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Fragmentos do tempo www.pucgoias.edu.br Goiânia, setembro de 2012 Ano XVI n. 117 40 anos do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia

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Goiânia, setembro de 2012

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Fragmentos do tempo

www.pucgoias.edu.br

Goiânia, setembro de 2012Ano XVI n. 117

40 anos do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia

Goiânia, setembro de 20122

40 anos produzindo conhecimentoEDITORIAL

EXPEDIENTEInstituição juridicamente mantida pela Sociedade Goiana de Cultura - SGC ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR DA PUC GOIÁS

Momento - Informativo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), produzido pela Divisão de Comunicação Social - Dicom/GR - Tel.: 3946-1010Diretora: Carla de Oliveira (GO n. 1076 JP)Redação: Belisa Monteiro (GO n. 2343 JP), Luisa Dias (GO n.01181 JP) e Lívia Amaral (MT n. 1667 JP)Edição: Belisa Monteiro (GO n. 2343 JP) Diagramação: Adriano AbreuFotografias: Wagmar Alves e Weslley CruzImpressão: Gráfica da PUC Goiás

GRÃO-CHANCELER:Dom Washington Cruz, CPREITORProf. Wolmir Therezio AmadoVICE-REITORAProfa. Olga Izilda RonchiPRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃOProfa. Sônia Margarida Gomes SousaPRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E APOIO ESTUDANTILProfa. Márcia de Alencar SantanaPRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISAProfa. Sandra de Faria

PRÓ-REITORA DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONALProfa. Helenisa Maria Gomes de Oliveira NetoPRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃOProf. Daniel Rodrigues BarbosaPRÓ-REITOR DE COMUNICAÇÃO Prof. Eduardo Rodrigues da SilvaPRÓ-REITOR DE SAÚDEProf. Sérgio Antonio MachadoCHEFE DE GABINETEProf. Lorenzo Lago

A PUC Goiás tem o compro-misso de preservar o Patrimônio Étnico-Cultural por meio do Insti-tuto Goiano de Pré-história e An-tropologia (IGPA), órgão que há 40 anos desenvolve pesquisas nas áreas de arqueologia, antropolo-gia, meio ambiente e documen-tação audiovisual, especialmente no Planalto Central brasileiro. Ao longo desse tempo desenvolveu atividades e projetos com várias etnias indígenas no Brasil, sobre-tudo, com aquelas do estado de Goiás: Avá-Canoeiro, Karajá de Aruanã e Tapuios do Carretão. O IGPA desenvolve pesquisas aca-dêmicas relacionadas ao patrimô-nio cultural (material e imaterial) desses povos, com o compromisso ético e político de garantir e pro-teger suas diferentes manifesta-ções culturais, respeitando suas idiossincrasias e o direito à auto-determinação.

Em quatro décadas de existên-

“Ao longo dos anos, o Instituto ampliou e diversificou seu acervo, seja pela atuação de suas pesquisas, seja por meio de doações, dentre elas ressalta-se a coleção audiovisual de Jesco von Puttkamer, doada na década de 1970, e a de Adrian Cowell, adquirida integralmente no ano de 2011.”Profa. Sibeli Viana, diretora do IGPA

“O IGPA tem essa força de origem: vincula formação de recursos humanos na universidade nas várias áreas do conhecimento, além de desenvolver pesquisa antropológica e arqueológica com abrangência interdisciplinar e rigor científico.”Profa. Sandra de Faria, pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa

cia, o IGPA, a partir do seu compro-misso em preservar o patrimônio cultural, tem reunido importante acervo arqueológico, etnológico e audiovisual. Estas coleções são re-sultantes de pesquisas, de doações de documentaristas e de colabora-dores. A qualidade desta produ-ção científico-cultural é atestada pelos convênios nacionais e inter-nacionais e pelos prêmios conferi-dos ao longo de décadas.

