mono eduardo moreno persson

69
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO MORENO PERSSON EMBASAMENTO LEGAL DO USO DA FORÇA PELO POLICIAL MILITAR Içara 2011

Upload: eduardo-moreno

Post on 06-Aug-2015

74 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Mono Eduardo Moreno Persson

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

EDUARDO MORENO PERSSON

EMBASAMENTO LEGAL DO USO DA FORÇA PELO POLICIAL MILITAR

Içara

2011

Page 2: Mono Eduardo Moreno Persson

EDUARDO MORENO PERSSON

EMBASAMENTO LEGAL DO USO DA FORÇA PELO POLICIAL MILITAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de

Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito

à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Esp. Ronaldo da Silva Cruz.

Içara

2011

Page 3: Mono Eduardo Moreno Persson

EDUARDO MORENO PERSSON

EMBASAMENTO LEGAL DO USO DA FORÇA PELO POLICIAL MILITAR

Este Trabalho de Curso foi julgado adequado à obtenção do

título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo

Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Içara, 20 de junho de 2011.

_______________________________________

Prof.. e orientador Ronaldo da Silva Cruz, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________

Prof. Silvio Roberto Lisboa, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________

Prof. Júlio César Bernardes, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

Page 4: Mono Eduardo Moreno Persson

Dedico esta obra a minha mãe, Soraia, por não

medir esforços em garantir meus estudos. A

minha esposa, Miriam, por me apoiar

incondicionalmente. Ao meu pai, Ivo e ao meu

irmão Lucas, sempre presentes no meu coração e

no meu pensamento. A distância me fez

compreender ainda mais o quanto vos amo.

Dedico também aos verdadeiros amigos

conquistados ao longo da vida, os quais considero

como membros da minha própria família, esta

impecavelmente escolhida por Deus.

Page 5: Mono Eduardo Moreno Persson

AGRADECIMENTO

Agradeço inicialmente a Deus, por sempre me indicar os caminhos corretos a seguir e

me prover a força necessária para continuar meus estudos, demonstrando-me que este pode

ser também um dos caminhos para minha evolução espiritual.

Agradeço a minha família e aos amigos, por compreenderem os longos períodos

debruçados sobre os livros deixando muitas vezes de dedicar-me a quem tanto amo.

Page 6: Mono Eduardo Moreno Persson

“Quem teme perder, já está vencido”.

Jigoro Kano.

Page 7: Mono Eduardo Moreno Persson

RESUMO

Tema: Embasamento Legal do Uso da Força pelo Policial Militar. Problema: Qual o

embasamento legal para o emprego da força pelo policial militar? Justificativa: O Estado tem

como principal característica o caráter disciplinador e normativo, com a finalidade de manter

o convívio social harmônico, onde o indivíduo é capturado por uma rede de poder que o torna

“útil e dócil”. Neste sentido a força pública, mostra-se fundamental. Para atingir tais

objetivos, os agentes públicos utilizam-se do poder de polícia, conferido pelo Estado. Dentre

um dos atributos deste poder de polícia encontra-se a coercitividade, que permite o uso da

força pelo policial militar quando no objetivo de garantir a preservação da ordem pública. A

fim de garantir que a utilização desta força, esteja dentro do que se espera pela sociedade, a

qual se manifesta através da legislação vigente, mostra-se pertinente o estudo sobre o

embasamento legal do uso da força pelo policial militar. O conhecimento do tema mostra-se

relevante não somente aos operadores do direito, policiais, advogados, membros do ministério

público ou judiciário, mas à sociedade que clamando por profissionais qualificados, necessita

deter o conhecimento sobre os limites legais de sua atuação, assim como os agentes públicos

que irão exercer tais atividades atinentes a segurança pública. Objetivo Geral: Conhecer o

respaldo legal da atuação policial militar frente à necessidade do uso da força. Objetivos

Específicos: Identificar a competência legal da Polícia Militar, através do esclarecimento

doutrinário sobre os conceitos apresentados pela Constituição da República Federativa do

Brasil; Discorrer sobre o “Poder de Polícia”, sob enfoque do uso da força na atividade policial

militar; Apresentar os modelos de uso da força indicados para atividade policial, baseando-se

nos direitos humanos; Explicitar a legislação vigente, relativo às excludentes de ilicitude,

aplicadas a atividade policial militar bem como, exemplos práticos. Métodos: abordagem

dedutiva, partindo de argumentos gerais para noções específicas. A pesquisa baseou-se na

bibliografia e seguiu o caráter exploratório, abrangendo leitura de doutrinas de direito, artigos

e trabalhos científicos, além da legislação pertinente. Resultado: o segundo capítulo introduz

os conceitos necessários para compreender a legislação que aborda a missão constitucional da

Polícia Militar. Tratando-se de estudo específico sobre a atuação policial militar, não poderia

iniciar a obra sem esclarecer ao leitor a abrangência da atividade exercida por este agente

público. No terceiro capítulo de desenvolvimento do trabalho inicia-se o estudo sobre a

utilização da força na perspectiva dos direitos humanos para atuação policial militar. O

conceito de “uso progressivo da força” bem como, modelos de uso progressivo da força são

Page 8: Mono Eduardo Moreno Persson

explicitados. O quarto capítulo do trabalho aborda especificamente a legislação brasileira e

uso progressivo da força, elencando aspectos doutrinários referente às excludentes de ilicitude

presenciadas na atividade policial militar. Conclusão: A coercibilidade, atributo do poder de

polícia, esboçado na pesquisa, somado a atuação condizente com alguma excludente de

ilicitude, elencada na legislação, embasa a atuação policial militar frente a necessidade do uso

da força.

Palavras-chave: Polícia Militar. Uso da Força. Poder de Polícia.

Page 9: Mono Eduardo Moreno Persson

ABSTRACT

Theme: Legal Foundation of the Use of Force by the Military Police. Problem: What‟s the

legal foundation for the use of force by military police? Justification: The State has the main

feature the disciplinarian and normative character, in order to maintain harmonic social

contact, where the individual is captured by a network of power that makes it "useful and

docile”. In this sense law enforcement, has proven crucial. To achieve these goals, the public

utilize the police power, conferred by the state. Among the attributes of a police power is the

coercivity, which allows the use of force by Military Police while in order to ensure the

preservation of public order. To ensure that the use of force, is within the expected by society,

which manifests itself through legislation, appears to be relevant the study on the legal

foundation of the use of force by Military Police. The knowledge of the topic shows to be

relevant not only to law enforcement officers, police, lawyers, public prosecutors or the

judiciary, but the society that calling for skilled professionals, need to hold the knowledge

about the legal limits of its performance, as well as public officials who will carry out such

activities relating to public safety. General Objective: To know the legal support of police

action against the necessity of the use of force. Specific Objectives: To identify the legal

jurisdiction of the Military Police, through the doctrinal clarification on the concepts

presented by the Constitution of the Federative Republic of Brazil; Talking about the "Police

Power", focus on the use of force in Military Police activity; Present the models by use of

force indicated to police activity, based on human rights; Explain the legislation concerning

the unlawful exclusionary, as applied to military police activities, as well as practical

examples. Methods: A deductive approach, starting from general arguments for particular

notions. The research was based on literature and followed the exploratory, covering reading

doctrines of law, articles and scientific papers, and relevant legislation. Result: The second

chapter introduces the concepts needed to understand the legislation that addresses the

constitutional mission of the Military Police. Being specific study of work on military police,

could not start work without the reader to clarify the scope of activities performed by military

police. In the third chapter of the development work begins the study on the use of force in a

human rights perspective to military policing. The concept of "progressive force using" as

well as progressive force using models are presented. The fourth chapter of the work deals

specifically with the Brazilian laws and use of the force, listing on the doctrinal aspects of any

unlawful act witnessed military police activity. Conclusion: The coercivity, an attribute of

Page 10: Mono Eduardo Moreno Persson

police power, outlined in the research, coupled with a performance befitting with any

unlawful act, listed in the legislation, underlies police action against the necessity of the use of

force.

Keywords: Military Police. Use of Force. Police Power.

Page 11: Mono Eduardo Moreno Persson

10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: Ciclo de Polícia. ................................................................................................... 24

Ilustração 2: Modelo Canadense de uso progressivo da força.................................................. 38

Ilustração 3: Situation Management Model.............................................................................. 39

Ilustração 4: Modelo básico de uso progressivo da força. ........................................................ 40

Ilustração 5: Pirâmide de Emprego da Força ........................................................................... 40

Page 12: Mono Eduardo Moreno Persson

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13

1.1 TEMA ................................................................................................................................. 14

1.2 PROBLEMA ...................................................................................................................... 14

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 14

1.4 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 15

1.4.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 15

1.4.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 15

1.5 METODOLOGIA ............................................................................................................... 16

1.5.1 Método ............................................................................................................................ 16

1.5.2 Método de Pesquisa ....................................................................................................... 16

1.5.3 Técnica de Coleta de Dados .......................................................................................... 17

1.6 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS ............................................................................... 17

2 LEGISLAÇÃO REFERENTE Á MISSÃO CONSTITUCIONAL DA POLÍCIA

MILITAR. ............................................................................................................................... 19

2.1 ANÁLISE CONSTITUCIONAL ....................................................................................... 19

2.1 ANÁLISE DOUTRINÁRIA .............................................................................................. 21

2.2.1 Polícia Ostensiva ............................................................................................................ 21

2.2.2 Poder de Polícia ............................................................................................................. 21

2.2.3 Preservação da Ordem Pública .................................................................................... 26

2.2.4 Competência Residual ................................................................................................... 28

3 O USO DA FORÇA NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS PARA

ATIVIDADE POLICIAL MILITAR ................................................................................... 30

3.1 DIREITOS HUMANOS E A ATIVIDADE POLICIAL ................................................... 30

3.2 USO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL .............................................................. 33

3.3 USO ESCALONADO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL - MODELOS DE USO

PROGRESSIVO DA FORÇA .................................................................................................. 36

4 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E O USO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL

MILITAR ................................................................................................................................ 42

4.1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 ................. 42

4.2 CÓDIGO PENAL – EXCLUDENTES DE ILICITUDE ................................................... 45

4.2.1 Legítima Defesa – Conceito e Exemplos Fáticos ......................................................... 46

Page 13: Mono Eduardo Moreno Persson

12

4.2.2 Estado de Necessidade – Conceito e Exemplos Fáticos .............................................. 48

4.2.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal e Exercício Regular de Direito – Conceito e

Exemplos Fáticos .................................................................................................................... 50

4.2.4 Excesso Punível .............................................................................................................. 53

4.3 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E PROCESSO PENAL MILITAR ........................... 54

4.4 LEI 4.898/65 – ABUSO DE AUTORIDADE .................................................................... 57

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 59

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 62

Page 14: Mono Eduardo Moreno Persson

13

1 INTRODUÇÃO

A Polícia Militar, instituição cuja missão constitucional é preservar a ordem

pública e exercer a polícia ostensiva possui uma ampla responsabilidade social. Policiais

militares, no intuito de cumprir seu dever, possuem diversos poderes conferidos pelo Estado,

dentre eles o poder de polícia. O poder de polícia, dotado de atributos peculiares, dentre eles a

coercibilidade, garante que o agente público imponha uma ordem legal ao administrado, sem

a necessidade de autorização do poder judiciário, podendo inclusive utilizar-se do uso

proporcional da força.

Tratados internacionais orientam que a força deve ser empregada tecnicamente,

orientando os países signatários a disponibilizar aos agentes públicos acesso a treinamento e

instrução. Pesquisadores da área de segurança pública e direitos humanos de diversos países

produziram modelos de emprego da força pelo agente público conforme a reação do infrator

(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006). A análise destes modelos baliza o uso da força pelo

agente público, policial militar.

O cotidiano da atividade de preservação da ordem pública é muito variado. O

policial militar encontra em sua atividade desde atuações puramente preventivas, como

comunicar autoridades responsáveis sobre alguma sinalização inadequada, ou auxiliar alunos

na travessia de vias públicas, até ações repressivas, logo após o cometimento de delitos, como

confrontos com assaltantes de estabelecimentos comerciais, rixas em estádio de futebol, vias

de fato entre ébrios em bares e boates, dentre outras ocorrências.

Diante desta variabilidade de situações, o policial militar, agindo em nome da

sociedade, necessita utilizar da força em prol do interesse coletivo. Agindo assim afronta

direitos fundamentais do cidadão, como o direito de ir e vir, de manter sua integridade física,

ou mesmo o direito a vida, que pode ser tolhido diante de situações graves.

Há diversas considerações que devem ser destacadas referentes a esta pesquisa,

como a ampla competência atribuída às Polícias Militares desde a alteração na Constituição

Federal de 1988. Sobre o tema destacam-se ainda os mais variados problemas sociais, que

transcendem a atuação meramente policial, porém afetam diretamente o serviço executado

pela polícia ostensiva, cabendo a esta “solucioná-los”, muitas vezes mediante o uso da força.

Os princípios de direitos humanos, internacionalmente reconhecidos, e defendidos

pela legislação vigente no Brasil, fundamentam a função pública, e merecem relevância nesta

pesquisa. Esta complexibilidade da missão constitucional das Polícias Militares, atrelada a

Page 15: Mono Eduardo Moreno Persson

14

eventual necessidade do uso da força coercitiva, justifica a iniciativa do presente estudo. Este

trabalho tem como objetivo principal explicitar o embasamento legal da atuação coercitiva do

policial militar frente à necessidade de uso da força a fim de conter resistência de agente

infrator.

1.1 TEMA

Embasamento Legal do Uso da Força pelo Policial Militar.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A fim de garantir a ordem pública, o Estado, através das Polícias Militares, e seus

agentes, utiliza-se do poder de polícia. Porém, em muitas circunstâncias, o administrado não

concorda com a atuação do Estado, e impõe resistência a execução da atividade estatal,

necessitando assim do uso da força por parte do agente público ora suscitado.

Nesta situação, o Policial Militar, agindo sob a égide da Constituição Federal,

para garantir a preservação da ordem, mesmo que diante da recusa do administrado, necessita

empregar a força coercitivamente.

De acordo com o apresentado, pergunta-se “Qual o embasamento legal para o

emprego da força pelo policial militar?

1.3 JUSTIFICATIVA

Para Focault apud Danner e Oliveira (2010, p.02), o Estado tem como principal

característica o caráter disciplinador e normativo, com a finalidade de manter o convívio

social harmônico, onde o indivíduo é capturado por uma rede de poder que o torna “útil e

dócil”. Neste sentido a força pública, mostra-se fundamental.

Page 16: Mono Eduardo Moreno Persson

15

No Brasil, a Polícia Militar, é responsável pelo exercício da polícia ostensiva e da

preservação da ordem pública. Para atingir tais objetivos, os agentes públicos utilizam-se do

poder de polícia, conferido pelo Estado. Dentre um dos atributos deste poder de polícia

encontra-se a coercitividade, que permite o uso da força pelo policial militar quando no

objetivo de garantir a preservação da ordem pública.

A fim de garantir que a utilização desta força, esteja dentro do que se espera pela

sociedade, a qual se manifesta através da legislação vigente, mostra-se pertinente o estudo

sobre o embasamento legal do uso da força pelo policial militar. A sociedade, clamando por

profissionais qualificados, necessita deter o conhecimento sobre os limites legais de sua

atuação, assim como os agentes públicos que irão exercer tais atividades atinentes a segurança

pública.

