módulo racismo

46
PIBID Programa de Iniciação à Docência PROJETO BASE ARTÍSTICA E REFLEXIVA PROFESSORAS: BRUNA MARIA, GORETTE ANDRADE, HAIANY LEÔNCIO, MILENA DAFFANI, STEFANIE NASCIMENTO MÓDULO I Cultura Afro: a África está em nós!

Upload: bruna-maria

Post on 24-Jul-2015

100 views

Category:

Education


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Módulo Racismo

PIBIDPrograma de Iniciação à Docência

PROJETO

BASE ARTÍSTICA E REFLEXIVA

PROFESSORAS: BRUNA MARIA, GORETTE ANDRADE,

HAIANY LEÔNCIO, MILENA DAFFANI, STEFANIE NASCIMENTO

MÓDULO I

Cultura Afro: a África está em nós!

ALUNO(A):____________________________________________________________

Page 2: Módulo Racismo

2

ELE QUEM MESMO?1

(Martha Medeiros)

Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo:"olha, não dá mais".

Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo?Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu: "mas agora eu to comendo um lanche com amigos".

Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele.

Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim?

Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema.

Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta.

E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia.

Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito.

Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz com você mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve.

Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu.

Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos e filha única!Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.

Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida.

Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida.Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei

meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo Antônio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro,

1 Disponivel em: <http://www.senado.gov.br/senado/portaldoservidor/jornal/jornal93/mania_escrever2.aspx>.

Page 3: Módulo Racismo

3

astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris.

Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha.

Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar.

Resultado disso tudo: silêncio absoluto.O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo

ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele.Até que algo sensacional aconteceu.Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que eu

acabei me tornando Mulher demais para ele. Ele quem mesmo?

ILÊ PÉROLA NEGRA2

(Daniela Mercury)

O canto do negro veio lá do alto

É belo como a íris dos olhos de Deus, de Deus

E no repique, no batuque, no choque do aço

Eu quero penetrar no laço afro que é meu, e seu

Vem cantar meu povo, vem cantar você

Bate os pés no chão moçada

E diz que é do ilê a yê

Lá vem a negrada que faz o astral da avenida

Mas que coisa tão linda, quando ela passa me faz chorar (bis)

Tú és o mais belo dos belos, traz paz, riqueza

Tens o brilho tão forte por isso te chamo de pérola negra (bis)

Êêê, pérola negra

Pérola negra ilê a yê, ilê a yê

Minha pérola negra (bis)

Lá vem a negra que faz o astral da avenida...

2 Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/daniela-mercury/ile-perola-negra.html>.

Page 4: Módulo Racismo

4

Com sutileza cantando e encantando a nação

Batendo bem forte cada coração

Fazendo subir a minha adrenalina

Como dizia Buziga

É de mim

Em me pé nagô de ilê

É de mim

Em me pé nagô de ilê a yê

Êêê, pérola negra…

VOCÊ SABE O QUE É UMA HASTAG?!3

Para saber usar a hashtag é preciso entender o que elas são. A hashtag é uma palavra-chave procedida do símbolo # e serve para marcar algum assunto nas redes sociais. A hashtag ajuda a localizar tudo que foi escrito sobre o assunto, pois ela transforma a palavra-chave em Hiperlink. Resumindo, ao colocar o símbolo # na frente de uma palavra, ela vira um link que irá mostrar todas as postagens públicas da mesma rede social que utilizaram a mesma hashtag.

Tudo começou no Twitter, e de repente lá estavam elas no Facebook, Instagram, Tumblr entre outras redes sociais. Com a popularização dessa ferramenta, o

3 Disponível em: < http://blog.agenciahive.com.br/hashtag/>.

Page 5: Módulo Racismo

5

site Mashable criou algumas dicas para você não errar na hora de usá-las. Confira as dicas:

● Não exagere nas #hashtag.Use hashtag com moderação! Pessoas que exageram não são muito bem vistas, e

é chato ver postagens com centenas de #hashtags● Sem relação com assunto.

Postar foto de comida e #sol #nuvem #céu #carro, por exemplo, vai contra a principal finalidade da ferramenta, além de desorganizar uma certa categoria, dá impressão de que a pessoa quer chamar atenção.

● Criar # para quase todas as palavras.#Desde #quando #passamos #a #falar #dessa #forma? Fica muito confuso botar

hashtag em todas as palavras.● Hashtag gigante.

Escrever mais de uma palavra para uma # não tem problema, mas quando alguém junta várias palavras, fica feio e ninguém consegue entender nada. Tente fazer uma # curta.

● Pesquise a # mais apropriada para cada rede social.Usar uma hashtag que está bombando no Twitter não significa que quando for

usar ela no Instagram irá garantir bons resultados. Quando for usar as # pesquise antes, veja o que está sendo falado em cada uma das redes sociais.

Agora que você já aprendeu a usar, corre lá e bombe suas redes sociais! #BoaSorte.