As pesquisas realizadas pelos núcleos de Arqueologia, Antro-pologia, Meio Ambiente e Acervo Audiovisual são disponibilizadas à comunidade, alunos, professores e pesquisadores para fins didáticos, produções e pesquisas. Por meio do Centro Cultural Jesco von Put-tkamer, o público e a comunidade educacional têm a oportunidade de conhecer e reconhecer aspec-tos da cultura dos povos pré-colo-niais e indígenas brasileiros e ter acesso aos resultados das pesqui-sas acadêmicas desenvolvidas pelo instituto.

O IGPA mantém o curso de graduação em Arqueologia, que tem como objetivo estudar os comportamentos dos grupos hu-manos através dos seus vestígios materiais e seus modos de vida; e o curso de Antropologia que visa estudar as culturas humanas em perspectivas diversificadas: ori-gens, dinâmicas, gênero costumes sociais, etnias, artes e crenças.

Wolmir Therezio AmadoReitor da PUC Goiás

Goiânia, setembro de 2012 3PESQUISA

Instituto comprometido com a ciênciaO IGPA, na sua história de 40

anos, desenvolve ações de investiga-ção, conservação, preservação e di-vulgação do patrimônio e da cultura dos povos indígenas brasileiros com ações no âmbito do ensino, pesquisa e extensão. Vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da PUC Goiás, o Instituto nasceu com o gabi-nete de Arqueologia, para atender demandas crescentes e específicas advindas do campo da Arqueologia na região Centro-Oeste. De acordo com a diretora do Instituto, profa.

“O IGPA cresce, se especializa, produz um acervo arqueológico, mantém sua inserção social e se qualifica com especialistas, mestres e doutores para uma oferta de cursos de graduação e pós”.Pró-reitora Sandra de Faria

Sibeli Viana, a arqueologia no IGPA privilegia as abordagens amplas de caracterizar e agrupar as diferentes tradições culturais pretéritas, mape-ar seus deslocamentos espaciais nos diferentes territórios que compõem o ambiente do Cerrado e situá-los cronologicamente no tempo. “A pesquisa sempre esteve presente nas atividades do grupo e os dados etnológicos advindos dessas pesqui-sas motivou a criação da Área de Etnologia do Instituto, mais tarde a Área de Antropologia”, pontua.

Novas metasInstituto já consolidado, a direção do IGPA visa dar continuidade e ampliar

as atividades de ensino, pesquisa e extensão realizadas em décadas de pioneirismo. Em 2013, com re-cursos financeiros do BNDES, os acervos vão começar a ser digi-talizados permitindo assim uma gestão ainda mais qualificada do material acervado. O IGPA tem na pesquisa científica uma de suas principais ações. “O po-tencial dos contextos arqueoló-

gicos, antropológicos e ambien-tais presentes no Planalto Central

brasileiro contribui para o desenvol-vimento da investigação científica no

Instituto”, avalia a diretora, profa Sibeli. Atualmente o IGPA, seguindo suas quatro

linhas de pesquisa: Antropologia Visual, Cinema, Memória e Preservação; Arqueologia Pré-Histórica e Histórica;

Gestão do Patrimônio; Saberes Tradicionais e Identidade, Memória e suas interfaces com as sociedades urbanas, desenvolve projetos acadêmicos de arqueologia na Bacia do Rio Araguaia e Palestina de Goiás, trabalhos coordenados pelos professores doutores Julio Rubin de Rubin, bolsista de produtividade do CNPq, e Sibeli Via-na (CNPq/PUC Goiás); projetos de gestão do patrimônio arque-ológico em áreas de impacto ambiental; projetos de educação patrimonial com ações realizadas no interior ou fora do lócus escolar; projetos de gestão turística (patrimônio cultural) e

antropologia indígena, coordenados respectivamente pela professora doutora Eliane Lopes Brenner, coordena-

dora do Centro Cultural Jesco von Puttkamer, e professora doutora Marlene Moura, do

Núcleo de Antropologia do Instituto e o Projeto Imagem e Memória, coor-

denado pelo prof. dr. Luis Eduardo Jorge.