O conhecimento do tema mostra-se relevante não somente aos operadores do

direito, policiais, advogados, membros do ministério público ou judiciário, mas à sociedade

que a partir da noção dos limites legais de atuação do agente público pode, por exemplo,

cobrar com exatidão atitudes verdadeiramente legais e profissionais por parte dos policiais

militares.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Conhecer o respaldo legal da atuação policial militar frente à necessidade do uso

da força.

1.4.2 Objetivos Específicos

a) Identificar a competência legal da Polícia Militar, através do esclarecimento

doutrinário sobre os conceitos apresentados pela Constituição da República Federativa

do Brasil.

Page 17: Mono Eduardo Moreno Persson

16

b) Discorrer sobre o “Poder de Polícia”, sob enfoque do uso da força na atividade policial

militar.

c) Apresentar os modelos de uso da força indicados para atividade policial, baseando-se

nos direitos humanos.

d) Explicitar a legislação vigente relativo às excludentes de ilicitude, aplicadas a

atividade policial militar bem como, exemplos práticos.

1.5 METODOLOGIA DA PESQUISA

1.5.1 Método

Segundo Markoni e Lakatos (2006, p. 83), método “é o conjunto das atividades

sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia permite alcançar o objetivo –

conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e

auxiliando as decisões do cientista”. Os autores colocam ainda que qualquer ciência exige o

emprego de métodos científicos.

Corroborando com os autores anteriormente citados, Fachin (2001 p. 27) afirma

que método, em sentido mais genérico, “[...] é a escolha de procedimentos sistemáticos para

descrição e explicação do estudo”. A autora afirma que durante a realização da pesquisa os

métodos utilizados podem variar.

O método utilizado foi o dedutivo, que segundo Fachin (2001, p. 30), se

caracteriza por ser um “[...] procedimento do raciocínio que, a partir de uma análise de dados

gerais, se encaminha para noções particulares”. Diferencia-se do método indutivo, pois deste

se obtém uma conclusão a partir de suas proposições, dos aspectos particulares para os

aspectos gerais.

1.5.2 Método de Pesquisa

Page 18: Mono Eduardo Moreno Persson

17

Utilizou-se a pesquisa bibliográfica e documental. Segundo Markoni e Lakatos

(2006) a pesquisa documental caracteriza-se pela fonte de coleta de dados estar restrita a

documentos, escritos ou não, chamados fontes primárias.

Os mesmos autores afirmam que a pesquisa bibliográfica, abrange a bibliografia

referente ao tema do estudo, já tornada pública, desde boletins, jornais, revistas, livros,

pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc.; além de meios de comunicação orais

como: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais, filmes e televisão.

Fachin (2001, p. 125) aponta como pesquisa bibliográfica, o “conjunto de

conhecimentos humanos reunidos nas obras”. Fachin (2001, p. 125) afirma, ainda, que a

“pesquisa bibliográfica constitui o ato de ler, selecionar, fichar, organizar e arquivar tópicos

de interesse para pesquisar em pauta”.

1.5.3 Técnica de Coleta de Dados

Técnica segundo Markoni e Lakatos (2006, p. 176) é o “conjunto de preceitos ou

processos de que se serve uma ciência ou arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou

normas, a parte prática”.

Para realização deste trabalho foram realizadas fichas bibliográficas, que segundo

Fachin (2001, p. 130) é “um dos recursos mais comuns à realização de pesquisa bibliográfica

[...]”.

Foram feitos levantamentos bibliográficos, no material primário e secundário,

referente ao assunto. Fundamentou-se na leitura de obras referentes à instrução policial

militar, bem como na doutrina atinente à legislação brasileira, além da pesquisa documental

nas cartas legais vigentes.

1.6 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS

Inicialmente, o capítulo segundo da pesquisa abordará a incumbência da Polícia

Militar diante do previsto na Constituição Federal de 1988, utilizando-se da doutrina

concernente ao assunto.

Page 19: Mono Eduardo Moreno Persson

18

Há diversos instrumentos legais que orientam e delimitam a faculdade do uso da

força pelos agentes responsáveis pela segurança pública. A legislação que será apontada nos

capítulos dois e três destaca tal situação como exceção, não podendo o policial militar,

utilizar-se deste atributo indiscriminadamente. Tratados internacionais orientam inclusive que

a força deve ser empregada tecnicamente, orientando os países signatários a disponibilizar aos

agentes públicos acesso a treinamento e instrução. Tais instrumentos legais, bem como,

modelos de uso da força, serão apresentados no capítulo três, intitulado, “O Uso da Força na

Perspectiva dos Direitos Humanos para Atividade Policial Militar”.

O capítulo quatro abordará as causas chamadas excludentes de ilicitude, onde o

policial militar, agindo em conformidade com o exposto nos capítulos anteriores, poderá

atingir tais direitos garantidos pela Constituição Federal aos cidadãos, sem contudo estar

agindo em desconformidade com a lei.

Page 20: Mono Eduardo Moreno Persson

19

2 LEGISLAÇÃO REFERENTE À MISSÃO CONSTITUCIONAL DA POLÍCIA

MILITAR.

Este capítulo da pesquisa aborda a missão constitucional da Polícia Militar. Tanto

a Constituição da República Federativa do Brasil como a Constituição do Estado de Santa

Catarina, são destacadas na primeira seção. Os conceitos apresentados nestas duas normas

cogentes são esmiuçados pela doutrina nas seções seguintes. Tais conceitos são: polícia

ostensiva, poder de polícia, preservação da ordem pública, bem como, a competência residual

das Polícias Militares.

2.1 ANÁLISE CONSTITUCIONAL

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, em seu artigo 13º,

parágrafo 4º, instituía o seguinte:

§ 4º - As polícias militares, instituídas para a manutenção da ordem e segurança

interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, e os corpos de bombeiros

militares são considerados forças auxiliares, reserva do Exército. (Brasil,

Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, art. 13)

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no Título V, Da

Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas, Capítulo III, Da Segurança Pública,

responsabiliza o Estado e a sociedade como um todo, além de distinguir cinco órgãos policiais

responsáveis pela segurança pública em seu artigo 144:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,

é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. (Brasil, Constituição da

República Federativa do Brasil, 2011)

Page 21: Mono Eduardo Moreno Persson

20

Depreende-se da referida norma constitucional que a Polícia Militar, apontada

no caput do art. 144, inciso V, é um dos órgãos responsáveis pela segurança pública,

juntamente com a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal,

Polícias Civis e Corpos de Bombeiros Militares.

A devida competência da Polícia Militar, bem como dos Bombeiros Militares é

definida no § 5º do mesmo artigo:

[...]

§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem

pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei,

incumbe a execução de atividades de defesa civil. (Brasil, Constituição da República

Federativa do Brasil, art. 144)

O ato Complementar número quarenta de 1968, modificou o § 4º da Constituição

de 1967, mas o cerne da missão permaneceu a mesma até 1988. (BRASIL, Constituição da

República Federativa do Brasil de 1967, art. 13)

Percebe-se que a principal diferença entre as duas normas, quando trata sobre a

competência constitucional das Polícias Militares, está na alteração do termo “manutenção da

ordem” para “preservação da ordem” e na inclusão da terminologia “polícia ostensiva”, ambas

como competência exclusiva destas instituições militares. As Polícias Militares permanecem

como forças reservas do exército, porém agora, tal competência encontra-se no parágrafo 6º

do mesmo artigo.

Seguindo a Constituição da República Federativa do Brasil, a Constituição do

Estado de Santa Catarina, no Título V, Da segurança Pública, Capítulo III, Da Polícia Militar,

artigo 107, coloca o seguinte:

Art. 107. À Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do

Exército, organizada com base na hierarquia e na disciplina, subordinada ao

Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de outras

atribuições estabelecidas em Lei:

I – exercer a polícia ostensiva relacionada com:

a) a preservação da ordem e da segurança pública;

b) o radiopatrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial;

c) o patrulhamento rodoviário;

d) a guarda e a fiscalização das florestas e dos mananciais;

e) a guarda e a fiscalização do trânsito urbano;

f) a polícia judiciária militar, nos termos de lei federal;

g) a proteção do meio ambiente;

h) a garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades públicas,

especialmente da área fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso e

ocupação do solo e de patrimônio cultural; (grifou-se) (Santa Catarina, Constituição

do Estado de Santa Catarina, art. 107)

Page 22: Mono Eduardo Moreno Persson

21

2.1 ANÁLISE DOUTRINÁRIA

2.2.1 Polícia Ostensiva

Observando a doutrina referente à terminologia “polícia ostensiva” segundo

Hipólito (2005), é nova e segundo Lazzarini (1999), amplia a dimensão da atividade policial

militar. Moreira Neto (1989, p. 60), lembra os ensinamentos do mestre Lazzarini:

A polícia ostensiva, afirmei, é uma expressão nova, não só no texto constitucional,

como na nomenclatura da especialidade. Foi adotada por dois motivos: o primeiro,

já aludido, de estabelecer a exclusividade constitucional e, o segundo para marcar a

expansão da competência policial dos policiais militares, além do „policiamento‟

ostensivo. Para bem entender esse segundo aspecto, é mister ter presente que o

policiamento é apenas uma fase da atividade de polícia.

O Parecer GM-25 (2001), da Advocacia Geral da União, baseando-se no Decreto-

lei 667 (BRASIL, 2011) e Decreto Federal 88.777 (BRASIL, 2011) bem como sustentado

ainda pelos doutrinadores: José Afonso da Silva; Álvaro Lazzarini; Diogo de Figueiredo

Moreira Neto; entre outros, indica que a modificação do termo policiamento ostensivo para

polícia ostensiva, na Carta Magna, visa dar exclusividade constitucional às Polícias Militares

bem como, expandir sua competência policial, pois policiamento é apenas uma das fases da

atividade de polícia, esta exercida pelo Estado através do uso do poder de polícia.

2.2.2 Poder de Polícia

Alexandrino e Paulo (2010, p. 219), utilizando a explicação do Prof. José dos

Santos Carvalho Filho, referem-se aos poderes administrativos, dentre eles o poder de polícia,

como “o conjunto de prerrogativas de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes

administrativos para o fim de permitir que o Estado alcance seus fins”. Em sua obra, tratam

sobre os principais poderes descritos pela doutrina, quais sejam: poder vinculado, poder

discricionário, poder hierárquico, poder disciplinar, poder regulamentar e poder de polícia.

Page 23: Mono Eduardo Moreno Persson

22

Sobre o poder de polícia, Caio Tácito apud Büring (2003, p. 6), coloca que “é

fundamentalmente uma limitação administrativa a um direito ou liberdade, a um benefício, de

um interesse qualificado em lei, e supõe uma norma expressa de competência, ou seja, a

ninguém é lícita a auto promoção do poder de polícia”.

Mukai (1999, p. 89), traz como poder de polícia a “faculdade, inerente à

Administração Pública, que esta detém, para disciplinar e restringir as atividades, o uso e gozo

de bens e de direitos, bem como, assim as liberdades dos administrados, em benefício da

coletividade”.

Odília Oliveira apud Büring (2003, p. 79), refere-se ao termo poder de polícia

como de origem norte americana, o chamado police power. Nos Estados Unidos da América,

esta expressão possui caráter legislativo, de fazer leis que limitem as atividades individuais

em prol do bem estar coletivo. No entanto, em território brasileiro, esta expressão segue o

modelo europeu, onde o poder de polícia é eminentemente administrativo, infralegal,

desdobrando-se em “atos normativos de caráter regulamentar e atos individuais de efeitos

concretos” realizados buscando atingir o objetivo das leis que limitam os administrados.

André da Silva apud Meirelles (2006, p.4), assim como Buring (2003, p.79),

refere-se ao poder de polícia como police power,salientando ser um sistema total de

regulamentação interna, onde o Estado além de buscar a ordem pública, visa manter uma

relação harmoniosa entre o gozo do direito próprio, “até onde for compatível com o direito

dos demais”.

André da Silva (2006, p.2) afirma que o poder de polícia tem o objetivo de

propiciar uma convivência social harmoniosa, evitando e atenuando conflitos entre os

indivíduos, com fulcro no interesse da população como um todo.

O poder de polícia, segundo Meirelles (2005, p. 131), “[...] é a faculdade de que

dispõe a administração pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e

direitos individuais em benefício da coletividade ou do próprio Estado”. Pode-se dizer que

este é um mecanismo que o Estado dispõe para conter os abusos dos direitos individuais.

Alexandrino e Paulo (2010, p. 239) seguem o conceito proposto por Hely Lopes

Meirelles, considerando este mais restrito. Segundo os autores, alguns doutrinadores,

analisam o poder de polícia com uma acepção mais ampla, abrangendo não só a aplicação das

leis, mas também a edição destas, desempenhada pelo poder legislativo. Exemplo de

doutrinador que segue esta linha de pensamento é a Profª. Maria Silvia Di Pietro.

Page 24: Mono Eduardo Moreno Persson

23

Miguel (2006, p. 20), cita a obra de Mayer, datada de 1951, o qual já propunha

um conceito similar ao descrito atualmente como "[...] a atividade do Estado que visa

defender, pelos meios do poder da autoridade, a boa ordem da coisa pública contra as

perturbações que as realidades individuais possam trazer".

Meirelles (2005, p. 131) afirma ainda sobre a importância de distinguir os tipos de

polícia: polícia administrativa, judiciária e de manutenção da ordem pública.

A polícia administrativa é inerente à administração pública, enquanto que a

polícia judiciária e a de manutenção da ordem pública referem-se a outros órgãos, como a

Polícia Civil, ou corporações, como a Polícia Militar.

No Brasil a atividade de polícia judiciária nos Estados é exercida pelas Polícias

Civis, que neste aspecto encarregam-se de apurar as infrações penais e cumprir as

determinações das autoridades judiciárias, atuando assim no chamado pós-delito.

Por outro lado, a chamada polícia administrativa, para Alexandrino e Paulo

(2010, p. 239) tem por objeto a prevenção do ilícito penal e não penal, e é poder exercido

pelas policias Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e Policiais Militares dos

Estados.

Vertente desta polícia administrativa, Carneiro, Pontes e Ramires apud Di Pietro e

Lazzarini (2009) destacam a polícia de Segurança Pública, que tem como atribuição prevenir

a criminalidade relacionada à vida, à incolumidade das pessoas, à propriedade e à

tranquilidade pública e social. Esta atividade é exclusiva das policiais militares.

Os autores elucidam de forma bem didática os limites da atribuição da polícia

administrativa e da polícia judiciária através do seguinte esquema:

Page 25: Mono Eduardo Moreno Persson

24

Ilustração 1: Ciclo de Polícia.

Fonte: Ministério da Justiça. Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial, 2009.

Meirelles (2005) afirma que a polícia administrativa, modernamente, distingue-se

ainda em administrativa geral e especial. Aquela cuidando genericamente da segurança, da

salubridade e da moralidade públicas, e esta de setores específicos que afetam interesses

coletivos, tais como água, construção, alimentos, comércio de medicamentos, etc.

Estes conceitos doutrinários encontram-se em nossa legislação, valendo citar o

Código Tributário Nacional, de 1966, em seu art. 78, inverbis:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,

limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou

a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à

higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício

de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder

Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos

individuais ou coletivos. (Brasil, Código Tributário Nacional, 2011)

Miguel (2006, p.20), explicando a diferenciação proposta por Meirelles, sobre

poderes políticos e administrativos, classifica o poder de polícia como um poder

administrativo.