CAMPANHA ‘#SOMOSTODOSMACACOS’ DIVIDE OPINIÕES NA INTERNET4

Campanha iniciada por Neymar causou polêmica nas redes sociais

Por Philippe Azevedo

A campanha #somostodosmacacos levantada pelo jogador Neymar ganhou uma repercussão imensa após Daniel Alves comer uma banana atirada por torcedores racistas durante o jogo entre Barcelona e Villareal.

No entanto, a campanha dividiu a opinião de internautas e famosos. De um lado, Claudia Leitte, Michel Teló, Luciano Huck, jogadores brasileiros, entre outros, aderiram a hastag #somostodosmacacos.

4 Disponível em: < http://www.portaldenoticia.com/campanha-somostodosmacacos-divide-opinioes-na-internet/>.

Page 6: Módulo Racismo

6

Por outro lado, grupos que lutam contra o racismo, como o rapper Emicida, não gostaram da expressão e decidiu iniciar uma nova campanha: #nãosoumacaco. “Eu não sou um macaco. As pessoas que são humilhadas no dia a dia por racistas que permanecem impunes achando na rua achando que é ela, também não (sic)”, disse o rapper no Twitter.

O assunto rendeu ainda mais polêmica quando a agência de publicidade Loducca revelou que foi responsável pela hastag, criada em março quando Neymar foi vítima de racismo, e aguardavam o momento oportuno para lança-la.

Page 7: Módulo Racismo

7

#SOMOS TODOS MACACOS COISA NENHUMA5

Por : Marcos Sacramento

A reação foi rápida. Horas depois de Daniel Alves reagir com maestria a uma provocação racista, Neymar postou no Instagram uma foto segurando uma banana com a hashtag “somostodosmacacos”. O protesto viralizou e ganhou a adesão de famosos: Luciano Huck e Angélica, Ivete Sangalo, Alexandre Pires e até Inri Cristo posaram com a banana.

5 Disponível em: < http://www.diariodocentrodomundo.com.br/somos-todos-macacos-coisa-nenhuma/>.

Page 8: Módulo Racismo

8

Seria tudo lindo e altruísta não fossem duas coisas.A primeira é que nós, negros e pardos, não somos e nem gostamos de ser

chamados de macacos. Chamar uma pessoa de cor de macaco é um dos xingamentos mais comuns e cruéis. Coloca o negro em uma posição subalterna em relação ao branco, ao aludir a um animal que apesar de semelhante aos humanos está alguns andares abaixo na escala evolutiva. É pesado e cheio de subtextos, diferente de “tição”, por exemplo, que alude só ao tom da pele.

Admitir que “somos todos macacos” é uma defesa equivocada e perigosa. Equivocada porque nenhum racista questiona que os humanos são primatas. Perigosa porque traz o significado implícito de que somos todos iguais, mas para combater o racismo de frente é melhor destacar as diferenças.

O outro problema é que o movimento “Somos todos macacos” não foi tão espontâneo. A sacada de Neymar na verdade já estava planejada por uma agência de publicidade. Até aí tudo bem, porque as ofensas são tão corriqueiras que não surpreende deixar uma resposta pronta.

Só que hoje a grife do Luciano Huck lançou a camisa referente à campanha. Com uma estampa fazendo referência à manjada banana de Andy Warhol, está sendo vendida a 69 reais. A imagem promocional mostra um casal de modelos brancos.

Daniel Alves protestou com espontaneidade e irreverência. Seu ato já pode ser considerado um marco na luta contra o racismo no futebol. Mas não significa que devemos dar de ombros para o racismo e achar que a melhor saída é ignorar a ofensa.

Ele fez o melhor que possível naquele momento, em pleno campo e antes de cobrar um escanteio.

Foi notícia no mundo inteiro e o problema do racismo voltou para a agenda de discussão sem a necessidade de hashtags artificiais e famosos forçando semblante indignado no Instagram.

Aí vem a tal campanha e na cola dela uma camisetinha bem oportunista, sem buscar questionamentos mais elaborados sobre a questão racial. Tudo bem superficial, na velocidade das redes sociais, sem se prender a questões mais profundas como defender cotas raciais ou questionar porque morrem mais negros do que brancos por causas violentas.

Talvez porque, como eles dizem, “somos todos macacos”, ou seja, iguais, e racismo é uma coisa de idiotas que estão lá do outro lado do mundo.

ONDE VOCÊ GUARDA SEU RACISMO?6

6 Disponível em: <http://nossocoletivonegro.blogspot.com.br/p/campanha-onde-voce-guarda-o-seu-racismo.html>.

Page 9: Módulo Racismo

9

Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo mostrou que grande parte dos brasileiros - 87% - admite que há discriminação racial no país, mas apenas 4% da

população se considera racista.

Há racismo sem racistas?

A campanha Onde você guarda o seu racismo? tem o objetivo de provocar uma reflexão individual e, principalmente, conscientizar a população de que a luta contra o preconceito racial é responsabilidade de todas/os.

"O racismo só se manifesta diretamente? Não e não! Agressões físicas e verbais diretas manifestam racismo sim, mas não só elas. Falta de representação é racismo violento! Desamor e desafeto também! Negação da história de um povo também é! Olhares, emanações, expressões, diversas formas de tratamento podem ser racismo que, se somado ao longo da vida, mata trajetórias e gera incríveis feridas em toda uma população, tolhe seu caminho. Todo um leque de ação no mundo vê e trata a/o sujeita/o negra/o como alvo de violações, ainda que de forma supostamente velada e inconsciente."

