entre o ‘real’ e o ‘fantástico’, entre a fuga privativa da fantasia e o intercâmbio com o público. (BENSTOCK e TERRIS, 2002, p.75).

Os leitores se projetam a partir das imagens dos editoriais, devido a este

aspecto, as revistas revelam o que o consumidor aspira, estando à frente de seus

desejos e necessidades.

A moda nos dias de hoje, não tem somente a roupa em si como aspecto

principal. Ela se apropria de outros recursos para disseminar conceitos, outras

13

Produtor de moda.

37

maneiras de pensar, mais conexos com o ato de se vestir, importando-se em

construir imagens.

38

4 ANÁLISE DE EDITORIAIS FOTOGRÁFICOS E SUA INFLUÊNCIA NA MODA

USADA NA RUA

Moda e fotografia têm evoluído de forma conjunta. Existem inúmeras

maneiras de conciliá-las, tais como fotografias de desfiles, lookbook14, catálogos e a

principal forma que é o Editorial de Moda.

As marcas utilizam-se das revistas de moda para divulgar os produtos de sua

coleção. Os leitores são seduzidos a consumir. Não somente o consumidor final,

mas também lojas se inspiram nas revistas, na montagem de vitrinas e nas peças

que selecionam para a venda, o que faz com o que o mesmo deseje ainda mais as

peças.

Ás vezes é difícil entender porque uma fotografia em uma revista é descrita como comercial e outra como editorial. A diferença reside em saber quem encomendou e pagou as imagens. Se o fabricante do produto pagou pela imagem, trata-se de fotografia comercia; se a revista encomendou as imagens ou se elas foram fruto da colaboração de um fotógrafo freelance, trata-se de fotografia editorial. O comércio consiste em comprar e vender objetos em grande escala. (PRÄKEL, 2010, p. 69).

A fotografia agrega valor e desejo às peças, ela deve passar o conceito certo

para o público certo e isso está nas mãos do fotógrafo ao decidir como e quem irá

fotografar.

A fotografia de moda inspira pessoas a desejos inconscientes, com

mensagens subliminares na maioria das propostas fotográficas em editoriais. A

indústria da moda atende as necessidades do público de forma efetiva e as

corresponde de modo a satisfazer os desejos e suprimir os medos através das

imagens produzidas levando o leitor ao impulso da compra.

Os editoriais de moda da revista Vogue, India, Autrália e Inglaterra serão

objetos de análise exemplificados nas figuras XXX. Cabe ressaltar, que os três

editoriais, das três revistas correspondem ao mesmo período de publicação. Estas

revistas Vogue foram lançadas em dezembro de 2012.

Pode-se exemplificar este ciclo, marca-fotografia-consumo através de três

editoriais em revistas de países diferentes onde o tema permanece o mesmo:

roupas pretas.

Cabe ressaltar, que o mês de dezembro, é marcado culturalmente em muitos

países por um período de vários eventos, são as chamadas festas de final de ano.

14

Fotografias de peças para catálogo na modelo.

39

Percebe-se na figura 23, Vogue Austrália, o uso da luz com aparência mais

natural, dando impressão de que a modelo está no sol em uma pista de hipismo. As

peças foram inspiradas nos trajes deste esporte.

A ambientação foi composta de areia e a modelo está apoiada em obstáculos

de pista de hipismo. Esta ambientação reflete a oposição do claro e escuro, da luz e

da sombra, do preto ao branco, passando por tons de cinza.

A composição de peças utiliza formas retas com cintura marcada e destaque

para a cor preta.

Os uso de poucos acessórios e de forma muito discreta, compõe um visual

refinado e clean. O acessório em evidência é o cinto que está refletindo a luz em

material metálico.

A equipe de beleza, é responsável pelo visual de cabelo e da maquiagem. O

cabelo e a maquiagem foram pensados de forma que parecessem naturais.

FIGURA 23 – EDITORIAL 1 FONTE: Vogue Austrália, Edição de dezembro de 2012, p.184.

40

Já na figura 24, da revista Vogue Inglaterra, a modelo usa peças de corte reto,

com transparências, uso do veludo e pouco destaque. A cintura marcada em ambas

as composições criam uma silhoueta em formato de ampulheta.

Os cabelos soltos e maquiagem leve dão um ar de naturalidade, mas ainda

muito elegante.