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As ações de extensão do IGPA são realizadas no Centro Cultural Jesco von Puttkammer que democratizam e divulgam a produção científica do instituto ao público visitante. O espaço vivencia uma fase de reestruturação e ampliação. O objetivo é atrair novos públicos, incluindo turistas que participam de eventos na capital, além da comunidade escolar que agenda as visitas com a coorde-nação do Museu. O Centro, com os recursos do BNDES, também abrigará um laboratório de conservação para manter e restaurar as peças arqueológicas. A diretora do IGPA, profa. Sibeli Viana, também adianta que, a partir de 2013, o curso de graduação em Arqueologia terá uma nova grade curricular, na forma de módulos, que facilita o acesso dos alunos a disciplinas obrigatórias e específicas de seu interesse. “É um curso que tem uma procura cons-tante e exige um perfil muito específico”, ressalta Sibeli.

O IGPA primeiramente se qualificou para oferecer cur-sos com titulação, criou cursos de especialização e o Mes-trado em Patrimônio Cultural, que funcionou por 10 anos. “Ele cresce, se especializa, produz um acervo arqueológi-co, mantém sua inserção social e se qualifica com especia-listas, mestres e doutores para uma oferta de cursos de graduação e pós. Dessa forma, ele criou uma competência para ofertas de cursos de antropologia, arqueologia e pa-trimônio cultural’, avalia a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, professora Sandra de Faria. A interação entre ensino e pesquisa levou uma interdisciplinaridade com um corpo docente da área de Antropologia, Arqueologia e Meio Ambiente. “E assim o ensino e a pesquisa qualificam a extensão”, complementou a profa. Sibeli.

EXTENSÃO

Socialização do conhecimento“É um curso que tem uma procura constante e exigeum perfil muito específico”.Profa. Sibeli Viana

Arquivo Mariza Barbosa

Arquivo Mariza Barbosa

Goiânia, setembro de 2012 5ENSINO

IGPA forma profissionais que se destacam na área de arqueologia

Criado em 2006, o curso de Arqueologia da PUC Goiás visa formar um profissional capaz de atuar em contextos diversificados, como na prestação de serviços por meio da arqueologia de contrato, em desenvolvi-mento no País, assim como na pesquisa acadêmica e na gestão do patrimônio arqueológico. De acordo com o coordenador do curso, professor Júlio Cezar Rubin de Rubin, o arqueólogo está preparado para desenvolver projetos de pesquisa que qualifiquem o conhecimento referente ao nosso passado e tem plenas condições de realizar a gestão deste patrimônio.

O campo de trabalho do profissional de Arqueolo-gia inclui diversas frentes, principalmente na iniciativa privada, em empresas de estudos de impacto ambien-tal e instituições de ensino, pesquisa e órgãos públicos ou privados voltados para a área cultural. O curso re-cebeu avaliação positiva do MEC (recebeu nota 4 em escala de zero a cinco) e conta, atualmente, com 52 alunos.

O coordenador informa que os alunos que se formaram na PUC Goiás estão na fase de qua-lificação profissional e muitos já trazem re-sultados positivos no campo da pesquisa. “Alguns já terminaram o mestrado, outros estão iniciando o doutorado. No último ano, diversos egressos foram apro-vados em programas de mestrado. Alguns estão desenvolvendo pes-quisas importantes, cujos resul-tados deverão ser publicados em breve”, adianta. Egressos do curso estão em progra-mas de pós-graduação na Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Sergi-pe, Universidade Federal de Goiás, Universidade Fe-deral da Grande Dourados e Uni-versidade Federal do Mato Grosso. “Temos egressos que já concluíram o Mestrado em Portugal, um foi escolhido para o Programa Erasmus, estu-dando no Muséum Natio-nal Histoire Naturelle – Pa-ris, e outro foi aprovado no concurso do Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-tístico Nacional (Iphan)”, informou o coordenador.