Para esse consagrado autor, o poder de polícia não é poder político, é um dos

poderes administrativos. É exercido pela Administração Pública sobre todas as

atividades e bens que afetam ou possam afetar a coletividade. Por derradeiro, o ato

de polícia é um ato administrativo e subordina-se ao ordenamento jurídico que rege

as demais atividades da Administração Pública, sujeitando-se ao controle de

legalidade pelo Poder Judiciário.

Meirelles (2005), ensina ainda que o poder de polícia administrativa possui

características específicas, peculiares ao seu exercício, como: discricionariedade, auto-

executoriedade e coercibilidade.

Discricionariedade é a margem de livre escolha da Administração Pública,

baseando-se na oportunidade e conveniência, de exercer o poder de polícia, aplicar sanções e

empregar os meio necessários para proteger algum interesse público. Meirelles (2005, p. 136),

destaca que o “ ato de polícia, um ato administrativo, é discricionário, no entanto passa a ser

vinculado quando a norma legal determinar o modo e a forma de sua realização”.

Auto-executoriedade é a faculdade da Administração de decidir seus atos sem a

intervenção do Judiciário.

Page 26: Mono Eduardo Moreno Persson

25

Coercibilidade é a imposição coativa da Administração, ao seu administrado, de

seus atos. Meirelles (2005, p. 138), coloca a seguinte afirmação em sua obra:

O atributo da coercibilidade do ato de polícia justifica o emprego da força física

quando houver oposição do infrator, mas não legaliza a violência desnecessária e

desproporcional a resistência, que em tal caso pode caracterizar o excesso de poder e

o abuso de autoridade nulificadores do ato praticado e ensejadores de ações civis e

criminais para reparação do dano e punição dos culpados.(grifou-se)

Alexandrino e Paulo (2010, p. 249), sobre o atributo da coercibilidade,

corroboram com o conceito proposto por Meirelles (2005). Os autores apontam como a

possibilidade da administração pública, impor-se coativamente aos administrados, podendo

utilizar inclusive a aplicação da força, quando o particular resiste, independentemente de

autorização judicial.

Meirelles (2005), afirma que o policial pode utilizar-se da força quando em atitude

de oposição do cidadão a uma ordem dada pelo agente público. No entanto, ensina que a força

empregada deve ser proporcional, podendo caracterizar excesso de poder e abuso de

autoridade tornando nulo o ato administrativo do agente.

Um ato de polícia, como uma ordem para que o cidadão fique onde está, reveste-

se destes atributos. O policial ao determinar tal atitude ao cidadão o faz sem consultar o

Judiciário. Impõe sua determinação, explicitando o caráter coercitivo do ato administrativo.

Escolhe, ainda, o momento correto e a circunstância ideal para que possa executar sua

decisão, demonstrando o caráter discricionário do ato.

Lazzarini (1999, p. 103), referindo-se sobre as fases do poder de polícia, distingue

a atuação do Estado no exercício do seu poder de polícia em quatro fases: ordem de polícia,

consentimento de polícia, fiscalização de polícia e sanção de polícia.

O Parecer GM-25 (2001) utiliza-se dos ensinamentos do mestre Lazzarini,

distinguindo também as fases do poder de polícia em: ordem de polícia, o consentimento de

polícia, a fiscalização de polícia e a sanção de polícia.

A ordem de polícia é necessariamente advinda de um preceito legal, pois se trata

de uma reserva legal, podendo ser enriquecida através da discricionariedade da administração,

como no ato exemplificado anteriormente.

Consentimento de polícia, segundo o Parecer GM-25 (2001, p. 9), “quando

couber, será a anuência, vinculada ou discricionária, do Estado com a atividade submetida ao

preceito vedativo relativo, sempre que satisfeitos os condicionamentos exigidos”.

Page 27: Mono Eduardo Moreno Persson

26

Fiscalização de polícia é a verificação do real cumprimento da ordem ou a

“regularidade da atividade já consentida por uma licença ou uma autorização”. Leva o nome

de policiamento quando exercida pela polícia de preservação da ordem pública.

A sanção de polícia é a forma auto-executória da atividade administrativa do

poder de polícia, visando a repressão do ato infracional. O constrangimento pessoal, direto, e

imediato nas devidas medidas é o esgotamento desta atividade, para restabelecer a ordem

pública.

Segundo Teza (2006, p. 03), a Polícia Militar deve exercer sua missão

constitucional, a “polícia ostensiva” e a “preservação da ordem pública” através de “ações que

comportem todas as fases do poder de polícia dando por conseguinte, poderes para que

participe do “antes” e do “depois” do policiamento ostensivo”.

Dessa forma, percebemos que o policiamento é apenas uma das fases do poder de

polícia, qual seja a fase de fiscalização.

O poder de polícia é a ferramenta utilizada pelos agentes públicos, representantes

do Estado, dentre eles o policial militar, para restringir ou condicionar, de maneira geral, os

direitos individuais em prol do coletivo. Possui atributos específicos, e dentre estes, cabe

destacar a coercibilidade, base para justificação do emprego da força física, pelo agente

público, para concretização de uma ordem ou mesmo de uma sanção de polícia.

2.2.3 Preservação da Ordem Pública

Buscando esclarecimento quanto à expressão “preservação da ordem pública” o

Parecer GM-25 (BRASIL, 2001), encomendado à Advocacia Geral da União pelo

excelentíssimo senhor Presidente da República à época, Fernando Henrique Cardoso, quanto

ao termo “preservação”, coloca que a Carta Magna ao inseri-lo, quis dar ênfase à atividade

preventiva. No entanto, acredita ser a terminologia suficientemente elástica para conter a

atividade repressiva, desde que de imediato.

A manutenção da ordem, termo utilizado pela Constituição anterior, segundo o

Regulamento para as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, R-200, (1983, p. 3),

aprovado pelo Decreto nº. 88.777, de setembro de 1983, é o exercício do poder de polícia, na

segurança pública, manifestado por ações eminentemente ostensivas, visando “prevenir,

dissuadir, coibir e reprimir eventos que violem a ordem pública”.

Page 28: Mono Eduardo Moreno Persson

27

Lazzarini (1999, p. 105) afirma ter sido “feliz” o legislador constitucional, ao

alterar o termo manutenção por preservação na Carta Magna, pois é mais amplo e mais

apropriado. “A preservação abrange tanto a prevenção quanto a restauração da ordem

pública”.

Lazzarini (1999, p. 52) afirma ainda que a ordem pública compreende três

aspectos: segurança pública, tranqüilidade pública e salubridade pública. Moreira Neto apud

Lazzarini (1999, p. 53) diz ser segurança pública “conjunto de processos, políticos e jurídicos

que visam garantir a ordem pública, sendo essa o objeto daquela”.

A obra “Instrução Modular da Polícia Militar de Santa Catarina” (2002, p. 169)

observa que a preservação da ordem pública dá-se em duas fases distintas: a primeira quando

a ordem já esta assegurada através de ações preventivas e dissuasivas, e a segunda quando

ocorre a quebra da ordem e esta deve ser retomada através de ações repressivas e imediatas.

Sobre o conceito de ordem pública pode-se trazer a baila o conhecimento de

alguns doutrinadores.

Hipólito (2005, p. 36) reflete sobre a dificuldade de se definir o conceito de ordem

pública. Brodeur apud Hipólito (2005, p. 37) coloca que “A desordem, embora não seja fácil

de definir, é algo que os moradores locais vão reconhecer quando virem ou ouvirem”.

Machado e Vicenzi (2009, p. 1) corroboram com Hipólito sobre a dificuldade de

se conceituar a ordem pública. Os autores utilizam as palavras de outros estudiosos a fim de

tentar aclarar a conceituação proposta.

Primeiramente, para demonstrar tal dificuldade, destacamos que há linha de

entendimento doutrinário que tende a conceituar a Ordem Pública como a tradução

do sentimento de toda uma nação (DOLINGER, 1997); e que há também outros

pesquisadores, que entendem que a Ordem Pública está intrínseca no sistema

jurídico de um Estado Soberano (GRECO FILHO, 1978), de modo que uma situação

notadamente estranha à cultura jurídica, à Constituição, ao interesse social e aos

direitos mais basilares de um povo seria contrária à Ordem Pública (PUCCI, 2007).

Cavalheiro Neto (2004) afirma que diversas doutrinas e operadores do direito

buscam conceituar ordem pública. Alguns, conforme a posição que ocupam no processo,

defensores ou acusadores, buscam estender a abrangência do conceito enquanto outros

buscam restringi-lo. Nem mesmo a jurisprudência escapa desta celeuma, em algumas vezes

firmando posição mais rigorosa e em outras mais abrandadas.

Mirabette (1995, p. 377) leciona como conceito de ordem pública: “não se limita a

prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas também acautelar o meio social e a própria

credibilidade da justiça em face da gravidade do crime e sua repercussão”.

Page 29: Mono Eduardo Moreno Persson

28

O Regulamento para as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares R-

200, (1983, p. 3) traz como conceito de ordem pública o seguinte:

[...] conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação,

tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público,

estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo

Poder de Polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem

comum;

O mesmo instrumento destaca ainda o conceito de “perturbação da ordem”, que

abrange todas as ações que possam comprometer o “exercício dos poderes constituídos, o

cumprimento das leis e a manutenção da ordem pública” contra a população e as propriedades

públicas e privadas.

Nesse sentido, além destes ilustres doutrinadores, estudiosos do assunto entendem

que o legislador de 1988, ao modificar o texto constitucional, trocando “manutenção da ordem

pública” por “preservação da ordem pública”, buscou ampliar a competência das Polícias

Militares para além do policiamento. Chama-se policiamento a fiscalização exercida pela

polícia de preservação da ordem pública, conforme o Parecer GM-25 (2001).

2.2.4 Competência Residual

Ainda referente à competência das polícias militares, o Parecer GM-25 (2001, p.

10), determina que cabe às polícias militares a chamada competência residual, ou seja o

“exercício de toda atividade policial de segurança pública não atribuída aos demais órgãos”,

englobando inclusive:

[...] a competência específica dos demais órgãos policiais, no caso de falência

operacional deles, a exemplo de greves ou outras causas, que os tornem inoperantes

ou ainda incapazes de dar conta de suas atribuições, funcionando, então, a Polícia

Militar como um verdadeiro exército da sociedade.

Sardinha (2007, p. 74), Capitão PM da Paraíba, sobre a amplitude da atividade de

polícia ostensiva, leciona:

Page 30: Mono Eduardo Moreno Persson

29

[...] a extensa competência da Polícia Militar, engloba, inclusive, a competência

exclusiva dos demais órgãos policiais ou de Estado, quando da área do sistema

jurídico-policial, no caso de desvirtuamento de atividade por parte destes conforme

podemos citar os períodos de greve de agentes penitenciários, onde os Governos

Estaduais não hesitam em convocar as suas Corporações Policiais Militares para

assumir efetivamente os estabelecimentos prisionais, em face da iminente quebra da

tranqüilidade pública.

Lazzarini (1999, p. 104), sobre a competência residual da Polícia Militar, afirma:

A exegese do art. 144 da Carta, na combinação do caput com o seu § 5º, deixa claro

que na preservação da ordem pública a competência residual de exercício de toda

atividade policial de segurança pública, não atribuída aos demais órgãos, cabe à

Polícia Militar.

Percebe-se que é ampla a atribuição da Polícia Militar. Diversos doutrinadores

demonstram que tanto a “preservação da ordem pública” como a “polícia ostensiva” ampliam

a margem de situações, de atividades em que a Polícia Militar possa atuar. A citada

competência residual, reconhecida através do parecer encaminhado a presidência da

República, também demonstra a vasta amplitude da atividade policial militar.

Page 31: Mono Eduardo Moreno Persson

30

3 O USO DA FORÇA NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS PARA

ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Neste capítulo, o foco será a o estudo da força aplicada pelos agentes públicos,

responsáveis pela preservação da ordem pública, quando no exercício de sua atividade

constitucional. Inicialmente será contextualizada a atividade policial e os direitos humanos, o

qual será a base para seção seguinte que tratará sobre o uso da força, apresentando os

principais modelos de uso progressivo da força, norteadores da atividade policial militar.

3.1 DIREITOS HUMANOS E A ATIVIDADE POLICIAL

Sobre direitos humanos, a Instrução Modular da Polícia Militar de Santa Catarina

(2002, p. 146) conceitua como sendo:

[...] os direitos fundamentais inerentes a todo ser humano, tais como: direito à vida,

à liberdade, à segurança, à educação, ao repouso, à liberdade de opinião e

expressão...- independente de sua condição socioeconômica, política, cultural, ética,

profissional, sem qualquer restrição ao espaço geográfico que a pessoa se encontre.

Após a segunda Guerra Mundial, meados do século XX, a concepção de direitos

humanos passou a atingir a esfera internacional. Neste entendimento, Wilson (2007, p.02),

afirma que “diversos instrumentos, introduzindo princípios gerais, passaram a ser produzidos

buscando proteger os direitos do homem”.

O século XX, um dos períodos mais marcantes e intensos da humanidade, é o

mais referenciado quando o assunto são direitos humanos. No entanto, os princípios

humanísticos têm origem há muitos séculos. Durante este período, duas grandes guerras

foram travadas, marcando episódios de crueldade, atrocidades, xenofobia, racismo, tortura e

genocídio. Uma grande mobilização mundial formou-se com intuito de reprimir quaisquer

possibilidades destes acontecimentos virem a ocorrer novamente. Assim, em 1945 foi criada

uma organização mundial e internacional com a intenção de manter a paz e a segurança

internacional, chamada ONU (ROVER, 1998, p.12).

Page 32: Mono Eduardo Moreno Persson

31

A ONU, Organização das Nações Unidas, visa somente regulamentar situações

que envolvam países diferentes. No entanto, diversas vezes, teve que atuar em conflitos

internos de Estados, que agiam contra seus cidadãos, atacando princípios inerentes a pessoa

humana. Assim, para inibir possíveis arbitrariedades e violações aos direitos humanos, a

ONU, através de assembléias ratificadas por seus países membros, sancionou convenções

visando inibir tais condutas. (CUNHA, 2004, p. 30)

Em 1948, segundo Amnesty International (2003), foi proclamada a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, na assembléia geral 217 A (III). Esta declaração, segundo

Office of United Nations Hight Commissioner for Human Rights (2005, p. 1) visa:

[...] atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e

todos os orgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo

ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por

promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu

reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações

dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua

jurisdição.

É sobre este viés que as polícias militares devem atuar. Não vivemos mais em um

Estado onde as policiais eram apenas o braço armado do Estado. Hoje o policial deve assumir

papel de “parceiro da sociedade e promotor dos direitos humanos”. (SECRETARIA

ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS, 2008).

Seguindo a diretriz proposta pela referida secretaria, para Instrução Modular da

Polícia Militar de Santa Catarina (2002), a atividade policial deve seguir os preceitos

fundamentais dos direitos humanos, valorizando a vida, a dignidade humana e a harmonia

individual e coletiva. O manual reforça também a necessidade de técnica policial aprimorada,

além de grande habilidade dos policiais, devido à alta complexibilidade de sua atividade

rotineira, lidando com interesses individuais e coletivos, naturais ou positivos de pessoas e

grupos sociais.

Araújo (2006, p. 1), sobre estes tratados de direitos humanos internacionais,

afirma o seguinte:

Certamente as diversas “Declarações Internacionais de Direitos Humanos” foram

estabelecendo limites às diversas ideologias justificadoras de atrocidades, mas,

sobretudo, obtiveram o êxito de consagrar um ponto e referência internacional, um

padrão mínimo tolerável de direitos humanos que foi absorvido aos poucos pelos

diversos países signatários, mediante suas legislações, enfim, de seu direito positivo.