Os acessórios também são muito discretos, ressaltando somente a pulseira

metálica refletindo a luz.

As fotos são ambientadas em um espaço mais caseiro, com a entrada de uma

luz parecendo natural, a primeira em uma janela e segunda em uma porta. São

ambientes discretos que dão destaque as roupas e à modelo. Os objetos de cena

são clássicos e rústicos, em tons claros como o bege e marrom.

Os sapatos não aparecem, mas pode-se notar que ambos são da cor preta,

finalizando a composição monocromática.

FIGURA 24 - EDITORIAL 2 FONTE: Vogue UK - suplemento, dezembro de 2012 – página 16.

Em outra revista, Vogue Índia, figura 25, vê-se novamente o uso do preto em

editoriais de moda. Em ambas as fotos a modelo usa vestidos com a cintura mais

delineada, formando uma silhueta ampulheta. Os vestidos são longos e também

possuem poucos detalhes. Há transparência em tecidos leves e também o uso do

tecido veludo.

41

A beleza é composta por um cabelo solto, liso e natural, mas a maquiagem

tem como ponto de destaque a boca, com um batom vermelho. Os olhos estão mais

simples e discretos.

Não há uso de muitos acessórios, mas pode-se perceber o brinco metálico

refletindo a luz em sua superfície.

O fundo mais caseiro é elegante e possui objetos de cena antigos e cores

claras que compõe um fundo neutro, destacando assim o vestido escuro.

FIGURA 25 - EDITORIAL 3

FONTE: Vogue India, dezembro de 2012 – p. 274 e 275

Podem-se notar alguns elementos que se repetem nos três editoriais, como o

uso da cintura marcada, transparências, cortes retos, poucos acessórios com um

metálico em destaque, peças de roupas monocromáticas e nenhuma estampa.

Apesar das revistas serem de países diferentes, os elementos de tendência se

repetem através da fotografia. Os leitores observam os mesmos indícios por várias

vezes e então assimilam aquilo como tendência, moda.

A moda da atualidade é multi facetada, ou seja, não há uma só moda, mas

sim inúmeras tendências coexistem no mesmo tempo. Isso ocorre porque a moda é

passageira e muda com tal frequência que hoje o nome dado às peças lançadas

para a tendência atual é fast fashion. Exatamente por esta rapidez de troca de

estilos é que os estilistas e designers de moda cada vez mais devem prestar

atenção nas ruas e no que as pessoas estão vestindo no dia a dia. Essa moda de

42

rua também é conhecida como street style, que surgiu no segundo pós-guerra e

também é um fator fundamental do surgimento das tribos urbanas, principalmente

associadas à forma de se vestir, como é o exemplo dos rockabilly nos anos 1950,

que surgiram nas ruas, mas seu modo de se vestir é copiado e usado como

inspiração no vestir até os dias de hoje.

Para que um estilista alcance um sucesso de vendas com uma coleção e com

isso obtenha um editorial que agrade ao público, é preciso estudar a moda vestida

nas ruas do mundo todo, além de sua pesquisa histórica, de referências entre outros

meios do processo criativo. Surgiu então a necessidade de pesquisadores

profissionais, que pudessem estudar e analisar profundamente essas tendências de

mercado, sendo assim criadas agências de pesquisa, ou bureaus de tendências,

como a Promostyl, WGSN, Stylesight, entre outras. São necessários vários

profissionais para compor uma equipe de pesquisa: jornalistas, antropólogos,

designers, estilistas. Estes retratam, através da fotografia, pessoas com modos

inovadores e criativos de se vestir.

A Fotografia de Moda e a Fotografia Social estão cada vez mais interligadas.

Os fotógrafos de moda têm se interessado pela fotografia social, onde costumam

apresentar trabalhos e editoriais com fotos sem muita produção, dando um tom

casual as fotos da moda de rua.

A maior parte das imagens é tirada em espaços e eventos ligados à moda.

Em semanas de desfiles, na saída, fotógrafos registram aspectos do social

fotografando os mais bem vestidos.

Esta forma de fotografar, focando o social, vem comprovar que o estilo das

peças que são veiculadas nos editoriais de moda, de certa forma passam a ser

tendência entre os consumidores.

Diante disto, há uma adesão de fotógrafos, revistas e blogs para a fotografia

de moda de rua. Este nicho vem crescendo e evoluindo de tal forma que são várias

as revistas que abordam esta temática. A revista japonesa FRUiTS mostra

fotografias da moda de rua encontrada lá e é a primeira revista do gênero, lançada

pela primeira vez em 1997.