(Natália Maria Alves Machado, "Mulheres Negras e Relações Afetivas: novas linguagens hão de ser sentidas!". NOSSO JORNAL 2ª Edição: Suplemento Mulheres Negras, página 07).

RACISMO

(Luís Fernando Veríssimo)

Page 10: Módulo Racismo

10

- Escuta aqui, ó criolo…- O que foi?- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.- E não existe?- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca… É, não adianta. Negro quando não faz na entrada…- Mas aqui existe racismo.- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia… E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!- Eu insisto, aqui tem racismo.- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?- Não, mas…- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?- Eu sei, mas…- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.- Mas isso é racismo.- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.- Sim, mas…- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.- Pois é, mas…- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.- Pois então. O …- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.- Mas…- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.- É, mas…

Page 11: Módulo Racismo

11

- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.- Sim, mas…- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.

IDENTIDADE 

(José Carlos Limeira)

Houve um tempo em queconstava de sua carteirao dado corna minha: pardaescuracabeloscarapinhados.

Diante do espelho, me perguntoque faço com estes lábios grossos,este nariz achatado?Que faço com esta memóriade tantos grilhões,destas crenças me lambendo as entranhas?

Será que não é demais não ter o direitode ser negro?Causa espanto?Pardaescura é o aspecto que vocês deramà nossa história.

Morra de susto!Sou, vou sempre ser: NEGRO!ENE, É, GÊ, ERRE, Ô.Aqui, Ô!

In: Atabaques

MALCOLM X e MARTIN LUTHER KING7

7 Disponível em: < http://auggusto.blogspot.com.br/2009/04/malcolm-x-e-martin-luther-king.html>.

Page 12: Módulo Racismo

12

Dois líderes negros e duas formas diferentes de lutar pelos direitos dos negros americanos.

Por Luiz Augusto

Malcolm X e Marthin Luther King foram dois líderes negros mundiais. Lutaram por suas convicções e incanssávelmente pelos direitos civis dos negros norte americanos na década de 60, mas percorreram caminhos diferentes para terem a consideração, conceito, idolatria por de alguns e reconhecimento e respeito por muitos.Malcolm X teve uma adolescência problemática por causa de seus problemas com a Lei.

Foi preso e dentro da prisão se converteu ao Islamismo e quando saiu começou a militar contra a segregação racial no Estados Unidos, possuía um discurso radical e extremista diante da supremacia branca e dos conflitos raciais que abalava o país naquele momento.

Já Martin Luther King diferentemente de seu "companheiro" de luta teve uma vida mais tranquila. Era pastor protestante, ativista político e formado em sociologia, tinha ideias pacifistas, um discursos paz e amor ao próximo, uma campanha de não violência, lutava com ações pacifistas, sonhava com integração racial entre negros e brancos e chegou a ganhar o Prêmio Nobel da paz em 1964.

Modos diferentes de lutar e fim trágico

O que os diferenciava também era a religião que cada um seguia, Martim L.King era da igreja protestante e Malcolm X era convertido ao islamismo. Duas pregações totalmente diferentes. Mas era na religião que eles encontravam forças para lutar contra o racismo e a opressão da maioria branca de seu país.

Ambos lutaram pelo direitos dos afrodescendentes norte americanos cada um a seu modo sem parar, e tiveram a morte como premio, os dois foram brutalmente assassinados aos 39 anos.

Page 13: Módulo Racismo

13

KU KLUX KLAN - O que é isso?8

Cartaz da época, com o qual os membros da Ku Klux Klan propagavam sua seita e recrutavam novos integrantes.

Por Demercino Júnior

Em 1865, no sul dos Estados Unidos, surgiu um grupo de racistas, que se vestiam com roupas brancas e capuzes, montavam cavalos e perseguiam negros (ex-escravos, libertos na Guerra de Secessão) e seus defensores, denominado Ku Klux Klan.

Formada por jovens veteranos da Confederação Sulista (Calvin Jones, Frank McCord, Richard Reed, John Kennedy, John Lester e James Crowe) com o intuito de prolongar a fraternidade das armas, a Ku Klux Klan se tornou grande com o decorrer do tempo, abrangendo outros estados. O nome vem do grego “kuklos”, que significa círculo.

O que começou como uma brincadeira tomou proporções maiores à medida que jovens racistas ouviram falar do clã e se filiaram. Divertiam-se aterrorizando os negros, estes detestados pelos membros do clã por serem “preguiçosos, inconstantes e

8 Disponível em: < http://www.brasilescola.com/historiag/ku-klux-klan.htm>.

Page 14: Módulo Racismo

14

economicamente incapazes e, por natureza, destinados à escravidão1”. Também atacavam brancos que protegiam os negros, principalmente os professores que lecionavam em escolas para negros, temendo que os negros se instruíssem, tornando impossível a volta à escravidão.