Page 33: Mono Eduardo Moreno Persson

32

Os direitos e garantias fundamentais da dignidade da pessoa humana servem

como verdadeiros parâmetros de limitação dos agentes do Estado na consecução de suas

atribuições. Apesar de ainda controverso o conceito de tal terminologia perante a doutrina, a

idéia central consiste na possibilidade de assegurar um mínimo existencial, moralmente e

materialmente, a pessoa humana (CARNEIRO, PONTES e RAMIRES, 2009, p. 20)

Gonet apud Carneiro, Pontes e Ramires (2009, p. 15) justifica a prevalência destes

direitos e garantias citando características do conjunto de regras e princípios que tutelam a

dignidade da pessoa humana:

Universais – Pois atingem todos os seres humanos, sem distinção alguma;

Absolutos – Gozam de prioridade absoluta, sobre qualquer outro interesse estatal

ou coletivo;

Inalienáveis – São intransmissíveis, inalienáveis e inegociáveis por essências;

Indisponíveis – Mesmo sendo motivo de renúncia por parte do indivíduo o Estado

deve primar por sua efetivação;

Consagrados na ordem jurídica – Decorrentes da evolução humana, servem de

traço distintivo em face dos direitos humanos. O Estado os reconhece como

essenciais e fundamentais, para a existência do próprio Estado.

Limitativos dos poderes constituídos - Na medida em que nenhuma determinação

legal possa olvidar das diretrizes impostas por ele;

De aplicabilidade imediata – Sendo desnecessário norma infraconstitucional para

que possam ser efetivados.

A previsão destes direitos fundamentais na Constituição, vincula portanto

qualquer atuação do Estado. Diz-se que tais direitos e garantias são “cláusulas pétreas”, ou

seja, jamais poderão ser objeto de deliberação em emenda constitucional no sentido de lhes

abolir. A própria Constituição Federal evidencia tal exceção, em seu art. 60:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

[...]

§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

[...]

IV - os direitos e garantias individuais.

Obviamente, a fim de que se possa conviver em sociedade, tais direito e garantias

fundamentais não assumem feição absoluta, permanecendo constantemente intangíveis ou

Page 34: Mono Eduardo Moreno Persson

33

intocáveis, segundo Carneiro, Pontes e Ramires (2009, p. 19). Do contrário, pessoas poderiam

utilizar-se de tais direitos e garantias com a finalidade de esquivar-se de responsabilidades

civis, pecuniárias, penais, após a prática de ilícitos. Assim Carneiro, Pontes e Ramires (2009,

p. 19), utilizando as palavras de Alexandre de Moraes, ensina que o ser humano existe e

convive de forma pacífica em sociedade pois o direito impõe limites na prática de condutas,

no exercício de direitos, é o que chamamos de princípio da relatividade ou convivência das

liberdades públicas. Resumindo, o direito próprio termina quando inicia o direito alheio.

Havendo então, conflito entre direitos e garantias fundamentais, individuais e

coletivos, o policial militar, com intuito de cumprir seu mister constitucional deve valer-se do

princípio da proporcionalidade, que na lição de Carneiro, Pontes e Ramires (2009, p. 22)

compreende três critérios: adequação, exigindo que as medidas aplicadas pelo agente público

sejam adequadas ao objetivo visado; necessidade, onde o meio menos gravoso deve ser o

escolhido pelo agente público na execução de sua atividade; e proporcionalidade em sentido

estrito (razoabilidade), onde efetivamente vai haver o juízo definitivo entre o resultado a ser

alcançado, ponderando-se a intervenção aplicada. Esta ponderação não é fácil de ser exercida

pelo agente público, que muitas vezes deve tomar a decisão em momentos de estresse e

agitação.

Mesmo os agentes públicos tendo o dever legal de reger suas condutas baseando-

se no que foi até então apresentado podem ocorrer desvios de conduta. Justificando tais

irregularidades, Araújo (2006) afirma que os agentes policiais são originados da própria

sociedade, possuindo as mesmas características e defeitos. Condutas criminosas realizadas por

policiais despreparados, corruptos, causam constrangimentos inclusive aos policiais corretos.

Luiz Gilmar da Silva apud Araújo (2006, p. 2) afirma que “ser „policia‟, no Brasil, é quase

sinônimo de „marginalização‟ e o "prestigiamento‟ dependerá das simpatias que conseguir

angariar à seu favor [...]”. Araújo (2006) afirma que a violência policial é pratica em todos os

países, inclusive nos países desenvolvidos.

3.2 USO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL

Como viu-se anteriormente, segundo Meirelles (2005, p. 138) “o atributo da

coercibilidade do ato de polícia justifica o emprego da força física”. Tratando da força física

Page 35: Mono Eduardo Moreno Persson

34

desempenhada pelo agente público o artigo terceiro do Código de Conduta para Encarregados

da Aplicação da Lei, da ONU (1979), reflete sobre uso gradual dessa força pela polícia:

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força

quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu

dever.

Segundo Pinto e Valério (2002), no intuito de preservar as garantias, os direitos

humanos, foi criada através da resolução 34/169 da Assembléia Geral das Nações Unidas, em

1979, o Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei – CCEAL, para orientar a

conduta dos responsáveis pela segurança pública nos Estados. Este código não tem força de

tratado porém busca padronizar práticas da aplicação da lei baseando-se em disposições

básicas dos direitos e liberdades humanas.

Cunha (2004, p. 7), referindo-se ao Código de Conduta para Encarregados da

Aplicação da Lei, ONU (1979), diz que “esse código visa regulamentar o uso da força pela

polícia e estabelecer parâmetros e limites efetivos para a ação policial”. Cunha (2004, p. 7)

afirma ainda:

A intenção do Código é estabelecer normas que evitem o uso da força excessiva e

atenuem o potencial de abuso presente no desempenho da atividade policial, dever

de equipar e treinar os policiais no uso de armas não-letais e munições especiais, de

forma a garantir que o uso da força letal só se dará após esgotados todos os demais

recursos. Existe, ainda, a previsão expressa de acompanhamento psicológico para os

policiais envolvidos em situações em que tenham sido utilizadas a força e as armas

de fogo.

Em 1990 o 8º Congresso para Prevenção do Crime da Organização das Nações

Unidas, com intuito de garantir a implementação do CCEAL, adotou, por meio da Resolução

45/166, os “Princípios Básicos para o Uso da Força e das Armas de Fogo pelos Policiais” –

PBUFAF. O instrumento além de outras orientações destaca o uso da arma de fogo como

sendo uma “medida extrema”. Responsabiliza os governos a punir, de acordo com a

legislação, o uso arbitrário da arma de fogo como delito criminal. (ONU, Princípios Básicos

sobre o Uso da Força e da Arma de Fogo, caderno 10).

Para Cunha (2004), o CCEAL e o PBUFAF, buscam determinar o mais

claramente possível, as possibilidades dos agentes utilizarem-se da força ou da arma de fogo.

Afirma ainda que tais instrumentos reconhecem a impossibilidade do policial decidir sobre

situações juridicamente complexas, nos momentos de confronto, tais como: a legítima defesa

e o estrito cumprimento do dever legal, conceitos apresentados no capítulo seguinte. O Guia

Page 36: Mono Eduardo Moreno Persson

35

de Direitos Humanos, editado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (2008), segue a

mesma lógica de pensamento de Cunha, inclusive citando os mesmo instrumentos legais.

Somente em extrema necessidade deve-se aplicar a força e na medida certa. Neste

sentido o uso da arma de fogo, da força letal, é a última instância. Corroborando, Pinto e

Valério (2002, p. 50), acrescentam ainda que “Devem-se fazer todos os esforços no sentido de

excluir a utilização de armas de fogo [...]”. Em geral, só se deveriam “utilizar armas de fogo

quando o suspeito oferecer resistência armada”, ou, de outra maneira, quando por “em risco as

vidas alheias e não são suficientes medidas menos extremas para dominar ou deter o

delinqüente suspeito”.

Na apostila Uso legal da Força, confeccionada pelo Ministério da Justiça (2006, p.

15), ocorre a seguinte reflexão:

Ao fazer o uso da força o policial deve ter o conhecimento da lei, deve estar

preparado tecnicamente, através da formação e do treinamento, bem como ter

princípios éticos solidificados que possam nortear sua atuação. Ao ultrapassar

qualquer desses limites não se esqueça que você estará igualando-se às ações de

criminosos. Você deixa de fazer o uso legítimo da força para usar a força e se tornar

um criminoso.

A obra Instrução Modular da Polícia Militar de Santa Catarina (2002, p. 148),

afirma que a Anistia Internacional preparou regras básicas destinadas aos agentes

responsáveis pela aplicação da lei. A Anistia Internacional, segundo a Amnesty International

(2003), foi criada a partir uma situação, ocorrida em 1961, onde estudantes portugueses foram

presos, apenas por gritarem “Viva a Liberdade!” em via pública. Segundo a Amnesty

International (2003, p. 01), a Anistia Internacional visa “organizar uma ajuda prática às

pessoas presas devido às suas convicções políticas ou religiosas, ou em virtude de

preconceitos raciais ou lingüísticos” A regra básica número três diz o seguinte: “Não usar a

força ou armas de fogo, a não ser que seja estritamente necessário, de acordo com as

circunstâncias”.

O uso da força ou da arma de fogo são “medidas extremas”, e portanto faz-se

necessário a utilização de meios não violentos antes de recorrer ao emprego da força letal.

A regra básica número cinco (ONU, Código de Conduta para os Funcionários

Responsáveis pela Aplicação da Lei, pag. 3) também se refere ao emprego da força,

principalmente ao uso da força letal: “Não se deve usar a força com conseqüências letais, a

não ser que seja estritamente necessária para proteger a sua própria vida ou a vida de outros”.

Page 37: Mono Eduardo Moreno Persson

36

O CCEAL, Código de Conduta dos Encarregados da Aplicação da Lei, da ONU

(1979), em seu artigo terceiro afirma que “Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei

só podem empregar a força quando tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida

para o cumprimento do seu dever”. Neste sentido, admite o uso da força, no entanto coloca-o

como exceção, e somente autoriza-o respeitando-se o princípio da proporcionalidade.

Nesse caso fica mais evidente que o uso da força letal, por exemplo, de armas de

fogo, deve ser feito quando todos os outros meios foram ineficazes. A obra Instrução Modular

da Polícia Militar de Santa Catarina (2002) destaca ainda diversas observações para quando o

uso de armamentos letais for necessário como: identificação prévia do agente policial e do

pretenso uso da arma de fogo, verificar o tipo de armamento e de munição do policial para

que seja o menos letal possível, além do controle absoluto de sua distribuição e investigação

total de quando foi utilizado.

Dessa forma destaca-se a necessidade de preparo dos agentes públicos, estaduais

ou federais, enfim, policiais responsáveis pela segurança pública, quando no uso da força

sobre os cidadãos. Nesta seara, o Código de Conduta dos Encarregados da Aplicação da Lei,

fornecido pela ONU (1979), preocupou-se com a formação dos futuros encarregados de

aplicação da lei:

20. Na formação dos policiais, os Governos e os organismos de aplicação da lei

devem conceder uma atenção particular às questões de ética policial e de direitos do

homem, em particular no âmbito da investigação, às alternativas para o uso da força

ou de armas de fogo, incluindo a resolução pacífica de conflitos, ao conhecimento

do comportamento de multidões e aos métodos de persuasão, de negociação e

mediação, bem como aos meios técnicos, visando limitar a utilização da força ou de

armas de fogo. Os organismos de aplicação da lei deveriam rever o seu programa de

formação e procedimentos operacionais à luz de casos concretos.

Cunha (2004) afirma que as disposições contidas no Código de Conduta e nos

Princípios Básico para Uso da Força são garantias ao policial. Em casos concretos, conceitos

subjetivos como uso da força, legítima defesa e estrito cumprimento do dever legal, poderiam

ser facilmente explicados e compreendidos, utilizando-se dos conhecimentos passados por tais

instrumentos.

3.3 USO ESCALONADO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL - MODELOS DE USO

PROGRESSIVO DA FORÇA

Page 38: Mono Eduardo Moreno Persson

37

Cunha (2004, p. 11) afirma que “na atual conjuntura não se admite uma Força

Policial não possuir diretrizes de ação pautadas pelos preceitos do Uso da Força: Legalidade,

Necessidade e Proporcionalidade”. O policial para ser profissional deve saber usar

moderadamente a força e proporcionalmente a gravidade do delito cometido.

Moreira e Correa apud Cunha (2004, p. 12) conceituam o Uso Progressivo da

Força como sendo “a seleção adequada de opções de força pelo policial em resposta ao nível

de submissão do indivíduo suspeito ou infrator a ser controlado”. A presença ostensiva do

policial inicia o nível de utilização da força, podendo chegar até a utilização de armas de fogo,

ou emprego letal da força.

Segundo a apostila Uso Legal da Força fornecida pelo Ministério da Justiça

(2006, p. 2), “força é a intervenção „compulsória‟ sobre alguém ou sobre algumas pessoas a

fim de reduzir ou eliminar sua capacidade de auto-decisão”.

A apostila Uso Legal da Força, do Ministério da Justiça (2006), afirma ainda que

objetivando delimitar estas graduações do uso da força para orientar policiais, a partir das

reações de pessoas flagradas cometendo um delito ou mesmo em atitudes suspeitas, foram

criados modelos de uso progressivo da força. Geralmente os modelos criados recebem o nome

daqueles que o criaram.

O Ministério da Justiça (2006), lista alguns destes modelos, bem como sua

origem:

Modelo Flect, aplicado pelo Centro de Treinamento da Polícia Federal de

Glynco, na Geórgia, Estados Unidos da América;

Modelo Gillespie, presente no livro Police – Use of Force – A line officer’s

guide, 1988;

Modelo Remsberg, presente no livro The Tactical Edge – Surviving High –

Risk Patrol, 1999;

Modelo Canadense, utilizado pela Polícia Canadense;

Modelo Nashville, utilizado pela Polícia Metropolitana de Nashville, EUA;

Modelo Phoenix, utilizado pelo Departamento de Polícia de Phoenix, EUA.

Segundo o Ministério da Justiça (2006), na apostila Uso Legal da Força, três

modelos podem ser utilizados pela polícia brasileira, por possuírem conteúdo completo e

Page 39: Mono Eduardo Moreno Persson

38

reproduzirem a realidade operacional, são eles: Flect, Gillespie e Canadense. No entanto, o

modelo canadense é considerado um dos modelos mais apropriados, pela facilidade de

aprendizagem e riqueza de conteúdo em sua formulação gráfica. A referida apostila traz a

representação gráfica deste modelo, resumidamente adaptada e traduzida.

Ilustração 2: Modelo Canadense de uso progressivo da força.

Fonte: Ministério da Justiça. Apostila de Uso legal da Força, 2006.

Buscando no sítio do Serviço Correcional do Canadá, Correctional Service of

Canada (2004), que relata ao Ministério da Segurança Pública do Canadá assuntos referentes

à segurança pública encontramos a seguinte referência quanto ao modelo: “O modelo requer o

uso de medidas menos restritivas para assegurar a segurança de todas as pessoas envolvidas”.

Além da teoria sobre a aplicação do uso da força, orientações sobre como o agente

público deve agir nestas situações, ocorre também a representação gráfica do modelo

apresentado na apostila Uso Legal da Força, do Ministério da Justiça (2006), porém em sua

formatação original:

Page 40: Mono Eduardo Moreno Persson

39

Ilustração 3: Situation Management Model.