Arquivo Mariza Barbosa

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Goiânia, setembro de 20126ACERVO

Grande centro de documentação arqueológica, etnológica e audiovisual

Uma extensa coleção de imagens que guarda importantes partes da memória amazônica, indígena e da PUC Goiás. Assim é composto o acervo audiovisual e fotográfico do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA). A unidade abriga mais de sete toneladas de fil-mes do documentarista Adrian Co-well, 200 latas de filmes do profes-sor e antropólogo visual Wolf Jesco von Puttkamer. Além disso, todos os trabalhos de campo dos cursos de História e Antropologia da universi-dade e demais eventos que tiveram a participação do IGPA ao longo dos seus 40 anos de existência.

São inúmeras coleções que com-põem esse banco audiovisual. Além dos filmes, há registros em diários, short lists, arquivos em áudio e foto-grafias. A técnica responsável pelo acervo fílmico do IGPA, Fernanda Elisa Cosa Resende, explica que a PUC Goiás está fazendo um estudo para viabilizar o acesso da comuni-dade a esse material. Com a elabo-

Filmes, fotografias, áudio e diários de campo mostram histórias dos povos indígenas da Amazônia e Brasil Central

Atualmente, o acervo do IGPA se constitui num grande centro de documentação audiovisual do Brasil, incluindo um vasto material arqueológico, resultante de pesquisas nos estados de Goiás, Tocantins e Bahia.

Filmesração de um documento com nor-mas para esse acesso, a universidade garante esse uso pela população, mas com segurança e preservação.

Ela destaca que esse acervo fíl-mico contém registros únicos de um período de transformação. “É o relato de 40 anos desses pes-quisadores sobre aquelas comuni-dades. No momento em que elas foram impactadas, na chegada do desenvolvimento”, explica. O do-cumentarista Adrian Cowell, por exemplo, deixou 16 filmes.

Os filmes de Adrian constituem o maior acervo de filmes existente sobre a Amazônia brasileira, resul-tado de produções dirigidas por ele contendo cerca de 3.500 latas de filmes 16 mm, positivos e ne-gativos, além de fitas de áudio e vídeo. Material histórico de valor inestimável, contém registros iné-ditos e pioneiros sobre as questões ambientais e o processo de ocupa-ção da região amazônica nos últi-mos 50 anos.

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Grande centro de documentação arqueológica, etnológica e audiovisualFilmes, fotografias, áudio e diários de campo mostram histórias dos povos indígenas da Amazônia e Brasil Central

O acervo fotográfico do IGPA é composto por 140 mil fotografias (slides, negativos e papel). Desse total, 34 mil já foram digitali-zadas. De acordo com o pesquisador e pro-fessor Paulo César, responsável pela digita-lização do acervo fotográfico, a prioridade é digitalizar o material mais antigo, já que as películas têm um tempo útil de vida. O IGPA conta com um Sistema de Gestão do Acervo, que contém todas as informações referentes à fotografia, como descrição, nú-mero de identificação, entre outras caracte-rísticas que sejam eficazes na hora da busca no sistema. As fotografias, a grande maioria do indigenista Jesco von Puttkamer, revelam elementos materiais e imateriais dos povos indígenas da Amazônia.

Os responsáveis pelo arquivo fotográfi-co não só catalogam, digitalizam e tratam o material fotográfico, como fazem também a seleção das fotos para exposições, docu-mentários e publicações institucionais. Rigor científico, cuidado, sensibilidade e zelo são necessários ao pesquisador que lida com o material. “As fotos revelam um momento

Fotografiashistórico e, ao mesmo tempo em que preo-cupamos com a qualidade do material, o tra-tamento da foto vai até um certo limite, pois não podemos interferir na essência, cada foto é única e representa um enfoque, um olhar, um momento”, pontua.