A identidade dos membros do clã não era divulgada, uma vez que vestiam roupas brancas e cobriam o rosto com capuzes. Para entrar na seita, o candidato era fechado em um tonel e empurrado ladeira abaixo. A seita foi se espalhando e uma filial foi montada no Alabama, onde foi introduzido pela primeira vez o castigo físico aos negros. Além da prática racista, os klanistas faziam visitas-surpresa aos negros, obrigando-os a votar nos democratas, acompanhadas de algumas chibatadas. Em consequência dos excessos, o grupo foi posto na ilegalidade em 1871 pelo então presidente estadunidense Ulysses Grant. Muitos racistas foram presos e, para escapar da lei, fundaram outros clãs com a mesma proposta e alcunhas diferentes: White League, Shot Gun Plan, Rifle Club, entre outros. A Ku Klux Klan foi desfeita.

Em 1915, o cineasta Griffith dirigiu um filme intitulado “O nascimento de uma nação”. Nesse filme, o diretor não escondeu sua simpatia pelo clã. Motivados pela película, vários racistas se reuniram e retomaram a seita, dessa vez perseguindo, além de negros, judeus e estrangeiros. Estima-se que, a partir desse momento, o número de klanistas chegou a cinco milhões. Com a crescente, o grupo se fortaleceu e ganhou mais simpatizantes, estes mesmos que se julgavam os defensores da moral. Agora eles também caçavam médicos charlatões, prostitutas e marginais. Suas vítimas eram marcadas com três letras K na testa. A situação chegou a um ponto tão extremo que o governo interveio, aprovando a lei antimáscara, que proibia o uso de máscaras fora do Dia de Todos os Santos e do carnaval. O clã foi perdendo forças, alguns integrantes foram amadurecendo, e a mentalidade foi mudando até que o clã se desfez novamente.

Nos dias atuais, alguns racistas ainda se reúnem em grupos, promovendo a superioridade dos arianos. Mas, em termos de contingente, não se compara com o auge do clã, no século XIX. Felizmente!

EU TENHO UM SONHO9

(Martin Luther King)

Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

9 Disponível em: < http://somostodosum.ig.com.br/blog/b.asp?id=09800>.

Page 15: Módulo Racismo

15

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Page 16: Módulo Racismo

16

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."

28 de agosto de 1963

OLHOS COLORIDOS

(Sandra de Sá)

Os meus olhos coloridos Me fazem refletir

Page 17: Módulo Racismo

17

Eu estou sempre na minha

E não posso mais fugir...

Meu cabelo enrolado

Todos querem imitar

Eles estão baratinado

Também querem enrolar...

Você ri da minha roupa

Você ri do meu cabelo

Você ri da minha pele

Você ri do meu sorriso...

A verdade é que você

(Todo brasileiro tem!)

Tem sangue crioulo

Tem cabelo duro

Sarará, sarará

Sarará, sarará

Sarará crioulo...

Sarará crioulo

Sarará crioulo...(2x)

Os meus olhos coloridos

Me fazem refletir

Que eu tô sempre na minha

Não! Não!

Não posso mais fugir

Não posso mais!

Não posso mais!

Não posso mais!

Não posso mais!

Meu cabelo enrolado

Todos querem imitar

Eles estão baratinados

Também querem enrolar...

Cê ri! Cê ri! Cê ri!

Cê ri! Cê ri!

Cê ri da minha roupa

Cê ri do meu cabelo

Cê ri da minha pele

Cê ri do meu sorriso...

Mas verdade é que você

(Todo brasileiro tem!)

Tem sangue crioulo

Tem cabelo duro

Sarará, sarará

Sarará, sarará

Sarará crioulo...

Sarará crioulo

Sarará crioulo...(3x)

INCIDENTE NA RAIZ

(Cuti)

Jussara pensa que é branca. Nunca lhe disseram o contrário. Nem o cartório.

Page 18: Módulo Racismo

18

No cabelo crespo deu um jeito. Produto químico e fim! Ficou esvoaçante e submetido diariamente a uma drástica auditoria no couro cabeludo para evitar que as raízes pusessem as manguinhas de fora. Qualquer indício, munia-se de pasta alisante, ferro e outros que tais e...

O nariz, já não havia nenhuma esperança de eficácia no método de prendê-lo com pregador de roupa durante horas por dia. A prática materna não dera certo em sua infância. Pelo contrário, tinha-lhe provocado algumas contusões de vasos sanguíneos.

Agora, já moça, suas narinas voavam mais livremente ao impulso da respiração. Detestava tirar fotografias frontais. Preferia de perfil, uma forma paliativa, enquanto sonhava e fazia economias para realizar operação plástica.

E os lábios? Na tentativa de esconder-lhes a carnosidade, adquirira um cacoete – já apontado por amigos e namorados (sempre brancos) – de mantê-los dentro da boca.Sobre a pele, naturalmente bronzeada, muito creme e pó para clarear.

Lá um dia, veio alguém com a notícia de “alisamento permanente”. Era passar o produto nos cabelos uma só vez e pronto, livrava-se de ficar de olho nas raízes. Um gringo qualquer inventara a tal fórmula. Cobrava caro, mas garantia o serviço. Segundo diziam, a substância alisava a nascente dos pêlos. Jussara deixou-se influenciar. Fez um sacrifício nas economias, protelou o sonho da plástica e submeteu-se.