Fonte: Correctional Service of Canada, 2004.

O modelo proposto pela Apostila Uso da Força em seu módulo 2, do Ministério

da Justiça (2006), é semelhante ao descrito anteriormente, porém com as devidas traduções

destacando apenas o escalonamento do uso da força.

Persson (2007, p. 36-37), indica ainda dois outros modelos de uso progressiva da

força, chamados Flect e Remsberg. Salienta ainda os aspectos técnicos apresentados em cada

modelo, enfatizando o uso de artes marciais, em detrimento de armas letais. Segundo o autor

op. cit. (2007), os modelos priorizam uma escala de uso da força, colocando a utilização de

armamentos letais apenas em último caso, e destacando a importância do conhecimento de

técnicas de defesa pessoal, de artes marciais.

A apostila de Uso Legal da Força, fornecida pelo Ministério da Justiça (2006),

após analisar diversos tipos de modelos de uso da força, e recomendar o modelo canadense,

propõe a adoção de um modelo básico de uso progressivo da força:

Page 41: Mono Eduardo Moreno Persson

40

Ilustração 4: Modelo básico de uso progressivo da força.

Fonte: Apostila de Uso legal da Força, 2006.

Percebe-se que o modelo proposto pela apostila Uso legal da Força do Ministério

da Justiça (2006), similar ao modelo Flect, possui também, em seus níveis de aplicação do uso

progressivo da força, 60% do gráfico, ou seja, três dos cinco níveis apresentados, diretamente

ligados às técnicas desenvolvidas com a prática de artes marciais.

Todos os modelos de uso progressivo da força apresentados destacam a utilização

de técnicas menos agressivas antes da utilização da arma de fogo. Os modelos apresentados,

inclusive o recomendado (Modelo Canadense) e o proposto (Modelo Básico) pelo Ministério

da Justiça (2006), apresentam e enfatizam formas de aplicação do uso da força relacionada a

técnicas desenvolvidas através da prática de artes marciais.

A Polícia Militar de Santa Catarina, recentemente criou um modelo de uso

progressivo da força, baseado nos modelos apresentados anteriormente, o qual foi apresentado

durante o Curso de Uso Progressivo da Força (2010).

Ilustração 5: Pirâmide de Emprego da Força (Curso de Uso Progressivo da Força, p.11)

Adaptado do Modelo de FLETC (GRAVES & CONNOR , 1994,: p. 8)

Agressão Letal Força Letal

Agressão Não Letal Força Não Letal

Resistência Física Ativa Controle Físico

Resistência Física Passiva Controle de Contato

Cooperativo ou Resistência Verbal Verbalização

Ato que requer intervenção policial Presença Física

CIDADÃO ABORDADO POLICIAL

Page 42: Mono Eduardo Moreno Persson

41

Não sendo a intenção da pesquisa o aprofundamento no estudo das técnicas

necessárias para emprego do uso da força, mas apenas a contextualização deste emprego

dentro da perspectiva legal, fica neste capítulo uma amostra da normatização do emprego

coercitivo da força durante a atuação policial militar.

Page 43: Mono Eduardo Moreno Persson

42

4 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E O USO DA FORÇA NA ATIVIDADE POLICIAL

MILITAR

O capítulo quatro conclui a obra, enfatizando a legislação infraconstitucional que

trata sobre a aplicação da força por parte dos agentes públicos responsáveis pela segurança

pública. Inicialmente a Lex Mattter é discutida sob o ponto de vista dos direitos e garantias

ligados ao uso da força pelo Estado contra o administrado. O Código Penal, Decreto-Lei

2.848/1940, na segunda seção deste capítulo, aponta as excludentes de ilicitude como

elementos indispensáveis para o embasamento legal do uso da força pelos policiais militares.

Alguns exemplos fáticos, explicitados pela doutrina, são apresentados, visando melhor ilustrar

a temática abordada.

4.1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Pinto e Valério (2002) afirmam que a Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988 direciona a prioridade ao respeito à integridade física, moral e psicológica do

cidadão, às liberdades individuais e coletivas, sendo assim a vida como bem maior tutelado

pelo Estado. Reforçam ainda a necessidade de respeitar tais direitos, consagrados na

Constituição da República Federativa do Brasil, mesmo que seus propósitos confrontem-se

com a realidade social de violência e barbárie daqueles que desconhecem qualquer regra de

convivência social.

Os princípios de justiça, liberdade e igualdade, consagrados pela Carta Magna

(BRASIL, Constituição da República do Brasil, art.1º, 3º e 5º) são especificados em seus

primeiros artigos: Título I, Dos Princípios Fundamentais, Título II, Dos Direitos e Garantias

Fundamentais, e Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. Segue os artigos

que identificam os princípios acima descritos:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de

direito e tem como fundamentos:

[...]

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

Page 44: Mono Eduardo Moreno Persson

43

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

[...]

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta

Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude

de lei;

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

[...]

Segundo Beauchamp e Childress apud Goldim (1998, p. 1), o princípio da justiça

é a expressão da justiça distributiva, veja-se:

Entende-se justiça distributiva como sendo a distribuição justa, equitativa e

apropriada na sociedade, de acordo com normas que estruturam os termos da

cooperação social. Uma situação de justiça, de acordo com esta perspectiva, estará

presente sempre que uma pessoa receberá benefícios ou encargos devidos às suas

propriedades ou circunstâncias particulares.

Goldim (1998, p. 1), traz a tona ainda a proposta de Aristóteles sobre a justiça

formal, a qual “os iguais devem ser tratados de forma igual e os diferentes devem ser tratados

de forma diferente”.

Ainda sobre o princípio da justiça, Rawls apud Almeida et al (2007) afirma que

os cidadãos estando sob o mesmo nível de ignorância ficam em situação equitativa, por isso

propõe uma idéia de justiça como equidade. Rawls apud Almeida et al (2007, p. 216) afirma

que “cada pessoa deve ter um direito igual ao mais amplo sistema total de liberdades básicas

iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdade para todos”, bem como

as dificuldades sociais e econômicas devem ser distribuídas simultaneamente, onde os

maiores benefícios devem ser aos menos favorecidos. Dessa forma, para Rawls apud Almeida

et al (2007), a teoria da justiça redunda em três princípios básicos, o princípio da liberdade, da

oportunidade justa, e da diferença.

Perelman et al apud José Afonso da Silva (2001), diz ser a justiça formal um

princípio de ação, onde seres da mesma categoria devem ser tratados igualmente. José Afonso

da Silva (2001) acrescenta ainda que tal princípio identifica-se com a igualdade formal.

Page 45: Mono Eduardo Moreno Persson

44

Perelman et al apud José Afonso da Silva (2001, p. 216), coloca magnificamente a seguinte

frase: “tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais”.

Relativo ao princípio da igualdade, André da Silva (2006, p. 214) afirma ser “o

signo fundamental da democracia”. Não permite privilégios nem distinções. André da Silva

(2006) afirma ainda que as constituições admitem o sentido jurídico-formal que refere-se a

igualdade perante a lei. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 busca

reduzir as desigualdades sociais e regionais, repulsa discriminação, universaliza a seguridade

social, garante saúde, acesso a educação, tudo isso visando a igualdade material.

O princípio da liberdade, segundo Almeida et al (2007) tem prioridade dentre os

restantes, além de que todos os indivíduos em uma sociedade justa se beneficiam das mesmas

liberdades básicas. Rawls apud Almeida et al (2007) inclui nestas liberdades básicas a

liberdade política, liberdade de expressão e de reunião, liberdade de consciência e de

pensamento. Inclui também as liberdades da pessoa que segundo o autor refere-se à proibição

contra agressões e prisões arbitrárias. Segundo Rawls apud Almeida et al (2007, p. 217),

quanto ao princípio da liberdade:

Rawls defende que não se pode violar as liberdades básicas dos indivíduos de modo

a alcançar vantagens económicas e sociais. Por exemplo, não se pode suprimir a

liberdade de expressão com o objectivo de obter uma melhor distribuição da riqueza.

No entanto, nenhuma das liberdades básicas é absoluta. Qualquer uma pode ser

limitada para que assim se obtenha uma maior liberdade para todos. Por exemplo,

em algumas circunstâncias pode justificar-se limitar a liberdade de expressão –

proibindo, suponhamos, a difusão de ideais políticos ou religiosos extremamente

intolerantes – de modo a proteger a liberdade política.

Segundo André da Silva (2006, p. 236), o conceito de liberdade é a “possibilidade

de coordenação consciente dos meios necessários à realização da felicidade pessoal”. Outro

princípio interessante que também deve ser levado em consideração quando no uso da força é

o da dignidade da pessoa humana. Para o autor este princípio serve como unificador de todos

os direitos fundamentais. Dessa forma a ordem econômica deve ter por finalidade assegurar à

todos a existência digna, a ordem social, a realização da justiça social, a educação, o

desenvolvimento e preparo da cidadania da pessoa, visando a dignidade da pessoa humana. A

respeito do princípio constitucional da dignidade humana bem define Sarlet, (2001, p. 89):

A dignidade da pessoa humana engloba necessariamente respeito e proteção da

integridade física e emocional (psíquica) em geral da pessoa, do que decorrem, por

exemplo, a proibição da pena de morte, da tortura e da aplicação de penas corporais

bem como a utilização da pessoa para experiências científicas.

Page 46: Mono Eduardo Moreno Persson

45

Farias apud Martins (2006) esclarece que a arquitetura constitucional é baseada

no princípio da dignidade da pessoa humana. Este princípio dá valor e consistência aos

direitos fundamentais. Serve como respaldo para possíveis “direitos novos” surgidos através

de tratados internacionais aos quais o Brasil seja signatário, ou mesmo em decorrência de

direitos implícitos em princípios contidos na própria Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988. O princípio da dignidade da pessoa humana é critério imperativo do inteiro

ordenamento constitucional.

4.2 CÓDIGO PENAL – EXCLUDENTES DE ILICITUDE

Baseando-se nos princípios supracitados, o Código Penal Brasileiro (BRASIL,

2011) em seus artigos 23, 24 e 25 busca definir as excludentes de criminalidade, ou seja,

conforme Pinto e Valério (2002, p. 57), “as causas de justificação que tornam um ato

antijurídico excluso de ilicitude”, tornando o próprio delito excluído.

Capez e Prado (2008, p. 62), de maneira muito didática, ensinam que pela teoria

bipartida, crime é todo fato típico e ilícito, excluindo portanto a culpabilidade. Ilicitude é a

“contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico” podendo ser comissiva (ação) ou

omissiva (omissão), tornando-a ilícitas. Assim, toda conduta penalmente ilícita é típica,

porém o contrário não ocorre, pois pode haver situações que haja a incidência das excludentes

de ilicitude, quais sejam:

Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:

I – em estado de necessidade;

II – em legítima defesa (própria ou de terceiros);

III - em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular do direito.

Parágrafo único: O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo

excesso doloso ou culposo”. (CÓDIGO PENAL, BRASIL, 2011)

O artigo 24, do Código Penal trata, especificamente, sobre o estado de

necessidade e o artigo 25, sobre a legítima defesa:

Art. 24.Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de

perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,

direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, ou circunstâncias, não era razoável exigir-

se[...]

§ 1°Não pode alegar o estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o

perigo.

Page 47: Mono Eduardo Moreno Persson

46

§ 2° Embora seja razoável exigir-se o sacrifício, do direito ameaçado, a pena poderá

ser reduzida de um a dois terços. (CÓDIGO PENAL, BRASIL, 1940)

Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios

necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

(CÓDIGO PENAL, BRASIL, 1940)

O Código Penal Militar (BRASIL, 2011), também citado pela apostila Uso Legal

da Força, do Ministério da Justiça (2006), traz em seu artigo 42, a exclusão de crime, artigo

análogo ao do Código Penal comum.

Art 42 Não há crime quando o agente pratica o fato:

I – em estado de necessidade;

II – em legítima defesa;

III – em estrito cumprimento do dever legal

IV – em exercício regular de direito

Capez e Prado (2008, p. 62) destacam ainda que há outras causas de exclusão da

ilicitude ao longo da Parte Especial do Código Penal, exemplificando: aborto de necessário

ou aborto no caso de gravidez resultante de estupro, art. 128, I e II e a injúria ou difamação,

quando praticadas nas situações previstas no art. 142, I, II e III, in verbis:

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:

I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu

procurador;

II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando

inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;

III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou

informação que preste no cumprimento de dever do ofício.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação

quem lhe dá publicidade. (CÓDIGO PENAL, BRASIL, 1940)

Andreucci (2008, p. 64), tratando também sobre as excludentes de ilicitude,

afirma ser esta sinônimo de antijuridicidade. O referido autor conceitua as excludentes de

ilicitude como “causas de justificação da prática” de um fato típico, tornando-o jurídico, ou

seja, não proibido ou vedado pela legislação. As causas de exclusão da ilicitude são também

chamadas de descriminantes, causas de exclusão do crime, eximentes ou tipos permissivos.

4.2.1 Legítima Defesa – Conceito e Exemplos Fáticos

Page 48: Mono Eduardo Moreno Persson

47

Para Capez (2004), legítima defesa é uma excludente de ilicitude onde o agente

repele injusta agressão, atual e iminente, a direito próprio ou alheio, usando os meios

necessários de maneira moderada. O autor diz que pela falta de proteção do Estado aos

cidadãos em todos os momentos e lugares, através desta excludente de ilicitude, permite que o

cidadão se defenda, quando não houver outro modo. Como requisitos o autor relaciona:

agressão injusta, atual e iminente, contra direito próprio ou alheio, repulsa com meios

necessários e uso moderado, além do conhecimento da situação justificante.

Pinto e Valério (2002, p.58) corroboram com Capez (2004) e exemplificam com

um caso de uma pessoa que ao ser atacada com facadas numa tentativa de roubo, consegue

sacar uma arma de fogo e matar o agressor.

Tratando-se de uma obra de cunho policial militar, Pinto e Valério (2002, p.60),

listam requisitos para que o policial possa alegar legítima defesa:

a) Que haja agressão injusta, ou seja, objetivamente ameaçadora à lesão de um

direito legítimo (pessoal ou impessoal);

b) Que esta seja atual, esteja acontecendo ou iminente, prestes a ocorrer;

c) Esta agressão deve configurar real condição de dano, ameaça potencial à

direito próprio ou de terceiro;

d) A defesa só é valida quando se faz necessária para repulsar a agressão, com os

meios disponíveis no momento;

e) Uso moderado da força necessária para repulsa da agressão. Neste aspecto

mostrasse de extrema valia os modelos de uso progressivo da força,

apresentado no capítulo três.

f) O chamado Animus Defendi, ou seja, a verdadeira consciência, vontade do

agente em agir sob o prisma da legítima defesa.

Capez e Prado (2008, p. 68) concordam com Pinto e Valério (2002). Os autores

acrescem que nesse caso não há dois ou mais bens em conflito, como no caso do estado de

necessidade. Nesse caso, “ocorre um ataque ilícito contra agente ou terceiro, legitimando

repulsa”.

Merece destaque o exemplo dos autores sobre a defesa de agressão advinda de

animais, como cães ferozes. Quando motivadas pela açula de pessoa, caracterizam legítima

Page 49: Mono Eduardo Moreno Persson

48

defesa. Porém, quando a ação de repulsa opor-se a ataque irracional de animal caracteriza-se

estado de necessidade. Andreucci (2008, p.70) não diferencia as duas hipóteses, classificando

apenas como inexistente a legítima defesa quando necessária para repulsa à agressão de

animais.