Em 1977 o IGPA recebeu a doação do ar-quivo do documentarista e indigenista Jes-con von Puttkamer que tem, aproximada-mente, 43 mil slides, 2800 páginas de diários de campo e 1.081.060 pés de filmes referen-tes a 60 povos indígenas. Gradativamente foram incorporados ao acervo do IGPA doa-ções de filmes documentários em 16mm so-bre a Amazônia (1 milhão de pés negativos originais de câmara e 13 filmes editados) do cineasta Adrian Cowell; diários de campo, artefatos indígenas e bibliografia pelo ser-tanista Acary de Passos Oliveira, relatórios de campo do sertanista Francisco Meirelles e um conjunto de bonecas Karajá, de 1954, colecionadas pelo arqueólogo Mário Ferreira Simões. As doações prosseguem e são enri-quecidas cotidianamente pelo resultado dos trabalhos dos pesquisadores do IGPA.

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Peças arqueológicasO acervo arqueológico do IGPA é composto por peças resgatadas em trabalhos

de campo realizados por professores e pesquisadores do Instituto desde a década de 1970 até os dias atuais. As peças, provenientes dessas pesquisas, são compostas por fragmentos de vasilhames, material cerâmico e lítico (objetos líticos, como instrumentos, detritos de produção e adornos) e remanescentes ósseos humanos de pesquisas realizadas na década de 1980 e início de 1990. De acordo com a pro-fessora Rosicler Theodoro da Silva, pesquisadora do Núcleo de Arqueologia do Instituto, toda peça passa por um processo de higienização, acondicionamento e catalogação, trabalhos que são realizados no Laboratório de Arqueologia, na Área 2 da universidade.

“Cada peça é tratada como um diamante. Cada uma tem sua particularida-de”, ressalta. As peças posteriormente são analisadas e reanalisadas, de acordo

com a dinâmica da própria ciência que

exige novas abor-dagens e olhares. “Existem mate-riais que foram resgatados na década de 1980 e hoje recebem

uma nova análise, uma abordagem mais mo-derna”, ressalta a professora. Hoje o acervo arqueológico do IGPA está abrigado no Centro Cultural Jesco von Puttkammer e no laborató-rio do curso de Arqueologia. Diversas pesquisas estão em andamento e o trabalho de campo extrapola os limites da PUC: existem trabalhos de escavação na região de Caiapônia, Palesti-na de Goiás, Rio Araguaia e Serranópolis, sem mencionar nas aulas práticas ocasionadas por disciplinas do curso de Arqueologia.

ACERVO

Arquivo Rosicler Silva

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Museu Jesco von PuttkamerContar a história dos povos que antecederam

a nossa presença nas terras goianas. Esta é a prin-cipal função do Centro Cultural Jesco von Puttka-mer, localizado no setor Bueno, em Goiânia. O belo casarão guarda as memórias dos povos in-dígenas e revela, por meio de peças, utensílios e fotografias, as histórias dos principais grupos indí-genas de Goiás e do Brasil.

Fundado em 2002 pela PUC Goiás, o Centro Cultural Jesco von Puttkamer (ver perfil) tornou a casa da família alemã Puttkamer em Goiânia, re-fugiada da guerra, em um grande acervo aberto da memória indígena em Goiás e no Brasil. No lo-cal, é possível conhecer os resultados das pesquisas e parte dos acervos audiovisuais, arqueológicos e etnográficos do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA).

O atual circuito museológico é formado por cinco salas dividas nas seguintes temáticas: Família Puttkamer, Vida de Jesco, Arqueologia Pré-Históri-ca e Histórica e Povos Indígenas Brasileiros, esta última ocupa dois espaços. Segundo a museóloga Rosângela Barbosa Silva, mestre em Gestão de Patrimônio Cultural e uma das responsáveis pelo acervo do museu, as áreas destinadas à exposição devem, em breve, ser ampliadas para que o Jesco receba mostras temporárias e amplie o público visitante. “Queremos que o museu se torne um ponto turístico de Goiânia para que visitantes de fora possam reconhecer e valorizar a nossa cultura”, explica.