Com as queimaduras químicas na cabeça, foi internada às pressas, depois de alguns espasmos e desmaios.

Na manhã seguinte, ao abrir com dificuldade os olhos, no leito de hospital, um enfermeiro crioulo perguntou-lhe:

- Tá melhor, nêga?Ela desmaiou de novo.

10

LEILA LOPES (MISS UNIVERSO 2011)

10 Disponível em: <http://trancanago.blogspot.com.br/2010/10/debora-dos-santos-profissao-ilustradora.html>.

Page 19: Módulo Racismo

19

LUPITA (DO FILME 100 ANOS DE ESCRAVIDÃO)

Page 20: Módulo Racismo

20

CANTORA NIGERIANA TORNA-SE BRANCA APÓS O USO DE COSMÉTICOS QUE ALTERAM PIGMENTO DA PELE11

FONTE: JORNAL CIÊNCIA

Nas fotografias, aparece sua mudança radical: ela passou de um marrom saudável para um branco pálido, usando sua própria marca de clareamento de pele, um creme chamado Whitenicious.

O produto cosmético controverso lhe trouxe muitas críticas por causa do que ela representa, mas ela tem apenas uma resposta para silenciar seus críticos: "Eu não me importo, porque são eles que estão me trazendo dinheiro.".

Whitenicious é vendido como um removedor de manchas escuras e clareia a pele eficazmente em apenas sete dias. O creme se tornou bastante popular na África Ocidental, onde algumas mulheres estão simplesmente obcecadas com a cor de sua pele. E de acordo com Denica, ela não acha que está incentivando as pessoas a mudarem: ela está apenas dando às meninas o que elas querem. "Essas meninas não estão somente tentando clarear a pele. Elas estão apenas tentando se livrar de pequenas coisas que estão fazendo com que se sintam desconfortáveis, sabe?", disse ela, referindo-se às manchas escuras.

Denica também tentou se justificar, explicando que muitos de seus clientes foram afro-americanos, e não africanos. Os críticos não estão aceitando sua explicação também. Ela foi especialmente criticada por mudar o seu próprio tom de pele como uma jogada de marketing. Seu antes e depois nas fotos mostram uma transformação quase inacreditável. 

11 Reportagem disponível em: <http://www.primeirahora.com.br/noticia/99289/cantora-nigeriana-torna-se-branca-apos-o-uso-de-cosmeticos-que-alteram-pigmento-da-pele>.

Page 21: Módulo Racismo

21

 Muitas pessoas sentem que o que ela está fazendo é fundamental para

promover o auto-ódio entre os jovens africanos negros. Quando o produto foi lançado em janeiro, uma pessoa chegou a responder no Twitter: "Este creme #whitenicious de vocês é uma abominação e cria mais insegurança entre as mulheres em todo o mundo".

Entretanto, parece que a pop star não está muito preocupada com isso. "Quando você tira a foto e você coloca em comparação com uma foto minha mais escura, é isso que você está dizendo às pessoas: que o produto realmente funciona. E adivinhem? As pessoas realmente querem comprá-lo. É o que é. Eu realmente não me importo", ela admitiu.

Denica também é rápida em apontar que a maioria das mulheres não usaria Whitenicious para mudar seu tom de pele completamente, por conta do seu alto preço. O pote pequeno custa em média R$ 130 e o grande, R$ 320. "Eu não consigo ver ninguém gastar todo esse dinheiro para branquear toda a sua pele”, disse. "Tenho clientes que chegam na loja e compram coisas de mais de R$ 4 mil? Sim, eu tenho. Eu pergunto-lhes o que eles querem fazer com ele? Não, eu não me importo, pois é o dinheiro deles, é como eles querem gastá-lo.".

Ela nem parece muito preocupada com a possibilidade do creme ser canceroso. Quando avisada sobre isso, ela se mostrou completamente imperturbável: "Mas adivinhem? O ar que você respira lá fora faz com que você tenha câncer. Tudo no mundo faz com que as pessoas tenham câncer”.

"Whitenicious é o que é", disse ela simplesmente.

Page 22: Módulo Racismo

22

PROPAGANDA 1: "MEU CABELO NÃO É RUIM!"

TIRINHA 1: MAFALDA

TIRINHA 2: MAFALDA

Page 23: Módulo Racismo

23

O EMBONDEIRO QUE SONHAVA PÁSSAROS

[Mia Couto, Cada Homem é uma Raça]

Pássaros, todos os que no chão desconhecem morada.

Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma memória será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade, seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida. Talvez, por razão disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O vendedor de pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome. Chamavam-lhe o passarinheiro. Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos carregando suas enormes gaiolas. Ele mesmo fabricava aquelas jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir de prisão. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas, os pássaros esvoavam suas cores repentinas. À volta do vendedeiro, era uma nuvem de pios, tantos que faziam mexer as janelas: - Mãe, olha o homem dos passarinheiros! E os meninos inundavam as ruas. As alegrias se intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças. O homem puxava de uma muska (Muska - nome que, em chissena, se dá à gaita-de-beiços.) e harmonicava sonâmbulas melodias. O mundo inteiro se fabulava.Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos - aquele preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar. Contudo, os pássaros tão encantantes que são - insistiam os meninos. Os pais se agravavam: estava dito. Mas aquela ordem pouco seria desempenhada. Mais que todos, um menino desobedecia, dedicando-se ao misterioso passarinheiro. Era Tiago, criança sonhadeíra, sem outra habilidade senão perseguir fantasias. Despertava cedo, colava-se aos vidros, aguardando a chegada do vendedor. O homem despontava e Tiago descia a escada, trinta degraus em cinco saltos. Descalço, atravessava o bairro, desaparecendo junto com a mancha da passarada. O sol findava e o menino sem regressar. Em casa de Tiago se poliam as lástimas: - Descalço, como eles. O pai ambicionava o castigo. Só a brandura materna aliviava a chegada do miúdo, em plena noite. O pai reclamava nem que fosse esboço de explicação: - Foste a casa dele? Mas esse vagabundo tem casa? A residência dele era um embondeiro, o vago buraco do tronco. Tiago contava: aquela era uma árvore muito sagrada, Deus a plantara de cabeça para baixo. - Vejam só o que o preto anda a meter na cabeça desta criança. O pai se dirigia à esposa, encomendando-lhe as culpas. O menino prosseguia: é verdade, mãe. Aquela árvore é capaz de grandes tristezas. Os mais velhos dizem que o embondeiro, em desespero, se suicida por via das chamas. Sem ninguém pôr fogo. É verdade, mãe. - Disparate - suavizava a senhora. E retirava o filho do alcance paterno. O homem então se decidia a sair, juntar as suas raivas com os demais colonos. No clube, eles todos se aclamavam: era preciso acabar com as visitas do passarinheiro. Que a medida não podia ser de morte matada, nem coisa que ofendesse a vista das senhoras e seus filhos. O remédio, enfim, se haveria de pensar.No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre

Page 24: Módulo Racismo

24

invasão. Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia aves de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às suas cores, seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste verídico mundo. O vendedor se anonimava, em humilde desaparecimento de si: - Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas todas de fora. Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele tão maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já desbravado os mais extensos matos? O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os senhores receavam as suas próprias suspeições - teria aquele negro direito a ingressar num mundo onde eles careciam de acesso? Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o tipo dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam. Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos pequenos, a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro foi virando assunto no bairro do cimento. Sua presença foi enchendo durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se comprava, as casas mais se repletavam de doces cantos. Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros desautenticavam os residentes, estrangeirando-lhes? Ou culpado seria aquele negro, sacana, que se arrogava a existir, ignorante dos seus deveres de raça? O comerciante devia saber que seus passos descalços não cabiam naquelas ruas. Os brancos se inquietavam com aquela desobediência, acusando o tempo. Sentiam ciúmes do passado, a arrumação das criaturas pela sua aparência. O vendedor, assim sobremisso, adiantava o mundo de outras compreensões. Até os meninos, por graça de sua sedução, se esqueciam do comportamento. Eles se tornavam mais filhos da rua que da casa. O pãssarinheiro se adentrara mesmo nos devaneios deles: - Faz conta eu sou vosso tio. As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se em outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes aparentes. - Tio? Já se viu chamar de tio a um preto? Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infinita alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não saem mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas pálpebras. Parecia a ordem já governava. Foi quando surgiram as ocorrências. Portas e janelas se abriam sozinhas, móveis apareciam revirados, gavetas trocadas. Em casa dos Silvas: - Quem abriu este armário? Ninguém, ninguém não tinha sido. O Silva maior se indignava: todos, na casa, sabiam que naquele móvel se guardavam as armas. Sem vestígios de força quem podia ser o arrombista? Dúvida do indignatário. Em casa dos Peixotos: - Quem espalhou alpista na gaveta dos documentos? O qual, ninguém, nenhum, nada. O Peixoto máximo advertia: vocês muito bem sabem que tipo de documentos tenho aí guardados. Invocava suas secretas funções, seus sigilosos assuntos. O alpisteiro que se denunciasse. Merda da passarada, resmungava. No lar do presidente do município: - Quem abriu a porta dos pássaros? Ninguém abrira. O governante, em desgoverno de si: ele tinha surpreendido uma ave dentro do armário. Os sérios requerimentos municipais cheios de caganitas. - Vejam este: cagado mesmo na estampilha oficial. No somado das ocorrências, um geral alvoroço se instalou no bairro. Os colonos se reuniram para labutar em decisão. Se juntaram em casa do pai de Tiago. O menino iludiu a cama, ficou na porta escutando as graves ameaças. Nem esperou escutar a sentença. Lançou-se pelo mato, rumo ao embondeiro. O velho lá estava ajeitando-se no calor de uma fogueira. - Eles vem aí,