Ainda, Andreucci (2008, p. 67), conceitua legítima defesa como sendo a “repulsa

a injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou de outrem, usando moderadamente

os meios necessários.”

Andreucci,(2008, p. 67), indo ao encontro com Pinto e Valério (2002), também

lista alguns elementos necessários para configuração da legítima defesa:

a) Agressão (ato humano) injusta, atual (esta ocorrendo) e iminente (prestes a

ocorrer);

b) Direito próprio (legítima defesa própria) ou de terceiro (legítima defesa de

terceiro);

c) Utilização dos meios necessários, ou seja aqueles à disposição e menos lesivos;

d) Utilização moderada de tais meios; o que pode ser entendido como uso progressivo

da força na atuação policial;

e) Conhecimento da situação de fato justificante (animus defendi).

Andreucci (2008, p. 68 e 69) explica ainda que quando o agente após se defender

do agressor, acreditando que este ainda intenta contra sua pessoa, intensifica, aumenta as

agressões, e desta forma excedendo-se, age sob o prisma do erro de tipo escusável. Nesse caso

exclui-se o dolo ou a culpa.

O mesmo autor trata sobre a legítima defesa sucessiva onde o agente de agressão

inicial, passa a ser vítima de agressão em excesso, e agindo em defesa própria, esta pode ser

considerada legítima.

4.2.2 Estado de Necessidade – Conceito e Exemplos Fáticos

Page 50: Mono Eduardo Moreno Persson

49

Pinto e Valério (2002, p. 58) destacam diferenças entre o “estado de necessidade”

e a “legítima defesa”. Essa subentende uma agressão atual ou iminente e injusta, contra a qual

haverá uma reação, enquanto no “estado de necessidade” a situação de perigo que ameaça

direito do agente ou de terceiro, tem que ser atual e inevitável, além de ter que ser inexigível o

sacrifício do bem ameaçado, consideradas as circunstâncias.

Führer (1999, p. 67 e 69) entende respectivamente sobre estado de necessidade e

legítima defesa o seguinte:

Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo

atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito

próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

(FÜHRER, 1999, p. 67).

Entende-se em legítima defesa, quem, usando moderadamente dos meios

necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

(FÜHRER, 1999, p. 69).

No dizer de Capez (2004, p. 256), estado de necessidade é causa de exclusão de

ilicitude da conduta, quando o agente não tem o dever legal de enfrentar uma situação de

perigo atual, além de não a ter provocado, e acaba por sacrificar “um bem jurídico ameaçado

por este perigo, para salvar outro”.

Capez e Prado (2008, p. 66) corroboram, afirmando ainda que nesses casos

existem dois bens jurídicos distintos, onde a preservação de um impõe a destruição de outro.

Didaticamente, Andreucci (2208, p. 65) conceitua o estado de necessidade como

uma “situação de perigo atual de interesses legítimos e protegidos pelo Direito, em que o

agente, para afastá-la e salvar um bem próprio ou de terceiro, não tem outro meio senão o de

lesar o interesse de outrem, igualmente legítimo”.

No estado de necessidade, Capez (2004, p. 257) afirma que existem dois ou mais

bens jurídicos em perigo, sendo que o resguardo de um está sujeito ao extermínio do outro.

Capez (2004) assevera ainda que o Código Penal adota a teoria unitária sobre estado de

necessidade, onde esta é sempre considerada causa e exclusão de ilicitude, quando eivada de

razoabilidade. Capez e Prado (2008, p. 66) acrescentam que pela teoria unitária, adotada pelo

Código Penal, não há comparação de valores, bastando a ação ocorrer conforme o senso

comum, seguindo a razoabilidade.

Capez (2004) relaciona como requisitos para ocorrência do estado de necessidade:

o perigo deve ser atual, deve ameaçar direito próprio ou alheio, não pode ter sido causado

Page 51: Mono Eduardo Moreno Persson

50

pelo agente e deve haver inexistência do dever legal de abarbar o perigo por parte do agente.

Sobre a conduta lesiva, o comportamento do agente deve ser inevitável, o sacrifício deve ser

razoável e ele deve estar ciente da situação justificante.

Capez e Prado (2008, p. 66), concordam com os requisitos e explicitam a

inevitabilidade do comportamento que sacrificar o bem jurídico, reforçam a razoabilidade

desta escolha, e destacam o requisito subjetivo, que é a intenção real do agente em agir sob o

prisma do estado de necessidade.

Capez (2004, p. 262), distingue três formas de estado de necessidade: “quanto à

titularidade do interesse protegido”, que pode ser direito próprio ou de terceiro; “quanto ao

aspecto subjetivo do agente” onde a situação pode ser real ou putativa, quando o perigo é

imaginado pelo agente, porém não existe. E “quanto ao terceiro que sofre a ofensa”, que pode

ser defensivo, quando a agressão vai contra o provocador dos fatos, e agressivo, onde o agente

destrói bem de terceiro inocente.

Quanto ao parágrafo primeiro do artigo vinte e quatro, Capez e Prado (2008, p.

67), rechaçam o direito de alegar o estado de necessidade quando o agente possui o dever de

enfrentar o perigo, como no caso do bombeiro, excluindo a hipótese em que for impossível o

salvamento ou o risco for inútil.

Andreucci (2008, p. 66) corrobora, afastando também a possibilidade de alegação

do tipo permissivo no caso do policial que se recusa a perseguir um malfeitor sob pretexto de

poder ser atingido por disparo de arma de fogo.

Quanto ao parágrafo segundo, que aponta uma causa de diminuição de pena,

quando há ilicitude na ação, por falta de razoabilidade do agente na destruição do bem

jurídico tutelado, Andreucci (2008, p. 67) afirma ficar a critério do juiz a gradação da redução

entre um ou dois terços.

4.2.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal e Exercício Regular de Direito – Conceito e

Exemplos Fáticos

Page 52: Mono Eduardo Moreno Persson

51

Capez (2004, p. 273), ao se referir ao estrito cumprimento do dever legal,

conceitua: “[...]causa de exclusão da ilicitude que consiste na realização de um fato típico, por

força do desempenho de uma obrigação imposta por lei”.

O estrito cumprimento do dever legal para Capez (2004) deve derivar direta ou

indiretamente da lei, e ser cumprido estritamente dentro dos limites legais.

Sobre o estrito cumprimento do dever legal, Pinto e Valério (2002, p. 59),

destacam que é caracterizado pela “existência de um dever funcional imposto pelo direito

objetivo” emanado do poder público com caráter geral. O agente não pode exorbitar o poder

que o Estado lhe conferiu.

Führer (1999) afirma que não há crime quando o agente pratica o fato em estrito

cumprimento do dever legal, como no caso do policial que prende em flagrante ou que revida

tiros de assaltante e acaba matando um deles.

Alvarenga (2007, p. 1) diverge de Fuhrer (1999) quando analisando o exemplo da

atividade policial militar, afirmando o seguinte:

[...]o policial que fere ou mata alguém que resiste, de forma violenta, à prisão em

flagrante pode alegar, em seu favor, o contratipo imperativo do estrito cumprimento

de dever legal? Não, pois inexiste, no caso, norma jurídica que determine ferir ou

matar. A conduta do policial perfaz, então, um fato típico de lesão corporal ou de

homicídio, embora justificado pela legítima defesa, se ocorrerem, é claro, os

requisitos desta causa de exclusão da antijuridicidade. Quero crer, contudo, que o

cumprimento do dever legal de efetuar a prisão em flagrante, e que, associado à

violenta resistência, legitima a reação de defesa oposta pelo policial, merece impedir

que se produza a função própria da tipicidade de ser indiciária da ilicitude do fato.

Analisando sob o ponto de vista de Alvarenga (2007), uma situação onde um

policial militar, utilizando-se moderadamente de técnica de artes marciais, contra agente que

resiste a prisão após efetuar roubo, causando-lhe lesões, é justificado pela legítima defesa e

não pelo estrito cumprimento do dever legal.

Cabe, no entanto, aplicar a excludente de estrito cumprimento do dever legal para

atividade policial, conforme o exemplo apresentado por Araújo (2003, p. 1):

Exemplo clássico de estrito cumprimento de dever legal é o do policial que priva o

fugitivo de sua liberdade, ao prendê-lo em flagrante. Nesse caso, o policial não

comete crime de constrangimento ilegal ou abuso de autoridade, por exemplo, pois

que ao presenciar uma situação de flagrante delito, a lei obriga que o policial efetue

a prisão do respectivo autor, mais precisamente o art. 292 do CPP [...]

Page 53: Mono Eduardo Moreno Persson

52

Outro exemplo a ser destacado é do policial militar que ao realizar a prisão de

agente em flagrante delito, contendo inicialmente sua tentativa de fuga ou resistência, e

havendo ainda perigo a integridade física dos agentes ou de terceiros pode fazer uso de

algemas, conforme o Supremo Tribunal Federal manifestou-se através da Súmula Vinculante

nº 11 de 2008.

[...] Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou

de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,

justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar,

civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato

processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do

Estado.(Supremo Tribunal Federal, pag. 3)

De qualquer forma, independente de qual for ponto de vista analisado, o policial

militar que utilizar-se moderadamente da força necessária, para repelir agressão injusta, contra

si ou contra terceiro, e culminar em lesões contra o agressor, poderá recorrer a excludentes de

criminalidade.

Schwartz apud Mirabete (2009, p.1), faz apontamento interessante quanto ao

estrito cumprimento do dever legal:

Prevista no art. 23, III, primeira parte do Código Penal, o estrito cumprimento do

dever legal é uma causa de exclusão da ilicitude, deixando o fato praticado de ser

antijurídico. Quem cumpre regularmente um dever não pode, ao mesmo tempo,

praticar ato ilícito, uma vez que a lei não contém contradições (MIRABETE, 2005,

p. 188-189). Aquele que age limitando-se a cumprir um dever que lhe é imposto por

lei penal ou extrapenal e procede sem abusos no cumprimento desse dever não

ingressa no campo da ilicitude.

Schwartz (2009, p.1) exemplifica como causa de caracterização da referida

excludente o policial que atira contra preso em fuga de estabelecimento penal alegando que “a

sociedade, que não pode ficar à mercê da violência cometida pelos criminosos”.

Pedroso (2009, p. 378), autor também indicado por Schwartz (2009), cita

exemplos adquiridos na doutrina e na jurisprudência.

De igual forma, o policial que comete lesões corporais, atirando contra a perna de

criminoso em fuga, atua sob o pálio do estrito cumprimento do dever legal, como o

fazem, em relação aos delitos contra a honra, o funcionário público que emite

conceito injurioso ou difamatório sobre alguém, em apreciação ou informação que

preste no cumprimento de dever de ofício, a testemunha que emita considerações

contumeliosas relativas a alguém em resposta a perguntas do magistrado, já que a lei

a obriga a declarar a verdade, e o Promotor de Justiça que, ao fundamentar pedido de

prisão preventiva, tece consideração desabonadora com relação a outrem.

Page 54: Mono Eduardo Moreno Persson

53

Schwartz (2009, p.2), traz ainda algumas jurisprudências que defendem seu

entendimento:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO – HOMICÍDIO CONSUMADO E

HOMICÍDIO TENTADO – DESCLASSIFICAÇÃO PARA LESÃO CORPORAL

SEGUIDA DE MORTE E LESÃO CORPORAL – PRETENDIDA ABSOLVIÇÃO

SUMÁRIA – POLICIAIS MILITARES QUE ATIRARAM CONTRA DETENTOS

EM FUGA – EXCESSO NÃO CONFIGURADO – EXCLUDENTE DE

ILICITUDE – ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA – RECURSOS PROVIDOS –

UNÂNIME.

Age no estrito cumprimento de dever legal o policial que atira contra detento em

fuga, valendo-se dos meios necessários, sem excesso, dele não se podendo exigir

outra conduta, porquanto esse é o munus que o Estado lhe confere, autorizando-o,

inclusive, a portar arma de fogo, devidamente municiada.

(TJDF. RSE n.° 1999.08.1.002582-2, Rel.: Des. LECIR MANOEL DA LUZ, j. em

08/09/2005).

Recurso de ofício. Absolvição sumária. Estrito cumprimento do dever legal.

A absolvição sumária aplicada ao policial militar que, para obstar fuga e na

iminência de ser agredido, atira e mata, não deve ser cassada. Absolvição mantida.

(TJRO. Rec. de Oficio nº. 20000019990016790, Rel.: Des. Antonio Cândido, j. em

16/09/1999).

RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE DE PRESO QUE TENTAVA SE

EVADIR. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO. EXERCÍCIO DE DEVER

LEGAL. CULPA DA VÍTIMA.

Circunstância em que apenado é morto por tiro desferido por autoridade policial

quando buscava evadir-se de presídio. Dever do Estado em fazer cumprir sua função

de promover a segurança de seus cidadãos. Suprime-se a relação de causa e efeito

entre o agir e o dano pela culpa exclusiva da vítima. Legítimo exercício de dever

legal do agente estatal que busca impedir a tentativa de fuga, atirando em apenado

que já se evadia e ignora tiro de advertência. Apelo improvido. Decisão unânime."

(TJRS. Apelação Cível nº. 70003216835, Rel.: Des. Jorge Alberto Schreiner

Pestana, j. em 01/08/2002).

Além do discutível exemplo de Schwartz (2009), Capez e Prado (2008, p. 64),

explicam o chamado exercício regular do direito, exemplificando o caso do particular que

efetua a prisão de agente em flagrante delito, conforme autorização do Próprio Código de

Processo Penal. Para os autores exclui-se a ilicitude quando o sujeito está autorizado a

determinado comportamento pela própria lei. Outro exemplo é a coação para prática de

intervenção cirúrgica, ou o chamado jus corrigendi do pai de família, derivado do poder

familiar ou ainda, as lesões praticadas em competições desportivas. Os autores incluem

também neste caso os ofendículos, como cacos de vidro ou cercas elétricas, desde que

facilmente perceptíveis e razoáveis, os quais são destinados a defesa da propriedade.

4.2.4 Excesso Punível

Page 55: Mono Eduardo Moreno Persson

54

O parágrafo único do artigo vinte três do Código Penal (BRASIL, 2011), segundo

Pinto e Valério (2002, p. 57), refere-se à possibilidade de responsabilização do executor, do

agente público, quando agindo, mesmo sob as circunstâncias da excludente de criminalidade,

com excesso doloso ou culposo. Evidencia-se desta forma a necessidade do policial possuir

conhecimento técnico sob todos os níveis da aplicação da força para não incidir no parágrafo

único do artigo vinte e três.

Pinto e Valério (2002, p. 62), refletindo sob este prisma, esclarecem que sob os

olhos do poder judiciário, a ação desproporcional e imotivada, dentre outros aspectos é

causada pela “falta de confiança na eficácia de suas técnicas de contenção e de defesa

pessoal” ou mesmo pelo desconhecimento por parte do agente público dos efeitos que tais

golpes, técnicas, podem ocasionar. Os autores colocam ainda que isto ocorre pela falta de

treinamento, preparo dos policiais, bem como insuficiente controle emocional e racionalidade,

em conjunto com falta de preparo psicomotor, que lhes proporcionem “ações físicas oportunas

e comedidas”.