O Centro Cultural ainda deve ganhar espaço para exibição de filmes e interatividade com o público. O ob-jetivo da ampliação, segundo Rosângela, é abrir o acer-vo para o maior número de estudantes e professores, além de auxiliar na formação de pesquisadores das áre-as de História, Geografia, Antropologia, Arqueologia e Museologia.

Atualmente, o Museu está com a exposição Diálogos interculturais: conhecimento e tecnologia aberta para visitas gratuitas. O espaço, segundo Rosângela, pode receber visitas espontâneas em horário comercial, de segunda à sexta-feira e também visitas agendadas por escolas e grupos. No espaço, também são oferecidas oficinas di-versas sobre artesanato indígena e outras. Na progra-mação das semanas do Folclore, dos Povos Indígenas e dos Museus, a equipe sempre oferece agenda diferen-ciada, além de receber visitantes de todo o Brasil.

Rosângela explica que, mesmo diante das mesmas obras, os visitantes experimentam diferentes emoções. “O público sempre traz elementos novos. Então ao re-fazer uma visita é como voltar a um livro antigo, sem-pre temos um novo olhar para ele”, conta a museóloga, acostumada a receber estudantes e pesquisadores em visitas repetidas ao Jesco.

Além disso, o Centro Cultural conta com vasto acervo ainda inédito, que aos poucos ganha as salas do museu. São peças que remetem a cultura indígena em Goiás e no Brasil, doadas por pesquisadores ou encontradas pe-los profissionais da PUC Goiás. Segundo ela, as peças do Jesco têm o papel importante de provocar a reflexão e a discussão da vida social, das problemáticas atuais, tendo como referência a vida dos nossos antepassados.

Jesco von Puttkamer, fi-lho de Wolf Heirich von Put-tkamer e Karin Maria Eldof Holm, nasceu em 1919, em Macaé (RJ). Formou-se em química pela Universidade de Breslau, na Alemanha,

período em que viveu, como prisio-neiro, os horrores da Segunda Guerra Mundial. Fugitivo, Jesco se integrou ao programa de repatriamento de brasileiros. A fotografia surgiu em sua vida através do convite para do-cumentar os campos dos deslocados e registrar os acontecimentos no Tribu-nal de Nurenberg, feito pelo governo militar da Bavária. Foi correspondente de guerra para jornais norte-america-nos e brasileiros.

De volta ao Brasil, viajou pelo in-terior do país e participou dos encon-tros com sociedades indígenas. Jun-tamente com os irmãos Villas Boas, Francisco Meireles e outros, partici-pou das frentes de atração aos índios Txukahamãe, Txicão, Suruí, Cinta-Lar-ga, Marúbu, Kámpa, Kaxináwa, Wai-miri-Atroarí, Yanomami, Hixkaryana, Urueuwauwau e outros. Dedicou-se, por 40 anos, à arte de fotografar, fil-mar, gravar e registrar em seus diários o cotidiano de grupos indígenas.

Perfil Jesco von Puttkamer

ACERVO

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ACERVO

O legado de Adrian CowellNa primeira vez que Adrian Cowell (foto) esteve

na Amazônia, em 1957, seu objetivo era fazer um filme sobre uma montanha. Ele tinha 23 anos, e seus companheiros de viagem eram pouco mais velhos. Mas a viagem para o Monte Roraima se mostrou muito mais transformadora para a vida desse jovem britânico nascido na China, do que a aventura que ele esperava. Pelos 54 anos seguintes, Cowell viajaria com frequência para a floresta Amazônica, acompa-nhando de perto a colonização subsequente e a des-truição da floresta e dos povos indígenas. O acervo de Adrian Cowell refere-se aos 50 anos de trabalhos na região amazônica. Durante esse período, o cine-asta registrou conflitos socioambientais e culturais na Amazônia e denunciou impactos ambientais de-correntes da política desenvolvimentista do governo brasileiro nas décadas de 1970 e 1980.