Page 25: Módulo Racismo

25

vêm-te buscar. Tiago ofegava. O vendedor não se desordenou: que já sabia, estava à espera. O menino se esforçava, nunca aquele homem lhe tivera tanto valor. - Foge, ainda dá tempo. Mas o vendedor se confortava, em sonolentidão. Sereno, entrou no tronco e ali se ademorou. Quando saiu já vinha gravatado, de fato mesungueiro (Mesungueiro - de “mesungo”, homem branco). De novo, se sentou, limpando as areias por baixo. Depois, ficou varandeando, retocando o horizonte. - Vai, menino. É noite. Tiago deixou-se. Espreitava o passarinheiro, aguardando o seu gesto. Ao menos, o velho fosse como o rio: parado mas movente. Enquanto não. O vendedeiro se guardava mais em lenda que em realidade. E porquê vestiste o fato? Explicou: ele é que era natural, rebento daquela terra. Devia de saber receber os visitantes. Lhe competia o respeito, deveres de anfitrião. - Agora, você vai, volta na sua casa. Tiago levantou-se, difícil de partir. Olhou a enorme árvore, conforme lhe pedisse protecção. - Está a ver a flor? - perguntou o velho. E lembrou a lenda. Aquela flor era moradia dos espíritos. Quem que fizesse mal ao embondeiro seria perseguido até ao fim da vida.Barulhosos, os colonos foram chegando. Cercaram o lugar. O miúdo fugiu, escondeu-se, ficou à espreita. Ele viu o passarinheiro levantar-se, saudando os visitantes. Logo procederam pancadas, chambocos, pontapés. O velho parecia nem sofrer, vegetável, não fora o sangue. Amarram-lhe os pulsos, empurraram-lhe no caminho escuro. Os colonos foram atrás deixando o menino sozinho com a noite. A criança se hesitava, passo atrás, passo adiante. Então, foi então: as flores do embondeiro tombaram, pareciam astros de feltro. No chão, suas brancas pétalas, uma a uma, se avermelharam. O menino, de pronto, se decidiu. Lançou-se nos matos, no encalço da comitiva. Ele seguia as vozes, se entendendo que levavam o passarinheiro para o calabouço. Quando se ensombrou por trás do muro, no próximo da prisão, Tiago sufocava. Valia a pena rezar? Se, em volta, o mundo se despojara das belezas.E, no céu, tal igual o embondeiro, já nenhuma estrela envaidecia. A voz do passarinheiro lhe chegava, vinda de além-grades. Agora, podia ver o rosto de seu amigo, o quanto sangue lhe cobria. Interroguem o gajo, espremam-no bem. Era ordem dos colonos, antes de se retirarem. O guarda continenciou-se, obediente. Mas nem ele sabia que segredos devia arrancar do velho. Que raivas se comprovavam contra o vendedor ambulante? Agora, sozinho, o retrato do detido lhe parecia isento de suspeita. - Peço licença de tocar. É uma música da sua terra, patrão. O passarinheiro ajeitou a harmónica, tentou soprar. Mas recuou da intenção com um esgar. - Me bateram muito-muito na boca. É muita pena, senão havia de tocar. O polícia lhe desconfiou. A gaita-de-beiços foi lançada pela janela, caindo junto do esconderijo de Tiago. Ele apanhou o instrumento, juntou seus bocados. Aqueles pedaços lhe semelhavam sua alma, carecida de mão que lhe fizesse inteira. O menino se enroscou, aquecido em sua própria redondura. Enquanto embarcava no sono levou a muska à boca e tocou como se fizesse o seu embalo. Dentro, quem sabe, o passarinheiro escutasse aquele conforto? Acordou num chilreino. Os pássaros! Mais de infinitos, cobriam toda a esquadra. Nem o mundo, em seu universal tamanho, era suficiente poleiro. Tiago se acercou da cela, vigiou o calabouço. As portas estavam abertas, a prisão deserta. O vendedor não deixara nem rasto, o lugar restava amnésico. Gritou pelo velho, responderam os pássaros. Decidiu voltar à árvore. Outro paradeiro para ele já não

Page 26: Módulo Racismo

26

existia. Nem rua nem casa: só o ventre do embondeiro. Enquanto caminhava, as aves lhe seguiam, em cortejo de piação, por cima do céu. Chegou à residência do passarinheiro, olhou o chão coberto de pétalas. Já vermelhas não estavam, regressadas ao branco originário. Entrou no tronco, guardou-se na distância de um tempo. Valia a pena esperar pelo velho? No certo, ele se esfumara, fugido dos brancos. No enquanto, ele voltou a soprar na muska. Foi-se embalando no ritmo, deixando de escutar o mundo lá fora. Se guardasse a devida atenção, ele teria notado a chegada das muitas vozes. - O sacana do preto está dentro da árvore. Os passos da vingança cercavam o embondeiro, pisando as flores. - É o gajo mais a gaita. Toca, cabrão, que já danças! As tochas se chegaram ao tronco, o fogo namorou as velhas cascas. Dentro, o menino desatara um sonho: seus cabelos se figuravam pequenitas folhas, pernas e braços se madeiravam. Os dedos, lenhosos, minhocavam a terra. O menino transitava de reino: arvorejado, em estado de consentida impossibilidade. E do sonâmbulo embondeiro subiam as mãos do passarinheiro. Tocavam as flores, as corolas se envolucravam: nasciam espantosos pássaros e soltavam-se, petalados, sobre a crista das chamas. As chamas? De onde chegavam elas, excedendo a lonjura do sonho? Foi quando Tiago sentiu a ferida das labaredas, a sedução da cinza. Então, o menino, aprendiz da seiva, se emigrou inteiro para suas recentes raízes.