Quanto ao excesso punível, Capez e Prado (2008, p. 62) afirmam que somente a

força necessária e que decorra da exigência legal pode ser amparada nas causas de

justificação. Assim os excessos poderão ser puníveis quando tipificados no Código Penal ou

na lei de Abuso de Autoridade. Como exemplo, explicitam a situação em que a autoridade

policial mesmo agindo sob o estrito cumprimento do dever legal ao prender um agente em

flagrante delito, responderá pelo excesso caso exponha a autoridade à humilhação. Ou ainda

os policiais que espancam a vítima durante abordagem alegando desobediência.

Andreucci (2008, p. 73) diferencia o excesso doloso do culposo, onde este decorre

de avanço aos limites legais, pelo agente que mesmo após já ter contido a agressão inicial, age

por impudência, negligência ou imperícia e aquele do avanço voluntário do agente, mesmo

após já ter contido a agressão inicial, culminando em resultados antijurídicos.

4.3 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E PROCESSO PENAL MILITAR

Antes de abordar os artigos específicos do Código de Processo Penal, que tratam

sobre o uso da força na atividade policial, é importante destacar-se, o art. 301 que fala sobre o

dever das autoridades policiais e seus agentes efetuarem a prisão de quem seja encontrado em

Page 56: Mono Eduardo Moreno Persson

55

flagrante delito, veja-se: “Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus

agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito” (CÓDIGO DE

PROCESSO PENAL, 2010).

O Ministério da Justiça (2006), ao tratar sobre o uso progressivo da força, traz à

baila artigos do Código de Processo Penal. Nesse salienta os artigos 284 e 293 que permitem

o emprego da força pelos policiais no exercício profissional.

Art. 284 Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável, no caso de

resistência ou tentativa de fuga de preso. [...].

Art 293 Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se

encontra em alguma casa, o morador será intimado a entrega-lo, à vista da ordem de

prisão. Se não for obedecido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas

e, sendo dia, entrará a força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o

executor, depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as

saídas, tornando a casa incomunicável, e logo que amanheça, arrombará as portas e

efetuará a prisão. (CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, 2010)

Destaca-s ainda o art. 292 da mesma legislação que também se refere ao uso da

força por parte dos agentes públicos.

Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em

flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o

auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a

resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.

(CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, 2010)

Sobre o artigo 284, acima citado, Tourinho Filho (1997, p. 459-460) comenta que:

Quando da realização da prisão, não podem seus executores fazer uso da força, a não

ser nas duas hipóteses enunciadas no artigo em exame. Quanto á resistência,

distingui-se em passiva e ativa. A primeira consiste num simples gesto instintivo de

autodefesa, sem intenção de ofender [...]. Já a ativa, sim. Em qualquer uma dessas

espécies de resistência, pode ser usada a força, dentro dos limites indispensáveis

para vencê-la. Assim por exemplo, se o capturando deita-se ao chão, evidente que o

executor seria penalmente responsabilizado se, por acaso, fizesse uso do cassetete.

Jesus (2010, p. 258), objetivamente sobre o art. 284, afirma que para efetuação da

prisão o emprego da força “é permitido e indispensável para vencer a resistência ou a tentativa

de fuga de preso”. Sobre o art. 292, chama de “violência necessária” o uso da força

indispensável para vencer a resistência.

Quanto ao Uso da Força tratado no Código de Processo Penal, Tourinho Filho

(2010, p. 644), salienta ser exceção, somente podendo ser utilizada em duas situações, no caso

de resistência e no caso de tentativa de fuga, alertando quanto ao excesso que poderá

Page 57: Mono Eduardo Moreno Persson

56

configurar crime previsto na lei 4.898/65, Lei de Abuso de Autoridade. O autor cita como

exemplo legítimo, o caso de um preso em fuga, onde o policial poderá, por exemplo, dar-lhe

um tiro na perna, medida necessária para evitar a fuga.

O Código de Processo Penal Militar (BRASIL, 2011) também é citado pela

apostila do Ministério da Justiça (2006, p. 12). Os artigos 231, 232 e 234 relacionam-se com o

emprego da força na ação policial. O artigo 234 expressa o seguinte:

Art 234-O emprego da força só é permitido quando indispensável, no caso de

desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de

terceiros poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou para defesa do

executor e seus auxiliares, inclusive a prisão do defensor. De tudo se lavrará auto

subscrito pelo executor e por duas testemunhas.

Pinto e Valério (2002) exemplificam duas jurisprudências referentes a atitudes de

agressão injustificada por parte de policiais militares. Em ambas ocorre o crime de lesões

corporais, artigo 209 do Código Penal Militar.

Pesquisando a jurisprudência do Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul

(2007) e do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo (2007) respectivamente,

encontram-se duas jurisprudências que podem corroborar com as exemplificadas pelos

autores em sua obra:

Feito: APELACAO CRIMINAL

Número: 3.573/03

Indexação: Lesão leve (art. 209, caput, do CPM). Co-autoria (art. 53, caput, do COM).

Ementa: Decisão majoritária do Conselho Permanente de Justiça, que condenou os acusados

a três meses de detenção, com sursis bienal, mediante condições, a dois dos quatro

acusados. Apelo da defesa. Policiais militares em serviço de policiamento ostensivo

que agridem a vítima em comunhão de vontades, provocando-lhe lesões corporais de

natureza leve. Autoria, materialidade e culpabilidade satisfatoriamente

comprovadas.

Apelo da defesa negado. Decisão unânime.

APELACAO CRIMINAL - Nº 005405/05 (Processo nº 036992/03 4a

AUDITORIA )

Indexação Apelação Criminal - Lesões corporais de naturezas grave e leve - Caracterização -

Pretendida absolvição por reconhecimento da excludente da legítima defesa putativa

- Inocorrência - Materialidade dos delitos comprovadas por prova pericial e

testemunhal - Condenação mantida.

Ementa Policial Militar participando de bloqueio policial efetua disparo de arma de fogo

contra motociclista. Legítima defesa putativa não comprovada. Inobservância das

cautelas necessárias. Lesões de naturezas grave e leve comprovadas por laudo

pericial. Delito caracterizado.

Page 58: Mono Eduardo Moreno Persson

57

A última jurisprudência exposta aponta um caso onde a lesão foi ocasionada pelo

uso indevido da arma de fogo, demonstrando o nível de responsabilidade que agente policial

deve ter ao utilizar este artifício.

4.4 LEI 4.898/65 – ABUSO DE AUTORIDADE

Sírio (2007), afirma ser abuso de autoridade qualquer ato do poder que atente

contra:

[...] os direitos e garantias individuais do homem, inerentes à sua liberdade de

locomoção, inviolabilidade do seu domicílio, sigilo de correspondência, liberdade de

consciência e crença, livre exercício do culto religioso, liberdade de associação,

direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto, direito de reunião,

incolumidade física do indivíduo e direitos e garantias legais assegurados ao

exercício profissional.

Sírio (2007), ensina ainda que autoridade é considerada a pessoa que exerce

cargo, emprego ou função pública de natureza civil ou militar, mesmo que transitoriamente e

sem remuneração. Como sujeito passivo imediato coloca o Estado, e mediato o cidadão titular

da garantia fundamental lesada.

Não obstante a lei expressamente se referir a abuso de autoridade, melhor, porque,

mais técnico seria, referir-se a abuso de poder. Nesse sentido afirma Santos (2003, p. 17):

[...] a doutrina, de um modo geral, reconhece uma impropriedade nessa

denominação, porque quando se tem por base uma relação de direito público ou

função pública na qual se cometem abusos, correto seria falar-se não em abuso de

autoridade, mas abuso de poder. A expressão abuso de autoridade melhor guarida

encontraria nos casos de abusos, excessos ou desvios no campo das relações

privadas. Na realidade, a expressão correta seria “abuso de poder”, pois nem todo

funcionário público exerce uma função de autoridade. Não é só quem detém um

cargo de autoridade que pode ser sujeito ativo deste crime; basta ver o conceito legal

de funcionário público. Também os funcionários públicos que não são considerados

autoridade pública podem ser sujeito ativo.

Registre-se que o Código Penal do Brasil (BRASIL, 1940), tratando das

circunstâncias agravantes, em seu artigo 61, inciso II, alíneas “f” e “g” institui diferença

fundamental entre abuso de autoridade e abuso de poder:

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou

qualificam o crime:

[...]

Page 59: Mono Eduardo Moreno Persson

58

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de

coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei

específica;

g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou

profissão;

Abuso, segundo De Plácido e Silva apud Fonseca (1997), “[...] é um termo usado

para expressar o excesso de poder ou de direito, ou ainda o mau uso ou a má aplicação dele

[...]”.

Costa (2006), referindo-se sobre a lei número 4.898 de nove de dezembro de

1965, afirma que o artigo terceiro, descreve como se constitui o abuso de autoridade, e

segundo o autor, a alínea “i” do artigo, reflete uma das possibilidades onde o policial

utilizando-se inadequadamente da força contra o administrado pode incidir. “Art. 3º. Constitui

abuso de autoridade qualquer atentado: i) à incolumidade física do indivíduo;

(BRASIL,1995)LEI 4898/95)”

Para Costa (2006), a Lei 4898/65 prevê sanções de natureza administrativa, civil e

penal, que estão destacadas no artigo 6º da referida lei.

Cunha (2004, p. 8), sobre a dificuldade do agente público de proteger-se das

lacunas da lei, e acabar por incidir no crime de abuso de autoridade, posiciona-se assim:

A falta de clareza dos dispositivos legais e a má compreensão dos conceitos

doutrinários pelo policial podem levar ao abuso de autoridade - onde o direito

legítimo do cidadão de ser protegido do uso da força excessiva pela polícia é

desrespeitado; ou ao excesso de zelo – no qual o policial abre mão do seu direito à

própria segurança, temendo agir com excesso.

Apesar da legislação anteriormente comentada sobre o assunto Barbosa e Ângelo

apud Ministério da Justiça (2006, p. 13) diz que “o Sistema Jurídico Brasileiro apresenta

lacunas e imprecisões quanto a legalidade e aos limites” do uso da força. O Ministério da

Justiça (2006) coloca ainda sobre a necessidade de a Legislação Brasileira absorver uma

norma única referente ao assunto para orientar policiais e cidadãos.

Page 60: Mono Eduardo Moreno Persson

59

5 CONCLUSÃO

A partir de 1988 a nova Lei Constitucional ampliou a competência legal da

Polícia Militar. Responsável pela preservação da ordem pública e, exclusivamente, pela

polícia ostensiva, a Polícia Militar atua diretamente no cotidiano das pessoas e de seus bens.

Esta atuação é pautada por diversos instrumentos legais, dentre eles a própria Constituição da

República Federativa do Brasil, através de seus princípios.

Viabilizando a atividade policial, o chamado poder de polícia pauta a atividade do

agente público. No caso dos policiais militares, polícia de preservação da ordem pública, o

poder de polícia administrativa geral, segue a faceta do poder de polícia de segurança pública,

exclusivo das Polícias Militares, segundo a doutrina majoritária.

Cabe destacar, a coercibilidade, atributo do poder de polícia, este concebido pelo

Estado ao policial militar para execução de sua missão constitucional. A coercibilidade é o

atributo que justifica o emprego da força quando em situações de oposição do cidadão a uma

ordem legal do policial militar. Aliado a auto-executoriedade, que permite o cumprimento de

ações sem a necessidade de consulta ao Poder Judiciário, e a discricionariedade, que admite a

tomada de decisão por parte do agente público, sobre qual o melhor momento para execução

da atividade, o poder de polícia permite que o policial militar garanta o convívio harmonioso

das pessoas em sociedade, prevenindo e reprimindo de imediato atos delituosos.

Tratados internacionais foram elaborados com o intuito de orientar a utilização da

força por parte dos responsáveis pela aplicação de lei. Entende-se por força, nesse caso, a

utilização de técnicas pautadas na legislação vigente e nos direitos humanos. Diferentemente

de violência, termo mais adequado ao uso da força, desnecessária, ilegal e desproporcional.

A legislação brasileira, apesar de possuir lacunas quanto aos limites legais e

quanto à aplicação da força por parte dos agentes públicos, busca proteger os direitos e

garantias individuais do cidadão. O policial militar que age sem observar o caráter técnico

pode incorrer em tipos penais, como lesões corporais e abuso de autoridade, tanto na Justiça

comum como na Justiça special, na Justiça Militar. O termo “uso gradual da força” foi

exemplificado através de modelos de atuação do policial conforme reação do agente infrator

contra uma determinação do agente público.

Portanto, no exercício de sua atividade, o policial militar, necessitando empregar a

força, respalda-se no chamado poder de polícia, o qual é explicitado no Código Tributário

Nacional, e esmiuçado pela doutrina baseando-se nas legislações de Direito Administrativo,

Page 61: Mono Eduardo Moreno Persson

60

Penal e Processual Penal. Dentro desta perspectiva, temos como destaque o atributo da

coercibilidade, que respalda o agente público detentor do poder de polícia, quanto à

necessidade do uso da força, desde que proporcional e moderada.

A fim de orientar esta atitude coercitiva do agente público, em prol da preservação

da ordem pública, diversos modelos de uso progressivo da força, foram criados, todos sob o

prisma dos direitos do homem. A Polícia Militar em Santa Catarina, seguindo a tendência

mundial, elaborou um modelo de uso progressivo da força, baseado no modelo Flect, dos

Estados Unidos da América. Neste fica evidente que o uso da arma de fogo, da força letal,

pelo policial militar contra pessoa em atitude criminosa, só é amparado quando todos os

outros meios disponíveis não são suficientes para conter agressão injusta e grave, contra si ou

contra terceiros.

Além do chamado poder de polícia e seu atributo coercitivo, o agente público ao

utilizar a força necessária, deve agir sob o prisma das excludentes de ilicitude tratadas no

capítulo quatro. Tais eximentes, são aplicáveis às condutas de quaisquer pessoas, sejam

agentes públicos ou não. Dentre elas destacamos a legítima defesa e o exercício regular de

direito como as mais comumentes ocorridas na atividade policial militar. O Código de

Processo Penal Comum e Militar reforçam a utilização da força necessária e moderada.

Trouxeram-se algumas situações exemplificativas para cada eximente

anteriormente destacada. No caso da legítima defesa, o policial militar que se deparando com

um agente armado com arma de fogo, em flagrante delito de roubo, utiliza a escalada da força,

conforme os modelos apresentados anteriormente, iniciando pela verbalização. O agente

desconsiderando a ordem legal do agente público revida com tiros em sua direção, então o

policial militar, buscando conter a agressão do infrator, realiza disparos com sua arma de fogo

que atingem o assaltante, causando lhe ferimentos que o levam a morte.

Quanto ao exercício regular do direito, exemplificou-se com a situação onde o

policial militar, na guarda de estabelecimento prisional, observa agentes em fuga. O policial

militar, sozinho em sua torre, tenta de todas as maneiras conter a fuga dos presos, acionando o

alarme e utilizando a verbalização. No entanto, os agentes continuam fugindo, então o policial

militar, utiliza sua arma de fogo, acertando a perna de um dos fugitivos, causando-lhe lesão

grave. Apesar de discutível a tese proposta, algumas decisões judiciais corroboraram com a

mesma.

Sobre o estado de necessidade, menos comum na atividade policial, poderia um

policial militar em incursão a uma ambiente agressivo, como uma favela tomada por

traficantes, ao barricar-se em um veículo a fim de proteger-se de disparos e ao revidar para

Page 62: Mono Eduardo Moreno Persson

61

tentar cessar a agressão, acabar por atrair tais disparos para este, vindo também a atingir o

veículo, causando danos no mesmo. Em todas as situações, o policial esta respaldado pelos

tipos permissivos, bem como, pela atuação nos moldes do chamado poder de polícia.