“O trabalho de Cowell não é pontual ou dema-gógico, ao contrário, seus documentários revelam a sensibilidade e o engajamento político e social de um documentarista compromissado com a defesa da dignidade humana e da preservação ambiental. E na contramão da política nacional desenvolvida na década de 1960 e 1980, denunciou os conflitos so-ciais, culturais e ambientais em franca expansão na Amazônia, alertando o mundo sobre o futuro nefas-to desta região”, analisa a professora Sibeli Viana, diretora do IGPA.

Parceria com a PUC GoiásA relação de Cowell com a região Norte se efe-

tivou e intensificou por meio do Brasil Central, com seu trabalho no Xingu, a partir da década de 1980, e com sua parceria com a então Universidade Ca-tólica de Goiás, que concedeu apoio institucional para sua atuação no Brasil, sendo a coprodutora de seus documentários. O pesquisador do IGPA, Vicen-te Rios, fez parte de sua equipe e se tornou amigo pessoal e cinegrafista de todos os filmes produzidos a partir dessa época na Amazônia. A BBC de Lon-dres e a TV Central da Inglaterra também produzi-ram suas obras.

No Brasil, a obra mais conhecida de Cowell é com-posta pelos cinco filmes que compõe a Década da Destruição. Dentre eles, destaca-se o documentário Matando por Terras, filme que foi exibido pela pri-meira vez no Brasil, em julho deste ano, na Mostra Cine Sesc, em São Paulo e também será exibido na Semana de Ciência e Tecnologia da PUC Goiás, em outubro. O acervo de Adrian, composto por cerca de 3 mil latas de filmes, foi doado à PUC Goiás pelo próprio documentarista em vida. O material está em mobiliário adequado, em processo de incorporação e, dado o seu volume, estão em fase de andamento as etapas de troca de embalagens, limpeza, organi-zação sistemática, etiquetagem e alimentação do sis-tema do banco de dados.

Goiânia, setembro de 2012 11PRÊMIOS

Trabalho desenvolvido pelo instituto é reconhecido pela Unesco

A inestimável importância histórica, antropológica, documental e científica do acervo do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) foi destacada por duas vezes pela Unesco. Em 2009, recebeu o selo Memó-ria do Brasil, que integra o Programa Memória do Mun-do. Em 2011, dentro do mesmo projeto, foi reconheci-do como Memória da América Latina e Caribe. Agora, o IGPA pleiteia o reconhecimento como Patrimônio da Humanidade.

Além disso, o Instituto foi selecionado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) no Edital de Pre-servação. Entre 300 projetos, a instituição escolheu 19 e o IGPA ficou em segundo lugar. Por meio desse edital, será adquirido o Sistema Mediaportal, composto por um conjunto de equipamentos, hardwares e softwares, que serão utilizados na gestão da informação e digitalização do acervo. O Sistema, também utilizado pela Nasa e ou-tras grandes universidades, oferece segurança intensa contra perda de arquivos.

A responsável pelo acervo fílmico da IGPA, Fernan-da Elisa Costa Resende, explica que o sistema é o mes-mo utilizado pelos bancos. Ele armazena em LTO e tem durabilidade alta. “Nós retardamos o processo de en-velhecimento, mas ele não para”, esclarece Fernanda. Ela informa que o Instituto trabalha na preservação do acervo, que fica armazenado em ambiente climatizado constante e com baixa umidade. Parte do arquivo já foi digitalizado com recursos da PUC Goiás e via parceria com a Cinemateca Brasileira.