MAIS UM NEGRO

(José Carlos Limeira)

Sou um negro,mais um,destes que não aceitam,como adjetivo a alma branca.

Sou um negro,mais um,consciente de nossa história,que não se ilude com os heróisque me forçam a aceitar.

Sou um negro,mais um,destes que não usariam henê no cabelo,por não querer cabelos lisos.

Sou um negro,mais um,meio louco

Page 27: Módulo Racismo

27

meio tortoesperando muitos outrospara engrossar o cordão,e horrorizar de espanto,este engodo imbecil,a tal convencionada,Democracia Racial.

In: Alabaques

CINEMA NO B.A.R

SINOPSE: Quase Deuses conta a história verdadeira e emocionante de dois homens que desafiaram as regras em sua época para iniciar uma revolução médica. Na Baltimore dos anos 40, o Dr. Alfred Blalock (Alan Rickman, de Harry Potter e o Cálice de Fogo) e o técnico de laboratório Vivien Thomas (Mos Def, de Uma Saída de Mestre) realizam cirurgias cardíacas usando uma técnica sem precedentes, atuando como equipe de uma maneira impressionante. Mas ao mesmo tempo em que travam uma corrida contra o tempo para salvarem a vida de um bebê, ambos ocupam diferentes condições sociais na cidade. Blalock é o saudável homem branco que comanda o Departamento Cirúrgico do Hospital Johns Hopkins; Thomas é negro e pobre, um habilidoso carpinteiro. Quando Blalock e Thomas desbravam um novo campo na medicina,

Ficha Técnica

Título: Quase DeusesTítulo original: Something the Lord MadeDuração: 110 minutos (1 hora e 50 minutos)Gênero: DramaDireção: Joseph SargentAno: 2004País de origem: EUA

Page 28: Módulo Racismo

28

salvando milhares de vidas graças ao processo, as pressões sociais ameaçam minar sua parceria e por um fim à amizade que nasceu entre eles. Vencedor de três prêmios Emmy, incluindo melhor filme de TV.

CHARGE 1:

A CAMPANHA PUBLICITÁRIA12

Campanha Publicitária é um conjunto de peças que são criadas objetivando atingir um determinado público-alvo. É a forma como é exposta a mensagem e a abordagem do diferencial do produto e/ou o apelo central do produto, feito de forma criativa e diferenciada para chamar a atenção do observador e persuadi-lo a compra.

Uma campanha é composta por um conjunto de peças publicitárias, que podem ser lidas individualmente, pois são mensagens completas. Porém o uso de várias peças em diferentes mídias se vale para criar na mente do consumidor memorização da marca.

As peças não devem ser baseadas umas nas outras, pelo contrário, elas devem ter autonomia no processo de comunicação, pois se elas são fragmentadas (dependentes) elas não fazem efeito de memorização e de persuasão do consumidor, não conseguindo completar a mensagem.

12 Disponível em: <http://napublicidade.wordpress.com/2010/06/28/campanha-publicitaria/>.

Page 29: Módulo Racismo

29

Sendo assim, uma campanha publicitária é uma forma de “amarrar” todas as ideias que as diferentes peças em diferentes mídias irão abordar. É uma forma de construir a unidade do processo de comunicação.

A Propaganda, é um dos gêneros frequentemente utilizados na realização de uma Campanha Publicitária. Vejamos:

Propaganda13

Propaganda é o ato de divulgar ideias, conceitos e valores, geralmente, sem fins lucrativos, tendo por objetivo tentar convencer o público de alguma coisa.

A fabricação de uma propaganda exige saber:

a) O produto: utilidade, características, qualidades, desvantagens e vantagens.

b) O público: qual é o público-alvo: jovens, adolescentes, adultos, crianças. É importante determiná-lo para saber o tipo de linguagem que deverá ser utilizada.

c) Objetivo: vender sempre é a principal meta. Contudo, pode se apresentar algo novo, causar impacto, despertar a curiosidade, aumentar a venda ou audiência, etc.

d) Estilo: cores, tamanhos, tipos de objetos, tipo de letra, pano de fundo, etc.

13 Disponível em: <http://www.brasilescola.com/redacao/a-propaganda-persuasao.htm>.

Page 30: Módulo Racismo

30

Mãos à obra!

Aluno (a):

A partir de tudo o que vimos nas aulas anteriores, use sua criatividade e imaginação para produzir sua própria Campanha Publicitária.

Título:

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

Page 31: Módulo Racismo

31

21

22

23

24

Reescrever é sobreviver!

Aluno (a):

Título:

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

16

Page 32: Módulo Racismo

32

17

18

19

20

21

22

23

24

25