O conhecimento deste respaldo legal, tanto para o policial militar como para toda

sociedade é de suma importância. É imprescindível que um agente público saiba com clareza

quando e como pode empregar a força. A plena ciência por parte do policial militar de como

portar-se diante de uma situação fática que necessite o emprego da força, somada a outros

aspectos subjetivos, como condições técnicas, emocionais e físicas, garantem uma atuação

profissional de acordo com o esperado pela sociedade em geral.

Como foi aclarado nesta obra, a Constituição Federal, protege a vida como bem

maior. Nesse aspecto, sendo a Magna Legis a representação da vontade do povo, deve ser este

o objetivo maior do Estado e de seus agentes. A sociedade, tendo este conhecimento poderá

cobrar com maior propriedade que o Estado fiscalize e puna nos moldes da lei o mau emprego

da coercibilidade por parte dos agentes de preservação da ordem pública.

O estudo aprofundado sobre o tema, principalmente quanto aos instrumentos

internacionais que orientam o uso gradual da força, bem como, a análise dos modelos de uso

progressivo da força aplicados nas mais diversas instituições policiais, podem auxiliar

membros do Poder Judiciário e Ministério Público, no embasamento de denuncias ou decisões

judiciais.

Espera-se que a pesquisa tenha também demonstrado a relevância do assunto,

trazendo a atenção por parte dos agentes públicos, para a proeminência do conhecimento de

técnicas aplicáveis à rotina policial militar, que se enquadrem nos princípios e normas

tratados neste trabalho. Nesse aspecto, importante salientar a importância de cada vez melhor

formar e qualificar o agente público ligado à segurança pública, oferecendo na grade

curricular dos cursos de formação e de revitalização, disciplinas que tratem sobre o tema.

Destaca-se as disciplinas de defesa pessoal, técnicas policiais, tiro policial, dentre outras.

Sugere-se que esta obra, assim como, os conhecimentos sobre o tema, sejam

amplamente divulgados e exaustivamente discutidos, principalmente pelos servidores das

Instituições elencadas no Art. 144 da CF/88, as polícias, assim como pela sociedade, carente

de segurança aplicada com técnica, profissionalismo e responsabilidade.

Page 63: Mono Eduardo Moreno Persson

62

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Aires et al. A Arte de Pensar. Vol. 1. 2007 ed. Porto, PT: Didáctica, 2007.

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 18º

Ed. Rev. e Atual. São Paulo: Ed. Método, 2010.

ALVARENGA, Dílio Procópio Drummond de. Teoria da contratipicidade penal. Jus

Naviandi, 2007. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=963. Acesso em:

25 jan 2011, 17:24:00.

AMNESTY INTERNATIONAL. A Anistia Internacional forma uma comunidade global

de defensores dos Direitos Humanos. Amnesty International, 2003. Disponível em:

http://www.br.amnesty.org/index_acercadeai.shtml. Acesso em: 26 jan 2011, 08:10:00.

ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. 4ª Ed. Reformulada. São Paulo:

Saraiva, 2008.

ARAÚJO, Valéria F.; A diligência policial de urgência e o respeito aos direitos humanos

na obra de Carlos R. Bacila. Boletim Jurídico, fev. 2006. ed. 167. Disponível em:

http://www.boletimjuridico.com.br /doutrina/texto.asp?id=1086. Acesso em: 22 fev. 2011,

10:00:00.

ARAÚJO, Kleber Martins de. O estrito cumprimento do dever legal como causa

excludente de ilicitude. Jus Navigandi, 2003. Disponível em:

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4262. Acesso em: 01 mar 2010, 17:37:00.

BRASIL. Advocacia-Geral da União. Parecer GM-25: Publicado no Diário Oficial de

13.8.2001.

______. Ato Complemetar Nº 40, de 30 de Dezembro de 1968. Brasília, D.O.U. de

30.12.1968. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ACP/acp-40-68.htm.

Acesso em: 03 jan 2011, 13:06:00.

______. Código Penal. decreto lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm. Acesso em: 25 jan

2011, 16:06:00.

Page 64: Mono Eduardo Moreno Persson

63

______. Código Penal Militar. decreto lei no 1.001, de 21 de outubro de 1969. Disponível

em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del1001.htm. Acesso em: 03 jan 2011,

16:20:00.

______. Código de Processo Penal. decreto lei no 3.689, de 03 de outubro de 1941.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del3689.htm. Acesso em:

22 jan 2011, 16:25:00.

______. Código de Processo Penal Militar. decreto lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del1002.htm. Acesso em:

22 jan 2011, 16:24:00.

______. Código de Tributário Nacional. Lei nº 5. 172, de 25 de Outubro de 1966.

Disponível em http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/CodTributNaci/ctn.htm. Acesso

em: 22 jan. 2011, 16:30:00

______. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. 6. ed.

atual. até 31.01.2005. São Paulo: RT, 2005

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao67.htm. Acesso em:

25 jan 2011, 13:06:00.

______. Decreto-lei 667, de 02 de julho de 1969. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del0667.htm. Acesso em: 22 jun 2011,

22:31:00.

_____. Decreto 88.777, de 30 de setembro de 1983. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D88777.htm. Acesso em: 22 jun 2011,

22:31:00.

______. Regulamento para as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares (R-

200). Decreto n. 88.777, de 30 de setembro de 1983.. Brasília, D.O.U. de 4.10.1983.

______. Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul. Apelação Criminal 3.573/03.

Porto Alegre. Disponível em: http://www.tjm.rs.gov.br/includes/print.php?id=2445. Acesso

em: 22 jan 2011, 16:45:00.

Page 65: Mono Eduardo Moreno Persson

64

______. Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo. Apelação Criminal nº

005405/05. Disponível em: http://www.tjm.sp.gov.br/ementas2.asp?cKey=162005005405.

Acesso em: 22 jan 2011, 16:50:00.

______. Secretaria Especial de Direitos Humanos. Guia de Direitos Humanos. Conduta

ética, Técnica e Legal, para Instituições Policiais militares. Programa de Apoio

Institucional às Ouvidorias de Polícia e policiamento Comunitário. Esplanada dos Ministério.

Bloco T, sala 301. Brasília, 2008.

BÜRING, Márcia Andréa. A natureza Jurídica do Poder de Polícia é Discricionária?

Universidade Federal do Paraná, 2003. Disponível em:

http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/viewFile/1762/1459.Acesso em: 25

fev 2011, 18:48:40.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte geral. Vol. 1. 7.ed. rev. e atual. São

Paulo: Saraiva, 2004.

CAPEZ, Fernando; PRADO, Estela. Código Penal Comentado. 2ª Ed. Porto Alegre: Verbo

Jurídico, 2008

CARNEIRO, Juvenildo dos Santos; PONTES, Julian Rocha; RAMIRES, Inaê Pereira.

Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de

Segurança Pública. Atual. Brasília: Fabrica de Cursos, 2009.

CAVALHEIRO NETO, Augusto. Garantia da Ordem – A Insuficiência de argumentos

para prisão preventiva. Revista Consultor Jurídico, mar. 2004. Disponível em:

http://conjur.estadao.com.br/static/text/147,1. Acesso em: 26 jan 2011, 11:20:00.

COSTA, Paulo Roberto de Albuquerque. Apostila de Defesa Pessoal. Academia Cel Milton

Freire de Andrade: Rio Grande do Norte, 2006.

CORRECTIONAL SERVICE CANADA. Performance Report. Disponível em:

http://www.csc-scc.gc.ca/text/pblct/dpr/2004/DPR_final_2004_e.shtml Acesso em: 22 jan

2011, 16:37:00.

CURSO DE USO PROGRESSIVO DA FORÇA, 2010, Criciúma. Manual de Técnicas de

Polícia Ostensiva. Aprovado pela Portaria nº 099/PMSC/10, de 04 de fevereiro de 2010.

CUNHA, Milmir. A eficácia das aulas de defesa pessoal no curso de formação de oficiais.

Polícia Militar de Minas Gerais. Centro de Ensino de Graduação. Belo Horizonte, 2004.

Page 66: Mono Eduardo Moreno Persson

65

DANNER, Fernando; OLIVEIRA, Nythamar Fernandes. Michel Foucault e a

Modernidade: a Emergência do Estado Liberal e a Instauração da Biopolítica. Porto

Alegre, PUCRS. Tese de Doutorado em Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências

Humanas, Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

DA SILVA, Flavia Martins de André. O Poder de Polícia. In Boletim Jurídico. 2006.

Disponível em: http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1235 . Acesso em:

14 de jan de 2011.

DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19ª ed. São Paulo:

Malheiros, 2001.

FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2001.

FONSECA, Antonio Cezar Lima da Fonseca. Abuso de autoridade: Comentários e

Jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.

FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo; FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto.

Resumo de direito penal. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 1999.

GOLDIM, José Roberto. Princípio da Justiça. Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

Bioética, jun. 1998. Disponível em: http://www.ufrgs.br/bioetica/justica.htm. Acesso em: 19

jan 2011, 11:20:00.

HIPÓLITO, Marcelo Martinez. O Controle Externo da Atividade Policial Militar. Revista

Jurídica do Ministério Público Catarinense, Florianópolis, v.3, n.6, p. 29-54, maio/agosto.

2005. Disponível em:

http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/conteudo/cao/ceaf/revista_juridica/revista06internet.pdf.

Acesso em: 25 jan 2011, 12:47:30.

JESUS, Damásio de. Código de Processo Penal Anotado. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

LAZZARINI, Álvaro. Estudos de Direito Administrativo. 2. ed. São Paulo: Editora Revista

dos Tribunais, 1999.

MACHADO, César Rossi; VICENZI, Brunela Vieira de. A Complexidade da Ordem

Pública em outras culturas. Jun. 2009. Revista Consultor Jurídico. Disponível em:

http://www.conjur.com.br/2009-jun-11/conceito-ordem-publica-complexo-situacoes-culturais

-distintas. Acesso em : 21 de fev 2011, 23:42:00.

Page 67: Mono Eduardo Moreno Persson

66

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia

Científica. 6ª edição. São Paulo: Atlas, S.A., 2006.

MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati. Dignidade da Pessoa Humana: princípio

fundamental constitucional. 1ª ed. 4ª tirag. Curitiba: Juruá, 2006.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 30 ed. São Paulo: Malheiros,

2005.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Uso Legal da Força. Secretaria Nacional de Segurança

Pública. Florianópolis, 2006.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. 2ed. São Paulo: Atlas,

1995.

______. Código Penal Interpretado. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MIGUEL, Marco Antonio Alves. Polícia e Direitos Humanos: Aspectos Contemporâneos.

Dissertação (Mestrado em Direito) – Centro Universitário Eurípides de Marília, Fundação de

Ensino Eurípides Soares da Rocha, Marília, 2006. Disponível em:

http://br.monografias.com/trabalhos3/policia-direits-humanos-aspectos-contemporane

os/policia-direits-humanos-aspectos-contemporaneos.shtml. Acesso em: 14 de jan de 2011.

MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte

introdutória, parte geral e parte especial. 8. ed. rev. atual. aum., Rio de Janeiro: Forense,

1989.

MUKAI, Toschio. Direito Administrativo Sistematizado. São Paulo: Saraiva, 1999.

OFFICE OF UNITED NATIONS HIGHT COMMISSIONER OF HUMAN RIGHTS.

Declaração Universal do Direitos Humanos. Office of United Nations Hight Commissioner

fo Human Rights, 2005. Disponível em: http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm. Acesso em:

26 jan 2011, 08:25:00.

ONU. Organização das Nações Unidas. Código de Conduta para os Funcionários

Responsáveis pela Aplicação da Lei. Assembleia Geral das Nações Unidas, resolução

34/169, de 17 de Dezembro de 1979. Disponível em: http://www.gddc.pt/direitos-

humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversai s/ dhaj-pcjp-18.html. Acesso em: 18 jan 2011,

16:55:00.

Page 68: Mono Eduardo Moreno Persson

67

______. Organização das Nações Unidas. Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas

de fogo. Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento

dos Infratores, Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro de 1990. Disponível em:

http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/dh/mundo/rover/c10.htm#3. Acesso em: 18 jan 2011,

15:43:00.

PEDROSO, Fernando de Almeida. Direito penal: parte geral. 2.ed. rev. atual. e ampl. São

Paulo: EUD, 1997.

PERSSON, Eduardo Moreno. Benefícios da Prática de Artes Marciais para o Policial

Militar. Monografia (Bacharelado em Segurança Pública) Universidade do Vale do Itajaí.

Florianópolis, 2010.

PINTO, Jorge Alberto Alvorcem; VALÉRIO, Sander Moreira. Defesa Pessoal: Para

Policiais e Profissionais de Segurança. Porto Alegre. Ed. Evangraf, 2002.

ROVER, Cees de. Para Servir e Proteger. Direitos Humanos e direito internacional

humanitário para forças policiais e de segurança: manual para instrutores. Genebra,1998.

SANTA CATARINA. Polícia Militar do Estado de Santa Catarina. Diretoria de Instrução e

Ensino. Instrução Modular da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, Diretoria de

Instrução e Ensino. Florianópolis: Polícia Militar, 2002.

______. Constituição do Estado de Santa Catarina, de 5 de outubro de 1989. atual. até

Emenda Constitucional 45. Florianópolis: Assembléia Legislativa, 2006.

SANTOS, Paulo Fernando dos Santos. Crimes de abuso de autoridade: aspectos jurídicos

da Lei nº 4898/65. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2003.

SARDINHA, Tiago Fernando. A Importância da Polícia Militar na Atividade do Turismo

no Estado da Paraíba. Polícia Militar do estado da Paraíba, 2007. Disponível em:

http://www.pm.pb.gov.br/ce/academico/monografia/tema26.pdf. Acesso em: 25 jan 2011,

17:51:00.

SARLET, Ingo Wolfgang: Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na

Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

Page 69: Mono Eduardo Moreno Persson

68

SCHWARTZ, Diego. Fuga na Penitenciária: O policial pode atirar no preso que foge?

Dez. 2009. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14036&p=1. Acesso

em: 25 de jan 2011, 19:21:00.

SENADO FEDERAL. Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965. Regula o Direito de

Representação e o Processo de Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de

abuso de autoridade. Disponível em: http://www6.senado.gov.br/legisla

cao/ListaPublicacoes.action?id=116179. Acesso em: 22 de jan 2011, 16:31:00.

SÍRIO, Antônio Iram Coelho. Abuso de Autoridade (Lei Nº 4.898/65). Ministério Público

do Estado do Ceará, 2007. Disponível em: http://www.mp.ce.gov.br/artigos/

print.asp?iCodigo=39. Acesso em: 17 jan 2011, 17:04:00.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante nº 11. 2008. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=11.NUME.%20E%20S

.FLSV.&base=baseSumulasVinculantes. Acesso em: 28 jan 2011, 21:36:20.

TEZA, Marlon Jorge. A Polícia Militar, o Município e a Prevenção. Direito Net, março.

2006. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/x/25/12/2512/#perfil_autor.

Acesso em: 25 jan 2011, 15:53:30.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. 2 ed. São

Paulo: Saraiva, 1997.

______. Manual de Processo Penal. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

WILSON, Pedro. A Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Declaração

Americana dos Direitos e deveres do Homem. Direitos e Desejos Humanos no Ciberespaço.

Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/pedrowilson/dec.html. Acesso em:

24 jan 2011, 15:45:00.