Goiânia, setembro de 201212RESPONSABILIDADE

Compromisso e respeito às culturas indígenas

Desde o início, na década de 1970, o IGPA já tinha uma preo-cupação voltada para o âmbito da antropologia, quando assumia como compromisso a causa dos po-vos indígenas no Brasil, de modo especial os de Goiás, a partir do respeito às suas culturas e o for-talecimento de suas identidades e autonomia. Com a incorporação do acervo audiovisual do professor Jesco von Puttkamer, em 1978, às ações do IGPA, o Instituto formou e capacitou profissionais para traba-lhar na preservação, conservação e identificação do material, criando, a partir daí, a Área de Etnologia, que, posteriormente, foi transfor-mada em Núcleo de Antropologia.

Os pesquisadores participaram dos primeiros contatos com povos indígenas, até então desconheci-dos, como os Uru-Eu-Wau-Wau, na região Amazônica e os Avá-Cano-eiros, em Goiás. Logo depois, surgi-ram as pesquisas etnográficas com

Atento às questões que envol-vem a problemática dos povos indí-genas e com o intuito de divulgar suas lutas e reivindicações, o IGPA realiza, há quatro décadas, a Sema-na dos Povos Indígenas (SPI), que, outrora denominava-se Dia Na-cional do Índio e, posteriormente, Semana do Índio. Assim, são pro-porcionados encontros, debates, mesas-redondas, oficinas e rodas de conversas com estudantes do ensino superior, professores e lide-ranças dos povos indígenas, antro-pólogos, sociólogos, educadores, indigenistas e outros profissionais estudiosos da questão indígena, para fortalecer espaços de expres-são pelos quais os múltiplos atores sociais, entre eles a universidade, possam debater e viabilizar possi-bilidades de subsistência digna e sustentável dos povos indígenas no território nacional.

As edições do evento abordam diversos temas, entre eles, o diálogo intercultural, a troca de experiên-cias sobre as questões que afetam a vida dos povos indígenas, a de-fesa de seus territórios, educação, saúde, meio ambiente, memória e cultura. “ O intuito é expor anseios e desejos, ideias e soluções viáveis

Semana dos Povos Indígenas

os grupos Karajá (Ilha do Bananal e Aruanã), Avá-Canoeiro e, poste-riormente, com os Tapuios do Car-retão, trabalhos que resultaram em monografias, dissertações e teses de doutorado. “As pesquisas estão direcionadas também para o estudo das relações entre história, patrimônio, memória e identida-de de grupos sociais minoritários, investigando as dinâmicas de sua produção, reprodução e transfor-mação dos saberes tradicionais, em contextos rurais e urbanos”, ressal-ta a pesquisadora Marlene Ossami, do Núcleo de Antropologia do Ins-tituto. Entre estes estudos foram realizadas pesquisas com meninos em situação de rua, portadores de necessidades especiais, catadores de lixo e vítimas do Césio 137. O Núcleo de Antropologia, além da pesquisa, ministra disciplinas de antropologia cultural, social, jurí-dica e das organizações para dife-rentes cursos da PUC Goiás.

em busca de uma vida sustentável e de inclusão para todos”, explica a professora Marlene. O evento con-ta com a presença participativa e in-tegradora de representantes indíge-nas de diferentes etnias e de várias partes do Brasil, como Tapuio, Kara-já, Xerente, Apinajé, Krahó, Krahó--Canela, Guarani, Xavante, Kayapó do Sul, Makuxi, entre outros.

A repercussão do evento extra-polou os limites da PUC Goiás e conta com diversos parceiros, entre eles o Conselho Indigenista Missio-nário (CIMI), Secretaria Estadual de Educação (SEE)/Superintendências de Ensino Fundamental e Médio/GO, Ministério Público Federal/GO, Secretaria de Estado de Polí-ticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira), Syste-ma Naturae Consultoria Ambiental Ltda (Naturae), entre outros.

O trabalho realizado pelo IGPA sobre as culturas indígenas será publicado pelo Vaticano. O proje-to foi o único escolhido em toda a América Latina pela Congregação para a Educação Católica e será pu-blicado em um livro internacional sobre boas práticas de intercultu-ralidade nas instituições de Educa-ção Católica.