Vale destacar que o fotógrafo Scott Schuman do blog The Satorialist, ficou

famoso ao fotografar a moda de rua nos quatro cantos do mundo. Nas suas palavras,

43

sobre seu foco, ele comenta: “Não é sobre roupa, mas sobre a forma como elas se

apresentam fisicamente ao mundo.” A moda é estilo e atitude.

Na figura 26, vê-se uma jovem francesa que foi fotografada na rua para um

website com o conteúdo direcionado à moda de rua. Podem-se notar alguns

elementos que coincidem com os editoriais apresentados neste trabalho (figuras x, x

e x), como o uso da transparência, vestido na cor preta, cintura marcada, cabelos

soltos, entre outros. A moda apresentada em revistas e também em desfiles é

assimilada pelos consumidores e então passa a ser usada nas ruas. Os estilistas se

inspiram, também, nas ruas, formando um ciclo.

FIGURA 26 - MODA DE RUA FONTE: http://streetpeeper.com/fashion/

44

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A imagem é a linguagem da moda.

Pode-se perceber através do estudo da história das civilizações e do

desenvolvimento da indumentária, que a representação das mesmas, era feita

através de pinturas e esculturas, e repercutiam como modelos a serem copiados,

pois as pessoas mais retratadas eram as que detinham o poder, ou seja, os

monarcas.

Nestas representações mais rústicas, em se tratando dos detalhes das

vestimentas, tais como tecidos, cortes, cores, entre outros, não eram observáveis.

Mesmo assim é notável que alguns aspectos da história possam ser contados

através da leitura de imagem destes registros.

Com o tempo, as representações passaram a ficar mais realistas, a partir das

novas técnicas, novos materiais, tais como tinta à óleo, a qual foi aperfeiçoada por

Leonardo Da Vinci, que proporcionava uma quantidade maior de detalhes, inclusive

a partir da paleta de cores.

Mesmo com o surgimento da fotografia as revistas de moda continuaram a se

utilizar de ilustrações, pois o preço, a dificuldade técnica e de reprodução do mesmo

impossibilitava o uso deste recurso.

Considerando que tudo que pensamos é formado por imagens, imaginação,

ela se torna primordial para a elaboração de conceitos, implicando, de certa forma,

em concepções e desejos.

Nesse sentido a moda utiliza-se fortemente da imagem para compor o

imaginário social, tendo como meta levar as pessoas a formar opinião sobre o

conteúdo delas, intervindo nos costumes e no comportamento e leva ao desejo do

que é visto e ausente para quem vê. E é o desejo que impulsiona o consumo.

Na moda, a fotografia soma valor e desejo ao produto, quando de certa forma

atende as necessidades de seu público. A fotografia de moda inspira as pessoas a

desejos inconscientes, com mensagens subliminares na maioria das propostas

fotográficas em editoriais.

Na analise realizada dos editoriais da revista Vogue, India, Autrália e

Inglaterra, fatores e características semelhantes, reforçam a ideia de que há

intenção de estabelecer um conceito e influenciar os leitores para a aceitação do

45

conteúdo da revista através das fotografias. Pode-se verificar este ciclo, de marca,

fotografia e consumo, pois apesar de se tratar de países diferentes, a revista impõe

o mesmo tema, o preto na moda.

Apesar de a cor preta ser considerada um clássico em peças de roupa, ou

seja, não sai de moda, existem similaridades nas peças, como o corte, a modelagem,

os tipos de tecidos. Até mesmo, apesar de culturas distintas, aspectos da beleza,

como cabelo e maquiagem, se assemelham.

A moda apresentada em revistas e também em desfiles é assimilada pelos

consumidores e então passa a ser usada nas ruas.

A fotografia de rua analisada na pesquisa vem reforçar esta premissa. Os

mesmos elementos observados nos editoriais podem ser percebidos na foto de

moda de rua apresentada. As correlações estabelecidas entre fotografia e moda

movem o fluxo de consumo, mantendo o mercado em movimento.

Considera-se então, a imagem hoje da fotografia de moda um elemento

fundamental na construção de uma idéia, de um conceito. Pode-se dizer que são

elementos indissociáveis para o mercado da moda.

46

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47

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